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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA


Laboratório de Fluidomecânicos
Turma: 2081.1.02

Prática 4: Perda de carga

Prof. Gustavo Maia

Belo Horizonte, 22 de março de 2019


1 INTRODUÇÃO
Segundo Fox et al (2010) perda de carga total (hT) é a soma das perdas maiores,
causadas por efeitos de atrito no escoamento completamente desenvolvido em tubos de
seção constante (hD) com as perdas localizadas (hL), causadas por entradas, acessórios,
variações de área e outros. A fórmula 1 apresenta a relação matemática entre estas
perdas:
∆ℎ𝑇 = ∆ℎ𝐿 + ∆ℎ𝐷 (1)
Figura 1 – Volume de controle em estudo: venturímetro

Fonte: Buonicontro (2010)


Célia Mara Sales Buonicontro (2010) explica o fenômeno conhecido como perda de
carga, através do venturímetro da figura 1. Da equação de Bernoulli, vem:
𝑃1 (𝑉1 )2 𝑃2 (𝑉2 )2 𝑃3 (𝑉3 )2 𝑃4 (𝑉4 )2
+ + 𝑍1 = + + 𝑍2 + ∆ℎ1→2 = + + 𝑍3 + ∆ℎ1→3 = + + 𝑍4 + ∆ℎ1→4
𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔 𝛾 2𝑔
Onde Px é a pressão do fluido, γ é seu peso específico, g é a constante gravitacional, VX
é a velocidade instantânea do escoamento, ZX é a energia de posição e ΔhX é a perda de
carga associada.
Genericamente pode-se considerar P/γ = h, portanto:
(𝑉1 )2 (𝑉2 )2 (𝑉3 )2 (𝑉4 )2
ℎ1 + + 𝑍1 = ℎ2 + + 𝑍2 + ∆ℎ1→2 = ℎ3 + + 𝑍3 + ∆ℎ1→3 = ℎ4 + + 𝑍4 + ∆ℎ1→4
2𝑔 2𝑔 2𝑔 2𝑔
O termo Δh14 representa a perda de carga total, que é a energia por unidade de peso
dissipada na forma de calor. Esta grandeza é a soma da energia perdida devido ao
desvio do fluido causado pela mudança da direção do escoamento Δ23, chamada de
perda localizada, com a energia perdida devido ao atrito do fluido com a parede da
tubulação Δ12, chamada de perda de carga distribuída.
1.1 Perda de carga localizada (ΔhL)
Esta grandeza está relacionada com os diversos componentes (curvas, válvulas,
cotovelos, etc) que alteram o escoamento normal do fluido e causam perdas de energia
hidráulica. O valor da perda é relacionado a um termo KL, denominado coeficiente de
perda. KL pode ser encontrado em catálogos (como o disponível no anexo 1 do roteiro
da prática) elaborados pelo fabricante do componente. A perda de carga localizada ΔhL
é calculada a partir da fórmula 2:
𝑉2 (2)
∆ℎ𝐿 = 𝐾𝐿
2𝑔
A equação da continuidade pode ser manipulada para relacionar a velocidade do
escoamento (V) com a vazão (Q) em uma tubulação de diâmetro D:
4𝑄 (3)
𝑉=
𝜋𝐷2
Substituindo (3) em (2) tem-se a perda localizada em função da vazão:
16 (4)
∆ℎ𝐿 = 𝐾𝐿 𝑄2
𝜋 2 𝐷4 2𝑔
O termo Ki é chamado de característica da instlação:
8 (5)
𝐾𝑖 =
𝜋 2 𝐷4 𝑔
Substituindo (5) em (4) tem-se:
∆ℎ𝐿 = 𝐾𝐿 𝐾𝑖 𝑄 2 (6)

Chamando K1= KLKi e aplicando na fórmula (6), tem-se em (7) a equação da perda de
carga localizada em função da vazão, descrita por uma função parabólica.
∆ℎ𝐿 = 𝐾1 𝑄 2 (7)

1.2 Perda de carga distribuída (ΔhD)


É a energia perdida em trechos retos devido ao atrito do fluido com parede da
tubulação. Esta perda pode ser calculada através da formula (8):
𝐿 𝑉2 (8)
∆ℎ𝑑 = 𝑓
𝐷 2𝑔
A equação acima, chamada de fórmula de Darcy-Weissbach, relaciona a perda de carda
distribuída com o comprimento (L) da tubulação, o diâmetro (D) e a velocidade do
escoamento (V). O termo f é chamadode fator de atrito. Trata-se de um coeficiente que
depende do número de Reynolds e é determinado de acordo com o regime de
escoamento do fluido. Para escoamento laminar (Re<2000) o fator f é calculado pela
fórmula (9): (9)
64
𝑓=
𝑅𝑒
Para escoamento turbulento (Re>4000) o fator de atrito depende da rugosidade relativa,
que é a razão entre a altura média da rugosidade superficial do tubo (ε) e o diâmetro (D)
da tubulação. Para estas situações é comum utilizar o ábaco elaborado por Lewis F.
Moody, que fornece o fator de atrito f em função de Re e ε/D. O Ábaco de Moody está
representado na figura 2 BUONICONTRO (2010).
Figura 2 – Ábaco de Moody

Fonte: Buonicontro (2010)

1.3 Objetivos
 Apresentar a expressão correta para K1, ΔH = f(Q);
 Construir os gráficos da perda de carga em função da vazão;
 Calcular KL para o linha reta e para o cotovelo de 90º;
 Calcular o fator de atrito f a partir dos dados coletados;
 Comparar o fator de atrito calculado com o obtido pelo Ábaco de Moody.
2 METODOLOGIA
2.1 Equipamentos
A bancada de medição de perda de carga utilizada no experimento está apresentada
na figura 3.
Figura 3 – Bancada da prática de perda de carga

A figura 4 traz o esquema completo da bancada identificando seus diversos


componentes: registro esfera (RE-1); registro macho e fêmea (RMF-2), registro de
diafragma (RD-3 e RD-14), registro de gaveta (RG-4), registro borboleta (RB-5),
medidor venturi (MV-6), medidor de placa de orifício (MPO-7), cotovelo de 90º
(COTV90º-8), tubo reto com curva de 90º (TRCV90º-9), curva de 90º (Cv90º-10), tubo
reto (TR-11), hidrômetro (H-12), rotâmetro (ROT-13), e registros gaveta (RG- 15, 16,
17 e 18).
Figura 4 – Esquema da bancada do laboratório

Fonte: Buonicontro (2010)


Os componentes numerados de 1 a 11 possuem uma interligação na entrada e
saída com o manômetro diferencial através de uma mangueira e um registro esfera. A
manobra dos registros instalados na bancada permite a determinação do valor da perda
de carga em cada componente do circuito.

2.2 Procedimento Experimental


Inicialmente foi feita a medição no tubo reto. Os registros: RMF-2, RD-3, RG-4,
RB-5, RG-16 foram fechados e os registros RD-14, RE-1, RG-15, RG-17 e RG-18
foram abertos. Em seguida foram abertos os registros de conexão da entrada e da saída
do tubo com o manômetro diferencial e deixados fechados todos os outros registros que
conectam os demais componentes com o manômetro. Acionou-se a bomba e lentamente
fechou-se o RD-14 fazendo variar a vazão. Para cada fechamento do registro foi feita a
leitura do rotâmetro e do manômetro diferencial. Os dados foram registrados na folha de
teste.
A segunda etapa da prática consistia na medição da perda de carga na linha de
cotovelos de 90º. Primeiramente foram fechados os registros RE-1, RMF-2, RD-3, RB-
5, RG-16 e abertos os registros RD-14, RG-4, RG-15, RG-17 e RG-18. Em seguida
foram abertos os registros de conexão da entrada do 1º cotovelo de 90º e da saída do
último cotovelo de 90º com o manômetro diferencial e deixados fechados todos os
outros registros que conectam os demais componentes com o manômetro. Acionou-se a
bomba e lentamente fechou-se o RD-14 fazendo variar a vazão. Para cada abertura do
registro foi feita a leitura do rotâmetro e do manômetro diferencial. Os valores coletados
foram registrados na folha de testes.
3 RESULTADOS
Nas duas primeiras etapas da prática foram coletadas a diferença de pressão e a
vazão de água para cada medição. A fórmula (7) foi empregada para calcular os valores
de K1. Em seguida foi usada a relação K1 = KLKi para determinar o valor do coeficiente
de perda KL do acessório a partir de K1. O Δhcot é a perda de carga unitária do cotovelo.
Ela foi obtida pela razão da perda de carga total Δht pelo total de cotovelos (44
unidades). Todas estas informações estão registradas nas tabelas 1 e 2.
1° TESTE: TUBO RETILÍNEO
∆ ( ∆ 𝑄) EXPRESSÃO CORRETA
Q Q ΔH ΔH/44 ΔH 𝐾1 = 1= DA DR DP DMA
𝑄2 DE K1
m³/h m³/s mmHg mmHg mcH2O mcH2O / (m³/s)² mcH2O
13,54 0,00376 64 1,5 0,870 61507,78 63386,27 1878,49 0,029636 2,96% -1,1E-11 63386,27 +/- -1,1E-11
11,46 0,00318 44 1,0 0,598 59029,74 4356,53 0,06873 6,87%
9,60 0,00267 31 0,7 0,421 59266,14 4120,13 0,065 6,50%
7,52 0,00209 16 0,4 0,218 49850,75 13535,51 0,21354 21,35%
4,61 0,00128 5 0,1 0,068 41452,96 21933,30 0,346026 34,60%
2,20 0,00061 3 0,1 0,041 109210,22 -45823,96 -0,72293 -72,29%

2° TESTE: COTOVELO DE 90°


∆ ( ∆ 𝑄) EXPRESSÃO CORRETA
Q Q ΔH ΔH/44 ΔH 𝐾1 = 1= DA DR DP DMA
𝑄2 DE K1
m³/h m³/s mmHg mmHg mcH2O mcH2O / (m³/s)² mcH2O
6,42 0,00178 409 9,3 5,560 1748399,44 1698254,89 -1685013,18 -26,5833 -2658,33% -1,6E+06 1698254,89 +/- -1,6E-6
5,78 0,00161 337 7,7 4,582 1777303,65 -1713917,38 -27,0393 -2703,93%
4,89 0,00136 234 5,3 3,181 1724191,69 -1660805,42 -26,2013 -2620,13%
4,01 0,00111 155 3,5 2,107 1698362,38 -1634976,11 -25,7939 -2579,39%
3,22 0,00089 99 2,3 1,346 1682328,72 -1618942,45 -25,5409 -2554,09%
2,23 0,00062 44 1,0 0,598 1558943,44 -1495557,17 -23,5943 -2359,43%
1,51 0,00042 18 0,4 0,245 1390932,38 -1327546,12 -20,9438 -2094,38%

Em seguida foram plotadas as curvas de perda de carga em função da vazão para as


duas situações estudadas.
A terceira etapa da prática forneceu as medidas de vazão e perda de carga
necessárias para determinar os fatores de atrito f. Na tabela 3, J é a razão entre a perda
de carga Δh e o comprimento da tubulação L. O fator de atrito foi determinado a partir
de J, segundo a relação matemática abaixo:
𝐽
𝑓= 𝑄2
8
𝜋 2 𝐷5 𝑔
O roteiro do experimento solicitou a comparação entre o fator de atrito experimental e o
fator de atrito extraído do Ábaco de Moody (disponível na figura 2). Utilizou-se
rugosidade média igual a 1,25 (adequada à tubulação de ferro fundido enferrujado
conforme a tabela 2 do anexo 3 do roteiro da prática de laboratório) e D = 36,5mm . O
fator de atrito do ábaco é constante e igual a 0,06 para Re> 30000 na curva ε/D=0,034.

Tabela 3 - Perda de carga gerada no tubo reto

Valores experimentais Valores extraídos do Ábaco

Q Q ΔHTR ΔHTR V
3 3 J fE Re ε/D fA
dm /h m /s mmHg mcH2O m/s
4000 0,00111 6 0,07560 0,03436 0,02182 1,0619 38759 0,06
5000 0,00139 9 0,11340 0,05155 0,02095 1,32737 48449 0,06
6000 0,00167 11 0,13860 0,06300 0,01778 1,59284 58139 0,06
7000 0,00194 16 0,20160 0,09164 0,01900 1,85832 67829 0,03425 0,06
7500 0,00208 18 0,22680 0,10309 0,01862 1,99105 72673 0,06
8000 0,00222 21 0,26460 0,12027 0,01910 2,12379 77518 0,06
8500 0,00236 24 0,30240 0,13745 0,01933 2,25653 82363 0,06
3.1 Análise de Resultados
A primeira etapa da prática buscou determinar o coeficiente de perda de carga do
registro de esfera. A partir dos dados coletados na prática calculou-se K1 médio, a
saber: K1’RE = 47319,3.
Conforme o gráfico 1, a função que rege o sistema é: Δh = 134324Q2 - 263,85Q +
0,1861. Pode-se afirmar que a regressão polinomial realizada nos pontos coletados é
boa, uma vez que R~1. Contudo, através de uma comparação entre a equação gerada e a
formula (7) chega-se a conclusão que o termo que acompanha o quadrado da vazão é
K1. O K1 obtido graficamente é diferente do K1 calculado. Acredita-se que isso seja
natural, uma vez que a regressão polinomial não é perfeita, e os erros associados às
medições contribuem para esta variação. Além de tudo a equação gerada apresenta
termos que não estão previstos na fórmula (7). Por fim calculou-se o coeficiente de
perda do registro a partir dos dados experimentais: KLe = 1,02. O coeficiente calculado
é bem próximo ao obtido na tabela 1 do anexo 01 da apostila de práticas de laboratório:
KLt = 1,50. A pequena variação é facilmente explicada pelos erros associados às
medições.
O K1 médio da do cotovelo de 90º foi calculado: K1cot'=50863,6. A regressão
polinomial do gráfico 2 também é eficiente, pois R~1. Foi gerada a seguinte função: Δh
= 100204Q2 - 95,006Q + 0,0432. O K1 obtido pelo gráfico é aproximadamente o dobro
do K1 calculado. A variação encontrada entre o valor calculado e o valor obtido
graficamente é explicada pelos motivos discutidos no parágrafo anterior. A tabela 2 do
anexo 02 apresenta o valor do coeficiente de perda do cotovelo de 90º: KLt = 0,9. O
valor calculado é bem próximo do valor experimental: KLe = 1,09. A variação
encontrada é explicada pelos erros associados à coleta de dados no rotâmetro e no
manômetro, bem como às aproximações empregadas nos cálculos matemáticos.
A terceira etapa da prática de laboratório buscou determinar experimentalmente o
fator de atrito da tubulação e comparar este com o número obtido pelo Ábaco de
Moody. A tabela 4 apresenta o erro relativo entre estas grandezas (calculado a partir da
fórmula abaixo).
𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒄𝒂𝒍𝒄𝒖𝒍𝒂𝒅𝒐 − 𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒐𝒃𝒕𝒊𝒅𝒐 𝒅𝒐 𝒂𝒃𝒂𝒄𝒐
𝑬𝒓𝒓𝒐 𝒓𝒆𝒍𝒂𝒕𝒊𝒗𝒐 (%) = ∗ 𝟏𝟎𝟎%
𝒗𝒂𝒍𝒐𝒓 𝒄𝒂𝒍𝒄𝒖𝒍𝒂𝒅𝒐
É interessante apontar que o fator de atrito do ábaco é constante e igual a 0,06 para
Re> 30000 na curva ε/D=0,034, porém isso não foi verificado experimentalmente, pois
obteve-se o seguinte fator de atrito médio: fE’= 0,02.
Tabela 4 - Erro relativo
Calculado Extraído do ábaco Erro (%)
0,022 0,06 -174,9
0,021 0,06 -186,4
0,018 0,06 -237,4
0,019 0,06 -215,7
0,019 0,06 -222,2
0,019 0,06 -214,2
0,019 0,06 -210,4

4 CONCLUSÃO
A partir do experimento foi determinado o coeficiente de perda do registro de
esfera e do cotovelo de 90º. A partir da comparação dos valores experimentais com os
modelos fornecidos pelo fabricante do componente, conclui-se que as duas primeiras
etapas da prática foram bem sucedidas.
O fator de atrito calculado a partir da vazão e da diferença de pressão entre os
terminais da tubulação é muito pequeno se comparado com o f do Ábaco de Moody. O
erro foi em muitos casos superior a -200%, o que não gera confiança no resultado
encontrado. Acredita-se que a incorreta manipulação matemática dos dados pode ter
causado essa variação.
Conclui-se, portanto, que todos os objetivos foram alcançados, pois embora o
resultado apresente baixo índice de confiabilidade, foi possível estabelecer uma
comparação entre as grandezas obtidas a partir dos dados coletados no experimento e os
valores de referência presentes na literatura consultada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUONICONTRO, Célia Mara Sales. Laboratório de fluidomecânicos: práticas de


mecânica dos fluidos. Instituto Politécnico da Pontifícia Universidade católica de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2010.

FOX, Robert W.; PRITCHARD, Philip J.; MCDONAD, Alan T. Introdução à


Mecânica dos Fluidos. 7.ed. Rio de Janeiro: LTC- Livros Técnicos e Científicos, 2010.

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