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POMBA GIRA & EXU MIRIM

Desenvolvido e Ministrado por Alexandre Cumino

Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória


Pomba Gira e Exu Mirim – EAD – Curso Virtual

Texto 008

Maria Navalha – A primeira Pomba-gira?


Por Edmundo Pellizari

Os velhos Tatas do Rio de Janeiro de antanho, grandes conhecedores da Magia Africana, gostavam de
contar a pitoresca história de Dona Maria Navalha.
Para alguns ela foi a primeira Pomba Gira brasileira. Sim! Afinal, a querida Maria Padilha foi espanhola, e
a Bruxa de Évora, a Pomba-gira mais antiga, nasceu em Portugal.
Maria Navalha foi brasileira legítima e carioca do bairro da Gamboa, zona portuária da cidade
maravilhosa.
Sua história começou no final do século XIX, quando o bairro ganhou a primeira favela que se tem
notícia, lá no Morro da Providência. Foi onde nasceu e cresceu uma mestiça de nome Maria. Linda, alta, forte,
dona de um olhar magnético que chamava a atenção. Os sofrimentos da infância deram-lhe uma personalidade
determinada e valentia. Aprendeu a se virar sozinha, pois desde cedo perdeu os pais e foi morar na rua.
Uma menina abandonada não tem muita opção, e logo ela foi introduzida no mundo da “vida noturna” e
da malandragem, onde teve famosos mestres e mestras que a iniciaram na vida noturna. Foi nas ruas, cabarés
e bares que a jovem Maria construiu sua fama e adquiriu seu “apelido”. Contam que ela bebia como um
marinheiro, fumava como um estivador e brigava como um leão de chácara, mas sem perder a feminilidade.
Capoeiristas famosos a respeitavam e tinha homem grande que tremia diante dela. Escondida no belo corpo
sempre levava uma afiada navalha.
Com seu gênio briguento conseguiu muitos inimigos. Nenhum deles tinha coragem de enfrentá-la de fren-
te, cara a cara.
Toda Sexta-feira era sagrada para Maria. Ela se arrumava e ia para a Macumba, culto sincrético e
respeitado nos ambientes mágicos do Velho Rio de Janeiro.
A sessão começava tarde da noite e, no pequeno barracão do morro, ao som dos atabaques e cantigas, os
Deuses da África e os Eguns baixavam juntos. Assim era o alegre canjerê, tudo misturado e sem uma ordem
formal. Aqui rodava um Orixá, ali consultava um caboclo do mato e ao lado pitava um preto velho.
A Macumba era o culto do povo, dos simples e dos sofridos... Não era um antro de magia negra ou templo
do demônio. Isso era o que diziam os preconceituosos de plantão, racistas, carolas e endinheirados ignorantes.
Este tipo de gente ainda gosta de criticar as religiões de matrizes caboclas e africanas.
Foram nestas históricas Macumbas cariocas que as almas dos primeiros Exus baixaram (refiro-me aos
espíritos e não ao Orixá).
Somente mais tarde, com o advento da religião de Umbanda, é que estes trabalhadores do Mundo
Invisível vão ser reconhecidos em sua total grandeza e sobrenatural mistério. Nesta época Exu era, sobretudo,
o amigo do pobre, do desvalido, do injustiçado e da prostituta. O Rei da Noite e o Imperador da Macumba.
Dona Maria Navalha ouviu muito os conselhos dos Exus, despachou nas escuras encruzilhadas do porto,
fabricou talismãs e usou figas. Ensinou banhos e simpatias para as colegas de trabalho, ouviu problemas dos
clientes e enxugou lágrimas de muitas vizinhas. Era uma alma generosa dentro do corpo de uma guerreira.
A primeira parte da vida desta mulher terminou numa noite sem Lua. Ao cruzar um beco foi surpreendida
por trás e levou uma fatal facada de um inimigo. Morreu na rua onde viveu e trabalhou. Começava a segunda
parte de sua vida. Faleceu a Maria mulher e nasceu a Maria entidade!
Depois surgiram as lendas e muitas coisas foram ditas a respeito dela. Contam que foi amante de Zé
Pelintra e até que o matou! Que ela teve trinta e três maridos, amantes estrangeiros etc. Dona Maria Navalha
entrou para a história e virou mito. O certo é que depois de morta ficou mais viva que nunca.
POMBA GIRA & EXU MIRIM
Desenvolvido e Ministrado por Alexandre Cumino

Certa noite, desta vez lindamente enluarada, durante uma sessão de Macumba no morro, Dona Maria
baixou no terreiro... Incorporou numa menina negra magrinha que estava num canto. Maria Navalha ergueu
aquele frágil corpinho, tomou um aspecto imponente e falou para a assembleia que ficou maravilhada!
Assim surgiu a primeira Pomba-gira do Brasil, antes mesmo da Umbanda ter nascido. Um dos Pontos de
Maria Navalha canta:

MULHER DE MALANDRO TEM NOME


E SE CONHECE PELA SAIA.
VARA CURTA E ONÇA BRAVA,
ELA É MARIA NAVALHA!

E Salve Dona Maria Navalha!

contato: ilhasanta@hotmail.com

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