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Estatuto Editorial A publicação designada por «Cadernos de Pedagogia Social» é propriedade da Faculdade de
Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa e visa contribuir para a consolidação de uma cultura
científica no domínio da Pedagogia Social através da publicação de trabalhos de investigação de reconhecido valor
académico segundo uma perspectiva que, integrando dialecticamente teoria e prática, procura promover a coope-
ração activa entre profissionais e investigadores, nacionais e estrangeiros.
Esta publicação contempla três tipos de colaboração, com aceitação prévia pelo Conselho Editorial, que funcionará
como comissão de leitura e revisão (peer-review):
- Artigos originais (original articles) que se debrucem sobre investigações realizadas no domínio científico da
Pedagogia Social.
- Revisões bibliográficas (contemporary reviews) que proporcionem uma leitura compreensiva sobre tendências
recentes e relevantes no domínio científico da Pedagogia Social.
- Relatórios (reports) sobre o trabalho realizado por instituições nacionais e internacionais dentro do domínio
científico da Pedagogia Social, podendo integrar entrevistas, relatos de visitas e/ou de reuniões científicas.
A publicação de «Cadernos de Pedagogia Social» acontece uma vez por ano.
Director Isabel Baptista Conselho Editorial Joaquim Azevedo, Isabel Baptista, Américo Peres, Adalberto Dias
de Carvalho, Roberto Carneiro
Propriedade Universidade Católica Portuguesa Concepção gráfica LabGraf Execução gráfica LabGraf
Dep. legal 258356/06 ISSN 1646-7280
Assinaturas bi-anuais Portugal e países africanos de expressão oficial portuguesa: 15,00 € Europa: 19,00 € Brasil:
US$25 avulso: 8,50 € Toda a correspondência destinada à revista, incluindo pedidos de assinatura, pagamentos e alte-
rações de endereço, deve ser dirigido a: Universidade Católica Portuguesa - Faculdade de Educação e Psicologia | Palma
de Cima | 1649-023 Lisboa - Portugal | tl. +351 217 214 060 fx. +351 217 266 160 iedu@iedu.ucp.pt www.ucp.pt
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2 (2008)
ANO II
5 Nota de apresentação
Isabel Baptista
7 Pedagogia Social: Uma ciência, um saber profissional, uma filosofia de
acção
Isabel Baptista
Nota de apresentação
Isabel Baptista
Porto, Abril 2008
6
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Resumo
A disciplina científica que dá pelo nome de «pedagogia social» ocupa hoje um
lugar fundamental no seio das ciências da educação, respondendo por um
universo conceptual específico, alicerçado num património histórico próprio e
num campo de problematização-acção de confirmada relevância na nossa
contemporaneidade. É justamente em torno do conceito de pedagogia social,
da sua história e da sua especificidade epistemológica que procuro reflectir
neste texto, tentando evidenciar a pertinência socio-política desta área de
conhecimento num quadro de renovação do «espaço público da educação»,
em conformidade com a utopia do humano preconizada pelas Nações Unidas
para a sociedade do século XXI.
Tal como tenho vindo a tentar fundamentar no quadro de uma reflexão ética
Cadernos de Pedagogia Social
2
FESET – Formation d’Educateur Sociaux Eurpéens; European Social Educator Training (www. Feset.dk).
Sob o patrocínio desta federação europeia e enquadrados pelas actividades da rede ESEP (European
Social Ethics Project), os estudantes da turma de Mestrado de Pedagogia Social UCP (2007-09) e os
técnicos UCP/TCA (Trofa Comunidade de Aprendentes», participam de uma pesquisa sobre «ética
intercultural», coordenada internacionalmente por Anne Liebing, University College Sealand, Faculty of
Social Education and Social Work, Roskilde, Dinamarca.
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nessa medida então, são de facto «eles», os nus e os famintos, que nos ensinam
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Como se disse, estamos perante facetas de uma mesma realidade, todas elas
3
Desde 2004 que a FEP/UCP, dirigida por Joaquim Azevedo, vem promovendo programas de formação
pós-graduada na área da Pedagogia Social (cursos de especialização, mestrados, doutoramentos),
projectos individuais de formação-acção (tutoriado pedagógico) e dinâmicas de formação contínua
ligadas aos vários projectos de intervenção sócio-educativa que decorrem sob a supervisão cientifica
da UCP, abrangendo mais de duas centenas de técnicos, oriundos de diferentes áreas de actividade,
detentores de perfis académicos diversos e que, por sua vez, actuam como mediadores de formação
numa pluralidade de contextos sociais. (Cf. Revista Cadernos de Pedagogia Social. (1). UCP. 2007;
www.porto.ucp.pt; www.trofatca.pt)
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4
No que se refere a cursos, no ano de 2007 o plano de formação contínua correspondeu à seguinte
oferta: «Mediação Social» (Porto); «Gestão de projectos de intervenção comunitária» (Porto); «Ética e
intervenção» sócio-educativa» (Porto); «Acção sócio-educativa» (Évora); «Hospitalidade e Pedagogia
Social» (São Paulo, Brasil).
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Referências Bibliográficas
Resumo
O presente artigo desenvolve a temática do estatuto da educação social
enquanto disciplina de confluência e síntese de vários saberes e enquanto
prática de intervenção. Para o efeito questiona a sua relação com as ciências
da educação e com a pedagogia social, a par das suas conexões com a ética
e a política. Numa perspectiva essencialmente hermenêutica indaga-se ainda
o complexo desafio que as situações-limite e o contrato social colocam à
sociedade civil impondo que esta promova o exercício de uma cidadania
responsável, dimensão em que a educação social tem um papel fundamental.
A Educação Social é uma prática que, enquanto tal, tem incorporada uma
teoria. Poderá também ser olhada como uma acção teoricamente estruturada.
Numa palavra, poderemos defini-la como uma praxiologia, termo que foi
*
Gabinete de Filosofia da Educação do Instituto de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Colaborador no Mestrado de Pedagogia Social FEP/UCP.
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No quadro das “morais da convicção”, assim identificadas por Max Weber, claro
Cadernos de Pedagogia Social
que tudo era bem mais simples neste aspecto pois a partilha da mesma crença
religiosa assegurava, por inerência, a partilha em termos de consciência moral, dos
mesmos valores e da homogeneidade das respostas individuais – de todos os
indivíduos – perante o mesmo Deus, com igual grau de implicação e de
responsabilidade. Ou seja, a responsabilidade não pressupunha nenhum acordo
prévio – como tal, discutível e susceptível de ser ou não assumido – mas antes a
obediência à própria raiz inalienável da dignidade da natureza humana. Tudo estava
no domínio do verdadeiro e do falso, sendo que correspondendo o falso à falta moral
e a verdade à virtude e à beatitude, não restavam alternativas antropológica e
humanamente válidas para opções fora do domínio da Verdade. A responsabilidade
decorria então da assunção plena da dignidade humana, a qual, ao ser de natureza
religiosa, era por inerência moral e, portanto, imperativa relativamente às
consciências cuja unidade se fazia pela comum filiação divina e nunca por uma
liberdade individual socialmente reconhecida. É que a coesão da sociedade
assentava, como vimos, na homogeneidade moral e antropológica das consciências
individuais sem que houvesse lugar a uma consciência social intersubjectivamente
construída. Mesmo em Rousseau, a noção de “vontade geral” expressava justamente
isso mesmo, designadamente na ideia de indivíduo genérico que, na sua natural
comunidade intra-individual, viabilizava o contrato. Estávamos aqui muito longe,
apesar de algumas semelhanças terminológicas, da perspectiva democrática de
responsabilidade social, a qual vê o contrato como o resultado de um acordo que
surge num segundo momento da edificação das organizações – que admite, por isso,
as oposições, as negociações e os dissensos - e não como a simples emanação da
similitude das pessoas, de um seu desdobramento metafísico, que, pelo encontro e
pela obediência às suas consciências, comungavam do mesmo fundamento –
transcendente ou transcendental – divino ou racional.
As éticas da discussão, tal como expressamente o assume J. Habermas em
De l’Éthique de la Discussion (trad. franc.), afirmam-se “contra o cepticismo
axiológico”, em nome de um “consenso racionalmente motivado” e na sequência
da “busca de um universal que, não ignorando os contextos reais, não seja
também abstracto”. Deste universal, designado por “universal pragmático”, diz o
autor ironicamente que não é “um ponto de vista de Deus” mas antes “o ponto
de vista de nós”.
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educação social
organizações sociais para que deve contribuir, a quem deve exigir mas de quem
numa ortopraxia, isto é, numa normalização das práticas a partir de uma aparente
independência teórica que, no fundo, enquanto tal, serve apenas para formatar
um real que desta maneira se confirma, se reitera e reitera a própria teoria no seio
de um infindável e intricado círculo vicioso.
Ora, se a pedagogia social – situando-se num limiar teórico-prático
epistemologicamente instável e por isso aberto à crítica e à regulação dos
processos - assumir o estatuto não de uma teoria da prática mas de uma teoria
prática, pode reivindicar o seu papel de substrato da educação social sem a
condicionar a priori a preconceitos externos. A educação social, essa, reforça
assim o seu desempenho enquanto uma prática profissional autêntica porque,
interpelando a teoria que a suporta, não deixa de ganhar consistência científica ao
mesmo tempo que se liberta dos círculos doutrinários que continuamente a
ameaçam e tendem a restringir.
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Referências bibliográficas
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Resumo
O presente texto corresponde ao relato crítico de um debate em torno da
«identidade profissional dos educadores sociais» que contou com a
participação de três educadoras sociais, uma professora e um antropólogo,
todos especializados em pedagogia social e colaboradores da Universidade
Católica Portuguesa nesta área de investigação-acção. Tomando como
referência empírica o universo experiencial de cada um dos participantes,
pretendeu-se colocar em confronto – em diálogo – diferentes concepções e
percepções sobre o contributo específico dos educadores sociais no seio das
dinâmicas de intervenção sócio-educativa, numa perspectiva de explicitação e
valorização da sua identidade profissional.
1
Educadora Social, Equipa pedagógica do Projecto Raiz /Programa Escolhas
2
Educadora Social, Equipa pedagógica de Centro de Dia/IPSS
3
Educadora Social, Equipa pedagógica do projecto Trofa Comunidade e Aprendentes (TCA)
4
Professora/ Coordenadora da rede de Mediadores TCA
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Uma profissão qualificada de «social» deve poder dar um conteúdo preciso a este
Cadernos de Pedagogia Social
termo, sob pena de se ver privada de conteúdo funcional, balizada por fronteiras fluidas
e com uma missão reduzida a nada.
Lia Sanicola, 1994
Introdução
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Maria Guerra
Cadernos de Pedagogia Social
Maria Ferreira
O meu primeiro emprego foi num ATL. Depois fui contratada para um projecto
de Apoio Familiar e Acompanhamento Parental – CAFAP, financiado pela
Segurança Social e onde desempenhava funções de mediadora familiar.
Actualmente, integro a equipa pedagógica de um projecto sócio-comunitário, o
Projecto Raiz financiado pelo Programa Escolhas que tem como entidade
promotora o Colégio Nossa Senhora do Rosário mas que envolve outras
instituições em consórcio, como a Universidade Católica. Nesta equipa, cabe-me
principalmente acompanhar as famílias dos jovens que constituem a «população-
alvo» do projecto.
Sofia Rodrigues
No começo, em 2003, ano em que terminei a licenciatura em Educação
Social, a minha experiência profissional desenvolveu-se no âmbito da acção social,
em colaborações pontuais, com vínculos laborais muito precários ou mesmo
numa base de voluntariado. Saliento aqui a experiência ligada a uma CPCJ, onde
percebi o que significa trabalhar com jovens que vivem em estado de exclusão
social, tentando fomentar mais integração e um novo sentido de cidadania. Fui
muitas vezes à «casa» deles, à sua associação de moradores, tentando entender
bem a sua situação e conhecer as pessoas que fazem parte da sua vida. Posso
dizer que todos os dias, durante cerca de sete meses, vivenciei histórias de
«horror humano», de violência e violação de direitos de crianças, seres
desprovidos de defesas em relação aos comportamentos agressivos daqueles que
lhes eram próximos e a quem, à partida, cabia o papel de protecção. Em Maio de
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Maria Guerra
Actualmente coordeno a equipa que trabalha na valência de Centro de Dia e
as minhas funções centram-se em todas as tarefas inerentes a esta valência como
a planificação, construção, implementação e avaliação do projecto pedagógico
que inclui actividades de mediação familiar, institucional e comunitária,
envolvendo unidades de saúde, instituições parceiras e autarquia.
Vejo o educador social como um profissional multifacetado que tem como
objectivo, em qualquer contexto de trabalho, promover o desenvolvimento humano
através da educação.
Sofia Rodrigues
Hoje sou «técnica TCA» com responsabilidade pela coordenação da rede de
Voluntários e formadora/tutora de outras colegas, mas a actividade que exerci
desde sempre neste projecto foi a de «mediadora de aprendizagem». A dinâmica
TCA visa criar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos os
cidadãos do município, mobilizando as 8 freguesias da Trofa e apoiando-se num
modelo de intervenção que articula sete redes sociais – instituições, mediadores,
formadores voluntários, técnicos e centros de aprendizagem ou Centros TCA como
lhes chamamos. Faço portanto equipa com muitas outras pessoas, de diferentes
formações.
Como mediadora de aprendizagem com formação de educação social (porque
há no projecto outros mediadores), a minha função é a de atender, escutar e
orientar as pessoas que nos procuram para saber mais ou para descobrir algum
caminho para a sua vida. Sobretudo aquelas que nem sabem dizer bem o que
pretendem ou que se encontram sozinhas e pedem ajuda. Tem sido incrível
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estou a tentar estudar na minha tese de mestrado, esta ligação entre educação
social, aprendizagem e desafios de vida.
Maria Ferreira
O educador social orienta a sua intervenção através da definição de um
conjunto de acções de carácter sócio-pedagógico. Por outro lado, a «escuta» é o
meio pelo qual o educador “sente” as pessoas permitindo-lhe colocar-se na óptica
de quem vive o problema para que possam, juntos, assumir um compromisso,
uma implicação no processo de construção de um “EU” e na elaboração de um
projecto de vida. Ou seja, o educador social define-se através da mediação e pela
forma como estabelece relações de proximidade com os educandos, olhando-os
como pessoas únicas e com potencialidades, de modo a ajudar a produzir
mudanças e a alterar comportamentos.
É isto essencialmente o que tento fazer junto das famílias que estão «ao meu
cuidado» e que são, à partida, muito destruturadas. Quase todos os membros
destas famílias, adultos e crianças, são abrangidos por outras intervenções. No
nosso caso, tentamos ver a família como um todo, intervir junto de cada um dos
seus elementos e ligar as redes de proximidade para maior apoio. Ou seja, a
«mediação familiar» aqui não é para gerir conflitos mas para actuar na educação
da família e das pessoas, discutindo modelos parentais e aproximando mais estes
«encarregados de educação» das escolas que os jovens frequentam e ao mesmo
tempo promover a formação deles próprios.
Rui Amado
Os educadores sociais abordam a realidade social numa perspectiva
humanista, o que os faz ter um “olhar” completamente novo sobre as pessoas,
sobre a sua cultura e contextos de vida específicos. Isto faz toda a diferença na
forma como se encara o próprio conceito de trabalho social, as suas práticas e
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valores. Eles desenvolvem o trabalho social a partir do lado positivo das pessoas
Fernanda Cachada
O maior contributo dos educadores sociais, ou pelo menos aquele que eu
tendo a valorizar mais, é a efectiva promoção da proximidade humana. A prática
diária de olhar e estar com cada uma das pessoas de uma forma única é algo
que, ainda hoje passados alguns anos de trabalho com os educadores sociais, me
causa admiração. Mais do que fazer planificações, preencher e elaborar relatórios
e diagnósticos, o que admiro nos educadores sociais é a disponibilidade para o
encontro com outros seres humanos de um modo tão profissional e ao mesmo
tempo tão intimista, é a mais-valia que vejo nos educadores sociais, pelo menos
no TCA.
Fernanda Cachada
Sim e não. Embora identifique um conjunto de deveres diferenciados entre os
dois registos de actuação, o conjunto de compromissos, sobretudo os
compromissos morais, são comuns. Nós na escola também tentamos respeitar e
valorizar cada pessoa e como mediadora TCA é essa também a minha
preocupação, seja com os alunos, com os pais ou com qualquer elemento da
comunidade. Mas o que vejo no TCA, e não sei explicar muito bem, é que as
educadoras sociais fazem isso de modo diferente, elas não só acolhem e atendem
bem, mas conseguem ir ter com as pessoas, mesmo as mais «difíceis», de uma
maneira que nós não conseguimos.
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Rui Amado
Cadernos de Pedagogia Social
Maria Ferreira
O primeiro aspecto que nos distingue é o carácter sócio-pedagógico das
intervenções. O segundo aspecto prende-se com o facto de a educação social se
equacionar no âmbito da pedagogia social, o que permite situar a nossa conduta
noutra filosofia de acção. Os educadores sociais tentam despertar as pessoas
para novas aprendizagens sociais, para além de trabalharem a auto-estima e a
vontade de definir trajectos para o futuro.
O técnico de serviço social, por exemplo, tem uma função mais pautada pelo
assistencialismo. O educador social assume uma intencionalidade pedagógica
muito marcada por valores humanistas e pauta a sua acção pelas mais diversas
estratégias de mediação.
Sofia Rodrigues
A minha experiência está muito marcada pelo TCA que é um projecto de
pedagogia social onde trabalham muitos outros que partilham as mesmas
preocupações sócio-pedagógicas. A nossa tarefa mais específica como
educadores sociais está ligada ao atendimento de pessoas e grupos mais
«sensíveis» ou menos habituados a entrar nas acções de aprendizagem e
formação que propomos. A coordenação do projecto encarrega-nos sobretudo da
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atenção especial que é preciso dar a pessoas que, seja por que motivo for, pedem
Maria Guerra
No meu caso, acho que existe uma autoridade pedagógica reconhecida pelos
outros profissionais mas que, ao mesmo tempo, me distancia das funções deles.
Todavia, nem sempre foi assim, como fui a primeira funcionária da IPSS,
inicialmente fazia um pouco de tudo. Com o tempo e também com argumentos
certeiros fui convencendo a entidade empregadora de que quando trabalhamos
com as pessoas idosas há aspectos determinantes a ter em conta que vão muito
para lá da produção artística do técnico e dos educandos. Ainda mais quando as
pessoas se encontram numa situação de vulnerabilidade em que não estão
disponíveis para ninguém. Há que fazer um caminho para nos abeirarmos delas,
tornando-nos próximos e tentando sentir os seus problemas.
Por outro lado, há que transformar o espaço, ou os ambientes de trabalho,
num local com diversos cheiros e rostos onde cada um faz voar a sua
singularidade. Há que transmitir-lhes confiança de modo a que aceitem da melhor
forma o processo de envelhecimento e outros factores determinantes. Há que
envolver as famílias em todas as dinâmicas e não apenas nas “visitas”. Há que
despertar a comunidade para a participação. Isto é, há que desenhar com as
pessoas um trajecto individual mas também grupal onde todos se sintam únicos.
E claro… isto não é fácil. Porém, possível!
Rui Amado
Reconheço como valores comuns a perspectiva humanista de encarar a
realidade social; uma perspectiva profissional fundada nos direitos, valores e
dignidade da pessoa humana e uma perspectiva de encarar o trabalho social
como uma prática interprofissional. Como valores diferentes, reconheço a
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educação social como uma ciência humana essencialmente virada para uma
Cadernos de Pedagogia Social
Fernanda Cachada
A educação sempre foi, para mim, uma paixão que se traduzia no acto de
«ensinar coisas», de ajudar os alunos a serem um pouco mais, sobretudo na sua
capacidade crítica sustentada num raciocínio bem elaborado e fundamentado no
conhecimento. Sempre associei a educação aos professores, domínio exclusivo
daqueles que aprendem a ensinar. Agora no TCA descobri outros educadores.
Muito concretamente, a actividade profissional dos educadores sociais ganhou aos
meus olhos pertinência e sentido, não beliscando as competências e as funções
dos professores. Acho até que os educadores sociais podem ajudar muito os
professores e a contribuir de modo decisivo para melhorar a educação, seja
dentro da escola e fora dela.
Sofia Rodrigues
Os meus maiores constrangimentos são o tempo e a dificuldade em encontrar
resposta imediata e adequada às solicitações e expectativas das pessoas que vêm
ao nosso encontro. Apesar de todo o apoio que recebo da coordenação TCA, tenho
dificuldade em gerir o meu tempo e as minhas ansiedades.
No dia a dia deste projecto de intervenção comunitária deparo-me também
com processos de acção muito estandardizados e sujeitos a directrizes político-
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Maria Guerra
Vejo como grande problema e desafio a formação. Confesso que, inicialmente
estava apenas treinada/preparada para a tarefa que me entregaram na valência
ATL. Mas como a intervenção sócio-pedagógica não se faz sem ser através da
“sensibilidade e bom senso”, rapidamente percebi que teria que fazer uma
especialização que me permitisse reflectir sobre a minha prática e que ajudasse
a lançar-me em novos rumos. Encontrei o que precisava aqui na UCP e na
formação em pedagogia social, disciplina que, estranhamente, não tinha tido na
licenciatura. Digo estranhamente porque agora vejo que, de facto, sem noções de
pedagogia social é difícil entender a nossa actividade como educadores. Hoje,
sinto-me mais segura na minha intervenção e com mais maturidade profissional,
assumindo a prática de relação e de mediação social como os principais
propulsores do meu trabalho. Mas penso que são necessários mais encontros e
espaços de formação onde os educadores sociais possam partilhar ideias,
problemas, saberes e experiências.
Maria Ferreira
Para mim o maior desafio é ser capaz de identificar as potencialidades dos
indivíduos capacitando-os de modo a serem autónomos e responsáveis. É nesta
óptica que o educador social consegue fazer com que o educando seja o
protagonista do seu processo de mudança. Isto é um grande desafio.
A maior dificuldade é conseguir transmitir estas ideias aos outros técnicos, de
forma a aceitarem e a entenderem a nossa maneira específica de trabalhar.
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Rui Amado
Cadernos de Pedagogia Social
Fernanda Cachada
Usando de alguma franqueza e confessando desde já a minha ignorância,
assumo que não posso generalizar a partir da minha experiência, mas penso que
o grande desafio dos educadores sociais se prende com o conhecimento e
reconhecimento da sua profissão. Até ao momento em que comecei a trabalhar
no TCA como mediadora e que integrei uma equipa com educadores sociais, não
sabia nada dessa profissão.
Maria Guerra
Penso que temos que fazer um esforço conjunto. Temos uma identidade
profissional ainda jovem; trabalhamos em contextos partilhados por muitos
profissionais e possuímos competências próprias. Apesar de todas as
contrariedades, trabalhamos diariamente na construção de uma sociedade mais
justa onde existe lugar para todos e penso que é sobretudo a nós, educadores
sociais, que cabe o grande esforço de conseguir reconhecimento.
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Sofia Rodrigues
Eu tenho uma experiência privilegiada, em todos os sentidos. Sobretudo ao
nível do respeito e do acompanhamento pedagógico da minha actividade. Sinto-
me apoiada, respeitada e reconhecida. Mas tenho consciência de que a realidade
do trabalho social em Portugal não é essa.
Ultrapassar os constrangimentos ligados às questões logístico-financeiras e à
padronização de mecanismos de acção será o maior desafio do técnico de
Educação Social, mas também dos outros colegas que, com ele, trabalham as
questões que envolvem as situações de maior vulnerabilidade social.
Fernanda Cachada
A este respeito só posso reafirmar o que já disse sobre a necessidade de maior
conhecimento desta profissão que, baseando-me na experiência de trabalho com
as colegas do TCA, reconheço como muito importante.
Sustentada numa prática diária, a minha percepção é de que todos os que
lidam comos educadores sociais, aprendentes, colegas de equipa e entidades
promotoras/empregadoras, reconhecem e valorizam muito o trabalho deles. Aliás,
tenho mesmo a certeza disso. O que é preciso é alargar esta percepção e o
conhecimento desta realidade, divulgando mais o que os educadores sociais
fazem.
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Rui Amado
Cadernos de Pedagogia Social
Pelo que conheço, considero que os educadores sociais são respeitados pelas
suas entidades empregadoras, membros das suas equipas, educandos/utentes e
outros profissionais como são os diversos técnicos e profissionais da área do
trabalho social. Considero ainda que a educação social está perfeitamente
reconhecida e validada enquanto área científica e profissional entre as diversas
disciplinas das Ciências Sociais e Humanas.
Todavia, há muito caminho a fazer pelos próprios profissionais. Apesar das
qualificações e competências técnicas e científicas adquiridas na sua formação,
não basta aos educadores sociais dominarem os conhecimentos, teorias,
conceitos, práticas, etc. adquiridos na sua formação universitária, nos seus
estágios, etc. Penso que o educador social deve ser, ele mesmo, um humanista,
e basear a sua própria vida nos valores da dignidade da pessoa e da vida humana.
Pois, de outra forma, corremos o risco de ter profissionais bastante qualificados,
com o perfeito domínio das práticas e teorias do trabalho social, mas sem a
“alma” e o “coração” que fazem olhar para o outro como um seu
verdadeiramente igual. Esta é a questão mais difícil, pois, exige um conhecimento
de si mesmo bastante grande, uma capacidade de autocrítica permanente e
disponibilidade para aprender mais com os outros, de melhorar sempre, de estar
receptivo à mudança, à dos outros mas também à sua própria mudança pessoal.
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Reflexões finais
social, tal como vem sendo trabalhada no seio da FEP/UCP. Reafirmamos, neste
sentido, o compromisso em relação ao processo de desenvolvimento profissional
dos educadores sociais.
Bibliografia recomendada
BANKS, Sarah (org). 2003. Teaching Ethics for the Social Professions.
ESEP/FESET.
BRICHAUX, Jean. 2001. L’éducateur spécialisé en question(s). La profession-
nalisation d e l’activité socio-éducative. Éditions Érès. Ramonville Saint-Agne.
CASTEL, Robert. 1995. Les Métamorphoses de la question sociale. Éditions
Fayard. Paris.
CAPUL, Maurice; LEMAY, Michel. 2003. Da Educação à Intervenção Social
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CARNEIRO, Roberto. 2001.Fundamentos da Educação e da Aprendizagem.
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CARVALHO, Adalberto; BAPTISTA, Isabel. 2004. Educação Social,
Fundamentos e Estratégias. Porto Editora
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SANICOLA, Lia (org.). 1994. L’Interventions de réseaux. Bayard Éditions. Paris
RAVON, Bertrand, ION, Jacques. 2005. Les travailleurs sociaux. La
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ROSANVALLON, Pierre. 1995. La nouvelle question sociale. Seuil. Paris
VÁRIOS. Cadernos de Pedagogia Social. UCP Editora.
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Resumo
O presente artigo tem como propósito realizar uma aproximação à
problemática do Perfil Profissional do Educador Especializado (Social).
Partindo da revisitação de alguns elementos genealógicos em torno da
“educação especializada”, no contexto francófono, e convocando alguns
contributos sociológicos no âmbito das mudanças ou transformações que se
estão a operar quer na realidade social, quer nas modalidades de intervenção
social, os autores procuram realçar algumas das implicações históricas e
sociológicas. Neste quadro interpretativo, sugerem-se alguns elementos
reflexivos e interpretativos que possam contribuir para a clarificação
conceptual do perfil profissional, no campo socioeducativo. O artigo termina
com a apresentação de uma proposta relacionada com a emergência da figura
do Educador Social, que tende a configurar-se a partir do seguinte perfil
profissional: (a) a mobilização de uma escuta clínica; (b) a promoção de um
tacto pedagógico; e (c) a convocação de uma postura ética.
1
Docente na área de Ciências da Educação da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de
Leiria canastra@esel.ipleiria.pt
2
Professora Associada na área de Ciências da Educação da Universidade Aberta manuelaf@univ-ab.pt
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Nota de Apresentação
Cadernos de Pedagogia Social
3
A problemática que tem vindo a debater-se em torno da distinção entre educação escolar versus
educação social ou entre trabalho social versus pedagogia social não será objecto de discussão no
âmbito deste artigo. Para aprofundar estas questões remetemos o leitor para (entre outras) duas obras
(Caride, 2005; Molina, 2003). No sentido de facilitar o sentido da nossa leitura, optamos por
considerar que a expressão “educação especializada” (contexto francófono) tende a reconfigurar-se na
expressão “educação social” (López Noguero, 2005; Ortega, 1999).
62
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4
Este “programa institucional”, segundo Dubet (2002), reveste o seguinte significado: (a) “o programa
considera o trabalho sobre (o sublinhado é nosso) o outro como uma mediação entre valores universais
e indivíduos particulares; (b) afirma-se como um trabalho de socialização baseada nesses valores e
pressupõe uma vocação; (c) este programa de socialização visa inculcar normas que conforme o
indivíduo e, ao memo tempo, o torne autónomo e livre”.
63
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5
O nosso propósito não é o de realizar a história da Educação Especializada, mas, apenas, identificar
alguns dos elementos genealógicos que podem estar na base da composição actual do perfil
profissional dos educadores sociais. Quanto às diversas fases, embora se demarquem no tempo
(leitura diacrónica), na prática, acabam por coexistirem nas várias lógicas de acção, e que por isso
mesmo são incorporadas em determinadas posturas profissionais.
6
Esta fase, do ponto de vista cronológico, abrange um período que vai dos anos 40 até meados dos
anos 60 (séc. XX).
64
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7
O termo de “intervenção psicopedagógica” (Alfred Binet,1897, cit. em Ravon, 2005) reporta-nos para
a relação que passou a estabelecer-se entre os contributos da Psicologia Experimental e as suas
repercussões no quadro da pedagogia (escolar e, mais tarde, social).
8
Que se situa entre as décadas de 70-80 (séc. XX).
65
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9
Esta última fase enquadra-se no contexto dos anos 90 e seguintes (séc. XX).
66
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como “acompanhamento clínico”10 (Ravon, 2005), uma vez que o seu objecto de
10
O termo “acompanhamento clínico”, no âmbito da nossa análise, refere-se à articulação de contributos
oriundos de duas disciplinas: a Psicologia e a Sociologia. A expressão “clínica psicossocial” (ver, entre
outros, De Gaulejac, 1993; Ravon, 2005) tende a catalizar estes vários contributos. No entanto, neste
caso concreto, quando se está a utilizar esta noção, o significado da mesma está associado ao
posicionamento “psicanalítico” (Rouzel, 1997).
67
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tornar sujeito” da sua existência (Touraine, 2005). Todavia, este processo, em vez
Cadernos de Pedagogia Social
sociólogos a criarem uma nova figura para traduzir e expressar este mal-estar
Cadernos de Pedagogia Social
sócio-psíquico: a figura do “sofrimento social” (por ex., Joubert & Louzoun, 2005;
Ravon, 2005). Esta nova figura sociológica induz-nos numa nova interpretação dos
“problemas sociais”: a interiorização subjectiva das problemáticas oriundas de
um contexto social gerador de “insegurança social” (Castel, 2003).
O papel do Educador Especializado (Social), neste contexto social, começa
progressivamente a ser percepcionado numa “óptica de acompanhamento”
(Nègre, 1999). Trata-se de preconizar uma acção profissional que reconheça a
“capacidade de acção” do indivíduo (Honneth, 2000), mas no quadro de uma
mediação institucional (suporte social) (Castel, 2003). Este tipo de
acompanhamento profissional, mais do que tentar resolver os problemas das
pessoas, procura reabilitar um “espaço de intersubjectividade” (Autès, 1999), a
partir do qual se possa co-produzir uma resposta com os implicados. Importa por
isso mesmo valorizar o papel da “escuta” do sofrimento deste novo “indivíduo
negativo” (Castel, 1995; Ravon, 2005).
A “escuta clínica”, perspectivada a partir da concepção veiculada por alguns
autores (por ex., Karsz, 2004; Ravon, 2005), tende a ser convocada a partir da
articulação entre os vários contributos oriundos quer da psicologia, quer da
sociologia. Esta visão integrada – configurada a partir do conceito “psicossocial”
(Ravon, 2005) ou “transdisciplinar” (Karsz, 2004) - procura superar uma certa
visão estreita da perspectiva “clínica”, na sua versão psicanalítica (Rouzel, 1997),
e que se centra quase exclusivamente na dimensão intrapsíquica do sujeito.
A “postura clínica” (De Gaulejac, 1993) salienta o papel da dimensão relacional
(a relação), a partir da qual se pretende “escutar” (sensivelmente) o sujeito, portador
de uma condição sócio-histórica e de uma inscrição simbólico-cultural. Esta “escuta
clínica”, para Vincent de Gaulejac (1993: p.14), “tem por objecto deslindar os nós
complexos entre os determinismos sociais e os determinismos psíquicos, tanto nas
condutas dos indivíduos e dos grupos, como em relação às representações que
estes se fazem daquelas. Esta (clínica) inscreve-se no coração das tensões entre
objectividade e subjectividade, entre estrutura e acção, entre indivíduo produto sócio-
histórico e indivíduo criador de história, entre reprodução e mudança, entre
dinâmicas inconscientes e dinâmicas sociais…”.
Partindo destes pressupostos, brevemente esboçados, regressamos ao nosso
questionamento inicial: num contexto social atravessado pela “insegurança”, pela
70
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11
Esta ideia de que o “sujeito de educação” é agente de si próprio inscreve-se no debate que se tem
gerado em torno do conceito de “autoformação” (Pineau, 2000). Com efeito, o educador ou o
pedagogo, apenas, trabalha com as “condições”, quanto e aos processos de aprendizagem, estes são
de “autoria” do próprio sujeito (Meirieu, 2001. Neste sentido, o conceito de “educação” reveste-se de
um duplo significado: a educação como uma acção pilotada pelo sujeito de educação; a educação
como uma relação de acompanhamento que visa gerar condições para que este se torne “sujeito social
aprendente” (Dumazedier, 2002).
71
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alguns dos traços específicos que podem estar na base da configuração do perfil
profissional associado a esta nova figura: o Educador Social.
12
Esta investigação (em fase de conclusão) inscreve-se no âmbito de um Doutoramento em Ciências da
Educação, especialidade Educação Pessoal, Social e Comunitária. Tem como problemática central os
dilemas (tensões/contradições) a partir dos quais um grupo de futuros(as) Educadores(as) Sociais
tende a (re)apropriar-se do sentido de que se revestem os seus processos de profissionalização.
73
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tornar-se “sujeito-autor”13.
Neste sentido, o papel da pedagogia tende a deslocar-se da sua “postura
normativa” para se assumir numa “postura de acompanhamento” (Nègre, 1999).
Trata-se, deste modo, de sugerir, mais do que impor; de escutar, mais do que
diagnosticar; de acompanhar, mais do que conduzir (dirigir ou orientar); de
reconhecer, mais do que intervir (sobre ou outro) (Dubet, 2002; Honneth, 2000;
Van Manen, 1998).
É no quadro global desta interpretação que apresentamos a nossa proposta
relacionada com a construção do perfil profissional do Educador Social e que
combina, de forma dinâmica e dialógica, três elementos configurativos: (a) uma
escuta clínica (transdisciplinar) (Karsz, 2004); (b) um tacto pedagógico (Van
Manen, 1998); e (c) uma postura ética (Paturet, 1995; Charlier, 1998).
A “clínica transdisciplinar” (Karsz, 2004) procura mobilizar uma escuta
baseada numa desconstrução das “configurações ideológicas mobilizadas” nas
situações, nos problemas, nas experiências, nas concepções dos indivíduos ou
nos dispositivos de intervenção dos próprios actores profissionais. Com este tipo
de clínica (transdisciplinar), o Educador Social começa por fazer um trabalho de
elucidação com o sujeito, de forma a objectivar (distanciamento) o mais possível
a situação ou o problema que o afecta. Esta “postura clínica transdisciplinar”
tenta explicitar o que, muitas vezes, reside na sombra, está oculto ou não é
verbalizado; ou o que, com alguma frequência, não é tido em conta: o
inconsciente, o desejo, as motivações; ou, ainda, o que em muitos casos está por
detrás das situações (ou problemas) dos indivíduos: os valores, os interesses, os
13
Ferreira-Alves e Gonçalves (2001: p. 66-67) estabelecem, de uma forma clara, a distinção entre os
conceitos de “autonomia” e de “autoria”: “Na noção de autonomia como objectivo educativo para o
nosso tempo repousam, provavelmente, dois grandes equívocos: em primeiro lugar, uma epistemologia
absolutista (positivista), proveniente da crença na superioridade máxima das operações formais na
construção do indivíduo e, em segundo lugar, uma visão que concentra no sujeito individual e
descontextualizado a fonte do seu sucesso no mundo, proveniente do conceito de identidade que lhe
está associado. À autonomia queremos contrapor e propor um novo conceito que nos parece conciliar
em si as exigências pessoais e sociais de uma sociedade pós-moderna: a Autoria. Promover a autoria
é procurar fazer de cada indivíduo um autor da sua história. Só que, por contraponto ao sujeito formado
pela escola da modernidade, a quem se procurou promover a autonomia, o autor é alguém
comprometido e envolvido com as circunstâncias familiares, sociais, culturais e históricas do seu
tempo”.
74
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14
Saül Karsz (2004: 146) considera que a actividade educativa é, eminentemente, normativa e, por isso,
ideológica. O autor estabelece, deste modo, uma distinção entre as noções de “objectividade” e a
“neutralidade”. Em relação à primeira, reporta-se ao registo científico; quanto à segunda, remete para
à dimensão ideológica. Na verdade, o autor considera, que a pretensa neutralidade, não passa de uma
ideologia que atravessa quer os discursos quer as práticas da actividade profissional dos trabalhadores
(educadores) sociais.
75
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15
Paul Ricouer (1990) distingue a moral da ética. Enquanto que a primeira se reporta ao comportamento
ou à conduta concreta dos indivíduos em relação às “normas”; a ética inscreve-nos numa postura
reflexiva relacionada com o sentido de que se reveste essa mesma conduta. Por isso, mais do que
saber se uma determinada conduta é correcta ou justa, a ética procura mobilizar um questionamento
permanente sobre os motivos que levam alguém a construir o sentido do seu posicionamento no
quadro de determinadas normas.
76
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77
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Referências Bibliográficas
Cadernos de Pedagogia Social
80
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Resumo
O artigo que agora se apresenta enfatiza a Educação e intervenção
Intergeracional e fundamenta-se a partir de um projecto – Redes de Encontro
Intergeracionais – especialmente criado e desenvolvido, no âmbito do nosso
trabalho de doutoramento, com a finalidade de aferir a validade sócio
pedagógica de práticas de educação e intervenção intergeracional, em
contexto escolar (1ºCiclo). Cada sessão (semanal) exaltava princípios de
partilha, saberes e competências entre gerações. A análise dos
documentos/testemunhos (quantitativos e qualitativos) indicam que o projecto
ajudou a criar um quadro de ideias mais positivas sobre o envelhecimento e
promoveu atitudes igualmente positivas entre gerações.
Introdução
1
Docente da Faculdade de Educação e Psicologia/UCP
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Participantes/Amostra
Estratégias de Desenvolvimento
87
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Sobre as Iniciativas
Cadernos de Pedagogia Social
Entre visitas...
para celebrar formalmente o fim dos «encontros» e associar a nossa festa à festa
89
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Dos Resultados
Para mim o idoso é quando uma pessoa tem bastante idade. O idoso chega a uma
Cadernos de Pedagogia Social
certa idade que já não fala e também já não anda. Alguns idosos quando já não conseguem
andar tem que ficar na cama ou às vezes os vão passear. Os idosos têm os ossos muito
frágeis, por isso quando caem têm que ir logo para o hospital (…) (Doc. 14C_10_05).
Ou,
o idoso é muito doente e têm dores de costas ou tem dores de cabeça (…). O idoso
tem que ir ao médico, os novos não têm esse problema, porque tem um corpo saudável e
os idosos não porque já têm muita idade (Doc 22C_10_05).
A turma ficou mais unida, mais compreensiva entre si, mais afectiva e carinhosa (…)
De início não queria participar. Depois, pensei melhor e achei que devia dar-me uma
oportunidade (…). Sempre saía um bocadinho! E assim, passava melhor o tempo. Habituei-
me a estes encontros, a estas crianças, era com grande satisfação (e até ansiedade) que
aguardava a chegada das crianças e a ida à escola. Foi muito bom e importante para mim
(Q1-Sr R).
93
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fomos convidados a participar. Achei que era interessante e uma coisa diferente. Por
isso aceitei. Não me arrependo. Era muito agradável. Às sextas-feiras lá íamos nós (…). Ou
vinham cá eles (…).O carinho que recebi e a relação que criamos com as crianças e com
as senhoras professoras é o aspecto mais importante a registar (Q1-Sra O).
As crianças amaciaram-me (…). O que não é fácil. Sou uma pessoa pouco acessível
[os presentes concordaram]. Não gosto de convívios, nem de festas (…). Mudei (…).
Noutros tempos não sei se admitia fazer este convívio (…). Mas, um miúdo em particular
fez-me repensar certas atitudes adoptadas no passado (…). Noutros tempos (…) eu era
uma pessoa diferente (…). Diria que este miúdo me conquistou (…) [olhando para os outros
… que acenaram a cabeça em sinal de confirmação]. É verdade (…) durante a minha
participação, mudei (…) (Q2 - Sr. R).
uma das maiores aprendizagens sentidas tem a ver com os afectos, com o carinho que
aprendemos a ter por aquelas crianças e elas por nós. A relação que se criou é o que de
mais importante aprendemos (Q2 – Sra. L).
Foi um tempo muito bom. Até me esquecia das doenças. Não me doía nada (…) A
sério (…). A vinda das crianças ao lar e nós à escola, fez-me olhar diferente. Deixar algumas
coisas para traz (…). Como as crianças se divertiam! Corriam (…) temos muito espaço (…)
fartavam-se de correr e brincar (…). Não era (…). Se pudesse, gostava de continuar… (Q4
– Sra. L).
Viver os seus dias de forma agradável, onde o convívio pode ser uma
importante estratégia de «bem viver» e de mais aprender são as dimensões
dominantes. O jeito de falar e a troca de olhares permite elaborar um outro
«retrato», onde as emoções, os sentimentos e a esperança «brilha» nos olhos de
cada um.
As viagens à escola (…) a visita das crianças ao lar, (…) as entrevistas que as crianças
nos faziam (…) tão engraçadas! A boa disposição (…) o carinho com que nos tratavam e
nos abraçavam (…). Foi um tempo muito bom (…). Foram momentos inesquecíveis (Q4 –
Sra. I).
Tal como aconteceu com o grupo sénior, também no grupo juvenil começou-se
por fazer referência ao projecto e aos propósitos da “reunião”. No caso, toda a
sessão foi orientada pelo “moderador convidado”. Explicado o âmbito da sessão, as
crianças concordaram em participar. Numa linguagem muito singular, começaram
a dar nota dos aspectos mais significativos deste envolvimento intergeracional.
Todos gostaram muito do contacto que se estabeleceu com as pessoas do lar. O que
mais recordam foi a forma como foram recebidos e o facto de no lar, “haver um lago
com peixinhos, um cão e muito espaço para brincar” (Q1 - V). Ao princípio, dizia um
dos meninos, “parecia uma casa pequenina, mas era muito grande” (Q1 - MT), até
havia “oficinas, onde trabalhavam, de um lado os homens e do outro as mulheres.
Os homens faziam molas, tapetes, …As senhoras faziam bordados e “bonequinhas
muito giras, que nos ofereceram na festa” (Q1 – Mar). Todos foram falando dos dias
que passaram junto e do que fizeram no dia mundial da criança – jogos – sentar no
balão, jogo do saco, teatro, dança, …
95
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mudanças na sua forma de ser e estar foi outro desafio. As respostas foram no
sentido de pensarem de forma diferente, para melhor, o convívio entre as pessoas
mais velhas e a própria velhice. Sobre as aprendizagens, responderam que tinham
sido sobretudo ao nível dos conhecimentos e da percepção de como vivem as
pessoas mais velhas e as “coisas” que fazem e que podem fazer.
Sobre a representação da pessoa idosa, pedimos que usassem quatro
palavras – duas positivas e duas menos positivas, para caracterizar a pessoa
idosa. O consenso é geral, na opinião destas onze crianças, as pessoas idosas
são, sobretudo amigas, inteligentes2 e simpáticas3. Relativamente ao futuro, a
maioria respondeu que gostava que o projecto se repetisse e, se possível, com as
mesmas pessoas.
Conclusão
Para que qualquer sociedade prospere, cada pessoa tem que ser responsável
e comprometida com o devir do seu trajecto de vida e, naturalmente, com o futuro
das novas gerações. Nesse sentido há que «cultivar» uma nova mentalidade e
assim fazer nascer uma solidariedade que responsabilize e possibilite a cada um
sonhar um horizonte germinado por sementes de altruísmo, ética e educação. É
nesse horizonte que interessa reflectir a Educação Social e, evidentemente, a
Educação Intergeracional enquanto eixo imprescindível para “criar condições
diferenciadas para que grupos etários diferentes possam ter acesso e exercer o
poder e o controlo sobre as suas próprias vidas, de forma a potenciar o bem estar
das suas comunidades” (Menezes, 2007, p. 63) e, naturalmente, abrir «lugares»
numa sociedade que se deseja para todas as idades.
«Aprender a ser» é um exercício que nos acompanha desde que nascemos até
que morremos e, nesse sentido, a pedagogia social enquanto ciência preocupada
e voltada para o desenvolvimento do ser humano facilita e promove a inclusão
social, a cooperação e a solidariedade. Por outras palavras, a Pedagogia Social
2
Nesta categoria, agregamos as seguintes subcategorias: esperto, sábio, génio, criativo.
3
Nesta categoria, agregamos as seguintes subcategorias: amoroso, querido.
96
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97
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Referências Bibliográficas
Cadernos de Pedagogia Social
100
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Resumo
Este artigo tem por objectivo caracterizar as relações de alteridade na
dinâmica do espaço e da população dos Bairros centrais da cidade de São
Paulo, destacando os diferentes aspectos de sua modernização no quadro da
evolução capitalista, que intensificaram o seu ritmo de actividades, bem como
as desigualdades espaciais entre áreas urbanas. Esses factores têm
consequências directas sobre as diferentes formas de hospitalidade que a
cidade vem adquirindo através dos tempos. Estereótipos se criaram em função
de sua imagem de “selva de pedra”, e portanto, de inospitalidade, ao lado de
outras que se constituíram no processo de acolhimento aos imigrantes
estrangeiros e aos migrantes internos, de uma cidade que oferece
oportunidades, que acolhe sem discriminação. Resulta dessa reflexão a
constatação da possibilidade de criação de formas de solidariedade e de
espaços ou lugares de hospitalidade na vida colectiva dos Bairros e das festas
comunitárias.
1
Docentes do programa de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi- UAM/ São
Paulo / BRASIL
2
Universidade Anhembi Morumbi- UAM/ São Paulo / BRASIL
3
Universidade Anhembi Morumbi- UAM/ São Paulo / BRASIL
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Este trabalho resulta das reflexões levadas a efeito pelo grupo de pesquisa:
Socioantropologia da Hospitalidade, do Mestrado em Hospitalidade, da
Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, Brasil. A proposta do trabalho é
reflectir sobre as relações de alteridade no contexto da hospitalidade urbana,
tomando-se como referência o espaço urbano como universo de relações sociais.
A reflexão centra-se num projecto de pesquisa intitulado “São Paulo recebe”,
levado a efeito pelo grupo de pesquisadores com o objectivo de entender a
dinâmica do espaço e da população dos Bairros centrais da cidade de São Paulo,
percorrendo seus arredores (arrondissements), inspirando-se em grande parte, na
pesquisa efectuada por Michel et Monique Pinçon-Charlot para a cidade de Paris.
(Cf. Pinçon e Pinçon-Charloy, 2001) e na reflexão de outros autores que serão
mencionados no decorrer do artigo. O projecto em curso, objectiva levantar
situações de acolhimento e inospitalidade na região central da cidade de São
Paulo.
Para tanto, são necessárias algumas informações sobre a cidade e seus
bairros centrais: centro de comércio e de serviços, intensamente verticalizada, o
Centro de São Paulo caracteriza-se por uma ocupação de intenso dinamismo no
horário comercial, grande adensamento populacional e baixo índice de moradias
em condições subnormais. Concentrando importante património histórico cultural,
destacam-se nessa área, as tradicionais ruas de comércio especializado: 25 de
Março (bijutarias, papelaria e tecidos), Santa Efigénia (equipamentos
eletroeletrónicos e computadores), São Caetano (vestido de noiva), José Paulino,
Oriente e Maria Marcolina (vestuário popular e enxovais).
Parte das edificações (muitas tombadas pelo Conselho Municipal de
Preservação do Património Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo
– Conpresp) encontra-se em um processo de alteração de uso, transformando-se
em centros culturais (prédio dos Correios do Vale do Anhangabaú, Caixa
102
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Económica Federal da rua Roberto Simonsen, entre outros), bem como abrigando
4
O triângulo histórico é formado pelas ruas Direita, XV de Novembro, São Bento e adjacências.
103
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Ruth Cardoso (1997, p.8) trata-se de algo novo que está mudando a sociedade e
Cadernos de Pedagogia Social
que não quer “se submeter nem à lógica do mercado nem à lógica
governamental”.
Há uma grande diversidade de atores. Entre essas organizações o
denominador comum é o carácter voluntário e o compromisso com a
comunidade. Esse novo espaço de iniciativas sociais se abre para a
experimentação de novos modos de actuar, agir na comunidade e interagir com
ela. É o que Isabel Baptista (2005, p.12) chama de “dimensão ética ligada à
responsabilidade de existirmos em sociedade. Esse largo campo de iniciativas
representa um aspecto importante na moderna concepção de solidariedade com
função redistributiva e sua proliferação se explica pelo fracasso do modelo
económico em reduzir as desigualdades e assimetrias sociais e pela impotência
do estado em atender às necessidades básicas da cidadania.
112
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Considerações finais
113
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Referências bibliográficas
Cadernos de Pedagogia Social
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Resumo
Com este trabalho procuramos justificar como o modelo bioecológico de Urie
Bronfenbrenner e o modelo transaccional de Sameroff e colegas poderão ser
utilizados como guias úteis para evidenciar a necessidade de uma atenção
especial para com as crianças e suas famílias.
1
Docente da Faculdade de Educação e Psicologia/ UCP
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Bibliografia
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Resumo
O presente texto procura apresentar, antes de mais, o distrito do Gúruè2 e o
Centro Polivalente Leão Dehon3, considerado um dos mais organizados e
eficientes em Moçambique, pelas instituições governamentais, não
governamentais e educativas. A ALVD4 como entidade e a sua intervenção em
Moçambique constituem o segundo ponto do nosso desenvolvimento. Em
terceiro lugar, salientamos os princípios pedagógico-sociais desta Associação.
GÚRUÈ
1. Situação em geral
O distrito do Gúruè localiza-se a Norte da Província da Zambézia
(Moçambique), também chamada Alta Zambézia, zona montanhosa, tendo como
limites o distrito de Malema ao Norte, a Sul com o Distrito de Mamarrói, Ile a Este
com o Distrito de Alto Molócué, ao Oeste com os Distritos de Milange e Cuamba.
É no Distrito do Gurúè que se localiza o ponto mais alto da província, o Monte
Namúli, com 2.419 metros de altitude. Este distrito é composto por 22
1
Docente da Faculdade de Educação e Psicologia/ UCP
2
Os anciãos, classe do povo, que veicula a tradição, referem que a palavra Gúruè (em lomwè) significa
javali, porque, em tempos idos era uma região avassalada por estes animais.
3
João Leão Dehon, francês, fundou a Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus em 1978.
4
Associação de Leigos Voluntários Dehonianos.
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Muaquia com 8 bairros; Mucunha com 7 bairros; Murrimo com 13 bairros; Vehiua
com 10 bairros.
Um dos postos Administrativos é o Lioma, do qual fazem parte as seguintes
localidades: Muximua com 4 bairros, Lioma, Magige, Nintulo, Mualijane, Tetete.
Um outro posto administrativo é o de Mepuagiua, do qual fazem parte as
seguintes localidades: Mepuagiua, Incize, Nicoropale, Nipive, Mugaveia. O bairro
com um maior número de população é o Bairro Mepuariua com 3.869 habitantes,
seguido do Bairro Cooperativo com 3.239 habitantes.
Tem uma superfície de 5.688Km2 e uma população de 241. 303 habitantes
em 2005, o distrito do Gúruè tem uma densidade de 42.6 habitantes por Km2. A
percentagem de mulheres é menor que a percentagem de homens na cidade do
Gurúè. As mulheres constituem 49% enquanto para os homens constituem 51%
da população.
A população é jovem com 46% abaixo dos 15 anos.
Com 74% da população analfabeta, predominantemente mulheres, a taxa
escolarização no distrito é baixa, constatando-se que só 41% dos habitantes
frequentam ou já frequentaram a escola
Só 2% das casas têm água canalizada, 14% já tem casa de banho, só 1% tem
electricidade e 19% têm rádio.
O quadro epidémico do distrito é dominado pela malária, diarreia, DTS e SIDA
que, no seu conjunto representam quase a totalidade dos casos de doenças no
distrito.
Só 24% das mulheres tem o conhecimento da língua portuguesa. A taxa de
analfabetismo na população feminina atinge os 85%. Das mulheres com mais de
5 anos, só 69% frequentaram a escola.
O tipo de habitação modal do distrito é a palhota, com pavimento de terra
batida, tecto de capim ou colmo e paredes de caniço ou paus5.
5
Ministério da Administração Estatal (2005). Perfil do Distrito do Gúruè. Província da Zambézia.
Moçambique. Série: Perfis Distritais.
126
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Mapa 1
127
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2. Caracterização da população
Cadernos de Pedagogia Social
mas não matriarcal. Contudo, é grande o respeito com que a tratam, sobretudo,
3. Carências da comunidade
6
Este centro situa-se mesmo à saída da cidade do Gúruè, incluindo a escola e a fábrica.
7
Os Directores são religiosos da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, italianos ou
moçambicanos, também conhecidos por SCJ ou dehonianos.
130
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ALVD
1. Estatutos
A ASSOCIAÇÃO DOS LEIGOS VOLUNTÁRIOS DEHONIANOS, designada por
ALVD (Artigo 1º) é uma associação privada voluntária, sem fins lucrativos, e tem
por objecto o Apoio Humanitário e o Desenvolvimento Comunitário (Artigo 3º).
A ALVD tem por objectivos: intervir em situações de necessidade; cooperar, em
regime de voluntariado, na formação humana, cultural e social nos países em
desenvolvimento; contribuir para o aprofundamento do sentido da vida humana;
implementar o espírito associativo (Artigo 4º).
Desta forma, a ALVD procura desenvolver projectos de solidariedade para
diminuir as desigualdades sociais. Procura responder também às necessidades
onde está inserida, de uma forma gratuita e solidária, através do trabalho dos
voluntários9.
8
Segundo o relatório de actividades da ALVD (2000).
9
A partir do ano 2000, a ALVD já preparou e enviou cerca de 70 voluntários, a maior parte com
intervenções de um ano e os outros com intervenções durante um mês em Moçambique.
131
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seguintes actividades:
realização de projectos no âmbito da promoção humana, cultural e social;
desenvolvimento de acções de formação no âmbito da educação para a
saúde;
promoção da educação e formação das crianças, adolescentes, jovens e
adultos;
promoção da educação para a cidadania (Artigo 5).
10
As intervenções da ALVD circunscreveram-se ao Centro Polivalente Leão Dehon do Gúruè de 2000 a
2007. A partir de 2007, há voluntários da ALVD a intervirem no Centro Juvenil de Alto Mólocuè e em
2008 voluntários da ALVD em Nampula, no Centro Cultural Napipine.
132
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3. Áreas de intervenção
O Centro Polivalente do Gurué é um centro que emprega 150 trabalhadores na
parte industrial e tem uma escola básica industrial. É o único centro da região,
onde existe uma escola de carácter técnico.
Dada a carência de meios humanos (educadores, professores e outro pessoal
auxiliar para a escola), materiais (livros e todo o material didáctico para a escola),
assim como apoio cultural para a referida cidade e para a região do Gurué, a ALVD
sentiu necessidade de intervir no sentido de ajudar a responder às necessidades
locais.
Área de intervenção (educação). Um primeiro contexto de intervenção na área
da educação, é a Escola Técnico Profissional. O local de intervenção tem como
designação “Escola Básica Industrial do Gúrùe” (EBIG).
A escola abrange um total de 80 alunos, divididos pelas áreas curriculares de
Electricidade Geral, Mecânica - Auto e Serralharia Mecânica. Estes cursos têm a
duração de 3 anos, tendo uma componente prática muito forte.
Os currículos destes cursos têm disciplinas como o português, matemática,
higiene e segurança no trabalho. Pretende-se investir nos recursos humanos, ou
seja, enviar professores especializados nas áreas referidas.
Para além das disciplinas curriculares, existe uma outra componente de
disciplinas como o Inglês a Informática e Secretariado.
Objectivos nesta área:
Enviar professores especializados nas disciplinas curriculares de carácter
geral.
Contribuir para aquisição de novos conhecimentos.
Colaborar para a consolidação das disciplinas curriculares e extra
curriculares.
Permitir a entrada e a frequência de alunos na escola sem recursos
económicos.
133
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Educação
Educação e sociedade
Qualquer pessoa, medianamente sensível ao contexto social, detecta que é o
modo completo da vida que educa. O contexto social, no seu conjunto, educa-nos
e cria um espaço em que as nossas escolas operam.
Uma genuína sociedade educadora significa mais do que uma sociedade com
boas escolas. Significa, entre outras coisas, uma sociedade com um sentido do
que é bom para a comunidade, com uma moral social e com uma memória do
próprio passado. As escolas podem contribuir para isto, mas não podem criá-lo
fora de todo o contexto. Alguns poderão pensar que só uma transformação
democrática das instituições tornará possível a sociedade educadora.
A educação só pode ter êxito quando, na escola, os professores tiverem o
conceito solidário da sua missão e também quando outras comunidades
implicadas ajudarem as famílias na organização das escolas.
As implicações no âmbito da educação são múltiplas, diversas e são de
grande interesse as questões que se colocam: a noção de liberdade e a relação
do indivíduo com a sociedade tem implicações educativas; as funções da família,
da escola e a lei na formação moral; os direitos no terreno educativo: a dimensão
social, humana forma parte da essência do homem? Que repercussões tem na
educação? O que é hoje a educação e qual é o seu futuro? Que imagem de pessoa
ou que conceito de sociedade se mantém ou fomenta? Como educar hoje numa
sociedade com tão grande variedade de tradições culturais? Tradição ou
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A educação pode ser considerada como uma iniciação dos jovens, membros
Educação do cidadão
O conceito de educação individualista deve ser completado junto da polis. Já
Platão aponta uma definição de educação, que pode situar a questão, como
aquela que desde a infância exercita o homem à virtude e inspira o vivo desejo de
chegar a ser um cidadão perfeito que saiba governar e ser governado de acordo
com a recta justiça. A educação deve formar o cidadão. O carácter social da
educação está sempre presente na tradição e no pensamento grego. O homem é
um animal político, diz Aristóteles. A virtude colectiva é a consequência necessária
da virtude individual.
A educação do indivíduo identifica-se com a formação política. O problema
educativo que era para os gregos o problema da vida, devia ser o problema da
vida política. Toda a cidade está empenhada em educar e organizar diversas
actividades com a finalidade de formar as consciências, mediante o contacto
directo e a participação imediata na vida política comunitária.
A educação ateniense na escola e na cidade tinha duas finalidades precisas:
o desenvolvimento do cidadão fiel ao Estado e também a formação do homem
como pessoa que adquiriu plena harmonia e domínio das próprias actividades.
O problema da educação é um problema ético, mas a dimensão política é uma
actividade de cidade.
O homem é, por natureza, um animal político; nele a tendência de viver em
sociedade com os seus próprios semelhantes, não só porque tem necessidade
dos outros para a sua conservação, mas também porque não poderia ser virtuoso
sem as leis e a educação. A sociedade não é uma formação artificial, mas uma
necessidade natural das diversas formas de vida associada; a de Estado é,
cronologicamente, a última a formar-se, mas logicamente é a primeira: defender
os cidadãos e educar física e moralmente a quem participa na vida pública. Em
Aristóteles, ética e política completam-se11.
11
Neste princípio da educação, seguimos de perto Naval (1995).
137
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2. Responsabilidade
Cadernos de Pedagogia Social
3. Solidariedade
Dizia Tamaro (2002, p. 134-136) que
139
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Não existe o “eu” isolado. Para que haja o “eu”, este deve projectar-se para
Cadernos de Pedagogia Social
12
A etimologia de solidariedade começa na palavra latina solidus que significa moeda forte, estabilidade
económica forte. Posteriormente, o termo passou do campo económico para o jurídico: in solidum é a
obrigação contraída com outros, mas que afecta cada um. Pode também dizer-se que solidariedade é
o modo de direitos ou obrigação in solidum, adesão circunstancial à causa ou à empresa de outros.
No Direito Romano, a solidariedade tem o sentido de obrigação moral, in solidum, de vários sujeitos
em relação a um objecto único e idêntico (por exemplo vários padres párocos in solidum da mesma
paróquia). Actualmente, o termo solidariedade tem um sentido ético para designar a convicção de que
cada ser humano deve sentir-se responsável pelos outros.
13
SRS, nº 38. Este documento de João Paulo II, A solicitude social da Igreja, apresenta-nos os nºs 38,
39 e 40 sobre a solidariedade.
140
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4. Voluntariado
Podemos afirmar que os valores mais salientes do voluntariado são a
gratuitidade, a solidariedade, a responsabilidade, espírito de colaboração perante
o ser humano necessitado.
Os jovens e os adultos não têm em geral dificuldade em serem voluntários;
não têm dificuldade em dedicarem parte do seu tempo aos que mais necessitam.
O ser humano possui a capacidade de dar-se com alegria e entusiasmo, ajudando
a dar sentido e razão de viver a quem das mais variadas formas necessita.
O voluntariado é mais do que uma acção. É um movimento. É um estilo de
vida animado pelo amor ao próximo e pela solidariedade com o mais necessitado
e desprotegido. O voluntário procura criar espaços de solidariedade, a fim de
contribuir para a promoção humana integral do outro e favorecer a mudança
pessoal e social na perspectiva da justiça e da solidariedade.
Nanni (1999) afirma que o voluntariado está a assumir um papel cada vez
mais preponderante, sobretudo na escola, porque os jovens têm a necessidade de
propostas novas, de estímulos convincentes e o voluntariado é uma resposta de
empenho.
Ser voluntário é essencialmente uma vocação, porque envolve todo o ser da
pessoa, antes de uma intervenção concreta. O voluntário não é aquele que faz,
mas aquele que é, que está num caminho progressivo de estruturação da sua
personalidade para a oblatividade, para o dom de si. É um processo de
crescimento que se reforça e se orienta para uma nova ocasião de serviço. Este
141
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5. Gratuitidade
A gratuitidade não está, por si, ausente das relações sociais e muitos grupos
humanos praticam-na. Há, no entanto, uma espécie de lógica do intercâmbio. Ao
colocar-se a restituição no interior do intercâmbio, perde-se a dimensão da
gratuitidade. Procura-se a reciprocidade e a equivalência. Presta-se um favor na
intenção de ser recompensado.
No âmbito das actividades económicas, a matriz é o intercâmbio, e nos
chamados mundos vitais14, a gratuitidade funciona como a regra. Na família, há
um cuidado desinteressado pelos outros e, sobretudo, pelos membros mais
14
Os mundos vitais são espaços de experiências gratuitas como a família, voluntariado e outras
instituições com estas características.
142
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débeis, sem esperar nada em troca. A comunidade religiosa funda-se sobre a livre
15
Há valores éticos fundamentais: a liberdade, como tendência a realizar-se plenamente a si mesmo, no
que se refere à liberdade dos outros; a relacionalidade como tendência a realizar-se, em modo
cooperativo e competitivo, em relação aos outros; a historicidade da existência como tendência a
realizar-se no presente, num diálogo fecundo com o passado, já constituído e herdado, e com um
futuro aberto a novidades e a novas responsabilidades.
143
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sociedade de tal modo que a natureza social e amante do homem não seja
Cadernos de Pedagogia Social
separada da sua existência social, mas seja uma coisa só. Se o amor é verdadeiro,
é a única solução válida para o problema da existência humana. A sociedade que
exclui o desenvolvimento do amor mais tarde ou mais cedo perece.
O amor, cuja expressão mais alta é a gratuitidade, não pode ser relegado para
a esfera dos sentimentos, mas para a transformação de toda a sociedade. A ideia
de gratuitidade está oculta há muito tempo na sociedade ocidental
contemporânea, mas pouco a pouco vai emergindo. A família é um dos lugares
desta imersão.
Para salvaguardar o espírito da gratuitidade, numa sociedade dominada pela
cultura tecnológica, é necessário defender os espaços de fantasia, de criatividade
e de liberdade, tirados ao dia, que está programado e predeterminado16.
Para Baccharini (2001, p.67-68), o ser humano é constituído segundo uma
lógica de radical gratuitidade. É gratuito. O ser humano é auto-significativo. A
gratuitidade assume-se como sinónimo de totalidade de sentido. A gratuitidade da
pessoa indica uma originalidade, uma principialidade, que a tornam única. A
unicidade e a irrepetibilidade são significativas a partir da lógica da gratuitidade.
A gratuitidade é singularidade. Na gratuitidade ontológica, manifesta-se uma
autosignificatividade absoluta que é o pressuposto da dignidade.
16
A sociedade conhece o momento da alegria, da descontração, do divertimento. Em geral, o princípio
da sociedade não é representado pelo prazer, mas pelo dever e toda a vida social é concebida como
um conjunto de deveres e de obrigações. Nos mundos vitais, esta dimensão de alegria, de
espontaneidade, de liberdade está constantemente presente e constitui a sua alma profunda. Basta
pensar na dimensão do prazer, de alegria, de intercâmbio emocional que caracteriza a relação entre o
homem e a mulher, não só sob o aspecto da sexualidade, e também, a relação entre pais e filhos.
Quando a família é fiel à sua profunda vocação, as relações homem-mulher, pais-filhos são colocadas
no sentido do amor, numa linha de espontaneidade, de liberdade de relações e, não só em direitos e
deveres, obrigações. Na família e na comunidade religiosa, o que conta é a atitude de espontaneidade
nas relações, um contexto de vida relacional, onde há o humor, o riso, aspectos recusados pela
sociedade tecnológica para a qual isto não é útil. Não se entende como a sociedade não conhece a
dimensão da convivialidade. Esta é uma excepção na sociedade, mas uma regra na família. Nesta
atitude à convivialidade, está a força da família. Também a comunidade religiosa é marcada pelas
dimensões de alegria, de criatividade, da espontaneidade de relações que nunca devem ser sufocadas
pela ritualidade da instituição.
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Bibliografia
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Resumo
Neste artigo procuramos reflectir sobre o direito ao trabalho e os novos
desafios que se colocam à integração socioprofissional num cenário de
precariedade e vulnerabilidade, tentando evidenciar as possibilidades de
intervenção sócio-pedagógica a este nível. Assumindo uma perspectiva
direccionada para a mudança positiva, entendemos que é urgente promover
dinâmicas sociais conducentes a uma (re)configuração das políticas de
«protecção» social, em conformidade com as exigências de flexibilidade vindas
de uma sociedade laboral em constante mudança. Esta reflexão insere-se
numa investigação em curso sobre o direito ao trabalho num quadro de
cidadania solidária, realizada no âmbito do Mestrado em Pedagogia Social e
tendo por base a nossa experiência profissional na área de promoção da
empregabilidade, concretamente na Associação Metropolitana de Serviços, no
desenvolvimento e implementação de projectos com vista à promoção da
empregabilidade na área metropolitana do Porto, encerrando tipologias
diversas: desde as acções de diagnóstico, à formação profissional e à gestão
de redes institucionais e de parcerias estratégicas na prossecução destes
objectivos.
1
Este artigo surge no âmbito do mestrado em Pedagogia Social, como trabalho de avaliação na
Disciplina de Politicas Sociais, leccionada pela Professora Isabel Baptista.
2
Socióloga, Mestranda em Pedagogia Social na UCP, técnica dinamizadora de um projecto de
intervenção na Associação Metropolitana de Serviços.
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Introdução
Cadernos de Pedagogia Social
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154
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3
Este estudo foi desenvolvido pela Associação Metropolitana de Serviços, no âmbito do PAFE (Plano
Assistido para a Formação e Emprego, financiado ao abrigo da medida 5121 do POEFDS. A questão
relativa às qualidades dos trabalhadores consideradas decisivas para a sua contratação, foi concebida
sob a forma de uma escala de atitudes, na medida em que os inquiridos se posicionavam perante as
competências (variáveis) pré-estabelecidas.
155
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sociedade salarial, recorrendo assim a uma expressão utilizada por Robert Castel.
Trata-se de traçar um caminho de compromissos mútuos, envolvendo as
entidades geradoras de emprego na concepção de novas estratégias que,
acompanhando as transformações do mercado de trabalho e das novas
competências por ele exigidas, assegurem a protecção das pessoas “em situações
de mobilidade, alternância entre dois empregos, mudança de emprego, de
reciclagem…”, em suma, que “associe novas protecções a novas situações”
(Castel: 2006).
Trata-se também de combater a degradação do modelo de sociedade salarial
tradicional e promover a urgente humanização das novas relações de trabalho.
Sendo admissível que as empresas buscam o lucro, e que dele depende a sua
sobrevivência, é também um facto há muito balizado pela sociologia das
organizações, pela psicologia do trabalho e mesmo pela gestão de recursos
humanos, que a promoção de um ambiente de trabalho propício ao
desenvolvimento das pessoas, e as estratégias de motivação individual para as
tarefas (intrínseca e autónoma), contribuem decisivamente para o sucesso
empresarial. De acordo com o estudo acima mencionado, “é possível que as
empresas possam realizar uma gestão mais consciente e clara, conseguindo um
melhor ambiente de trabalho e obtendo um maior comprometimento dos seus
funcionários, com relações mais consistentes com os seus fornecedores e clientes
e uma melhor imagem face à comunidade” (A.M.S: 2006).
A assumpção deste tipo de comprometimento conduz a uma mudança
cultural, de valores e atitudes, contribuindo para a construção de uma sociedade
mais justa e solidária. Mas a introdução de certas premissas éticas nos negócios
pressupõe o respeito pelo direito, os valores, princípios e interesses de todos
aqueles que, de uma forma ou de outra, são por ela afectados, isto é, “valores e
transparência direccionados para os públicos internos, meio ambiente,
fornecedores, consumidores e clientes, comunidade, governo e sociedade”
(ibidem), que muitas das vezes não são “considerados compatíveis” com a
sustentabilidade económica das entidades empregadoras.
Se nas dinâmicas de contratação, as empresas inquiridas pela A.M.S.
manifestaram claramente uma atitude positiva face à prioridade que dão à
contratação de pessoas em situação de desemprego (55,3%), o mesmo não
156
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de cada um de nós que nos demarcam enquanto seres humanos únicos, que
Considerações Finais
No final deste texto, e como matéria de reflexão que tencionamos prolongar
num projecto de investigação conducente ao grau de Mestrado em Pedagogia
Social, importa lançar algumas possibilidades de aprofundamento sócio-
pedagógico às inúmeras inquietações aqui levantadas: desde o repensar as novas
formas de actuação política no que concerne as protecções sociais, à situação de
precariedade laboral que nos obriga a uma quotidiana gestão do incerto. Importa
reflectir sobre o lugar das entidades geradoras de emprego na concepção destas
respostas, e a possibilidades de intervenção que advêm da aprendizagem ao
longo da vida, que pode assumir aqui novos contornos, reforçando o sentido de
empresa-comunidade.
O desafio maior talvez seja ainda a promoção da capacitação das pessoas
para o exercício de uma cidadania solidária quando a nossa vivência está tão
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Bibliografia de referência
Cadernos de Pedagogia Social
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Resumo
O presente texto procura articular as temáticas do risco e da vulnerabilidade
social como condições pensadas sob o pano de fundo da inserção profissional
dos jovens universitários. Com a intenção de revelar aproximações possíveis
entre as áreas da Psicologia e da Pedagogia Social sobre um mesmo objecto
de estudo, a vida dos jovens recém-formados e suas expectativas de futuro
profissional, pretende-se evidenciar a trama humana que acompanha
percursos existenciais marcados pela ausência de «projecto de vida».
1
Este artigo surge no âmbito do mestrado em Pedagogia Social, como trabalho de avaliação na
Disciplina de Politicas Sociais, leccionada pela Professora Isabel Baptista e insere-se numa pesquisa
de doutoramento em curso desde o ano de 2005, conforme Programa de Pós-Graduação de Psicologia
da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
2
Universidade Federal de Santa Catarina – Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC.
3
Universidade Federal de Santa Catarina – Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
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“O profeta é aquele que anuncia e denuncia. Anuncia aquilo para que o ser humano foi
Cadernos de Pedagogia Social
Leonardo Boff
Introdução
Da exclusão à vulnerabilidade
No contexto da sociedade contemporânea, o conceito de exclusão social
parece cada vez mais desprovido de significado, uma vez que todos estão imersos
na mesma realidade, conforme alerta Robert Castel (1997), tornando necessário
então explicitar a forma como se vai abordar o conceito. O termo «exclusão» é
aqui usado para descrever processos de degradação de relações sociais de
maneira ampla e de relações referentes ao mundo do trabalho de maneira mais
específica. Remete aos problemas decorrentes da insuficiente oferta de serviços
pelo Estado, como educação, saúde, transporte, saneamento, denunciando a
desigualdade implícita na distribuição destes serviços públicos. Neste trabalho,
usamos o conceito de “exclusão” relacionando-o à retracção do número de postos
de trabalho e em relação a perdas de direitos políticos e direitos sociais dos
trabalhadores, considerando que esta perda ocasiona situações de
vulnerabilidade.
Assim, se a propriedade social permitiu ao indivíduo construir a partir do
trabalho uma certa autonomia pessoal, condição da sua independência, hoje em
dia as pessoas têm dificuldade em encontrar espaços onde possam exercer sua
autonomização por razões derivadas do fenómeno do desemprego. “Para a
maioria dos indivíduos o trabalho, é de todas as actividades, a que ocupa a maior
parte das suas vidas (Giddens, 2007). O trabalho, ou mais exactamente o
«emprego», funciona como elemento estruturador na constituição psicológica das
165
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sua autonomização.
A vinculação laboral cria condições de vida que permitem aos sujeitos serem
actores e autores de sua história pessoal. Como podem as pessoas em situação
de desemprego conduzir a sua existência de forma positiva? É na resposta a esta
questão que procuramos delinear a interface entre a pedagogia social e a
psicologia. Tendo em consideração os pressupostos conceituais da pedagogia
social, de que somos todos os sujeitos do presente e, nessa condição, autores de
futuro (Baptista, 2008), pensamos que a presença da acção sócio-pedagógica se
torna cada vez mais necessária para compreender e enfrentar os desafios
provocados pelas novas relações de trabalho.
Durante muito tempo a via do emprego inscrevia o sujeito num universo de
estabilidade e cultura comum. Actualmente vários problemas afectam o
trabalhador, desde a condição de desemprego ou precariedade, mas também a
própria necessidade de mobilidade dos indivíduos (Cabin, 2001). Os
trabalhadores estão submetidos a formas de remuneração obscuras e flexíveis,
ocasionando um enfraquecimento do compromisso dos indivíduos dentro das
empresas e também dentro da sociedade. O trabalhador encontra-se cada vez
mais isolado, tanto no que se refere ao trabalho em equipa dentro das empresas
quanto no que refere à luta por seus direitos. Consequentemente, encontra-se
cada vez mais desprotegido ou em situação de vulnerabilidade.
De certa forma, toda a humanidade está exposta a situações de risco, desde
as que se referem a dimensões globais como a escassez de alimento no mundo
ou as transformações do ecossistema até às dimensões pessoais.
Especificamente ao pensar no trabalho numa economia globalizada, as pessoas
desprovidas dos meios de produção, aquelas que têm de viver da venda de sua
força de trabalho, não encontram condições de segurança social. Para Sennett
(1998) mesmo as pessoas que hoje se encontram empregadas, sentem a falta de
controlo sobre seu tempo e sobre o seu espaço, devido ao tipo de trabalho flexível
e de curto prazo que tem sido a forma mais privilegiada de contrato. O debate
sobre assuntos de interesse comum relacionados com a vivência ou a expectativa
do risco eminente, constitui um campo de acção da pedagogia social com a
mediação da psicologia e de demais áreas afins. Principalmente no que diz
respeito à possibilidade ou impossibilidade do sujeito trabalhar ou tecer
166
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de vida, uma vez que a insegurança social é uma condição geral da grande
Cadernos de Pedagogia Social
Foi através dos suportes sociais garantidos pela condição de assalariado que o
indivíduo moderno se um indivíduo positivo, ou seja, cuja existência não é assegurada
169
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somente pela capacidade de vender a sua força de trabalho, mas também pelo
Cadernos de Pedagogia Social
quinhão de propriedade social ao qual tem acesso. (Castel, 1998). Deste modo, o
indivíduo, num tempo não muito remoto, possuía certa segurança em relação ao seu
futuro. A existência de um contrato de trabalho permitiu o aparecimento do indivíduo
positivo, justificando as lutas pelos direitos sociais enquanto «classe-que-vive-do-
trabalho» (Castel, 1998; Antunes, 2005). Questiona-se como hoje o jovem vive sem
a expectativa de conseguir um trabalho digno e repleto de sentido. Houve um tempo
no qual, a inserção do homem no processo produtivo, dependia essencialmente dele
mesmo, de quanto plantaria no seu campo e de iniciativas pessoais. No Brasil vive-
se hoje uma realidade das mais difíceis, nalgumas capitais o desemprego atinge 40%
dos jovens em idade produtiva, segundo o IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (2007). Assim, o jovem candidato a trabalhar, fica em uma situação muito
precária, as poucas oportunidades de trabalho tendem a ficar dominadas por
sistemas integrados em rede (Castells, 2002) num universo de mercado de trabalho
globalizado/globalizante.
Advogamos em favor do trabalho enquanto fonte de identificações e de
inscrição social (Sennett, 1998; Castel, 1998; Dubar, 1998, 2001), tentando
problematizar a situação de risco social a que estão submetidos os jovens,
focando ao mesmo tempo a necessidade de construção de redes sociais de
suporte, construídas a partir de diferentes áreas de saber e de diferentes olhares
sobre a transição entre a vida universitária e o mundo do trabalho.
estava associado a ele, no entanto, pode-se promover uma «nova ordem social».
O autor considera que é preciso instituir novos mecanismos de protecção ao
sujeito que sejam compatíveis com as novas transformações do trabalho e do
emprego, que dêem conta, por exemplo, das novas situações de mobilidade, de
mudança de emprego e de «reciclagem» que o trabalhador moderno necessita.
Portanto diante da flexibilidade, a segurança social deve assumir um novo
compromisso entre a mobilidade e segurança. É preciso assegurar, frente à
degradação do status de empregado, uma nova ordem e profissional do
trabalhador que garanta os seus direitos de protecção social.
As contradições do mercado de trabalho são muitas e com consequências
invectiváveis para o binómio escola-trabalho. Face a sentimentos de dúvida e de
insegurança gerados pelo mercado de trabalho, os jovens sentem-se mais
abrigados na instituição escola. O tempo de permanência no ensino tende a
alargar-se também por força da competitividade do mercado de trabalho, pois o
critério de selecção busca candidatos com elevada escolaridade. Os alunos
recebem dentro da universidade bolsas de estudo e alimentação e, por vezes,
algum tipo de trabalho ou estágio. Na realidade, são boas condições de
sobrevivência, além disso, permitem garantir o seu estatuto de estudantes. Assim,
a sua identidade pessoal está preservada. Temos então «estudantes profissionais»
que, como tal, possuem um status que é muito mais afirmativo do que o de
desempregados.
Brasil um quarto dos formados entre os anos de 1992 e 2002 está desempregado
Considerações finais
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176
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Bibliografia
Resumo
A relação entre factores de risco (acontecimentos de vida stressantes) nas
vidas dos adolescentes, e a presença de factores de protecção faz com que
alunos considerados de risco evidenciem resiliência ou vulnerabilidade em
contextos como a escola. O presente artigo procura evidenciar a forma como
os adolescentes se adaptam ou ultrapassam estas circunstâncias adversas, ao
conseguirem “bons resultados apesar das sérias ameaças ao desenvolvimento
ou à adaptação” (Masten, 2001, p.228).
A escola assume-se como um dos contextos mais importantes de
desenvolvimento, socialização e de promoção de resiliência nos adolescentes.
A forma como actuam os factores e processos protectores presentes nas suas
vidas tendo em conta os riscos e factores de risco, ajudam a compreender os
comportamentos resilientes ou não-resilientes demonstrados pelos
adolescentes. A utilização de uma entrevista semi-estruturada a uma amostra
de dezasseis alunos adolescentes (N=16), com uma média de idades de 13,81
anos, permitiu obter um “fotografia bem detalhada” naquele período das suas
vidas relativamente a ele próprio, ao contexto escola (por exemplo, a relação
com grupo pares, dificuldades na escola,).
1
Trabalho realizado no âmbito do Mestrado em Ciências de Educação – Especialização em
Aprendizagem e Desenvolvimento Psicológico, FEP/UCP
2
Docente da Faculdade de Educação e Psicologia/UCP
3
Doutoranda em Ciências de Educação, Faculdade da Educação e Psicologia/ UCP
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Introdução
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in terms of reasonable success with major developmental tasks expected for a person of
given age and gender in the context of his or her culture, society, and time, or more nar-
rowly defined in terms of specific domains of achievement, such as academics, peer accept-
ance, or athletics.”
Material e Método
Participantes/Amostra
Participaram neste estudo um total de 77 alunos adolescentes de ambos os
sexos, 28 (35,6%) raparigas e 49 (64,4%) rapazes, com idades entre os 12 e os
15 anos e uma média de 12,7 anos, depois de ter sido dado o consentimento
informado pelos seus Encarregados de Educação. Os alunos eram provenientes
das quatro turmas do 7º ano de escolaridade de uma escola secundária urbana
da periferia do Grande Porto. A amostra estudada (N=16; idade média de 13,81
aquando das entrevistas) resultou da aplicação dos instrumentos seguidamente
descritos.
Instrumentos
Para a caracterização dos alunos participantes utilizamos uma Ficha de
Caracterização Sociodemográfica que nos permitiu obter informações acerca
deles e dos seus agregados familiares, nomeadamente a nível socioeconómico,
familiar, vida escolar e ocupação dos tempos livres. Para avaliação do estatuto de
risco, utilizamos a Lista de Verificação do Estatuto de Risco baseada na Life Events
Checklist de Werner e Smith (1992). Mais do que quatro, acontecimentos
stressantes na vida de um sujeito constitui-se como suficiente para considerá-lo
182
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Procedimentos
Antes de darmos início ao estudo foi solicitado aos encarregados de educação
o seu consentimento informado para a participação dos seus educandos nesta
investigação. A aplicação da Lista de Avaliação do Estatuto de Risco e da Lista de
Verificação de Resiliência foi realizada com a colaboração das directoras de turma
das quatro turmas participantes, no final do segundo período lectivo, altura em
que estas já conheciam bem os alunos das suas turmas. Realizámos as
entrevistas a cada um dos alunos individualmente, numa das salas de aula da
escola, no último trimestre do ano lectivo e para o efeito utilizamos um gravador
para que as suas respostas ficassem registadas e mais tarde pudessem ser
analisadas. Todos os alunos que aceitaram participar na investigação deram
previamente o seu consentimento e permitiram que as entrevistas fossem
gravadas (todas as entrevistas foram consideradas válidas).
Resultados e Discussão
Quanto à caracterização da amostra, verificamos que cerca de 70% dos
agregados familiares apresentam um baixo estatuto socioeconómico e a maioria
dos encarregados de educação possuem como habilitações somente o 4º ano de
escolaridade, algo que parece ser evidenciado pelas profissões exercidas –
maioritariamente a prestação de serviços não qualificada. Da aplicação da Lista
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numa turma não existia nenhum aluno que tivesse sido avaliado com estatuto de
risco, sendo os alunos de risco que aceitaram participar (N=16) oriundos das
restantes turmas (N=58). Com a aplicação da Lista de Verificação de Resiliência
(Howard e Johnson, 2000) pretendíamos identificar quem eram de entre os
alunos considerados de risco (N=16), os que apresentavam comportamentos
resilientes e os que apresentavam comportamentos não-resilientes. A utilização
desta lista permitiu-nos verificar que, naquele momento (Fergus e Zimmerman,
2005), dez alunos (quatro raparigas e seis rapazes) apresentavam
comportamentos resilientes (62,5%). Os restantes seis alunos, uma rapariga e
cinco rapazes (37,5%), apresentavam comportamentos não-resilientes. A revisão
de literatura efectuada revelou que, quanto a diferenças de género, as raparigas
são mais resilientes do que os rapazes (e.g. Kumpfer, 1999). Os resultados no
nosso estudo parecem ter confirmado estes dados já que na nossa amostra foram
consideradas resilientes 80% das raparigas e somente 63,63% dos rapazes.
Analisando o grupo de alunos não-resilientes verificámos que somente 50% destes
alunos (N=3) eram apoiados pelo Serviço de Acção Social Escolar (SASE); 80%
dos alunos resilientes (N=8) têm também este apoio, não parecendo na nossa
amostra o baixo estatuto socioeconómico estar evidentemente associado ao grupo
dos alunos não-resilientes. Poderemos associar o baixo estatuto socioeconómico
aos alunos de risco, independentemente de serem considerados resilientes ou não
resilientes, já porque cerca de 70% beneficiam deste apoio.
Nas entrevistas procuramos, para além dos pontos de vista individuais de cada
aluno relativamente às temáticas abordadas, também as diferenças das respostas
dadas pelo grupo dos alunos resilientes e pelo grupo dos alunos não-resilientes.
Depois de analisarmos o conteúdo das respostas obtidas em cada um desses
domínios encontramos diferentes temas, categorias e subcategorias de respostas
que seguidamente apresentamos e discutimos. Para uma mais fácil identificação
no texto, os TEMAS aparecem em letras maiúsculas, negrito e sublinhado, as
CATEGORIAS em letras maiúsculas e negrito e as subcategorias a negrito
(baseado em Yunes, 2001). As questões foram organizadas em três grandes
domínios: “Aspectos da sua vida de uma forma geral”; “Vida na escola e relação
com os pares”; “Relacionamento com a família”.
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uma família (que não é considerada por eles como factor de protecção) ou porque
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A Escola
Neste segundo grande domínio abordado nas entrevistas, percebemos que a
escola tem significados diferentes para os alunos. Comparando as respostas
dadas pelos dois grupos (alunos resilientes e alunos não-resilientes), encontramos
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conjunto complexo que faz parte dos microssistemas onde os jovens se movem.
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realização. Para isso, e ainda de acordo com Bonnie Benard (1991; 1995),
de que, provavelmente, nem tudo na escola está a ser bem feito. Aos alunos de
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identidade estar ainda em fase de construção. Parece que estes alunos que se
Conclusões
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Bibliografia
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Livro
Cadernos de Pedagogia Social
Capítulo de livro
Shantz, C. (1983). Social cognition. In P. Mussen (Ed.), Handbook of child development (pp.
495-555). New York: Wiley.
Artigo
Verdasca, J.L. (2005). Análise de fluxos e produtividade escolar. Revista Portuguesa de
Investigação Educacional, 4, 111-122.
Para esclarecer os casos não considerados nestes exemplos, os autores deverão consultar
as normas de publicação da APA - American Psychological Association, última versão.
Cada autor terá direito a 3 exemplares da Revista onde o seu artigo for publicado.
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