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LEI MARIA DA PENHA (LEI 11.340/2006)
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 3
1. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E CONVENCIONAL ....................................................... 4
2. ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA ....................................................................................... 4
3. FINALIDADES DA LEI MARIA DA PENHA .............................................................................. 5
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA ....................................................................... 5
5. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ................................................ 6
5.1. PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO DA LEI ................................................................ 6
5.1.1. Vítima mulher ............................................................................................................ 6
5.1.2. Presença alternativa de um dos incisos do art. 5º...................................................... 6
5.1.3. Pratica da violência .................................................................................................... 6
5.2. SUJEITO PASSIVO .......................................................................................................... 7
5.2.1. Mulher exclusivamente .............................................................................................. 7
5.2.2. Aplicação ao homem ................................................................................................. 7
5.2.3. Aplicação ao transexual ............................................................................................. 8
5.2.4. Violência de gênero ................................................................................................... 8
5.3. SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 10
5.4. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 10
5.5. ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA ............................................................................. 10
5.6. ÂMBITO FAMILIAR ........................................................................................................ 11
5.7. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO .................................................................. 12
5.8. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ........................................................... 12
5.8.1. Violência física ......................................................................................................... 13
5.8.2. Violência psicológica ............................................................................................... 14
5.8.3. Violência sexual ....................................................................................................... 14
5.8.4. Violência patrimonial ................................................................................................ 14
5.8.5. Violência moral ........................................................................................................ 14
6. ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL .................................................................. 14
7. JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ...................... 17
7.1. CUMULAÇÃO DA COMPETÊNCIA POR VARAS CRIMINAIS ....................................... 17
7.2. CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA PRATICADOS NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ..................................................................... 19
8. AÇÃO PENAL NOS CRIMES DE LESÃO CORPORAL LEVE E LESÃO CORPORAL
CULPOSA PRATICADOS NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER ................................................................................................................................... 19
8.1. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO NOS CRIMES PRATICADOS NO CONTEXTO
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER............................................ 21
9. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ............................................................................. 21
9.1. APLICAÇÃO A PESSOAS DO SEXO MASCULINO ....................................................... 22
9.2. APLICAÇÃO DAS MEDIDAS SEM TIPIFICAÇÃO .......................................................... 23
9.3. ESPÉCIES...................................................................................................................... 23
9.3.1. Medidas que obrigam o agressor............................................................................. 23
9.3.2. Medidas destinadas à vítima.................................................................................... 24
9.4. PRISÃO PREVENTIVA................................................................................................... 24
9.4.1. (In) constitucionalidade da decretação da prisão preventiva ex officio durante as
investigações ......................................................................................................................... 25
9.4.2. (Im) possibilidade de decretação da prisão preventiva tão somente em virtude do
descumprimento das medidas protetivas de urgência ............................................................ 25
Olá!
O Caderno Legislação Penal Especial possui como base as aulas dos professores Renato
Brasileiro, Cleber Masson e Vinícius Marçal, serão analisadas dezesseis leis, as mais cobradas em
concurso público.
Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2016 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2017, ambos da Editora
Juspodivm.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
A ideia de coibir a violência contra a mulher pode ser extraída da própria CF, nos termos do
seu art. 226, §8º, o qual garante a criação de mecanismos com o intuito de coibir a violência no
âmbito familiar.
Igualmente, vários tratados internacionais foram criados de modo a dar uma maior proteção
a mulher, vejamos os principais:
• 1975 – I Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada na cidade do México, a qual deu
origem à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Mulheres, que foi promulgada pelo Brasil através do Decreto 4.377/2002;
A Lei Maria da Penha entrou em vigor apenas em 22 de setembro de 2006, apesar das
diversas Convenções Internacionais que tratavam de violência doméstica.
Recebeu este nome em razão da vítima Maria da Penha Maia Fernandes que, em 29 de
maio de 1983, enquanto dormia, foi atingida com um disparo de arma de fogo, desferido pelo seu
então marido, ficando paraplégica. Contudo, a violência não cessou, uma semana após o fato,
sofreu nova violência (descarga elétrica enquanto tomava banho). Em 28 de setembro de 2002, o
agressor foi denunciado, mas sua prisão somente aconteceu em 2002, dezoito anos após as duas
tentativas de homicídio.
Inicialmente, destaca-se que a Lei 11.340/2006 possui inúmeras finalidades. Não se trata de
uma lei estritamente penal, possui dispositivos relacionados à segurança pública, cria mecanismos
de proteção à mulher, traz elementos de natureza cível, por isso se diz que é uma lei multidisciplinar.
Obs.: Aqui, estudaremos apenas os aspectos penais da Lei Maria da Penha. Destacamos que a lei
traz ainda aspectos cíveis (fixação de alimentos provisórios), bem como trabalhistas (manutenção
do vínculo trabalhista).
A Lei 11.340/2006 foi pensada para proteger a mulher em um cenário de violência doméstica
e familiar. Assim, obviamente, deve ser interpretada levando em consideração as condições
peculiares da mulher e os fins sociais a que se destina, nos termos do art. 4º:
A Lei 11.340/2006 regulamentou o tratamento que deve ser dado quando ocorrer violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Há, ao menos, três pressupostos que podem ser elencados para que seja possível aplicar a
Lei Maria da Penha.
A violência deve ser praticada em um dos contextos do art. 5º da Lei Maria da Penha,
vejamos:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e (OU) familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem
de orientação sexual.
Obs.: A violência pode ser doméstica (inciso I) OU familiar. Não é cumulativo. Os incisos do art. 5º
são alternativos.
O art. 7º da Lei Maria da Penha lista, pelo menos, cinco formas de violência:
• Física;
• Patrimonial;
• Sexual;
• Moral;
Trata-se, exclusivamente, da mulher (esposa, amante, namorada, mãe, avó, sogra, irmã).
Destaca-se que o STJ reconheceu que uma figura pública também pode ser vítima de
violência doméstica e familiar, vejamos o Info 539:
Conforme visto acima, a aplicação da lei é exclusiva às mulheres. Assim, havendo violência
doméstica e familiar contra o homem deve ser aplicado o Código Penal (art.129, §9º):
Parte da doutrina defende que o transexual poderia ser vítima, desde que houvesse se
submetido à cirurgia de reversão genital, bem como houvesse mudado seu nome.
De outro lado, muitos doutrinadores entendem que não é considerado mulher. Portanto,
incabível a aplicação da lei.
Não é toda e qualquer violência contra a mulher que irá gerar a aplicação da Lei Maria da
Penha, apenas a violência perpetrada em razão do gênero.
Segundo Renato Brasileiro, o objetivo da Lei Maria da Penha não foi o de conferir uma
proteção indiscriminada a toda e qualquer mulher, mas apenas àquelas que efetivamente se
encontrarem em uma situação de vulnerabilidade. É indispensável, portanto, que a vítima esteja em
uma situação de hipossuficiência física ou econômica, enfim, que a infração tenha como motivação
a opressão à mulher. Ausente esta violência de gênero, não se aplica a Lei Maria da Penha
Nesse sentindo:
HC 178.751/RS
HC 182.411/RS
O agressor pode ser tanto um homem quanto uma mulher, nos termos do art. 5º, parágrafo
único, da Lei 11.340/2006:
A doutrina faz distinção entre presunção absoluta (homem como sujeito ativo) e relativa
(mulher como sujeito ativo) de vulnerabilidade.
Para fins de incidência da Lei Maria da Penha, a conduta desenvolvida pelo agente deve ser
movida pelo dolo exclusivamente. Assim, eventuais condutas culposas não caracterizam violência
doméstica e familiar contra a mulher.
Note que a lei faz referência a qualquer ação ou omissão. Assim, a violência poderá ocorrer
mesmo que não haja crime ou contravenção penal.
Não é necessária a caracterização do vínculo familiar. Por isso, por exemplo, a lei será
aplicada aos casos em que a empregada doméstica (não para diaristas – este inciso) for vítima de
violência
Exige-se convívio permanente entre as pessoas. Assim, por exemplo, a agressão de uma
decoradora não iria incidir a lei maria da penha, pois não há um espaço de convívio permanente.
Diferente seria a agressão de uma sogra, por exemplo.
Destaca-se que a violência praticada em âmbito familiar independe do local. Ou seja, não
precisa ser praticada no âmbito da unidade doméstica. Ademais, não exige coabitação.
Obs.: Não se pode acreditar que todo e qualquer crime envolvendo relação entre parentes possa
dar ensejo à aplicação da Lei Maria da Penha. Nesse sentindo, o Info 524 do STJ:
Art. 5º, III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Tanto a amante quanto a namorada (ou ex-namorada) podem ser vítimas da Lei Maria da
Penha, a depender do caso concreto, de acordo com o entendimento atual do STJ.
Obs.: Convencionalidade do inciso III – quando estudamos a violência doméstica e familiar nas
Convenções Internacionais, percebemos que há apenas dois contextos de violência: âmbito da
unidade doméstica e âmbito da unidade familiar. O inciso III vai além, tendo em vista que amplia
para qualquer relação íntima de afeto. Por conta disso, alguns doutrinadores afirmam que este
inciso não passaria pelo controle de convencionalidade. Tal entendimento, contudo, não prevalece,
pois à luz do princípio pro homine, quando houver um aparente conflito entre o texto internacional
e a lei interna do país SEMPRE deve prevalecer a norma que for mais favorável. No caso, o inciso
III garante uma maior proteção à mulher vítima de violência.
Na Lei Maria da Penha a palavra “violência” é utilizada em sentindo amplo, não apenas como
violência física do CP.
1ªC: Entende que as formas de violência do art. 7º estão previstas em um rol taxativo. Não se admite
interpretação ampliativa – MINORITÁRIA.
2ªC: Entende que se trata de um rol exemplificativo, eis que visa uma maior proteção à mulher.
Abrange qualquer conduta, desde vias de fato até o feminicídio, que ofenda a integridade ou
saúde corporal.
É aquela entendida como qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da
autoestima, ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça (é crime),
constrangimento (é crime), humilhação (em si, não é crime. É exemplo o adultério) , manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação.
É aquela entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
Obs.: é possível aplicar as imunidades absolutas e relativas (arts. 181 e 182 do CP) aos crimes
patrimoniais praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher sem o
emprego de violência ou grave ameaça à pessoa? x
2ªC - Majoritária: É possível, eis que não há proibição na lei (o art. 18 não proíbe)
É aquela entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
Foi publicada no último no dia 09/11, a Lei nº 13.505/2017, que acrescenta alguns
dispositivos na Lei de Violência Doméstica (Lei Maria da Penha – Lei nº 11.340/2006). Vejamos a
excelente explicação do Prof. Márcio Cavalcante.
Diretrizes e cuidados que deverão ser adotados para a inquirição da vítima e das
testemunhas de crimes de violência doméstica contra a mulher:
2) Em nenhuma hipótese deverá ser permitido o contato direto da vítima (mulher), de seus
familiares e das testemunhas com os investigados/suspeitos ou com as pessoas que tenham
relação com eles;
3) Não se deve permitir a “revitimização” da depoente. Para isso, deve-se evitar que a vítima
seja sucessivas vezes ouvida sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo.
Também se deve evitar questionamentos sobre a sua vida privada.
Assim, revitimização consiste nesse sofrimento continuado ou repetido da vítima ao ter que
relembrar esses fatos.
Para evitar a revitimização, o Poder Público deverá adotar providências a fim de que a vítima
não seja ouvida repetidas vezes sobre o mesmo tema. Além disso, deve-se fazer com que o
ambiente em que os depoimentos são prestados seja acolhedor. Por fim, deve-se evitar perguntas
que invadam a vida privada da vítima ou que induzam à ideia de que ela teve “culpa” pelo fato,
transformando a investigação ou o processo em um “julgamento” sobre o comportamento da vítima.
Alguns autores afirmam que a revitimização é uma forma de “violência institucional” cometida
pelo Estado contra a vítima.
I - a inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá
os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e
familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida;
Unidades especializadas
Veto
“Os dispositivos, como redigidos, impedem o veto parcial do trecho que incide em
inconstitucionalidade material, por violação aos artigos 2º e 144, § 4º, da Constituição, ao invadirem
competência afeta ao Poder Judiciário e buscarem estabelecer competência não prevista para as
polícias civis.”
Dessa forma, com o veto, a competência para impor medidas protetivas de urgência continua
sendo privativa da autoridade judicial. Cabe ao Delegado de Polícia apenas remeter ao juiz pedido
da ofendida para a concessão de medidas protetivas de urgência (art. 12, III, da Lei nº 11.340/2006).
A lei usou a palavra “juizado”, mas se tratam de varas especializadas para o julgamento dos
processos que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher.
JUIZADO DE
VIOLÊNCIA
1ª VARA CRIMINAL 2ª VARA CRIMINAL 3ª VARA CRIMINAL
DOMÉSTICA E
FAMILIAR
Contudo, o próprio legislador sabe que não é possível a criação dos juizados em todas as
comarcas, seja por falta de estrutura física seja por falta de pessoal. Assim, a Lei Maria da Penha
determina que uma vara criminal poderá cumular a competência dos juizados, nos termos do art.
33 da referida lei, vejamos:
No DF, com base no art. 33, o TJ outorgou a competência cumulativa a uma vara dos
juizados especiais criminais.
JECRIM
VIOLÊNCIA
INFRAÇÃO DE MENOR DOMÉSTICA E
POTENCIAL OFENSIVO FAMILIAR CONTRA A
MULHER
NÃO APLICA OS
APLICA OS INSTITUTOS
INSTITUTOS
DESPENALIZADORES
DESPENALIZADORES
Neste caso, o juiz deverá separar os processos por cores, tendo em vista que os institutos
despenalizadores, aplicados às IMPOS, não são aplicados à Lei Maria da Penha.
Tal entendimento não prevalece, pois a Lei Maria da Penha não criou as varas
especializadas, mas sim recomendou que fossem criados, igual ao ECA, ao Estatuto do Idoso.
Tanto o STJ quanto o STF, na análise de casos oriundos de SC, entendem que a primeira
fase, no caso de crimes dolosos contra a vida, pode tramitar nas varas especializadas de violência
doméstica, caso a lei de organização judiciária assim preveja.
Antes da Lei 9.099/95, tanto a lesão leve quanto a lesão culposa eram crimes de ação penal
pública.
Contudo, o art. 41 da Lei Maria da Penha é claro ao afirmar que a lei dos juizados especiais
não é aplicado para os crimes praticados no contexto da Lei Maria da Penha. Assim, conclui-se que:
• Lesão leve praticada no contexto da Lei Maria da Penha – AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA.
• Lesão culposa praticada no contexto da Lei Maria da Penha – AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO.
Obs.: Como visto acima, a Lei Maria da Penha aplica-se apenas aos crimes dolosos. Assim, quando
se trata de uma lesão corporal culposa não haverá a incidência da lei.
• Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não precisa fazer com que
ela assine uma representação, uma vez que a lei não exige representação para tais
casos. Bastará que a autoridade policial colha o depoimento da mulher e, com base
nisso, havendo elementos indiciários, instaure o inquérito policial;
• Em caso de lesões corporais leves ou culposas que a mulher for vítima, em violência
doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o inquérito policial e
não o termo circunstanciado. Isso porque não se aplica a Lei nº 9.099/95, que é onde se
prevê o termo circunstanciado;
• Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada
com o cônjuge, procura o Delegado, o Promotor ou o Juiz dizendo que gostaria que o
inquérito ou o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum
efeito jurídico, devendo a tramitação continuar normalmente;
• É errado dizer que todos os crimes praticados contra a mulher, em sede de violência
doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam existindo crimes praticados
contra a mulher (em violência doméstica) que são de ação penal condicionada, desde
que a exigência de representação esteja prevista no Código Penal ou em outras leis, que
não a Lei n. 9.099/95. Assim, por exemplo, a ameaça praticada pelo marido contra a
mulher continua sendo de ação pública condicionada porque tal exigência consta do
parágrafo único do art. 147 do CP. O que a Súmula nº 542-STJ afirma é que o delito de
LESÃO CORPORAL praticado com violência doméstica contra a mulher, é sempre de
ação penal incondicionada porque o art. 88 da Lei n° 9.099/95 não pode ser aplicado aos
casos da Lei Maria da Penha.
Alguns crimes, como estupro ou ameaça, mesmo que praticados no contexto da Lei Maria
da Penha são condicionados à representação, aplicando-se o art. 16 da Lei, vejamos:
Salienta-se que não se trata de renúncia, como diz o artigo, mas sim de uma retratação da
representação, que só pode ser feita até o recebimento da denúncia (no CPP é até o oferecimento).
Deve o juiz designar audiência especial.
Alguns juízes das varas especializadas marcavam a audiência como uma etapa do
procedimento, a fim de que a mulher confirmasse a representação. Os Tribunais Superiores
entendem que a audiência só deve ser designada se a mulher, em algum momento anterior,
manifestou a vontade de se retratar da representação.
STJ – A audiência de que trata o art. 16, da Lei Maria da Penha, não desse
ser realizada ex officio, como condição da abertura da ação penal, sob pena
de constrangimento ilegal à mulher, vítima de violência doméstica e familiar,
pois configuraria ato de ‘ratificação’ da representação, inadmissível na
espécie. A realização da referida audiência deve ser precedida de
manifestação de vontade da ofendida, se assim ela o desejar, em retratar-se
da representação anteriormente registrada, cabendo ao magistrado verificar
a espontaneidade e a liberdade na prática do referido ato.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz,
a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§ 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato,
independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério
Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaçados ou violados.
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da
ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas
já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas
observando-se a:
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de
infrações penais;
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e
condições pessoais do indiciado ou acusado.
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente.
§ 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a
requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério
Público.
§ 3o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida,
o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da
parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças
necessárias, permanecendo os autos em juízo.
§ 4o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o
juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu
assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em
cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312,
parágrafo único).
§ 5o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar
a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem.
§ 6o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua
substituição por outra medida cautelar (art. 319).
Quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor as medidas protetivas só eram aplicadas às
mulheres.
9.3. ESPÉCIES
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo.
Possibilidade de decretação de prisão ex officio Possível que o juiz decrete a prisão ex officio,
tanto na fase investigatória quanto durante o mas apenas durante o processo.
processo.
De acordo com Renato Brasileiro, não se trata de princípio da especialidade, não é possível
o juiz decretar qualquer cautelar de ofício durante a fase investigatória, pois se revela incompatível
com a imparcialidade do juiz, desdobramento da reserva legal e com o próprio sistema acusatório.
A melhor doutrina sustenta que se aplica o CPP, ou seja, a decretação de ofício apenas na
fase processual.
Desta forma, a decretação de prisão preventiva para assegurar uma medida protetiva de
natureza cível, trata-se de prisão cível, o que não é autorizado pela CF.
Portanto, a preventiva só poderá ser decretada quando a medida protetiva for decretada em
razão da prática de algum crime.
O art. 41 da Lei Maria da Penha afirma que a Lei 9.099/95 não é aplicada, vejamos:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995.
A promoção da igualdade entre os sexos passa não apenas pelo combate à discriminação
contra a mulher, mas também pela adoção de políticas compensatórias capazes de acelerar a
igualdade de gênero.
Assim, o STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância aos crimes
e contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, dada a relevância penal da conduta.
Surgiu uma tese defensiva afirmando que se o casal se reconciliasse durante o curso do
processo criminal, o juiz poderia absolver o réu com base no chamado “princípio da bagatela
imprópria”. Essa tese é aceita pelos Tribunais Superiores?
NÃO. Assim como ocorre com o princípio da insignificância, também não se admite a
aplicação do princípio da bagatela imprópria para os crimes ou contravenções penais praticados
contra mulher no âmbito das relações domésticas, tendo em vista a relevância do bem jurídico
tutelado (STJ. 6ª Turma. AgInt no HC 369.673/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
14/02/2017).
O fato de o casal ter se reconciliado ou de a vítima ter perdoado não importará na absolvição
do réu. Nesse sentido:
Infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal, mas depois
se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São
Paulo: RT, 2009, p.305).
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em
um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a
reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assim como ocorre nos casos de perdão judicial).
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
Ainda de acordo com LFG, no direito legislado já contamos com vários exemplos de infração
bagatelar imprópria: