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RICARDO GASPAR

ESTRUTURAS METÁLICAS

São Paulo
2008
SUMÁRIO

1. AÇO ESTRUTURAL................................................................................................................ 1
1.1. Estruturas metálicas............................................................................................................. 1
1.1.1. Vantagens......................................................................................................................... 1
1.1.2. Desvantagens ................................................................................................................... 2
1.1.3. Normas ............................................................................................................................. 2
1.1.4. Aplicações......................................................................................................................... 3
1.2. Formas usuais de metais ferrosos ....................................................................................... 3
1.2.1. Etapas de fabricação do aço ............................................................................................ 3
1.3. Tipos de aços estruturais...................................................................................................... 4
1.3.1. Aço carbono ..................................................................................................................... 4
1.3.2. Aços de baixa liga e alta resistência................................................................................ 5
1.3.3. Nomenclatura da ABNT .................................................................................................. 5
1.3.4. Espessura mínima para peças estruturais....................................................................... 5
1.3.5. Propriedades dos aços estruturais ................................................................................... 6
1.4. Tensões e deformações......................................................................................................... 6
1.5. Ensaios.................................................................................................................................. 7
1.5.1. Ensaios de tração ............................................................................................................. 8
1.5.2. Diagrama tensão - deformação ....................................................................................... 8
1.6. Lei de Hooke....................................................................................................................... 11
1.6.1. Ensaios de compressão .................................................................................................. 12
1.6.2. Coeficiente de Poisson ................................................................................................... 12
1.6.3. Forma geral da Lei de Hooke........................................................................................ 13
2. PRODUTOS SIDERÚRGICOS ............................................................................................. 16
2.1. Perfis laminados................................................................................................................. 16
2.2. Perfis Soldados ................................................................................................................... 18
2.3. Perfis conformados a frio ou de chapas dobradas ............................................................ 19
2.4. Tubos .................................................................................................................................. 20
2.5. Tabelas de perfis................................................................................................................. 20
2.6. Principais tipos de concepções estruturais ........................................................................ 22
2.6.1. Treliças isostáticas ......................................................................................................... 22
2.6.2. Tesouras isostáticas ....................................................................................................... 23
3. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO ............................................................................ 24
3.1. Método das tensões admissíveis ......................................................................................... 24
3.2. Método dos Estados Limites............................................................................................... 25
3.2.1. Carregamentos ............................................................................................................... 27
3.2.2. Coeficientes de majoração das ações ............................................................................ 27
4. PEÇAS TRACIONADAS ....................................................................................................... 30
4.1. Dimensionamento no Estado Limite Último (ELU) ......................................................... 30
4.1.1. Peças tracionadas com furos ......................................................................................... 30
4.1.2. Peças com extremidades rosqueadas............................................................................. 31
4.1.3. Peças ligadas por pinos.................................................................................................. 31
4.1.4. Limitação de esbeltez das peças tracionadas ................................................................ 31
4.1.5. Diâmetro dos furos......................................................................................................... 32
4.1.6. Exemplos ........................................................................................................................ 35
5. TRELIÇAS.............................................................................................................................. 40
Definição.......................................................................................................................................... 40
Apoios .............................................................................................................................................. 41
Método do equilíbrio dos nós .......................................................................................................... 42
Dimensionamento............................................................................................................................ 49
6. LIGAÇÕES ............................................................................................................................. 50
6.1. Ligações com conectores.................................................................................................... 50
6.1.1. Rebites ............................................................................................................................ 50
6.1.2. Parafusos........................................................................................................................ 50
6.2. Espaçamento entre conectores........................................................................................... 52
6.3. Dimensionamento............................................................................................................... 53
6.3.1. Dimensionamento ao corte ............................................................................................ 54
6.3.2. Dimensionamento ao esmagamento da chapa (pressão de apoio)............................... 54
6.3.3. Dimensionamento ao rasgamento da chapa ................................................................. 55
6.3.4. Dimensionamento à tração da chapa............................................................................ 55
6.3.5. Ruptura por cisalhamento de bloco............................................................................... 56
6.3.6. Combinação de conectores ............................................................................................ 56
6.3.7. Dimensionamento à tração e a corte simultâneos – fórmulas de interação ................ 57
6.3.8. Resistência ao deslizamento em ligações por atrito ...................................................... 57
6.4. Ligações soldadas............................................................................................................... 63
6.4.1. Tipos, qualidade e simbologia de soldas ....................................................................... 63
6.4.2. Elementos construtivos para projeto ............................................................................. 65
6.4.3. Resistência das soldas .................................................................................................... 67
7. PEÇAS COMPRIMIDAS....................................................................................................... 69
7.1. Introdução .......................................................................................................................... 69
7.1.1. Flambagem elástica ....................................................................................................... 70
7.1.2. Flambagem inelástica.................................................................................................... 73
7.2. Dimensionamento............................................................................................................... 77
7.3. Flambagem local ................................................................................................................ 80
7.3.1. Parâmetros de flambagem local .................................................................................... 81
8. PEÇAS FLETIDAS................................................................................................................ 88
8.1. Introdução .......................................................................................................................... 88
8.2. Dimensionamento à flexão ................................................................................................ 89
8.2.1. Momento de início de plastificação e momento de plastificação ................................. 89
8.2.2. Resistência à flexão de vigas com contenção lateral .................................................... 90
8.2.3. Resistência à flexão de vigas sem contenção lateral contínua..................................... 96
8.3. Dimensionamento da alma das vigas .............................................................................. 103
8.3.1. Conceitos ...................................................................................................................... 103
8.3.2. Tensão de cisalhamento............................................................................................... 103
8.3.3. Vigas I com um ou dois eixos de simetria sem enrijecedores..................................... 104
APÊNDICE ................................................................................................................................... 108
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................... 111
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 1

ESTRUTURAS METÁLICAS1

1. AÇO ESTRUTURAL

O aço é uma liga formada basicamente dos elementos ferro (Fe) e carbono (C), com
teor máximo de 1,7%. Outros elementos químicos são adicionados para modificar as
características mecânicas do aço, de acordo com sua utilização. Estas adições também são
feitas em baixas porcentagens, por exemplo: manganês 1,65%, cobre 0,60%, etc.
Na natureza, o elemento ferro é encontrado na hematita, minério de ferro em
abundância no Brasil. O carbono acha-se na composição do carvão mineral. A fabricação
do aço é iniciada num forno especial, chamado “alto forno”, onde o minério de ferro e o
carvão mineral são levados a temperaturas bem elevadas (1500ºC). Aí, inicia-se o processo
de fabricação que dará origem ao aço, naturalmente, após uma seqüência de operações
siderúrgicas.
A primeira usina siderúrgica de porte construída no Brasil, foi a Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN), situada na cidade de Volta Redonda, inaugurada em 1946.
Até então, a produção de aço do país era insignificante. Nossas construções em Estruturas
Metálicas dependiam quase que totalmente, da importação de perfis. As poucas obras
metálicas existentes na época podiam ser resumidas em pontes ferroviárias, feitas pelos
ingleses, coberturas de pequeno porte e construções especiais, pouco freqüentes, como o
viaduto Santa Efigênia em São Paulo.
A CSN foi construída com assistência técnica da “United States Steel”, na época da
Segunda Guerra Mundial. O programa da empresa visava à fabricação de diversos
produtos siderúrgicos, em especial, os perfis metálicos. Assim, foi introduzido no Brasil o
“padrão americano” de perfis. Isto acarretou a adoção de normas de fabricação de aço de
origem americana, unidades inglesas para as dimensões dos perfis, etc.
As principais Usinas Siderúrgicas brasileiras são a CSN, Cosipa, Usiminas, Belgo-
Mineira, Cofavi (Companhia Ferro e Aço Vitória), Açominas, etc.
A produção das siderúrgicas visa atender toda a demanda nacional nas diferentes
áreas de consumo. Assim, algumas siderúrgicas atendem por exemplo, a indústria naval, a
indústria automobilística, outras atendem a construção civil, etc.

1.1. Estruturas metálicas

1.1.1. Vantagens

• construção estruturas com boa precisão, possibilitando alto controle de qualidade;


• garantia de dimensões de propriedades dos materiais;

1
Este trabalho é uma compilação de vários textos sobre Estruturas Metálicas de autores consagrados,
indicados na Bibliografia, feito unicamente para Notas de Aulas, com finalidade didática.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 2

• material resistente a choques e vibrações;


• possibilidade de execução de obras mais rápidas e limpas;
• possibilidade de desmontagens e de reaproveitamento das peças estruturais;
• alta resistência, o que implica em estruturas mais leves, vencendo grandes vãos.

1.1.2. Desvantagens

• limitação da fabricação das peças em fábricas;


• limitação do comprimento das peças devido aos meios de transportes;
• necessidade de tratamento anticorrosivo;
• necessidade de mão de obra e equipamentos especializados;
• limitação de dimensões dos perfis estruturais.

Um valor econômico para vigas em concreto armado é 6m, ou 1/10 do vão. Para
estruturas metálicas o vão econômico é de 13m a 25m ou aproximadamente 1/20 do vão.
O valor de um projeto de estruturas metálicas é geralmente cobrado 10% do custo
do peso da estrutura.

1.1.3. Normas

As Normas que tratam de estruturas metálicas são as seguintes:


ABNT – Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios: método dos estados limites –
NBR-8800 (NB14). Rio de Janeiro, ABNT, 1986.
ASTM – American Society for Testing and Materials: especificações para fabricação do
aço, acabamento dos perfis, etc.
AISC – American Institute of Steel Construction: especificações para projetos de prédios
industriais ou residenciais em estruturas metálicas.
AASHO – American Association of State Highway Offcials: especificações para projeto
de pontes rodoviárias metálicas.
Além das normas de aço, outras normas devem ser consultadas para a elaboração de
projetos em estruturas metálicas:
NBR 6123 (NB599) Forças devidas ao vento em edificações, 1988.
NBR 6120 (NB5) Cargas para o cálculo de estruturas de edificações, 1980.
NBR 9763 (EB1742) Aços para perfis laminados, chapas grossas e barras, usados em
estruturas fixas, 1987
NBR 7188 (NB6). Carga móvel em ponte rodoviária e passarela de pedestre, 1984.
NBR 7189 (NB7). Cargas móveis para projeto estrutural de obras ferroviárias, 1989.
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1.1.4. Aplicações

As aplicações do aço em Engenharia Civil são muitas como:


telhados; pontes e viadutos; postes;
edifícios comerciais; pontes rolantes; passarelas;
edifícios industriais; reservatórios; indústria naval;
residências; torres; escadas;
hangares; guindastes; mezaninos.

1.2. Formas usuais de metais ferrosos

As formas usuais de metais ferrosos são: ferro fundido, aço e ferro laminado, os
quais são produzidos em três etapas de fabricação.

1.2.1. Etapas de fabricação do aço

O processo industrial de obtenção do aço compreende o aproveitamento do ferro


contido no minério de ferro e pela eliminação progressiva de impurezas. Na forma líquida,
já isento das impurezas do minério, recebe adições que lhe dão as características desejadas,
sendo solidificado e preparado para a forma requerida. O processo de fabricação do aço
pode ser definido em três etapas:
• 1a. fase: produção do ferro gusa (alto forno): o minério de ferro (hematita) é
submetido a um forno de alta temperatura, cerca de 1500 ºC, juntamente com
carvão mineral, resultando um produto denominado ferro gusa, também conhecido
como ferro fundido. O ferro gusa não tem aplicação em estruturas metálicas por
apresentar grande porcentagem de carbono, sendo por isto, quebradiço. As
características do ferro fundido são as seguintes: teor de carbono: 3% a 4,5%; ferro:
96%, mais impurezas;
• 2a. fase: aciaria: o aço é obtido pela diminuição dos teores de carbono, silício e
enxofre (refino), em equipamentos apropriados. O ferro gusa é depositado em
fornos que os transforma em lingotes, além de reduzir seu teor de carbono,
conforme as especificações. As características aço produzido são: teor de carbono:
aproximadamente < 0,7% a 1,7% (pode variar de 0% a 1,7%);
• 3a. fase: laminação: fabricação dos perfis em laminadores padronizados (rolled
beam) em medidas americanas e européias. Depois da fase de aciaria (refino do
ferro gusa) passa-se à produção de lingotes contínuos, na qual se inicia a
solidificação do aço no molde, que é retirado continuamente por rolos extratores. O
teor de carbono para os aços laminados é < 0,2%. Na laminação, os lingotes são
pré-aquecidos e deformados pela passagem sobre pressão em laminadores cilindros,
reduzindo sua espessura até a medida desejada para comercialização. As chapas
sofrem também redução de espessura por laminação.
O carbono aumenta a resistência do aço porém, o torna mais duro e quebradiço.
Contudo, o aumento do teor de carbono produz redução na ductilidade do aço, o que
acarreta problemas com solda.
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Os aços carbonos podem ser soldados sem precauções especiais, somente até o teor
de carbono de 0,30%.
Os aços de baixa liga são aços carbonos acrescidos de elementos de liga (cromo,
colúmbio, cobre, manganês, molibdênio, níquel, fósforo, vanádio, zircônio), os quais
melhoram algumas de suas propriedades mecânicas.
As ligas aumentam a resistência do aço devido à modificação da micro-estrutura
dos grãos finos. É possível atingir resistência elevada com 0,20% de carbono e permitir
soldagens sem precauções.

1.3. Tipos de aços estruturais

Os aços estruturais para Construção Civil são basicamente: aço carbono e aço de
baixa liga.

1.3.1. Aço carbono

É o aço mais indicado para estruturas metálicas, pois é fácil de ser encontrado em
todas as bitolas. Como exemplo de aço carbono fabricado no Brasil, o ASTM A-36 ou
simplesmente A-36. Numa terminologia menos técnica pode-se interpretar o aço A-36
como aço comum.
Os aços carbono apresentam taxas que variam aproximadamente de 0,15% a 1,7%
de carbono.
Tabela 1.1 Tipos de aço carbono
Usado em perfis, chapas e barras para a construção de edifícios, pontes
A36
e estruturas pesadas C = 0,25% a 0,29%
(ASTM)
fy = 36 ksi ≈ 250 MPa fu = 400 a 550 MPa
A307 Aço de baixo teor de carbono para fabricação de parafusos comuns
(ASTM) (C < 0,15%) fu = 415 MPa
Aço de médio teor de carbono para fabricação de parafusos de alta
A325
resistência (0,30% < C < 0,59%)
(ASTM)
fy = 550 MPa fu = 750 MPa
Empregado para perfis de chapas dobradas devido a sua maleabilidade
A570 Grau 33: fy = 230 MPa fu = 360 MPa
(ASTM) Grau 40: fy = 280 MPa fu = 380 MPa
Grau 45: fy = 310 MPa fu = 410 MPa
2
1 ksi = 70,3 kgf/cm . (kilo-libra por polegada quadrada)
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Em função do teor de carbono, os aços distinguem-se em quatro categorias:


• baixo carbono C < 0,15%
• moderado 0,15% < C < 0,29%
• médio carbono 0,30% < C < 0,59%
• alto carbono 0,60% < C < 1,70%

1.3.2. Aços de baixa liga e alta resistência

São aços de resistência mecânica mais elevadas, possibilitando, assim, redução do


peso próprio da estrutura. Devem ser utilizados em obras especiais tais como viadutos ou
estruturas de grandes vãos, onde a redução do peso é importante. Evidentemente, são perfis
de custo mais elevado que os comuns. Exemplo de aço de alta resistência: ASTM A-242,
fabricado pela CSN, sob o nome comercial de aço COR-TEN. Este tipo de aço tem
também elevada resistência à oxidação, não necessitando qualquer pintura de proteção.
O aço de alta resistência, do tipo CORTEN (ou similar) possui tensão de
escoamento de 350 MPa.
Tabela 1.2 Aços de baixa liga e alta resistência mecânica e à corrosão.
fy = 290 MPa a 350 MPa
Perfis:
Grupo 1 e 2: fy = 345 MPa fu = 480 MPa
Grupo 3 fy = 315 MPa fu = 460 MPa
A242 (ASTM) Chapas e barras:
t ≤ 19 : fy = 345 MPa fu = 480 MPa
19 < t ≤ 38 : fy = 315 MPa fu = 460 MPa
38 < t ≤ 100 : fy = 290 MPa fu = 435 MPa
t = espessura

1.3.3. Nomenclatura da ABNT

A ABNT prescreve a seguinte nomenclatura para os aços estruturais:


MR 250 fy = 250 MPa fu = 400 MPa
AR 290 fy = 290 MPa fu = 415 MPa
AR 345 fy = 345 MPa fu = 485 MPa
Módulo de Elasticidade: E = 205 GPa E=205000 MPa 20500 kN/cm2.

1.3.4. Espessura mínima para peças estruturais

A espessura mínima das peças metálicas está ligada à sua proteção contra a
corrosão.
• sem necessidade de proteção contra corrosão: 3mm
• com necessidade de proteção contra corrosão: 5mm
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1.3.5. Propriedades dos aços estruturais

• Ductilidade: é a capacidade do material de se deformar sob a ação de cargas sem


se romper. Quanto mais dúctil o aço, maior será a redução de área ou o
alongamento antes da ruptura. A ductilidade tem grande importância nas estruturas
metálicas, pois permite a redistribuição de tensões locais elevadas. As barras de aço
sofrem grandes deformações antes de se romper, o que na prática constitui um
aviso da presença de tensões elevadas;
• Fragilidade: é o oposto da ductilidade. Os aços podem ter características de
elementos frágeis em baixas temperaturas;
• Resiliência: é a capacidade do material de absorver energia mecânica em regime
elástico;
• Tenacidade: é a capacidade do material de absorver energia mecânica com
deformações elásticas e plásticas;
• Dureza: é a resistência ao risco ou abrasão. A dureza pode ser medida pela
resistência que sua superfície se opõe à introdução de uma peça de maior dureza;
• Resistência à Fadiga: é a capacidade do material suportar aplicações repetidas de
carga ou tensões. É usualmente expressa como um limite de tensão que causa a
falha sob condições de esforços repetidos. Esta tensão pode ocorrer em regime
elástico.

1.4. Tensões e deformações

Os conceitos de tensão e deformação podem ser ilustrados, de modo elementar,


considerando-se o alongamento de uma barra prismática (barra de eixo reto e de seção
constante em todo o comprimento).
Considere-se uma barra prismática carregada nas extremidades por forças axiais P
(forças que atuam no eixo da barra), que produzem alongamento uniforme ou tração na
barra. Sob ação dessas forças originam-se esforços internos no interior da barra. Para o
estudo desses esforços internos, considere-se um corte imaginário na seção mm, normal a
seu eixo. Removendo-se, por exemplo, a parte direita do corpo, os esforços internos na
seção considerada (m-m) transformam-se em esforços externos. Supõe-se que estes
esforços estejam distribuídos uniformemente sobre toda a seção transversal.

P m P

L δ
P
σ

Figura 1.1 barra prismática submetida a esforços de tração


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Para que não se altere o equilíbrio, estes esforços devem ser equivalentes à
resultante, também axial, de intensidade P.
Quando estas forças são distribuídas perpendiculares e uniformemente sobre toda a
seção transversal, recebem o nome de tensão normal, sendo comumente designada pela
letra grega σ (sigma).
Pode-se ver facilmente que a tensão normal, em qualquer parte da seção transversal
é obtida dividindo-se o valor da força P pela área da seção transversal, ou seja,
P
σ= (1)
A
A tensão possui a mesma unidade de pressão que, no Sistema Internacional de
Unidades, é o Pascal (Pa), o qual corresponde à carga de 1N atuando sobre uma superfície
de 1m2, ou seja, Pa = N/m2.
Como a unidade Pascal é muito pequena, costuma-se utilizar com freqüência seus
múltiplos: MPa = N/mm2 = (Pa×106), GPa = kN/mm2 = (Pa×109), etc. Em outros Sistemas
de Unidades, a tensão ainda pode ser expressa em quilograma força por centímetro
quadrado (kgf/cm2), libra por polegada quadrada (lb/in2 ou psi), etc.
Quando a barra é alongada pela força P, como indica a Figura acima, a tensão
resultante é uma tensão de tração; se as forças tiverem o sentido oposto, comprimindo a
barra, tem-se tensão de compressão.
A condição necessária para validar a equação (1) é que a tensão σ seja uniforme em
toda a seção transversal da barra.
O alongamento total de uma barra submetida a uma força axial é designado pela
letra grega δ (delta). O alongamento por unidade de comprimento, denominado
deformação específica, representada pela letra grega ε (epsilon), é dado pela seguinte
equação:
δ
ε= (2)
L
onde:
ε = deformação específica
δ = alongamento ou encurtamento
L = comprimento total da barra.
Note-se que a deformação ε é uma quantidade adimensional. É de uso corrente no
meio técnico representar a deformação por uma fração percentual (%) multiplicando-se o
valor da deformação específica por 102 ou mesmo até por mil (‰) multiplicando-se por
103.

1.5. Ensaios

Para se conhecer o comportamento estrutural do aço realizam-se ensaios em


laboratório, utilizando-se corpos de prova normalizados, com o intuito de se obter as
características mecânicas do material, tais como, módulo de elasticidade, tensão de ruptura,
etc. Estas características mecânicas são utilizadas nos projetos estruturais.
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1.5.1. Ensaios de tração

Nos ensaios de tração do aço distinguem-se dois casos: aços que apresentam
patamar de escoamento e os aços que não apresentam.
O ensaio de tração tem por objetivo o traçado da curva tensão-deformação e a
obtenção das características mecânicas do material. Consiste em tracionar um corpo de
prova em uma máquina de ensaio e registrar sucessivamente as tensões (σ) aplicadas e as
correspondentes deformações unitárias (ε).

1.5.2. Diagrama tensão - deformação

As relações entre tensões e deformações para um determinado material são


encontradas por meio de ensaios de tração. Nestes ensaios são medidos os alongamentos δ,
correspondentes aos acréscimos de carga axial P, que se aplicam à barra, até a sua ruptura.
Obtêm-se as tensões (σ) dividindo as forças pela área da seção transversal da barra
e as deformações específicas (ε) dividindo o alongamento pelo comprimento ao longo do
qual a deformação é medida. Deste modo obtém-se um diagrama tensão-deformação do
material em estudo. Na Figura 1.2 ilustra-se o diagrama tensão-deformação típico do aço.

σf D
r
escoamento P
C E Tensão σ=
fe
B A
fp A
Deformação específica
P P δ
ε=
L
L δ fr = tensão de ruptura
fe ou fy = tensão de escoamento
0 fp = tensão limite de proporcionalidade
εr
εp
ε
região região plástica
elástica
Figura 1.2 Diagrama tensão-deformação do aço

Região elástica: de 0 até A as tensões são diretamente proporcionais às


deformações; o material obedece a Lei de Hooke, mais à frente enunciada, e o diagrama é
linear. 0 ponto A é chamado limite de proporcionalidade, pois, a partir desse ponto deixa
de existir a proporcionalidade.
Nesta fase, as deformações desaparecem quando retiradas as cargas aplicadas.
Portanto, não há deformação permanente nesta fase.
Daí em diante inicia-se uma curva que se afasta da reta O A , até que em B inicia-se
o fenômeno do escoamento.
Região plástica: é aquela situada após o ponto A até a ruptura. Nesta fase as
deformações no material são permanentes.
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No ponto B inicia-se o escoamento, caracterizado por um aumento considerável da


deformação com pequeno aumento da força de tração.
A presença de um ponto de escoamento pronunciado, seguido de grande
deformação plástica é uma característica do aço, que é o mais comum dos metais
estruturais em uso atualmente. Tanto os aços quanto as ligas de alumínio podem sofrer
grandes deformações antes da ruptura. Materiais que apresentam grandes deformações,
antes da ruptura, são classificados de materiais dúcteis. Outros materiais como o cobre,
bronze, latão, níquel, etc, também possuem comportamento dúctil. Por outro lado, os
materiais frágeis ou quebradiços são aqueles que se deformam relativamente pouco antes
de romper-se, como por exemplo, o ferro fundido, concreto, vidro, porcelana, cerâmica,
gesso, entre outros.
O ponto C é o final do escoamento o material começa a oferecer resistência
adicional ao aumento de carga, atingindo o valor máximo ou tensão máxima no ponto D,
denominado limite máximo de resistência. A partir do ponto C verifica-se outro fenômeno
físico, chamado encruamento. O aumento de resistência das ligas metálicas ocorrida após o
escoamento é chamado encruamento. A fase plástica caracteriza-se pelo endurecimento por
deformação a frio, ou seja, pelo encruamento do material. Além deste ponto, maiores
deformações são acompanhadas por reduções da carga, ocorrendo, finalmente, a ruptura do
corpo-de-prova no ponto E do diagrama.
O limite de resistência corresponde ao valor máximo de tensão que o material pode
suportar (ponto D). Depois de atingida esta carga máxima, inicia-se a fase de ruptura
caracterizada pelo fenômeno da Estricção. A Estricção é uma diminuição acentuada da
seção transversal do corpo de prova até a sua ruptura. No ponto E, verifica-se a ruptura da
peça após a estricção, que teve início em D. Observa-se, também, queda no valor da tensão
aparente entre D e E.
Na Figura 1.3 são ilustrados diagramas tensão – deformação de vários tipos de aço,
em escala real.

Figura 1.3 Diagramas tensão-deformação em escala real


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O limite de escoamento para o aço A-36 é fy= 250 MPa e o limite de


proporcionalidade ou elasticidade (fp) ocorre aproximadamente a 80% da tensão de
escoamento, portanto, fp = 200 MPa. O limite de elasticidade corresponde a uma
deformação da ordem de 0,10% no corpo de prova, portanto, trabalhando-se na fase
elástica as deformações sofridas são pequenas. O aumento de deformação no escoamento
cresce aproximadamente de 1,5% a 2,0%.
Apresenta-se a seguir uma tabela com os valores principais das tensões sofridas por
um corpo de prova de aço A-36 de comprimento L= 20 cm, admitidas as deformações
indicadas. O quadro abaixo não se prende a um ensaio específico, os seus números têm
como objetivo fornecer somente uma ordem de grandeza desses valores.

Tabela 1.3 Ensaio do aço A-36


Tensão (σ) Deformação Deformação (δ)
Aço A-36
(MPa) Específica (ε) (%) (cm)
Limite de elasticidade 200 0,10 0,02
Início do escoamento 250 0,15 0,03
Fim do escoamento = início do encruamento 250 2,00 0,4
Limite de resistência = tensão máxima 450 16 3,2
Limite de ruptura = tensão de ruptura 290 24 4,8

Há outro tipo de aço que não apresenta patamar de escoamento. O aspecto da curva
tensão-deformação para estes aços está indicado na Figura 1.4. Observa-se que a inclinação
da reta referente à fase elástica dos aços é sempre a mesma porque o módulo de
elasticidade apresenta valores idênticos para os diferentes tipos de aço.

σf
r
fe

fp

0 ε p= 0,2 εr
ε (%)
Figura 1.4 Diagrama tensão-deformação de aços sem patamar de escoamento

Nesta curva não existe um limite ou tensão de escoamento definida claramente no


gráfico. Entretanto, por analogia com os aços que apresentam patamar de escoamento,
define-se um limite de escoamento convencional, como sendo aquela tensão que deixa uma
deformação permanente de 0,2%, quando o corpo de prova é descarregado.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 11

1.6. Lei de Hooke

Os diagramas tensão-deformação ilustram o comportamento de vários materiais,


quando carregados por tração. Quando um corpo-de-prova do material é descarregado, isto
é, quando a carga é gradualmente diminuída até zero, a deformação sofrida durante o
carregamento desaparecerá parcial ou completamente. Esta propriedade do material, pela
qual ele tende a retornar à forma original, é denominada elasticidade. Quando a barra volta
completamente à forma original, diz-se que o material é perfeitamente elástico; mas se o
retorno não for total, o material é parcialmente elástico. Neste último caso, a deformação
que permanece depois da retirada da carga é denominada deformação residual.
A relação linear da função tensão-deformação foi apresentada por Robert HOOKE
em 1678 e é conhecida por LEI DE HOOKE. Verifica-se que o trecho do diagrama da
Figura 1.2, entre os pontos O e A é retilíneo, o que caracteriza a relação linear entre
tensões e deformações. Daí, o conhecido enunciado da Lei de Hooke: “Na fase elástica, as
tensões são proporcionais às deformações”, ou seja,
σ = Eε (3)
onde
σ = tensão normal
E = módulo de elasticidade do material
ε = deformação específica

O Módulo de Elasticidade é o coeficiente angular da região linear do diagrama


tensão-deformação, sendo diferente para cada material. O Módulo de Elasticidade
representa fisicamente a força de ligação entre as moléculas do corpo em estudo. Mede a
deformabilidade do material; quanto maior for o seu valor, menor será a deformação
sofrida.
O valor do módulo de elasticidade é constante para cada metal ou liga metálica. É
uma característica física do material.
A Lei de Hooke é válida somente para a fase elástica dos materiais. Por este
motivo, quaisquer que sejam os carregamentos ou solicitações sobre o material, vale a
superposição de efeitos, ou seja, pode-se avaliar o efeito de cada solicitação sobre o
material e depois somá-los.
Alguns valores de Módulo de Elasticidade (E) são mostrados na Tabela abaixo.
Para a maioria dos materiais, o valor do Módulo de Elasticidade, sob compressão ou sob
tração, são iguais.
Tabela 1.4 Propriedades mecânicas típicas de alguns materiais
Peso específico Módulo de Elasticidade
Material
(kN/m3) (GPa)
Aço 78,5 200 a 210
Alumínio 26,9 70 a 80
Bronze 83,2 98
Cobre 88,8 120
Ferro fundido 77,7 100
Madeira 0,6 a 1,2 8 a 12
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 12

Deformações elásticas
Quando uma barra é carregada por tração simples, a tensão axial é σ = P / A e a
deformação específica é ε = δ / L . Combinando estes resultados com a Lei de HOOKE,
tem-se a seguinte expressão para o alongamento da barra:
PL
δ= (4)
EA
Esta equação mostra que o alongamento de uma barra linearmente elástica é
diretamente proporcional à carga e ao comprimento e inversamente proporcional ao
módulo de elasticidade e à área da seção transversal. O produto EA é conhecido como
rigidez axial da barra.

1.6.1. Ensaios de compressão

Na determinação das características mecânicas dos aços estruturais, não é freqüente


o emprego do ensaio de compressão, dando-se preferência ao ensaio de tração. Existem
dificuldades neste tipo de ensaio, como a possibilidade de flambagem do corpo de prova e
outros problemas práticos ligados especificamente ao ensaio.
Os ensaios de compressão são realizados quase sempre no campo da pesquisa,
visando comparar seus resultados com os ensaios de tração. Quando se ensaia à
compressão obtém-se também a curva tensão-deformação, os limites de proporcionalidade
e de escoamento, módulos de elasticidade, etc. Os valores encontrados para estas
propriedades são aproximadamente iguais aos obtidos num ensaio de tração. Nos estudos
teóricos e cálculos, admitem-se que as propriedades mecânicas citadas são as mesmas,
quando o material trabalha à tração ou à compressão. Na verdade, as diferenças
ocasionalmente encontradas para certos tipos de aço são pequenas.
Assim, a validade da Lei de Hooke ocorre tanto para peças comprimidas como para
tracionadas, admitindo-se a mesma curva tensão – deformação, com os mesmos valores,
nos dois casos. O módulo de elasticidade, limites de escoamento e de elasticidade, etc,
apresentam conseqüentemente, os mesmos números para tração ou compressão.

1.6.2. Coeficiente de Poisson

Quando uma barra é tracionada, o alongamento axial é acompanhado por uma


contração lateral, isto é, a largura da barra torna-se menor enquanto cresce seu
comprimento. Quando a barra é comprimida, a largura da barra aumenta. A Figura 1.4
ilustra essas deformações.

P P

P P

Figura 1.4 Deformações longitudinal e lateral nas barras


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 13

A relação entre as deformações transversal e longitudinal é constante dentro da


região elástica, e é conhecida como relação ou coeficiente de Poisson (v); definido como:

deformação lateral
υ= (5)
deformação longitudinal
Esse coeficiente é assim conhecido em razão do famoso matemático francês S. D.
Poisson (1781-1840). Para os materiais que possuem as mesmas propriedades elásticas em
todas as direções, denominados isotrópicos, Poisson achou ν ≈ 0,25. Experiências com
metais mostram que o valor de v usualmente encontra-se entre 0,25 e 0,35.
Se o material em estudo possuir as mesmas propriedades qualquer que seja a
direção escolhida, no ponto considerado, então é denominado, material isótropico. Se o
material não possuir qualquer espécie de simetria elástica, então é denominado material
anisotrópico. Um exemplo de material anisotrópico é a madeira pois, na direção de suas
fibras a madeira é mais resistente.

1.6.3. Forma geral da Lei de Hooke

Considerou-se anteriormente o caso particular da Lei de HOOKE, aplicável a


exemplos simples de solicitação axial.
Se forem consideradas as deformações longitudinal (εL) e transversal (εt), tem-se,
respectivamente:
σ υσ
εL = e ε t = νε L = (6)
E E
No caso mais geral, no qual um elemento do material é solicitado por três tensões
normais σx, σy e σz, perpendiculares entre si, às quais correspondem respectivamente às
deformações εx, εy e εz, a Lei de HOOKE é definida como:

σz εx =
1
E
[σ x − υ (σ y + σ z )]
ε y = [σ y − υ (σ z + σ x )]
1
(7)
E
σx
ε z = [σ z − υ (σ x + σ y )]
1
σy
E

A lei de HOOKE é válida para materiais homogêneos, ou seja, aqueles que


possuem as mesmas propriedades (mesmos E e ν) em todos os pontos.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 14

Exemplos
1. Determinar a tensão de tração e a deformação específica de uma barra prismática de
comprimento L=5,0m, seção transversal circular com diâmetro φ=5cm e Módulo de
Elasticidade E=20.000 kN/cm2 , submetida a uma força axial de tração P=30 kN.

P P=30 kN

L= 5 m

πφ 2 π × 52
A= A= = 19,6 cm2
4 4
P 30
σ= σ= = 1,53 kN/cm2 ou 15,3 MPa
A 19,6
PL 30 × 500
δ= δ= = 0,0382 cm
EA 20.000 × 19,6
δ 0,0382
ε= ε= = 0,0000764 ou × 1000 = 0,0764 (‰)
L 500

2. A barra da figura é constituída de 3 trechos: trecho AB=300 cm e seção transversal com


área A=10cm2; trecho BC=200cm e seção transversal com área A=15cm2 e trecho
CD=200cm e seção transversal com área A=18cm2 é solicitada pelo sistema de forças
indicado na Figura. Determinar as tensões e as deformações em cada trecho, bem como o
alongamento total. Dado E=21.000 kN/cm2.
150kN 30kN 50kN 170kN
A B C D

300 cm 200 cm 200 cm

Trecho A-B
A B
150kN 50kN R=150kN
=
30kN 170kN
300 cm

P 150
σ= σ= = 15 kN/cm2
A 10
PL 150 × 300
δ= δ= = 0,214 cm
EA 21.000 × 10
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 15

δ 0,214
ε= ε= × 1000 = 0,713 (‰)
L 300

Trecho B-C
B C
R=120kN 30kN 50kN R=120kN
= =
150kN 170kN
200 cm

P 120
σ= σ= = 8 kN/cm2
A 15
PL 120 × 200
δ= δ= = 0,076 cm
EA 21.000 × 15
δ 0,076
ε= ε= × 1000 = 0,38 (‰)
L 200

Trecho C-D
C D
R=170kN 30kN 170kN
=
150kN 50kN
200 cm

P 170
σ= σ= = 9,44 kN/cm2
A 18
PL 170 × 200
δ= δ= = 0,0899 cm
EA 21.000 × 18
δ 0,0899
ε= ε= × 1000 = 0,45 (‰)
L 200

Alongamento total
δ = 0,214 + 0,076 + 0,0899 = 0,38 cm
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 16

2. PRODUTOS SIDERÚRGICOS

Os produtos laminados, os perfis soldados e os elementos de ligação são os


principais materiais empregados em Estruturas Metálicas.
A indústria siderúrgica oferece ao projetista diversos produtos com aplicações nas
construções civis e seus acabamentos, dos quais destacam-se:
• perfis laminados a quente;
• perfis soldados;
• perfis conformados a frio (chapa dobrada);
• chapas laminadas a quente;
• chapas laminadas a frio;
• tubos de várias formas.

2.1. Perfis laminados

Os perfis laminados recebem esta denominação porque no seu processo de


fabricação, rolos especiais chamados laminadores, produzem as formas finais dos
diferentes perfis.
São os mais empregados na construção de estruturas metálicas e sua fabricação é
feita em diversas dimensões e modelos padronizados. A tabela abaixo ilustra os produtos
siderúrgicos mais utilizados.

Tabela 2.1 Tipos de produtos siderúrgicos:

Cantoneira de abas iguais Cantoneira de abas desiguais C padrão I padrão

Tê laminado Tê cortado de I ou H Tubo quadrado Tubo circular

Perfil soldado Perfil laminado a frio Chapas e barras


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 17

1– Cantoneiras: são empregadas em treliças, contraventamentos, linhas de transmissão de


energia elétrica e ligações.

2- Perfis T: têm aplicações em estruturas soldadas e podem ser fabricados por processos de
laminação ou através do corte de perfis I ou H.

3- Perfis I e U: empregados principalmente como vigas. Suas abas não têm faces paralelas
e as bordas são arredondadas.

4- Perfis H: são empregados em elementos sujeitos à carga axial de compressão.

5- Barras chatas e redondas: as barras chatas são utilizadas em ligações e as barras


redondas, em elementos tracionados (tirantes).

6- Chapas laminadas (a quente): têm espessura compreendida entre 3mm e 50mm, pois,
chapas mais espessas apresentam problemas de soldabilidade. As suas principais
aplicações estão nas ligações, emendas de vigas e pilares, bases de colunas e na fabricação
de perfis soldados.

7- Chapas laminadas (a frio): são fornecidas em bobinas, com espessura inferior a 3mm e
largura em torno de 2,50m. São empregadas na obtenção de perfis conformados a frio,
também chamados, perfis de chapa dobrada, usados em estruturas leves, tais como,
coberturas industriais tipo arco, Shed, etc. Outras aplicações são: fôrmas para lajes de
edifícios, materiais para revestimento de paredes externas, internas e de cobertura.

• Perfis laminados

Perfil I ou perfil de aba estreita


h = 3” a 20”
h = 3” a 12” (comerciais)

Inclinação da face interna da aba = 16,67%;


São utilizadas como elementos resistentes à flexão
(vigas).

Perfil H

T
bf = d
(bf = mesa ou flange)
d = 4” a 6”

T
Pouco uso em estruturas.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 18

Perfil C ou U ou perfil de aba estreita


h = 3” a 15”

Peças submetidas à flexão, vigas, colunas de postos de


gasolina, etc.

Cantoneiras:
Fabricadas com abas iguais e desiguais:
Abas iguais – (7/8” x 7/8”x 1/8)” → (8 x 8 x 1)”
Abas desiguais – (13/4 x 11/4 x 1/8)” → (8 x 4 x 1)”

Utilizadas em peças submetidas à tração ou compressão


(treliças, tesouras).

• Combinações de perfis laminados

É muito comum a combinação de perfis em estruturas metálicas. As figuras abaixo


ilustram algumas das várias possibilidades de combinações de perfis metálicos.

2.2. Perfis Soldados

Como o próprio nome sugere, são perfis fabricados de chapas planas soldadas.
Correspondem, no Brasil, aos chamados perfis de abas largas (wide-flange) americanos. A
sua seção transversal é semelhante a de um perfil I com abas mais alargadas e as faces das
mesas paralelas. São fabricadas em grande variedade de dimensões de alma e mesa. A
CSN padronizou as seguintes séries de perfis soldados:
• Perfil série CS – Colunas Soldadas
• Perfil série VS – Vigas Soldadas
• Perfil série CVS – Colunas e Vigas Soldadas
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 19

Pode-se considerá-los como a continuação das séries I e H de perfis laminados em


dimensões maiores.

São utilizados também quando são necessários perfis de grandes dimensões ou


seções especiais. As aplicações dos perfis soldados são as mesmas dos perfis laminados, ou
seja, vigas de pontes, galpões industriais (pilares e vigas), edifícios de grande altura, etc.

• Perfis de chapas soldadas

Perfis I h > b

VS (Viga Soldada):para peças submetidas à flexão: para vigas

CVS (Coluna Viga Soldada): para peças submetidas à flexo-


compressão

Perfil H

CS (Coluna Soldada): h=b


para peças submetidas à compressão: colunas
CS (altura em mm × massa em kg/m)

2.3. Perfis conformados a frio ou de chapas dobradas

As grandes siderúrgicas abastecem a indústria de menor porte com chapas finas


para a obtenção de perfis de chapas dobradas. Os perfis de chapas dobradas são obtidos por
meio do dobramento de chapas finas (3; 5; 6) mm a frio e, às vezes, também por meio de
solda, embora a solda seja pouco utilizada, pois eleva o custo de fabricação do perfil.
Os perfis de chapas dobradas são utilizados como elementos estruturais em
estruturas pouco carregadas, como coberturas e esquadrias. Outra aplicação importante são
as telhas auto-portantes de seção trapezoidal.
São obedecidos raios mínimos para evitar a fissuração do aço durante o dobramento
a frio.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 20

2.4. Tubos

Na construção metálica utilizam-se tubos de seção circular, quadrada ou retangular


e outros perfis tubulares de formas especiais empregados em esquadrias metálicas.

O tubo circular associa a máxima resistência com o menor peso, em peças sujeitas à
compressão ou à flexão. Normalmente, são utilizados como barras comprimidas de
estruturas leves e como treliças planas ou espaciais. Exemplos: andaimes tubulares para
escoramento de pontes, coberturas espaciais, etc.

.o0o.
Apresentam-se a seguir, algumas tabelas dos perfis mais utilizados em estruturas
metálicas.

2.5. Tabelas de perfis

As tabelas de perfis simples (laminados ou soldados) apresentam as características


geométricas individuais de cada perfil.

Nomenclatura

Chama-se alma de um perfil, a região hachurada da seção transversal, indicada na


Figura abaixo. Denomina-se aba ou mesa de um perfil a região sem hachura. Geralmente, a
alma é parte do perfil que serve de união entre suas abas, como ocorre no caso de perfis I,
H e U.

tf h = altura do perfil

b = largura da aba, flange ou mesa


h
ALMA
tw tf = espessura da aba (thickness=espessura)

tf
tw = espessura da alma

Características geométricas dos perfis simples:


As características geométricas de cada perfil são indispensáveis ao projeto e
dimensionamento de qualquer estrutura. Para facilitar o trabalho do engenheiro foram
calculadas e tabeladas para todos os perfis fabricados no Brasil.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 21

As Tabelas apresentam as seguintes características geométricas dos perfis simples,


com o intuito de facilitar e agilizar os cálculos estruturais:
• A: área da seção transversal do perfil (cm²)
• Ix: momento de inércia em relação ao eixo x (cm4)
• Iy; momento de inércia em relação ao eixo y (cm4)
• rx: raio de giração em relação ao eixo x (cm)
• ry: raio de giração em relação ao eixo y (cm)
• wx: módulo de resistência em relação ao eixo x (cm³)
• wy: módulo de resistência em relação ao eixo y (cm³)
• bf: largura da aba do perfil
• tf: espessura da aba do perfil
• tw: espessura da alma do perfil
• h:altura total do perfil
• xg,yg : coordenadas do centro de gravidade

Estão também tabelados os pesos de cada perfil por metro linear. É útil na avaliação
do peso próprio das peças em estudo.

Na prática, recomenda-se a utilização das tabelas, pois facilitam o trabalho de


cálculo e diminuem a possibilidade de erro. Entretanto, há casos em que se deve recorrer à
Resistência dos Materiais para a determinação destas características. São casos especiais,
por exemplo, onde forem usados perfis não padronizados, especialmente fabricados para
um projeto, ou em perfis compostos não previstos nas tabelas, etc.

Coordenadas do Centro de Gravidade (CG)

As características geométricas são fundamentais para a o dimensionamento.


Notoriamente, aquelas calculadas em relação a eixos (x, y), passando pelo CG da seção do
perfil. As figuras abaixo ilustram a posição do CG de alguns tipos de perfis.

Y
Y
b Y Y
Z

CG X
CG X X
h
h CG
CG X
yg yg yg
yg

xg xg xg xg

Perfil I Perfil C Cantoneira de abas iguais Cantoneira de abas desiguais


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 22

2.6. Principais tipos de concepções estruturais

2.6.1. Treliças isostáticas

Atingem vãos livres até 30 m. Acima de 30 m utilizar arcos treliçados.


Genericamente h = 1/15 do vão.

+ - + - -
- + +

Sistema WARREN

Sistema FINK

Sistema HOWE

Sistema PRATT
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2.6.2. Tesouras isostáticas

WARREN

HOWE

WARREN (com montante)

PRATT
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3. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

As estruturas devem oferecer segurança a todas as ações, por mais desfavoráveis


que sejam, ao longo de sua vida útil para o qual foi projetada. As estruturas não devem
atingir um estado limite imediato ou em longo prazo, mesmo em condições precárias de
funcionalidade. Além da previsão de todas as ações, do projeto adequado, é necessário
também que a estrutura tenha uma reserva de resistência, garantida por coeficientes de
segurança adequados.

O Método das Tensões Admissíveis foi o primeiro método a ser utilizado para
garantir a segurança. Até meados da década de 1980, o projeto de estruturas metálicas
NBR 8800 utilizava o Método das Tensões Admissíveis. Com a revisão da norma de
estruturas metálicas em 1986, começou-se a utilizar o Método dos Estados Limites.

A NBR 8680:2003 Ações e Segurança nas Estruturas, define as condições e


critérios do Método dos Estados Limites.

3.1. Método das tensões admissíveis

Nas estruturas de aço, geralmente se considera o limite de escoamento como início


de ruptura do material. Para se ter segurança contra ruptura por escoamento utilizam-se nos
cálculos, tensões admissíveis que são obtidas dividindo-se o limite de escoamento por
coeficientes de segurança adequados. Como as tensões admissíveis ficam dentro do regime
elástico, esta teoria de dimensionamento chama-se elástica e os cálculos são efetuados com
segundo a Resistência dos Materiais.

A teoria elástica de dimensionamento é caracterizada por quatro pontos.


a) o estado limite de resistência é o início de plastificação da seção, no ponto de maior
tensão;
b) o cálculo dos esforços solicitantes é feito em regime elástico, não sendo considerada a
redistribuição de momentos fletores causadas pela plastificação de uma ou mais seções
da estrutura;
c) as cargas atuantes são consideradas com seus valores reais estimados (cargas em
serviço);
d) a margem de segurança da estruturas fica embutida na tensão admissível adotada para
cada tipo de solicitação.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 25

O dimensionamento é considerado satisfatório quando a maior tensão solicitante em


cada seção for inferior ao valor admissível correspondente, ou seja:

σ <σ
A tensão admissível de tração ( σ t ) é relativa à área líquida é 0,6fy, exceto em furos
de conexões por pinos.
σ = 0,6 f y

A relação entre a tensão de escoamento e a tensão admissível à tração é γ =1,67,


que é o coeficiente de segurança utilizado.

fy 1
= = 1,67 → portanto, γ =1,67.
σ 0,6

3.2. Método dos Estados Limites

Um estado limite ocorre sempre que a estrutura deixa de satisfazer um de seus


objetivos. Eles podem ser divididos em Estados limites últimos (ELU) e Estados limites de
Utilização, ou de Serviço (ELS).

Quando uma seção da estrutura entra em escoamento, duas coisas importantes


acontecem:

a) o escoamento começa no ponto de maior tensão e depois de se propaga a outros pontos


da seção, aumentando sua resistência interna;

b) em estruturas hiperestáticas, o escoamento de uma ou mais seções provoca


redistribuição dos momentos fletores, aumentando a resistência da estrutura.

Diz-se que uma estrutura é segura quando ela possui condições de suportar todas as
ações ao longo de sua vida útil para a qual foi projetada.

Por Ações entendem-se todas as causas que provocam tensões na estrutura. A


estrutura atinge seu estado limite último quando perde a estabilidade ou quando em um de
seus pontos o material atinge a tensão de ruptura ou uma deformação plástica excessiva.

O conceito de segurança abrange o estado limite ao longo de sua vida útil e às


condições de funcionabilidade. Portanto, existem dois tipos de estados limites: estados
limites últimos e estados limites de utilização.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 26

O método dos estados limites utilizado para o dimensionamento dos componentes


de uma estrutura (barras, elementos e meios de ligação) exige que nenhum estado limite
aplicável seja excedido quando a estrutura for submetida a todas as combinações
apropriadas de ações. Quando a estrutura não mais atende aos objetivos para os quais foi
projetada, um ou mais estados limites foram excedidos. Os estados limites últimos estão
relacionados com a segurança da estrutura sujeita às combinações mais desfavoráveis de
ações previstas em toda a sua vida útil. Os estados limites de utilização estão relacionados
com o desempenho da estrutura sob condições normais de serviço.

A princípio fundamental deste método é que a resistência de cálculo (Rd) (o índice d


provém da palavra inglesa design) de cada componente ou conjunto da estrutura deve ser
igual ou superior à solicitação de cálculo (Sd). A resistência de cálculo é determinada para
cada estado limite e é igual ao produto de um coeficiente de minoração (φ) pela resistência
nominal (Rn), ou seja, (Rd= φ Rn).

As condições analíticas de segurança estabelecem que as solicitações de cálculo


não devem ser maiores que as resistências de cálculo e devem ser verificadas em relação a
todos os estados limites e todos os carregamentos especificados para o tipo da construção
considerada. São expressas por:

S d ≤ φ Rn

onde:
Sd = solicitação de cálculo
Rn = resistência nominal do material
φ = coeficiente de minoração do material
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 27

3.2.1. Carregamentos

As cargas que atuam nas estruturas são chamadas de Ações. A ações a serem
adotadas no projeto das estruturas de aço e de seus componentes são as estipuladas pelas
normas apropriadas e as decorrentes das condições a serem preenchidas pela estrutura.
Essas ações devem ser tomadas como nominais, devendo ser consideradas como seguintes
tipos de ações nominais:
• Ações permanentes (G), incluindo peso próprio da estrutura e peso de todos os
elementos componentes da construção, tais como pisos, paredes permanentes,
revestimentos, acabamentos, instalações e equipamentos fixos, etc.
• Ações variáveis (Q), incluindo as sobrecargas decorrentes do uso e ocupação da
edificação, equipamentos, divisórias, móveis, sobrecargas em coberturas, pressão
hidrostática, empuxo de terra, vento, variação de temperatura, etc.
• Ações excepcionais (E), explosões, choques de veículos, efeitos sísmicos, etc.

3.2.2. Coeficientes de majoração das ações

No método dos estados limites, as ações devem ser majoradas de um coeficiente de


majoração das ações (γ)
Sd = γ S
onde:
Sd = solicitação de cálculo
γ = coeficiente de majoração das ações
S = esforço nominal
A combinação das ações no caso normal e durante a construção é dada por:
S d = ∑ γ g G +γ q1Q1 + ∑ (γ qjψ j Q j )
n

j =2

Para as condições excepcionais, tem-se:


S d = ∑ γ g G +E + ∑ (γ qψQ )
onde: G = ação permanente
Q = ação variável
Q1 = ação variável predominante
E = ação excepcional
ψ = fator de combinação: é um fator estatístico que leva em conta a freqüência
da ocorrência simultânea das cargas
γq1 = coeficiente de ponderação da ação variável predominante
γg = coeficiente de ponderação da ação permanente

Estado limite Último

Os Estados Limites Últimos (ELU) estão associados à ocorrência de cargas


excessiva e conseqüentemente a colapsos das estruturas devido, por exemplo a: perda de
equilíbrio como corpo rígido, ruptura de uma ligação ou seção ou instabilidade em regime
elástico ou não.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 28

Os coeficientes de majoração das ações indicados pela norma de Ações e Segurança


nas estruturas, NBR 8681 são mostrados na Tabela abaixo.
Tabela 3.1. Coeficientes de segurança de solicitações para o estado limite último
Ações permanentes Ações variáveis
Cargas variáveis
Ações Pequena Outras Variação de
Grande decorrentes do uso da Recalques
variabilidade ações temperatura
variabilidade edificação (carga de diferenciais
(*) variáveis ambiental
utilização) (**)
γg γg γq γq γq γq
Normais 1,4 (0,9) 1,3 (1,0) 1,5 1,4 1,2 1,2
Construção 1,3 (0,9) 1,2 (1,0) 1,3 1,2 1,2 1,0
Excepcionais 1,2 (0,9) 1,1 (1,0) 1,1 1,0 0 0

Os valores entre parênteses correspondem a ações permanentes favoráveis à segurança.


(*) Peso próprio de elementos metálicos e de elementos pré-fabricados com controle rigoroso de peso.
(**) Sobrecargas em pisos e coberturas, cargas em pontes rolantes ou outros equipamentos, variações de
temperatura provocadas por equipamentos, etc.

São consideradas cargas permanentes de pequena variabilidade os pesos próprios de


elementos metálicos e pré-fabricados, com controle rigoroso de peso. Excluem-se os
revestimentos destes elementos feitos in loco.
A variação de temperatura citada não inclui a gerada por equipamentos, a qual deve
ser considerada como ação decorrente do uso da edificação.
Ações decorrentes do uso da edificação incluem sobrecargas em pisos e em
coberturas, cargas de pontes rolantes cargas de outros equipamentos.
Os fatores de combinação (ψ) da NBR 8681 estão indicados na Tabela abaixo.
Tabela 3.2 Fatores de combinação ψd no Estado Limite Último
Ações Fatores de combinação (ψ)
Sobrecargas em pisos de bibliotecas, arquivos, oficinas e
0,75
garagens, conteúdo de silos e reservatórios.
Cargas de equipamentos, incluindo pontes rolantes e
0,65
sobrecargas em pisos diferentes dos anteriores.
Pressão dinâmica do vento 0,60
Variação de temperatura 0,60

Os coeficientes ψ devem ser tomados iguais a 1,0 para ações variáveis não citadas
nesta tabela e também para as ações variáveis nela citadas, quando forem de mesma
natureza da ação variável predominante Q1; todas as ações variáveis decorrentes do uso de
uma edificação (sobrecargas em piso e em coberturas, cargas de pontes rolantes e de outros
equipamentos), por exemplo, são considerados de mesma natureza.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 29

Estado Limite de Utilização

Os Estados Limites de Utilização estão associados às cargas em serviço. Evita-se,


assim, a sensação de insegurança dos usuários de uma obra na presença de deslocamentos
ou vibrações excessivas, ou ainda, prejuízo de componentes não estruturais como
alvenarias e esquadrias. No Estado Limite de Utilização, as cargas são combinadas como
anteriormente explanado sem, entretanto, majorar seus valores, ou seja, utilizando(γ =1,0).

Os limites de deslocamentos máximos para o estado limite de utilização, fixados


pela norma de estruturas metálicas NBR 8800, estão indicados na Tabela abaixo.

Tabela 3.3 Valores limites de deformações elásticas, segundo a NBR 8800.

Ações a considerar Elemento estrutural Limite


Barras biapoiadas suportando elementos de 1 do vão
Sobrecarga
cobertura inelásticos. 240
Deslocamentos verticais

Barras biapoiadas suportando elementos de 1 do vão


Sobrecarga
cobertura elásticos. 180
1 do vão
Edifícios industriais

Sobrecarga Barras biapoiadas suportando pisos.


360
Vigas de rolamento biapoiadas para pontes 1 do vão
Cargas máximas por
rolantes com capacidade de 200 kN ou
roda (sem impacto) 800
mais.
Cargas máximas por Vigas de rolamento biapoiadas para pontes 1 do vão
roda (sem impacto) rolantes com capacidade inferior a 200 kN. 600
Força transversal da Vigas de rolamento biapoiadas para pontes 1 do vão
Deslocamento
s horizontais

ponte rolantes. 600

Força transversal da Deslocamento horizontal da coluna relativo 1 a 1 da altura


ponte, ou vento à base. 400 200
Barras biapoiadas de pisos e coberturas, 1 do vão
Deslocamen
tos verticais

Sobrecarga suportando construções e acabamentos


sujeitos à fissuração. 240
1 do vão
Sobrecarga Idem, não sujeitos à fissuração.
360
Outros edifícios

Deslocamento horizontal do edifício, 1


Vento da altura do edifício
Deslocamentos horizontais

relativo à base, devido a todos os efeitos. 400


Deslocamento horizontal relativo entre dois
pisos consecutivos, devido à força
horizontal total no andar entre os dois pisos 1 da altura do andar
Vento
considerados, quando fachadas e divisórias 500
(ou ligações com a estrutura) não
absorverem as deformações da estrutura.
1 da altura do andar
Vento Idem, quando absorverem.
400
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 30

4. PEÇAS TRACIONADAS

Peças tracionadas são aquelas sujeitas a solicitações axiais de tração, geralmente


denominadas tração simples. As peças tracionadas podem ser empregadas em estruturas
como tirantes, barras tracionadas de treliças, etc.
As peças tracionadas são dimensionadas admitindo-se distribuição uniforme das
tensões de tração na seção transversal considerada. Esta condição é obtida na maioria dos
casos na prática, principalmente se a peça não apresentar mudanças bruscas na seção
transversal. Admite-se que a carga de tração axial seja aplicada no centro de gravidade
(CG) da seção. No dimensionamento analisam-se primeiramente as condições de
resistência e, em seguida, as condições de estabilidade da barra.
As seções transversais das barras tracionadas podem ser simples ou compostas
como, por exemplo:
• barras redondas;
• barras chatas;
• perfis laminados (L, C, U, I);
• perfis compostos.
As ligações das extremidades das peças tracionadas com outras partes da estrutura
são feitas por diversos meios como: soldagem, parafusos e rebites, rosca e porca para
barras rosqueadas.

4.1. Dimensionamento no Estado Limite Último (ELU)

A resistência de uma peça submetida a tração axial pode ser determinada pela
ruptura da seção líquida (que provoca colapso), ou pelo escoamento generalizado da seção
bruta (que provoca deformações excessivas).

4.1.1. Peças tracionadas com furos

Os furos diminuem a área da seção transversal da peça. Portanto, há um


enfraquecimento na peça, que deve ser considerado no dimensionamento.
a) ruptura da seção líquida (condição de resistência):
Rdt ≤ φt Rn = φt An f uk , com φt = 0,75
onde:
An = área líquida de uma peça com furos ou entalhes
fuk = tensão de ruptura característica do aço

b) escoamento da seção bruta (condição de ductilidade):


Rdt ≤ φt Rn = φt Ag f y , com φt = 0,90
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 31

4.1.2. Peças com extremidades rosqueadas

As barras com extremidades rosqueadas, consideradas neste item, são aquelas com
diâmetro igual ou superior a 12 mm (1/2”).
Rdt ≤ φt Rn = φ t 0,75 Ag f uk , com φt = 0,65

onde Ag = área bruta da barra

4.1.3. Peças ligadas por pinos

No caso de chapas ligadas por pinos, a resistência é determinada pela ruptura da


seção líquida efetiva.

4.1.4. Limitação de esbeltez das peças tracionadas

O índice de esbeltez (λ) é definido na Resistência dos Materiais como a relação


entre o comprimento livre (não contraventado) (L) e o raio de giração mínimo (imin) de sua
seção transversal.

L I min
λ= (adimensional) com imin =
imin A

onde I é o momento de inércia da seção transversal.

O índice de esbeltez é muito importante no dimensionamento de peças


comprimidas, nas quais pode ocorrer o fenômeno da flambagem.

Nas peças tracionadas, o índice de esbeltez não tem importância fundamental, pois
o esforço de tração tende a retificar a haste, reduzindo a excentricidade construtiva inicial.
Contudo, as normas fixam valores mínimos de coeficiente de esbeltez, a fim de reduzir
efeitos vibratórios provocados por impactos, vento, etc.

O índice de esbeltez de barras tracionadas, excetuando-se tirantes de barras


redondas pré-tensionadas, não pode, em princípio, exceder os seguintes limites:

Tabela 4.1 Valores de esbeltez limites em peças tracionadas


Peças AISC / NBR AASHTO
Vigamentos principais 240 200
Contraventamentos e outros vigamentos secundários 300 240
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 32

4.1.5. Diâmetro dos furos

Os furos enfraquecem a seção da peça. O diâmetro total a ser considerado é igual ao


diâmetro nominal do conector (d), acrescido de 3,5mm. A Norma, o AISC recomenda
considerar os furos com diâmetros 1/8” (3,2mm) maiores que o diâmetro nominal adotado.
Este acréscimo de diâmetro é devido às imperfeições causadas na chapa durante a abertura
do furo, especialmente se forem abertos por punção.

É erro comum, principalmente para os que vêm o assunto pela primeira vez, pensar
na área líquida como a área bruta, subtraída das áreas de todos os furos existentes na
ligação. Isto é incorreto; a área líquida é estudada, pensando-se numa possível seção de
ruptura, tendo-se em mente a transmissão de esforços (distribuição de tensões no interior
da peça). Deve ser imaginada como a seção mais provável de ruína. Logo, os furos a serem
considerados serão, somente aqueles contidos na seção de ruptura em estudo.

Seção transversal líquida dos furos

Numa barra com furos, a área líquida (An) é obtida subtraindo-se da área bruta (Ag)
as áreas dos furos contidos em uma mesma seção reta da peça.

Área bruta (Ag)

mm
3,5
d+

mm Área líquida
3,5 (An)
d+

Figura 4.1 Área líquida e área bruta

No caso de furação em zig-zag, é necessário pesquisar diversos percursos para se


encontrar o menor valor de seção líquida uma vez que a peça pode romper segundo
qualquer um desses percursos.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 33

1
2
g
b 1 3 b
2
1 3 s

furação reta furação em zig zag

Figura 4.2 Tipos de furações

Os segmentos zig-zag são computados com um comprimento reduzido, dado pela


seguinte expressão empírica:
s2
4g
onde:
g = espaçamento transversal entre duas filas de furos (gage)
s = espaçamento longitudinal entre furos de filas diferentes
p= espaçamento entre furos da mesma fila (pitch)

A área líquida (An) de barras com furos pode ser representada pela equação:

 s2 
An = b − ∑ (d + 3,5 mm ) + ∑  ⋅ t ,
 4g 

adotando-se o menor valor obtido nos diversos percursos pesquisados.

Seção transversal líquida efetiva

Nas ligações de barras tracionadas em que a solicitação for transmitida apenas em


um dos elementos da seção, utiliza-se uma seção líquida efetiva (An,ef) para levar em conta
que, na região da ligação, as tensões se concentram no elemento ligado e não mais se
distribuem uniformemente em toda a seção. No caso de peças ligadas com conectores
aplicam-se os seguintes coeficientes de redução Ct:
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 34

Tabela: Coeficientes de redução da área liquida (Ct)


Ct Perfis
I ou H, cujas mesas tenham largura não inferior a 2/3 da altura e em perfis T cortados
0,90 desses perfis, com ligações nas mesas, tendo no mínimo três conectores por linha de
furação na direção do esforço.
Demais perfis, tendo no mínimo três conectores por linha de furação na direção do
0,85
esforço.
Em todas as barras, cujas ligações tenham somente dois conectores por linha de
0,75 furação na direção do esforço.

No caso de barras tracionadas com ligações soldadas apenas em alguns dos


elementos da seção, o coeficiente de redução da área depende da relação entre o
comprimento longitudinal l das soldas e a largura b da chapa ligada.

Coef de redução Ct Relação entre l e b (l > b)


1,0 l ≥ 2b
0,87 2b > l ≥ 1,5b
0,75 1,5b > l ≥ b

N
Ct = 0,90 se
b > 2h/3
N
h
C = 0,85 se
t
b < 2h/3

N N

Ct = 0,75
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 35

4.1.6. Exemplos

1. Calcular a espessura necessária de uma chapa de 100mm de largura, sujeita a um esforço


axial de tração de 100 kN. Resolver o problema utilizando o aço comercial (MR-250), com
tensão admissível σ t = 0,6 f y .

Solução: Para o aço MR 250, tem-se a seguinte tensão admissível referente à área bruta:

kN
σ t = 0,6 × 250 = 150 MPa = 15
cm 2

N 100
Área bruta necessária: Ag = = = 6,67 cm 2
σt 15

6,67
Espessura necessária: t= = 0,67 cm → adota-se 5/16” = 7,94 mm
10

2. Resolver o problema precedente para o dimensionamento no estado limite último.

Solução: Admitindo-se que o esforço de tração seja provocado por uma carga variável de
utilização, a solicitação de cálculo vale:

N d = γ q N = 1,5 × 100 = 150 kN

Nd 150
a área bruta necessária é obtida pela expressão: Ag = = = 6,67 cm 2
φt f y 0,9 × 25

6,67
espessura necessária: t = = 0,67 cm → adota-se 5/16” = 7,94 mm
10

No caso tração centrada devida a cargas variáveis, os métodos dos Estados Limites e o de
Tensões Admissíveis fornecem o mesmo dimensionamento.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 36

3. Duas chapas 7/8”×300mm são emendadas por traspasse com 8 parafusos φ 7/8”.
Verificar se as dimensões das chapas são satisfatórias para uma carga axial de tração de
300 kN, admitindo-se aço MR 250 (ASTM A36).

N=300 kN N=300 kN

300mm
22mm 22mm
t=22mm
t=22mm

Solução:
O tipo de ligação adotado introduz excentricidade no esforço axial. Contudo, o problema
será resolvido admitindo-se as chapas sujeitas a esforço axial.
7
Área bruta: × 2,54 = 2,22 cm
8
Ag = 30 × 2,22 = 66,60 cm 2

A área líquida na seção furada é obtida deduzindo-se a área de quatro furos com diâmetro
7/8”+1/8”=2,54 cm.
An = (30 − 4 × 2,54) × 2,22 = 44,04 cm 2
Admitindo-se que a solicitação seja produzida por uma carga permanente de grande
variabilidade, o esforço solicitante de cálculo vale:
N d = γ q N = 1,4 × 300 = 420 kN

cálculo dos esforços resistentes:

área bruta: N d ,res = 0,9 × 66,60 × 25 = 1498,5 kN

área líquida: N d ,res = 0,75 × 44,04 × 40 = 1391,2 kN

Os esforços resistentes são superiores aos esforços solicitantes, concluindo-se que


as dimensões satisfazem com folga.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 37

4. Duas chapas (280mm × 20mm) são emendadas por traspasse com furos d = 20mm,
abertos por punção. Calcular o esforço resistente de projeto das chapas, admitindo-se
submetidas à tração axial. Dado: Aço MR 250.

Aço: MR 250: fy = 250 MPa fu = 400 MPa

40
2 3

50
3
280mm

50
1

50
3

50
2 3

40
1
a 75 75 75 75

20
20

N
N

Solução

O efeito da excentricidade no esforço de tração é desprezado


O diâmetro dos furos é: 20 + 3,5 = 23,5 mm
Seção bruta das chapas: Ag = 28 × 2 = 56 cm2
Seção líquida:
1-1-1: An = (28 − 2 × 2,35) × 2 = 46,6 cm 2

 7,52 
2-2-2: An =  28 + 2 × − 4 × 2,35  × 2 = 48,45 cm 2
 4×5 
 7,52 
3-3-3: An =  28 + 4 × − 5 × 2,35  × 2 = 55,0 cm 2
 4×5 
A menor seção líquida correspondente à reta 1-1-1.

Esforços resistentes

Área bruta: N d ,res = 0,9 × 56 × 25 = 1260 kN (126 tf)

Área liquida: N d ,res = 0,75 × 46,6 × 40 = 1398 kN (139,8 tf)

Resposta: Nd,res = 1260 kN

Note-se que neste exemplo, o escoamento da seção bruta ocorrerá antes da ruptura da
seção líquida.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 38

5. 86.4 150 1

Para o perfil [U381×50,4 kg/m] 10.2


(15”), em aço MR250 da figura,
calcular o esforço resistente de

85
tração.
O diâmetro dos conectores é N

381mm

85
d = 22mm.

85
Área da seção transversal do
perfil Ag = 64,2 cm2

1
Solução

Aço: MR 250: fy = 250 MPa fu = 400 MPa

a) escoamento da seção bruta


N d ,res = 0,9 Ag f y N d ,res = 0,9 × 64,2 × 25 = 1444 kN

b) ruptura da seção líquida


diâmetro do furo considerado: 22 + 3,5 = 25,5 mm
Área líquida: An = 64,2 − (4 × 2,55) × 1,02 = 53,8 cm 2

Área líquida da seção 1-1 = An = 0,75 × 53,8 = 40,3 cm 2


N d ,res = 0,75 An f u N d ,res = 0,75 × 40,3 × 40 = 1210 kN

6. Calcular o diâmetro do tirante em aço ASTM A36 (MR250), capaz de suportar uma
carga axial de 150kN (15tf), sabendo-se que a transmissão da carga será feita por um
sistema de rosca e porca. Admite-se que a carga seja do tipo permanente, com grande
variabilidade (γf = 1,4).

Solução:

Barras rosqueadas:

γfN 1,4 × 150


Ag = Ag = = 10,77 cm 2
φt × 0,75 f u 0,65 × 0,75 × 40

Adota-se parafuso com diâmetro d = 3,81mm (1½”), cuja área é Ag = 11,40 cm2.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 39

7. Para a cantoneira [L 178×102×12,7] (7”×4”×½”) indicada na Figura, determinar:

a) a área líquida, sendo os conectores de diâmetro d = 22 mm (7/8”);

b) o maior comprimento admissível, para esbeltez máxima λ=240.


12.7

1 2

38
38

2
178mm

76
76

1
12.7
64

115
64 76 76 2
102
medidas em milímetros

38
1 2
(a) (b) (c)

O cálculo pode ser feito rebatendo-se a cantoneira segundo seu eixo (Figura c).
Comprimentos líquidos dos percursos:

Diâmetro dos furos d = 22 + 3,5 = 25,5 mm.

Percurso 1-1-1: 178 + 102 − 12,7 − 2 × 25,5 = 216,5 mm

76 2 76 2
Percurso 2-2-2: 178 + 102 − 12,7 + + − 3 × 25,5 = 222,6 mm
4 × 76 4 × 115
O percurso 1-1-1 é crítico.

a) seção líquida: An = 21,6 × 1,27 = 27,4 cm 2

b) o maior comprimento desta cantoneira trabalhando como tirante será:

Para cantoneira [L 178 × 102 × 12,7], tem-se raio de giração mínimo: imin = 2,21 cm.

l
Índice de esbeltez máximo para peças tracionadas: λ= ≤ 240
imin

Logo lmax = 240 × imin lmax = 240 × 2,21 = 530 cm


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 40

5. TRELIÇAS

Definição

Treliça é toda estrutura constituída de barras ligadas entre si nas extremidades. O


ponto de encontro das barras é chamado nó da treliça. Os esforços externos são aplicados
unicamente nos nós.

Denomina-se treliça plana, quando todas as barras de uma treliça estão em um


mesmo plano.

Para se calcular uma treliça deve-se:

a) determinar as reações de apoio;

b) determinar as forças nas barras.

A condição para que uma treliça de malhas triangulares seja isostática é:

2n = b + v
onde:
b= número de barras
n= número de nós
v= número de reações de apoio

Adota-se como convenção de sinais:

barras tracionadas: positivo


setas tracionando o nó

barras comprimidas: negativo


setas comprimindo o nó

Os esforços nas barras das treliças podem ser resolvidos por métodos gráficos e
analíticos.

Um dos vários processos analíticos usuais é o Método do Equilíbrio dos Nós,


abaixo exemplificado.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 41

Apoios

Para o estudo do equilíbrio dos corpos rígidos não bastam conhecer somente as
forças externas que agem sobre ele, mas também é necessário conhecer como este corpo
rígido está apoiado.

Apoios ou vínculos são elementos que restringem os movimentos das estruturas e


recebem a seguinte classificação:

Apoio móvel

• Impede movimento na direção normal (perpendicular)


ao plano do apoio;

• Permite movimento na direção paralela ao plano do


apoio;
ou
• Permite rotação.

Apoio fixo

• Impede movimento na direção normal ao plano do


apoio;

• Impede movimento na direção paralela ao plano do


apoio;

• Permite rotação.

Engastamento

• Impede movimento na direção normal ao plano do


apoio;

• Impede movimento na direção paralela ao plano do


apoio;

• Impede rotação.

As estruturas são classificadas em função do número de reações de apoio ou


vínculos que possuem. Cada reação constitui uma incógnita a ser determinada.
Para as estruturas planas, a Estática fornece três equações fundamentais:
ΣFx = 0 Σ Fy = 0 ΣM A= 0
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 42

Método do equilíbrio dos nós

1. Inicialmente devem-se identificar os nós e verificar os tipos de reações de apoio.


No caso da treliça da figura, no 50 kN 100 kN 50 kN
nó A tem-se um apoio móvel e no nó
B C D
B, um apoio fixo.
Como os apoios móveis
restringem somente deslocamentos os 2m
perpendiculares ao plano do apoio,
tem-se uma reação vertical RA. α HE
Como os apoios fixos A F E
restringem deslocamentos paralelos e 2m 2m
perpendiculares ao plano do apoio,
tem-se uma reação vertical RB e uma
reação horizontal HE. RA RE

Verificar se a treliça é uma estrutura isostática


barras b=9 2n = b + v Conclusão:
nós n=6
2×6 = 9+ 3 a treliça é uma estrutura isostática
reações v=3
2
Cálculo do ângulo de inclinação das barras α = arctg   = 45º
2
a) Cálculo das reações de apoio
Equação de equilíbrio das forças na horizontal:
ΣFH = 0 conclusão: HE = 0
Equação de equilíbrio das forças na vertical:
ΣFV = 0 R A + RE − 50 − 100 − 50 = 0 R A + RE = 200 kN (1)
Equação de equilíbrio de momentos:
Como a estrutura está em equilíbrio, a somatória dos momentos em relação a qualquer
ponto da estrutura deve ser nula. Tomando-se por exemplo o nó A como referência, tem-se
400
ΣM A = 0 4 × RE − 50 × 4 − 100 × 2 = 0 RE = RE = 100 kN
4
Substituindo o valor de RE na equação (1), tem-se:
R A + 100 = 200 kN logo R A = 100 kN

b) Cálculo das forças nas barras


Iniciar a resolução pelo nó que tiver no máximo duas forças incógnitas. As forças
devem estar tracionando o nó. Como não se sabe a priori se as forças nas barras são de
tração ou de compressão, adotam-se como se fossem tracionadas. Se o valor determinado
for negativo, significa que a barra está comprimida, portanto, o sentido da seta deve ser
mudado.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 43

Nó A
N1 ΣFH = 0 → N2 = 0

N2
A ΣFV = 0
100 + N 1 = 0 → N 1 = −100 kN
RA
Nó B
ΣFH = 0
50
N 3 + N 4 cos 45º = 0 → N 3 = −50 kN
N3
B
45° ΣFV = 0
100 − 50 − N 4 sen 45º = 0 → N 4 = 70,7 kN
100 N4
Nó C
ΣFH = 0
100
50 + N 5 = 0 → N 5 = −50 kN
50 N5
C ΣFV = 0
− 100 − N 6 = 0 → N 6 = −100 kN
N6
Nó D ΣFH = 0
50
50 − N 7 cos 45º = 0 → N 7 = 70,7 kN
50
D
45° ΣFV = 0
− 50 − N 8 + 70,7 sen 45º = 0 → N 8 = −100 kN
N7 N8

Nó E
100
ΣFH = 0 → N9 = 0
N9
E

100

Nó F Verificação ΣFH = 0
100 − 70,7 cos 45º +70,7 cos 45º = 0
70,7 70,7
45° 45° 0=0 (verificado)

0,0 0,0 ΣFV = 0


F
− 100 + 70,7 sen 45º +70,7 sen 45º = 0
0=0 (verificado)
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 44

Como a treliça é simétrica, com carregamentos simétricos, os resultados das forças


que agem nos nós D e E são iguais às dos nós B e A, respectivamente. Portanto, não há
necessidade de se calcular as forças nos nós D e E.

Resultados 50 kN 100 kN 50 kN
NAB= 100 kN compressão B C D
NAF= 0
NBC= 50 kN compressão
2m
NBF= 70,7 kN tração
NCF= 100 kN compressão α HE
NCD= 50 kN compressão A F E
NDF= 70,7 kN tração 2m 2m

NDE= 100 kN compressão


NFE= 0 kN RA RE

2. Calcular as forças em cada barra da treliça “mão francesa” da figura.


RB

HB B
1.0 m

C 40 kN
20 kN
1.0 m

α
θ

HA A E D
2.0 m 2.0 m

Cálculo dos ângulos de inclinação das barras


2 1
α = arctg = = 63,43º θ = arctg = = 26,56º
1 2
a) Cálculo das reações de apoio
ΣFH = 0 H A − H B − 40 = 0 → H A − H B = 40 kN
ΣFV = 0 RB − 20 = 0 → R B = 20 kN

ΣM B = 0 + H A × 2 − 40 × 1 − 20 × 4 = 0 → H A = 60 kN H B = 20 kN
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 45

b) Cálculo das forças nas barras


Nó B
20 kN ΣFH = 0
− 20 + N 2 senα = 0 → N 2 = 22,4 kN
20 kN B
N2 ΣFV = 0
63.4°
20 − N1 − N 2 cos α = 0 → N 1 = 10 kN
N1

Nó A ΣFV = 0
10 + N 3senθ = 0 → N 3 = −22,4 kN
10 N3 ΣFH = 0
60 + N 4 + N 3 cos θ = 0
60 A 26.6°
60 + N 4 − 22,4 cos θ = 0 → N 4 = −40 kN
N4
Nó E
N5 ΣFH = 0
40 − N 6 = 0 → N 6 = 40 kN
40 N6
ΣFV = 0 → N 5 = 0 kN
E

Nó D ΣFV = 0
20 − 20 + N 7 senθ = 0 → N 7 = 44,7 kN
N7

26.6° ΣFH = 0
D 40 − 44,7 cos θ = 0 → 0 = 0 (verificado)
40
Nó C Verificação
22,4
ΣFH = 0
C
26.6° 40 22,4 cos θ − 22,4 cos θ − 40 + 44,7 cos θ = 0
26.6° 26.6°
0=0 kN (verificado)

22,4 0,0 ΣFV = 0


44,7
22,4 sen θ + 22,4 sen θ − 44,7 sen θ = 0
10 + 10 – 20 =0 (verificado)
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 46

Resultados B
NAB= 10 kN tração 22,
4 kN
NAC= 22,4 kN compressão T
C

10 kN T
40 kN
NAE= 40 kN compressão 20 kN
N C 44,
NBC= 22,4 kN tração 4k α 7k
22, 0 NT
NCE= 0 θ
NCD= 44,7 kN tração A 40 kN C E 40 kN C D
NED= 40 kN compressão

3. Determinar os esforços nas barras da treliça da figura


70 kN 100 kN 70 kN

A B C D E HE

1.5m
RA RE

F G H
2m 2m 2m 2m

Verificar se a treliça é uma estrutura isostática


barras b = 13 2n = b + v Conclusão:
nós n=8
2 × 8 = 13 + 3 a treliça é uma estrutura isostática
reações v=3
 1,5 
Cálculo do ângulo de inclinação das barras α = arctg   = 36,87º
 2 
α=36,87º → sen = 0,600 cos = 0,800 tg = 0,750
a) Cálculo das reações de apoio
Equação de equilíbrio das forças na horizontal:
ΣFH = 0 conclusão: HE = 0
Equação de equilíbrio das forças na vertical:
ΣFV = 0 R A + RE − 70 − 100 − 70 = 0 R A + RE = 240 kN (1)
Equação de equilíbrio de momentos:
Como a estrutura está em equilíbrio, a somatória dos momentos em relação a qualquer
ponto da estrutura deve ser nula. Tomando-se por exemplo o nó A como referência, tem-se
960
ΣM A = 0 8 × RE − 70 × 2 − 100 × 4 − 70 × 6 = 0 RE = R E = 120 kN
8
Substituindo o valor de RE na equação (1), tem-se:
R A + 120 = 240 kN logo R A = 120 kN
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 47

b) Cálculo das forças nas barras


Iniciar a resolução pelo nó que tiver no máximo duas forças incógnitas. As forças
devem estar tracionando o nó. Como não se sabe a priori se as forças nas barras são de
tração ou de compressão, adotam-se como se fossem tracionadas. Se o valor determinado
for negativo, significa que a barra está comprimida, portanto, o sentido da seta deve ser
mudado.
Nó A ΣFV = 0
A N AB 120 − N AF sen α = 0 → N AF = 200 kN
α
ΣFH = 0
120 NAF N AB − N AF cos α = 0 → N AB = −160 kN
Nó F ΣFV = 0
200 N FB 200 sen α + N FB = 0 → N FB = −120 kN

N FG ΣFH = 0
α
− 200 cos α + N FG = 0 → N FG = 160 kN
F
Nó B
ΣFV = 0
70
+ 120 − 70 − N BG sen α = 0
B NBC
160 → N BG = 83,33 kN
α ΣFH = 0
160 + N BC + N BG cos α = 0 → N BC = −226,67 kN
120 NBG
Nó C
100 ΣFH = 0

C 66,67 − N CD = 0 → N CD = 66,67 kN
66,67 NCD
ΣFV = 0
N CG − 100 = 0 → N CG = 100 kN
NCG
ΣFV = 0
Nó G
100 N GD + 83,33 sen α − 100 = 0 → N GD = 83,33 kN

83,33 NGD
ΣFH = 0
160 α α NGH N GH + 83,33 cos α − 83,33 cos α − 160 = 0
→ N GH = 160 kN
G
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 48

Como a treliça é simétrica, com carregamentos simétricos, os resultados das forças


que agem nos nós D, H e E são iguais às dos nós B, F e A, respectivamente. Portanto, não
há necessidade de se calcular as forças nos nós D, H e E.
70 kN 100 kN 70 kN

A 160kN C B 266,67kN C C 266,67kN C D 160kN C E HE

α
120kN C

100kN C

120kN C
20 83 T T
kN N

1.5m
0k ,3 kN ,3 0k
RA
N
T T 83 20 RE
160kN T 160kN T
F G H
2m 2m 2m 2m

Resultados
Barra Esforço L (m)
NAB= 160 kN compressão 2,0
NBC= 266,67 kN compressão 2,0
NCD= 266,67 kN compressão 2,0
NDE= 160 kN compressão 2,0
NFG= 160 kN tração 2,0
NGH= 160 kN tração 2,0
NAF= 200 kN tração 2,92
NBG= 83,33 kN tração 2,92
NGD= 83,33 kN tração 2,92
NHE= 200 kN tração 2,92
NBF= 120 kN compressão 1,5
NCG= 100 kN compressão 1,5
NDH= 120 kN compressão 1,5
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 49

Dimensionamento

BARRAS TRACIONADAS
Barra Esforço L (m) Nd (kN) Perfil
NFG= 160 kN tração 2,0
NGH= 160 kN tração 2,0
NAF= 200 kN tração 2,5
NBG= 83,33 kN tração 2,5
NGD= 83,33 kN tração 2,5
NHE= 200 kN tração 2,5

Coeficiente de majoração das ações: γ f = 1,4

BARRAS COMPRIMIDAS
Barra Esforço L (m) Nd (kN) Perfil
NAB= 160 kN compressão 2,0
NBC= 226,67 kN compressão 2,0
NCD= 226,67 kN compressão 2,0
NDE= 160 kN compressão 2,0
NCF= 120 kN compressão 1,5
NCG= 100 kN compressão 1,5
NDH= 120 kN compressão 1,5

Coeficiente de majoração das ações: γ f = 1,4


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 50

6. LIGAÇÕES

6.1. Ligações com conectores

As ligações em estruturas metálicas podem ser feitas por meio dos seguintes
conectores:
• Rebites
• Parafusos comuns
• Parafuso de alta resistência

6.1.1. Rebites

Os rebites são conectores instalados a quente (~1000ºC). Após o resfriamento, o


rebite se retrai e aperta as chapas entre si. O esforço do aperto é variável, não podendo
garantir um valor mínimo para os cálculos.
A partir de 1950 as ligações rebitadas foram substituídas por ligações parafusadas
ou soldadas.

6.1.2. Parafusos

Parafusos comuns
Os parafusos são conectores com cabeça quadrada ou sextavada, possuindo rosca e
porca.
rosca

fuste

porca comprimento de aperto cabeça


arruela arruela
comprimento do parafuso

Figura __ Parafuso com porca e arruelas

Os parafusos comuns são instalados com aperto, que mobiliza atrito entre as
chapas. Entretanto, este aperto é muito variável, não podendo garantir um valor mínimo a
se considerar nos cálculos.
Devido a isto, os parafusos comuns são calculados de modo análogo aos rebites,
por meio das tensões de apoio e de corte.
Ligações denominadas tipo apoio: transferência de tração entre as chapas ligadas
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 51

t2 F
σ τ
2F τ
t1 σ
τ
σ τ
t2 F
d

Figura Forças atuantes no parafuso

A transmissão dos esforços se dá por apoio das chapas no fuste do parafuso e


esforço de corte na seção transversal do parafuso.
F F
Tensões de corte: τ= Tensões de apoio: σ=
πd 2 d ⋅t
4
onde:
F = esforço transmitido pelo conector no plano de corte
t = espessura da chapa considerada
d = diâmetro do conector

Parafusos de alta resistência


Os parafusos de alta resistência são fabricados com aços tratados termicamente. O
mais usual é o ASTM A325.
As forças de atrito resultantes entre as chapas, devido ao aperto dos parafusos,
podem ser levados em consideração nos cálculos.

t2 F F
2F 2F
t1

t2 F Forças de
compressão
Forças de
atrito (Fat)
d entre as chapas

P P = Força de F
protensão do
parafuso

Figura Forças atuantes nas chapas


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 52

6.2. Espaçamento entre conectores

Espaçamentos máximos:
Os espaçamentos máximos entre conectores são utilizados para impedir penetração
de água e sujeita nas interfaces. Eles são da ordem de 15.t para peças comprimidas e 25.t
para peças tracionadas, sendo t a espessura da chapa.

A distância máxima de um conector à borda da chapa deve ser 12.t, não superior a
150mm.

Espaçamentos mínimos: (ver p.56 do livro do PFEIL)


A Figura abaixo resume as indicações da NBR 8800 para espaçamentos mínimos,
no caso de furos padrão.

a d

3d Bordas cortadas
ou serradas
com tesoura
a=1,75d
a 3d 3d

Figura __ Espaçamentos construtivos recomendados para conectores, com furos padrão.

Valores de a para bordos laminados ou cortados com maçarico.


d + 6mm (d ≤ 19mm )
d + 7mm (19 < d < 26mm )

a=
d + 9mm (26 ≤ d ≤ 33mm )
1,25d (d ≥ 33mm )
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 53

6.3. Dimensionamento

Dimensionamento dos conectores e dos elementos de ligação (sem efeito de fadiga)


Resistência dos aços utilizados nos conectores
Tipo de conector fy (MPa) fu (MPa)
Rebites ASTM A502 Grau 1 415
ou EB-49 Grau 2 525
Parafusos comuns
d ≤ 102mm (4”) 415
ASTM A307
(12,7 ≤ d ≤ 25,4)mm
635 825
Parafusos de alta (½” ≤ d ≤ 1”)
resistência ASTM A325 (25,4 ≤ d ≤ 38,1)mm
560 725
(1” ≤ d ≤ 1 ½”)
Parafusos de alta (12,7 ≤ d ≤ 38,1)mm
resistência ASTM A490 895 1035
(½” ≤ d ≤ 1½”)
ASTM A36 250 400
Barras rosqueadas
ASTM A588 345 455

O dimensionamento dos conectores no estado limite último é feito com base nas
modalidades de ruptura da ligação, representadas na Figura abaixo.

Figura: Modalidades de ruptura em ligações com conectores

a) ruptura por corte do fuste do conector;


b) ruptura por esmagamento da chapa na superfície de apoio do fuste do conector;
c) ruptura por rasgamento da chapa entre o furo e a borda ou entre dois furos consecutivos;
d) ruptura por tração da chapa na seção transversal líquida.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 54

6.3.1. Dimensionamento ao corte

A resistência de cálculo de conectores ao corte é dada por 0,6fu, onde fu é a tensão


de ruptura à tração do aço do parafuso.

Rdv = φv Rnv Rnv = Ag (0,6 f u )

onde:
φv = 0,60 para parafusos comuns e barras rosqueadas
φv = 0,65 para parafusos de alta resistência e rebites
Rnv = resistência nominal para um plano de corte
fu = tensão de ruptura à tração do aço do parafuso

Resistências nominais para um plano de corte


Rebites Rnv = Ag (0,6 f u )
Parafusos e barras rosqueadas: Rnv = (0,7 Ag )(0,6 f u )
Parafusos de alta resistência (A325 ou A490), com Rnv = Ag (0,6 f u )
rosca fora do plano de corte
Verificar em adição a resistência ao
Parafusos de alta resistência em ligações por atrito
deslizamento

A utilização do coeficiente 0,70 para parafusos comuns e barras rosqueadas admite


a situação mais desfavorável de plano de corte passando pela rosca, considerando a área da
seção efetiva da rosca igual a 0,7 da área da seção do fuste.

No caso de parafusos de alta resistência, em ligações por atrito, é necessário


verificar adicionalmente a resistência ao deslizamento da ligação.

6.3.2. Dimensionamento ao esmagamento da chapa (pressão de apoio)

No caso de furação padrão, a resistência Rd à pressão de apoio entre o fuste do


conector e a parede do furo é dada pela seguinte expressão:

Rd = φ (3 d t f u ) com φ = 0,75

onde:
d = diâmetro nominal do conector;
t = espessura da chapa;
fu = resistência à ruptura por tração do aço da chapa.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 55

6.3.3. Dimensionamento ao rasgamento da chapa

No caso de furação padrão, a resistência Rd ao rasgamento da chapa entre


conectores ou entre um conector e uma borda, é dada por:

Rd = φ (a t f u ) com φ = 0,75
onde:
a = distância entre o centro do furo e a extremidade da chapa medida na direção da força
solicitante para a resistência ao rasgamento entre um furo extremo e a borda da chapa;
a = distância entre o centro do furo e a borda do furo consecutivo, medida na direção da
força solicitante para a determinação da resistência ao rasgamento da chapa entre furos,
igual a (s – d / 2), sendo s o espaçamento entre os centros de furos;
t = espessura da chapa;
fu = resistência à ruptura por tração do aço da chapa.

6.3.4. Dimensionamento à tração da chapa

A resistência de cálculo de conectores a corte é dada por:


Rdt = φt Rnt
onde:
φv = 0,65 para parafusos comuns e barras rosqueadas
φv = 0,75 para parafusos de alta tensão e rebites
Rnt = resistência nominal à tração

igual a 0,6fu, onde fu é a tensão de ruptura à tração do aço do parafuso.

Rebites: Rnt = Ag f u

Parafusos e barras rosqueadas: para parafusos e barras rosqueadas, com diâmetro


nominal igual ou superior a 12mm, Rnt pode ser expresso em função da área bruta (Ag) do
fuste: Rnt = 0,75 Ag f u , onde, 0,75 representa a relação entre a área efetiva da parte

rosqueada e a área bruta do fuste.


Parafusos de alta resistência em ligação por atrito: No caso de parafusos de alta
resistência, em ligações por atrito, é necessário verificar adicionalmente a resistência ao
deslizamento da ligação.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 56

6.3.5. Ruptura por cisalhamento de bloco

Os elementos de ligação também devem ser dimensionados de forma a impedir a


ruptura por cisalhamento de bloco em um perímetro definido pelos furos, envolvendo
cisalhamento nos planos paralelos à força e tração em um plano normal a força. Conforme
ilustrado na figura abaixo.
lv
At = área
tracionada

lt

N N

Av = área
cisalhada

lv

At = área
tracionada
N N
lt

Av = área
cisalhada

Figura: Ruptura por cisalhamento de bloco de uma chapa de ligação. O esforço é transferido à
chapa pelos conectores, ligados a outra chapa ou perfil.

A ruptura por cisalhamento de bloco pode ocorrer ao longo de uma linha de conectores
Condições para o dimensionamento:
Norma Condição Resistência de cálculo (Rd)
NBR 8800 quando lv ≥ 3lt Rd = φ ( Av + At )(0,6 f u ) com φ = 0,75
se 0,6 Avn f u > Atn f u Rd = φ (0,6 f u Avn + f y Atg ) com φ = 0,75
ASIC/95
se f u Atn > 0,6 f u Avn Rd = φ (0,6 f y Avg + f u Atn ) com φ = 0,75

onde: Avg = área cisalhada bruta Avn = área cisalhada líquida


Atg = área tracionada bruta Atn = área tração líquida

6.3.6. Combinação de conectores

O trabalho em conjunto de conectores diferentes depende da rigidez da ligação


executada com cada tipo.
Em construções novas ou existentes, os parafusos de alta resistência, em ligações
por atrito, podem ser considerados trabalhando em conjunto com rebites.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 57

6.3.7. Dimensionamento à tração e a corte simultâneos – fórmulas de interação

No caso de incidência simultânea de tração e corte, verifica-se a interação das duas


solicitações por meio de expressões empíricas que fornecem o limite superior da
resistência de cálculo à tração.
• Barras rosqueadas ou parafusos comuns:
φt Rnt < 0,64 Ag f u − 1,93Vd

• Parafusos de alta tensão (d < 38mm), com rosca no plano de corte:


φt Rnt < 0,69 Ag f u − 1,93Vd

• Rebites e parafusos de alta tensão (d < 38mm), com rosca fora do plano de corte:
φt Rnt < 0,69 Ag f u − 1,50Vd
onde Vd é o esforço cortante solicitante de projeto atuando na seção considerada.

6.3.8. Resistência ao deslizamento em ligações por atrito

A resistência ao deslizamento deve ser mais que a força de corte transmita na


ligação devida à combinação mais desfavorável de carga em um estado limite de utilização
(sem majoração). Nos valores indicados para o coeficiente de atrito está incluído um
coeficiente de segurança contra o deslizamento da ordem de 1,2.

Força máxima de atrito Fat ,max = µFc = µP

onde:
P = força de protensão inicial no parafuso
µ = coeficiente de atrito entre as superfícies

Se, além da força F de tração longitudinal, as chapas estiverem também sujeitas a uma
força de tração perpendicular, T a força de compressão Fc entre as chapas é reduzida a:
Fat ,max = µ (P − T )

Segundo a NBR 8800, a resistência ao deslizamento pode ser calculada por:


Rv = µξ (P − T )
onde:
P = força mínima de protensão dada nas Tabelas A-55 do Anexo A (Livro PFEIL p.290)
ξ = fator de redução que dependo do furo, sendo igual a 1,0 para furo do tipo padrão.
µ = 0,28, exceto no caso de superfície com banho vinílico, quando µ = 0,25.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 58

Exemplos
1. Duas chapas de 204mm × 12,7mm (½”) em aço ASTM A36 são emendadas com chapas
laterais de 9,5mm e parafusos comuns (A307) φ 22mm. As chapas estão sujeitas às forças
Ng=200kN, oriunda de carga permanente de grande variabilidade e Nq=100kN, de carga
variável de utilização. Verificar a segurança da emenda. Dados: coeficientes de majoração
das ações γg=1,4 e γq=1,5.
51 70 51 51 70 51
38
64

204mm
64
38

t=9,5mm medidas em milímetros


t=12,7mm
N N

t=9,5mm

Solução
• Esforço solicitante de projeto
Nd = γ g N g + γ q Nq

N d = 1,4 × 200 + 1,5 × 100 = 430 kN

• Esforço resistente de cálculo


O esforço resistente de cálculo à tração (Rdt) será o menor dentre os encontrados nos
seguintes casos:
a) corte (corte duplo nos parafusos)
Rdt = φRnv com φv = 0,60 para parafusos comuns e barras rosqueadas
Chapa de aço A36 = MR250 → fy = 250 MPa e fu = 400 MPa
Parafuso comum A 307 → fu = 415 MPa
π × 2,22 2
Ag = = 3,88 cm 2
4
Rd = φ (0,7 Ag )(0,6 f u ) com φ = 0,60

Rd = 0,60 × (0,7 × 3,88) × (0,6 × 41,5) × 2 × 6 = 487 kN


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 59

b) ruptura por pressão de apoio


Rdt = φ 3 d t f u com φ = 0,75
Rdt = 0,75 × ( 3 × 2,22 × 1,27 × 40) × 6 = 1522 kN
onde:
d = diâmetro do conector = 2,22 cm
t = espessura da chapa = 1,27 cm (Notar que as espessuras das duas chapas de 9,5mm
resultam em (9,5+9,5) 19mm, valor maior do que a espessura da chapa de 12,7mm).
fu = tensão última do aço A36 da chapa = fu = 40 kN/cm2.
nº de parafusos = 6

c) Ruptura por rasgamento da chapa


Rdt = φ a t f u com φ = 0,75
Rdt = 0,75 × (5,1 × 1,27 × 40 ) × 6 = 1166 kN
o valor de a será o menor entre os seguintes valores:
a = distância entre o centro do furo e a extremidade da chapa, medida na direção
a=5,10
do esforço para resistir ao rasgamento entre um furo e a borda da chapa.
a = distância entre centros de furos consecutivos, medida na direção da força
solicitante para determinação da resistência ao rasgamento da chapa entre
a=5,89 furos; igual a a = (s − d / 2 ) , sendo s o espaçamento entre centros de furos.
a = (7,0 − 2,22 / 2 ) = 5,89 cm

t = espessura da chapa = 1,27 cm


fu = tensão última do aço A36 da chapa = fu = 40 kN/cm2.
nº de parafusos = 6

d) tração na chapa (12,7mm)


• ruptura da seção líquida
Rdt = φ An f u com φ = 0,75
An = [20,4 − 3 × (2,22 + 0,35)]× 1,27 = 16,12 cm 2
Rdt = 0,75 × 16,12 × 40 = 484 kN
• escoamento da seção bruta
Rdt = φ b t f y com φ = 0,90
Rdt = 0,90 × 20,4 × 1,27 × 25 = 583 kN
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 60

e) ruptura por cisalhamento de bloco


como 0,6 Avn f u > Atn f u , tem-se:

Avn = [(7 + 5.1) − 1,5 × (2,22 + 0,35)]× 1,27 × 2 = 20,9 cm 2

Atn = [7,6 − 1,0 × (2,22 + 0,35)]× 1,27 = 6,4 cm 2

Atg = 2 × 3,8 × 1,27 = 9,6 cm 2

Rd = φ (0,6 f u Avn + f y Atg ) com φ = 0,75


Rd = 0,75 × (0,6 × 40 × 20,9 + 25 × 9,6 ) = 556 kN

Conclusão

Comparando os resultados, verifica-se que o esforço resistente de cálculo à tração da


emenda é determinado pela ruptura da seção líquida da chapa (Rdt=484 kN) e que o projeto
da emenda é satisfatório para os esforços solicitantes.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 61

2. O tirante de uma treliça de telhado é constituído por duas cantoneiras (2½”×1/4”) com
ligação a uma chapa de nó de treliça aço MR250, com espessura de 6,3mm, utilizando
parafusos comuns φ 12,7mm. Determinar o esforço normal resistente do tirante,
desprezando o pequeno efeito da excentricidade introduzida pela ligação.
6.3mm

35mm
ø12.7

12.7

29mm
N N
25 40 40 40 40 25

Solução: O esforço resistente de cálculo (Rd) é o menor entre os valores encontrados nos
seguintes casos:
a) corte (corte duplo nos parafusos)
Rd = φ (0,7 Ag )(0,6 f u ) com φv = 0,60 para parafusos comuns
Parafuso comum A 307 → fu = 415 MPa
π × 1,27 2
Ag = = 1,27 cm 2
4
Rd = φ (0,7 Ag )(0,6 f u ) com φ = 0,60

Rd = 0,60 × (0,7 × 1,27 ) × (0,6 × 41,5) × 2 × 5 = 133 kN


Notar que são dois planos de cortes e cinco parafusos
b) ruptura por pressão de apoio
Chapa de aço A36 = MR250 → fy = 250 MPa e fu = 400 MPa
Rdt = φ 3 d t f u com φ = 0,75
Rdt = 0,75 × ( 3 × 1,27 × 0,63 × 40) × 5 = 360 kN
onde:
d = diâmetro do conector = 1,27 cm
t = espessura da chapa = 0,63 cm
fu = tensão última do aço MR250 da chapa = fu = 40 kN/cm2.
nº de parafusos = 5
c) Ruptura por rasgamento da chapa
Rdt = φ a t f u com φ = 0,75
Rdt = 0,75 × (2,5 × 0,63 × 40) × 5 = 236 kN
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 62

o valor de a será o menor entre os seguintes valores:


a=2,50 a = distância entre o centro do furo e a extremidade da chapa, medida na direção
cm do esforço para resistir ao rasgamento entre um furo e a borda da chapa.

a = distância entre centros de furos consecutivos, medida na direção da força


a=3,36 solicitante para determinação da resistência ao rasgamento da chapa entre
cm furos; igual a a = (s − d / 2 ) , sendo s o espaçamento entre centros de furos.
a = (4,0 − 1,27 / 2 ) = 3,36 cm

t = espessura da chapa = 0,63 cm nº de parafusos = 5


fu = tensão última do aço A36 da chapa = fu = 40 kN/cm2.
d) tração na chapa (6,3mm)
• ruptura da seção líquida
Como o esforço de tração é transmitido apenas por uma aba do perfil, calcula-se a seção
líquida efetiva aplicando-se um coeficiente redução Ct=0,85.
Diâmetro do furo: d+3,5mm = 12,7+3,5=16,2mm
Área da cantoneira de abas iguais (2½”×1/4”) A=7,68 cm2.
An ,ef = 0,85 × 2 × (7,68 − 0,63 × 1,62 ) = 11,32 cm 2

Rdt = φ An f u com φ = 0,75


Rdt = 0,75 × 11,32 × 40 = 339 kN
• escoamento da seção bruta
Rdt = φ b t f y com φ = 0,90
Rdt = 0,90 × (7,68 + 7,68) × 25 = 345 kN
e) ruptura por cisalhamento de bloco
como 0,6 Avn f u > Atn f u , tem-se:

Avn = (4 × 4 + 2,5 − 4,5 × 1,62) × 0,63 × 2 = 14,2 cm 2

Atn = 2,9 − 0,5 × 1,62 × 0,63 = 2,39 cm 2 Atg = 2,9 × 0,63 × 2 = 3,65 cm 2

Rd = φ (0,6 f u Avn + f y Atg ) com φ = 0,75


Rd = 0,75 × (14,2 × 0,6 × 40 + 3,6 × 25) = 324 kN
Conclusão: Comparando os resultados, verifica-se que o esforço resistente de cálculo da
ligação é determinado pela resistência ao corte dos parafusos: Rd=133 kN.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 63

6.4. Ligações soldadas

6.4.1. Tipos, qualidade e simbologia de soldas

6.4.1.1 Definição, processos construtivos


A solda é um tipo de união obtida por fusão das partes adjacentes. A fusão pode ser
obtida de forma elétrica, química e mecânica.
A solda elétrica é a mais utilizada na indústria da construção. A fusão é produzida
por um arco voltaico que se dá entre o eletrodo e o aço a soldar, havendo deposição do
material do eletrodo.
A ruptura de uma ligação soldada pode se dar na seção do material depositado
(metal da solda), ou na interface entre o material depositado e a peça (metal-base).
Cuidados especiais devem ser tomados para que não haja retração da solda após o
seu resfriamento, o que pode causar distorção dos perfis. O aquecimento e o posterior
resfriamento entre partes do perfil resultam tensões residuais internas nos perfis.

6.4.1.2 Tipos de eletrodo


Os eletrodos geralmente são varas de aço-carbono ou aço de baixa liga. Os
eletrodos podem ser revestidos ou não. Os eletrodos com revestimento são designados pela
ASTM por expressões do tipo
E70XX
onde:
E = eletrodo
70 = resistência à ruptura da solda em ksi2
X = número que se refere à posição de soldagem satisfatória (1: qualquer posição; 2:
somente na posição horizontal)

Os principais tipos de eletrodo empregados na indústria são:


E60 fw= 415 MPa e E70 fw= 485 MPa
Eletrodo manual revestido: o revestimento é consumido juntamente com o eletrodo da
solda, transformando-se parte em gases inertes, parte em escória. O eletrodo manual
revestido é o mais utilizado na indústria.

6.4.1.3 Soldabilidade dos aços estruturais


A soldabilidade dos aços reflete a maior ou menor facilidade de se obter uma solda
resistente e sem trincas.
Para o aço A-36 utilizam-se eletrodos E60XX e E70XX do tipo comum ou de baixo
hidrogênio.

2
ksi = kip per square inches: 1ksi = 6,897 MPa kip = kilo pound = 4,4497 kN.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 64

Para os aços de baixa liga (A242, A441, A572) recomendam-se eletrodos E70XX
ou E80XX do tipo baixo hidrogênio.
Deve-se evitar o resfriamento repentino da solda (p. ex. com água), pois nesse caso,
se forma no local uma estrutura cristalina dura e quebradiça, com propensão à ruptura
frágil, com aparecimento de trincas.

6.4.1.4 Defeitos na solda


Os principais defeitos na solda são os seguintes:
• fusão incompleta e penetração inadequada decorrem em geral de insuficiência de
corrente elétrica;
• porosidade: retenção de pequenas bolhas de ar durante o resfriamento; freqüentemente
causada por excesso de corrente ou distância excessiva entre o eletrodo e a chapa;
• inclusão de escória: usual em soldas feitas em camadas, quando não se remove
totalmente a escória em cada passe;
• fissuras causadas por resfriamento rápido do material

6.4.1.5 Controle e inspeção da solda


A NBR 8800 indica as especificações e técnicas para execução de soldas
estruturais, qualificação de soldadores e procedimentos de inspeção.
Para as estruturas comuns basta inspeção visual. Nas indústrias de perfis e nas
estruturas de grande responsabilidade utilizam-se ultra-som, radiografia ou líquido
penetrante para as inspeções.

6.4.1.6 Classificação de soldas de eletrodo quanto à posição do material de solda em


relação ao material-base
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 65

6.4.1.7 Classificação quanto à posição relativa das peças soldadas

Tipos de ligações soldadas segundo a posição relativa das peças

6.4.1.8 Simbologia de solda

6.4.2. Elementos construtivos para projeto

6.4.2.1 Soldas de entalhe


As soldas de entalhe são previstas para total enchimento do espaço entre as peças
ligadas. Utiliza-se a seção do metal-base de menor espessura nos cálculos.
6.4.2.2 Soldas de filete
As soldas de filete são assimiladas, para efeito de cálculo, a triângulos retângulos.
Os filetes são designados pelos comprimentos de seus lados.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 66

Um filete 6mm ×10mm designa filete com lado de 6mm e outro de 10mm. Na
maioria dos casos, os filetes são iguais.
Denomina-se garganta do filete a espessura desfavorável (t); perna, o menor lado
do filete e raiz, a interseção das faces de fusão.
A área efetiva para o cálculo de um filete de solda de lados iguais (b) e
comprimento (l) é dada por A = t.l = 0,7b.l .

b b1

t
t

b b2

b1 ⋅ b2
t = 0,7b t=
b12 + b22
Os filetes de solda devem ser tomados com certas dimensões mínimas para evitar o
resfriamento brusco da solda e assim garantir a fusão dos materiais e minimizar distorções.
A dimensão (lado) mínima do filete é determinada em função da chapa mais grossa,
conforme indicado na Tabela abaixo. Entretanto, o lado do filete não precisa exceder a
espessura da chapa mais fina, a não ser por necessidade de cálculo.

Tabela: Dimensões mínimas de filetes de solda (AISC, NBR8800)


Espessura da chapa mais grossa (mm) Lado do filete (b) (mm)
até 6,3 3
6,3 – 12,5 5
12,5 – 19 6
> 19 8

As dimensões máximas a adotar para os lados dos filetes são condicionadas pela
espessura da chapa mais fina.
Num filete de solda de comprimento l, em cada extremidade há um pequeno trecho
em que a espessura da garganta cai até zero. A norma brasileira especifica que o
comprimento mínimo construtivo do cordão de solda deve ser: l ≥ 4b ≤ 40 mm .
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 67

6.4.3. Resistência das soldas

6.4.3.1. Soldas de entalhe:


As resistências de cálculo das soldas são dadas em função de uma área efetiva de
solda:
Aw = t ⋅ l
onde:
t = espessura efetiva
l = comprimento efetivo
Para soldas de entalhe de penetração total sujeitas a tensões de compressão ou
tração, paralelas ou perpendiculares ao eixo da soldas, as resistências de cálculo são
obtidas com base na tensão de escoamento (fy) do metal-base.
Metal base Rd = φRn = 0,90 Aw ⋅ f y (a)

Para soldas de penetração total sob tração ou compressão, paralelas ou


perpendiculares ao eixo da solda, a resistência é determinada com o menor valor entre as
equações (a) e (b).
Metal da solda Rd = φRn = 0,75 Aw (0,6 f w ) (b)
onde fw é a tensão resistente do metal da solda
Para tensões de cisalhamento, as tensões atuantes em direções diferentes são
combinadas vetorialmente. A resistência de projeto (Rd) é dada pelas seguintes expressões,
adotando-se o menor valor:
Metal-base: Rd = φRn = 0,90 Am (0,6 f y )

Metal da solda Rd = φRn = 0,75 Aw (0,6 f w )

6.4.3.1. Soldas de filetes:


As resistências de cálculo das soldas são dadas em função das áreas:
Am = área do metal-base = b.l; Aw = área da solda = t.l
onde: t é a espessura da garganta
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 68

Para esforços solicitantes de tração ou compressão atuando na direção paralelas ao


eixo longitudinal da solda, a resistência de cálculo do filete pode ser determinada com os
parâmetros do metal-base.
Os esforços solicitantes em qualquer direção no plano perpendicular ao eixo
longitudinal da solda são considerados, para efeitos de cálculo, como esforços cisalhantes.
A resistência de cálculo pode ser obtida por meio das seguintes expressões, adotando-se o
menor valor.
Metal-base: Rd = φRn = 0,90 Am (0,6 f y )

Metal da solda Rd = φRn = 0,75 Aw (0,6 f w )


Quando a solda estiver sujeita a tensões não uniformes, a resistência pode ser
determinada em termos de esforço por unidade de comprimento, com o menor valor entre
os dois seguintes:
Metal-base: Rd = φRn = 0,90b(0,6 f y )

Metal da solda Rd = φRn = 0,75t (0,6 f w )

Para um filete de lados iguais a×b, garganta t e comprimento l tem-se, na Tabela


abaixo os valores da resistência (tensões em MPa), referidas à área de solda Aw = t ⋅ l (em
mm2).

Tabela: Tensões resistentes de cálculo


φRn = τ res t ⋅ l , τ res ( MPa)
Aço Eletrodo
Metal-base Metal da solda
MR250 E60 192,8 ⋅ tl 186,8 ⋅ tl *
MR250 E70 192,8 ⋅ tl * 218,3 ⋅ tl
AR345 E70 266,1 ⋅ tl 218,3 ⋅ tl *
* determinante no dimensionamento

6.4.3.3 Combinação de soldas com conectores


Em construções novas, os parafusos de alta resistência, em ligações por atrito,
podem ser considerados trabalhando em conjunto com soldas.
Nas combinações com parafusos comuns, as soldas devem ser dimensionadas para
resistir ao total das solicitações de cálculo da ligação.
Em construções existentes, reforçadas com soldas, os parafusos de alta resistência
existentes podem ser considerados para resistir às solicitações da carga permanente já
atuante. As solicitações devidas aos novos carregamentos devem ser resistidas pelas soldas
de reforço que forem acrescentadas à ligação.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 69

7. PEÇAS COMPRIMIDAS

7.1. Introdução

Considerando as barras retas axialmente comprimidas, verifica-se


experimentalmente que, sob a ação de carregamentos crescentes, pode ser atingido um
estado limite, a partir do qual a forma reta de equilíbrio é instável. A carga correspondente
a esse estado limite é dita carga crítica Pcrit, ou carga de flambagem.

Em regime elástico, para cargas maiores do que a crítica aplicada em barras, cujo
material apresenta comportamento elástico linear, a forma estável de equilíbrio passa a ser
a configuração fletida (Figura 1), ou seja, uma curva, denominada linha elástica.

y
x
P y P
x
L

Figura 1 Flambagem de Euler

A Figura 1 ilustra o Caso Fundamental da flambagem apresentado pelo matemático


suíço Leonhard EULER (1707-1783) para barras articuladas nas extremidades.

A barra pode perder a sua estabilidade sem que o material tenha atingido seu limite
de escoamento. O colapso ocorrerá sempre na direção do eixo de menor momento de
inércia de sua seção transversal.

Para materiais estruturais como, madeira, concreto e aço, o estado limite de


flambagem é um estado limite último. De fato, para cargas pouco superiores à carga
crítica, o deslocamento horizontal máximo corresponde a uma fração apreciável do
comprimento da barra, a qual se rompe por flambagem.

Em certos materiais, principalmente nas chamadas matérias plásticas como, por


exemplo, o celulóide e o acrílico, a barra pode resistir a cargas sensivelmente superiores à
carga crítica de flambagem, pelo que o estado limite de flambagem deixa de ser um estado
limite último.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 70

As barras comprimidas devem ser verificadas tanto para a possibilidade de ruptura


por compressão, como também por flambagem.

7.1.1. Flambagem elástica

A carga crítica de flambagem (Pcrit) foi deduzida por Euler a partir da equação
diferencial da linha elástica de uma barra axialmente comprimida, considerando o
comportamento de um pilar ideal, que se supõe perfeitamente reto, comprimido
axialmente por uma carga centrada, e constituído de material isótropo e elástico linear.

A determinação dos deslocamentos horizontais da barra da Figura 1 exige que se


empregue a expressão exata da equação diferencial da linha elástica para barras fletidas:
d2y
1 dx 2 M
= 3/ 2
=
r  EI
 dy  
2

 1 +   
  dx  
Contudo, é possível obter-se boa aproximação se, em lugar da equação exata, for
empregada a equação aproximada da linha elástica:
1 d2y M
≅ =
r dx 2 EI
da Figura 1 verifica-se que o momento fletor produzido pela carga P é: M = Py , então:

d 2 y Py
=
dx 2 EI
P
indicando k2 = , chega-se à seguinte equação diferencial:
EI
d2y
= k2y
dx 2
A resolução da equação diferencial acima fornece o valor da carga crítica de
flambagem (Pcrit), embora fiquem indeterminados os deslocamentos da configuração
fletida.
π 2 EI
Pcrit = (1)
L2
A carga crítica de flambagem, Pcrit é o valor da força de compressão capaz de
provocar o início da flambagem. Este valor depende somente do módulo de elasticidade do
material (E) e da geometria da barra (momento de inércia I e comprimento L).
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 71

A fórmula da carga crítica de Euler foi deduzida considerando uma barra articulada
nas extremidades. Entretanto, esta fórmula pode ser adaptada para outras condições de
contorno tomando, em lugar do comprimento real L, um comprimento modificado (Le),
também chamado comprimento equivalente de flambagem, onde ( Le = k ⋅ L) . Assim, a
fórmula de Euler pode ser reescrita:
π 2 EI
Pcrit = 2
(2)
Le

A Figura ao lado ilustra


diversas formas de linhas elásticas,
conforme o tipo de fixação de suas
extremidades, ou seja, conforme as
condições de contorno da barra, com L

seus respectivos coeficientes de


flambagem (k) para barras: a)
articuladas nas extremidades; b)
engastada e articulada; c) engastada
k=1,0 k=0,7 k=0,5 k=2,0
nas extremidades e d) engastada em a b c d
uma extremidade e a outra livre. Figura 2 Coeficientes de flambagem

A tensão crítica (σcrit) em peças comprimidas é obtida pela divisão da carga axial
crítica pela área da seção comprimida.
Pcr
σ crit =
A
Substituindo a formulação da carga crítica de Euler na expressão acima, obtém-se:
π 2 EI
σ crit = (3)
AL2e
Do estudo das características geométricas de figuras planas, sabe-se que o raio de
giração é definido pela expressão:

I
i= (4)
A
onde: i = raio de giração
I = momento de inércia
A= área da seção transversal
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 72

Relacionando o comprimento da barra com as dimensões da seção transversal,


introduz-se o conceito de índice de esbeltez (λ), definido como a razão entre o
comprimento da barra e seu raio de giração, ou seja:

L
λ= (adimensional) (5)
i

onde: λ = índice de esbeltez


L = comprimento da barra
i = raio de giração da seção transversal

Logo, a tensão crítica de flambagem de barras axialmente comprimidas pode ser


expressa por:
π 2E
σ crit = 2 (6)
λ

A equação acima só é válida no regime elástico, ou seja, enquanto a tensão crítica


de compressão σ crit for inferior ao limite de proporcionalidade fp do material.

Isolando-se o índice de esbeltez, obtém-se:

E
λ =π
σ crit

Quando σ crit = f p , atingi-se um valor limite de esbeltez:

E
λ = λlim = π
fp

Portanto, a fórmula de Euler é válida para λ ≥ λlim , pois nesse caso a flambagem
ocorre em regime elástico.

As normas de dimensionamento de estruturas metálicas estabelecem limites para o


índice de esbeltez:

• Edifícios (AISC, NBR8800) λ ≤ 200

• Pontes (AASHTO) λ ≤ 120


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 73

7.1.2. Flambagem inelástica

Entre a tensão limite de proporcionalidade (fp) e a tensão de escoamento (fy) do


material pode ocorrer a flambagem inelástica. O termo flambagem inelástica é usado pelo
fato de, neste trecho, não ter mais validade a Lei de Hooke.

Relacionando a tensão crítica σcr curva de Euler

de flambagem com índice de


fy
esbeltez, obtém-se o gráfico
ilustrado ao lado. flambagem
inelástica
Neste gráfico, tem-se: fp

fy = tensão de escoamento do aço


flambagem elástica
fp = tensão limite de proporcionalidade

λ lim λ
Figura 3. Diagrama tensão–índice de esbeltez

Quando a tensão de flambagem ultrapassa a tensão de proporcionalidade do


material, a fórmula de Euler perde a sua validade. Para estes casos, utilizam-se
formulações apresentadas por algumas normas, como, por exemplo, a fornecida pela
NBR8800 — Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios, antiga NB-14:
σ crit = 240 − 0,0046λ2 para λ < 105

π 2E
σ crit = 2 para λ > 105
λ
Outra é a formulação para o cálculo de peças com índice de esbeltez menor do que
o limite λ < λlim é aquela apresentada pelo AISC - American Institute of Steel
Construction.
σ crit = 1195 − 0,0341λ2 (kgf/cm2)
aplicável para λ < 120 para peças principais.

Para peças secundárias, com 120 < λ < 200 , a tensão crítica é dada por:

1266
σ crit = (kgf/cm2)
λ 2
1+
1266
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 74

A fórmula do AISC fornece a tensão admissível de flambagem, ou seja nela já está


considerado um coeficiente de segurança.

O valor da carga crítica (Pcrit) de Euler corresponde a uma carga de ruptura,


conseqüentemente é necessário aplicar coeficientes de segurança apropriados para o
dimensionamento.

Exemplos

1. Determinar o índice de esbeltez limite (λlim) para o aço com tensão limite de
proporcionalidade fp=19 kN/cm2 e Módulo de Elasticidade E=21000 kN/cm2.

E 21000
λlim = π λlim = π ≅ 105
fp 19

Portanto, para peças de aço, a fórmula de Euler é válida para índice de esbeltez λ > 105 .

2. Determinar o índice de esbeltez de uma barra articulada nas extremidades, com 8m de


comprimento e seção transversal retangular de a=20cm e b=25cm.

Solução: Como a barra é articulada nas extremidades, o coeficiente de flambagem é k=1,


logo o comprimento equivalente é o próprio comprimento da barra.

b × a3
Sendo a menor que b, o momento de inércia mínimo da seção transversal é: I min =
12

e a área da seção transversal é A = a ⋅b

I min b ⋅ a3 a a
e o raio de giração mínimo é: imin = imin = = ≅
A 12 ⋅ a ⋅ b 12 3,46

L L 800
como, λmin = , tem-se: λmin = 3,46 λmin = 3,46 × = 138,4
imin a 20

Resposta: λmin = 138,4


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 75

3. Uma barra prismática de aço de seção transversal retangular medindo (4×5)cm, é


articulada nas extremidades e está submetida a uma carga axial de compressão. Sendo a
tensão limite de proporcionalidade do aço fp=19 kN/cm2 e o Módulo de Elasticidade
E=21000 kN/cm2, determinar o comprimento mínimo L desta barra para não ocorrer o
fenômeno da flambagem.

E 21000
λlim = π λlim = π = 104,4
fp 19

5 × 43
I min 12 = 1,15 cm
imin = imin =
A 5× 4
Le
λmin = Le = λmin ⋅ imin Le = 104,4 × 1,15 = 120 cm
imin

Como a barra é articulada nas extremidades, o coeficiente de flambagem k=1. Logo,


L = Le/k = 120cm. Este é o comprimento mínimo da barra para não ocorrer flambagem.

Se a barra fosse engastada na base e a outra extremidade livre, então k=2, logo,
L = Le/2 = 60cm.

4. Uma barra de aço é articulada nas extremidades, com comprimento L=160cm e seção
transversal quadrada, com lado igual a 22cm. Determinar a carga máxima de compressão
pela formulação de Euler. Dado: E=21000 kN/cm2.
Área: A = 5 × 5 = 25 cm 2

a4 54
Momento de Inércia: I = I= = 52,08 cm 4
12 12

I 52,08
Raio e giração: i= i= = 1,44 cm
A 25
Le k⋅L 160
Índice de esbeltez: λ= λ= k =1 λ= = 111,1 > 105
i i 1,44
Portanto, trata-se de flambagem elástica
π 2E π 2 × 21000 kN
Tensão crítica: σ crit = σ crit = = 16,79
λ2 111,12
cm 2
Pcrit
σ crit = Pcrit = σ crit × A Pcrit = 16,79 × 25 = 420 kN
A
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 76

5. Uma barra de aço, com comprimento L=135cm, articulada nas extremidades, possui
seção transversal circular com diâmetro igual a 5cm. Determinar a carga máxima de
compressão pela formulação do AISC .

π ⋅d2 π ⋅ 52
A= A= = 19,63 cm 2
4 4
π ⋅d4 π × 54
I= I= = 30,68 cm 4
64 64

I 30,68
i= i= = 1,25 cm
A 19,63

Le k⋅L 135
λ= λ= k =1 λ= = 108 < 120
i i 1,25

σ crit = 1195 − 0,0341λ2 (kgf/cm2) σ crit = 1195 − 0,0341×108 2 = 797,3 (kgf/cm2)


Pcrit
σ crit = Pcrit = σ crit A Pcrit = 797,3 × 19,63 = 15651 (kgf)
A
Pcrit = 15,65 tf = 156,5 kN

Exercícios

1. Duas barras de mesmo comprimento e materiais iguais são submetidas à ação de uma
carga axial P de compressão. Uma das barras possui seção transversal circular com
diâmetro a e a outra possui seção transversal quadrada de lado a. Verificar qual das barras
é a mais resistente, segundo a formulação de Euler. As barras possuem o mesmo tipo de
fixação nas extremidades.
Resposta: a barra de seção transversal quadrada é a mais resistente (Melconian, 2002).

2. Uma barra de aço com 1,2m de comprimento e diâmetro d=34mm, é articulada nas
extremidades. Determinar a máxima carga de compressão axial que a barra suporta. Dado:
E=21000kN/cm2. Resposta: 94,42kN.

3. Determinar o diâmetro de uma barra de aço com 1,2 de comprimento, articulada nas
extremidades e submetida a uma carga axial de compressão de 200kN. Dados:
E=21000kN/cm2. Resposta: d=41mm.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 77

7.2. Dimensionamento

A carga resistente de cálculo, para peças axialmente comprimidas, sem efeito de


flambagem local é dada pela equação:

N d = φc ⋅ Ag ⋅ f c com φ = 0,90

onde: Ag = área da seção transversal bruta da seção

fc = tensão resistente à compressão simples com flambagem por flexão

A tensão fc considera o efeito de imperfeições geométricas e excentricidade de


aplicação das cargas dentro das tolerâncias de norma, além das tensões residuais existentes
nos diferentes tipos de perfis.

As normas apresentam tabelas com valores da relação fc / fy em função do índice de


esbeltez, apresentado mais à frente. A norma brasileira incluiu quatro curvas (a,b,c,d),
aplicáveis a diversos tipos de perfis.

Para usos correntes da prática, as curvas mais utilizadas são as curvas b e c, que
servem para perfis laminados e soldados com espessuras de chapa inferiores a 40mm.

Para os aços de uso corrente obtêm se com a expressão de λ.

Aço MR 250 λ = 0,0111 ⋅ kl / i kl Q ⋅ f y


λ=
Aço AR 345 λ = 0,0131 ⋅ kl / i i π2 ⋅E

Peças de seções múltiplas:

Denominam-se peças de seções múltiplas, as formadas pela associação de peças


simples, com ligações descontínuas. Quando uma peça múltipla se deforma lateralmente,
sob efeito de uma força de compressão axial, as ligações descontínuas não conseguem
obrigar uma seção inicialmente plana a se manter plana.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 78

Classificação das curvas de flambagem para diferentes tipos de seções

x–x
y–y
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 79

Ábaco para cálculo de fc em função de λ.


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 80

7.3. Flambagem local

A flambagem local pode ocorrer em perfis que são constituídos de chapas. As


chapas podem sofrer deslocamentos transversais que produzem empenamento. Pode
ocorrer flambagem local na alma ou na mesa.

A flambagem local depende da esbeltez da chapa, ou seja, a relação b/t. Se esta


relação (b/t) for maior que (b/t)limite, então deve-se verificar a flambagem local. A tabela
abaixo indica os valores adotados pela NBR 8800 e AISC para os valores limites da
relação (b/t).

Tabela: Valores limites de b/t em peças comprimidas para impedir flambagem local antes
do escoamento do material (AISC e NBR8800).
b1/t b2/t b3/t b4/t b5/t
Caso de ligação E E E E E
0,44 0,55 0,74 1,47 1,85
fy fy fy fy fy

Aço MR 250 13 16 21 42 53
Aço AR 345 11 13 18 36 45
onde:
b1, b2, e b3 são para perfis não enrijecidos
b4, e b5 são para perfis enrijecidos
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 81

Dimensionamento de peças múltiplas

7.3.1. Parâmetros de flambagem local

O parâmetro de flambagem local depende de dois parâmetros e é definido como:


Q = Qs ⋅ Qa
onde: Qs é um parâmetro relacionado a elementos não enrijecidos
Qa é um parâmetro relacionado a elementos enrijecidos

Parâmetro de flambagem local Qs:

Este parâmetro é utilizado em elementos não enrijecidos (b1, b2 e b3), ou seja,


elementos que possuem uma borda livre e outra borda apoiada, paralela às tensões de
compressão.

A flambagem local nestes elementos pode ocorrer na fase elástica ou na fase


inelástica.

Flambagem local inelástica


Os limites adotados na NBR8800 para a flambagem inelástica são:
E b E
0,55 ≤   < 1,018
fy  t  fy

Introduzindo as tensões de escoamento dos aços MR250 e AR345 na formulação acima,


tem-se os seguintes limites:
b b
MR 250 16 ≤ < 30 AR 345 13 ≤ < 25
t t
e o parâmetro de flambagem local Qs é dado por:
b fy
Qs = 1,415 − 0,755 × × ≤1
t E
Flambagem elástica
O limite adotado na NBR8800 para a flambagem elástica é:
b E
> 1,018
t fy

e o parâmetro de flambagem local Qs é dado por:

0,670 ⋅ E
Qs = 2
≤1
b
fy ⋅ 
t
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 82

Parâmetro de flambagem local Qa:

Este parâmetro é utilizado em elementos enrijecidos (b4 e b5), ou seja, elementos


que possuem bordas apoiadas em toda a sua extensão, com a tensão de compressão
atuando paralelamente à sua extensão.

No elemento enrijecido, a distribuição de tensões não é uniformemente distribuída,


ou seja, apresenta elevados valores nos bordos e valores bem reduzidos na região central,
conforme apresentado na figura abaixo. Contudo, pode-se definir uma largura efetiva (bef)
menor que a largura b do elemento, de maneira tal que, a distribuição de tensões seja
considerada constante. Esta largura efetiva (bef) deve ser constituída por duas partes,
localizando-se nas bordas enrijecidas do elemento.

797t  140 1 
<b
Determinação da largura efetiva da alma (be) be = 1− ⋅
σ cd  b σ cd 
 t 

com: b e t em centímetros e a tensão σ cd em MPa.

deve-se adotar uma tensão inicial e conferir se é menor do que a tensão resultante, mais
abaixo definida.

Por definição, o coeficiente Qa é a relação entre a área efetiva e a área bruta da seção.

Aef
Qa =
Ag

Índice de esbeltez (λ): o parâmetro de flambagem local (Q) interfere também na


determinação do índice de esbeltez da peça:

k ⋅l Q ⋅ fy
λ=
i π2 ⋅E
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 83

Definido o índice de esbeltez para elementos sujeitos à flambagem local e o tipo de


f cr
curva (a,b,c,d), determina-se a relação ρ = por meio do Ábaco para cálculo de fc em
fy

função de λ.

Em seguida, determina-se a tensão de compressão:

fc = ρ ⋅ f y

Tensões resistentes

O valor da tensão resistente calculada deve ser menor do que a tensão admitida
inicialmente. A tensão resistente na chapa em elementos não-enrijecidos é dada por:

Nd
σ cd = = σ cd = φc ⋅ Qs ⋅ f c com φ c = 0,9
Aef

onde Qs é o menor coeficiente dos diversos elementos não-enrijecidos da seção.

O cálculo é iterativo já que o esforço normal resistente Nd depende da largura


efetiva que, por sua vez, dependa da tensão σcd , função de Nd.

Carga axial de cálculo

Finalmente, a carga axial resistente de cálculo é dada por:

N d = φc ⋅ Q ⋅ Ag ⋅ f c com φ c = 0,9

onde: Q = parâmetro de flambagem local


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 84

Exemplos

1. Uma coluna tem seção transversal em forma de perfil H, fabricado com duas chapas
8mm×300mm para os flanges e uma chapa 8mm×400mm para a alma, todos em aço
ASTM A-36. O comprimento de flambagem é k.l = 9,84m. Calcular a resistência de
cálculo à compressão axial, considerando a flambagem em torno do eixo mais resistente
(x-x). Admite-se que a peça tenha contenção lateral impedindo flambagem em torno do
eixo de menor resistência (y-y).

Solução: y b2=150mm

8mm
a) valores de b/t
8mm

alma:

b4 400

b4=400mm
= = 50 > 42 → pode ocorrer flambagem local x x
t 8

flange:

b2 150
= = 18,75 > 16 → pode ocorrer flambagem local 8mm
t 8
y

b) coeficiente Qs chapa não enrijecida

b b fy
flange: 16 < < 30 então Qs = 1,415 − 0,755 ≤1
t t E

150 250
Qs = 1,415 − 0,755 × = 0,92 < 1 Qs = 0,92
8 205000

c) largura efetiva da alma: admitindo-se inicialmente σ cd = 180 MPa , obtém-se:

797t  140 1 
<b
be = 1− ⋅ onde: b=cm; t=(cm); σcd=MPa
σ cd  b σ cd 
 t 

 
797 × 0,8  140 
be = × 1 −  = 37,6 cm < 40 cm
180  40 × 180 
 0,8 

adota-se be =37,6 cm a ser verificado posteriormente com o valor calculado para σcd.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 85

Ag = 2 × (0,8 × 30 ) + (0,8 × 40 ) = 80 cm 2
Aef 78
Qa = = = 0,98
Ag 80
Aef = 2 × (0,8 × 30 ) + (0,8 × 37,6 ) = 78 cm 2

d) parâmetro de flambagem local

Q = Qa ⋅ Qs Q = 0,98 × 0,92 = 0,90

e) Propriedades geométricas da seção

403
Momento de inércia I x = 2 × 0,8 × 30 × 20,4 2 + 0,8 × = 24242 cm 4
12

Ix 24242
Raio de giração: ix = = = 17,4 cm
Ag 80

f) parâmetro de esbeltez

kl Qf y 984 0,9 × 250


λ= λ= × = 0,60
i π 2E 17,4 π 2 × 205000

g) tensão resistente (curva b da norma brasileira) e tensão de cálculo σ cd

fc = ρ. f y ρ = 0,838

f c = 0,838 × 250 = 210 MPa

σ cd = φc ⋅ Qs ⋅ f c com φc = 0,90

σ cd = 0,9 × 0,92 × 210 = 174 MPa

Como a largura efetiva da alma foi calculada para a tensão σcd = 180 MPa, não há
necessidade de repetir esse cálculo com σcd = 174 MPa. Se σcd fosse maior que 180 MPa,
seria necessário fazer um novo cálculo de largura efetiva.

h) carga axial resistente de projeto

N d = φc ⋅ Q ⋅ Ag ⋅ f c N d = 0,90 × 0,90 × 80 × 21 = 1361 kN


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 86

2. Uma coluna tem seção transversal em forma de perfil H, fabricado com duas chapas
6mm×240mm para os flanges e uma chapa 6mm×280mm para a alma, todos em aço
ASTM A-36. O comprimento de flambagem é k.l = 6,5m. Calcular a resistência de cálculo
para compressão axial, considerando a flambagem em torno do eixo mais resistente (x-x).
Admite-se que a peça tenha contenção lateral impedindo flambagem em torno do eixo de
menor resistência (y-y).

Solução: y b2=120mm

a) valores de b/t

6mm
alma:
6mm

b4=280mm
b4 280
= = 46,7 > 42 → pode ocorrer flambagem local x x
t 6

flange:

6mm
b2 120
= = 20 > 16 → pode ocorrer flambagem local
t 6
y
b) coeficiente Qs

b b fy
flange: 16 < < 30 então Qs = 1,415 − 0,755 ≤1
t t E

120 250
Qs = 1,415 − 0,755 × = 0,89 ≤ 1 Qs = 0,89
6 205000

b 120 b 205000
= = 20 Como < 1,018 = 29,15 tem-se flambagem inelástica
t 6 t 250

c) largura efetiva da alma: admitindo-se inicialmente σ cd = 180 MPa , obtém-se:

797t  140 1 
<b
be = 1− ⋅ onde: b=cm; t=(cm); σcd=MPa
σ cd  b σ cd 
 t 

 
797 × 0,6  140 
be = × 1 −  = 27,67 cm < 28 cm
 28
180 × 180 
 0,6 

adota-se be =27,67cm a ser verificado posteriormente com o valor calculado para σcd.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 87

Ag = 2 × (0,6 × 24 ) + (0,6 × 28) = 45,6 cm 2 Aef = 2 × (0,6 × 24 ) + (0,6 × 27,67 ) = 45,4 cm 2

Aef 45,4
Qa = = = 0,996
Ag 45,6

d) parâmetro de flambagem local

Q = Qa ⋅ Qs Q = 0,996 × 0,89 = 0,886

e) Propriedades geométricas da seção

Momento de inércia: I x =
ah 3 B
+
12 12
(
H 3 − h3 ) a=0,6cm, B=24cm, h=28cm,

H=29,2cm

0,6 × 283 24
Ix =
12
( )
+ × 29,23 − 283 = 6978,78 cm 4
12

Ix 6978,78
raio de giração: ix = = = 12,38 cm
A 45,6

f) parâmetro de esbeltez

kl Qf y 650 0,886 × 250


λ= λ= × = 0,55
i π 2E 12,38 π 2 × 205000

g) tensão resistente (curva b da norma brasileira) e tensão de cálculo σ cd

λ = 0,55 → tabela, curva b → ρ = 0,86

f c = 0,86 × 250 = 215 MPa ρ = 0,838

σ cd = φc ⋅ Qs ⋅ f c com φc = 0,90 σ cd = 0,9 × 0,89 × 215 = 172,3 MPa

Como a largura efetiva da alma foi calculada para a tensão σcd = 180 MPa, não há
necessidade de repetir esse cálculo com σcd = 172,3 MPa. Se σcd fosse maior que 180 MPa,
seria necessário fazer um novo cálculo de largura efetiva.

h) carga axial resistente de projeto

N d = φc ⋅ Q ⋅ Ag ⋅ f c N d = 0,90 × 0,886 × 45,6 × 21,5 = 781,8 kN


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 88

8. PEÇAS FLETIDAS

8.1. Introdução

Os conceitos fundamentais da flexão normal de barras prismáticas são aqui


apresentados para os perfis de aço correntemente utilizados para resistir à flexão normal: as
vigas. São consideradas as seguintes hipóteses:

a. cargas aplicadas ao longo de um dos planos principais de inércia de modo que não
há flexão oblíqua;

b. a viga não é solicitada à torção;

c. a viga está devidamente protegida contra qualquer tipo de instabilidade;

d. a viga é considerada homogênea, isto é, constituída de um só tipo de material.

Conceitos gerais
No projeto no estado limite ultimo de vigas sujeitas à flexão simples, calculam-se
para as seções críticas, o momento fletor e o esforço cortante resistentes para compará-los
aos respectivos esforços solicitantes de projeto. Além disso, devem-se verificar os
deslocamentos no estado limite de utilização.

A resistência à flexão das vigas pode ser afetada pela flambagem local e pela
flambagem lateral.

A flambagem local é a perda da estabilidade das partes comprimidas do perfil, a


qual reduz o momento resistente da seção.

Na flambagem lateral a viga perde seu equilíbrio no plano principal de flexão (em
geral vertical) e passa a apresentar deslocamentos laterais e rotações de torção. Para se
evitar a flambagem lateral de vigas I, cuja rigidez à torção é muito pequena, é preciso
prever contenção lateral à viga. As vigas I são as mais indicadas para resistir à flexão,
devendo, entretanto, seu emprego obedecer às limitações de flambagem.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 89

8.2. Dimensionamento à flexão

8.2.1. Momento de início de plastificação e momento de plastificação

Considere-se o diagrama de momento × curvatura de uma viga simplesmente


apoiada sob carregamento crescente, como indicado na Figura abaixo.
M
Mp
fy

fy
My L

σ< fy

k = dθ
dx

Diagrama momento × curvatura


Hipóteses
• Admite-se que não há flambagem local ou lateral da viga;
• My é o momento de início de plastificação;
• Mp é o momento resistente igual ao momento de plastificação total da seção.
fy fy

dy

CG
h M My Mp

A equação tensões normais na flexão normal é dada por: σ = M / W.


onde W é o módulo resistente da seção transversal. Para seções transversais retangulares, o
módulo resistente é: W=bh2/6.
Para as peças metálicas, a tensão limite do regime elástico, ou seja, a tensão de
início de plastificação é fy. Assim, o momento de início de plastificação My é definido por:
M y = f y .W

O momento de plastificação total Mp é o esforço total resultante do diagrama de


tensões e é definido por:
M p = f y .Z onde Z=bh2/4 é o módulo plástico da seção retangular.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 90

Coeficiente de forma
A relação entre momentos de plastificação total e momento de início de
plastificação denomina-se coeficiente de forma da seção.
Mp Z
Coeficiente de forma: =
My W

Tabela 1: Módulo plástico (Z) e coeficiente de forma (Z/W) de seções de vigas


Seção Módulo plástico (Z) (Z/W)

h bh 2
1,5
4
b

bt f (h − t f ) + (h − 2t f )2
t0
(x-x) ≈ 1,12
h t0
4
b 2t f 1
(h − 2t f )t02
tf

b (y-y) + ≈ 1,55
2 4
h3
h 1,7
6

  2t 3 
  2t  3   1 − 1 −  
h3 16   h 
1 − 1 −  
h
t
6   h   3π   2t  
4

1 − 1 −  
  h 
th 2 (t << h ) 1,27 (t << h)
tf

bh 2   2t0  2t f 
2
t0 
1 − 1 − 1 −   ≈ 1,12
b 
h
4   h  

b

bh 2
h
2
12
b

8.2.2. Resistência à flexão de vigas com contenção lateral

Disposições construtivas de contenção lateral de vigas

a) contenção lateral contínua: embebimento da mesa comprimida em laje de concreto ou


ligação mesa-laje por meio de conectores;
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 91

b) contenção lateral discreta: apoios laterais discretos, formados por quadros transversais,
treliças de contraventamento, etc.

Nos pontos de apoio vertical das vigas, admite-se sempre a existência de contenção
lateral que impede o tombamento do perfil.

Flambagem local

A resistência de vigas metálicas à flexão pode ser reduzida por efeito de flambagem
local das chapas que constituem o perfil.

Classificação das seções quanto à ocorrência de flambagem local.

Na Tabela abaixo são apresentados os comportamentos das vigas sujeitas a


carregamento crescente, mostrando a influência da flambagem local sobre o momento
resistente das vigas e sobre as suas deformações.

Tabela 2 Resistência à flexão de vigas com contenção lateral

Classe Designação Comportamento


M
Mp

1 Seção supercompacta My

M
Mp

2 Seção compacta My

M
Mp
flambagem local

3 Seção não compacta My

M
Mp

4 Seção esbelta My

flambagem local

φ
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 92

Exemplo: Para o perfil da figura, calcular o coeficiente de forma para 200mm


flexão em torno do eixo x-x.
A = 45cm2.
Momento de inércia (Ix)
( )
I x = 2 × 20 × 0,95 × 44,52 2 + 0,8 ×
88,13
12
= 120903 cm 4
8mm
120903
Wx = = 2686,7 cm3

900mm
Módulo elástico:
45
Momento plástico:
 44,052 
Z x = 2 × (20 × 0,95 × 44,52 ) + 2 ×  0,8 ×
  = 3244 cm3
 2 

9.5mm
Zx 3244
Coeficiente de forma: = = 1,21
Wx 2686,7

Tabela 3 Valores limites da relação largura-espessura de seções I ou H com um ou dois


eixos de simetria fletidas no plano da alma
Local da Super compacta Compacta Não compacta
Aço
Flambagem local classe 1 classe 2 (λbp) classe 3 (λbr)
Mesa: λ = 1 b f MR250 8,5 11 39k *
b
2 tf AR350 7 9 30k *
MR250 67 100 160
Alma λb = h0
t AR350 57 85 136
* Valores de k:
k = 0,82 para perfis laminados
k = 0,62 para perfis soldados

Exemplo: Verificar a classe dos perfis laminados a seguir:


1 bf h0
Perfil λb = λb = classe
2 tf t
I (254 × 37,7) 4,7 29 1
I (508 × 121,2) 3,8 30 1
U (254 × 22,7) 6,0 38 1
U (381 × 50,4) 5,2 38 1

bf
OBS: para a mesa do perfil U adota-se: λb =
tf
Exemplo: Verificar a classe dos perfis soldados a seguir:
1 bf h0
Perfil λb = λb = classe
2 tf t
CS (250 × 52) 13 29 3
CS (650 × 305) 14,5 38 3
VS (400 × 49) 10,5 61 2
VS (1400 × 260) 15,6 109 3
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 93

Momento resistente de projeto


O momento resistente de projeto de vigas metálicas simplesmente apoiadas com
momento fletor constante é dado por:

Mdres = φb.Mn com φb = 0,90


onde:
Mn = momento resistente nominal, obtido por análise, sendo seu valor determinado pelo
limite de escoamento do aço, ou por flambagem, conforme a tabela abaixo.

Tabela 4 Momento nominal Mn:

Classe Designação Momento nominal (Mn)


1 Seção supercompacta Mp = Z.fy
2 Seção compacta Mp = Z.fy
3 Seção não compacta Interpolar entre Mp e Mr
4 Seção esbelta Mr = W.fcr
onde:
fcr = tensão resistente à flexão determinada pela flambagem local elástica, tomado como fcr=115MPa
Mr = momento resistente nominal para a situação limite entre as classes 3 e 4, isto é, para λb = λbr
M
seção seção não seção
compacta compacta esbelta

Mp

Mr M cr

λ
λ bp λ br

Figura Variação do momento resistente nominal de vigas I ou H, carregadas no plano da alma com efeito de
flambagem local da mesa ou da alma (admite-se contenção de flambagem lateral).

Na situação limite entre seções não compactas (classe 3) seções esbeltas (classe4).
isto é, para λb = λbr, o momento resistente nominal denomina-se Mr. Para perfis I ou H
com um ou mais eixos de simetria, Mr é dado pelas expressões:
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 94

Flambagem local da mesa

M r = Wc ( f y − f c ) < Wt f y

onde:
fcr = tensão residual em perfis laminados ou soldados, considerada como fcr=115MPa
Wc , Wt = módulos elásticos da seção, referidos às fibras mais comprimidas e mais
tracionadas, respectivamente.

Flambagem local da alma


M r = Wf y

onde: W é o menor módulo resistente da seção


Para seções não compactas (classe 3), os momentos nominais podem ser
interpolados linearmente entre os valores limites das classes 2 e 3.

λb − λbp
Mn = M p − (M p − M r )
λbr − λbp

Limitação do momento resistente

Quando a determinação dos esforços solicitantes, deslocamentos, flechas, etc, é


feita com base no comportamento elástico, o momento resistente de projeto fica limitado a:

M dres = 1,25.φb .W . f y com φb = 0,90

Influência dos furos na resistência da seção

Na determinação das propriedades geométricas de vigas laminadas ou soldadas,


com ou sem reforço de mesa, podem ser desprezados furos para parafusos de montagem
em qualquer das mesas, exceto quando a redução da área devida a esses furos, em qualquer
das mesas, exceder 15% da área bruta da mesa, caso em que se desconta a área excedente
de 15%.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 95

Exemplos:

1. Calcular o momento resistente de projeto de um perfil I (305 × 60,6) (12”) em aço


MR250, com contenção lateral contínua. O perfil é super compacto.

ho=271,4mm; to=11,7mm; bf=133,4mm; tf=16,7mm; Wx=870cm3.

Flambagem local

bf 133,4
Mesa: λb = λb = = 4 < 8,5 → perfil classe 1 super compacto
2t f 2 ×16,7

h0 271,4
Alma: λb = λb = = 23,2 < 67 → perfil classe 1 super compacto
t0 11,7

M dres = φb Zf y M dres = 0,9 × 870 × 25 = 19575 kN .cm = 195,75 kN.m

2. Calcular o momento resistente de projeto de um perfil soldado VS (400 × 49) em aço


MR250, com contenção lateral contínua. O perfil é compacto. Não havendo valores
tabelados de Z, pode adotar-se em perfis I a relação aproximada (Z ≈ 1,12W).

ho=381mm; to=6,3mm; bf=200mm; tf=9,5mm; Wx=870cm3.

Flambagem local

bf 200
Mesa: λb = λb = = 10,5 < 11 → perfil classe 2 compacto
2t f 2 × 9,5

h0 381
Alma: λb = λb = = 61 < 67 → perfil classe 1 super compacto
t0 6,3

Conclusão: o perfil é compacto, classe 2

M dres = φb Zf y ≅ φb (1,12W ) f y M dres = 0,9 ×1,12 × 870 × 25 = 21924 kN .cm = 219,24 kN.m

3. Calcular o momento resistente de projeto de um perfil soldado VS (1400 × 260) em aço


MR250, com contenção lateral contínua. O perfil é não compacto (classe 3) devido aa
dimensões da mesa.

ho=1368mm; to=12,5mm; bf=500mm; tf=16mm; Wx=14756cm3.


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 96

Flambagem local

bf 500
Mesa: λb = λb = = 15,6 < 39k onde k=0,62 para perfil soldado
2t f 2 ×16

então 39k = 39 × 0,62 = 24 → perfil classe 3 não compacto

h0 1368
Alma: λb = λb = = 109,4 < 160 → perfil classe 3 não compacto
t0 12,5

M p = 1,12 ×14756 × 25 = 413168 kN .cm = 4131,7 kN.m

M r = 14756 × (25 − 11,5) = 199206 kN .cm = 1992,1 kN.m

λb = 15,6 λbr = 24 λbp = 11

15,6 − 11
M n = 4131,7 − × (4131,7 − 1992,1) = 3374,6 kN .m
24 − 11

M dres = φb M n = 0,9 × 3374,6 = 3037,1 kN .m

8.2.3. Resistência à flexão de vigas sem contenção lateral contínua

Flambagem lateral de viga simplesmente apoiada com momento fletor constante

• Resistência à flexão de vigas sem contenção lateral contínua

O fenômeno da flambagem
lateral pode ser entendido a partir da
flambagem por flexão de uma coluna.
Em uma viga, o momento fletor que
causa flambagem lateral depende da
esbeltez da mesa comprimida no seu flambagem
lateral
próprio plano. A flambagem da mesa no
plano da alma é impedida pela própria Figura: Flambagem lateral de viga com contenção
lateral que impede o tombamento do perfil.
alma.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 97

Categorias de vigas sem contenção lateral

a) vigas curtas: o efeito da flambagem lateral pode ser desprezado. A viga atinge o
momento defino por escoamento ou flambagem local;

b) vigas longas: atingem o estado limite de flambagem lateral em regime elástico, com
momento crítico Mcr.

c) vigas intermediárias: as vigas intermediárias apresentam estado limite de flambagem


lateral inelástica, a qual é muito influenciada por imperfeições geométricas da peça e
pelas tensões residuais embutidas durante o processo de fabricação da viga.

Flambagem lateral de viga simplesmente apoiada com momento fletor constante

Para a solução da flambagem lateral de vigas simplesmente apoiadas com momento


fletor constante, admite-se contenção lateral nos extremos.

π π2
M cr = EI y GJ + EI y ECw
L L2

onde:
L = comprimento da viga
Iy = momento de inércia em torno do eixo y
J = constante de torção pura (Saint-Venant)
Cw = constante de empenamento

Para perfil I ou H duplamente simétrico, tem-se:

Iy
J=
1
3
(
2b f t 3f + h0t03 ) Cw = (h − t f )
2

Resistência à flexão de vigas I com dois eixos de simetria no plano da alma.

O momento resistente nominal depende do comprimento sem contenção lateral (lb)

a) viga curta:
M r = M p = Zf y

E
condições para se ter viga curta: lb ≤ lbp = 1,75 i y
fy

onde iy é o raio de giração em torno do eixo de menor inércia


para: aço MR250: lbp = 50iy; aço AR350: lbp = 43iy;
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 98

b) viga longa

O momento resistente nominal é próprio momento crítico Mcr.


β1 β2
M n = M cr = Cb 1+
lb  lb 
2

iy  i 
 y
π 2 EA
onde: β1 = π EAGJ β2 = (h − t ) f
2

4 GJ
Cb = é o coeficiente que leva em conta o efeito favorável de o momento não ser
uniforme no segmento lb, dado por:
2
M  M 
Cb = 1,75 + 1,05  1  + 0,3  1  ≤ 2,3
 M2   M2 

sendo M1 e M2 os momentos nas extremidades do trecho sem contenção lateral,


M1<M2. Os momentos M1 e M2 têm o mesmo sinal. Quando produzem curvatura
reversa na viga e sinais opostos em caso de curvatura simples.

C b= 1

M1 = 0
M1 M2 M2 = M M1
M M2

Figura: condições para determinação do coeficiente Cb.

Adota-se Cb = 1 nas vigas em balanço e quando o momento num trecho


intermediário do trecho lb é maior que M1 e M2. Além disso, Cb deve ser igual a 1 quando
há carregamento aplicado ao longo do trecho não contraventado. Em qualquer caso, pode-
se tomar Cb = 1, que estará correto ou a favor da segurança.

Mn
viga viga viga
curta intermediária longa
escoamento flambagem flambagem
ou flambagem inelástica elástica
Mp local

Mr M cr
M1 M2
lb

M1 M2
lb

lb
l bp lbr
Figura: Momento nominal de ruptura de vigas por flambagem lateral
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 99

2
  
2
Expressão aproximada para obtenção de  
 0,69 E  9,7 E 
M n = M cr = CbWx   + 
Mcr segundo a NBR 8800
 lb h    lb  
2
 bt   
 f f    iT  

onde: iT é o raio de giração da seção formada pela mesa


comprimida mais 1/3 da região comprimida da alma t f b 3f
iT = 12
(aproximadamente igual a 1/6 da área total da alma), calculado em h0t0
t f bf +
relação ao eixo situado no plano médio da alma. 6

Condição para se ter viga longa: lb > lbr

i y C b β1 4β 2
lbr = 1+ 1+ M r2
2M r Cb β 1
2 2

Com o momento crítico calculado pela expressão simplificada acima, chega-se à:


2
 
lbr =
19,9 iT2 h 1
1+ 1+ X 2 com X=
40,75
( f y − f r ) iT h 

bf t f X Cb E  bf t f 

b) viga intermediária

Neste caso Mn é obtido por interpolação linear entre Mp e Mr.


lb − lbp
M n = M p − (M p − M r ) com: M r = Wx ( f y − f r )
lbr − lbp

onde: fr = tensão residual considerada igual a 115 MPa.

Condição para se ter viga intermediária: lbp < lb < lbr

Exemplos:

1. Comparar os momentos resistente de projeto de uma viga I (457 × 89,3) (18”) com uma
viga soldada VS (500 × 86), de mesmo peso próprio aproximadamente, supondo as vigas
contidas lateralmente. Aço MR250.

Solução:

a) viga laminada I (457 × 89,3) (18”)


bf =154,6 mm; tf =17,6 mm; h0 =422 mm; t0 =13,9 mm;
bf 154,6
flambagem local da mesa: λb = = = 4,4 < 8,5 → super-compacto: classe 1
2t f 2 × 17,6
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 100

h0 422
flambagem local da alma: λb = = = 30,3 < 67 → super-compacto: classe 1
t0 13,9

O perfil é supercompacto (classe 1)


Módulo resistente Wx = 1541 cm3 Módulo plástico: Z ≅ 1,12 × Wx

Momento resistente de projeto: M dres = φb Z f y com φb = 0,90

kN
M dres = 0,9 × 1,12 × 1541cm3 × 25 = 38833 kN .cm
cm 2
b) viga soldada VS (500 × 86)
bf 250
flambagem local da mesa: λb = = = 7,8 < 8,5 → supercompacto: classe 1
2t f 2 × 16

h0 468
flambagem local da alma: λb = = = 74 < 100 → compacto: classe
t0 6,3

2
O perfil é compacto (classe 2)
Módulo resistente Wx = 2090 cm3 Módulo plástico: Z ≅ 1,12 × Wx

Momento resistente de projeto: M dres = φb Z f y com φb = 0,90

kN
M dres = 0,9 × 1,12 × 2090 cm3 × 25 = 52668 kN .cm
cm 2
Conclusão: O perfil soldado tem altura maior que o perfil laminado de peso equivalente e,
sendo compacto, possui maior eficiência à flexão.

2. Um perfil VS (400 × 49) foi P P P P

A B C D E
selecionado para uma viga contínua
4 4 4 4
de quatro vãos de 8m, conforme
8m 8m 8m 8m
ilustrado na figura. A viga é de aço
MR250 e só possui contenção M = 0,161PL

lateral nos apoios. Calcular a


M = 0,107PL
máxima carga P permanen-te a ser M = 0,17PL

aplicada nos vãos da viga (γf=1,3).


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 101

Solução:
ho=381mm; to=6,3mm; bf=200mm; tf=9,5mm; Wx=870cm3.

t f b 3f 0,95 × 203
iT = 12 iT = 12 = 5,25 cm
h0t0 0,63 × 38,1
t f bf + 0,95 × 20 +
6 6

Classificação quanto a flambagem lateral: lb = 800cm


Cb = 1 (o momento máximo ocorre em seção não contraventada lateralmente)
2
  2
 5,25 × 40 
X=
40,75
( f y − f r ) iT h 

X=
40,75
× (25 − 11,5) ×   = 3,28
Cb E  bf t f  1,0 × 20500  0,95 × 20 

19,9 iT2 h 1 19,9 × 5,25 2 × 40 1


lbr = 1+ 1+ X 2 lbr = 1 + 1 + 3,28 2 = 741 cm
bf t f X 0,95 × 20 3,28
Como lb > lbr , a viga é longa, portanto, o momento resistente de projeto é:
2
  
2
 
 0,69 E  9,7 E 
M dres = φv CbWx   +
 lb h    lb  
2
 b t   
 f f    iT  
2
2  
   
 0,69 × 20500   9,7 × 20500 
M dres = 0,9 ×1,0 × 870 ×   + = 9393 kN .cm
 800 × 40 20 × 0,95    800 
2

  
 5,25  

Mmáx = 0,17Pl = 0,17×800 = 136P


Admitindo-se carga do tipo permanente, calcula-se Md com γf =1,3.
Assim, Md =1,3×136P =176,8P
Igualando-se os momentos solicitante e resistente de projeto, obtém-se o máximo valor de
P.
Md = Mdres =176,8P = 9393 → P = 53,1 kN
Estado Limite de Utilização: flecha máxima:
PL3 53,1 × 83
δ = 0,012 δ = 0,012 × = 0,009 m = 9 mm
EI 2,05 × 108 × 17393 × 10 −8
Limite de flecha pela NBR 8800 – barra suportando piso:
L 800
δ max = = = 2,2 cm = 22 mm > δ portanto, atende.
360 360
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 102

3. Admitindo-se que na viga do problema anterior as cargas concentradas P sejam


aplicadas por vigas transversais apoiadas nos centros dos vãos, calcular o momento fletor
resistente na região do momento máximo solicitante.

Solução: com contraventamento lateral nos apoios e nos pontos de aplicação das cargas
concentradas, tem-se lb = 400 cm e Cb > 1.

M1
Cálculo de Cb. Trecho AB: =0 → Cb = 1,75
M2

M 1 0,161
Trecho BC: = = 0,95 → Cb = 30 > 2,3 → Cb=2,3
M 2 0,170

Cálculo dos comprimentos limites lbp e lbr.

E 20500
lbp = 1,75 i y lbp = 1,75 × 4,52 × = 226 cm
fy 250

3,28 3,28 19,9 × 5,252 × 40 1


X= = = 1,87 lbr = 1 + 1 + 1,87 2 = 1089 cm
Cb 1,0 0,95 × 20 1,87
A viga é do tipo intermediária: lbp < lb < lbr 226cm < 400cm < 1089cm
O momento resistente no vão lateral é obtido por interpolação entre Mr e Mp.
M r = Wx ( f y − f r ) M r = 870 × (25 − 11,5) = 11745 kN .cm

fr = tensão residual considerada igual a 115 MPa.


M p = Z. f y M p = 1,12 × 870 × 25 = 24265 kN .cm

lb − lbp
M n = M p − (M p − M r )
lbr − lbp

400 − 226
M n = 24265 − (24265 − 11745) × = 21741 kN .cm
1089 − 226
M dres = φb .M n M dres = 0,9 × 21741 = 19567 kN .cm = 195,7 kN.m.
Conclusão: com as novas condições de contenção lateral, a viga do problema anterior teve
um grande acréscimo de momento resistente: (195,7 > 93,9) kN.m.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 103

8.3. Dimensionamento da alma das vigas

8.3.1. Conceitos

As almas das vigas servem principalmente para ligar as mesas e absorver os


esforços cortantes.

Nos perfis laminados, as almas são pouco esbeltas (h0/t0 moderado), tendo
geralmente resistência à flambagem suficiente para atender aos esforços solicitantes, de
modo que a resistência é determinada pelo escoamento ao cisalhamento do material (fv ≈
0,6fy).

Nos perfis fabricados, as almas são geralmente mais esbeltas (h0/t0 elevado), de
modo que a resistência da viga limitada pela flambagem alma. Nestes casos, para aumentar
a resistência à flambagem, utilizam-se enrijecedores transversais.

8.3.2. Tensão de cisalhamento

As tensões de cisalhamento (τ) em peças de altura constante, solicitadas por esforço


cortante (V), são dadas pela conhecida fórmula da Resistência dos Materiais:
VS
τ=
tI
onde:
t = espessura da chapa no ponde onde se mede a tensão
S = momento estático referido ao centro de gravidade da seção bruta, da parte da área da
seção entre a borda e o ponto onde se mede a tensão
I = momento de inércia da seção bruta, referido ao centro de gravidade respectivo

Para o cálculo das tensões solicitantes de cisalhamento utiliza-se a relação:

Vd
τd =
Aw

onde: Vd = esforço de cisalhamento solicitante de cálculo


Aw = área efetiva de cisalhamento dada por:
ht0 em perfis laminados
h0t0 em perfis soldados
2/3 Ag em perfis de seção retangular cheia
¾ Ag em perfis de seção circular cheia
½ Ag em perfis tubulares de seção circular
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 104

τ τmax τ max

3 4
τ max = τ méd τ max = τ méd
2 3

8.3.3. Vigas I com um ou dois eixos de simetria sem enrijecedores

Vigas I com valores moderados de h0/t0.

Para vigas I com alma pouco esbelta (valores baixos de h0/t0), a flambagem da alma
por cisalhamento não é determinante (o material entra em escoamento para cargas
inferiores à carga crítica de flambagem). Os valores limites de h0/t0 para esta categoria de
almas são dados pela expressão.

h0 E
≤ 2,5
t0 fy

para aço MR250 = 71 aço AR345 = 60

Esforço cortante resistente de cálculo é dado por:

Vdres = φv Aw (0,6 f y ) com φv = 0,9

Vigas I com valores elevados de h0/t0.

Em vigas I com valores h0/t0 superiores elevados, a resistência ao cisalhamento é


reduzida por efeito da flambagem da alma.

Esforço cortante resistente de cálculo é dado por:

Vdres = φv Aw (0,6 f y )Cv

flambagem elástica:

h0 E 7,97 E
para > 3,23 Cv = 2
t0 fy
f y  
h0
 t 0 

para aço MR250 = 92 aço AR345 = 79


Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 105

flambagem inelástica:

E h0 E 2,5 E
para 2,5 < ≤ 3,23 Cv =
fy t0 fy h0 fy
t0

O limite superior de h0/t0 é dado pela seguinte equação com tensões em MPa:

 h0  0,48E
  =
 t 0  max f y ( f y + 115)

para aço MR250 = 326 aço AR345 = 247

Na prática, as relações h0/t0 de vigas sem enrijecedores transversais intermediários


são limitados aos seguintes valores:

edifícios (AISC) h0/t0 ≤ 260 pontes (AASHTO) h0/t0 ≤ 150

Exemplo:

Calcular a carga máxima permanente q (kN/) que pode ser aplicada na viga da figura, com
vão de 6m, contida lateralmente. Dados: aço MR250; perfil soldado VS (500×86). A seção
da viga é compacta; classe 2.

VS (500 x 86)

q (kN/m)
6.3mm
500mm

L (m)
16mm

250mm
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 106

Solução:

a) Flexão – Estado Limite de Último

Momento fletor resistente: seção compacta, viga contida lateralmente.

Wx = 2090 cm3 Zx = 1,12 Wx Ix = 52250 cm4

M dres = φ b Zf y com φb = 0,9

M dres = 0,9 × 1,12 × 2090 × 25 = 52668 kN .cm = 526,7 kN.m

Momento fletor solicitante de projeto

qd L2 qd 6 2
Md = Md = = 4,5qd
8 8

Igualando Mdres = Md, determina-se o valor de qd:

526,7 kN
4,5qd = 526,7 qd = = 117
4,5 m

b) Cisalhamento – Estado Limite de Último

Esforço cortante resistente de cálculo (viga sem enrijecedores intermediários)

E h0 E h 
2,5 < ≤ 3,23 71 <  0 = 74  < 92
fy t0 fy  t0 

2,5 E 2,5 205000


Cv = Cv = = 0,97
h0 fy 74 250
t0

área da alma Aw = h0 × t f Aw = 46,8 × 0,63 = 29,48 cm 2

Vdres = φ v Aw (0,6 f y )Cv Vdres = 0,9 × 29,48 × 0,6 × 25 × 0,97 = 386 kN

Esforço cortante solicitante de cálculo

qd L qd × 6
Vd = Vd = = 3qd
2 2

Igualando Vdres = Vd, determina-se o valor de qd:

386 kN
3qd = 386 kN qd = = 128,7
3 m
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 107

c) Deslocamento – Estado Limite de Utilização

Deslocamento máximo permitido pela NBR 8800

L 6
δ max = δ max = = 0,02 m
300 300

Deslocamento no meio do vão

5qd L4 5q d 6 4
δ = δ = −8
= 1,58 × 10 −4 qd
384 EI 384 × 2,05 × 10 × 52250 × 10
8

Igualando δmax = δ, determina-se o valor de qd:

0,02 kN
1,58 × 10 −4 qd = 0,02 qd = −4
= 126,6
1,58 × 10 m

Conclusão: a carga permanente máxima qd = 117 kN/m foi determinada pela flexão, no
estado limite de último.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 108

APÊNDICE

Momento fletor máximo de vigas

Viga Força Cortante Momento fletor

Vmax = P M max = − PL
L

q (kN/m)
qL2
Vmax = qL M max = −
2
L

P
P PL
Vmax = M max =
2 4
L/2 L/2

P Pb
A
VA =
B L Pba
M max =
a b Pa L
L
VB =
L

q (kN/m)

qL qL2
Vmax = M max =
2 8
L

M
M
Vmax = M max = − M
L
L

M M
VA = −
L
A B M max = − M
M
L VB = +
L
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 109

Deslocamentos máximos em vigas

Viga Deslocamento vertical máximo

P
PL3
vmax v max =
L
3EI

q (kN/m)
qL4
vmax v max =
L
8EI

P
PL3
vmax v max =
L/2 L/2
48EI

P a>b
x 3
Pb( L − b )
2 2 2
L2 − b 2
vmax v max = x=
a b 9 3EI 3

q (kN/m)
5qL4
vmax v max =
L
384 EI

M
ML2
v max =
vmax 2 EI
L

x M
ML2 L
v max = x=
9 3EI 3
L
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 110

Características geométricas de figuras planas

Figura Área CG Momento de Inércia Módulo Resistente


y

CG h h4 h3
h
x h2 xCG = y CG = Ix = Iy = Wx = W y =
2 12 6
h

b b ⋅ h3 b ⋅ h2
xCG = Ix = Wx =
2 12 6
b⋅h
CG
h x

h h ⋅ b3 h ⋅ b2
yCG = Iy = Wy =
2 12 6
b

D
π ⋅ D2 D π ⋅ D4 π ⋅ D3
CG
=r Ix = Iy = Wx = W y =
x
4 2 64 32

π (D 2 − d 2 )
D π (D 4 − d 4 ) π (D 3 − d 3 )
d
CG
D 4 Ix = Iy = Wx = W y =
x
2 64 32

y
b b ⋅ h3 b ⋅ h2
xCG = Ix = Wx =
h
CG
b⋅h 3 36 12
x
h/3
2 h h ⋅ b3 h ⋅ b2
b/3
yCG = Iy = Wy =
b
3 36 12
y

x CG =
B Ix =
ah 3 B 3
+
12 12
H − h3 ( ) Wx =
ah 3
+
B
H 3 − h3( )
CG ah + B(H − h) 2 6H 6H
H h x
a
H
y CG = ah 3 B 3 a 3h B 2
2 Iy = + [H − h] Wy = + (H − h )
12 12 6B 6
B

B
xCG = 1
[ ]
B
y
2 Ix = (B − b )c 3 + bh 3 − y12 A Ix Ix
3 W x ,sup = Wx ,inf =
1 (B − b )c 2 + bH 2
c
y´1 (B − b )c + bH y1′ = y1′ y1
[ ]
CG

2 (B − b )c + bH 1 3
Iy = B c + b 3 (H − c )
x

[ ]
H
1 3
y1
y1 = H − y1′ 12 Wy = B c + b 3 (H + c )
6B
b

CG
H h H BH 3 − bh 3 BH 3 − bh 3
x
BH − bh y CG = Iy = Wx =
2 12 6H
b
B
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 111

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – (ABNT). Projeto e


execução de estruturas de aço de edifícios: método dos estados limites - NBR 8800.
Rio de Janeiro: 1986. (NB14).

PFEIL W., PFEIL M. Estruturas de aço: dimensionamento prático. 7ed. Rio de Janeiro,
LTC, 2000.

PINHEIRO, A. C. F B. Estruturas metálicas: detalhes, exercícios e projetos. 2ed. São


Paulo, Edgard Blücher, 2005.
Estruturas Metálicas, de Madeiras e Especiais Ricardo Gaspar 112

TABELAS

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