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Manual Audiovisual PDF
Manual Audiovisual PDF
ao audiovisual
cinema, tv, vod e games
Trópicos
Utópicos
Série documental
5 episódios de 40 minutos
apoio
manual de financiamento
ao audiovisual
cinema, tv, vod e games
realização
12
sumário
introdução
As políticas públicas brasileiras A União (e cada Estado ou muni- estadual, o tributo a que ele se
voltadas à atividade de produção cípio) pode, além disso, dispor de refere será estadual (basicamente
e comercialização de conteúdos mecanismos de fomento direto ou ICMS); e se o mecanismo de incen-
audiovisuais sustentam-se sobre de fomento indireto à produção tivo fiscal em questão for municipal,
dois pilares: pelo primeiro, que audiovisual. Um mecanismo de o tributo a que ele se refere será
chamamos de “fomento”, o Estado fomento direto pode, a propósito, municipal (basicamente ISS e
disponibiliza direta e indiretamente ser combinado com um de fomento eventualmente IPTU).
recursos para aumento na oferta indireto para financiar a produção
Qualquer que seja o mecanismo de
de obras brasileiras independentes de uma mesma obra audiovisual
financiamento à produção audio-
− obras essas que, na ausência de brasileira independente (há exce-
visual a ser utilizado (oriundo de
tais recursos, seriam produzidas ções a isso).
fomento direto ou indireto; federal,
em quantidade muito menor −; pelo
Políticas de fomento direto são estadual ou municipal), é essencial
segundo, que chamamos de “co-
aquelas por meio das quais o identificar quem é o contribuinte
tas”, o Estado cria, em determina-
Estado aporta recursos públi- que pode se beneficiar dele e
dos segmentos do mercado audio-
cos (produto da arrecadação quais os benefícios que ele oferece
visual (“janelas”) uma obrigação de
de tributos – com destaque a tal contribuinte.
que certas empresas que comuni-
para a Contribuição para o
cam conteúdos audiovisuais (salas A empresa ou pessoa física inte-
Desenvolvimento da Indústria
de exibição, canais de televisão por ressada em utilizar um mecanismo
Cinematográfica Nacional
assinatura) demandem e incluam de fomento para financiar a realiza-
(Condecine) –, multas etc.) para
em sua programação uma quanti- ção de obras audiovisuais precisa
viabilizar a produção de obras
dade mínima de obras brasileiras compreender isso para planejar
audiovisuais, a exemplo das
independentes − obras essas e gerir os benefícios que poderá
promovidas pelo Fundo Setorial
que, na ausência de tais recursos, utilizar. A depender dos benefícios
Audiovisual (FSA) em âmbito
teriam menor alcance de público. ou vantagens permitidos por cada
federal.
Este livro presta-se a tratar das po- um desses mecanismos, podemos
líticas voltadas ao fomento, isto é, Políticas de fomento indireto são classificá-los como de patrocí-
à produção de obras audiovisuais aquelas por meio das quais o nio, investimento, coprodução ou
brasileiras independentes. Estado renuncia (no todo ou em empréstimo.
parte) à arrecadação de determi-
No Brasil, um Estado Federativo, Em um mecanismo de patrocínio, o
nado tributo (que normalmente
pode haver políticas de fomento ao beneficiário (chamado patrocina-
arrecadaria) caso o contribuinte
audiovisual no âmbito da União (fe- dor) que decidir aportar recursos
daquele tributo decida aportar
deral), dos Estados (há em alguns para produção de uma obra audio-
recursos para viabilizar a produção
deles) e dos municípios (também visual brasileira independente terá
de obras audiovisuais. Chamamos
há em alguns deles), as quais como contrapartida sua logomarca
a isso incentivo fiscal. Se o me-
podem representar a oportunidade associada àquela obra. São exem-
canismo de incentivo fiscal em
de utilização combinada de dife- plos dele mecanismos locais, como
questão for da União, o tributo
rentes fontes de recurso em uma o ProAC do Estado de São Paulo e
a que ele se refere será federal
mesma obra audiovisual brasileira o abatimento de ISS no município
(basicamente Imposto de Renda
independente (há exceções a isso, do Rio de Janeiro, e o artigo 1ºA da
ou Condecine); se o mecanismo
sobretudo quando Estados e mu- Lei do Audiovisual.
de incentivo fiscal em questão for
nicípios utilizam recursos transfe-
ridos pela União para consecução
dessas políticas).
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Quando estivermos diante de um Mas isso não é só: com tantos me- Além do acesso às fontes de dis-
mecanismo de investimento, o canismos como temos em nosso tribuição, os produtos brasileiros
beneficiário (chamado investidor) país, o mais importante para o pro- podem se realizar em coprodução
que decidir aportar recursos para dutor audiovisual brasileiro, e que com produtores de outros países.
produção de uma obra audiovisual quase nenhuma publicação aborda, Essa é a forma mais adequada
brasileira independente terá como é ampliar sua visão para o plano de casar recursos de diferentes
contrapartida participar dos resul- global. No capitulo V deste manual territórios e permitir que produtos
tados financeiros da exploração apresentamos o modelo global de sejam nacionais em várias janelas.
comercial de tal obra, caso tal obra financiamento. Ora, o grande salto Outro dado importante é saber que,
dê resultados (além de, por via de para os produtores seria financiar nos Estados Unidos, por exemplo,
regra, poder ter sua logomarca seus filmes e séries com recursos os incentivos podem ser acessa-
vinculada a essa obra). São exem- de incentivo no Brasil e ter um dos por empresas de quaisquer
plos dele o FSA (fomento direto) e produto que gere receita global. países. Então o produtor audiovi-
o artigo 1º da Lei do Audiovisual No caso dos patrocinadores ou sual brasileiro pode captar seus
(fomento indireto). investidores, estes podem aplicar recursos no Brasil e filmar num
usando incentivos fiscais e tam- estado americano que ofereça
Um mecanismo de coprodução
bém conseguir uma difusão global incentivos, por exemplo. O plane-
permite ao beneficiário (chamado
de sua marca. Em suma: a visão de jamento dessa operação do ponto
coprodutor financeiro) que decidir
“business” e potencial de mercado de vista societário, fiscal e regu-
aportar recursos para produção
do conteúdo tende a potencializar latório é parte importante para ter
de uma obra audiovisual brasileira
e muito o resultado do negócio. segurança nas filmagens e gozo de
independente ter como contrapar-
todos os benefícios possíveis.
tida a aquisição de um percentual Atentos a essa agenda foi que
dos direitos autorais patrimoniais o escritório Cesnik, Quintino e Este manual tem, portanto, por
inseridos nessa obra, o que pode Salinas abriu em 2015 seu escri- objetivos: (i) introduzir empresas e
abranger o direito de participar dos tório em Los Angeles, Califórnia. pessoas físicas interessadas em
eventuais resultados financeiros de Além de contribuir para que as coproduzir, patrocinar ou investir
tal obra, a aquisição de determina- empresas americanas possam na produção de obras audiovisuais
dos direitos de exploração dessa navegar com segurança em direito – incluindo games – ao universo de
obra e poder ter a logomarca dele brasileiro, a base possui time es- mecanismos disponíveis de fomen-
vinculada à obra. São exemplos pecializado para ajudar o produtor to que poderão utilizar e os benefí-
desse tipo os arts. 3º e 3º-A da brasileiro a colocar o seu produto cios que poderão auferir com essa
Lei do Audiovisual e o artigo 39, no mercado global. Escolher o utilização; (ii) oferecer às empresas
X da Medida Provisória que criou correto agente de representação, produtoras brasileiras realizadoras
a Agência Nacional de Cinema agente de venda ou o gerente de dessas obras audiovisuais uma
(Ancine). sua carreira é passo estratégico visão abrangente sobre a habilita-
para produtores, artistas e direto- ção e o acesso de seus projetos a
Um mecanismo de empréstimo,
res de cinema e televisão. O mes- tais mecanismos de fomento; (iii)
por fim, permite ao beneficiário
mo vale para os desenvolvedores ampliar a visão global dos players
(chamado mutuante) que decidir
de videogame que buscam acessar brasileiros nesse mercado, com
aportar recursos para produção
parceiros globais. intuito de estruturar o seu negó-
de uma obra audiovisual brasileira
cio da maneira mais econômica
independente ter direito à devolu-
e de forma a gerar os melhores
ção integral desses recursos, com
resultados.
ou sem a incidência de juros. É
exemplo dele o BNDES Procult. Boa leitura!
16
perguntas e respostas
por que patrocinar ou O audiovisual é a área de expres- E tem mais: diferente dos incen-
são artística que mais possui tivos das demais áreas, que têm
investir no audiovisual? incentivos no Brasil. Com uma uma série de limites de contraparti-
miríade de possibilidades no plano das (vide o debate recente envol-
federal, estadual e municipal, a vendo a Lei Rouanet e o retorno
atividade audiovisual basicamente dos patrocinadores), no audiovisual
é contemplada pelos incentivos as possibilidades de retorno em
das demais áreas culturais, tendo termos de marketing são bastante
um sem-número de mecanismos amplas. Em suma:
exclusivos.
– ao aplicar recursos incentiva-
Além disso, os mecanismos espe- dos no audiovisual, a empre-
cíficos do audiovisual, diferente sa pode ter retorno como
dos gerais que possuem somente patrocinadora, com retorno
as modalidades de patrocínio e de marca e promocional, além
doação, contemplam ainda a ver- da possibilidade de partici-
tente do investimento. Com isso, o par do retorno do filme como
incentivador pode aplicar recursos investidora;
e participar da receita do filme que
– todas as modalidades de
está financiando, por exemplo.
incentivo federais ao audiovi-
sual, sejam de patrocínio ou
investimento, preveem o aba-
timento de 100% do Imposto
de Renda devido. No caso do
artigo 1º da Lei do Audiovisual,
o benefício é ainda maior e
chega a 125% de retorno. É
isso mesmo: investem-se 100
e recuperam-se 125, só na
parte tributária.
– as contrapartidas ao patroci-
nador ou investidor são inú-
meras na Lei do Audiovisual,
tais como possibilidade de
product placement, merchan-
dising, marca no produto,
sessão exclusiva e muito mais.
Com isso a comunicação no
audiovisual, seja na TV, seja
no cinema, consegue ser
muito mais agressiva para as
marcas do que para o restante
das modalidades culturais.
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perguntas e respostas
1. Quais as vantagens de estrutu- 2. Qual a diferença entre fomento 3. Qual a diferença de atuação do
ração de medidas preventivas (de direto e indireto e as atuações ProAC ICMS e ProAC Editais (no
compliance anticorrupção, políti- dos artigos 1º e 1º A da Lei do âmbito do Governo de SP)?
cas internas de patrocínio, entre Audiovisual?
O ProAc ICMS funciona via in-
outros) para a minha empresa?
O fomento direto ao audiovisual centivo fiscal enquanto o ProAC
A estruturação visa adequar e ocorre quando há uma transferên- Editais via fomento direto. Por meio
fortalecer os sistemas de contro- cia de valores diretamente pelo do ProAC ICMS, o produtor pode,
les internos, mitigar os riscos de Estado – pelo órgão fomentador desde que tenha aprovado o pro-
acordo com a complexidade das (por exemplo, Secretaria de Estado jeto junto à Secretaria da Cultura,
atividades, assegurar o cumpri- da Cultura, Fundo Setorial do captar patrocínio de empresas que
mento de leis e normas vigentes e Audiovisual, Ancine, entre outros) poderão, por outro lado, descontar
também as internas, preservar a − ao projeto audiovisual aprovado o valor do investimento aporta-
imagem e a reputação institucional, pelo órgão, enquanto o fomento do do ICMS devido. Já o ProAC
preservar as relações de patro- indireto ao audiovisual se caracte- Editais são concursos públicos,
cínio, entre outras. Vale dizer que riza pela transferência de valores por meio dos quais a Secretaria
diversas empresas patrocinadoras/ de contribuintes de determinado seleciona projetos para diretamen-
investidoras já vêm inserindo cláu- tributo por meio de mecanismos te aportar dinheiro. Vale destacar
sulas anticorrupção nos contratos de incentivo fiscal ao audiovi- que os editais podem ser destina-
de patrocínio, fazendo com que as sual (como a Lei Rouanet e a Lei dos a diferentes linhas de atuação
produtoras se comprometam tam- do Audiovisual, por exemplo) ao e contam com regras próprias
bém a adotar práticas anticorrup- projeto audiovisual aprovado pelo (número de projetos selecionados
ção, por meio da estruturação dos Estado. e o valor pago a cada um deles, por
seus programas de integridade. exemplo).
Os artigos 1º e 1º A da Lei do
Audiovisual são mecanismos de fo-
mento indireto e diferem quanto à
sua forma de aplicação. Enquanto
o artigo 1º é uma forma de inves-
timento (concede ao contribuinte-
investidor uma participação nas
receitas da obra a ser produzida,
além do benefício fiscal), o artigo
1ºA é uma forma de patrocínio, pois
confere ao contribuinte-patroci-
nador um retorno em termos de
visibilidade da marca apoiadora,
além do benefício fiscal.
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4. O aporte pelo BNDES de 5. Uma produtora que desenvol- 6. Uma obra audiovisual pode
recursos não reembolsáveis, va, realize e comercialize games, ser financiada com recursos de
via artigo 1º ou 1º A da Lei do além de obras documentais e de incentivo fiscal em conjunto com
Audiovisual, a projetos audiovi- animação, poderá se inscrever no recursos do Fundo Setorial do
suais pode ser feito de maneira programa BNDES Procult? Audiovisual?
isolada ao BNDES Procult? Esse
Sim, desde que a produtora cum- Sim, pode haver composição de
aporte se confunde com o aporte
pra os requisitos exigidos pelo fontes de financiamento, obser-
proveniente do Edital BNDES de
programa, uma vez que o BNDES vados os limites legais de cada
Cinema?
Procult se destina a financiar di- mecanismo, tais como o limite de
Não, o aporte de recursos não versas áreas da economia criativa, aporte via artigo 3º, por exemplo,
reembolsáveis via artigo 1º ou inclusive jogos eletrônicos. a obrigação do pré-licenciamen-
1º A só poderá ocorrer de maneira to quando houver aporte pelo
associada e equivalente ao valor FSA etc.
financiado pelo BNDES Procult, o
que significa que, caso a empresa
tenha financiado a quantia mínima
de R$ 1.000.000,00, o BNDES ou
a instituição financeira credencia-
da poderá aportar o mesmo valor
por meio de investimento (art. 1º)
ou patrocínio (art. 1ºA), conforme
o caso, em projetos audiovisuais
aprovados pela Ancine, nos termos
da legislação regulatória aplicável.
E o aporte do BNDES Procult não
se confunde com aquele prove-
niente do Edital BNDES de Cinema,
sendo, portanto, fontes de finan-
ciamento distintas.
19
perguntas e respostas
7. Uma obra audiovisual cinema- 8. A inserção de medidas de
tográfica pode ter como coprodu- acessibilidade é obrigatória
tora uma empresa programadora apenas para os casos de proje-
e receber recursos oriundos do tos financiados com recursos
artigo 3º A? públicos?
Sim, embora o mecanismo previsto Não, pela Lei Brasileira de Inclusão,
no artigo 3º A seja destinado a toda a cadeia do entretenimento
empresas atuantes no segmento está obrigada a garantir as medi-
de televisão, em decorrência da das de acessibilidade para permitir
aquisição de direitos de transmis- o acesso das pessoas com defi-
são de eventos (culturais ou es- ciência, independente do financia-
portivos) realizados no exterior ou mento com recursos públicos.
obras audiovisuais para programa-
ção, o legislador optou por aplicar
a destinação dos valores de forma
ampla, seja no desenvolvimento
de projetos de produção de obras
cinematográficas brasileiras de
longa-metragem de produção inde-
pendente, seja na coprodução de
obras cinematográficas e videofo-
nográficas brasileiras de produção
independente de curtas, médias e
longas-metragens, documentários,
telefilmes e minisséries.
capítulo i
conteúdo audiovisual brasileiro
e independente
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capítulo i
conteúdo audiovisual brasileiro
e independente
“embora a lei do seac Em seus primeiros anos de exis- Por outro lado, o comando legal
tência, a Ancine exerceu de forma macro permitiu que a Ancine
fosse direcionada modesta sua competência regu- aprofundasse o conceito de “in-
apenas a um latória, sendo basicamente um dependência”, atingindo também
determinado segmento órgão de fomento. Dessa forma, o as relações comerciais desenvol-
mercado foi se desenvolvendo a vidas pela exploração dos direitos
de mercado (tv partir dos mecanismos de incenti- oriundos da titularidade do direito
fechada), a ancine vo focados na produção, mas não autoral (licença de distribuição,
incorporou o novo sem que a Agência fiscalizasse a licença de comunicação pública
atividade e coletasse informações etc.), criando, dessa forma, o con-
conceito para todo que mais tarde retornariam aos ceito de “Poder Dirigente”1 sobre
o seu ordenamento administrados, na forma de instru- a obra.
regulatório...” mentos regulatórios.
Alcançado o conceito de “Poder
Tendo como objetivo principal o Dirigente”, o papel regulatório da
fortalecimento e a sustentabilidade Ancine torna-se necessário para
da indústria nacional, a linha regu- que seus efeitos sejam implemen-
latória desenvolvida pela Ancine tados como base para toda a polí-
busca o aperfeiçoamento das tica publica do audiovisual, seja na
relações comerciais ente os elos política de financiamento público,
da cadeia, a partir da proteção dos seja na política de cotas.
diretos de autor e principalmente
A partir do panorama apresentado,
do fortalecimento da independên-
a análise detalhada de alguns con-
cia de produtoras e obras audio-
ceitos e sua evolução regulatória
visuais desenvolvidas. As obras
torna-se essencial para a correta
audiovisuais produzidas no Brasil
compreensão e utilização dos me-
se tornam finalmente potenciais
canismos de financiamento.
comerciais para seus titulares.
Cabe destacar que o próprio legis-
lador introduziu ao ordenamento o
conceito de independência de obra
audiovisual, porém caracterizando-
-a sob a ótica da titularidade dos
direitos patrimoniais e da relação
societária. Assim, o art. 1º, IV da
MP nº 2.228-1/2001 determina
como independente a obra produ-
zida por empresa produtora que
“não tenha qualquer associação
ou vínculo, direto ou indireto, com
empresas de serviços de radiodifu-
são de sons e imagens ou opera-
doras de comunicação eletrônica
de massa por assinatura”, devendo
obrigatoriamente ser “detentora
majoritária dos direitos patrimoniais
sobre a obra”.
23
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
i.a A obra audiovisual cinematográfica 1. “Poder Dirigente sobre o
Patrimônio da Obra Audiovisual:
ou videofonográfica será consi-
obra audiovisual derada brasileira ao atender aos
poder de controle sobre o
brasileira requisitos dispostos no artigo 1º,
patrimônio da obra audiovi-
sual, condição que permite ao
V, da Medida Provisória nº 2.228- detentor ou detentores utilizar,
“...é importante destacar 1/2001, conforme segue: fruir e dispor da obra, bem
como explorar diretamente ou
a possibilidade a. Ser produzida por empresa outorgar direitos para as diver-
sas modalidades de exploração
da realização de produtora brasileira, observa-
do o disposto no § 1o, registra-
econômica da obra ou de seus
uma codireção – da na Ancine, ser dirigida por
elementos derivados, condicio-
nado a que a outorga, limitada
participação de um diretor brasileiro ou estrangei- no tempo, não descaracterize a
titularidade e a detenção deste
diretor brasileiro e um ro residente no país há mais de
3 (três) anos, e utilizar para sua
poder.””
diretor estrangeiro...” produção, no mínimo, 2/3 (dois 2. Art. 1º, §1º, MP
2.228,-1/2001.
terços) de artistas e técnicos
brasileiros ou residentes no
Brasil há mais de 5 (cinco)
anos.
De acordo com a Medida
Provisória, será considerada
empresa brasileira aquela cuja
maioria do capital votante seja de
titularidade de brasileiros natos ou
naturalizados há mais de 10 anos
e estes exerçam de fato e direito o
poder decisório sobre a empresa2,
Ou seja, de acordo com o disposi-
tivo legal, as sociedades empresá-
rias constituídas por estrangeiros
seriam consideradas brasileiras,
para fins de financiamento público,
registro e outras finalidades pre-
vistas no texto, desde que fossem
titulares do capital da empresa até
o limite de 49% e não exercessem
atividades de gestão.
No final do ano de 2011, a Lei nº
12.485 (Lei do SeAc) foi promulga-
da como o marco legal da comu-
nicação audiovisual de acesso
condicionado e, para esse fim,
trouxe definição diversa do que
seria empresa brasileira, reduzindo
a participação de estrangeiros a
30% do capital social3.
24
Embora a Lei do SeAc fosse As funções que passaram a ser 3. Art 2º, XVIII, “c”, Lei
direcionada apenas a um deter- consideradas são: autor do argu- 12.485/2011.
minado segmento de mercado mento, roteirista, diretor ou diretor 4. Dispõe sobre o Registro
(TV fechada), a Ancine incorporou de animação, diretor de fotografia, de Obra Audiovisual Não
Publicitária Brasileira, a
o novo conceito para todo o seu inclusive no caso de animação 3-D, emissão de Certificado de
ordenamento regulatório, inclusive diretor de arte, inclusive de anima- Produto Brasileiro e dá outras
para as obrigações e mecanismos ção, técnico/chefe de som direto, providências.
de fomento previstos na Medida montador/editor de imagem, diretor 5. Por exemplo, se o mes-
Provisória nº 2.228-1/2001. musical/compositor de trilha ori- mo profissional atuar como
ginal, ator(es) ou atriz(es) princi- “roteirista” e “ator”, ele será
Em relação à nacionalidade do contabilizado duas vezes para
pal(is) ou dublador(es) principal(is), fins de observância do percen-
Diretor, é importante destacar a
no caso de animação, produtor tual mínimo de 2/3 de artistas
possibilidade da realização de
executivo, editor de som principal e técnicos exigido pela MP nº
uma codireção – participação de 2.228-1/2001 para que a obra
ou desenhista de som e mixador
um diretor brasileiro e um diretor audiovisual seja considerada
de som. como “brasileira”..
estrangeiro, desde que previamen-
te aprovado pela Ancine. Embora A Instrução Normativa nº 104
não haja nenhuma norma expressa também previu a possibilidade
a respeito do instituto da codi- de outras funções artísticas e
reção, a Ancine vem aplicando o técnicas, além das acima listadas,
entendimento de que não deve serem consideradas para fins de
haver hierarquia entre os diretores, cálculo de participação, cabendo
principalmente se prejudicial ao à Diretoria Colegiada da Ancine tal
diretor brasileiro, ou seja, ambos autorização. No entanto, prestado-
devem exercer as funções de di- res de serviços que não guardem
reção em igualdade de condições, valor técnico e artístico específico
não podendo o diretor brasileiro, da atividade de produção audiovi-
por exemplo, receber o crédito de sual, como por exemplo segurança,
“Assistente de Direção”. limpeza, transporte, alimentação,
ajudante, apoio administrativo e
Sobre a participação da equipe
figuração de elenco, foram ex-
técnica e artística, a MP nº 2.228-
pressamente excluídos do rol de
1/01 não trouxe qualquer defini-
funções aptas para atender ao
ção sobre quais funções seriam
percentual mínimo de 2/3.
consideradas para realização do
cálculo. Somente em 2012, com a b. Ser produzida por empre-
publicação da Instrução Normativa sa brasileira registrada na
nº 104 pela Ancine4, estabele- Ancine, nos casos em que haja
ceu-se a listagem de profissionais associação com empresas de
considerados para cálculo do outros países com os quais o
percentual mínimo de 2/3 previsto Brasil possui acordo de copro-
na legislação, determinando como dução cinematográfica.
parâmetro, ainda, o quantitativo de
pessoas, independente do acúmu-
lo de funções5.
25
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
aspectos gerais dos acordos
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
aspectos gerais dos acordos
A obra a que se refere a alínea b, de Coprodução Internacional, mo- na Instrução Normativa nº 106 da
acima é aquela que se torna brasi- mento no qual será demonstrado Ancine. Neste caso, também se
leira pela relação de coprodução à Ancine, órgão brasileiro compe- aplica a descrição das funções
com empresa sediada em país com tente, e à autoridade competente que compõem a fração de 2/3 feita
o qual o Brasil mantenha acordo de do país do coprodutor que a obra pela Instrução Normativa nº 104
coprodução. Nesses casos, a apro- audiovisual atende aos requisitos e mencionadas no item (a) acima:
vação dos projetos pela Ancine legais previstos. autor do argumento, roteirista, dire-
deverá observar as regras especí- tor ou diretor de animação, diretor
Para tanto, deverão ser encami-
ficas dos acordos de coprodução de fotografia, inclusive no caso de
nhados documentos como: roteiro,
(ver tabela nas páginas 21-22), e animação 3-D, diretor de arte, in-
contrato de coprodução firmado
também os procedimentos dispos- clusive de animação, técnico/chefe
entre as partes, indicação dos
tos na Instrução Normativa nº 106 de som direto, montador/editor
artistas e técnicos que participa-
da Ancine, que versa sobre o pedi- de imagem, diretor musical/com-
rão da obra, orçamento analítico
do de Reconhecimento Provisório positor de trilha original, ator(es)
diferenciando as rubricas de
de Coprodução Internacional. ou atriz(es) principal(is) ou dubla-
responsabilidade de cada um dos
dor(es) principal(is), no caso de ani-
Atualmente, o Brasil é signatário coprodutores e outros listados nos
mação, produtor executivo, editor
de 14 acordos de coprodução, acordos acima mencionados.
de som principal ou desenhista de
sendo 12 bilaterais e 2 multilaterais.
c. Ser produzida por empresa som e mixador de som.
O Senado aprovou uma Emenda
brasileira, quando em associa-
ao Convênio de Integração
ção com empresas de países
Cinematográfica Ibero-Americana
com os quais o Brasil não
para atualização de seu texto e
possua acordo de coprodução,
está aguardando a promulgação.
caso em que a produtora brasi-
O segundo Acordo Multilateral leira deverá possuir no mínimo
mencionado é o “Convênio de 40% dos direitos patrimoniais
Integração Cinematográfica sobre a obra, além de contar
Ibero-Americana”7, que tem como com pelo menos 2/3 de brasi-
objetivo a contribuição ao desen- leiros na equipe de artistas e
volvimento da atividade audiovisual técnicos para a realização da
dentro dos países signatários, com produção.
o estimulo à assinatura de acordos
O legislador previu também a pos-
de cooperação e coprodução e o
sibilidade de reconhecimento de
aperfeiçoamento dos sistemas e
coprodução internacional mesmo
mecanismos de financiamento da
em relações com empresas de
atividade cinematográfica.
países com os quais o Brasil não
Importante destacar que todas as mantém Acordo Internacional, esti-
obras audiovisuais produzidas em pulando, assim, uma regra geral.
regime de coprodução internacio-
Nesses casos, uma titularida-
nal a partir de acordos internacio-
de mínima de Direitos Autorais
nais precisam solicitar previamente
Patrimoniais é resguardada à parte
ao início das filmagens a aprova-
brasileira (mínimo de 40%), além
ção do Reconhecimento Provisório
da manutenção de percentual
mínimo de participação de equipe
artística e técnica, observadas as
regras procedimentais previstas
29
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
i.b A MP nº 2.228-1/2001 definiu “obra 6. Países signatários: Argentina,
Brasil, Colômbia, Costa Rica
brasileira independente” como
obra audiovisual brasi- aquela produzida por empresa
(por adesão), Cuba, Equador,
leira independente produtora que “não tenha qualquer
Espanha (por adesão), México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai
associação ou vínculo, direto ou (por adesão), Peru, República
“...a instrução normativa indireto, com empresas de serviços Dominicana, Uruguai (por ade-
nº 100 teve seu esco- de radiodifusão de sons e imagens
são) e Venezuela.
7. Países signatários: Argentina,
po de atuação amplia- ou operadoras de comunicação
eletrônica de massa por assinatura”,
Brasil, Colômbia, Bolívia,
do também à política devendo esta ser a detentora ma-
Cuba, Equador, Espanha (por
adesão), México, Nicarágua,
de fomento da ancine, joritária dos direitos patrimoniais Panamá, Peru, República
Dominicana e Venezuela.
causando, assim como sobre a obra.
a deliberação nº 95, Com o amadurecimento da legis-
lação aplicável, a Ancine passou
um grande impacto no a aprofundar o conceito de “inde-
mercado audiovisual pendência”, aplicando-o também
brasileiro...” no âmbito das relações comerciais
inerentes às obras audiovisuais.
Uma das primeiras medidas
adotadas e que causou grande
impacto no mercado audiovisual foi
a Deliberação nº 95/2010 que tem
como objeto o estabelecimento de
limitações e critérios à transferên-
cia de direitos patrimoniais e de
direitos de exploração comercial
de obras audiovisuais produzidas
com recursos de renúncia fis-
cal (recursos incentivados) cuja
destinação inicial seja o mercado
de televisão, radiodifusão de sons
e imagens (TV aberta) ou comu-
nicação eletrônica de massa por
assinatura (TV paga).
30
A Deliberação nº 95 teve como ob- c. os direitos patrimoniais rela- a. obras constituintes de espaço
jetivo equilibrar as relações entre tivos a elementos derivados qualificado – obras audiovi-
as produtoras e as empresas bene- da obra audiovisual, incluindo suais seriadas ou não seriadas
ficiárias de isenção tributária que marcas, personagens, enredo, dos tipos ficção, documen-
dispõem de recursos incentivados trilha sonora, entre outros, e tário, animação, reality show,
para investimento em obras audio- as receitas decorrentes da videomusical e variedades;
visuais, quando da coprodução de exploração comercial deles,
b. conteúdo brasileiro indepen-
obras audiovisuais realizadas em devem conferir à empresa
dente – conteúdo que se en-
contrapartida ao investimento de produtora proponente, no mí-
quadre como constituinte de
recursos através de mecanismos nimo, o percentual correspon-
espaço qualificado e que seja
de isenção fiscal, inclusive em rela- dente à partição de direitos
produzido por produtora brasi-
ção à repartição dos rendimentos patrimoniais sobre a obra;
leira independente, desde que:
comerciais futuros dessas obras.
d. os direitos dirigentes9 sobre o
b.1. o poder dirigente e o domínio
Aplicável às obras audiovisuais patrimônio da obra audiovisual
dos direitos patrimoniais ma-
produzidas com recursos decor- e seus elementos derivados,
joritários sobre a obra sejam
rentes dos mecanismos de incen- incluindo aí o direito de deci-
detidos por uma ou mais
tivo dispostos no artigo 39, X da são sobre realização de novas
produtoras brasileiras inde-
MP nº 2.228-1/2001 e nos arts. temporadas da obra seriada
pendentes (em caso de copro-
3º e 3ºA da Lei nº 8.685/1993, a ou nova produção da obra,
dução internacional, poderão
Deliberação 95 estabeleceu que: devem ser preservados em
ser detidos por empresas
poder da empresa produtora
a. os rendimentos decorrentes produtoras independentes, de
proponente.
da exploração comercial de qualquer nacionalidade);
tais obras devem conferir à Outro ato normativo que merece
b.2. as obras produzidas a partir
empresa produtora proponen- destaque ao falarmos de obras
de elementos ou criações in-
te, no mínimo, o percentual audiovisuais brasileiras indepen-
telectuais protegidas, preexis-
correspondente à partição dentes é a Instrução Normativa nº
tentes só serão consideradas
de seus direitos patrimoniais 100/2012, responsável pela regu-
independentes se o titular dos
sobre a obra, independente lamentação da Lei nº 12.485/2011
direitos patrimoniais sobre tais
do segmento de mercado e do (Lei do SeAC), que introduziu o
elementos e criações não tiver
território a ser explorado; conceito de “poder dirigente”.
relações de controle, coliga-
b. os direitos de comunicação A Instrução Normativa nº 100/2012, ção, associação ou vínculo
pública e exploração comer- posteriormente alterada pela com radiodifusoras, progra-
cial da obra, cedidos pela Instrução Normativa nº 121/2015, madoras ou empacotadoras.
empresa produtora à empresa não se restringiu apenas às obriga-
A exceção encontra-se no caso
emissora/programadora be- ções relacionadas ao cumprimento
de obras audiovisuais destinadas
neficiária da isenção tribu- de cotas, tendo seus comandos
inicialmente ao segmento de mer-
tária, para exibição em seus legais produzido reflexos em todo
cado de salas de exibição, uma vez
próprios canais de programa- o ordenamento jurídico de compe-
que, havendo autorização por es-
ção em todos os territórios tência da Agência, em especial à
crito no titular dos direitos sobre os
ficam limitados ao prazo de Política de Fomento, que integrou
elementos e criações intelectuais
5 anos, contados da emissão os seguintes conceitos:
protegidas e preexistentes que
do Certificado de Produto
permita a exploração econômica
Brasileiro da obra8;
31
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
pela produtora brasileira indepen- 8. Os direitos de exploração
dente da obra audiovisual sem comercial e comunicação
pública da obra podem ser
limitação no espaço e no tempo estendidos em períodos de
e sem que haja a necessidade de até 1 (um) ano quando houver
anuência a cada contratação, a investimento, por parte da
obra audiovisual será considerada empresa emissora/programa-
dora, em nova temporada da
como independente. obra audiovisual seriada ou de
uma obra audiovisual derivada.
Inicialmente aplicada apenas A extensão dos direitos de
às políticas de cota de progra- comunicação pública ou de ex-
mação introduzidas pela Lei nº ploração comercial fica limita-
12.485/2011, a Instrução Normativa da aos territórios e segmentos
de mercado contratados pela
nº 100 teve seu escopo de atua- empresa emissora/ programa-
ção ampliado também à política dora no contrato original.
de fomento da Ancine, causando, 9. A Deliberação nº 95 trouxe
assim como a Deliberação nº 95, pela primeira vez ao ordena-
um grande impacto no mercado mento jurídico da Ancine o con-
audiovisual brasileiro, levando à ceito que viria a ser implemen-
tado como “Poder Dirigente”.
alteração sistemática dos parâme-
tros de negociações comerciais
até então costumeiras e acarretan-
do o aumento do poder de nego-
ciação das produtoras brasileiras
independentes.
32
i
conteúdo audiovisual brasileiro e independente
A regulação de cota de tela intro- 10. Nos casos em que o projeto
duziu ao ordenamento obrigações de produção não está ampara-
do por acordo internacional e
a todos os agentes envolvidos, não sejam utilizados recursos
criando requisitos específicos públicos federais, o reconheci-
para classificação das obras nos mento provisório é dispensado.
parâmetros da Lei (obra brasileira, 11. Aqui, cabe mencionar que
obra brasileira independente etc.), quando a Instrução Normativa
contudo, tais regras passaram a n° 100 foi publicada, a
definição de poder dirigente
ser aplicadas extensivamente a gerou o entendimento de que,
todos os segmentos de mercado, para uma obra ser conside-
alcançando também as obras rea- rada como “obra audiovisual
lizadas em regime de coprodução brasileira independente”, a
produtora brasileira indepen-
internacional. dente deveria ser a detentora
majoritária dos seus direitos
Atualmente, pela norma vigente, patrimoniais, o que, como já
para que obras realizadas em re- foi mencionado, nem sempre
gime de coprodução internacional ocorre nos casos de coprodu-
sejam consideradas como “inde- ções internacionais.
pendentes”, o poder dirigente11 e o Assim, com base nesta
domínio dos direitos patrimoniais definição e na aplicabilidade
dos fundamentos da Lei nº
majoritários devem ser detidos por 12.485/2011 na atividade de
empresas produtoras indepen- fomento da Ancine, as obras
dentes, de qualquer nacionalidade, audiovisuais realizadas em
respeitados os limites mínimos de regime de coprodução, no qual
a produtora brasileira fosse mi-
participação do produtor brasileiro noritária, deixaram de ser con-
independente, estabelecidos seja sideradas como “brasileiras” e,
pela MP nº 2.228-1/2001 (mínimo consequentemente, de estar
de 40%) ou pelos acordos interna- aptas à captação de recursos
incentivados. Tal questão levou
cionais acima listados. a Ancine a atualizar a definição
Importante esclarecer, ainda, neste de “poder dirigente”, através da
Instrução Normativa nº 121.
ponto, que os recursos oriundos de
mecanismos federais de coprodu-
ção disponibilizados pela legisla-
ção brasileira (art 3ºA da Lei do
Audiovisual, por exemplo) integram,
por óbvio, o investimento da parte
brasileira. De certo, portanto, que a
coprodução firmada nesses casos
não será considerada como copro-
dução internacional, mesmo que a
empresa investidora beneficiária
do mecanismo de fomento seja
estrangeira.
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capítulo ii
financiamento indireto –
incentivo fiscal
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
apresentados pelos proponentes Mecanismos de investimento
quanto à sua adequação à legisla- Aqueles nos quais o contribuinte
ção vigente e então aprová-los ou do tributo, que transfere recursos
não. Por fim, também é função do para um projeto audiovisual fazen-
Estado acompanhar a execução de do uso da renúncia fiscal, torna-se
todos os projetos que, aprovados, investidor no projeto e, portanto,
vieram a obter financiamento, de faz jus a uma parcela do resultado
modo a garantir que os recursos econômico que vier a ser obtido a
aplicados na execução dos proje- partir daquele projeto;
tos atendam fielmente às finalida-
Mecanismos de patrocínio
des previstas pela legislação.
Aqueles nos quais o contribuinte
Contribuintes do tributo, que transfere recursos
Por fim, aos contribuintes cumpre para um projeto audiovisual fazen-
canalizar uma parcela do tributo do uso da renúncia fiscal, tem o
por eles devido a projetos audio- direito de expor o seu nome, marca
visuais previamente aprovados ou produto no âmbito do projeto
pelo Estado, na forma e condições audiovisual patrocinado, obtendo,
estabelecidas pela legislação, de assim, contrapartidas promocio-
modo a possibilitar a fruição dos nais ou publicitárias;
benefícios fiscais. Os contribuin-
Mecanismos de coprodução
tes têm o direito de escolher os
Aqueles nos quais o contribuinte
projetos que desejam financiar (ou
do tributo, que transfere recursos
até mesmo escolher se querem, ou
para um projeto audiovisual fazen-
não, financiar algum projeto) e, em
do uso da renúncia fiscal, passa
o fazendo, passam a ter direito ao
a ser coprodutor daquela obra e,
benefício fiscal.
como tal, possui participação nos
Na dinâmica de funcionamento direitos patrimoniais sobre a obra
dos incentivos, a iniciativa privada e no resultado da sua exploração
(por meio dos proponentes e dos comercial.
contribuintes) é chamada a parti-
cipar decisivamente do processo,
sempre sob supervisão e fiscaliza-
ção do Estado.
A partir disso, podemos classificar
os vários mecanismos de incentivo
fiscal existentes em três categorias,
a saber:
40
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
Benefício fiscal Financiador
Artigo 1º A
As empresas investidoras podem Assim como no artigo 1º, podem
abater os valores investidos como Trata-se de mecanismo de patrocí- utilizar o artigo 1ºA as empresas
despesa operacional (apenas para nio, o que, como já visto, significa brasileiras tributadas pelo lucro
fins de apuração do Imposto de que o contribuinte financiador ob- real e as pessoas físicas que
Renda), além de descontar a inte- tém contrapartidas promocionais e optarem pela declaração do IR no
gralidade do investimento feito do publicitárias em função do aporte formulário completo.
Imposto de Renda devido, obtendo, de recursos que faz ao projeto,
Benefício fiscal
assim, um retorno tributário de até não participando do seu resultado
O financiador pessoa jurídica
125% do valor aportado no projeto comercial.
poderá abater a totalidade do valor
(até o limite de 3% do imposto de-
O artigo 1º A foi introduzido na do Imposto de Renda devido até
vido). Exemplo: um investimento de
Lei do Audiovisual pela Lei nº o limite de 4% do imposto a pagar.
R$ 40 mil em um projeto gera uma
11.437/2006 e, por isso, o objeto Neste mecanismo, é vedado o lan-
redução tributária de R$ 50 mil
de sua utilização é mais amplo do çamento do aporte como despesa
ao contribuinte financiador. Além
que o do artigo 1º, em consonância operacional. As pessoas físicas
disso, como já afirmado, o inves-
com o advento das novas mídias também podem abater a totalidade
tidor se torna cotista do produto
digitais e visando à aproximação do aporte realizado, até o limite de
resultante e participa do resultado
entre produtoras brasileiras inde- 6% do imposto devido. O limite de
do projeto.
pendentes e o mercado de televi- isenção previsto para o mecanismo
Já os indivíduos podem abater são (aberta ou fechada). Assim é do artigo 1º A está associado ao
100% dos montantes aplicados aos que o artigo 1ºA possibilita o finan- limite previsto para a Lei Rouanet.
projetos, até o limite de 6% (seis ciamento dos seguintes tipos de
Limite do mecanismo para os pro-
por cento) do valor do Imposto de obras audiovisuais, cinematográ-
ponentes de projetos
Renda devido e também se tornam ficas e videofonográficas (sempre
O teto para utilização do artigo 1º A
cotistas da obra. brasileiras e independentes), nos
em um mesmo projeto audiovisual
seguintes formatos:
Limite do mecanismo para os pro- é de R$ 4 milhões de reais por
ponentes de projetos a. longa, média e projeto, o mesmo limite se aplican-
O teto para utilização do artigo curta-metragem; do para a utilização conjunta com
1º é de R$ 4 milhões de reais, por o mecanismo do artigo 1º, como
b. telefilme;
projeto. Na composição das fontes afirmado anteriormente.
de financiamento, o limite do meca- c. minissérie;
nismo é aplicado quando utilizado
d. obra seriada;
em conjunto com o mecanismo do
artigo 1º A, o qual será apresenta- e. programa para televisão de
do adiante. caráter educativo e cultural.
Como se pode perceber, o artigo
1º A possibilita a produção de um
leque mais amplo de formatos
de obras audiovisuais e voltado
também para outros segmentos
de mercado. Sua importância em
termos de utilização pelas produ-
toras tem crescido gradativamente,
desde sua criação.
42
Financiador
Artigo 3º Artigo 3º A
Empresas estrangeiras que
Trata-se de mecanismo de copro- recebam royalties decorrentes de Trata-se, assim como o artigo 3º,
dução que busca possibilitar a exploração de obra audiovisual no de mecanismo de coprodução que
aproximação entre agentes pró- Brasil (o benefício fiscal incide so- busca possibilitar a aproximação
prios do setor audiovisual. Assim é bre o imposto sobre esta remessa, entre agentes próprios do setor
que os contribuintes do Imposto de retido e pago no Brasil conforme audiovisual, em especial o mercado
Renda incidente sobre a remessa legislação que rege a matéria). de televisão (aberta ou fechada),
de royalties ao exterior (nos termos uma vez que se trata de benefício
Benefício fiscal
do artigo 13 do Decreto-Lei nº fiscal sobre o imposto devido por
A empresa contribuinte do Imposto
1.089/70, alterado pelo artigo 2º empresas ao adquirirem direitos
de Renda na forma descrita acima
da Lei do Audiovisual) em função de transmissão de eventos (cultu-
poderá verter até 70% (setenta
da exploração de obras audiovi- rais ou esportivos) realizados no
por cento) do imposto devido,
suais estrangeiras em território exterior ou obras audiovisuais para
calculado sobre o valor de cada
nacional, poderão beneficiar-se programação – tributo este que
remessa de valores que faz ao
de abatimento do imposto devido, pode ser vertido para a produção
exterior. Cabe assinalar, ainda, que
desde que invistam em projetos de obras nacionais independentes.
a legislação estabelece que a em-
aprovados neste mecanismo pela
presa que fizer uso do mecanismo Assim é que os contribuintes do
Ancine.
do artigo 3º da Lei do Audiovisual Imposto de Renda incidente sobre
No caso, o contribuinte se torna gozará também, automaticamente, a remessa de valores ao exterior
coprodutor do projeto audiovisual de não incidência da Condecine nos termos do artigo 72 da Lei nº
em parceria com a produtora brasi- Remessa (artigo 49, § único, da MP 9.430/96 poderão beneficiar-se
leira proponente do projeto. Dessa nº 2.228-1/2001). de abatimento do imposto devido,
forma, a empresa contribuinte ce- desde que invistam em projetos
Limite do mecanismo para os pro-
lebra com a produtora proponente aprovados neste mecanismo pela
ponentes de projetos
um contrato de coprodução pelo Ancine.
O teto para utilização do artigo 3º
qual, além de participação no even-
em um mesmo projeto audiovisual No caso, o contribuinte se torna
tual resultado comercial daquele
é de R$ 3 milhões de reais por coprodutor da produtora brasileira
determinado projeto, ela pode se
projeto, o mesmo limite se aplican- proponente do projeto audiovisual.
tornar licenciada de outros direitos
do para a utilização conjunta com o Na prática, por este mecanismo de
sobre a obra (direito de distribui-
mecanismo do artigo 3º A, confor- incentivo, o contribuinte celebra
ção, por exemplo).
me se verá adiante. com a produtora proponente um
O artigo 3º pode contemplar obras contrato de coprodução pelo qual,
cinematográficas e videofonográfi- além de participação no patri-
cas, nos seguintes formatos: mônio da obra, ela também pode
adquirir outros direitos inerentes
a. coprodução de obra cinema-
ao produtor (por exemplo, o direito
tográfica de longa, média e
de comunicação pública no canal/
curta-metragem;
emissora).
b. coprodução de telefilme;
c. coprodução de minissérie;
d. desenvolvimento de proje-
tos de produção de obras
cinematográficas.
43
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
O artigo 3º A pode ser utilizado Benefício fiscal
para desenvolvimento de projetos A empresa contribuinte do Imposto
de produção de obras cinemato- de Renda na forma descrita acima
gráficas brasileiras de longa-me- poderá verter até 70% (setenta por
tragem de produção independente cento) do imposto devido, calcula-
e na coprodução de obras cinema- do sobre o valor de cada remessa
tográficas e videofonográficas bra- de valores que faz ao exterior.
sileiras de produção independente Diferentemente do mecanismo
de curtas, médias e longas-metra- do Art 3º, não há previsão de não
gens, documentários, telefilmes e incidência da Condecine Remessa
minisséries. para o contribuinte que optar pela
utilização do mecanismo do Art
Financiador
3ºA.
O contribuinte do imposto sobre
o qual se confere este benefício Limite do mecanismo para os pro-
fiscal é, do ponto de vista jurídico, ponentes de projetos
a empresa estrangeira que recebe, O teto para utilização do artigo 3ºA
no exterior, os valores relativos à em um mesmo projeto audiovisual
aquisição do direito de transmissão é de R$ 3 milhões de reais por
dos eventos ou do direito de exibi- projeto, o mesmo limite se aplican-
ção de programas e obras audiovi- do para a utilização conjunta com
suais. A empresa que adquire tais o mecanismo do artigo 3º, como
direitos é responsável pela reten- visto anteriormente.
ção do tributo na fonte, efetuando
o pagamento do imposto em nome
da empresa estrangeira, conforme
legislação que rege a matéria. Em
função disso, o artigo 3ºA, § 1º,
da Lei do Audiovisual estabelece
que a empresa brasileira respon-
sável pelo recolhimento do tributo
tem direito de preferência para
a utilização do benefício (desde
que devidamente autorizada pelo
contribuinte).
44
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
Os Funcines deverão manter, no e. projetos de infraestrutura
Artigo 41 – Funcine
mínimo, dez por cento do seu realizados por empresas
Os Fundos de Financiamento da patrimônio aplicados em títulos brasileiras.
Indústria Cinematográfica Nacional emitidos pelo Tesouro Nacional e/
Transcorrido o prazo estabelecido
(Funcines) foram lançados no dia ou pelo Banco Central do Brasil. A
no regulamento para a realização
11 de novembro de 2003, a par- outra parcela do patrimônio será
dos investimentos nos projetos
tir regulamentação editada pela destinada a compra de direitos
previstos na MP nº 2.228, listados
Ancine (Instrução Normativa nº 17, patrimoniais (participação) em
acima, inicia-se a fase de liquida-
de 7 de novembro de 2003) e pela projetos aprovados pela Ancine.
ção dos ativos do fundo. Todos os
Comissão de Valores Mobiliários Caberá ao próprio fundo definir o
direitos que foram adquiridos e
(Instrução CVM nº 398, de 28 de portfólio de investimentos, sempre
continuem em carteira do Fundo
outubro de 2003) por força da pre- respeitando as normas de seu
serão oportunamente liquidados e
visão contida na Medida Provisória regulamento.
convertidos em dinheiro.
2.228-1/2001.
Para que os projetos possam ser
Completada a liquidação, termi-
Os Fundos de Investimento, por alvo de investimento e seleciona-
nado o prazo regulamentar do
sua natureza, canalizam recursos dos pelo Fundo, devem ser aprova-
Funcine, o saldo de numerário
administrados de forma organizada dos pela Ancine e poderão ter os
apurado será distribuído entre os
e profissional que buscam rentabi- seguintes objetivos:
cotistas do fundo, na proporção de
lidade. Os Funcines não são dife-
a. projetos de produção de sua participação em cotas.
rentes. A cada ano, esse instituto
obras audiovisuais brasileiras
pouco conhecido pelos opera- Caso haja remanescente de bens
independentes realizadas
dores do mercado financeiro vai e direitos a liquidar, esses bens
por empresas produtoras
ganhando força e “popularidade”. podem ser divididos proporcio-
brasileiras;
nalmente, detidos em condomínio
Esses fundos serão constituídos
b. construção, reforma e recu- entre os cotistas ou receber a des-
sob a forma de condomínio fe-
peração das salas de exibição tinação que deliberar a assembleia
chado, sem personalidade jurídica
de propriedade de empresas dos cotistas, na forma do regula-
e administrados por instituição
brasileiras; mento do Fundo.
financeira autorizada pelo Banco
Central do Brasil. c. aquisição de ações de empre- Não existe limite legal para uso
sas brasileiras para produção, desse benefício em projetos audio-
O patrimônio dos Funcines será
comercialização, distribuição visuais incentivados.
representado por cotas emitidas
e exibição de obras audiovi-
sob a forma escritural, alienadas
suais brasileiras de produção
ao público com a intermediação
independente, bem como para
da instituição administradora do
prestação de serviços de in-
Fundo.
fraestrutura cinematográficos
e audiovisuais;
d. projetos de comercializa-
ção e distribuição de obras
audiovisuais cinematográfi-
cas brasileiras de produção
independente realizados por
empresas brasileiras;
46
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
abater a totalidade do valor apor-
Artigo 18 Artigo 26
tado até o limite de 6% do Imposto
O artigo 18 da Lei Rouanet, em ma- devido, em cada período de apura- O artigo 26 da Lei Rouanet, por
téria audiovisual, beneficia projetos ção. Esses limites concorrem com sua vez, beneficia a produção
de produção de obras audiovisuais os limites estabelecidos para os dos seguintes formatos de obras
brasileiras, de produção indepen- mecanismos de incentivo previstos audiovisuais (conforme Instrução
dente, de curta ou média-metra- na Lei do Audiovisual. Normativa Ancine nº 22/2003):
gem, exclusivamente.
Como afirmado anteriormente, a a. telefilme;
Além disso, o artigo 18 também Lei Rouanet permite ao financiador
b. minissérie;
pode ser utilizado para projetos a opção pela realização do apor-
que tenham por objeto a realização te nas modalidades doação ou c. obra seriada;
de festivais nacionais ou interna- patrocínio, sendo vedada a fruição
d. programa para televisão de
cionais de cinema, ou ainda para de contrapartidas promocionais
caráter educativo e cultural;
projetos que prevejam doações de ou publicitárias no caso de doação.
acervos para cinematecas, bem Quanto ao benefício fiscal, contu- Cabe aqui lembrar que a Lei nº
como treinamento de pessoal e do, no artigo 18 não há distinção 11.437/2006 retirou do texto do
aquisição de equipamentos para a entre as modalidades, pois ambas artigo 25 da Lei Rouanet a pos-
manutenção desses acervos. permitem a dedução integral dos sibilidade de produção de obras
valores aportados aos projetos. cinematográficas de longa-metra-
Por fim, enquadram-se também no
gem, razão pela qual a produção
benefício fiscal do artigo 18 proje-
deste formato não mais é possível
tos que objetivem a preservação
pelos mecanismos previstos pela
e difusão do acervo audiovisual.
Lei Rouanet.
Além dos festivais, já mencionados,
podem entrar nessa modalidade de Além disso, a aprovação de pro-
incentivo quaisquer ações relacio- jetos de produção de obras nos
nadas à preservação e/ou exibição formatos acima se dá apenas no
pública de acervos audiovisuais, âmbito da Ancine, pois a Instrução
sejam eles brasileiros ou não, Normativa que dá fundamento
como mostras, festivais e outros. a este entendimento não possui
validade no âmbito do Ministério
Financiador
da Cultura. Assim, o Ministério da
Empresas brasileiras tributadas no
Cultura tem se declarado incom-
lucro real e indivíduos que optarem
petente para aprovação de obras
pela declaração do Imposto de
nos formatos minissérie, telefilme
Renda pelo formulário completo.
ou obra seriada, informando aos
Benefício fiscal proponentes que projetos dessa
O financiador, se pessoa jurídi- natureza devem ser submetidos à
ca, pode abater a totalidade do Ancine. Em nosso entendimento,
valor transferido ao projeto de seu o Ministério da Cultura não teria
Imposto de Renda devido, até o fundamento para agir dessa forma,
limite de 4% do imposto a pagar. considerando que o decreto que
Já os indivíduos também podem divide as competências entre
Ministério e Ancine (Decreto nº
4.456/2002) não dispõe nesse
sentido.
48
ii
financiamento indireto – incentivo fiscal
ii.e Com base na competência tribu-
tária estabelecida na Constituição
mecanismos estaduais Federal, os Estados e municípios
e municipais de incenti- podem criar mecanismos de incen-
vo ao audiovisual tivo relacionados aos impostos de
sua competência.
Os incentivos em âmbito es-
tadual baseiam-se no Imposto
sobre Operações Relativas à
Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços
de Transporte Interestadual,
Intermunicipal e de Comunicação
(ICMS) que, além dos Estados,
é também de competência do
Distrito Federal.
Os incentivos municipais, por sua
vez, relacionam-se ao Imposto
Predial e Territorial Urbano (IPTU)
e ao Imposto sobre Serviços de
Qualquer Natureza (ISS), que são
de competência dos municípios.
Assim como ocorre em âmbito fe-
deral, os mecanismos estaduais e
municipais envolvem a participação
do Estado – representado pelas
respectivas secretarias de cultura
−, proponentes e contribuintes dos
impostos em questão. De forma
geral, é necessário que os propo-
nentes e os contribuintes estejam
sediados no território do Estado ou
do município relacionado ao me-
canismo de incentivo, sendo que o
projeto, igualmente, também deve
ser executado no mesmo território.
Os mecanismos de incentivo
fiscal são uma forma de estimular
o apoio da iniciativa privada ao
setor cultural. O Estado delega
competência para a sociedade civil
escolher onde investir parte dos
impostos gerados.
Para mais informações acesse
manualdopatrocinador.com.br
capítulo iii
financiamento direto
52
capítulo iii
financiamento direto
iii
financiamento direto
12. Art. 4º, § 3º da Lei nº
Sistemas de financiamento auto- 11.437/2006.
mático e seletivo 13. Art 5º da Lei nº
Sistema automático 11.437/2006.
Aquele em que a seleção das 14. Beneficiário Indireto:
ações financiadas é feita pelo be- empresas habilitadas a uma
conta automática do Prodav;
neficiário indireto14, em face de seu empresas que proponham
desempenho e práticas comerciais investimentos seletivos em pro-
anteriores: jetos de terceiros; e gestores
de fundos de investimentos
a. por meio de sistema de recep- com participação do FSA.
ção de propostas; 15. Beneficiário Direto: pessoas
físicas e jurídicas responsáveis
b. mediante participação em pela execução dos projetos fi-
projeto (exceção: transporte nanciados pelo Prodav (produ-
de sinal por satélite). toras brasileiras independen-
tes, programadoras brasileiras,
Sistema seletivo distribuidoras brasileiras de
Aquele em que a seleção das obras audiovisuais que atuem
no mercado de salas de exibi-
ações financiadas está a cargo de ção, televisão etc.).
técnicos credenciados, sem par-
ticipação de empresas, mediante
critérios públicos peestabelecidos:
a. por meio de chamadas públi-
cas (edital) com participação
do beneficiário direto.15
54
iii
financiamento direto
b. Programação de canal de O Regulamento Geral do Prodav
televisão determina as formas de retorno
Projeto de programação: financeiro do FSA no âmbito do
R$ 10.000.000,00 Suporte Automático (ver tabela na
próxima página).
Retorno do investimento
O FSA, na qualidade de investidor, Apesar de o Regulamento Geral
terá direito a participação sobre as do Prodav indicar que estas são as
receitas do projeto. Tal participa- modalidades de retorno financeiro
ção será devida desde o momento do Suporte Automático, cumpre
da contratação do investimento e informar que muitos dos editais
terminará em 7 (sete) anos após relativos ao Suporte Seletivo utili-
a data de primeira exibição co- zam as mesmas formas de retorno
mercial ou oferta pública da obra financeiro acima indicadas.
audiovisual. Constituem retorno do
investimento do FSA:
i. participação do FSA sobre
os rendimentos econômicos
da obra audiovisual (retorno
financeiro);
ii. doação de cópia da obra
audiovisual para a Cinemateca
Brasileira;
iii. autorização à Ancine
do uso de imagens, marcas,
textos e documentos da obra
e do projeto, com finalidade
promocional e para informa-
ção pública;
iv. autorização de reprodução
e distribuição da obra para
ações promocionais do FSA
e da Ancine, nos termos de
regulamento específico;
v. fixação das marcas deter-
minadas pela Ancine, nos
créditos da obra e em suas
peças promocionais gráficas
e audiovisuais;
vi. cessão de espaços para
veiculação de mensagens
publicitárias de utilidade pú-
blica e promoção da atividade
audiovisual, na programação
do canal.
56
Participação sobre a Receita Bruta de Distribuição É calculada de acordo com o valor investido pelo
(RBD) – A participação do FSA sobre a RBD limita-se Fundo, independente do valor do orçamento do pro-
à janela de exibição relativa às Salas de Exibição no jeto, na forma do item 76.1 do Regulamento Geral
território nacional. Nesta hipótese, a participação do do Prodav15. Para investimentos de até 3 milhões de
FSA precede qualquer dedução, com exceção dos reais a participação não supera 6,6%
valores devidos ao exibidor.
Participação sobre a Receita Líquida do Produtor Até o retorno total do investimento realizado, o per-
(RLP) – Aplica-se a toda e qualquer janela e em qual- centual a que faz jus o FSA será 80% do percentual
quer território. do investimento realizado em relação aos itens
financiáveis; após o retorno esse percentual será
reduzido para 40%. Ou seja, caso o fundo tenha
financiado 25% dos itens financiáveis, fará jus a
20% da RLP até o retorno do investimento e 10%
após o retorno.
Participação sobre as Receitas de Licenciamento – O FSA fará jus ao montante equivalente a 40% do
Refere-se ao montante obtido pelo licenciamento dos percentual representado pelo investimento do FSA
elementos da obra (marcas, imagens, personagens, sobre os itens financiáveis do projeto.
dentre outros) ou pelo licenciamento a terceiros para
produção de obras derivadas, sejam audiovisuais
ou não.
Participação sobre a Receita Líquida de Obras A participação do FSA neste caso será sempre de
Derivadas – Refere-se a obras audiovisuais derivadas, 2% sobre a RLP das Obras Derivadas, independen-
tais como, novas temporadas, prequels, sequels e te do valor do investimento. Cumpre salientar que
spin-offs. esta participação não é cumulativa. Logo, se o FSA
investir na respectiva Obra Derivada ele não fará jus
aos 2% aqui indicados.
57
iii
financiamento direto
c. prazo da licença limitado a 24 16. 76.1. A participação do FSA
Limitações para a Negociação sobre a RBD será proporcio-
meses contados da data de
dos Direitos sobre os Conteúdos nal ao valor do investimento,
emissão do CPB, ainda que calculada mediante o seguinte
Audiovisuais Produzidos
realizada para mais de uma procedimento:
O Regulamento Geral do Prodav janela de exibição (passível de a. a soma dos resultados da
disciplina não apenas a forma dos extensão por outros 12 meses multiplicação de:
aportes e contrapartidas do FSA, no caso de pré-licenciamento i. 2% (dois por cento) sobre
mas também impõe limites para a de temporada adicional de os primeiros R$ 200.000,00
contratação, gestão e transferên- obra seriada); (duzentos mil reais) investidos;
cia dos direitos patrimoniais sobre ii. 3% (três por cento) sobre
d. prever expressamente o
os conteúdos audiovisuais desen- o valor suplementar entre R$
retorno financeiro do FSA (se 200.000,00 (duzentos mil
volvidos, produzidos, comerciali-
aplicável); reais) e R$ 500.000,00 (qui-
zados e distribuídos com recursos nhentos mil reais);
do Prodav, tendo como objetivo a e. prever o canal e a previsão
iii. 5% (cinco por cento) sobre
garantia do retorno financeiro do aproximada dos horários de o valor suplementar entre R$
FSA e a preservação da obra au- veiculação da obra na primeira 500.000,00 (quinhentos mil
diovisual como conteúdo brasileiro janela de exibição; reais) e R$ 1.000.000,00 (um
independente (item 126.1 do RG). milhão de reais);
f. devem ser elaboradas de iv. 8% (oito por cento) sobre
Uma dessas regulamentações é a acordo com o disposto no o valor suplementar entre R$
exigência do pré-licenciamento de Regulamento Geral do Prodav 1.000.000,00 (um milhão de
obras televisivas financiadas pelo sobre obras derivadas e novas reais) e R$ 3.000.000,00 (três
milhões de reais); e
FSA, seja para o segmentos de TV temporadas;
aberta ou paga. O Regulamento v. 12% (doze por cento) sobre o
g. os contratos de pré-licencia- valor suplementar acima de R$
Geral estabelece os seguintes
mento deverão observar os 3.000.000,00 (três milhões de
parâmetros normativos dessas reais); e
valores mínimos especificados
licenças:
no Regulamento Geral do FSA, b. a divisão do resultado pelo
a. devem ser pagas com recur- conforme exposto abaixo: valor do investimento.
sos próprios ou de terceiros
Valores mínimos das licenças para
(ao menos até as proporções
Comunicação Pública em um dos
e valor mínimos estabelecidos
segmentos de TV (TV aberta ou
no Regulamento);
por assinatura):
b. sua exclusividade não pode
a. documentários (longa-me-
exceder 24 meses da data de
tragem ou telefilme) – 5%
emissão do CPB (passível de
sobre o valor total dos itens
extensão por outros 12 meses
financiáveis;
no caso de pré-licenciamento
de temporada adicional de b. longa-metragem de ficção ou
obra seriada); animação – 7% sobre o valor
total dos itens financiáveis; e,
c. nos demais casos (séries
para TV, por exemplo) – 15%
sobre o valor total dos itens
financiáveis.
58
Valores mínimos para licenças Outras reduções podem ser aplica- caracterização do poder dirigente,
de comunicação pública ou das, porém de forma não cumulati- o Regulamento Geral, ao invés, de
exploração comercial em outros va às acima indicadas, quais sejam: defini-lo, opta por determinar o
segmentos para o mesmo grupo que o descaracterizaria, elencando
i. 70% − no caso de licen-
econômico: as diversas situações nas quais
ciamento para canal de 12
se presumiria a perda do poder
a. um terço – para o segmento horas (artigo 17, § 4º, da Lei nº
dirigente pela produtora.
de vídeo por demanda; 12.485/93);
Ainda de forma a proteger o
b. 50% − para o segundo seg- ii. 90% − no caso de licencia-
conteúdo brasileiro independente
mento de mercado de TV, no mento para TV comunitária ou
e o retorno financeiro do FSA, o
Brasil; universitária.
Regulamento Geral do Prodav
c. 10% − para cada licença regio- Por fim, aplica-se, ainda, uma redu- também criou o Estatuto do
nal de exploração no mercado ção suplementar de 20% no caso Licenciamento. O Estatuto deter-
externo. de licença sem exclusividade. Esta mina, basicamente, que, durante o
redução é cumulativa com todas as prazo de 15 anos após a primeira
Com o objetivo de proporcionar
anteriores, sendo sempre calcula- exibição comercial da obra, fica
igualdade de condições entre
da por último. vedada a transferência de direi-
as regiões mais desenvolvidas
tos de uso, comunicação pública,
do setor e entre televisões pri- Obs.: o Regulamento Geral do
adaptação ou exploração comer-
vadas, públicas e comunitárias o Prodav estabelece o valor míni-
cial dos conteúdos audiovisuais
Regulamento Geral do Prodav pre- mo da primeira licença em R$
financiados pelo Prodav, ou de
viu, ainda, reduções no valor das 7.500,00 (sete mil e quinhentos
seus elementos derivados (marcas,
pré-licenças (ver tabela ao lado). reais) independentemente dos
imagens), os quais apenas poderão
Tais reduções são cumulativas e percentuais e possíveis reduções
ser comercializados por meio da
calculadas de forma sequencial, previstas, não podendo uma
concessão de licenças.
conforme abaixo: pré-licença ser negociada abaixo
deste valor, com exceção para o Por fim, cabe ressaltar que o Fundo
a. 50% − no caso de licencia-
licenciamento para TV comunitária Setorial do Audiovisual é um fundo
mento para programadora
ou universitária, para o qual não se que tem por objeto o investimento
com sede nas Regiões Norte,
aplicará limite mínimo. no mercado audiovisual nacional.
Nordeste e Centro-Oeste;
O Regulamento Geral do Prodav e
Outra limitação do Regulamento
b. 30% − no caso de licencia- as respectivas chamadas públicas
Geral do Prodav vem na definição
mento para programadora delimitam a atuação do FSA no
do poder dirigente sobre a obra au-
com sede na Região Sul ou âmbito do Suporte Automático e
diovisual. Segundo o Regulamento
nos Estados de Minas Gerais Seletivo, podendo este atuar por
Geral do Prodav, o exercício do
e Espírito Santo; outros meios, como ocorre nos
poder dirigente é o elemento que
editais de Baixo Orçamento, desde
c. 30% − nos caso de licencia- define a obra audiovisual como
que em consonância com as deter-
mento para TV estatal, educa- conteúdo brasileiro independen-
minações da Lei nº 11.437/2006 e
tiva ou cultural; te, quando exercido por autores
dentro do objetivo e das diretrizes
brasileiros e produtoras brasi-
d. 15% − no caso de programa- do Fundo.
leiras independentes. Quanto à
dora privada cujo grupo eco-
nômico não envolva prestador
de serviços de telecomunica-
ções, cabeça de rede nacio-
nal privada de TV aberta ou
programadora internacional.
59
iii
financiamento direto
quadro analítico com o percentual de redução acumulada aplicável a cada hipótese
iii
financiamento direto
Linhas exclusivas para o mercado cinematográfico
Editais operados pela Secretaria Editais para longas de baixo or- Edital de seleção em regime de
do Audiovisual SAv/MinC) çamento – infanto-juvenil, ficção e concurso público
afirmativo.
Linhas de desenvolvimento
iii
financiamento direto
Prodav 14 – Produção de Jogos regime de concurso público
Eletrônicos seleção
A Ancine lançou, no dia 6 de
modalidade de investimento com retorno financeiro – participação
dezembro de 2016, a sua primeira
aporte nas receitas.
chamada pública exclusivamente
voltada para o desenvolvimento
tipo de projeto jogos eletrônicos brasileiros independentes, para
e produção de jogos eletrônicos.
apoiado exploração comercial em consoles, computadores
O Fundo Setorial do Audiovisual
ou dispositivos móveis, independentemente da fase
decidiu investir R$ 10.000.000,00
de desenvolvimento em que se encontrem, desde
(dez milhões de reais) na produção
que o jogo não tenha sido lançado comercialmente.
de jogos eletrônicos para conso-
les, computadores e/ou dispositi-
montante para o investimento do FSA será de R$ 10.000.000,00,
vos móveis, independentemente
investimento sendo que a chamada pública divide este montante
da fase de desenvolvimento em
disponível em três categorias. Estima-se assim a seleção de:
que se encontrem, contanto que
ainda não tenham sido lançados a. 2 projetos na categoria A (R$ 1 milhão por
comercialmente. projeto);
Ainda que esta não seja a primeira b. 12 projetos na categoria B (R$ 500 mil por
chamada pública com este viés projeto); e
(em 2016, por exemplo, a SP Cine
c. 08 projetos na categoria C17 (R$ 250 mil por
lançou dois editais voltados para a
projeto).
produção de games), é a primeira
vez que ocorre um investimento
proponentes agentes econômicos brasileiros independentes,
público deste volume, voltado para
que, além das regras usuais previstas na IN 91 da
todo o Brasil, e exclusivamente
Ancine, deverão observar o abaixo indicado:
para o mercado de jogos eletrô-
nicos, restando justificado assim
a. Não controlam nem são controlados ou coliga-
o destaque conferido. No início
dos a programadoras, empacotadoras, emis-
de 2017, o edital já foi replicado,
soras de TV, empresa responsável por agregar
demonstrando o novo posiciona-
serviços de jogos eletrônicos ou provedor
mento da Agência em relação à
deste serviço ao consumidor final (“agentes
produção de jogos eletrônicos.
não independentes”); não são vinculados por
Embora seja uma linha de edital
contrato que dê a sócios minoritários que
não contínua, apresentamos a se-
sejam “agentes não independentes” direito de
guir alguns tópicos do certame que
veto comercial ou interferência sobre os jogos
o FSA poderá utilizar como base
produzidos; e não tem vínculo de exclusividade
para futuras chamadas públicas
que os impeça de produzir ou comercializar
voltadas para este segmento.
jogos para terceiros;
i. Desembolso financeiro
O desembolso dos recursos estará condicio-
nado à comprovação, em 12 meses contados
da assinatura do contrato de investimento do
FSA, de (i) captação de, no mínimo, 80% do
orçamento de produção de responsabilidade
da parte brasileira, incluído o valor do investi-
mento do FSA; e (ii) Contrato de distribuição/
comercialização ou declaração de distribuição
própria.
ii. Conclusão
O prazo para conclusão da versão do jogo
eletrônico para lançamento comercial é de 12
meses, contados da data do desembolso dos
recursos do investimento do FSA.
65
iii
financiamento direto
17. O proponente deve escolher
prazos iii. Lançamento em qual das três categorias
O prazo para o lançamento comercial do jogo pretende inscrever o seu proje-
é de, no máximo, 12 meses, contados da data to no momento da inscrição.
de sua conclusão. 18. O edital não exige local
específico para lançamento.
iv. Retorno do investimento
O FSA participará na Receita Líquida do
Produtor (RLP) (conforme definição no edital)
do projeto contemplado, por sete anos, a con-
tar da data de lançamento comercial do jogo18.
v. Prestação de contas
A proponente deverá manter todos os docu-
mentos fiscais que comprovem despesas rela-
tivas aos itens financiáveis pelo FSA, uma vez
que este irá analisar o cumprimento de objeto
do projeto e a correta aplicação dos recursos.
66
iii
financiamento direto
Cabe ressaltar que a empresa be- iii.a.4 O Programa Ancine de Incentivo
neficiária do prêmio que não desti- à Qualidade do Cinema Brasileiro
nar integralmente os recursos con- prêmio ancine de (PAQ) é um mecanismo de apoio
cedidos a título de apoio financeiro, incentivo à qualidade financeiro à indústria cinematográ-
no prazo determinado no Termo de do cinema brasileiro fica brasileira por intermédio das
Concessão, ficará impossibilitada empresas de produção e em razão
de se inscrever em qualquer edital da seleção, indicação e premiação
promovido pela Ancine nos 12 de obras cinematográficas brasilei-
(doze) meses seguintes ao término ras de longa-metragem de pro-
do prazo de destinação. dução independente em festivais
nacionais, internacionais e seus
Os três últimos editais do PAR
congêneres.
publicados pela Ancine (2016, 2015
e 2014) nos moldes acima demons- No primeiro semestre de cada
trados contemplaram tão somente exercício fiscal, com observância
empresas distribuidoras, fato que de sua disponibilidade orçamen-
reflete a possibilidade dessa agên- tária e financeira, a Ancine publica
cia, com base em sua disponibilida- um edital específico contendo
de orçamentária e no diagnóstico o valor total dos recursos com-
geral do mercado, decidir pela plementares de concessão e
premiação alternada, ou conjunta, utilização dos apoios financeiros.
das empresas produtoras, distri- Contudo, em caso de ausência
buidoras e exibidoras. de disponibilidade orçamentária e
financeira, o PAQ pode ser suspen-
Destaca-se que o Prêmio Adicional
so, temporária ou definitivamente,
de Renda foi incorporado pelo
por meio de ato publicado pela
Fundo Setorial do Audiovisual
Agência Nacional do Cinema.
(FSA) no Programa de Apoio ao
Desenvolvimento do Audiovisual Dentre os critérios de pontuação
Brasileiro (Prodav), na categoria do das empresas produtoras para
“Suporte Financeiro Automático”, acesso ao apoio financeiro do PAQ,
realizado por meio de Chamada destaca-se a premiação de melhor
Pública – Linha de Desempenho filme e/ou diretor na principal
Comercial. mostra competitiva de festivais e
congêneres listados pela Ancine, a
A Chamada Pública aberta até
mera participação nesses eventos
julho de 2017, destinada ao finan-
e/ou em mostras não competitivas,
ciamento de produções audiovi-
festivais e congêneres, bem como,
suais por intermédio do módulo de
por fim, a premiação como melhor
produção, programação e distribui-
filme estrangeiro no Oscar.
ção, disponibilizou o valor total de
R$ 100.000.000,00 (cem milhões O apoio financeiro concedido aos
de reais) em recursos financeiros. beneficiários do PAQ é conce-
dido na modalidade operacional
(aplicação não reembolsável) e
deve ser obrigatoriamente desti-
nado para projetos que visem ao
desenvolvimento de projeto de
produção de obra cinematográfica
68
iii
financiamento direto
iii.b.1 A RioFilme, empresa da Prefeitura 19. Fonte:
www.riofilme.com.br/pt-BR/
da Cidade do Rio de Janeiro,
riofilme vinculada à Secretaria Municipal
rio-film-commission.
Além da criação da Rio Film visando criar um marco para o de- 20. Fonte:
Comission e de grandes resultados senvolvimento da cooperação em riotransparente.rio.rj.gov.br.
no campo do cinema, merecem relação às indústrias de entreteni-
destaques as parcerias firma- mento, incentivar as filmagens em
das pela RioFilme. Uma delas locações cariocas e impulsionar o
visou à promoção do aumento crescimento de negócios do Brasil
da capacitação profissional no âmbito audiovisual.
carioca, através do Programa
Em 2014, a RioFilme recebeu ins-
de Qualificação RioFilme/Senai
crições em cinco editais, que apor-
(2012 e 2013), em parceria
taram R$ 10,16 milhões em mais de
com o Senai, e o “Programa de
45 projetos de empresas produ-
Investimento Automático pela
toras independentes estabeleci-
Linha de Desenvolvimento de
das no Rio de Janeiro. Os editais
Conteúdo para TV por Assinatura
publicados foram: “Produção de
na Modalidade de Parceria
Conteúdo para Web” (R$ 1 milhão –
Internacional”, que foi uma par-
R$ 100 mil por projeto de série em
ceria com o Fundo de Mídia do
plataformas digitais), “Produção
Canadá (FMC) que resultou no
de Curtas-Metragens” (R$ 660
investimento de R$ 615.000,00 de
mil reais – R$ 60 mil para cada
forma automática e não reembolsá-
curta), “Produção e Finalização de
vel no desenvolvimento de conteú-
Longas” (R$ 4,5 milhões – R$ 400
do para televisão e mídia digital.
mil por produção – R$ 200 mil por
Apesar da significativa diminui- finalização), “Edital de Investimento
ção em seu orçamento, que, no Automático Reembolsável em
ano de 2014, correspondia ao Conteúdo para TV” (R$ 3 mi-
montante de R$ 40.642.090,01 lhões – R$ 500 mil por projeto) e
e, em 2016, alcançou a quantia “Investimento Não Reembolsável
de R$ 11.687.710,1320, e da conse- Automático em Digitalização de
quente redução dos aportes em Cinemas Culturais” (R$ 1 milhão –
programas e editais, a RioFilme R$ 200 mil por sala).
continua a exercer papel essencial
Já em 2015, a RioFilme publicou
na promoção do setor audiovisual
o Edital do Programa de Fomento
carioca e no estabelecimento do
ao Audiovisual Carioca 2015 – Viva
Rio de Janeiro como polo latino-
o Cinema!, em parceria com o
-americano de cinema, televisão
Programa Brasil de Todas as Telas,
e novas mídias. Inclusive, no final
formulado pela Ancine em parceira
de 2016, a Rio Film Commission
com o MinC. Esse edital previa
assinou um acordo de cooperação
cinco linhas de ação, que disponi-
com o Escritório de Produção de
bilizaram um total de R$ 7 milhões
Cinema e Televisão do Gabinete do
para a produção, finalização e
prefeito da Cidade de Los Angeles,
desenvolvimento de longas-metra-
gens; para a produção de longas-
metragens; para a produção de
71
iii
financiamento direto
curtas-metragens; para o desen- iii.b.2 A SPCine é um órgão de fomento
volvimento de conteúdo para TV; audiovisual vinculado à Secretaria
e para pontos de cultura e ações spcine Municipal de Cultura do Munício
locais. Destaca-se que, desse total, de São Paulo, implementado pela
R$ 5 milhões são oriundos de re- Prefeitura de São Paulo, em par-
cursos da RioFilme e R$ 2 milhões ceria com o Governo do Estado de
do Fundo Setorial do Audiovisual. São Paulo e o Ministério da Cultura.
No decorrer de 2016, a RioFilme Inaugurada em dezembro de
publicou dois editais, quais se- 2014, por meio da Lei Municipal nº
jam: “Edital de Concessão de Uso 15.929/2013, realiza diversas políti-
do CineCarioca Nova Brasília” e cas públicas inovadoras de fomen-
o “Edital de Mostras e Festivais”. to com o objetivo de desenvolver,
Esses editais, em síntese, preten- de modo inclusivo e democrático,
diam, respectivamente, selecio- a produção de obras audiovisuais
nar uma empresa exibidora para por produtores paulistanos, além
operacionalização do CineCarioca de promover a cultura audiovisual
Nova Brasília (cinema da Prefeitura local além de suas fronteiras. A
do Rio de Janeiro localizado na atuação da SPCine se destaca por
comunidade Complexo do Alemão) sua ação afirmativa de inclusão
e promover o acesso à produção no fazer audiovisual de grupos
audiovisual fluminense e nacional, historicamente excluídos (mulhe-
viabilização de espaços de encon- res, cineastas negros, população
tro, reflexão e debate. transgênero, indígenas e pessoas
com deficiência) e pela sua van-
Em regra, para participação
guarda no investimentos em novas
em seus Programas e Editais, a
e diferentes mídias audiovisuais
RioFilme exige que os proponentes
(conta com uma área específica
estejam (i) registrados na Ancine,
para jogos eletrônicos).
na categoria de empresa produto-
ra brasileira, (ii) estabelecidas no Pelo viés da democratização do
município do Rio de Janeiro, (iii) acesso, diante do preço do ingres-
adimplentes com suas obrigações so e da localização de salas de
trabalhistas, previdenciárias, tribu- exibição, a SPCine criou o Circuito
tárias e acessórias, em todas as SPCine. Chegou ao final de 2016
esferas da administração pública, com 20 espaços de exibição em
no momento da contratação e du- equipamentos culturais e 15 em
rante o prazo de eventual contrato centros educacionais unificados
e, ainda, (iv) adimplentes com suas (CEUs), instalados prioritariamen-
obrigações contratuais perante te em áreas não atendidas pelo
a RioFilme, a Ancine, o FSA e as circuito comercial de exibição,
instituições financeiras (como o com infraestrutura e programa-
BRDE, por exemplo). ção de qualidade e diversificada,
aplicando preços acessíveis ou
Mais informações podem ser
gratuitos. Criou, em junho de 2017,
obtidas em:
www.rio.rj.gov.br/web/riofilme/
principal.
72
iii
financiamento direto
21. Até a data de fechamento
quem pode produtora paulistana independente, que é aquela desta edição, o programa seria
participar que apresenta os seguintes requisitos cumulativos: lançado no dia 13/6/2017. Mais
informações neste link:
a. constituída sob as leis brasileiras; spcine.com.br/spcine-lanca-
-programa-de-acao-cineclubis-
b. estabelecida na cidade de São Paulo há pelo ta-nas-salas-do-circuito/
menos dois anos;
c. poder decisório da empresa deve ser detido
por pessoas físicas brasileiras natas ou natura-
lizadas há mais de dez anos;
d. não pertencer ao mesmo grupo econômico
de empresas de serviços de radiodifusão de
sons, imagens ou operadoras de comunicação
eletrônica de massa por assinatura;
c. registrada na Ancine na categoria de Empresa
Produtora Brasileira Independente.
d. diretor residente na cidade de São Paulo há
pelo menos dois anos na data de inscrição.
capítulo iv
outros editais
iv
outros editais
modalidade de misto (empréstimo e, conforme o caso, incentivo
aporte fiscal, via artigos 1º e 1º A da Lei do Audiovisual).
iv
outros editais
tipos de proje- 12. aquisição de direitos relacionados a conteúdo
tos apoiados brasileiro.
iv
outros editais
quem pode plei- Empresas com sede e administração no Brasil
tear recursos que mantenham atividades relacionadas à cadeia
produtiva da economia da cultura em suas várias
modalidades.
O BNDES classifica o porte da empresa ou institui-
ção de acordo com sua receita operacional bruta
anual (ROB) ou conforme renda anual de clientes
pessoas físicas, na forma a seguir:
iv
outros editais
notas d. além das taxas de juros associadas às linhas
e programas, outros encargos e comissões
podem ser cobrados pelo BNDES a título de
contraprestação por serviços prestados, assim
como uma tarifa cobrada pela não utilização do
saldo do financiamento contratado, chamada
de “Encargo por Reserva de Crédito” (0,1% por
30 dias ou fração incidente sobre o valor do
crédito ou saldo não utilizado).
iv
outros editais
iv.b A Secretaria de Cultura do Estado
de São Paulo tem como missão for-
secretaria de cultura do mular e implementar políticas públi-
estado de sp cas visando à ampliação do acesso
aos bens culturais, a descentrali-
zação das atividades, o fomento à
produção cultural e a valorização
do patrimônio cultural paulista. São
exemplos de formação cultural os
projetos Fábrica de Cultura, Meu
Guri e Escola SP de Teatro; de
promoção de festivais, mostras e
eventos o Festival de Campos de
São Paulo, Virada Cultural Paulista;
de manutenção de corpos artís-
ticos a São Paulo Companhia de
Dança, Jazz Sinfônica e Osesp; e
de preservação do acervo mu-
seológico a Pinacoteca, Casa das
Rosas, Museu do Futebol, Museu
do Imigrante, Museu da Imagem e
do Som (MIS).
No que tange a fomento à produ-
ção audiovisual independente, se
destacam (i) o ProAC (Programa
de Ação Cultural), nas modalida-
des Editais e ICMS, (ii) o Prêmio
Estímulo ao Curta-Metragem e (iii)
o Prêmio de Fomento ao Cinema
Paulista. Ou seja, a Secretaria tem
apoiado a produção audiovisual
paulista por meio de fomento direto
(financiamento público) e indireto
(incentivo fiscal).
O apoio da Secretaria de Cultura
Estadual é realizado por meio
de Editais temporários, motivo
pelo qual apresentaremos abaixo
alguns tópicos importantes de
Editais já realizados, para que
sirvam de parâmetro para futuros
certames.
88
iv
outros editais
quem pode pessoa jurídica, cooperativas ou grupos, núcleos e
participar coletivos culturais, devidamente representados por
intervenientes anuentes.
iv
outros editais
iv.b.2 modalidade de fomento direto.
concurso de apoio a aporte
projetos de finalização prazo para Encerrado em 29/8/2016.
de longa-metragem no apresentar
estado de são paulo projetos
(edital nº 44/2016) valor R$ 250.000,00 para cada um dos três projetos se-
lecionados, totalizando a quantia de R$ 750.000,00
pelo edital.
iv
outros editais
observações E adicionalmente (a exclusivo critério do
relevantes proponente):
c. medidas que promovam a fruição de bens,
produtos e serviços culturais a camadas da
população menos assistidas ou excluídas do
exercício de seus direitos culturais por sua
condição socioeconômica, etnia, deficiência,
gênero, faixa etária, domicílio, ocupação;
d. promoção de ações que facilitem o livre aces-
so de idosos e pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida e/ou medidas de acessi-
bilidade comunicacional (de modo a diminuir
barreiras na comunicação interpessoal, escrita
e virtual).
iv
outros editais
observações i. Cada proponente poderá inscrever apenas
relevantes um projeto no edital, enquanto cada empresa
responsável poderá celebrar contrato com a
Secretaria da Cultura para a realização de, no
máximo, dois projetos.
iv
outros editais
observações a. O orçamento válido para fins deste edital é o
relevantes aprovado pela Ancine.
capítulo v
o modelo de financiamento global
v
o modelo de financiamento global
v.a A fase de desenvolvimento começa
1.1 Opção
na opção. Durante este processo
desenvolvimento é que se matura o roteiro, dimen- Normalmente essa é a primeira
siona custos para produção de etapa de qualquer projeto, a fase 1
orçamento, estudam-se nomes de do processo de desenvolvimento.
atores e diretores etc. Nesta etapa, o produtor seleciona
uma história, que pode vir de um
É nessa fase que o produtor deve
livro, de um jogo, de outro filme,
definir a logline do seu projeto.
de uma história verdadeira ou
Logline é um sumário curto do pro-
uma ideia original. A opção é um
duto audiovisual que consiga sinte-
contrato feito em duas etapas:
tizar a ideia do projeto e cativar o
entrega-se ao produtor a opção
interesse do interlocutor sobre ele.
de um determinado direito, sendo
Alguns exemplos de loglines:
que a definitiva compra do direito
Batman Begins só vai se dar se o produtor conse-
Bruce Wayne perde seus pais por guir avançar com o projeto. É bom
um crime sem sentido e anos mais ter em mente: uma boa história
tarde se torna o Batman, que vai é a parte crucial para garantir o
salvar Gotham City à beira da des- sucesso de um filme, mas lembre
truição dos crimes perpetrados por que não é a única. Vamos explorar
uma antiga ordem. algumas situações:
Shrek Situação 1
Um ogro, a fim de recuperar o seu Se a história já é um roteiro
pântano, viaja, juntamente com O primeiro passo é fazer um
um burro chato, para trazer uma acordo de opção, ou um acordo
princesa a um senhor, desejando contratual entre o produtor (ou
ele próprio ser o rei. estúdio) e o escritor (ou terceira
parte que tenha o direito). A opção
é o direito − mas não a obrigação –
de um produtor usar o roteiro para
desenvolver um filme no futuro.
O acordo descreve o período de
tempo especificado e obrigações
financeiras, o produtor tem que
avançar para a criação de um filme
baseado no roteiro. Pode ser exclu-
sivo ou não, mesmo que normal-
mente seja exclusivo nos primeiros
12 ou 18 meses (garantidos pelo
primeiro valor pago pela opção).
102
O preço de compra no mercado roteiro; no momento em que se Quando a opção não está feita
americano é geralmente de 2% do conseguir levantar orçamento, sobre o roteiro, mas sobre um
orçamento. Além da antecedência, atores e o green light (autorização contrato de opção de um livro, por
produtor e escritor têm que nego- para início da produção) for dado, exemplo, os roteiristas podem ser
ciar o piso e o teto cobrados (para paga-se pela compra dos direitos contratados como simples pres-
cinema e televisão). Escritores nas condições já previamente esta- tadores de serviço. Nos Estados
muitas vezes podem ter 5% do belecidas na opção. Unidos, o contrato de roteirista
lucro líquido do produto. Da mesma é tido como um trabalho técnico,
Situação 2
forma, o escritor pode garantir mas devem ser respeitados os
Se a história tem que se tornar
o preço usando valorização de limites mínimos de pagamento do
um roteiro
opção real (ROV) e especificando sindicato, quando for o caso23.
Após a identificação de um tema
as condições para o roteiro ser
ou mensagem subjacente, o produ-
executado do jeito que está, jogar
tor tem que encontrar um escritor
fora o trabalho realizado ou modi-
para (1) preparar uma sinopse
ficar o seu resultado (modelo que
(2) fazer o “esboço”, que envolve
no Brasil é um pouco mais compli-
quebrar a história para baixo em
cado em virtude do direito moral de
cenas de um parágrafo que se
autor)22.
concentram na estrutura dramática
Estúdios e grandes produtores são (3) fazer o tratamento, uma descri-
usados para fazer opção de uma ção de 25 a 30 páginas da história.
série de bons e baratos roteiros de Isso geralmente tem pouco diálogo
modo que um deles se torne um e desenhos que ajudam a visualizar
filme. O contrato de opção de um os pontos-chave.
roteiro é sempre mais barato e em
Outra maneira é produzir apenas
seguida se pode exercer a opção
um trabalho escrito, que combina
de compra. Se se tratar de um es-
elementos do roteiro e de trata-
critor, a primeira coisa que se deve
mento, especialmente do diálogo.
fazer quando terminar de escrever
James Cameron chamou esse
o roteiro é de registrá-lo e pensar
papel de “scriptment”, quando ele
sobre qual seria um bom preço
escreveu pela primeira vez um de
para oferecer a opção do material
47 páginas para o Homem-Aranha.
(já com previsão no contrato de op-
O scriptment de Titanic tinha 131
ção do preço da compra posterior).
páginas. Com base nesse material,
Em suma, o contrato de opção de o roteirista desenvolve um roteiro
aquisição de direitos é um instru- (script).
mento contratual que tem duas
Também para a compra de direitos
fases: o pagamento pela opção do
sobre história de vida ficcional de
roteiro e, num segundo momento, o
alguém ou dos direitos sobre a his-
exercício desta opção para realizar
tória baseada em um livro, pode-se
o projeto. Então digamos que seja
fazer contrato de opção. Da mes-
feito um pagamento ao roteirista
ma forma, estabelece-se um preço
de 1.000 dólares pela opção do
pela opção e, ato contínuo, na me-
dida em que houver a certeza de
realizar o projeto, paga-se o preço
de compra do direito, em valores e
forma previamente combinados.
103
v
o modelo de financiamento global
Pay and Play 22. O direito moral é parte do
1.2 Comprometendo os talentos direito autoral e significa, no
É um contrato da mesma natureza,
(artistas e diretor) direito brasileiro, um direito
mas muito mais raro e só é aplica- indisponível (diferente do
O segundo passo na fase de de- do a megaestrelas. Isso significa direito patrimonial que pode
senvolvimento é reunir os princi- que, uma vez que este contrato ser negociado da forma que
pais profissionais para a obra, tal é assinado, o ator será pago e se entender mais adequada).
Faz parte do direito moral de
como o diretor, os atores principais participará do filme, não importa autor o direito à integridade da
e, por vezes, o diretor de fotogra- o que aconteça. Isso assegura obra e a do crédito de autoria,
fia. Esses são chamados “talents” às grandes estrelas que elas não por exemplo. Tais direitos são
e tornam-se ativos fundamentais podem ser substituídas. irrenunciáveis.
para o financiamento do filme. No 23. O sistema de sindicato
Os valores de remuneração de (guilds) americano se aplica
caso de séries de TV, o chama-
grandes talentos americanos su- quando um dos agentes envol-
do showrunner, responsável por vidos é sindicalizado ou essa
biram muito ao longo dos últimos
garantir toda a realização da obra, é uma opção da produção. Por
anos, de forma a se tornarem proi-
também é fundamental. exemplo, um roteirista membro
bitivos aos orçamentos dos produ- do Writers Guild of America, o
Só um contrato garante o compro- tores independentes. O que várias WGA (Sindicato dos roteiristas
misso desses indivíduos em par- produtores e grandes artistas americano), só pode trabalhar
nas regras do sindicato (tabela
ticipar da produção audiovisual. A têm feito, com relativo sucesso, é mínima etc). Se um estúdio for
indústria dos EUA não acredita em estimar um valor para o orçamento o produtor de um filme (todos
“carta de intenções” para demons- para pagamento fixo e inserir o eles estão sujeitos às regras
trar que alguém fará parte de um talento como sócio no resultado sindicais), as regras de contra-
tação têm que respeitar o pa-
projeto. Para comprovar vínculos do projeto. Os modelos de parti- drão sindical (Director Guild of
− e financiar seu filme – é necessá- cipação em resultado podem ser America, o DGA, Sindicato dos
rio um contrato contendo o nome desde equity, ou seja, sócios no Diretores Americanos, para os
do roteiro que será trabalhado, a resultado do projeto (menos van- diretores, e assim por diante).
No entanto, se estivermos fa-
descrição da função que a pessoa tajoso para o artista) até o modelo lando numa produção realizada
irá desempenhar, o prazo deste de participação em receitas brutas por uma pequena produtora
vínculo e o tipo do contrato. Esse é ou em percentuais incidentes junto independente que contrata
um tipo de “Attachment Agreement” com as comissões de distribuição um roteirista novo e um ator
não sindicalizado, nesse caso
que, para ser firmado, não precisa (mais vantajoso para o artista), que não precisa seguir regras de
de qualquer pagamento prévio. veremos mais adiante. nenhum sindicato.
Esse tipo de contrato pode ser de
dois tipos:
Pay or Play
é um tipo de contrato em que o
profissional (geralmente atores
ou um grande diretor) recebe uma
certa quantia de dinheiro para
participar do filme. Ela garante
remuneração se, não por culpa
própria, o artista é liberado do
contrato. Isso geralmente acontece
quando você deseja substituir um
ator por uma estrela maior, mas,
para segurar o ator, topa fazer um
contrato de pay or play.
104
v
o modelo de financiamento global
v.b Uma vez que o produtor tem o financiamento para se tornar parte
direito de desenvolver um roteiro, desta indústria. Os passos serão
financiamento os contratos com profissionais apresentados a seguir e corres-
vinculados e o orçamento para a pondem ao financiamento inde-
produção, ele está pronto para pendente de filmes que pode ser
iniciar o processo de financiamen- realizado por qualquer produtor,
to. Existem dois níveis de finan- de qualquer parte do mundo.
ciamento: estúdios (ou canais de
televisão) e independentes.
Financiamento estúdio é um sis-
tema fechado em que na maioria
das vezes os filmes são autofinan-
ciados por essas empresas. Há
duas décadas, os seis principais
estúdios realizavam cerca de cem
filmes por ano. Hoje em dia esse
número não é maior do que 20. A
principal razão é que eles estão in-
vestindo em orçamentos elevados
(em torno de US$ 100 a US$ 200
milhões) para ser atraente para o
público a ir para os cinemas.
Financiamento independente, por
outro lado, é um processo através
do qual o produtor vende indi-
vidualmente os direitos do filme
em cada território e faz licenças
individuais. Os contratos de venda
prévia são descontados em um
banco e o dinheiro é utilizado para
realizar o filme. Para isso, o produ-
tor costuma contar com um agente
de vendas. Alguns agentes de
vendas conhecidos são Exclusive
Media, Meganalisis (filmes de arte),
Vandome, End Game, Gold Circle,
New Regency, Silver Real, Eco Lake
e Croassain.
Por enquanto, é importante notar
que o financiamento independen-
te representa o maior número de
produtores no mercado, mesmo
que a quantidade de dinheiro
arrecadado por estúdio de pro-
dução seja maior. Assim, é impe-
rativo compreender o sistema de
106
e. Mercado
2.1 O plano de negócios 2.2 Coprodução
o mercado específico para
O plano de negócios (business o conteúdo. Inclui território, Talvez não se percorra sozinho
plan) é a principal ferramenta de gêneros, outros títulos com- esta jornada. A coprodução é a
marketing e vendas. É também o paráveis etc. Os produtores produção conjunta de um projeto
mapa entre uma ideia de filme ou costumam apresentar uma com contribuições substanciais de
programa de TV e a sua realização. tabela contendo uma análise duas ou mais empresas de pro-
Esse plano precisa ser factual e de completa do filme baseada no dução, no todo ou em uma etapa
fácil compreensão para potenciais histórico de títulos parecidos de realização do conteúdo. Nesse
investidores ou parceiros. Quanto (mesmo gênero, faixa etária, caso, é necessário estabelecer um
mais dados sobre o mercado, época de lançamento etc). contrato – entre empresas de um
maiores as chances de chegar a Este item será detalhado em mesmo território ou entre nações −
modelos de negócio criativos para plano financeiro, mais adiante. capazes de permitir a utilização de
o conteúdo. O plano de negócios recursos materiais e/ou humanos
f. Distribuição
é o documento mais valioso do das partes envolvidas. O motivo
a estratégia de distribuição,
empreendedor para salvaguardar o mais comum para os produtores
considerando se será a partir
seu sucesso e peça obrigatória em realizarem parcerias com outros
de empresa de distribuição ou
qualquer planejamento audiovisual. produtores é compartilhar o tempo
distribuição própria; as janelas
(de trabalho) e dinheiro (investi-
A seguir apresentamos um exem- prioritárias, o público-alvo, a
mento). No entanto, as coprodu-
plo de um esquema de plano de estratégia de VOD (video on
ções também podem acontecer
negócios. Todos esses passos demand), DVD, blu-ray etc.
para aproveitar-se de uma determi-
devem ser feitos podendo ser ade-
g. Plano financeiro nada oportunidade, como veremos
quados no momento de apresentar
fontes de financiamento, os na parte de incentivos fiscais mais
de cada investidor.
fatores de risco e o retorno do adiante.
a. Sumário executivo investimento (ROI).
Após escolher o parceiro para co-
última parte que se escreve
produzir é imprescindível entender
para efeitos de plano, mas o
as regras locais. A coprodução
primeiro item sempre. É com-
permite compartilhar o trabalho
posto pela informação essen-
e o investimento, mas, ao mesmo
cial sobre o projeto.
tempo, aumenta os riscos e, por-
b. Empresa produtora tanto, precisa de um bom planea-
um pouco da história e portfó- mento para ser bem-sucedids.
lio incluindo outros projetos e
Nos Estados Unidos entende-se
experiência da equipe.
que a coprodução compõe-se de
c. Filmes um misto de contribuição artística
loglines dos filmes que a e de investimento tendo, cada qual,
empresa tem em seu currículo 50% de importância. Isso significa
(vide acima definição de logli- que se um investidor entra para
ne em Desenvolvimento). financiar metade de um filme mas
não participa da concepção artísti-
d. Indústria
ca do projeto, ele teria 25% dos di-
um parágrafo sobre o pano-
reitos a receber. Isso porque 50%
rama atual da indústria (de
do equity cabe aos investidores e,
cinema ou televisão) no seu
sendo assim, metade do investi-
local de atuação.
mento é pago proporcionalmente
107
v
o modelo de financiamento global
ao recurso. Quando um coprodutor e regulamentos específicos que associação com empresas estran-
entra dividindo trabalho artístico e regem o financiamento de filmes geiras sediadas em territórios com
investimento em metade cada um, e coprodução. Estes benefícios os quais o Brasil não mantenha
por exemplo, tem-se que 50% do financeiros podem se estender até acordo de coprodução. Neste caso,
equity para cada coprodutor. Mas coproduções com países de fora a parte brasileira deve ter um míni-
claro que os coprodutores podem da Europa. Por exemplo, o Tratado mo de 40% dos direitos do filme e
ter diferentes participações na de coprodução entre França e utilizar artistas e equipe dos quais
parte artística e, por exemplo, ofe- Israel foi assinado no dia 11 de pelo menos 2/3 devem ser brasi-
recer uma distribuição diferenciada outubro de 2002. Desde então leiros ou estrangeiros residentes
nesse quesito. muitos filmes foram coproduzidos no Brasil há mais de 3 anos (vide
com o apoio financeiro da CNC texto da página 26- co-produção
No Brasil o entendimento firmado
francês (Centre du cinéma et de internacional).
pelo mercado e seu órgão regula-
l’image animée nacional) e o Israel
tório é completamente diferente.
Film Fund. Cada produtor deve
Aqui o equity ou propriedade sobre
investir pelo menos 20% do orça-
o filme devem pertencer propor-
mento no projeto coproduzido. Nos
cionalmente ao montante investido,
termos do artigo 10 do tratado de
não levando em conta a participa-
coprodução, benefícios de copro-
ção artística de cada parte. Claro
dução podem ser estendidos para
que a parte brasileira não pode
os produtores de países terceiros.
ser mero prestador de serviço do
No filme de Eran Riklis, Lemon Tree
estrangeiro, o que descaracteriza-
(2007), por exemplo, havia quatro
ria a coprodução, mas não há essa
coprodutores: uma empresa de
exigência forte de que a parte de
Israel com 28%, uma da França
concepção artística seja dividida e
com 30%, uma da Alemanha com
em que proporções, já que não se
31% e por fim uma da Itália com
admitiria participação diferenciada
11% (juntas e nessas participações
na propriedade baseada simples-
conseguiram 100% do orçamento
mente na criação e não no dinheiro.
do filme).
O que há é a necessidade de se ter
um mínimo de artistas e técnicos No Brasil, a fim de ter acesso a
brasileiros trabalhando no produto incentivos locais, deve-se ter uma
final dependendo do tipo de copro- empresa produtora independente
dução de que estivermos falando. brasileira e um contrato de copro-
dução com a empresa estrangeira
Em muitos casos, os países juntam
para que se possa usar as fontes
seus recursos de produção com
locais de financiamento. Existem
base nos termos de acordos de
dois tipos de modelo de coprodu-
coprodução. Os Estados Unidos
ção envolvendo o Brasil: i) aquelas
são um dos poucos países que
produzidas pela empresa brasileira
não mantêm acordos de copro-
registrada na Ancine, em associa-
dução com qualquer outro país.
ção com empresas estrangeiras
A Convenção de Coprodução
com que o Brasil tem um acordo
Europeia de 2 de outubro de 1992
de coprodução com e de acordo
descreve as principais caracte-
com este acordo, ii) aquelas pro-
rísticas da cooperação multina-
duzidas a partir de um acordo de
cional entre os países da União
coprodução com uma empresa de
Europeia, mas cada país tem leis
produção registrada na Ancine, em
108
v
o modelo de financiamento global
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Abaixo alguns dos conceitos utili- Alguns dos incentivos dos Estados c. Brand Integration
zados no mercado dos incentivos americanos: As marcas são as novas estrelas!
fiscais internacional: Para prosperar na indústria do
– Louisiana
entretenimento americano um dos
– Créditos fiscais reembolsáveis Parcialmente reembolsá-
pontos-chave é perceber como
(refundable tax credits) vel, totalmente transferível
gerar engajamento de seu produto
Esses créditos são reembol- (30-35%);
com marcas que tenham o mesmo
sos previstos pelo Fisco uma
– West Virginia público-alvo. A crise de credibilida-
vez que a produtora apresente
transferível (27-31%); de em anúncios publicitários tem
a declaração de impostos. O
estimulado ainda mais a criação
crédito reembolsável consis- – Nova York
de conteúdo próprio por parte
te em excesso de créditos reembolsável (30-35%);
das empresas, sem uma postura
de produção remanescen-
– Illinois agressiva de venda, mas muito
tes após todos os impostos
transferível (30-45%); potente em termos de influência de
pagos.
consumo.
– Virgínia
– Créditos fiscais transferíveis
desconto reembolsável A maneira mais antiga de provo-
(transferable tax credits)
(15-50%). car o consumidor é através de
Esses créditos são créditos
merchandising que consiste em
fiscais não reembolsáveis, que, Qualquer empresa brasileira
apresentar ou anunciar produtos
se não forem utilizados para pode se utilizar de incentivos nos
ou serviços em conteúdos audio-
compensar os impostos da Estados Unidos, desde que filmem
visuais como um “ponto de venda”.
produtora, a deixarão auto- nos Estados mencionados. Não
Muito comum em programas e sé-
rizada a vender os créditos há necessidade de transferir a
ries de TV, essa técnica tornou-se
tributários diretamente para nacionalidade da obra; a operação
muito evidente gerando, em alguns
os contribuintes locais, ou é meramente financeira e pode
casos, rejeição a produtos pois sua
indiretamente por meio de ser estruturada a qualquer tempo,
venda interrompe o roteiro original
corretores e/ou intermediários. basta verificar os Estados que – ao
do que está sendo transmitido. O
tempo da filmagem – oferecem as
– Descontos (rebates) product placement ganhou espaço
melhores vantagens.
São fundos pagos à produtora, e significa inserir a marca sutilmen-
e geralmente não são admi- Diferente dos mecanismos dos te dentro do contexto do próprio
nistrados pelas autoridades EUA, que na maioria das vezes filme para que esta dele faça parte,
fiscais, e não são processados têm um crédito fiscal transferível o mais naturalmente possível. Um
através de declarações de para vender para qualquer em- exemplo clássico são os carros e
Imposto de Renda. presa, no Brasil o governo lhe dá relógios usados por James Bond
crédito fiscal para vender contra em seus filmes.
– Residente
investimento ou comercialização.
Qualquer pessoa domiciliada Atualmente, ao pensar no finan-
Alguém pode colocar parte de seu
no território do Estado ou de ciamento de um filme, conside-
imposto e receber como investidor
qualquer outra pessoa que ra-se uma estratégia de brand
ou coprodutor ou, de outro lado,
mantém um lugar permanente integration. Além da inserção da
usar o projeto com patrocinadores
para viver e gasta mais de seis marca, trata-se de definir como
deduzindo do imposto a pagar.
meses de cada ano dentro do o conteúdo irá interagir com seu
Estado. Nos incentivos fede- público-alvo e como determinadas
rais, residente é uma empresa marcas poderão fazer parte dessa
de produção local que pode convivência. Significa, de fato, usar
acessar o incentivo de seu técnicas de publicidade junto a
país de residência. conteúdos no sentido de fortalecer
111
v
o modelo de financiamento global
a relação com o público, o maior Entender a audiência depende a.
objetivo que todos os produtores exclusivamente de uma atividade: mais de 25 anos
audiovisuais devem obcecadamen- analisar os dados. Quem é seu
te perseguir. Algumas empresas público? O que ele consome? Que ok
já se dedicam exclusivamente ao lugares frequenta? Quais outras
tema como a BiE (brand-inenter- atividades pratica? Essas questões homens mulheres
tainment.com). não são mais meramente com-
plementares. E acredite em uma
Segundo Henry Jenkins: “Até ago-
verdade absoluta: seu filme não é principal ok
ra, vimos as mídias corporativas re-
para todo mundo.
conhecerem o valor e a ameaça da menos de 25 anos
participação dos fãs. Roteiristas e O método mais tradicional em
criadores pensam na narrativa hoje Hollywood para avaliar o público-
em termos da criação de oportu- -alvo de um filme é o sistema de
nidades para a participação do quadrantes (A). Para ter sucesso
consumidor. Ao mesmo tempo, os um filme precisa atingir dois ou
consumidores estão utilizando as mais quadrantes. Hoje já se fala
novas tecnologias midiáticas para no sistema circular (B). Quem está
ações coletivas”. O autor ilustra no centro do circulo é seu público
o poder do consumidor no caso alvo e portanto não é necessário
Harry Potter: o livro passou a ser preocupar-se com a divulgação
b.
reescrito e continuado por diver- para ele. Quem está fora do circulo
sas crianças inglesas que tiveram definitivamente não é o público
seus trabalhos recolhidos por alvo e portanto igualmente não é público-alvo
infringir regras básicas de direito necessário dirigir anúncios à este
autoral, a pedido da WarnerBros. público. Toda a publicidade deve
Entretanto, os fãs continuaram a ser dirigida para quem está no fãs
escrever sobre o herói nas pági- intervalo intermediário do círculo.
nas da internet. O que se ques-
Veja ao lado o exemplo para “O
tiona é que nem a própria autora
Homem Aranha”. O público mais
J. K. Rowling pode exercer tanta
próximo é obviamente o de ho-
influência sobre o comportamento
mens com menos de 25 anos. No
de uma comunidade de fãs. É um
sistema de quadrantes eles seriam
excelente exemplo para perceber
o foco para a publicidade e para
que quem dá as cartas na indús-
a integração das marcas. Já no
tria audiovisual é a audiência. Fãs
sistema circular, a estratégia de
procuram produtos baratos, pro-
divulgação seria voltada a homens
duzidos em larga escala, que lhe
de mais de 25 anos e mulheres de
concedam um lugar na comunida-
menos de 25 anos que não são o
de. Porém, quando o fã tem poder
foco de fãs mas podem tornar-se
econômico, ele busca produtos
público. Independentemente da
de maior valor para diferenciar-se
estratégia que será escolhida é
dentro de sua comunidade.
fundamental criar uma estratégia
de “ouvir o público” para aproxi-
mar-se de marcas que tenham
identidade similar.
112
v
o modelo de financiamento global
Por isso, é fundamental saber que, adiantamento da receita de bilhe- f. Financiamento bancário: dívida
para arrecadar dinheiro correta- teria ou venda pra televisão que um sênior e subordinada (e gap e
mente, em primeiro lugar deve-se país irá realizar em seu território. supergap)
buscar um investidor individual Às vezes, uma grande distribuidora O banco é a chave para um acordo
disposto a investir ou uma empresa adquire o direito de distribuir um de financiamento no modelo
que possa se beneficiar de colocar filme num continente inteiro, com americano, portanto entender suas
seus produtos em sua história. E uma garantia mínima maior. necessidades é parte importante: i)
é assim que se estrutura o mode- O banco é um financiador da dívida
Os bancos americanos dividem o
lo americano: com isso, mesmo com retenção prioritária, tendo ex-
mercado em dois: primários e se-
que você não consiga o dinheiro pectativa de ser totalmente reem-
cundários. Os mercados primários
suficiente, você pode encontrar o bolsado, sem muito risco e com
são aqueles que têm mais liquidez
resto em um banco. juros; ii) Esta abordagem influencia
para os bancos, como Austrália,
a atitude do banco em relação aos
e. Pré-vendas internacionais França, Inglaterra e países do pri-
acordos de distribuição e cofinan-
Nas fases finais de busca de meiro mundo em geral. Os merca-
ciadores, a confiança na garantia
financiamento, o produtor contrata dos secundários são aqueles com
de conclusão, além do cálculo de
um agente de vendas (sales agent) histórico de recebimento menos
reserva de juros; iii) O banco é
que começa o pré-licenciamento confiáveis, como países da África
normalmente o último a financiar e
de alguns dos principais direi- ou Grécia, nesse momento em
o primeiro a ser reembolsado.
tos de distribuição territorial aos crise. A taxa paga por um MG de
distribuidores. O agente de vendas mercado primário pode chegar de Finalizando o financiamento da
internacionais vende os direitos de 90% a 95% do valor do crédito (um produção busca-se a obtenção de
distribuição internacional de um MG de 400 mil dólares, por exem- cartas de intenção de instituições
filme para distribuidores em todo plo, da Inglaterra, seria antecipado financeiras ou de seguradoras
o mundo, em nome do produtor. para o filme em US$ 360 mil ou que façam seguro de finalização
Isso pode se iniciar durante a US$ 380 mil, por exemplo). Já um (C-Bond). A partir daí busca-se
pré-produção e durar até a fase de MG de um mercado secundário celebrar acordos de pré-venda de
conclusão de um filme. (claro que depende do banco e das distribuição, acordos de finalização
taxas) consegue antecipação de de filme (negative pick-up agree-
Toda “pré-venda” é negociada em
50% a 70% do valor de face (um ment) e arranjos de outros traba-
cima de um percentual da recei-
MG dos mesmos US$ 400 mil, por lhos que possam ser usados como
ta que se faz com o audiovisual
exemplo, da Grécia, seria antecipa- colateral para reduzir o risco (por
naquele território, acompanhado
do em US$ 200 mil a US$ 280 mil). exemplo os direitos sobre outro
de uma garantia mínima de receita
filme da produtora).
(“MG” ou minimum guarantee). Essa
garantia mínima pode ser utiliza- Normalmente, os bancos só em-
da pelo produtor para descontar prestam parte do valor do contrato,
seu valor em banco como uma de acordo com a história do produ-
das fontes de financiamento do tor com o banco, confiabilidade do
audiovisual. Cada pré-venda es- banco nos compradores (MG vindo
trangeira (em cada território) tem de quais mercados), país/território
sempre “garantia mínima”. Esse e/ou vendedor.
valor é considerado normalmente
114
v
o modelo de financiamento global
O empréstimo bancário é cha- dificilmente se recuperam). Gaps dos direitos de distribuição para os
mada de “dívida sênior” (senior ou supergaps são formas muito ar- parceiros de coprodução francesa
debt). Este é o primeiro dinheiro riscadas de investimento de capital e belga (que poderia ser conside-
recuperável (ou recuperação e, consequentemente, as taxas e rado um investimento de capital)
prioritária) em um projeto de filme. juros cobrados refletem esse nível e outras pré-vendas celebradas
Normalmente, os bancos que de risco (são maiores que os em- pelo agente de vendas contribuiu
fazem um acordo de finalização préstimos bancários normais). para a captação dos € 2,9 milhões
de filme (negative pick-up agree- restantes. Dessa forma vemos que
Normalmente os gaps e os su-
ment) recebem o dinheiro desde os o modelo apresentado aqui tor-
pergaps estão lastreados em
primeiros rendimentos do filme. Os nou-se padrão internacional e não
“mercados não comercializados”.
MGs devidos pelos distribuidores somente o modelo adotado pelos
Então, por exemplo, digamos que
ao redor do mundo são pagos di- Estados Unidos.
a França é um território que ainda
retamente ao banco, nem passam
não está pré-vendido. O filme é Todos os tipos de financiamento
pelos produtores.
dado como uma das garantias bancários exigem que o produtor
Hoje em dia, há um grande número (mais frágil do que um território contrate um seguro de C-Bond. O
de empresas menores de finan- vendido, pois ainda não está co- C-Bond é responsável por verifi-
ciamento ou até mesmo pessoas mercializado) do financiamento do car se o filme está funcionando
físicas investidoras que fazem a gap ou do supergap. Isso denota de acordo com o calendário. Se o
chamada “dívida subordinada” (su- que um analista de crédito ameri- filme começa a adiar obrigações
bordinated debt). Esta se trata do cano tem que possuir experiência ou andar fora do cronograma, o
segundo dinheiro a receber após e histórico de valores que podem C-Bond tem o direito de assumir
o banco (dívida sênior), também ser obtidos em cada mercado no o filme e terminá-lo. Se o C-Bond,
com retenção prioritária. Em outras intuito de analisar empréstimos ou quem ele nomear, não terminar
palavras, a dívida subordinada é normais ou de gap ou supergap o filme, este garante o dinheiro
o reembolso do que for adiado ou para produções audiovisuais. do investidor ou do empréstimo
subordinado à primeira dívida a bancário que confiou no seguro
O subsídio, o equity e a pré-venda
ser paga. C-Bond para garantir a conclusão
são modelos muitas vezes usados
do projeto (explicaremos um pouco
Dívidas subordinadas normalmente de forma combinada. Na Europa,
mais na parte destinada à produ-
são usadas para financiar o “gap” os filmes dependem fortemente de
ção do projeto sobre esse tipo de
(valor de até 10% do orçamento pré-venda e também das principais
seguro).
sem financiamento) ou “supergap” emissoras de televisão locais ou
(valor maior do que 10% do orça- distribuidores locais em outras
mento sem financiamento). Em ou- mídias. Isto às vezes pode assumir
tras palavras, a diferença é a forma a forma de um investimento de
de financiamento da dívida em que capital, que inclui a licença dos
o produtor deseja completar seu direitos de distribuição locais. Em
pacote de financiamento do filme alguns casos, a televisão local
pela aquisição de um empréstimo, também pode ser um parceiro legal
que está garantido contra MGs da coprodução. Por exemplo, uma
e direitos sobre territórios não recente comédia de língua fran-
vendidos do filme. Gap (ou super- cesa foi uma coprodução França
gap) são subordinados a primeiro e Bélgica orçada em cerca de €
se pagar o banco, mas, sem dúvida 3,5 milhões. A parcela de subsí-
alguma, é muito mais seguro como dios (do CNC na França e créditos
financiamento do que os equity fiscais) foi de cerca de € 600.000
(que mesmo nos Estados Unidos e a pré-venda, incluindo a venda
116
v
o modelo de financiamento global
A prática do crowdfunding ainda TV dedicado exclusivamente ao
representa pouca relevância para golfe ou à pescaria. Como vimos, o
o mercado audiovisual americano. mais importante em toda a cadeia
Entretanto essa condição certa- de produção audiovisual é conhe-
mente mudará quando um filme cer o público-alvo e interagir com
financiado por seu público alcançar sua base de fãs. No processo de
sucesso internacional – principal- financiamento digital não poderia
mente se esse filme for anterior- ser diferente.
mente recusado por Hollywood.
O objetivo deste rápido capítulo é
Também na etapa de exibição é dividir com todos a estrutura global
possível reduzir custos através de e americana, em especial, para se
novas tecnologias. Em primeiro ter clareza na construção de seu
lugar a própria projeção digital nas modelo de negócio.
salas de cinema vem substituindo
a onerosa película. Não menos
relevante, as novas janelas de exi-
bição online, VOD e principalmente
móveis permitem novos formatos
de conteúdo, mais dinâmicos e
baratos. A possibilidade de arma-
zenamento de conteúdo na “nuvem”
garante o acesso a cenas extras
(behind the scenes) exclusivas. A
segunda tela (second screen), que
vem a ser os tablets e celulares
conectados usados simultanea-
mente com a televisão, promove
novas formas de se relacionar com
o conteúdo, especialmente no
ambiente doméstico. Nas salas de
cinema são cada vez mais fre-
quentes ações que transformem
a experiência cinematográfica em
um evento social. Percebemos que
muitos adolescentes deixaram de
ir ao cinema por causa do impe-
dimento de estarem conectados,
com seu telefone ligado; algumas
salas já oferecem sistema de wifi,
permitindo que os celulares fiquem
ligados e até que o público conver-
se durante as sessões. No Brasil, o
CineMaterna oferece salas exclusi-
vas para mães com crianças. Ainda,
crescem as produções voltadas
para o mercado de nicho e microal-
vo, como por exemplo o canal de
capítulo vi
questões tributárias nas produções
audiovisuais e games
120
capítulo vi
questões tributárias nas produções
audiovisuais e games
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
vi.a O Imposto de Renda e Proventos 24. art. 153, inc. III da
Constituição Federal e art. 43
de Qualquer Natureza da Pessoa
tributos incidentes Jurídica (IRPJ), imposto cuja
do Código Tributário Nacional.
sobre as empresas arrecadação é de competência 25. Serão excluídas do Simples
Nacional as pessoas jurídicas
voltadas ao setor de federal24. O Imposto de Renda que se enquadrem em qualquer
tem como fato gerador a aquisi-
cinema, tv, vod e ção de renda, entendida como o
das seguintes situações: i) par-
ticipe de outra pessoa jurídica;
games produto do capital (rendimento), ii) seja filial, sucursal e outros
de pessoa jurídica estrangei-
do trabalho (salário e afins), ou a ra; iii) cujo sócio participe de
a tributação da combinação de ambos, bem como outra empresa optante pelo
de proventos de qualquer natureza, Simples Nacional, desde que a
empresa poderá assim entendidos os acréscimos receita bruta global ultrapasse
ocorrer de três formas, patrimoniais diversos, tais como
o limite de R$ 4.800.000,00;
iv) cujo sócio participe de outra
sendo essa escolha aqueles advindos da venda de empresa com mais de 10% do
bens ou ativos (ganho de capital) capital desde que a receita
importante para e outras formas de acréscimos bruta global ultrapasse o limite
uma maior eficiência patrimoniais.
de R$ 4.800.000,00; v) cujo
sócio seja administrador de ou-
tributária da empresa, Cumpre destacar que o Imposto de tra empresa cuja receita bruta
global ultrapasse o limite de
seja através da Renda é o tributo matriz de parte R$ 4.800.000,00; vi) possua
opção pelo regime do sistema tributário, ou seja, a
escolha de sua forma de apura-
sócio domiciliado no exterior;
vii) tenha débitos fiscais; e, viii)
de recolhimento ção definirá a apuração de outros outras situações previstas na
lei complementar.
unificado do simples tributos federais, tais como; a
nacional, ou da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL); a contribuição
opção pela aplicação para o Programa de Integração
do percentual de Social (PIS); e, a Contribuição para
presunção do lucro o Financiamento da Seguridade
Social (Cofins).
presumido sobre o
Sobre a opção pela sistemá-
resultado da empresa, tica de apuração através do
ou ainda, pela opção Sistema Integrado de Pagamento
pela utilização das de Impostos e Contribuições –
Simples Nacional reservada às
adições e exclusões microempresas e às empresas de
do lucro real para pequeno porte, podendo ser clas-
apuração do resultado sificadas como empresas aquelas
cuja receita bruta não ultrapasse
fiscal da empresa. R$ 4.800.000,00 no ano-calendá-
rio anterior.
Não podem optar pelo Simples
Nacional ou serão excluídas da
opção as pessoas jurídicas que se
enquadrarem em uma das situa-
ções previstas no art. 17 da Lei
Complementar nº 123/200625.
122
A sistemática do Simples Nacional Por fim, a sistemática do lucro real, 26. De acordo com o art.
consiste no pagamento unificado realiza a apuração do imposto par- 13 da Lei Complementar
nº 123/2006, os tributos
de diversos tributos26, aplicando tindo dos balanços ou balancetes compreendidos pelo Simples
uma alíquota única sobre a receita do resultado da empresa, acres- Nacional são: i) IRPJ; ii) IPI; iii)
bruta, sendo tal alíquota determina- centando ao resultado os valores CSLL; iv) PIS/Pasep; v) Cofins;
da através do ramo de atuação da determinados pela legislação fiscal vi) INSS Patronal (possui
exceção); vii) ICMS (possui
empresa, conforme os anexos da e excluindo as despesas dedutí- exceção); e viii) ISS (possui
Lei Complementar nº 123/200627. veis, resultando no lucro tributário exceção).
da empresa. 27. Cumpre destacar que o
Ainda as pessoas jurídicas cuja
anexo que deve ser aplicado
receita bruta total no ano-ca- Ainda na sistemática de apuração para as empresas atuantes
lendário não ultrapasse R$ do lucro real, as contribuições nos mercados abordados no
78.000.000,0028 e que atendam, (CSLL, PIS, Cofins e Contribuição presente manual é o Anexo
ainda, a outras exigências legais29 Previdenciária) possuem formas III – compreende as seguintes
atividades: serviços em geral
poderão optar por apurar o IRPJ próprias de apuração de base de (inclusive mão de obra para
através da sistemática do lucro cálculo e alíquotas. construção civil e profissão
presumido. regulamentada), intermediação
Assim para melhor demonstrar as de negócios, administração,
A sistemática do lucro presumi- sistemáticas de apuração do IRPJ, locação ou cessão de bens
do consiste na determinação de bem como dos outros tributos e móveis, imóveis e de direitos
coeficientes de presunção de lucro facilitar a comparação dos regimes, de qualquer natureza.
legalmente definidos, conforme segue abaixo uma tabela contendo 28. Ou R$ 6.500.000,00 por
a atividade, sobre a receita bruta. as alíquotas das três sistemáticas. mês no ano-calendário anterior.
Esse coeficiente presume um per- 29. Dentre as demais exigên-
centual de lucro para a atividade, cias destacamos o inciso III
do art. 14 da Lei nº 9.718/1999
reduzindo a base de cálculo sobre – “III − que tiverem lucros, rendi-
a qual será aplicada as alíquotas mentos ou ganhos de capitais
dos tributos, podendo, assim, re- advindos do exterior”.
duzir a tributação incidente sobre a
pessoa jurídica.
A principal vantagem do lucro
presumido é que caso o lucro da
empresa seja superior ao percen-
tual aplicável no lucro presumido,
ocorre uma eficiência tributária
que permite que, através da es-
colha do regime de tributação, a
pessoa jurídica reduza sua carga
tributária.
123
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
a. No lucro real foi apresentado
comparação das alíquotas dos impostos e contribuições em cada o valor contendo as alíquotas
sistemática de apuração do Imposto de Renda e do
Adicional
Lucro Real Lucro Simples b. Alíquota na sistemática
Presumido (g) Nacional (h) de apuração cumulativa da
contribuição
IRPJ 25% (a) 8% 0% até 0,81% c. Alíquota na sistemática
de apuração cumulativa da
contribuição
CSLL 9%(i) 2,88% 0% até 0,79%
d. Alíquota de contribuição do
trabalhador individual (sócio)
PIS/Pasesp 0,65% (b) ou 0,65% (b) 0% até 2,42%
e. Alíquota de contribuição do
1,65% (c) trabalhador individual (sócio)
f. A alíquota varia conforme o
Cofins 3% (b) ou 7,6% 3% (b) 0% até 0,57% município onde é prestado o
(c) serviço, sendo apresentadas
as alíquotas mínimas e máxi-
Contribuição 11% (d) ou 20% 11% (d) ou 20% 4% até 7,83% mas previstas na legislação.
previdenciária (e) (e) g. Os valores apresentados re-
ferem-se às alíquotas efetivas
após o cálculo do percentual
ISS 2% até 5% (f) 2% até 5% (f) 2% até 5% de presunção de 32% referen-
te às atividades de prestação
de serviços.
h. O Simples Nacional atual-
mente apresenta 20 faixas
de receitas, sobre as quais
são aplicadas as alíquotas
apresentadas de forma cres-
cente, sendo o primeiro valor
a alíquota mínima referente
à primeira faixa e o segundo
valor a alíquota máxima refe-
rente à última faixa. Cumpre
ressaltar que as alíquotas são
apresentadas apenas como
forma de comparação, uma vez
que o recolhimento do Simples
Nacional é unificado em uma
alíquota única, que soma as
alíquotas da faixa em que o
contribuinte se encontra.
i. Ou 15% no caso de empresas
financeira ou outras definidas
em lei.
124
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
jurisprudência do Superior Tribunal 30. “Art. 3º − Os direitos
A Incidência de ISS e a emis- autorais reputam-se, para os
de Justiça afasta tal entendimento
são de nota fiscal referente efeitos legais, bens móveis.”
apresentando que, se existe veto
à Prestação de Serviços de 31. “É inconstitucional a
presidencial à inclusão de servi-
Produção Cinematográfica incidência do Imposto sobre
ço na lista de serviços, é vedada Serviços de qualquer nature-
Entendemos que não incide sua utilização em interpretação za (ISS) sobre operações de
Imposto sobre Serviços (ISS) na extensiva e ainda os ministros do locação de bens móveis.”
prestação de serviços cinemato- STJ apresentam que a atividade
gráficos, contudo as prefeituras de cinematografia não equivale à
continuam a exigir o pagamento do produção de filmes. A produção
tributo, ainda que sem base legal cinematográfica é uma atividade
para tanto. Nosso entendimento mais ampla, que compreende, en-
pela não sujeição da atividade de tre outros, o planejamento do filme
produção cinematográfica ao ISS, a ser produzido, a contratação de
encontra abrigo na jurisprudência elenco, a locação de espaços para
dos tribunais superiores que vêm filmagem
decidindo pela não incidência de
Ainda, por fim, ressaltamos que os
ISS sobre a produção cinemato-
valores recebidos pela produtora
gráfica, e em consequência da
não devem ser sujeitos a tribu-
não incidência de ISS deverá ser
tação, os valores recebidos pela
emitido recibo e não nota fiscal,
produtora por força de contrato de
referente a tais receitas.
coprodução ou mesmo dos fundos
As receitas advindas das ativida- setoriais para serem utilizados na
des de produção cinematográfica criação da obra não são de dispo-
não deverão ser sujeitas a tributa- nibilidade jurídico-econômica da
ção pelo ISS, ainda que diversos produtora e, portanto, não deverá
municípios possuam o entendi- ser tributado, visto que não corres-
mento de que a produção cinema- pondem a qualquer serviço presta-
tográfica deva ser tributada. do por parte da produtora, sendo o
valor passível de tributação quando
Cumpre destacar que não existe
recebido pelos contratados da
previsão legal para a cobrança do
produtora que atuam na produção
ISS sobre as atividades descritas
da obra audiovisual.
no item 13.01 da lista anexa à LC
nº 116/2003, tendo em vista o Por fim cumpre ressaltar que,
veto expresso do Presidente da como não existe previsão de
República a esse dispositivo, não incidência de ISS sobre a produ-
sendo possível dessa forma sujei- ção cinematográfica, tal operação
tar a produção cinematográfica a deverá ser registrada através da
tributação pelo ISS. emissão de um recibo e não de
uma nota fiscal, dado que não exis-
Diante da falta de previsão legal
te obrigação fiscal de recolhimento
para a tributação pelo ISS sobre
de ISS sobre tais valores.
os serviços de produção cinemato-
gráfica, muitos municípios tributam
essa atividade como sendo uma
atividade congênere à atividade
de cinematografia, contudo a
126
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
a. No Lucro Real foram consi-
tributação das exportações de serviços deradas as sistemáticas não
cumulativas das contribuições
Lucro Real (a) Lucro Simples do PIS e da COFINS, sendo
possível o direito ao crédito
Presumido (b) Nacional dos valores exportados.
b. No Lucro Presumido foram
ISS Isento (c) Isento (c) As expor- consideradas as sistemáticas
tações de cumulativas das contribuições
PIS Isento (d) Isento (f) serviços do PIS e da COFINS, que não
estão sujeitas dá direito a créditos.
Cofins Isento (e) Isento (g) à tributação c. O ISS não incide sobre as
integral pelo exportações de serviços para
o exterior do País, de acordo
IRPJ 25% 8% Simples com o artigo 2º, inciso I, da Lei
Nacional Complementar nº 116/2003.
CSLL 9% (h) 2,88% d. As exportações são
isentas do PIS na sistemática
não cumulativa, de acordo
com o artigo 5º, II da Lei nº
10.637/2002.
e. As exportações são isentas
da Cofins na sistemática
não cumulativa, de acordo
com o artigo 6º, II da Lei nº
10.833/2003
f. As exportações são isentas
do PIS na sistemática cumula-
tiva, de acordo com o artigo 14,
§ 1º, da MP nº 2.158-35/2001.
g. As exportações são isentas
da Cofins na sistemática
Cumulativa, de acordo com o
artigo 14, III, da MP nº 2.158-
35/2001 e artigo 7º, VI, da Lei
Complementar nº 70/1991.
h. Ou 15% no caso de em-
presas financeira ou outras
definidas em lei.
128
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
a. 25% é a regra, podendo ser
tributação das importações de serviços diminuída no caso da ocorrên-
cia de Cide-Royalties, exceto
tributos alíquotas bases de cálculo no caso de paraíso fiscal.
b. Será reduzida para 15%
IRRF 15% ou 25% Valores pagos, remetidos, credi- no caso da incidência de
Cide-Royalties
(a) (b) tados, empregados ou entregues
a residentes ou domiciliados no c. Não incide IRRF sobre a
remuneração efetuada pela li-
exterior pelos serviços tomados. cença de uso ou de direitos de
(c) comercialização ou distribui-
ção de programa de computa-
PIS Importação 1,65% Valor pago, creditado, entregue, dor, na modalidade software de
prateleira, por falta de previsão
empregado ou remetido para o legal.
exterior, antes da retenção do
d. A pessoa jurídica tributada
Imposto de Renda, acrescido na forma do lucro real, sistemá-
do ISS e do valor das próprias tica de apuração não cumula-
contribuições. (d) (e) tiva, poderá apropriar créditos
de PIS/Pasep e Cofins, com
relação a serviços utilizados
Cofins 7,60% Valor pago, creditado, entregue, como insumo na prestação de
Importação empregado ou remetido para o serviços. O valor dos créditos
exterior, antes da retenção do será às alíquotas de 1,65% e
Imposto de Renda, acrescido 7,6%.
do ISS e do valor das próprias e. Não incide PIS e Cofins na
contribuições. (d) (e) modalidade Importação sobre
a remuneração efetuada pela li-
cença de uso ou de direitos de
Cide-Royalties 10% Valores pagos, creditados, entre- comercialização ou distribui-
gues, empregados ou remetidos, ção de programa de computa-
a residentes ou domiciliados no dor, por falta de previsão legal.
exterior, a título de remuneração f. Não incide Cide-Royalties
relativas a serviços técnicos e na modalidade importação
sobre a remuneração efetuada
de assistência administrativa e pela licença de uso ou de
semelhantes e royalties. (f) direitos de comercialização ou
distribuição de programa de
ISS 5% Valores pagos, remetidos, credi- computador, que não envolvam
a transferência da correspon-
tados, empregados ou entregues dente tecnologia, por falta de
a residentes ou domiciliados no previsão legal.
exterior pelos serviços tomados.
Espanha 0% 10%
Eslováquia 0% 15%
Filipinas 0% 15%
Finlândia 0% 15%
França 0% 15%
Hungria 0% 15%
Índia 0% 15%
Israel 0% 10%
Itália 0% 15%
Luxemburgo 0% 15%
131
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
a. A alíquota de 10% deve ser
acordos para evitar a dupla tributação celebrados pelo brasil aplicada para os royalties pelo
uso ou pelo direito de uso de
país dividendos royalties direitos autorais de obras lite-
rárias, artísticas ou científicas,
exceto filmes cinematográficos
México 0% 10% e filmes ou fitas para televisão
ou Radiodifusão.
Holanda 0% 15% b. A alíquota de 10% deve
ser aplicada para os royalties
Noruega 0% 15% pelo uso ou direito de uso de
direitos autorais de obras lite-
rárias, artísticas ou científicas
Peru 0% 15% ou pelo uso ou o direito de uso
de filmes cinematográficos ou
Portugal 0% 15% filmes ou fitas de televisão ou
rádio.
República Tcheca 0% 15% c. A alíquota de 15% deve ser
aplicada para os royalties pelo
uso dos direitos de autor rela-
Rússia 0% 15% tivos a filmes cinematográficos
e filmes ou fitas para radiodifu-
Suécia 0% 15% são ou televisão.
Ucrânia 0% 15%
Venezuela 0% 15%
vi
questões tributárias nas produções audiovisuais e games
Esse entendimento fundamen- licença de uso, seja ela referente 32. 1.09 − Disponibilização,
ta-se no que determina a Lei a ativos corpóreos ou incorpóreos, sem cessão definitiva, de con-
teúdos de áudio, vídeo, imagem
nº 9.610/1998, que no seu art. 7º atingindo, inclusive, o licenciamen- e texto por meio da internet,
prevê como obras intelectuais, as to de ativos protegidos por direitos respeitada a imunidade de li-
obras audiovisuais, sonorizadas ou autorais, de modo que não cabe vros, jornais e periódicos (exce-
não, inclusive as cinematográficas. afirmar, que a aquisição de licen- to a distribuição de conteúdos
pelas prestadoras de Serviço
Combinando-se esse dispositivo ça de uso de softwares somente de Acesso Condicionado, de
legal com o que estabelece o art. teria sido incluída no campo de que trata a Lei no 12.485, de 12
22 da Lei nº 4.506/1964 que, na incidência da Cide/royalties após a de setembro de 2011, sujeita
sua alínea “d”, define como royalties edição da Lei n° 10.332/2001, que ao ICMS).
o rendimento de qualquer espécie passou a determinar a incidência 33. Acórdão Câmara Superior
decorrente do uso, fruição e explo- da contribuição sobre royalties a Carf nº 9303-01.864 − Cide
royalties. Remessa de royalties
ração de direitos autorais, concluiu- qualquer título. para residente ou domiciliado
se, pela incidência da Cide/royalties, no exterior incidência. O paga-
com base no artigo 2º, § 2º da Lei mento, o creditamento, a en-
nº 10.168/2000. trega, o emprego ou a remessa
de royalties, a qualquer título,
Ainda a jurisprudência evoluiu a residentes ou domiciliados
no exterior são hipóteses de
nesse sentido33, afirmando que a incidência da Contribuição
transferência de tecnologia não de Intervenção no Domínio
é condição para a incidência da Econômico criada pela Lei
Cide/royalties e que o Decreto nº nº 10.168/2000. Para que a
contribuição seja devida, basta
4.195/2002, tendo em vista que que qualquer dessas hipóteses
o artigo 10 prevê rol de situações seja concretizada no mundo
em que a Cide/royalties é devida, fenomênico. O pagamento de
sendo que a tributação dos direitos royalties a residentes ou domi-
ciliados no exterior, a título de
autorais estaria prevista nos “royal- contraprestação exigida em
ties a qualquer título”. decorrência de obrigação con-
tratual, seja qual for o objeto do
Assim, os julgadores interpretaram contrato, faz surgir a obrigação
que a Lei nº 10.168/2000 permite tributária referente a essa Cide.
a incidência da contribuição sobre
o pagamento de royalties realizado
por empresa brasileira a programa-
dores no exterior em razão da aqui-
sição de direitos de transmissão de
programas de televisão, já que tal
materialidade está expressamente
prevista no artigo 2º, § 2º da lei.
A jurisprudência sustenta que
o caput do art. 2º da Lei nº
10.168/2000, desde sua redação
original, já previa o pagamento da
Cide/royalties por pessoas jurídi-
cas residentes ou domiciliadas no
país, detentoras de licença de uso,
e que a expressão “licença de uso”
alcança qualquer modalidade de
capítulo vii
compliance
136
capítulo vii
compliance
vii
compliance
recursos públicos. Ainda que a lei
Projetos apoiados pelo poder Indicação dos órgãos apoia-
expressamente mencione apenas
público dores e ações que serão
as organizações da sociedade
desenvolvidas
civil, é certo que ações de trans-
parência ativa (aquelas que são
Financiamento Valor dos projetos com indi-
disponibilizadas diretamente) têm
cação das quantias que serão
sido cada vez mais bem-vistas pelo
repassadas pelo Poder Público
público em geral, podendo agre-
e a contrapartida financeira que
gar às produtoras confiabilidade
será oferecida pela produtora,
na transparência da gestão dos
quando for o caso
recursos públicos. Nesse sentido,
poderão ser disponibilizadas no
Status Situação do projeto junto ao
site da produtora informações da
órgão concedente
tabela ao lado.
Quanto à segunda medida, trata- Prestação de contas Situação da prestação de contas
remos de forma mais específica a
seguir.
138
vii
compliance
iv. nas licitações e contratos: Caso reste comprovado o ato lesivo, iii. padrões de conduta,
podem ser aplicadas as seguintes código de ética e políticas de
a. frustrar ou fraudar, median-
sanções na esfera administrativa: integridade estendidas, quando
te ajuste, combinação ou
necessário, a terceiros, tais
qualquer outro expediente, o a. multa, no valor de 0,1% a 20%
como, fornecedores, pres-
caráter competitivo de proce- do faturamento bruto do último
tadores de serviço, agentes
dimento licitatório público; exercício anterior ao da instau-
intermediários e associados,
ração do processo administra-
b. impedir, perturbar ou fraudar inclusive patrocinadores e
tivo, e
a realização de qualquer ato patrocinados em projetos
de procedimento licitatório b. publicação extraordinária incentivados;
público; da decisão condenatória
iv. treinamentos periódicos sobre
em meios de comunicação
c. afastar ou procurar afastar o programa de integridade;
de grande circulação bem
licitante, por meio de fraude
como por meio de afixação v. análise periódica de riscos
ou oferecimento de vantagem
de edital, pelo prazo mínimo para realizar adaptações
de qualquer tipo;
de 30 (trinta) dias, no próprio necessárias ao programa de
d. fraudar licitação pública ou estabelecimento ou no local integridade;
contrato dela decorrente; de exercício da atividade, de
vi. registros contábeis que
modo visível ao público, e no
e. criar, de modo fraudulento reflitam de forma completa
sítio eletrônico na rede mundial
ou irregular, pessoa jurídica e precisa as transações da
de computadores.
para participar de licitação pessoa jurídica;
pública ou celebrar contrato De acordo com a legislação, não
vii. controles internos que asse-
administrativo; basta ter um programa de integrida-
gurem a pronta elaboração e
de para não estar sujeito às san-
f. obter vantagem ou benefício confiabilidade de relatórios e
ções impostas pela lei. É essencial
indevido, de modo fraudulento, demonstrações financeiros da
que este tenha ações estruturadas
de modificações ou prorroga- pessoa jurídica;
para sua efetiva criação e imple-
ções de contratos celebrados
mentação, de acordo com a realida- viii. procedimentos específicos
com a administração pública,
de da pessoa jurídica. Sua efetivi- para prevenir fraudes e ilícitos
sem autorização em lei, no
dade deverá ser medida de acordo no âmbito de processos licita-
ato convocatório da licitação
com os seguintes parâmetros: tórios, na execução de con-
pública ou nos respectivos
tratos administrativos ou em
instrumentos contratuais; ou i. comprometimento da alta dire-
qualquer interação com o setor
ção da pessoa jurídica, incluí-
g. manipular ou fraudar o equilí- público, ainda que intermedia-
dos os conselhos, evidenciado
brio econômico-financeiro dos da por terceiros, tal como pa-
pelo apoio visível e inequívoco
contratos celebrados com a gamento de tributos, sujeição
ao programa;
administração pública; a fiscalizações ou obtenção de
ii. padrões de conduta, código de autorizações, licenças, permis-
v. dificultar atividade de investiga-
ética, políticas e procedimen- sões e certidões;
ção ou fiscalização de órgãos,
tos de integridade, aplicáveis
entidades ou agentes públicos, ix. independência, estrutura e
a todos os empregados e
ou intervir em sua atuação, in- autoridade da instância interna
administradores, independen-
clusive no âmbito das agências responsável pela aplicação do
temente de cargo ou função
reguladoras e dos órgãos de programa de integridade e fis-
exercidos;
fiscalização do sistema finan- calização de seu cumprimento;
ceiro nacional.
140
Com o Patrocínio
Seguro, a empresa passa
a fazer patrocínios e
doações segundo um
plano estratégico elabo-
rado por profissionais
competentes, aliado a
um rigoroso controle de
compliance com base
nos limites legais e uma
política de integridade
alinhada aos preceitos
da lei anticorrupção.
Para saber mais detalhes
sobre como o Patrocínio
Seguro pode ajudar sua
empresa a patrocinar
ou fazer doações com
segurança e eficiência,
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co através do endereço
abaixo:
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capítulo viii
acessibilidade
146
capítulo viii
acessibilidade
“se levarmos em As pessoas com diferentes tipos Para sabermos as respostas, é im-
de deficiência representam apro- portante, antes de tudo, a análise
conta o número de ximadamente 23% da população do art. 3º da Lei nº 13.146/2015,
espectadores únicos brasileira, ou seja, cerca de 45 mi- conhecida como Lei Brasileira de
no brasil, que de lhões de pessoas. Há algum tempo Inclusão (LBI)35, que consolida o
temos instituídas obrigações de marco legal em relação aos direi-
acordo com o datafolha tornar uma série de atividades co- tos das pessoas com deficiência
é por volta de 10% tidianas integralmente acessíveis, (ver tabela ao lado).
da população, e que para inclusão das pessoas com
Assim, assegurar a democrati-
deficiência. Com o audiovisual não
6% da população é diferente e os órgãos de regula-
zação do audiovisual para todos
tem algum tipo de ção do setor já criaram uma série
implica que eliminemos as barrei-
ras, para garantir a acessibilidade,
deficiência severa, que de regras que devem ser adotadas
em consonância com os princípios
para possibilitar a fruição desses
hoje possivelmente bens culturais por todos.
do desenho universal, nos valendo
ainda não frequentam No Brasil, o direito à fruição igua-
da tecnologia assistiva.
cinemas, podemos litária dos bens culturais começa
A partir disso, quais são os recur-
sos de acessibilidade que preci-
ter um mercado de através da Constituição Federal de
sam estar presentes nas obras
1,2 milhão de novos 1988, que em seu artigo 3º aponta
que: “Constituem objetivos funda-
audiovisuais?36
espectadores.” mentais da República Federativa do
Brasil: I – construir uma sociedade
livre, justa e solidária; e IV – promo-
ver o bem de todos, sem precon-
ceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de
discriminação”.
No entanto, a Constituição prevê
de forma genérica este direito, que
depois de muitos anos e avanços é
detalhado na Convenção da ONU
sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência34, incorporada
à legislação brasileira em 2008,
trazendo no seu texto vários con-
ceitos e compromissos assumidos
pelo país.
Mas, afinal de contas, o que é
acessibilidade? O que ela engloba?
O que é preciso fazer?
147
viii
acessibilidade
34. www.pessoacomdeficien-
conceito definição cia.gov.br/app/sites/default/
files/publicacoes/conven-
Acessibilidade Possibilidade e condição de alcan- caopessoascomdeficiencia.pdf
ce para utilização, com segurança 35. www.planalto.gov.br/cci-
e autonomia, de espaços, mobi- vil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
l13146.htm
liários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informa- 36. Ver tabela na página 143.
ção e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como
de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público
ou privado de uso coletivo, tanto
na zona urbana como na rural, por
pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida.
viii
acessibilidade
Quando falamos em salas de exi- o acesso individual ao conteúdo 37. Para saber mais, aces-
bição é necessário, ainda, atentar especial, sem interferir na fruição se o Guia Orientador para
Acessibilidade de Produções
para a necessidade de adaptação dos demais espectadores. Define Audiovisuais, disponível em:
física (para cadeirantes ou pes- que, até 16 de novembro de 2018, www.camara.gov.br/internet/
soas com mobilidade reduzida) e 100% das salas deverão dispor de agencia/pdf/guia_audiovisuais.
de adaptações para aquisição de tecnologia assistiva e acessibilida- pdf.
ingressos, por exemplo, pela inter- de nos filmes exibidos. 38. A Agência lançou em fe-
net ou presencialmente. vereiro de 2015 a AIR (Análise
Paralelamente, a Ancine criou uma de Impacto nº 1/2014/SEC),
Para que esses recursos de aces- câmara técnica com a participação disponível em: www.regulacao.
gov.br/acompanhe-o-pro-reg/
sibilidade se transformem em uma de representantes dos segmentos documentos/portugues/air-a-
realidade é preciso que se estudem de distribuição e exibição, para cessibilidade-v-consulta-pu-
e analisem os impactos econômicos, acompanhar a implementação e blica.pdf.
mercadológicos, tecnológicos em validar as tecnologias de provimen- 39. www.ancine.gov.br/
toda a cadeia produtiva do audio- to dos recursos de acessibilidade legislacao/instrucoes-norma-
visual, o que, em nosso país, tem para pessoas com deficiência vi- tivas-consolidadas/instru-o-
normativa-n-116-de-18-de-de-
como um dos grandes responsáveis sual e auditiva, nas salas de cinema zembro-de-2014.
a Agência Nacional do Cinema brasileiras. A partir das discussões
40. www.ancine.gov.br/
(Ancine), que toma para si o proces- da câmara foi publicado o Termo legislacao/instrucoes-nor-
so de regulamentação da acessibili- de Recomendações41, que estabe- mativas-consolidadas/instru-
dade no audiovisual. lece os parâmetros mínimos a se- -o-normativa-n-128-de-13-de-
rem observados para a distribuição setembro-de-2016.
Após a fase da análise de impac-
e exibição de conteúdo acessível 41. ancine.gov.br/sites/default/
to38, a Ancine iniciou a regula- files/regulacao/camaras-tec-
nas salas de exibição. O docu-
mentação da obrigatoriedade de nicas/Termo%20de%20reco-
mento apresenta especificações
acessibilidade no audiovisual, por menda%C3%A7oes%20cama-
técnicas recomendadas a empre- ra%20tecnica%20VF.PDF.
meio, primeiramente, da Instrução
sas distribuidoras, exibidoras e
Normativa nº 11639, que trata das
provedoras de soluções de acessi-
produções nacionais financiadas
bilidade, determinando um padrão
com recursos públicos, determi-
a ser seguido no fornecimento dos
nando que 100% das produções
serviços acessíveis, para o público
devem ter suas cópias depositadas
com deficiência auditiva e visual.
com os recursos de audiodescri-
ção, legenda descritiva e Libras. A cadeia do audiovisual possui
Também foi lançada a Instrução alguns agentes com papéis claros
Normativa nº 12840, que prevê e definidos ao longo da sua histó-
que as salas de exibição comer- ria, sendo os principais: agências
cial deverão dispor de tecnologia reguladoras e de fomento, produ-
assistiva voltada à fruição dos tores, distribuidores, exibidores e o
recursos de legendagem, legenda- público. Na acessibilidade audiovi-
gem descritiva, audiodescrição e sual esses atores também pos-
Libras. Os recursos serão provi- suem uma atuação clara e definida,
dos na modalidade que permita de acordo com sua natureza (ver
tabela ao lado).
150
atores papéis
viii
acessibilidade
Ainda que a adequação obrigató-
atores papéis
ria das obras e dos espaços de
exibição requeiram um investimen-
Distribuidoras O papel das distribuidoras se divide em duas
to, é importante destacar a pos-
perspectivas, a de distribuição de filmes nacionais,
sibilidade de aumento de receitas
tendo os recursos de acessibilidade já entregues
provenientes da inclusão de um
pelas produtoras dos filmes e, no caso de distribui-
novo público e, assim, a criação
ção internacional, também garantir a produção dos
de um novo nicho de mercado. Se
recursos. Mas em situação comum de distribuição,
levarmos em conta o número de
de acordo com as definições da Câmara Técnica
espectadores únicos no Brasil, que
da Ancine e recomendações da DCI (Digital Cinema
de acordo com o Datafolha é por
Initiative) e MPAA (Motion Picture Association of
volta de 10% da população, e que
America), os recursos de acessibilidade deverão ser
6% da população têm algum tipo
disponibilizados de duas formas. Inseridos no DCP
de deficiência severa, que hoje
(no caso da janela de Libras essa inserção está
possivelmente ainda não frequen-
condicionada à incorporação do recurso no padrão
tam cinemas, podemos ter um
DCI). E disponibilizados através da internet aos pro-
mercado de 1,2 milhão de novos
vedores dos serviços de acessibilidade contratados
espectadores. Em sessões inclusi-
pelos exibidores para os quais o filme será distribuí-
vas já realizadas, onde foram me-
do. Este processo deverá ser feito de forma segura,
didos o número de pessoas com
atendendo aos requisitos de segurança que criem
deficiência, ocorreu um aumento
barreiras para o acesso de terceiros.
de 1%. Com um trabalho de cons-
cientização e formação de público,
Exibidores Os exibidores serão responsáveis por prover equi-
esse número tende a crescer ainda
pamento de tecnologia assistiva de uso exclusivo
mais.
para transmissão de recursos de acessibilidade, de
forma individual, não sendo possível o uso de dispo-
sitivos próprios. Todas as sessões comerciais deve-
rão ser realizadas de forma acessível e inclusiva.
Pessoa Física
podem apoiar
projetos?
capítulo ix
registro de obra
“a emissão desses A MP nº 2.228-1/2001 incluiu no 43. Artigo 7º, incisos XII e XIII
rol de competências da Ancine43 o
certificados se tornou fornecimento dos Certificados de
44. A definição de obra audio-
visual está presente no artigo
uma obrigação para Produto Brasileiro às obras audio- 1º, inciso XX, da Instrução
Normativa nº 104: “Produto
as produtoras que visuais44 e Certificados de Registro da fixação ou transmissão de
dos contratos de produção, copro-
têm como objetivo a dução, distribuição, licenciamento,
imagens, com ou sem som, que
tenha a finalidade de criar a
exploração comercial cessão de direitos de exploração, impressão de movimento, inde-
pendentemente dos processos
e comunicação veiculação e exibição de obras de captação, do suporte utili-
audiovisuais. Consequentemente,
pública de suas a emissão destes certificados se
zado inicial ou posteriormente
para fixá-las ou transmiti-las,
obras audiovisuais no tornou uma obrigação para as pro- ou dos meios utilizados para
sua veiculação, reprodução,
território brasileiro” dutoras que têm como objetivo a transmissão ou difusão”.
exploração comercial e comunica-
45. A definição de obra audiovi-
ção pública de suas obras audiovi- sual publicitária está presente
suais no território brasileiro. no artigo 1º, inciso XVIII, da IN
nº 95: “Obra audiovisual cuja
A emissão desses certificados destinação é a publicidade e
passou a ser regulado pela Ancine propaganda, exposição ou
através da Instrução Normativa oferta de produtos, serviços,
empresas, instituições públicas
nº 104, que dispõe sobre o ou privadas, partidos políticos,
Certificado de Produto Brasileiro, o associações, administração
CPB, e das Instruções Normativas pública, assim como de bens
nº 95 e nº 105, referentes à emis- materiais e imateriais de qual-
quer natureza”.
são dos Certificados de Registro
de Título, o CRT, para obras 46. A definição de obra au-
diovisual não publicitária está
audiovisuais publicitárias45 e obras presente no artigo 1º, inciso
audiovisuais não publicitárias46, XXXI, da IN nº 104: “Obra au-
respectivamente. diovisual que não se enquadre
na definição de obra audiovi-
No presente Manual, vamos apre- sual publicitária”.
sentar as informações relevantes
para os procedimentos de emissão
do CPB e do CRT de obras não
publicitárias, passíveis de fomento.
157
ix
registro de obra
ix.a O Certificado de Produto Brasileiro, 47. Fragmento de Obra
exigido para todas as obras audio- Audiovisual: trecho de obra
certificado de produto visuais brasileiras, independentes
audiovisual previamente consti-
brasileiro ou não, é concedido de forma gra-
tuída cuja exploração comercial
esteja restrita exclusivamente ao
tuita pela Ancine e tem como obje- licenciamento para constituição
tivos atestar a sua nacionalidade e de novas obras audiovisuais de
qualquer tipo
sua classificação como “brasileira
constituinte de espaço qualificado” 48. A definição de obra com fins
institucionais está presente no §
e “brasileira independente consti- 2º do artigo 8º, da IN nº 104.
tuinte de espaço qualificado”.
Para obras produzidas com recur-
sos incentivados, a emissão do
CPB também é considerada como
a data de conclusão da produção
e necessária para confirmação do
cumprimento do objeto aprovado
pela Ancine, uma das condições
essenciais para aprovação da
prestação de contas do projeto.
Para obras com conteúdo de cará-
ter pessoal, bem como para jogos
eletrônicos e fragmentos de obras
audiovisuais47, não há obrigatorie-
dade de emissão do CPB. Já as
obras audiovisuais não publicitá-
rias com fins institucionais48, do
tipo “jornalístico” e “manifestações
e eventos esportivos” são dispen-
sadas do registro.
O CPB classificará a obra segundo
sua forma de organização tempo-
ral, segundo os tipos (animação,
documentário, ficção, dentre
outros) e em relação à constituição
de espaço qualificado, à composi-
ção societária de seus produtores
e ao vínculo destes com empresas
radiodifusoras, programadoras e
empacotadoras (comum, brasileira
constituinte de espaço qualificado
e brasileira independente consti-
tuinte de espaço qualificado).
158
ix
registro de obra
ix.b O Registro de Obra Estrangeira, 49. Definição de Poder
Dirigente: “poder de controle
conhecido como ROE, foi criado
registro de obra em 2014 pela Ancine e, assim
sobre o patrimônio da obra
estrangeira como o CPB, é um pré-requisito
audiovisual, condição que per-
mite ao detentor ou detentores
para emissão do Certificado de utilizar, fruir e dispor da obra,
Registro de Título e pode ser soli- bem como explorar direta-
mente ou outorgar direitos
citada por qualquer Pessoa Física para as diversas modalidades
ou Jurídica que possua cadastro de exploração econômica da
na Ancine. obra ou de seus elementos de-
rivados, condicionado a que a
Embora não esteja previsto em outorga, limitada no tempo, não
nenhuma Instrução Normativa, o descaracterize a titularidade e
a detenção deste poder”.
procedimento para obtenção do
ROE é feito de forma simplificada
no site da Ancine, sendo exigidas
apenas algumas informações so-
bre a obra audiovisual estrangeira,
quais sejam: (i) título original e títu-
lo no Brasil; (ii) empresa produtora;
(iii) diretor; (iv) país de origem; (v)
organização temporal; (vi) duração;
(vii) ano de produção; (viii) tipo; (ix)
classificação; e (x) sinopse.
Quadro-resumo
– Responsável pelo
requerimento
Qualquer pessoa física ou jurí-
dica com cadastro na Ancine.
– Informações necessárias
Título original e título no Brasil;
empresa produtora; diretor;
país de origem; organização
temporal; duração; ano de
produção; tipo; classificação;
e sinopse.
160
ix
registro de obra
Outra diferença entre o CPB e o ainda, (iv) aquelas com fins insti- 53. São isentas do recolhi-
CRT é que este possui um prazo tucionais. No caso das obras não mento da Condecine, a obra
audiovisual não publicitária
determinado, que pode ser pelo publicitárias estrangeiras, estão destinada à exibição exclusiva
período em que perdurar a deten- desobrigadas apenas as do tipo em mostras e festivais, desde
ção dos direitos de exploração manifestações e eventos esporti- que previamente autorizada
comercial pelo requerente ou, no vos, bem como aquelas incluídas pela Ancine; a obra audiovisual
do tipo jornalística; a obra
caso de obras audiovisuais não na programação internacional. audiovisual do tipo manifes-
isentas de Condecine53 e quando tações e eventos esportivos;
Destaca-se, ainda, que é veda-
houver incidência de tributo, pelo a obra audiovisual brasileira
da a transferência de CRT entre destinada exclusivamente à
período de cinco anos, a contar da
agentes econômicos e, no caso de exportação ou para inclusão
data do requerimento do registro. em programação brasileira
exploração simultânea por agentes
transmitida para o exterior;
O requerimento para emissão do diferentes, ambos devem realizar o a obra audiovisual brasileira
CRT deverá ser realizado através requerimento de CRT e o posterior produzida por empresa radiodi-
do site da Ancine e terá como base recolhimento dos valores devidos a fusora ou programadora, para
as informações fornecidas durante título de Condecine. comunicação pública em seu
próprio segmento de mercado
o procedimento de emissão do ou quando transmitida por
CPB e do ROE, no caso de obra força de lei ou regulamento em
estrangeira. Quando o requeren- outro segmento de mercado;
te for detentor dos direitos de a obra audiovisual incluída na
programação internacional de
licenciamento da obra, deverão ser que trata o inciso XIV do artigo
encaminhadas as cópias dos con- 1º da Medida Provisória nº
tratos de transferência dos direitos 2.228-1/01.
de exploração comercial da obra
audiovisual para o segmento de
mercado no qual ela será comuni-
cada publicamente.
O CRT será emitido pela Ancine
somente após o recolhimento da
Condecine devida e, mesmo após
a concessão, o CRT poderá ser
anulado caso sejam verificadas
irregularidades ou inconsistên-
cias na documentação no qual foi
embasado.
Estão desobrigadas do requeri-
mento de registro as obras não
publicitárias brasileiras (i) jornalís-
ticas, (ii) do tipo manifestações e
eventos esportivos, (iii) destinadas
exclusivamente à exportação ou
para inclusão na programação bra-
sileira transmitida para o exterior e,
162
quadro-resumo
ix
registro de obra
quadro de resumo
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