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& Construções

DURABILIDADE DO CONCRETO Instituto Brasileiro do Concreto

REQUISITOS DE PROJETO, Ano XLIII

NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO 79
JUL-SET

PARA ESTRUTURAS COM LONGA 2015


ISSN 1809-7197

VIDA ÚTIL
www.ibracon.org.br

PERSONALIDADE ENTREVISTADA ENTENDENDO O CONCRETO ACONTECE NAS REGIONAIS

HELENA CARASEK E OSWALDO CONCRETO DE ALTO 57º CONGRESSO BRASILEIRO


CASCUDO: EXPERTISE EM DESEMPENHO x COMPOSTOS DO CONCRETO DISCUTE
DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES CIMENTÍCIOS AVANÇADOS SUSTENTABILIDADE EM BONITO
2 | CONCRETO & Construções
Instituto Brasileiro do Concreto
Organização técnico-científica nacional de defesa
e valorização da engenharia civil

Fundada em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.

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técnicas do IBRACON e de até 20% nas  Oportunidade de participar de Comitês Técnicos,
publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas

Fique bem informado!


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CONCRETO & Construções | 3


u sumário

seções
& Construções & Construções

7 Editorial
9 Coluna Institucional REVISTA OFICIAL DO IBRACON PRESIDENTE DO COMITÊ
DURABILIDADE DO CONCRETO Instituto Brasileiro do Concreto
DURABILIDADE DO CONCRETO Instituto Brasileiro do Concreto

REQUISITOS DE PROJETO, REQUISITOS DE PROJETO,


Revista de caráter científico, tecnoló- EDITORIAL
Ano XLIII Ano XLIII

NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO 79 NORMALIZAÇÃO E EXECUÇÃO 79


PARA ESTRUTURAS COM LONGA
JUL-SET
2015
ISSN 1809-7197
11 Converse com IBRACON gico e informativo
PARA paraESTRUTURAS
o setor produ- COM
à Eduardo
LONGA Barros2015
Millen
JUL-SET

ISSN 1809-7197

VIDA ÚTIL tivo da construção


VIDA civil, para o ensino (estruturas)
ÚTIL
13 Encontros e Notícias
www.ibracon.org.br www.ibracon.org.br

e para a pesquisa em concreto.


CRÉDITOS 26 Personalidade Entrevistada: COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS
ISSN 1809-7197 à Arnaldo Forti Battagin
CAPA Helena Carasek Tiragem desta edição: (cimento e sustentabilidade)
Vista parcial das
estruturas do Pavilhão e Oswaldo Cascudo 5.500 exemplares à Elton Bauer
Publicação trimestral distribuida (argamassas)
Central e da Biblioteca 56 Mantenedor gratuitamente aos associados à Enio Pazini de Figueiredo
do Aquário do Pantanal.
FHECOR do Brasil. 71 Entidades da Cadeia JORNALISTA RESPONSÁVEL
(durabilidade)
à Evandro Duarte
PERSONALIDADE ENTREVISTADA

HELENA CARASEK E OSWALDO


CASCUDO: EXPERTISE EM
ENTENDENDO O CONCRETO

CONCRETO DE ALTO
DESEMPENHO x COMPOSTOS
ACONTECE NAS REGIONAIS

57º CONGRESSO BRASILEIRO


DO CONCRETO DISCUTE
126 Acontece nas Regionais à Fábio Luís Pedroso - MTB 41.728
PERSONALIDADE ENTREVISTADA

HELENA CARASEK E OSWALDO


CASCUDO: EXPERTISE EM
ENTENDENDO O CONCRETO

(protendido)
CONCRETO DE ALTO
DESEMPENHO x COMPOSTOS
ACONTECE NAS REGIONAIS

57º CONGRESSO BRASILEIRO


DO CONCRETO DISCUTE

129 Agenda fabio@ibracon.org.br


DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES CIMENTÍCIOS AVANÇADOS SUSTENTABILIDADE EM BONITO DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES CIMENTÍCIOS AVANÇADOS SUSTENTABILIDADE EM BONITO
à Frederico Falconi

(projetista de fundações)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Guilherme Parsekian
à Arlene Regnier de Lima Ferreira
(alvenaria estrutural)
arlene@ibracon.org.br à Helena Carasek

OBRAS EMBLEMÁTICAS à Hugo Rodrigues

hugo.rodrigues@abcp.org.br
(argamassas)
à Hugo Rodrigues

41 Aquário do Pantanal: desafios de projeto


e construção
PROJETO GRÁFICO E DTP
à Gill Pereira

gill@ellementto-arte.com
(cimento e comunicação)
à Inês L. da Silva Battagin

(normalização)
à Íria Lícia Oliva Doniak

51 Panteão de Roma: análise simplificada


de sua cúpula
ASSINATURA E ATENDIMENTO
office@ibracon.org.br
(pré-fabricados)
à José Tadeu Balbo

(pavimentação)
à Nelson Covas
GRÁFICA
(informática no projeto
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA Ipsis Gráfica e Editora
Preço: R$ 12,00 estrutural)

58
à Paulo E. Fonseca de Campos

Durabilidade das estruturas de concreto como As ideias emitidas pelos entre- (arquitetura)
parâmetro de sustentabilidade vistados ou em artigos assinados à Paulo Helene
são de responsabilidade de seus (concreto, reabilitação)

65 Ações variáveis de projeto segundo os requisitos


mínimo, intermediário e superior da ABNT NBR 15575
autores e não expressam, neces- à Selmo Chapira Kuperman
sariamente, a opinião do Instituto. (barragens)

© Copyright 2015 IBRACON


ENTENDENDO O CONCRETO
Todos os direitos de reprodução re-

74 Concreto de alto desempenho X compostos servados. Esta revista e suas partes


não podem ser reproduzidas nem IBRACON
cimentícios avançados copiadas, em nenhuma forma de Rua Julieta Espírito Santo
impressão mecânica, eletrônica, ou Pinheiro, 68 – CEP 05542-120
qualquer outra, sem o consentimen- Jardim Olímpia – São Paulo – SP
ESTRUTURAS EM DETALHES to por escrito dos autores e editores. Tel. (11) 3735-0202

79 Agressividade de solos e água sobre estruturas


enterradas de concreto

INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO Instituto Brasileiro do Concreto

87
INSTITUTO BRASILEIRO DIRETOR DE MARKETING
Durabilidade de armaduras enterradas DO CONCRETO Hugo da Costa
sob processo natural de corrosão Fundado em 1972 Rodrigues Filho
Declarado de Utilidade

93
Pública Estadual | Lei 2538 DIRETOR DE EVENTOS
Termografia de infravermelho na avaliação de 11/11/1980 Luiz Prado Vieira Júnior
de manifestações patológicas em edifícios Declarado de Utilidade
Pública Federal | Decreto DIRETORA TÉCNICA
86871 de 25/01/1982 Inês Laranjeira
da Silva Battagin
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DIRETOR PRESIDENTE
Túlio Nogueira Bittencourt DIRETOR DE RELAÇÕES

99 Eficiência de transferência de cargas em pavimentos INSTITUCIONAIS


DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE Ricardo Lessa
de concreto simples e continuamente armados Julio Timerman
DIRETOR DE PUBLICAÇÕES

110 Grau de saturação nos modelos de durabilidade DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE E DIVULGAÇÃO TÉCNICA
Nelson Covas Paulo Helene
do concreto para ataques de cloretos
DIRETOR 1º SECRETÁRIO DIRETORA DE PESQUISA

116 Resistência ao ataque de cloretos em concreto Antonio D. de Figueiredo E DESENVOLVIMENTO


Ana Elisabete Paganelli
com cinza de bagaço de cana DIRETOR 2º SECRETÁRIO Guimarães A. Jacintho
Arcindo Vaquero Y Mayor

120
DIRETORA DE CURSOS
Teor de cloretos na resistividade elétrica do DIRETOR 1º TESOUREIRO Iria Lícia Oliva Doniak
concreto armado como parâmetro de durabilidade Claudio Sbrighi Neto
DIRETORA DE CERTIFICAÇÃO
DIRETOR 2º TESOUREIRO DE MÃO DE OBRA
Carlos José Massucato Roseni Cezimbra

6 | CONCRETO & Construções


u editorial

IBRACON para Quê


e para Quem ?
Caro leitor,

O
IBRACON é reconhecidamente uma or- EPUSP, com início
ganização de utilidade pública Estadual na década de 70.
e Federal, de caráter técnico-científico
e de valorização da engenharia nacio- Tanto o CNPq como a CAPES têm as mesmas finali-
nal, que tem a nobre missão de criar, dades de promover e estimular o desenvolvimento do
divulgar e defender o correto conhecimento sobre as País através da valorização da investigação científica
obras em concreto, desenvolvendo o seu mercado, a e tecnológica.
serviço da sustentabilidade do planeta e do bem estar
da sociedade. Para lograr tal objetivo era necessário que a produção
científica dos centros de pesquisa timidamente implan-
Transformar essa visão romântica e clara do papel do Ins- tados naquele tempo fosse divulgada através de even-
tituto em ações concretas, transcendentes e profícuas, tos científicos sérios, com Comitê Científico reconheci-
tem sido historicamente o grande desafio Institucional. do, capacitado e voluntário, conhecido por pares com
atuação ad hoc.
Uma das atividades-suporte desse ideal, iniciada com o
congresso de fundação do Instituto em 1972, tem sido A expressiva maioria desses Congressos de alto nível à
promover, pelo menos uma vez ao ano, um Congresso época só existiam no exterior, o que dificultava a par-
de caráter científico, hoje denominado Congresso Bra- ticipação de pesquisadores nacionais e inviabilizava o
sileiro do Concreto (CBC), cuja 57ª edição se dará na desejado desenvolvimento em larga escala dos centros
magnífica e ecológica cidade de Bonito, em Mato Gros- de pesquisa em concreto no país.
so do Sul, em fins de outubro deste ano.
Naquela época e mesmo até hoje, no setor de obras em
A instituição desses eventos científicos a partir do início concreto, o IBRACON foi a única Instituição nacional a
da década de 70, colaborou na época com o incipien- viabilizar, com qualidade e prestígio, essa divulgação da
te movimento nacional de formação de profissionais de produção acadêmica de excelência, constituindo-se no
alto nível através da pós graduação stricto sensu, ou maior fórum de conhecimento científico e tecnológico
seja viabilizou os programas de mestrado e doutorado do Brasil em engenharia de concreto.
acadêmico, hoje amplamente disseminados nas melho-
res Universidades do país. O Instituto vem premiando as teses e dissertações de
excelência, recebe anualmente mais de mil resumos de
Apesar do CNPq (MCTI) e da CAPES (MEC) terem sido trabalhos técnico-científicos, mobiliza mais de 120 con-
fundados em 1951, as regras básicas dos programas sultores voluntários ad hoc que revisam cuidadosamente
de pós-graduação stricto sensu só foram definidas em cada artigo científico submetido e aprovam cerca de 250
1965, quando então puderam dar seus primeiros pas- para apresentação oral, além de outros tantos para apre-
sos os programas da COPPE, fundada em 1963, e o da sentação na modalidade pôster nas edições dos CBCs.

CONCRETO & Construções | 7


Pode-se dizer que não é por acaso que todas as Univer- Um dos mais importantes é o CT-301 “Concreto Estru-
sidades importantes do país têm centros consolidados tural”, comitê conjunto ABECE / IBRACON, presidido
de pesquisa e desenvolvimento em concreto, possuem atualmente pela Enga Suely Bueno, da JKMF, e secre-
laboratórios de pesquisa e de ensino e viabilizam que tariado pelo Eng. Alio Kimura, do grupo TQS. Um dos
qualquer obra de concreto, ainda que na mais remota frutos do trabalho desse CT é a publicação da ABNT
região do país, possa ter um apoio tecnológico nas uni- NBR 6118:2014. Comentários e Exemplos de Aplicação,
versidades da região.
que será lançado em Bonito no 57º CBC 2015.

Somente isto já seria um legado indiscutível do


Após muitas horas voluntárias de trabalho árduo, esses
IBRACON ao desenvolvimento do mercado de concreto
abnegados profissionais acabam de elaborar mais um
no país, pois viabilizou que investidores, órgãos públi-
documento importante e de muito interesse para o se-
cos, construtores, projetistas, laboratórios, fabricantes
tor. Trata-se de um texto original dedicado a esclarecer
de materiais, enfim, toda a cadeia produtiva do concreto
através de vários, oportunos e inteligentes comentários
tenha suporte técnico e científico confiável em todas as
e exemplos como deve ser o correto uso das recomen-
regiões do território nacional.
dações constantes do texto da nova norma.

A visão e o papel do IBRACON na sociedade brasilei-


ra foram ainda mais longe, percebendo a importância A mobilização e motivação de estudantes de engenha-

de se editar uma Revista Científica (RIEM), mais um ria e arquitetura para o concreto é outro ponto alto do
meio indispensável à divulgação da produção acadê- IBRACON. Os lendários concursos do IBRACON, só
mica do país. Sem ela, os pesquisadores brasileiros neste ano, estão mobilizando cerca de 450 jovens pro-
teriam como alternativa apenas publicar em periódicos venientes de mais 35 Universidades brasileiras e até de
estrangeiros. universidades do exterior, com mais de 200 inscritos no
57º CBC 2015. Esses engenheirandos dão muita vida e
Essa Revista é reconhecida pelo sistema Qualis da movimento ao Congresso e o Instituto cumpre sua mis-
CAPES e pelo sistema SCOPUS / SCielo, sendo obje- são estratégica de longo prazo de formar profissionais
tivo do IBRACON alcançar, a médio prazo, também o engajados no universo do concreto.
sistema ISIS.

Termino o meu espaço neste Editorial, mas ainda teria


No âmbito profissional / comercial edita livros técnicos
muito a comentar sobre a transcendente contribuição
e a Revista CONCRETO & Construções, esta com uma
técnica e científica do Instituto ao mercado de concreto
das maiores penetrações na comunidade de concreto.
no país e ao desenvolvimento, reconhecimento e conso-
O Instituto também iniciou e implantou com sucesso,
lidação das vantagens e benefícios das obras de con-
sob o aval do INMETRO, o sistema nacional de certifi-
creto à sustentabilidade e qualidade de vida, em benefí-
cação de mão de obra no setor de concreto, além de
cio da sociedade brasileira.
oferecer cursos de pós-graduação latu sensu (MASTER-
PEC) visando manter atualizados os melhores profissio-
nais do setor. Venha fazer parte desta Comunidade!
Junte-se ao maior grupo formador de opinião em con-

O estatuto do IBRACON também prevê ainda a criação creto no país!


de Comitês Técnicos (CT) que reúnem grupos de profis-
sionais para, voluntariamente, redigir textos de interesse PAULO HELENE
do setor. D iretor de P ublicações e D ivulgação T écnica

8 | CONCRETO & Construções


u coluna institucional

O maior evento sobre o


concreto pela primeira vez
em Mato Grosso do Sul

S
into-me honra- deram constatar a excelência da

da pelo convite infraestrutura local para receber

de escrever a eventos técnico-científicos.

Coluna Institu- A importância em sediar o

cional da 79ª maior evento técnico-científico

edição da revista CONCRETO & nacional sobre a tecnologia do

Construções, que vai ser distri- concreto e as estruturas de

buída aos participantes do 57º concreto está no fato do evento

Congresso Brasileiro do Con- propiciara integração dos profis-

creto (57º CBC), do qual sou sionais da cadeia produtiva do

coordenadora da Comissão Or- concreto, a troca de experiências

ganizadora Regional, e que tem e as transferências de conhe-

como sua bandeira “O futuro do cimento e tecnologia de outros

concreto para a sustentabilidade nas construções”. polos do Brasil e do mundo para a região. O evento ajudará a

O tema escolhido não poderia ser outro, levando em fortalecer a economia local, bem como incentivará ainda mais

conta o local de realização do 57º CBC, a cidade de Bonito, o turismo de Bonito. Um dos critérios que pautam o trabalho

no Mato Grosso do Sul, foi eleita como o melhor destino de da Comissão Organizadora Regional é tomar o cuidado de uti-

turismo sustentável do mundo na World Travel Market, con- lizar toda a infraestrutura oferecida na região, fazendo com que

siderada uma das maiores feiras da indústria de turismo da população e fornecedores locais sejam beneficiados.

Europa. A cidade acolhedora, com seus 19 mil habitantes, A passagem do Congresso em Bonito deve deixar

oferece mais de 35 atrações naturais e recebe cerca de 230 também um legado arquitetônico: durante a realização

mil turistas por ano. do evento vai acontecer a 8ª edição do Concurso OUSA-

Para trazer o Congresso para o Centro-Oeste, formamos DIA, que desafia os estudantes dos cursos de Engenharia

em 2007 uma equipe para captar o evento. Após diversas Civil, Arquitetura e Tecnologia no país e no exterior ade-

articulações e com o apoio do Bonito Convention & Visitors senvolverem um projeto de um Portal de Entrada com um

Bureau (Bonito CVB), ganhamos a candidatura em 2014. Centro de Informações Turísticas para a cidade. O planeja-

Com a visita dos organizadores nacionais à cidade, eles pu- mento deve conciliar os elementos paisagísticos do local e

CONCRETO & Construções | 9


a busca contínua da redução dos impactos ambientais por Neste ano, teremos ainda eleições para o Conselho Diretor

parte das construções. O projeto vencedor do Concurso do Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON.

Ousadia será entregue à Prefeitura de Bonito, que deve usá- A comissão organizadora do Mato Grosso do Sul está

-lo para a construção do Portal da cidade. agradecida pela colaboração de todos os profissionais, as

Nesta edição do CBC, para que os congressistas possam empresas e entidades do setor de construção civil, que acre-

usufruir das atrações turísticas da cidade, nós, Comissão ditam e apoiam a realização do 57º Congresso Brasileiro do

Organizadora Regional e Nacional, concentramos as ativida- Concreto em Bonito. Sabemos das dificuldades enfrentadas

des dos quatro dias do evento nos períodos verpertino e no- pelo setor da construção civil no ano corrente, mas acredita-

turno. A extensão e profícua programação, característica do mos que conhecimento, pesquisa, informação, tecnologia e

CBC, foi mantida, com a apresentação de trabalhos técnico- experiências são bem-vindos para superar a crise e para nos

-científicos de pesquisadores de universidades e institutos preparamos para uma nova fase de crescimento.

de pesquisa nacionais e estrangeiros, com as palestras de Sejam todos bem-vindos ao Congresso!

especialistas internacionais, com os seminários e conferên-

cias paralelos, com os concursos estudantis, com a XI Feira SANDRA REGINA BERTOCINI

Brasileira das Construções em Concreto (Feibracon) e todas Coordenadora da Comissão Organizadora

as demais atividades tradicionais e consagradas do evento. Regional do 57º CBC

A INDÚSTRIA DE ESTRUTURAS PRÉ-MOLDADAS NO BRASIL


TEM VIABILIZADO IMPORTANTES PROJETOS.

As vantagens deste Eficiência Estrutural;


Flexibilidade Arquitetônica;
sistema construtivo, Versatilidade no uso;
Conformidade com requisitos estabelecidos em normas técnicas ABNT
presente no Brasil há (Associação Brasileira de Normas Técnicas);

mais de 50 anos: Velocidade de Construção;


Uso racional de recursos e menor impacto ambiental.

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10 | CONCRETO & Construções
u converse com o ibracon

ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br


PERGUNTAS TÉCNICAS muitos fatores. Blocos pequenos com aos ensaios e requisitos previstos
pouca armadura e muito cimento podem na ABNT NBR 15823 (Classes SF1,
A partir de qual volume de concreto é ne- fissurar. Blocos grandes, sem os devidos SF2 e SF3). É comum eu ser cha-
cessário considerar em projeto o controle cuidados, podem fissurar mais ainda. mado para avaliar paredes de con-
térmico de uma fundação quanto ao calor O ideal é que se tenha um critério de creto com autoadensáveis e encon-
de hidratação? detalhamento de armaduras que aten- trar uma junta de concretagem bem
ADRIANO JUSTINO da a maior parte dos casos, e sempre inclinada, a 60 graus, quando deve-
(Bauru - SP) que possível solicitar um estudo térmi- ria ser horizontal! Nesses concretos
co mais detalhado. o preço não comporta VEA (aditivos
Especificar um número para esse volume modificadores de viscosidade).
é muito difícil. Já tive a oportunidade de ver ENG. DOUGLAS COUTO, PhD Engenharia 2. Em 95% das obras em concreto
blocos de cerca de 30m³ fissurados devi- autoadensável (que, na verdade,
do ao efeito térmico e, diga-se de passa- Pelo que sei, mas posso estar mal informa- são apenas fluidos), os aditivos su-
gem, esses blocos tinham pouca armadu- da, as concreteiras e indústrias de pré-fabri- perplastificastes são adicionados no
ra no topo e nas laterais. Óbvio que não foi cação do Brasil não costumam usar aditivo canteiro, na hora do lançamento.
a taxa de amadura o agente causador das modificador de viscosidade nos concretos Portanto, não é necessária a robus-
fissuras, mas poderia ter evitado a fissu- autoadensáveis que produzem, ou seja, ado- tez no traço. Concretos autoaden-
ração. Sabemos ainda que muitos blocos tam os chamados “powder type SCC”. Estou sáveis (SCC) dosados e orientados
são armados sem esse tipo de armadura muito curiosa sobre as razões que têm leva- pela PhD sempre saem prontos da
superior, o que pode contribuir muito para do a esta escolha. Primeiro, imaginei que pu- Central e não se adiciona nada no
o aumento da fissuração. desse ser o custo desse aditivo.Entretanto, canteiro. Neste caso, muitas vezes é
Pela definição do IBRACON sobre con- a dosagem desse aditivo costuma ser baixa. vantajoso usar VEA.
creto massa, qualquer peça de concre- E, por outro lado, esse aditivo traria mais 3. A indústria de pré-moldados tem
to que tenha dimensão a partir de 0,50 robustez ao concreto e possibilitaria a ado- a Central de mistura ao lado da
m em pelo menos uma direção, deve ção de menos pasta, o que seria vantajoso produção e dispensa robustez nos
ser tratada como concreto massa e ser sob vários aspectos. Você poderia fazer a concretos e dispensa VEA.
verificada quanto o efeito térmico. gentileza de me esclarecer: 4. Um concreto SCC geralmente re-
Normalmente, em blocos de fundação – se estou certa acerca do não uso do sulta em fcks superiores a 40MPa
usuais, apenas medidas preventivas de aditivo modificador de viscosidade pela aos 28dias e bem poucas obras re-
projeto podem ser suficientes para con- indústria brasileira? querem concretos com fck superior
trolar a fissuração, como, por exemplo, – os motivos desta indústria para a escolha a 40MPa. A grande maioria pede
adotar uma taxa de armadura (superior do concreto autoadensável com maior SCC e fck de 30MPa. Óbvio que
e lateral) um pouco maior que a de cos- teor de pasta? recebe concreto fluido e não SCC.
tume, ou ainda prever a execução por – se a escolha do tipo de concreto autoa- 5. Existe inércia e certo preconceito
camadas de concretagem. A recente densável no Brasil corresponde ao que na indústria do concreto com rela-
revisão da ABNT NBR 6118:2014 in- tem sido feito em outros países? ção a usar muitos aditivos.
cluiu em seu item 22.7.4.1.5 a obriga- LIDIA SHEHATA 6. Alguns aditivos mais caros e
toriedade da colocação de armaduras (UFRJ) mais sofisticados oferecidos no
laterais e superiores em blocos sobre Brasil já têm VEA incorporado no
duas ou mais estacas, e também cha- Pergunta interessante e complexa. superplastificante.
ma a atenção para a avaliação de blo- Consultei a fina flor dos entendidos no 7. É muito interessante usar adições
cos de grandes volumes, entretanto tema: Basf, Viapol, Mc-Bauchemie, (sílica e metacaulim) por conta da
não é dito qual volume é esse. Grace, Engemix, Polimix, ABESC e co- durabilidade, para reduzir risco de
Como vemos é um assunto complexo legas. Meu resumo: AAR (Reação Álcali-Agregado),
e interessante, e especificar a partir de 1. Cerca de 90% do concreto dito, para aumentar fck, para modificar
qual volume se deve ter um cuidado es- chamado ou vendido como auto- módulo, para alterar cor, para alte-
pecial quanto a questão térmica é uma adénsável no Brasil é, na verdade, rar absorção, para reduzir cloretos,
tarefa complicada, pois depende de um concreto fluído que não atende para reduzir consumo de clínquer,

CONCRETO & Construções | 11


ou seja, as adições são mais ne- to, melhorar o concreto fica como subempreiteiro fiquem concretan-
cessárias e versáteis que os VEAs algo secundário. do 2h ou 6h, pois pagam igual ao
e, por isso, são mais utilizadas. 11. Praticamente em todas as Centrais, (gato) subempreiteiro. Daí, vibram
8. Os agregados do RJ são ruins e a administração de aditivos é ma- demais ou de menos, fica abrindo
com granulometria mal equilibrada. nual e precária. Depende de gente ferragem com alavancas, deixam
Os VEAs funcionam bem e me- para dosar cada aditivo e subir na bicheiras, juntas frias, destroem as
lhoram a trabalhabilidade. Foram escada e lançar o aditivo. Na Eu- fôrmas, etc.
utilizados, por exemplo, nas mega- ropa e USA, usam-se dispensados 14. Os VEAs são muito utilizados em
vigas da Cassol, na ponte de Ma- automáticos. No Brasil, depende- argamassa de base cimento. Eu
naus e no Estaleiro Atlântico. -se do peso e quanto menos tipos sempre uso para revestimentos de
9. Grande parte dos cimentos na- diferentes de aditivo, bem menor os tanques, piscinas e parques aquáti-
cionais têm adições incorporadas, riscos de erros humanos. cos, tipo “Wet and Wild”.
enquanto nos USA, eles não têm. 12. Se o pedido é concreto fluido ou Concluindo:
Portanto, fica menos interessante o pseudo SCC, com fck de 25MPa e u Os VEAs são uma boa opção para
uso de VEA no Brasil. sem nenhuma exigência de exsuda- os SCC de verdade;
10. Nas obras, as concretagens são ção, homogeneidade ou segrega- u Motivos vários impedem seu maior
empreitadas por m3 ou m2 e rea- ção, adicionar água à vontade é o uso.
lizadas por terceiros (gatos). Me- caminho mais rápido e mais barato. Estou à sua disposição para ampliar-
lhorar o concreto, reduzir ruídos, 13. Tem serviços de concretagem com mos a discussão.
reduzir prazos, reduzir pessoal concretos de slump 60mm, porque
não altera o preço dos serviços é mais barato. Na obra, ao Cons- PAULO HELENE, diretor de publicações técnicas do

de concretagem (gatos). Portan- trutor tanto faz que os operários do IBRACON e diretor da PhD Engenharia

Ao utilizar a fôrma 80x72,5 cm,


o cliente encontra à sua disposição
alguns fornecedores, podendo
negociar melhores preços.

12 | CONCRETO & Construções


u encontros e notícias | LIVROS

Comentários e Exemplos
de Aplicação da ABNT
NBR 6118:2014
A publicação traz
mentários e exemplos
de aplicação da nova nor-
co- tas do Instituto Brasileiro do
Concreto (IBRACON) e da As-
sociação Brasileira de Enge-
ma brasileira para projetos nharia e Consultoria Estrutural
de estruturas de concreto (ABECE), para normali-
- ABNT NBR 6118:2014, zar o Concreto Estrutural, a
objetivando esclarecer os obra é voltada para enge-
conceitos e exigências nor- nheiros civis, arquitetos e
mativas e, assim, facilitar tecnologistas.
seu uso pelos escritórios A publicação contou com
de projeto. o patrocínio da Ancora Pro,
Fruto do trabalho do Comi- Engeti, Equilibrata, Gerdau,
tê Técnico CT 301, comitê Schwing Stetter, Vedacit e
formado por especialis- Votorantim.

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CONCRETO & Construções | 13


u encontros e notícias | LIVROS

Projeto da Durabilidade de Estru

A vida útil da estrutura no projeto é relativamente recente.


Foi introduzida na década de 1990 na Europa e nos
Estados Unidos e, em 2003 no Brasil, com a publicação da
ABNT NBR 6118. O conceito foi reforçado no país com a
publicação, em 2013, da ABNT NBR 15575, que considera
a durabilidade das estruturas de concreto como um dos
critérios de desempenho das construções civis.
Pela recente introdução do conceito, faltam dados seguros e
confiáveis sobre a durabilidade de obras existentes nos quais
o projetista pode se apoiar. Neste contexto, o livro “Projeto
da Durabilidade de Estruturas de Concreto em Ambientes de
Severa Agressividade” vem suprir uma lacuna na engenharia
de estruturas. Repassando para a obra grande parte de sua
longa experiência em observação, estudo, inspeção e diag-
nóstico de estruturas portuárias e em alto-mar, Odd Gjorv

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14 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | LIVROS

uturas de Concreto em Ambientes de Severa Agressividade


trata com profundidade o tema da du- Deste modo, o livro é obra de consul- -Gobain, a versão brasileira, editada
rabilidade de estruturas em ambientes ta obrigatória para os profissionais da pela Oficina de Textos, teve super-
marinhos, com foco na penetração de engenharia de concreto no país, per- visão técnica de Paulo Helene (Es-
cloretos e a corrosão de armaduras. A mitindo aos projetistas estruturais ob- cola Politécnica da Universidade de
obra trata dos procedimentos e espe- ter conceitos e dados práticos para a São Paulo – Poli-USP) e Enio Pazini
cificações de dosagem do concreto tomada de decisões quanto à introdu- (Escola de Engenharia Civil da Uni-
para assegurar sua durabilidade fren- ção da durabilidade no projeto de es- versidade Federal de Goiás – EEC/
te ao ataque por cloretos, especifica truturas de concreto. O livro também UFG). Ela será lançada no 57º Con-
requisitos prescritivos de durabilidade aborda o controle de qualidade na gresso Brasileiro do Concreto, que
baseados no desempenho da estru- execução de obras e suas consequ- acontece de 27 a 30 de outubro,
tura para o controle da qualidade du- ências em relação à vida útil, servindo em Bonito, Mato Grosso do Sul.
rante a execução da obra e apresenta como referência a consultores, tecno- Os participantes do evento pode-
os procedimentos para inspeção e logistas, construtores, laboratoristas, rão autografar seu livro com o autor,
avaliação da estrutura e para sua ma- pesquisadores e gestores. que também proferirá uma palestra
nutenção preventiva. Com patrocínio da Weber Saint- no Congresso.

CONCRETO & Construções | 15


u encontros e notícias | LIVROS

Sistemas de Fôrmas para


Edifícios – 2ª edição
O livro “Sistemas de Fôr-
mas para Edifícios: reco-
mendações para a melhoria
pliada e atualizada, aborda desde
o projeto arquitetônico e o lança-
mento estrutural frente à constru-
da qualidade e da produtivi- tibilidade da estrutura, passando
dade com redução de custo”, pela caracterização dos materiais
do Eng. Antonio Carlos Zorzi, componentes do molde de ma-
propõe diretrizes para a ra- deira, do projeto de produção e
cionalização de sistemas de fabricação das fôrmas, do cim-
fôrmas empregados na exe- bramento, da montagem e da
cução de estruturas de con- desfôrma, até o treinamento e
creto armado e que utilizam o qualificação de mão de obra.
molde em madeira. A publicação, com patrocínio da
Tendo por base a experiência Peri, é voltada aos engenheiros
profissional do autor junto às civis, projetistas, construtores e
construtoras Encol e Cyrela, a gerenciadores da qualidade da
segunda edição da obra, am- construção.

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projetos mais importantes,
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16 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | LIVROS

Propriedades do Concreto
O livro oferece uma visão abran- Departamento da Universidade
gente e detalhada do concreto de Leeds e reitor da Universi-
como material de construção. dade de Calgary. A tradução
Em sua quinta edição, seu ob- da quinta edição em inglês
jetivo é fornecer aos projetistas, coube ao professor do Depar-
empreiteiros e fornecedores o en- tamento de Engenharia Civil da
tendimento consolidado do com- Universidade do Rio Grande
portamento do concreto, seja em do Sul, Ruy Cremonini.
laboratório, seja em estruturas Editado pela Bookman, a nova
reais, para facilitar a obtenção de edição contém tópicos adi-
construções em concreto com cionais: formação de etringita
maior qualidade. tardia, agregado reciclado de
Seu autor, Adam Neville, tem lar- concreto, concreto autoaden-
ga experiência como professor, sável, ataque de sulfatos, além
pesquisador e consultor em en- das atualizações dos tópicos
genharia civil. Foi diretor da Uni- das edições anteriores.
versidade de Dundee, chefe de à Informações: www.grupoa.com.br

CONCRETO & Construções | 17


u encontros e notícias | LIVROS

Concreto Autoadensável
O livro Concreto Autoaden-
sável, de Bernardo Tutikian
e Denise Dal Molin, está em
resolver um dos maiores gargalos
relacionados à disseminação do
material no Brasil: o custo eleva-
sua segunda edição, revisada do. A partir de tais métodos, foi
e ampliada. Resultado de mais possível que o concreto autoa-
de quinze anos de estudos, a densável tivesse custos compe-
publicação tem início com uma titivos em relação aos concretos
extensa revisão bibliográfica do convencionais, tornando o pro-
concreto autoadensável (CAA), cesso de produção de estruturas
ressaltando aplicações, vanta- com CAA viável economicamen-
gens, desvantagens e equipa- te, como demonstrado nos capí-
mentos de verificação da traba- tulos seguintes.
lhabilidade, entre outros tópicos Lançado pela Editora PINI com
abordados. No capítulo 5 são patrocínio da MC Bauchemie, o
apresentados dois métodos de livro foi lançado na feira Concrete
dosagem que foram desenvolvi- Show South America, ocorrida
dos para CAA com o intuito de em agosto último.

18 | CONCRETO & Construções


u encontros e notícias | EVENTOS

2º Congresso Brasileiro de Patologia das Construções


A Associação Brasileira de Pa-
tologia das Construções (AL-
de Belém, no Pará, o 2° Congresso
Brasileiro de Patologia das Constru-
as pesquisas científicas e tecnológicas
sobre estes importantes temas e áreas
CONPAT BRASIL), com apoio do ções (2º CBPAT). correlatas, o 2º CBPAT está recebendo
Instituto Brasileiro do Concreto Fórum de debates sobre o controle da artigos técnico-científicos.
(IBRACON), promove, entre os dias qualidade, a patologia e a recuperação Informações:
à

18 e 20 de abril de 2016, na cidade de estruturas, com intuito de divulgar http://alconpat.org.br/cbpat2016/

Conferência Internacional sobre


Concreto Estrutural Sustentável
F órum internacional para cientistas,
engenheiros, empresários e cons-
Estrutural Sustentável acontece de 15
a 18 de setembro de 2015, na cidade
Treinamento Multidisciplinar para a
Investigação Tecnológica (LEMIT) e
trutores discutirem os avanços no co- de La Plata, na Argentina. União dos Laboratórios e Especialistas
nhecimento técnico, nas pesquisas e Promovida pela Associação Argentina em Materiais, Sistemas e Estruturas
inovações sobre o concreto sustentá- de Tecnologia do Concreto (AATH), (RILEM).
vel sob diversas perspectivas, a Con- Associação Argentina do Concreto Informações:
à

ferência Internacional sobre Concreto Estrutural (AAHES), Laboratório de www.sustainconcrete2015.com.ar

CONCRETO & Construções | 19


u encontros e notícias | EVENTOS

18º Encontro Nacional de Engenharia


e Consultoria Estrutural (Enece 2015)
S ob o tema “O papel das estruturas
e a viabilidade do empreendimen-
to”, o 18º Encontro Nacional de Enge-
painéis com palestras de especialis-
tas. Kaare Dahl, engenheiro estrutural,
gerente de projeto na Ramboll (Nova
No dia seguinte, haverá um painel que
vai abordar importantes normas que
norteiam o cotidiano do engenheiro
nharia e Consultoria Estrutural (Enece Delhi, Índia) é o convidado do painel estrutural e os principais comitês em
2015) acontece nos dias 8 e 9 de ou- “Construtor versus Estruturas”, onde andamento para atualização e revisão
tubro, no Milenium Centro de Conven- os especialistas debaterão as principais dessas normalizações. A programa-
ções, em São Paulo. As inscrições para necessidades de quem projeta e de ção será encerrada com a cerimônia
o evento já estão abertas. quem executa os empreendimentos. de entrega do 13º Prêmio Talento En-
Promovido pela Associação Brasileira O segundo painel contemplará impor- genharia Estrutural, que revelará os
de Engenharia e Consultoria Estrutural tantes cases de estruturas, fechando o vencedores dos melhores projetos es-
(Abece), o evento será formado por três primeiro dia do evento. truturais de 2015.

14º Congresso Internacional sobre Química do Cimento


O 14º Congresso Internacional sobre
Química do Cimento será realiza-
do de 13 a 16 de outubro de 2015, em
cimento de baixa emissão de carbono e
o desenvolvimento sustentável no setor.
Durante o evento, serão realizadas as vi-
Materiais de Construção, ao Escritório em
Pequim da Barragem das Três Gargantas
e a Fábrica de Cimento de Pequim.
Pequim, na China, tendo como tema o sitas técnicas a Academia Chinesa de à Informações: www.iccc2015beijing.org

20 | CONCRETO & Construções


u encontros e notícias | EVENTOS

Congresso Internacional em Reabilitação de Construções


O Congresso
Reabilitação
Internacional
de
em
Construções
ções. Está prevista a apresentação de
cerca de 400 trabalhos técnico-cientí-
os workshops “Vida útil das Cons-
truções”, “Patologia e manutenção
(Conpat 2015) vai ocorrer no Instituto ficos de pesquisadores de 19 países. das construções”, “Nanomateriais
Superior Técnico, em Lisboa, Portu- Promovido pela Alconpat (Associa- na melhoria do desempenho de so-
gal, de 08 a 10 de setembro de 2015, ção de Patologia das Construções), luções de revestimento” e “Constru-
com a finalidade de divulgar as me- o evento oferecerá também os cur- ções Sustentáveis”.
lhores estratégias e tecnologias para sos “Patologia das Construções” e Informações:
à

o setor de reabilitação das constru- “Reabilitação das Construções”, e www.conpat2015.com

2ª Conferência Internacional sobre


Sustentabilidade do Concreto
C om a finalidade de discutir tec-
nologias redutoras de impactos
Internacional sobre sustentabilidade
do concreto (ICCS16) vai acontecer de
nica de Madri (UPM) e co-organizada
pela Ache, ACI, Alconpat, fib, Rilem e
ambientais, aspectos de durabilidade 13 a 15 de junho de 2016, em Madri, JCI, a Conferência recebe artigos técni-
de projetos de obras e materiais e es- na Espanha. cos até 31 de outubro.
truturas sustentáveis, a 2ª Conferência Organizada pela Universidade Politéc- Informações: www.iccs16.org
à

CONCRETO & Construções | 21


u encontros e notícias | EVENTOS

A Normalização Brasileira
de Estruturas de Concreto
enfrenta novo desafio
internacional
N o próximo mês de outubro a cidade de Seoul, na Coréia do Sul,
receberá representantes do mundo todo para a reunião anual do
ISO/TC71 - International Committee of Concrete, Reinforced Con-
crete and Pre-Stressed Concrete.
Em sua 21ª edição, o evento será realizado no período de 26 a 29
de outubro 2015, sob o patrocínio do KATS – Korean Agency for
Technology and Standards, que é o organismo de normalização na-
cional do País.
Para o Brasil esse pode ser um momento histórico, pois a nossa
Norma de Projeto de Estruturas de Concreto, ABNT NBR 6118, será
submetida a uma nova avaliação para revalidação de seu registro na
ISO - International Organization for Standadization.
A conquista obtida em 2008, quando pela primeira vez a Norma
Brasileira foi considerada como documento de validade interna-
cional por cumprir com as exigências da ISO 19338 Performance
and assessment requirements for design standards on structural

FSB

para escrever a história de


um país, é preciso cuidar dele.

Para um país crescer, é preciso investimento. Mas é necessário também pensar no meio
ambiente, na sociedade e nas futuras gerações.
A indústria do cimento investe em qualidade e utiliza as tecnologias mais avançadas para
promover um desenvolvimento sustentável. Colabora ainda para tornar o meio ambiente mais
limpo com o co-processamento: a destruição de resíduos industriais e pneus em seus fornos.
Onde tem gente tem cimento.
22 | CONCRETO & Construções
u encontros e notícias | EVENTOS

concrete, deve se repetir este ano, quando agora, para a reunião do TC71 de 2015. encaminhamento de sugestões e votos bra-
a revalidação do registro está sendo exigida Na reunião a ser realizada em Seoul, o Bra- sileiros para os documentos internacionais
de todos os países, em vista da revisão da sil será representado pela Coordenadora da nesse âmbito, ao longo dos últimos dez anos
ISO 19338. Comissão de Estudo da ABNT e do CT 301 de atuação, têm garantido ao Brasil uma pre-
Muito trabalho foi empreendido nos últimos IBRACON/ABECE, Engª Suely Bacchereti sença forte, técnica e muito positiva.
anos com a revisão da Norma Brasileira e Bueno, pela Prof. Dra. Sofia Maria Carrato A Diretoria do IBRACON participa desse
de seus documentos complementares, de Diniz e pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Pinto da trabalho com a atuação de seu Presiden-
forma a ser mantido o estágio de atualiza- Silva Filho. te, Prof. Dr. Túlio Bittencourt, de seus Vice-
ção com relação às exigências internacio- Toda a documentação exigida pela ISO foi já -Presidentes, Engo. Júlio Timerman e Engo.
nais, mas vale salientar que a mais expres- oficialmente enviada pelo Brasil, através de Nelson Covas, do seu Diretor de Publica-
siva modificação da ABNT NBR 6118 com seu organismo nacional de normalização, ções, Prof. Dr. Paulo Helene, da Diretora de
relação ao documento apresentado à ISO a ABNT. No dia 28 de outubro, os repre- Cursos, Enga. Íria Lícia Oliva Doniak e da
em 2008 é a ampliação de seu escopo, sentantes brasileiros devem apresentar ao Diretora Técnica, Enga. Inês Battagin, que
abrangendo agora as estruturas de concre- TC71/SC4 informações sobre o conteúdo responde também pela Superintendência
to de alto desempenho. da Norma Brasileira e de que forma ela do ABNT/CB18.
O CT 301 – Comitê Técnico IBRACON/ atende às exigências estabelecidas na nova No 57º Congresso Brasileiro do Concreto
ABECE de Projeto de Estruturas de Concre- ISO 19338. do IBRACON, que será realizado em Boni-
to atuou fortemente para esses resultados, Na programação estão previstas muitas ou- to, Mato Grosso do Sul, no mês de outubro,
tendo preparado os textos-base encami- tras atividades nas reuniões dos subcomitês será lançado o caderno de Práticas Reco-
nhados à Associação Brasileira de Normas do ISO/TC 71, que serão realizadas como mendadas IBRACON/ABECE, elaborado
Técnicas (ABNT) para a revisão da Norma apresentado no Quadro. A presença dos pelo CT 301, com Comentários e Exemplos
em 2003 e 2014, bem como a documen- representantes brasileiros em todas elas e de Aplicação da versão de 2014 da ABNT
tação para seu registro na ISO em 2008 e, o trabalho desenvolvido com a análise e o NBR 6118.

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CONCRETO & Construções | 23
u encontros e notícias | CURSOS

Estruturas pré-fabricadas de concreto:


do projeto à obra pronta
C om uma introdução geral do
processo construtivo com pré-
-fabricados de concreto, envolven-
ção de manifestações patológi-
cas, o curso é destinado a profis-
sionais e empresários do setor de
volvimento de plantas de produção
de pré-fabricados.
Data: 28/10/2015
do projeto, produção e montagem, pré-fabricação. Horário: 9:00h às 13:00h
com ênfase em ligações e proten- O curso será ministrado pelo en- Carga horária: 4 horas
são, padronização e certificação genheiro civil Luís Otávio Livi, com Créditos Master Pec: 4 créditos
das peças, incluindo aspectos atuação como projetista de estrutu- Local: Centro de Convenções de Bonito
normativos da ABNT NBR 9062 e ras na Cassol Pré-fabricados (2006- Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
ABNT NBR 14861, contratação e 2012) e, atualmente, como consultor – IBRACON
principais aplicações, e a preven- em projetos, implantação e desen- à Informações: www.ibracon.org.br

Projeto de lajes em concreto armado e protendido


O curso apresenta uma visão geral
do projeto de lajes, desde seus
tipos, principais conceitos envolvi-
aspectos de cálculo (vãos máximos,
espessuras mínimas, ações atuan-
tes, metodologias), até considera-
punção e vibrações).
Voltado para engenheiros, projetis-
tas, técnicos de edificações, arquite-
dos no dimensionamento e materiais ções sobre suas condições em ser- tos e estudantes em final de curso, o
usados, passando pelos principais viço (flechas, fluência, fissuração, curso será oferecido aos participantes

PROGRAMA
MASTER PEC
IBRACON
ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS DE
CONCRETO: DO PROJETO À OBRA PRONTA
Data: 28/10/2015
Horário: 9h00 / 13h00

PROJETO DE LAJES EM CONCRETO CORROSÃO DAS ARMADURAS:


ARMADO E PROTENDIDO ESTADO DA ARTE
Data: 29/10/2015 Data: 30/10/2015
Horário: 9h00 / 18h00 Horário: 9h00 / 18h00

LOCAL INFORMAÇÕES
Centro de Convenções de Bonito – MS Tel.: 11-3735-0202
e-mail: vanessa@ibracon.org.br
site: www.ibracon.org.br

24 | CONCRETO & Construções


u encontros e notícias | CURSOS

do 57º Congresso Brasileiro do Con- das Faculdades Metropolitanas de Créditos Master Pec: 8 créditos
creto. Seu ministrante é diretor do Campinas (Verismetrocamp). Local: Centro de Convenções de Bonito
Escritório Brasileiro de Protensão e Data: 29/10/2015 Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
ex-professor do Centro Universitário Horário: 9:00h às 18:00h – IBRACON
Adventista de São Paulo (Unasp) e Carga horária: 8 horas à Informações: www.ibracon.org.br

Corrosão de armaduras: estado da arte


M inistrado por uma equipe de
especialistas na área de dura-
Brasileiro do Concreto, sendo minis-
trado pela pesquisadora do Instituto
de São Paulo (Poli-USP), Prof. Paulo
Helene, e pelo professor da Escola
bilidade das estruturas de concreto, de Ciências da Construção Eduardo de Engenharia Civil da Universidade
o minicurso vai discutir os mecanis- Torroja (CSIC), na Espanha, Eng. Federal de Goiás (EEC/UFG), Prof.
mos associados à corrosão de ar- Maria Del Carmen, pelo professor Ênio Pazini.
maduras, os aspectos de projeto de emérito da Universidade Noruegue- Data: 30/10/2015
estruturas duráveis, a vida útil das sa de Ciência e Tecnologia (NTNU), Horário: 9:00h às 18:00h
Authors are kindly invited to submit 300 word abstracts before May 15th, 2015, through the online
construções, os métodos de avalia- Prof. Odd Gjorv, pelo pesquisador do Carga horária: 8 horas
submission system which will soon be available at the Conference website (http://www.iabmas2016.org).
ção da deterioração das estruturas Conselho Nacional de Investigações Créditos Master Pec: 8 créditos
e as estratégias de intervenção para Científicas e Técnicas, na Argenti- Local: Centro de Convenções de Bonito
recuperar e prolongar sua vida útil. na, Prof. Yuri Villagran, pelo diretor Realização: Instituto Brasileiro do Concreto
O minicurso vai ser oferecido aos da PhD Engenharia e professor da – IBRACON
participantes do 57º Congresso Escola Politécnica da Universidade Informações: www.ibracon.org.br
à

8th International Conference on


Bridge Maintenance, Safety and Management
(IABMAS2016)
June 26-30, 2016 | Foz do Iguaçu | Paraná | Brazil
w w w. i a b m a s 2 0 1 6 . o r g

T O P I C S

Advanced Materials Systems Systems Demands


u Aging of Bridges u Damage Identification u Field Testing u Repair and Replacement
u Assessment and Evaluation u New Design Methods u Health Monitoring u Residual Service Life

u Bridge Codes u Deterioration Modeling u Load Models u Safety and Serviceability

u Bridge Diagnostics u Earthquake and Accidental u Life-Cycle Assessment u Service Life Prediction

u Bridge Management u Maintenance Strategies u Sustainable Bridges

Loadings u Non-destructive Testing

u Fatigue u Prediction of Future Traffic

u Foundation Engineering

I N F O R M A T I O N

SECRETARIAT
Ms. Tatiana Razuk
secretariat@iabmas2016.org CONCRETO & Construções | 25
u personalidade entrevistada

Oswaldo
Cascudo
&
Helena
Carasek

26 | CONCRETO & Construções


O
swaldo Cascudo IBRACON – Conte-nos resumidamente totalmente novo, que definiu a
e Helena Carasek sobre suas carreiras profissionais, trajetória que eu seguiria por toda
são professores começando pela escolha do curso de minha vida profissional até os dias
e pesquisadores engenharia civil, as motivações para a de hoje. A partir dele, adentrei a
da Escola de especialização e as razões para seguir a área de durabilidade do concreto e
Engenharia Civil carreira acadêmica. de corrosão das armaduras, áreas
da Universidade Federal de Goiás Oswaldo Cascudo – Desde tenra principais de minha atuação como
(UFG), ligados ao seu Programa idade, tenho memória da engenharia docente, pesquisador e consultor.
de Pós-Graduação em Geotecnia, como algo que me fascinava. O doutorado, também na EPUSP,
Estruturas e Construção Civil. A grandiosidade das obras e a consolidou minha formação e me
Formados em Engenharia Civil, capacidade de transformação dos deu maturidade e profundidade de
ele pela Universidade Federal espaços dada pela engenharia conhecimento. Um pós-doutorado
da Paraíba (1987), ela pela de construção sempre me em Toulouse, na França, em
Universidade do Vale do Rio dos emocionaram. Era como um “passe 2003/2004, propiciou-me uma rica
Sinos (1987), no Rio Grande do de mágica” ver um terreno vazio se experiência, um “olhar” internacional
Sul, conheceram-se durante o transformar em uma grande obra para todo o conteúdo agregado no
doutorado na Universidade de São ou em uma habitação, e isso mudar mestrado e doutorado.
Paulo (1996). a vida das pessoas. A escolha da Sou docente e pesquisador da
Engenharia Civil veio, então, como Universidade Federal de Goiás (UFG)
Helena é consultora na área decorrência espontânea desse desde 1992. Esta instituição me
de argamassas, alvenarias, sentimento infanto-juvenil, algo possibilitou o desenvolvimento da
revestimentos, patologia e terapia muito natural, apesar de filho e carreira profissional na docência.
das construções e durabilidade irmão de médicos e de uma família Também me deu o lastro para
do concreto. É autora do livro eminentemente ligada à área da atuação como pesquisador.
“Argamassas de Revestimentos: saúde. O curso de engenharia Atualmente, no Programa de Pós-
características, propriedades e civil na Universidade Federal da Graduação em Geotecnia, Estruturas
métodos de ensaio”. Paraíba (atualmente Universidade e Construção Civil (PPG-GECON),
Federal de Campina Grande), estamos criando as bases para a
Oswaldo é consultor em tecnologia entre 1983 e 1987, foi o esteio de construção de um programa de
do concreto, patologia e terapia minha vida profissional, por ser um doutorado, o primeiro em engenharia
das construções e durabilidade do exemplo de curso organizado e civil no estado e região. No momento
concreto, com atuação destacada bem estruturado, no seio de uma como Professor Associado,
na avaliação e diagnóstico universidade de referência para toda preparo-me, no ano que vem, para
de corrosão de armaduras e a região Nordeste. Foi, contudo, a progressão ao último estágio da
recuperação estrutural. É autor do o mestrado na Escola Politécnica carreira, o de Professor Titular, a
livro “O controle da corrosão de da Universidade de São Paulo posição mais alta e nobre na carreira.
armaduras em concreto: inspeção e (EPUSP), que me abriu um cenário Helena Carasek – Pode-se dizer que
técnicas eletroquímicas”.


Recentemente, Oswaldo e Helena CASCUDO: “A GRANDIOSIDADE DAS
coordenaram a tradução e edição
do livro “Durabilidade do Concreto:
OBRAS E A CAPACIDADE DE


bases científicas para a formulação de TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS DADA
concretos duráveis de acordo com o
PELA ENGENHARIA DE CONSTRUÇÃO
ambiente”, lançado pelo IBRACON.
SEMPRE ME EMOCIONARAM”

CONCRETO & Construções | 27



CASCUDO: “INICIALMENTE CALCADA EM AVALIAÇÕES


SINTOMATOLÓGICAS DE FENÔMENOS, A ABORDAGEM
DA DURABILIDADE CAMINHA AGORA PARA UMA
ABORDAGEM BASEADA NO DESEMPENHO”

a minha carreira profissional começou de que estava na profissão certa concentração de estruturas, com
em 1982, quando fiz vestibular para o e com desejo de me aperfeiçoar uma dissertação sobre alvenaria
curso de Engenharia Civil na UNISINOS, mais, ingressei no mestrado. Nessa estrutural. Quando terminei o
em São Leopoldo, no Rio Grande do época, novamente, muito por mestrado, decidi continuar a minha
Sul. Após as dúvidas normais de uma influência do exemplo do meu pai, formação, fazendo prontamente o
adolescente, decidi por essa profissão que apesar de atuar com sucesso doutorado. A minha pesquisa de
com base em um teste vocacional, mas como engenheiro mecânico na mestrado, por tratar do sistema
também inspirada no meu pai, também direção de uma indústria, sempre construtivo alvenaria estrutural, abriu
engenheiro. Rapidamente descobri que encontrou tempo para lecionar a possibilidade para trabalhar também
tinha acertado na escolha da profissão, engenharia, eu já pensava em ser, na área de construção civil, e, por
principalmente quando ingressei no além de engenheira, professora. essa razão, optei por continuar as
ciclo profissional da faculdade. Com Incentivada pela família e também investigações com foco nos materiais
boas notas e me destacando em pelo Prof. João Luiz Campagnolo de construção. Então, busquei o que
relação aos colegas, gostava de todas (UFRGS), estimado amigo, ingressei de melhor existia no país, em termos
as matérias e de fazer qualquer tipo de no Curso de Pós-Graduação em de pós-graduação “stricto-sensu” na
projeto de engenharia. Engenharia Civil da UFRGS. área de construção civil, ingressando
Ao concluir a faculdade, convicta Defendi o meu mestrado na área de na tradicional Escola Politécnica da
USP. Foi nessa época que o Oswaldo
e eu nos conhecemos; depois de
um rápido namoro nos casamos e, a
partir daí, a nossa trajetória pessoal
e profissional se mistura, como, por
exemplo, na realização do Pós-
Doc na França, que o Oswaldo já
comentou, e toda a trajetória como
docentes e pesquisadores na UFG.
Quando estava próxima a conclusão
do meu doutorado, fiz concurso
para docente na UFG e tomei posse
em 1994. Esta ação representou a
tomada de decisão mais relevante
da minha carreira profissional,
uma vez que definiu meu domicílio
pessoal e minha filiação institucional,
dando-me assim condições para
que eu pudesse desenvolver minhas
atividades como engenheira e como
docente e pesquisadora.
Pavilhão de Portugal no Parque das Nações, em Lisboa. Esbeltez, forma e audácia
no elemento em concreto da cobertura do vão Desde então, já são mais de 20

28 | CONCRETO & Construções


anos como docente da UFG, abstrato, evoluindo para algo real, preponderantes de deterioração
instituição que apreendi a respeitar e fruto de ações absolutamente relativos à armadura; e mecanismos
a defender. Recentemente, progredi sistêmicas. No campo das estruturas de deterioração da estrutura
para a classe de Professor Titular. de concreto, a compreensão científica propriamente dita.
Foi uma honra ter na minha banca dos materiais e o aprofundamento Inseridos nos mecanismos
os professores titulares Paulo Helene nos mecanismos físico-químicos de envelhecimento relativos
(USP), Geraldo Isaia (UFSM), Almir e eletroquímicos dos fenômenos especificamente ao concreto estão
Sales (UFSCar) e Antônio Baleeiro patológicos e de degradação os processos químicos, tais como:
(UFG), para me avaliar. e envelhecimento estrutural, a lixiviação, os ataques por sulfatos
propiciaram um avanço extraordinário, (externos e internos), os ataques
IBRACON – Por quais mudanças que mudou a abordagem de ácidos e alcalinos, troca iônica, bem
de compreensão científica e técnica durabilidade. Inicialmente calcada como a reação álcali-agregado. Já
passou o conceito de durabilidade nos em avaliações sintomatológicas de os mecanismos de deterioração
últimos anos? fenômenos, caminha agora para uma das armaduras dizem respeito ao
Oswaldo Cascudo – O conceito abordagem baseada no desempenho. problema da corrosão das barras de
de durabilidade evoluiu muito nos Esta nova abordagem permite, com aço inseridas no concreto (armado
últimos anos. Passou de mera boa margem de segurança, por meio e protendido), onde os processos
constatação daquilo que “vence” ao dos parâmetros de desempenho e podem ser iniciados por carbonatação
tempo, para algo que mantém seus dos modelos de previsão de vida útil, e por ação de cloretos. Por fim,
aspectos funcionais e propriedades conceber uma estrutura de concreto os mecanismos de deterioração
fundamentais ao longo do tempo. para “vencer” certa durabilidade. da estrutura propriamente dita são
Deixou de ser um conceito qualitativo, aqueles relacionados às ações
algo que se conquista ao acaso ou IBRACON – Quais são os mecanismos mecânicas, movimentações de
por métodos empíricos, para algo principais de envelhecimento das origem térmica, impactos, ações
palpável e mensurável, por meio da estruturas de concreto? cíclicas, retração, fluência e relaxação,
inserção do conceito de vida útil. A Helena Carasek – Existem várias bem como as diversas ações que
durabilidade pode ser inserida no formas de classificar os mecanismos atuam sobre a estrutura.
projeto, por meio do conceito de de envelhecimento das estruturas
vida útil de projeto, que sinaliza uma de concreto, como, por exemplo, IBRACON – Quais são as
expectativa de durabilidade, a ser em função dos processos de manifestações patológicas mais comuns

conquistada com a boa execução, deterioração: físico-mecânicos, em estruturas de concreto?

com a definição correta e conforme químicos, biológicos e eletroquímicos Oswaldo Cascudo – As manifestações
dos materiais e componentes de (das armaduras). Eu acho, no entanto, patológicas em estruturas de
construção, e com um adequado uso interessante, a forma como a ABNT concreto são oriundas do projeto
e operação, que contemple as ações NBR 6118 divide os mecanismos de ruim e da especificação inadequada
de manutenção preventiva e, quando deterioração, em 3 tipos: mecanismos do concreto, evidentemente
necessária, corretiva. A durabilidade, preponderantes de deterioração potencializadas pelos mais altos níveis
portanto, deixou de ter um significado relativos ao concreto; mecanismos de agressividade ambiental. Há na


CARASEK: “A ABNT NBR 6118 DIVIDE OS


MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO EM TRÊS TIPOS:
RELATIVOS AO CONCRETO, À ARMADURA E À
ESTRUTURA PROPRIAMENTE DITA”

CONCRETO & Construções | 29


de hidratação deixaram de ser um
problema exclusivo do concreto
massa de barragens. Agora, passa a
ser algo muito presente nos blocos de
transição, constituintes das fundações
nos edifícios de grande altura. Como
os blocos são cada vez maiores, em
função de carregamentos elevados
de edifícios muito altos, com fcks cada
vez mais altos, esta é uma questão
da ordem do dia, cuja solução passa
por ações preventivas de cálculo
térmico, bem como pela correta
especificação do concreto e por
ações específicas na concretagem.
Falhas de projeto e executivas
para captação e escoamento
de água pluvial em lajes abertas
impermeabilizadas e falhas gerais
nos sistemas de impermeabilização
Avaliação da frente de carbonatação do concreto por meio do indicador têm produzido muitos problemas de
fenolftaleína
lixiviação do concreto. A lixiviação traz
incidência de problemas patológicos por secagem são responsáveis por problemas estéticos pela deposição
em estruturas de concreto um forte muitos casos de trincas e fissuras em de produtos esbranquiçados
componente regional, seja pelas elementos estruturais. As questões na superfície do concreto, mas,
características climáticas e de de retração térmica por variação de sobretudo, desencadeia casos de
agressividade ambiental, seja pelas temperatura do ambiente são também corrosão das armaduras, o que é uma
questões culturais e de conhecimento muito presentes em todo o país, pela questão mais grave. Os fenômenos
tecnológico ou de disponibilidade de tropicalidade do seu clima, o que tem químicos de ataque por sulfatos e
materiais e insumos à concepção do gerado muitas fissuras no concreto de reação álcali-agregado (RAA) são
concreto. Nas atmosferas marinhas e na ligação alvenaria-estrutura, manifestações patológicas graves
(cidades litorâneas) e urbano- notadamente nos andares de e muitas vezes de difícil solução. O
industriais (grandes cidades), a cobertura dos edifícios de múltiplos ataque por sulfatos pode aparecer em
corrosão das armaduras está muito pavimentos ou onde haja muita estruturas marítimas, em estruturas
presente. Em atmosferas quentes e incidência solar e fortes gradientes de fundações de solos agrícolas
de baixa umidade relativa, como na térmicos. As trincas de grande e no concreto de tubulações de
região Centro-Oeste, por exemplo, magnitude em elementos estruturais esgoto ou no concreto em contato
fenômenos físicos como a retração devidas à retração térmica por calor com efluentes industriais. A RAA


OSWALDO: “O MELHOR CAMINHO PARA O COMBATE


DESSAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS É PREVENTIVO,
LANÇANDO-SE MÃO DO BOM CONHECIMENTO
ATUALMENTE EXISTENTE SOBRE O ASSUNTO”

30 | CONCRETO & Construções



HELENA: “EM TERMOS APLICADOS, UM BOM COMEÇO


PARA SE PREVENIR AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
É SEGUIR AS NORMAS TÉCNICAS EXISTENTES, TAIS
COMO A ABNT NBR 6118 E 14931”

tem sido registrada em grandes IBRACON – Há conhecimento além da relação água/cimento


obras de barragens de concreto suficiente sobre como evitar máxima, fck para a elaboração do
e em elementos de fundações, problemas patológicos nas estruturas concreto, abertura máxima de fissura
decorrente do uso de agregados de concreto, ou seja, é bem conhecida e quantidade de cimento por metro
potencialmente reativos e de sua a chamada profilaxia das estruturas cúbico. Esse é o primeiro passo para
interação negativa com o cimento. de concreto?  elaborar estruturas duráveis. A norma
O melhor caminho para o combate Helena Carasek – Acredito que sim. também indica, mas de forma bem
dessas manifestações patológicas é Em nível científico, o conhecimento genérica e superficial, outras medidas
preventivo, lançando-se mão do bom já está bem avançado. Para evitar importantes como a realização
conhecimento atualmente existente os problemas é necessário o pleno de proteções por revestimentos
sobre o assunto. entendimento dos mecanismos e mesmo a drenagem das águas.
de deterioração e creio que já Este último é um dos aspectos ao
IBRACON – Qual é a ordem de avançamos muito, nacional e qual eu reputo grande importância,
grandeza e o período de tempo médio internacionalmente, nas pesquisas mas que nem sempre é cuidado
com os quais se encontram essas neste campo. Claro que ainda há pelos engenheiros e arquitetos. A
manifestações patológicas em obras muito o que se pesquisar para água é um dos principais agentes
de concreto? preencher as lacunas existentes, deletérios das construções de forma
O swaldo Cascudo – As mas grande parte do conhecimento geral e, por essa razão, deve ser
manifestações patológicas em gerado nas pesquisas já poderia ser evitada a sua acumulação sobre a
estruturas de concreto são aplicado nas nossas construções. superfície das estruturas de concreto.
diversas e de grande abrangência. Em relação à composição do Essa preocupação deve se iniciar
Problemas como a fissuração concreto, alguns aspectos básicos, na concepção e no projeto da
por retração plástica do concreto hoje consagrados para evitar a estrutura, nos detalhes arquitetônicos
podem ocorrer algumas horas após deterioração do concreto, como adequados, proteções e caimentos,
o adensamento e acabamento limitar a relação água/aglomerante por exemplo, além da realização de
do concreto, ou seja, dentro das e utilizar adições minerais (como uma boa impermeabilização. Esses
primeiras 24 horas do período o metacaulim e a sílica ativa), são são aspectos básicos que não podem
pós-concretagem, ao passo que há provenientes dos resultados das ser negligenciados.
registro de algumas manifestações pesquisas do passado. Além do que está previsto na ABNT
patológicas, como a reação Em termos aplicados, um bom NBR 6118 quanto aos mecanismos
álcali-agregado, por exemplo, começo para se prevenir as de deterioração, nós já temos normas
que pode ocorrer desde poucos manifestações patológicas é seguir que abordam problemas específicos
anos até 30 anos após a entrada as normas técnicas existentes, tais como a reação álcali-agregado (ABNT
da estrutura em serviço. Tudo como a ABNT NBR 6118 (projeto) NBR 15577, partes 1 a 6), onde está
depende da cinética da degradação, e a ABNT NBR 14931 (execução). bem clara a forma de prevenção.
que envolve as características e Na ABNT NBR 6118, a partir de Creio que ainda precisamos avançar
propriedades do concreto, assim uma adoção correta da classe de em outras normas, como, por
como a agressividade ambiental e as agressividade ambiental, define-se exemplo, diretrizes específicas
questões climáticas e de intempéries. a espessura do cobrimento mínima, sobre os ataques por sulfatos e a

CONCRETO & Construções | 31



OSWALDO: “A TERAPIA EXITOSA PRECISA, PORTANTO, ANULAR AS


FONTES CAUSADORAS DO PROBLEMA E BLOQUEAR OS MECANISMOS
DELETÉRIOS. A EXPECTATIVA É DE RESGATE DO DESEMPENHO
MECÂNICO-ESTRUTURAL E DA DURABILIDADE DA ESTRUTURA”

carbonatação do concreto. Nesse adequados de compactação e cura, aquisição do concreto, o que se vê,
sentido, o IBRACON, por meio etc.), mas tenho visto, inclusive, com frequência, é que a concreteira
dos seus Comitês Técnicos, tem problemas com os concretos atende contratualmente ao que foi
importante atuação na discussão e fornecidos por usinas, que, por solicitado, porém com o ônus da
elaboração de textos-base para a vezes, têm sido elaborados com não conformidade em relação às
futura normalização, como é o caso relação água/cimento mais alta do prescrições da ABNT NBR 6118
do comitê, do qual participamos, que que os limites especificados na (especificamente nessa questão da
está trabalhando sobre a temática da ABNT NBR 6118. Evidentemente relação a/c). Aí não adianta muito
carbonatação do concreto. que a “culpa” nesses casos pode ser avançar em pesquisas científicas se
No entanto, o que eu observo compartilhada, seja pela existência isso, de fato, não chega às obras.
na prática é que grande parcela de um projeto incompleto, que não Precisamos também trabalhar na
das estruturas que se deteriora especifica a relação água/cimento conscientização do meio técnico.
precocemente não seguiu nem as máxima, seja por falhas na aquisição
prescrições básicas existentes. Em do concreto, em que os construtores IBRACON – E a terapia das estruturas
parte por problemas de execução não solicitam o material de forma de concreto, porque não

(não garantindo o cobrimento mínimo, adequada. Nessas situações de há normalização nem consenso?

não realizando procedimentos deficiência de informações na Oswaldo Cascudo – A terapia das


estruturas de concreto é uma
vertente da engenharia que se
ocupa das ações de reabilitação de
estruturas, onde operam as ações
de manutenção corretiva, e por
meio da qual são resgatadas as
funções estruturais perdidas (total ou
parcialmente), em razão de algum
tipo de manifestação patológica.
Mais do que isso, um procedimento
terapêutico adequado aplicado a
uma estrutura de concreto (que
contém uma manifestação patológica
instalada) é como um remédio certo
administrado a um doente, cuja
ação tem que promover a cura.
No caso das estruturas, a terapia
exitosa precisa, portanto, anular as
fontes causadoras do problema e
bloquear os mecanismos deletérios.

Realização de cura úmida em pilar de concreto de alto desempenho no


A expectativa é de resgate do
empreendimento Órion Business & Health Complex, em Goiânia – GO desempenho mecânico-estrutural

32 | CONCRETO & Construções


e da durabilidade da estrutura ou
de parte dela, consoante a terapia
aplicada. Este setor da engenharia,
historicamente, tem uma expressiva
contribuição de grandes empresas
multinacionais, que, por meio de
seus departamentos de pesquisa,
desenvolvem materiais, produtos,
soluções e terapias voltadas
à recuperação e à reabilitação
estrutural. As universidades e centros
de pesquisa têm também prestado
sua contribuição, mas é inegável
a participação do setor privado de
grandes marcas. Embora tenha
havido muita evolução técnica nos
últimos anos nesse campo, talvez o
forte lado comercial e de mercado
atrapalhe um pouco a imparcialidade
e a credibilidade das soluções e
Corrosão de armadura de um pilar, comprometendo sua durabilidade
procedimentos terapêuticos, assim
como a padronização e o consenso. das estruturas de concreto armado e de processamento, culminando
O resultado é um ritmo mais lento protendido são constituídas de aço com os tratamentos de têmpera
da normalização, que, contudo, é carbono, que é um material metálico ou de trefilação, que imputam
essencial que ocorra. O histórico de que possui excelentes propriedades tensões internas ao material. O
consolidação dos procedimentos mecânicas. Em especial no caso resultado é um nível entálpico
terapêuticos em estruturas de do concreto armado, as armaduras muito alto, a grosso modo, “muita
concreto no meio técnico-profissional são, normalmente, constituídas energia incorporada”. Também
brasileiro guarda certa semelhança de aço temperado (CA-50) ou aço o aço possui um nível entrópico
com o que se tem para os sistemas trefilado (CA-60). Esses tipos de aço muito baixo, já que ele possui uma
de impermeabilização. carbono não possuem nenhuma estrutura interna com um grau
característica resistente à corrosão, de organização muito elevado.
IBRACON – Porque a armadura tais como: elementos de liga (que Termodinamicamente, a corrosão
de aço no concreto é considerada atuam na composição do aço, como, do aço é um fenômeno espontâneo,
o ponto mais sensível e de mais por exemplo, o aço inoxidável) ou já que na natureza os sistemas
fácil deterioração das estruturas tratamentos superficiais (pinturas evoluem para níveis entálpicos mais
de concreto? anticorrosivas). Por outro lado, baixos e para níveis entrópicos
Oswaldo Cascudo – As armaduras são elementos com altíssimo grau mais altos (maior desorganização).


OSWALDO: “TERMODINAMICAMENTE, A CORROSÃO DO AÇO


É UM FENÔMENO ESPONTÂNEO, JÁ QUE NA NATUREZA OS
SISTEMAS EVOLUEM PARA NÍVEIS ENTÁLPICOS MAIS BAIXOS
E PARA NÍVEIS ENTRÓPICOS MAIS ALTOS”

CONCRETO & Construções | 33


Ocorre que o concreto bloqueia apenas do material e sim da estrutura Oswaldo Cascudo – As normas
essa tendência natural. Como o de concreto como um todo, e aí entra prescritivas estabelecem requisitos
concreto propicia um ambiente a necessidade de um bom projeto com base no uso consagrado
interno de alta alcalinidade, há um e dos detalhes construtivos para de materiais, produtos ou
alentador fenômeno na interface prevenção dos problemas, como eu procedimentos, por meio do
com a superfície metálica, que é a comentei anteriormente. A grande controle de parâmetros ou
deposição natural de um filme de vantagem do material concreto é propriedades básicas, de maneira
óxidos de ferro de caráter protetor, a que ele tem uma boa resistência à que o atendimento aos requisitos
película de passivação. Por barreira, água (desde que bem controlada a dos usuários se dá de forma indireta.
esse filme interfacial protege o aço sua porosidade e permeabilidade) Já a abordagem de desempenho
da corrosão, impedindo assim a comparativamente a outros materiais traduz requisitos dos usuários em
degradação metálica. A armadura estruturais como os aços comuns e critérios e especificações, por meio
é, justamente, o ponto sensível a madeira. Além disso, o concreto de parâmetros e propriedades
desse material compósito, porque permite a produção de elementos estritamente ligadas aos aspectos de
se essa proteção passiva for perdida estruturais de formas e tamanhos desempenho estabelecidos. Neste
as leis da termodinâmica serão variados (capacidade de se moldar) caso, o atendimento aos requisitos
implacáveis contra ela, provocando a um custo relativamente baixo dos usuários se dá de forma direta.
corrosão. A perda do filme passivo comparado com outros materiais Embora as normas prescritivas e de
se dá, basicamente, caso o concreto estruturais. Mas, para algumas desempenho sejam complementares
apresente redução da alcalinidade situações específicas, como, e não entrem em competição entre si,
interna, como nos processos de por exemplo, ambientes de alta é evidente que a abordagem baseada
carbonatação ou de lixiviação do agressividade química, com ácidos no desempenho significa um avanço
concreto, ou mesmo por efeito fortes, amônia, etc., o concreto pode considerável em comparação à
dos ataques ácidos. Também, por não apresentar durabilidade adequada, abordagem estritamente prescritiva.
mecanismos muito particulares, os uma vez que o cimento é solúvel em Tratar a durabilidade baseada no
cloretos são agentes muito agressivos, ácidos fortes. Contudo, cabe uma desempenho significa conhecer
que despassivam a armadura e ressalva de que nesses ambientes razoavelmente bem as propriedades
contribuem para a corrosão. químicos muito agressivos, também o de transporte de massa no concreto,
aço e a madeira sofrem enormemente, assim como os mecanismos de
IBRACON – Comparativamente a de sorte que todos esses materiais degradação e envelhecimento. A
outros materiais estruturais, quais (incluindo o concreto) necessitam partir daí, é possível identificar bem
são as vantagens e desvantagens do de proteções especiais para que os parâmetros de desempenho,
concreto no quesito durabilidade? alcancem a durabilidade desejada. os chamados indicadores de
Helena Carasek – O concreto, desde durabilidade. Controlando bem
que bem concebido e elaborado, é IBRACON – Qual é o ganho advindo esses parâmetros diretamente
um material de alta durabilidade na da comparação entre as normas ligados à durabilidade, a chance
maioria dos ambientes naturais e prescritivas e as normas de desempenho de especificar concretos duráveis é
industriais. Mas a visão não pode ser quanto ao quesito da durabilidade? muito maior do que controlar apenas


CARASEK: “O CONCRETO, DESDE QUE BEM


CONCEBIDO E ELABORADO, É UM MATERIAL DE
ALTA DURABILIDADE NA MAIORIA DOS AMBIENTES
NATURAIS E INDUSTRIAIS”

34 | CONCRETO & Construções



OSWALDO: “EMBORA AS NORMAS PRESCRITIVAS E DE


DESEMPENHO SEJAM COMPLEMENTARES E NÃO ENTREM EM
COMPETIÇÃO ENTRE SI, É EVIDENTE QUE A ABORDAGEM BASEADA
NO DESEMPENHO SIGNIFICA UM AVANÇO CONSIDERÁVEL”

parâmetros gerais do concreto, atrasados na normalização IBRACON – Seu livro sobre corrosão


como a relação água/cimento ou de ensaios de durabilidade. O de armaduras foi o segundo no tema

a resistência à compressão do IBRACON tem feito esforços para publicado no país. Você considera que
concreto. A sofisticação dentro dinamizar essa discussão dentro colaborou para minimizar o problema?

da abordagem do desempenho de seus comitês técnicos, de Oswaldo Cascudo – Sim, de fato,


vem, justamente, com os modelos forma a subsidiar a normalização quando lancei o meu livro sobre
preditivos de vida útil, sejam eles técnica oficial desses ensaios, via corrosão das armaduras em 1997,
determinísticos ou probabilísticos ABNT (Associação Brasileira de a partir de um forte incentivo da
(sendo estes últimos, o que de mais Normas Técnicas). Um exemplo é Helena (que identificou no conteúdo
avançado existe no contexto da a discussão atual (para os fins de da minha dissertação de mestrado
durabilidade). Dessa forma, a partir normalização) do ensaio acelerado de o potencial para um livro), havia uma
do controle de alguns parâmetros carbonatação do concreto, a partir única publicação de referência no
de desempenho e por meio de uma de uma norma ISO (International país, o livro de corrosão do Prof.
adequada caracterização do ambiente Organization for Standardization). Paulo Helene, lançado em 1986.
no qual se inserirá a estrutura, e com Ensaios de difusão de cloreto são Acho que toda a boa literatura
o emprego de modelos preditivos de outra necessidade premente. técnica e científica é primordial
vida útil, é possível projetar a estrutura
e especificar o concreto com a
garantia plena do desempenho,
assegurando a vida útil de projeto.
Grandes obras de engenharia no
mundo vêm tendo suas estruturas
concebidas dessa forma, como a
Ponte Vasco da Gama (Portugal),
o Viaduto Millau (França), a Ponte
Rion-Antirion (Grécia) e a Ponte da
Confederação (Canadá), entre outras.
Essa é a abordagem contemporânea
que se apresenta com confiabilidade
nas análises preditivas, possibilitando
a garantia de durabilidade.

IBRACON – Porque a norma brasileira


ABNT NBR 6118 ainda controla
durabilidade de forma indireta e não

através de ensaios de durabilidade?

Oswaldo Cascudo – A ABNT NBR


Ponte Vasco da Gama, sobre o Rio Tejo: 5ª maior ponte do mundo e uma das
6118 ainda controla durabilidade
primeiras obras em que a durabilidade foi considerada com base em uma
de forma indireta, porque estamos abordagem de desempenho

CONCRETO & Construções | 35



OSWALDO: “A ABNT NBR 6118 AINDA CONTROLA


DURABILIDADE DE FORMA INDIRETA, PORQUE
ESTAMOS ATRASADOS NA NORMALIZAÇÃO DE
ENSAIOS DE DURABILIDADE”

para a difusão do conhecimento e, me pelo livro e pela oportunidade com significativas mudanças em
dessa forma, fundamental para o de apreender e de evoluir no tema. 2003. A partir daí ela passou a
avanço em termos de formação e de Senti naquele momento uma grande ter um capítulo exclusivo sobre
qualificação profissional. Estimulado emoção, que me fez ter certeza que durabilidade, tendo introduzido as
pela importante e pioneira publicação valeu à pena o esforço. classes de agressividade ambiental
do Paulo Helene, trouxe em meu livro (CAA I, II, III e IV) para subsidiar o
uma contribuição no aprofundamento IBRACON – Qual tem sido projeto de estruturas de concreto
conceitual da corrosão, além de a contribuição de vocês quanto à durável. Foi um grande marco para
uma vasta parte concernente às normalização no país nesse campo da a engenharia nacional, mas agora
técnicas de avaliação e diagnóstico durabilidade e ensaios? precisamos evoluir mais na questão
da corrosão do aço no concreto. Oswaldo Cascudo – Particularmente, da durabilidade, introduzindo
Muito me orgulha essa publicação, no campo da durabilidade de na normalização brasileira os
pois mesmo sendo um livro esgotado, estruturas de concreto, participei indicadores de durabilidade e, se
ele ainda é muito veiculado, sem ativamente das reuniões de uma possível, modelos de previsão de
falar que recebo constantemente comissão de estudo do CB 1 (Comitê vida útil, de forma a tratar a questão
demandas para a sua atualização e Brasileiro de Mineração e Metalurgia) da durabilidade de forma mais
reedição. A produção de um livro de da ABNT, no final dos anos 80, efetiva e calcada no desempenho.
bom conteúdo envolve uma grande durante o meu período de mestrado. Temos que normalizar, também, os
energia. No modelo de avaliação Na época, por indicação do Prof. ensaios acelerados de carbonatação
curricular ao nível da pós-graduação Paulo Helene, eu representava do concreto e ensaios para
no Brasil, esse tipo de publicação a Escola Politécnica da USP na determinação de parâmetros de
é, infelizmente, pouco considerado. comissão de normalização abrigada transporte de cloretos.
É uma pena, pois os livros técnicos nesse comitê, que foi a primeira
atingem tanto os ambientes comissão a estudar e a se preocupar IBRACON – Para aonde devem
acadêmicos quanto os profissionais, com a normalização sobre corrosão caminhar as pesquisas para haver

com penetração que vai além das de armaduras em estruturas de avanços na prevenção de problemas

fronteiras nacionais. É democrática concreto. Essas reuniões ocorriam patológicos precoces?

sua ação! Verdadeiramente, os na sede da ABRACO – Associação Helena Carasek – São vários temas
livros cumprem um importante papel Brasileira de Corrosão, no Rio de de pesquisa ainda necessários. Para
social. Só para compartilhar um fato, Janeiro. Em meados dos anos citar um deles, creio que poderemos
em recente participação minha em 90, particularmente nos anos de avançar na prevenção de problemas
um evento em Portugal, ao final da 1995 e 1996, participei em São patológicos por meio de pesquisas
apresentação, veio me cumprimentar Paulo de reuniões para a revisão que visem o desenvolvimento de
um congressista de Moçambique. da ABNT NBR 6118, a principal modelos de previsão de vida útil. A
Ele se aproximou de mim, com muita norma de estrutura de concreto do ideia é a modelagem dos mecanismos
deferência, dizendo que me conhecia país. Depois de muitos anos de sua de deterioração das estruturas
há anos, por intermédio do livro de revisão anterior (em 1978/1980), de concreto (como, por exemplo,
corrosão e pelas muitas horas de essa norma teve uma grande revisão a corrosão das armaduras, por
leitura e estudo. Por fim, agradeceu- nos anos 90, tendo sido editada carbonatação e/ou cloretos, ou a

36 | CONCRETO & Construções


reação álcali-agregado), de forma que projetos ativos de mobilidade Voltando para o hotel naquele dia,
esses modelos, no futuro, possam estudantil, no âmbito da graduação nos demos conta da missão “quase
ser aplicados na prática pelos em engenharia civil. Nesses últimos impossível” que seria essa tradução,
profissionais para quantificar a vida útil anos, enviamos e recebemos vários uma vez que o livro continha cerca
de uma estrutura. alunos de graduação dentro desse de 800 páginas de um conteúdo
acordo bilateral Brasil-França, para muito denso e científico. Tarde demais
IBRACON – O convênio França-Brasil ricos intercâmbios anuais. Mais para voltar atrás! O compromisso,
na área de durabilidade tem funcionado do que a valorosa contribuição mesmo que apenas verbal, já havia
bem e vocês consideram importante o à formação profissional desses sido firmado. A solução era, então,
intercâmbio internacional? alunos intercambistas, algo difícil enfrentar mais esse grande desafio.
Oswaldo Cascudo – Quando, nos de mensurar, os projetos Brafitec Assim, colocada a missão de
anos 90, por ocasião de um curso na nos têm propiciado manter “acesa a coordenar o trabalho de tradução,
pós-graduação da Escola Politécnica chama” com a França, em especial partimos para a sua execução. A
da USP, fomos apresentados ao Prof. no campo da pesquisa e da produção ação imediata foi constituir uma
Jean-Pierre Ollivier, ali começaria científica, por meio das missões de equipe competente de tradução.
uma profícua trajetória envolvendo trabalho. Nosso critério na escolha dos
esse fascinante país, a França. Por tradutores foi calcado na experiência
intermédio da Prof . Maria Alba
a
IBRACON – Como ocorreu publicar prévia das pessoas com a França
Cincotto, nossa incentivadora-mor o livro de durabilidade do concreto e, evidentemente, na familiaridade
e madrinha para todos os assuntos via IBRACON, ano passado? Qual temática do conteúdo do livro.
e questões francesas, conhecemos é a importância do livro no contexto Foram convidados oito professores
o Ollivier, com quem mantivemos brasileiro? e pesquisadores de importantes
uma duradoura relação no campo da Helena Carasek – Em uma dessas universidades brasileiras (Arnaldo
pesquisa. Tivemos a oportunidade idas e vindas à França, tivemos um Carneiro, Cristiane Pauletti, Geraldo
de recebê-lo diversas vezes no encontro com o Prof. Ollivier, em Maciel, Geraldo Isaia, Maria Alba
Brasil, em trabalhos de colaboração uma de suas viagens a trabalho em Cincotto, Mônica Pinto Barbosa,
em pesquisa e na realização de Paris. Ao final do dia, em um pequeno Pedro Kopschitz Bastos e Valdecir
eventos científicos, o que culminou restaurante, conversávamos sobre Quarcioni), os quais, conosco,
com a realização de nosso pós- vários assuntos. O professor Jean- compuseram um grupo de
doutorado nos anos de 2003 e Pierre nos presenteou, então, com 10 tradutores.
2004, no Laboratoire Matériaux et um exemplar de seu livro (ele é um Em paralelo à constituição dessa
Durabilité des Constructions (LMDC), dos editores e também autor), La equipe de tradutores, buscamos a
do Institut National des Sciences Durabilité des Bétons, que acabara definição de uma instituição para
Appliquées (INSA), de Toulouse. de ser lançado na França (em 2008). assumir os trabalhos de edição da
Desde então, a relação com a Imediatamente, sem pensar muito, obra no Brasil. Foi aí que entrou o
França tem se perpetuado por meio eu perguntei a ele se nós poderíamos IBRACON, por meio de sua diretora
dos editais CAPES-BRAFITEC, traduzir o livro para o português. Ele de publicações, a Eng. Inês Battagin,
que têm nos possibilitado manter ficou muito contente com a ideia. que acolheu prontamente a ideia,


OSWALDO: “AGORA PRECISAMOS EVOLUIR MAIS NA QUESTÃO


DA DURABILIDADE, INTRODUZINDO NA NORMALIZAÇÃO
BRASILEIRA OS INDICADORES DE DURABILIDADE E,
SE POSSÍVEL, MODELOS DE PREVISÃO DE VIDA ÚTIL”

CONCRETO & Construções | 37


O livro condensa um vasto conteúdo um Projeto da FINEP (PROMOVE)
que reúne, de forma atualizada, o que viabilizou a construção do
conhecimento e a experiência de 30 tão sonhado laboratório para a
autores franceses, produzindo uma realização das investigações nas
das obras mais atuais e completas áreas de materiais, componentes e
do mundo sobre durabilidade do sistemas construtivos, o LABITECC –
concreto. Assim, a partir da tradução Laboratório de Inovação Tecnológica
e adaptação dessa obra para o em Construção Civil, inaugurado
português, viabilizamos a difusão em dezembro de 2012. Esse
desse importante conteúdo no laboratório tem cerca de 1200 m2
Brasil e em outros países de língua de área construída, distribuída em
portuguesa. Pelo seu conteúdo e dois pavimentos e está localizado
abordagem, o livro tem aplicabilidade na Escola de Engenharia Civil
em nível acadêmico (nos cursos de da UFG. No primeiro pavimento
Livro “Durabilidade do Concreto: graduação e de pós-graduação em estão alocados os laboratórios de
bases científicas para a formulação engenharia civil), mas também é Ensaios Mecânicos e Estruturais,
de concretos duráveis de acordo com
o ambiente” voltado às necessidades e interesses de Química dos Materiais, de
do mercado profissional. Durabilidade e de Argamassas e
dando, assim, “start” ao projeto. Revestimentos. O LABITECC conta,
Com o sinal verde do IBRACON IBRACON – Qual a importância dos ainda, com uma laje de reação
para realizar esta primeira edição do cursos de pós-graduação e dos para ensaios estruturais, prensas
livro, os trabalhos se iniciaram, mas Centros de Pesquisa para o automatizadas, câmaras úmida e
não imaginamos que seria tão árduo crescimento do saber, considerando climatizadas, ponte rolante e salas
o caminho a percorrer. O trabalho que vocês acabam de montar um de caracterização dos materiais
de tradução é muito meticuloso, tremendo Laboratório de Pesquisas na e de concretagem, entre outros
pois sem alterar a ideia e o teor do UFG com apoio da FINEP? espaços. No segundo pavimento
texto original, há que se produzir um Helena Carasek – O crescimento está alocado o Laboratório de
texto fluente na língua final. Foram do saber vem, em grande parte, Mecânica Computacional, onde são
alguns anos e certos momentos de como resultado das pesquisas. E realizados os estudos numéricos e
letargia, até que um fato mudou esse a pós-graduação e os centros de de modelagem computacional. No
ritmo de trabalho e de produção pesquisa entram aí, garantindo, momento, de forma a implementar os
do livro: a efetiva participação do por meio de mão de obra equipamentos do LABITECC, além
Paulo Helene, em 2014, recém qualificada e da infraestrutura, o de outros projetos e editais de rotina,
assumindo a diretoria de publicações desenvolvimento de pesquisas de recentemente submetemos à FINEP
do IBRACON. Ele deu uma dinâmica ponta. Nesse sentido, tendo em uma proposta para participação
relevante à produção do livro, vista a necessidade de ampliação na Rede Sibratec de Desempenho
sendo peça-chave para a sua da nossa capacidade de pesquisa Habitacional e tivemos o nosso projeto
“concretização”. no PPG-GECON, nós coordenamos habilitado para a 2ª Fase na área de


CARASEK: “A IDEIA É A MODELAGEM DOS MECANISMOS DE


DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO, DE FORMA QUE ESSES
MODELOS, NO FUTURO, POSSAM SER APLICADOS NA PRÁTICA PELOS
PROFISSIONAIS PARA QUANTIFICAR A VIDA ÚTIL DE UMA ESTRUTURA”

38 | CONCRETO & Construções



HELENA: “É SEMPRE IMPORTANTE O ESTUDANTE E


O PROFISSIONAL PARTICIPAREM DE CONGRESSOS E
DE CURSOS DE ATUALIZAÇÃO, POIS A GERAÇÃO DE
CONHECIMENTO É MUITO DINÂMICA”

durabilidade. Isto permitirá a realização são várias as pesquisas que vêm Helena Carasek – Sem dúvida
de novas pesquisas nessa temática. sendo desenvolvidas ao longo dos nenhuma. Um traço marcante
anos na EEC sobre durabilidade do das nossas carreiras na UFG (do
IBRACON – O ensino de graduação concreto, das quais, também, alunos Oswaldo e a minha) é a orientação
de engenharia civil tem focado de graduação têm oportunidade de alunos em todos os níveis
devidamente a questão da durabilidade de participar. Mesmo assim, (iniciação científica, trabalho final
nas obras, ou se fazem necessários sempre é importante o estudante e de curso, mestrado e monografia
cursos de atualização e eventos que também o profissional participarem de especialização). Nós dois juntos
complementem essa formação? de congressos e de cursos de já orientamos mais de 300 alunos
Helena Carasek – Esta é uma atualização, pois a geração de nos diversos níveis. Eu partilho dos
pergunta complexa de responder, conhecimento é muito dinâmica. preceitos do filósofo do Império
pois acredito que dependa Romano Sêneca, que afirmou
muito da grade curricular de IBRACON – Considerando que que “os progressos obtidos por
cada universidade, que, por sua a Helena já orientou mais de 40 meio do ensino são lentos; já os
vez, é função do seu quadro de dissertações de mestrado, vocês obtidos por meio de exemplos
professores. Falando especificamente acham que esses trabalhos ajudam são mais imediatos e eficazes”.
da EEC-UFG, nós contemplamos na formação do futuro engenheiro? Nesse sentido, sempre me esforço
em algumas disciplinas essa
temática, tanto na graduação como
na pós-graduação. A questão
da durabilidade das estruturas é
abordada na nossa graduação desde
as disciplinas básicas de Materiais
de Construção (ministrada pelo
Oswaldo) e de Construção Civil
(ministrada por mim), assim como,
de forma mais direta, na disciplina de
Patologia e Terapia das Construções
(esta disciplina foi instituída na grade
curricular da engenharia em 1992,
quando o Oswaldo foi contratado
na UFG; desde essa época, ela tem
sido ministrada por ele ou por mim
todos os anos). Assim, o aluno da
UFG sai com um bom conhecimento
básico no tema. Já em nível de
mestrado, temos uma disciplina
específica de durabilidade das LABITECC, construído em concreto pré-moldado, onde se observam a ponte
estruturas de concreto. Além disso, rolante e o pórtico de reação

CONCRETO & Construções | 39



CASCUDO: “EM PEQUENA ESCALA, ‘FAZÍAMOS ENGENHARIA’, NA


MEDIDA EM QUE TRABALHÁVAMOS NO PROJETO, VIVÍAMOS A
TECNOLOGIA DO CONCRETO E EXECUTÁVAMOS METICULOSAMENTE
O CONCRETO DESSES APARATOS [PARA O APO E O CONCREBOL]”

para atuar de forma mais próxima engenharia”, na melhor acepção sustentável. Por fim, acreditamos que
dos alunos, orientando trabalhos da palavra, na medida em que o IBRACON, por meio de seus comitês
experimentais e mostrando-lhes os trabalhávamos intensamente no técnicos, possa ser um uma espécie
exemplos. A pesquisa científica é projeto (calculando e dimensionando de “catalizador” da normalização
de extrema importância na formação o APO ou a bola do Concrebol), técnica específica de concreto no
do profissional, pois ela contribui vivíamos a tecnologia do concreto Brasil, potencializando e dinamizando
para ampliação dos conhecimentos na formulação das misturas e a produção de textos-base para as
específicos, além de contribuir com executávamos meticulosamente comissões de estudo da ABNT.
o desenvolvimento de habilidades o concreto desses aparatos.
como a autorreflexão e a gestão e A expectativa do resultado e a IBRACON – O que vocês gostam de

organização no trabalho. sensação da vitória, embaladas fazer no tempo livre?

pela alegria dos alunos, foram Helena Carasek – Realmente, ainda


IBRACON – Vocês já ganharam experiências inesquecíveis vividas não sobra muito tempo livre. Mas eu
vários prêmios orientando grupos de nos Congressos Brasileiros do estou buscando melhorar um pouco
alunos nos concursos do IBRACON. Concreto, do IBRACON. a minha qualidade de vida, pois,
Qual a importância disso? apesar de adorar trabalhar, sei que
Oswaldo Cascudo – Os concursos do IBRACON – Qual é sua avaliação é necessário ter algumas “válvulas
IBRACON, que envolvem os alunos, do papel de entidades técnicas, de escape”, principalmente quando
são ações muito importantes, que como o IBRACON, para o setor a idade vai chegando (rsrsrs). Nas
dão ao Congresso Brasileiro do construtivo? horas vagas, eu gosto de cozinhar,
Concreto uma dinâmica bastante Helena Carasek e Oswaldo Cascudo cuidar de plantas, fazer artesanato,
interessante e uma vivacidade – Cremos que entidades técnicas, passear com o cachorro e assistir
agregadora que vem da juventude. como o IBRACON, têm um papel filmes com as nossas filhas, além, é
Para os alunos, professores e muito importante na conscientização claro, de viajar com a família e tomar
universidades, tais concursos dos profissionais, visando à difusão um bom vinho.
também são muito interessantes das boas práticas de construção. No Oswaldo Cascudo – Desde jovem,
e estimulantes. No nosso caso, caso específico, o cuidado com os pratico muitos esportes. Gosto da
sempre houve muito compromisso materiais, com o projeto e com as competitividade no esporte, de modo
por parte dos alunos, que ficavam técnicas construtivas para execução que nas horas vagas costumo jogar
focados e motivados em ganhar das estruturas de concreto são futebol. Às vezes, esse esporte me
os concursos. Havia uma sinergia algumas ações indissociáveis da traz prejuízos, como, recentemente, a
incrível entre alunos e professores, e missão do IBRACON. Além disso, ruptura do ligamento cruzado anterior
o aprendizado sobre o concreto era um de seus importantes papéis é do joelho. Coisas de craque! A leitura
sempre o principal legado. Tínhamos a atualização dos conhecimentos e as viagens são outros hobbies que
em mente buscar o que existia de técnicos junto ao meio profissional, tenho para as horas livres do trabalho,
mais vanguarda na ciência, em prol já que é alta a dinâmica do mas, também, curto muito estar em
da experimentação pelo grupo, o conhecimento, com contribuições casa sem fazer nada, só refletindo
que produzia um rico aprendizado. efetivas em termos da inovação sobre a vida, ao lado da família e na
Em pequena escala, nós “fazíamos tecnológica e do desenvolvimento companhia de um bom vinho.

40 | CONCRETO & Construções


u obras emblemáticas

Aquário do Pantanal: desafios


de projeto e construção
SÉRGIO DONIAK • HUGO CORRES MARIANA CARVALHO PAULO HELENE
FHECOR do Brasil PhD Engenharia Universidade de São Paulo

RESUMO cados) estanque, de alta resistência e aquário nacional e primeiro de porte in-

O
CEPRIC, conhecido como aparente em alguns trechos. Os resul- ternacional do Brasil (com padrão cha-
Aquário do Pantanal, é tados demonstraram que o projeto es- mado de “World Class Aquarium”). O
um aquário de água doce trutural, os procedimentos executivos aquário possui propósitos contempla-
dentro do Parque das Nações Indí- e o concreto utilizado foram determi- tivos, turísticos, educacionais e cien-
genas, na cidade de Campo Grande, nantes no sucesso da obra e conse- tíficos, sendo a finalidade do projeto
Mato Grosso do Sul (Brasil). Projetado guiram atender aos desafios rigorosos incentivar o desenvolvimento de pes-
pelo renomado Arquiteto Ruy Ohtake, do projeto arquitetônico, resultando em quisas e diálogos com universidades
é considerado o maior aquário de água elementos estruturais com integridade nacionais e internacionais, fortalecer a
doce do mundo, com 18.635m², sen- e durabilidade condizentes com a im- educação ambiental e ainda funcionar
do constituído por 23 grandes aquários portância desta obra emblemática para como um espaço de turismo e lazer
dentro do edifício e 9 na área externa, a região e o país. para a população campo-grandense e
totalizando um volume de água de a sociedade brasileira.
aproximadamente 6 milhões de litros, 1. INTRODUÇÃO O aquário apresentará espécies de
que vão abrigar 263 espécies da fau- Localizado no Parque das Na- peixes, anfíbios e répteis da fauna sul-
na aquática. Este artigo apresenta os ções Indígenas, o Aquário do Panta- -mato-grossense, parte das espécies
desafios e engenhosidades envolvidos nal, nome popular para o Centro de vegetais locais, além de espécies da
no projeto e construção da estrutura Pesquisa e Reabilitação da Ictiofau- Amazônia, Bacia do Paraná e do lito-
de concreto (cerca de 17.500m³ apli- na Pantaneira (CEPRIC), será o maior ral brasileiro, tornando-se referência

u Figura 1
Vista externa e seções (longitudinal e transversal) do pavilhão central

CONCRETO & Construções | 41


concreto armado é constituída por uma
malha de vigas com altura variável entre
40cm e 90cm, dispostas nas direções
principais e ortogonais entre si, conec-
tadas por uma viga de borda circular em
planta. Os vazios entre as lajes superio-
res e inferiores foram preenchidos com
blocos de EPS (poliestireno expandido).
Na área interna da edificação estão
dispostos 10 aquários em concreto ar-
u Figura 2 mado, que formam o circuito dos aquá-
Auditório: vista em planta (vigas protendidas hachuradas)
rios internos, todos no mesmo nível
e corte transversal
que o hall de entrada. Os aquários são
mundial como aquário de água doce. veis de arquibancadas de planta circu- formados por uma estrutura de con-
É formado por duas grandes estru- lar que ficam em balanço, suportadas creto com formato quase elipsoidal em
turas conectadas: o pavilhão central e por quatro vigas protendidas de com- planta e fachada exterior composta por
os aquários, que têm em comum um primentos entre 16 e 19m, com inclina- painéis de vidro transparente até meia
jardim central dedicado à biodiversida- ção de 21º (Figura 2). altura, com o objetivo iluminar natural-
de do Pantanal. O pavilhão central é Existe ainda uma quinta viga proten- mente os aquários do túnel e de garan-
formado por uma estrutura metálica de dida, ortogonal às anteriores e disposta tir que os visitantes possam desfrutar
formato quase elipsoidal, com 88m de na metade do trecho inclinado, com a do jardim interno ao longo de todo o
comprimento, 42m de largura e 17m função de minimizar e equalizar as de- caminho (Figura 4).
de altura, dividido em três partes dis- formações produzidas no trecho em A estrutura tipo dos aquários em
tintas ao longo do eixo longitudinal do balanço do auditório. concreto armado consiste em uma laje
edifício (Figura 1). A biblioteca, em concreto armado e de fundo e três paredes de espessura
No seu interior se localizam dois ele- aparente, é constituída de uma laje de variável, dependendo da altura do nível
mentos singulares do edifício: o auditó- planta circular com 14m de diâmetro e de água (entre 1m e 3m). Na quarta
rio e a biblioteca. altura variável, apoiada em um único pilar parede há uma abertura com painel
O auditório, em concreto protendi- central de 1,40m de diâmetro (Figura 3). acrílico, que permite aos visitantes
do e aparente, é composto por 10 ní- A estrutura de suporte da laje de observar o interior do tanque. Para o

u Figura 3
Biblioteca: vista geral e detalhe do pilar central

42 | CONCRETO & Construções


concreto, para enfrentar a complexida-
de da obra, que apresenta um projeto
arquitetônico de aparente leveza, mas
com grandes massas de água sob a
forma dos tanques de circulação e de
peixes vivos (ecossistemas), gerando
cargas muito significativas, esforços
de flexão vultosos, necessidade de
absoluta estanqueidade e muitas cor-
tinas (paredes de tanques e divisórias).
Outros aspectos relevantes da con-
cepção da estrutura são a alta resistên-
cia do material concreto (especificada
como fck 50MPa aos 28dias de idade
por razões de durabilidade e estanquei-
dade) e a necessidade de atendimento
u Figura 4 a requisitos estéticos nos trechos em
Planta da área interna da edificação e disposição dos aquários concreto aparente. Dada a complexi-
dade da obra e por se tratar de estru-
suporte do acrílico, alguns com espes- largura. As paredes laterais do tanque turas diferenciadas, foi imprescindível a
sura de até 30cm, foi disposta uma em concreto armado possuem espes- adoção de concretos especiais, assim
viga superior embutida nas paredes la- sura de 25 a 40cm, e são engastadas como a execução de um rigoroso con-
terais, e na parte inferior foi executado à laje em sua base. Neste trecho há um trole tecnológico do concreto. Nesta
um ressalto em forma de dente na laje túnel de acrílico ao longo do aquário obra foram empregados 14.736m³ de
(Figura 5). (Figura 6). concreto de fck = 50MPa, 458m³ de
O aquário interno de maiores di- Com elementos em diversas formas concreto de fck = 60MPa, 178m³ de
mensões é o chamado “Rio Paraguai”, e angulações, durante a execução des- concreto de fck = 20MPa e 236m³ de
com uma altura de lâmina de água de ta superestrutura, mostrou-se necessá- concreto de fck = 15MPa.
5m, 29m de comprimento e 17m de rio agregar tecnologia especializada em O tipo de concreto empregado,

u Figura 5
Tipologia dos aquários, com abertura para painel de acrílico

CONCRETO & Construções | 43


u Figura 6
Rio Paraguai: elevações das paredes do aquário e vista do túnel de acrílico

bem como algumas práticas de bem de serviço com relação às estruturas cionados com a técnica de bem cons-
construir e outras engenhosidades, fo- convencionais (ACI 350-06). truir, requerendo cuidados especiais
ram determinantes para a obtenção de É importante esclarecer que imper- durante a execução, de modo a evitar
elementos estruturais íntegros e ade- meabilidade de um material e estan- ninhos de concretagem, adensamento
quados às especificações de projeto e queidade de uma estrutura são concei- inadequado, fissurações não previstas
às necessidades da obra. A maior parte tos distintos. O concreto, quando visto e juntas frias ou de concretagem não
dos conceitos e procedimentos empre- exclusivamente como um material, é estanques, através das quais possa ha-
gados consta nas premissas das nor- capaz de prover condições suficientes ver, eventualmente, percolação ou infil-
malizações nacionais vigentes à época de baixíssima permeabilidade, promo- tração de água [5].
(ABNT NBR 6118:2007, ABNT NBR vendo uma barreira eficiente à percola- Corroborando esse ponto de vista,
12655:2006, ABNT NBR 14931:2004, ção de água, ou seja, pode ser consi- o ACI 350-06 destaca que usualmente
ABNT NBR 15823:2010) e em literatu- derado impermeável para a maioria dos é mais econômico e seguro garantir a
ras consagradas [1][2][3][4]. usos (piscinas, coberturas, tanques, estanqueidade de uma estrutura com
fundações, paredes diafragma etc.). uso da qualidade do material concre-
2. BOAS PRÁTICAS: Por outro lado, uma estrutura de to (dosagem adequada) e de procedi-
ESTANQUEIDADE E CONCRETO concreto estanque é aquela capaz de mentos executivos condizentes com
AUTOADENSÁVEL não permitir a percolação de água por as boas práticas de construção (lan-
A partir do entendimento da função nenhuma imperfeição, ou fissura, ou çamento, adensamento, cura, juntas
das estruturas do Aquário do Pantanal insert nas paredes e laje que a confinam, bem executadas e projetadas, entre
percebe-se que, especialmente para a e envolve principalmente aspectos rela- outros) do que através da aplicação de
região do circuito dos aquários, a es-
tanqueidade dos tanques é uma ne-
cessidade e premissa de projeto [ACI u Declaração do ministro-chefe da Secretaria de Assuntos
224.3R-95 (Reapproved 2008)]. Esse Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira,
cuidado com a estanqueidade é fun- para o Diário Digital de Campo Grande, por conta de sua visita às
damental, pois essas estruturas estão obras do Aquário do Pantanal no último dia 8 de julho
sujeitas a cargas diferenciadas, condi-
“É uma imensa oportunidade de colocar o Brasil e o Mato Grosso do
ções de exposição mais severas (forte Sul na vanguarda do grande projeto nacional que é a mudança da
preocupação com as questões de du- educação no Brasil”.
rabilidade) e exigências mais restritivas

44 | CONCRETO & Construções


de aditivos superplastificantes e agre-
Arquiteto
u Ruy Ohtake, autor do Projeto do Aquário do Pantanal gados com menores granulometrias, e
também pode representar produtividade
“Arquitetura inovadora e significativa que
a todos deve empolgar. Imbuídos de e redução de mão de obra. Nesta obra,
entusiasmo para o início do funcionamento foram empregados 14.736m³ de concre-
do Complexo, que além de evidenciar os
to autoadensável, 1.840m³ de concreto
animais (peixes, jacarés, etc.), ressalta a
fluido (abatimento > 220mm) e 872m³ de
grande importância do meio ambiente,
agregando pesquisa da biodiversidade e concreto convencional bombeável (abati-
contribuição para os aspectos turísticos, mento entre 100mm e 160mm).
educativos, culturais e sociais”.

3. PROJETO, INSUMOS E
barreiras ou revestimentos protetivos, ceder com a elaboração de um con- PROCEDIMENTO EXECUTIVO
ou seja, o concreto bem especificado e creto especial, fino, fluido e com maior
executado é suficiente para promover a plasticidade, além de teor de argamas- 3.1 Projeto: dimensionamento
estanqueidade. sa e granulometria compatíveis com as estrutural e modelos de cálculo
As dimensões dos elementos estru- necessidades do projeto.
turais impostas pelo projeto básico da Neste contexto, o concreto au- O projeto estrutural executivo foi
obra resultaram em um Projeto Estrutu- toadensável é um material que pode elaborado pela FHECOR DO BRASIL, a
ral Executivo densamente armado, onde atender a todos estes requisitos, pois partir de um projeto básico já existente.
a dificuldade de concretagem tornou-se é capaz de fluir e autoadensar pelo seu Para determinar as cargas emprega-
outro grande desafio, exigindo grande peso próprio, preenchendo adequa- das no dimensionamento estrutural foi
esforço de montagem de fôrmas e ar- damente as fôrmas e envolvendo em- utilizada a norma vigente para estruturas
maduras, com pouco ou nenhum espa- butidos (armaduras, dutos e insertos), de edificações ABNT NBR 6120:1980.
ço para vibração e adensamento ade- enquanto mantém sua homogeneidade Versão corrigida: 2000. As cargas con-
quados do concreto (Figura 7). (ausência de segregação) nas etapas sideradas foram as seguintes:
Esta característica, somada às for- de misturas, transporte, lançamento e u Cargas permanentes: incluem as
mas diversas dos elementos estruturais, acabamento (ABNT NBR 15823:2010). cargas de peso próprio dos dife-
consistiu um grande inconveniente para Este concreto apresenta um equi- rentes elementos estruturais, assim
o emprego de um concreto convencional. líbrio entre elevada fluidez e moderada como as cargas permanentes dos
Diante disso, fez-se necessário pro- viscosidade, obtido através da utilização pavimentos e divisórias, além dos

u Figura 7
Aquário do Pantanal: trechos de armadura de vigas e lajes

CONCRETO & Construções | 45


e as vigas. O dimensionamento dos
tanques foi realizado através da aná-
lise dos esforços e deformações. A
partir das cargas obtidas nos mode-
los dos tanques, também foram di-
mensionadas as lâminas de EPS dis-
postas entre os tanques e as lajes do
edifício sobre a qual se apoiam.
No dimensionamento dos aquá-
rios internos a ação principal conside-
rada foi a pressão hidrostática sobre
as paredes dos tanques.
As Figuras 8 e 9 apresentam os
esforços nas vigas da parte superior
do tanque e nas paredes verticais, re-
sultantes dos modelos de cálculo. Na
u Figura 8
Momento fletor nas vigas superiores Figura 8, pode-se perceber que é na
ligação das vigas superiores e inferio-
enchimentos técnicos de contrapiso; A utilização de modelos de ele- res com as paredes que ocorre gran-
u Sobrecargas de uso: os valores mentos finitos facilitou o dimensio- de concentração de tensões.
adotados baseiam-se na utilização namento dos diferentes elementos As deformações e esforços na laje
a que se destina o elemento anali- estruturais, permitindo a confecção de fundo do tanque também são re-
sado, podendo variar entre os 3kN/ de um modelo tridimensional de todo sultados obtidos do lançamento da
m para as zonas técnicas do nível
2
o edifício, combinando elementos do estrutura no software. Nesse caso, as
subsolo, 4kN/m para as zonas de
2
tipo placa, para a representação de maiores tensões se concentram nos
acesso ao público e 7,5kN/m nas
2
lajes e muros, com elementos tipo cantos dianteiros, que recebem a car-
áreas de instalações; barras, para representar os pilares ga transmitida pelo pórtico formado
u Sobrecargas de água: no caso das
zonas de aquários, foi introduzida
a carga variável do peso da coluna
d’água associada à capacidade
máxima dos tanques. Esta carga
alcançou em alguns casos valores
de 50kN/m2, correspondente a 5
metros de coluna d’água;
u Sobrecarga de vento: foi deter-
minada em função da localização
da obra e da altura da edificação,
com base no indicado na norma.
Dadas as inúmeras possibilidades
de variação nos carregamentos de
água, foram simuladas várias hipóte-
ses de carga, para se considerar a
mais crítica envoltória nos dimensio-
u Figura 9
namentos das estruturas que supor-
Esforço fletor nas paredes laterais. Tanque 4
tam os tanques.

46 | CONCRETO & Construções


u Tabela 1 – Traço de concreto
autoadensável desenvolvido
para Aquário do Pantanal

fck 50MPa;
Traço do
slump-flow >
concreto
650mm
Consumo de
cimento CPIIF32 489 kg
por m³
Relação
0,35
água/cimento
Teor de argamassa
57%
seca
Areia artificial
245 kg
por m³
Areia natural por m³ 515 kg
u Figura 10 Pedrisco por m³ 941 kg
Envoltória de momentos fletores na laje de fundo
Água por m³ 170 L

pelos muros laterais e a viga dianteira do Rio Paraguai levou em conta o su- Aditivo plastificante
3,400 L
por m³
(Figura 10). porte de maiores cargas de pressão hi-
Aditivo
Assim, para aumentar a área de drostática. O modelo realizado permitiu superplastificante 4,150 L
distribuição da carga transmitida pelo obter os esforços nas paredes laterais por m³
tanque sobre a laje de fundo, foram que formam o tanque, considerando
dispostas chapas metálicas abaixo dos adição do efeito conjunto de todas as dosagem, foi escolhido e empregado o
cantos dianteiros do tanque, conecta- paredes (Figuras 12 e 13). seguinte traço referência de concreto
das à estrutura de concreto por pinos resultante, que pode ser observado na
tipo Stud (Figura 11). 3.2 Concreto e procedimentos Tabela 1.
Por ser o de maior capacidade do executivos Em estruturas massivas, a com-
aquário, o dimensionamento do tanque A partir de um cuidadoso estudo de binação do calor produzido pela

u Figura 11
Detalhe das chapas de distribuição abaixo dos cantos dianteiros da laje de fundo

CONCRETO & Construções | 47


foram orientados com relação ao pro-
cedimento que deveria ser empregado
nas concretagens especiais, ensaios e
controles, de modo que as responsa-
bilidades de cada interveniente foram
bem definidas.
Além disso, ressalta-se que, ape-
sar de todo o conhecimento técnico e
teórico de obras envolvendo os con-
ceitos de estanqueidade e o uso de
concreto autoadensável, a experiência
tem demonstrado que o uso de simu-
lações em campo e protótipos é uma
u Figura 12 ferramenta necessária e indispensável
Cargas de pressão hidrostática sobre as paredes laterais.
Tanque Rio Paraguai em projetos de alta complexidade [6],
como neste caso.
No auditório, por exemplo, foi
hidratação do cimento e condições to, nos locais com características de construída uma viga de sacrifício (Figu-
relativamente baixas de dissipação concreto massa. ra 14) com todas as características da
do calor resulta em grande eleva- O programa planejado compreen- peça original (elevada taxa de armadu-
ção da temperatura do concreto deu treinamentos para as equipes da ra, fôrma inclinada e aberta, concreto
nas primeiras idades, e o resfria- obra, numa temática variada que in- de alto desempenho e impossibilidade
mento até a temperatura ambiente cluiu prática e teoria para os operários de adensamento por vibração).
pode fissurar o concreto. O contro- e engenheiros participantes. Também
le da temperatura de lançamento os demais envolvidos no processo 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
do concreto é uma das formas mais (Empresa de Serviços de Concretagem Considera-se que o conjunto for-
eficientes de evitar fissuração de e Laboratório de Controle Tecnológico) mado pelo estudo e desenvolvimento
origem térmica [2].
Tendo em vista a importância e a
diversidade das peças concretadas,
além do grande volume de concreto
aplicado em diversas concretagens,
foi necessário elaborar um planeja-
mento detalhado dos eventos de exe-
cução das estruturas, envolvendo tec-
nologia avançada quanto ao controle
do carregamento dos escoramentos
(inclusive, com realização da concre-
tagem em camadas e monitoramento
topográfico das deformações, com
o intuito de possibilitar a suspensão
da concretagem caso fosse verificada
uma movimentação inadequada ou
perigosa dos escoramentos), concre-
u Figura 13
to autoadensável e uso de gelo em
Esforço axial nas paredes laterais. Tanque Rio Paraguai
substituição à água de amassamen-

48 | CONCRETO & Construções


u Figura 14
Viga de sacrifício (protótipo), com detalhe na região da junta de concretagem

de um traço de concreto apropriado, a somente no que diz respeito à arquitetura, ciais de Engenharia (como o caso da
concepção de protótipos e uma execu- mas também às demais considerações protensão), assim como à realização
ção adequada e em conformidade com relacionadas com a estrutura, sujeita a es- de um rigoroso Controle de Qualida-
as normas vigentes e práticas de bem forços não convencionais, e às interfaces de de Projeto (CQP) por parte do pro-
construir foram determinantes para a com outros sistemas construtivos, como a prietário (governo do Estado), que foi
execução da estrutura de concreto do estrutura metálica de cobertura. imprescindível para os bons resultados
Aquário do Pantanal, resultando em in- Sem dúvida, a garantia de de- obtidos ao longo da obra.
tegridade, estanqueidade e durabilidade sempenho frente aos requisitos de
condizentes com as necessidades da estética, forma e função deve-se, es- 5. AGRADECIMENTOS
obra (Figura 15). pecialmente, à interdisciplinaridade e Os autores agradecem aos parceiros
O estudo de caso apresentado neste integração das equipes de Arquitetu- arquiteto Ruy Ohtake e sua equipe, à
artigo demonstra claramente uma obra ra, Estrutura, Tecnologia do Concreto, Profa. Sandra Regina Bertocini, ao Eng.
emblemática de grande singularidade, não Controle Tecnológico, Serviços Espe- Egydio Hervé Neto, ao Eng. Paulo Sérgio

u Figura 15
Aquário do Pantanal: integridade, estanqueidade e durabilidade

CONCRETO & Construções | 49


(Diretor da SERMIX Serviços e Concre-
u Ficha técnica
tagem Ltda.), ao Eng. Egídio Vilani Co-
Cliente Tecnologia do Concreto
min (Diretor da Egelte Engenharia Ltda.)
Governo do Estado do MS. PhD Engenharia Ltda.
e sua equipe, ao Eng. Pedro Marcondes
Construção Empresa de Serviços
Machado (Diretor da Proteco Constru- EGELTE Engenharia Ltda. e de Concretagem
PROTECO Construções Ltda. SERMIX Serviços e
ções Ltda.), e ao Governo do Estado do Concretagem Ltda.
MS, na pessoa do Eng. Domingos Sávio Arquitetura
RUY OHTAKE Arquitetura e Protensão
Mariuba [Fiscal da Agência Estadual de Urbanismo Ltda. MAC Sistema Brasileiro de
Protensão Ltda.
Gestão de Empreendimento (AGESUL)], Projeto Estrutural
sem os quais seria impossível atingir as FHECOR DO BRASIL
Engenharia Ltda.
metas e o resultado desejado.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] HELENE, Paulo R. L.; TERZIAN, P. R.; SARDINHA, V. L. A. Considerações sobre estanqueidade de estruturas de concreto. In: Anais do 2º Simpósio Brasileiro de
Impermeabilização. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Impermeabilização, 1980, p. 176-197.
[02] MEHTA, P.; K; MONTEIRO, J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. IBRACON, 2ª edição. São Paulo, 2014.
[03] NEVILLE, A. M.; BROOKS, J. J. Concrete Technology. New York: Longman Scientific & Technical, 1987. 438 p.
[04] KOSMATKA, Steven H.; WILSON, Michelle L. Design and control of concrete mixtures. 15ª edição. Illinois: Portland Cement Association, 2011.
[05] BRITEZ, Carlos; HELENE, Paulo; BUENO, Suely; PACHECO, Jéssika. Estanqueidade de Lajes de Subpressão. Caso MIS-RJ. Trabalho apresentado ao 55º Congresso
Brasileiro do Concreto (55º CBC), Gramado, 2013.
[06] BRITEZ, C.; PACHECO, J.; BUENO, S.; HELENE, P. Recomendações para a concepção de pilares inclinados em concreto aparente. Caso MIS-RJ. 2014. Trabalho
apresentado ao 56º Congresso Brasileiro do Concreto – CBC2014, Natal, 2014.

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O 57º Congresso Brasileiro do Concreto é o maior evento
técnico-científico sobre tecnologia do concreto e seus sistemas construtivos
27 a 30 de outubro | Bonito - MS
Presença institucional da empresa/instituição

à Exponha suas pesquisas e inovações no Seminário de Novas Tecnologias


à Apresente seus produtos e serviços na XI Feibracon – Feira Brasileira das Construções
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à Estreite relacionamentos com seus clientes em coquetéis, jantares e premiações
à Participe ativamente das discussões e conheça os mais recentes avanços nas pesquisas
e inovações sobre o concreto

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O 57º Congresso Brasileiro do Concreto é destinado à divulgação técnica do bom uso do concreto e
enquadra-se no Fundo de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que permite às
empresas patrocinadoras e expositoras deduzirem do Imposto de Renda o valor da contribuição.

50 | CONCRETO & Construções


u obras emblemáticas

Análise simplificada da cúpula


do Panteão de Roma
MILTON EMÍLIO VIVAN – Engenheiro Civil
PEDRO HENRIQUE DELLAMANO LARANJEIRA – Engenheiro Civil

E
sta publicação objetiva dis-
ponibilizar análise simplifica-
da sobre o comportamento,
ao longo de cerca de 2000 anos, de
uma estrutura magnânima construída
entre os anos de 118 e 128, durante
o império de Adriano, com o emprego
de materiais até hoje pouco conheci-
dos em vários países e com uma con-
cepção estrutural arrojada. Na cons-
trução desse edifício, os romanos
empregaram todo o conhecimento
sobre construção com concreto que

u Figura 1
Geometria utilizada no modelo

Foto 1 - Vista externa do Panteão,


edificação dedicada aos deuses
romanos

u Figura 2
Foto 2 – Cúpula do Panteão, maior vão Parâmetros do concreto utilizados no modelo
livre em concreto não armado

CONCRETO & Construções | 51


Foto 4 – Detalhe do encontro da
cúpula com a parede do Panteão

Com base no material disponibiliza-


do , foi definida a geometria aproxima-
1, 2

da do Panteão a ser utilizada no modelo


(figura 1). Como pode ser observado,
foram feitas aproximações na geometria
u Figura 3
Vista isométrica do modelo para facilitar a execução do modelo:
u As paredes foram tomadas com es-
possuíam na época, bem como toda ra, o que inspirou a mesma solução pessura constante ao longo de todo
a experiência de construção com al- em diversas outras cúpulas pelo mundo. o perímetro, apesar de conter vários
venaria estruturada por arcos. Com Uma medida de natureza prática foi a nichos e galerias: como o interesse
43,4 m, a cúpula do Panteão foi, por construção de “degraus” na parte baixa maior é pelo domo e as paredes
mais de mil anos, o maior vão livre da cúpula para evitar o escorrimento do apresentam geometria bastante irre-
do mundo, permanecendo funcional concreto fresco, resultando na configura- gular, com galerias e nichos para as
até hoje, quase dois milênios depois ção de reforço por 7 anéis nessa região estátuas, essa aproximação é bas-
de construída. Ainda é a estrutura de inferior da cúpula. O mais claro sinal de tante razoável (mesma aproximação
maior vão de concreto não armado já que os romanos sabiam o que estavam feita por Mark e Hutchinson);
construída em todo o mundo.” fazendo foi a utilização de concretos mais u Não considerados os nichos na
Na construção do Panteão, várias leves em cima e de maior densidade em- cúpula porque o alívio causado pe-
providências adotadas pelos romanos baixo, conseguidos com a variação de los nichos representa menos do
indicam o grau de domínio da tecno- peso dos agregados utilizados. que 5% do peso total do domo,
logia de construção de estrutura em
cúpula, mesmo que totalmente empí-
rico. Um primeiro detalhe que chama
a atenção é a presença de nichos no
interior da cúpula, que, além do efeito
visual e arquitetônico, acaba por aliviar
um pouco também o peso da estrutu-

u Figura 4
Foto 3 - Vista interna do Panteão, com Vista lateral do modelo com as propriedades (espessuras) exibidas
destaque do altar da Basílica Santa por cores
Maria ad Martires

52 | CONCRETO & Construções


A escolha do modelo com elemen-
tos planos, ao invés de elementos tri-
dimensionais sólidos, foi feita por sim-
plicidade, sem perda significativa de
precisão. Os elementos planos situam-
-se no eixo geométrico da estrutura e
suas espessuras correspondem à ge-
ometria definida anteriormente. As di-
mensões dos elementos são variáveis,
estando o modelo com a malha mais
refinada no domo. Nas figuras 3 a 6,
u Figura 5 são apresentadas vistas do modelo.
Vista em planta do modelo com as propriedades (espessuras) exibidas
Aplicando as cargas do peso próprio
por cores
e calculando o modelo, foram obtidas as
s tensões de tração discriminadas nas
mesma hipótese adotada por Mark 2. O módulo de elasticidade E = 15 GPa
Figuras 7 e 8.
e Hutchinson; foi adotado por recomendação do eng.
u As paredes foram consideradas
Essas tensões encontram-se na di-
Renato Zuccolo.
apoiadas no nível do solo. reção horizontal, conforme esperado
A partir das características da estru-
O concreto romano era feito com (Figura 9).
tura, foram avaliadas as tensões com o
cal, pozolana (cinzas do Vesúvio) e pe- Dessa forma, a máxima tensão de
programa STRAP, através de modelo
tração encontrada foi de 0,82 kgf/cm²,
dras, apresentando características dife- matemático tridimensional de elemen-
rentes do concreto de cimento Portland localizada na face externa e próxima ao
tos de placa, considerando a estrutura
início da curvatura.
moderno, tornando difícil a adoção de não fissurada. Não se sabe se as fissu-
seus parâmetros. Para os pesos especí- Ao compararmos este resultado com
ras observadas na face interna também
os obtidos por Mark e Hutchinson, perce-
ficos, foram adotados aqueles indicados atingiram a região externa e foram se-
no estudo de Mark e Hutchinson, con- be-se que apresentam a mesma ordem
ladas em alguma intervenção de manu-
de grandeza. A máxima tensão de tra-
forme o esquema apresentado na figura tenção da estrutura.
ção encontrada por Mark e Hutchinson
foi de 0,6 kgf/cm², localizada na mesma
posição e direção destes resultados.
As tensões são pequenas e, por si
só, não parecem ter sido responsáveis
pela fissuração existente. Há várias hi-
póteses para a causa dessa fissuração
e algumas podem ser simultâneas e de

u Figura 6
Vista renderizada do modelo Foto 5 - Detalhe da vista lateral
do Panteão

CONCRETO & Construções | 53


intensidade diferente. Uma delas é a
diferença de temperatura entre a face
superior e inferior. Num dia de extremo
calor, se a diferença de temperatura ex-
terna x interna chegar a 10º C, poderão
ocorrer tensões de tração da ordem de
10 kgf/cm² na face interna e tensões
pequenas de compressão na face ex-
terna. Se a origem for esta, as fissuras
podem não ser passantes. Outra hi-
pótese é que tenham sido originadas
pela ação de sismos. Pela localização,
u Figura 7
em todo perímetro, das fissuras, não
Distribuição das tensões principais na face externa
parece ser uma causa provável. Ace-
lerações horizontais deveriam produzir
cimento das posições e profundida- de “fatias” de arcos independentes,
fissuras assimétricas e aceleração ver-
des das fissuras. Mas sabe-se que o o que reduz ainda mais as tensões
tical não seria a causa pela ordem de
comportamento estrutural é alterado, de tração (ou até torna a estrutura
grandeza das tensões que seriam gera-
com provável mudança na direção totalmente comprimida) e aproxima
das quando comparadas com as obti-
das tensões de tração. Na cúpula, as o comportamento estrutural do Pan-
das só com o peso próprio. A estrutura
maiores tensões são tangenciais e, teão àquele amplamente utilizado pe-
não apresenta volumes significativos.
nos arcos, na direção radial. O com- los romanos em suas grandes estru-
Os volumes diários concretados tam-
portamento esperado deve ser próxi- turas – o arco.
bém devem ter sido pequenos. Sabe-
mo daquele exposto por Mark e Hu-
-se também que concretos pozolânicos
tchinson e por Jacques Heyman (“The AGRADECIMENTOS
desenvolvem baixo calor de hidratação,
plasticity of unreinforced concrete”): Este estudo foi realizado por su-
mas não se sabe se os romanos cura-
a partir da fissuração, a estrutura co- gestão do Eng. Renato Zuccolo, para
vam o concreto. Então, outra hipóte-
meça a se comportar como uma série estimar as tensões de tração atuantes
se é que podem ter ocorrido tensões
devidas à retração do concreto já nas
primeiras camadas concretadas, que
são as mais espessas da cúpula. Essas
fissuras podem ter se propagado para
as demais camadas superiores.
Na hipótese de concreto fissurado,
o estudo fica limitado pelo desconhe-

u Figura 8
Foto 6 - Detalhe da construção Distribuição das tensões principais na face interna
da alvenaria estruturada por arcos

54 | CONCRETO & Construções


na cúpula do Panteão romano. Para a
tarefa, Zuccolo nos forneceu vasto e
interessante material sobre a história
da estrutura, características do edifício,
métodos construtivos e outras cons-
truções da época do império romano,
além de outras análises já realizadas
por outros engenheiros (inclusive, pelo
próprio Zuccolo). Algumas informações
foram fornecidas pelo Eng. Francisco
Rodrigues Andriolo. A principal refe-
rência utilizada para este estudo foi o
u Figura 9
artigo de Mark e Hutchinson – “On the
Direção das tensões principais máximas
Structure of the Roman Pantheon”.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] Anotações do Eng. Renato Zuccolo.


[02] On the Structure of the Roman Pantheon – Robert Mark and Paul Hutchinson.
[03] The plasticity of unreinforced concrete – Jaques Heyman.
[04] The Panteon – David Moore.
[05] The creative response to concrete cracking – D.P. Billington & P. Draper.

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on Best Practices for
Concrete Pavements
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PALESTRAS EM DESTAQUE

DESAFIOS PARA OBTENÇÃO DE PAVIMENTOS DE CONCRETO PAVIMENTOS PERMEÁVEIS DE CONCRETO


FOTOCATALÍTICOS CAPAZES DE PURIFICAR O AR Liv Haselbach (Universidade Estadual de Washington, nos
Anne Beeldens (Centro Belga de Pesquisa Rodoviária e da Estados Unidos)
Universidade de Leuven, na Bélgica)
DESEMPENHO DA INFRAESTRUTURA QUANTO AO GERENCIAMENTO
PAVIMENTOS DE CONCRETO DE BAIXO RUÍDO DO CARBONO
Luc Rens (Federação da Indústria Cimenteira da Bélgica – Febelcem Franz-Josef Ulm (Instituto de Tecnologia de Massachussetts,
e Associação Europeia de Pavimentação em Concreto - Eupave) Estados Unidos)

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE PAVIMENTOS DE CONCRETO AEROPORTUÁRIOS EM FACE DAS NOVAS DIRETRIZES QUE SERÃO
IMPLEMENTADAS NESTE ANO PELA AGÊNCIA FEDERAL DE AVIAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS (FAA)
David Brill (FAA)

ORGANIZAÇÃO

INFORMAÇÕES
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CONCRETO & Construções | 55


u mantenedor

Investimentos com
visão de longo prazo
MAURÍCIO RUSSOMANNO – Diretor de Vendas e Marketing
Votorantim Cimentos

A
Votorantim Cimentos bus- No Brasil, a prioridade é ampliar a próximas para ouvir o cliente em todo
ca a evolução constante de produção nas regiões Centro-Norte e o País e entender suas expectativas –
seus produtos, por meio de Nordeste. A empresa, que segue uma seja em relação ao nível de serviço ou
pesquisas e inovação, e o aperfeiço- forte estratégia de longo prazo, vê nes- ao produto, com maior rentabilidade
amento de seu modelo de negócio, sas regiões espaço para crescimento para obra. Nossa força de vendas ofe-
pautando-se sempre pelo foco no do setor de construção e do consumo rece todos os produtos e serviços da
cliente, pela excelência operacional, de cimento. Até 2017, serão inaugura- VC de forma integrada para o cliente,
por práticas sustentáveis e por funcio- das cinco unidades: Edealina (GO), Pri- do início ao fim da obra – do concreto
nários com autonomia. Esses quatro mavera (PA), Sobral (CE), Pecém (CE) e ao acabamento final.
pilares guiam a atuação da empresa Caaporã (PB). Em paralelo com a nossa crescente
em todas as regiões do Brasil e nos Os investimentos da companhia aproximação com os clientes de todo
outros 13 países onde estamos pre- estão sempre alinhados ao seu perfil o País e dos 13 países nos quais a Vo-
sentes. Ao todo, são 26 unidades de de forte disciplina financeira, com perfil torantim Cimentos atua, investimos em
cimento em operação no Brasil e 30 conservador de endividamento e uma inovação, que consideramos um “dri-
no exterior. cultura de busca da eficiência opera- ver” estratégico para a companhia. A
Apesar do cenário econômico de- cional contínua. Como reconhecimento empresa tem intensificado os estudos e
safiador, nossa perspectiva de longo aos bons resultados no balanço entre pesquisas visando à oferta de produtos
prazo permite a continuidade de um investimentos e disciplina financeira, a e serviços que reduzem os custos das
plano de investimentos robusto: até companhia tem grau de investimento obras de seus clientes.
2018, serão R$ 5 bilhões direcionados global, pelas principais agências classi- Os investimentos em inovação sob
a cinco fábricas no Brasil, uma na Tur- ficadoras de risco - Fitch Ratings, Stan- a perspectiva do cliente nos permiti-
quia e uma na Bolívia, ampliação nos dard & Poor’s e Moody’s. ram desenvolver produtos inovadores,
EUA, além da modernização de unida- Entretanto, para a Votorantim Ci- como concreto de alta resistência, que
des já existentes. mentos, investir não é apenas inaugurar reduz o número de pilares de grandes
novas unidades. Também investimos na construções, ampliando a área disponí-
aproximação com nossos clientes, em vel nos edifícios; o concreto auto-aden-
inovação, no aperfeiçoamento de nossa sável, que não necessita ser espalha-
governança e em sustentabilidade. do, demandando menos mão de obra e
Para melhor atender aos nossos finalizando o trabalho com mais agilida-
clientes, implementamos um novo mo- de; e o concreto permeável - adequado
delo de negócio, estruturando as áreas para captação e reaproveitamento de
comerciais em quatro grandes seg- água da chuva.
mentos: Autoconstrução, Imobiliário, Além de concretos inovadores,
Industrial e Infraestrutura. A partir desta outro “case” da companhia é o do ci-
nova estratégia, definimos equipes de- mento de menor impacto ambiental,
Unidade Rio Branco do Sul, vista à noite dicadas para cada segmento e mais produzido a partir da argila pozolana.

56 | CONCRETO & Construções


DIVULGAÇÃO – VOTORANTIM CIMENTOS
O processo de fabricação deste ci- dade; e Segurança. Essas
mento alcançou reduções significativas linhas foram definidas a par-
na emissão de gases e resíduos, no tir do diálogo permanente
uso de água e energia e até no custo com nossos “stakeholders”
de produção: em comparação com o para compreensão de suas
processo convencional, emite 50% me- expectativas.
nos CO2, gera 10% menos resíduos, e O direcionamento para
consome menos 25% energia elétrica, alinhar as ações de rela-
10% energia térmica e 40% de água. O cionamento com o cliente,
projeto já recebeu diversas premiações inovação e sustentabilidade
e reconhecimento internacional. em 14 países é conduzido Unidade Santa Helena – primeira fábrica da
Votorantim Cimentos
O trabalho de redução de impacto por um novo modelo de
ambiental – uma constante em nosso governança corporativa: o One Team, tro pilares estratégicos: foco no clien-
processo de produção e na concep- One Company. Por meio desse movi- te, gente com autonomia, excelência
ção de novos produtos – tem como mento, são implementados diariamente operacional e práticas sustentáveis.
linha condutora compromissos em sus- processos globais de governança, bus- São esses os pilares e a direção que
tentabilidade assumidos pela Votoran- cando maior integração e sinergia entre conduzem a Votorantim Cimentos a
tim Cimentos até o ano de 2020. As nossos negócios, com um desenho de investir não só em novas unidades de
quatro linhas condutoras nesse trabalho estrutura mais simples e ágil. Também produção, mas em nossos clientes, em
são: Engajamento Comunitário; Ecoefi- a partir do One Team, One Company, produtos inovadores, na sustentabilida-
ciência e Inovação; Ética e Conformi- definimos nosso Norte a partir de qua- de e nas comunidades locais.

LIVRO
DURABILIDADE
DO CONCRETO
à Editores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot

à Editora francesa Presses de l'École Nationale des Ponts


et Chaussées - França

à Coordenadores Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)


da edição em
português

à Editora brasileira IBRACON

Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos professores Jean-


Pierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro "Durabilidade do Concreto: bases
cientí cas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente"
condensa um vasto conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento
e a experiência de parte importante de membros da comunidade cientí ca
europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto.
A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de tradução para
a língua portuguesa e sua adaptação à realidade técnica e pro ssional
nacional.

à Informações: www.ibracon.org.br

CONCRETO & Construções | 57


u normalização técnica

A Durabilidade das Estruturas


de Concreto como parâmetro
de Sustentabilidade
INÊS BATTAGIN
Superindentente do CB-18/ABNT
e Diretora Técnica do IBRACON

1. INTRODUÇÃO tes das principais economias mundiais ambiente e responsabilidade social)

D
esenvolvimento sustentá- para a discussão de temas estratégicos tem sido amplamente divulgado, mas
vel é aquele que atende às sobre meio ambiente. Nessa linha, em apenas o processo de aculturamento
necessidades do presente, 1993 deu-se início aos trabalhos de nor- da sociedade pode gerar o necessário
sem comprometer a possibilidade das malização com a formação do ISO/TC comprometimento, para que em todas
gerações futuras atenderem às suas 207 – International Technical Committee as esferas se pratiquem ações que
próprias necessidades, segundo o Re- of Environmental Management, com for- levem essa mesma sociedade, como
latório da Comissão Brundland “Nosso te participação do Brasil. um todo, a uma melhor qualidade de
Futuro Comum, 1987” da Organização O envolvimento da ISO nas ques- vida ao longo do tempo.
das Nações Unidas. tões da sustentabilidade transcen- O tema deste artigo está inserido no
Apesar de simples em sua essên- de os ideais e limites de governos e campo das construções, onde o con-
cia, esse conceito vem exigindo mu- possibilita soluções que agreguem di- sumo de materiais e energia é ainda ex-
danças sociais importantes, pois o ferentes culturas e amenizem os efei- pressivo, assim como a geração de ga-
modelo de crescimento econômico tos de opiniões antagônicas, pois a ses do efeito estufa e resíduos diversos.
tradicional tem deixado de ser viável normalização é, em sua essência, um Especialmente ao longo dos úl-
(ou sustentável), passando a depender veículo para a discussão de temas de timos vinte anos, muitos estudos,
de outros fatores, antes relegados a interesse da sociedade, possibilitando pesquisas e ações, tanto da iniciativa
um segundo plano. a popularização do conhecimento e o privada como pública, têm gradativa-
Há alguns anos a preservação am- desenvolvimento com base técnica e mente minorado os valores específicos
biental passou a ser vista como funda- consenso social. (unitários) desses impactos, porém é
mental para a continuidade do cres- A barreira cultural é de tal forma ex- ainda pequeno o resultado final (total)
cimento econômico, possibilitando pressiva que, somente dez anos após em função do aumento populacional e
a manutenção dos recursos naturais o início dos trabalhos na área ambien- do consequente anseio da população
indispensáveis à industrialização; mais tal, foi possível divulgar as iniciativas da por conforto (moradia, saneamento,
recentemente essa preocupação foi ISO para as questões relacionadas à infraestrutura de transporte, etc).
estendida à preservação da própria hu- responsabilidade social. A publicação Como o concreto é o material de
manidade. Diversos países voltaram sua da ISO 26000 Social Responsibility, construção mais utilizado no mundo,
atenção para essa necessidade e, em em 2010, trazendo apenas diretrizes sua composição, aplicações, durabi-
1990, foi criado pela ISO (International gerais, mostra de forma velada as difi- lidade e possibilidades de reciclagem
Organization for Standardization) o Stra- culdades enfrentadas nesse processo. têm sido objeto de muitas pesquisas,
tegic Advisory Group on Environment, O tripé da sustentabilidade (cres- dispondo-se atualmente de vasto ca-
que possibilitou agregar representan- cimento econômico, respeito ao meio bedal de informações.

58 | CONCRETO & Construções


Verifica-se, no entanto, que mesmo Vale aqui mencionar que o Brasil faz sem deixar de considerar os avanços
no meio técnico formal há bastante parte do CSI, sigla em inglês para Ini- observados em normas de outros paí-
desconhecimento e até mesmo des- ciativa Mundial da Sustentabilidade do ses, em especial o pragmatismo ame-
caso com relação a muitas das pos- Cimento, no âmbito do WBCSD (World ricano no desenvolvimento de meto-
sibilidades de uso que reflitam em res- Business Council for Sustainable dologias de ensaios.
postas mais adequadas ao momento Development), e é referência no cam- Seguindo a linha proposta pelo
atual. po da adequação ambiental pelos bai- Eurocode 2 (EN 1992:2004 Design of
São apresentadas a seguir as prin- xos consumos energéticos e por um concrete structures) e complementada
cipais ações na área da normalização inventário de lançamento e monitora- pela EN 206-1:2000 (Concrete – Spe-
técnica (especialmente de concreto) mento de gases do efeito estufa, que cification, performance, production
visando ações de sustentabilidade e também é benchmark mundial. and conformity), foram introduzidos,
discutidos os caminhos para sua im- O concreto, por sua vez, é um no início dos anos 2000, parâmetros
plementação e as lacunas existentes. compósito à base de cimento Portland de durabilidade nas Normas Brasilei-
com grande quantidade de agregados ras ABNT NBR 6118 (Projeto de Es-
2. DIRETRIZES ISO PARA (normalmente 60% a 70% em massa), truturas de Concreto) e ABNT NBR
A GESTÃO AMBIENTAL além de outros materiais utilizados em 12655 (Concreto de cimento Portland:
A ISO publicou em 1993 um Guia menor escala, como água, aditivos e preparo, controle, recebimento e acei-
que estabelece a inclusão de aspec- eventualmente adições, como meta- tação), atualmente em novas versões,
tos de gestão ambiental em normas de caulim, sílica ativa ou outros materiais revisadas e complementadas (2014 e
produtos (ISO Guide 64 ), documento
1
pozolânicos. É, portanto, um insumo 2015, respectivamente).
que foi revisado em 2003 e novamente que utiliza materiais disponíveis em Conceitos de vida útil e desempe-
em 2008, tendo sido uma das bases praticamente todo o globo terrestre, nho em serviço passaram a fazer parte
para o desenvolvimento das Normas de baixo custo/benefício e fácil reci- da agenda de discussões para o de-
da série ISO 14000 (Environmental clagem, é considerado pouco agres- senvolvimento de novas construções.
management). sivo ao meio ambiente, especialmente Exigências relativas ao cobrimento
Um exemplo de sucesso nesse se comparado a outros materiais de das armaduras (espessura e qualidade
campo são as normas brasileiras de construção. do concreto) em função da classe de
cimento Portland, que seguindo a li- Com o advento da série ISO agressividade ambiental colocaram em
nha europeia, consideram a possibi- 14000, que contempla exigências de evidência a necessidade de se preve-
lidade de incorporação de diversos avaliação do ciclo de vida e rotula- nir os efeitos do meio ambiente sobre
materiais, descartados de outros gem ambiental dos produtos, além da as estruturas, para que estas possam
segmentos industriais, como matérias avaliação ambiental dos processos, o durar mais e, consequentemente, pos-
primas para a fabricação do cimento. concreto tornou-se ainda mais atrativo sibilitar um melhor gerenciamento das
A redução do consumo energético de do ponto de vista ambiental, conside- questões ambientais.
fabricação, o aumento da vida útil das rando sua durabilidade. Paralelamente, como forma de
jazidas e a mitigação das emissões avançar na prevenção de desgastes
são os principais ganhos ambientais 3. NORMAS BRASILEIRAS DE prematuros das estruturas, investiu-se
obtidos com essa medida. Atualmen- CONCRETO E ESTRUTURAS na normalização dos materiais cons-
te, com as novas tecnologias de fa- No campo da normalização técnica tituintes do concreto e de estruturas
bricação, tem sido possível também de concreto, seus materiais constituin- pré-fabricadas de concreto, sendo
a queima de combustíveis alternativos tes, estruturas e outras aplicações, o aprovadas e publicadas no Brasil:
e resíduos diversos nos fornos rotati- Brasil conta com um acervo de mais u A ABNT NBR 15900:2010 – Água
vos, com a manutenção da qualidade de 300 títulos, que tem na normaliza- de amassamento do concreto,
do produto final. ção europeia sua principal referência, alinhada à ISO 12439:2010, mas

Os Guias ISO são documentos que estabelecem diretrizes gerais e devem ser considerados no desenvolvimento das Normas Técnicas Internacionais e Nacionais dos países membros
1

da ISO.

CONCRETO & Construções | 59


etapas de concretagem e do ruído
gerado nesse processo, requisitos
importantes especialmente para a
indústria da pré-fabricação;
u A ABNT NBR 15577:2008 Agrega-
dos – Reatividade álcali-agregado
(seis Partes), onde, além da avalia-
ção dos agregados a serem utiliza-
dos no concreto, são estabelecidas
diretrizes para a classificação de
estruturas/elementos estruturais,
em função da probabilidade de es-
tes estarem sujeitos à ocorrência
da reação álcali-agregado, sendo
u Figura 1 indicadas as medidas preventivas
Esquema dos conceitos que serviram de base à ABNT NBR 15575 para o
adequadas em cada situação;
estabelecimento dos tempos de vida útil de projeto dos sistemas que
compõem a edificação u A ABNT NBR 12655:2015, que
complementa a ABNT NBR 6118, a
adequada à realidade brasileira, concreto (diretamente ou presen- ABNT NBR 9062:2006 (Projeto de
contemplando a necessária meto- tes nos cimentos compostos) pro- execução de estruturas pré-molda-
dologia de ensaios e trazendo não porcionam redução da porosidade das de concreto) e outras Normas,
apenas a possibilidade de avalia- e da permeabilidade, colmatando detalhando requisitos de composi-
ção da qualidade da água disponí- os poros e gerando aumento da ção do concreto e estabelecendo:
vel para a preparação do concre- resistência aos agentes agressivos – limites para a avaliação da quan-
to, mas também uma proposta de (como sulfatos e íons cloreto), com tidade de cloretos trazidos à matriz
processo de gestão ambiental, que a redução da ocorrência de eflores- pelos materiais constituintes em fun-
inclui o aproveitamento da água re- cência; proporcionam ainda a mi- ção do tipo de estrutura (armada,
cuperada do processo produtivo e tigação da reação álcali-agregado protendida ou de concreto simples);
de outros usos relacionados; e o aumento da resistividade elétri- – critérios de qualidade do con-
u As novas Normas de materiais po- ca e das resistências à tração e à creto para as situações de exposi-
zolânicos (ABNT NBR 12653:2014), compressão ao longo do tempo; ção a cloretos (do meio externo) e
incluindo documentos específicos u A ABNT NBR 15823:2010 Con- sulfatos (da água e do solo);
para o metacaulim (ABNT NBR creto autoadensável (seis Partes), – recomendações para a durabi-
15894:2010) e a sílica ativa (ABNT que estabelece requisitos para lidade de estruturas em contato
NBR 13956:2012), que estabele- o controle no estado fresco dos com meios agressivos, notada-
cem critérios para controle e uso concretos que dispensam a eta- mente elementos enterrados ou
desses materiais com cimento pa de adensamento na obra. Este em contato com o solo (como
Portland em concreto, argamassa tipo de concreto tem sido cada fundações) e limites de composi-
e pasta, de forma a se ter o me- vez mais exigido para a execução ção para o concreto dessas es-
lhor resultado em termos de dura- de estruturas com grande con- truturas em função da agressivi-
bilidade e desempenho mecânico centração de armadura e possi- dade do meio.
- estudos mostram que, se bem bilita a obtenção de superfícies u Uma nova geração de normas
controlados e utilizados, os mate- bem acabadas, com redução da para estruturas pré-fabricadas de
riais pozolânicos adicionados ao quantidade de mão de obra nas concreto (ABNT NBR 14861:2011,

Revisada em 2015, em fase final de aprovação para publicação.


2

60 | CONCRETO & Construções


u Quadro 1 – Estrutura do ISO/TC71

Subcomitê Título Secretaria


SC1 Test Methods for Concrete SII (Israel)
SC3 Concrete production and execution of concrete structures SN (Noruega)
SC4 Performance requirements for structural concrete ANSI/ACI (USA)
SC5 Simplified design standards for concrete structures ICONTEC (Colômbia)
SC6 Non-Traditional reinforcing materials for concrete structures JISC (Japão)
SC7 Maintenance and repair of concrete structures KATS (Coréia)
SC8 Environmental Management for Concrete Structures JISC (Japão)

de lajes alveolares, ABNT NBR como um todo integrado e aos seus o conceito de vida útil de projeto da
16258:2014, de estacas pré-fa- sistemas, independentemente dos ABNT NBR 6118 publicada em 2003.
bricadas e Projeto 18:600.19-001, materiais utilizados na construção. Tendo em vista incentivar o cres-
que trata de painéis de parede, No quesito durabilidade, a im- cimento dos setores da construção
em fase final de aprovação), que portância da Norma de Desempe- com base em critérios de desempe-
seguem a linha estabelecida por nho está nos conceitos trazidos da nho ideais, como os praticados em
sua norma-mãe, a ABNT NBR BS 7543:2003 (Guide to durability of
3
países desenvolvidos, a ABNT NBR
9062, estabelecendo os requisitos buildings and building elements, products 15575 traz um anexo de caráter in-
específicos para os processos de and components) e no estabelecimento formativo com dados de desempe-
produção, controle e montagem de prazos para a vida útil de projeto. nho denominados de intermediário (I)
das estruturas com esses elemen- O efeito de uma falha no desempe- e superior (S) para alguns requisitos.
tos - vale destacar os requisitos nho (da estrutura, do elemento, do sis- No caso da vida útil de projeto das
estabelecidos para a qualidade tema, etc.), o grau de dificuldade nas estruturas, tem-se, na Parte 1 dessa
da execução das estruturas pré- operações de manutenção e reparação Norma, os valores recomendados de
-fabricadas, onde os controles e o custo envolvido, são os três fatores 63 anos para o desempenho interme-
industriais proporcionam aumento considerados pela BS 7543, e também diário e 75 anos para o superior.
na durabilidade, com relação aos pelas ABNT NBR 15575 e ISO 15686- O significado da vida útil de proje-
padrões convencionais. 1:2000 , para as avaliações de durabili-
4
to segundo a ABNT NBR 15575:2013
dade e estabelecimento dos prazos de está a seguir registrado:
4. NORMA DE DESEMPENHO vida útil de projeto. A Figura 1 exemplifica 3.43
Marco inovador no setor da cons- esse processo e nela verifica-se que, no Vida Útil de Projeto (VUP)
trução civil, a ABNT NBR 15575, pu- caso das estruturas, a vida útil de projeto Período estimado de tempo
blicada em segunda versão em 2013, deve sempre ser a maior dentre os siste- para o qual um sistema é pro-
compila o conteúdo de um acervo mas que compõe uma edificação. jetado a fim de atender aos
normativo construído ao longo dos A lógica do crescimento continua- requisitos de desempenho es-
anos e nem sempre absorvido pelo do no campo da normalização técni- tabelecidos nesta Norma, con-
meio técnico de maneira adequada, ca merece aqui ser explicitada, pois a siderando o atendimento aos
estabelecendo requisitos e critérios Norma de Desempenho reafirma a ida- requisitos das normas aplicá-
de desempenho para o conforto dos de mínima de 50 anos para estruturas veis, o estágio do conhecimen-
usuários de edificações habitacionais. de qualquer material, prazo já previsto to no momento do projeto e
A Norma, composta de seis Par- pela ABNT NBR 8681:2004 (Ações e supondo o cumprimento da pe-
tes, aplica-se ao edifício habitacional segurança nas estruturas), e também riodicidade e correta execução
3
A edição mais recente da BS 7543 foi publicada em abril de 2015 pelo BSI – British Standards Institution.
4
ISO 15686 Buildings and constructed assets – Service life planning, composta de 11 Partes, sendo que a primeira, de Princípios Gerais, foi publicada no ano 2000
e revisada em 2011.

CONCRETO & Construções | 61


u Figura 2
Fluxograma de Projeto para a Vida Útil em Serviço da Estrutura de Concreto

dos processos de manutenção vés dos Comitês Brasileiros da Asso- seus SCs, é sempre realizada em dife-
especificados no respectivo ciação Brasileira de Normas Técnicas rentes países (e preferencialmente em
Manual de Uso, Operação e que atuam nessa área (ABNT/CB-18 continentes diferentes), de forma a di-
Manutenção (a VUP não deve Cimento, Concreto e Agregados e vulgar o trabalho do Comitê.
ser confundida com tempo de ABNT/CB-02 Construção Civil). A normalização com foco na dura-
vida útil, durabilidade, prazo de Atualmente com sete subcomitês bilidade das estruturas de concreto tem
garantia legal e certificada). (SC) ativos (ver Quadro 1) e a Secre- sido o principal aspecto de atenção dos
Nota: A VUP é uma estimativa taria Geral sendo administrada pelo trabalhos do ISO/TC71, envolvendo
teórica de tempo que compõe American Concrete Institute (ACI), o 5
todos os seus subcomitês, em temas
o tempo de vida útil. O tempo ISO/TC71 é um dos mais ativos Co- de seu escopo, que possam convergir
de VU pode ou não ser confir- mitês Internacionais, congregando 95 para a perfeita conceituação e o esta-
mado em função da eficiência países, com a soma de seus mem- belecimento de requisitos nessa área.
e registro das manutenções, de bros participantes (P) e observadores Assim, em 2012, foi possível a
alterações no entorno da obra, (O, sem direito a voto). publicação da ISO 16204 Durabili-
fatores climáticos, e outros. O ACI assumiu os trabalhos de co- ty – Service Life Design of Concrete
ordenação do ISO/TC71 em 1993 e Structures, a partir de trabalhos de-
5. O ISO/TC71 E O MODEL CODE nesses vinte anos tem atuado de forma senvolvidos ou em desenvolvimento
2010 DA fib dinâmica e competente, conseguindo na ocasião, como os a seguir:
O Brasil participa da Normalização agregar países e grupos econômicos u metodologias de ensaios prepara-
Internacional de Concreto, a cargo do no trabalho de desenvolvimento de das pelo SC1, como as estabele-
ISO/TC71 (Concrete, Reinforced Con- normas técnicas. cidas na ISO 1920 – Parte 11:2013
crete and Prestressed Concrete) atra- A reunião anual do ISO/TC71, e (Determination of the chloride

5
A ANSI – American National Standards Institute é o organismo oficial responsável por representar os EUA na ISO, tendo indicado o ACI para gerenciar a Secretaria Geral do
ISO/TC71, por este último atuar especificamente na área de concreto e estruturas de concreto.

62 | CONCRETO & Construções


resistance of concrete, unidirectional diversos outros documentos normati- No entanto, muito trabalho há ain-
diffusion) e ISO 1920 – Parte 12:2015 vos estrangeiros, que têm servido de da pela frente, para que seja possível
(Determination of the carbonation base aos trabalhos internacionais de desenvolver todos os itens previstos
resistance of concrete — Accelerated normalização e também de iniciativas, no fluxograma proposto pelas entida-
carbonation method); como a da Colômbia, de aproveitar a des internacionais (ISO e fib), inician-
u procedimentos de preparação e normalização internacional para gerar do pelo monitoramento, inspeção e
controle da qualidade do concre- normas nacionais sobre a durabilida- inventário das estruturas existentes ou
to, elaborados pelo SC3, dando de das estruturas de concreto. No em execução.
origem à ISO 22965:2007 (Part 1: 6
entanto, essa lista poderia se tornar O tema desta edição da Revista
Methods of specifying and guid- extremamente extensa e a literatura Concreto & Construções do IBRACON
ance for the specifier e Part 2: Spec- técnica disponível sobre o tema já leva-nos a uma série de reflexões, ne-
ification of constituent materials, traz preciosas informações a respei- cessárias neste momento em que a
production of concrete and compli- to, recomendando-se uma consulta economia brasileira, uma vez mais, dá
ance of concrete); aos Livros publicados pelo IBRACON, sinais de fraqueza.
u procedimentos de manutenção es- conforme referências bibliográficas A construção civil é um dos gran-
tabelecidos pelo SC7, publicados deste artigo. des motores da economia, mas res-
como ISO 16311:2014 (Maintenan- ponde também pelos maiores des-
ce and repair of concrete structu- 6. CONCLUSÕES perdícios de materiais e, com isso, de
res), composta de quatro Partes. A normalização brasileira de con- geração de resíduos. É fundamental
A ISO 16204, que trata do projeto creto e estruturas de concreto tem desenvolver processos de divulgação
para a durabilidade a partir das ações acompanhado as tendências interna- que informem sobre as normas bra-
ambientais e seu efeito sobre as es- cionais e, em alguns casos, sido pro- sileiras que podem ser aplicadas em
truturas de concreto, teve como base ativa no desenvolvimento de normas cada caso (como, por exemplo, as
os princípios das ISO 2394 (General técnicas para temas específicos. Normas que viabilizam a reciclagem
principles on reliability for structures), Nos últimos anos, os Comitês Bra- de concreto e a utilização de resíduos
ISO 13823 (General principles on the sileiros de normalização atuaram for- de demolição da construção civil em
design of structures for durability), do temente na atualização do acervo da concreto sem função estrutural ou ca-
ISO/TC 98, e do Model Code 2010 da ABNT, no intuito de atender a neces- madas de pavimentação).
fib (Fédération Internationale du Béton). sidade impostas pela ISO, que vão ao Os setores industriais têm buscado
A Figura 2 ilustra o fluxo de deci- encontro dos anseios da própria so- reduzir o impacto de seus processos,
sões e as atividades de projeto neces- ciedade técnica. considerando aspectos legais, norma-
sárias em um processo racional para a Algumas tentativas para o desen- tivos e mercadológicos, conscientes
vida útil de serviço de uma estrutura, volvimento de normas brasileiras es- de que no momento atual sua ima-
com um nível estabelecido de confia- pecíficas de avaliação dos efeitos de gem frente aos consumidores pode
bilidade, segundo a ISO 16204 e que agentes agressivos às armaduras de ser o fator decisivo para o sucesso. Os
está de acordo com o previsto no Mo- aço das estruturas de concreto (como processos de qualidade e gestão am-
del Code 2010 da fib. a carbonatação e a difusão de cloretos) biental, propostos pela ISO (séries ISO
O ICONTEC – Instituto Colombiano geraram propostas de ensaios e pro- 9000 e ISO 14000) certamente são
de Normas Técnicas y Certificación, pu- cedimentos comparáveis aos recente- um diferencial, mas a certificação dos
blicou em 2012 a NTC 5551 Durabilidad mente publicados pela ISO, o que nos produtos, por sua conformidade às
de Estruturas de Concreto, com base incentiva a retomar esse trabalho e, se normas específicas, é uma segurança
nos requisitos das Normas Internacio- for o caso, adotar as normas interna- importante para os consumidores.
nais ISO anteriormente mencionadas. cionais ou propor melhorias para sua O concreto tem provado ao longo
Seria possível listar e comentar próxima revisão. dos anos que é um excelente material

Similar, de forma geral, à Norma Brasileira ABNT NBR 12655:2015.


6

CONCRETO & Construções | 63


de construção. Por sua versatilidade do país que se propõem a desenvolver do a presença de professores, mestres
e baixo custo está presente em todo essa tarefa. e doutores nos trabalhos de elabora-
o globo, suportando as mais diversas É possível perceber a necessidade ção das normas brasileiras. Esse qua-
solicitações, sejam cargas de projeto, de incentivo para algumas atividades dro deve ser mudado para que as
ações de incêndio ou a agressividade ainda pouco expressivas na cultura normas técnicas sejam cada vez mais
do meio ambiente. O Brasil tem forte nacional, como a normalização técni- uma ferramenta de trabalho à dispo-
tradição na construção em concreto e ca, que muito pouco é ensinada nas sição da sociedade técnica e reflitam
participa dos foros internacionais, sen- escolas de graduação e não compete o real estágio de desenvolvimento do
do reconhecido por sua atuação. No em igualdade de condições com ou- país, possibilitando um crescimento
entanto, são poucos os representantes tras atividades acadêmicas, dificultan- contínuo e harmônico.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ABNT. ABNT NBR 6118 Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
[02] ______. ABNT NBR 12655 Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
[03] ______. ABNT NBR 15575 Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho (6 Partes). Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
[04] BRITISH STANDARDS INSTITUTION, BSI. Guide to durability of buildings and building elements, products and components. London, 2003.
[05] COMITÊ EUROPEU DE NORMALIZAÇÃO, CEN. EN 206-1 Concrete. Specification, performance, production and conformity. Brussels, 2000.
[06] ______. Eurocode 2 (EN 1992). Design of concrete structures, Brussels, 2004.
[07] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. fib Model Code for Concrete Structures 2010. Lausanne, 2013.
[08] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, ISO. ISO/Guide 64 Guide for addressing environmental issues in product standards. Geneva, 2008.
[09] ______. ISO 16204 Durability – Service Life Design of Concrete Structures. Geneva, 2012.
[10] ISAIA, G. (Ed). Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. 2v. São Paulo: IBRACON, 2010.
[11] ISAIA, G. (Ed). Concreto: Ciência e Tecnologia. 2v. São Paulo: IBRACON, 2011.

SIMPÓSIO SOBRE

ESTRUTURAS DE FUNDAÇÕES
ASPECTOS ESTRUTURAIS E GEOTÉCNICOS
28 de outubro | Centro de Convenções de Bonito – MS
Fundações são projetos multidisciplinares por serem interfaces
entre a estrutura e o solo, envolvendo análises estrutural e geotécnica
e suas respectivas interações, bem como a compatibilização
de seus aspectos construtivos

PALESTRAS DE DESTAQUE

PROBLEMAS DE NATUREZA GEOTÉCNICA NO


PROJETO DE FUNDAÇÕES DE AEROGERADORES
Jarbas Milititsky (consultor de obras geotécnicas)

ANÁLISE COMPUTACIONAL DE BLOCOS DE COROAMENTO DE ESTACAS


Organização Rafael Alves de Souza (professor da Universidade Estadual de Maringá)

Apoio institucional Informações

www.ibracon.org.br

64 | CONCRETO & Construções


u normalização técnica

Discussão sobre as ações


variáveis de projeto segundo os
requisitos mínimo, intermediário
e superior de desempenho da
ABNT NBR 15575
FABRICIO BOLINA – Engenheiro Civil e Analista de Projeto
VITOR PERRONE – Engenheiro Civil e Projetista Estrutural do Estádio 3
BERNARDO TUTIKIAN – Engenheiro Civil e Coordenador Geral
ITT Performance/Unisinos e Diretor Regional do Ibracon

1. INTRODUÇÃO 2013, a estrutura deve conservar a atendimento dos requisitos. A con-


Com a entrada em vigor da ABNT segurança, estabilidade e aptidão cepção de uma estrutura segundo as
NBR 15575 – Edificações Habitacio- em serviço durante o período corres- exigências de durabilidade é remeti-
nais – Desempenho, em 2013, pro- pondente à sua vida útil (item 14.1). A da ao conjunto de normas brasileiras
jetistas, fornecedores e construtores estrutura principal e seus elementos de projeto e dimensionamento apli-
ficaram incumbidos de construir edi- devem ser projetados e construídos cáveis a este fim.
ficações que atendam a requisitos de modo que, sob condições pré- Se, por um lado, tem-se a ABNT
mínimos de desempenho. Privilegian- -estabelecidas de uso, mantenham NBR 15575:2013, a qual estabele-
do os usuários, que respondem pelo sua capacidade funcional durante a ce níveis de desempenho a serem
uso adequado do imóvel, devendo vida útil do projeto. Uma estrutura cumpridos, por outro, o leque de
promover as ações de manutenção deve ser concebida para atender a normas nacionais prescritivas ainda
previstas, a norma foca as exigên- um desempenho mínimo, interme- não fornece todos os índices para
cias de (a) sustentabilidade, (b) ha- diário ou superior de durabilidade, o cumprimento dessas exigências,
bitabilidade e (c) segurança que os devendo o projetista estrutural, para principalmente quanto aos requisi-
sistemas construtivos devem cumprir tanto, estabelecer uma Vida Útil de tos de desempenho intermediário e
100quando em uso, definindo em níveis Projeto (VUP) de 50, 63 ou 75 anos, superior de durabilidade e vida útil.
mínimo, intermediário e superior os respectivamente . 1
Dentre essas necessidades está a
95
critérios de qualificação destes. Den- O fato da norma de desempenho prescrição das ações variáveis a se-
75 tre os sistemas abordados pela nor- ter uma linguagem predominante- rem admitidas no dimensionamento
ma, está o estrutural. mente qualitativa faz com que ela se do sistema estrutural, principalmente
Segundo a ABNT NBR 15575-2: apoie em normas prescritivas para o devido ao conceito de probabilidade
25

Segundo a Norma de Desempenho, projetistas, construtores e incorporadores são responsáveis pelos valores teóricos de Vida Útil de Projeto que podem ser confirmados
1
5 por meio de atendimento às normas Brasileiras ou Internacionais (exemplo: ISO e IEC) ou Regionais (exemplo: Mercosul) e não havendo estas, podem ser consideradas normas
estrangeiras na data do projeto.

CONCRETO & Construções | 65


de ocorrência empregado na sua aná- de estruturas de edificações (ABNT possuem uma probabilidade de 25%
lise. A ABNT NBR 8681:2003 define NBR 6120:1980) define que estas a 35% de serem ultrapassados duran-
a intensidade das ações variáveis e podem ser classificadas em duas te um período de 50 anos, no Brasil.
estabelece os valores característicos categorias: (a) permanentes e (b) aci- Portanto, entende-se que as pre-
para um período de retorno de 50 dentais. As permanentes não pos- missas de durabilidade das estrutu-
anos, não havendo qualquer indica- suem uma variação no tempo, pelo ras de concreto conforme as ABNT
ção para tempos de retorno de 63 e fato de serem ações inertes e, teori- NBR 6118 – Projeto de estruturas
75 anos para essas ações. camente, constantes, como o peso de concreto armado – Procedimento
Visando contribuir para este de- próprio dos sistemas construtivos. (2014) e ABNT NBR 12655 – Con-
bate e preencher esta lacuna nor- As acidentais, no entanto, pelo fato creto de cimento Portland – Preparo,
mativa, o presente trabalho analisou de abranger ações que comtemplam controle, recebimento e aceitação
estas ações, propondo valores de o uso da edificação (pessoas, mó- – Procedimento (2015) são válidas
cargas variáveis a serem admitidas veis, ventos, sismos, etc.), apresen- para uma vida útil de 50 anos. Con-
nos cálculos estruturais para tempos tam variabilidade no tempo, o que tribuições ao avanço dos estudos
de retorno de 63 e 75 anos, compa- impossibilita uma definição concreta para o estabelecimento obrigatório
rando com os valores estabelecidos e absoluta de sua magnitude para de prazos de vida útil maiores, com
para ações desta natureza pelas outros períodos de retorno além dos base nos parâmetros de dimensio-
principais normas internacionais. 50 anos, sendo admitida a probabili- namento em termos de durabilidade
dade de ocorrência. dessas estruturas (cobrimento das
2. ANÁLISE DO SISTEMA A combinação das ações gera- armaduras, resistência do concreto,
NORMATIVO BRASILEIRO das por essas cargas é estabelecida relação água/cimento e consumo de
Segundo a norma de desempe- pela ABNT NBR 8681:2003, a qual cimento), já foram apresentados por
nho (ABNT NBR 15575:2013), uma determina que as ações acidentais, Bolina e Tutikian (2014), extrapolando
estrutura é dimensionada, dentre ou- definidas como variáveis, podem ser as recomendações das ABNT NBR
tros fatores, considerando as normas classificadas como (a) ações variá- 6118:2014 e ABNT NBR 12655:2015
que definem as cargas de uso (ABNT veis normais e (b) ações variáveis es- para os níveis de desempenho in-
NBR 6120:1980), de vento (ABNT peciais. As ações variáveis normais termediário (63 anos) e superior (75
NBR 6123:1988), as combinações são aquelas com probabilidade de anos) da norma de desempenho.
destas (ABNT NBR 8681:2003) e as ocorrência suficientemente grande Adotando o cenário praticado
que propõem o dimensionamento para que sejam admitidas no cálcu- pela ABNT NBR 8681 – Ações e
dos elementos estruturais segun- lo estrutural, tais como as de uso da segurança nas estruturas – Proce-
do estas combinações (ABNT NBR edificação. As ações variáveis espe- dimento (2003), é entendido que as
6118:2014 para concreto armado, ciais provêm de situações não corri- cargas de uso estabelecidas pela
ABNT NBR 8800:2008 para es- queiras, tais como sismos. Este arti- ABNT NBR 6120 – Cargas para o
truturas metálicas compostas por go se concentrou nas primeiras. cálculo de estruturas de edificações
perfis laminados e estruturas mis- Os valores característicos des- (1988) são as que devem ser prati-
tas de concreto e aço e ABNT NBR sas ações praticados pelas normas cadas no projeto estrutural de edifi-
7190:1997 para estruturas de ma- brasileiras são dados em função da cações habitacionais. Algumas das
deira). As ações ambientais também variabilidade e intensidade de suas cargas constantes dessa Norma,
são abordadas nestas, pelo fato do ocorrências. Define a ABNT NBR aplicadas a edificações residenciais,
ambiente promover uma degradação 8681:2003 que, para as ações que estão transcritas na Tabela 1.
dos elementos estruturais , influen- apresentam variabilidade no tempo, Cabe destacar que os coeficien-
ciando o desempenho e, por conse- admite-se um período convencional tes de ponderação são propostos
guinte, a vida útil da edificação. de referência para que essas ações segundo as incertezas associadas
A norma que estabelece as car- sejam ultrapassadas. Esses valores aos materiais, ações, modelos, teo-
gas a serem admitidas para o cálculo são estabelecidos por consenso e ria e execução, visando controlar o

66 | CONCRETO & Construções


variáveis são divididas em categorias.
u Tabela 1 – Valores mínimos de algumas cargas verticais praticadas No entanto, não é especificado o tem-
na ABNT NBR 6120:1980 po de retorno. Pelo fato da EN 1990 –
Eurocode – Basis of structural design
Local Carga (2002) requerer uma vida útil mínima
Tipo Descrição (kN/m²) de projeto de 50 anos para as edifica-
Dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro 1,5 ções habitacionais convencionais, tal
Edifícios residenciais como a ABNT NBR 15575:2013, par-
Despensa, área de serviço e lavanderia 2
te-se do pressuposto que as ações
Com acesso ao público 3
Escadas variáveis características nela estabe-
Sem acesso ao público 2,5
lecidas empregam este mesmo perí-
Sem acesso ao público 2
odo de retorno. A nota do item 4.1.2
Terraços Com acesso ao público 3 do Eurocode aborda as ações variá-
Inacessível a pessoas 0,5 veis derivadas das ações ambientais,
evidenciando um período de retorno
risco de falha (SOUZA JUNIOR, damentada na consequência de um de 50 anos para estas, com probabi-
2008). Explica o autor que os coe- colapso da edificação - interpreta- lidade de 2% ao ano de serem ultra-
ficientes parciais de segurança pra- do segundo a magnitude de perdas passadas, o que sugere esta mesma
ticados pelas normas brasileiras sociais, econômicas e de vidas - a presunção para as ações variáveis de
não passaram pelo processo de norma determina a probabilidade da uso. A norma aborda vida útil de 100
calibração em termos de confiabili- ação variável ser excedida para uma anos para obras de infraestrutura,
dade, possuindo origem em normas vida útil de projeto de 5, 25, 50 e 100 onde não se aplicam as ações cor-
estrangeiras correlatas, não sendo anos. No entanto, as ações variáveis riqueiras de uso. Nesta lógica, a BS
realizada análise sistemática das in- que esta norma admite são o vento, 6399-1 – Loading for buildings – Part
certezas para a realidade brasileira. a neve e o terremoto, não estabe- 1 – Code of practice for dead and im-
As bases gerais dos fatores estabe- lecendo referências para as cargas posed loads (1996) apresenta valores
lecidos pelas normas europeias pos- variáveis de uso. Para estas, a AS/ mínimos de ações variáveis a serem
suem uma calibração baseada na NZS 1170.0:2002 remete para a AS/ admitidas nos projetos residenciais,
longa tradição do uso e aplicação, NZS 1170.1 – Structural design ac- com critérios semelhantes do Euro-
sem fundamentação minuciosa dos tion – Part 1 – Permanent imposed code, mas não apresentando citação
valores praticados. and other actions (2002), que define referente ao período de retorno.
Os coeficientes de ponderação as cargas variáveis características A norma indiana IS 456 – Plain
dessas ações não fazem parte do representativas de uma vida útil de and reinforced concrete (2000) faz
escopo deste trabalho. projeto de 50 anos, com probabili- referência, em termos de parâmetros
dade de 5% de serem ultrapassa- de durabilidade para os elementos de
3. ANÁLISE DO SISTEMA das, ou seja, bem menor do que a concreto (cobrimento, relação água/
NORMATIVO INTERNACIONAL faixa dos 25% a 35% praticadas pela cimento e resistência à compressão)
Para as estruturas projetadas na ABNT NBR 8681:2003. O valor ca- a uma vida útil de 50 anos, tal como
Austrália e Nova Zelândia, a AS/NZS racterístico dessas ações é apresen- indiretamente propõe a ABNT NBR
1170.0 – Structural design action tado na NZS 4203 – General struc- 6118:2014, sendo, contudo, mais
- Part 0 – General principles (2002) tural design and design loadings for conservadora do que esta. Para a de-
apresenta dois capítulos (um para buildings (1992). terminação das ações, a IS 456:2000
cada país) destinados ao cálculo da Já na Europa, a EN 1991-1-7 – remete a IS 875 – Code of practice for
probabilidade anual de uma ação Eurocode 1 – Actions on structures – design loads (other than earthquake)
variável ser ultrapassada. Admitin- Part 1-7: General actions – Accidental for buildings and structures (1987),
do uma classificação de riscos fun- actions (2006) define que as ações com uma proposta de classificação

CONCRETO & Construções | 67


u Tabela 2 – Comparativo das ações de uso recomendadas por diferentes normas para edificações residenciais

Carga (kN/m²)
Descrição ocupação Norma
NBR 6120 NZ 4203 EN 1991 IS 875 BS 6399 ASCE 7-05
Quartos 1,5 1,8 1,5 a 2,0 2,0 1,5 1,44
Cozinhas 1,5 1,8 1,5 a 2,0 2,0 1,5 1,92
Salas de jantar 1,5 1,8 1,5 a 2,0 2,0 1,5 1,92
Banheiros 1,5 1,8 1,5 a 2,0 2,0 2,0 1,92
Área de serviço 2,0 1,8 1,5 a 2,0 2,0 2,0 1,92
Lavanderias 2,0 1,8 1,5 a 2,0 2,0 2,0 1,92
Escadas 2,5 a 3,0 1,8 2,0 a 4,0 3,0 3,0 1,92-4,79
Terraços 2,0 a 3,0 1,8 1,5 a 2,0 3,0 3,0 3,83

de ocupação muito semelhante a 4. DEDUÇÃO E PROPOSIÇÃO DE vel aleatória com distribuição normal
apresentada pela norma neozelande- AÇÕES PARA AS DEMAIS VUP média μ e desvio padrão σ, pode-se
sa, embora com valores distintos das Utilizando princípios fundamen- relacionar o valor característico esta-
ações. No entanto, a IS 875:1987 não tais da estatística aplicada, pode-se, belecido para um período de 50 anos
faz qualquer referência para as cargas através dos critérios apresentados com o valor estabelecido para outros
variáveis por ela propostas, levando- por normas, realizar deduções. períodos através da equação (1).
-nos a entender que trata-se de um Segundo a ABNT NBR
período de retorno de 50 anos pelas 8681:2003, o valor característico [1]
presunções identificadas. das cargas acidentais apresenta um
Para os Estados Unidos, a ASCE risco entre 25% e 35% de serem ul- Sendo:
7-05: Minimum design loads for trapassadas em um período de 50 R – Risco permissível do valor ser atin-
buildings and other structures (2005) anos. Algumas normas internacio- gido ou ultrapassado durante a vida útil;
define que as ações variáveis pos- nais apresentam valores inferiores a T – Período de retorno em anos;
suem a chance de 1% de serem este, tal como a australiana e neo- p – Probabilidade de ocorrência (p=1/T);
igualadas ou excedidas anualmente, zelandesa. No entanto, para efeitos n – Vida útil considerada em anos.
diferentemente do que o Eurocode desta dedução, adotando-se um Através deste critério calcula-se o
propõe (2%). No entanto, para as risco de 35%, entende-se estar tra- período de retorno, a probabilidade
ações variáveis de neve e sismos, a balhando com uma hipótese conser- de ocorrência e o desvio padrão para
norma cita a fundamentação de seus vadora e já plenamente consagrada cada período admitido nos diferentes
princípios em 50 anos de período pela norma brasileira. níveis de desempenho estipulados
de retorno. Ainda, assumindo o valor das pela ABNT NBR 15575:2013, con-
A Tabela 2 mostra um compa- cargas acidentais como uma variá- forme Tabela 3.
rativo entre ações variáveis de uso
(normalmente empregadas no cál- u Tabela 3 – Correlação entre os parâmetros estatísticos empregados na dedução
culo de estruturas convencionais)
praticadas pelas principais normas T (anos) p Vida útil (anos) R Q
internacionais, válidas para edifica- 116,6 0,00858 50 35% 2,38
ções residenciais. 146,7 0,00681 63 35% 2,47
Observa-se que não há uma dife- 174,6 0,00573 75 35% 2,53
rença significativa entre estas ações.

68 | CONCRETO & Construções


cular este fator. Como não são co-
u Tabela 4 – Fator de correlação das ações variáveis nhecidos os valores de distribuição
estatística das cargas acidentais
Vida Vida Vida (valores médios e desvios medidos
Fator Fator experimentalmente), partiu-se para
μ/σ Fk50 Fk63 Fk50 Fk75
Fk63/Fk50 Fk75/Fk50
a tentativa de produzir um critério
1 3,38 3,47 1,027 3,38 3,53 1,044 de maneira geral, conforme se apre-
1,5 3,88 3,97 1,023 3,88 4,03 1,039 senta na Tabela 4.
2 4,38 4,47 1,021 4,38 4,53 1,034 Observa-se que, quanto maior a
2,5 4,88 4,97 1,018 4,88 5,03 1,031 variabilidade considerada nas car-
3 5,38 5,47 1,017 5,38 5,53 1,028 gas acidentais, traduzida pela corre-
lação entre a média μ e o desvio pa-
A função quantil (Q) é a função ca) para uma distribuição normal drão σ, menor é a correlação entre
inversa da função distribuição acu- P(μ,σ) diferente da padrão, tem-se a carga variável característica de 50
mulada e indica, para uma dada Q=(Fk-μ)/σ, ou Fk = μ + Q.σ. Essa anos ( Fk,50 ) e 75 anos ( Fk,75 ). A hipó-
probabilidade de uma variável ale- expressão serve para converter uma tese mais crítica é aquela na qual a
atória, o valor da variável que essa distribuição normal padrão e não- correlação entre esses fatores esta-
probabilidade possui de ser igualada -padrão, conforme a equação (2). tísticos é igual a 1. Para uma VUP de
ou superada. Utilizando a função de 63 anos, o incremento de cada ação
distribuição de probabilidade normal [2] variável é menor do que 3% (1,027)
padrão N(0,1) (média=0 e desvio=1), e, para uma VUP de 75 anos, este
resulta que Q(p)=x. Como exemplo, Através deste princípio é possível aumento é menor do que 5% (1,044).
Q(0,00573)=2,53, indicando que va- analisar a variabilidade das cargas A partir disso, é possível elaborar a
lores com 2,53 desvios padrões aci- acidentais, representada pela rela- Tabela 5, com as cargas acidentais
ma da média apresentam 0,00574 ção entre μ e σ. Esta correlação se para períodos de retorno de 63 e
de probabilidade de ocorrer. faz necessária para fixar média ou 75 anos.
O valor de Q é calculado desvio para se calcular os fatores Conforme a dedução proposta,
para a distribuição normal pa- que correlacionam VUP diferentes. é possível observar que a variação
drão N(0,1), então para obter o No momento em que a relação entre dos valores característicos das car-
Fk (carga variável característi- ambos é conhecida, pode-se cal- gas acidentais é pouco significativa

u Tabela 5 – Valores de algumas cargas verticais propostas para uma vida útil mínima, intermediária e superior
de durabilidade

Local Carga (kN/m²)

VUP (anos)
Tipo Descrição
50 63 75
Dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro 1,5 1,55 1,57
Edifícios residenciais
Despensa, área de serviço e lavanderia 2 2,05 2,09
Com acesso ao público 3 3,08 3,14
Escadas
Sem acesso ao público 2,5 2,57 2,61
Sem acesso ao público 2 2,06 2,09
Terraços Com acesso ao público 3 3,08 3,13
Inacessível a pessoas 0,5 0,51 0,52

CONCRETO & Construções | 69


quando comparados períodos de No entanto, apesar das cargas estão praticamente estabilizadas aos
retorno de 50, 63 e 75 anos, ad- permanentes serem inertes e não 50 anos, ainda assim, pode ter algu-
mitindo a probabilidade de 35% de produzirem uma variação significativa ma pequena variação que deve ser
serem atingidos ou extrapolados. no tempo, deve-se realizar uma análi- considerada nos cálculos.
Esta pequena variação pode justifi- se da influência do efeito Rusch para
car o fato de algumas normas inter- que se interprete a magnitude da va- 5. CONCLUSÃO
nacionais, apesar de apresentarem riação da relaxação do concreto ao Conclui-se que, para realizar um
parâmetros de durabilidade do con- longo do tempo e as consequências projeto estrutural visando atender o
creto para vidas úteis superiores a que esta pode trazer no dimensiona- nível mínimo, intermediário ou su-
50 anos, tal como a australiana (60 mento dessas estruturas, admitindo perior de durabilidade da norma de
anos) e a britânica (100 anos), não uma VUP de 63 e 75 anos. Ainda, é desempenho, as considerações pra-
diferenciam os valores de ações va- necessário considerar o crescimento ticadas neste artigo tornam-se uma
riáveis. Isto evidencia uma lacuna da resistência dos concretos após fonte de referência para a dedução
normativa semelhante a que se en- os 50 anos. Ambas as ações, efeito das ações variáveis a serem admiti-
contra na brasileira. Rusch e crescimento da resistência, das em projeto.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BOLINA, F.; TUTIKIAN, B. Especificação de parâmetros da estrutura de concreto armado segundo os preceitos de desempenho, durabilidade e segurança contra
incêndio. Revista Concreto e Construções, n. 76, p. 24–38, 2014.
[02] SOUZA JUNIOR, A. C. Aplicação de confiabilidade na calibração de coeficientes parciais de segurança de normas brasileiras de projeto estrutural. Dissertação
(Mestrado em Engenharia). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo: 2008.

II Simpósio sobre Durabilidade


das Estruturas de Concreto
29 de outubro I Centro de Convenções de Bonito – MS

Discussão dos mais recentes avanços nas pesquisas, nos projetos e na execução
de obras de concreto com maior durabilidade, bem como nos procedimentos para
mantê-las e reabilitá-las com maior eficiência
PALESTRAS DE DESTAQUE
• Modelos de vida das estruturas de concreto em serviço
Maria del Carmen Andrade Perdrix
(Instituto de Ciências da Construção Eduardo Torroja – CSIC, Espanha)
• Projeto de estruturas de concreto em ambiente severo
Odd Gjorv
(Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia – NTNU)

INFORMAÇÕES
www.ibracon.org.br
Organização Apoio Institucional

70 | CONCRETO & Construções


u entidades da cadeia

Programa Edificação + Segura


- Redução de riscos e aumento
da vida útil de estruturas:
avanços e ações futuras
BERNARDO FONSECA TUTIKIAN LUIZ CARLOS PINTO DA SILVA FILHO LUIZA SEGABINAZZI PACHECO
Presidente da ALCONPAT Brasil Diretor da ALCONPAT Brasil Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em
Conselheiro e Diretor Regional Sul do IBRACON Coordenador do Comitê Técnico de Durabilidade Engenharia Civil da UFRGS Universidade Federal
do IBRACON do Rio Grande do Sul
EDUARDO BARROS MILLEN
Diretor da Zamarion e Millen Consultores MARIA ANGELICA COVELO SILVA
Conselheiro da ABECE Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento

E
m 2012, representantes realização de inspeções de estruturas sabilidade da ABECE e da ALCONPAT,
do IBRACON – Instituto de concreto em edificações. com a coordenação geral da NGI Con-
Brasileiro do Concreto, da O curso é conduzido sob a respon- sultoria e Desenvolvimento.
ALCONPAT – Associação Brasileira Caberá ao IBRACON, numa se-
de Patologia das Construções, e da gunda fase do Programa, desenvol-
u Tabela 1 – Conteúdo e distribuição
ABECE – Associação Brasileira de de carga horária entre os módulos ver e implementar o método de cer-
Engenharia e Consultoria Estrutural tificação de profissionais de inspeção
iniciaram uma série de reuniões para Carga de estruturas.
horária
estruturar uma proposta de programa Módulo Conteúdo O curso foi organizado em módu-
(horas/
setorial visando fomentar a especia- aula) los, que tratam de grandes temas re-
lização e a difusão do conhecimento Conceitos e lacionados à inspeção, que abrangem
fundamentos para
referente à conservação de estruturas 1 16 desde uma revisão de fundamentos
a conservação de
no Brasil. estruturas sobre os mecanismos de degradação
Mecanismos de
Nascia o “Programa de redução atuantes em estruturas de concreto e
deterioração
2 12
de riscos e aumento da vida útil de de estruturas chegam até à discussão de princípios
de concreto
estruturas” ou Programa Edificação norteadores para eventuais atividades
Metodologia e
+ Segura, cujas primeiras ações fo- de reabilitação necessárias para res-
procedimentos
ram: a estruturação de um curso de 3 de inspeção de 20 taurar o desempenho (Tabela 1).
estruturas de
capacitação em inspeção de estru- O curso conta com 9 instrutores
concreto
turas de concreto voltado às edifica- de relevante experiência e reconheci-
Princípios para
ções, a produção de material didático recuperação de da competência em suas respectivas
4 16
estruturas de
para este curso e a elaboração de um áreas de atuação. A equipe foi mon-
concreto
método recomendado para orientar a tada considerando a necessidade de

CONCRETO & Construções | 71


adequadamente e de forma efetiva
NGI CONSULTORIA

inspeções de estruturas de concre-


to de edificações, dando subsídio ao
sistema de conservação do nosso pa-
trimônio construído.
Os profissionais que vêm partici-
pando dos cursos possuem perfil de
formação e experiência profissional
ligados ao tema, sendo distribuídos
entre profissionais que atuam na área
de perícias e vistorias técnicas de
edificações, projeto e consultoria em
estruturas, nas áreas de obras ou as-

Aula na turma de São Paulo, em 2014, proferida pelo projetista e professor sistência técnica pós-entrega de em-
Eng. Francisco Paulo Graziano, da Escola Politécnica da USP e da Pasqua presas construtoras e, ainda, profes-
& Graziano Associados
sores universitários.
ofertar uma abordagem multidiscipli- alunos. Novas turmas já estão sendo O curso inclui a realização de uma
nar, altamente focada e prática, em- planejadas para Belo Horizonte, Rio prova, para testar conhecimentos es-
basada no conhecimento mais atual de Janeiro e Porto Alegre. pecíficos na área, e de um trabalho
e qualificado disponível no país e in- Em setembro de 2015, com a con- prático como condições optativas,
ternacionalmente sobre os diversos clusão da 2ª Turma em São Paulo, o podendo o profissional optar por re-
aspectos relacionados à inspeção de Programa deverá atingir mais de 80 ceber um certificado de participação,
estruturas de concreto. profissionais capacitados, gerando caso não realize a prova e desenvolva
Para atingir esse objetivo, o cor- uma quantidade importante de profis- o trabalho com nota mínima de apro-
po docente mescla professores/pes- sionais que receberam conhecimento vação, e desde que tenha tido a fre-
quisadores de renome ligados a três teórico e treinamento para realizar quência mínima. Realizando a prova e
instituições de ensino com consulto-
res e projetistas atuantes e reconheci-
MITÚ DIGITAL

dos pelo mercado pelo conhecimento


específico na área de estruturas de
concreto, além do advogado Carlos
Pinto Del Mar, especialista em ques-
tões que envolvem responsabilidades
na construção civil.
Em 2014, foram concluídas as
duas primeiras turmas do programa,
uma em São Paulo e outra em Porto
Alegre, nas quais foram capacitados
47 profissionais.
Em março de 2015, foi iniciada a
terceira turma do curso, novamen-
te em São Paulo, composta por 36 Turma São Paulo 2014

72 | CONCRETO & Construções


elaborando o trabalho com a nota e

MARTA MORALES FOTOGRAFIAS


frequência mínimas, o aluno recebe
o certificado de conclusão do curso.
As aulas são realizadas a cada 15
dias com duração de quatro horas.
No Módulo 3, há uma aula prática
que simula a inspeção de uma estru-
tura real de uma edificação na qual
os alunos, com o acompanhamento
de professores, examinam o estado
de desempenho da estrutura e apli-
cam parte do procedimento do Pro-
grama Edificação + Segura discutido
em aula. Turma Porto Alegre 2014
As avaliações que vêm sendo
realizadas demonstram elevada sa- cimo de conhecimento ao trabalho, da contratação de profissionais capa-
tisfação dos alunos e, a cada tur- decorrente da experiência e formação citados para esta atividade.
ma, professores e a coordenação do profissional que realiza a inspeção. Também está programado o iní-
vão aperfeiçoando os conteúdos Este trabalho, que envolve um cio de ações de difusão de melhores
e método com base na experiên- intenso esforço do conjunto de pro- práticas com o objetivo de conscienti-
cia de aplicação e “feedback” dos fessores e das entidades envolvidas, zar quem projeta, constrói e utiliza as
participantes. conta nesta primeira fase com o edificações sobre procedimentos que
No desenvolvimento do conteú- apoio financeiro e técnico da ABESC contribuem para a redução de riscos
do do curso, houve a preocupação – Associação Brasileira das Empre- e aumento da vida útil das estruturas
de organizar conceitos que permitam sas de Serviços de Concretagem, de concreto.
um diagnóstico seguro do estado de da Anchortec Quartzolit, do IBTS – O Programa Edificação + Segura
desempenho da estrutura, bem como Instituto Brasileiro de Telas Soldadas lançou no mês de agosto seu website,
a elaboração, a várias mãos entre os e do ICZ – Instituto de Metais Não que pode ser consultado para conhe-
professores do curso, de um método Ferrosos. Sem este apoio não teria cimento da programação completa
que foi consolidado em um procedi- sido viável chegar até o ponto atual e do curso, dos alunos já capacitados
mento de inspeção de estruturas de poder assim seguir com o desenvol- (aqueles que autorizam a publicação
concreto de edificações. vimento do Programa. de seus dados) e de notícias e ações
Este método deve se tornar uma Nos próximos passos do Progra- relacionadas ao tema da conservação
referência de mercado e, futuramen- ma, além de continuar oferecendo o de estruturas – www.edificacaomais-
te, deverá se incorporar à norma de curso de capacitação em inspeção segura.org.
inspeção predial, pois é fundamental de estruturas de concreto, serão ini- Por meio do website é possível
estabelecer métodos que permitam ciadas as ações para viabilizar o sis- também fazer sugestões e contribui-
equalizar a forma de atuar dos pro- tema de certificação de profissionais ções técnicas ao Programa. Espera-
fissionais neste campo, orientando e ações para difundir, entre proprietá- mos que a comunidade técnica se en-
também os contratantes para buscar rios e administradores de edificações, volva cada vez mais com as questões
profissionais que sigam estes méto- a importância da contratação dos relacionadas à segurança e vida útil
dos, sem, no entanto, inibir o acrés- serviços de inspeção de estruturas e das estruturas.

CONCRETO & Construções | 73


u entendendo o concreto

Estudo comparativo entre


concretos de alto desempenho
e compósitos cimentícios
avançados
ROBERTO CHRIST – Professor Ms, Gerente técnico
BERNARDO TUTIKIAN – Professor Doutor, Coordenador geral
Unisinos / itt Performance

FERNANDA PACHECO – Pesquisadora e Analista de Projetos


itt Performance

1. INTRODUÇÃO trabalhabilidade, e fibras, que am- sagem, mistura e cura) (TUTIKIAN;

O
desenvolvimento de con- pliam a propriedade dúctil das matri- ISAIA; HELENE, 2011).
cretos avançados à base zes. Assim, verifica-se no mercado Os concretos avançados apre-
de cimento Portland fez da construção civil que os concretos sentam maior consumo de cimento,
surgir a “ciência do concreto”, que convencionais estão sendo substitu- comparado com os concretos con-
utiliza equipamentos cada vez mais ídos pelos concretos de alto desem- vencionais, porém elevado desem-
sofisticados para estudar a micro e penho em várias situações, nas quais penho mecânico, proporcionando à
nanoestrutura das misturas. O sur- se almeja propriedades específicas estrutura maior durabilidade e me-
gimento do concreto de alto desem- não alcançadas com as corriqueiras nor consumo dos materiais para seu
penho ocorreu por volta do ano de composições e processos de produ- uso, dada sua elevada capacidade
1990, tendo sido desenvolvido por ção. portante e a consequente diminuição
Mehta e Aïtcin. Este material pos- O avanço decorrente do surgi- das seções transversais.
sui um comportamento superior em mento e do desenvolvimento da ci- Segundo Tutikian, Isaia e Hele-
relação ao concreto convencional, ência do concreto proporcionou a ne (2011), a utilização deste material
com propriedades específicas que evolução do concreto convencional em edifícios no Brasil ocorreu de ma-
atendem a grande maioria dos parâ- (CC) para o concreto de alta resis- neira pioneira no município de São
metros de exigência dos projetistas, tência (CAR), com a utilização de Paulo no edifício e-Tower, na região
frente à durabilidade das estruturas aditivos redutores de água e com sudeste do país, em 2001, com um
de concreto armado. a ampliação de suas propriedades concreto de 125 MPa de resistência à
O progresso desses novos pro- mecânicas; com o aprimoramento compressão. Todavia, o material não
dutos fomenta o desenvolvimento deste obtém-se o concreto de alto se restringe apenas ao melhor de-
de misturas com maior resistência desempenho (CAD). Os materiais sempenho mecânico, apresentando
mecânica e durabilidade. Os con- utilizados na produção de CAD são ainda boa trabalhabilidade, bom aca-
cretos modernos são compostos praticamente os mesmos do CC, po- bamento final nas peças, integridade
por minerais selecionados, como rém com algumas adições e procedi- e, principalmente, durabilidade frente
aditivos químicos, que melhoram a mentos especiais de execução (do- aos agentes agressivos do meio.

74 | CONCRETO & Construções


Na sequência de evolução dos
concretos, os concretos de alto
desempenho são superados pelos
compósitos cimentícios avançados.
Estes compósitos são materiais à
base de cimento Portland, compos-
tos por agregados com diâmetro não
maior do que 0,6mm, um elevado
teor de adições pozolânicas e aditi-
vos, podendo ser citado como exem-
plo o concreto de pós-reativos (CPR),
também conhecido como Ultra High u Figura 1
Representação esquemática de duas pastas de cimento frescos, com uma
Performance Concrete (UHPC).
relação água/aglomerante de 0,65 e 0,25, respectivamente (Aïtcin 2004)

2. CONCRETOS DE ALTO
DESEMPENHO lidade; cimento Portland, cujo tipo jetado e características geométricas.
Mehta e Monteiro (2014) definem depende da utilização da estrutura,
os concretos de alto desempenho com consumo em torno de 450/550 3. COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS
como concretos que possuem ca- kg/m ; sílica ativa entre 5 a 15% em
3
AVANÇADOS
racterísticas específicas vitais para relação à massa total de cimento; Sendo o passo seguinte aos con-
alguns tipos de aplicação, além da aditivos químicos, para contribuir na cretos de alto desempenho, este ma-
elevada resistência mecânica, sendo plasticidade do material; e uma baixa terial apresenta em sua composição
essas: relação água/aglomerante, que se si- agregados similares aos utilizados nos
u Facilidade de aplicação; tua entre 0,20 a 0,25. CAD, porém limitando-se ao diâmetro
u Adensamento sem segregação; A quantidade de água presente máximo de 0,6 mm e contando com
u Resistência mecânica nas primei- na mistura dos concretos de alto a incorporação de microfibras. Devi-
ras idades; desempenho é uma característica do a isso, este material se assemelha
u Resistência de longo prazo e pro- fundamental para que o material
priedades mecânicas; alcance o desempenho desejado.
u Reduzida permeabilidade; Aïtcin (2004) ilustra que, quando a
u Elevada densidade; relação de água/cimento é reduzida,
u Reduzido calor de hidratação; as partículas de cimento acabam
u Tenacidade; se aproximando mais dos demais
u Estabilidade de volume; agregados. A consequência dessa
u Longa vida útil em ambientes aproximação é uma menor existên-
agressivos. cia de poros capilares e vazios, miti-
O concreto de alto desempenho gando a possibilidade de ataque por
pode ser definido como material que agentes deletérios, que migram do
atende uma combinação especial exterior para o interior do concreto
entre o desempenho e os requisitos (Figura 1).
de uniformidade, que não é alcança- A utilização deste tipo de concreto
u Figura 2
da com os concretos usuais. Para visa, conforme citado, um desempe- Visualização em 3D do
tal, estes materiais são constituídos nho satisfatório e durável, que é vin- empacotamento das partículas
por: agregados comuns graúdos e culado a uma série de requisitos que de uma mistura
(Fidjestol; Thorsteinsen;
miúdos, porém com processos rigo- variam em função do ambiente de in-
Svenneving, 2012)
rosos de seleção e controle de qua- serção da estrutura, de seu uso pro-

CONCRETO & Construções | 75


a uma argamassa, por não possuir
agregados graúdos em sua composi-
ção, mas com propriedades mecâni-
cas e de durabilidade mais próximas
a de um concreto com elevada ca-
u Figura 3
pacidade portante. As propriedades
Comparação entre os constituintes do concreto de alto desempenho e do
compósito cimentício (Resplendino, 2006) mecânicas deste tipo de material são
elevadas, considerando-se que são
alcançados valores de 200 MPa de
resistência à compressão, 45 MPa de
resistência à tração e elevados índi-
ces de tenacidade.
A composição supracitada dos
concretos visa à máxima compaci-
dade possível e a inexistência de va-
zios, quando elaborado um empaco-
tamento perfeito. A etapa prévia para
alcançar este empacotamento é o
conhecimento das diferentes dimen-
sões granulométricas que o compõe.
Utilizando-se métodos de empa-
cotamento são quantificados os te-
ores de uso de cada dimensão de
partícula, visando o mínimo teor de
u Figura 4 vazios possível na matriz. A Figura 2
Comparação entre as proporções de misturas de compósito cimentício mostra uma ilustração referente a um
e concreto convencional (Naaman, Wille; 2012) estudo de empacotamento de dife-
rentes partículas dentro de um vo-
lume. Visualiza-se que a disposição
é de grãos maiores circundados por
grãos menores, ocorrendo o fecha-
mento dos poros existentes.
Resplendino (2006) elucida, atra-
vés da Figura 3, a comparação entre
o concreto de alto desempenho e o
compósito cimentício.
Percebe-se que os concretos de
alto desempenho são materiais hete-
rogêneos. Já,o composto cimentício
pode ser considerado um material
mais homogêneo, por não conter zo-
nas de interface, sendo, por conse-
quência, menos frágil.
u Figura 5 Naaman e Wille (2012) apre-
Porosimetria por intrusão de mercúrio em diferentes concretos
sentam uma comparação entre as
e compósitos cimentícios (Schmidt, 2003)
composições dos concretos comuns

76 | CONCRETO & Construções


e dos compósitos cimentícios. Nota-
-se que a maior parte da composição
do concreto de alto desempenho é
constituída pelos agregados, já nos
compósitos cimentícios a maior par-
te do material é constituída pelos
aglomerantes, que não se restringem
ao cimento, mas incluem também os
materiais pozolânicos (Figura 4).
Devido à elevada compacidade
e reduzida existência de vazios, os
compósitos cimentícios apresentam
excelentes propriedades mecânicas
u Figura 6
e de durabilidade. Tais característi-
Resultados do ensaio de ataque de cloretos em diferentes concretos
cas relacionam-se diretamente com e compósito cimentício (Schmidt, 2003)
os parâmetros de dosagem e sua
otimização granular. A Figura 5 apre- pósitos cimentícios apresentam uma Denota-se que o compósito ci-
senta uma comparação da porosi- menor probabilidade de penetração mentício apresentou melhor com-
dade entre o CAD com resistência à de íons cloretos comparados com portamento durável em relação aos
compressão de 105 MPa, o concreto concretos convencionais e concre- concretos de alto desempenho, sen-
convencional com resistência à com- tos que tenham em sua composição do a frente de carbonatação menor
pressão de 50 MPa e dois compó- alguma espécie de repelente que naqueles materiais, dada sua reduzi-
sitos cimentícios, um com resistên- não diminuem a quantidade de po- da porosidade, já citada.
cia à compressão de 180 Mpa, com ros, mas sim a quantidade de água Tal superioridade do compósi-
agregados graúdos de dimensões de no composto. De maneira análoga, a to cimentício avançado atesta sua
até 8 mm, e outro com resistência de Figura 7 apresenta um comparativo evolução, fazendo com que seu uso
240 MPa e agregados miúdos de di- do ensaio de carbonatação acelerada transpasse as barreiras acadêmicas e
mensões menores do que 0,5 mm. entre compósito cimentício avançado laboratoriais, sendo almejada a viabili-
Observa-se que a porosidade dos e concreto de alto desempenho. dade de sua produção e comércio em
compósitos cimentícios é muito inferior
à do CAD e do concreto convencional.
A porosidade dos materiais inter-
fere diretamente na durabilidade do
concreto armado, já que as ações
deletérias são mais acentuadas em
concretos mais porosos. Os com-
pósitos cimentícios são materiais de
baixíssima porosidade, favorecendo
seu comportamento e sua expectati-
va durável. A Figura 6 mostra um es-
tudo comparativo entre um concreto
convencional, concretos com hidro-
fugantes (repelentes de água) e com-
pósito cimentício diante do ensaio de u Figura 7
Resultados de ensaio de carbonatação em concreto de alto desempenho
penetração de íons cloreto.
e em dois compósitos cimentícios (Schmidt, 2003)
Pode-se perceber que os com-

CONCRETO & Construções | 77


larga escala. Pesquisadores de dife- de manutenção. Países como Alema- çado passa a ser uma excelente
rentes países desenvolveram compó- nha, Canadá, Coréia do Sul, Estados opção para estruturas de concreto
sitos com baixo consumo de cimento Unidos, entre outros, possuem estru- em obras especiais, por apresentar
e com elevada resistência mecânica turas viárias e de fluxo de pedestres elevada durabilidade, mesmo em
e de elevada durabilidade. Este fato com a utilização deste tipo de mate- ambientes altamente agressivos.
torna o material competitivo, sendo rial estrutural. Cada vez mais pesquisadores e pro-
uma opção viável e vantajosa para fissionais vêm utilizando este mate-
utilização em obras públicas e priva- 4. CONCLUSÃO rial e, em futuro breve, terá um uso
das, dada sua reduzida necessidade O compósito cimentício avan- mais difundido.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] AÏTCIN, P. C. High Performance Concrete. 2004. Canadá. ISBN 0419192700.


[02] FIDJESTOL, P.; THORSTEINSEN, R. T.; SVENNEVIG, P. Making UHPC with local materials – The way forward. 3rd International Symposium on UHPC and
nanotechnology for High Performance Construction Materials, Kassel, 2012.
[03] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. . Concreto microestrutura, propriedades e materiais. 2°ed. São Paulo: Ibracon, 2014.
[04] NAAMAN, A. E.; WILLE, K. The Path to Ultra-High Performance Fiber Reinforced Concrete (UHP-FRC): Five Decades of Progress. 3rd International
Symposium on UHPC and nanotechnology for High Performance Construction Materials, Kassel, 2012.
[05] RESPLENDINO, J. Les bétons fibrés ultra performance (BFUP). Perspectives offertes vis-à-vis de lá pérennité et la maintenace des ouvrages. In Colloques
sur lês Ouvrages d1Art, Toulouse, 2006.
[06] SCHMIDT, M. Ultra-Hochleistungsbeton – Ausgangsstoffe, Eigenschaften und Leistungsfähigkeit. Planung und Bau der ersten Brücke mit UHPC in Europa.
Kassel. 2003.
[07] TUTIKIAN, B. F.; ISAIA, G. C.; HELENE, P. Concreto de Auto e Ultra-Alto Desempenho. Concreto: Ciência e Tecnologia. G.C. Isaia. 1. ed. São Paulo,
IBRACON, 2011. 2v.

Simpósio em Modelagem
Computacional de Estruturas
de Concreto
30 de outubro | Centro de Convenções de Bonito
Divulgar novas técnicas numéricas para análise e projeto de estruturas, que sejam capazes
de assegurar uma melhor compreensão do comportamento das estruturas de concreto
PALESTRAS DE DESTAQUE
AS FERRAMENTAS DE ANÁLISE ESTRUTURAL NÃO LINEAR TENDÊNCIAS PASSADAS, PRESENTES E FUTURAS SOBRE A MODELAGEM
E OS PADRÕES DE SEGURANÇA COMPUTACIONAL DA FISSURAÇÃO NO CONCRETO
Alfred Strauss (Universidade de Recursos Naturais e das Ciências da Vida, Viena, Áustria) Javier Oliver (Universidade Técnica da Catalunha, em Barcelona, Espanha)

NOVO MODELO COMPUTACIONAL PARA SIMULAÇÃO DO RECENTES AVANÇOS NA MODELAGEM DISCRETA DO CONCRETO
ENVELHECIMENTO E DA DETERIORAÇÃO DAS ESTRUTURAS REFORÇADO COM FIBRAS
DE CONCRETO John Bolander (Universidade da Califórnia, em Davis, Estados Unidos)
Gianluca Cusatis (Universidade Northwestern, Estados Unidos)

ORGANIZAÇÃO APOIO

INFORMAÇÕES
www.ibracon.org.br
78 | CONCRETO & Construções
u estruturas em detalhes

Agressividade de solos e água


em contato com estruturas
enterradas de concreto
ARNALDO FORTI BATTAGIN – Geólogo e Gerente do Laboratório de Tecnologia
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)

1. INTRODUÇÃO

D
e uma maneira geral, as
estruturas de concreto
apresentam desempenho
satisfatório quando expostas a varia-
das condições ambientais, incluindo
o contato com água e solos conten-
do agentes agressivos. Entretanto,
determinadas condições de exposi-
ção podem comprometer a vida útil
de uma estrutura, caso não sejam
tomadas medidas adequadas para
prevenir ou reduzir o risco potencial
de deterioração. A frequência cada
vez maior de solos contaminados re-
u Figura 1
sultantes de atividades industriais no Condições para a ocorrência de ataque do concreto por íons agressivos
passado, quando as preocupações contidos nos solos e águas subterrâneas
com o meio ambiente e a legislação
eram brandas ou inexistentes, leva importância a análise da água e da par- tes componentes para definir o grau

à necessidade nos dias atuais de te solúvel dos solos em contato com a de agressividade:

estudos mais abrangentes desses estrutura. Diversas normas internacio- u Água: determinação do pH, CO2

terrenos. A Figura 1 esquematiza o nais e também nacional (ABNT NBR agressivo, magnésio, amônia, teor

ataque de íons agressivos, mostran- 12655:2015) estabelecem critérios de sólidos e íons sulfatos; é neces-

do as condições para ocorrência de para classificar o grau de agressivida- sário tambem conhecer o teor de

100danos ao concreto de da água e do solo ao concreto e a álcalis por conta da reação álcali-

Para serem nocivos ao concreto, partir dessa classificação projetar para -agregado, caso o agregado cons-
95
os agentes químicos agressivos de- o concreto determinadas propriedades, tituinte do concreto a ser aplicado
75
vem estar numa determinada propor- entre elas as decorrentes da relação seja comprovadamente reativo e,

ção, diluídos nas soluções aquosas, água/cimento e da resistência caracte- para, então, tomar as medidas ca-

uma vez que normalmente o concreto rística à compressão (fck), com vistas a bíveis de prevenção;
25
não é atacado por substâncias sólidas aumentar a sua durabilidade e vida útil. u Solos: determinação do grau de

(ACI, 2008). Por esse motivo, para es- Assim, segundo essas normas, acidez e teor de sulfatos.
5

truturas enterradas de concreto tem devem ser considerados os seguin- As normas europeias EN-206-1 e
0

CONCRETO & Construções | 79


u Tabela 1 – Grau de agressividade em função dos compostos dissolvidos na água

Condições
Sulfato solúvel
de exposição CO2 agressivo Íon magnésio Íon amônia Resíduo sólido
pH (SO4)
em função da mg/L mg/L mg/L mg/L
mg/L
agressividade
Fraca 7a6 < 30 < 100 < 100 > 150 0 a 150
Moderada 6 a 5,5 30 - 45 100 - 200 100 - 150 150 a 50 150 a 1.500
Severa < 5,5 > 45 > 200 > 150 < 50 Acima de 1.500
Fonte: Adaptação da ABNT NBR 12655:2015

suas versões nacionais estabelecem reza da água. Considera-se bastante deletéria de despassivação das arma-
critérios para definir o grau de agres- oportuno a norma brasileira ter incluído duras, os cloretos até seriam desejá-
sividade, com pequenas variações ou esse parâmetro, pois as águas puras veis quando da presença de sulfatos,
com adoção de normas específicas correntes têm forte efeito na lixiviação pois poderiam impedir o ataque destes
complementares, como, por exemplo, dos compostos hidratados da pasta ao concreto.
a BS 8500 (inglesa), a Instrucción de de cimento. Por outro lado, apesar de A Tabela 3 mostra os critérios es-
Hormigón Estrutural EHE (espanhola) parâmetros idênticos, os valores são tabelecidos pela norma europeia EN
e a ACI 318 (norte-americana). A ver- divergentes, sendo a norma brasileira 206-1 para classificação dos graus de
são de 2015 da ABNT NBR12655 está de maneira geral mais rigorosa; a ex- agressividade.
bem completa, com inclusão de todos ceção são os íons NH4 . Isso se deve
+

os agentes agressivos citados em ane- ao fato de que ambas as normas não 2. AS RAZÕES DA LIMITAÇÃO
xo próprio e considerando os mesmos estabelecem a limitação em função da DOS COMPOSTOS
compostos tratados na EN 206-1. combinação dos cátions (Mg e NH4) CONSIDERADOS AGRESSIVOS
A Tabela 1, adaptada da ABNT com ânions ( cloretos, sulfatos e nitra- AO CONCRETO
NBR 12655:2015, mostra os critérios tos), mas sim da limitação isolada de
para classificação do ambiente, em íons e cátions. Algumas combinações 2.1 Por que limitar os Sulfatos?
função dos componentes dissolvidos são mais danosas ao concreto do que
na água. outras. Por exemplo, é conhecido o O ataque da pasta de cimento por
A água do mar é considerada para fato do sulfato de magnésio ser muito águas sulfatadas é bastante conhe-
efeito do ataque de sulfatos como con- mais agressivo que o sulfato de só- cido e, se medidas preventivas não
dição de agressividade moderada, em- dio ou potássio e o sulfato de amônio forem tomadas, pode ocorrer o com-
bora o seu conteúdo de SO4 seja acima ser o mais agressivo de todos. Outro prometimento da obra decorrente da
de 1500 ppm, devido ao fato de que a exemplo são os cloretos, sendo o clo- expansão causada pela formação de
etringita é solubilizada na presença de reto de magnésio mais agressivo que componentes deletérios.
cloretos. o cloreto de sódio. Não fosse sua ação Embora o mecanismo efetivo do
Para solos, as exigências da Tabela
2 são as mais comumente estabeleci- u Tabela 2 – Grau de agressividade em função das características do solo
das, sendo que, no Brasil, a ABNT NBR
12655: 2015 não estabelece exigência Condições Norma Europeia EN 206-1 ABNT NBR12655
quanto ao grau de acidez do solo, fo- de exposição Grau de acidez Sulfato solúvel em Sulfato solúvel em
em função da BAUMANN-GULLY ácido (SO4) no solo água (SO4) no solo
cando apenas no seu teor de sulfatos. agressividade (ml/kg) % em massa % em massa
Para água, a norma Europeia EN-
Fraca > 200 0,2-0,3 0,00 a 0,10
206 considera os mesmo parâmetros,
Moderada – 0,3-1,2 0,10 a 0,20
com exceção da limitação de resíduos
Severa – 1,2-2,4 Acima de 0,20
sólidos para estabelecer o grau de pu-

80 | CONCRETO & Construções


u Tabela 3 – Classificação dos graus de agressividade da água segundo EN 206-1

Condições
Sulfato solúvel
de exposição CO2 agressivo Íon magnésio Íon amônia Resíduo sólido
pH (SO4)
em função da mg/L mg/L mg/L mg/L
mg/L
agressividade
Fraca 6,5 - 5,5 15 - 40 300 - 1.000 15 - 30 – 200 - 600
Moderada 5,5 - 4,5 40 - 100 1.000 - 3.000 30 - 60 – 600 - 3000
> 100 até > 3000 até
Severa 4,5 - 4,0 60 - 100 – 3.000 - 6.000
saturação saturação
Fonte: Adaptação da EN 206-1

ataque do concreto por sulfatos não


esteja totalmente esclarecido até hoje,
os pesquisadores são unânimes em
considerar que as fases de aluminato
de cálcio do clínquer são as principais
responsáveis pelo fenômeno.
De fato, o ataque por sulfatos se
dá em duas fases sequenciais. Primei-
ramente ocorre a lixiviação dos com-
ponentes cálcicos: Ca(OH)2 e C-S-H
da pasta hidratada do cimento, que
concorre para deixar o concreto mais
poroso e que, reagindo com os sul-
fatos disponíveis, leva à formação de
gipsita secundária. O aumento da po-
rosidade repercute no aumento da per-
meabilidade e difusividade do concreto,
tornando-o mais vulnerável aos agen-
tes agressivos. Na sequência tem início u Figura 2
Formação de cristais aciculares de etringita ( parte clara central),
a segunda fase, quando há formação
denotando ataque de sulfatos no concreto. Observação sob microscópio
da etringita (trissulfoaluminato cálcico estereoscópico, ampliação 25 x (crédito: Ana Lívia Silveira, ABCP)
hidratado), à custa da reação dos alu-
minatos hidratados com a gipsita. (ver A precipitação da etringita secun- o cimento seja fonte expressiva de alu-
Figura 2). BAKKER (1981) resume as dária pode conduzir a expansões e fis- minatos cálcicos, razão pela qual o uso
seguintes reações genéricas do ataque surações consideráveis no concreto. de cimentos resistentes a sulfatos tem
dos sulfatos: Para sua formação é imprescindível que sido uma das medidas necessárias para
garantir a durabilidade do concreto em
ambientes sulfatados. Muitas teorias
[1] têm surgido para explicar o mecanismo
de expansão da etringita, dentre elas a
pressão de cristalização, absorção de
água da etringita coloidal, aumento de
[2]
volume, etc. A etringita que precipita nos
poros não é expansiva, pois estes cons-

CONCRETO & Construções | 81


tituem espaços livres para seu cresci- como ácida quando apresentar pH < como de agressividade severa quando
mento, sendo expansiva apenas aquela 7, ou seja, se contiver dióxido de car- apresentar pH já abaixo de 5,5.Isso
mal cristalizada, que, quando exerce bono livre, ácidos minerais ou orgâni- se deve ao fato do grau de ataque de-
pressões superiores à resistência à tra- cos (ácidos húmicos), ou ainda sais de pender expressivamente da velocidade
ção do concreto, leva à sua fissuração. ácidos fortes e bases fracas. A água é de movimento da água, ou seja, de seu
Por fim, é necessário esclarecer que classificada como básica quando apre- poder de renovação do ataque.
o grau de agressividade dos sulfatos vai sentar pH > 7, ou seja, se contiver car- u Águas subterrâneas que não são mó-
depender fundamentalmente do cátion bonatos, bicarbonatos ou íons hidroxila veis parecem ter pouco efeito sobre a
a que esteja associado, se cálcio, só- OH . A norma de metodologia prescrita
-
estrutura enterrada de concreto;
dio, potássio, magnésio, amônio, etc. pela ABNT NBR 12655:2015 para de- u Águas com pH próximo de 5,5 ata-
(BRE, 2005). terminação do pH é a norma espanhola cam significativamente o concreto,
u Os sulfatos de cálcio, presentes UNE 83954:2008. As águas ácidas são mas a taxa de ataque é extrema-
nos solos sob a forma de gipsita e agressivas ao concreto. O efeito princi- mente lenta; isso ocorre geralmente
anidrita ou em águas subterrâneas, pal de qualquer tipo de ataque ácido quando os ácidos são de origem
são agressivos diante do concreto no concreto é a dissolução da pasta orgânica, como os húmicos, cujos
apesar de sua baixa solubilidade, de cimento, deteriorando a região afe- produtos da reação na superfície do
constituindo um processo mais len- tada, mas, ao contrário do ataque de concreto são insolúveis, formando
to que o observado com os sulfatos sulfato, essa degradação não envolve uma camada que dificulta o prosse-
de magnésio e de amônio; fenômenos de expansão. Uma explica- guimento do ataque.
u Os sulfatos de sódio ou de potás- ção para esse comportamento liga-se
sio, muito mais solúveis, conduzem ao fato de que a etringita não é está- 2.3 Por que limitar o Magnésio?
a degradação mais rápida pela for- vel em soluções ácidas, de modo que
mação de gipsita e de etringita, bem o principal produto de reação de um O magnésio é um elemento co-
como a lixiviação da cal da portlan- ataque de ácido sulfúrico será sulfato mum em solos e águas subterrâneas,
dita e do C-S-H; de cálcio (ESCADEILASS et al, 2012). sendo danoso ao concreto quando
u Os sulfatos de magnésio, muito so- Em concreto com agregados silicosos, presente em concentrações elevadas
lúveis, são extremamente agressi- granitos ou basaltos, o ataque da su- ou em combinação com determinados
vos, com mecanismo detalhado no perfície do concreto terá a aparência agentes químicos, dentre os quais se
item 2.3; de agregado exposto. No entanto, em destacam os sulfatos. É bem difundi-
u O sulfato de amônio é provavelmen- concreto contendo agregados calcá- do na literatura técnica que o sulfato
te o mais agressivo dentre todos os rios, estes podem ser atacados a uma de magnésio (MgSO4) em concentra-
sulfatos frente à pasta de cimento velocidade semelhante à da pasta de ções equivalentes de sulfato de sódio
Portland, sendo tratado no item 2.5. cimento,deixando a superfície mais lisa. (Na2SO4) é muito mais agressivo que
Cumpre esclarecer que há uma lacu- Os ácidos mais comumente encon- este último. Quando combinado com
na na ABNT NBR 12655: 2015, pois não trados em águas subterrâneas naturais cloretos também se revela bastante
estabelece a metodologia aplicada na de- são o ácido carbônico, ácido húmico prejudicial ao concreto. Assim, sua
terminação do íons sulfatos solúveis em e ácido sulfúrico. Os dois primeiros limitação no concreto como medida
água, tanto para a água quanto para so- são moderadamente agressivos e não preventiva para evitar manifestações
los. Na falta dessa indicação tem se ado- irão produzir um pH inferior a 3,5, ao patológicas não deveria levar em conta
tado a metodologia prevista pelas ABNT contrário do ácido sulfúrico que pode apenas o seu teor, mas também a forma
NBR 15900- 7: 2009 e UNE 83956:2008. resultar em um pH inferior a 2. Outros de combinação. Na prática altos teores
tipos de ácidos minerais poderão ser de magnésio são encontrados apenas
2.2 Por que limitar o pH? encontrados ocasionalmente em ter- em soluções aquosas em contato com
renos contaminados por processos solos contaminados por determina-
O pH da água indica o seu caráter industriais (BRE, 2005). Interessante dos resíduos industriais. Um dos mo-
ácido ou básico. A água é classificada notar que a Tabela 1 classifica a água delos propostos para explicar a ação

82 | CONCRETO & Construções


degenerativa do magnésio no concreto nado como carbonatos e bicarbonatos Por fim, é necessário esclarecer
é a sua substituição do cálcio no prin- mais o CO2 livre (ver Figura 3). que o dióxido de carbono agressivo
cipal produto de hidratação da pasta Existem, por sua vez, duas formas está geralmente presente apenas em
de cimento, o silicato cálcico hidra- de CO2 livre: águas naturais puras. Como as águas
tado, representado por C-S-H. A for- u CO2 livre de equilíbrio da reação geralmente contêm sais dissolvidos, a
mação de M-S-H, fase extremamente H2O + CO2 + CaCO3 ⇄ Ca (HCO3)2, presença de carbonato de cálcio é su-
porosa, causa perda das proprieda- que corresponde ao necessário ficiente para combinar com o dióxido
des ligantes (BATTAGIN,1990). Para- para manter os bicarbonatos em de carbono, formando bicarbonato de
lelamente, o magnésio substitui o cál- solução; cálcio, que, ao contrário do CO2 agres-
cio da portlandita Ca(OH)2, formando u CO2 livre agressivo. sivo, não é danoso ao concreto.
Mg (OH)2 (brucita). Por essa razão, um O dióxido de carbono agressivo re-
dos elementos de diagnose de ataque presenta o dióxido de carbono livre em 2.5 Por que limitar o Amônio?
do magnésio na pasta de cimento é excesso em relação ao dióxido de car-
a presença de silicatos hidratados de bono em equilíbrio, disponível para for- Os íons NH4+ são considerados ra-
magnésio e brucita. A norma de me- mar ácido carbônico, sendo responsá- ros em águas subterrâneas, a menos
todologia prescrita pela ABNT NBR vel pela dissolução do carbonato, daí o que se tratem de interação destas com
12655: 2015 para determinação de nome de dióxido de carbono agressivo. solos contaminados por resíduos in-
íons magnésio é a UNE 83955:2008. Ao contrário, se o teor de dióxido dustriais ou em caso mais específico
de carbono livre for inferior ao teor de de atividades ligadas ao uso de fertili-
2.4 Por que limitar o dióxido de carbono de equilíbrio, há zantes em agricultura (BRE, 2015).Por
CO2 agressivo? precipitação de carbonato. Neste caso, esse motivo análises rotineiras para de-
a água é incrustante, ao contrário do finir o grau de agressividade de águas e
O dióxido de carbono (CO2) agressi- caso anterior, em que é dissolvente solos são raramente realizadas quanto
vo corresponde ao dióxido de carbono (CINCOTTO, 1995). Daí a importância aos íons NH4+, embora a normalização
dissolvido na água que, sob a forma de de adotar uma metodologia adequa- nacional e internacional preveja essa
ácido carbônico (H2CO3), apresenta po- da para a determinação do dióxido de possibilidade.Os sais de amônio atuam
tencial para atacar o concreto. O ácido carbono agressivo. Não existe norma como agentes de troca catiônica com o
carbônico reage com a pasta de cimen- brasileira de determinação do dióxido cálcio, transformando os produtos cál-
to ou até com os agregados,quando de carbono agressivo, sendo que o cicos insolúveis da hidratação da pas-
estes forem de origem calcária. É ne- meio técnico recorre à norma espanho- ta endurecida de cimento em sais de
cessário enfatizar que o CO2 total cor- la UNE 13577:2007, que é a prescrita cálcio solúveis que são lixiviados pela
responde a somatória do CO2 combi- pela ABNT NBR 12655: 2015. água (CETESB,1988). Simultaneamen-
te há desprendimento de gás amônia
que resulta num aumento da porosida-
de do concreto, deixando-o vulnerável
a outros ataques. Os sais de amônio
comportam-se como ácidos fracos e
colaboram para atacar a pasta endure-
cida, removendo o hidróxido de cálcio,
embora numa taxa lenta. Não se deve
negligenciar a presença de sulfato de
amônio ((NH4)2SO4) em ambientes su-
jeitos a derramamento de fertilizantes,
pois é considerado um dos agentes
u Figura 3
mais agressivos ao concreto, sendo
Esquema dos tipos de CO 2 em água em contato com estruturas de concreto
que esse ataque pode ser duplo pelos

CONCRETO & Construções | 83


íons NH4+ e pelos íons SO42-. Outros
sais de amônio como os nitratos, clo-
retos, acetatos e fosfatos são também
agressivos. Por exemplo, o nitrato de
amônio, também presente nos fertili-
zantes, apresenta a seguinte reação:

Ca(OH)2 + 2 NH4NO3 → Ca(NO3)2 + 2H2O + NH3gas [3]

Forma-se nitrato de cálcio mui-


to solúvel e simultaneamente com
desprendimento gasoso de amônia.
A redução da basicidade devida ao
desprendimento de amônia impe-
de a reação de atingir seu equilíbrio.
Como consequência ocorre lixiviação
progressiva da cal da portlandita e do
C-S-H, comprometendo as proprieda-
des mecânicas do concreto. O mes- u Figura 4
Formação de gel esbranquiçado compacto como produto da reação
mo ocorre com cloreto de amônio,
álcali –agregado. Observação sob microscópio estereoscópico, ampliação
formando cloreto de cálcio muito so- 25 x (crédito: Ana Lívia Silveira, ABCP)
lúvel e com mecanismo de degrada-
ção similar. A norma de metodologia água para que possa produzir o gel de dem ser provenientes das adições, dos
prescrita pela ABNT NBR 12655:2015 silicato alcalino que aumenta de volu- agregados, da água de amassamen-
para determinação de amônio é a nor- me com a absorção de umidade (ver to e, para o que mais interessa neste
ma espanhola UNE 83954:2008. Figura 4). A quantidade de gel formada caso, do meio aquoso em contato com
e as pressões exercidas são muito vari- o concreto (BATTAGIN et al.,2009).
2.6 Por que limitar os Álcalis? áveis, dependendo da temperatura am- A norma ABNT NBR 12655:2015,
biente, tipo e proporções dos materiais, quando faz referência aos álcalis, es-
A reação álcali-agregado é uma composição do gel e de outros fatores. tabelece que devem ser obedecidos
das reações químicas indesejáveis que As pressões são suficientemente eleva- os requisitos da ABNT NBR 15577-
podem ocorrer no concreto, ao con- das para induzir o desenvolvimento e 1:2008. Esta norma, por sua vez, esta-
trário das reações de hidratação do propagação de microfissuras no con- belece a realização de análise de risco
cimento, que sempre ocorrem e que creto que, por sua vez, podem conduzir da ocorrência da reação álcali- agre-
levam a formação dos silicatos cálcicos a sua expansão e mesmo rompimento gado e, para o caso de fundações de
hidratados, responsáveis pelas suas do concreto nas regiões afetadas. concreto em contato com água, a ação
características ligantes de desenvolver Os principais efeitos deletérios da preventiva a ser aplicada deve ser sem-
resistência, mesmo embaixo d’água. reação álcali-agregado são a expansão pre a forte. Esse fato implica que se o
A reação álcali-agregado envolve os e fissuração, com consequente desa- agregado for potencialmente reativo há
hidróxidos alcalinos, normalmente deri- linhamento de elementos estruturais, necessidade de tomada de medidas de
vados dos álcalis presentes no cimento fragmentação da superfície com forma- mitigação de possível expansão.
anidro usado no concreto, e fases rea- ção de “pop-outs” e a presença do gel As medidas de mitigação para ação
tivas de sílica presentes no agregado. nas fraturas, que garante a continuida- preventiva forte estão bem estabeleci-
Essa reação química, de natureza muito de da patologia (ver Figura 5) das e incluem a necessidade de utiliza-
lenta (chega a demorar até 10-15 anos A fonte principal de álcalis está no ção de materiais inibidores da reação
para se manifestar) também requer cimento, mas compostos alcalinos po- álcali-agregado, dentre os quais se

84 | CONCRETO & Construções


contrados nas águas e solos, princi- 2015 preconiza consumos mínimos
palmente sob a forma de sulfatos e, de cimento, também em função do
por serem muito solúveis, podem es- grau de agressividade do ambiente.
tar disponíveis para o ataque por sul- Especificamente para estruturas en-
fatos e também para a reação com os terradas de concreto, somente em
agregados álcali-reativos do concre- sua versão de 2015, a ABNT NBR
to, fato que exige projetar o concre- 12655 começou a abordar o tema
to com determinadas propriedades, de maneira mais ampla, antes restri-
para aumentar a sua durabilidade, to à influência dos sulfatos apenas.
assunto a seguir tratado no item 3. De fato, o concreto, quando em con-
tato com águas e solos com certas
3. CARACTERÍSTICAS características, também deve apre-
RECOMENDADAS PARA O sentar determinadas propriedades,
CONCRETO EM FUNÇÃO DA entre elas as decorrentes da relação
u Figura 5 CLASSE DE AGRESSIVIDADE água/cimento e da resistência carac-
Bloco de fundação com fissuras A ABNT NBR6118: 2014 – Pro- terística à compressão (fck). Essas
(salientadas por giz) de edifício jeto de estruturas de Concreto pre- características impostas ao concreto
no Recife, PE decorrentes da
vê critérios para o estabelecimento são função da condição de agressivi-
reação álcali-agregado. Uma das
fontes de álcalis é a água salobra da classificação da agressividade dade do meio com vistas a aumentar
do lençol freático do meio, em função do tipo de am- a sua durabilidade e vida útil.
(Crédito: autor) biente, por exemplo, rural, atmosfera A Tabela 4, compilação de pro-
urbana, ambiente industrial, zona de cedimentos e normas internacionais
destacam os cimentos CPIII e CPIV, influência de marés, etc. Em função e adaptação da norma ABNT NBR
ou a substituição parcial do cimen- da classe de agressividade do am- 12655:2015, mostra algumas pro-
to por materiais pozolânicos, como biente são estabelecidos requisitos priedades recomendadas para es-
sílica ativa e metacaulim. Pode se mínimos para cobrimentos das ar- truturas enterradas de concretos em
defrontar com situações em que maduras, bem como classes míni- função dos níveis de agressividade
esses materiais não estejam dispo- mas de resistência estrutural. Isso ambiental, como medidas preventi-
níveis, então uma apreciação do teor se deve ao fato de que ABNT NBR vas para evitar a deterioração preco-
de álcalis no concreto, com aporte de 6118: 2014 preconiza que, quando ce das estruturas.
todos seus componentes, deve ser atendidos os critérios estabelecidos
apreciado. Nesse caso não deve ser pelo projeto, a durabilidade das es- 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
negligenciada a análise da água sub- truturas é diretamente dependente Determinados compostos quími-
terrânea em contato com o elemento das características do concreto. Adi- cos presentes em solos e águas sub-
de concreto. Sódio e potássio são en- cionalmente, a ABNT NBR 12655: terrâneas quando em contato com

u Tabela 4 – Características recomendadas para concreto armado exposto a soluções aquosas agressivas

ABNT NBR 12655 Norma Europeia EN-206


Grau de Penetração
agressividade Máxima relação Mínimo fck Máxima relação Mínimo fck Consumo mínimo
máxima de água
água/cimento MPa água/cimento MPa de cimento
(mm) (*)
Fraca 0,65 20 0,50 30 325 50
Moderada 0,50 35 0,50 35 350 50
Severa 0,45 40 0,45 35 350 30
(*) Requisito da versão espanhola da EN 206-1 (MUNÕZ SALINAS et al, 2012)

CONCRETO & Construções | 85


estruturas de concreto podem ser nais e, particularmente a ABNT NBR O tema assume importância
agressivos e resultar em deterioração 12655: 2015, estabelecem critérios crescente, tendo em vista a ocor-
precoce dessas estruturas, com perda para classificar o grau de agressivi- rência cada vez maior de águas sub-
de sua vida útil. dade a que as estruturas enterradas terrâneas e solos contaminados,
A prevenção dessas manifestações estão sujeitas, bem como impõem re- principalmente em ambientes urba-
patológicas deve proceder por ações quisitos mínimos para o concreto para nos que experimentaram mudanças
já na fase projeto. Normas internacio- a garantia da durabilidade. de ocupação.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 201.2R Guide to Durable Concrete, reported by ACI Committee 201. 2008. p. 1-53.
[02] BATTAGIN, I.L.S. et al ii. A norma técnica brasileira de reação álcali-agregado faz seu primeiro aniversário. Concreto & Construções, v 54, abril- junho 2009,
IBRACON. São Paulo.
[03] BAKKER, R.F.M. About the case of resistance of blastfurnace cement concrete to the alkali silica reaction-In: International conference on alkali aggregate reaction
in concrete, 5th cape town, south africa,1981
[04] BUILDING RESEARCH ESTABLISHMENT. BRE Special Digest 1 – Concrete in Agressive Ground. Third edition, London. 2005.
[05] SCADEILLAS, G. et HORNAIN,H. La durabilité des betons vis-a-vis des environnements chimiquement agressifs. In Olivier, J.P. et Vichot, A. La Durabilité dês
Bétons, Presses Pont et Chaussés, cap.11 2a Ed., 2008
[06] COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. CETESB L1.007 – Determinação do grau de agressividade do meio
aquoso ao concreto – Procedimento. São Paulo. 1988
[07] CINCOTTO, M. A. - Avaliação do grau de agressividade do meio aquoso em contato com o concreto. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE
SÃO PAULO. IPT: 2332. São Paulo. 1995.
[08] BATTAGIN, A.F. Contribuição ao conhecimento das propriedades do Cimento Portland de Alto Forno. ESTUDO TECNICO 90, ABCP, SÃO PAULO, 1990.
[09] SALINAS, F. M.; ESCOBEDO, C. J. M. La durabilidad en las estructuras de concreto reforzado desde la perspectiva de la norma española para estructuras de
concreto. IMCYC: Concreto y Cemento, v. 4, nº 1, p. 63-86. México. 2012.

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86 | CONCRETO & Construções
u inspeção e manutenção

Durabilidade de armaduras
enterradas sob processo de
corrosão natural
CARLOS EDUARDO TINO BALESTRA – Engenheiro MSc
MARYANGELA GEIMBA DE LIMA – Professora Doutora
Programa de Pós Graduação em Infraestrutura Aeronáutica,
Instituto Tecnológico de Aeronáutica

RONALDO ALVES DE MEDEIROS-JUNIOR – Professor Doutor


Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná

1. INTRODUÇÃO

O
emprego de armaduras no
concreto, dando origem
ao compósito denominado
concreto armado, possibilitou superar
a limitação daquele como material prio-
ritariamente resistente à compressão,
permitindo a construção de estruturas
mais esbeltas e capazes de vencer vãos
maiores graças ao melhoramento das
propriedades mecânicas, garantindo,
assim, a difusão de seu uso em diversos
segmentos da construção civil, abran-
gendo desde obras de uso residencial
até obras de infraestrutura. Todavia, pro-
blemas relacionados à corrosão das ar-
maduras são observados com uma alta Armaduras de espera das fundações da Ala Zero do Instituto Tecnológico de
Aeronática (ITA), em São José dos Campos
frequência, sendo uma das principais
causas de degradação em estruturas de e o dióxido de carbono presentes no armaduras exercendo tensões radiais
concreto armado, envolvendo aportes ambiente, penetram através da camada ao eixo das barras, que não são supor-
financeiros significativos para a reabilita- de cobrimento do concreto atingindo a tadas pela limitada deformação plástica
ção das mesmas. região das armaduras e destruindo este do concreto, levando, assim, à fissura-
O pH da solução presente nos poros filme, criando condições para o desen- ção e posterior destacamento da cama-
do concreto propicia condições à esta- cadeamento de um processo corrosivo da de cobrimento.
bilidade de um filme de passivação que delas, havendo, consequentemente, a A corrosão das armaduras não ape-
reveste as armaduras no interior do con- formação de produtos de corrosão de nas gera um impacto visual pela forma-
creto, protegendo-as frente à corrosão, caráter expansivo. Estes produtos de ção de fissuras, destacamento do cobri-
porém agentes externos, como cloretos corrosão depositam-se no entorno das mento e aparecimento de manchas nas

CONCRETO & Construções | 87


superfícies das estruturas, mas também
acaba levando a uma perda do mono-
litismo entre a armadura e o concreto
e a uma redução da capacidade por-
tante das estruturas, devido à redução
da seção transversal das armaduras
com a concentração de tensões nestes
pontos, que, em casos extremos e de
avançada degradação, podem levar ao
colapso repentino delas.
Detalhe da fundação
Embora haja um número expressivo
de pesquisas sobre a corrosão das ar- Os materiais utilizados nesta pes- 2. MATERIAIS E MÉTODOS
maduras, pouco enfoque é dado à cor- quisa são provenientes de um antigo
rosão de armaduras em estruturas de conjunto de fundações da denomina- 2.1 Avaliação da agressividade do
concreto que permanecem em contato da Ala Zero do Instituto Tecnológico solo por meio da resistividade
direto com o solo, como no caso das de Aeronáutica – ITA, em São José
fundações, reservatórios enterrados ou dos Campos. As fundações destas O solo é reconhecidamente um dos
semienterrados, estruturas de cascas de edificações eram compostas por esta- principais e mais complexos meios cor-
túneis e outras, fato este possivelmente cas, blocos de fundação e armaduras rosivos, tendo em vista a atuação de
relacionado às dificuldades de acesso, de espera, que foram executadas na diversos fatores, como a resistividade,
inspeção e manutenção dessas estrutu- década de 50, porém, devido à im- pH, atividade de microrganismos, umi-
ras. A falta de planos de monitoramento, possibilidade de continuar as obras na dade, aeração, entre outros. Sob esta
aliada a uma lacuna de conhecimento época, essas armaduras permanece- perspectiva, a resistividade do solo é
sobre o estado de degradação deste ram enterradas por um período de 60 apresentada na literatura como uma
tipo de estrutura, pode comprometer anos. No ano de 2008, este conjunto alternativa para avaliar a corrosão de
seu desempenho, com consequente re- de fundações foi desenterrado para metais em contato direto com o solo.
dução de vida útil. avaliar a possibilidade de seu uso na Desta forma, a Tabela 1 apresenta os
Desta forma, o presente trabalho retomada das obras, porém, devido ao valores de resistividade e sua correlação
visa contribuir no âmbito da discussão estado de degradação destes elemen- com a agressividade do solo segundo
sobre a durabilidade de armaduras ex- tos, essa possibilidade foi descartada National Association of Corrosion
traídas de um bloco de fundação, exe- e novas fundações foram executadas Engineers – NACE (2014), sendo estes
cutado em concreto armado, e de arma- para a continuidade das obras, sendo os critérios utilizados nesta pesquisa.
duras de espera que permaneceram em as armaduras de espera e as armadu- Para avaliar a resistividade do solo
contato direto com o solo por 60 anos, ras de um dos blocos de fundação co- foi utilizado um terrômetro analógico,
sendo corroídas naturalmente. Assim, letadas para pesquisas. sendo escolhidos cinco pontos na área
serão discutidos resultados referentes
à agressividade do solo como meio u Tabela 1 – Agressividade do solo segundo sua resistividade (NACE, 2014)
corrosivo, à verificação da proteção
química oferecida pela solução dos po- Resistividade do solo (Ω.cm) Índice de agressividade
ros do concreto às armaduras no bloco >20000 Essencialmente não corrosivo
de fundação, às tipologias, velocidades 10000 a 20000 Moderadamente agressivo
e grau de corrosão das armaduras de 5000 a 10000 Moderadamente corrosivo
espera, e uma análise da resistência ao 3000 a 5000 Corrosivo
escoamento das armaduras de espe- 1000 a 3000 Altamente corrosivo
ra segundo seu grau de corrosão por < 1000 Extremamente corrosivo
meio de ensaios de tração.

88 | CONCRETO & Construções


fundação mostrou-se como um meio ma de 0,01 mm/ano indica uma alta taxa
protetor às armaduras frente à corro- de corrosão.
são sob uma perspectiva da alcalini-
dade, permitindo, assim, utilizar as æ DCx ö
ç ÷ [1]
2 ø
propriedades mecânicas dos corpos Vcorr = è
n
de prova tomados a partir destas ar-
maduras como referência. O grau de corrosão dos corpos de
Das armaduras presentes no blo- prova (Gc) foi determinado através da
co de fundação foram extraídos cinco Equação 2, onde M0 corresponde a mas-
u Figura 1 corpos de prova (BL1 – BL5) com diâ- sa do corpo de prova não corroído e Mc,
Verificação da alcalinidade que
metro original de 15,88 mm, aptos ao à massa do corpo de prova corroído. A
envolve as armaduras no bloco
de fundação ensaio de tração. massa M0 foi calculada segundo o pro-
duto entre o diâmetro original das barras,
onde as fundações estavam presentes 2.3 Armaduras de espera obtido através do projeto das antigas fun-
(R1-R5) em função do tamanho da área. dações (φ = 15,88 mm), o peso específi-
Foram feitas duas medidas em cada um A tipologia, a velocidade e o grau co das barras, definido pelas normas da
dos pontos, variando a distância das es- de corrosão das armaduras de espera época como 7,850 x 10-6 kg/mm³ (NB1,
tacas do terrômetro em 5 e 10 metros. foram avaliadas a partir de corpos de 1940*), e o comprimento dos corpos de
prova extraídos delas. Neste caso, fo- prova em milímetros. A massa Mc foi obti-
2.2 Armaduras do Bloco ram analisados vinte corpos de prova da diretamente através da pesagem dos
de Fundação com diâmetro original de 15,88 mm corpos de prova em uma balança com
segundo os projetos originais de fun- precisão de 0,01 gramas.
As armaduras tomadas dos blocos dação (PB1- PB20). Estes corpos de
de fundação visaram à obtenção de cor- prova foram primeiro submetidos a um M0 - Mc
Gc (% ) = *100 [2]
Mc
pos de prova para o ensaio de tração, procedimento de decapagem química
cujas propriedades mecânicas fossem segundo a Norma ASTM G1 (2003),
utilizadas como parâmetro referencial para a remoção dos produtos de cor- 2.4 Ensaio de tração
para comparações junto às proprie- rosão aderidos à sua superfície. Após
dades mecânicas obtidas a partir das isso, micrografias com aumento de 10x Os corpos de prova foram subme-
armaduras de espera corroídas natu- foram obtidas com um microscópio tidos a um ensaio de tração em uma
ralmente pelo solo. Esta premissa sur- digital visando detectar a presença de máquina universal com capacidade de
ge tendo em vista a proteção química corrosão por pites ao longo deles. 20000 kgf. Os resultados de resistência
oferecida pela solução alcalina presente Para a determinação da velocidade ao escoamento foram analisados, sen-
nos poros do concreto, que propiciam de corrosão, a menor seção transversal do que o valor médio obtido dos corpos
a formação do filme de passivação que dos corpos de prova foi medida com uso de prova provenientes das armaduras
reveste a armadura. Com o objetivo de de um micrômetro dotado de ponteiras presentes no bloco de fundação foi utili-
validar esta hipótese, uma solução de cônicas com precisão de 0,004 mm, zado como referência para fins compa-
Fenolftaleína foi preparada e pulveriza- sendo feitas, no mínimo, trinta medidas rativos com as propriedades dos corpos
da sobre o concreto recém-fraturado no ao longo do comprimento dos corpos de de prova das armaduras de espera,
ato da extração das armaduras do bloco prova. A velocidade de corrosão foi cal- conforme justificativa já discutida.
de fundação, segundo prescreve a reco- culada através da Equação 1, sendo Vcorr
mendação da EN-14630 (2006). a velocidade de corrosão (mm/ano), DCx 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A coloração rosa/carmim observa- a menor seção transversal da barra (mm)
da imediatamente após a pulverização e n o número de anos em que a armadura 3.1 Resistividade do solo
da solução é mostrada na Figura 1, permaneceu enterrada (igual a 60 anos).
atestando que o concreto do bloco de Segundo CEMCO (2001), um valor aci- Os valores de resistividade do solo

* Nota: Atualmente, após diversos processos de revisão, trata-se da ABNT NBR 6118:2014 Projeto de estruturas de concreto CONCRETO & Construções | 89
variaram de 24.300 à 100.000 Ohm.cm
em todos os pontos. Foi observado que,
mesmo dobrando a distância entre as
estacas de medição, os valores de re-
sistividade apresentaram uma variação
inferior a 5%, sendo que os valores obti-
u Figura 3
dos são superiores aos valores propos- Formação de produtos de corrosão de coloração distinta sobre a superfície
tos pela NACE (2014), caracterizando o das armaduras
solo como essencialmente não agressi-
vo em todos os pontos determinados, sentido, os pites produzem excentrici- 3.3 Velocidades de corrosão
representando que o solo local apresen- dades entre o eixo da seção transversal
ta boa resistência ao fluxo iônico. Assim, original da barra e o eixo da seção cor- As velocidades de corrosão dos cor-
como o solo local foi caracterizado como roída por pites, sendo que, quanto maior pos de prova são apresentadas na Figu-
essencialmente não corrosivo pelo crité- esta excentricidade, maior o impacto ra 4, onde é possível observar altas velo-
rio proposto, era esperado que as arma- sobre as propriedades mecânicas das cidades de corrosão segundo o critério
duras de espera não apresentassem um armaduras. Portanto, embora pequenas do CEMCO (2001).
estágio de corrosão acentuado. variações de massa possam ser verifica- As velocidades observadas demons-
das, os pites causam um grave impacto tram que, mesmo o solo sendo caracte-
3.2 Tipologias de corrosão à durabilidade das estruturas de concre- rizado como essencialmente não corro-
verificadas nas armaduras to armado, com a consequente redução sivo pelo critério da resistividade, uma
de espera de seu desempenho e vida útil. alta taxa de corrosão das armaduras de
As armaduras de espera apresen- espera foi observada ao longo do perí-
Por meio das micrografias foi pos- taram diferentes produtos de corrosão odo em que estas permaneceram en-
sivel observar a presença de pites em aderidos à sua superfície conforme terradas. Tal fato pode estar associado
todos os corpos de prova obtidos das observado na Figura 3. Neste caso, a a duas hipóteses. (1) A classificação da
armaduras de espera, conforme obser- coloração apresentada pelos produtos agressividade do solo. Neste caso, uma
vado pela Figura 2. Os pites tem como de corrosão está associada à forma- classificação unicamente pelo critério da
caracteristicas produzir pequenas varia- ção de um determinado tipo de óxido, resistividade pode ser insuficiente, uma
ções de massa, porém danos conside- sendo que colorações mais escuras in- vez que a ação de outros fatores não é
raveis às seções transversais das bar- dicam condições de baixa aeração na levada em consideração, assim como
ras, com decréscimos significativos das formação dos óxidos e colorações que uma análise pontual do microambiente
propriedades mecânicas delas. Neste tendem ao avermelhado/alaranjado in- onde as fundações estão presentes, ou,
dicam condições de boa aeração. Isto por outro lado, a classificação proposta
demonstra que, mesmo presentes em pelo CEMCO (2001) apresenta-se com
um mesmo meio corrosivo, diferentes valores restritivos. (2) A presença dos
condições de aeração podem levar à pites observada nas barras tem sua
formação de diferentes produtos de formação associada a fontes externas
corrosão; dessa forma, o microambien- de íons cloreto. Neste caso, deve ser
te também pode ser um fator importan- pontuado que o entorno da área onde
te para contribuir com a durabilidade as antigas fundações estavam presen-
de armaduras enterradas. A determina- tes apresentam edificações construídas;
ção química dos produtos de corrosão assim, o uso e descarte no solo de ma-
u Figura 2 encontrados não faz parte do objetivo teriais de limpeza a base de cloro denota
Exemplo de pite observado na deste artigo; portanto, a análise aqui uma potencial fonte externa de íons clo-
superfície das barras – aumento reto que contribui para o surgimento dos
realizada é qualitativa, baseada nas co-
de 10x
lorações observadas. pites. Os íons cloreto são responsáveis

90 | CONCRETO & Construções


ras, entretanto, a possibilidade de ava-
liação de propriedades mecânicas de
corpos de prova corroídos naturalmen-
te por décadas se mostra como uma
oportunidade ímpar de estudo, sendo
necessários mais pesquisas nesta área
para validação de um valor tolerável.

4, CONCLUSÕES
Foram discutidos neste artigo aspec-
tos a respeito da agressividade do solo
como meio corrosivo, além das tipolo-
gias de corrosão e seus efeitos sobre as
propriedades mecânicas de armaduras
u Figura 4
Velocidades de Corrosão das armaduras de espera de espera corroídas naturalmente por
um período de 60 anos. As principais
por reduzir drasticamente a vida útil de são de 12%, há uma tendência geral de conclusões apresentadas são:
estruturas de concreto armado devido à decréscimo das propriedades mecânicas, u Mesmo com medidas de resistivi-
corrosão localizada nas armaduras. com uma redução maior em valores resis- dade do solo superiores aos níveis
tentes à medida que o grau de corrosão recomendados, altas velocidades
3.4 Propriedades mecânicas e atinge 25%, indicando, assim, que a par- de corrosão foram evidenciadas nas
grau de corrosão dos corpos tir de um grau de corrosão da ordem de armaduras de espera. Tal fato pode
de prova 12% há uma aceleração progressiva no estar associado a: (1) sinergia de di-
decréscimo das propriedades mecânicas versos fatores atuando em conjunto,
O valor médio correspondente à re- de barras submetidas à tração. demonstrando que classificar o solo
sistência ao escoamento dos corpos de Deve ser ressaltado que trata-se de unicamente segundo o critério da
prova tomados como referência foi de 262 um conjunto de corpos de prova limita- resistividade pode ser insuficiente,
MPa. As relações entre o grau de corrosão do para o estabelecimento de um grau ou ainda que o limite proposto para
e a resistência ao escoamento dos corpos de corrosão tolerável para as armadu- determinar a alta velocidade de cor-
de prova provenientes das armaduras de rosão assumido neste artigo é muito
espera é apresentada na Figura 5.
De acordo com a Figura 5, é possível
observar que mesmo corpos de prova
com grau de corrosão de até 7% apre-
sentam valores de resistência ao es-
coamento equiparáveis ao valor médio
observado nos corpos de prova de re-
ferência, fornecendo, assim, um possí-
vel indicativo a respeito de um grau de
corrosão tolerável, onde a variação das
propriedades mecânicas das armaduras
corroídas não foi muito diferente em re-
lação às propriedades mecânicas das
armaduras de referência.
u Figura 5
Por outro lado, é possivel obser-
Propriedades mecânicas das armaduras de referência
var que, a partir de um grau de corro-

CONCRETO & Construções | 91


restritivo; (2) fontes externas de íons grau de corrosão da ordem de 5%; grau de corrosão tolerável; por outro
cloretos, capazes de desencadear além disso, as diferentes tonalidades lado, um decréscimo progressivo
um processo corrosivo nas armadu- de cor dos produtos de corrosão ob- das resistências medidas foi obser-
ras, foram preponderantes; servados indicam condições de boa vada nos corpos de prova com grau
u As micrografias obtidas indicaram a e má aeração no solo do local; de corrosão superior à 12%.
presença de pites notáveis nos cor- u Armaduras com grau de corrosão Finalmente, o grau de corrosão veri-
pos de prova, possíveis de serem de até 7% apresentaram resistên- ficado em armaduras corroídas natural-
observados com aumento microscó- cia ao escoamento equiparável à mente aliado à dificuldade de inspeção
pico de 10x. A presença de pites gera resistência ao escoamento média em elementos estruturais enterrados ele-
pequenas variações de massa nas apresentada por corpos de prova de vam a importância deste tipo de investi-
barras, conforme verificado na maio- referência (não corroídos), indicando gação quanto aos impactos na vida útil e
ria das barras que apresentaram um um valor possível que represente um durabilidade deste tipo de estrutura.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS - ASTM G1 – Standard Practice for Preparing, Cleaning, and Evaluating Corrosion Test, Pennsylvania, United
States of America, 2003.
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS – ABNT - NB-1– Cálculo e execução de obras de concreto armado – Rio de Janeiro, 1940, 23p.
[03] CEMCO – Durabilidad del Hormigón y Evaluacion de Estructuras Corroídas – Instituto de Ciências de la Construccíon Eduardo Torroja, CSIC, 2001.
[04] European Standards - EN 14630 - Products and systems for the protection and repair of concrete structures – test methods – determination of carbonation depth
in hardened concrete by the phenolphthalein method- Committee B/517/8, Brussels, 2006.
[05] NATIONAL ASSOCIATION OF CORROSION ENGINEERS - NACE – Soil Corrosion – Disponível em: http://www.nace.org/StarterApps/Wiki/Wiki.aspx?wiki=141;
Acessado em 24 de setembro de 2014.

Livro

92 | CONCRETO & Construções


u inspeção e manutenção

Termografia de infravermelho
na identificação e avaliação de
manifestações patológicas
em edifícios
ELTON BAUER – Professor-Doutor
ELIER PAVÓN – Doutorando
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e
Construção Civil, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília

1. INTRODUÇÃO regiões de umidade, identificar hetero- empregada, principalmente pelos ele-

C
ada vez mais é necessá- geneidades superficiais, dentre outras vados custos dos equipamentos. Para
rio empregar técnicas que aplicações. A inspeção é feita coletan- aplicação no estudo da degradação e
permitam conhecer, iden- do-se imagens termográficas (distri- das patologias dos elementos e ma-
tificar e avaliar os materiais empre- buição das temperaturas sobre a su- teriais, ainda é necessário estabelecer
gados na construção civil. Quando é perfície dos elementos, por exemplo, um conjunto importante de critérios e
necessário investigar tanto a questão sobre a superfície da fachada), que padrões que permitam identificar as
da durabilidade quanto dos estudos pode ser feita a distâncias significati- anomalias com segurança. Todavia,
das manifestações patológicas, faze- vas (até 20 metros com equipamentos a técnica tem grande potencialidade,
mos uso de técnicas, muitas vezes usuais), e de forma instantânea. Ou principalmente com técnica para iden-
não destrutivas que nos permitem in- seja, a mensuração das temperaturas tificação de anomalias principalmente
ferir sobre causas, comportamentos e na imagem (termograma) é feita sem pela agilidade e simplicidade na inspe-
anomalias, bem como identificar e ma- contato e em tempo real: o que ocorre ção, possuindo um leque significativo
pear regiões de danos nas estruturas no objeto alvo é observado na câmera de possíveis outras novas aplicações.
e nos demais sistemas dos edifícios termográfica [1] [2]. O conjunto de in-
(alvenarias, revestimentos,
Organização impermea- formações fornecidas por esta aborda- 2. TERMOGRAFIA
bilização, dentre outros). gem pode auxiliar na inspeção de edi- INFRAVERMELHA
Entre os métodos não destrutivos, fícios e no diagnóstico e mapeamento A termografia infravermelha em-

100
a termografia de infravermelho vem ao de patologias, a partir da mensuração prega termovisores (câmeras infra-
encontro da necessidade de estudos e identificação das diferenças de tem- vermelhas), que coletam e medem a
95
para estabelecer parâmetros e índices peratura observadas na superfície dos intensidade da radiação infravermelha
75 que contribuam com a realização de elementos e componentes do edifício emitida pela superfície dos objetos e a
inspeções com diferentes finalidades, (o Delta-T é um dos critérios para iden- converte em sinais elétricos, os quais
de forma rápida e mais eficiente. tificar a existência de anomalias). através de softwares apropriados per-
25 Com a inspeção termográfica é Embora essa técnica seja de uso mitem obter imagens térmicas [1]. Esta
possível localizar elementos estrutu- consagrado na engenharia, na cons- técnica, com base na análise do cam-
5
rais, observar e delimitar fissuras e trução civil brasileira ainda ela é pouco po de temperaturas, permite identificar
0

CONCRETO & Construções | 93


anomalias internas aos materiais (de-
feitos), porque a presença de defeitos
causa uma resistência térmica, influen-
ciando o transporte de calor no ma-
terial, que pode ser detectada na su-
perfície [2]. A abordagem é similar ao
que acontece no ensaio de ultrassom,
onde a velocidade de onda muda pela
presença de defeitos internos dentro
do elemento. No caso da inspeção ter-
mográfica, os defeitos também causam
uma perturbação, só que no fluxo de
a Imagem digital do impacto b Termograma da superfície do concreto
do esclerômetro após o impacto do esclerômetro
calor (entre o elemento e o meio am-
biente). Essa perturbação gera peque- u Figura 1
nas diferenças de temperatura que são Diferenças de temperaturas geradas pelo impacto do esclerômetro em
identificadas na superfície permitindo a uma superfície de concreto
identificação e análise das anomalias.
Embora possam ser detectadas ano- a metodologia de emprego da técni- e resolução geométrica) estabelecem
malias internas, a termografia de infra- ca. Considera-se termografia passiva o alcance das inspeções, definindo o
vermelho é considerada, em geral, uma quando existe um diferencial natural tamanho das anomalias a serem ana-
técnica superficial, já que as anomalias de temperatura entre a amostra (objeto lisadas e a distância a que pode ser
que podem ser facilmente identificadas alvo) e o meio no qual se encontra, ou feito o estudo (precisão da imagem). A
são as que ficam próximas da superfície. seja, o caso onde não é utilizada uma mensuração das variáveis temperatura
O resultado da medição termográ- estimulação térmica artificial para a de- ambiente, umidade relativa, tempera-
fica é a distribuição da temperatura em tecção de anomalias. Já para a termo- tura aparente refletida e emissividade
um plano em tempo real (termograma). grafia ativa, um estímulo externo é in- (associadas ao alvo) vão permitir ob-
É necessário conhecer ou determinar dispensável para induzir os contrastes ter termogramas com os valores reais
vários parâmetros termográficos, os térmicos na amostra, capazes de iden- e precisos das temperaturas. Todas
quais são tratados pelos algoritmos es- tificar falhas ou defeitos [6]. Os estímu- essas variáveis afetam em maior ou
pecíficos do equipamento, de modo a los térmicos empregados podem ser os menor medida a qualidade dos resul-
se ter a adequada precisão das tempe- pulsos, os ciclos de pulsos, os ciclos de tados e a sua interpretação; por isso
raturas apresentadas no termograma. calor, a vibro-termografia, entre outros. é de muita importância conhecer ou
Regiões com temperaturas diferentes A obtenção e a correta interpreta- mensurar cada uma delas. Também é
em um termograma são resultado da ção dos termogramas vão depender necessário que o termografista evite os
presença de heterogeneidades na su- da adequada aquisição da imagem problemas de reflexão e que respeite
perfície ou perto dela ou resultado de pelo termografista e do conhecimento os ângulos limites de modo a não indu-
ações recentes. Na figura 1, pode-se e mensuração das variáveis envolvi- zir erros no termograma.
observar a diferença de temperatura das nas medições termográficas. É
gerada pelo impacto de um esclerôme- necessário que as análises sejam fei- 3. APLICAÇÕES DA
tro na superfície do concreto, em uma tas tendo uma base científica sólida TERMOGRAFIA A PATOLOGIAS
imagem feita instantes posteriores ao sobre termografia. DE EDIFÍCIOS
impacto. A energia de impacto eleva a As variáveis termográficas podem A termografia passiva é utilizada em
temperatura do ponto instantaneamen- ser divididas em dois grupos: as que monitoramentos nas áreas de enge-
te em cerca de 5º C. têm a ver com o equipamento e as re- nharia elétrica, metalúrgica, mecânica e
A termografia pode ser classificada lacionadas com o alvo. As variáveis re- de processos, além de ter aplicações
em ativa ou passiva, de acordo com lacionadas ao equipamento (foco, lente na indústria médica e na segurança.

94 | CONCRETO & Construções


térmica de uma fachada com reves-
timento de placas cerâmicas, a pre-
sença de destacamentos (Fig 2-a) (D),
não visíveis na inspeção visual (Fig 2-b).
Essa inspeção foi efetuada à noite, com
fluxo de calor reverso (da fachada para
o ambiente), sendo a região destacada
identificada por temperaturas mais bai-
xas (mais escuras no termograma)
a Termograma b Fotografia digital da
área inspecionada
Em estudos de laboratório, onde
são controladas cada uma das variá-
u Figura 2 veis relacionadas com a técnica e com
Detecção de destacamentos em uma fachada com revestimento cerâmico o defeito, comprovou-se que falhas de
com termografia infravermelha (termografia passiva) aderência ou ausência de argamassa
por trás da cerâmica são facilmente
Na engenharia civil, os principais estu- seu funcionamento. Um componente identificáveis e quantificáveis com essa
dos desenvolvidos com aplicação da elétrico defeituoso que emite calor ex- técnica (Bauer et al., 2015). Na figura
termografia de infravermelho são os cessivo é muito facilmente detectável 3, observa-se, em um estudo realizado
relativos à avaliação das características pela termografia. em placa de argamassa revestida com
térmicas da envolvente de edifícios e a Com a termografia infravermelha cerâmica, como a ausência de material
eficiência energética, e os relativos ao podem-se detectar somente anomalias por trás da cerâmica (A) é identificável
estudo de anomalias e manifestações associadas a modificações mensurá- com precisão no termograma, quando
patológicas em edificações. A identifi- veis das características térmicas (fluxo a placa é aquecida artificialmente. Nes-
cação e quantificação de anomalias e de calor e temperaturas resultantes) e te caso o fluxo de calor é da placa para
manifestações patológicas em edifica- patologias com profundidades limita- o meio ambiente (fluxo reverso).
ções com termografia é bem complexa, das (próximas à superfície). Com base Os elementos estruturais de uma
porque as diferenças de temperatura nessas características e limitações, têm edificação, por ser geralmente de mate-
entre as zonas com e sem anomalias sido estudadas diferentes incidências riais diferentes da alvenaria, ou por ter
são relativamente pequenas, se com- patológicas nas edificações, principal- inércia térmica diferente, são regiões fa-
paradas com outras áreas da engenha- mente em fachadas. A figura 2 mostra cilmente identificáveis nos termogramas.
ria onde se estudam componentes e como é possível detectar na imagem Um exemplo de localização de elemen-
equipamentos que geram calor durante

a Termograma evidenciando as diferentes b Fotografia digital da região inspecionada


temperaturas e os elementos
u Figura 3
Detecção da falta de argamassa u Figura 4
por trás da cerâmica em placas Identificação dos elementos estruturais de concreto
de laboratório com termografia infravermelha

CONCRETO & Construções | 95


a b

u Figura 6
u Figura 5 Avaliação de problemas de umidade no interior de uma edificação com
Identificação e mapeamento termografia infravermelha
de fissuras em fachadas com
revestimento em argamassa
e pintura no termograma se conseguiu avaliar a analisado com esta técnica, além de
magnitude do problema de umidade (A) ser identificado, é possível definir sua
tos estruturais em uma fachada revesti- na união entre a laje e a parede (cortina magnitude. A figura 7 mostra um estu-
da com argamassa e pintada pode ser em concreto). As inspeção foi feita na do de absorção de água por capilari-
observado na figura 4. Note-se, neste face inferior de uma laje, no encontro dade (A) onde se define claramente a
caso, como são facilmente identificadas com a cortina de concreto, em uma altura da franja de água no corpo de
as vigas (A) e os pilares (B) que formam garagem em subsolo que apresentava prova prismático. Note-se aqui que em-
a estrutura porticada de concreto da problemas de infiltração na laje (falha bora a franja seja relativamente visível
edificação. Aparecem aqui como zonas da impermeabilização). A evaporação na fotografia digital (o que nem sempre
mais frias na imagem térmica. de água na superfície do objeto alvo ocorre), no termograma ela passa a ser
Para o caso de fachadas revestidas (superfície de concreto) faz com que identificada e mensurada pela redução
com argamassa e pintura, é possível diminua a temperatura na superfície, de temperatura superficial que a evapo-
identificar também outros tipos manifes- sendo essa diferença de temperatura ração proporciona.
tações patológicas, como as fissuras. A detectada no termograma.
figura 5 mostra a imagem térmica com Os problemas de umidade causa- 4. ERROS E DIFICULDADES NA
a localização das fissuras (A) na fachada dos por capilaridade são detectados APLICAÇÃO DA TERMOGRAFIA
em um estudo de mapeamento de ano- também com o uso da termografia in- A aplicação da termografia infra-
malias. Observa-se que, na inspeção fravermelha. Quando este problema é vermelha na detecção de patologias
visual, essas anomalias não são detec-
táveis (aspecto similar ao da figura 4(b)).
Na análise da inspeção global efetuada,
constatou-se que essa fissuração ocor-
reu na alvenaria, sendo as mesmas ma-
peadas pela inspeção termográfica.
Com a termografia infravermelha
também podem ser detectados pro-
blemas de umidade em diferentes
elementos da edificação. Isso ocorre a Termograma indicando as franjas b Fotografia digital do experimento
porque a evaporação da água causa de umidade

uma redução da temperatura superfi-


cial, sendo essa alteração captada no u Figura 7
Avaliação da capilaridade em amostras de concreto celular
termograma. Note-se, na figura 6, que

96 | CONCRETO & Construções


mente quando os estudos são feitos
sobre uma forte incidência solar, po-
dendo limitar a aplicação da técnica.
Na figura 9, pode ser observada uma
situação de grande reflexão em edifí-
cios. Observa-se a reflexão da torre
a Inspeção efetuada pela manhã b Inspeção efetuada pela noite
do prédio da esquerda (que não era
objeto de análise) na imagem termo-
u Figura 8
Visualização de um destacamento em diferentes horários do dia [5] gráfica do prédio da direita (objeto
alvo). Na região onde se identifica a
torna-se difícil e complexa pela gran- foi realizada no começo da manhã e reflexão (A), aparecem falsos valores
de quantidade de variáveis envolvidas a imagem térmica da direita (Fig. 8-b), de temperaturas no termograma, nes-
no processo de inspeção e análise de no início da noite. Note-se que, na ma- te caso, superiores aos reais.
resultados. As dificuldades e a não nhã, o mesmo defeito aparece como O ângulo e a geometria do alvo são
mensuração das principais variáveis uma zona mais quente e, pela noite, outras dificuldades que se apresentam
levam a se cometer importantes erros, como uma zona mais fria. O diagnós- na realização das inspeções termográ-
que podem conduzir a incorretas inter- tico, portanto, não é evidente a partir ficas. Os valores de temperaturas em
pretações ou a diagnósticos equivoca- de uma simples observação direta do zonas com ângulo muitos altos (>45°)
dos. Uma das principais dificuldades termograma, mas da análise do fluxo e superfícies arredondadas apresen-
na aplicação da termografia é a defini- térmico e da adequação de critérios tam falsos valores de temperatura nos
ção do momento do dia (ou da noite) para identificação das patologias [5]. termogramas. Na figura 10, pode-se
para a realização da inspeção. Esta Seguramente, entre os dois momen- observar este problema. Note-se que o
dificuldade é devida ao fluxo térmico, tos das imagens da Figura 8 ocorre canto esquerdo da fachada tem forma
o qual não é controlado nas medições um momento em que o defeito não é arredondada e que o ângulo, no qual
em campo (termografia passiva). A for- identificável no termograma, ou seja, foi feita a imagem em relação à parte
ma e o momento em que aparecerá o ele tem a mesma temperatura da re- superior do edifício, é alto. Por esses
defeito dependerá do sentido e mag- gião circunvizinha [3]. motivos, os valores de temperatura
nitude do fluxo de calor [3]. Na figura A reflexão é outra das dificulda- nessa área (A) aparecem menores ao
8, mostram-se as imagens térmicas des da termografia, principalmente que realmente são.
de uma fachada com presença de um nas medições em campo. Materiais Outra dificuldade nas inspeções
destacamento na placa cerâmica. A e elementos de construção com aca- termográficas é a presença de ma-
imagem térmica da esquerda (Fig. 8-a) bamentos muito lisos e com brilho teriais e elementos de composição
refletem a radiação infravermelha de
outros corpos (edifícios vizinhos, ve-
ículos, instalações e redes elétricas,
dentre outros), causando uma inter-
pretação incorreta dos termogramas.
Por isso, o termografista deve ser ex-
periente para eleger cuidadosamente
a posição da qual irá fazer a aquisição
do termograma, para evitar as refle-
xões. Além disso, deve saber identi-
u Figura 9 ficar na imagem térmica a ocorrência u Figura 10
Problemas da reflexão em deste problema. Este problema nas Problemas com o ângulo da
termogramas de fachadas aquisição do termograma e
de edifícios avaliações de fachadas de edifícios geometria do alvo
(reflexão) é muito frequente, principal-

CONCRETO & Construções | 97


diferente (metais, polímeros, dentre timadas, levam a erros significativos
outros) e também com textura super- nos valores de temperatura e posterior
ficial dieferenciada na fachada (lisos, interpretação dos termogramas. A uti-
rugosos, polidos). Nestes casos, o va- lização de valores incorretos desses
lor da emissividade é diferente, obvia- parâmetros pode gerar grandes dife-
mente em função da natureza de cada renças de temperatura comparadas
material, o que pode levar a incorretas com o valor real. Em estudos recentes
interpretações dos termogramas caso foram quantificadas estas diferenças
não se busque corrigir essa informa- em revestimento com placas cerâmi-
ção na análise. Pela utilização de um cas e revestimentos em argamassa u Figura 11
único valor de emissividade na análise [4], comprovando-se que os maiores Imagem térmica de uma fachada
da imagem térmica, podem aparecer erros aparecem quando são utilizados com diversos materiais
zonas quentes ou zonas frias geradas valores incorretos de emissividades e
pelos erros na emissividade, tornando quanto maior for a temperatura média cações mensuráveis das caracterís-
difícil a análises para a determinação da superfície estudada. ticas térmicas, como destacamen-
de anomalias. Este problema pode ser tos, fissuras e umidades;
observado na figura 11, corresponden- 5. CONCLUSÕES u As principais dificuldades da aplica-
te à imagem térmica de uma fachada Após a análise das potencialidades ção da termografia infravermelha es-
no horário da manhã, onde aparecem e limitações da termografia infraverme- tão relacionadas com o fluxo de calor
zonas muitos quentes não reais, pos- lha aplicada ao estudo de manifesta- e a reflexão; é fundamental a mensu-
sivelmente geradas pelos menores ções patológicas de edificações, pode- ração das variáveis, como a emissivi-
valores de emissividades desses ma- -se concluir que: dade, temperatura aparente refletida,
teriais (polímeros constituintes dos tol- u Para este tipo de estudo, é neces- umidade relativa e distância;
dos na imagem). sário ter formação de termografis- u Em função da rapidez e versatilida-
O ângulo, os diferentes tipos de ta e uma forte base teórica sobre de na aquisição das imagens, a ins-
materiais e a textura superficial cau- termografia para a realização das peção termográfica é uma técnica
sam alterações da emissividade, a inspeções e posterior análise dos de inspeção de grande potenciali-
qual é considerada uma das variá- resultados dada a quantidade de dade, desde que corretamente efe-
veis de maior importância na obten- variáveis e dificuldades que apre- tuada e adequadamente analisada;
ção dos termogramas. Outras variá- senta a aplicação desta técnica; vários fenômenos de degradação
veis mensuráveis em campo, como a u Com a termografia infravermelha, podem ser monitorados e quantifi-
temperatura ambiente, a temperatura pode-se detectar somente patolo- cados; também o mapeamento de
aparente refletida e a distância, quan- gias superficiais ou anomalias perto anomalias pode ser muito agilizado
do desconsideradas ou somente es- da superfície associadas a modifi- com o emprego da termografia.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BARREIRA, E.; DE FREITAS, V. P. Evaluation of building materials using infrared thermography. Construction and Building Materials, v. 21, n. 1, p. 218–224,
jan. 2007.
[02] BAUER, E.; CASTRO, E. K.; HILDENBERG, A.; PAVON, E. Critérios para a aplicaçao da termografia de infravermelho passiva como técnica auxiliar ao diagnóstico
de patologias em fachadas de edifícios. Revista Politecnica (Instituto Politécnico Bahia), v. 26, p. 266–277, 2014.
[03] BAUER, E.; FREITAS. V. P.; MUSTELIER, N.; BARREIRA, E.; FREITAS, S. Infrared thermography – evaluation of the results reproducibility. Structural Survey, v. 31,
n. 3, p. 181–193, 2015a.
[04] BAUER, E.; PAVON, E.; HILDENBERG, A. Erros na utilização de parâmetros termográficos da argamassa e da cerâmica na detecção de anomalias em
revestimentos. XI Simpósio Brasileiro de tecnologia das Argamassas. Anais...Porto Alegre: SBTA, 2015b.
[05] BAUER E, CASTRO E.K, PAVON E, OLIVEIRA A.H.S. Criteria for application and identification of anomalies on the facades of buildings with the use of passive
infrared thermography. In: Freitas VP, editor. 1st Int. Symp. Build. Pathol., Porto, Portugal: 2015c, p. 12.
[06] MALDAGUE, X. Theory and Practice of Infrared Technology for Nondestructive Evaluation. Michigan: Wiley Series, 2001. p. 704.

98 | CONCRETO & Construções


u pesquisa e desenvolvimento

Análise comparativa da
eficiência de transferência
de cargas em pavimentos
de concreto simples e
continuamente armados
LUCIO SALLES DE SALLES – Candidato a Doutorado
JOSÉ TADEU BALBO – Professor Associado
Universidade de São Paulo

1. INTRODUÇÃO volvimento, como o Chile e a Indonésia, enfraquecimento do concreto (serra-

A
construção de rodovias e apresentam também uma vasta malha gem) de forma que a concentração de
vias urbanas de alto tráfego rodoviária em concreto. Portanto é in- tensões durante a cura ocorra exata-
no Brasil, antes inteiramen- teressante para o desenvolvimento da mente naquele ponto, gerando a fis-
te baseada em pavimentos asfálticos, infraestrutura rodoviária do país o in- sura. Em relação à descontinuidade
começa lentamente a demonstrar inte- vestimento pesado em estruturas que física gerada pela fissura, são projeta-
resse por tecnologias mais duradouras apresentem alta durabilidade, como os das e instaladas barras de transferên-
com concreto. Para uma comparação pavimentos de concreto. cia abaixo do corte, fazendo a união
rápida do número de pavimentos de Entretanto, o já pouco incentivo na- das placas e provendo a transferência
concreto no Brasil e em outros países, cional na pavimentação em concreto é de carga entre elas. Esse é o conceito
confrontam-se informações de Bal- totalmente baseado em pavimentos de das juntas de retração em PCS, são
bo (2009). Nos EUA, em números de concreto simples (PCS), ou seja, pavi- elementos estruturais que induzem a
1999, estima-se que a porcentagem de mentos de concreto em placas com fissura e dos quais depende todo o
rodovias de concreto seja de aproxima- juntas de retração. Devido à liberação desempenho do pavimento.
damente 20%. Na Alemanha, constam de calor durante a hidratação do con- Contudo, a eficácia de tais elemen-
incríveis 40% (em quilômetros totais, creto, grandes massas do material fa- tos é extremamente dependente da
valor inferior ao dos EUA). Já no Bra- zem com que o grau de concentração perfeita execução das juntas (posicio-
sil, há algo em torno de 2% de rodovias de tensões durante a cura seja muito namento correto das barras de trans-
em concreto do total pavimentado. grande. Para aliviar tais tensões, sur- ferência e serragem na profundidade
Pavimentos de concreto são mais co- gem fissuras de retração aleatórias nas e no tempo certo), o que corriqueira-
mumente encontrados em nações alta- placas, o que é bastante problemático mente não acontece na pavimentação
mente industrializadas, como os países visto que a estrutura antes contínua nacional. Erros na serragem levam ao
da Comunidade Europeia e da América passa a ser seccionada, inviabilizan- aparecimento de fissuras fora do local
do Norte, tendo os EUA como princi- do a perfeita resistência às cargas dos projetado e barras mal posicionadas di-
pal precursor e incentivador da técnica. veículos. Com o objetivo de contornar ficultam a transferência de carga levan-
Existem exceções: países em desen- essa situação, são criados pontos de do ao surgimento de esborcinamento

CONCRETO & Construções | 99


e escalonamento entre placas. Casos,
como o do rodoanel Mario Covas em
São Paulo, onde houve a fissuração irre-
gular de algumas placas, são exemplos
do problema. Balbo (2009), por fim, cita
que, de cada seis defeitos mais comuns
na pavimentação em concreto, quatro
estão relacionados com as juntas de
retração. Com isso, se o problema dos
pavimentos de concreto está nas juntas,
por que não construir um pavimento de
concreto sem juntas?
É nessa premissa que se insere
a ideia do Pavimento de Concreto
Continuamente Armado (PCCA): um u Figura 1
Diferenças básicas de PCCA e PCS
pavimento de concreto sem juntas.
Explica-se: o concreto no PCCA
apresenta a mesma tendência à sempenham um papel semelhante às manutenção frente à cargas de trá-
fissuração do concreto no PCS, juntas do PCS, entretanto, frisa-se que fego pesado e à condições ambien-
porém no PCCA não existe a o desempenho das primeiras é muito tais intimidantes. Para exemplificar
indução da fissuração, o concreto menos suscetível a erros construtivos as qualidades do PCCA, a Tabela 1
fissura livremente; o controle está no do que o da segunda. A Figura 1 com- traz uma compilação de resultados
espaçamento e, principalmente, na para as seções longitudinais e trans- que Tayabji et al. (1998 – 2012) in-
abertura das fissuras que irão surgir. versais do PCS e do PCCA. vestigaram nos estados norte-ameri-
Para isso, existe uma armadura longi- canos, em alguns países da Europa e
tudinal, acima da linha neutra da placa, 1.1 PCCA: durabilidade e mínimo no Canada.
em altas taxas, cujo único papel é man- de manutenção Deve ser notado que alguns pro-
ter as fissuras fortemente apertadas de jetos iniciais apresentaram problemas
modo que se tornem imperceptíveis ao A primeira aplicação do PCCA data com o PCCA; de modo geral, o tipo de
tráfego e que mantenham altos níveis de 1938 e foi realizada no estado norte- base, a taxa de armadura e a posição
de transferência de carga pelo intertra- -americano de Indiana. Nos próximos dez da armadura têm influência no compor-
vamento de agregados. Diferentemen- anos, vários trechos experimentais foram tamento da estrutura e no surgimento
te dos pavimentos de concreto arma- executados em diversos estados do país, das fissuras, como será discutido no
do (PCA), a armadura do PCCA não com dedicação especial do Texas e de decorrer do artigo. Porém, perante os
possui papel estrutural no pavimento, Illinois. Porém, foi somente em meados anos de sucesso comprovado do pavi-
portanto, a espessura de concreto das dos anos 1950 que a técnica começou a mento no exterior e da possibilidade de
placas é similar àquela corriqueiramen- ganhar popularidade; em 1958, existiam uma rodovia ou corredor urbano com
te empregada em PCS. Pela quantida- 127 km de rodovias com o PCCA. Foi a durabilidade de mais de 30 anos, de-
de de aço necessário, o custo inicial partir também dos anos 1950 que a ideia cidiu-se importar a técnica e construir
do PCCA é de aproximadamente 40% do PCCA migrou para o continente Euro- quatro seções experimentais desse pa-
superior do que o do PCS, porém a peu, tendo a Bélgica como sua precurso- vimento no campus da Universidade de
baixa necessidade de manutenção e ra. Atualmente, só nos EUA existem em São Paulo (USP). Esse artigo apresenta
a durabilidade recompensam o inves- operação mais de 50 mil quilômetros de os conceitos fundamentais do PCCA,
timento inicial. Pode-se afirmar, numa rodovias construídas com o PCCA. além de trazer o relato do projeto e da
visão prática e simplificada, que as O PCCA tem fama de apresentar construção das seções experimentais e
fissuras que irão surgir no PCCA de- alta durabilidade com um mínimo de comparar a eficiência de transferência

100 | CONCRETO & Construções


de carga nas fissuras/juntas (LTE) do das de ônibus em corredores urbanos do concreto foi fixada em 4,5 MPa (aos
PCCA com um PCS experimental. (sem laje de transição ou ancoragem). 28 dias); o concreto comercialmente
O tráfego diário na avenida é com- disponível empregou agregados graníti-
2. PROJETO E CONSTRUÇÃO posto de aproximadamente 800 ôni- cos e consumo de cimento de 350 kg/
DO PCCA bus urbanos, junto com algumas dúzias m³. A Tabela 2 traz o controle tecnoló-
As seções da pista experimental fo- de caminhonetes médias e 1.500 car- gico do concreto na obra.
ram construídas entre julho e setembro ros. O antigo pavimento asfáltico, que Nota-se que, salvo a porcentagem
de 2010, no período seco do inverno havia sido construído quase 40 anos de armadura longitudinal, as quatro se-
paulistano, localizadas na Av. Prof. Al- antes, foi completamente removido. As ções possuem as mesmas característi-
meida Prado, no campus da USP em seções possuem largura constante de cas de projeto. A armadura longitudinal
São Paulo. Como o objetivo inicial era 5,05 m, que coincide com uma faixa possui taxa variável (0,4 a 0,7% da se-
simular uma parada de ônibus, a exten- de rolamento em vias de pista simples ção transversal da placa); a armadura
são das seções foi de 50 m, curta em do campus (10 m de largura aproxima- transversal é composta de barras es-
relação ao PCCA tradicional que pode damente). As seções são compostas paçadas 0,9 m entre si, com barras de
alcançar mais de 400 m, dependendo de placas de concreto com 240 mm diâmetro de 20 mm. Todo o aço em-
do período de concretagem contínua. de espessura. A espessura foi definida pregado foi do tipo CA-50. A decisão
Não há ancoragem no final das seções, com base no tráfego e também com das diferentes taxas foi tomada com
dando liberdade ao deslocamento lon- experiência internacional da utilização referência aos PCCA citados na litera-
gitudinal das placas de concreto, como desse pavimento em vias urbanas. A tura técnica. Sabe-se que maiores ta-
seria no caso de construções em para- resistência à tração na flexão de projeto xas de armadura causam uma maior

u Tabela 1 – Experiência internacional com PCCA

Local Experiência
Texas PCCA construídos entre 1967 e 1994 suportaram um tráfego maior do que aquele de projeto.
Texas PCCA com 33 anos apresentando LTE nas fissuras sempre maior do que 90%.
Califórnia Ótimo desempenho de seções construídas nos anos 1970.
Califórnia Durabilidade e baixo custo de manutenção compensa o investimento inicial.
Califórinia Projetos para tráfego pesado e locais de difícil acesso para manutenção.
Connecticut Rodovias construídas nos anos 1960 só apresentaram defeitos após suportar o dobro do tráfego de projeto.
Georgia PCCA com 20 anos de operação em ótimo desempenho.
Georgia Sucesso com recapeamento de pavimentos asfálticos e de PCS com PCCA.
Illinois PCCA da década de 1960 suportando um tráfego maior do que aquele de projeto.
Illinois Recapeamento de PCCA com asfalto não apresenta reflexo de fissuras.
Mississippi Desempenho altamente satisfatório das 89 seções com PCCA.
Oklahoma De 36 seções construídas nos anos 1970, somente duas precisaram de reabilitação.
Oregon Desempenho excelente; anos em operação maiores do que o tempo de projeto.
Virginia PCCA com 25 anos de serviço em ótimo estado.
Canada Sucesso do PCCA, apesar das variações de mais de 60 ºC de uma estação para a outra .
França Poucas seções se aproximando dos 15 anos de serviço sem defeitos.
Bélgica Projetos de 1970 recebendo os primeiros recapeamentos 30 anos depois
Reino Unido Alguns PCCA em operação desde 1980. Técnica abandonada pelo alto custo inicial (primeiro fator de decisão)
Espanha Construção desde 1975 com ótimo desempenho e exigindo um mínimo de manutenção
Holanda Experiência excelente com seções construídas durante os anos 1980

CONCRETO & Construções | 101


tração do concreto, o processo de cura
u Tabela 2 – Parâmetros obtidos com corpos de prova moldados durante
a concretagem no PCCA é bastante importante. Alguns
estudos aconselham a execução da con-
Módulo de cretagem ao final do dia ou à noite para
Resistência Módulo de ruptura*
Seção elasticidade**
à compressão* (MPa) (MPa) evitar uma rápida secagem da massa de
(MPa)
concreto. Em geral, as especificações in-
2 38.4 5.02 21,526 / 28,614 / 28,350
ternacionais limitam a execução da placa
3 34.5 – –
de PCCA entre temperaturas de 10 e 32
4 29.5 – –
ºC. O umedecimento da base asfáltica
* Valores médios; ** Valores individuais.
aliada à utilização de compostos quími-
cos de cura e mantas úmidas na placa
fissuração, diminuindo o espaçamento, do à pequena abertura das fissuras, o também são apontados como proce-
o que pode ser prejudicial pelo potencial PCCA não sofre corrosão da armadu- dimentos adequados de cura. No caso
de intersecção de fissuras. Entretanto, ra; em dados de pavimentos de mais das seções experimentais aqui descri-
altas taxas também provêm uma aber- de 20 anos de operação na Holanda e tas, utilizou-se manta úmida durante os
tura de fissuras mínima. No início dos Bélgica, a perda média da seção foi de primeiros dias após a concretagem. Na
anos 1990, houve uma mudança no menos de 0,04%, ou seja, irrisória. No Figura 2, são apresentados os dados de
foco das análises de desempenho do projeto aqui descrito, a profundidade temperatura e umidade relativa do ar du-
PCCA; anteriormente, todo o dimensio- da armadura está a 100 mm da super- rante o mês de construção. Nota-se que
namento era baseado no espaçamento fície, 20 mm da meia altura da placa. as seções 3 e 4 sofreram variações de
de fissuras (ideal de 0,9 a 2,4 m); com Segundo alguns estudos, bases as- temperatura nos dias seguintes à cons-
isso, as taxas ficavam entre 0,5 e 0,6%; fálticas apresentam um melhor desem- trução muito mais severas do que as se-
porém, observou-se que, embora as penho do que bases granulares e em ções 1 e 2. Supõe-se que este fato ajude
fissuras estivessem mais bem espaça- concreto para o PCCA pelo baixo poten- a explicar o menor número de fissuras
das, a transferência de carga entre elas cial de erosão que elas apresentam. Por visíveis na superfície nas seções 1 e 2. A
era pouco satisfatória, levando ao acú- isso, deliberou-se pelo uso do material Figura 3 traz o resumo geral do projeto
mulo de tensões na placa e causando o asfáltico como base em todas as seções; das seções experimentais.
aparecimento de fissuras longitudinais a camada possui 60 mm de espessura. As imagens das Figuras 4 e 5 mos-
por fadiga. Passou-se, então, a focar o Devido à fissuração ocorrer pela re- tram detalhes do processo construti-
projeto na abertura da fissura (máxima
de 1 mm) e na utilização de taxas mais
altas (entre 0,7 e 0,8%).
A posição da armadura longitudinal
também é muito discutida. Sabe-se
que, quanto mais perto da superfície,
mais apertadas ficam as fissuras e me-
lhor é a transferência de carga entre
elas. Todavia, normas internacionais
regulam um cobrimento mínimo de 76
mm para evitar a corrosão da armadura
pela infiltração de água. Em relação à
perda da seção da armadura pela oxi-
dação, alguns estudos se empenharam
em quantificar tal perda pelo tempo
u Figura 2
de serviço do pavimento. A conclusão
Dados climáticos do mês de construção
da grande maioria deles é que, devi-

102 | CONCRETO & Construções


vo das seções experimentais e a pista cas fissuras emergissem na superfície fissuras estejam em todas as placas,
em operação. da placa. Como resultado, o mapa de porém imperceptíveis na superfície.
fissuração (Figura 6) do PCCA de cur- As Figuras 7 e 8 mostram a evolução
3. ESPAÇAMENTO E ABERTURA ta extensão foi muito diferente daquele do espaçamento médio entre fissuras
DE FISSURAS encontrado em PCCA tradicionais. A através do tempo e a distribuição per-
A falta de ancoragem permitiu uma seção 1, por exemplo, ainda não apre- centual do espaçamento nas seções
maior movimentação do volume de senta nenhuma fissura. 3 e 4, respectivamente; na Figura 7,
concreto durante a retração inicial. Isso, O conhecimento básico de con- o comprimento total da seção (50 m)
aliado a pouca aderência da base as- creto diz que uma superfície de 50 foi considerado como o espaçamen-
fáltica e ao efeito de amarração da ar- m sem fissuras ou juntas é altamente to inicial; este valor só foi modificado
madura longitudinal, fez com que pou- improvável; supõe-se, então, que as com a visualização da primeira fissura

Lado Esquerdo Posicionamento das Barras da Armadura Lado Direito

SEÇÃO 4 Seção 2

Espessura do Concreto Espessura do Concreto


240 mm 240 mm

Espessura da base Espessura da base


CAUQ 60 mm CAUQ 60 mm

Espessura da sub-base Espessura da sub-base


(Macadame Seco) (Macadame Seco)
300 mm 300 mm

Taxa de Armadura Taxa de Armadura


CA-50 com 0,4% a cada 300 mm CA-50 com 0,7% a cada 170 mm
(Diâmetro das Barras = 20mm) (Diâmetro das Barras = 20mm)

Barras transversais Barras transversais


Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m

SEÇÃO 3 Seção 1

Espessura do Concreto Espessura do Concreto


240 mm 240 mm

Espessura da base Espessura da base


CAUQ 60 mm CAUQ 60 mm

Espessura da sub-base Espessura da sub-base


(Macadame Seco) (Macadame Seco)
300 mm 300 mm

Taxa de Armadura Taxa de Armadura


CA-50 com 0,5% a cada 230 mm CA-50 com 0,6% a cada 200 mm
(Diâmetro das Barras = 20mm) (Diâmetro das Barras = 20mm)

Barras transversais Barras transversais


Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m Diâmetro = 20 mm a cada 0,9 m

u Figura 3
Detalhes das seções da pista experimental

CONCRETO & Construções | 103


em outubro de 2011 na seção 3, qua- começou a diminuir mais rapidamen- visível só foi identificada após 500
se 400 dias após a construção. Com te nas seções 3 e 4 até que alcan- dias da construção e diferentemente
o aparecimento da primeira fissura, çou um aparente patamar em dois das seções 3 e 4, o decréscimo do
o espaçamento médio entre fissuras anos. Na seção 2, a primeira fissura espaçamento tem sido mais lento.

a b

Armadura longitudinal (seção 1) Base asfáltica (seção 4)

c d

Cura Concretagem (seção 2)

e f

Adensamento (seção 4) Concretagem (seção 2)

u Figura 4
Detalhes da execução da pista experimental

104 | CONCRETO & Construções


O espaçamento médio entre fissuras agravada pelo fato de que o último cam o intervalo de espaçamento reco-
do PCCA curto (seções 3 e 4) é mais patamar de espaçamento é alcança- mendado por estudos internacionais;
que o dobro daquele encontrado em do em menos de um ano. As linhas o gráfico mostra que somente 27%
PCCA tradicionais; uma diferença vermelhas e verticais na Figura 8 mar- do espaçamento da seção 3 pode

a b

Acabamento (seção 3) Texturização (seção 1)

c d

Junta entre a pista e o pavimento intertravado (seção 1) Armadura longitudinal (seção 4) e cura (Seções 1 e 2)

e f

Pista em operação (vista da seção 4) Pista em operação (vista da seção 3)

u Figura 5
Detalhes da execução da pista experimental

CONCRETO & Construções | 105


que as seções 3 e 4 apresentaram
0,55 e 0,33 mm, respectivamente; a
1 temperatura média durante o levan-
tamento foi de 16 ºC. Em contraste,
16,25 29,8 3,95 em um dia quente de verão em janeiro
de 2013, as médias foram de 0,1 mm

2 (seção 2), 0,37 mm (seção 3) e 0,26


mm (seção 4). A temperatura alcan-
çou os 27 ºC naquele dia em particu-
lar; as duas fissuras na seção 2 esta-
vam quase invisíveis.
3
4. TRANSFERÊNCIA DE CARGA
9,97 6,52 8,12 4,68 3,61 3,48 2,25 2,25 1,6 3,63 3,9
EM FISSURAS E JUNTAS
O método mais usual para aferir a
OUT/2011
4 JAN/2012 transferência de carga entre fissuras/
FEV/2012 juntas (LTE) é a utilização de um tes-
MAR/2012
te com o Falling Weight Deflectometer
4,37 5,29 6,57 9,53 6,64 5,64 7,3 4,66 SET/2012
NOV/2012 (FWD). O FWD é classificado como um
ensaio não destrutivo onde, através
de sensores em posições preestabe-
u Figura 6
Mapa de fissuras atualizado (maio/2014) lecidas, é possível captar as ondas de
acelerações verticais (deslocamentos)
ser considerado como ideal; também com uma régua (Figura 9); este méto- que ocorrem na superfície, decorren-
é visível que, para ambas as seções, do, embora rápido, permite somente tes de uma carga. Para a determina-
não existem espaçamentos menores a determinação da abertura na super- ção das deflexões (descolamentos
do que 1,5 m, o que implica uma pe- fície do pavimento. A abertura média verticais) sofridas pelo pavimento,
quena possibilidade de aglomeração das fissuras no último levantamento, essas ondas de deslocamento são
de fissuras e consequentes intersec- realizado em maio de 2013, foi de duplamente integradas por um sof-
ções de fissuras. A experiência com 0,17 mm para a seção 2, enquanto tware acoplado ao equipamento. O
PCCA tradicionais mostra que a por-
centagem cumulativa do espaçamen-
to entre fissuras atinge 100% com um
espaçamento menor que 3,0 m para
pavimentos com dois anos de idade
e que, para pavimentos com um de-
sempenho satisfatório, os limites re-
comendados englobam de 50 a 90%
do espaçamento.
Por outro lado, de maneira aná-
loga aos PCCA tradicionais, os le-
vantamentos de abertura da fissura
comprovaram a influência da porcen-
tagem de armadura e principalmente
u Figura 7
da temperatura nesse parâmetro. A
Evolução do espaçamento médio
mensuração da abertura foi realizada

106 | CONCRETO & Construções


100%
90%
Porcentagem acumulada

80%
70%
60%
50%
Seção 3
40%
30% Seção 4

20%
10%
0%
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Espaçamento entre fissuras (m)
u Figura 9
u Figura 8 Medição da abertura da fissura
Espaçamento nas seções 3 e 4

equipamento surgiu como uma solu- sura/junta; nela, a porcentagem de [1]


ção muito mais precisa e de excelente transferência de carga é determinada
repetitividade na medida de deflexões por meio de testes com aplicação de Onde:
em comparação com a Viga Benkel- carga adjacente à fissura/junta, sendo δ1 = Deflexão na placa carregada;
man, justamente pela mínima influên- mensuradas a deflexão na placa sob δ2 = Deflexão na placa sem carregamento.
cia do operador nas leituras. a carga aplicada e a deflexão na placa Nos estudos aqui comparados,
Para determinar a LTE das fissu- sem o carregamento, ou seja, à mesma descritos anteriormente por Salles e
ras, a maneira mais simples e mais distância da fissura, sendo considera- Balbo (2014) e Colim et al. (2011), a
corriqueiramente utilizada é a relação das deflexões em simetria. O cálculo é configuração de sensores do equipa-
entre deflexões antes e depois da fis- realizado através da Equação 1. mento utilizado era de 0, 20, 30, 45,
60, 90 e 120 cm, sendo o prato de
aplicação de carga com diâmetro de
30 cm posicionado no primeiro sen-
sor, decidiu-se utilizar as deflexões
medidas pelo sensor nos pontos 0 e
30, conforme mostra a Figura 10. A
carga estipulada previamente foi de
60 kN em função da necessidade de
um melhor detalhamento das leituras
de deflexões, o que uma carga menor
poderia não fornecer visto a elevada
rigidez de um pavimento de concreto
com altas taxas de armadura.
O PCS experimental descrito por
Colim et al. (2011) é composto de
15 placas em uma área de estaciona-
u Figura 10
mento bastante próxima à pista ex-
Posicionamento do equipamento para medir a LTE da fissura/junta
perimental de PCCA. São placas com

CONCRETO & Construções | 107


u Tabela 3 – Seções de pavimento de concreto simples na USP

Comp. Esp. Esp. da base


Seção Placa Base Barras
(m) (mm) (mm)
A1 4 150 GRA 200
A A2 5.5 150 GRA 200
A3 7.5 150 GRA 200
B1 4 150 CCR 200
B B2 5.5 150 CCR 200
B3 7.5 150 CCR 200
Em ambas as juntas
C1 4 250 CCR 100
C C2 5.5 250 CCR 100
C3 7.5 250 CCR 100
D1 4 250 GRA 100
D D2 5.5 250 GRA 100
D3 7.5 250 GRA 100
E1 5.5 250 GRA 100
E E2 5.5 250 GRA 100 Somente nas placas E1 e E2
E3 5.5 250 GRA 100

espessura de 150 e 250 mm sobre res de LTE acima de 90%, ou seja, al- namento das barras de transferência,
bases granulares ou de concreto com- tamente satisfatórios. Nas juntas com tão comuns no segundo, são evitados
pactado com rolo (CCR). Somente uma barras de transferência do PCS, os va- no primeiro.
das placas não apresenta barras de lores também são altos, porém algu-
transferência nas juntas. A tabela 3 traz mas juntas (B1, B3 e C3) apresentam 5. CONCLUSÕES
a descrição das seções. valores abaixo de 90%, o que pode ser Neste artigo foi apresentado o pa-
um indicativo de problema construtivo vimento de concreto continuamente
4.1 Resultados de LTE leve. Nas juntas sem barras de transfe- armado (PCCA) com destaque ao reco-
rência, o LTE foi baixo justamente por- nhecido sucesso internacional da estru-
Na Figura 11, são apresentados que nesses pontos a transferência de tura devido a sua elevada durabilidade
os valores individuais de LTE para as carga dá-se somente por intertrava- e baixa necessidade de manutenção.
fissuras do PCCA (numeradas con- mento de agregados. A superioridade Os detalhes construtivos de quatro se-
forme a Figura 6) e para as juntas do das fissuras do PCCA está no conceito ções experimentais de curta extensão
PCS. Nos PCA foram coletados dados de que nesta estrutura a transferência mostram que a ausência de juntas de
em junho de 2006 e março de 2007 de carga também ocorre unicamente retração facilita o processo de execu-
contemplando estações climáticas di- por intertravamento de agregados; a ção desse pavimento e o torna menos
ferentes. Nota-se um pequeno aumen- armadura longitudinal somente man- suscetível a erros de projetos típicos do
to da LTE média quando as tempera- tém as fissuras apertadas. Portanto, pavimento de concreto simples (PCS).
turas estão mais quentes, resultado da mesmo sem barras de transferência A análise do padrão de fissuração
expansão natural do concreto, que au- e no inverno, onde as fissuras ficam do PCCA de curta extensão mostra
menta o contato entre agregados faci- mais abertas, o PCCA apresenta va- que a falta de ancoragem, aliada à ri-
litando a transferência de carga. Para o lores de LTE maiores que 90%. Além gidez da base e à presença de uma
PCCA, somente foram obtidos dados disso, devido ao processo construtivo elevada taxa de armadura, faz com
de julho de 2013. Como visto, todas do PCCA ser mais homogêneo do que que nem todas as fissuras fiquem apa-
as fissuras do PCCA apresentam valo- no PCS, erros localizados no posicio- rentes na superfície da placa. Como

108 | CONCRETO & Construções


98
96
94
92
90
88
86
84
82
80
78
76
74
72
70

E1

E3
C1

C3
B1

B3
F4.3

F3.3
F4.5

F3.5
F4.2
F4.1

F3.2
F3.1
F2.2
F2.1
A1
F3.9

A3
F4.7

F3.7
F4.6

F3.8

F3.6
F3.10

D1

D3
F4.4

F3.4
PCCA PCS

Inverno Verão

u Figura 11
Comparação de LTE em juntas e fissuras

resultado disso, o espaçamento entre vamente, foram analisados dados de tencial de erros em juntas do PCS.
fissuras é muito maior do que aquele LTE de um PCS experimental localiza-
comumente encontrado em referên- do nas proximidades do PCCA. O efei- 6. AGRADECIMENTOS
cias internacionais. Porém, apesar das to da expansão natural do concreto Os autores são gratos à Fundação
diferenças no número de fissuras, o faz com que haja mais contato entre de Apoio à Pesquisa do Estado de São
principal parâmetro de avaliação do os agregados na junta, favorecendo a Paulo (FAPESP) pelo suporte forneci-
PCCA – a abertura de fissuras – apre- transferência de carga em dias quen- do ao estudo por meio do processo #
senta valores mínimos condizentes tes. A comparação de valores mostra 98/11629-5, ao Prof. Dr. Antonio Marcos
com exemplos de pavimentos com que, apesar das fissuras do PCCA não de Aguirra Massola, da EPUSP (Prefeito
ótimo desempenho. apresentarem barras de transferência, do Campus USP, Campus da Capital do
Testes com FWD nas fissuras per- a LTE é maior do que nas juntas dos Estado de São Paulo entre 2008 e 2010,
mitiram o cálculo da transferência de PCS com esses elementos. Além responsável pelo projeto de implantação
carga entre fissuras (LTE). Os resulta- disso, a uniformidade de valores da dos pavimentos experimentais) e a CA-
dos apontam uma LTE bastante eleva- LTE comprova a superioridade cons- PES (Ministério de Educação) pela bolsa
da para todas as fissuras. Comparati- trutiva do PCCA em relação ao po- concedida ao primeiro autor.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BALBO, J. T. (2009). Pavimentos de concreto. Oficina de Textos, São Paulo.


[02] COLIM, G. M.; BALBO J. T.; KHAZANOVICH, L. (2011) Effects of temperature changes on load transfer in plain concrete pavement joints. Ibracon Structures and
Materials Journal, Vol. 4, p. 405-437.
[03] SALLES, L. S.; BALBO, J. T. (2014) Experimental short continuously reinforced concrete pavement: crack pattern and load transfer efficiency across cracks. Anais
do 12th International Symposium on Concrete Roads, EUPAVE, Praga.
[04] TAYABJI, S. D. (2012) Continuously reinforced concrete pavement performance and best practices. TechBrief. FHWA-HIF-12-039.
[05] TAYABJI, S. D.; STEPHANOS, P. J.; VEDEREY, J. R; GAGNON, J. S.; ZOLLINGER, D. G. (1998) Performance of Continuously Reinforced Concrete Pavement. Volume
I, II and III: Field Investigations of CRC Pavements. FHWA-RD-94-149, FHWA, U.S. Department of Transportation.

CONCRETO & Construções | 109


u pesquisa e desenvolvimento

Grau de saturação nos


modelos de durabilidade do
concreto armado para
ataque por cloretos
ANDRÉ T. C. GUIMARÃES – Professor-Doutor
JORGE L. S. BANDEIRA – Mestrando
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

JESUS M. B. CAMACHO – Professor-Doutor


Universidad Autónoma de Sinaloa – México

1. INTRODUÇÃO to, por ser aproximadamente o teor ção RC, RT, RGS, RSC, respectivamente,

O
s modelos deterministas de despassivação do aço no interior a partir de coeficientes de difusão ob-
de penetração de agentes do concreto) depende da concen- tidos em laboratório executados com
agressivos no concreto tração de cloretos na superfície da cimento Portland comum e com GS
normalmente levam em consideração a estrutura, da temperatura, do tem- de 100%:
segunda lei de Fick. po de exposição e do coeficiente de
difusão do concreto. Por sua vez, o Dconst.Cl- (ef) = Dconst.Cl- (lab.). RC.RT.RGS.RSC [2]
CcCl - C O x
= erfc [1] coeficiente de difusão do concreto
C Seq - C O 2 D.t
depende das características do con- Sendo:
Sendo: creto e do meio ambiente em que Dconst.Cl- (ef) : coeficiente de difusão consi-
CcCl: concentração de cloretos na pro- está inserido. derando as condições de exposição no
fundidade x, no tempo t; GUIMARÃES e HELENE (2000), micro- ambiente;
CO: concentração inicial de cloretos no CLIMENT et al. (2002) e NIELSEN e Dconst.Cl- (lab.)
: coeficiente de difusão
interior do concreto do componente GEIKER (2003) demonstraram que o obtido em laboratório na condição
estrutural; grau de saturação do concreto (GS) de concreto saturado (GS =100%),
CSeq: concentração de cloretos na su- tem grande influência na difusão executado com cimento Portland
perfície do componente estrutural de de cloreto. comum;
concreto, admitida constante; GUIMARÃES e RODRIGUES RC : coeficiente relacionado ao cimento;
D: coeficiente de difusão, admitido (2010), ao estimar o coeficiente do RT : coeficiente relacionado à temperatura;
constante; concreto, considera a influência do RGS: coeficiente relacionado ao GS;
erfc(z): função complementar de erro tipo de cimento, da temperatura mé- RSC: coeficiente relacionado à superfície.
de Gauss. dia por estação do ano, do GS e da Este trabalho tem o objetivo de
Na equação 1 a profundidade de posição da superfície de ataque em mostrar os avanços obtidos em pes-
penetração de teor de cloretos (nor- relação à superfície de concretagem quisas realizadas até a presente data
malmente considerado ao redor de sobre o coeficiente de difusão do clo- sobre a influência do GS na vida útil
0,4% em relação à massa de cimen- reto, aplicando coeficientes de redu- de projeto.

110 | CONCRETO & Construções


1,4E-11 1 Traço/a/c
0,9
1,2E-11 0,8 H1/0,54

1E-11 0,7 H2/0,45


D - m2/s

0,6

D/Dmax
8E-12
0,5 H3/0,63
6E-12 0,4
P1/0,54
4E-12 0,3
0,2 P2/0,45
2E-12 0,1
P3/0,63
0 0
40,0 60,0 80,0 100,0 40,0 60,0 80,0 100,0
GS - % GS - %

u Figura 1
Variação do coeficiente de difusão em relação ao GS de concretos executados com cimento de alta resistência inicial
com adição de fábrica de 12% de cinza volante, com abatimento de 10±1 cm – H (RODRIGUES e GUIMARÃES, 2008)
e com cimento pozolânico - P (GUIMARÃES e HELENE, 2007)

2. MODELOS DE INFLUÊNCIA DO Os corpos de prova não saturados são O melhor desempenho do concreto
GS NA DIFUSÃO DE CLORETOS mantidos em sacos plásticos (no míni- executado com cimento pozolânico em
mo 2) com massa relativa à umidade relação ao cimento ARI, conforme Fig. 1,
2.1 Cimento Portland pozolânico do GS desejado, sendo o excesso de é confirmado pelo ensaio de distribuição
e cimento de alta resistência ar retirado e os sacos plásticos lacra- de poros por intrusão de mercúrio (PIM),
inicial dos. Após aproximadamente 30 dias, apresentado na Fig. 2. Os concretos exe-
os corpos de prova são contaminados cutados com cimento pozolânico apre-
GUIMARÃES e HELENE (2007) mos- no topo com cloreto de sódio finamente sentam um refinamento de poros, obten-
tram a influência do GS na difusão de moído e novamente armazenados até do valores de percentual de poros mais
cloretos em diversos traços de concreto as idades de desgaste para obtenção interligados (D > Dcrit) bem inferiores aos
com cimento pozolânico. RODRIGUES do perfil de cloretos. concretos executados com cimento ARI.
e GUIMARÃES (2008) utilizam concreto
com cimento de alta resistência inicial –
100% 100%
ARI, com adição de fábrica de 12% de
80% 80%
cinza volante, e apresentam modelo da
60% 60%
variação de D/Dmáx em função do GS diam<50
40% 40% 50<diam<Dcrit
(Fig. 1), sendo D o coeficiente de difusão diam>Dcrit
20% 20%
para um GS e Dmáx o maior valor de co-
0% 0%
eficiente de difusão do concreto. P1 P2 P3 H1 H2 H3
GUIMARÃES e HELENE (2007) uti- GUIMARÃES e HELENE RODRIGUES e GUIMARÃES (2008)
(2007)
lizam corpos de prova de argamassa
peneirada do concreto de aproximada-
u Figura 2
mente 30 mm de diâmetro e 45 mm de Distribuição de poros conforme ensaio de porosimetria por intrusão de
altura e tempo de cura de 6 meses no mercúrio – diâmetro crítico (Dcrit) de 106 nm, 110 nm e 110 nm,
mínimo. Os corpos de prova saturados respectivamente, para P1, P2 e P3(GUIMARÃES e HELENE, 2007);
e 141 nm 119 nm e 163 nm, respectivamente, para H1, H2 e H3
são mantidos parcialmente submersos
(RODRIGUES e GUIMARÃES, 2008)
em recipiente hermeticamente fechado.

CONCRETO & Construções | 111


1.6E-11
1.4E-11 D = 1.483 .10- 15 . SD 2 - 2.420 .10- 14 . SD - 5.486 .10- 13 r = 0.964

1.2E-11
corpos de prova de 70 x 100 x 100 mm3
D [m /s] 1.0E-11
de argamassa executada com cimento
2

8.0E-12
de alta resistência inicial e curados por
6.0E-12
6 meses. A contaminação dos corpos
4.0E-12
de prova, após estabilização do GS, é
2.0E-12
obtida por imersão em solução de 26%
0.0E+00
de NaCl por duas horas e secos com
20 40 60 80 100 120
Saturation degree [%]
secador de cabelo, sendo novamente
armazenados por 60 dias, quando são
H-25 H1
obtidos os perfis de cloretos. Os cor-
pos de prova saturados são de 60 x
u Figura 3
100 x 100 mm3, os quais são mantidos
Comparação entre coeficientes de difusão para o concreto H1
e de CLIMENT et al. (2002), para concreto H25 (GUIMARÃES em uma solução de 3% de NaCl por
e RODRIGUES, 2010) 30 dias, quando são desgastados para
obtenção dos perfis de cloreto.
2.2 Comparação com resultados perfis de cloretos. Na Fig. 4 são comparados os re-
de CLIMENT et al. (2002) GUIMARÃES e RODRIGUES (2010) sultados de concretos similares de
comparam valores de coeficiente de di- RODRIGUES e GUIMARÃES (2008) e
CLIMENT et al. (2002) utiliza corpos fusão em função do GS para o concreto NIELSEN e GEIKER (2003). Os resulta-
de prova de concreto de 100 mm de H1 e valores obtidos por CLIMENT et al. dos são muito próximos, sendo os mé-
diâmetro e 200 mm de altura., sendo (2002) para concreto similar (H-25) (Fig. todos de ensaio diferentes.
curados por aproximadamente 6 me- 3). Embora os métodos utilizados apre-
ses. Os corpos de prova são mantidos sentem significativas diferenças, a curva 2.4 Comparação com resultados
em câmaras com umidade relativa con- ajustada apresenta boa correlação. de BANDEIRA et al. (2014)
trolada para obtenção do GS desejado
e a contaminação do topo é feita em 2.3 Comparação com resultados BANDEIRA et al. (2014) realizam
câmara de queima de PVC. Após tem- de NIELSEN e GEIKER (2003) ensaios seguindo o método de GUI-
pos pré-determinados, os corpos de MARÃES e HELENE (2007), utilizando
prova são desgastados e obtidos os NIELSEN e GEIKER (2003) utilizam corpos de prova de aproximadamente
100 mm de diâmetro e 50 mm de al-
tura. Utilizam concretos denominados
1,60E-11
M1, M2 e M3, todos executados com
1,40E-11
cimento espanhol ARI, sendo M2 e M3
1,20E-11
com adição, conforme Tab. 1.
1,00E-11
D - m2/s

H1 A Fig. 5 apresenta a comparação


8,00E-12
NIELSEN dos resultados de BANDEIRA et al.
6,00E-12
(2014) com concreto H2 de RODRI-
4,00E-12
GUES e GUIMARÃES (2008) e P2 de
2,00E-12
GUIMARÃES e HELENE (2007), aqui
0,00E+00
40 50 60 70 80 90 100
denominado T2, ambos com relação
GS - % a/c de 0,45, sendo H2 executado
com cimento ARI e P2 com cimento
u Figura 4 CP IV – 32.
Comparação entre coeficientes de difusão para o concreto H1 (RODRIGUES O concreto H2, executado com ci-
e GUIMARÃES, 2008) e de NIELSEN GEIKER (2003), ambos com cimento mento ARI com resistência de 48 MPa
ARI e traços similares
e 12% de cinza volante apresenta

112 | CONCRETO & Construções


30,00

25,00
a/c, maior o GS. Possivelmente isso se
M1
20,00
D (10-6. mm2/s)

deve ao refinamento dos poros, reten-


M2
do a umidade no interior do concreto
15,00 M3 por mais tempo.
10,00 H2 Concretos expostos a uma distância
T2 maior da água do mar apresentam GS
5,00 menores, como pode ser observado na
Figura 8, comparando os testemunhos
0,00
PS expostos no pavilhão do TECON
0 20 40 60 80 100 120
(Fig. 7d) e Rack-Poz-L, que apresentam
GS (%)
características similares e foram exe-
cutados com cimento pozolânico CP
u Figura 5
IV - 32. Os testemunhos PS expostos
Coeficiente de difusão em função do GS e tipo de cimento
(BANDEIRA et al.; 2014) no paramento do cais, junto ao ponto
de extração (Fig. 7a), apresentaram GS
desempenho aproximado ao concreto ambiente. O mesmo observaram RO- menores que testemunhos PS expos-
M3, com cimento ARI com 52,5 MPa de DRIGUES e GUIMARÃES (2008) para tos no pavilhão, possivelmente devido à
resistência e com adição de 20% de es- concretos utilizando o mesmo aglome- grande movimentação de navios, fican-
cória de alto forno. O concreto M1, com rante, ou seja, quanto menor a relação do os testemunhos confinados junto ao
cimento ARI, mesmo com relação a/c
de 0,40, apresentou desempenho bem u Tabela 1 – Dosagem dos concretos utilizados no estudo experimental
inferior aos demais concretos. Já o M2, BANDEIRA et al. (2014)
com 10% de micros-sílica, aproximou-
M1 M2 M3
-se em desempenho do concreto T2, Materiais Unidade
CP CPHS CPEAH
com cimento CP IV – 32, sendo seu de-
Cimento CEM I 52,5 R (UNE-EM 197-1, 2000) Kg/m³ 400 320 320
sempenho inferior para graus de satura-
Sílica Ativa (10% e K=2) Kg/m³ 0 40 0
ção abaixo de aproximadamente 90%.
Escória de alto forno (20% e K=1) Kg/m³ 0 0 80

3. MEDIÇÕES DE GS SP (%) * superplastificante % 1,5 1,5 1,1

GUIMARÃES e HELENE (2007) Fator água/cimento** – 0,40 0,45 0,45


apresentam método para medição do (*) % referente ao peso do material cimentício; (**) M1=a/c, M2 e M3= a/(c+KF), onde F=adição.

GS do concreto por gravimetria (Fig.


6a), sendo utilizado para monitoramen-
to de testemunhos de concreto para
pesquisa (testemunhos em rack) (Fig.
6b) ou para monitoramento de estrutu-
ras existentes (Fig. 7). A Fig. 8 apresen-
ta alguns valores de GS (GUIMARÃES e
RODRIGUES, 2010).
Observa-se que concretos de me-
lhor qualidade apresentam GS maiores a b
em relação a concretos mais pobres,
quando se compara concreto executa- u Figura 6
do com cimento pozolânico com con- a) Medição de GS por Gravimetria, b) exposição de testemunhos em rack
a 1.200 m de distância da água do mar, no extremo sul do Brasil
creto executado com cimento ARI de
(GUIMARÃES e HELENE, 2007)
mesmo traço (Fig. 8), para um mesmo

CONCRETO & Construções | 113


cais e, portanto, parcialmente protegi-
dos de intempérie.

4. ESTUDOS DE CASO
A seguir são apresentados resulta-
dos de estudos de caso onde foram
obtidos perfis de cloretos em estruturas
em uso com idade superior a 20 anos.
Foram comparados os perfis medidos
na idade da extração das amostras
com os resultados do modelo determi-
nístico baseado na segunda lei de Fick
u Figura 7
não considerando o GS e consideran- Medição de GS no extremo sul do Brasil: a) Cais do Terminal
do o GS. de Conteiners - TECON- pontos PS e PI – cimento CP IV-32,
A Figura 9 apresenta valores de co- b) Cais do TECON – pontos ES e EI – cimento CP IV-25, c) Torre de
telecomunicações – medição a 40 m de altura e à 500 m do mar – cimento
eficiente de penetração de íons cloreto
Portland comum, d) Testemunhos do ponto PS expostos em pavilhão no
(k), conforme equação 3, para o ponto TECON, ponto a 10 m de altura e à 120 m do mar
PS – TECON (GUIMARÃES e RODRI- (GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010)
GUES, 2010), relativo à viga de para-
mento de cais marítimo no extremo sul cais, relativo a estacas prancha (Fig. o GS, foi de 150% e, considerando o
do Brasil (Fig. 7a). O concreto desta 7b), o erro não considerando o GS e GS, este erro baixa para 61%. Para os
estrutura foi executado com cimento considerando o GS foram de 141% e pontos ES e EI, os erros considerando
pozolânico. 45%, respectivamente. Para o ponto o GS ainda são altos, embora tenha
EI (Fig. 7b), o erro, não considerando reduzido muito em relação ao modelo
c = k(t)1/2 [3]

90
c: profundidade de ataque - mm;
k: coeficiente de penetração do cloreto
80 PS
– mm.ano-1/2; ES
t: tempo de ataque – ano. EI
Grau de Saturação - %

70
Conforme equação 3, k é propor- Pavilhão
Torre
cional a profundidade de ataque, sen- 60
Rack-Poz-L
do kmedido obtido diretamente no perfil
Rack-Poz-b
de cloretos obtido na estrutura (Figura 50 Rack-Poz-i
9a) e Kestimado, considerando ou não o Rack-ARI-L
GS, obtido através das equações 1, 2 40 Rack-ARI-b

e 3, sendo Dconst.Cl- (lab.) o coeficiente de Rack-ARI-i

difusão para concreto saturado (HELE- 30


NE;1994) (Figs. 9b, 9c e 9d). verão outono inverno primavera

Observa-se que o modelo apre- *L – testemunho com superfície lateral, em relação à superfície de concretagem, exposta para o sul;
b – testemunho com superfície exposta para baixo (ambiente aberto protegido de intempérie;
senta um erro de 128% quando não i – testemunho exposto ao ambiente de laboratório (interno).
considerado o GS (Fig. 9d) e que este
erro cai para 3,6% quando considera- u Figura 8
do o GS (Fig. 9b), em relação ao valor Valores de GS para os pontos PS, ES, EI; testemunhos de PS expostos no
pavilhão do TECON; Torre; rack para o traço P1(Poz) e para o traço H1(ARI)
obtido no perfil medido aos 22 anos
(GUIMARÃES e RODRIGUES, 2010)
(Fig. 9a). Para o ponto ES do mesmo

114 | CONCRETO & Construções


16,00 14,81 12,74
14,00
12,00
não considerando o GS, provavelmen- 10,00
te porque as estacas pranchas foram 8,00
5,57 5,77
6,00
executadas com cimento CP IV – 25 e 2,659
4,00
os modelos da influência do GS sobre 1,000 1,036 2,287
2,00
a difusão de cloretos foram realizados 0,00
com concretos executados com ci- a b c d
mento CP IV – 32. K(mm.ano-1/2) K/Kmedido
Para um ponto situado a 40 m de
altura da Torre de telecomunicações
u Figura 9
em ambiente marítimo (Fig. 7c), o erro Coeficiente de penetração de íons cloretos – K(mm.ano-1/2) – Ponto PS -
não considerando o GS foi de 106%, a) Medido aos 22 anos: obtido através da curva teórica por regressão;
diminuindo para 17% quando conside- b) Modelo: considerando o modelo com os fatores (fck – variação da
rado o GS.
resistência; Cimento – tipo de cimento; T – variação da temperatura;
GS – variação do Grau de saturação; SE – posição da superfície exposta
Observa-se uma grande influência em relação à superfície de concretagem); c) Não considerando SE e GS;
do GS na difusão de cloretos no con- d) Não considerando somente GS (GUIMARÃES e RODRIGU ES, 2010)
creto, sendo, portanto, muito importan-
te a sua consideração nos modelos de derado constante, devido aos métodos em relação a concretos inferiores,
vida útil. de ensaios desenvolvidos. quando expostos a um mesmo am-
Considerando os materiais e con- biente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS cretos utilizados nesta pesquisa, o Concretos de melhor qualidade,
Mesmo utilizando métodos diferen- cimento pozolânico apresentou co- como os executados com cimento po-
tes, as pesquisas de GUIMARÃES e eficientes de difusão mais baixos em zolânico, têm o coeficiente de difusão
HELENE (2007), CLIMENT et al. (2002) relação aos cimentos ARI, mesmo significativamente reduzido entre 100%
e NIELSEN e GEIKER (2003) obtiveram considerando a maior resistência do e 90% de GS. Os piores, com cimen-
resultados muito próximos consideran- Cimento ARI. O concreto executado to ARI, podem ter seu coeficiente de
do cimentos similares, sendo que, nas com cimento ARI com 10% de micros- difusão diminuído significativamente
duas últimas pesquisas foram utilizadas sílica foi que mais se aproximou em para valores de GS menores que 75%,
as equações de Fick, considerando a desempenho do concreto executado como o concreto H3.
massa total que sofre difusão como com cimento pozolânico de mesma Devido à influência do GS no coefi-
uma constante, enquanto na primeira relação a/c. ciente de difusão do concreto, conside-
pesquisa, o valor do teor de cloretos na Concretos de melhor qualidade ra-se muito importante considerar este
superfície do concreto é que foi consi- apresentam grau de saturação maior fator nos modelos de vida útil.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] GUIMARÃES, A.T.C.; HELENE, P.R.L. The moisture effect on the diffusion of chloride ion in hydrated cement paste. In: Marine Corrosion in Tropical Environments,
ASTM STP 1399, S.W. Dean, G. Hernandez-Duque Delgasillo, and J.B. Bushman, Eds. American Society for Testing and Materials, West Conshohocken, PA, 2000.
[02] CLIMENT, M. A.; VERA, G.; LÓPEZ, J. F.; VIQUEIRA, E.; Andrade, C. A test method for measuring chloride diffusion coefficients through nonsaturated concrete –
Part I: The instantaneous plane source diffusion case. Cement and concrete Research, v 32, p. 1113-1123, 2002.
[03] NIELSEN, P. E.; GEIKER, M. R. Chloride diffusion in partially cementitious material. Cement and Concrete Research, v33, p. 133-138, 2003.
[04] GUIMARÃES, A.T.C.; RODRIGUES, F.T. Influência do grau de saturação na difusão de cloretos no concreto: visão geral de sua importância na estimativa de vida
útil. Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.15, p.11-18, 2010.
[05] GUIMARÃES, A.T.C.; HELENE, P.R.L. Models of variation of chloride ion diffusion as a function of changes in the saturation degree (SD) of concrete mixes prepared
with pozzolanic cement. Integral Service Life Modelling of Concrete Structures - RILEM Workshop TC-MAI,- Guimarães, p. 63-70, 2007.
[06] RODRIGUES, F.T.; GUIMARÃES, A.T.C. Influência do grau de saturação na difusão de cloretos para concreto executado com cimento ARI-RS. 50º Congresso
Brasileiro do Concreto, Salvador, 2008. CD.
[07] BANDEIRA, J.L.S.; CAMACHO, J.M.B; GUIMARÃES, A.T.C. Influência do grau de saturação na penetração de cloretos em concretos executados com cimento de
alta resistência inicial - Iº Encontro Luso-Brasileiro de Degradação em Estruturas de Concreto Armado, Salvador, 2014.
[08] HELENE, P. R. L. Contribuição à normalização: A resistência sob carga mantida e a idade de estimativa da resistência característica; Durabilidade e vida útil das
estruturas de concreto armado. São Paulo, 1994. (Monografias. EPUS).

CONCRETO & Construções | 115


u pesquisa e desenvolvimento

Resistência ao ataque por


cloretos em concreto com cinza
do bagaço da cana de açúcar
ROMEL DIAS VANDERLEI – Professor doutor e Coordenador
HUGO SEFRIAN PEINADO – Engenheiro Civil, Mestre e Pesquisador
MARISA FUJIKO NAGANO – Engenheiro Civil, Mestre e Pesquisadora
Grupo de Desenvolvimento e Análise do Concreto
Estrutural da Universidade Estadual de Maringá

1 INTRODUÇÃO cesso de cogeração de energia libere di- gado à cinza do bagaço da cana de

O
Brasil é o maior produtor óxido de carbono (CO2) para a atmosfera, açúcar, uma vez que a CBC não possui
de cana de açúcar no mun- a quantidade de emissões é significativa- características fertilizantes.
do e também o principal mente menor, comparada com outras Dependendo das condições de
exportador de seus derivados (etanol e fontes de energia como o petróleo, em queima do bagaço, podem ser geradas
açúcar). A Política Nacional de Biocom- função da produção da mesma quanti- CBC com atividade pozolânica (estado
bustíveis assegura ao setor a expec- dade de energia, o que acaba por cor- amorfo) ou não (estado cristalino). As
tativa de grande desenvolvimento por roborar estudos relacionados à produção CBC no estado amorfo podem ser uti-
meio do incentivo à participação dos de energia com processos alternativos lizadas como materiais pozolânicos e
biocombustíveis na matriz de combus- e também estudos que abordem sobre substituir parte do cimento, enquanto
tíveis brasileira, por serem resultantes possíveis aplicações técnicas com valor que as CBC no estado cristalino são
de fontes renováveis e, também, por agregado para os resíduos oriundos de inertes e podem ser utilizadas como fíler
trazerem contribuições econômicas, tais atividades. na produção de concretos.
sociais e ambientais (BESSA, 2011). A geração da cinza do bagaço de Assim, no estudo da cinza do baga-
Assim como o vinhoto, torta de fil- cana de açúcar (CBC) ocorre na quei- ço da cana de açúcar, além do desen-
tração, palha, levedura, dentre outros, o ma do bagaço nas caldeiras durante volvimento da tecnologia de agregados
bagaço da cana de açúcar é um subpro- o processo de cogeração de energia, alternativos para a indústria do concre-
duto das agroindústrias sucroalcooleiras. sendo essa uma fase complementar do to e de substituintes parciais para o ci-
Estima-se que toda energia necessária aproveitamento do bagaço de cana de mento, valoriza-se também a utilização
para o funcionamento do processo da açúcar no processo de obtenção do de um subproduto agroindustrial gera-
usina (mecânico, elétrico, acionamento açúcar e álcool (FREITAS, 2005). do nas usinas sucroalcooleiras, agre-
das bombas, moendas e para o proces- Após o processo de queima do gando novos valores há um subproduto
so de destilação e concentração do cal- bagaço da cana de açúcar, o principal que é descartado em lavouras.
do) pode ser abastecido pelo sistema de destino para a CBC são os depósitos
cogeração de energia usando somente junto ao local de saída, de onde serão 1.1 Resistência do concreto
o bagaço de cana queimado nas caldei- removidas por caminhões tendo como ao ataque por cloretos
ras como fonte energética, o que pode destino a disposição em lavouras. No
tornar a usina energeticamente autossu- entanto, conforme destacam Paula Um concreto durável, conforme
ficiente (FREITAS, 2005). Ainda, Freitas (2006) e Altoé (2013), esta aplicação destacam Mehta e Monteiro (2008),
(2005) destaca que, mesmo que o pro- é inadequada e não atribui valor agre- deverá preservar sua forma, qualidade

116 | CONCRETO & Construções


u Tabela 1 – Composição do concreto para os diversos teores de substituição

% CBC Cimento Areia CBC Brita


0 1,000 2,120 0,000 2,880
e capacidade de usos originais quando
submetido aos ambientes para o qual 5 1,000 2,014 0,106 2,880

foi projetado. De acordo com a ACI 10 1,000 1,908 0,212 2,880


201.2R – Guide to Durable Concrete 15 1,000 1,802 0,318 2,880
(2008), a durabilidade do concreto de 20 1,000 1,696 0,424 2,880
cimento Portland é determinada por 25 1,000 1,590 0,530 2,880
sua capacidade de resistir à ação de 30 1,000 1,484 0,636 2,880
intempéries, ataques químicos (sulfatos 40 1,000 1,272 0,848 2,880
e cloretos, por exemplo), à abrasão ou 50 1,000 1,060 1,060 2,880
a qualquer outro tipo de deterioração.
Aïtcin (2000) destaca que a expressão
“durabilidade do concreto” caracteriza- to formado apresenta maior resistên- rística à compressão de 30 MPa, com
-se pela resistência deste material ao cia ao ataque de agentes agressivos traço unitário, em massa, de 1: 2,12:
ataque de agentes físicos e químicos. físicos e químicos. 2,88 (cimento: areia: brita), sendo a rela-
Conforme destaca Figueiredo ção água/cimento definida pelo ensaio
(2005), a literatura sobre durabilidade 2. OBJETIVO de Slump Test, segundo a ABNT NBR
de estruturas em concreto armado O presente estudo se propôs a ava- NM 67 - Concreto – Determinação da
frequentemente aborda a temática de liar a resistência ao ataque por cloretos consistência pelo abatimento do tronco
cloretos, ressaltando que esse é um em paralelo à resistência à compressão de cone (1998), para um abatimento de
dos maiores causadores de proble- do concreto, com substituição parcial 50 ± 10mm.
mas relacionados à corrosão de arma- da areia natural por CBC em percentu- Foram moldados 6 CPs para cada
duras. Segundo o autor, são diversos ais de 5, 10, 15, 20, 25, 30, 40 e 50%. um dos teores de substituição da areia
os fatores que influenciam na veloci- pela CBC, conforme se observa na Ta-
dade de penetração e profundidade 3. PROCEDIMENTOS bela 1, sendo os teores de substituição
dos íons cloreto (até que atinjam a ar- METODOLÓGICOS de 0% (concreto sem CBC), 5, 10, 15,
madura), sendo esses a composição, Para a elaboração do presente es- 20, 25, 30, 40 e 50%. Empregaram-se
tipo e quantidade de cimento, a rela- tudo, procedeu-se ao rompimento das CPs cilíndricos (10x20cm) para avaliar
ção água/cimento, o adensamento e a amostras para obtenção da resistência a resistência ao ataque por cloretos (3
cura, dentre outros. característica à compressão e à reali- CPs por teor de substituição) e a resis-
Segundo Almeida e Sales (2014), a zação do ensaio de penetração de clo- tência característica à compressão (3
porosidade e a permeabilidade apre- retos por aspersão de Nitrato de Pra- CPs por teor de substituição).
sentam uma parcela relevante na faci- ta (EPCANP), proposto pela AASHTO Este ensaio consistiu basicamente
litação da penetração de cloretos no T259 – Rapid determination of Chlo- dos procedimentos a seguir descritos,
concreto. Segundo os autores, alguns ride Permeability of Concrete – Stan- de acordo com o método EPCANP da
estudos evidenciam que a incorpora- dard Specification for Transportation of AASHTO T259 (1980) e conforme tam-
ção de agregados mais finos ou adi- Materials and Methods of Sampling and bém se observa na Figura 3.
ções minerais levam à diminuição na Testing (1980), que fornece o coeficien- u Após o período de cura em câmara
distribuição do volume de poros na te de difusão de cloretos do concreto úmida de cada série, o CP cilíndrico
matriz cimentícia, podendo resultar na a partir da profundidade de penetração 10x20cm correspondente foi corta-
redução significativa da penetração de destes íons no corpo de prova (CP) ao do com serra diamantada em duas
íons cloreto. longo do tempo. partes iguais, cada uma com as
Desse modo, estudos a respeito da A dosagem de concreto utilizada medidas de 10x10cm (Figura 3 a);
durabilidade de concretos com incor- para execução dos CPs e posterior re- u As superfícies superior e inferior dos
poração desses agregados mais finos alização do rompimento e do ensaio de CPs foram pintadas com 3 demãos
e adições minerais devem ser elabora- penetração de cloretos foi desenvolvido de verniz a base de poliuretano, no
dos, no intuito de verificar se o concre- para que atingisse resistência caracte- intuito de que apenas as laterais

CONCRETO & Construções | 117


mar (19.380 ppm) (Figura 2), até
que atingissem a idade dos ensaios
(91 dias de imersão);
u Na data de cada ensaio, os CPs
10x10cm foram retirados do tanque
e rompidos diametralmente (Figura
3 a), resultando em duas amostras.
Sobre a superfície de ruptura foi re-
alizada aspersão de uma solução
u Figura 1 de AgNO3 (Nitrato de Prata). Desse u Figura 2
Impermeabilização de topo e base modo, as regiões do CP que con- Tanque com solução salina e CPs
de CPs com verniz completamente imersos
tém uma concentração superior a
0,15% de cloretos livres em rela-
dos CPs estivessem em contato ção à massa do cimento, quando à ferrugem, devido a formação do
com a solução de cloreto de sódio, em contato com o nitrato de prata, óxido de prata, conforme se obser-
conforme ilustra a Figura 1; adquirem coloração esbranquiçada; va na Figura 3c;
u Foram imersos os CPs em tanque nos locais onde não há cloretos li- u Com paquímetro de precisão foram
contendo solução salina com con- vres (isenta de cloretos ou com clo- realizadas as medidas da profundi-
centração de cloreto de sódio se- retos combinados), a coloração é dade de penetração dos íons clore-
melhante à encontrada na água do marrom-avermelhada, semelhante to, sendo a profundidade média de

a c

u Figura 3
Metodologia do EPCANP – a) Procedimentos de Ensaio. b) Representação da face rompida do CP, demonstrando a
região onde é medida a profundidade de penetração dos íons cloreto. c) Fotografia de um CP em que foi borrifada
a solução de AgNO 3. A região mais clara (laterais) representa a parte do CP com cloretos livres (Saciloto (2005)

118 | CONCRETO & Construções


u Tabela 2 – Penetração média dos íons cloreto no concreto em função dos
teores de substituição de areia por CBC e respectivas resistências
características à compressão

penetração da amostra calculada Resistência à compressão


Penetração média de íons
pela média de 10 leituras. % CBC em substituição aos 28 dias (sem imersão
cloreto
ao agregado miúdo na solução de cloretos)
(mm)
(MPa)
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
0 30,60 28,72
A partir dos rompimentos à com-
5 28,66 28,48
pressão dos corpos de prova e dos pro-
10 26,15 29,77
cedimentos adotados pelo EPCANP,
com a aspersão de nitrato de prata nos 15 22,98 29,98

CPs rompidos diametralmente e com 20 19,91 30,60

o auxílio de um paquímetro digital para 25 23,45 29,75


tomada de cinco medidas de cada lado 30 24,03 27,42
de cada CP (referente à camada do 40 24,20 28,19
concreto em que houve contaminação 50 24,23 26,00
por íons cloreto), os resultados médios
são observados na Tabela 2. houve substituição da areia por CBC. ção de areia por CBC, na faixa entre 15 a
Com base nos resultados observa- No que se refere à resistência à 25%, apresentou os menores resultados.
dos na Tabela 2, verifica-se que substi- compressão dos CPs, observa-se que Ressalta-se também que concretos
tuição de areia por CBC em 20% para o as maiores resistências foram obser- com teores de substituição de areia por
concreto utilizado na presente pesquisa vadas na faixa de substituição de areia CBC entre 10 e 25% apresentaram os
resultou na menor penetração de íons por CBC entre 10 e 25%, sendo a melhores resultados no que se refere à
cloreto nos CPs analisados, seguidos substituição em 20% aquela que apre- resistência à compressão.
dos percentuais de 15 e 25%. Ainda, sentou maior resistência à compressão. Acredita-se que esse aumento da re-
vê-se que a partir dos teores de subs- sistência à compressão do concreto e a
tituição de areia por CBC no concreto 5. CONCLUSÕES diminuição da espessura média de pene-
em 30%, a penetração média obtida Os ensaios de penetração de cloretos tração de cloretos na faixa de substitui-
de íons cloreto foi aproximadamente a evidenciaram que concretos com subs- ção entre 15 e 25% se dá em função do
mesma. Observa-se também que todas tituição parcial de areia por CBC podem melhor empacotamento dos agregados
as amostras de concreto com qualquer apresentar maior resistência ao ataque miúdos, tornando a microestrutura da
percentual de substituição apresentaram por cloretos, uma vez que a espessura argamassa menos permeável, aumen-
menor penetração média de íons cloreto referente à penetração média por cloretos tando a resistência à compressão e dimi-
que a amostra de concreto em que não nos concretos analisados com substitui- nuindo a penetração de cloretos.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] AÏTCIN, Pierre-Claude. Concreto de alto desempenho. Tradução: Geraldo G. Serra. 1. ed. São Paulo: PINI, 2000.
[02] ALMEIDA, F.C.R; SALES, A. Efeitos da ação do meio ambiente sobre as estruturas de concreto. In: RIBEIRO, D.V. (Org.). Corrosão em Estruturas de Concreto
Armado: Teoria, Controle e Métodos de Análise. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. P.51-73.
[03] ALTOÉ, S.P.S. Estudo da potencialidade da utilização da mistura de cinza do bagaço de cana-de-açúcar e resíduos de pneus na confecção de concretos e pavers
para pavimentação. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2013.
[04] BESSA, S. A. L. Utilização Da Cinza Do Bagaço Da Cana-De-Açúcar Como Agregado Miúdo Em Concretos Para Artefatos De Infraestrutura Urbana. 2011. Tese
(Doutorado em Engenharia Urbana) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.
[05] FIGUEIREDO, E.P. Efeitos da Carbonatação e de Cloretos no Concreto. In: ISAIA, G.C. (Org.). Concreto. Ensino, Pesquisa e Realizações. São Paulo: IBRACON, 2005.
vol. 2. p. 829-855.
[06] FREITAS, E. S. Caracterização da cinza do bagaço da cana-de-açúcar do município de campos dos Goytacazes para uso na construção civil. 2005. Dissertação
(Mestrado em Engenharia) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Rio de Janeiro, 2005.
[07] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. São Paulo: IBRACON, 2008. 674 p.
[08] PAULA, M. O. Potencial da cinza do bagaço de cana-de-açúcar como material de substituição parcial de cimento Portland. 2006. 60f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2006.
[09] SACILOTO, A.P. Comportamento frente à ação de cloretos de concretos compostos com adições minerais submetidos a diferentes períodos de cura. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2005.

CONCRETO & Construções | 119


u pesquisa e desenvolvimento

Influência do teor de cloretos


na resistividade elétrica do
concreto como parâmetro
de durabilidade
LÍGIA VITÓRIA REAL – Mestre em Engenharia Civil
MARCELO HENRIQUE FARIAS DE MEDEIROS – Professor Doutor
Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná

1. INTRODUÇÃO de do concreto, sem comprometer a da pela aplicação de uma diferença

A
s maiores densidades integridade física da estrutura (ME- de potencial entre eletrodos posi-
demográficas brasileiras DEIROS JR et al., 2014). A RES é cionados sobre a superfície do con-
(acima de 100 habitan- uma característica dos materiais em creto. Dentre os métodos de ensaio
tes/km²) ocorrem em torno dos ei- geral, sendo o inverso da conduti- existentes, destaca-se o de Wenner
xos intensamente urbanizados e nas vidade elétrica e indica a habilidade ou dos quatro eletrodos. Original-
áreas litorâneas (IBGE, 2010). Isso de transporte de cargas elétricas no mente era utilizado para solos e mais
leva à urbanização e industrialização material avaliado. tarde foi adaptado para uso no con-
de uma região onde há forte agres- A medida é realizada através da creto. O ensaio consiste em colocar
sividade às estruturas de concreto leitura de uma corrente elétrica gera- quatro eletrodos em contato direto
(ABNT NBR 6118: 2014), tanto pelo
processo de carbonatação quan-
to pelo ataque por cloretos. Atual-
mente, a resistência à compressão
é utilizada como principal parâmetro
de controle de qualidade do concre-
to (ABNT NBR 1265: 2006). Porém,
nem sempre a avaliação da durabi-
lidade com base nos resultados de
resistência mecânica é adequada.
Neste contexto, surge a necessida-
de de avaliar e quantificar parâme-
tros relacionados diretamente com
a durabilidade do concreto armado.
O ensaio de Resistividade Elétri-
ca Superficial (RES) é não destruti- u Figura 1
Esquema do ensaio de quatro pontos para medir resistividade
vo e de fácil execução, que permite
(Adaptado de MEDEIROS, 2001)
contínuo monitoramento da qualida-

120 | CONCRETO & Construções


com a superfície do concreto, úmi- aquários (BROMMFIELD, 2007). Es-
u Tabela 1 – Probabilidade de
da ou seca. O equipamento imprime ses íons são encontrados na matriz
corrosão conforme resistividade
uma corrente entre os dois eletrodos cimentícia de duas formas: livres
elétrica do concreto (CEB, 1989)
externos e, consequentemente, uma (dissolvidos na água dos poros) ou
voltagem é captada pelos eletrodos combinados com o C 3A e C 4AF (pro-
Valores de
internos (IccET, 1989), como apre- dutos da hidratação do cimento), Risco de
resistividade
corrosão
sentado na Figura 1. formando cloroferratos e cloroalumi- elétrica (kΩ.cm)
Os resultados do ensaio de resis- natos (sal de Friedel). Os realmente <5 Muito alta
tividade elétrica podem ser compa- nocivos às armaduras são os livres. < 10 Alta
rados aos limites prescritos pelo Bo- Esses íons cloreto livres destro- < 20 Baixa
letim 192 do CEB (1989), indicando em de forma localizada a película > 20 Negligenciável
o risco de corrosão de uma estru- passivante das armaduras do con-
tura de concreto armado (Tabela 1). creto, provocando a corrosão por ao comparar as resistividades elé-
Além disso, a resistividade elétri- pite (em pontos localizados). Estes tricas de concretos com e sem clo-
ca pode ser utilizada para controle pontos formam o ânodo da pilha retos. Entretanto, em 2006, Santos
de qualidade de pré-fabricados e de corrosão e, devido à sua pro- incorporou 0,4 e 1,0% de cloreto em
para modelagem da vida útil de es- gressão em profundidade, podem relação à massa de cimento e, após
truturas de concreto armado sujei- até provocar a ruptura da barra de 7 dias, constatou uma redução de
tas à corrosão por penetração de aço. No Brasil, a ABNT NBR 12655 28% na resistividade elétrica para o
íons cloreto. (2014) limita o teor de cloretos so- traço com adição de 0,4% de Cl - em
Alguns fatores podem influenciar lúveis em água (cloretos livres) de relação à mistura isenta de cloretos
o resultado da RES, tais como: a re- acordo com a classe de agressivi- e de 47% para a contaminação com
lação água/cimento, a porosidade dade ambiental. 1% de Cl -.
da pasta, a origem e dimensão dos O efeito dos íons cloreto na resis- Tendo em vista o exposto e a
agregados utilizados, a hidratação e tividade elétrica do concreto ainda falta de um consenso entre os pes-
tipo de cimento, a presença de adi- é contraditório (LENCIONI, 2011). quisadores, o objetivo deste artigo é
ções minerais, a geometria da peça, Em 1982, Gjorv et al., apud Tuutti, avaliar a influência do teor de clore-
a temperatura e a umidade do am- afirmaram que a resistividade elé- tos internos na resistividade elétrica
biente e a presença de íons cloreto trica do concreto se reduz em 50% superficial do concreto.
(LENCIONI, 2011). quando o teor de CaCl 2 passa de 0
Os íons cloreto presentes no a 4% em relação à massa de cimen- 2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
concreto armado podem provir de to (CASCUDO, 1997). De acordo A fim de analisar a influência do
fontes internas ou externas, como, com Brommfield (2007), a presença teor de cloretos incorporados ao
por exemplo, do uso da água do de cloretos não afeta fortemente a concreto na resistividade elétrica
mar no concreto fresco, de agrega- resistividade elétrica do concreto, superficial, foram moldados corpos
dos contaminados ou do uso de adi- pois, como já há uma abundância de de prova com um traço padrão, que
tivos aceleradores de pega que con- íons dissolvidos na água dos poros, diferem entre si devido às concen-
tém cloreto de cálcio, amplamente os cloretos não fariam diferença. No trações de cloretos: 0 (referência),
utilizados até meados de 1970 (FI- entanto, como podem ser higroscó- 1, 2, 3 e 4% de cloretos em relação
GUEIREDO; 1994). No concreto en- picos, os íons cloreto são frequente- à massa de cimento. Para isso, foi
durecido, os cloretos podem pene- mente responsabilizados ​​por reduzi- adicionado cloreto de sódio (NaCl)
trar na estrutura pelo contato direto rem a RES. Em concordância com ao concreto fresco. Os traços estão
com a água do mar, pela presença tal fato, Lencioni (2011) acrescentou descritos na Tabela 2.
de maresia, pelos sais de degelo ao concreto fresco 3% de cloretos Para avaliar a resistência à com-
ou em estruturas que armazenem em relação à massa de cimento e pressão foram moldados 6 corpos
sal, como tanques de salmoura e não encontrou variação significativa de prova cilíndricos (10x20cm) por

CONCRETO & Construções | 121


u Tabela 2 – Traços de concreto utilizados

CP V - ARI Areia média Brita 1 Água NaCl Ccimento Slump


Traço
(kg) (kg) (kg) (kg) (g) (kg/m³) (mm)
*0% 33,1 70,1 95,3 19,5 0,0 348 130±20
*1% 33,1 70,1 95,3 19,5 542,2 348 130±20
*2% 33,1 70,1 95,3 19,5 1084,5 348 130±20
*3% 33,1 70,1 95,3 19,5 1626,7 348 130±20
*4% 33,1 70,1 95,3 19,5 2168,9 348 130±20
* As porcentagens dos traços se referem à quantidade de cloretos em relação à massa de cimento.

dosagem, sendo rompidos 3 aos 28 25 cm (Figura 2), os quais foram das por outros autores (LEOCINI,
dias e 3 aos 63 dias. Para mensu- dimensionados com base nas re- 2011), a fim de simular um meio
rar a resistividade elétrica superfi- comendações de Gowers e Millard infinito que não influenciasse a RES
cial do concreto foram moldados 4 (1999) e Medeiros (2001). Dimen- devido à geometria da peça. As lei-
corpos de prova cúbicos de aresta sões semelhantes já foram adota- turas foram realizadas aos 63 dias,
com o Eletrodo de Wenner de es-
paçamento igual a 50 mm, em cada
uma das faces do paralelepípedo,
totalizando 24 resultados por con-
creto executado (Figura 3). A fim de
não influenciar nas leituras de RES,
não foram utilizados óleos ou ceras
desmoldantes para as moldagens.
As amostras foram desformadas
com 24 horas de idade e submeti-
a b das à cura submersa saturada com
cal por 7 dias e, em seguida, per-
maneceram em uma câmara úmida
u Figura 2
(a 23±2°C, umidade relativa acima
a) Formas dos corpos de prova cúbicos b) Corpos de prova moldados
de 90%) até o momento das rup-
turas e leituras. Assim, todas as
medições de resistividade elétrica
foram realizadas com o concreto
saturado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como os traços unitários utili-
zados no programa experimental
foram os mesmos (1: 2,12: 2,88:
0,59), variando apenas a concen-
tração de cloretos, os concretos
deveriam pertencer a mesma classe
u Figura 3
de resistência à compressão. Aos
Leituras de resistividade elétrica do concreto
28 dias, considerando os desvios

122 | CONCRETO & Construções


padrões propostos pela ABNT NBR
12655 (2006), os concretos utiliza-
dos puderam ser classificados como
C30, segundo a ABNT NBR 8953
(2009). Observando os resultados
de resistência à compressão aos 63
dias, pode-se dizer que houve um
acréscimo de até 10% em relação
aos resultados de 28 dias (Figura 4).
Comparando as resistividades
elétricas superficiais obtidas para as
amostras em estudo com os limites
prescritos pelo Boletim 192 do CEB
(1989) (Tabela 1), é possível obser-
var que os concretos com 0, 1 e 2% u Figura 4
de cloretos em relação à massa de Resultados de resistência à compressão dos traços moldados
cimento se encontram na faixa de
baixo risco de corrosão, enquanto a resultado de RES (teor de cloretos ocorrido devido à formação de sal
dosagem com 4% está no intervalo igual a 1%), o traço de 3% apresen- de Friedel, que tende a se depositar
de alto risco. O traço referente aos tou resistividade 27% inferior e o nos grandes poros (>60mm), redu-
3% de cloretos encontra-se no limite 4% foi 44% menor. Ou seja, ao se zindo-os e os tornando descontínu-
entre alto e baixo risco de corrosão adicionar 1% de cloretos em relação os e mais tortuosos, como também
(Figura 5). Apesar de alguns teores à massa de cimento, a resistividade defendem Wee et al. (2000). Além
de cloreto terem se apresentado com elétrica superficial melhorou, entre- disso, a formação de sal de Friedel
igual risco de corrosão, uma análise tanto, a partir de 3% de adição, a consiste em um processo de fixação
de variância (ANOVA), com 95% de RES passou a se reduzir relação à dos cloretos, ou seja, uma reação
confiabilidade permitiu concluir que série de referência. do Cl - com os aluminatos da pasta,
houve sim influência nos resultados O fato de a resistividade elétrica não os deixando livres para ficarem
de RES pela adição de cloretos ao ter aumentado com a incorporação na forma de íons dispersos na água
concreto fresco (Tabela 3). de 1% de cloretos ao se comparar de poro do concreto.
Também é possível observar na com o traço de referência pode ter Outro efeito dos cloretos no
Figura 5 que, ao se acrescentar 1%
de cloretos à massa de cimento,
a RES aumentou 12% em relação
ao traço de referência. Porém, ao
se acrescentar 2%, a resistivida-
de diminui a um valor equivalente
ao traço sem adição de cloretos,
conforme indica a Comparação de
Múltiplas Médias (Tabela 4). Para a
quantias de 3 e 4% de cloretos, as
resistividades elétricas superficiais
continuam se reduzindo, sendo 18 e
37% inferiores às RES obtidas para
u Figura 5
o concreto de referência, respecti- Resultados de resistividade elétrica aos 63 dias
vamente. Se comparadas ao melhor

CONCRETO & Construções | 123


sultados encontrados são contrários
u Tabela 3 – Análise de variância para resultados de RES aos 63 dias à teoria proposta por Brommfield
(2007) de que os íons cloreto redu-
Soma dos Grau de Médias
Fonte de zem a RES por serem higroscópicos
quadrados liberade quadradas Teste F F tab
variação e aumentarem o teor de umidade do
(SQ) (GDL) (MQ)
% de cloretos 509 4 127 239,0 2,5 concreto. Desse modo, existiu uma
influência dos íons cloretos e sua
Erro (residual) 61 115 1 – –
condutividade inerente.
Total 570 119 – – –
Com bases nos resultados obti-
Fcalculado = 239,0 > Ftabelado = 2,5 ⇒ Efeito da porcentagem de cloretos significativo.
dos neste estudo, é possível obser-
var que há correlação entre a resis-
tividade elétrica superficial e o teor
u Tabela 4 – Comparação de múltiplas médias dos resultados de RES aos 63 dias
de cloretos incorporado ao concre-
Comparação entre as médias de RES Consideração final to, indicando que à medida que a
porcentagem de cloreto aumenta,
yREF - y1% = 1,50 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades.
a RES tende a diminuir. O índice
yREF - y2% = 0,12 < Ld = 0,45 Diferença não significativa entre as resistividades.
de regressão linear foi igual a 74%
yREF - y3% = 2,20 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades.
(Figura 6).
yREF - y4% = 4,43 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. Porém, comparando a RES com
y1% - y2% = 1,62 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. a resistência à compressão, o índi-
y1% - y3% = 3,70 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. ce de regressão linear (R²) foi igual a
y1% - y4% = 5,93 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. 0,1066, indicando que houve baixa
y2% - y3% = 2,08 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. correlação entre os dois parâmetros
y2% - y4% = 4,31 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. (Figura 7). Ou seja, para este estu-
y3% - y4% = 2,23 > Ld = 0,45 Diferença significativa entre as resistividades. do, é possível dizer que não houve
relação entre a resistência à com-
concreto é que haveria íons cloretos to. Além disso, todas as medições pressão e a resistividade elétrica do
não combinados que ficariam adsor- de RES foram realizadas nos corpos concreto. Esse resultado era espe-
vidos às camadas dos sais forma- de prova saturados. Portanto, os re- rado, já que a resistividade é uma
dos, também não contribuindo para
a elevação da condutividade elétrica
do sistema compósito de cimento
Portland (BROMMFIELD, 2007). En-
tretanto, a partir da adição de 2%
de cloretos, o sistema se saturaria
em relação à fixação de cloretos e
adsorção nas superfícies, além de
haver o esgotamento dos alumina-
tos disponíveis para formação do sal
de Friedel. Atingido esse ponto de
saturação, os cloretos adicionados
em excesso à mistura ficariam livres,
em suspensão na água dos poros e,
por serem íons e conduzirem eletri- u Figura 6
Correlação entre resistividade elétrica e teor de cloretos incorporado
cidade, contribuiriam para redução
ao concreto
da resistividade elétrica do concre-

124 | CONCRETO & Construções


propriedade volumétrica do ma-
terial, que indica a capacidade de
transporte de cargas no concreto,
ou seja, relaciona-se com a inter-
conectividade entre os poros, en-
quanto a resistência à compressão
é influenciada por seus tamanhos
e volumes, não pela conexão entre
esses. Tal fato reforça a necessi-
dade da avaliação dos parâmetros
de durabilidade e não apenas do
controle de qualidade através da
resistência à compressão, pois a
resistência mecânica não garante a
u Figura 7
durabilidade do concreto em condi- Correlação entre resistividade elétrica e a resistência à compressão
ções de serviço.
u A partir de 2% de cloretos em re- dade elétrica superficial do concre-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS lação à massa de cimento, a RES to e a concentração de cloretos no
Com base nesta pesquisa, é reduziu conforme o teor de clore- seu interior, com índice de regres-
possível ressaltar que: tos incorporados aumentou; são linear igual a 74%;
u A presença de cloretos incorpo-
u Há um teor máximo de cloretos u A correlação entre a resistividade
rados no concreto não influen-
que pode ser combinado ao ma- elétrica superficial do concreto e
ciou a resistência à compressão
terial cimentício e, se existem resistência à compressão foi de
do material;
cloretos no concreto acima desta apenas 10%, reforçando a ne-
u A incorporação de 1% de clore-
capacidade de combinação, os cessidade da avaliação da du-
tos em relação à massa de ci-
mento aumentou a resistividade íons cloretos ficam livres e afe- rabilidade para controle de qua-
elétrica do concreto, comparada tam a resistividade elétrica cau- lidade do concreto armado, além
com a do traço de referência, sando sua redução; do clássico e simples controle da
que não tem adição de cloretos; u Existe correlação entre a resistivi- resistência à compressão.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[01] BROMMFIELD, J. P. Corrosion of steel in concrete – Understanding, investigation and repair. E & FN SPON, Londres, 2007.
[02] CASCUDO, O. Controle da Corrosão de Armaduras em concreto: inspeções e técnicas eletroquímicas. 1ª Edição. Editora PINI. São Paulo. 1 v. 1997.
[03] GOWERS, K. R.; MILLARD, S. G. Measurement of concrete resistivity for assessment of corrosion severity of steel using wenner technique. ACI materials journal,
v. 96-M66, p. 536–541, 1999.
[04] LEOCINI, J. W. Estudos sobre resistividade elétrica superficial em concreto: análise e quantificação de parâmetros intervenientes nos ensaios. Tese (doutorado),
Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, 2011.
[05] INSTITUTO DE CIENCIAS DE LA CONSTRUCCIÓN EDUARDO TORROJA. Manual de inspección de obras dañadas por corrosión de armaduras. CSIC, Madrid,
Coordinación Carmen Andrade, 1989, 122 p.
[06] FIGUEIREDO, E. J. P. Avaliação do desempenho de revestimentos para proteção da armadura contra a corrosão através de técnicas eletroquímicas: contribuição
ao estudo de reparo de estruturas de concreto armado. (Tese de doutorado). EPUSP, São Paulo, 1994. 423p.
[07] MEDEIROS JR, R. A. Estudo da resistividade do concreto para proposta de modelagem de vida útil – corrosão de armaduras devido à penetração de cloretos.
Tese (Doutorado), Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São Paulo, 2013.
[08] MEDEIROS, M. H. F. Estudo de variáveis que influenciam nas medidas de resistividade de estruturas de concreto armado. Revista Engenharia Civil da Universidade
do Minho, v.12, Guimarães, 2001.
[09] WEE, T H. SURYAVANSHI, A K. TIN, S S. Evaluation of rapid chloride permeability test (RCPT) results for concrete containing mineral admixtures. ACI Mater, Journal,
v. 92, p. 221–231, 2000.

CONCRETO & Construções | 125


u acontece nas regionais

57º Congresso Brasileiro do Concreto


foca sustentabilidade nas construções

O Instituto Brasileiro do Concre-


to – IBRACON promove, de 27
a 30 de outubro, em Bonito, Mato
Grosso do Sul, o 57º Congresso Bra-
sileiro do Concreto, sob o tema “O
futuro do concreto para a sustentabi-
lidade nas construções”.
Fórum nacional de divulgação e de-
bates sobre a tecnologia do concre-
to e seus sistemas construtivos, o
evento objetiva divulgar as pesquisas
científicas e tecnológicas sobre o
concreto e as estruturas de concreto,
em termos de produtos e processos,
práticas construtivas, normalização
técnica, análise e projeto estrutural e
sustentabilidade.
As inscrições para o evento estão Auditório Terena do Centro de Convenções de Bonito
abertas e podem ser feitas on-line a
preços promocionais até 30 de se- Leuven, Bélgica): “Desafios para Espanha): “Tendências passadas,
tembro pelo site www.ibracon.org.br. obtenção de pavimentos de con- presentes e futuras sobre a mode-
Serão apresentados aproximada- creto fotocatalíticos capazes de lagem computacional da fissura-
mente 500 trabalhos nas mais de purificar o ar”; ção no concreto”;
dez sessões científicas por pesqui- u David Brill (Agência Federal de u John Bolander (Universidade da
sadores, profissionais e estudantes Aviação dos Estados Unidos - Califórnia, em Davis, Estados Uni-
de instituições de ensino e pesquisa, FAA): “Projeto e construção de dos): “Recentes avanços na mo-
de associações técnicas, de empre- pavimentos de concreto aeropor- delagem discreta do concreto re-
sas e órgãos governamentais da ca- tuários em face das novas diretri- forçado com fibras”
deia produtiva do concreto no Brasil. zes da Agência Federal de Aviação u Jussara Tanesi (American Concre-
Além disso, pesquisadores de con- dos Estados Unidos (FAA)”; te Institute – ACI, Estados Unidos):
ceituadas universidades e centros de u Franz-Josef Ulm (Instituto de Tecno- “Infraestrutura sustentável de con-
pesquisa internacionais apresenta- logia de Massachussetts – MIT): “De- creto: já chegamos lá?”
rão os últimos avanços e descober- sempenho da infraestrutura quanto u Liv Haselbach (Universidade Esta-
tas científicas e tecnológicas sobre o ao gerenciamento do carbono”; dual de Washington, Estados Uni-
concreto em seus campos de espe- u Gianluca Cusatis (Universidade dos): “Pavimentos permeáveis de
cialização. São eles: Northwestern, Estados Unidos): concreto”;
u Alfred Strauss (Universidade de “Novo modelo computacional para u Luc Rens (Associação Europeia de
Recursos Naturais e das Ciências simulação do envelhecimento e da Pavimentação em Concreto - Eu-
da Vida, Viena, na Áustria): “As fer- deterioração das estruturas de pave): “Pavimentos de concreto
ramentas de análise estrutural não concreto”; de baixo ruído”;
linear e os padrões de segurança”; u Javier Oliver (Universidade Técni- u Maria del Carmen Andrade Perdrix
u Anne Beeldens (Universidade de ca da Catalunha, em Barcelona, (Instituto de Ciências da Construção

126 | CONCRETO & Construções


Eduardo Torroja - CSIC, Espanha): evento. Particularmente, a agitação “Paredes de Concreto”. Realizado
“Modelos de vida das estruturas estudantil nas competições Aparato pela Comunidade da Construção e
de concreto em serviço”; de Proteção ao Ovo (APO), Concre- ABCP (Associação Brasileira de Ci-
u Odd Gjorv (Universidade Norue- bol, Concreto Colorido de Alta Re- mento Portland), o evento acontece
guesa de Ciência e Tecnologia - sistência (Cocar) e Ousadia deixa a nos meses de agosto, setembro e
NTNU): “Projeto de estruturas de cada ano suas impressões positivas outubro, no campus da Universidade
concreto em ambiente severo”. nos congressistas por seu entusias- Federal do Mato Grosso do Sul.
Fazem parte ainda da programação mo, espírito de competição e de res- A Regional apoia também, de 14 a
os eventos paralelos, como a 3rd peito com os concorrentes. 20 de setembro, o Congresso on-line
Internacional Conference on Best O Congresso Brasileiro do Concreto de Estruturas de Concreto, voltado
Practices for Concrete Pavements, é aberto aos profissionais em geral para estudantes de engenharia civil
o Simpósio sobre Estruturas de Fun- do setor construtivo, tecnologistas e profissionais do setor, com o pro-
dações, o Simpósio sobre Modela- de concreto, projetistas de estru- pósito de difundir as boas práticas
gem Computacional de Estruturas turas, professores e estudantes de em projeto, sistemas construtivos,
de Concreto e o II Simpósio sobre Engenharia Civil, Arquitetura e Tec- materiais e propriedades, gestão e
Durabilidade das Estruturas de Con- nologia, profissionais técnicos de normalização, e sustentabilidade. O
creto. Neles serão apresentadas e construtoras, empresas de ener- evento conta com a participação de
discutidas as mais recentes pesqui- gia, fabricantes de equipamentos e especialistas em projeto e dosagem
sas relacionadas ao comportamento materiais para construção, labora- de concreto de todo país. As inscri-
físico, químico e mecânico do con- tórios de controle tecnológico, ór- ções são gratuitas e podem ser feitas
creto, bem como as inovações em gãos governamentais e associações pelo site http://coneconc.com.br/.
sua aplicação em obras de funda- técnicas, que queiram
ções, pavimentação, edificações e aprender mais, discutir e
infraestrutura. se atualizar sobre a tec-
A cada edição do Congresso, é re- nologia do concreto e de
alizada a Feira Brasileira das Cons- seus sistemas construti-
truções em Concreto - Feibracon, vos. Nas últimas edições,
espaço de exposição para os pro- o evento contou com a
dutos e serviços das empresas da participação de mais de
cadeia produtiva do concreto e mil inscritos.
para o estreitamento de relaciona- Além de estar coordenan-
mento dessas empresas com seus do a organização local do
clientes e potenciais clientes. Adi- 57º Congresso Brasileiro
cionalmente, as empresas patroci- do Concreto, a Regional
nadoras do evento têm a chance IBRACON de Mato Gros-
de apresentar palestras técnico-co- so do Sul apoia o Progra-
merciais no Seminário das Novas ma de Desenvolvimento
Tecnologias, que também compõe de Construtoras, que tem
a programação. o objetivo de aumentar a
À parte sua extensa programação produtividade e melhorar o
técnica, o Congresso valoriza o as- desempenho técnico das
pecto social do congraçamento e construtoras da região por
relacionamento dos profissionais, meio da difusão das me-
por meio de coquetéis, jantares, lhores práticas de projeto, Prof. Odd Gjorv em sua palestra no último
Congresso. Além de palestra, o Prof. Gjorv fará
premiações e concursos estudantis, planejamento e execução
lançamento de seu livro sobre durabilidade no 57º
realizados durante os quatro dias do do sistema construtivo Congresso Brasileiro do Concreto

CONCRETO & Construções | 127


Semana de Engenharia no Paraná
A diretoria regional do IBRACON
no Paraná apoiou a Semana
Acadêmica de Engenharia da Univer-
que ministrou a palestra
“Diagnóstico e reabilitação
do Maracanã: desafiando
sidade Federal do Paraná, ocorrida o tempo”.
de 24 a 28 de agosto último. Seus di- A Semana de Engenharia
retores, Cesar Henrique Daher e Luís contou com a participação
César De Luca proferiram aos alunos de cerca de 250 acadêmi-
as palestras “Concretizando sonhos: cos, oferecendo a oportu-
o empreendedorismo do concreto” e nidade para os diretores
Alunos numa das palestras da Semana Acadêmica
“Aspectos relevantes sobre patologia sensibilizarem os estudan- de Engenharia da UFPR
nas obras civis”, respectivamente. A tes sobre a importância de
Semana contou também com a par- se filiar ao IBRACON, que reúne es- com mais de 4000 artigos técnicos
ticipação do conselheiro do IBRA- pecialistas em concreto de todo terri- sobre o assunto, além de editar revis-
CON, Prof. Enio Pazini Figueiredo, tório nacional e dispõe de um banco tas e livros especializados.

Encontro Regional no Pará


N os dias 01, 02 e 03 de setembro
último, a Regional IBRACON no
Pará realizou, na capital Belém, seu
de incertezas na engenharia estrutural;
inovações construtivas pré-moldadas;
vistoria e manutenção de pontes e via-
XXII Encontro Regional. O objetivo do dutos; e desempenho das estruturas
Encontro foi disseminar conhecimen- de concreto.
tos sobre a utilização do concreto na O evento, que ocorreu no Centro de
área de materiais e estruturas e pro- Eventos Benedito Nunes na Universi-
mover a integração do meio acadêmi- dade Federal do Pará, contou com a
co e do meio técnico regional. Foram participação de cerca de 800 pessoas,
três dias intensos de muitas discus- entre estudantes e profissionais do se-
sões sobre assuntos variados relacio- tor, e teve o patrocínio das empresas Centro de Eventos Benedito Nunes
nados à engenharia das estruturas de Vedacit, Votorantim, WIN Construtora, da UFPA
concreto, entre os quais: como prever Marcon Protensão, Impermeabilização Votorantim Cimentos, Supermassa e
e garantir a vida útil preconizada na e Serviços, Link da Amazônia Constru- Círculo Engenharia. Contou ainda com
Norma de Desempenho; quantificação tora, Consórcio Nova Saúde, Brasilit, apoio do CREA-PA e Sinduscon-PA.

Eventos em Minas Gerais


A Regional IBRACON em Minas Ge-
rais realizou, conjuntamente com o
Sinduscon-MG (Sindicato da Indústria
compressão especificada em projeto e
as ações a serem tomadas pelo enge-
nheiro de obras.
lização e a difusão do conhecimento
referente à conservação de estruturas
no Brasil, a Regional iniciou em 28 de
da Construção em Minas Gerais) e a O Seminário confrontou a visão de tec- agosto, no auditório da Arcelor Mittal em
Abece (Associação Brasileira de Enge- nologistas, projetistas e construtores Belo Horizonte, a primeira turma do cur-
nharia e Consultoria Estrutural), o se- quanto ao tema e contou também com so do Programa, que objetiva capacitar
minário “O concreto não atingiu a resis- a palestra de um advogado quanto à profissionais em inspeção de estrutu-
tência. O que fazer?” no último dia 18 divisão de responsabilidades entre os ras de concreto de edificações, sendo
de agosto, no auditório da Federação profissionais frente ao problema. organizado conjuntamente pela Abece,
das Indústrias de Minas Gerais (FIE- Tomando parte do “Programa de re- Alconpat (Associação Brasileira de Pato-
MG). Seu objetivo foi debater as pro- dução de riscos e aumento da vida útil logia das Construções) e IBRACON.
váveis causas para o concreto dosado de estruturas” (Programa Edificação + Mais informações sobre o curso podem ser
em central não atingir a resistência à Segura), que visa fomentar a especia- obtidas em www.edificacaomaissegura.org.

128 | CONCRETO & Construções


u agenda

Congresso Internacional em Reabilitação


de Construções (Conpat 2015)

à Data: 8 a 10 de setembro
à Local: Lisboa, Portugal
à Realização: Alconpat 14º Congresso Internacional sobre Química
à Informações: www.conpat2015.com do Cimento

à Data: 13 a 16 de outubro
à Local: Pequim, China
Conferência Internacional sobre Concreto à Realização: ICCC
Estrutural Sustentável à Informações: www.iccc2015beijing.org

à Data: 15 a 18 de setembro
à Local: La Plata, na Argentina
à Realização: AATH, AAHES, LEMIT, RILEM Seminário Desafios do projeto, produção
à Informações: www.sustainconcrete2015.com.ar e aplicação do concreto

à Data: 15 de outubro
à Local: São Paulo, SP
Seminário da Reciclagem de Resíduos à Realização: ABCP

da Construção Civil e Demolição à Informações: www.abcp.org.br

à Data: 17 de setembro
à Local: São Paulo, São Paulo
à Realização: Abrecon
57º Congresso Brasileiro do Concreto
à Informações: www.acquacon.com.br/seminariorcd

à Data: 27 a 30 de outubro
à Local: Bonito, Mato Grosso do Sul
ENECE 2015 – 18º Encontro Nacional à Realização: IBRACON

de Engenharia e Consultoria Estrutural à Informações: www.ibracon.org.br

à Data: 8 e 9 de outubro
à Local: São Paulo, SP
à Realização: ABECE
ACI Convention – Fall 2015
à Informações: www.abece.com.br

à Data: 8 a 12 de novembro
à Local: Denver, Estados Unidos
à Realização: ACI

à Informações: www.concrete.org

CONCRETO & Construções | 129


Publicações técnicas do IBRACON

O Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON está com u


sempre às mãos publicações técnicas de referência sobre

CONCRETO: Microestrutura, Durabilidade


Propriedades e Materiais do concreto
Guia atualizado e Esforço conjunto de
didático sobre as 30 autores franceses,
propriedades, coordenados pelos
comportamento e professores Jean-
tecnologia do Pierre Ollivier e
concreto, a quarta Angélique Vichot, o
edição do livro livro “DURABILIDADE
“CONCRETO: DO CONCRETO:
Microestrutura, bases científicas para
Propriedades e a formulação de
Materiais”, dos concretos duráveis de
professores Kumar acordo com o
Mehta e Paulo ambiente” condensa
Monteiro (Universidade um vasto conteúdo
da Califórnia, em Berkeley), foi amplamente revisada que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a
para trazer os últimos avanços sobre a tecnologia do experiência de parte importante de membros da
concreto e para proporcionar em profundidade detalhes comunidade científica europeia que trabalha com o
científicos sobre este material estrutural tema da durabilidade do concreto. A edição brasileira da
mais amplamente utilizado. A segunda edição obra, coordenada pelos professores Oswaldo Cascudo
brasileira foi coordenada pela Enga. Nicole Pagan e Helene Carasek (UFG), foi enriquecida com sua
Hasparyk (Furnas). adaptação à realidade técnica e profissional nacional.

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CONCRETO & Construções

A revista CONCRETO & Construções é veículo oficial do IBRACON, de caráter científico, tecnológico e informativo,
para a troca de ideias e informações sobre o concreto e seus sistemas construtivos entre os profissionais da
construção civil, servindo de intermediário entre o desenvolvimento técnico-científico e o mercado construtivo
brasileiro. As edições em promoção abordam, como tema principal, a ecoeficiência do concreto, as estruturas de
edificações e o concreto para fundações e torres de aerogeradores.

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Os Anais reúnem os artigos técnico-científicos que foram apresentados e debatidos nas 56 edições do Congresso
Brasileiro do Concreto, desde a fundação do IBRACON. São mais de 4000 contribuições de especialistas nacionais
e estrangeiros sobre os mais variados temas, constituindo-se numa verdadeira enciclopédia brasileira sobre o
concreto. Os Anais em promoção reúnem os trabalhos apresentados nas edições 54ª, 55ª e 56ª do Congresso
Brasileiro do Concreto.

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e das empresas brasileiras da
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