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CRISTÃOS E DEMOCRACIA: UMA ABORDAGEM EVANGÉLICO-REFORMACIONAL

Igor Miguel1

Polarização política, escândalos de corrupção e acirramento do debate ideológico


combinados à alta conectividade e canais alternativos de formação de opinião pública,
contribuem para um cenário de hiper-politização e inquietações populares que parecem
exigir novos olhares ou abordagens mais participativas em contextos democráticos.

Importante observar que esta crise, que no caso brasileiro, se tornou evidente durante as
manifestações de junho de 2013, seguem uma tendência global a reboque do ​Occupy
Movement (Wall Street em 2011). Tais manifestações apontam para uma incredulidade
radical em relação às instituições políticas que se mostram impotentes ante o lobby e a
pressão de grandes corporações financeiras, o fenômeno conhecido por capitalismo de
estado. Neste caso, o estado que, em tese, deveria ser o ente político responsável pela
garantia da justiça pública, é instrumentalizado para favorecer interesses privados.

O clima de desconfiança é apontado pela ​Edelman Trust Barometer​, que em 2017, ao


avaliar o grau de confiança política de vários países, apontou que 62% da população
brasileira não acredita que as instituições governamentais são capazes de atender as
demandas sociais. No mesmo ano, uma pesquisa promovida pelo Instituto IPSOS
revelou que 94% dos brasileiros não se sentem politicamente representados pelos
indivíduos eleitos para o exercício do poder público.

Como a maioria dos países ocidentais, o Brasil, enquanto república federativa, adota um
regime democrático representativo. Neste caso, representantes políticos são eleitos por
sufrágio universal, isto é, os eleitores têm a liberdade de votar nos candidatos que melhor
se alinham com suas sensibilidades e demandas políticas. Assim, são escolhidos por uma
quantidade majoritária de votos os diferentes representantes para o exercício de suas
funções públicas nas instâncias do poder executivo e legislativo.

Todo período eleitoral parece que cristãos, em geral, experimentam um tipo de tensão,
pois de fato, se por um lado prestam devoção radical ao senhorio de Cristo, não podem
ignorar que vivem uma república em que indivíduos de várias crenças residem sob um
regime democrático e um estado laico. Enquanto cidadãos, cristãos têm o direito (no caso
do Brasil, obrigação) ao papel cívico de comparecer às urnas e exercer o “poder do voto”.
Então, em um esforço para lidar com a tensão da dupla cidadania - cidadãos da Cidade
de Deus e da Cidade dos Homens - algumas questões são fundamentais: ​o que é
democracia? Como cristãos deveriam agir em um Estado Democrático de Direito?

1
Teólogo, pedagogo e mestre em letras (língua hebraica) pela USP. Pastor na Igreja Esperança em Belo
Horizonte - MG, entusiasta do Movimento Mosaico, co-autor do livro Igreja Sinfônica e vice-presidente da
AKET (Associação Kuyper).
1
O que é democracia?
Há ampla e histórica discussão sobre a natureza da democracia. Como alguém que
aprecia política apenas como um teólogo interessado nos desdobramentos públicos de fé
cristã, reservo-me a uma definição básica, para a partir dela, caminhar em direção a
alguns princípios que possam dar fôlego a nosso papel cristão na república.

Etimologicamente, como é de amplo conhecimento, o termo grego ​democracia


[​δημοκρατία​] significa ​“governo do povo”,​ não raras vezes, invoca-se a famosa frase de
Abraham Lincoln ​“governo do povo, pelo povo, para o povo​”. Regimes democráticos
surgem basicamente para lidar com o problema do abuso ou concentração de poder.
Entende-se que aqueles eleitos democraticamente, e cujas atribuições são controladas
constitucionalmente, têm menos possibilidades de cometer abusos de poder. Em uma
perspectiva política, pode-se dizer que em regimes democráticos encontram-se os
seguintes princípios: (1) sufrágio universal; (2) votos com peso igualitários; (3) domínio da
maioria como base decisória; (4) eleições competitivas; (5) lIberdade de expressão; (6)
garantia de direitos dos cidadãos; (7) constituição. Em caráter educacional, é importante
uma breve descrição de cada um desses princípios:

1. Sufrágio universal
Ampla participação popular e igualitária de todos os membros de uma comunidade
política em idade adulta, independente de sexo, religião ou adesão partidária, em
condições racionais, podem participar na eleição de seus representantes políticos, por
meio do voto.

2. Votos com peso igualitário


A noção de que o voto de cada membro de uma comunidade política, em condições de
exercer seu direito, tem o mesmo peso, e desta forma, o voto assume caráter isonômico e
imparcial. A justiça eleitoral deve se responsabilizar em manter essa equalização.

3. Domínio da Maioria como Base Decisória


Os candidatos são eleitos por maior número de votos, e em certos casos, há alguma
proporcionalidade. Em termos simples, ganham os candidatos mais indicados pelos
eleitores. Uma evidência de vontade popular.

4. Eleições Competitivas
O processo eleitoral deve ser realizado sob ampla, livre e justa competição entre os
candidatos. Ficando a cargo de cada candidato o direito de exporem as razões de sua
candidatura e seu respectivo projeto ou intento para o exercício do poder. Desta forma, os
eleitores terão condições de escolher os que melhores representam suas sensibilidades
ou interesses políticos.

5. Liberdade de Expressão
Em sociedades democráticas, há uma ampla valorização do direito humano à opinião
pública, a livre consciência e a expressão de sua visão e inclinação política. Ninguém
2
pode ser coagido ao silêncio ou sofrer algum tipo de censura ou repressão por se
posicionar publicamente sobre assuntos diversos, mesmo que o mesmo, vá em direção
contrária à posição de outro membro da comunidade política. Claro, que há limites para
tal liberdade, pois por razões óbvias, ela não pode ferir o princípio da dignidade alheia em
termos da lei.

6. Garantia de Direitos dos Cidadãos


Garantias legais dos direitos de cada membro da comunidade política. Nenhum indivíduo
ou instituição pública, privada ou da sociedade civil pode infligir violência ou privação
não-autorizada à integridade e liberdade garantida pelos direitos dados um cidadão nos
termos da lei.

7. Constituição: definição e controle dos poderes estatais


As instituições, esferas e atores públicos não exercem poderes absolutos. Antes, o
exercício do poder, de cada uma delas, é regulada pela lei suprema no domínio político,
assim denominada constituição. Nenhum ator político ou instituição pública pode exercer
poder para além dos limites e jurisdições previstas em lei, esta é uma forma jurídica de se
evitar abuso de poder e garantir o cumprimento das obrigações governamentais.

Uma classificação importante entre estudiosos é a distinção entre tipos diferentes de


democracia, que são basicamente três: ​direta​, ​representativa​ e ​participativa​.

Democracia direta diz respeito a uma participação direta e permanente da população em


todas as instâncias do poder, uma situação em que todos exerceriam poder a todo tempo.
A maioria esmagadora dos países democráticos optam por modelos representativos pela
inviabilidade técnica de toda população envolver-se politicamente em todas as decisões
políticas e administrativas em um país. Porém, quando democracias abrem plebiscitos
para votarem sobre questões de interesse público, neste caso, exerce-se democracia
direta.

Democracia representativa,​ o modelo mais utilizado em democracias ocidentais,


indivíduos são eleitos por sufrágio universal e tornam-se representantes políticos, de
modo que a população possa continuar exercendo suas atividades ordinárias, enquanto
confia ao eleito sua participação política. As democracias modernas rompem com o ideal
de ​Rousseau, que se inclinava a democracia direta como ideal, por razões já indicadas.
As limitações políticas de cada cidadão também é um fator a ser considerado. Como
observa David Koyzis:

“Nós, seres humanos, somos criaturas finitas. Não podemos fazer tudo. A vida em
comunidade, especialmente numa comunidade ampla, demanda certa divisão do
trabalho… mesmo se fosse possível para quase todas as pessoas dedicarem parte

3
das suas energias à vida política, elas jamais seriam capazes de se especializar
suficientemente nela.”2

Seria ingenuidade insistir em uma democracia direta em comunidades políticas de alta


complexidade, entretanto, a completa indiferença ou participações políticas pontuais
(somente nas eleições) podem criar um contexto de “democracia de massa”, que como
insistia Hannah Arendt3, pode criar condições para o surgimento de regimes totalitários, a
exemplo da República de Weimar que facilitou a ascensão do partido nazista.

No atual cenário político, entre esquerdas e direitas, há um relativo consenso e interesse


em mecanismos de controle ou meios de participação política para além das eleições
populares. Há uma demanda por supervisão, acesso ao orçamento e contas públicas,
bem como, canais de comunicação aberto com os representantes. Um mundo mais
conectado tem viabilizado este cenário onde demandas políticas emergem de forma mais
frequente e em níveis mais capilares da sociedade. E, combinada a esta noção de
transparência e ​accountability, ​no caso do Brasil, tem-se a chamada ​Lei de Acesso à
Informação,​ que coopera para uma participação democrática continuada por parte da
sociedade civil.

Uma ​democracia participativa é aquela em que os cidadãos de uma dada comunidade


política não exercem sua participação política apenas no exercício do voto, mas também
no acompanhamento contínuo daqueles que elegeram. Esta participação acontece muitas
vezes por meio de instituições ou agremiações da sociedade civil, ou redes políticas
orgânicas, que se colocam entre o indivíduo e o estado, e assim apresentam demandas
de interesse público ou de grupos em particular. Tais articulações da sociedade civil
promovem petições públicas; reivindicam direitos junto a instituições e representantes
políticos; realizam investigações e fazem denúncias formais junto a órgãos
governamentais.

Democracia sob um olhar cristão


A origem da democracia é complexa, e deve-se a vários fatores, mas é inegável que
também se baseou em duas concepções antropológicas (como se concebe seres
humanos) distintas: uma rousseauniana e outra cristã. A visão rousseauniana enfatiza
que seres humanos são essencialmente bons, e por isso, a comunidade humana deveria
merecer e desfrutar da liberdade de governar. Neste caso, esse privilégio não podia ser
restrito a monarcas ou poderes absolutistas. Por outro lado, a antropologia cristã também
concebe o ser humano portador de alguma dignidade, mas em uma condição moralmente
distorcida, C.S. Lewis representa bem esta posição quando escreveu:

2
Koyzis, David. ​Visões & Ilusões Políticas: uma análise & crítica cristã das ideologias contemporâneas​. São
Paulo: Vida Nova, 2014. p.174-175.
3
Em as Origens do Totalitarismo.
4
Sou democrata porque creio na queda do homem. Creio que a maioria das
pessoas são democratas pela razão contrária… O ser humano é tão caído que
nenhum deles é confiável no exercício não-verificável de poder sobre seu próximo.4

As razões porque um cristão deveria ser um democrata são diferentes da maioria das
pessoas. Cristãos optaram por uma percepção não-ingênua do ser humano, e
consequentemente, exigem daqueles que exercem poder alternância e prestação de
contas:

Pelo fato de o Estado ou o corpo político não ser, normativamente falando, o


patrimônio de um senhor feudal, mas sim a comunidade dos cidadãos e dos
governantes chamados por Deus para promover a justiça pública, parece muito
adequado que tais cidadãos exerçam alguma responsabilidade dentro desta
comunidade e diante dela. Ademais, como os líderes políticos sofrem a tentação de
abusar de sua autoridade e de agir contrariamente ao interesse público, faz sentido
restringi-los, exigindo que se submetam ao veredito periódico das eleições.5

Reinhold Niebuhr opta por uma dupla antropologia, reconhecendo por um lado as
capacidades humanas que podem beneficiar uma dada sociedade, mas por outro, por
causa de sua falibilidade, a necessidade de alternância e controle democráticos dos que
exercem o poder representativo: “​A capacidade humana para a justiça faz a democracia
possível; porém, a inclinação humana para a injustiça faz a democracia necessária."​ 6

Olhando para as ideias democratas cristãs do estadista holandês Abraham Kuyper,


percebe-se uma importante menção à noção calvinista de que a democracia deveria ser
vista como uma dádiva com a qual temos uma responsabilidade:

E vós, Ó povos, a quem Deus deu liberdade de escolher seus próprios


magistrados, cuidem-se de não se privarem deste favor, elegendo para a posição
de mais alta honra, patifes e inimigos de Deus.7

Como alerta Robert P. Krayna8, por causa do princípio de antítese e a evidente tensão
entre a “Cidade de Deus” e a “Cidade dos Homens”9, não se deve equalizar (sintetizar)
cristianismo e democracia. Entretanto, inspirados na noção reformada de providência
histórica, há teólogos públicos que insistem que a distinção (antítese) não pode ser

4
Trecho do artigo de C.S. Lewis intitulado “Equality” publicado na revista britânica “The Spectator” em 27 de
Agosto de 1943, disponível em: ​http://archive.spectator.co.uk/article/27th-august-1943/8/equality
5
Koyzis, p. 152.
6
Niebuhr, Reinhold. ​The Children​ ​of Light and the Children of Darkness.​ Chicago: The University of Chicago
Press, 2011. p. xxxii (tradução nossa).
7
Trecho do comentário do livro de Samuel por João Calvino citado em Kuyper, Abraham. O Calvinismo. São
Paulo: Cultura Cristã, 2004.
8
Kraynak, Robert P. ​Christian Faith and Modern Democracy: God and Politics in the Fallen World. Notre
Dame: Notre Dam Press, 2016.
9
Terminologia utilizada na famosa obra “Civitas Dei” (Cidade de Deus) de Santo Agostinho.
5
superestimada. Esta precaução se deve ao fato de que ​a democracia ocidental seria
inviável sem Cristo e o cristianismo.​

O sistema democrático seria inimaginável sem o impacto de Cristo e as ondas históricas


de sua morte e ressurreição. O Evangelho propagado pela Igreja no mundo subvertia toda
noção de absolutização ou divinização de governos.

James K.A. Smith em seu recente livro ​Awaiting the King,​ inspirado nos trabalhos de
Oliver O’Donovan10, insiste na necessidade de uma genealogia das raízes cristãs da
democracia ocidental. Nas palavras de O’Donovan:

Como a superfície de um planeta marcado com crateras pelos bombardeios que


recebe do espaço, governos de eras passadas mostram o impacto da descida da
glória de Cristo.11

Noções democráticas como transparência, controle social, prestação de contas,


alternância, regulação constitucional do estado, e separação de poderes e representação
política foram produzidas a partir de complexos processos históricos derivadas da
afirmação cristã de que Jesus Cristo tem todo poder, e que por isso, todos os poderes
temporais devem ser relativizados. Nenhum governo, governante ou instituição política
pode arrogar poderes absolutos (poderes divinos).

Raízes Cristãs da Democracia Ocidental


Pode parecer, para a maioria das pessoas que nasceram à sombra de democracias
ocidentais, que noções como ​liberdade​, ​dignidade humana universal​, ​liberdade de
expressão e ​misericórdia no julgamento são valores intrinsecamente humanos e que
foram derivados da razão ou da natureza. Parece óbvio que esta é uma ilusão típica de
democracias liberais i​ nspirada na ideia rousseauniana de “lei natural”. Entretanto, como
insiste O’Donovan, democracias modernas seriam inconcebíveis sem o impacto de Cristo
na história.

Sem o cristianismo, dinastias, aristocratas, césares e déspotas continuariam arrogando


inquestionável poder absoluto e divino. A quebra da divinização dos poderes temporais só
foi possível com o irrompimento da eternidade no tempo. Jesus ‘despojou os principados
e poderes, e os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz’ (Cl 2:15). A escatologia
cristã intrometeu-se na história e como um fermento ou um grão de mostarda penetrou as
estruturas de poder temporais.

Considere que foi da liturgia, do púlpito e da missão cristã que se espalhou o “Evangelho
do Reino” que afirmava que Jesus Cristo é o ​kyriós (Senhor), esta mensagem que custou
a vida de mártires em arenas e duras perseguições a cristãos, corroía qualquer

10
Resurrection and Moral Order, The Desire of the Nations e The Ways of Judgment
O’Donovan, Oliver. ​The Desire of the Nations: rediscovering the roots of political theology​. Cambridge:
11

Cambridge University Press, 1999. p. 212 (tradução nossa).


6
concentração de poder ou divinização de autoridades temporais: “​O imperador não é
Deus. César não é o Senhor. O império não é o Reino.​”12.

Mais tarde, os desdobramentos políticos do senhorio de Cristo produziria efeitos históricos


ainda mais radicais, considere o questionamento da reforma protestante ao
cesaropapismo e a necessidade de manter fronteiras distintas entre a dimensão eclesial e
a esfera política, o germe da laicidade estatal. Obras como ​Política do calvinista alemão
Johannes Althusius (1557-1638) , ​Lex Rex do presbiteriano Samuel Rutherfford
(1600-1661) e ​De Republica Hebraeorum do calvinista holandês Petrus Cunaeus
(1586-1683) são amostras da rica produção no campo da teologia política entre
protestantes que contribuíram de maneira indispensável para o republicanismo e as
democracias modernas.

Uma vez reconhecido o legado e o impacto de Cristo e do cristianismo, pode-se agora


considerar, algumas tentações para a participação política de cristãos na arena
democrática. E, enfim, um modo evangélico de ativismo democrático.

Tentações para o Cristão em Contextos Democráticos

1. Tentação Constatinianista
Cristãos concebem seres humanos como portadores de dignidade, mas também, como
seres moralmente corruptíveis. Combinado a isto, cristãos também possuem um ​telos
(propósito) escatológico, a esperança bíblica que aponta para a “Nova Jerusalém que
Desce do Céu”, mas que não é produzida por iniciativa humana, seja individualista ou
coletivista.

Sendo assim, toda tentativa de impor uma sociedade teocrática deve ser resistida por
cristãos por causa da doutrina da queda e seu horizonte escatológico. Abraham Kuyper,
no programa político de seu partido13, adiciona ainda duas razões bem práticas:

Não desejamos uma teocracia; ao contrário, nos opomos a isso com todas as
nossas forças, e por duas razões óbvias: (1) Onde quer que o governo da igreja foi
estabelecido, ele sempre terminou em tirania e corrupção de um povo. (2) Faltam
à igreja os dons necessários, para fornecer leis à sociedade civil, que sejam
derivadas de um evidente conhecimento e entendimento da vida civil.14

Observa-se aí uma clara distinção entre a esfera da igreja e a esfera do poder


governamental. E, ter consciência de tais limites é fundamental para que cristãos se
mantenham atentos a qualquer tentação triunfalista ou de domínio da esfera política a

12
Smith, James K.A. ​Awaiting the Kingdom: reforming public theology.​ Grand Rapids: Baker Academic,
2017. p. 111 (tradução nossa).
13
Anti-Revolutionaire Partij (Partido Anti-Revolucionário) que perdurou entre 1879-1980, antes de fundir-se
com
14
Kuyper, Abraham.​ Our Program: a Christian political manifesto.​ Belllingham: Lexham Press, 2015
(tradução nossa).
7
partir da igreja. Claro que isso é muito diferente de se considerar que cristãos e o
cristianismo têm muito a contribuir com esfera pública, como já vimos. Para Kuyper o que
não pode ocorrer é um controle eclesiástico da sociedade, o que feriria a noção reformada
de laicidade estatal.

2. Tentação da Indiferença ou o Recolhimento Político


Por razões teológicas, o sentimento anabatista15 insiste em certa indiferença com a esfera
pública. Sua renúncia aos deveres cívicos inspira-se em uma rejeição a qualquer poder
temporal. Seguindo uma tendência similar, foi publicado recentemente o livro ​Benedict
Option (​ Opção Beneditina) ​de Rod Dreher. Basicamente, a ideia do autor é que o
cristianismo já perdeu a guerra cultural, e que este é um momento de ​withdraw
(recolhimento) da comunidade cristã da esfera pública. Desta forma, cristãos deveriam se
ligar a comunidades intencionais retiradas em que os valores da cristandade seriam
cultivados e preservados, até uma outra oportunidade histórica, de reaparecimento. O
livro se chama “Opção Beneditina” justamente porque se inspira ao movimento liderado
por São Bento de Núrsia que começou uma ordem monástica em resposta à decadência
moral e religiosa da civilização romana. Para Dreher, ante o triunfo da agenda
progressista, particularmente a nova esquerda americana, cristãos deveriam abrir mão de
qualquer tentativa de transformação, engajamento ou lutas, e retirar-se em comunidades
exclusivas para a preservação da ética e valores judaico-cristãos.

James K.A. Smith em matéria no Washington Post16 levantou uma séria objeção à
proposta de Dreher, alegando que o autor foi alarmista, e que não há nada no cenário
cultural contemporâneo que não seja familiar, como observa R.R. Reno, “​nossos tempos
são como qualquer outra época histórica entre a ascensão de Cristo aos céus e seu
retorno em glória: uma complicada combinação de tendências entre bem e mal.​”17 Smith
insiste: “​falta esperança cristã​”, então a opção deve ser não se retirar da arena pública,
mas encará-la com prudência, neste caso, a opção não é beneditina, mas agostiniana18.

3. Tentação Secularista
Com raízes no iluminismo (séc. XVII), o secularismo é um fenômeno em que a dimensão
religiosa é pressionada a se manter segregada à vida privada, e por esta razão, não deve
estar envolvida em questões de natureza pública. Um cristão secularizado é aquele que
se nega - a partir da cosmovisão cristã ortodoxa - a se posicionar em questões da vida
comum em sociedade. Importante mencionar, que esse é um comportamento comum

15
O anabatismo, identificado com o que se chama de ​reforma radical,​ tendia a criar uma separação radical
entre estado e a igreja. Resultado de uma ênfase exagerada na devoção pessoal, resultando um tipo de
espiritualidade indiferente em relação às questões públicas. Recomenda-se o capítulo de autoria do
neo-anabatista Thomas W. Heilke sobre o separatismo anabatista no livro multiautoral “​Five Views on the
Church and Politics​”.
16
The New Alarmism: how some Christians are stoking fear rather than hope.
https://www.washingtonpost.com/news/acts-of-faith/wp/2017/03/10/the-new-alarmism-how-some-christians-a
re-stoking-fear-rather-than-hope/?utm_term=.3a2cbb86ee28
17
Benedict Option ​https://www.firstthings.com/article/2017/05/benedict-option
18
The Benedict Option or the Augustinian Call?
https://www.cardus.ca/comment/article/the-benedict-option-or-the-augustinian-call/
8
entre progressistas e anabatistas retirantes. H. Richard Niebuhr19, pode ajudar aqui, a
diferença é que cristãos de inclinação anabatista se ausentam por verem “Cristo contra a
cultura” e progressistas insistem em um “Cristo da cultura”. Ou seja, estes ao perceberem
claras ofensas do cristianismo ortodoxo à cultura dominante, ignoram, ressignificam ou
re-imaginam o cristianismo a partir das exigências simbólicas e morais do ​zeitgeist​.

Geralmente, o secularismo alega ser “religiosamente neutro” pois vale-se apenas de


categorias científicas ou racionais em questões políticas. Koyzis insiste que ideologias
políticas são “inevitavelmente religiosas”20, elas possuem ​teologias, ​soteriologias ​e
escatologias​. Carregam consigo um núcleo de crença teórica absoluta (divindade ou
ídolo), um programa de ações ou procedimentos (plano de salvação) e tendem a possuir
um horizonte ou destino utópico de plenitude e felicidade derradeiras (escatologia).

Uma vez que seres humanos possuem aquilo que Herman Dooyeweerd denominava de
“impulso religioso inato do ego”21, não há como evitar a dimensão religiosa em questões
públicas. Roy Clouser sintetiza o assunto nos seguintes termos:

Nenhum tipo de conhecimento é religiosamente neutro… o que há de errado com


as pessoas não é que lhes falta crença religiosa, mas que elas crêem na divindade
errada. Sendo assim, ser religioso é uma dimensão tão natural a todos os humanos
quanto ser sentimental ou racional; isto pode ser exercido errada ou corretamente,
mas não pode ser completamente ignorado.22

Se é impossível ignorar a dimensão religiosa em questões públicas, e claro, muito das


posições políticas e ideologias seculares possuem lá suas divindades (“ideolatrias​”​), então
parece que o ativismo político cristão é inevitável. Para se evitar respostas ou reações
triunfalistas, indiferentes ou secularistas, sugere-se alguns princípios enraizados na
cosmovisão evangélico-protestante de modo a orientar a atuação cristã em contextos
democráticos.

A Narrativa Evangélica como Imaginário Social


Seres humanos carecem de uma narrativa (cosmovisão) que oriente o modo como se
colocam e como agem sobre a realidade. Charles Taylor utilizava o termo “imaginário
social”23 como um modo não-teórico (imaginativo) com que pessoas comuns se
posicionam e se relacionam com as outras pessoas a seu redor a partir de narrativas,
histórias, lendas ou mitos.

19
Niebuhr, H. Richard. ​Christ and Culture.​ New York: Harper & Row, 1975.
20
Koyzis, 2014, p.32-33.
21
Dooyeweerd, Herman. ​No Crepúsculo do Pensamento: estudos sobre a pretensa autonomia do
pensamento filosófico.​ São Paulo: Hagnos, 2010. p.82.
22
Clouser, Roy A. ​The Myth of Religious Neutrality:​ an essay on the hidden role of religious belief in theories.
Indiana: Notre Dame Press, 2005. p. 96.
23
Taylor, Charles. ​Modern Social Imaginaries.​ Durhan: Duke University Press, 2004. p.23.
9
Uma recomendação política propositiva de ativismo evangélico em contextos
democráticos exige uma retomada daquilo que forma o imaginário social cristão, ou seja,
sua cosmovisão.

A cosmovisão evangélica enfatiza que o Deus Trino se deu e se revelou radicalmente ao


mundo que criou por meio de Cristo. Além de Salvador daqueles que crêem nele, Jesus
também é Senhor de toda realidade e todas as dimensões da vida humana. Mesmo que
as pessoas não o reconheçam como tal, seu governo é um fato consumado na cruz e em
sua ressurreição. Apesar da factualidade de seu senhorio, falta ao mundo o
reconhecimento abrangente de sua autoridade e realeza. Por isto, cristãos vivem um
paradoxo entre o “já” e o “ainda não”, entre a autoridade outorgada a Cristo em sua
ressurreição (Mt 28:18) e a esperança escatológica da vinda visível de seu Reino.

Depois de Cristo, é evidente a todo cristão que a história caminha para um propósito
derradeiro, quando todas as coisas serão restauradas, e desfrutarão do fulgor e da glória
de Deus pela eternidade. Nesse dia, o governo de Deus será providencialmente
estabelecido (Ap. 21) independente de qualquer esforço político-histórico. Diferente de
Babel (Gn 11), esta “pátria celestial” (Hb 11:16) não será produzida por livre iniciativa ou
forças revolucionárias, antes virá como resultado dos feitos de Deus em Jesus de Nazaré.
Evangélicos esperam por uma realidade dada, não construída, edificada pela graça divina
e não por obras humanas.

A realidade da ressurreição de Cristo aponta para um horizonte de esperança que afeta a


vida de todo cristão no tempo presente. Consciente do “ainda não”, que se evidencia por
contradições relacionadas ao pecado e a queda humana, cristãos vivem como
“ressurretos” (Cl 3:1; Rm 6:13), raptados pela visão de Deus, fazem o que fazem sob o
princípio de ativismo prudente ou “presença fiel”24.

Tais cristãos assemelham-se a Noé, que era ‘justo e íntegro entre seus contemporâneos’
(Gn 6:9), ou como Davi, que ‘serviu sua própria geração’ (At 13:36). Evitando as
tentações que os segregam ou assimilam culturalmente, eles se mantêm enraizados a
uma comunidade interpretativa e formativa (a igreja), onde são formados e re-encantados
com a narrativa criação-queda-redenção. E, ao fim desses encontros litúrgicos25
regulares, são enviados em missão ao mundo, onde cumprem seus diversos papéis
sociais (pai, mãe, profissional, cidadão etc) marcados por uma profunda identidade cristã,
conscientes de seu sacerdócio e mandato de ser imagem de Deus26 na ​Civitas Mundi​.

24
Hunter, James D. ​To Change the World: the irony, tragedy & possibility of Christianity in the late modern
world.​ Oxford: Oxford University Press, 2010.
25
Smith, James K.A. ​Você é Aquilo que Ama​: ​o poder espiritual do hábito.​ São Paulo: Vida Nova, 2017.
26
Middleton, Richard J. ​The Liberating Image: The Imago Dei in Genesis 1. Grand Rapids: Brazos Press,
2005.
10
Resumida a narrativa que dá sentido ao modo como evangélicos operam no mundo
presente, pode-se agora, considerar alguns princípios para a participação evangélica em
contextos democráticos.

Um Modo Cristão de Participação Democrática27


Jonathan Chaplin, importante intelectual neo-calvinista, em um importante texto intitulado
“​Christian Justifications for Democracy​” (Justificativas Cristãs pela Democracia)28 destaca
três teorias sobre como cristãos, em linhas gerais, interagem ou são favoráveis à
democracia, e são elas: (i) teoria do consentimento; (ii) teoria defensiva; (ii) teoria
participativa.

A teoria do consentimento (i) é basicamente a noção de que a participação cristã se


reduziria ao voto, apenas legitimando ou consentindo com a eleição daquele que
providencialmente Deus quer instituir como autoridade sobre uma nação. Seja para
julgamento divino ou para benefício daquela sociedade. A ​teoria defensiva (​ ii), por sua
vez, diz respeito a certa tendência no conservadorismo político, de que a eleição
democrática deve se basear na importância de alternância de poder por causa da
corruptibilidade humana, e que o julgamento do voto deve ser implacável em relação aos
que foram abusivos ou irresponsáveis no exercício do poder. E, finalmente, a ​teoria
participativa ​(iii), que valoriza a participação política mesmo após eleição. Neste caso, a
população participaria ativamente na supervisão e no contínuo controle dos atores
políticos, apresentando reivindicações e exigindo um determinado modo de atuação.

Depois de apresentar essas três teorias cristãs pela democracia, Chaplin faz uma síntese
entre elas, propondo uma abordagem cristã mais robusta de democracia. A noção cristã
reformada de soberania divina fornece um profundo senso de providência: Deus institui a
autoridade política (Rm 13:4), e de maneira compatibilista, cristãos consentem com a
decisão tomada pelo voto, mesmo que seu candidato não tenha ganhado. Para se evitar a
indiferença, e inspirado em noções defensivas, cristãos reforçam e apóiam movimentos e
instituições de cobrança, contextos de controle social, instituições democráticas, jurídicas
e investigativas, para apurar casos de abuso, corrupção e irresponsabilidades políticas. E,
finalmente, baseado na noção de sacerdócio comum de todos os santos, participam e/ou
apóiam iniciativas da sociedade civil para melhoramento da vida comum. Exigindo o papel
das autoridades e instituições públicas na garantia da justiça pública, bem como,
encorajando iniciativas não-estatais para o melhoramento da vida comum, principalmente,
aos mais vulneráveis.

Cristãos: coragem!
No cenário brasileiro, não raras vezes, nos deparamos com a “feiúra” da participação de
alguns cristãos no cenário político. O discurso é pouco polido, mas, nem sempre
incompatível com valores cristãos fundamentais no conteúdo. Pastores públicos que

27
Considero aqui a participação política de cristãos que não são políticos profissionais. Me preocupo aqui
com o impacto da identidade cristã sobre o papel do cristão enquanto cidadão.
28
Chaplin, Jonathan. ​Christian Justifications for Democracy.​ In.: Ethics in Brief. Vol. 11 No.3. Autumn 2006.
11
vociferam sua defesa contra a legalização do aborto ou pautas relacionadas à
disseminação da ideologia de gênero, aparentam pouco preparo retórico e elegância para
a defesa de ideias na ​ágora​. Mas, é inegável que seus argumentos, em grande medida,
baseiam-se em princípios caros ao cristianismo. E, mais, muitos acabam tendo os meios
e a coragem de se posicionarem contra projetos antropológicos e civilizatórios
(ingenuidade quem acha que a questão é só chatice moralista evangélica) que possuem
pouca capacidade de produzir exatamente as virtudes que são tão necessárias para a
vida em sociedades plurais como a brasileira.

Smith (sob clara influência de Charles Taylor) levanta um problema sério: “Uma sociedade
secularizada, pós-cristã, crescentemente antirreligiosa, possui as fontes (comunidades
formativas) para engendrar as disposições/virtudes necessárias para uma ‘unidade
modesta’ e um pluralismo tolerante?”29. Duvido! Ironicamente, os movimentos que mais
afirmam a pluralidade são os mesmos que corroem as instituições necessárias para a
formação daquelas virtudes que são fundamentais para o convívio em sociedades plurais
e democráticas. Em outras palavras, nenhum movimento cultural, política educacional ou
pública podem formar virtudes como tolerância, paciência, amor sacrificial, misericórdia,
generosidade e senso de responsabilidade. Quem pode então?

Nesse momento, é necessário coragem. Se por um lado, trabalha-se pelo bem comum,
por outro, é fundamental afirmar que muitos dos benefícios desfrutados pelas
democracias ocidentais seriam inimagináveis sem a influência do cristianismo. Deve-se
deixar claro a singularidade de contextos religiosos, particularmente a igreja cristã, em
formar e fornecer as virtudes necessárias ao convívio e o ativismo democráticos. No lastro
de O’Donovan, considere que muitas das virtudes cívicas não são meramente fornecidas
pela graça comum, mas produzidas pela pregação, o discipulado, o evangelho e o culto
cristão, elas procedem da graça especial. É na dinâmica do contexto do encontro
comunitário cristão que se encontra o DNA do que há de melhor em sociedades
democráticas.

Cristãos em um Democracias Plurais


Cristãos deveriam ser propositivos em termos um modo cristão de se viver em sociedades
plurais. Abraham Kuyper insistia na necessidade de liberdade credal, governos não
deveriam favorecer o cristianismo, mas garantir sua proteção e liberdade, junto a outras
comunidades credais:

Se um judeu desejar protestar contra o Messias dos cristãos, ou um muçulmano


contra a Santa Escritura, ou um darwinista contra a ideia de criação - ou da mesma
forma, se um positivista quer protestar contra a raiz onde todas as coisas santas se
sustentam em fé - todos devem ser livres para fazê-lo. Livres, porque uma vez que
o governo comece a capinar, ele pode facilmente se enganar, e não saber separar
o joio do trigo… Sobretudo, livres, porque o cristianismo mesmo necessita deste

29
Smith, 2017, p. 147 (tradução nossa).
12
duelo constante com os campeões de outros campos e deve provar sua
​ mesmo se
superioridade moral triunfando estritamente em uma batalha ​espiritual…
uma igreja de ateus desejar estabelecer-se, ela deve ser tolerada. Nenhuma
proteção especial, mas também nenhum impedimento ou repressão.30

Kuyper não está sendo generoso demais, é que ele tinha uma profunda noção calvinista
de providência, e que uma vez que cristãos estivessem livres do controle estatal
(favorecendo-os ou coagindo-os), a igreja, e somente ela, se encarregaria de defender a
plausibilidade pública de sua fé, liberdade que deveria ser igualmente garantida a outras
comunidades credais. Pode-se dizer que esta é uma típica noção reformacional de
pluralismo democrático.

Seguindo a tradição de Kuyper, Guilherme de Carvalho apresentou suas Doze Teses


sobre o Pluralismo Social31, este é um documento bem didático e pode oferecer
importantes ​insights para aqueles que querem entender as regras do jogo democrático,
principalmente em termos do debate político-ideológico. Basicamente, o documento trata
de um pluralismo em que todos possuem direitos de se apresentarem no espaço público a
partir de suas diferentes crenças morais. Por exemplo, um interlocutor não-cristão ou
secularista não poderia desqualificar a voz de um cristão, alegando simplesmente que o
mesmo traz seu sistema de crenças religiosas à arena política. Neste caso, um pluralismo
que faça juz ao termo, deveria reconhecer, acima de tudo, uma pluralidade de crenças
morais e que as pessoas chegam ao debate político carregados das mesmas. Tentar
suprimi-las seria um tipo de violência contra a consciência: “A consciência marca a
fronteira que o estado nunca pode cruzar.”​ (Abraham Kuyper)32

Conclusão
Enfim, cristãos carecem de mais sobriedade e de mais educação em sua visão de mundo.
Eles devem ser discipulados no evangelho e na realidade do senhorio de Cristo. Precisam
reconhecer que, por mais difícil que as coisas estejam neste momento, ainda se vive, por
graça, sob um estado democrático de direito. Já vimos como este regime político desfruta
de influência cristã em suas raízes, por isso, não se deve temer o debate, o ativismo e a
articulação democrática. Ao contrário, esse direito além de garantido por lei, é também um
chamado, ao menos no exercício de um voto responsável.

O ativismo político cristão não deve perder o horizonte da prudência, e que, a melhor
coisa que cristãos podem oferecer a essa sociedade são pessoas cheias do Evangelho,
que sejam virtuosas e éticas em suas escolhas, e principalmente, ativas em sua
participação no fortalecimento da sociedade civil e na supervisão do poder estatal em sua
função de garantir a justiça pública. Cristãos devem evitar o triunfalismo, a indiferença e a
secularização, mais isso exigirá presença cristã pública que seja missional e fiel ao Trino
Deus em todas as esferas da vida humana.

30
Kuyper, 2015, posição 1524 (Kindle Version) - tradução nossa.
31
​https://www.facebook.com/notes/igreja-na-rua/doze-teses-sobre-o-pluralismo-social/403574646417698/
32
Our Program, 2015.
13

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