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REVISÃO Revista Brasileira de Ciências da Saúde

Revision DOI:10.4034/RBCS.2013.17.02.14 Volume 17 Número 2 Páginas 197-202 2013


ISSN 1415-2177

Projeto Terapêutico Singular como


Estratégia de Prática da Multiprofissionalidade
nas Ações de Saúde
Singular Therapeutic Project as a Practice Strategy
for Multiprofessionalism in Health Actions
ESTHER PEREIRA DA SILVA1
FRANCISCO DE ASSIS BRITO PEREIRA DE MELO2
MAILSON MARQUES DE SOUSA3
ROBERTA DE ARAUJO GOUVEIA4
ANDREA ANDRADE E TENÓRIO5
ANDREA FÁBIA FREITAS CABRAL6
MARINA CASTRO SOARES PACHECO7
ADIR FÁTIMA DA ROSA ANDRADE 8
TATIANE MACIEL PEREIRA9

RESUMO ABSTRACT
Objetivo: Este estudo teve como objetivo discutir o projeto Objective: This study aimed to discuss the Singular Therapeutic
terapêutico singular (PTS) no contexto da multiprofissio- Project (STP) in the context of multiprofessionality,
nalidade ressaltando a importância de se ter esta estratégia emphasizing the importance of adopting this strategy as a
como prática a ser incorporada na rotina dos serviços de saúde practice tool to be incorporated into the routine of health care
no âmbito do SUS. Material e Métodos: Trata-se de um estudo services of the Brazilian Health System. Material and Methods:
de revisão a partir de uma consulta a artigos científicos This is a literature review based on scientific papers retrieved
selecionados por meio de metanálise através de busca no by means of a meta-analysis from the databases SciELO and
banco de dados do SciELO e Bireme, a partir das fontes Bireme (Medline and LILACs sources). The content analysis
Medline e LILACS. A análise do conteúdo resultou sob a óptica resulted from the perspective of three thematic axes: concepts
de três eixos temáticos: conceitos e caminhos metodológicos and methodological approaches for the construction of the
para construção do PTS; PTS no contexto da multiprofissio- STP; STP in the context of multiprofessionality; and limitations
nalidade; e limitações para a prática do PTS nas ações de for the practical application of STP to health actions. Results:
saúde. Resultados: Os estudos analisados mostraram que o In general, the findings showed that the concepts on the STP
projeto terapêutico singular é uma estratégia de prática da are homogenous; and authors have similar opinion on the
multiprofissionalidade nas ações de saúde e os pesquisadores employment of the STP as a practical strategy for the
descrevem que as principais limitações para sua efetivação multiprofessionality in health actions. Conclusion: The
são: a falta de comunicação e a formação acadêmica unipro- construction of the singular therapeutic project transforms care
fissional da equipe. Conclusão: A construção do projeto terapêu- practices and also strengthens the role of the multiprofessional
tico singular transforma as práticas de cuidado e também team, as it allows an exchange of knowledge and promotion of
fortalece o papel da equipe multiprofissional ao permitir a a comprehensive care targeting people’s needs in their social
troca de saberes e promover uma atenção integral centralizada background.
nas necessidades das pessoas em seu contexto social.

DESCRITORES DESCRIPTORS
Atenção à saúde. Assistência Integral à Saúde. Equipe de Health Care. Comprehensive Health Care. Patient Care Team.
Assistência ao Paciente.
1 Nutricionista. Residente do Programa de Pós-Graduação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
2 Enfermeiro. Residente/Programa De Residência Integrada Multiprofissional Em Saúde Hospitalar (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
3 Fisioterapeuta, Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
4 Nutricionista.
5 Psicóloga. Residente do Programa de Pós-Graduação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar da UFPB(UFPB), João
Pessoa/PB, Brasil.
6 Assistente Social. Residente do Programa de Pós-Graduação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (UFPB), João Pessoa/
PB, Brasil.
7 Farmacêutica. Residente do Programa de Pós-Graduação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (UFPB), João Pessoa/PB,
Brasil.
8 Enfermeira do Hospital Universitário Lauro Wanderley (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
9 Enfermeira. Residente do Programa de Pós-Graduação da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (UFPB), João Pessoa/PB,
Brasil.

http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs
SILVA et al.

T
radicionalmente, o modelo de atenção utilizado MATERIAL E METÓDOS
com o usuário da saúde não o considerava como
sujeito ativo de seu tratamento, não envolvia sua
Trata-se de um artigo de revisão da literatura
família e não valorizava sua história, cultura, vida
especializada, compreendido entre o período de maio a
cotidiana e qualidade de vida. O principal foco de atenção
setembro de 2012, a partir de consultas a 15 artigos
era a doença. Esse modelo vem sofrendo modificações,
desde a criação do SUS, agregando características de científicos, publicados entre os anos de 1999 a 2011.
valorização do saber e das opiniões dos usuários/ Foram incluídos estudos em português, disponíveis na
famílias na construção do projeto terapêutico (PINTO íntegra e que estivessem relacionados ao tema: projeto
et al., 2011). terapêutico singular e multiprofissionalidade, como
A humanização da saúde e o atendimento integral também àqueles que envolvessem aspectos metodo-
aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) são lógicos e enfoques teóricos referentes ao tema.
metas que vêm sendo almejadas pelos trabalhadores e Os artigos foram selecionados por meio de
profissionais da saúde pública atualmente. Para tanto, metanálise através de busca nos bancos de dados do
são repensadas estratégias de ação e produção do cui- SciELO e Bireme, a partir das fontes Medline e LILACS.
dado que coloquem o usuário no centro da atenção e As buscas nos bancos de dados foram realizadas
sua saúde como fim, a exemplo do Projeto Terapêutico
utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores
Singular- (PTS).
em Ciências da Saúde: Atenção à saúde, Assistência
O PTS é um conjunto de propostas de condutas
Integral à Saúde e Equipe de Assistência ao Paciente,
terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou
coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe criados pela Biblioteca Virtual em Saúde.
interdisciplinar, com apoio matricial, se necessário. Apesar do presente estudo tratar-se de uma
Geralmente, é dedicado a situações mais complexas. Em pesquisa, este não apresentou a necessidade de aprova-
verdade, é uma variação da discussão de “caso clínico” ção pelo Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que
(BRASIL, 2007). manipula com dados de livre-acesso, não se tratando,
O PTS incorpora a noção interdisciplinar que portanto, de documentos que requeiram sigilo ético.
recolhe a contribuição de várias especialidades e de
distintas profissões. Assim, depois de uma avaliação CONCEITOS E CAMINHOS METODOLÓGI-
compartilhada sobre as condições do usuário, são COS PARA A CONSTRUÇÃO DO PTS
acordados procedimentos a cargo de diversos membros
da equipe multiprofissional, denominada equipe de
A humanização da atenção e da gestão no
referência. Assim, as equipes de referência empreendem
Sistema Único de Saúde (SUS) é uma prioridade
a construção de responsabilidade singular e de vínculo
inadiável. Humanizar significa valorizar o usuário do
estável entre equipe de saúde e usuário/família. Cada
profissional de referência terá o encargo de acompanhar serviço de saúde como sujeito de direitos, capaz de
as pessoas ao longo de todo o tratamento naquela exercer sua autonomia, rompendo com o conceito antigo
organização, providenciando a intervenção de outros da lógica da caridade, compreendendo a possibilidade
profissionais ou serviços de apoio consoante neces- de dar condições para que o usuário seja participante
sário e, finalmente, assegurando a alta e continuidade no processo terapêutico (CASATE; CORRÊA, 2009).
de acompanhamento em outra instância do sistema Ajudar usuários e trabalhadores a lidarem com a
(PINTO et al., 2011). complexidade dos Sujeitos e a multicausalidade dos
Nessa perspectiva, o presente artigo pretende problemas de saúde na atualidade significa ajudá-los a
fortalecer a apropriação do conhecimento acerca do trabalhar em equipe. Um estudo feito com as equipes de
projeto terapêutico singular no contexto da multipro- atenção básica na Inglaterra, visando investigar quais
fissionalidade, ressaltando a importância de se adotar
fatores exerciam mais impacto na qualidade da atenção,
essa estratégia como prática a ser incorporada na rotina
demonstrou que o “clima” de trabalho nas equipes
dos serviços de saúde no âmbito do SUS, por parte dos
afetava fortemente o resultado (CAMPBELL, 2001).
gestores, profissionais de saúde, bem como pesquisa-
dores, a partir de uma reflexão teórica do tema. O PTS está inserido como estratégia no contexto

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Projeto Terapêutico Singular como Estratégia de Prática da Multiprofissionalidade nas Ações de Saúde

multidisciplinar do tratamento de enfermidades. O PTS, são complementares e há um ponto de convergência


como estratégia de humanização do Sistema Único de central na concepção de que o resgate da cidadania é
Saúde (SUS), é um conjunto de propostas de condutas objetivo final das estratégias de cuidado, e que esta
terapêuticas articuladas, para um sujeito individual ou finalidade só pode ser alcançada na singularização das
coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe necessidades promovida pelo projeto terapêutico.
interdisciplinar. Portanto, é uma reunião de toda a equipe A fim de garantir a elaboração e operacionalização
em que todas as opiniões são importantes para ajudar a de um PTS, BOCCARDO et al. (2011) propõem a adoção
entender o Sujeito com alguma demanda de cuidado em de alguns eixos norteadores: a centralidade na pessoa,
saúde e, consequentemente, para definição de propostas a parceria entre equipe e usuário, a articulação dos re-
de ações (BRASIL, 2007). cursos do território nas ações executadas, a ênfase no
A princípio, a estratégia intitulou-se Projeto contexto da pessoa, a construção compartilhada e a
Terapêutico Individual. Entretanto o nome Projeto definição de metas com duração previamente acordada.
Terapêutico Singular, é considerado mais apropriado Para a Política de Humanização do Sistema Único
porque destaca que o projeto pode ser feito para grupos de Saúde, o Projeto Terapêutico Singular é composto
ou famílias e não só para indivíduos, além de frisar que por quatro momentos: o Diagnóstico; a Definição de
o projeto busca a singularidade (a diferença) como metas; a Divisão de responsabilidades; e a Reavaliação
elemento central de articulação (BRASIL, 2007). (BRASIL, 2007).
Para MERHY (1999), o projeto terapêutico deve No primeiro momento, o objetivo é realizar uma
ser um instrumento que responda às demandas objeti- avaliação biopsicossocial, com o intuito de definir o
vas e subjetivas dos usuários e tem como objetivo a momento e a situação vivenciada pelo sujeito. Em
produção de sua autonomia e apropriação de seu seguida, é preciso traçar metas, definindo juntamente
processo de cuidado. com o usuário o tempo necessário para que essas sejam
Nesse sentido, para OLIVEIRA (2007) o PTS é cumpridas. O terceiro momento corresponde à divisão
definido como um arranjo operador e gestor de cuidado, de responsabilidades entre os profissionais, onde o
cooperação e compartilhamento de saberes centrados coordenador será aquele que tiver melhor vínculo com
no usuário, “é o encontro de desejos, projetos, ideolo- o usuário. Posteriormente, é necessário negociar
gias, interesse, visão de mundo e subjetividade”. propostas, considerando as diferenças e peculiaridades
Reforçando a mesma posição, MORORÓ (2010) do sujeito. Num último momento, deve-se fazer uma
define projeto terapêutico como o conjunto de condutas reavaliação refletindo sobre o andamento do trabalho,
terapêuticas articuladas, resultantes de discussão evoluções e novas propostas (LINASSI et al.,
coletiva de equipe interdisciplinar, que objetiva, além 2011).
da melhoria de sintomas, a ampliação da rede social e o OLIVEIRA (2007) critica a construção e utilização
aumento de espaços de contratualidade para modificar de protocolos rígidos na operacionalização dos PTS, e
o curso do adoecimento. afirma que isso pode gerar normatizações que se distan-
BARROS (2009) propõe que os projetos ciam da singularidade proposta para seu desenvol-
terapêuticos devem superar o paradigma biomédico por vimento. Porém, acredita que a utilização de um roteiro
meio de ações conjuntas e coletivas para responder às pode direcionar a equipe e evitar que essa se perca no
necessidades das pessoas, o que gera mudança de vida. processo.
Para o autor é recomendada a utilização da terminologia Contudo, os autores pesquisados são unânimes
Projeto Terapêutico Singular. em considerarem que o foco da construção e desenvol-
A leitura dos estudos selecionados permitiu vimento do PTS deva ser o usuário em sua singu-
observar que não existem divergências nas definições laridade, e que este processo deve contemplar ainda a
encontradas. As posições apresentadas pelos autores participação da família e da rede social destes sujeitos.

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SILVA et al.

PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR NO intersecções e interfaces. Este é um trabalho necessário,


CONTEXTO DA MULTIPROFISSIONALI- que exige coragem, determinação e contínua autocrítica
DADE para que os objetivos sejam atingidos (SBC, 2009).
O trabalho da equipe multiprofissional contribuirá
Introduzir no sistema de saúde novas raciona- para oferecer ao paciente e à comunidade uma visão
lidades, como o princípio da integralidade, pressupõe mais ampla do problema, dando a ela conhecimento e
que o profissional de saúde mude sua prática ao motivação para vencer o desafio e adotar atitudes de
desenvolver um olhar novo para o doente, para o colega mudanças de hábitos de vida e adesão real ao tratamento
de trabalho e para si mesmo, com vistas a ir além da proposto (SBC, 2009).
realização de atos formais. Também, pressupõe instituir Dentre as principais vantagens da atuação
espaços de encontros e de trocas que fortaleçam a multiprofissional estão: um maior número de indivíduos
articulação da ação e integração entre os profissionais atendidos; melhor adesão ao tratamento; cada paciente
(PIROLO et al., 2011). poderá ser um replicador de conhecimentos e atitudes,
O desenvolvimento do princípio da integralidade favorecendo ações de pesquisa em serviço, entre outros
nas práticas cotidianas dos serviços de saúde traduz- (PINTO, 2011).
se na implicação da equipe em compreender e formular A estratégia do PTS é inovadora na medida em
estratégias de modo a atender às necessidades de saúde que busca ampliar o trabalho já existente, aprimorando
das pessoas e da comunidade (BARROS, 2010). estratégias para produzir saúde, gerando melhora na
O trabalho em equipe deve ser baseado nas ne- relação entre a tríade: trabalhadores, usuários e gestão
cessidades dos usuários, integralidade das ações e inter- (LINASSI et al., 2011).
disciplinaridade e, para tanto, são propostas mudanças BARROS (2009) sugere que as reuniões de
na forma de organização e relações de poder entre os equipe sejam a base de organização dos serviços e que
membros da equipe e desta com os usuários (PEDUZZI, devam contemplar espaços para discussões de casos e
2007). decisões conjuntas. Os profissionais envolvidos devem
Ainda de acordo com PEDUZZI (2007), convém desenvolver maior clareza sobre os papéis que desem-
lembrar que o conceito e a prática do ‘trabalho em equipe’ penham na equipe e junto aos usuários sob seus
tiveram sua origem na racionalização da assistência cuidados. Da mesma forma, os espaços de discussão
médica e na necessidade de integração de diferentes entre usuários, família, equipe e a interlocução da equipe
práticas no desenvolvimento da assistência à saúde, a com outros serviços envolvidos no cuidado e as reava-
partir da nova concepção do processo saúde-doença liações sistemáticas são fundamentais no desenvol-
definida pela Organização Mundial da Saúde, que vimento de cada PTS.
passou a incorporar as dimensões socioculturais e
coletivas envolvidas no processo saúde-doença, e não LIMITAÇÕES PARA A PRÁTICA DO PTS NAS
mais apenas a dimensão biológica e individual. Nesse AÇÕES DE SAÚDE
contexto, o trabalho em equipe deve promover a
integração das diversas disciplinas envolvidas por meio As reuniões de equipe devem ser organizadas
da comunicação e do compartilhamento de ações e como espaços de reflexão, discussão, compartilhamento
saberes. e divisão de tarefas e responsabilidades, promovendo
A necessidade de trabalho multiprofissional nos horizontalização do conhecimento, para que todos na
cuidados com a saúde é reconhecida por todos, e vem equipe sintam-se membros e responsáveis (LEÃO,
sendo incorporada de forma progressiva na prática BARROS, 2008; FILIZOLA, MILIONI, PAVARINI, 2008;
diária. Treinados durante a formação para atuar indivi- NUNES et al., 2008).
dualmente, os profissionais de saúde vivem uma fase O trabalho em equipe propicia a integração das
contraditória na qual, mesmo sabendo o que é melhor, ações dos profissionais e é essencial para o novo mode-
se veem com dificuldades e pudores para definir limites, lo de atenção proposto, porém os autores evidenciam a

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Projeto Terapêutico Singular como Estratégia de Prática da Multiprofissionalidade nas Ações de Saúde

dificuldade deste tipo de organização, uma vez que CONCLUSÃO


algumas equipes ainda estão centradas no modelo
biomédico e apresentam dificuldade de comunicar-se e A partir dos achados encontrados, os pesqui-
compartilhar os saberes (ADUHAB et al.,2005). sadores descritos são unânimes ao afirmarem que o
Os principais obstáculos para o desenvol- projeto terapêutico singular é uma estratégia inovadora
vimento de PTS são: dificuldade da equipe em identificar do Sistema Único de Saúde que se insere no contexto
a base teórica de sua prática; sobrecarga de responsa- interdisciplinar para a terapêutica de enfermidades,
bilidade assistencial ocasionada pela alta demanda; falta tomando como pressuposto o princípio da integralidade,
de qualificação da equipe; e a dinâmica proposta para buscando ampliar o olhar para o usuário a partir da
as reuniões. A forma de organização das equipes de multiprofissionalidade.
referência pode também dificultar a troca de informações Ainda, os estudos apontam que quanto às limita-
e a coordenação necessária para a organização do tra- ções para a efetivação do projeto terapêutico singular
balho e definição de metas e prioridades das ações em nas equipes de saúde, maior atenção deve ser dada às
um PTS (BARROS, 2010). questões de melhoria da comunicação e integração entre
Acrescentam-se a esses aspectos: a falta de a equipe, a construção de espaços multidisciplinares
espaços para discutir o PTS com o usuário e família; a nos serviços de saúde para discussão do PTS e a
dificuldade da equipe em se dispor a compreender e formação acadêmica que deve estar voltada para a
atender às necessidades do usuário; a fragmentação do prática da abordagem integral.
desenvolvimento do PTS nas etapas de prevenção, Assim sendo, inserido na temática da troca de
tratamento e reabilitação ao invés de uma concepção saberes entre profissionais, atividade essencial no
contínua e integrada entre esses aspectos; a falta ou cuidado em saúde, enfatiza-se a construção do projeto
insuficiência de registros em prontuários; a formação terapêutico singular enquanto atividade rotineira a ser
profissional inadequada para as necessidades da nova desenvolvida nos serviços de saúde, uma vez que o
política assistencial e a rotatividade da equipe mesmo busca atender a demandas de saúde complexas
(BARROS, 2010). São ainda fatores limitantes: a falta ou e por isso conta com uma equipe multidisciplinar, arti-
insuficiência de comunicação da equipe; o uso de culando saberes e troca de conhecimentos, possi-
modelos fechados e a compreensão do PTS como um bilitando autonomia ao usuário, tornando-o sujeito ativo
mero dispositivo administrativo (MORORÓ, 2010; na construção do processo de saúde.
NUNES et al., 2008).

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