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Artigo Construção Civil II PDF
Artigo Construção Civil II PDF
Recebido em 03/12/2010
Aceito em 11/03/2011
Introdução
A construção civil é uma atividade econômica que MARCHIORI, 2009; JACOMIT; GRANJA,
representa uma parcela importante do produto 2010).
interno bruto de qualquer país e tem efeitos
Com vistas a contribuir para esse contexto em
significativos na empregabilidade de pessoal evolução, este artigo relata uma nova abordagem
(UNIEMP, 2010). Tal segmento econômico é uma para lidar com esse problema de orçamentação em
atividade em que seu produto representa um
projetos de construção civil e apresenta um estudo
grande investimento, tanto para as empresas
de caso realizado em uma construtora catarinense,
quanto para seus clientes.
onde foi aplicada a metodologia de apoio à decisão
Por esse motivo, o processo de orçar um multicritério construtivista (MCDA-C) (ENSSLIN
empreendimento torna-se fator crítico para et al., 2010; MORAES et al., 2010; ZAMCOPÉ et
empresas construtoras antes que a edificação seja al., 2010; LACERDA; ENSSLIN; ENSSLIN,
projetada em detalhes e que os contratos de venda 2011a, 2011b).
e de fornecimento sejam firmados. As atividades preconizadas pela MCDA-C
Com uma investigação em custos criteriosa, pode- permitiram ao gerente da construtora identificar,
se reduzir desvios que impactam na lucratividade organizar e mensurar os aspectos que influenciam
do empreendimento ou até mesmo desvios os desvios em custos, possibilitando atuar sobre
significantes, que poderiam inviabilizar a suas causas, a fim de minimizá-las ou até eliminá-
continuidade da execução de uma obra (LOPES; las.
LIBRELOTTO; AVILA, 2003; TAS; YAMAN,
Esse conhecimento foi então organizado em um
2005).
modelo multicritério que está sendo utilizado
Para atender a tal investigação, três metodologias como guia para a geração de ações de melhorias e
para elaboração de estimativas de custos se a avaliação dessas proposições, a fim de apoiar as
destacam no contexto brasileiro: o Custo Unitário decisões na organização estudada.
Básico (CUB), o Modelo Paramétrico de Custo e o
Além dessa introdução, o artigo está disposto em
Orçamento Detalhado (OTERO, 1998;
mais seis seções. Na seção seguinte, está contida a
MARCHIORI, 2009). As duas primeiras se
fundamentação teórica sobre avaliação de
destinam às etapas iniciais do empreendimento desempenho na construção civil; na terceira,
(estudo de viabilidade e planejamento inicial), e a
encontra-se a metodologia de pesquisa; a quarta
terceira, às etapas de projeto e desenvolvimento,
seção apresenta os procedimentos para a
quando informações sobre quantitativos já podem
construção do modelo; a quinta seção se destina às
ser determinadas.
considerações finais; e na última seção são listadas
No entanto, esses métodos de elaboração de as referências bibliográficas.
orçamentos têm apresentado limitações nos
contextos atuais, uma vez que os projetos se Referencial teórico
tornam cada vez mais amplos, multinacionais e
sofisticados (TAS; YAMAN, 2005). Gerenciamento de projetos de
As principais limitações encontradas na literatura construção civil: contextualização
são: a falta de precisão, de pontualidade e a pouca
Com o crescimento do setor da construção civil,
periodicidade na atualização das informações de
dada a grande demanda provida pelo mercado, as
custo; o formato excessivamente voltado às
empresas passaram a dar maior importância às
exigências legais, fiscais e acionárias; e a falta de
práticas de gerenciamento de projetos para apoiar a
um foco gerencial na elaboração dos custos
tomada de decisão estratégica, melhorar a
(LOPES; LIBRELOTTO; AVILA, 2003; KERN;
qualidade de suas obras e sua competitividade
FORMOSO, 2006; MARCHIORI; UBIRACI,
(WINTER; CHECKLAND, 2003).
2006; LIU; ZHU, 2007; MARCHIORI, 2009).
Um projeto de construção civil possui algumas
Ante essa constatação, diversos trabalhos têm sido
características que requerem um considerável
desenvolvidos com o intuito de aumentar a
esforço para executar um gerenciamento
precisão das estimativas de custo e seu potencial
adequado:
como base para a tomada de decisão (TAS;
YAMAN, 2005; KERN; FORMOSO, 2006; (a) mobilização de grande quantidade de recursos
KERN; SOARES; FORMOSO, 2006; especializados (WALKER, 2007);
MARCHIORI; UBIRACI, 2006; LIU; ZHU, 2007;
86 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
(b) executado em ambiente dinâmico, incerto e (c) incerto, por usar dados tanto qualitativos como
complexo, que envolve a maioria dos projetos de quantitativos sem a preocupação da acuracidade
construção (KERN; FORMOSO, 2006); que outras ciências poderiam disponibilizar.
(c) complexidade na avaliação do grau de risco do Ou seja, um contexto onde os decisores
projeto (LIU; ZHU, 2007; ZENG; AN; SMITH, reconhecem suas limitações quando do
2007); e entendimento das consequências de suas decisões
operacionais. Tais decisões têm, em seu propósito,
(d) envolvimento de muitos stakeholders, com
a redução ou a eliminação de uma discrepância em
posicionamentos diferentes ou até conflitantes
um ou mais aspectos julgados pelo decisor como
(HOFFMANN; PROCOPIAK; ROSSETTO, 2008;
relevantes quando de sua avaliação do contexto
YANG; PENG, 2008).
(ROY, 1996).
Perante essas características, o segmento da
Dessa forma, torna-se relevante analisar qual o
construção civil vem realizando esforços na busca
conceito de avaliação de desempenho empregado
por elevação de seus patamares de qualidade de
produtos e serviços, obtenção de maior pela literatura sobre gestão de projetos na
conformidade, confiabilidade e atendimento às construção civil.
necessidades dos clientes (PBQP-H, 2005).
Avaliação de desempenho
Esses desafios requerem das construtoras um
planejamento baseado em informações confiáveis. A avaliação de desempenho é, hoje, um processo
Sem uma estimativa de custo adequadamente que está inserto no contexto das organizações,
detalhada, não há como prever resultados, independentemente de seu tipo ou finalidade. O
independentemente da competência da gestão e processo de avaliar o desempenho permite a
dos recursos do contratante (LIU; ZHU, 2007). geração do conhecimento para que a tomada de
decisão seja realizada de forma coerente com os
Informações sólidas e confiáveis possibilitam uma
valores e preferências dos gestores, os quais
gestão de custos eficiente, que, segundo Kern e
podem a qualquer momento alterar essa situação,
Formoso (2006), devem ser dinâmicas, pró-ativas
aqui denominados decisores.
e capazes de suportar diferentes processos
decisórios, a fim de proteger a empresa contra os Assim, entre os artigos selecionados para compor
efeitos nocivos da incerteza. O objetivo principal o cerne do referencial bibliográfico da pesquisa,
do planejamento deve ser a geração de buscaram-se os conceitos acerca de avaliação de
informações para apoio à decisão (KERN; desempenho (AD):
FORMOSO, 2006). (a) Kaplinski (2008) menciona que os métodos
Essas informações são analisadas, organizadas e para auxiliar a tomada de decisão têm sido
compiladas em um orçamento, que representa a desenvolvidos dinamicamente e existe uma
formalização dos planos de projeto estabelecidos. dependência evidente de novas e sofisticadas
tecnologias de informação para auxiliar neste
Esse é um grande desafio para as empresas, pois,
processo;
apesar de os diversos processos construtivos
poderem ser considerados repetitivos, cada (b) para Cioffi e Khamooshi (2009), a avaliação
empreendimento é único, em termos de projetos, de desempenho deve ser baseada na mensuração
condições locais, estrutura organizacional e cadeia de riscos de experiências anteriores e em um
de suprimentos (COSTA et al., 2006). modelo matemático que, a partir desse histórico,
possa determinar a probabilidade e os valores
Dessa forma, o processo de orçamentação na
associados a riscos de projetos futuros;
construção civil reside em um contexto complexo,
conflituoso e incerto (LACERDA; ENSSLIN; (c) Pollack-Johnson e Liberatore (2006)
ENSSLIN, 2011b): explicitam que a avaliação de desempenho deve
mensurar a duração e o custo da tarefa, e também
(a) complexo, por envolver múltiplos critérios
levar em consideração o critério de qualidade de
não claramente explicitados e integrados por
execução dessas tarefas;
compensações não bem estabelecidas;
(d) Farris et al. (2006) entendem a avaliação de
(b) conflituoso, por se tratar de um contexto onde
desempenho como uma atividade que deve
distintos grupos de atores buscam melhorar o
permitir que o departamento ganhe novas visões
alcance dos critérios por eles percebidos como
sobre o impacto das mudanças em seu processo de
importantes em contraponto a outros critérios
engenharia em relação à duração do projeto,
defendidos por outros grupos; e
mediante a utilização de um índice que
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 87
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
88 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
por escalas ordinais, explicitando os valores escalas ordinais pelo número máximo de eventos
financeiros comprometidos se o risco ocorrer. previstos, gerando uma média ponderada. Isso
denota o uso de operações matemáticas com
Koo et al. (2010), Banaitiene et al. (2008) e Farris
escalas ordinais, não reconhecendo, assim, suas
et al. (2006) utilizam-se de escalas ordinais para
limitações quanto a esse uso.
mensuração dos aspectos relevantes, porém se
valem tanto de escalas que mensuram as Nos trabalhos seguintes, a integração das escalas é
propriedades físicas do contexto quanto de escalas propiciada por meio de outras formulações
de Likert. matemáticas, sendo no método apresentado por
Farris et al. (2006) a integração feita através do
Usando outra forma de mensuração, Pollack-
emprego da ferramenta DEA (Data Envelopment
Johnson e Liberatore (2006) utilizam-se de escalas
cardinais para mensurar os objetivos, associando Analysis), que, por meio de grupos de comparação
de cada projeto com seus pares similares,
essas escalas cardinais às propriedades físicas do
determina, por meio de análises estatísticas, a
contexto.
variável de saída, no caso estudado, a duração do
O presente estudo se apóia na construção de projeto.
descritores para explicitar o desempenho dos
De forma similar, Fan, Lin e Sheu (2008) o fazem
aspectos julgados como relevantes pelo decisor,
pela aplicação de funções que consideram as
valendo-se de escalas primeiramente ordinais que
variáveis de risco históricas utilizadas na
atendam às seguintes propriedades (ENSSLIN,
avaliação, de forma a estimar o custo final do risco
2009):
associado ao projeto avaliado.
(a) mensurabilidade;
A aplicação de pesos para compensação da
(b) operacionalidade; contribuição de cada aspecto é encontrada em Koo
(c) homogeneidade; et al. (2010) e Banaitiene et al. (2008). Em Koo et
al. (2010), a integração das escalas, visando
(d) inteligibilidade; determinar a similaridade de projetos, utiliza pesos
(e) distinção entre o desempenho melhor e o pior; atribuídos por algoritmos genéticos (GA) para
e compensação dos aspectos relevantes e, para
Banaitiene et al. (2008), a integração é realizada
(f) respeito às propriedades das escalas ordinais. por meio de uma matriz de normalização que
Reconhecendo os limites de uso das escalas considera os valores de cada aspecto e seu peso,
ordinais, o presente trabalho se apóia em processos determinados pela preferência do decisor.
científicos para agregar as informações requeridas Embora o uso de taxas de compensação (pesos)
para transformar tais escalas em escalas cardinais para integração de escalas seja considerado como
e, dessa forma, ampliar o entendimento do uma evolução no contexto da integração, ambos os
contexto em comparar determinado nível de estudos (BANAITIENE et al., 2008; KOO et al.,
desempenho em dado critério com o mesmo nível 2010) o fazem sem associar essas taxas a níveis de
de desempenho em outro indicador de referência nos aspectos mensurados, o que
desempenho. compromete seus resultados (KEENEY, 1992).
Com esse conhecimento que as escalas cardinais Já Pollack-Johnson e Liberatore (2006) utilizam-se
proporcionam, tem-se a oportunidade de apresentar de escalas cardinais ancoradas pela percepção do
um processo cujas escalas de mensuração possam gerente do projeto para a integração dos aspectos
ser integradas e, ao mesmo tempo, respeitar os relativos a cada uma das etapas do processo
limites das escalas ordinais, utilizando-as apenas construtivo, sendo a integração global (projeto)
para operações matemáticas de frequência, final realizada por meio de programação linear.
contagem, mediana e moda (BARZILAI, 2001).
Neste trabalho, com o propósito de dar maior
Integração das escalas acuracidade ao modelo de apoio à decisão, as
escalas ordinais são transformadas em escalas
A integração das escalas objetiva propiciar uma intervalares. A escala de intervalos ocorre quando
visão global do contexto avaliado. Assim, tem todas as propriedades das escalas ordinais e
seguindo em uma linha evolutiva, temos que adicionalmente se conhece a diferença entre todos
Kaplinski (2008) não menciona a integração de os níveis. Essa diferença é chamada “diferença de
escalas, sendo seu trabalho desenvolvido sem a atratividade” entre os níveis. Isto é, se o
explicitação de escalas de mensuração. conhecimento da escala é tão preciso que permite
Já para Cioffi e Khamooshi (2009), a integração é saber a distância entre todos os intervalos da
realizada por meio da razão entre a soma das
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 89
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
escala, então se atinge o grau de mensuração por identificam e analisam alternativas, de forma a
intervalos, e a escala passa a ser cardinal. escolher a melhor estratégia para mitigar esses
riscos. Assim, os gerentes podem escolher
Uma escala intervalar é caracterizada por uma
estratégias para reduzir os riscos a um nível
unidade constante e comum de mensuração, que
aceitável, dadas as características do projeto e a
atribui um valor real a todos os pares de objetos no
situação desses riscos, melhorando o desempenho
conjunto ordenado. Keeney (1992), Bana e Costa
et al. (1999), Ensslin, Dutra e Ensslin (2000), atual dos projetos.
Barzilai (2001) e Ensslin et al. (2010) afirmam que Nos demais artigos selecionados, a saber, Farris et
se procura a partir das escalas qualitativas ordinais al. (2006) e Pollack-Johnson e Liberatore (2006),
sua transformação em uma escala de intervalos, Kaplinski (2008), Banaitiene et al. (2008), Cioffi e
por meio da incorporação de informações Khamooshi (2009), Koo et al. (2010), não foram
preferenciais do decisor sobre as diferenças de encontradas formas explícitas de melhoria do
atratividade entre todos os níveis. desempenho atual.
Na visão do presente estudo, busca-se o
Diagnóstico da situação atual (SQ) entendimento dos diferentes impactos das ações
O diagnóstico da situação compreende a atividade potenciais nos objetivos julgados necessários e
de analisar o desempenho das alternativas e de suficientes para a avaliação de um contexto, com o
compor o perfil de desempenho para os critérios objetivo de explorar oportunidades de melhoria a
estabelecidos pelo decisor. partir dos descritores construídos para cada um dos
critérios adotados.
Em relação a esse quesito, a maior parte dos
autores pesquisados, a saber, Kaplinski (2008),
Fan, Lin e Sheu (2008), Banaitiene et al. (2008), Metodologia de pesquisa
Cioffi e Khamooshi (2009), Koo et al. (2010), não
relata em seus trabalhos como realizar o
Enquadramento metodológico
diagnóstico da situação atual. A pesquisa é exploratória, aplicada e desenvolvida
Já nos trabalhos de Farris et al. (2006) e Pollack- sob a forma de um estudo de caso. A fonte dos
Johnson e Liberatore (2006), o diagnóstico da dados é de origem primária, sendo eles obtidos por
situação atual é realizado localmente em cada um meio de entrevistas semiestruturadas com os dois
dos aspectos mensurados. Pollack-Johnson e principais gestores da organização em que foi
Liberatore (2006) realizam esse diagnóstico pela realizado o trabalho. O método de pesquisa é
comparação dos valores obtidos (realizados) com qualiquantitativo.
os valores previstos ou metas estipuladas. Sobre o instrumento de intervenção adotado,
Farris et al. (2006) o fazem por meio da destacam-se, na literatura sobre apoio à decisão,
comparação com valores de referência, quatro abordagens para resolver problemas (ROY,
determinados por um projeto benchmarking. A 1993):
comparação permite a determinação da situação (a) descritivista: caracterizada pelo que acontece
atual de cada aspecto em relação à situação no mundo, sem emitir julgamento humano sobre a
comparada. realidade. São instrumentos advindos das ciências
Neste trabalho propõe-se que o diagnóstico seja naturais e são adequados onde a relevância da
realizado por meio da identificação gráfica da percepção humana é nula;
situação atual (status quo) em cada um dos (b) normativista: caracterizada pela adoção de um
descritores do modelo e também de forma modelo que funcionou em outro contexto. Tais
integrada, mensurando o desempenho atual da modelos são adotados quando os gestores preferem
organização, de forma cardinal local e global. acreditar que instrumentos que foram utilizados em
outras organizações são úteis para seu contexto,
Formas de aperfeiçoamento sem adequações. Assim, a participação do gestor é
resumida à escolha do modelo a ser implementado;
Entre os artigos selecionados para a análise da
literatura, a única proposta de avaliação de (c) prescritivista: caracterizada pela elaboração de
desempenho que gera alternativas de modelos de gestão que sejam adequados para dada
aperfeiçoamento é a de Fan, Lin e Sheu (2008). Os organização, do ponto de vista de um especialista
autores propõem um modelo matemático que externo ao contexto. Essa abordagem entende que
auxilia os gerentes de projeto na definição de ações os processos devem ser personalizados, há um
de resposta a riscos, para mitigá-los em função das envolvimento da organização para fornecer
características do projeto e da situação do risco. informações e posteriormente adotam-se as
Por meio desse modelo, os gerentes de projeto recomendações dadas pelo consultor externo; e
90 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 91
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
92 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
EPA Descrição
1 Definir material para acabamento
2 Classificar material para acabamento
3 Definir fornecedores para material de acabamento
4 Definir similares para material de acabamento
5 Levantar os preços de material de acabemento
6 Usar os materiais de acabamento definidos
7 Memorial descritivo
8 Check list para memorial descritivo
9 Definir padrões para materiais
10 Ter projeto de áreas comuns
Quadro 2 – Relação dos 10 primeiros EPAs identificados
Conceito Descrição
C1 Ter materiais predefinidos de acabamento ... ter dificuldades na seleção de materiais para
acabamento
C2 Ter categoriaspreestabelicidas com seus materiais de acabamento (linha de produto/fornecedor)
... cada empreendimetno ter materiais sem padronização
C3 Selecionar fornecedores de referência para os materiais de acabamento ... ter dificuldade na
cotação do material
C4 Definir similaridades entre os materiais de acabamento ... não poder substituir material
(produto)
C5 Ter as cotações de todos os materiais de acabamento/produto ... estimar custos sem informações
reais
C6 Garantir que os materiais definidos sejam utilizados na execução ... ter mudanças não
autorizadas/analisadas
C7 Ter um memorial descritivo com todos os itens definidos no modelo de memorial descritivo ...
ter um memorial ambíguo/incompleto
C8 Garantir a padronização da eleboração dos memoriais descritivos ... ter variações na elaboração
de um memorial descritivo
C9 Vide conceito 2
C10 Garantir que projetos de áreas comuns sejam incluidos no orçamento ... áreas comuns serem
executadas com parte do lucro previsto
Quadro 3 – Os dez conceitos construídos a partir dos EPAs
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 93
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
94 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
Com essa atividade, é possível identificar linhas de redundante, conciso e compreensível (KEENEY,
argumentação que conduzem os conceitos-meios 1992; ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA,
aos conceitos mais estratégicos. A associação das 2001).
linhas de argumentação a uma preocupação do
A Figura 4 ilustra a Estrutura Hierárquica de
decisor é chamada de cluster.
Valor, detalhando os pontos de vista fundamentais
A Figura 3 exibe o mapa de relação meios-fim (PVFs) e os pontos de vista elementares (PVEs) do
para o objetivo estratégico “Atividades PVF 7 – “Atividades Terceirizadas”. A partir de
Terceirizadas” com seus clusters e subclusters cada elemento no nível inferior da Estrutura
nomeados. Os conceitos com numeração acima de Hierárquica de Valor inicia-se a construção dos
500 surgiram durante a construção dos mapas. descritores.
Finalizada a construção dos mapas de relação Os descritores (escalas ordinais) possuem uma
meios-fim para todos os objetivos estratégicos da escala de medida que associa os valores abstratos
estrutura hierárquica top-down, a metodologia do decisor a uma ou mais propriedades do objeto,
MCDA-C, em seu processo de construção de sendo a ordem de preferência dos possíveis
conhecimento sobre o contexto avaliado, propõe desempenhos dela estabelecida pelo decisor. Essa
que as estruturas de relações causais sejam associação é usualmente muito complexa,
transformadas e transportadas para a estrutura necessitando do uso de instrumentos científicos
arborescente elaborada anteriormente. para sua realização (KEENEY; RAIFFA, 1976;
KEENEY, 1992).
Essa estrutura é chamada de Estrutura Hierárquica
de Valor, em que se identificam os pontos de vista A metodologia MCDA-C realiza essa associação
fundamentais (PVFs) e os pontos de vista por meio de mapas cognitivos. Os valores
elementares (PVEs). Para que isso seja feito, cada abstratos do decisor aparecem no mapa cognitivo
cluster deve ser testado para validar se representa o como os conceitos-fins (parte superior do mapa);
contexto de forma a ser essencial, controlável, sua operacionalização ocorre pelos caminhos que
completo, mensurável, operacional, isolável, não levam aos conceitos-meios.
Figura 4 – Estrutura hierárquica de valor do PVF 7, atividades terceirizadas, com seus PVEs e
descritores
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 95
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
96 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
Figura 5 – Transformação do descritor D27 prazo em função de valor por meio do método Macbeth
Para que o decisor possa expressar seus critérios abrangidos, conforme mostrado na Figura
julgamentos de valor, que permitirão a 7.
determinação das taxas de compensação, é Em seguida, as alternativas devem ser ordenadas
necessário criar alternativas que representem a
segundo o juízo preferencial do decisor. Uma vez
passagem do nível inferior para o nível superior
que as alternativas sejam ordenadas, tem-se uma
em cada um dos critérios, bem como uma
escala ordinal em que se utilizou do mesmo
alternativa com desempenho inferior em todos os
instrumento para a identificação das funções de
valores descritos na subseção anterior.
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 97
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
Dessa forma, foi possível determinar as taxas de Onde as constantes são as taxas de compensação
compensação de cada um dos PVFs e PVEs, relativas aos descritores determinadas no item
conforme mostrado na Figura 8, e dar início à anterior (vide Figura 8).
dedução da equação do valor global do modelo
Dessa forma, a equação genérica para cada Ponto
multicritério.
de Vista Fundamental terá a forma da Equação 2:
Função de valor global do modelo
Eq. 2
Com o conhecimento gerado até o momento, pode-
se presumir a equação para determinação do valor Onde:
de qualquer ponto de vista do modelo. Retomando VPVFK(ɑ): valor global da ação ɑ do PVFk, para k =
o exemplo do item anterior, a Equação 1 do PV 8 – 1, 2, ..., m;
“Serviços Terceirizados” é dada por:
Wi,k: taxa de substituição do critério i, i = 1, ..., n,
VPV 8(a) = 0,24 x VD24 (a) + 0,43 + VD25 (a) + 0,33 x do PVFk, para k = 1, 2, ..., m;
VD26 (a) Eq. 1
98 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
Vi,k(ɑ): valor parcial da ação ɑ do critério i, i = 1, critério de avaliação (descritor) do ponto de vista,
... n, do PVFk, para k = 1, ..., m; buscou-se objetivamente o desempenho alcançado
(a) pela empresa na construção do orçamento do
ɑ: nível de desempenho atingido no critério com a
empreendimento A. Por meio da função de valor
ação ɑ;
obteve-se a pontuação V(a) correspondente na
nk: número de critérios do PVFk, para k = 1, 2, ..., escala cardinal. A utilização da Equação 3 resulta
m; e na pontuação do PVF 7 (43 pontos).
m: número de PVF’s do modelo global. A determinação do status quo de um processo de
Para ilustrar, a equação para o PVF 7 – orçamento recente permitiu identificar os pontos
“Atividades Terceirizadas” é dada pela Equação 3, fortes e fracos da empresa em relação ao problema
onde as constantes utilizadas são as próprias taxas analisado e forneceu os subsídios necessários para
de compensação de cada ponto de vista. o apoio ao processo. Dos 51 descritores que
compõem o modelo global, 37 deles possuíam
VAtiv. Terceirizadas = 0,25 x {0,24 x VIdentificador + 0,43 x desempenho comprometedor.
VBases para comparar + 0,33 x VHistórico} + 0,75 x {0,50 x
VPrazo + 0,50 x VQualidade} Eq. 3 Da mesma forma, dos 13 objetivos estratégicos
destacados na Figura 8, apenas quatro possuíam
A partir desse momento o modelo está pronto para desempenho competitivo (PVF 6 – Definir
ser utilizado como apoio ao processo de gestão de Fornecedores, PVF 7 – Atividades Terceirizadas,
orçamentos dos empreendimentos da empresa. PVF 10 – Padronização e PVF 11 – Capacitação
Técnica).
Identificação do perfil de impacto das
alternativas O modelo de avaliação, construído de acordo com
as preferências e valores do decisor, permitiu
Determinação do status quo identificar a contribuição de cada um dos aspectos
A Figura 9 ilustra a determinação do Status Quo considerados relevantes para o contexto estudado.
do PVF “Atividades Terceirizadas”. Para cada
Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 99
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.
100 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.
A comparação dos planos de ação permitiu ao do desempenho global, proporcionando uma visão
decisor visualizar as consequências que a aplicação detalhada, em que cada aspecto relevante foi
de cada um deles teria sobre a avaliação global do mensurado, e sua importância em relação ao todo,
processo de orçamento de empreendimentos e o identificada.
custo/benefício de cada um. Apesar de o Plano de
A estruturação hierárquica do modelo permitiu o
Ações Geral (conjunto das ações de todos os
estabelecimento de visões estratégicas, táticas e
planos somadas) apresentar o melhor custo por operacionais.
ponto obtido, o decisor elencou o Plano de Ações
Produtividade como o mais plausível de ser O processo participativo de construção do modelo
aprovado pela diretoria da empresa, por apresentar propiciou ao decisor conhecimento suficiente para
um custo inferior e reflexos significativos na que fossem estabelecidos planos de ações com
avaliação global. vistas à melhoria do processo. Por meio do
modelo, as consequências de cada ação puderam
Como pode ser verificado, todo o conhecimento
ser visualizadas e compreendidas pelo decisor,
gerado no decisor pela metodologia MCDA-C
assim como o impacto delas sobre a avaliação
permitiu a ele identificar:
global do processo, fornecendo os subsídios
(a) os aspectos que podem ser objetos de ações; necessários para a tomada de decisão.
(b) a prioridade com a qual esses aspectos devem Assim, a metodologia MCDA-C atendeu aos
ser tratados; objetivos propostos, gerando conhecimento no
(c) as ações para promover o aperfeiçoamento; e decisor sobre o contexto avaliado e propiciando
condições para a estruturação de ações para a
(d) a visualização do impacto ou consequência melhoria do desempenho da empresa no processo
das ações, nos níveis operacional (PVE), tático avaliado.
(PVF) e estratégico (Global).
Todas as fases e passos da construção do modelo
de avaliação foram legitimados pelo decisor. O
Considerações finais modelo de avaliação desenvolvido neste trabalho
Este trabalho relata o estudo de caso desenvolvido propiciou à empresa e ao decisor um amplo
em uma construtora brasileira que objetivou o conhecimento sobre o que é relevante no processo
desenvolvimento de um modelo de apoio à decisão de orçar um empreendimento, criando condições
que permitiu identificar, mensurar e integrar os para o estabelecimento de ações que conduzam à
aspectos que influenciam os desvios de orçamento melhoria contínua desse processo.
em seus empreendimentos, considerando a Dessa forma, evidencia-se que a metodologia
percepção do decisor quanto ao que é relevante no MCDA-C mostrou-se útil no processo de apoiar a
processo de orçar um empreendimento. atividade de orçamentação de obras em construção
A aplicação do modelo no orçamento de um civil. Recomenda-se seu uso em outros contextos
projeto dessa empresa permitiu visualizar o valor com o propósito de testar sua generalidade em
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102 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
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