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Avaliação de desempenho do

processo de orçamento: estudo


de caso em uma obra de
construção civil
Performance evaluation of the cost estimating process:
case study on a construction project

Rogério Cabral Azevedo


Rogério Cabral Azevedo
Departamento de Engenharia Civil Leonardo Ensslin
Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais Rogério Tadeu de Oliveira Lacerda
Av. Amazonas, 7675, Prédio 12, Nova
Gameleira
Lisiane Anderson França
Belo Horizonte - MG - Brasil Cindy Johanna Ibarra González
CEP 30510-000
Tel.: (31) 3319-6822 Antônio Edésio Jungles
E-mail: cabral.razevedo@gmail.com
Sandra Rolim Ensslin
Leonardo Ensslin
Depto. de Engenharia de Produção Resumo
Universidade Federal de Santa presente trabalho tem como objetivo propor um modelo para avaliar
Catarina
Campus Universitário Trindade
Caixa-Postal: 476
Florianópolis - SC - Brasil
CEP 88040-900
Tel.: (48) 331-7022 Ramal: 7022
E-mail: leonardoensslin@gmail.com
O o processo de orçamentação na construção civil. Trata-se de uma
pesquisa de caráter exploratório, baseada em um estudo de caso
realizado em uma construtora brasileira. Como instrumento de
intervenção foi utilizada a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão
Construtivista (MCDA-C), a qual permitiu identificar, organizar, mensurar e
integrar os fatores necessários e suficientes, quando da avaliação de um orçamento,
Rogério Tadeu de Oliveira
Lacerda
segundo a percepção do decisor em questão. O trabalho faz uma revisão de
Depto. de Engenharia de Produção literatura sobre avaliação de desempenho e o gerenciamento de projetos no
Universidade Federal de Santa contexto de obras de construção civil. É apresentado o desenvolvimento do
Catarina
Florianópolis - SC - Brasil
modelo construído para apoio à decisão, o qual permitiu ao gerente de engenharia
CEP 88040-900 avaliar o desempenho de um orçamento, identificando os fatores que causam
Tel.: (48) 9911-9374 desvios, a fim de eliminar ou minimizar suas causas, além de servir de base para
E-mail: rogerlacerda@gmail.com
propostas de melhorias no processo de orçamentação.
Lisiane Anderson França Palavras-chave: Avaliação de desempenho. MCDA-C. Orçamentação. Construção
Depto. de Engenharia de Produção civil. Gerenciamento de projetos.
Universidade Federal de Santa
Catarina
Tel.: (047) 9604-6904 Abstract
E-mail: lisianefranca@yahoo.com.br
The aim of this paper is propose a model for evaluating the cost estimating process
Cindy Johanna Ibarra González in construction. It is an exploratory research study based on a case study carried
Depto. de Engenharia de Produção out in a Brazilian construction company. The intervention tool used was the
Universidade Federal de Santa
Catarina
Constructivist Multicriteria Decision Support Methodology, which enabled the
Tel.: (48) 3721-9719 identification, organization, measuring and integration of the necessary and
E-mail: cjibarra03@hotmail.com sufficient factors for evaluating a budget, according to the perception of the
Antônio Edésio Jungles
decision-maker. This paper presents a literature review on performance
Depto. de Engenharia de Civil evaluation and project management in the context of the construction industry.
Universidade Federal de Santa The development of the model for supporting decision making is presented – this
Catarina
Tel.: (48) 3721-9050
allowed the engineering manager to evaluate the performance of the cons
E-mail: ajungles@gmail.com estimating process, identifying factors that cause deviations, in order to eliminate
or minimize their causes, and to provide a basis for proposals of improvements in
Sandra Rolim Ensslin the cost estimating process.
Depto. de Engenharia de Produção
Universidade Federal de Santa Keywords: Performance evaluation. MCDA-C. Cost estimating. Construction. Project
Catarina management.
Tel.: (48) 3721-6608
E-mail: sensslin@gmail.com

Recebido em 03/12/2010
Aceito em 11/03/2011

Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011. 85


ISSN 1678-8621 © 2005, Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Todos os direitos reservados.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Introdução
A construção civil é uma atividade econômica que MARCHIORI, 2009; JACOMIT; GRANJA,
representa uma parcela importante do produto 2010).
interno bruto de qualquer país e tem efeitos
Com vistas a contribuir para esse contexto em
significativos na empregabilidade de pessoal evolução, este artigo relata uma nova abordagem
(UNIEMP, 2010). Tal segmento econômico é uma para lidar com esse problema de orçamentação em
atividade em que seu produto representa um
projetos de construção civil e apresenta um estudo
grande investimento, tanto para as empresas
de caso realizado em uma construtora catarinense,
quanto para seus clientes.
onde foi aplicada a metodologia de apoio à decisão
Por esse motivo, o processo de orçar um multicritério construtivista (MCDA-C) (ENSSLIN
empreendimento torna-se fator crítico para et al., 2010; MORAES et al., 2010; ZAMCOPÉ et
empresas construtoras antes que a edificação seja al., 2010; LACERDA; ENSSLIN; ENSSLIN,
projetada em detalhes e que os contratos de venda 2011a, 2011b).
e de fornecimento sejam firmados. As atividades preconizadas pela MCDA-C
Com uma investigação em custos criteriosa, pode- permitiram ao gerente da construtora identificar,
se reduzir desvios que impactam na lucratividade organizar e mensurar os aspectos que influenciam
do empreendimento ou até mesmo desvios os desvios em custos, possibilitando atuar sobre
significantes, que poderiam inviabilizar a suas causas, a fim de minimizá-las ou até eliminá-
continuidade da execução de uma obra (LOPES; las.
LIBRELOTTO; AVILA, 2003; TAS; YAMAN,
Esse conhecimento foi então organizado em um
2005).
modelo multicritério que está sendo utilizado
Para atender a tal investigação, três metodologias como guia para a geração de ações de melhorias e
para elaboração de estimativas de custos se a avaliação dessas proposições, a fim de apoiar as
destacam no contexto brasileiro: o Custo Unitário decisões na organização estudada.
Básico (CUB), o Modelo Paramétrico de Custo e o
Além dessa introdução, o artigo está disposto em
Orçamento Detalhado (OTERO, 1998;
mais seis seções. Na seção seguinte, está contida a
MARCHIORI, 2009). As duas primeiras se
fundamentação teórica sobre avaliação de
destinam às etapas iniciais do empreendimento desempenho na construção civil; na terceira,
(estudo de viabilidade e planejamento inicial), e a
encontra-se a metodologia de pesquisa; a quarta
terceira, às etapas de projeto e desenvolvimento,
seção apresenta os procedimentos para a
quando informações sobre quantitativos já podem
construção do modelo; a quinta seção se destina às
ser determinadas.
considerações finais; e na última seção são listadas
No entanto, esses métodos de elaboração de as referências bibliográficas.
orçamentos têm apresentado limitações nos
contextos atuais, uma vez que os projetos se Referencial teórico
tornam cada vez mais amplos, multinacionais e
sofisticados (TAS; YAMAN, 2005). Gerenciamento de projetos de
As principais limitações encontradas na literatura construção civil: contextualização
são: a falta de precisão, de pontualidade e a pouca
Com o crescimento do setor da construção civil,
periodicidade na atualização das informações de
dada a grande demanda provida pelo mercado, as
custo; o formato excessivamente voltado às
empresas passaram a dar maior importância às
exigências legais, fiscais e acionárias; e a falta de
práticas de gerenciamento de projetos para apoiar a
um foco gerencial na elaboração dos custos
tomada de decisão estratégica, melhorar a
(LOPES; LIBRELOTTO; AVILA, 2003; KERN;
qualidade de suas obras e sua competitividade
FORMOSO, 2006; MARCHIORI; UBIRACI,
(WINTER; CHECKLAND, 2003).
2006; LIU; ZHU, 2007; MARCHIORI, 2009).
Um projeto de construção civil possui algumas
Ante essa constatação, diversos trabalhos têm sido
características que requerem um considerável
desenvolvidos com o intuito de aumentar a
esforço para executar um gerenciamento
precisão das estimativas de custo e seu potencial
adequado:
como base para a tomada de decisão (TAS;
YAMAN, 2005; KERN; FORMOSO, 2006; (a) mobilização de grande quantidade de recursos
KERN; SOARES; FORMOSO, 2006; especializados (WALKER, 2007);
MARCHIORI; UBIRACI, 2006; LIU; ZHU, 2007;

86 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

(b) executado em ambiente dinâmico, incerto e (c) incerto, por usar dados tanto qualitativos como
complexo, que envolve a maioria dos projetos de quantitativos sem a preocupação da acuracidade
construção (KERN; FORMOSO, 2006); que outras ciências poderiam disponibilizar.
(c) complexidade na avaliação do grau de risco do Ou seja, um contexto onde os decisores
projeto (LIU; ZHU, 2007; ZENG; AN; SMITH, reconhecem suas limitações quando do
2007); e entendimento das consequências de suas decisões
operacionais. Tais decisões têm, em seu propósito,
(d) envolvimento de muitos stakeholders, com
a redução ou a eliminação de uma discrepância em
posicionamentos diferentes ou até conflitantes
um ou mais aspectos julgados pelo decisor como
(HOFFMANN; PROCOPIAK; ROSSETTO, 2008;
relevantes quando de sua avaliação do contexto
YANG; PENG, 2008).
(ROY, 1996).
Perante essas características, o segmento da
Dessa forma, torna-se relevante analisar qual o
construção civil vem realizando esforços na busca
conceito de avaliação de desempenho empregado
por elevação de seus patamares de qualidade de
produtos e serviços, obtenção de maior pela literatura sobre gestão de projetos na
conformidade, confiabilidade e atendimento às construção civil.
necessidades dos clientes (PBQP-H, 2005).
Avaliação de desempenho
Esses desafios requerem das construtoras um
planejamento baseado em informações confiáveis. A avaliação de desempenho é, hoje, um processo
Sem uma estimativa de custo adequadamente que está inserto no contexto das organizações,
detalhada, não há como prever resultados, independentemente de seu tipo ou finalidade. O
independentemente da competência da gestão e processo de avaliar o desempenho permite a
dos recursos do contratante (LIU; ZHU, 2007). geração do conhecimento para que a tomada de
decisão seja realizada de forma coerente com os
Informações sólidas e confiáveis possibilitam uma
valores e preferências dos gestores, os quais
gestão de custos eficiente, que, segundo Kern e
podem a qualquer momento alterar essa situação,
Formoso (2006), devem ser dinâmicas, pró-ativas
aqui denominados decisores.
e capazes de suportar diferentes processos
decisórios, a fim de proteger a empresa contra os Assim, entre os artigos selecionados para compor
efeitos nocivos da incerteza. O objetivo principal o cerne do referencial bibliográfico da pesquisa,
do planejamento deve ser a geração de buscaram-se os conceitos acerca de avaliação de
informações para apoio à decisão (KERN; desempenho (AD):
FORMOSO, 2006). (a) Kaplinski (2008) menciona que os métodos
Essas informações são analisadas, organizadas e para auxiliar a tomada de decisão têm sido
compiladas em um orçamento, que representa a desenvolvidos dinamicamente e existe uma
formalização dos planos de projeto estabelecidos. dependência evidente de novas e sofisticadas
tecnologias de informação para auxiliar neste
Esse é um grande desafio para as empresas, pois,
processo;
apesar de os diversos processos construtivos
poderem ser considerados repetitivos, cada (b) para Cioffi e Khamooshi (2009), a avaliação
empreendimento é único, em termos de projetos, de desempenho deve ser baseada na mensuração
condições locais, estrutura organizacional e cadeia de riscos de experiências anteriores e em um
de suprimentos (COSTA et al., 2006). modelo matemático que, a partir desse histórico,
possa determinar a probabilidade e os valores
Dessa forma, o processo de orçamentação na
associados a riscos de projetos futuros;
construção civil reside em um contexto complexo,
conflituoso e incerto (LACERDA; ENSSLIN; (c) Pollack-Johnson e Liberatore (2006)
ENSSLIN, 2011b): explicitam que a avaliação de desempenho deve
mensurar a duração e o custo da tarefa, e também
(a) complexo, por envolver múltiplos critérios
levar em consideração o critério de qualidade de
não claramente explicitados e integrados por
execução dessas tarefas;
compensações não bem estabelecidas;
(d) Farris et al. (2006) entendem a avaliação de
(b) conflituoso, por se tratar de um contexto onde
desempenho como uma atividade que deve
distintos grupos de atores buscam melhorar o
permitir que o departamento ganhe novas visões
alcance dos critérios por eles percebidos como
sobre o impacto das mudanças em seu processo de
importantes em contraponto a outros critérios
engenharia em relação à duração do projeto,
defendidos por outros grupos; e
mediante a utilização de um índice que

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simultaneamente considera a duração do projeto e projetos, auxiliando os stakeholders a estimar o


as variáveis de entrada; orçamento de um projeto na fase inicial do
planejamento de negócios.
(e) para Koo et al. (2010), a avaliação de
desempenho deve permitir melhorar a Para Fan, Lin e Sheu (2008), os aspectos
competitividade da indústria da construção, através relevantes são associados a eventos de risco,
da utilização de informações mais precisas sobre identificados por meio da experiência em outros
os fatores críticos, tal como o custo da construção, projetos e referências bibliográficas, devendo ser
já nas fases iniciais de um projeto de construção; avaliados de modo desdobrado em três parâmetros
ou dimensões:
(f) para Fan, Lin e Sheu (2008), essa atividade
contempla a avaliação das variáveis dos riscos (a) controlabilidade do risco do projeto;
relevantes do projeto, visando decidir ações de
(b) custos do gerenciamento do risco; e
resposta para mitigá-los em um nível aceitável; e
(c) características do projeto.
(g) Banaitiene et al. (2008) entendem a avaliação
de desempenho como uma atividade baseada em Uma ampliação do contexto é obtida por Farris et
uma metodologia multicritério para apoiar o al. (2006) e Kaplinski (2008). Farris et al. (2006)
cliente, investidor ou contratante na avaliação e identificaram os aspectos relevantes por meio de
seleção de alternativas do ciclo de vida de um consultas aos gestores responsáveis, nos aspectos
edifício, através de critérios qualiquantitativos. apresentados pela ferramenta DEA (Data
Envelopment Analysis) e em revisões da literatura
Valendo-se dos conceitos apregoados pelos autores
de gerenciamento de projetos. Já Kaplinski (2008)
supracitados, os autores do presente trabalho
buscou envolver os profissionais de engenharia
expandem a abrangência da AD na gestão das
civil e gerenciamento de construções na
organizações ao levarem em conta o seguinte identificação dos aspectos relevantes, por meio de
conceito sobre Avaliação de Desempenho: questionários aplicados a esses profissionais, em
Avaliação de Desempenho é o processo para 2000 e 2005, na Polônia.
construir conhecimento no decisor, a respeito do
Uma evolução desse conceito é encontrada no
contexto específico que se propõe avaliar, a partir trabalho de Banaitiene et al. (2008), em que se
da percepção do próprio decisor por meio de buscou a identificação dos aspectos relevantes nas
atividades que identificam, organizam, mensuram
preferências dos clientes e opinião de especialistas
ordinalmente e cardinalmente, e sua integração e
– incluindo proprietários, investidores e
os meios para visualizar o impacto das ações e seu
contratantes –, levantadas em reuniões e também
gerenciamento. (ENSSLIN, 2009).
em referências bibliográficas sobre o assunto.
A análise desse conceito permitiu extrair as lentes
A metodologia MCDA-C, adotada neste trabalho,
de pesquisa pelas quais a revisão da literatura foi
considera que a identificação dos aspectos
executada, detalhadas nas cinco subseções
relevantes deve ser realizada sob a perspectiva do
seguintes. decisor, retratando o que é importante para ele no
contexto avaliado. Assim, o próprio decisor deve
Identificação dos aspectos relevantes estar envolvido nesse processo para que os
A identificação do que é relevante para o decisor, resultados obtidos nessa identificação estejam de
dentro do contexto avaliado, é o primeiro item de acordo com seus objetivos estratégicos.
análise extraído do conceito exposto. A revisão da
literatura nos apresenta diferentes processos sendo Mensuração dos aspectos relevantes
utilizados para identificar o que é relevante. Após a identificação dos aspectos considerados
Cioffi e Khamooshi (2009) tratam os riscos ou relevantes para o decisor, a forma de mensuração
falhas ocorridos em projetos já executados como desses aspectos constitui o segundo item de análise
aspectos relevantes, sem, contudo, explicitá-los em trabalhado.
seu trabalho. Já para Pollack-Johnson e Liberatore No trabalho de Kaplinski (2008) não se observa,
(2006), a qualidade, o custo e o tempo de execução
explicitamente, o uso de escalas, mas, por suas
de cada etapa de um projeto são os aspectos
colocações, supõe-se o uso de escalas ordinais para
relevantes a serem considerados,
mensurar os aspectos relevantes.
independentemente do contexto a ser avaliado.
Já para Cioffi e Khamooshi (2009) e Fan et al.
De forma similar, Koo et al. (2010) utilizam um
(2008), a mensuração dos aspectos relevantes é
modelo de avaliação no qual a identificação dos
feita por escalas ordinais, sendo a probabilidade
aspectos relevantes é baseada em dados históricos
mensurada com escalas de Likert, e seus impactos,
e utilizada para determinar a similaridade entre

88 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

por escalas ordinais, explicitando os valores escalas ordinais pelo número máximo de eventos
financeiros comprometidos se o risco ocorrer. previstos, gerando uma média ponderada. Isso
denota o uso de operações matemáticas com
Koo et al. (2010), Banaitiene et al. (2008) e Farris
escalas ordinais, não reconhecendo, assim, suas
et al. (2006) utilizam-se de escalas ordinais para
limitações quanto a esse uso.
mensuração dos aspectos relevantes, porém se
valem tanto de escalas que mensuram as Nos trabalhos seguintes, a integração das escalas é
propriedades físicas do contexto quanto de escalas propiciada por meio de outras formulações
de Likert. matemáticas, sendo no método apresentado por
Farris et al. (2006) a integração feita através do
Usando outra forma de mensuração, Pollack-
emprego da ferramenta DEA (Data Envelopment
Johnson e Liberatore (2006) utilizam-se de escalas
cardinais para mensurar os objetivos, associando Analysis), que, por meio de grupos de comparação
de cada projeto com seus pares similares,
essas escalas cardinais às propriedades físicas do
determina, por meio de análises estatísticas, a
contexto.
variável de saída, no caso estudado, a duração do
O presente estudo se apóia na construção de projeto.
descritores para explicitar o desempenho dos
De forma similar, Fan, Lin e Sheu (2008) o fazem
aspectos julgados como relevantes pelo decisor,
pela aplicação de funções que consideram as
valendo-se de escalas primeiramente ordinais que
variáveis de risco históricas utilizadas na
atendam às seguintes propriedades (ENSSLIN,
avaliação, de forma a estimar o custo final do risco
2009):
associado ao projeto avaliado.
(a) mensurabilidade;
A aplicação de pesos para compensação da
(b) operacionalidade; contribuição de cada aspecto é encontrada em Koo
(c) homogeneidade; et al. (2010) e Banaitiene et al. (2008). Em Koo et
al. (2010), a integração das escalas, visando
(d) inteligibilidade; determinar a similaridade de projetos, utiliza pesos
(e) distinção entre o desempenho melhor e o pior; atribuídos por algoritmos genéticos (GA) para
e compensação dos aspectos relevantes e, para
Banaitiene et al. (2008), a integração é realizada
(f) respeito às propriedades das escalas ordinais. por meio de uma matriz de normalização que
Reconhecendo os limites de uso das escalas considera os valores de cada aspecto e seu peso,
ordinais, o presente trabalho se apóia em processos determinados pela preferência do decisor.
científicos para agregar as informações requeridas Embora o uso de taxas de compensação (pesos)
para transformar tais escalas em escalas cardinais para integração de escalas seja considerado como
e, dessa forma, ampliar o entendimento do uma evolução no contexto da integração, ambos os
contexto em comparar determinado nível de estudos (BANAITIENE et al., 2008; KOO et al.,
desempenho em dado critério com o mesmo nível 2010) o fazem sem associar essas taxas a níveis de
de desempenho em outro indicador de referência nos aspectos mensurados, o que
desempenho. compromete seus resultados (KEENEY, 1992).
Com esse conhecimento que as escalas cardinais Já Pollack-Johnson e Liberatore (2006) utilizam-se
proporcionam, tem-se a oportunidade de apresentar de escalas cardinais ancoradas pela percepção do
um processo cujas escalas de mensuração possam gerente do projeto para a integração dos aspectos
ser integradas e, ao mesmo tempo, respeitar os relativos a cada uma das etapas do processo
limites das escalas ordinais, utilizando-as apenas construtivo, sendo a integração global (projeto)
para operações matemáticas de frequência, final realizada por meio de programação linear.
contagem, mediana e moda (BARZILAI, 2001).
Neste trabalho, com o propósito de dar maior
Integração das escalas acuracidade ao modelo de apoio à decisão, as
escalas ordinais são transformadas em escalas
A integração das escalas objetiva propiciar uma intervalares. A escala de intervalos ocorre quando
visão global do contexto avaliado. Assim, tem todas as propriedades das escalas ordinais e
seguindo em uma linha evolutiva, temos que adicionalmente se conhece a diferença entre todos
Kaplinski (2008) não menciona a integração de os níveis. Essa diferença é chamada “diferença de
escalas, sendo seu trabalho desenvolvido sem a atratividade” entre os níveis. Isto é, se o
explicitação de escalas de mensuração. conhecimento da escala é tão preciso que permite
Já para Cioffi e Khamooshi (2009), a integração é saber a distância entre todos os intervalos da
realizada por meio da razão entre a soma das

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Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

escala, então se atinge o grau de mensuração por identificam e analisam alternativas, de forma a
intervalos, e a escala passa a ser cardinal. escolher a melhor estratégia para mitigar esses
riscos. Assim, os gerentes podem escolher
Uma escala intervalar é caracterizada por uma
estratégias para reduzir os riscos a um nível
unidade constante e comum de mensuração, que
aceitável, dadas as características do projeto e a
atribui um valor real a todos os pares de objetos no
situação desses riscos, melhorando o desempenho
conjunto ordenado. Keeney (1992), Bana e Costa
et al. (1999), Ensslin, Dutra e Ensslin (2000), atual dos projetos.
Barzilai (2001) e Ensslin et al. (2010) afirmam que Nos demais artigos selecionados, a saber, Farris et
se procura a partir das escalas qualitativas ordinais al. (2006) e Pollack-Johnson e Liberatore (2006),
sua transformação em uma escala de intervalos, Kaplinski (2008), Banaitiene et al. (2008), Cioffi e
por meio da incorporação de informações Khamooshi (2009), Koo et al. (2010), não foram
preferenciais do decisor sobre as diferenças de encontradas formas explícitas de melhoria do
atratividade entre todos os níveis. desempenho atual.
Na visão do presente estudo, busca-se o
Diagnóstico da situação atual (SQ) entendimento dos diferentes impactos das ações
O diagnóstico da situação compreende a atividade potenciais nos objetivos julgados necessários e
de analisar o desempenho das alternativas e de suficientes para a avaliação de um contexto, com o
compor o perfil de desempenho para os critérios objetivo de explorar oportunidades de melhoria a
estabelecidos pelo decisor. partir dos descritores construídos para cada um dos
critérios adotados.
Em relação a esse quesito, a maior parte dos
autores pesquisados, a saber, Kaplinski (2008),
Fan, Lin e Sheu (2008), Banaitiene et al. (2008), Metodologia de pesquisa
Cioffi e Khamooshi (2009), Koo et al. (2010), não
relata em seus trabalhos como realizar o
Enquadramento metodológico
diagnóstico da situação atual. A pesquisa é exploratória, aplicada e desenvolvida
Já nos trabalhos de Farris et al. (2006) e Pollack- sob a forma de um estudo de caso. A fonte dos
Johnson e Liberatore (2006), o diagnóstico da dados é de origem primária, sendo eles obtidos por
situação atual é realizado localmente em cada um meio de entrevistas semiestruturadas com os dois
dos aspectos mensurados. Pollack-Johnson e principais gestores da organização em que foi
Liberatore (2006) realizam esse diagnóstico pela realizado o trabalho. O método de pesquisa é
comparação dos valores obtidos (realizados) com qualiquantitativo.
os valores previstos ou metas estipuladas. Sobre o instrumento de intervenção adotado,
Farris et al. (2006) o fazem por meio da destacam-se, na literatura sobre apoio à decisão,
comparação com valores de referência, quatro abordagens para resolver problemas (ROY,
determinados por um projeto benchmarking. A 1993):
comparação permite a determinação da situação (a) descritivista: caracterizada pelo que acontece
atual de cada aspecto em relação à situação no mundo, sem emitir julgamento humano sobre a
comparada. realidade. São instrumentos advindos das ciências
Neste trabalho propõe-se que o diagnóstico seja naturais e são adequados onde a relevância da
realizado por meio da identificação gráfica da percepção humana é nula;
situação atual (status quo) em cada um dos (b) normativista: caracterizada pela adoção de um
descritores do modelo e também de forma modelo que funcionou em outro contexto. Tais
integrada, mensurando o desempenho atual da modelos são adotados quando os gestores preferem
organização, de forma cardinal local e global. acreditar que instrumentos que foram utilizados em
outras organizações são úteis para seu contexto,
Formas de aperfeiçoamento sem adequações. Assim, a participação do gestor é
resumida à escolha do modelo a ser implementado;
Entre os artigos selecionados para a análise da
literatura, a única proposta de avaliação de (c) prescritivista: caracterizada pela elaboração de
desempenho que gera alternativas de modelos de gestão que sejam adequados para dada
aperfeiçoamento é a de Fan, Lin e Sheu (2008). Os organização, do ponto de vista de um especialista
autores propõem um modelo matemático que externo ao contexto. Essa abordagem entende que
auxilia os gerentes de projeto na definição de ações os processos devem ser personalizados, há um
de resposta a riscos, para mitigá-los em função das envolvimento da organização para fornecer
características do projeto e da situação do risco. informações e posteriormente adotam-se as
Por meio desse modelo, os gerentes de projeto recomendações dadas pelo consultor externo; e

90 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

(d) construtivista: consiste em desenvolver no questão (legitimação). Também devem reconhecer


gestor, de forma interativa, um coerente corpo de que a abordagem a ser utilizada possui respaldo
conhecimentos capaz de lhe permitir compreensão científico quanto a sua aplicação (validação).
das consequências de suas decisões nos aspectos
Por reconhecer os paradigmas acima expostos, o
que ele (gestor) julga necessários e suficientes.
instrumento de intervenção adotado para este
Com a adoção da abordagem construtivista, esse trabalho foi a Metodologia Multicritério de Apoio
trabalho é norteado pelos seguintes paradigmas à Decisão – Construtivista (MCDA-C).
(LACERDA, ENSSLIN; ENSSLIN, 2011b):
(a) singularidade: os modelos de apoio à decisão Revisão da literatura
devem ser desenvolvidos à luz dos valores e O processo de seleção de artigos teve como norte o
preferências do decisor em dado contexto processo sugerido por Tasca et al. (2010) e teve
organizacional. Dessa forma, os modelos são como base de artigos a Web of Science - ISI,
adequados apenas ao contexto em que foram filtrando os trabalhos publicados a partir de 2006 e
desenvolvidos; ordenando-os pelo número de citações.
(b) conhecimento: os gestores reconhecem a Por meio da análise de título e resumos,
necessidade de melhorar seu entendimento das selecionaram-se os artigos que estavam mais
consequências da decisão nos seus objetivos alinhados com o objeto de pesquisa (FARRIS et
estratégicos; a l., 2006; P O LLAC K -J O HN S ON ;
(c) entidade social: os decisores levam em conta, LIBERATORE, 2006; BANAITIENE et al., 2008;
além de seus valores e preferências, a percepção de FAN; LIN; SHEU, 2008; KAPLINSKI, 2008;
outros atores, internos e externos à organização; CIOFFI; KHAMOOSHI, 2009; KOO et al., 2010).
(d) participação dos decisores: o processo de
apoio à decisão é um processo contínuo de Construção do modelo multicritério:
envolvimento dos decisores nas atividades procedimentos
cognitivas que lhe farão ter uma aprendizagem por
A construção do modelo de avaliação de
meio de sua participação efetiva;
desempenho segundo a metodologia MCDA-C é
(e) mensuração: os modelos devem reconhecer as dividida em três fases como apresentado na Figura
diferentes propriedades e limites de uso das escalas 1 (BANA E COSTA et al., 1999; ENSSLIN et al.,
ordinais e cardinais; e 2010):
(f) legitimação e validação: todos os produtos de (a) estruturação;
trabalho do processo devem ser reconhecidos pelos
(b) avaliação, e
gestores como instrumentos que refletem seus
valores e preferências a respeito do problema em (c) recomendações.

Figura 1- As fases da metodologia MCDA-C


Fonte: Adaptado de Ensslin et al. (2001).

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 91
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Decisor Gerente de Engenharia


Empresa de
orçamentação executiva
Stakeholders Intervenientes Engenheiros de obra
Analista da qualidade
GestCon/UFSC
Facilitadores Autores
Quadro funcional
Agidos Terceirizados
Clientes da empresa
Quadro 1 – Subsistema de Atores

Modelo multicritério para (intervenientes) e quais seriam influenciados pelas


decisões a serem tomadas (agidos). Esses atores
avaliação de orçamentação em são mostrados no Quadro 1.
construção civil Dentro da contextualização, a primeira
As informações relativas ao contexto avaliado preocupação foi definir um rótulo que
foram obtidas em reuniões realizadas conforme um representasse as principais preocupações
cronograma de atividades previamente proposto, fundamentais do decisor quanto ao problema. Esse
envolvendo nove reuniões de levantamento e rótulo foi definido como: construir um modelo
validação, com carga horária total estimada em 40 para apoiar a orçamentação de obras de construção
horas de envolvimento dos decisores e de 200 civil em uma construtora de SC.
horas para os facilitadores.
Estrutura hierárquica de valor
A cada reunião era apresentado um resumo da
reunião anterior e do trabalho desenvolvido sobre Durante as entrevistas realizadas, solicitou-se ao
as informações levantadas, para validação e maior decisor que discorresse livremente sobre o
detalhamento, quando necessário. Todas as problema a ser avaliado. As informações coletadas
informações levantadas e os resultados das foram analisadas para identificação dos Elementos
validações foram registrados em atas, utilizadas Primários de Avaliação (EPAs). Os EPAs são o
como base para as etapas de desenvolvimento registro das principais propriedades do contexto
posteriores. avaliado que o decisor julga relevantes em função
do objetivo pretendido. A análise das primeiras
Estruturação do modelo entrevistas permitiu a identificação de 114 EPAs.
Os dez primeiros EPAs identificados são exibidos
A seguir, estão as seções que explicitam as no Quadro 2.
atividades da Fase de Estruturação da MCDA-C.
O próximo passo da Metodologia MCDA-C é a
construção de conceitos a partir dos EPAs. Os
Contextualização
conceitos representam a expansão do entendimento
A empresa pesquisada certificou-se em julho de dos EPAs. Cada um deve estabelecer a direção de
2007 em duas das principais normas de qualidade preferência do decisor (chamado polo presente) e,
existentes para o setor: a NBR ISO 9001:2000 – também, estabelecer a consequência que se deseja
Sistemas de Gestão da Qualidade; e o SIAC- evitar ou minimizar (polo oposto psicológico).
PBQP-H, Nível A – Programa Brasileiro de Os dez conceitos construídos a partir dos primeiros
Qualidade e Produtividade no Habitat. EPAs são exibidos no Quadro 3, em que as
Como passo inicial para a estruturação desse reticências (“...”) devem ser lidas como “ao invés
modelo, buscou-se identificar para quem seria de”.
realizado o apoio à decisão, ou seja, quem dentro Como os EPAs foram identificados em um
do quadro da empresa seria o ator com o poder de processo de brainstorming, é comum o surgimento
alterar a situação atual (decisor), quais seriam os de conceitos redundantes que devem ser
atores com poder de interferência nesse processo unificados, como os conceitos C2 e C9.

92 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

EPA Descrição
1 Definir material para acabamento
2 Classificar material para acabamento
3 Definir fornecedores para material de acabamento
4 Definir similares para material de acabamento
5 Levantar os preços de material de acabemento
6 Usar os materiais de acabamento definidos
7 Memorial descritivo
8 Check list para memorial descritivo
9 Definir padrões para materiais
10 Ter projeto de áreas comuns
Quadro 2 – Relação dos 10 primeiros EPAs identificados

Conceito Descrição
C1 Ter materiais predefinidos de acabamento ... ter dificuldades na seleção de materiais para
acabamento
C2 Ter categoriaspreestabelicidas com seus materiais de acabamento (linha de produto/fornecedor)
... cada empreendimetno ter materiais sem padronização
C3 Selecionar fornecedores de referência para os materiais de acabamento ... ter dificuldade na
cotação do material
C4 Definir similaridades entre os materiais de acabamento ... não poder substituir material
(produto)
C5 Ter as cotações de todos os materiais de acabamento/produto ... estimar custos sem informações
reais
C6 Garantir que os materiais definidos sejam utilizados na execução ... ter mudanças não
autorizadas/analisadas
C7 Ter um memorial descritivo com todos os itens definidos no modelo de memorial descritivo ...
ter um memorial ambíguo/incompleto
C8 Garantir a padronização da eleboração dos memoriais descritivos ... ter variações na elaboração
de um memorial descritivo
C9 Vide conceito 2
C10 Garantir que projetos de áreas comuns sejam incluidos no orçamento ... áreas comuns serem
executadas com parte do lucro previsto
Quadro 3 – Os dez conceitos construídos a partir dos EPAs

Após essa atividade, gerou-se um entendimento cada conceito a um objetivo (necessidade), e


maior do contexto estudado. A partir desse nenhum conceito ficou sem objetivo estratégico
entendimento global, os facilitadores, em conjunto relacionado (suficiência).
com o decisor, partiram para a identificação de
A Figura 2 apresenta os objetivos estratégicos
objetivos estratégicos associados ao conhecimento
deste estudo, bem como lista todos os conceitos a
até então construído.
eles relacionados.
Assim, com a leitura de todos os conceitos, o
decisor, apoiado pelo facilitador, refletiu sobre o Construção dos descritores
contexto holisticamente, a fim de identificar os
objetivos mais estratégicos, organizando-os em A construção dos mapas de relação meios-fim
uma estrutura hierárquica. iniciou-se solicitando ao decisor discorrer sobre
cada conceito e sobre como ele poderia ser obtido
Uma vez estabelecidos os objetivos estratégicos (vínculos causais com outros conceitos),
associados ao contexto, faz-se necessário testar os favorecendo a identificação das possíveis ações
objetivos no tocante às propriedades de aptas a gerar efeitos no desempenho dos objetivos
necessidade e suficiência diante dos conceitos subjacentes (EDEN; JONES; SIMMS, 1985;
anteriormente levantados. MONTIBELLER et al., 2008).
Para atender a essas duas propriedades, o decisor,
novamente apoiado pelo facilitador, relacionou

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 93
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Figura 2 – Estrutura top-down do modelo de avaliação e os conceitos a eles relacionados

Figura 3 – Mapas de relações meios-fim para o objetivo estratégico “Atividades Terceirizadas”

94 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

Com essa atividade, é possível identificar linhas de redundante, conciso e compreensível (KEENEY,
argumentação que conduzem os conceitos-meios 1992; ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA,
aos conceitos mais estratégicos. A associação das 2001).
linhas de argumentação a uma preocupação do
A Figura 4 ilustra a Estrutura Hierárquica de
decisor é chamada de cluster.
Valor, detalhando os pontos de vista fundamentais
A Figura 3 exibe o mapa de relação meios-fim (PVFs) e os pontos de vista elementares (PVEs) do
para o objetivo estratégico “Atividades PVF 7 – “Atividades Terceirizadas”. A partir de
Terceirizadas” com seus clusters e subclusters cada elemento no nível inferior da Estrutura
nomeados. Os conceitos com numeração acima de Hierárquica de Valor inicia-se a construção dos
500 surgiram durante a construção dos mapas. descritores.
Finalizada a construção dos mapas de relação Os descritores (escalas ordinais) possuem uma
meios-fim para todos os objetivos estratégicos da escala de medida que associa os valores abstratos
estrutura hierárquica top-down, a metodologia do decisor a uma ou mais propriedades do objeto,
MCDA-C, em seu processo de construção de sendo a ordem de preferência dos possíveis
conhecimento sobre o contexto avaliado, propõe desempenhos dela estabelecida pelo decisor. Essa
que as estruturas de relações causais sejam associação é usualmente muito complexa,
transformadas e transportadas para a estrutura necessitando do uso de instrumentos científicos
arborescente elaborada anteriormente. para sua realização (KEENEY; RAIFFA, 1976;
KEENEY, 1992).
Essa estrutura é chamada de Estrutura Hierárquica
de Valor, em que se identificam os pontos de vista A metodologia MCDA-C realiza essa associação
fundamentais (PVFs) e os pontos de vista por meio de mapas cognitivos. Os valores
elementares (PVEs). Para que isso seja feito, cada abstratos do decisor aparecem no mapa cognitivo
cluster deve ser testado para validar se representa o como os conceitos-fins (parte superior do mapa);
contexto de forma a ser essencial, controlável, sua operacionalização ocorre pelos caminhos que
completo, mensurável, operacional, isolável, não levam aos conceitos-meios.

Figura 4 – Estrutura hierárquica de valor do PVF 7, atividades terceirizadas, com seus PVEs e
descritores

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 95
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Sobre o conhecimento gerado é construído o Funções de valor


descritor, que poderá ser qualitativo, gráfico, Neste estudo de caso, escolheu-se o método
pictórico ou representado por símbolos
Macbeth para criar as funções de valor, dando
alfanuméricos (BANA E COSTA et al., 1999; fundamentação teórica, reconhecimento científico
DUTRA et al., 2009; ENSSLIN et al., 2010). e praticidade ao processo.
Para essa atividade, utilizam-se primeiramente O Macbeth permite avaliar opções comparando-as
escalas ordinais, construídas em conjunto com o
qualitativamente em termos de suas diferenças de
decisor, representando o que ele considera atratividade em múltiplos critérios (BANA E
relevante ser mensurado no critério abordado. É COSTA; VANSNICK, 1995).
importante destacar que todos os conceitos de um
cluster devem ser levados em conta quando da A partir das respostas do decisor sobre a
construção de um descritor, em vez de mensurar intensidade da diferença de atratividade entre os
somente o conceito mais operacional. níveis da escala ordinal, construiu-se a Matriz de
Julgamentos, cujos valores são utilizados como
Além da escala ordinal, o decisor identificou os entrada para o software M-Macbeth na
níveis de referência: superior, representando o determinação da função de valor que irá
nível acima do qual o desempenho é considerado
transformar a escala ordinal em uma escala
excelente; e inferior, representando o nível abaixo
cardinal.
do qual o desempenho é considerado
comprometedor. Entre esses dois níveis, o A Figura 5 ilustra a transformação da escala
desempenho é considerado normal. ordinal em escala cardinal, onde são exibidos a
Estrutura Hierárquica de Valor, o Descritor D27
A Figura 4 também ilustra os descritores
Prazo, a Matriz de Julgamento Macbeth, a função
relacionados aos PVEs da Estrutura Hierárquica de de valor (escala cardinal) numérica “V(a)” e a
Valor para o PVF 7, Atividades Terceirizadas. Ao função gráfica correspondente.
todo, o modelo multicritério construído é
composto de 51 descritores. A Figura 6 exibe o conjunto de escalas cardinais
“V(a)”, construídas para o PVF 7, Atividades
Finalizada a construção da Estrutura Hierárquica Terceirizadas, bem como as escalas ordinais “a”
de Valor e dos descritores, encerra-se a fase de originais.
estruturação do modelo e parte-se para a fase de
Avaliação. A construção das funções de valor relativas aos
descritores viabiliza a mensuração cardinal de cada
Avaliação um dos aspectos (critérios) considerados relevantes
pelo decisor.
Seguem as subseções da etapa de avaliação, que
Contudo, para a integração desses critérios, ainda
visa integrar o modelo em escalas cardinais.
se faz necessário identificar a contribuição de cada
critério para o desempenho global do orçamento,
Análise de independência
surgindo a necessidade de taxas de compensação.
A MCDA-C pressupõe que as taxas de
compensação utilizadas na integração são Taxas de compensação
constantes. Para atingir essa condição, os critérios O método utilizado para a determinação das taxas
devem ser independentes (LACERDA; ENSSLIN; de compensação foi a Comparação Par a Par com o
ENSSLIN, 2011b). software Macbeth.
Assim, todos os descritores foram testados Como ilustração, deseja-se determinar as taxas de
conforme a Independência Preferencial Mútua compensação para os critérios D24 – “Identificar”,
exposta por Keeney (1992) e foram constatados D25 – “Bases para comparar” e D26 – “Histórico”,
como mútua e preferencialmente independentes, que permitirão a mensuração do PV 8 – “Serviços
tanto ordinal como cardinalmente. Terceirizados” (vide Figura 6).
Construção de funções de valores e Segundo Keeney (1992), o erro crítico mais
identificação das taxas de compensação comum em modelos multicritérios é estabelecer
taxas de compensação sem estabelecer os níveis de
Nas seções seguintes estão contidos os referência nos critérios aos quais as taxas estão
procedimentos adotados neste trabalho para as relacionadas. Mudam-se os níveis de referência,
funções de valores e taxas de compensação. mudam-se as taxas de compensação.

96 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

Figura 5 – Transformação do descritor D27 prazo em função de valor por meio do método Macbeth

Figura 6 – Escalas cardinais do PVF 7, atividades terceirizadas

Para que o decisor possa expressar seus critérios abrangidos, conforme mostrado na Figura
julgamentos de valor, que permitirão a 7.
determinação das taxas de compensação, é Em seguida, as alternativas devem ser ordenadas
necessário criar alternativas que representem a
segundo o juízo preferencial do decisor. Uma vez
passagem do nível inferior para o nível superior
que as alternativas sejam ordenadas, tem-se uma
em cada um dos critérios, bem como uma
escala ordinal em que se utilizou do mesmo
alternativa com desempenho inferior em todos os
instrumento para a identificação das funções de
valores descritos na subseção anterior.

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 97
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Figura 7 – Alternativas potenciais para a determinação das taxas de compensação

Figura 8 – Estrutura Hierárquica de Valor Global com Taxas de Compensação

Dessa forma, foi possível determinar as taxas de Onde as constantes são as taxas de compensação
compensação de cada um dos PVFs e PVEs, relativas aos descritores determinadas no item
conforme mostrado na Figura 8, e dar início à anterior (vide Figura 8).
dedução da equação do valor global do modelo
Dessa forma, a equação genérica para cada Ponto
multicritério.
de Vista Fundamental terá a forma da Equação 2:
Função de valor global do modelo
Eq. 2
Com o conhecimento gerado até o momento, pode-
se presumir a equação para determinação do valor Onde:
de qualquer ponto de vista do modelo. Retomando VPVFK(ɑ): valor global da ação ɑ do PVFk, para k =
o exemplo do item anterior, a Equação 1 do PV 8 – 1, 2, ..., m;
“Serviços Terceirizados” é dada por:
Wi,k: taxa de substituição do critério i, i = 1, ..., n,
VPV 8(a) = 0,24 x VD24 (a) + 0,43 + VD25 (a) + 0,33 x do PVFk, para k = 1, 2, ..., m;
VD26 (a) Eq. 1

98 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 84-104, jan./mar. 2011.

Vi,k(ɑ): valor parcial da ação ɑ do critério i, i = 1, critério de avaliação (descritor) do ponto de vista,
... n, do PVFk, para k = 1, ..., m; buscou-se objetivamente o desempenho alcançado
(a) pela empresa na construção do orçamento do
ɑ: nível de desempenho atingido no critério com a
empreendimento A. Por meio da função de valor
ação ɑ;
obteve-se a pontuação V(a) correspondente na
nk: número de critérios do PVFk, para k = 1, 2, ..., escala cardinal. A utilização da Equação 3 resulta
m; e na pontuação do PVF 7 (43 pontos).
m: número de PVF’s do modelo global. A determinação do status quo de um processo de
Para ilustrar, a equação para o PVF 7 – orçamento recente permitiu identificar os pontos
“Atividades Terceirizadas” é dada pela Equação 3, fortes e fracos da empresa em relação ao problema
onde as constantes utilizadas são as próprias taxas analisado e forneceu os subsídios necessários para
de compensação de cada ponto de vista. o apoio ao processo. Dos 51 descritores que
compõem o modelo global, 37 deles possuíam
VAtiv. Terceirizadas = 0,25 x {0,24 x VIdentificador + 0,43 x desempenho comprometedor.
VBases para comparar + 0,33 x VHistórico} + 0,75 x {0,50 x
VPrazo + 0,50 x VQualidade} Eq. 3 Da mesma forma, dos 13 objetivos estratégicos
destacados na Figura 8, apenas quatro possuíam
A partir desse momento o modelo está pronto para desempenho competitivo (PVF 6 – Definir
ser utilizado como apoio ao processo de gestão de Fornecedores, PVF 7 – Atividades Terceirizadas,
orçamentos dos empreendimentos da empresa. PVF 10 – Padronização e PVF 11 – Capacitação
Técnica).
Identificação do perfil de impacto das
alternativas O modelo de avaliação, construído de acordo com
as preferências e valores do decisor, permitiu
Determinação do status quo identificar a contribuição de cada um dos aspectos
A Figura 9 ilustra a determinação do Status Quo considerados relevantes para o contexto estudado.
do PVF “Atividades Terceirizadas”. Para cada

Figura 9 – Determinação do status quo do PVF Atividades Terceirizadas

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 99
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

Recomendações custo financeiro e o respectivo custo por ponto


obtido.
Assim, partindo do status quo determinado pelo
modelo de avaliação global, o decisor identificou Formulação das recomendações
os PVFs com pior desempenho e, baseado nestes,
elencou três focos para o desenvolvimento de Para a metodologia MCDA-C, a etapa de
Planos de Ações destinados a melhorar a Recomendações tem como objetivo auxiliar o
performance da empresa no processo de orçar um decisor a identificar as melhores formas para
empreendimento. alavancar o desempenho em relação ao contexto
que está sob avaliação, assim como compreender
Esses focos foram: as consequências dessas ações em seus objetivos
(a) fornecedores: melhoria da qualidade do estratégicos caso estas venham a ser
relacionamento com os fornecedores por meio da implementadas.
melhoria da qualidade de prestação de serviços, Em alguns casos pode ser necessário analisar em
preços e fornecimento de materiais; que medida o desempenho das alternativas se
(b) padronização: melhoria da qualidade dos altera em função da modificação da taxa de
processos internos da empresa; e substituição do PVF ou PVE analisado. Esse
procedimento é denominado Análise de
(c) produtividade: melhoria dos cálculos de custos
Sensibilidade.
de projetos e serviços a partir das informações de
produtividade da empresa. A análise de sensibilidade realizada no modelo
proposto demonstrou que a alternativa
Para cada um dos planos foram identificados os
“Padronização” é robusta a eventuais variações na
critérios que seriam afetados pelos mesmos. A
taxa de substituição do PVF “Atividades
análise desses critérios (descritores), que por sua
Terceirizadas”. Também evidenciou a
própria construção permitem distinguir o
predominância do Plano de Ações cujas ações
desempenho melhor do pior, constituiu a base para
envolviam um maior número de descritores do
a identificação das ações necessárias para que os
PVF analisado.
objetivos estratégicos fossem atingidos.
Cabe ressaltar que não é função da etapa de
Em seguida, com base na ação de melhoria
Recomendações ditar ações, mas sim servir de
identificada, o decisor determinou a meta que
apoio para ajudar o decisor a construir ações e a
deveria ser atingida (nível de desempenho) para
avaliar suas consequências.
cada critério afetado por essa ação.
A Figura 10 exibe um exemplo de como a
Para efeito de comparação do custo/benefício, o
formulação de recomendações é realizada. O
decisor estimou o custo financeiro de cada um dos
decisor, juntamente com os atores envolvidos,
planos com base unicamente no custo dos recursos
estabeleceu as alternativas necessárias para fazer
humanos que seriam necessários para sua
com que o desempenho do descritor melhore.
implementação e na manutenção durante um
Como pode ser observado, a ação proposta foi
período.
decomposta nos passos necessários para sua
Por sugestão dos facilitadores, montou-se um implementação. Isso permitirá elevar a
quarto plano de ações (Plano Geral), englobando performance do PVE, levando-o de um
as ações distintas de cada um dos planos desempenho comprometedor (30% de variação)
anteriores. O Quadro 4 exibe as informações gerais para um desempenho de excelência (5% de
dos Planos de Ação, com o resultado obtido, o variação).

Plano Descrição Status Resultado Pontos Custo Custo por


Quo Obtidos ponto
Melhorar a qualidade do relacionametno com os -36 -17 19 30.000 1.579
Fornecedores fornecedores por meio da melhoriada qualidade
de materiais e produtos
Produtividade Melhoria dos cálculos de custosde projetos e -36 18 54 56.000 1.037
serviços a partir das informações de
produtividade da empresa
Padronização Melhoria da qualidade dos processos internos da -36 38 74 103.000 1.392
empresa
Geral Resultado global de todas as ações dos planos de -36 95 131 132.000 1.008
Fornecedores, Padronização e Produtividade
Quadro 4 – Planos de ações propostos com seus custos e pontos obtidos

100 Azevedo, R. C.; Ensslin, L.; Lacerda, R. T. de O.; França, L. A.; González, C. J. I.; Jungles, A. E.; Ensslin, S. R.
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Figura 10 – Impacto do plano de ações no descritor do PVE Histórico

A comparação dos planos de ação permitiu ao do desempenho global, proporcionando uma visão
decisor visualizar as consequências que a aplicação detalhada, em que cada aspecto relevante foi
de cada um deles teria sobre a avaliação global do mensurado, e sua importância em relação ao todo,
processo de orçamento de empreendimentos e o identificada.
custo/benefício de cada um. Apesar de o Plano de
A estruturação hierárquica do modelo permitiu o
Ações Geral (conjunto das ações de todos os
estabelecimento de visões estratégicas, táticas e
planos somadas) apresentar o melhor custo por operacionais.
ponto obtido, o decisor elencou o Plano de Ações
Produtividade como o mais plausível de ser O processo participativo de construção do modelo
aprovado pela diretoria da empresa, por apresentar propiciou ao decisor conhecimento suficiente para
um custo inferior e reflexos significativos na que fossem estabelecidos planos de ações com
avaliação global. vistas à melhoria do processo. Por meio do
modelo, as consequências de cada ação puderam
Como pode ser verificado, todo o conhecimento
ser visualizadas e compreendidas pelo decisor,
gerado no decisor pela metodologia MCDA-C
assim como o impacto delas sobre a avaliação
permitiu a ele identificar:
global do processo, fornecendo os subsídios
(a) os aspectos que podem ser objetos de ações; necessários para a tomada de decisão.
(b) a prioridade com a qual esses aspectos devem Assim, a metodologia MCDA-C atendeu aos
ser tratados; objetivos propostos, gerando conhecimento no
(c) as ações para promover o aperfeiçoamento; e decisor sobre o contexto avaliado e propiciando
condições para a estruturação de ações para a
(d) a visualização do impacto ou consequência melhoria do desempenho da empresa no processo
das ações, nos níveis operacional (PVE), tático avaliado.
(PVF) e estratégico (Global).
Todas as fases e passos da construção do modelo
de avaliação foram legitimados pelo decisor. O
Considerações finais modelo de avaliação desenvolvido neste trabalho
Este trabalho relata o estudo de caso desenvolvido propiciou à empresa e ao decisor um amplo
em uma construtora brasileira que objetivou o conhecimento sobre o que é relevante no processo
desenvolvimento de um modelo de apoio à decisão de orçar um empreendimento, criando condições
que permitiu identificar, mensurar e integrar os para o estabelecimento de ações que conduzam à
aspectos que influenciam os desvios de orçamento melhoria contínua desse processo.
em seus empreendimentos, considerando a Dessa forma, evidencia-se que a metodologia
percepção do decisor quanto ao que é relevante no MCDA-C mostrou-se útil no processo de apoiar a
processo de orçar um empreendimento. atividade de orçamentação de obras em construção
A aplicação do modelo no orçamento de um civil. Recomenda-se seu uso em outros contextos
projeto dessa empresa permitiu visualizar o valor com o propósito de testar sua generalidade em

Avaliação de desempenho no processo de orçamento: estudo de caso em uma obra de construção civil 101
Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 1, p. 85-104, jan./mar. 2011.

situações semelhantes, observando-se, no entanto, DUTRA, A. et al. Incorporação da Dimensão


que o modelo aqui apresentado é específico para a Integrativa nos Processos de Avaliação do
construtora estudada, e não se recomenda sua Desempenho Organizacional: um estudo de caso.
replicação em outros contextos, mesmo que Revista Contemporânea de Contabilidade,
semelhantes. Florianópolis, v. 6, n. 11, p. 109-136, jan./jun.
2009.
Como recomendação para trabalhos futuros,
sugere-se que o contexto do problema seja EDEN, C.; JONES, S.; SIMMS, D. Messing About
analisado sob a ótica de outras empresas in Problems. R&D Management, v. 15, n. 3, p.
construtoras, a fim de avaliar o impacto que a 255-255, 1985.
visão de outros decisores trará sobre os critérios,
ENSSLIN, L. Notas de Aula. Disciplina de
escalas ordinais e cardinais e taxas de MCDA-C do Programa de Pós Graduação em
compensação, uma vez que a personalização do
Engenharia da Produção, Universidade Federal de
contexto pelos valores de um decisor específico
Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
traduz a principal limitação deste trabalho.
ENSSLIN, L.; DUTRA, A.; ENSSLIN, S. R.
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