Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BR/EXPRESSO/)
FOTO: REPRODUÇÃO
O SOCIÓLOGO MICHAEL YOUNG CRITICOU O PRIMEIRO-MINISTRO TONY BLAIR PELO USO EQUIVOCADO DO TERMO
MERITOCRACIA
É comum se defrontar com o termo “meritocracia” em discussões políticas e econômicas. Na acepção mais
comum, designa um modelo em que se progride social e economicamente com base em qualidades pessoais.
De acordo com essa visão, a meritocracia premia o esforço individual, que se sobreporia a fatores externos.
Para seus críticos, o conceito é falho pois ignora o contexto social e cultural das pessoas, que podem se
traduzir em vantagens ou desvantagens. Segundo essa visão, ao ignorar o histórico das pessoas, a
meritocracia serve apenas para reforçar desigualdades existentes.
O termo tem origem no livro “The rise of the meritocracy” (“A ascensão da meritocracia”, em tradução livre),
publicado em 1958 pelo sociólogo e político britânico Michael Young. Satírica, a obra descreve uma sociedade
distópica do futuro em que se consolida uma elite baseada em resultados de testes de QI padronizados. Como
apenas aqueles com acesso a boas escolas conseguem ir bem nos testes, a “meritocracia” da história apenas
perpetua o desequilíbrio social.
A intenção de Young era criticar o sistema educacional britânico de sua época, baseado em um modelo similar
de testes de inteligência, que todas as crianças do país deveriam fazer em certas fases da vida escolar. A
aprovação ou não nesses testes, em vigor no país até o fim da década de 1980, costumava ser determinante
para o futuro profissional dos estudantes.
No Reino Unido, o termo foi adotado com entusiasmo pelo primeiro-ministro Tony Blair, que ocupou o cargo
entre 1997 e 2007. Em um discurso de 2001, Blair fez alusão ao conceito, pregando que “as pessoas deveriam
ascender de acordo com o mérito e não nascença”.
FOTO: REPRODUÇÃO
LIVRO QUE LANÇOU O TERMO FOI PUBLICADO ORIGINALMENTE EM 1958
No Brasil, o senador Aécio Neves se valeu do termo em diversas ocasiões, como por exemplo em declarações
sobre o funcionalismo público. Em 2015, publicou no Twitter
(https://twitter.com/aecioneves/status/671830780876824578) que “sou favorável à meritocracia, a
qualificação da ocupação dos cargos públicos em todas as esferas da administração”.
Em seu artigo de 2001, Young lembrou que a prática pode criar um sistema viciado: “É bom senso indicar
pessoas individuais a trabalhos com base no seu mérito. É o oposto quando aqueles que são considerados
possuidores de um certo tipo de mérito se engessam em uma nova classe social que não permite lugar para os
outros”.
Entre seus defensores, há quem ressalve que o conceito vale apenas para situações específicas, não para a
sociedade como um todo. Por exemplo, como critério de seleção ou promoção dentro de uma empresa.
Mesmo nesse tipo de situação, há espaço para desequilíbrio. Uma pesquisa de 2016 do MIT
(https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/04/15/Como-a-meritocracia-no-ambiente-corporativo-
pode-aumentar-a-desigualdade) (Massachussets Institute of Technology) identificou que organizações que
usam a meritocracia como base para políticas de recompensas têm mais chances de oferecer recompensas de
maneira desigual a indivíduos com performance parecida, mas com gênero, etnia ou origem social diferentes.
Só aqueles com um histórico de desempenho excelente alcançam os níveis mais altos. “Em vez de perder
tempo e dinheiro tentando angariar votos, líderes podem buscar a melhoria de seu conhecimento e
desempenho”, afirmaram os autores do artigo. Mas fazem a ressalva em seguida: “a meritocracia só pode
funcionar em um sistema de partido único”. Na democracia, com a alternância de partidos, não há garantia de
permanência em um cargo público por muito tempo.
VEJA TAMBÉM