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16 de setembro de 2018

Calúnia, difamação e injúria: o termo "fascismo" se encaixa em


algum desses crimes?

Calúnia, difamação ou injúria: em qual ato ilícito o termo “fascista”


se enquadra? Por que chamar uma pessoa de fascista é crime? E
chamar o indivíduo de “comunista” também é considerado um
delito? Essas e outras respostas você terá agora neste artigo.

O Brasil está polarizado politicamente. Em um lado os defensores


dos ideais da esquerda. Do outro os da direita. Em época eleitoral
essa polarização fica ainda maior, para não dizer perigosa.

As discussões entre pessoas que defendem visões políticas


diferentes são muito comuns nos dias atuais. Só que enquanto a
discussão fica somente no campo das ideias, tudo bem. O
problema é quando os ânimos ficam acalorados e a coisa sai do
controle e começam os xingamentos.

Um chama o outro de “fascista” pelo que recebe a resposta


“comunista”. Esta cena é vista em todas as classes sociais. Acontece
desde uma conversa mais acirrada entre vizinhos num bar
tomando uma cerveja até um bate-boca entre autoridades, assim a
coisa pode chegar até as vias de fato!

Mas chamar uma pessoa de “fascista” ou “comunista” constitui um


crime? A resposta é: sim e não.

Diferença entre um termo e outro

Chamar uma pessoa de “comunista” nesta situação retratada não


configura crime, pois o comunismo é uma corrente política vigente,
autorizada internacionalmente, presente em vários países e com
partidos estabelecidos oficialmente, como no Brasil, em que há,
por exemplo, o PC do B (Partido Comunista do Brasil) e o PCB
(Partido Comunista Brasileiro).
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E a pessoa que é “xingada” de comunista em um debate com uma
pessoa de direita não encara isso como xingamento e sim como
uma confirmação das ideias que defende. Ficaria no mínimo
estranho um comunista processar alguém por ter sido chamado de
“comunista”, você não acha?

Chamar de fascista é crime

Já chamar uma pessoa de fascista é crime contra honra. É


considerado Injúria. Quem declarou isso foi a Justiça do Brasil em
dois casos recentes.

Mas antes de continuar a tratar especificamente deste ponto se faz


necessário conceituar o que é fascismo:

O fascismo foi um regime totalitário, imperialista e antidemocrático


implantado na Itália por Benito Mussolini em 1922 até 1943.
Pregava a superioridade da raça e nação acima dos direitos
individuais dos cidadãos. Quem discordava ou era preso ou, em
muitos casos, morto.

Estima-se que fascismo foi responsável pela morte de 6 milhões de


pessoas. Portanto, após a queda do regime a palavra “fascista”
tornou-se uma ofensa (assim como nazista), pois pressupõe-se que
o ofendido seja “contra a democracia”, “a favor do totalitarismo” e
que é a favor da prisão e matança de pessoas em nome da “raça e
nação”.
Jurisprudência

E, como já foi citado, é a própria Justiça do Brasil que define que


chamar uma pessoa de fascista é crime. No ano passado um
comentarista de uma afiliada do SBT ganhou uma ação contra uma
revista de circulação nacional porque em uma reportagem lhe era
imputado o “título” de fascista. O magistrado que julgou a causa
considerou ofensa contra a honra, no caso, injúria. Condenou tanto
a revista quanto o repórter que escreveu a matéria.
Crimes contra a honra

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O fato exposto serve para mostrar que crimes contra a honra são
sim passíveis de condenação e essas condenações também têm
efeito pedagógico popular. Traz o alerta: muitas vezes o indivíduo
chama o outro de determinada palavra sem saber o significado.
Xinga porque viu outras pessoas fazendo a mesma coisa. Isso é
típico da ofensa “fascista”.
O que diz a lei

Os crimes contra a honra estão definidos nos artigos 138, 139 e


140 do Código Penal:

Artigo 138: Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato


definido como crime:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (anos), e multa.

Exemplo: seu vizinho espalha para todo bairro que você roubou a
bicicleta dele.

Artigo 139: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


reputação:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Exemplo: este mesmo vizinho espalha para todo bairro que você
está traindo sua mulher. Independentemente se você está
“pulando a cerca ou não”. Ele não tem nada a ver com sua vida!

Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Exemplo: Este mesmo vizinho, em uma discussão política, o chama


de “fascista”.

Aqui cabe fazer um registro: o crime de injúria pode ser praticado


por uma ação e não somente por palavras.

Exemplo: Em um churrasco, o mesmo vizinho pega um copo de


cerveja e joga bem na sua cara. Não fala nada e sai. Este ato é
considerado injúria, mesmo o vizinho não ter dito nada, pois ele
está ofendendo sua dignidade, seu decoro.
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Não deixe impune

O caso exposto no início do artigo, da imputação “fascista” ser


considerada um crime, serve de exemplo que não são só crimes
mais graves, como um roubo, homicídio, sequestro, que devem ser
punidos. Sua reputação merece ser protegida e preservada.
Portanto, a orientação aqui é “não deixar barato” e, se você se
sentir ofendido com algo que uma outra pessoa disse a você,
procure a Justiça.

Agora você sabe, por exemplo, que, se alguém lhe chamar de


fascista, você pode levá-la ao tribunal.

Intenção deste texto

Casos como este servem como ferramenta de pedagogia. Veja que,


depois desse caso, um advogado defensor de um projeto que
ganhou notoriedade em todo país foi chamado de fascista por um
professor em um debate promovido por um jornal de grande
circulação nacional. O advogado o processou na esfera cível e
criminal e saiu vitorioso.

O viés deste artigo não é político. Mas informativo e educativo.


Levar o conhecimento do seu direito.

Saber que é injúria alguém lhe chamar de “idiota” é fácil. Mas no


caso de “fascista” é diferente. Muita gente não sabe. Ou não sabia
até o momento. Até porque a jurisprudência é recente, de 2017.

Autor
Rafael Rocha
Dr. Rafael Rocha (Currículo):

O advogado Rafael Rocha é advogado criminalista, consultor e


parecerista em matéria Penal e Processo Penal.

Formações Acadêmicas:

Bacharel em Direito pelo INESC/MG Bacharel em Teologia pelo


SETECEB/GO Pós graduado em Direito Empresarial pela FIJ/RJ
Pós graduado em Direito Penal e Processo Penal pelo
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ATAME/GO

Cursos de formação complementar:

Realizou o curso EMPRETEC, um programa da ONU em


parceria com o Sebrae no Brasil. Sócio fundador do Escritório
Rocha Advogados. Professor Universitário nas áreas de Direito
Empresarial, Direito Penal e Processo Penal. Professor de
cursos preparatórios, pós graduações, palestrante. Possui
curso de gestão de escritório pela ESA (Escola Superior de
Advocacia). Realizou curso de aprofundamento em Direito
Eleitoral de 180 hs pela ENA (Escola Nacional de Advocacia). É
Life e professional Coach e Busines Executive Coach pela
Academia Internacional de Coach. Fundador do Escritório
Rocha Advogadose do Radar Legal. Participou do projeto
amigos da Escola como Professor de Xadrez. Desenvolve
programas na área social para incluir os menos favorecidos em
cursos profissionalizantes.

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