Você está na página 1de 20

D I S C I P L I N A Psicologia da Educação

A dinâmica dos grupos e o processo


grupal

Autora

Vera Lúcia do Amaral

aula

10
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Ministro da Educação
Fernando Haddad Revisora Tipográfica
Secretário de Educação a Distância – SEED Nouraide Queiroz
Carlos Eduardo Bielschowsky
Ilustradora
Carolina Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Editoração de Imagens
Reitor
José Ivonildo do Rêgo Adauto Harley
Carolina Costa
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz Diagramadores
Secretária de Educação a Distância Bruno de Souza Melo
Vera Lúcia do Amaral Dimetrius de Carvalho Ferreira
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Ivana Lima
Johann Jean Evangelista de Melo
Coordenadora da Produção dos Materiais
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Adaptação para Módulo Matemático
André Quintiliano Bezerra da Silva
Coordenador de Edição Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira
Ary Sergio Braga Olinisky Thaísa Maria Simplício Lemos
Projeto Gráfico Imagens Utilizadas
Ivana Lima Banco de Imagens Sedis
Revisores de Estrutura e Linguagem (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN
Eugenio Tavares Borges Fotografias - Adauto Harley
Jânio Gustavo Barbosa Stock.XCHG - www.sxc.hu
Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT


Verônica Pinheiro da Silva

Divisão de Serviços Técnicos


Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Copyright © 2007  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação

A
té agora, discutimos a forma como a Psicologia estuda e descreve o indivíduo. Mesmo
quando apresentamos e defendemos uma abordagem que trata desse indivíduo como
um ser sócio-histórico, é sempre do indivíduo que estamos falando. A partir desta
aula, vamos começar a discutir um conjunto de temas que analisa o comportamento das
pessoas na sua vida em grupos. Iniciaremos, então, conceituando os grupos sociais, como
eles se constituem e qual a sua dinâmica.

Objetivos
Conhecer os conceitos de instituição, de organização
1 e de grupo.

2 Distinguir os tipos de grupos.

Distinguir os fenômenos que ocorrem na dinâmica de


3 um grupo.

Conhecer os grupos operativos.


4
Conhecer algumas técnicas de trabalho em grupo para
5 uso em sala de aula.

Aula 10  Psicologia da Educação 


Os estudos iniciais

P
assamos a maior parte das nossas vidas convivendo em grupos. Seja a nossa família,
seja o grupo de amigos, seja a turma do trabalho, estamos sempre compartilhando
nosso cotidiano com outras pessoas. Já em 1919, um estudioso chamado Trotter
(1919-1953) definia o instinto gregário como um dos quatro instintos básicos do homem,
sendo os outros: o instinto de autopreservação, o instinto de nutrição e o instinto sexual. O
instinto gregário seria aquele que nos faria procurar sempre viver em grupos, como uma forma
– conforme explicação darwiniana – de tornarmo-nos mais resistentes à seleção natural.

Para a Psicologia, o estudo dos grupos é um dos seus temas fundamentais, ao ponto
de existir um ramo chamado Psicologia Social. A preocupação da Psicologia com o estudo
dos grupos começa com os estudos da chamada Psicologia das Massas, que tentava
compreender fenômenos coletivos. Na verdade, o início dessas preocupações ocorreu
quando os psicólogos, ao se debruçarem sobre a Revolução Francesa, se perguntavam como
era possível uma multidão de pessoas ser levada por um líder a comportamentos que muitas
vezes colocavam em risco as suas próprias vidas. E assim buscavam saber que fenômeno
era aquele capaz de possibilitar a um enorme grupo agir com tamanha coesão.

Figura 1 – A tomada da Bastilha, marco da Revolução Francesa

A referência clássica para essa discussão é o francês Gustave Le Bon (1841-1931), que
publicou em 1895 um livro chamado “Psicologia das Massas”, o qual é reeditado até os dias
atuais. Para Le Bom, havia uma ruptura profunda entre o fenômeno individual e o fenômeno
coletivo, ao ponto de se poder falar de uma “psicologia das multidões” e de uma psicologia do
indivíduo. A multidão é apresentada como uma espécie de ser unitário provido de características
psicológicas próprias, de modo que os indivíduos que a compõem perdem suas características
pessoais, sua autonomia, e passam a agir como uma espécie de “psiquismo coletivo”, muitas
vezes, com comportamentos que o sujeito, quando fora da multidão, jamais teria. Há, pois, a perda
da individualidade e a formação de um novo todo, que não é a soma das partes. Para Le Bom,
isso se daria por três fatores: o sentimento de poder, o contágio mental e a sugestibilidade.

 Aula 10  Psicologia da Educação


Figura 2 – As manifestações nazistas: objeto de estudo da Psicologia das Massas

Freud também preocupou-se em estudar a questão dos grupos a partir das idéias de
Le Bon. Em seu livro “A Psicologia das Massas e a análise do Eu” (1973), ele propõe que as
massas também não podem ser pensadas como tendo uma forma única. Existiriam, então,
as multidões efêmeras e as mais duradouras; as homogêneas, formadas por indivíduos
semelhantes, e as não homogêneas; as primitivas e aquelas que possuem um alto grau
de organização, que ele chama “massas artificiais”. Hoje, conhecemos esses grupamentos
organizados e estruturados como “instituições”, como veremos a seguir.

Para Freud, não haveria uma mente grupal ou um “psiquismo coletivo”, como
propunha Le Bon. Todos os comportamentos individuais dentro de uma multidão poderiam
ser compreendidos a partir do psiquismo dos indivíduos, na medida em que os processos
mentais se articulam desde cedo com a dimensão social da existência. As vinculações
se dariam em dois eixos: um vertical, no qual os indivíduos se ligariam aos líderes, que
encarnariam a figura primordial do chefe da tribo; e um eixo horizontal, no qual haveria
uma ligação dos membros uns com os outros, de modo que os indivíduos imersos em uma
multidão se sentiriam mais desenvoltos para assumir riscos.

Exemplos de atuações de massas podem ser observados historicamente, como o


Nazi-fascismo; mas também na vida cotidiana, como as torcidas organizadas em estádios
de futebol, ou mesmo protestos radicais, como as manifestações de “quebra-quebra”
em transportes coletivos.

Aula 10  Psicologia da Educação 


Atividade 1
Procure recordar se você já participou de manifestações de massa. Se você não
vivenciou manifestações desse tipo, seguramente, já assistiu a algumma nos
jornais de TV ou em filmes. Descreva essa situação a seguir, relatando quais
foram os seus sentimentos nesse momento.
sua resposta

As instituições,
as organizações e os grupos

R
etomemos agora a questão inicial: nossa vida cotidiana é marcada pela vida em grupo.
Para que possamos viver em grupo, são necessárias certas regras, combinações e
acertos. Tomemos como exemplo a rotina do nosso trabalho. Saímos de casa em uma
determinada hora e vamos a um ponto de ônibus. Sabemos que este passará em uma certa
hora que nos permitirá estar no trabalho na hora precisa. Para que isso aconteça, ou seja, para

 Aula 10  Psicologia da Educação


que nós tenhamos a tranqüilidade de esperar o ônibus sabendo que ele virá, foram necessários
alguns acertos e combinações que, no caso, ocorreram sem que nós precisássemos intervir.
Chegando ao trabalho, esperamos encontrar a porta aberta e o espaço organizado para que
iniciemos nossas tarefas. Sabemos também que vamos encontrar os nossos colegas. Todos
esses eventos acontecem a partir desses acertos implícitos, dessa regularidade, dessas normas,
os quais nos permitem conviver em grupo. A isso chamamos institucionalização, ou seja, o
estabelecimento de regularidades comportamentais que possibilitam o viver coletivo.

A institucionalização começa como um processo em que as pessoas vão, aos poucos,


descobrindo qual a melhor forma, a mais rápida, a mais econômica, de desempenhar suas
tarefas. Quando essa forma se repete muitas vezes, torna-se um hábito. Com o passar do
tempo, com a transferência desse hábito para as gerações seguintes, começa a haver uma
tradição que não exige mais questionamentos e, então, impõe-se por ser uma herança
dos antepassados. Depois de muitas gerações, passamos a não nos dar conta do por que
continuamos a fazer daquela forma, perdemos a referência de que a herdamos de nossos
antepassados. Nesse momento, dizemos que a regra social foi institucionalizada.

A instituição é, pois, “um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto
de verdade, que serve como guia básico de comportamento e padrão ético para as pessoas
em geral [...] é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais”
(BOCK, 1999, p. 217).

Esse conjunto de regras e valores concretiza-se na sociedade em uma instância chamada


organização. A organização pode ser complexa, como as empresas, ou mais simples, como
um pequeno estabelecimento, uma entidade não governamental. De todas as maneiras, é
onde vão se manter e reproduzir as instituições sociais, ou seja, é na organização que vamos
dar vida ao conjunto de regras que estabelecemos para a convivência em grupo. Assim,
tanto as instituições quanto as organizações somente existem em função de um conjunto de
pessoas que reproduzem e, às vezes, reformulam as regras e os valores: o grupo.

Os autores definem grupo como sendo uma unidade que se dá quando os indivíduos
interagem entre si e compartilham normas e objetivos.

Figura 3 – Os grupos de idosos

Aula 10  Psicologia da Educação 


Atividade 2
Vamos tentar fazer a diferenciação entre institucionalização e organização. Tome
como referência alguma organização que você conheça. Cite essa organização
e liste alguns procedimentos institucionalizados que nela ocorrem.
sua resposta

Tipos de grupos

O
s grupos podem ser classificados como primários ou secundários. Os grupos
primários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades básicas da
pessoa e a formação de sua identidade. Caracterizam-se por fortes vínculos afetivos
interpessoais e uma hierarquização de poder. Um exemplo pode ser o grupo familiar.

Os grupos secundários são aqueles constituídos para a satisfação das necessidades


sistêmicas ou de interesses de grandes grupos e classes. Sua identidade é construída
pelo papel social que o indivíduo desempenha e o poder está centrado na capacidade e na
ocupação social dos seus membros. Um exemplo de grupo funcional pode ser o grêmio
estudantil ou os conselhos de classe de uma escola.

Assim, um conceito-síntese de grupo pode ser o proposto por Martín-Baró: “uma


estrutura de vínculos e relações entre pessoas que canaliza em cada circunstância suas
necessidades individuais e/ou interesses coletivos” (citado por MARTINS, 2003, p. 204).

 Aula 10  Psicologia da Educação


A dinâmica dos grupos

U
m grupo é um todo dinâmico. Apesar de ser um conjunto de pessoas, não é
simplesmente a soma dos participantes, o que significa que qualquer mudança que
ocorra em um dos participantes vai interferir no estado do grupo como um todo. E
por estarmos sempre mudando é que o grupo é dinâmico.

Quando um grupo se estabelece, uma série de fenômenos passa a atuar sobre as pessoas
individualmente e, conseqüentemente, sobre o grupo. É o chamado processo grupal. Vamos
destacar alguns desses fenômenos:

1) coesão – significa o resultado da aderência do indivíduo ao grupo, a fidelidade aos seus


objetivos e a unidade nas suas ações. Todo grupo só consegue sobreviver se mantiver
uma atração entre seus membros, assim, faz-se necessário uma certa pressão entre os
membros para que nele permaneçam. Um grupo, de acordo com suas características,
pode apresentar uma maior ou menor coesão. Uma maior coesão geralmente é obtida
quando o grupo observa que as finalidades estão sendo cumpridas e os resultados
estão sendo obtidos. Quanto maior a coesão maior a satisfação dos membros e maior a
produtividade. Isso pode ser claramente observado em um time de futebol. Quanto mais
ele se reveste do sentimento de equipe, melhores são os resultados obtidos. E vice-
versa: quanto melhores os resultados, mas aumenta a coesão do time.

2) padrões grupais – são as expectativas  de comportamentos partilhados por parte dos


membros do grupo. Esses padrões ou normas de comportamento são estabelecidos
com a especificação de atitudes ou comportamentos desejáveis por parte dos membros.
A partir disso, estabelece-se uma fiscalização por parte do grupo quanto ao cumprimento
dessas normas, aplicando-se sanções aos que não as cumprem. Esses padrões muitas
vezes não são explicitados, mas espera-se que o indivíduo ao ingressar no grupo os
perceba. Por exemplo, não é necessário ressaltar para um membro de um grupo de
jovens católico que ele deve comparecer à missa, pois isso está implícito.

3) motivações individuais e objetivos do grupo – são os elementos que estão relacionados


com a escolha que cada indivíduo faz quando decide participar de um grupo e são
importantes para garantir a adesão. Uma pessoa geralmente escolhe participar de um
grupo a partir de suas motivações pessoais, sejam motivações referentes aos objetivos
do grupo, sejam atrações exercidas por membros daquele grupo. É importante observar
as respostas que o grupo dá a essas manifestações individuais, as quais até podem
ser admitidas, desde que não interfiram nos objetivos centrais do grupo, que sempre
prevalecerão. Quanto mais o grupo zela pela sua coesão, menos manifestações
individuais serão toleradas. Uma manifestação individual que atente contra os objetivos
do grupo serão punidas com a exclusão daquele membro.

Aula 10  Psicologia da Educação 


4) liderança – A habilidade do líder para motivar e influenciar o grupo produz efeitos na
atmosfera deste. O grupo pode desenvolver-se em um clima democrático, autoritário ou
relaxado, dependendo da vocação do grupo e de lideranças que viabilizem essa vocação.
Assim, por exemplo, um grupo cujos membros acreditam que a melhor forma de organizar
as relações é a autoritária, vai necessitar de um líder autoritário, que, por sua vez, reforçará a
atmosfera autoritária dentro do grupo. Um dos grandes estudiosos da questão da liderança
foi Kurt Lewin (1890-1974). Para ele, os grupos democráticos tinham mais eficiência a
longo prazo, enquanto os autoritários tinham uma eficiência imediata. Como as decisões
são centralizadas na figura do líder, os membros somente funcionam a partir de sua
demanda e são, geralmente, cumpridores de tarefas. Já os grupos democráticos exigem
maior participação de seus membros, que dividem as responsabilidades com a liderança.
Isso torna a realização dos objetivos mais demorada, entretanto, mais duradoura.

Figura 4 – Os grupos de trabalho funcionam com dinâmicas própria.

Atividade 3
Provavelmente, você faça parte de algum grupo. Se não, converse com alguém
que esteja vinculado a algum. Analise sua própria participação, ou a de outra
pessoa, e anote a seguir a avaliação que você fez do grupo com relação aos
quatro itens descritos anteriormente.
sua resposta

 Aula 10  Psicologia da Educação


Os grupos operativos e a teoria
do vínculo de Pichon-Rivière

O
psiquiatra suíço-argentino Pichon Rivière (1907-1977) foi também um estudioso dos
grupos. Ele desenvolveu uma nova abordagem, que resultou nos chamados grupos
operativos. Para ele, o grupo é um conjunto restrito de pessoas, que, ligadas por
constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, propõe-
se, explícita ou implicitamente, a uma tarefa, que constitui sua finalidade. No entanto, não
basta que haja um objetivo comum ou que tenha como finalidade uma tarefa, é preciso que
essas pessoas façam parte de uma estrutura dinâmica chamada vínculo. Por exemplo, as
pessoas que estão em uma sala de espera de um cinema estão reunidas no mesmo espaço
durante o mesmo tempo, com o mesmo objetivo, mas não se constituem em um grupo. Há
a necessidade de se vincularem e interagirem na busca de um objetivo comum, por isso,
os princípios organizadores do grupo são o vínculo e a tarefa. A teoria do vínculo, portanto,
parte do pressuposto de que o homem se revela e se estrutura por meio da ação, ou seja, do
desempenho de papéis e do estabelecimento de vínculos.

Figura 5 – Pichon Rivière

Para Pichon Rivière, vínculo é “[...] a maneira particular pela qual cada indivíduo
se relaciona com outro ou outros, criando uma estrutura particular a cada caso e a cada
momento” (PICHÓN-RIVIÉRE, 1998, p. 3). É, assim, uma estrutura dinâmica, movida por
motivações psicológicas, que rege todas as relações humanas.

Identificamos se o vínculo foi estabelecido, quando:

n   somos internalizados pelo outro e a internalizamos também.

n   ocorre uma mútua representação interna;

n  a indiferença e o esquecimento deixam de existir na relação, passamos a pensar, a falar, a


nos referir, a lembrar, a nos identificar, a refletir, a nos interessar, a nos complementar, a nos
irritar, a competir, a discordar, a invejar, a admirar, a sonhar com o outro ou com o grupo.

Aula 10  Psicologia da Educação 


Tarefa, outro princípio organizador de grupo é um conceito que diz respeito ao
modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir de suas próprias necessidades.
Necessidades, que para Pichon-Rivière constituem-se em um pólo norteador de conduta:
o processo de compartilhar necessidades em torno de objetivos comuns constitui a
tarefa grupal. Nesse processo, emergem obstáculos de diversas naturezas: diferenças e
necessidades pessoais e transferenciais, diferenças de conceitos e marcos referenciais e
do conhecimento formal propriamente dito.

Num primeiro momento do funcionamento do grupo, há um bloqueio da atividade


grupal em função das fantasias básicas universais do grupo as quais induzem à utilização
de posturas defensivas que dificultam as mudanças de opinião. Nos momentos iniciais,
quando o grupo parte para a execução da tarefa, é necessário que as ansiedades sejam
explicitadas e resolvidas para, a partir daí, ocorrer a identificação e o estabelecimento do
vínculo, configurando-se a relação grupal.

Para Pichon Rivière, um grupo opera melhor quando há em seu conjunto de pessoas
pertinência, afiliação, centramento na tarefa, empatia, comunicação, cooperação e
aprendizagem. A pertinência pode ser vista como a qualidade da intervenção de cada um no
grupo; a afiliação é a intensidade do envolvimento do indivíduo no grupo; o centramento
na tarefa é o eixo principal da cooperação, refere-se ao grau de interação com que um
participante mantém o vínculo com o trabalho a ser efetuado, e avalia a dispersão e a
realização de esforço útil do indivíduo; a empatia é o modo como o grupo pode ganhar
força para operar cada vez mais significativamente; a comunicação é essencial para que haja
entrosamento; a cooperação é o modo pelo qual o trabalho ganha qualidade e operatividade;
a aprendizagem é o resultado do trabalho e deve ser essencialmente colaborativa.

A teoria do vínculo aplicada ao contexto do ensino propõe a quebra da polaridade professor-


aluno. Ela introduz um terceiro elemento que deve ser considerado. O sujeito e o outro em
interação se dão conta de que há um mundo inteiro em cada um, em interação contínua, que
atinge também o nível inconsciente, produzindo imagens ilusórias e ansiedades que necessitam
de testes de realidade para a sua elaboração. As dúvidas são compartilhadas e uma representação
comum é construída criando condições para a solução surgir. Por exemplo, quando conheço
alguém, me vem à lembrança outras pessoas que conheci nas mesmas circunstâncias. Assim,
no encontro entre duas pessoas, sempre há um “terceiro”, que é esse outro que conheci, o
qual, mesmo não estando presente fisicamente, está na lembrança. E essa lembrança pode
ser perturbadora o suficiente para gerar na pessoa fantasias e ansiedades com relação a
quem ela está encontrando agora. Posso imaginar que aquele tipo de olhar que vejo em quem
encontro agora, me recordando o olhar daquele “outro”, é um olhar de hostilidade e, com isso,
fico ansioso. Mas, imediatamente depois me dou conta de que essa pessoa de agora não é a
mesma que conheci, ou seja, executo testes de realidade não tendo por que ter ansiedade. Se
compartilho esses meus sentimentos com o outro e ele, por sua vez, compartilha comigo as
suas ansiedades, criamos uma representação comum que estimula o vínculo.

Na aprendizagem centrada no estudante, os conceitos de papel e vínculo se entrecruzam


e por isso é importante abordar tanto a estrutura do vínculo como os diversos papéis, os quais

10 Aula 10  Psicologia da Educação


professor e aprendizes se atribuem. O papel é decisivo na situação do vínculo, é transitório e
possui uma função determinada, que pode aparecer de forma específica e particular em uma
determinada situação e em cada pessoa.

Observando-se como opera um grupo ao resolver uma determinada tarefa de


aprendizagem, é possível compreender que se trata de um grupo operativo centrado na
tarefa de dominar o problema e dar a ele uma solução.

Técnicas de trabalho em grupo

C
ompreender o funcionamento de um grupo também pode ser importante para
a realização de dinâmicas em sala de aula. Certas técnicas, também chamadas de
“dinâmicas de grupo”, são muitas vezes utilizadas para possibilitar a organização e a
criatividade na produção do conhecimento. Elas podem gerar um processo de aprendizagem
mais coletivo e mais rico. Inúmeras são essas técnicas e vários são os manuais (são alguns
deles: “Facilitando o trabalho com grupos”, de Eliane Poranga Costa (Editora Wak, 2003);
“Intervenções grupais na Educação”, organizado por Stela Regina de Souza Fava (Editora
Ágora, 2005); “Exercícios práticos de dinâmica de grupo”, de Silvio José Fritzen (Editora
Vozes, 2001)) que as descrevem, no entanto, sempre que o professor optar por uma deve
considerar alguns elementos, os quais descreveremos a seguir.

1)  Objetivos – o professor deve ter clareza sobre o que quer com a técnica e deve pensá-la
respeitando esses objetivos.

2)  Ambiente – o espaço onde se desenvolverá a técnica deve ser adequado e pensado de
modo a não inibir os participantes. Algumas técnicas podem ser percebidas
como constrangedoras, por isso devem ser pensadas para serem executadas
em ambientes fechados, por exemplo.

3)  Duração – as técnicas devem ser pensadas com tempo determinado para seu início e fim.

4)  Número de participantes – e star atento a quantas pessoas participarão é fundamental


para pensar a técnica mais adequada e para providenciar os
materiais necessários.

5)  Materiais – os recursos necessários ao desenvolvimento da técnica podem ser os mais
variados, desde o papel, lápis, tinta, som, até equipamentos mais complexos,
como projetores multimídia, filmadoras, iluminação etc.

6)  Perguntas e conclusões – o momento da síntese do que foi produzido permite resgatar a
experiência e os sentimentos de cada um, bem como chegar
a conclusões sobre o tema discutido.

Aula 10  Psicologia da Educação 11


As técnicas de grupo podem servir para desinibir e diminuir a tensão da turma, para
apresentação dos participantes, para integração do grupo, para capacitação e comunicação.
A quantidade de técnicas já descritas é muito grande e vários são os manuais que as
descrevem. A seguir, vamos apresentar exemplos de algumas técnicas.

1)  Técnica do “método científico”

a) Apresentação do tema em uma palavra.

b) Divisão do quadro em partes iguais, com perguntas do tipo: 

n   o que queremos saber? 

n   o que pensamos? 

n   o que concluímos?

c) Apresentação e fixação, no quadro de giz, das questões chaves já preparadas


anteriormente sobre o que queremos saber.

d) Oralmente, os participantes vão respondendo à segunda questão (o que pensamos?)


e o professor as anota sinteticamente no quadro.

e) Faz-se a leitura de textos para comparar com as respostas dadas.

f) Oralmente, os participantes vão respondendo à terceira questão (o que concluímos?)


e o professor anota as conclusões no quadro de forma sintética.

g) Cada participante deverá registrar as conclusões finais e guardá-las consigo para


posteriores consultas.

2)  Painel de Três

a) Dividir o grupo em três subgrupos: apresentador, opositor e assembléia.

b) O grupo apresentador expõe o tema, sem ser interrompido. 

c) O grupo opositor anota aquilo com que não concorda e aquilo com que concorda, e,
após o apresentador, expõe suas anotações.

d) A assembléia, que tudo ouviu e anotou, apresenta seu depoimento.

e) O professor conclui. Os textos finais devem, então, ser afixados no quadro.

12 Aula 10  Psicologia da Educação


3)  Brainstorm ou tempestade cerebral

a) Propõe-se um tema para discussão.

b) Solicita-se aos participantes que exponham todas as idéias, mesmo as aparentemente


mais descabidas e absurdas, sobre o tema. As idéias devem ser expostas rapidamente,
sem nenhuma censura.

c) O professor vai registrando no quadro todas as idéias que foram apresentadas, sem
nenhum juízo crítico, e estimula sugestões de outras novas ou associados com
alguma já apresentada, até que a turma sinta que não há mais nada a ser falado.

d) O professor convida a turma para fazer a seleção, a eliminação ou o aperfeiçoamento


das idéias até que se chegue a um conjunto de idéias adequado ao tema proposto.

Essas são, como dissemos, apenas alguns exemplos de técnicas de grupo. Você pode
e deve criar a sua de acordo com as necessidades de sua aula. Vamos experimentar?

Atividade 4
Vamos imaginar que você está com dificuldades de fazer sua turma avançar
de um conceito do senso comum para o conceito científico. Somente sua
explicação em sala de aula não está sendo suficiente. Nesse caso, que tipo de
técnica de grupo você poderia propor à turma? Explique-a a seguir.

sua resposta

Aula 10  Psicologia da Educação 13


Resumo
Nesta aula, discutimos como surge a preocupação da Psicologia com o
estudo de manifestações coletivas, resultando no que se conhece hoje como
Psicologia Social. Vimos os conceitos de instituição, de organização e de
grupo; e analisamos a dinâmica envolvida nesse último. Destacamos a teoria
do vínculo e os grupos operativos e, por fim, apresentamos algumas técnicas
das chamadas “dinâmicas de grupo”.

Auto-avaliação
Analise uma escola como uma organização e destaque o que você pode observar
1 de comportamentos institucionalizados que nela ocorrem.

2 Identifique e descreva grupos que podem ocorrer em uma escola.

3 Descreva os fenômenos que ocorrem na dinâmica de um grupo.

4 O que é a teoria do vínculo?

5 O que caracteriza o grupo operativo?

Referências
BOCK, A. M. B. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva,
1999.

FREUD, S. Psicologia de lãs masas y analisis del “yo”. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva,
1973. Tomo III. (Obras completas).

LANE, S. T. O processo grupal. In: LANE, S. T.; CODO, W. (Orgs.). Psicologia social: o
homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 18-98.

14 Aula 10  Psicologia da Educação


LEWIN, K. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1978.

MARTINS, Sueli Terezinha Ferreira. Processo grupal e a questão do poder em Martín-Baró. Psicol.
Soc.,  Porto Alegre, v.15 n.1, jan./jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822003000100011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>.
Acesso em: 02 ago. 2007.

PICHÓN-RIVIÉRE, Enrique. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Aula 10  Psicologia da Educação 15


Anotações

16 Aula 10  Psicologia da Educação

Você também pode gostar