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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA

O ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS: um processo


contínuo de reflexão e ação

2ª EDIÇÃO
(REVISADA)

2015

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO
ASSESSORIA DE CURRÍCULO
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO
ASSESSORIA DE CURRÍCULO

DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA


O ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS FINAIS:
um processo contínuo de reflexão e ação

2ª Edição
(Revisada)

-2015-
Projeto gráfico:
Tikinet Edição
Diagramação e editoração: Rodrigo Martins e Aline Maya/Tikinet
Capa: Alexandre Tadeu Dias Andrade

Dados internacionais de catalogação na publicação:


Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o Ensino Fundamental –


Anos Finais: um processo contínuo de reflexão e ação. Prefeitura Municipal
de Campinas, Secretaria Municipal de Educação, Departamento Pedagógico,
Coordenação Pedagógica: Heliton Leite de Godoy. Organização e estabelecimento
de textos: Heliton Leite de Godoy Campinas, SP, 2014

ISBN 978-85-86223-16-7

1. Educação Básica. 2. Objetivos de Aprendizagem – Currículos – I. Prefeitura


Municipal de Campinas (SP), Secretaria Municipal de Educação, Departamen-
to Pedagógico, Assessoria de Currículo II. Organização e estabelecimento de
textos: Heliton leite de Godoy

Índice para Catálogo Sistemático


1. Educação Básica, Objetivos de aprendizagem 2. Currículos – Brasil

Todos os direitos reservados.


É permitida a reprodução total e ou parcial desta obra desde que seja citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas na forma da lei.
Prefeitura Municipal de Campinas
Prefeitura Municipal De Campinas

Prefeito
Jonas Donizette

Secretária Municipal de Educação


Solange Villon Kohn Pelicer

Diretor do Departamento Pedagógico


Juliano Pereira de Mello

Assessor Técnico de Currículo e Pesquisa Educacional


Heliton Leite de Godoy

Coordenadora Setorial de Formação


Giselle Alessandra Marchi

Núcleo de Publicação em Educação


Sueli Aparecida Gonçalves

2015
FICHA TÉCNICA

• Diretor do Departamento Pedagógico •


Juliano Pereira de Mello

• Coordenadora Setorial de Formação •


Giselle Alessandra Marchi

• Organização e Coordenação Pedagógica •


Heliton Leite de Godoy

• Núcleo de Publicação em Educação •


Sueli Aparecida Gonçalves

• Revisão Textual •
Maria Aparecida Lopes

• Colaboração •
Alexandre Tadeu Dias

• Coautores •
Adriana Correa Almeida Luiz Carlos Cappellano
Adriane Marques Fernandes Márcia Maria Nunes Gonçalves
Alexandre Mendeleck Maria Aparecida Lopes
Amilton Luis Fim Lima Maria Aparecida Pereira Montagner
Ana Lúcia Pupo Cagliari Picoli Maria José Adami
Angela Cristina dos Santos Fernandes Maria Lúcia Bachiega Kolokhatis
Clayton José Budin Maria Lúcia Costa de Oliveira Cerone
Domenico Gallicchio Neto Monica Cristina Martines Moraes
Édison Batista Carvalho Rafael Fernandes da Mata
Elisabete Pimentel Renata Cristina Maugeri Amorim
Fabiana Bardela Lopes Rita de Cássia Souza Máximo
Gisane Márcia Carvalho Dinnouti Rodrigo Neris
Heronilda de Alcantara Sevane Maria Cortijo Costa Pinheiro
Jefferson Eduardo Hespanhol Sonia Regina Ferreira de Oliveira
Julio Antonio Moreto Sueli Aparecida Gonçalves
Karina Aparecida Vicentin Valéria Aroeira Garcia
Kátia Maria Eugênio Verônica Marques Rodrigues
Leda Queiroz de Paula Wladimir Stempniak Mesko
• Colaboradores do Ensino Fundamental •

Aimar Shimabukuro Marcos Alexandre Neves Guimarães


Ana Cristina Krutzfeldt Antoniazzi Maria Cristina Pozza Azoni
Claudia Zaparoli De Paula Maria Do Carmo Mendes Ribeiro
Cícero Alves De Souza Maria Helena Silva Brito
Dilma Dominiquini Maria Lúcia Bach Iega Kolokhatis
Durival José Gasparoto Maria Lúcia Chagas Leoni
Edilaine Buin Maria Paula Araújo Stefanini
Eliane De Fátima Sach Inelli Scarpini Maria Rosely Poleto Ignácio
Eliane Nascimento Gil Dias Marli Aparecida P. Crema
Eunice Ferreira Pimentel Luders Silvia Regina Pereira de Souza
Gláucia Ultimia Colucc Ini Moreto Suely Galli Soares
Heloísa Helena Saviani Vera Lucia Batista Moraes
João Roberto da Silva Walter Geraldo de Almeida
Livia Seber Thaís Carvalho Zanch Etta Penteado
Luciano Vitor Magalhães Campos Zelma Regina Bosco
Lúcia Helena Pegolo Gama Zuleica Lopes Silva

• Escolas Municipais de Ensino Fundamental •

NAED LESTE EMEF Pe. Melico Cândido Barbosa


CEMEFEJA/EMEF Paulo Freire EMEF Virginia Mendes Antunes de Vasconcellos
CEMEFEJA Prof. Sérgio Rossini EMEF/EJA Prof. Zeferino Vaz – CAIC
EMEF Profa. Ângela Cury Zákia EMEJA Nísia Floresta Brasileira Augusta
EMEF Dr. Lourenço Bellocchio NAED SUL
EMEF Raul Pila CEMEFEJA Pierre Bonhomme
NAED NOROESTE EMEF Profa. Anália Ferraz da Costa Couto
EMEF/EJA Profa. Clotilde Barraquet Von Zuben EMEF Pe. Avelino Canazza
EMEF Dr. Edson Luiz Chaves EMEF Prof. Benevenuto de Figueiredo Torres
EMEF Pe. Francisco Silva EMEF Prof. Ciro Exel Magro
EME /EJA Pe. Leão Vallerie EMEF Elvira Muraro
EMEF/ EJA Profa. Sylvia Simões Magro EMEF/EJA Pres. Floriano Peixoto
NAED NORTE EMEF/EJA Francisco Ponzio Sobrinho
EMEF/EJA Pe. Domingos Zatti EMEF/EJA Profa. Geny Rodrigues
EMEF/EJA Profa. Dulce Bento Nascimento EMEF/EJA Pres. Humberto de Alencar Castelo
EMEF/EJA Edson Luis Lima Souto Branco
EMEF/EJA Dr. João Alves dos Santos EMEF/EJA Gen. Humberto de Sousa Mello
EMEF/EJA Pe. José Narciso Vieira Ehrenberg EMEF Julio de Mesquita Filho
NAED SUDOESTE EMEF Leonor Savi Chaib
EMEF/EJA Prof. André Tosello EMEF Maria Luiza Pompeo de Camargo
EMEF Carmelina de Castro Rinco EMEF/EJA Profa. Odila Maia Rocha Brito
EMEF/EJA Correa de Mello EMEF Orlando Carpino
EMEF Profa. Elza Maria Pellegrini de Aguiar EMEF Oziel Alves Pereira
EMEF Pe. Emílio Miotti EMEF Prof. Vicente Ráo
EMEF/EJA Maria Pavanatti Fávaro EMEF/EJA Violeta Doria Lins
Apresentação

A construção das Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental, da Secretaria Municipal


de Educação do nosso Município, ganhou forma e consistência. Entre idas e vindas, de um longo
processo dialógico, entre os diversos setores e grupos da educação, a difícil tarefa foi concluída,
por ora, devido à instalação de um efetivo processo democrático de produção coletiva.

A organização deste nosso primeiro currículo, nivelador dos conteúdos a serem ensinados nas
escolas municipais de Campinas, coordenada pelo Núcleo de Currículos e por especialistas de
diferentes áreas de conhecimentos, conseguiu agregar o coletivo da rede, em uma constante mo-
vimentação de embates e consensos, resultando em produtivas sugestões e encaminhamentos de
propostas de reformulação, tanto para a primeira quanto para a segunda versão deste documento.

E não poderia ser diferente, pois o objetivo primeiro das Diretrizes Curriculares é de que este
documento se constitua, não só em elemento orientador das atividades escolares para garantir a
predominância do aprendizado de determinados conteúdos, em toda a Rede, mas, também, pos-
sibilite a organização e aperfeiçoamento dos projetos político-pedagógicos das escolas.

E, para tanto, é fundamental que as unidades escolares – base do sistema educacional - sejam
perpassadas por processos democráticos e instigadores de novas situações, como forma de pos-
sibilitar o diálogo intenso e ininterrupto entre os membros dos diversos segmentos de área tão
crucial para o desenvolvimento dos municípios e do país.

Solange Villon Kohn Pelicer


Secretária Municipal de Educação

9
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

PARTE I – PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO F


UNDAMENTAL

Capítulo 1 – CURRÍCULO, ESCOLA E SOCIEDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21


1.1. O Currículo e o Projeto Político Pedagógico da Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2. O Currículo e as Funções da Escola na Sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Capítulo 2 – CURRÍCULO, ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM:


PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E CONTEÚDOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.1. Concepções que Marcam os Modos de se Ensinar: como o ser humano aprende e se desenvolve? . . . . . . 26

Capítulo 3 – A ESCOLA INCLUSIVA NUMA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Capítulo 4 – A ORGANIZAÇÃO EM CICLOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Capítulo 5 – AVALIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.1. Avaliação Institucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.2. Avaliação Institucional Participativa: Por Meio da Participação Solidária e Qualidade Negociada entre as
Escolas e o Poder Público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.3. Avaliação de Sistema: Mapeamento dos Conhecimentos Conquistados pelos
Alunos nas Escolas da Rede Municipal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.4. A Avaliação da Aprendizagem dos Alunos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.5. A Avaliação Diagnóstica: Construída no Coletivo de Professores e a Descrição
dos Saberes Orientadora do Planejamento e Replanejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Capítulo 6 – ADOLESCÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.1. Os Desafios para um Currículo que Respeite a Adolescência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6.2. Romper a Fragmentação do Trabalho Pedagógico e Buscar a Integração Curricular . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
6.3. Aprimoramento da Competência na Leitura e Escrita: Desafio que se Estende aos Ciclos III e IV . . . . . . . . 57

Capítulo 7 – EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICA-RACIAL AFRO-BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59


7.1. Escola e Diversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
7.2. Educação e Diversidade Étnico-Racial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
7.3. Políticas Públicas - MIPID . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.4. Construção da Educação para a Diversidade Étnico-Racial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Capítulo 8 – EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE HUMANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

11
Capítulo 9 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
9.1. Breve Histórico da Educação Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
9.2. Educação Ambiental e o Currículo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
9.3. Ações Pedagógicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

Capítulo 10 – PESCO – PESQUISA E CONHECIMENTO NA ESCOLA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77


10.1. Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
10.2. Formação no Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

Capítulo 11 – CURRÍCULO: EDUCAÇÃO E CIDADANIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81


11.1.Assessoria de Educação e Cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

Capítulo 12 – EDUCAÇÃO INTEGRAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87


12.1. Educação em Tempo Integral: Programa Mais Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
12.2. Educação Integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

Capítulo 13 – PROGRAMAS E PROJETOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93


13.1. Programa Arte e Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
13.2. Programa Linguagens e Educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
13.3. Projeto Línguas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
13.4. Projeto Imprensa na Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

Capítulo 14 – NTE – NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103


14.1. Objetivos do Núcleo de Tecnologia de Campinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
14.2. As Novas Tecnologias e o Currículo Escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
14.3. O CAMPIX - Pacote de Tecnologias Assistivas para Uso Educacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
14.4. Formação dos Educadores para Uso Adequado das Tecnologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
14.5. As Tecnologias e os Projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Capítulo 15 – O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO CONTINUADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

PARTE II – COMPONENTES CURRICULARES – ANOS FINAIS

Capítulo 16 – LÍNGUA PORTUGUESA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Capítulo 17 – LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA – INGLÊS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

Capítulo 18 – ARTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

Capítulo 19 – MATEMÁTICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

Capítulo 20 – CIÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

Capítulo 21 – EDUCAÇÃO FÍSICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177

Capítulo 22 – HISTÓRIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

Capítulo 23 – GEOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195


PREFÁCIO

Pode-se afirmar que o assunto não é novo. les que participaram do processo, é obrigató-
A construção das diretrizes curriculares para rio o reconhecimento do papel fundamental
o Ensino Fundamental é demanda da Lei de desempenhado pela Assessoria de Currículos
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que do Departamento Pedagógico. Eis, assim, as
data de 1996, reforçada por manifestações do Diretrizes Curriculares da Educação Básica para
Conselho Nacional de Educação e delibera- o Ensino Fundamental – Anos Finais: um processo
ções da Conferência Nacional de Educação. contínuo de reflexão e ação.
Ao longo desse tempo, não foram poucas as
vezes em que o tema foi considerado prioritá- Não se trata de uma missão cumprida. Con-
rio, e o debate foi iniciado. Em igual número cluiu-se uma etapa, consolidou-se um processo,
de oportunidades o trabalho ficou pelo cami- estabeleceu-se mecanismo de construção coletiva,
nho. Reveste-se de grande significado e im- alicerçou-se o futuro. O horizonte da qualidade da
portância, face ao histórico existente, a edição educação da Rede Municipal de Campinas nos es-
deste documento. Ao expressar os conceitos pera. Vamos.
e fundamentos que emanam de nossa rede,
estabelece objetivos comuns parametrizados
pela qualidade da educação, orientando a
elaboração de Projetos Políticos Pedagógicos
consistentes e adequados à realidade de nos-
sas escolas. Só o trabalho coletivo e o espírito José Tadeu Jorge
de equipe poderiam produzir um resultado
Secretário Municipal de Educação
tão expressivo. A sistemática de elaboração
(Gestão : maio/2009 a junho/2011)
das diretrizes pautou-se pela oferta de vários
mecanismos de participação e fomentou in-
tensamente a reflexão e o debate, buscando
sempre a análise da opinião e do contraditó-
rio, da discordância e do convencimento, da
teoria e da prática, do questionamento e da
aceitação, mas, sempre, do reconhecimento
e do respeito. Procedimentos dessa natureza
são complexos e difíceis. E o produto resultan-
te é, certamente, obra de inúmeros autores.
Entretanto, as atividades de coordenação são
vitais para se chegar a bom termo. Se for justo
o agradecimento institucional a todos aque-

13
ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO

O presente documento, intitulado Diretri- se constitui pelos sujeitos da prática pedagó-


zes Curriculares da Educação Básica para o Ensino gica que fazem do trabalho na escola sua voz,
Fundamental – Anos Finais: um processo contínuo sua paixão, sua escrita, seu projeto pedagógi-
de reflexão e ação, em sua segunda edição, tem o co pessoal, sua crença e verdade. Professores e
propósito de estabelecer objetivos comuns bási- especialistas da Rede Municipal de Campinas
cos para toda a Rede Municipal de Ensino, como são os autores e coautores desse trabalho, ini-
caminho para a melhoria da qualidade social da ciado e lançado no campo da reflexão contí-
educação, e estabelece, assim, o direito de todo nua, que se manteve atenta à diversidade de
aluno ao acesso ao conhecimento. questões que foram surgindo e ganhando for-
ma na produção coletiva das Diretrizes.
Estas Diretrizes expressam as concepções
de educação, ensino, aprendizagem, conhe- O documento nasceu, em sua versão prelimi-
cimento, saberes e avaliação e abordam ain- nar, do trabalho dos Grupos de Formação, con-
da as questões específicas de etnia, educação duzidos por professores da Rede Municipal ao
especial, ambiental, sexualidade, tecnologias longo de 2009, e da equipe de coordenadores pe-
educacionais, educação e trabalho e cidada- dagógicos. Em fevereiro de 2010, foi disponibi-
nia, entre outras que indicam a educação que lizado, via e-mail e sistema Integre, às unidades
se busca na Rede como um todo. Tais funda- educacionais para conhecimento, análise crítica,
mentos devem subsidiar as unidades escolares sugestões e contribuições. Essa versão continha
na elaboração de seus Projetos Pedagógicos, textos que apontavam os pressupostos teóricos
de forma a consolidar a unidade de rede que que fundamentariam o trabalho e os objetivos
se pretende e a reforçar a cultura do respeito educacionais dos componentes curriculares dos
às singularidades de cada realidade regional, anos finais do Ensino Fundamental.
das diversas comunidades escolares, popula-
ção de alunos e dos indivíduos. Iniciou-se, assim, o processo de participa-
ção coletiva em um crescente que se mostrou
Dentro de um amplo projeto de melhoria cada vez mais intenso a partir dos seminários
da qualidade de educação, estão incluídas as de socialização do documento e de novas con-
Diretrizes Curriculares, cuja principal carac- tribuições para o mesmo. O texto assumiu,
terística é a sua construção coletiva, pautada então, a dinâmica da construção processual,
na reflexão e no debate, em um movimento refazendo-se a cada nova contribuição, reajus-
que se expressou na participação ativa de to- te ou correção, em um movimento qualificati-
dos que se envolveram na sistematização da vo constante de ir e vir.
escrita das propostas apresentadas e nos en-
caminhamentos que constituíram o texto que Essa primeira etapa culminou em um texto
se apresenta. O coletivo a que nos referimos estruturado para ser apresentado no “I Semi-

15
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

nário Curricular” , ocorrido nos dias 7 a 14 de O plano de trabalho que gerou a ação retra-
agosto de 2010. Promoveu-se, assim, o encon- tada no presente documento já previa várias
tro de educadores por áreas do conhecimento etapas em sua operacionalização. No final de
e componentes curriculares, nos períodos da 2010, cumpriu-se a construção dos objetivos
manhã e da tarde. O documento foi intensa- gerais dos ciclos de aprendizagem e objetivos
mente discutido e, em um amadurecimento específicos por área de conhecimento e com-
que se mostrava visível em todos nós, as con- ponente curricular para os anos finais.
tribuições se avolumaram, começando a dar à
segunda versão formas de versão final. Após o Em 2011, como previsto, iniciaram-se as
primeiro seminário, as contribuições continu- ações de implementação das Diretrizes para os
aram a ser encaminhadas pelas escolas, ana- anos finais, com destaque para os Grupos de
lisadas e incorporadas ao texto até outubro, Formação, buscando analisar, discutir o docu-
quando o documento foi reorganizado e en- mento e criar estratégias para sua implemen-
viado via e-mail para toda a Rede. tação. Articulado a este trabalho, constituiu-se
uma equipe de formadores e sistematizadores
Em 29 de outubro, as escolas foram cha- composta por professores da SME com a tare-
madas para discutir a segunda versão do do- fa de coordenar o processo de elaboração dos
cumento por meio de uma teleconferência, objetivos educacionais para os anos iniciais,
realizada pela SME, destacando seu conteúdo para que, desta forma, fossem concluídas as
e sua importância. Após discussão nas unida- diretrizes para os quatro ciclos de aprendiza-
des, representantes foram por elas escolhidos gem do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, o
– professores e gestores – para encaminhar e que acabou ocorrendo no ano de 2011.
discutir novas contribuições e socializá-las no
“II Seminário Curricular”, no período de 8 a 22 Em 2012, dando continuidade ao processo
de novembro de 2010. de estudo curricular, promoveu-se a discus-
são do aprofundamento das questões relacio-
No processo de consolidação da segunda ver- nadas às metodologias, didática e estratégias
são das Diretrizes Curriculares da Educação Básica empregadas no processo ensino e aprendiza-
para o Ensino Fundamental – Anos Finais: um pro- gem. A definição das Diretrizes Curriculares
cesso contínuo de reflexão e ação, realizada no se- cumpriu a desafiadora tarefa da construção
gundo seminário, da mesma forma que no pri- coletiva, participativa e dinâmica no proces-
meiro, as contribuições ultrapassaram o tempo so dialético, que reconhece as contradições e
e o espaço dos seminários e continuaram che- se apropria delas como mola propulsora das
gando das escolas, com uma visível determina- mudanças e das transformações sociais. Apre-
ção e consciência dos sujeitos autores e coauto- sentamos, agora, a segunda edição das Diretri-
res dos textos. Mais que a construção coletiva zes Curriculares da Educação Básica para o Ensino
das Diretrizes da Educação Básica na Rede, esse Fundamental – Anos Finais: um processo contínuo
trabalho desvelou a mudança acontecendo: o de reflexão e ação, revisada a partir da indicação
encontro, a troca, a oportunidade de opinar, tra- dos profissionais da Rede, tendo como uma
zer o próprio trabalho pedagógico para o deba- das alterações a exclusão do capítulo que tra-
te, expor-se, impor-se, mudar de ideia, ouvir o ta da Educação de Jovens e Adultos, pois em
outro, refletir, ver sugestões acatadas, ter textos 2012 foi elaborado documento de Diretrizes
absorvidos, parágrafos reescritos… Curriculares específico para essa modalidade.

Elaborar as Diretrizes se tornou nosso lugar A metodologia de gestão do processo de


de encontro, o motivo do trabalho, feito com elaboração deste documento pautou-se no
a vontade de acreditar na educação pensada a estabelecimento de um cronograma rígido,
partir da práxis pedagógica e do diálogo. como forma de assegurar a realização dos ob-

16
SUMÁRIO  –  ORGANIZAÇÃO E COORDENAÇÃO

jetivos e metas, bem como a credibilidade dos cacional do Departamento Pedagógico, estar
profissionais da Rede. Um trabalho disciplina- à frente desse trabalho significa um constan-
do e consciente das muitas e desafiadoras res- te desafio a ser vivenciado, acompanhado de
ponsabilidades manteve o firme propósito da muita satisfação. Vivenciar com os educado-
construção coletiva e participativa. Desde que res da SME o processo de elaboração, discus-
assumimos este trabalho, vimos que para co- são e revisão das Diretrizes Curriculares tem
locá-lo em prática, era preciso muita organiza- sido um privilégio, uma vez que é um traba-
ção e planejamento para que todos pudessem, lho que contribui para definir e redefinir as
de fato, ter a oportunidade de participar e dar nossas próprias convicções. Portanto, meus
sua voz ao texto. Assim, reunir as pessoas sinceros agradecimentos ao Departamento
com suas motivações e interesses particulares Pedagógico, à equipe de professores sistema-
para estudar, escrever o texto, enviá-lo para tizadores, aos professores formadores, aos co-
as escolas, acolher sugestões, abrir o debate ordenadores pedagógicos e a todos que trilha-
coletivo nos seminários e reelaborar o texto, ram este caminho conosco. Esperamos que se
olhando sempre para o objetivo de concluir mantenha vivo o compromisso de continuar a
essa etapa significativa do trabalho, foram grande tarefa de divulgação do documento e,
estratégias marcadas por nossa coordenação, sobretudo, a implementação de seus objetivos
ora pontual e específica, ora na perspectiva de por meio do trabalho pedagógico e da gestão
gestão geral dos processos. escolar.

Como coordenador pedagógico da SME e Heliton Leite Godoy


assessor técnico de currículo e pesquisa edu-

17
PARTE I

PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO


BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abe-


lha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o
que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura
na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No
fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia
antes idealmente na imaginação do trabalhador. Ele não transfor-
ma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material
o projeto que tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei
determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar
sua vontade.

(MARX, 1987, p. 202).

19
Capítulo 1

CURRÍCULO, ESCOLA E SOCIEDADE

Introdução lítico Pedagógico, buscando sempre avançar


na objetividade e intencionalidade das ações
Desde a década de 1980, os educadores planejadas. As escolas mostram-se instiga-
das escolas municipais de Campinas vêm de- das a superar desafios cada vez maiores em
mandando a definição de diretrizes curricula- um mundo que atravessa grandes mudanças
res que contribuam para o fortalecimento da econômicas, políticas, sociais e culturais, de-
identidade de nossa rede de ensino. Respon- mandando também um grau de autonomia
dendo a estes anseios e também aos preceitos que no passado não lhes cabia. Hoje, essa
da legislação nacional que orientam os muni- autonomia é preceito legal, assegurada na
cípios e estados a definirem seus currículos, Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e
o Departamento Pedagógico/Secretaria Muni- Bases da Educação Nacional. Ela também se
cipal de Educação (DEPE/SME) de Campinas, concretiza no manejo de recursos financeiros
entre os anos de 2009 e 2011, desencadeou (Conta-Escola); na definição, pelos profissio-
um conjunto de ações visando à produção do nais, de cursos e projetos especiais a serem
documento apresentado. oferecidos aos alunos; na autoria dos Planos
de Ensino e no uso de materiais didáticos. Na
Como o próprio título deste documento diz, mesma proporção da autonomia, cresce a res-
o processo de definição curricular deve ser con- ponsabilidade das escolas na implementação
tínuo e realizado por meio da reflexão dos edu- da gestão democrática, na qual pais, alunos
cadores nos espaços coletivos das escolas, nos e educadores são chamados a construírem,
cursos de formação ou outros fóruns promovi- juntos, o Projeto Político Pedagógico.
dos pela SME e, principalmente, na lida diária
em cada escola, junto dos alunos. Portanto, se No coração deste Projeto, está o currículo da
de um lado este documento se pretende como escola. Sabe-se que é vasta a produção teórica
um instrumento sólido para fortalecer práticas a respeito do currículo, assim como são diver-
e políticas de Rede, de outro, mantém-se aber- sas as definições sobre o que seja ou deva ser o
to às propostas de mudanças que incorporem currículo escolar. Para os propósitos desse texto,
as inovações produzidas nas escolas. optamos pela definição de currículo como um
conjunto de práticas socioculturais que re-
úne saberes/conhecimentos e modos de se
1.1. O Currículo e o Projeto Político lidar com os mesmos, além das relações in-
Pedagógico da Escola terpessoais vivenciadas no ambiente edu-
cativo. Currículo é, portanto, muito mais que
Há duas décadas, as Unidades Educacio- uma lista de conteúdos e estratégias de ensino.
nais em nossa rede elaboram seu Projeto Po- Os documentos escritos, que expressam o tra-
balho da escola, contam-nos sobre o currículo,

21
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

mas o próprio cotidiano, muitas vezes, diz coi- ções arcaicas e excludentes, como se pode
sas que escapam a tais registros. perceber pela própria ocupação dos espaços
geográficos, que demonstra concentração da
Numa gestão democrática, o currículo população mais carente em determinadas áre-
deve respeitar as necessidades e interesses as (BARRETO, 1995; LAPA, 1996; CANO,
dos estudantes e suas famílias. Esse respei- 2002; PESSOA, 2004). Vivemos, nas últimas
to é demonstrado quando o currículo, na décadas, uma explosão populacional desorde-
escola, articula as orientações mais gerais nada que concentrou, em determinadas regi-
de uma Diretriz como esta, que irá propor ões da cidade, características socioeconômi-
a universalização de alguns aspectos da for- cas, étnicas e culturais muito próximas:
mação geral das crianças, jovens e adultos
de nossa Rede de Ensino, com as temáticas e O Município de Campinas, localizado a 100
os problemas que mobilizam a comunidade km de São Paulo e sede da Região Metropoli-
em que a escola está inserida. Sem o respei- tana, tem uma herança socioterritorial marcada
to ao aluno, que se manifesta na considera- por altos graus de exclusão social, apesar de ser
ção de sua cultura e de seus saberes, a esco- conhecida como um dos centros industriais e tec-
la não pode promover aprendizagem, a qual nológicos mais conceituados do país. Com uma
não existe sem o envolvimento dos sujeitos população de 1 milhão de habitantes, Campi-
na construção ativa de seus conhecimentos. nas configura-se como um dos raros municípios
brasileiros nessa condição. Possui um dos princi-
pais polos de fomento de pesquisa tecnológica e
1.2. O Currículo e as Funções da Escola científica do país, abrigando importantes univer-
na Sociedade sidades e centros de pesquisa, convivendo com
bairros marcados pela pobreza, precariedade
A escola deve estar a serviço da constru- territorial e vulnerabilidades sociais. Na verda-
ção de uma sociedade que garanta uma vida de, Campinas apresenta uma realidade típica
plena de possibilidades de desenvolvimento que marca as grandes cidades brasileiras onde
físico, cognitivo, afetivo, ético e estético para se concentram grandes demandas por melhores
todas as crianças, jovens e adultos. Sabemos condições habitacionais, empregos, serviços e
que isso ainda não está dado. Não concreti- equipamentos básicos de educação e saúde, den-
zamos a universalização de todos os direitos, tre outras (CAMPINAS, 2004, p. 6).
políticos, civis e sociais que, desde a revolução
burguesa, já há três séculos, vêm sendo pro- Essa realidade se manifesta, nas periferias,
metidos aos povos. com graus profundos de desigualdades socio-
territoriais, com padrões injustos de acesso às
Tomando como exemplo nosso país, po- riquezas sociais produzidas coletivamente. A
demos dizer que o vasto desenvolvimento
educação formal em Campinas, alinhada às
econômico e tecnológico não correspondeu a
uma justa distribuição das riquezas, condição políticas nacionais, expandiu-se também com
para efetivação dos direitos sociais. profundas desigualdades. No início do sécu-
lo XX, os ideais de uma educação pública ga-
Em especial em Campinas1, tivemos a for- nham corpo nos discursos políticos, mas não
mação de uma sociedade fundada em tradi- se materializam numa quantidade suficiente
1 Desde o século XIX, a cidade se apresenta como um polo de
desenvolvimento econômico. Seguindo os matizes da política na- tes de várias regiões do mundo, com destaque para os italianos e
cional, passamos da monocultura cafeeira, fundada sobre trabalho espanhóis. Na segunda metade do século XX, mais precisamen-
escravo e produção para exportação, à metrópole altamente indus- te a partir da década de 1960, já no contexto de urbanização e
trializada e produtora de ciência e tecnologia. A partir de 1860, industrialização, a cidade sofreu ampliação populacional oriunda
o café fez de Campinas um dos polos de comércio e prestação do processo de migração de famílias de todos os cantos do País,
de serviços que mais floresceu. A cidade passou a receber migran- chegando-se aos números atuais.

22
CAPÍTULO 1  –  CURRÍCULO, ESCOLA E SOCIEDADE

de escolas para o acesso de todos. Com vagas Contudo, a modernização das fábricas, as-
limitadas e mecanismos formais e informais sim como o crescimento do setor de serviços,
de seleção e exclusão, as escolas vão atender intensificados a partir dos anos de 1980, passa
às classes médias e altas, cujo destino geral- a exercer pressão sobre a escola no sentido de
formar trabalhadores mais qualificados, com
mente era a universidade. A partir do ano de
novas capacidades técnicas e simbólicas para
1970, assistimos à expansão das escolas públi- poderem operar dispositivos de alta tecnologia.
cas de Ensino Fundamental, ainda atendendo Ao mesmo tempo, no contexto da democrati-
aos anos iniciais, com foco na alfabetização. zação da sociedade, educadores e trabalhadores
Na década de 1980, ocorre a ampliação das reivindicam uma formação escolar crítica, para
vagas nos anos finais do Ensino Fundamental a cidadania, e não restrita a uma adequação ins-
e somente na década seguinte a ampliação no trumental aos novos sistemas produtivos.
Ensino Médio. No entanto, a construção de Assim, ao discutirmos o currículo, faz-se
escolas não foi acompanhada de investimen- necessário considerar esse quadro histórico e
tos para a qualificação do sistema educacio- questionar quais são as propostas e projetos
nal, provocando a migração das classes média que nos interessam corroborar. Quando se
e alta para a rede privada de ensino, ficando estrutura uma rede de atendimento escolar,
as classes populares à mercê de políticas frag- equipando-a com recursos materiais e huma-
mentadas e insuficientes que tornaram precá- nos, direcionando políticas curriculares e cul-
turais, estamos configurando um determinado
ria a educação pública nas periferias da cidade.
projeto de educação, o qual sempre está base-
Essa escola deveria, então, incluir crianças ado num determinado projeto de sociedade,
das classes populares, alunos itinerantes, fru- esteja ele explícito ou não.
tos de intenso movimento migratório, num
Em Campinas, respondendo às lutas pelo
contexto de desemprego generalizado, deses-
direito à educação, o Poder Público vem im-
truturador das condições de vida das pessoas,
plementando medidas de atendimento à Edu-
levando-as a caminhos não planejados. As-
cação Infantil, ao Ensino Fundamental e à
sim, essa mesma escola, configurada para ou-
Educação de Jovens e Adultos (EJA). Porém,
tros tempos e para outra classe social, começa
ainda não constituímos uma rede de atendi-
a ter de lidar com uma grande multiplicidade
mento escolar em condições de realizar a for-
de saberes, linguagens, valores e consequente-
mação das crianças, jovens e adultos em todas
mente, vem a ter sua finalidade questionada.
as suas dimensões. Consideradas as condições
Podemos perceber que, num primeiro mo- de acesso, atendemos a toda a demanda do
mento, a escola reagiu a esse desafio por meio Ensino Fundamental e caminhamos para isso
da exclusão de amplos contingentes de alunos, em relação ao atendimento da faixa etária de 4
reprovando aqueles que não condiziam com a 6 anos. Contudo, para além do problema do
um perfil esperado, como mostram os índi- acesso, as questões relacionadas à permanên-
ces de reprovação dessa época. A reprovação cia e à aprendizagem vêm se colocando como
escolar era vista com naturalidade e indicava centrais. Não nos interessa apenas termos as
a incapacidade do indivíduo para prosseguir crianças e os jovens matriculados – queremos
seus estudos. Para um contexto de industriali- todos aprendendo.
zação fundada no trabalho manual e de baixa
Não nos contentamos, portanto, com o ideá-
qualificação técnica, um sistema educacional
rio da escola moderna, inspirada nos princípios
excludente se adequaria à formação de traba-
liberais, cujo projeto social é o de se ensinar
lhadores para as funções menos qualificadas e
alguns poucos conteúdos e habilidades para
pior remuneradas.

23
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

adaptação dos indivíduos ao mundo do traba- do nos coletivos e formação continuada em


lho ou a restritos mecanismos de participação serviço), o estímulo à dedicação exclusiva dos
em uma democracia não completa, própria de professores a uma única escola por meio de
uma sociedade estruturalmente desigual. condições atrativas (considerando-se, porém,
o acúmulo previsto pela Constituição Federal
Nossa perspectiva é de uma formação hu- àqueles que não optarem por esta forma de
mana ampla e crítica, uma formação que pos- contratação), a garantia do quadro completo
sibilite a apropriação dos saberes produzidos de profissionais em todas as unidades educa-
histórica e socialmente e promova novos co- cionais, com igualdade de condições de traba-
nhecimentos pelos e para os estudantes e edu- lho e, por fim, a instituição de uma política
cadores. Almejamos uma escola que leve o de formação continuada da SME visando à
aluno a compreender a sua própria realidade, reflexão e a implementação destas Diretrizes.
situar-se nela, interpretá-la e contribuir para Esta formação deve estar comprometida com
sua transformação; uma escola que tenha a in- o acesso às pesquisas mais avançadas no cam-
tenção de formar homens, mulheres, meninos po da educação e deve estimular a produção
e meninas comprometidos com a construção teórica assim como novas práticas em cada lo-
de uma nova sociedade – mais justa, democrá- cal de trabalho.
tica e igualitária.
A reorientação curricular é também parte
A escola, nesta perspectiva, se realiza con- do esforço para a construção de uma escola
cretamente quando possibilita a formação de que contribua para o fortalecimento de uma
cidadãos livres, críticos e solidários desde a sociedade plenamente democrática. A Dire-
primeira infância. Sabemos, porém, que a es- triz que, aqui, apresentamos é uma tentativa
cola sozinha não é capaz de dar conta dessa de contribuir para tal, ao apontar princípios e
formação; por isso, a família, outros espaços objetivos de ensino pautados por uma visão
culturais nos bairros e a própria mídia são ins- de desenvolvimento integral das crianças, jo-
tâncias também formadoras que precisam ser vens e adultos e ao considerar a multilaterali-
chamadas a contribuir com aquilo que a Dire- dade desse processo, que inclui as dimensões
triz Curricular se propõe a realizar. física, intelectual, afetiva, ética e estética.

No campo da educação escolar, porém, no- Vale ressaltar, ainda, que outras políticas
vas condições são necessárias de serem criadas em processo de implementação na Rede Mu-
ou aperfeiçoadas. Entre elas estão: a constru- nicipal devem ser cuidadas e ter a participação
ção de escolas e ou a realização de parcerias dos educadores, constituindo-se como estra-
com o Estado para o atendimento adequado tégias para implementação desta Diretriz. Fa-
da demanda, a diminuição do número de alu- lamos aqui da participação na Avaliação Insti-
nos por sala (buscando a meta de 20 alunos tucional, via Comissões Próprias de Avaliação
no Ciclo I e 25 para os demais ciclos), a provi- e Conselhos de Escola, da otimização do uso
são de todos os prédios escolares de condições dos tempos pedagógicos que hoje compõem
necessárias às diversas atividades pedagógicas a carga horária dos professores (TDPA, TDC,
(bibliotecas, laboratórios, quadras cobertas, CHP, TDI e HP para projetos especiais) e da
anfiteatros, brinquedotecas, etc.), o aumento otimização do uso dos recursos financeiros
do tempo das crianças na escola com a am- que são descentralizados às escolas por meio
pliação das escolas de Educação Integral, a do Programa Conta Escola e que podem dar
reorganização da jornada de professores ga- agilidade à aquisição e manutenção dos mate-
rantindo a implantação da Lei do Piso (asse- riais e equipamentos imprescindíveis ao ensi-
gurando maior tempo de planejamento, estu- no e aprendizagem.

24
Capítulo 2

CURRÍCULO, ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM:


PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E CONTEÚDOS

A revolução constante da produção, os distúrbios ininterrup- surgem novos instrumentos de produção e


tos de todas as condições sociais, as incertezas e agitações
permanentes distinguiram a época burguesa de todas as an-
novos modos de gerenciar tanto o trabalho
teriores. Todas as relações firmes, sólidas, com sua série de nas fábricas como os serviços de bancos,
preconceitos e opiniões antigas e veneráveis, foram varridas, escolas, hospitais, comércio. Até mesmo os
todas as novas tornaram-se antiquadas antes que pudessem
ossificar. Tudo o que é sólido desmancha no ar, tudo o que é
espaços de lazer são radicalmente transforma-
sagrado é profanado, e o homem é, finalmente, compelido dos, passando a se constituir numa mercadoria
a enfrentar de modo sensato suas condições reais de vida e cada vez mais planejada e controlada (HAR-
suas relações com seus semelhantes. VEY, 2003 e 2005; SENNETT, 2001 e 2006).
(MARX & ENGELS, 1997, pp. 13-14)
Nesse contexto, o termo “globalização” ganha
espaço nos debates e na mídia. Embora não se
refira a um fenômeno novo, surge para ressaltar
alguns de seus aspectos particularmente acen-
Introdução tuados em nossa época. Medidas políticas ou
econômicas, bem como inovações tecnológicas,
A citação acima, de um texto escrito há
surgidas em um país ou em uma região, podem
mais de 150 anos, refere-se às mudanças que ter consequências que afetarão a todos no pla-
ocorriam na Europa a partir do século XVI. neta. Temos, em nossa história recente, alguns
O regime capitalista de produção, ao superar exemplos, como o caso da “bolha” no mercado
o feudalismo, mudava o modo de produzir imobiliário americano, cujo colapso atinge eco-
materialmente a vida, os costumes e até as nomias mundo afora. Crises econômicas que ex-
formas de se viver a religiosidade. Ao longo plodem no México, na Grécia e parte da Europa
dos últimos cinco séculos, mudanças relacio- desencadeiam a falência de negócios em outros
nadas à internacionalização e à integração locais, gerando o desemprego. Este, por sua vez,
dos mercados de trabalho e de consumo vêm leva ao crescimento da economia informal, mo-
se intensificando e transformando a econo- bilizando cada vez mais adultos e crianças em
mia, a política e a cultura dos povos. O de- um mercado de trabalho precário.
senvolvimento dos meios de transporte e de
comunicação, promovendo rapidez para o Em um cenário como esse, não bastam os
deslocamento das pessoas e para a produção discursos pela defesa da infância e da juven-
e circulação de informações, parecem encur- tude: não se trata apenas de legislar o direito
tar espaços e tempos. à educação. O modo de produzir a vida ma-
terial, as relações econômicas e políticas vão
É inegável esse impacto no mundo do tra- imprimindo mudanças na cultura dos povos,
balho: antigas profissões desaparecem dando nos modos de se aprender, nos costumes, nos
lugar a novas, cada vez mais especializadas; valores, na religiosidade e na moral:

25
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

[...] na produção social da própria vida, os ho- fim de que mobilizemos ações coerentes com
mens contraem relações determinadas, necessá- esse intuito, tanto dentro da escola como nos
rias e independentes de sua vontade, relações de aparatos administrativos que formulam e im-
produção estas que correspondem a uma etapa plementam políticas de educação.
determinada de desenvolvimento de suas forças
produtivas materiais. A totalidade dessas rela- A atuação mais contundente de um educa-
ções de produção forma a estrutura econômica da dor é na formação crítica, ética e cidadã dos su-
sociedade, a base real sobre a qual se levanta jeitos, contribuindo para que estes, por sua vez,
uma superestrutura jurídica e política, e à qual ajam sobre o mundo em benefício da coletivi-
correspondem formas sociais determinadas de dade. Mas o que é a formação do sujeito? Esta
consciência. O modo de produção da vida mate- pergunta nos leva a outras: O que é aprender e
rial condiciona o processo em geral de vida social, ensinar? Qual é a especificidade da experiência
político e espiritual. Não é a consciência dos ho- do aprender e ensinar no contexto da escola?
mens que determina o seu ser, mas, ao contrário,
é o seu ser social que determina sua consciência
(MARX, 1983, p. 24). 2.1. Concepções que Marcam os Modos
de se Ensinar: como o ser humano
Esse ponto de vista estabelece-nos duas gran- aprende e se desenvolve?
des questões no campo da educação: 1) Se é o
modo de produção da vida material que deter- Para responder a essa complexa pergunta,
mina nossa organização social, qual é o papel diremos, primeiramente, que o ser humano
da escola na formação dos sujeitos que vivem não existe fora de sociedade, pois é essencial-
historicamente esse processo? 2) O que signifi- mente um ser social. Isto é, para além das ca-
ca, para educadores e estudantes, viverem em racterísticas biológicas da espécie humana, o
um mundo que revoluciona constantemente os que nos define é nossa inserção numa cultura.
modos de produção da vida, em relações espa- A humanidade não depende apenas de sua he-
ço-temporais transformadas pela tecnologia? rança genética, como as outras espécies, para
existir da forma como a (re)conhecemos: “[...]
É, pois, na condição de educadores de um a essência do homem não é uma abstração,
mundo em constante mudança que precisa- que pertença a um indivíduo específico. Em
mos pensar o currículo na escola. Na intro- sua realidade ela é o conjunto de todas as rela-
dução deste documento, afirmamos que a ções sociais” (MARX, 1986, p.13).
sociedade ainda não concretizou a cidadania
plena, com realização dos direitos, a todos os Considerar a formação, nessa perspectiva,
homens e mulheres. Afirmamos também que é conceber as relações sociais como funda-
doras do sujeito. A partir desse pressuposto,
a escola deve definir seu lugar na construção
um conjunto de conceitos vem sendo cons-
de um novo mundo, mais justo, em que todos
truído no campo da educação e alguns deles
tenham condição de vida digna, com acesso
serão retomados em nossa proposição cur-
aos bens materiais e culturais.
ricular. Afirmamos, no entanto, que não de-
Então, podemos dizer que nosso desafio é, fendemos um purismo teórico, característico
de sistemas educacionais que impõem uma
enquanto educadores, participarmos dessas
“linha”, geralmente estreita, por onde os edu-
mudanças com a intencionalidade própria
cadores devem organizar o trabalho pedagó-
de nossa atuação, compromissada com uma
gico. É justamente a pluralidade de ideias e
cidadania que inclua a todos, sem restrição
o constante repensar dos paradigmas estabe-
de classe, raça, religião ou gênero. Portanto,
lecidos que vão se constituir em antídoto à
é preciso termos definido qual projeto histó-
cristalização de concepções que, por vezes,
rico de sociedade pretendemos concretizar, a

26
CAPÍTULO 2  –  CURRÍCULO, ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM: PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E CONTEÚDOS

se transformam em dogmas e passam a atra- parafraseando Marx, ressalta que “a natureza


vancar o avanço do ensino. Porém, deve ha- psicológica da pessoa é o conjunto das rela-
ver coerência entre os objetivos explicitados ções sociais, transferidas para dentro e que se
para o trabalho, as ações que se efetivam e as tornaram funções da personalidade e formas
concepções mais amplas de mundo, de ho- da sua estrutura” (VYGOTSkY, 2000, p. 27).
mem, de escola e de aprendizagem. Estas relações, por sua vez, não estão dadas,
estáticas: estão em constante movimento e são
Isso posto, e respeitadas outras contribui- transformadas pelos sujeitos que, nesse pro-
ções, trazemos para esta Diretriz Curricular cesso, transformam a si também: “O controle
as reflexões de Lev Semyonovich Vygot- da natureza e o controle do comportamento
sky que, tendo aplicado ao estudo da psi- estão mutuamente ligados, assim como a al-
cologia o método de pesquisa denominado teração provocada pelo homem sobre a na-
materialismo histórico e dialético, buscou tureza altera a própria natureza do homem”
compreender os processos de formação e (VYGOTSkY, 1984, p. 62).
desenvolvimento humano de uma forma
que superasse concepções reducionistas dos Nesta interação com a natureza e com os
mesmos. Em suas pesquisas, demonstrou outros homens, os sujeitos desenvolvem a
que o desenvolvimento humano, em cons- consciência de si e do mundo, ressignificando
tante movimento, combina especificidades experiências, recriando para si o mundo físico
hereditárias, próprias da espécie e mudan- e social que encontram ao nascer. É a partir
ças quantitativas e qualitativas das formas da relação com a realidade concreta que esta
de cognição e da sociabilidade, provocadas consciência se dará:
por aprendizagens que ocorrem dentro ou
fora da escola. Um processo interpessoal é transformado num
processo intrapessoal. Todas as funções no de-
O ponto alto de sua teoria, em nosso en- senvolvimento da criança aparecem duas vezes:
tender, foi ter partido da concepção de que primeiro, no nível social, e, depois, no nível indi-
o sujeito se constitui no social, nas relações vidual; primeiro, entre pessoas (interpsicológica),
concretas que estabelece com o mundo ma- e, depois, no interior da criança (intrapsicológi-
terial e cultural. Essa abordagem superou a ca). Isso se aplica igualmente para a atenção
perspectiva que considerava o sujeito um voluntária, para a memória lógica e para a for-
mero reflexo de comportamentos assimila- mação de conceitos. Todas as funções superiores
dos, bem como relativizou a determinação originam-se das relações reais entre indivíduos
biológica do desenvolvimento, colocando humanos (VYGOTSKY, 1984, p. 64).
em destaque o caráter social da formação
daquilo que se chamou de funções psicoló- Destaca-se, nessa realidade, a experiência
gicas superiores – as quais definem, basica- do homem no uso dos instrumentos materiais
mente, a natureza social e cultural do ho- e simbólicos. Estes últimos, relacionados aos
mem como a conhecemos. signos, compõem a unidade concreta entre
pensamento e linguagem por meio da pala-
Ora, se o ser humano se constitui social- vra. A língua, sistema de signos socialmente
mente, então toda aprendizagem se dá me- estruturado, servindo primeiramente à co-
diada pelo outro, nas relações sociais. Não só municação interpessoal e, posteriormente, ao
a conceituação sobre os eventos da vida, mas
Epistemologia, Educação e outras áreas. Sua obra foi descoberta
também a afetividade e as emoções são cons- pelo Ocidente após os anos de 1960. Seus escritos Pensamento
truídas na interação com o outro. Vygotsky2, e Linguagem, A Formação Social da Mente, Psicologia da Arte,
Psicologia Pedagógica, Linguagem, Desenvolvimento e Aprendi-
2 Lev Semyonovich Vygotsky nasceu em Orsha, cidade da Bie- zagem (escrito com seu colaborador A. R. LURIA) compõem um
lo-Russia, a 5 de novembro de 1896 e morreu em Moscou, em rico material de estudo sobre os processos de desenvolvimento das
1934. Realizou estudos em Direito, Medicina, Psicologia, Arte, funções psicológicas superiores.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

discurso verbal interior, desempenha um pa- mina, conclui por novas formas de lidar com
pel fundamental na construção dos conceitos, a realidade. Para definir o momento em que
na apreensão dos conhecimentos e na própria o homem se encontra entre um nível menor
autorregulação do comportamento. ou maior de autonomia, para a solução do
problema com o qual se defronta, Vygotsky
Para Vygotsky, a escola tem papel funda- desenvolveu o conceito Zona de Desenvolvi-
mental no desenvolvimento humano. Para mento Proximal (ZDP):
além da família, a escola promove aprendi-
zagens da vida em grupo e constitui-se num Propomos que um aspecto essencial do aprendi-
lugar específico para que as crianças, jovens zado é o fato de ele criar a zona de desenvolvi-
e adultos sistematizem conhecimentos, prin- mento proximal; ou seja, o aprendizado desperta
cipalmente por meio dos chamados conceitos vários processos internos de desenvolvimento, que
científicos. Por colocarem em xeque muitas das são capazes de operar somente quando a criança
concepções espontâneas que os sujeitos es- interage com pessoas em seu ambiente e quando
boçam, na tentativa de explicar o mundo, os em operação com seus companheiros. Uma vez
conceitos científicos provocam o desenvolvi- internalizados, esses processos tornam-se parte
mento das chamadas funções psicológicas supe- das aquisições do desenvolvimento independente
riores. Entre elas, além do uso da linguagem, da criança [...] o aprendizado adequadamente
destacam-se a memória, a atenção, as habili- organizado resulta em desenvolvimento mental e
dades de análise e de síntese e tudo o que está põe em movimento vários processos de desenvol-
implicado em novas formas complexas de ra- vimento que, de outra forma, seriam impossíveis
ciocínio. de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto
necessário e universal do processo de desenvol-
Obviamente, a escola não é a única deten- vimento das funções psicológicas culturalmente
tora do conhecimento a ser transmitido en- organizadas e especificamente humanas (VY-
tre as gerações, tampouco apenas as pessoas GOTSKY, 1984, p.101).
escolarizadas desenvolvem habilidades de
pensamento mais complexas. No entanto, a Vemos que, nessa concepção de aprendiza-
aprendizagem escolar desenvolve determi- gem, é fundamental que o professor organize
nadas formas de pensamento e ação que são instrumentos para identificar aquilo que os
diferentes daquelas que as situações cotidia- alunos conseguem realizar sozinhos, a fim de
nas demandam espontaneamente. Na escola, proporcionar situações didáticas em que cada
o aprendizado se dá de modo sistematizado, aluno seja desafiado a enfrentar problemas e a
e nisso se diferencia da informalidade que realizar tarefas cujas resoluções sejam possíveis
marca o ambiente familiar. Ocorre entre as em interação com seus colegas, com uso de
crianças, bem como entre as crianças e os pro- diversos materiais e com o auxílio do próprio
fissionais do ensino. Por serem mais experien- professor:
tes no uso dos conteúdos culturais que cabe à
escola ensinar, os professores exercem papel A zona de desenvolvimento proximal define
fundamental na mediação entre os alunos e o aquelas funções que ainda não amadureceram,
conhecimento. mas que estão em processo de maturação, fun-
ções que amadurecerão, mas que estão presente-
O aprendizado é experiência fundamen- mente em estado embrionário. [...] aquilo que é
tal para o desenvolvimento humano. Ele cria a zona de desenvolvimento proximal hoje, será o
saltos qualitativos nas habilidades de se resol- nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja,
verem problemas práticos e teóricos. Desafia- aquilo que uma criança pode fazer com assistên-
do pelas situações que ainda não domina, o cia hoje, ela será capaz de fazer sozinha ama-
homem cria estratégias de ação, reflete, exa- nhã (VYGOTSKY, 1984, p.97-98).

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CAPÍTULO 2  –  CURRÍCULO, ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM: PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E CONTEÚDOS

Se o papel do adulto é fundamental na or- educandos. Como também não lhe seria possível
ganização do trabalho pedagógico, não menos fazê-lo fora do diálogo (FREIRE, 1987, p.68).
importante é a possibilidade de ação do sujeito
no ato de aprender. Não basta a “transmissão” Uma falsa polêmica, que muitas vezes sur-
de conteúdos, de saberes, de informações e de ge quando tratamos da oposição entre uma
conceitos pelo professor, pelos livros ou por educação “bancária” e uma educação liberta-
qualquer outro recurso tecnológico: a apren- dora, está relacionada ao modo como deve-
dizagem se dá na reelaboração ativa do sujei- mos tratar os conteúdos de ensino na escola:
to que aprende em aproximações sucessivas priorizam-se conhecimentos e conceitos que
ao objeto de conhecimento. Isso vai também fazem parte do saber formalmente acumulado
ao encontro da crítica de Paulo Freire à prá- e sistematizado ou se prioriza o trabalho ape-
tica educativa que vê o educando como “de- nas com os temas relacionados às vivências
positário” de saberes transferidos sempre pelo imediatas dos alunos? Os conteúdos têm ou
outro, assimilando-os numa atitude passiva, não relação com a formação de sujeitos críti-
e não como sujeito ativo e capaz de produzir cos e emancipados? Mais uma vez, Paulo Frei-
conhecimento. Trata-se de uma: re nos ajuda a desfazer antagonismos. É claro
que uma lista de conteúdos que em nada con-
[...] concepção “bancária” da educação, em que tribua para a compreensão dos problemas re-
a única margem de ação que se oferece aos edu- ais, que exigem soluções, vividos pelos alunos
candos é a de receberem os depósitos, guardá-los e seus professores, pode ser considerada uma
e arquivá-los. [...] “Na visão “bancária” da edu- verdadeira perda de tempo na escola. Porém,
cação, o “saber” é uma doação dos que se julgam não se compreende o mundo, não se tomam
sábios aos que julgam nada saber. Doação que posições críticas sobre os problemas, não se
se funda numa das manifestações instrumentais imaginam soluções para os mesmos sem o es-
da ideologia da opressão – a absolutização da ig- tudo dos conceitos, percepções e teorias mais
norância, que constitui o que chamamos de alie- avançadas de cada época.
nação da ignorância, segundo a qual esta se en-
contra sempre no outro (FREIRE, 1987, p. 58). Não há contradição entre ensinar os conte-
údos e formar para a emancipação humana,
Em oposição à educação “bancária”, rea- desde que os conteúdos sejam comprometidos
firmamos nossa opção pelo que Paulo Freire com esse fim e sejam trabalhados com pro-
chama de “educação libertadora”. Esta con- postas metodológicas que deem aos sujeitos
templa uma didática fundada no diálogo, na a oportunidade de exercitar sua participação
opção pelos conteúdos significativos para a ativa, na produção de novos conhecimentos.
compreensão crítica da realidade e na rejei-
ção aos métodos que induzem os educandos à Há outra tarefa a ser cumprida na escola
passividade no ato de aprender: apesar do poder dominante e por causa dele
– a de desopacizar a realidade enevoada pela
[...] a educação libertadora, problematizadora, ideologia dominante. Obviamente, esta é a
já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, tarefa dos professores e das professoras pro-
ou de transferir, ou de transmitir “conhecimen- gressistas que estão certos de que têm o dever
tos” e valores aos educandos, meros pacientes, de ensinar, competentemente, os conteúdos
à maneira da educação bancária, mas um ato mas também estão certos de que, ao fazê-
cognoscente [...]. Em verdade, não seria possível lo, se obrigam a desvelar o mundo da opres-
à educação problematizadora, que rompe com os são. Nem conteúdo só, nem desvelamento
esquemas verticais característicos da educação só, como se fosse possível separá-los, mas o
bancária, realizar-se como prática da liberdade, desvelamento do mundo opressor através do
sem superar a contradição entre o educador e os ensino dos conteúdos (FREIRE, 2001, p. 28).

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

De acordo com a perspectiva que delinea- • Apropriação e produção de cultura, com-


mos até aqui, sintetizamos, a seguir, os princí- preendendo esta última como realizações
pios, objetivos e conteúdos que devem orien- humanas nos diferentes campos, consideran-
tar o currículo, concretamente, realizado nas do todos os membros da comunidade esco-
práticas escolares, no Ensino Fundamental/ lar como sujeitos ativos. Nessa perspectiva,
EJA Anos Finais, da RMEC. Ressaltamos ain- todo o trabalho da escola é produção cultural
da que estão em consonância com a legisla- e deve estar articulado com outros espaços
ção nacional que orienta o estabelecimento de em que as crianças, jovens e adultos possam
currículos para as redes de ensino (LDB e Di- apreciar manifestações culturais como dan-
retrizes Curriculares Nacionais para o Ensino ça, teatro, cinema, música, artes plásticas,
Fundamental, entre outros). etc. As políticas públicas precisam viabilizar
o acesso das escolas a esses espaços.
Os Princípios a Serem Considerados • Articulação com o mundo do trabalho, en-
São: tendendo-se o trabalho como processo pelo
qual o homem produz sua existência mate-
• Valorização da experiência extraescolar rial e subjetiva, transformando o mundo e
dos alunos, promovendo um conhecimen- a si mesmo. O trabalho, enquanto ativida-
to contextualizado nas práticas sociais. Os de transformadora, intencional, planejada
problemas vividos em cada realidade local, e voltada à realização das necessidades hu-
os saberes, hipóteses e propostas mobiliza- manas, tem um grande potencial educativo.
dos pelos alunos na busca de soluções de- Quando exercido sob o controle dos traba-
vem ser articulados com o que se estuda na lhadores e não de acordo com exploração
escola. Essa Diretriz remete à ideia de prá- e submissão, o trabalho pode possibilitar a
xis, que se define pelo movimento dialético unidade entre a teoria e a prática, a compre-
entre a teoria e a prática, entre a vida na ensão dos princípios científicos que susten-
escola e a vida fora dela. tam as tecnologias importantes para o pro-
gresso social e a realização das capacidades
• Promoção de uma postura investigativa do criativas e realizadoras dos homens.
aluno, proporcionando-lhe situações didá- É assim que o trabalho pedagógico na escola
ticas planejadas que contribuam para o de- deve abordar o mundo concreto do trabalho
senvolvimento de novos conhecimentos. na sociedade, levando as crianças, jovens e
Abordagens interdisciplinares, pesquisas a adultos a compreenderem a importância do
partir de temas ou complexos geradores, trabalho para a vida social, as bases cientí-
estudo do meio e tantas outras propostas ficas dos processos produtivos e as contra-
metodológicas que promovem o espírito dições entre um modelo de organização do
investigativo, devem ser analisadas e incen- trabalho alicerçado no espírito de coletivi-
tivadas junto aos professores. dade e emancipação humana, e um outro
modelo, fundado na exploração, submissão
• Educação para a cidadania, não uma cida- e precarização da vida dos trabalhadores. O
dania futura, mas a cidadania presente, que trabalho digno é aquele a ser almejado e ga-
se constrói no dia a dia, a partir da reflexão rantido a todo ser humano, independente-
e análise dos problemas, objetivando levar mente de classe social, de raça ou de gênero.
o aluno a desenvolver sua atuação na so- Este é um valor a ser desenvolvido com as
ciedade. Como espaço educativo, a escola crianças e os jovens nas escolas.
deve estimular a participação e colocar o
conhecimento a serviço da efetivação do • Consideração da indissociabilidade entre a
exercício da cidadania. construção de conhecimentos, a afetivida-

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CAPÍTULO 2  –  CURRÍCULO, ESCOLA, ENSINO E APRENDIZAGEM: PRINCÍPIOS, OBJETIVOS E CONTEÚDOS

de e os valores que acompanham os sujei- São Objetivos que se Desdobram do


tos que ensinam e que aprendem. Parte-se Primeiro:
do princípio de que os homens se fazem
humanos nas relações sociais, pelo trabalho • A formação do cidadão comprometido com
e pela produção da cultura. O sujeito que a criação de uma nova vida, devendo, pois,
aprende, aprende com o corpo todo, corpo ser organizada de modo a desenvolver a ca-
este que carrega uma bagagem cultural, or- pacidade de os sujeitos aprenderem sempre
ganizadora de sentidos e significados. En- e utilizarem variadas competências e habi-
sinar pelo diálogo e reflexão é promover o lidades. Sobre isso, é preciso apontar que
que se denomina educação integral do ho- muitos são os modos de se conceberem e
mem. estruturarem os currículos escolares. Uma
perspectiva que ganhou destaque no Brasil,
• Questões de classe social, de gênero, de se- nos últimos anos, foi a organização de cur-
xualidade e étnico-raciais, que marcam as re- rículos a partir de habilidades associadas a
lações de poder dentro da escola, devem ser competências para mobilização de conheci-
tematizadas de modo a superarmos as práti- mentos e resolução de situações-problema.
cas de preconceito, discriminação e exclusão. Para Perrenoud (1999), entre os vários signi-
ficados atribuídos à noção de competência,
• Respeito e estímulo à autonomia dos profes- um se destaca, como a:
sores para que, a partir da dinâmica relação
entre a teoria e a prática, eles possam decidir […] capacidade de agir eficazmente em um de-
sobre as mais acertadas estratégias para pro- terminado tipo de situação, apoiada em conheci-
mover aprendizagens eficazes e significati- mentos, mas sem limitar-se a eles. Para enfrentar
vas com todos e cada um de seus alunos. uma situação da melhor maneira possível, deve-
-se, via de regra, pôr em ação e em sinergia vá-
rios recursos cognitivos complementares, entre os
Objetivos a Serem Perseguidos nas quais estão os conhecimentos (PERRENOUD,
Práticas Escolares: 1999, p. 3).

O objetivo último de nosso trabalho deve ser o Os Parâmetros Curriculares Nacionais


de mobilizar, cotidiana e incansavelmente, as (PCN), elaborados na década de 1990, estão
condições que permitam, a todas as crianças, em consonância com esta abordagem e apre-
jovens e adultos de nosso município, o desen- sentam, em detalhes, um apanhado de habili-
volvimento de processos educativos criadores de dades e competências a serem desenvolvidas
uma nova vida, uma nova humanidade. Esta pelos alunos, ao longo do Ensino Fundamen-
compreensão exige que possamos transformar tal. No entanto, esta Diretriz não toma tais
nossas escolas em espaços educativos com pro- conceitos como eixo organizador do currícu-
fundas ligações com a atualidade da vida social lo. Localizamos a discussão sobre o currículo
e cultural. Uma escola pública como espaço de escolar no campo do estudo das práticas cul-
formação de educadores e educandos nas múl- turais. Estas práticas, contudo, contemplam
tiplas dimensões da formação humana: cogni- habilidades e competências, assim como co-
tiva, ética, política, científica, cultural, lúdica e nhecimentos, que são objeto de ensino e estu-
estética, espaço de construção de sujeitos críti- do em cada componente curricular. Ao apre-
cos, de investigação permanente da realidade sentarem seus objetivos de ensino específicos,
social e comprometida com a educação integral os componentes curriculares, de algum modo,
de nossas crianças, jovens e adultos (CAM- fazem menção às capacidades, às competên-
PINAS. DIRETRIZES CURRICULARES. cias ou às habilidades envolvidas no domínio
DEPE, 2005, p.29). de conhecimentos e conceitos.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

A própria LDB emprega estas noções, ao dos nos programas de ensino dos diversos
definir, como principal objetivo do Ensino componentes curriculares devem estar rela-
Fundamental, a formação do cidadão, deven- cionados:
do fazê-lo mediante (grifos nossos):
• à difusão dos direitos e deveres para a vida
I – o desenvolvimento da capacidade de cidadã, o respeito ao bem comum e à or-
aprender, tendo como meios básicos o ple- dem democrática;
no domínio da leitura, da escrita e do cál-
culo; • ao conhecimento sobre as várias linguagens,
seus usos como instrumento de comunica-
II – a compreensão do ambiente natural e so- ção, acesso e produção de conhecimentos;
cial, do sistema político, da tecnologia, das
• às novas configurações culturais, sociais,
artes e dos valores em que se fundamenta a
políticas e econômicas, nos âmbitos local,
sociedade; regional e global;
III – o desenvolvimento da capacidade de • aos avanços no campo da produção do co-
aprendizagem, tendo em vista a aquisição nhecimento/ciência e tecnologia;
de conhecimentos e habilidades e a for-
mação de atitudes e valores; • às transformações nos modos de se viven-
ciar a infância, a adolescência e a juventude;
IV – o fortalecimento dos vínculos de famí-
lia, dos laços de solidariedade humana e • ao estímulo ao desporto;
de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social. Os conteúdos a serem aborda- • à formação da sensibilidade estética.

32
Capítulo 3

A ESCOLA INCLUSIVA NUMA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Introdução tir disto, assume a universalização do direito


à educação e o acesso ao Ensino Fundamental
Em consonância com documentos interna- para todas as pessoas como desafio.
cionais que visam ao direito à educação, den-
tre eles, a Declaração Universal dos Direitos do Segundo Ferreira (2004), a partir da Consti-
Homem, que data de 1948, decorrente de mo- tuição, iniciou-se o processo de descentraliza-
vimentos políticos em prol da democratização ção e municipalização do Ensino Fundamental
dos direitos sociais e que estabelece, em seu e estruturação das redes municipais de ensino,
artigo 1º, que “Todos os homens nascem li- a partir da Emenda Constitucional 14/96 com
vres e iguais em dignidade e direitos” e, em a criação do Fundo de Manutenção e Desen-
seu artigo 26º, que toda pessoa tem direito à volvimento do Ensino Fundamental, que des-
educação; a Declaração Mundial de Educação tinou 60% dos recursos para este nível de en-
para Todos, de 1990, que reivindica a satisfa- sino. Estas reformas:
ção de necessidades básicas de aprendizagem
e aponta ações para garantia do direito à edu- [...] produziram mudanças importantes em ter-
cação; e a Declaração de Salamanca, de 1994, mos de competências aos sistemas de ensino,
que destaca a necessidade de apoio especia- de estruturação e gestão das redes, de financia-
lizado aos educandos com necessidades educa- mento educacional, de organização curricular,
cionais especiais, apresentamos diretrizes para de formação de profissionais da educação. Tais
a educação especial inclusiva que apontam o mudanças, de caráter abrangente, apresentaram
compromisso de universalização do Ensino um novo contexto e novos desafios para a edu-
Fundamental e atenção específica aos alunos cação escolar das pessoas com deficiência (FER-
com deficiência, transtornos globais do desen- REIRA,2004, p.12).
volvimento e altas habilidades/superdotação.
Certamente, as escolas municipais de En-
Esses documentos, em consonância com a sino Fundamental, com a universalização do
Constituição Federal de 1988, desdobraram-se acesso, depararam-se com as desigualdades
em documentos nacionais, cabendo destacar sociais, com um público heterogêneo e com a
o artigo 6º da Constituição Federal que estabele- obrigatoriedade do ensino.
ce como direito social, entre outros, a educa-
ção, e o artigo 4° da Lei 9394/96, que institui A proposta de educação inclusiva é desen-
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que volvida, portanto, em um contexto de demo-
estabelece a obrigatoriedade e gratuidade do cratização escolar e se propõe a buscar e ofe-
Ensino Fundamental. Fica claro que a educa- recer meios de transformar o modo como é
ção é um direito fundamental e garantido, por concebida a diversidade que “requer a peculia-
lei, a todo e qualquer cidadão e a escola, a par- ridade de tratamento para que não se transfor-

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

me em desigualdade social” (ARANHA, 2000, alizar as circunstâncias históricas da produção


p.2). Cria-se um espaço social que possibilita da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL,
o contato com diversas experiências e amplia- 2008, s/p).
-se o repertório cultural de todos os alunos,
que se beneficiam com tal convívio e cujas di- É no âmbito das barreiras sociais que se
ferenças enriquecem o ambiente escolar. criam necessidades educacionais específicas
para os alunos com deficiência, TGD e AH/
A educação especial também muda de pers- SD, ocorrência que se justifica a existência de
pectiva, isto é, desloca-se de um contexto as- políticas e propostas curriculares que versem
sistencialista e segregacionista, no qual era res- sobre o atendimento dessas necessidades es-
ponsabilidade dessa modalidade a educação pecíficas, no sentido de eliminar essas barrei-
dos considerados “menos aptos”, posto que, ras. Assim, Prieto (2010) defende que:
segundo concepções equivocadas, deficiência
era sinônimo de incapacidade e fracasso esco- [...] é preciso provê-los em suas necessidades espe-
lar, ou seja, sinônimo de patologia, para uma cíficas, pois a igualdade de direitos, neste caso, é
perspectiva de educação inclusiva que coloca preservada se combinada com o direito à diferença,
em “xeque” tais pressupostos. que deve ser concretizado, inclusive, pela disponi-
bilização de um conjunto de provisões - serviços,
Atualmente, a proposta educacional para equipamentos, materiais, profissionais capacita-
inclusão escolar dos alunos com deficiência – dos e especializados para seu atendimento (PRIE-
TGD e AH/SD3 – redimensiona o lugar destes TO, 2010, p. 72).
sujeitos, considerando-os nas propostas curri-
culares e na organização do trabalho escolar. A A Convenção Internacional sobre os Direi-
proposta curricular baseada na perspectiva de tos das Pessoas com Deficiência (2009) ratifica
que, ao mesmo tempo, todos aprendem os con- que, para realização do direito à educação, os
teúdos e são avaliados da mesma forma, a qual Estados, dentre outras instâncias, devem asse-
historicamente tornou a escola impotente para gurar que:
educar a todos e cada um, dá lugar à proposta
de valorização da pluralidade, das diferenças, Adaptações razoáveis de acordo com as necessi-
de reorganização dos tempos para atender às dades individuais sejam providenciadas; [...] Me-
diferentes formas de aprendizagem e assim didas de apoio individualizadas e efetivas sejam
promover a construção de conhecimentos. Essa adotadas em ambientes que maximizem o desen-
nova proposta curricular ampara-se nos princí- volvimento acadêmico e social, de acordo com a
pios da educação inclusiva que apontam que: meta de inclusão plena (BRASIL, 2009, s/p.).

O movimento mundial pela educação inclusiva é Sendo assim, a educação inclusiva passa
uma ação política, cultural, social e pedagógica, por uma mudança de enfoque: de um contex-
desencadeada em defesa do direito de todos os to restrito ao indivíduo, que o responsabiliza-
alunos de estarem juntos, aprendendo e parti- va por suas dificuldades e incapacidades, para
cipando, sem nenhum tipo de discriminação. A um contexto escolar inclusivo que deve pro-
Educação Inclusiva constitui um paradigma edu- ver meios para que todos os sujeitos se desen-
cacional fundamentado na concepção de direitos volvam, de forma plena, a partir de um olhar
humanos, que conjuga igualdade e diferença direcionado para suas potencialidades.Para
como valores indissociáveis, e que avança em isso, Melo (2008) destaca que devemos com-
relação à ideia de equidade formal ao contextu- preender os diferentes tipos de acessibilidade:

3 O público-alvo da Educação Especial são alunos com deficiên- a) Acessibilidade arquitetônica: eliminação
cia, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação de acordo com art. 58, Lei n. 9.394/96 (Lei de Dire-
de barreiras físicas (exemplos: transpor-
trizes e Bases da Educação Nacional). te adaptado, rampas, elevadores, etc.);

34
CAPÍTULO 3  –  A ESCOLA INCLUSIVA NUMA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

b) Acessibilidade comunicacional: elimina- -nos a propor uma nova fórmula, a de que o


ção de barreiras que impossibilitem a co- ‘bom aprendizado’ é somente aquele que se
municação interpessoal, escrita e virtual adianta ao desenvolvimento” (VYGOTSKY
(exemplos: intérpretes de Libras, trans- 1991,p.97/100). Desta forma, o foco não deve
crição e materiais em Braille, softwares, ser o nível de desenvolvimento em que o
etc.); sujeito se encontra (nível de desenvolvimento
real), mas sim o que ele ainda não apren-
c) Acessibilidade metodológica: eliminação deu e pode aprender para se desenvolver
de barreiras nos métodos de ensino e téc- (nível de desenvolvimento potencial). Por isso,
nicas de estudo (garantir ensino adequa- a deficiência e o estágio do desenvolvimento
do); que o sujeito apresenta não são determinantes
de suas habilidades, mas, sim da mediação de
d) Acessibilidade instrumental: eliminação ordem cultural.
de barreiras dos instrumentos, utensílios
e ferramentas (mobiliário, lápis, caderno, Também se tornam relevantes as singulari-
computador entre outros que devem ser dades linguísticas, físicas e culturais, as quais
adaptados); devem ser afirmadas como ponto de partida
para o desenvolvimento da mediação pedagó-
e) Acessibilidade programática: eliminação gica. Skliar (2003) aponta que:
de barreiras invisíveis embutidas em po-
líticas públicas, normas e/ou regulamen- A escola não é simplesmente um lugar de con-
tos; vívio (...) deveria ser a conversação entre as di-
ferenças, buscando uma escola que consiga não
f) Acessibilidade atitudinal: não deve haver mais falar sobre o outro, tematizar o outro. É pre-
preconceito, estigma, estereótipo e dis- ciso que os outros possam falar de si e entre si.
criminação. Assim a conversação traz o benefício para todos
e para todas: trata-se da possibilidade de con-
Segundo Vygotsky (1991), o ser humano é tinuar sendo o que são e, também, de poderem
constituído por duas funções psicológicas in- tentar ser outras coisas para além do que já são.
terdependentes: as funções psicológicas ele- (SKLIAR, 2003, p.4).
mentares, que assumem a natureza biológica
do homem, e as funções psicológicas superio- Além disso, é importante considerar que nos
res, que assumem a natureza cultural do ser Ciclos III e IV do Ensino Fundamental, os alu-
humano. Segundo o mesmo autor, o social nos com deficiência – TGD e AH/SD – também
se sobressai ao biológico e, mais, as funções estão no período do desenvolvimento humano
elementares transformam-se sob a ação das da adolescência. Assim, de acordo com Ribeiro
culturais. Desta forma, deve-se dar ênfase à (2012), a organização curricular deve propiciar-
identidade cultural dos sujeitos e aos fatores -lhes condições de aprendizagem adequadas a
de natureza biológica que podem ser supridos esta fase da vida, bem como ajudá-los a com-
por ações educacionais. preenderem as mudanças e emoções que ocor-
rem durante este período, para que possam ad-
Portanto, a diferença não pode ser consi- quirir as habilidades sociais que favoreçam um
derada como justificativa que impossibilite o melhor relacionamento interpessoal e promo-
aprendizado. Vygotsky (1991,p.97/100) ainda vam desenvolvimento e aprendizagem.
nos apresenta, em sua concepção de desenvol-
vimento, a zona de desenvolvimento poten- Neste sentido, o currículo do Ensino Fun-
cial que “define aquelas funções que ainda não damental deve promover adequações para
amadureceram, mas que estão em processo de corresponder à função que lhe é própria: a
maturação”. Esta zona de progresso “capacita- apropriação pelos educandos, através da me-

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

diação do conhecimento, dos saberes produ- tentadas e o aluno possuir um nível curricular
zidos histórica e socialmente, corresponden- significativamente abaixo do esperado pela sua
tes ao nível ou estágio de desenvolvimento do idade. Assim, caracterizam-se como um conjunto
sujeito. Entende-se, dessa forma, um currículo de manifestações propostas para um determina-
como plano de ação, que determina os objeti- do aluno, com o objetivo de corresponder às suas
vos da educação escolar, que prevê e especi- necessidades educacionais especiais às quais po-
fica o que, como e quando ensinar e como e dem ser compartilhadas pelo resto dos alunos.
quando avaliar. (OLIVEIRA e LEITE, 2000, p. 15-16)

Ressalta-se que tais adequações devem ser Sendo assim, com base neste referencial,
realizadas pelas diferentes instâncias político devemos destacar:
– administrativas do município e pela escola
que conta com a colaboração do professor de a) Adequações curriculares de escola:
educação especial. Quanto a isso, Oliveira e visam às condições de trabalho que via-
Leite (2000) propõem níveis de adequações bilizem a prática pedagógica coletiva e
que devem partir do nível mais geral para os interdisciplinar, promovendo ações de
mais específicos, quando necessário. São eles: âmbito escolar e encaminhamentos para
setores administrativos da gestão pública;
Adequações curriculares de escola: são adapta-
ções que se realizam nos diferentes elementos do b) Adequações curriculares de sala de
projeto pedagógico desenvolvido pela equipe da aula: são ações e medidas pedagógicas
escola para atender às necessidades educacionais que envolvem a organização didática
especiais, como por exemplo, retirada de barrei- de modo a garantir a plena participação
ras arquitetônicas, busca de recursos materiais, do aluno na aula e oportunidade de de-
formação de professores, configuração de horá- senvolvimento, adequando os métodos,
rios para trabalho interdisciplinar, organização conteúdos, a temporalidade e objetivos
de apoios, orientações técnicas e outras que fo- de ensino e aprendizagem e avaliação;
rem julgadas pela equipe escolar. (OLIVEIRA e
LEITE, 2000, p. 15-16) c) Adequações curriculares individu-
ais: deverão ser realizadas apenas quan-
Adequações curriculares de aula: conjunto de do forem esgotadas as possibilidades de
ajustes nos diferentes elementos da proposta adequações de escola e sala de aula e de-
curricular para possibilitar o processo de ensino vem tomar como referência o currículo
e aprendizagem e interação do aluno com ne- do ano em que o aluno está matriculado.
cessidade educacional especial na dinâmica da Para tanto, deve ser realizada uma ava-
sala de aula. São modificações que se realizam liação individual minuciosa, destacando
no contexto da sala de aula e estão relaciona- as capacidades e habilidades que o alu-
das com a priorização de objetivos e atividades, no possui para atender aos objetivos do
formas de agrupamentos de alunos, organização currículo para o ano em que está matri-
dos recursos materiais, utilização de variados culado e proporcionar a interação com
procedimentos e avaliação e, essencialmente, o outros alunos.
uso de uma metodologia variada que permita
a interação e o estabelecimento do processo de Vale ressaltar que as adequações curricula-
ensino- aprendizagem. (OLIVEIRA e LEITE, res compreendem as instâncias político- ad-
2000, p. 15-16) ministrativas e toda a equipe escolar (gestores,
professores e funcionários) e devem ser fruto
Adequações curriculares individuais: só deve- do trabalho pedagógico coletivo, contando,
rão ocorrer quando todas as alternativas forem para tal, com a colaboração, acompanhamen-

36
CAPÍTULO 3  –  A ESCOLA INCLUSIVA NUMA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

to e conhecimento do professor de educação termos estruturais e reflita sobre seus méto-


especial. dos de ensino, reestruturando-os, se necessá-
rio. Sabe-se, também, que essas transforma-
Por fim, precisamos considerar ainda que as ções não se dão sem ajuda. Os professores e a
diferenças não são excludentes, são comple- comunidade escolar de modo geral precisam,
mentares. E, no contexto de ensino-aprendi- entre outros recursos, da contribuição de pro-
zagem, é preciso que a escola se organize em fissionais especializados.

37
Capítulo 4

A ORGANIZAÇÃO EM CICLOS

A “forma escola” atual é a longa concretização de uma visão de de duração. Colocam em xeque a organização
mundo e de educação predominantes. É uma forma historicamente
produzida segundo certas “intenções”. Vista com ingenuidade é um da escolaridade em graus e representam uma
conjunto de salas de aula e espaços agregados (refeitório, cozinha, tentativa de superar a excessiva fragmentação e
sala dos professores, do diretor, pátios, etc.) destinados a acolher desarticulação do currículo durante o processo de
as novas gerações. A arquitetura parecerá neutra, à primeira vista.
Entretanto, tais espaços instituem relações entre aqueles que os escolarização. A ordenação do conhecimento se
habitam. São campos de poder assimetricamente constituídos no faz em unidades de tempo maiores e mais flexí-
interior de uma sociedade de desiguais. A finalidade geral é poder
alterar as relações de seus habitantes (em especial os estudantes)
veis, de forma a favorecer o trabalho com cliente-
com as coisas e com as pessoas. las de diferentes procedências e estilos ou ritmos
(SHULGIN, 1924, apud FREITAS, 2004, p. 1) de aprendizagem, procurando assegurar que o
professor e a escola não percam de vista as exi-
gências de aprendizagem postas para o período
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras dife- (BARRETO & MITRULIS, 1999, p. 28).
rentes; a questão, porém, é transformá-lo.
(MARX, 1986, p. 14) A realização concreta dos ciclos é tão diver-
sa em cada rede de ensino que muitos fatores
Segundo Barreto & Mitrulis (1999), a reor- precisam ser levados em consideração para se
ganização das redes de ensino em ciclos faz avaliarem os ganhos trazidos por cada propos-
parte de um movimento de inovações pro- ta. Uma escola ciclada se apoia numa cons-
posto por vários estados e municípios desde a tante reflexão e transformação do trabalho
década de 60, cuja intenção principal é regula- pedagógico, para promover aprimoramentos
rizar o fluxo de alunos, ao longo da escolariza- efetivos de suas práticas. Porém, nem todas as
ção, eliminando ou limitando a repetência. Em administrações e projetos políticos constroem
cada rede de ensino, as propostas se diferen- compromissos com mudanças estruturais mais
ciam em face das urgências sociais, do ideário complexas ou que envolvam maiores investi-
político e pedagógico dominante, bem como mentos na educação. Se algumas condições não
do contexto educacional presente. Mas, ape- forem observadas, corre-se o risco de os ciclos
sar das diferenças, essas propostas em geral se tornarem uma nova forma de exclusão – o
colocam um desafio que, se não é novo, ainda aluno permanece na escola, mas sem aprender.
é urgente: universalizar as oportunidades de Analisando propostas de organização ciclada
acesso e permanência do aluno na escola. em nosso país, Freitas (2004) classifica-as em
dois grandes conjuntos de experiências:
De acordo com as autoras:
[...] um, que reúne experiências norteadas pela
Os ciclos compreendem períodos de escolariza- utopia liberal de uma escola eficaz para todos onde
ção que ultrapassam as séries anuais, organiza- aparece como conceito central a “inclusão”; e outro,
dos em blocos que variam de dois a cinco anos que reúne experiências norteadas pela superação

39
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

da utopia liberal (portanto, pelo desejo de ir além jamentos plurianuais. Eles são mais que uma mo-
da preocupação com a inclusão formal, não só dernização conservadora (FREITAS, 2004, p. 11).
pela necessidade de uma inclusão com “qualida-
Ainda que pesem as suas grandes dife-
de”, mas também pela necessidade de se redefinir
renças, tanto a progressão continuada (com
o “para que” da inclusão) e que norteia sua atua-
seus limites) como a proposta dos ciclos são
ção baseando-se em finalidades educacionais que
um avanço em relação aos discursos e prá-
conduzem à superação dos objetivos restritos da
ticas que sempre legitimaram a exclusão es-
escola liberal (aprendizagem de conteúdos escola-
colar das crianças mais pobres, por meio da
res, usualmente português e matemática) e aponta
reprovação. Este é um limite claro da escola
para a incorporação de experiências socialmente
seriada, cujas práticas criticadas têm sido: (1)
significativas dos estudantes, propiciando o desen-
a seleção dos melhores alunos de cada classe;
volvimento crítico e social (FREITAS, 2004, p. 4).
(2) a hierarquização rígida dos conteúdos para
Segundo o autor, os dois conjuntos corres- cada série; (3) a impossibilidade de o aluno
ponderiam, respectivamente, a duas propostas progredir nos estudos se não se souberem os
predominantes: uma denominada progressão conteúdos programados àquela série, deven-
continuada e outra, organização em ciclos. A do ser reprovado para rever tudo ano seguin-
progressão continuada seria um rearranjo tími- te; (4) a apresentação dos conteúdos de livros
do, em que medidas de inclusão das crianças por didáticos determinados para a série específica
mais tempo na escola seriam tomadas sem que e não daqueles de que os alunos necessitam;
as estruturas excludentes fossem, de fato, alte- (5) a condução da aula de modo que a alunos
radas. A escola, introduzindo poucas mudanças “mais atrasados” acabam “ficando para trás” e
em seus métodos e concepções, acabaria por os “mais adiantados” “esperando” a média da
manter todas as crianças, que antes eram expul- classe para poder avançar4.
sas pelas reprovações, dentro do aparato escolar.
Estando na escola, essas crianças e suas famí-
Por estar alicerçada em tradições excludentes,
lias ainda podem tentar fazer valer o direito de
esta escola ainda não conseguiria promover a
aprender, inclusive denunciando as desigualda-
aprendizagem efetiva de todos os alunos, crian-
des sofridas. Fora da escola, permaneceriam ocul-
do “trilhas paralelas” de formação: trilhas para
tadas e silenciadas. Assim, para Freitas, é preciso
aqueles com mais condição de se adaptarem
que uma noção mais completa de ciclo proble-
e progredirem nesse tipo de currículo e trilhas
matize as desigualdades que se dão na sociedade
para aqueles que apenas passam pela escola,
e que se legitimam na escola, devendo para isso:
sem aprender o conhecimento formal ao qual
têm direito. Acaba-se reforçando a ideologia do • pautar a questão da “formação” e não só a
mérito individual, não se questionando, de for- da instrução (português e matemática);
ma mais contundente, as razões que provocam
desigualdade no acesso ao conhecimento. • introduzir o componente “desenvolvimen-
to” (infância, pré-adolescência e adolescên-
Em que se diferenciam as propostas pautadas cia) na organização da escola;
pela reorganização em ciclos? Segundo Freitas:
• remeter à relação educação e vida não só
Diferentemente da progressão continuada, os ciclos como vivência de experiências sociais, mas
propõem alterar os tempos e os espaços da escola também como estudo crítico da atualidade;
de maneira mais global, procurando ter uma visão
crítica das finalidades educacionais da escola. Está • apostar no desenvolvimento da auto-orga-
em jogo mais do que simplesmente liberar fluxos, nização do aluno, com sua participação em
ou sair-se bem em avaliações de sistema ou, ainda,
4 Frente de Organização do Trabalho Didático – Planejamento
tirar a avaliação formal juntando séries em plane- 2006 – parágrafo sétimo – Mímeo.

40
CAPÍTULO 4  –  A ORGANIZAÇÃO EM CICLOS

coletivos escolares como vivência real de – ciclo – ressignificando-o e recriando-o


poder e decisão nos assuntos da escola; para realização da formação humana nos di-
ferentes tempos da vida. Para tal é importante
• incorporar a progressão continuada (FREI- que se compreenda o ciclo como um tempo
TAS, 2004, p. 24). de aprendizagem flexível, com finalidades de-
marcadas, as quais orientem o planejamento
O panorama histórico de implementação
do trabalho com as crianças (CAMPINAS.
da escola ciclada, dada a diversidade das ex-
SME/DEPE, 2005:03. Escola de 9 anos
periências, não permite a definição de um
para Todos).
modelo consagrado de ciclos escolares que
sirva aos diferentes sistemas de ensino. Como
A instituição do Ensino Fundamental de 9
apontam Barreto e Mitrulis (1999), talvez não
anos e dos Ciclos são ações diferentes, mas
seja mesmo o caso de se definir um único tipo
ambos compõem, na visão da SME, medi-
de organização a ser replicado em contextos
diferentes, mas de estimular as redes de ensi- das que visam à superação dos problemas da
no a formularem alternativas curriculares ino- escola seriada. Ampliam o tempo da criança
vadoras, para combater as desigualdades de na escola e, principalmente, promovem uma
aprendizagem em sua realidade concreta. revisão do modo de organização do trabalho
pedagógico, pois:
É preciso observar que, quando se fala de
“experiências” ou “alternativas inovadoras”, [...] é fato que uma maior aprendizagem não
estamos nos referindo a transformações que depende apenas do aumento do tempo de per-
atingem, com força de lei, amplos contingen- manência do educando na escola, mas sim do
tes de profissionais da educação, crianças, jo- aproveitamento inovador, criativo e eficiente do
vens e adultos, pois “a implantação destas se dá tempo. A existência dessas duas condições -
como política pública e não como simples experi- maior tempo e novas formas de organização do
mentos, sendo usualmente políticas de rede” (FREI- trabalho pedagógico e da escola – é fundamental
TAS, 2004, p. 4, grifos do autor). para que os educandos aprendam mais (CAM-
PINAS. Boletim do Departamento Pedagó-
A SME iniciou a implantação de Ciclos de gico, 2005).
Aprendizagem em 2006, ao mesmo tempo
em que se iniciava o Ensino Fundamental de 9 A construção destas novas formas de
anos. Na ocasião, foi instituído o Ciclo I, que organização do trabalho pedagógico e da
compreendia o 1º, 2º e 3º anos. Em 2008, ini- escola não é uma tarefa fácil. Desde o início
ciou-se o Ciclo II, formado pelo 4º e 5º anos, da discussão sobre os ciclos, a SME orientou
enquanto os Ciclos III e IV, que abrangem de que os educadores buscassem pesquisar
6º ao 9º ano, começaram em 2009. as experiências de outras redes de ensino,
municipais e estaduais que, nos últimos vinte
Desde o início, o DEPE (Departamento Pe-
anos, vêm implementando tal reorganização.
dagógico) já apontava que a reorganização da
escola em ciclos representava mais que uma O Seminário “Desafios para a organização do
mera mudança de nomenclatura para as séries trabalho pedagógico na escola”, promovido
tradicionais. Em Comunicado de 19 de no- pela SME em agosto de 2005, trouxe o
vembro de 2005: relato de educadores representantes de Belo
Horizonte, Porto Alegre e Belém. Outras redes
O DEPE, ao compreender este movimento, também nos trouxeram suas reflexões. Cada
aponta para a oportunidade que os educado- rede é única e, em Campinas, o Departamento
res do município têm de se apropriar das expe- Pedagógico entendeu que as especificidades
riências postas para a superação da seriação de nossa realidade nos levariam a construir um

41
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

modelo próprio. Consideramos que estamos temer a contradição, a polêmica e o debate


no início desta caminhada. das divergências, pois é a partir disso que
encontramos as melhores soluções para os
A singularidade não se manifesta somente problemas complexos que vivemos ao edu-
entre diferentes redes de ensino, mas também car crianças e jovens.
em cada escola, pois a formação profissional
entre os educadores é diferenciada, suas histó- A busca pela qualidade da educação ofertada
rias de vida são diversas, assim como a de seus na escola é tarefa de todas as instâncias do poder
alunos. As condições de trabalho nas unidades público municipal; portanto, a interlocução en-
também são desiguais, o que ainda precisa ser tre os educadores da escola com as equipes edu-
superado por políticas públicas específicas, de cativas dos NAEDs (Núcleos de Ação Educativa
modo que todos os alunos e seus professores Descentralizados), os Departamentos e Coorde-
contem com condições adequadas para parti- nadorias da SME é parte da construção do que
ciparem com autonomia e criatividade da pro- chamamos aqui de cultura do trabalho coletivo.
dução do currículo real, vivido na escola, in-
cluindo-se aí a construção da escola em ciclos. A participação em grupos de formação ofe-
recidos pela SME, a instituição dos professores
Consideradas essas reflexões, o Departa- coordenadores de Ciclos e de EJA e a possi-
mento Pedagógico/SME faz as seguintes indi- bilidade de realização de grupos de estudos
cações de diretrizes para a implementação dos na escola são ações que buscam abrir espaços
ciclos nas escolas da RMEC: coletivos de estudos e produção pedagógica.
O TDC (Trabalho Docente Coletivo) é hoje o
• Que cada um dos quatro ciclos do Ensino
único tempo realmente comum em todas as
Fundamental seja considerado como um
escolas e compõe a jornada de todos os profes-
período de aprendizagens a serem poten-
sores, sendo privilegiado nesse sentido. Daí a
cializadas por um ensino planejado e ava-
liado em processo contínuo. necessidade da qualificação do planejamento e
realização dessas reuniões.
• Que sejam fortalecidos os espaços coletivos
e de corresponsabilidade entre os educado- • Que os coletivos de professores levem em
res em cada Ciclo e no conjunto de todo o conta a heterogeneidade dos alunos, pois as
Ensino Fundamental. Tal fortalecimento ob- diferenças deles precisam ser consideradas
jetiva a continuidade do trabalho pedagó- na organização dos Planos de Ensino e nas
gico e a construção de avaliações coletivas aulas. Cada criança tem sua história pessoal
para o replanejamento dos Planos de Ensi- e modos singulares de interagir com os ob-
no e Projetos Pedagógicos ao longo do ano, jetos de conhecimento. Como colocar essa
sempre visando ao atendimento de todos e diversidade a serviço da construção de no-
cada um dos alunos em suas necessidades vas aprendizagens? Vamos precisar estudar
específicas. Cabe aos gestores coordenar os e nos aventurar na construção de um novo
processos coletivos e democráticos envol- paradigma do conhecimento, que considere
vendo os educadores na escola. Esse traba- a possibilidade de as aprendizagens se con-
lho é permeado por dificuldades e conflitos solidarem a partir das histórias pessoais, das
que devem ser explicitados e discutidos. diversas culturas e dos diversos ritmos. A
Será preciso considerar que a escola é lo- proposta de trabalho com descrição de sabe-
cal de contradição e, a partir do que é con- res dos alunos e da turma, iniciada em 2006,
traditório, poderão emergir respostas que nos Ciclos I e II e ampliada para os Ciclos III e
melhor atendam às necessidades que não IV em 2009, é uma estratégia pedagógica que
são individuais, mas coletivas. Não se deve pode nos ajudar a avançar na compreensão

42
CAPÍTULO 4  –  A ORGANIZAÇÃO EM CICLOS

dos processos de construção de conhecimen- pelos alunos exige tempo. Cada área do co-
to de crianças, jovens e adultos. nhecimento ou componente curricular vai
retomando os conceitos e aprofundando a
Em sala de aula, a consideração da hetero- compreensão sobre os mesmos. Por isso que
geneidade do processo de ensino e aprendiza- o trabalho de continuidade ao longo de todo
gem exige mudanças de organização do traba- o Ensino Fundamental é tão importante.
lho pedagógico. Respeitar a individualidade de
cada criança não é tarefa fácil para o professor, • Que os alunos sejam enturmados segundo
mas quando se lança mão, de maneira adequa- a idade, ao ingressarem no Ensino Funda-
da, do trabalho em duplas, trios, grupos, colo- mental, e segundo equivalência série/ano/
ca-se a interação social em benefício do ensi- Ciclo, quando em transferências recebidas
no e aprendizagem. Na interação, a partir de de outras redes. Essa medida visa a garantir
propostas de atividades desafiadoras, os alu- a convivência dos estudantes com seus pa-
nos incorporam as habilidades de trabalhar em res, considerando-se as diversas etapas que
grupos e reconhecem que podem aprender uns as crianças, jovens e adultos vivenciam.
com os outros e não apenas com o professor.
• Que os alunos sejam agrupados no cotidia-
É importante também que, frequentemen- no da escola segundo as propostas pedagó-
te, os alunos de turmas diferentes estejam gicas que melhor convierem à aprendiza-
juntos, sob a responsabilidade de mais de um gem de todos e cada um. Os agrupamentos
professor, podendo ampliar seus conhecimen- devem ser temporários, dentro de cada Ci-
tos sobre o mundo através da interação. clo, ou até entre alunos de Ciclos diversos,
de acordo com projetos de trabalho origi-
• Que os coletivos de educadores discutam
nados das necessidades e/ ou interesses dos
continuamente o currículo desenvolvido na
professores e alunos. Porém, todo cuidado
escola. A cultura, os desejos e as necessida-
deve ser tomado para que essa prática não
des afetivas, físicas, culturais, sociais e cog-
restaure o velho modelo de “classes fortes”
nitivas, próprias de cada etapa da formação
das crianças, jovens e adultos, devem ser ob- e “classes fracas”, que historicamente servi-
jeto de análise dos profissionais na escola. ram à estigmatização e marginalização dos
O modo como acontece a infância, a juven- que mais precisam da escola para aprender.
tude e a velhice, nos contextos em que se
• Que sejam organizados Grupos de Apoio
localiza a escola, devem ser compreendidos.
ou Acompanhamento aos alunos ao longo
• Que os Planos de Ensino e o Projeto Pedagó- do ano letivo, nos horários que, hoje, são
gico de cada escola sejam guiados pela meta disponíveis para tal: CHP (Carga Horária
de promover, com radicalidade, a apropria- Pedagógica), TDI (Trabalho Docente In-
ção de conhecimentos historicamente acu- dividual), HP (Hora Projeto) e outros que
mulados pelos homens. Esses conhecimen- vierem a ser estabelecidos pela SME. É fun-
tos são imprescindíveis para que as classes damental que cada escola elabore e progra-
populares construam referenciais e instru- me mecanismos de recuperação contínua e
mentos emancipadores na sociedade atual. paralela aos alunos com quaisquer dificul-
dades na aprendizagem, não deixando para
• Que os Planos de Ensino dos educadores ex- fazê-lo ao final do ano letivo ou do Ciclo.
plicitem objetivos de curto, médio e longo O apoio externo, realizado nos tempos pe-
prazo – ciclos, anos, trimestres, aulas – aos dagógicos que denominamos recuperação
quais correspondam finalidades demarca- paralela ou reforço, não tira, porém, a res-
das, orientadoras do trabalho. É sabido que ponsabilidade do ensino e aprendizagem
a elaboração de conceitos mais complexos da sala de aula.

43
Capítulo 5

AVALIAÇÃO

5.1. Avaliação Institucional processo de avaliação e que envolve também o


coletivo da escola (FERNANDES, 2008, p. 17).
Desenvolver processos educativos envolve
escolhas a todo o tempo. As avaliações, formais A avaliação educacional na Rede Municipal
e informais, orientam as tomadas de decisão de Ensino de Campinas vem se dando em três
sobre os objetivos, o modo de ensinar e a cons- esferas, descritas sequencialmente:
trução das relações na escola. A avaliação im-
plica, de maneira explícita ou não, projetos de 5.2. Avaliação Institucional Participativa:
sociedade e concepções de sujeito e de apren- Por Meio da Participação Solidária
dizagem, dirigidos pelas referências culturais e
e Qualidade Negociada entre as
políticas de quem avalia. Assim, uma prática
de avaliação emancipatória deve explicitar seus
Escolas e o Poder Público
instrumentos, critérios e valores. Mas quem
Busca-se um modelo que se aproxime de
avalia quem e o quê? Como? A concepção de
uma avaliação mais compreensiva, contrário
escola que vimos delineando implica a constru-
ao modelo de competição, de classificação e
ção dos processos avaliativos nos coletivos de
de ranqueamento, típico de uma cultura ava-
profissionais, de pais e de alunos. O isolamento
liativa que, em nosso país, tem apontado os
e a concentração de poderes em poucos sujei-
professores e os gestores como os responsá-
tos, no momento da avaliação do trabalho da
veis pela falta de qualidade das escolas. Na
escola, é impedimento para que este seja apro-
perspectiva da Avaliação Institucional Partici-
priado e realizado de modo consciente e autô-
pativa que vem sendo implementada na Rede
nomo por educadores e educandos. De acordo
Municipal, o processo de avaliação deve visar
com Fernandes (2008):
ao planejamento e à realização de ações, isto
é, à produção de políticas públicas pautadas
A avaliação é, portanto, uma atividade que en-
em um padrão de qualidade explícito, atuali-
volve legitimidade técnica e legitimidade política
zado, inclusivo e negociado (Plano de Avalia-
na sua realização. Ou seja, quem avalia, o ava-
ção Institucional, 2007, p. 16).
liador, seja ele o professor, o coordenador, o dire-
tor etc., deve realizar a tarefa com a legitimidade
Desde 2002, a SME tem estabelecido par-
técnica que sua formação profissional lhe confere.
ceria com o Laboratório de Observação e Es-
Entretanto, o professor deve estabelecer e respei-
tudos Descritivos (LOED) da Faculdade de
tar princípios e critérios refletidos coletivamente,
Educação da UNICAMP e procurado desen-
referenciados no projeto político-pedagógico, na
volver um sistema de avaliação participativo
proposta curricular e em suas convicções acer-
que permita obter dados confiáveis, através
ca do papel social que desempenha a educação
de diagnósticos construídos por educadores,
escolar. Este é o lado da legitimação política do

45
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

pais e alunos. Tais diagnósticos devem servir leva a deduzir que as equipes escolares precisam
ao monitoramento contínuo e ao controle so- constituir-se coletivos escolares que trabalhem
cial sobre a qualidade das escolas e subsidiar para a qualidade do ensino que ministram aos
o Poder Público na definição de políticas que seus alunos” (Plano de avaliação institucio-
impactam as condições estruturais de funcio- nal, 2007, p.12).
namento das mesmas (como condições de tra-
balho, salário, formação e jornada) e a própria O processo de avaliação em educação
gestão do sistema educativo (questões relacio- deve ir além da sondagem de desempenho
nadas à democratização pela participação nos dos estudantes por meio de provas, pois tão
processos decisórios). importante quanto esta sondagem é com-
preendermos quais fatores interferem neste
A Secretaria Municipal de Educação de desempenho. A interpretação dos resultados
Campinas (SME) instituiu uma política públi- obtidos nas provas deve se constituir numa
ca de avaliação da educação básica municipal leitura mais ampla:
e tomou a decisão de obter e valorizar os re-
sultados a partir do envolvimento e compro- A mensuração, no entanto, não se torna avalia-
metimento das escolas e dos atores ali pre- ção a menos que os dados sejam apropriados
sentes. O projeto de Avaliação Institucional pelos sujeitos envolvidos nos processos e uma
assentou-se em um modelo já existente, o Sis- vez re-significados, sejam convertidos em ações
e proposições sobre a realidade (FREITAS e
tema Nacional de Avaliação da Educação Su-
SORDI, 2009, p. 45).
perior (SINAES). O modelo é composto pelos
processos de avaliação interna, de avaliação As experiências em relação aos processos
externa e de sistema de avaliação de desem- de avaliação educacional têm revelado a ne-
penho dos alunos. cessidade de que seus princípios orientadores
sejam construídos e conhecidos por todos, de
Para concretização das práticas de Avalia-
forma a se conseguir maior envolvimento no
ção Institucional, em 2006, o Departamento
processo:
Pedagógico da SME assumiu a elaboração
de um Plano de Avaliação Institucional na Defendemos que quando se objetiva produzir
Rede Municipal. Tal Plano foi concluído em maior qualidade em escolas, não se pode descon-
agosto de 2007 e é uma iniciativa destina- siderar que pertence ao coletivo dos professores/
da a construir um novo modelo de avalia- estudantes/gestores/funcionários/famílias o pro-
ção institucional, cujos princípios básicos tagonismo no processo de avaliação. (Proposta
são a qualidade negociada entre as escolas avaliação institucional – LOED/SME, 2005).
e o poder público e a participação solidária
entre todos os segmentos envolvidos com a Essa concepção de avaliação se fundamenta
unidade escolar. A qualidade negociada diz no compromisso e na valorização dos atores
respeito “a indicadores que apontam aspec- da escola, sem os quais, decididamente, não
tos e condições necessários à constituição de há mudança na educação. Em consonância
uma boa escola” (Plano de Avaliação Insti- com esta premissa, em 2008, a SME institui
tucional Participativa, 2007. p. 12), ou seja, as Comissões Próprias de Avaliação (CPAs)
aquilo que melhor se produz nas condições em todas as escolas de Ensino Fundamental.
existentes: As CPAs coordenam o processo de autoava-
liação de cada unidade e são constituídas por,
A qualidade de uma escola não depende exclu- no mínimo, um representante dos segmentos
sivamente das políticas de governo; depende, dos alunos, das famílias, dos docentes, dos
também numa inter-relação de forças e ações, da funcionários e dos gestores. O Regimento Co-
política de Estado e da política escolar, o que nos mum das Unidades Educacionais de Campi-

46
CAPÍTULO 5 – AVALIAÇÃO

nas (Portaria SME nº 114/2010) estabeleceu a Interessa à SME qualificar o olhar sobre elas,
composição das CPAs e as atribuições deste devolvendo-lhes dados locais e mantendo, ao
colegiado: mesmo tempo, uma visão global de rede.

Reconhecemos as CPas como um bom recur- Assim, uma equipe de professores da Facul-
so de mobilização da comunidade e construção dade de Educação da UNICAMP, juntamente
de legitimidade política, indispensável ao êxito com um grupo de professores e coordenado-
da proposta de autoconhecimento institucional res pedagógicos da rede, formularam a Pro-
(SORDI, 2009, p. 108). va Campinas (2008)5. Partiu-se dos planos de
ensino e exemplos de atividades fornecidos
5.3. Avaliação de Sistema: pelos professores da então 3ª série, para com-
por questões de português e de matemática a
Mapeamento dos Conhecimentos
serem respondidas de forma dissertativa. No
Conquistados pelos Alunos nas
início de 2008, os alunos do 5º ano (então de-
Escolas da Rede Municipal nominado segundo ano do Ciclo II) realizaram
a prova e os resultados foram apresentados no
O Departamento Pedagógico iniciou, em
“Relatório Final da Avaliação de Desempenho
2005, a construção de um sistema próprio de
em Língua Portuguesa e Matemática – 2º Ano
avaliação de desempenho dos alunos, a cha-
do Ciclo II da Rede Municipal de Ensino de
mada Prova Campinas. Esta iniciativa procura
Campinas – SP 2008”. Em 2010, uma segunda
dar à rede maior autonomia, frente a um mo-
edição da Prova Campinas foi realizada com
delo de avaliação que se consolidava por meio
alunos de 4º ano.
do SAEB e Prova Brasil. Sem dúvida, os resul-
tados a que chegam os sistemas nacionais de A participação da Rede Municipal nas ava-
avaliação podem ser úteis no planejamento de liações externas conduzidas pelo governo fe-
políticas. Porém, escapa a essas provas, feitas deral iniciou-se em 2007, quando os alunos
em formato de teste, uma série de considera- dos 5ºs anos e 8ªs séries responderam à Prova
ções a respeito dos processos de aprendiza- Brasil. Em 2008, os alunos dos segundos anos
gem dos alunos e do trabalho na escola, que do Ciclo I passaram a ser avaliados pela Provi-
interessa à Secretaria captar. nha Brasil, que foca a alfabetização.
Na Prova Campinas, por meio de questões Atualmente, não se pode negar a importân-
dissertativas, foi possível perceber os diversos cia que vem tomando a política avaliativa do
modos pelos quais os alunos resolvem as situa- governo federal, estabelecendo o IDEB (Índi-
ções-problema tipicamente escolares (aquelas ce de Desenvolvimento da Educação) como
mais comuns entre as atividades trabalhadas referencial para monitorar as redes públicas,
em sala de aula) como também aquelas que compondo, num mesmo índice, informações
não constam, habitualmente, do repertório do sobre rendimento escolar (taxa de aprovação)
professor e dos materiais, mas são enfrenta- e proficiência em leitura e matemática (medi-
das cotidianamente em um mundo letrado. dos pelos testes padronizados). Contudo, há
Buscando coerência com princípios de não dois grandes problemas que vemos nesta po-
“ranqueamento”, a SME estabeleceu também lítica:
que cada escola, em particular, receberia os re-
sultados obtidos por seus alunos, e as análises
de desempenho a serem publicizadas seriam
do conjunto da Rede. Tais análises devem pro- 5 O sistema de avaliação de desempenho dos alunos vem sendo
porcionar uma reflexão sobre o trabalho com elaborado, de 2008 até aqui, com a assessoria dos professores: Pro-
leitura, com escrita e com matemática a partir fa. Dra. Anna Regina Lanner de Moura, Prof. Dr. Antonio Miguel,
Profa. Dra. Lílian Lopes Martin da Silva e Profa. Dra. Norma San-
das tendências observadas nas várias escolas. dra de Almeida Ferreiro.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

• o ranqueamento provocado pela publica- aprimorá-los. Ao Poder Público cabe tomar


ção dos resultados das provas: ao publicar os resultados dessas avaliações como orienta-
os resultados, o MEC não expõe dados de dores de políticas concretas de melhoria das
funcionamento das escolas nem das condi- condições de aprendizagem e de acesso e per-
ções de acesso das famílias aos bens cultu- manência – com aprendizagem – de todas as
rais que concorrem para alavancar o sucesso crianças, jovens e adultos.
das crianças, jovens e adultos na escolariza-
ção formal. 5.4. A Avaliação da Aprendizagem dos
Alunos
• um oferecimento ainda tímido de recursos
para que as escolas superem o baixo de- Aprendizagem é uma condição intrinseca-
sempenho: para além de um retrato de re- mente humana. Desde o nascimento, os su-
sultados de avaliações de desempenho dos jeitos aprendem comportamentos, linguagens
alunos, é preciso que o IDEB seja tomado e valores nas relações sociais, produzindo o
como instrumento para ampliação dos di- que denominamos cultura. O que se apren-
reitos das crianças e jovens à educação de de na escola é uma cultura determinada, for-
qualidade. Nas escolas onde se encontram mada pelos saberes escolares, que foram es-
as crianças, jovens e adultos das camadas tabelecidos, sistematizados e hierarquizados
mais empobrecidas da população, obser- por determinados grupos sociais, geralmente
vamos a forte tendência de apresentarem o aqueles ligados à transmissão da cultura escri-
IDEB mais baixo. ta escolar, em cada sociedade e período histó-
rico. O valor dado aos saberes escolares, por-
Políticas inclusivas, tanto no campo da tanto, tem uma relação direta com os valores
educação como da cultura e demais direitos, de determinados grupos, ou classes sociais, se
devem ser pensadas para todas as escolas, já quisermos ser mais precisos.
que a educação é um direito universal. Com-
preendemos que, em alguns momentos, a fo- Não por acaso, desde que tiveram acesso à
calização com políticas especiais para as esco- escola, as crianças, jovens e adultos das clas-
las com mais baixo IDEB pode ser necessária, ses populares tendem a apresentar os desem-
mas não podemos nos induzir ao abandono penhos mais baixos nas avaliações escolares.
daquelas que já possuem melhores condições, Altos índices de reprovação e abandono, logo
pois se corre o risco de vermos seu desempe- nos primeiros anos de escolarização, são indi-
nho piorado. Além disso, mesmo aquelas que cados pelas estatísticas do sistema educacio-
atingiram resultados melhores na rede, de- nal brasileiro (PATTO, 1990; RIBEIRO, 1991).
vem continuar aprimorando sua ação educa- Agora, mais recentemente, os mais baixos
tiva para se realizar concretamente o direito desempenhos nas avaliações padronizadas,
de todas as crianças e jovens aprendendo. conduzidas pelos governos em nível local ou
nacional, predominam entre as escolas das pe-
Considerados os limites dos instrumentos riferias mais pobres.
de avaliação educacional focados no desem-
penho dos alunos, restam-nos suas potencia- Por outro lado, pesquisas realizadas fora do
lidades. Tanto a Prova Campinas como a Pro- contexto escolar mostram que as crianças das
va Brasil e a Provinha Brasil são basicamente classes populares possuem todas as condições
instrumentos de levantamento de dados so- de aprender, já que na vida resolvem variados
bre aprendizagem, os quais podem contribuir problemas práticos por meio de complexas
para a escola, com a condição de que esta se operações mentais (CARRAHER, 1989; PAT-
aproprie de seus resultados, refletindo sobre TO, 1981). Como entender tal paradoxo? Para
o currículo e suas práticas pedagógicas para responder a esta questão, parece-nos necessá-

48
CAPÍTULO 5 – AVALIAÇÃO

ria uma constante reflexão sobre que aluno é lidada como alternativa concreta de avaliação
esse e que escola temos lhe oferecido. de aprendizagem.

A avaliação, como prática escolar, pode nos A implementação dos CICLOS na Rede
oferecer elementos para esta reflexão. No en- Municipal, iniciada em 2005, veio acompa-
tanto, ela nunca será neutra e estará sempre a nhada de indicações do uso da Avaliação
serviço de um projeto de sociedade e, portan- Diagnóstica e da Descrição de Saberes como
to, de sujeito. Ou seja, ela é marcada por valo- uma aposta na construção de novas perspec-
res socialmente estabelecidos e pelas relações tivas para a avaliação. Vejamos do que tratam
de poder que levam certos valores a predomi- estas propostas.
narem sobre outros, em cada momento histó-
rico. Pensando na sala de aula contemporânea, 5.5. A Avaliação Diagnóstica:
em uma escola que se pretende democrática Construída no Coletivo de
e inclusiva, como poderia se dar a avaliação Professores e a Descrição
da aprendizagem dos alunos? Tomemos, para dos Saberes Orientadora do
efeito de comparação, a avaliação em dois Planejamento e Replanejamento
polos antagônicos. Em um, ela serviria prin-
cipalmente para medir, classificar e registrar Tradicionalmente, a avaliação escolar tem
sucessos e fracassos dos alunos; noutro, seria se expressado num trabalho solitário de pro-
um instrumento de compreensão dos sujeitos fessores que assumem, individualmente, a
em seu processo de construção de conceitos e responsabilidade pela elaboração e pela apli-
leitura do mundo. cação de instrumentos e, posteriormente, pela
análise dos dados gerados. Nossa reflexão
De um lado, toma-se por avaliação apenas caminha no sentido de superação dessa reali-
um processo que se esgota na construção e dade, destacando a necessidade de promover
aplicação de instrumentos que pretendem ofe- um processo coletivo e plural, que abarque os
recer um julgamento de valor daquilo que foi diferentes envolvidos na relação pedagógica,
aprendido. De outro, concebe-se a avaliação estabelecendo um diálogo em que o processo
em sua relação com a progressão das aprendi- e os resultados possam ser compartilhados pe-
zagens, incorporando a observação preliminar los diversos segmentos envolvidos.
dos saberes já desenvolvidos (inclusive com
uma apreciação de valor das aquisições es- A ênfase na realização de uma avaliação
peradas) para direcionar replanejamentos das mais coletiva entre os professores está relacio-
práticas educativas, bem como mobilizar lutas nada aos desafios de romper com as atividades
por condições de realização plena do projeto e produções exclusivamente individuais, que
pedagógico. isolam professores. Quando há o trabalho co-
letivo, cada professor pode compartilhar seus
Nessa perspectiva, visa à reorganização saberes e dificuldades e se reconhecer como
radical do funcionamento da escola a fim de autor na condução do processo de ensino.
atender, com as melhores condições possíveis, Quando os saberes dos professores são acolhi-
às necessidades concretas dos alunos. A trans- dos e valorizados em planejamentos e avalia-
formação da lógica tradicional da escola exclu- ções conjuntas, há sucessivas revisões e regis-
dente para uma escola democrática e inclusiva tro desses saberes num processo formativo que
passa necessariamente por assumirmos, en- pode beneficiar a didática de cada educador.
quanto rede de ensino, essa última perspecti-
va. Trata-se de um processo de valorização de Por sua vez, a Descrição dos Saberes dos
uma prática já comum a muitos professores e Alunos, prática que a SME vem indicando às
escolas de nossa rede, e que merece ser conso- escolas a partir de 2005, explicitada no docu-

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

mento intitulado “Documento para Discussão também podem explorar uma mesma ativida-
nas Unidades Educacionais da Rede/Fumec” de, em uma mesma aula, de modos diferentes,
(2005), está ancorada na perspectiva de que os para que todos os alunos aprendam com ela.
professores estudem coletivamente as apren- Como dissemos acima, há momentos de tra-
dizagens de seus alunos e trabalhem a partir balho comum, em que a diferença de saberes
daquilo que as crianças, jovens e adultos de- é constitutiva das experiências de aprendiza-
monstram saber. gem, como há outros momentos em que é ne-
cessário oferecer situações didáticas apropria-
Na prática pedagógica, espera-se que os das a cada aluno – o que seria contemplado
alunos atinjam determinados resultados na pela consideração dos grupos de saberes com
aquisição do conhecimento ao final de etapas que o professor se depara cotidianamente na
específicas, sejam elas trimestrais, anuais, de sala de aula.
ciclos ou níveis da escolarização. Sabe-se que,
ao vivenciar uma mesma situação didática, Temos visto que aquilo a que chamamos
cada aluno responde de formas diferentes às de dificuldade de aprendizagem é, por vezes,
aprendizagens esperadas – é fato que os alunos uma condição ou um modo de aprender di-
têm ritmos e níveis diversos de conhecimen- verso. A observação cuidadosa sobre os pro-
to e que cada modo de aprender exige inter- cedimentos de aprendizagem utilizados pelos
venções pontuais do professor. Segundo esse alunos pode ajudar os professores a definirem
raciocínio, uma aula que proponha um único intervenções mais eficientes no ensino. Pau-
tipo de atividade, preparada com a expectati- tado por esta perspectiva, o Departamento
va de que todos a realizem da mesma forma Pedagógico indica que as escolas realizem o
e aprendam ao mesmo tempo, não é eficiente trabalho de avaliação de aprendizagem dos
para ensinar a todos os alunos. No entanto, alunos, fazendo uso da Avaliação Diagnóstica
planejar para cada um deles não é tarefa fá- e da Descrição de Saberes. Os procedimentos
cil, sendo mesmo impossível, considerando o para este trabalho devem ser planejados de
número de alunos que um professor dos anos modo que:
finais do Ensino Fundamental atende.
• a cada início de ano os professores de cada
Como, então, organizar o trabalho pedagó- ciclo definam, coletivamente, um conjunto
gico diante dessa heterogeneidade? Planejar de atividades que funcionem como instru-
algo único e comum para a turma não basta. mentos de avaliação, de acordo com crité-
Ao mesmo tempo, não é possível trabalhar in- rios e objetivos de sondagem, visando ao
dividualmente com cada aluno nas aulas. Uma planejamento de ensino. Tais atividades
alternativa que vem sendo experimentada por devem possibilitar o conhecimento dos alu-
muitos professores é planejar para diferentes nos reais, aqueles com quem os professores
grupos de alunos, de acordo com níveis de se encontram cotidianamente.
aprendizagens que, mesmo não sendo iguais,
podem ser categorizadas em grupos de sabe- • os dados obtidos na avaliação diagnóstica
res. sejam analisados pelo grupo de professores
do ciclo, com o objetivo de compreende-
Isso proporcionaria a visualização de um rem, em parceria, as potencialidades e difi-
“mapa” da realidade da turma para o plane- culdades dos alunos no processo de apren-
jamento de atividades, tanto aquelas comuns dizagem.
a todos os alunos, como também as diferen-
ciadas, pensadas para cada grupo, consideran- • o professor da turma realize a Descrição
do-se suas necessidades de aprendizagem. Ao dos Saberes observados na produção de
atentar para estas necessidades, os professores cada aluno e do coletivo da turma, indican-

50
CAPÍTULO 5 – AVALIAÇÃO

do quais as aprendizagens já são consolida- entre si as experiências bem sucedidas de


das e o que falta aprender. acompanhamento semanal de alunos com
dificuldades de aprendizagem.
• a partir da Descrição de Saberes, o profes-
sor da turma deve sempre socializar suas • as Fichas Descritivas dos Saberes sejam uti-
análises com os colegas do Ciclo e agrupar lizadas como instrumentos de registro da
os alunos por níveis de saberes já consolida- aprendizagem dos alunos na escola. As Fi-
dos. chas devem ser preenchidas pelo professor,
a cada trimestre letivo. São documentos
• a partir dos grupos de saberes e das necessi- que acompanham a vida escolar dos alunos
dades de aprendizagem observadas – inclu- e informam às famílias sobre o processo de
sive aquelas ligadas às deficiências físicas, aprendizagem de seus filhos. Outros instru-
mentais e aos transtornos globais do desen- mentos de registro podem ser considerados
volvimento – os professores tracem os ob- pelos professores quanto à sua funcionali-
jetivos para toda a turma e para cada grupo, dade para o replanejamento das aulas e para
visando ao planejamento de aulas com ati- a comunicação com os pais. Entre as varia-
vidades que contribuam para que todos os das formas de registro, destacamos: a pasta
alunos avancem na construção de conheci- individual (dossiê/portfólio) de cada aluno,
mentos. o portfólio coletivo da turma, o relatório
individual produzido pelos professores da
• ao longo do trimestre, sejam realizadas no- turma ou pelo conjunto de professores da
vas avaliações e replanejamentos do tra- mesma, a ficha avaliativa em que se descre-
balho, visando a promover sempre novas vem as dificuldades específicas a serem to-
e maiores aprendizagens. Ao final de cada madas em planos de estudo e recuperação
trimestre, as avaliações até então promovi- paralela.
das devem subsidiar a Descrição de Saberes
consolidados pelos alunos no período. • a autoavaliação pelos alunos seja imple-
mentada, como recurso para o professor
• a recuperação paralela seja realizada com conhecer as aprendizagens dos alunos e
todos os alunos que dela necessitem para dar oportunidade para que estes construam
prosseguir com autonomia no trabalho de autonomia nos estudos, na medida em que
sala de aula. É sabido que muitos alunos aprendem a monitorar o seu próprio desen-
precisam do apoio extra-aula, nos tempos volvimento. Este tipo de avaliação pode se
pedagógicos que a legislação denomina de realizar por meio de diversas atividades,
recuperação contínua e paralela. Os profes- tais como entrevistas com os alunos, con-
sores devem planejar, realizar e socializar versas informais ou autoavaliação escrita.

51
Capítulo 6

ADOLESCÊNCIA

6.1. Os Desafios para um Currículo que se dá o que temos convencionado chamar de


Respeite a Adolescência “adoles­cência”.

Entre os vários aspectos, bastante específi- Na perspectiva do materialismo his­tórico e


cos, do trabalho escolar com os Anos Finais do dialético, que é o campo teórico do qual par-
Ensino Fundamental, destacamos as implica- timos nesta Diretriz Curricular, quan­do con-
ções pedagógicas a serem consideradas, ao se ceituamos aprendizagem e desenvolvi­mento
ensinar os adolescentes e, também, a tradicio- humano, a adolescência é uma cons­ trução
nal organização dos componentes cur­riculares cultural, que vem se transformando ao lon-
organizados na rotina semanal, com atuação go dos tempos e que assume conformações
de vários professores. específicas nos grupos sociais, submetidos a
diferentes realidades materiais e culturais. Ser
A etapa da vida que se passa entre os 11 adolescente entre as tribos indígenas que bus­
e 14 anos é de mudanças qualitativas cruciais cam manter as tradições culturais no modo de
para o desenvolvimento humano: mudanças gerir a vida cotidiana é diferente, por exem­
físicas e psíquicas que impactam no modo plo, de ser adolescente nas grandes cidades
como meninos e meninas vão se relacionar industriais. Ser adolescente nas classes média
entre si, com os adultos, com a escola e com a e alta, isto é, entre os economicamente privi­
vida. As mudanças hormonais e o crescimen- legiados, é diferente de ser adolescente entre
to abrupto, que os fazem “esticar” de repente, as classes populares, em que as urgências pela
colocam os adolescentes diante das novidades sobrevivência induzem experiências, preocu­
de um corpo em transformação, com o qual pações e anseios específicos. Podemos ainda
deverão aprender a lidar. Mudam também as dizer que ser adolescente branco ou negro, em
expectativas e exigências dos adultos sobre uma sociedade desigual e com fortes traços ra­
eles, que já não devem “comportar-se como cistas como a brasileira, é também vivenciar
criança”, mas também não podem gozar ainda de modo diferente o “ser adolescente”.
da independência e autonomia que possuem
os mais velhos. Partindo do pressuposto de que a adoles-
cência é uma fase, culturalmente determina-
Em cada sociedade e em cada época, deter­ da, que coincide com a puberdade, fase de
minados valores e modos de se comportar são mudanças físicas e psíquicas profundas, mas
ensinados e esperados dos sujeitos que, nes- que não é vivida de modo idêntico pelos que
ta fase, transitam entre o estado da infância transitam nesta faixa etária, afirmamos que a
e da vida adulta. Uma vasta bibliografia, no escola necessita apurar o olhar para conhecer,
campo da psicologia, antropologia, sociologia de fato, os sujeitos com que trabalha. E o me-
e outras áreas, tenta descrever e explicar como lhor modo de conhecer esses alunos é dialogar

53
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

com eles sobre seus projetos, seus anseios e cia, tais como: a sexualidade, a rebeldia que se
suas expectativas. Quais são as preocupações expressa na indisciplina, as questões relacio-
desta idade? Quais os interesses e curiosida- nadas às drogas, a violência de que os jovens
des? Como estes meninos e meninas se veem das classes populares são vítimas nas perife-
como pessoa e quais são seus projetos de vida? rias urbanas, as preocupações com o próprio
Como a escola pode contribuir para que reali- crescimento, seus sonhos e suas expectativas
zem estes projetos? quanto à continuidade dos estudos em níveis
mais avançados e, por fim, a entrada no mun-
A modificação do corpo e o amadureci- do do trabalho, preocupação precoce entre os
mento sexual, assim como a percepção de mais pobres.
que caminham para uma fase de maior res-
ponsabilidade e necessidade de se autocui- Na perspectiva destas Diretrizes Curricu-
dar, provocam a necessidade da definição de lares, não há contradição entre discutir estas
identidades. Ouvir seus conflitos e dúvidas temáticas ou “ensinar os objetivos do currícu-
é também um modo de a escola orientá-los lo escolar”. Muito pelo contrário. Os objetivos
na construção de uma identidade de autoes- devem ser colocados a serviço, justamente,
tima e autoconfiança. A partir deste diálogo para ajudar os alunos a compreenderem cada
com os adolescentes, a escola pode selecio- vez mais o que se passa ao seu redor: um
nar conteúdos que se articulem aos objetivos mundo cheio de contradições a ser desven-
da formação estabelecidos para a escolariza- dado, explicado e modificado, se preciso for,
ção. É justamente nesta fase do desenvolvi- para que se torne mais justo e igualitário.
mento humano que a escola pode contribuir
na formalização do conhecimento em níveis 6.2. Romper a Fragmentação do
avançados e no desenvolvimento da capaci- Trabalho Pedagógico e Buscar a
dade de perceber e explicar a realidade vivida Integração Curricular
no cotidiano imediato em sua relação com o
contexto maior do espaço e tempo históricos. Historicamente, a organização das rotinas
de trabalho pedagógico, nos anos finais, do
A escola organizada em ciclos favorece a En­sino Fundamental, consolidou-se na divi-
articulação dos objetivos e conteúdos de en- são dos tempos e dos conteúdos entre oito,
sino, considerando os grupos de alunos e suas nove ou até mais componentes curriculares.
necessidades. Quem são os alunos do Ciclo Esta fragmentação não se deu por acaso, nem
III e IV? Em que aspectos se diferenciam dos de maneira “natural”. Ela é fruto de um longo
alunos dos ciclos anteriores e de que modo se pro­cesso em que as ciências e as artes foram
diferenciam entre si? Os mais novos, chegan- se especializando e hierarquizando, em uma
do ao 6º ano, relacionam-se com o mundo de dis­puta por prestígio e por poder. Atualmente,
um modo diferente dos mais velhos que estão essa fragmentação vem sofrendo dura crítica
saindo do 9º ano. O que ocorre neste período por parte de muitos pesquisadores e profes­
de quatro anos, que os modifica tanto? sores, dado que os modelos mais eficazes de
produção de conhecimento são aqueles que
Pensar em formação humana ao longo de integram equipes multidisciplinares e partem
tempos maiores que um trimestre ou um ano do pressuposto da complexidade dos proble­
letivo pode nos ajudar a construir projetos pe- mas e da necessidade de rompimento com a
dagógicos mais amplos e que, ao mesmo tem- visão fragmentária do mundo.
po, considere especificidades de cada momen-
to desta longa jornada de quatro anos de vida. Ao tratarmos do currículo escolar, necessa-
Trabalhar na lógica dos ciclos III e IV é dis- riamente, devemos repensar a organização do
cutir temas próprios e urgentes da adolescên- trabalho que possa ir além da fragmentação

54
CAPÍTULO 6 – ADOLESCÊNCIA

dos tempos, objetivos e métodos que perpas- Enquanto não construímos outros modos
sam a estrutura organizativa por componen- de organização dos componentes, nos Ciclos
tes como temos, hoje, em nossa rede. Não es- III e IV, devemos buscar a maior integração
tamos dizendo com isso que devemos romper possível entre os mesmos, de modo a garan-
com tal estrutura, mas afirmando a necessida- tir aos alunos a construção de uma percepção
de de aprofundamento destas discussões nas da complexidade dos problemas e da impor-
escolas, e na rede como instância maior, pon- tância de se buscar soluções que atentem para
derando sobre como avançar em modelos or- aspectos físicos, sociais, políticos, econômicos
ganizativos das rotinas escolares que superem e éticos, pois estas são dimensões, sempre, en-
os limites da compartimentalização do conhe- volvidas nos fenômenos que a escola em geral
cimento. Atualmente, na Rede Municipal de prevê em seus conteúdos de ensino.
ensino, temos os componentes curriculares:
Português, Matemática, História, Geografia, Do ponto de vista teórico e metodológico,
Ciências, Arte, Inglês, Educação Física, sem há um campo de produção de conhecimento
esquecer o Ensino Religioso, que é previsto na sobre o ensino, que devemos focar nos pró-
matriz como obrigatório oferecimento e opta- ximos anos e, sobre este aspecto, mais uma
tivo para o aluno6. vez, resgataremos, aqui, a discussão que vem
ocorrendo na Educação de Jovens e Adultos
Como conhecer os alunos, estabelecer vín- na Rede Municipal8. Falamos da busca pela
culos, iniciar e concluir atividades significati- construção de práticas em que os componen-
vas, em uma estrutura de curso com rotinas de tes curriculares sejam “integrados” no esforço
tempos tão fragmentados? A cada cinquenta de explicarem, de modo crítico, um mundo
minutos, ou no máximo 100 minutos, consi- que é complexo e que foge a uma abordagem
derando-se a possibilidade de “aulas duplas”, parcial e limitada, de uma única área ou com-
um diferente componente curricular poderia ponente curricular9.
se apresentar ao aluno.
Há, na escola, professores formados em
Na Rede Municipal de Ensino de Campinas, áreas diversas, o que pode ser promissor do
os educadores da EJA (Educação de Jovens e ponto de vista da possibilidade de abordagens
Adultos), buscando formas de organização dos aprofundadas, para se conhecerem os fenôme-
tempos de modo menos fragmentado, viven- nos físicos e sociais envolvidos na reprodução
ciaram o sistema modular, em duas escolas, da vida. Entretanto, esse acontecimento tam-
e atualmente todas as escolas funcionam com bém pode ser determinante da fragmentação
o modelo de Organização Curricular Flexibi- do modo de olhar para estes fenômenos, o
lizada, em que ao longo do semestre os mes-
8 Grande parte das referências que trazemos aqui, foram extraí-
mos componentes curriculares, citados acima, das das Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o Ensino Fun-
são agrupados bimestralmente, deixando de damental – Anos Finais: um processo contínuo de reflexão e ação, publi-
serem vistos todos concomitantemente7. cadas pela SME Campinas no primeiro semestre de 2013.
9 Sobre propostas escolares, visando construir práticas de inte-
gração curricular, ou se quisermos dizer de interdisciplinaridade,
6 O ensino religioso não está regulamentado nem posto em prá- indicamos estudos sobre os Ginásios Vocacionais (Rovai, 2005),
tica em nossa rede enquanto proposta pedagógica e, entre nós, há que funcionaram na década de 1960, na rede estadual de ensino
grande polêmica sobre como deveria se dar a sua implementação. de São Paulo e foram fechados em 1969, pela ditadura militar. São
O debate sobre esta questão deve ocupar outros espaços. Por ora considerados por muitos como o que houve de mais avançado no
não vamos tratá-lo aqui neste documento. campo da escola pública em nosso país. Realizavam estudos do
7 Essa organização caracteriza-se pelo agrupamento das aulas meio integrados aos conteúdos e objetivos dos componentes cur-
dos componentes curriculares em módulos que concentram quatro riculares e alimentavam formas ativas de exposição dos conheci-
componentes ao longo de um período de 50 dias letivos, sendo que mentos construídos, por meio de seminários, teatro, produção de
as aulas de Português e Educação Física (este último componente livros e outras iniciativas dos alunos. Todas estas práticas, cotidia-
ministrado em contra turno) perpassam todo o semestre (somando nas naqueles ginásios, merecem nossa atenção nos próximos anos,
100 dias letivos). Mantém-se, do modelo anterior, as aulas num se quisermos superar muitas das dificuldades que temos tido ao
total de 05 h/a por dia, totalizando 25 h/a semanais e no horário educar os adolescentes e jovens dos anos finais do Ensino Funda-
das 19h às 23h. mental.

55
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

que pode levar os alunos a uma compreensão parciais. E, um bom projeto de pesquisa
menos sistêmica e mais limitada a respeito da começa com o levantamento sobre quem são
complexidade da vida social. À vista disso, a os alunos reais que frequentam a escola, sobre
perspectiva de integração entre os campos do suas vidas, incluindo-se suas experiências
conhecimento, ou dos componentes curricu- no trabalho, seus saberes, curiosidades,
lares, é desafiadora, além de ser uma necessi- necessidades de aprender, compreender aquilo
dade da qual não podemos fugir. que lhes inquieta.

Como integrar os conhecimentos dos di- Assim, o primeiro questionamento que se


versos campos ou componentes curriculares? deve fazer, no contato com os alunos deve
Como articular os saberes que os alunos tra- ser: quais são os problemas que estes alunos
zem do mundo do trabalho e os saberes que a enfrentam e que a escola pode ajudar a
escola deve proporcionar, comprometendo-se compreender e a pensar modos de superação? A
com o acesso aos fundamentos da ciência, téc- partir daí, os conhecimentos escolares podem
nica e arte, sempre visando à ampliação dos ir se apresentando, em atividades variadas,
saberes para real autonomia intelectual dos em lógicas diversas de aulas, em estudos do
alunos? meio, em leituras de textos variados, no uso
de variadas linguagens. Ora trabalha cada
Nenhuma definição exaustiva de “passos a professor com uma turma em determinada
se seguir” para integrar os componentes cur- atividade, ora se juntam turmas e professores
riculares em um trabalho interdisciplinar, no em uma atividade comum. Ora quem conduz
cotidiano da escola seria suficiente. Mas, po- a aula é um visitante, ora são os alunos que
demos dizer que o primeiro movimento deve conduzem a aula, expondo seus estudos e
ser o de integração real no trabalho, com os produções. O encaminhamento, sempre, para
professores partindo de projetos comuns, de- uma lógica que melhor se adapte ao principal
senhados a partir de objetivos comuns e de objetivo: que o tratamento investigativo da
pesquisas que mobilizem os alunos a respon- realidade faça crescer a capacidade de explicá-
derem questões fortes e significativas, para o la, principalmente, em relação aos problemas
desvelar da realidade. que mais lhes afligem.

Um modo de integrar o trabalho pedagó- Os professores continuam tendo a respon-


gico, a partir de objetivos comuns, é unificar sabilidade de orientar o processo de pesquisa,
todos os componentes curriculares, através de busca e da ampliação do conhecimento, já
de estratégias e atividades que desenvolvam que devem ser os mais experientes no conta-
as capacidades de comparar, distinguir, clas- to com os saberes sistematizados pela ciência.
sificar, buscar relações de causas e consequ- Do encontro do saber que os alunos trazem
ências, identificar princípios ou regularidades, para a escola com os saberes que os profes-
que são capacidades essenciais na formação sores organizam para ensinar, deve nascer o
dos sujeitos críticos e autônomos no pensar. novo, que é uma elaboração de sujeitos reais,
envolvidos, juntos, na pesquisa. No processo,
A integração pelos conteúdos de ensino aprendem e ensinam, tanto alunos como pro-
pode se dar pela execução de projetos de fessores.
pesquisa, envolvendo diversos professores,
cada qual trazendo seus aportes teóricos para Sabemos que uma limitação ao trabalho
que os alunos ganhem maior agilidade na mais integrado entre os professores dos diver-
análise dos processos físicos e sociais, que sos componentes curriculares são as jornadas
são complexos, dinâmicos e não podem ser de trabalho, que não contemplam maior tem-
realmente compreendidos com explicações po de reuniões dos coletivos na escola. Hoje, as

56
CAPÍTULO 6 – ADOLESCÊNCIA

condições que temos são as reuniões de TDC leitura e de melhoria das condições de vida
(Trabalho Docente Coletivo) e GTs (Grupos às famílias, de modo que possibilitem aos
de Trabalho) no interior das escolas, sendo es- educandos vivências culturais fora da escola,
tes últimos optativos, por não fazerem parte uma vez que estas também são formadoras
da jornada. A revisão da jornada docente de- de leitores competentes. Porém, não podemos
verá modificar essa situação, criando espaços negar que cabe à escola o papel fundamental
mais efetivos de coletivos para planejamento de superar esse grave problema de ainda exis-
e avalição do trabalho entre os professores. tirem, nesta etapa escolar, crianças e adoles-
centes em condições tão rudimentares de do-
Porém, há uma condição de trabalho que mínio da leitura e escrita, apesar de já terem
vem sendo, em algumas escolas, bem avalia- passado anos de suas vidas pela escolarização.
da e deve ser aprimorada e estendida a todas
as outras. Falamos da instituição da função do Mais uma vez, devemos assumir que o tra-
Professor Coordenador de Ciclos que, atuan- balho pedagógico pode fazer a diferença.
do juntamente com o Orientador Pedagógico, Cabe aos anos iniciais, alfabetizar os alunos,
pode contribuir para a articulação e organiza- mas, se alguns, por qualquer motivo que seja
ção dos espaços coletivos e de encaminhamen- chegarem aos anos finais sem concluírem este
tos de projetos interdisciplinares entre os com- processo, cabe à escola oferecer-lhes condi-
ponentes de uma área ou ciclo. ções para avançarem em seu conhecimento
sobre a língua escrita. E como? Professores de
6.3. Aprimoramento da Competência anos finais devem ter a clareza de que os ado-
na Leitura e Escrita: Desafio que se lescentes estão em formação e podem apren-
Estende aos Ciclos III e IV der, sempre, desde que se ofereçam materiais
e desafios de ensino adequados às suas dú-
Nos anos finais do Ensino Fundamental, vidas e, principalmente, desde que se criem
intensifica-se a sistematização da construção situações de vínculos emocionais positivos
conceitual, nas diversas áreas do saber. Os com o aprendizado e com a relação professor
alunos vão entrar em contato com novos ter- e aluno.
mos, palavras, conceitos, e ao professor cabe
participar da exploração dos mesmos junto Os alunos devem ser ensinados, pois não
aos alunos, introduzindo-os nos referenciais aprenderão espontaneamente. Na sala de
conceituais, o que não é tarefa fácil. Não se aula devem receber um olhar atento e de estí-
trata de “ler e interpretar” textos apenas, mas mulo dos professores, para que não fiquem à
de dialogar com áreas das ciências as quais margem, excluídos das atividades. De outro
vão se especializando e com conceitos que se lado, no contra turno, devem receber aulas
tornam precisos, exigindo raciocínio de análi- de alfabetização e letramento, com materiais
se e síntese mais apurados. Porém, é corrente, diversos, ora com textos mais curtos, jogos
entre os professores deste nível de ensino, a de exploração de letras e sílabas, cadernos
queixa de que os alunos, em geral, apresentam de palavras cruzadas, produção de escrita
dificuldades com a escrita mais básica e com com temas de seu maior interesse, sempre
a leitura e interpretação dos textos. Este fato com apoio dos professores, para que se apro-
não pode ser ignorado e precisamos encontrar priem dos saberes do professor, que naquele
meios para superar essas deficiências com a momento é o leitor e escritor experiente.
linguagem escrita.
Na equipe de profissionais da escola, pro-
O analfabetismo funcional e o letramento fessores e gestores devem se apoiar e buscar
vêm ganhando debate público, que fomenta ajuda dos colegas alfabetizadores, no intui-
políticas diversas: de acesso e valorização da to de ajudarem todos os alunos a domina-

57
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

rem, não somente, o código da escrita, mas, estes alunos desenvolvem com a escola e o sa-
principalmente, a se tornarem autônomos ber sistematizado. Todos nós estabelecemos
na interpretação do texto. Vale lembrar que, uma determinada relação com o saber e com a
autonomia é sempre um conceito relativo, escola, relação esta que é marcada pelas expe-
pois a interpretação dos textos é compe- riências que vivemos fora e dentro da escola.
tência que cresce no debate, com as muitas Em grande parte, é desta relação que advém
interpretações e com o compartilhar entre nossas possibilidades de sucesso ou fracasso
os alunos suas muitas e diversas leituras. (CHARLOT 2001, 2005).
Assim, é fundamental estudar os processos
Historicamente, as crianças que não domi-
pelos quais os adolescentes aprendem a ler
navam a leitura e escrita, nos anos iniciais,
ou como parecem apresentar um verdadei-
eram eliminadas da escola pela reprovação.
ro bloqueio a este aprendizado; são temas Hoje, essa situação é considerada inadmissível
a serem cada vez mais estudados pelos pro- por todos que defendemos uma escola públi-
fessores e gestores dos anos finais, para que ca democrática, que acolha a todos. Enquan-
possam criar estratégias de ensino mais apu- to estes adolescentes estão na escola, cabe a
radas e eficientes. esta a responsabilidade de fazer tudo o que for
preciso e estiver ao seu alcance para que todos
Algumas práticas são mais bem sucedidas aprendam. Recompor a autoestima destruída
para o envolvimento dos alunos que, siste- por anos de insucesso é o princípio; ensinar
maticamente, apresentam dificuldades para com recursos variados e recuperar junto aos
aprender na escola. E, antes de mais nada, alunos a certeza de que podem aprender, é a
devemos nos perguntar sobre quais relações outra parte do trabalho.

58
Capítulo 7

EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICA-RACIAL AFRO-BRASILEIRA

Introdução pedagógicos. Ela é parte constitutiva da ação


docente e escolar.
Neste capítulo, atentamos para a temática
da diversidade étnico-racial, em busca da cons- Na Secretaria Municipal de Educação de
trução da educação para as relações étnico-ra- Campinas, há um histórico de ação pedagó-
ciais, nas unidades educacionais do município gica que tem buscado qualificar nossas uni-
de Campinas. A educação para as relações étni- dades educacionais para o trabalho com a
co-raciais é demanda constante na Lei de Dire- diversidade étnico-racial e a educação para
trizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN as relações étnico-raciais. Contudo, este
de 1996 (Lei nº 9.394/96) - como um dos Prin- trabalho deve constar do cotidiano de todas
cípios da Educação Nacional (artigo 3º, XII), as escolas do município. Por isso, neste do-
acrescida das modificações realizadas pelas leis cumento, apresentam-se orientações para a
10.639/03 e 11.645/08, regulamentada pelas implementação de ações pedagógicas, que
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- colaborem para a educação das relações ét-
ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino nico-raciais. Condizentes com as determi-
de História e Cultura Afro-Brasileira (CNE/CP nações nacionais, no campo da educação
Resolução nº 1/2004e PARECER nº 03/2004), escolar, as orientações dizem respeito às
e pelo Plano Nacional de Implementação das contribuições que a escola e seus agentes
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa- têm como função na construção de uma so-
ção das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino ciedade mais justa e igualitária.
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

As determinações e regulamentações, cita- 7.1. Escola e Diversidade


das nesses documentos, apontam a necessi-
dade da escola contemplar, em sua proposta As escolas são parte constitutiva da reali-
pedagógica, a reflexão sobre realidades sociais dade social brasileira. Assim, inserem-se nos
inseridas na escola e fora dela, assim como mesmos processos históricos de construção
envolver os sujeitos sociais e culturais que a e reconstrução de valores, representações
constroem: alunos, professores, gestão esco- sociais, conflitos, relações de poder, deman-
lar, equipes de apoio e demais sujeitos pre- das político-sociais existentes e, da mesma
sentes na escola. Há, nesses documentos, o forma, elas são afetadas por estes processos.
reconhecimento de que esses sujeitos carre- Neste sentido, refletir sobre a diversidade ét-
gam consigo a diversida­de étnico-racial, cons- nico-racial, na escola, não é algo novo, pois
tituinte da sociedade bra­sileira. Por isso, tratar resulta do histórico de demandas da socieda-
dessa temática é uma necessidade que trans- de civil e das realidades vividas dentro e fora
cende vontades ou engajamentos políticos e dela.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Trabalhar pedagogicamente as relações ra- O silêncio, diante da omissão sobre a história


ciais e étnicas vigentes em nossa sociedade é do Negro no Brasil, da discriminação racial
atuar na desconstrução de ideologias hegemô- presente em sala de aula (e na escola como um
nicas, as quais são constituídas por crenças todo), da manutenção de uma única História
que nos levam a aceitar as estruturas sociais que não contemple a História e a Cultura
dominantes como boas e desejáveis. A disse- Africana e Afro-Brasileira, mantém como
minação dessas ideologias é estabelecida por verdade apenas a história de um grupo étnico-
instituições chamadas por Althusser (apud, racial: o europeu. Consequentemente, todos
SILVA, 2004) de “aparelhos ideológicos de Es- os seres humanos membros de grupos étnico-
tado”, como a escola, a família, os meios de raciais que não correspondam ao modelo
comunicação de massa. europeu são negados, levando esses atores a
um processo de busca por reconhecimento e
Silva (2004) afirma que o currículo consis- sua valorização.
te na forma como são transmitidas as ideo-
logias, com isso, reconhecendo a forte influ- Pensar a escola como o espaço privilegiado
ência que a escola tem sobre a formação dos onde diferentes atores, oriundos e representan-
sujeitos. Por atingir a maioria da população, tes de diferentes grupos étnico-raciais encon-
por um longo período, ela também se esta- tram-se, possibilita-nos, compreender porque
belece como um espaço privilegiado para as leis 10.639/03 e 11.645/08 devem ser discu-
a prática de uma pedagogia, que contribua tidas e implementadas. E, embora a escola seja
para a construção de novos parâmetros para o lugar da diversidade étnico-racial e preconize
as relações raciais e étnicas na sociedade uma educação igualitária que forme cidadãos
brasileira. conscientes, permanecem, neste espaço, prá-
ticas, posturas, projetos e planos pedagógicos
A abordagem das Relações Étnico-Raciais que não contemplam esses objetivos.
e da História e Cultura Afro-Brasileira e Afri-
cana, nestas Diretrizes Curriculares Muni- Há práticas pedagógicas, que sob a inten-
cipais, atende aos princípios, não só legisla- cionalidade de trabalho com a diversidade
tivos, no campo da educação escolar, mas, étnico-racial, a História e Cultura Afro-Bra-
principalmente, aos princípios pedagógicos sileira e Africana, estigmatizam a população
que regem o trabalho em nossas escolas: de- negra, pois estão centradas na reprodução da
mocracia, equidade, respeito e diversidade. imagem do negro como escravo e, assim, des-
Assim, não se trata apenas de olhar para a locadas da realidade histórica e social e de ou-
população negra e indígena, mas refletir e tras trajetórias da população negra na história
desenvolver ações que atentem para o ensino e na atualidade. Muitas dessas práticas, tam-
sobre a diversidade cultural e étnica dos po- bém acentuam uma representação da África
vos e eduquem toda a escola para o combate que fixa o continente na perspectiva da pobre-
ao racismo, à discriminação e ao preconceito za, da selvageria, da animalidade.
racial.
Na maioria das vezes, a estigmatização é
Desenvolver trabalhos com a temática ét- resultado de desconhecimento sobre o Con-
nico-racial implica negar o silêncio. Envol- tinente, ignoram que a África constitui-se de
ve enfrentar o desafio de não só enxergar dezenas de países, com trajetórias e conhe-
e detectar a diversidade étnico-racial, mas cimentos milenares, por exemplo. Ignoram,
também de aproximar-se dela, conhecê-la, ainda, que a história do continente africano é
torná-la objeto de conhecimento e integran- contada a partir dos colonizadores europeus,
te do currículo escolar e das relações coti- havendo, portanto, muitas histórias e saberes
dianas. a serem elucidados.

60
CAPÍTULO 7  –  EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICA-RACIAL AFRO-BRASILEIRA

Nas escolas, persistem materiais didáticos, indígenas. O que constitui, muitas vezes, um
midiáticos e imagéticos que privilegiam um elemento dificultador para a construção de
grupo étnico-racial, o branco, em detrimento uma identidade étnica e racial positiva para
da população negra, indígena e outras mi- esses sujeitos sociais.
norias. Isso afeta diretamente a construção
da identidade e do reconhecimento do cor- Vale ressaltar que a construção de identi-
po discente e docente, bem como de todos dade se origina em sociedades diferenciadas.
aqueles que compõem a comunidade esco- Castells (2006), ao considerar a construção da
lar. A desvalorização e a inferiorização da identidade, no atual contexto mundial, aponta
população negra e indígena, também, afetam que temos três grandes categorias de identida-
outros grupos étnico-raciais. O trabalho em de social: a identidade legitimadora, a identi-
prol da educação para as relações étnico-ra- dade de resistência e a identidade projeto.
ciais constrói, entre brancos e negros, a pos-
sibilidade de pensar a diversidade étnico-ra- Temos na identidade legitimadora uma so-
cial que caracteriza a sociedade brasileira. ciedade civil que, constituída de instituições
dominantes, agrega valores para justificar sua
As Diretrizes Curriculares Municipais, no dominação, contribuindo para tornar as socie-
que diz respeito à temática étnico-racial, pro- dades cada vez mais homogêneas. Esse mo-
põem que as escolas e seus agentes construam delo de identidade atua no sentido de desca-
propostas pedagógicas que contribuam para o racterizar as diferenças culturais e suplantar as
desenvolvimento de trabalhos, inseridos nos produções culturais locais.
currículos e nos planos de ensino, em que ne-
gros, brancos, amarelos, indígenas, ciganos e Por sua vez, a identidade de resistência
todos os grupos étnico-raciais se reconheçam apoia-se nas comunidades estigmatizadas que
e sejam valorizados. buscam formas de sobrevivência e resistência
coletiva. Constituem-se de espaços de luta
pela preservação da tradição cultural local e
7.2. Educação e Diversidade específica de alguns grupos.
Étnico-Racial
Já a identidade de projeto baseia-se na
Ao discutir relações raciais e étnicas no Bra- construção de uma nova identidade, apoiada
sil, um primeiro ponto que se apresenta refe- em teoria cultural existente, a fim de redefinir
re-se à nossa constituição miscigenada. É im- o papel dos diferentes grupos na sociedade,
portante explicitar que esse documento adota mantendo ligação com a tradição, incorporan-
a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de do novos elementos e ressignificando a cul-
Geografia e Estatística), segundo a qual negros tura, através de uma ação transformadora da
e negras são consideradas as pessoas classifi- realidade. O movimento negro e indígena no
cadas como pretas e pardas nos censos demo- Brasil, de acordo com Munanga (2002), tenta
gráficos. construir uma identidade de projeto.
E quando apresentamos o debate sobre Dessa forma, quando tratamos sobre a im-
educação e diversidade étnico-racial, e em portância de valorizar e fortalecer a identida-
nossa Rede Municipal de Educação, especi- de negra, estamos abordando esse conceito
ficamente, significa que estamos falando de no sentido como Gomes (2005) e Munanga
uma população que constrói suas identidades, (2004) o definem, compreendendo que se tra-
na maioria das vezes, a partir das referências ta de uma identidade que é social, histórica,
de cultura, arte, beleza, sucesso, conduta, re- cultural e plural e, assim, relacional, elaborada
ligiosidade européia, e sob a égide da desva- a partir da forma como se dá a relação com o
lorização e negação das referências negras e outro. Portanto, torna-se necessário um pro­

61
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

jeto político pedagógico que atente para o as situações sociais cotidianas, e não a partir
processo de construção da identidade negra e de um viés biológico. Ao nos referirmos à raça,
toda diversidade étnico-racial, no espaço es- estamos dizendo, também, das práticas racis-
colar, ou seja, uma programação que afirme o tas, do racismo que, através da discriminação
sucesso, a beleza, as boas condutas, a autono- racial, distingue e exclui os negros do acesso a
mia, a intelectualida­de, a cidadania e não um direitos, de representações sociais positivas e
currículo embasado em ideias e imagens da afirmativas.
escra­vidão, da subserviência, do trabalho bra-
çal e mal remunerado, da feiura, da animali- Ao atentarmos no projeto pedagógico da
dade, da promiscuidade que reforçam a supe- escola e em nossa prática docente, para as si-
rioridade de características pré-determinadas tuações cotidianas em que negros e indígenas
de um único grupo étnico, no caso, o europeu. são, explicitamente ou implicitamente, desti-
tuídos de um lugar valorizado na sociedade
Tais processos de negação da população ne- brasileira, são ridicularizados, excluídos, es-
gra e indígena e de sua identidade própria es- tigmatizados e, muitas vezes, alvos de todo
tão presentes, diariamente, em nossa socieda- tipo de agressão, estamos contribuindo com
de e em nossas escolas. Esses procedimentos o desmonte do mito da democracia racial. E, a
fundamentam-se, como dito anteriormente, partir desta desconstrução, é possível repensar
no preconceito racial, que julga negativamen- a (re)organização das relações raciais em nossa
te e previamente membros de um grupo ra- sociedade. Podemos proporcionar uma refle-
cial, sem considerar fatos que contestem o jul- xão sobre a possível convivência entre negros,
brancos e indígenas, sem quaisquer formas de
gamento (Gomes, 2005).
exclusão dada pelo pertencimento racial.
O problema intensifica-se quando os ma-
A escola como espaço social e histórico de
teriais didáticos de que dispomos, os recursos
formação dos sujeitos, de interação social, e,
imagéticos que utilizamos, os conteúdos que
portanto, de diversidade étnico-racial, precisa
pensamos contemplam e reforçam tal pre-
atentar-se para a desconstrução de precon-
conceito, levando nossos alunos a se desvalo-
ceitos raciais, racismos e formas de discrimi-
rizarem uns em prol de outros, a afirmarem
nação racial, atuando em todas as formas de
padrões, histórias distorcidas ou mal interpre- interação entre os seus agentes, combatendo
tadas, contadas a partir de um único ponto de os racismos não só pela via do respeito, mas
vista. O problema, enfim, é quando - conscien- pelo (re)conhecimento do outro, daquele que
te ou inconscientemente - reproduzimos práti- discrimina e daquele que é discriminado. A
cas preconceituosas, discriminatórias e racistas. temática das leis 10.639/03 e 11.645/08 de-
manda da escola uma nova postura diante da
Nessa perspectiva, estamos falando dos ape- Cultura e da História do Negro e Indígena no
lidos, das frases jocosas, das piadas voltadas Brasil, possibilitando que todos – brancos, ne-
às pessoas negras, que associam sua aparência gros e indígenas – conheçamos nossa história
física, seus cabelos, a cor da pele, a um lugar de maneira mais completa e real, e compreen-
de inferioridade, como também aponta Go- damos que todos somos sujeitos constitutivos
mes (2005). Estamos falando dos traços físicos e ativos na sociedade.
presentes nas pessoas negras e que são usados
socialmente para defini-las como boas ou más,
competentes ou incompetentes, sábias ou igno- 7.3. Políticas Públicas - MIPID
rantes, entre outros atributos (Gomes, 2005).
Os contextos social, econômico e político
É importante ressaltar que, ao falarmos de fornecem dados que devem ser levados em
consideração, ao se realizar as análises de po-
raça, neste documento, estamos olhando para

62
CAPÍTULO 7  –  EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICA-RACIAL AFRO-BRASILEIRA

líticas públicas. Nesse sentido, para analisar o Negra; o Programa de Superação do Racismo
processo de formulação da Lei 10.639/03, tor- e da Desigualdade Racial, dentro do Progra-
na-se necessário entender as demandas inter- ma Nacional de Direitos Humanos (PNDH),
nas (movimento negro) e demandas externas e, dentro dos seus objetivos, um tópico desti-
(esferas públicas nacionais e internacionais) e nado à Comunidade Negra; a III Conferência
o contexto político que corroboraram a ques- Mundial de Combate ao Racismo; Discrimi-
tão étnico-racial entrar na agenda política do nação Racial, Xenofobia e Intolerância Corre-
Ministério da Educação. lata entre outras iniciativas para combater o
racismo no Brasil.
A demanda interna resulta da resistência
do movimento negro no Brasil, do perío- A Lei 10.639/03 foi constituída a partir
do pós-abolição ao contexto contemporâ- de demandas internas e demandas externas,
neo, explicitando que resistência e reação como política pública de ação afirmativa, no
são as palavras que marcam a trajetória da âmbito do racismo e da discriminação racial
história dos negros no Brasil. Consequen- e alterou a Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases
temente, as palavras passividade e con- da Educação Nacional, estabelecendo a obri-
sentimento não imperam no universo que gatoriedade do ensino de História e Cultura
caracteriza o histórico de resistência do Afro--Brasileira e Africana na Educação Bási-
movimento negro. ca e, assim: “o direito à igualdade de condições
de vida e de cidadania, assim como garantir igual
Uma das bandeiras de luta em destaque nos direito a diferentes histórias e culturas que com-
documentos do movimento negro, na segun- põem a nação brasileira, além do direito de acesso
da metade do século XX, está relacionada à às diferentes fontes da cultura nacional a todos”.
identidade de resistência, ou seja, à construção (BRASIL, 2003).
de uma identidade negra baseada em valores
culturais preservados historicamente, além do Com base nessa lei, e por demanda de
resgate de sujeitos sociais e indivíduos que, políticas públicas afirmativas, foi criado em
efetivamente, fizeram parte da construção da Campinas/SP o Programa MIPID (Memória
nação brasileira. e Identidade, Promoção da Igualdade na Di-
versidade); o projeto foi desenvolvido como
Esses movimentos ganharam força no final proposta de implantação de políticas públi-
do século, entre os anos 1980 e 2000, o que, cas na área de Educação, na Rede Municipal
entre outras reações, desencadeou a implanta- de Ensino de Campinas, através da resolução
ção da Lei 10639/03. Esta lei trouxe respaldo SME/FUMEC nº 03/2004, instituído a partir
às reivindicações já colocadas por movimen- de considerações legais da Constituição Fe-
tos de educadores, pais e alunos, para a inclu- deral, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
são do ensino de conteúdos antes omitidos do Nacional (10.639/03), que promulga a igualda-
currículo escolar, o que invisibilizava a histó- de de condições para acesso e a permanência
ria e a cultura de negros e indígenas. na escola; liberdade de aprender; pluralismo
de ideias e de concepções pedagógicas e co-
Quanto à demanda externa, analisa-se a existência de instituições públicas e privadas
situação política que marcou a construção e de ensino; a obrigatoriedade da inclusão, no
implantação da Constituição de 1.988; Conse- currículo oficial da rede de ensino, a temática
lhos criados no nível Estadual; o Programa Na- “História e Cultura Afro-Brasileira”; a necessi-
cional do Centenário da Abolição da Escrava- dade de contribuir para a construção de novos
tura; a Fundação Cultural Palmares; a Marcha sujeitos políticos na escola, através do fomen-
de Zumbi, que objetivava enfatizar o 20 de to de discussões e necessidades levantadas pe-
novembro de 1995 como Dia da Consciência los educadores.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Tanto a lei 10.639/03 como o Programa Mediante a regulamentação das políticas de


Memória e Identidade, Promoção da Igual- ações afirmativas, políticas de reparações, de
dade na Diversidade – MIPID, tratam-se de reconhecimento e valorização de sua história,
políticas públicas no âmbito da Educação e cultura e identidade, no âmbito da educação,
foram criados com o objetivo de pautar e o Parecer CNE/CP 03/2004 tem como propó-
discutir as discriminações étnico-raciais e as sito responder às reivindicações da sociedade
desigualdades sociais. Credita-se à educação e, principalmente, às demandas da comunida-
um mecanismo de transformação da socieda- de negra.
de, à medida que, respeitando os processos
democráticos, a escola promova seres huma- Ressalta-se que a Lei 10.639/03 imple-
nos éticos, livres e que respeitem as diferen- menta uma política curricular embasada nas
ças próprias e de cada comunidade existente dimensões histórica, social e antropológica
na sociedade. originárias da realidade brasileira, procuran-
do combater o racismo e as discriminações
A Resolução SME/FUMEC nº 03/2004, que atingem, particularmente, a comunidade
para a criação do MIPID, na Rede Municipal negra, por meio de divulgação e produção de
de Ensino de Campinas, foi sancionada em conhecimentos, visando à educação de todos
2 de fevereiro de 2004. A Resolução consi- os cidadãos, independentemente do seu per-
derou: a Constituição Federal de 1.988; a Lei tencimento étnico-racial (PARECER CNE/CP
nº 10.639/03 e o III Congresso Municipal de 03/2004).
Educação de 2002, que discutiu a “Função da
Escola no Mundo de Hoje”, o tema transversal No campo educacional, as políticas de re-
dos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre parações à população negra devem propiciar
as questões de Ética, da Pluralidade Cultural direitos como o ingresso, a permanência e o
e Cidadania e a construção de novos sujeitos sucesso na educação escolar, a valorização do
políticos na escola (RESOLUÇÃO SME/FU- patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro,
MEC nº 03/2004). a aquisição das competências e dos conheci-
mentos tidos como indispensáveis para a con-
O MIPID objetivava propiciar ações que tinuidade nos estudos.
fossem abarcadas pela escola, em uma di-
mensão de múlti­plas convivências e culturas 7.4. Construção da Educação para a
existentes em seu interior e construção de Diversidade Étnico-Racial
acervo diverso para registro das memórias e
das pesquisas, nos vários espaços de forma- A Rede Municipal de Educação de Campi-
ção, nas interações culturais, bem como con- nas segue os mesmos princípios e orientações
tribuir com projetos e programas da SME/ constantes nas Legislações Educacionais Fede-
FUMEC. Em relação às questões étnico-ra- rais, que determinam a educação das relações
ciais, o programa visava introduzir, no Pro- étnico-raciais e o ensino da História e Cultu-
jeto Político Pedagógico (PPP) das Unidades ra Afro-Brasileira e Africana. Atende também
Educacionais, eixos norteadores relacionados aos Princípios da Educação Nacional, em seu
à diversidade existente no cotidiano escolar; artigo 3º, XII, da “consideração com a diversi-
intensificar as reflexões no interior da escola dade étnico-racial”, assim como está em con-
sobre a diversidade humana e a pluralidade sonância com o texto das Diretrizes Curricu-
cultural; a socialização dos materiais produ- lares Nacionais para a Educação das Relações
zidos, dos trabalhos realizados pelas Unida- Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
des Educacionais; e investir na formação de Cultura Afro-Brasileira e Africana (Parecer
educadores, gestores e educandos dos dife- CNE/CP 3/2004, aprovado pela Resolução nº
rentes segmentos. 1/2004).

64
CAPÍTULO 7  –  EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICA-RACIAL AFRO-BRASILEIRA

As orientações, neste documento curricular mento da construção da cidade de Campinas,


de Campinas, determinam que as unidades em que todos – negros, indígenas e brancos
educacionais desenvolvam um trabalho coti- – foram importantes e protagonistas. São for-
diano, em que a educação das relações étni- mas a partir das quais podemos compreender
co-raciais esteja inserida em todo o currículo as desigualdades raciais existentes, o racis-
escolar, e não só nas disciplinas de História, mo presente em nossa cidade, com vistas em
Língua Portuguesa e Arte, como aponta o Pa- sua superação. São temas que abrem espaço
recer CNE/CP 3/2004, aprovado pela Resolu- em sala de aula, e na escola, de maneira mais
ção nº 1/2004. ampla, para que negros, indígenas e brancos,
alunos e professores possam explicitar suas
As orientações exigem, também, que o tema ideias, expor seus preconceitos raciais como
das relações étnico-raciais seja contemplado forma de entender os mecanismos pelos quais
enquanto conteúdo de planos e práticas esco- os prejulgamentos foram construídos e, igual-
lares, a partir da compreensão da construção mente, elaborar métodos para a superação.
da identidade da população negra, em nossas
escolas e na sociedade campineira, entenden- Portanto, é crucial a criação de condições es-
do a sua trajetória na cidade, sua participação pecíficas, no contexto escolar, para que os alu-
nos diferentes processos de construção do nos negros e indígenas, ou ainda qualquer in-
município e sua relação com a sociedade bra- divíduo que apresente um fenótipo diferente,
sileira mais ampla. não sejam rejeitados em virtude das diferen-
ças de caracteres exteriores, como cor da pele,
Atendendo aos dispositivos legais federais, olhos, boca, cabelos entre outros, e menospre-
algumas temáticas específicas de nosso mu- zados em vir­tude dos seus traçados históricos
nicípio envolvem: a história da trajetória do (antepassados explora­dos como escravos, as-
negro na cidade de Campinas, envolvendo pectos culturais inerentes a cada etnia etc.) e
formas de resistência à escravidão, como as não sejam desencorajados a prosseguirem em
Rebeliões Escravas, a formação de territórios seus estudos e, da mesma maneira possam ad-
quilombolas na região metropolitana de Cam- quirir conhecimentos sobre os impasses que
pinas (Campinas e cidades vizinhas, forman- dizem respeito às suas comunidades.
do o Oeste Paulista), os Clubes, Associações e
Colégios fundados por grupos negros, diante As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
da não aceitação destes nos clubes existentes Educação das Relações Étnico-Raciais e para
na época; as manifestações culturais negras o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
do município e região; o papel do Movimento e Africana (Parecer CNE/CP 3/2004 aprovado
Negro na cidade; os espaços de cultura negra pela Resolução nº 1/2004), por sua vez, nos
existentes; o papel de resistência da impren- chamam atenção para o fato de que não se tra-
sa Negra em Campinas (Jornais, “O Baluarte”, ta de mudar um foco etnocêntrico marcada-
“O Getulino”), as Irmandades Religiosas, en- mente de raiz europeia por um africano, mas
tre outras. Estas são algumas temáticas, a par- ampliar o foco dos currículos escolares para a
tir das quais é possível desenvolver o traba- diversidade cultural, racial, social e econômica
lho de educação das relações étnico-raciais, as brasileira.
quais exigem pesquisa e diálogo com a popu-
lação negra do município e região, com todos O Brasil, país multiétnico e pluricultural,
os sujeitos presentes no universo escolar, suas necessita de organizações escolares, através
famílias e a comunidade como um todo. das quais todos se vejam incluídos, em que
lhes sejam garantido o direito de aprender e
Na verdade, estas temáticas são formas pe- de ampliar conhecimentos. Não é possível
las quais podemos nos aproximar do conheci- conviver com práticas pedagógicas em que o

65
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

aluno se veja obrigado a negar a si mesmo, ao É importante que todas as escolas da Rede
grupo étnico/racial a que pertence e a adotar Municipal de Ensino de Campinas direcionem
costumes, ideias e comportamentos que lhes a utilização de parte de seus recursos finan-
são adversos. ceiros no sentido de atender, também, a efeti-
vação de ações afirmativas que visem o reco-
Nosso desafio está em promover a cone- nhecimento, a valorização e o fortalecimento
xão dos objetivos, estratégias de ensino e de da História e Cultura Afro-brasileira e Africa-
atividades que incluam a experiência de vida na. Assim, propõe-se:
dos alunos e dos professores, valorizando
aprendizagens vinculadas às suas relações • a aquisição de brinquedos e jogos étnicos;
com pessoas negras, brancas, mestiças, as-
sim como considerem relações entre negros, • a aquisição de livros de literatura e/ou pa-
indígenas e brancos no conjunto da socieda- radidáticos;
de.
• a aquisição de mapas históricos e geográficos
Felizmente, já proliferam, em nossas es- sobre a África;
colas, iniciativas individuais e coletivas que
promovem a inserção desses temas no Projeto • a aquisição de filmes e vídeos didático-
Pedagógico sendo, inclusive em alguns casos, pedagógicos;
incorporadas de maneira definitiva no currícu-
lo da Unidade Educacional. • a promoção de formação para os docentes;

Para a efetiva implementação da temática • a organização de palestras e oficinas para a


étnico-racial, nos Projetos Políticos Pedagógi- comunidade escolar.
cos das Unidades Educacionais, a Secretaria
Do mesmo modo, ressalta-se a importân-
Municipal de Educação dispõe de instrumen- cia de que os gestores e orientadores peda-
tos diversos, como Cursos, Grupos de Estu- gógicos das escolas coloquem à disposição da
dos, Grupos de Trabalhos, materiais e expe- comunidade escolar os materiais, já enviados
riências desenvolvidas que podem contribuir pela FNDE e pela SME, a cada unidade esco-
para o avanço e aprofundamento de experi- lar:acervo de livros de literatura e de formação
ências curriculares por parte dos nossos pro- de professores, bem como diversos vídeos di-
fissionais. dático-pedagógicos.

66
Capítulo 8

EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE HUMANA

Para iniciarmos a discussão sobre Gênero e que estava centrado no controle das vidas pela
Sexualidade na Escola, devemos, necessaria- figura do senhor de escravos, havia também
mente, partir de uma exposição histórica, que resistências da mulher a este sistema. Vale
vise contextualizar as questões que permeiam destacar que, entre os discursos hegemônicos
a abordagem sociológica e antropológica, tan- e as práticas culturais do cotidiano, há a pro-
to da Sexualidade Humana e suas várias ma- dução de distintos significados entre as pesso-
nifestações quanto da vivência do multicultu- as, inclusive entre as mulheres e homens.
ralismo e da diversidade.
Diante deste panorama, ao longo da nossa
Richard Parker (1991), ao reler Gilberto história, a escola não acolhia a mulher. Con-
Freyre, explica que no período colonial exis- forme relata Ribeiro (1987):
tia domínio total (de vida e de morte) do pai
sobre o filho e total submissão da mulher ao A história da Educação das mulheres no Brasil
homem. Imperava o duplo padrão de morali- é bastante singular. Rara, excepcional e inu-
dade (uma moral para o homem e outra para sitada. Seu percurso entrelaça-se ao caminho
a mulher) e polarização exagerada e total dos bizarro da própria história da colonização bra-
sexos. A Casa Grande constituía-se em for- sileira. (...) A trajetória da ausência da educa-
taleza para o patriarca e seus filhos homens ção feminina coincide também com a história
– ocorrendo livremente a relação sexual do da construção social dos gêneros, das práticas
patriarca com várias mulheres e também do da sexualidade e da servidão no Brasil. O cor-
filho homem que aumentava o “rebanho” do po feminino deveria servir ao português. Misci-
pai. Porém, constituía-se em prisão para as genar, verbo muito utilizado para explicar essa
mulheres, já que estas eram completamente mistura, tinha o objetivo de juntar sexualmente
submissas aos homens.10 corpos de raças e etnias diferentes, em condi-
ções sociais igualmente diferentes (RIBEIRO,
Podemos afirmar que, embora existisse no 1987, p.2).
Brasil Colonial um poder patriarcal, nos mol-
des descritos em “Casa Grande e Senzala”, No entanto, podemos nos questionar com
relação a qual corpo feminino essa submis­
10 Atualmente, algumas abordagens totalizantes tendem a ser relativi- são, ligada à miscigenação, estava vinculada:
zadas diante da pluralidade de relações que permeiam o contexto social.
Nesse sentido, é interessante destacar que, mesmo no período colonial, as mulheres escravas eram vistas como futu-
havia mulheres negras e escravas que lideravam fugas, tais como a lendária
Princesa Zacimba Gaba, de uma nação africana de Gabinda, em Angola.
ras esposas, com a missão da miscigenação?
Segundo sua história, “após envenenar seu senhor, fugiu com centenas de Trazidas com o interesse de povoar e ocupar o
escravos, formando um quilombo na região de Itaúnas (...) Os seguidores
deste quilombo costumavam atacar as fazendas e embarcações que tra-
território bra­sileiro, as mulheres brancas por-
ziam escravos para o Porto de São Mateus e os libertavam” (O’DWYER, tuguesas pertenciam a que classes sociais, em
Eliane Cantarino. Quilombos: identidade étnica e territorialidade. Rio de Janei-
ro: FGV, 2002. 268p. (introdução. p. 13-42). Portugal?

67
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Do ponto de vista da Casa Grande, segun- Durante várias gerações, a função de forne-
do Parker (1991), até os cinco ou seis anos, cer alguma forma de “educação sexual” foi de-
menino e menina estavam juntos (educados legada à família, à Igreja ou a pensadores que
pela mãe, avó, tia etc.), quando aconteceu possuíam, em maior ou menor grau, uma liga-
uma ruptura e iniciou-se a educação feminina, ção com o Estado ou a Religião. Exemplo típico
marcada pela ocultação (até mesmo da mens- são os livros “O Diário de Dany” e “O Diário
truação) e vigilância, sendo a mulher educa- de Ana Maria”, de Michel Quoist (1921-1997)
da para o casamento, e contraditoriamente, a – não por acaso um padre, além de psicólogo –
educação masculina, marcada pela iniciação os quais, a pretexto de fornecerem informações
sexual, através da senzala e, algumas vezes, aos jovens, condenavam abertamente a mastur-
do bordel. bação e a homossexualidade. Devemos refor-
çar que, nos anos 1980, com o arrefecimento da
Assim, pode-se dizer que, na sociedade co- ditadura militar e a senilidade da Lei 5.692/71,
lonial, algumas pessoas eram proprietárias de que implantou o tecnicismo na educação brasi-
outras, ou seja, o senhor se constitua em legí- leira, foram surgindo algumas experiências pio-
timo dono, não apenas dos corpos, mas dos neiras, no sentido de (re)integrar a sexualidade
corações e das mentes dos escravos; havia a à vida e (re)integrar a vida na escola.
imposição, por exemplo, da confissão religio-
sa, língua, costumes e indumentária. Portan- Alguns princípios tendem a orientar os tra-
to, nada há de se estranhar que não apenas as balhos atuais sobre sexualidade e gênero nas
escravizadas, mas, também, os escravizados escolas. De maneira geral, os temas referentes
fossem usados como objetos de prazer. É pre- às relações de gênero e sexualidade inserem-
ciso destacar que, diante do controle dos cor- -se como temáticas transversais e suas ações
pos, no período colonial, havia resistências, e são comumente organizadas de duas diferen-
que a figura do “senhor de escravos”, imbuída tes maneiras no programa escolar.
do poder patriarcal, necessitava da força béli-
ca, física (capatazes) e institucional para ele se Em uma delas, as disciplinas curriculares
manter no poder. são situadas como eixos centrais e as temá-
ticas transversais são de diferentes maneiras
Nesse sentido, percebe-se que a experiên- incorporadas aos conteúdos, de acordo com
cia sexual não apenas diferenciava homens e Araujo (2003). Esta perspectiva de trabalho
mulheres (papéis de gênero), mas, também, acontece por meio de ações pontuais; por
dava significado à experiência individual. meio de palestras e assessorias; oferecimento
Desta maneira, não haveria como a sexuali- de projetos interdisciplinares que abordem os
dade ter estado ausente da escola, negada e temas transversais; quando a transversalidade
ocultada do Currículo Escolar, por um longo é incorporada à própria disciplina, por meio
período. de temas; quando é trabalhada por meio do
currículo oculto, sendo esta última abordagem
No que se refere à educação sexual, se pes- uma das “formas mais nítidas e corriqueiras de
quisarmos os livros que foram utilizados nas doutrinação dos alunos usada pelos docentes para
escolas brasileiras, tanto públicas quanto par- moralizar as relações escolares” (ARAÚJO, 2003,
ticulares, veremos que até a década de 1960, p.48-54).
descia-se a minúcias para descrever o apare-
lho fonador, digestivo ou respiratório, mas Outra maneira de se trabalhar com as temá-
nada se dizia sobre os genitais. Alguns livros ticas transversais é situá-las como o eixo do
falavam genericamente de um “aparelho re- trabalho escolar e os conteúdos tradicionais
produtor”, relacionando-o ao “aparelho uriná- serem trabalhados a partir destas temáticas
rio”, mas sem maiores explicações. relevantes no contexto (ARAÚJO, 2003, p.58).

68
CAPÍTULO 8  –  EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE HUMANA

Em ambos os casos, seja por meio de uma carga horária definida. Era uma necessidade
atuação pontual, inserida num contexto de que assim ocorresse, pois a nova LDB (a lei
trabalho com uma organização tradicional 9394/96) só entrou em vigor em 1996 e não
dos conteúdos ou por meio de um projeto havia ainda um espaço garantido para estas
como sendo o eixo do ensino a ser desenvol- discussões, de forma sistematizada. Segundo
vido, trabalhar com gênero e sexualidade é Silva (1995), em 1995 havia 80 professores en-
sempre um desafio pessoal e coletivo, para o gajados no trabalho, sendo divididos em três
qual os enfrentamentos exigem sensibilidade, grupos: de quinta a oitava séries, de terceira e
abertura para o outro, para as novas relações e quarta e um último de primeira e segunda sé-
configurações sociais. ries. Esta divisão era oriunda da especificidade
de cada faixa etária, o que fomentou também
O Trabalho de Orientação Sexual, na Rede que houvesse um acompanhamento semanal
Pública Municipal de Campinas, iniciou-se para educadores da Educação Infantil, que tra-
de maneira tímida em 1984, na EMPG (hoje balhavam Orientação Sexual com crianças de
EMEF – Escola Municipal de Ensino Funda- zero a seis anos.
mental) Padre Melico Cândido Barbosa, no
Parque Tropical. Dentre os temas trabalhados Os Encontros de Orientação Sexual acon-
pelo projeto (incluíam desde masturbação e teciam, regularmente, com palestras, ciclos de
anticoncepção até a homossexualidade) ocu- debates, oficinas e demais eventos destinados
pavam destaque as questões de gênero, ou aos educadores. Também começaram a ocor-
seja, os papéis masculinos e femininos, e as rer os Encontros Municipais de Adolescentes
várias orientações sexuais possíveis. da rede pública municipal e a participação de
representantes do Programa, nos Encontros
Em 1987, construiu-se na Rede um projeto Nacionais de Adolescentes (ENA). Estes últi-
específico chamado “AIDS: uma questão de mos congregavam adolescentes de várias par-
Educação” e, em 1992, a Câmara Municipal tes do país, de redes e sistemas que ofereciam
oficializou o ensino de Orientação Sexual nas projetos ou programas de Orientação Sexual
escolas públicas municipais. A escola era obri- ou de Educação Sexual, e os Fóruns de Ado-
gada a oferecer a Orientação Sexual, porém, lescentes.
era um conteúdo optativo para o aluno, estan-
do a sua participação nas aulas condicionada à Ao longo do tempo, foram sendo consoli-
autorização, por escrito, dos pais. dadas parcerias e apoios junto a OGs (Orga-
nizações Governamentais) e ONGs (Organi-
O trabalho foi sendo ampliado até tornar- zações Não Governamentais), para realização
-se um Programa e abranger todas as EMEFs de eventos voltados à formação de profissio-
(Escolas Municipais de Ensino Fundamental) nais na temática da sexualidade e do repúdio
e várias escolas de Educação Infantil, em mea- à violência e exploração sexual, homofobia e
dos dos anos 90. Campinas foi pioneira nesta outros tipos de discriminação e opressão ba-
experiência e serviu de referência para vários seados na condição de gênero.
programas e projetos, de outros sistemas e re-
des de ensino, tanto públicas quanto particu- Estas realizações foram deixando marcas na
lares. organização escolar e na mentalidade de ges-
tores e docentes da Rede Pública Municipal de
Na década de 1990, a Orientação Sexual Campinas. Muitos dos conteúdos que eram
havia se tornado um componente curricular, explorados, quase que exclusivamente pelo
constando na parte diversificada do currículo Programa, em seus primeiros anos, passaram
das Unidades Escolares e tendo até mesmo a ser incorporados aos componentes curricu-
espaço garantido na matriz curricular, com lares, de uma maneira tanto interdisciplinar

69
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

quanto transdisciplinar. Assim, atendia-se documento prevê a criação de um programa de


ao previsto pela LDBEN, lei 9394/96, e pelos capacitação de gestores encarregados da de-
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais. finição de políticas públicas para habilitá-los
a considerar estes fatores no momento do pla-
No ano de 2009, foi agregado o antigo nejamento de metas e ações governamentais.
“Rede de Programas e Projetos de Orientação (Fonte:http://mecsrv04.mec.gov.br/acs/
Sexual” ao MIPID, denominando-se “Projeto asp/noticias/noticiasDiaImp.asp?id=4462)
Sexuali­dade Humana, Gênero e Etnia”, que
funcionou até 2012, tendo como objetivos a Além da discriminação sofrida por negros/
reflexão pertinente sobre o Corpo e Sexuali- negras, indígenas e mulheres, os homosse-
dade Infantil, Corpo e Sexualidade do Adoles- xuais e transgêneros têm sido alvo de várias
cente, Corpo e Sexualidade do Adulto e Ido- formas de exclusão, até mesmo violenta, tor-
so, Papéis de Gênero (masculino e feminino), nando-se mais clara quando são indivíduos,
Combate à homofobia, Racismo, A questão cuja orientação sexual inclui biotipo ou carac-
do negro, História e Cultura Afro-brasileira. terísticas sexuais secundárias aparentes (voz,
seios, cabelos, postura etc).
Muito embora não exista mais na rede este
Projeto, a diretriz implementada para abordar, Se, nas relações entre homens e mulheres
conjuntamente, as questões de gênero (com heterossexuais, ainda, vigoram preconceitos
todas as suas implicações) e as questões de et- ligados a estereótipos de gênero fundamenta-
nia leva em conta a necessidade de se conso- dos, no machismo, por sua vez, nas relações
lidarem práticas, realmente, democráticas em entre homens e mulheres homossexuais, a
nossas escolas, na tentativa .da construção de discriminação é alarmante e evidente em mui-
uma escola plural, inclusiva e acolhedora. E, tos espaços sociais, repercutindo em inúme-
para tanto, o educador é o sujeito que deve sa- ros atos de agressão física. Na escola, é visível
ber olhar ao seu redor, enxergando para além o preconceito e, nesse sentido, torna-se im-
da aparência, e buscar a superação de situa- prescindível o enfrentamento desta realidade
ções de discriminação, preconceito e intole- social nos contextos de educação formal.
rância. Ele deve educar o seu olhar, para saber
perceber e acolher a diversidade étnica, cultu- Em grande medida, o preconceito se origina
ral, social, de posturas e de práticas. pelo desconhecimento acerca da sexualidade
humana como uma construção sociocultural.
Vale destacar que a abordagem conjunta de Em nossa sociedade, essa construção tende a
questões relacionadas à etnia e ao gênero é fixar a norma heterossexual como sinônimo
uma tendência consagrada pelo MEC, quando de inteligibilidade entre as práticas sexuais.
este órgão cria uma Coordenadoria de Políti- Essa norma, consequentemente, tende, tam-
cas Educacionais para a Diversidade Étnico- bém, a situar num campo de abjeção os su-
-Racial, de Gênero e Sexualidade - DIREM/ jeitos que não a reproduzem em suas vidas e
SUDEB/SEC, e quando afirma: que orientam suas práticas sexuais de distin-
tas maneiras.
As políticas públicas deverão levar em con-
ta questões de gênero e raça. É o que prevê o Tanto em relação às questões étnico-raciais
Protocolo de Intenções para Implementação do quanto em relação às questões de gênero,
Programa de Fortalecimento Institucional para acreditamos que o debate honesto e franco,
a Igualdade de Gênero e Raça, a Erradicação que leve à explicitação dos pré-conceitos en-
da Pobreza e a Geração de Emprego (GRPE), volvidos em nossos juízos de valor e na des-
assinado (...) entre o governo brasileiro e a Or- construção do senso comum, seja o caminho
ganização Internacional do Trabalho (OIT). O que cabe à escola. A via jurídica tem sido,ho-

70
CAPÍTULO 8  –  EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE HUMANA

je, acionada, na tentativa de garantir os direi- crianças,jovens e adultos têm o direito de vi-
tos das mulheres, dos negros, indígenas e de ver o contexto escolar e expressar as suas re-
outros grupos, que, historicamente, sofreram des de pertencimentos, independente de cor,
opressão devido às suas condições étnicos-ra- sexo, gênero. Se o contexto escolar não pro-
ciais. blematiza os sentidos opressores que dificul-
tam a convivência entre as pessoas, ou se as
De fato, a via judicial acaba sendo a única aulas revelam as dimensões conflituosas das
maneira para a defesa, quando muitos ainda relações de gênero, sexualidade e etnicidade,
não assimilaram os valores mais básicos da ci- as mesmas precisam ser constantemente po-
dadania, com tudo o que ela implica em nossa lemizadas, a fim de superar, coletivamente, as
sociedade, nos dias de hoje. Assim, a educação restrições que se materializam no cotidiano
pode ser um instrumento de formação ética e escolar, pois lá também pode ser o local de su-
moral que tanto minimize a necessidade de os peração das desigualdades sociais que perpas-
grupos oprimidos recorrerem às vias jurídicas, sam nossa sociedade.
como também de eles terem a coragem e os
recursos de informação para recorrerem a elas A escola é um espaço de encontro das crian-
quando necessário. ças, jovens e adultos. É um espaço propício
para a promoção coletiva de valores. E, tendo
O preconceito e a desigualdade social per- em vista as atuais tendências de produção de
sistem para além da escola, e as alunas e alu- conhecimento e o desenvolvimento de mate-
nos convivem, constantemente, com essas riais e metodologias para a prática pedagógica
assimetrias em suas vidas. Pensar a escola e voltados às temáticas da sexualidade, gênero
as pessoas que nela se inserem como isentas e etnicidade, a constante formação docente
dessas configurações culturais, é no mínimo deve ser uma diretriz para qualificar as atua-
uma visão romântica desse espaço. Todas as ções nas escolas.

71
Capítulo 9

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Introdução taram a implementação da EA como prática


educacional no país, passando a ser incorpora-
Conhecer a trajetória da Educação Ambien- da no currículo escolar brasileiro. A “Primeira
tal (EA) é um passo importantíssimo para a Conferência Internacional das Nações Unidas
inserção, o desenvolvimento e sua integração sobre Meio Ambiente” aconteceu em Estocol-
com o currículo escolar. Considerando a EA um mo, em 1972, quando a Educação Ambiental
processo dinâmico - que deve acompanhar as ganhou um papel de destaque na recomenda-
grandes mudanças que ocorrem na sociedade, ção No 96, da Declaração de Estocolmo, sen-
explorando seu conhecimento e considerando do vista como uma “importante estratégia” na
a sua dimensão sócio ambiental, cultural e po- busca da qualidade de vida.
lítica- torna-se necessário novas discussões e
implementações acerca das propostas descri- Em 197712 , em Tbilisi, na Geórgia, a ne-
tas, anteriormente, nesta Diretriz. cessidade de uma educação com o olhar para
a sustentabilidade mobilizou a sociedade e as
Pesquisas e discussões sobre o assunto têm autoridades, resultando na promoção de uma
ocorrido em várias instituições e organizações conferência específica para discutir a temáti-
da sociedade, gerando a produção de biblio- ca: ”Conferência Intergovernamental de Edu-
grafias, leis, programas e projetos para apoiar cação Ambiental”. Esta se constituiu em um
a construção de políticas públicas e diretrizes grande salto para uma nova visão sobre o que
para a efetivação na educação formal e não seria a Educação Ambiental, que passou, en-
formal. Tal movimento possibilita e incentiva tão, a ser considerada como o principal cami-
o envolvimento da sociedade nas discussões nho para a solução da problemática ambiental.
e ações, provocando mudanças na forma de Nessa Conferência, deu-se importância aos
pensar e de interagir com o meio. enfoques interdisciplinares e à necessidade de
uma participação ativa e responsável de cada
9.1. Breve Histórico da Educação indivíduo e da coletividade.
Ambiental
Em 1988, foi promulgada a Constituição da
A partir dessas discussões, podemos pensar República Federativa do Brasil13 que propõe em
no histórico da EA e compreender como essa seu artigo 225, parágrafo VI: promover a educação
trajetória foi sendo aprimorada, possibilitan- ambiental em todos os níveis de ensino e a conscienti-
do avanços nas ações e reflexões acerca desta zação pública para a preservação do meio ambiente.
temática. A partir da década de 70, diversos Dessa forma, a Portaria 678 do MEC (14/5/91)
documentos governamentais11 regulamen- 12 http://www.ambiente.sp.gov.br/wp-content/uploads/cea/Tbi-
lisicompleto.pdf
11 Serão citados os mais relevantes que se remetem ao currículo escolar 13 Capítulo VI, intitulado “Do Meio Ambiente”

73
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

resolveu que os sistemas de ensino deveriam O histórico da implementação de leis no


contemplar, em todos os níveis e modalidades, Município de Campinas data de 1989, com a
os temas ou conteúdos referentes à EA. Lei No 6.151 que institui o Programa de Edu-
cação Ambiental. Em 1999, a Lei No 9.973
Dentre as conferências, destacam-se a criou o “Programa de Educação Ambiental e
“Conferência de Estocolmo” ou “Conferência Conscientização Pública para a Preservação e
da ONU sobre o Meio Ambiente e o Desen- Recuperação do Meio Ambiente”. Essas leis
volvimento Humano”, realizada na Suécia, iniciaram um processo de debate relacionado
em 1972 e a “Conferência Rio-92” ou “Confe- às questões ambientais, em vários segmentos
rência da ONU sobre o Meio Ambiente e De- da sociedade. Em 2015, foi promulgada a Lei
senvolvimento”, no Rio de Janeiro, em 1992. 14.961, Lei Municipal de Educação Ambien-
tal, que estabelece os princípios e os objetivos
Como apoio político e com o objetivo de
da Educação Ambiental e define as diretrizes
instrumentalizar a legislação, foi criado, em
e instrumentos para a sua implantação no Mu-
1994, o “Programa Nacional de Educação Am-
nicípio de Campinas.
biental” – PRONEA. Em 1996, foram elabo-
rados os novos Parâmetros Curriculares do A Secretaria Municipal de Educação de
MEC, os quais definiram o Meio Ambiente
Campinas (SME) tem acompanhado todo o
como um tema a ser tratado de modo trans-
movimento suscitado pelas questões ambien-
versal no currículo, como forma de garantir
tais. De acordo com alguns relatos e registros,
a sua inserção nas escolas brasileiras, porém
desde 2001 várias ações são realizadas na
possibilitando a cada região do País contem-
rede municipal de ensino; esse movimento foi
plar as suas peculiaridades no currículo.
acontecendo com vários atores/grupos e em
Destaque deve ser dado à Política Nacional locais diferenciados, atendendo professores e
de Educação Ambiental – PNMA (Lei 9.795/99), alunos da educação infantil e do ensino funda-
instituída em 1999, que estabeleceu as linhas mental, envolvendo a comunidade.
de atuação formal e não formal para que se
promovessem ações que estimulassem a visão Segundo Maldonade (2006):
crítica e a postura proativa por todos os setores
[...] houve várias formas de organização para a
da sociedade. Essa lei tornou o Brasil um país
de vanguarda na América Latina quanto a pos- discussão da EA no currículo, desde grupos de es-
suir uma legislação específica para a EA. Nela, tudos de Ciências e de Geografia, passando por
o artigo 9º reforça que a EA deverá ser desen- trabalhos internos das escolas e, a partir de 2001,
volvidas no âmbito das instituições de ensino pela constituição de um Grupo de Trabalho em
públicas e privadas, a começar pela educação EA, para construir a proposta da Rede Municipal
básica, em todos os seus segmentos até a edu- de Ensino de Campinas (RMEC) (...) Neste Gru-
cação superior e a educação profissional. O ar- po de Trabalho, a metodologia foi construída com
tigo 10º da Lei destaca que a EA será uma prática discussões teóricas, trocas de experiências, estu-
educativa integrada, contínua e permanente em todos do do meio e participação das escolas em even-
os níveis e modalidades do ensino formal. tos ambientais comemorativos com produções de
alunos, educadores e comunidade. Vale salientar
Em 2012, foi publicada a Resolução No 2, de 15 que este Grupo foi constituído por educadores de
de junho que estabelece as Diretrizes Curriculares diferentes disciplinas e modalidades de ensino, ou
Nacionais para a Educação Ambiental, orientando seja, o enfoque era inter, multi e transdisciplinar.
sua implementação nas esferas estaduais e muni- (MALDONADE, 2006, p. 8).
cipais. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
em 2007 publicou a Lei No 12.780 que instituiu a Muitas práticas relacionadas à EA, no currí-
Política Estadual de Educação Ambiental. culo, podem ser observadas nos Projetos Peda-

74
CAPÍTULO 9  –  EDUCAÇÃO AMBIENTAL

gógicos, dado que esses registros evidenciam o para se obter avanços e consolidação das
desenvolvimento dos trabalhos nas Unidades ações, com base nos documentos oficiais re-
Educacionais. Outra forma de envolvimento lacionados à Educação Ambiental e com aten-
da educação ambiental entre os profissionais ção especial à Política Municipal de Educação
é a participação destes, em formações ofereci- Ambiental do Município de Campinas (publi-
das pela Coordenadoria Setorial de Formação cada em 2015), bem como com o apoio dos
e através de convênios e parcerias com outras textos e documentos já produzidos relaciona-
Secretarias, Instituições públicas e/ou priva- dos a essa temática:
das e Universidades. Essas formações são ofe-
recidas aos gestores, professores e monitores/ O objetivo fundamental do estabelecimento das
agentes da Educação Infantil e do Ensino Fun- Diretrizes de Educação Ambiental em âmbito
damental, em diferentes espaços geográficos, municipal deve ser o de fornecer embasamento
em vários formatos, como: Cursos, Grupo de teórico prático que subsidie a práxis pedagógica
Estudos, Educação a Distância, Extensão em dos profissionais da Educação Infantil ao Ensino
Universidades, Palestras, Seminários. Fundamental, possibilitando a efetiva integração
da Educação Ambiental nas ações educativas,
Além do trabalho desenvolvido pelas/nas baseadas no contexto de cada unidade escolar,
escolas e no seu entorno, ocorrem estudos do bem como nortear os programas e projetos de
meio com atividades que possibilitam o tra- Educação Ambiental municipais. (SÃO PAU-
balho com as questões ambientais, de forma LO: DIRETRIZES PEDAGÓGICAS E PRO-
a proporcionarem às crianças o contato com GRAMA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
os espaços institucionalizados14 e áreas de im- AMBIENTAL, 2011, s/p.).
portância ambiental da cidade15. São locais que
são apresentados aos alunos para que possam 9.2. Educação Ambiental e o Currículo
vivenciar e se apropriar dos ambientes de uma
região multifacetada, bem como possibilitan- A concepção de Educação Ambiental, pro-
do o despertar e/ou a ampliação do sentimento posta neste documento, deve proporcionar
de pertencimento do cidadão a estes espaços. um olhar para além dos aspectos naturais, pro-
movendo análise geossistêmica, a percepção
Esse cenário descrito acima evidencia os das relações homem-natureza e socioambien-
movimentos realizados, ao longo do tempo, tais, em uma abordagem de mundo crítica e
na REDE e nos mostra que as discussões e os sistêmico-integradora/integradora/holística16.
projetos relacionados à Educação Ambiental Pensar em uma Educação Ambiental Crítica
sempre estiveram (e estão) presentes nas Uni- que gere mudanças e transformações frente a
dades Escolares. O objetivo de revisitar este atual crise econômica, ética e socioambiental
documento é para se afinar as concepções de que estamos vivendo, deve considerar que:
trabalho e se pensarmos em algumas diretri-
zes de Educação Ambiental para o trabalho [...] a Educação Ambiental envolve o entendi-
em rede. mento de uma educação cidadã, responsável,
crítica, participativa, onde cada sujeito aprende
Desta forma, é necessário refletir sobre com conhecimentos científicos e com o reconhe-
quais encaminhamentos pode-se construir cimento dos saberes tradicionais, possibilitando
14 Espaços institucionalizados no município, além das escolas, a tomada de decisões transformadoras, a partir
são espaços utilizados para o desenvolvimento de ações de Edu- do meio ambiente natural ou construído, no qual
cação Ambiental Não Formal, como os Centros de Visitantes das
Unidades de Conservação, Parques Urbanos, Centro Municipal de
as pessoas se inserem. (DIRETRIZES CURRI-
Educação Ambiental, Espaços Culturais e outros. CULARES NACIONAIS PARA A EDUCA-
15 São áreas de importante relevância ambiental na cidade e re- ÇÃOAMBIENTAL, 2013, p. 2).
gião utilizadas para estudos do meio. Ex: rios, nascentes, pedrei-
ras, áreas de proteção permanente. 16 Holístico: sentido de inteiro, completo, vem de Holo ou Hol.

75
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Dentro dessa concepção de educação am- , a implantação das ações da “Agenda 21 Lo-
biental, as propostas pedagógicas e projetos cal”19 , o “Projeto Com vida”20 e a consolidação
desenvolvidos pelos educadores contemplam do “Projeto Horta Escolar”21 , de forma crítica,
e valorizam as experiências e saberes que as para que os sujeitos envolvidos possam agir
crianças, adolescentes, jovens e adultos vi- localmente e pensar globalmente, na constru-
venciam no cotidiano. O principio é pensar ção de uma sociedade mais justa e sustentável.
a Educação Ambiental como processo de for-
mação, focando na resolução de problemas, A partir de todas essas considerações, fica o
potencializando o trabalho interdisciplinar, desafio de desenvolver projetos nas nossas Uni-
coletivo e democrático de forma permanente, dades Educacionais, envolvendo as áreas de co-
possibilitando a construção do conhecimento nhecimento e o coletivo, com intenção de trans-
de forma autônoma e participativa. formar o conhecimento em práticas sociais,
possibilitando o desenvolvimento do indivíduo,
da comunidade, do cidadão, numa relação ética
9.3. Ações Pedagógicas
entre homem-natureza, homem-homem, ho-
As ações pedagógicas devem ser construí- mem-sociedade, sociedade-natureza.
das e estruturadas a partir da realidade cog-
As consequências desse trabalhado reflexivo
nitiva, afetiva e social do sujeito (criança/alu-
gera novas possibilidades na escola e o trabalho
no). A partir desta realidade e considerando os no/com o coletivo fortalece outras maneiras de
princípios da EA Crítica, a escola pode opor- pensar a escola, sua realidade e suas especifici-
tunizar ações e atividades que possibilitam dades, pois, dessa forma, os espaços coletivos,
o desenvolvimento dos sentidos, as relações como o Grêmio Escolar, o Conselho de Escola, a
com o outro que valorize a afetividade, o res- CPA, os Coordenadores de Ciclo, a rádio escolar,
peito e a reciprocidade (outricidade)17 , intera- o Com – Vida, as hortas escolares, entre outros
ção, responsabilidade e participação coletiva. podem ser implementados, fortalecidos e/ou con-
solidados com as discussões e ações pedagógicas,
As escolas realizam inúmeras ações am- a partir dos projetos de Educação Ambiental.
bientais que possibilitam o envolvimento efe-
tivo das crianças, jovens e adultos, educadores
e comunidade, tais como: a pesquisa e o tra-
balho com projetos, a leitura, as rodas de con-
versa, as assembleias, estudos do entorno, es- tividade para a construção de conhecimentos, valores, habilidades,
atitudes e competências voltadas para a construção de uma socie-
tudos do meio, horta e alimentação saudável e dade de direitos, ambientalmente justa e sustentável. Uma escola
outras que tem favorecido o desenvolvimento sustentável é também uma escola inclusiva, que respeita os direitos
e a sensibilização dos alunos em relação à te- humanos e a qualidade de vida e que valoriza a diversidade.
mática ambiental. Entretanto, é fundamental 19 A Agenda 21 Local é um instrumento de planejamento de polí-
ticas públicas que envolvem tanto a sociedade civil e o governo em
que se conste, no PP da unidade escolar, as um processo amplo e participativo de consulta sobre os problemas
ações e projetos relacionados à Educação Am- ambientais, sociais e econômicos locais e o debate sobre soluções
para esses problemas através da identificação e implementação de
biental, de forma a garantir a permanência e ações concretas que visem o desenvolvimento sustentável local.
continuidade dessas propostas na escola, en- (inserir o link de acesso)
tre elas: a construção da “Escola Sustentável”18 20 A Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida - Com-
-vida - é uma forma de organização que cria conselhos de meio
17 Outricidade palavra utilizada pelo autor Mauro Grun (2003) ambiente nas escolas potencializando as ações de EA com a comu-
como sinônimo de alteridade, no entanto alteridade representa a nidade escolar, com princípios democráticos e participativos com
relação, interação e dependência do outro. Seria a capacidade de foco na sustentabilidade socioambiental e na qualidade de vida.
um ser humano se colocar no lugar de outro ser humano. Segundo 21 Horta Escolar: é um programa criado pelo Município através da
Grün, a outricidade também representaria a capacidade de nos co- Lei Municipal 14.453/12, que busca estimular a construção de es-
locarmos no lugar do outro, no entanto do outro ‘Natureza’. paços verdes nas unidades que contemplem pomares, hortas e jar-
18 Escola Sustentável: Trata-se de um projeto que pensa a escola dins de ervas medicinais e ornamentais. Tais espaços têm o intuito
como um local, onde se desenvolvem processos educativos perma- de apoiar e incentivar atividades interdisciplinares com enfoque na
nentes e continuados, capazes de sensibilizar o indivíduo e a cole- alimentação, saúde, qualidade de vida, cultura e meio ambiente.

76
Capítulo 10

PESCO – PESQUISA E CONHECIMENTO NA ESCOLA

Introdução de forma negociada, são definidos prazos e


compromissos para as outras fases do traba-
Articulado aos princípios fundamentais lho, tais como: o estudo em diversas fontes
destas Diretrizes, o “Programa Pesquisa e Co- de informação, a observação dos fenômenos
nhecimento na Escola” (PESCO) foi criado em selecionados, a sistematização e análise dos
2015 para apoiar o trabalho de professores do dados obtidos e a preparação de materiais e
1º ao 9º ano de Ensino Fundamental e EJA II, apresentações para socializar o conhecimento
no desenvolvimento da postura investigativa construído.
dos alunos, por meio da prática da pesquisa
científica escolar. Trata-se de “educar pesqui- A relação estabelecida entre professor e alu-
sando, pesquisar educando”, como define Pedro no é a base para a construção colaborativa do
Demo (2010, p. 20). Além da promoção do projeto de pesquisa, na qual se encontram o
espírito investigativo, são contemplados, tam- exercício da criatividade dos alunos e a orien-
bém, os princípios de: valorização da experi- tação docente na construção dos saberes que
ência extraescolar dos alunos; trabalho com envolvem a prática da pesquisa. Partilhamos
conteúdos contextualizados nas vivências e das considerações do professor Durival Gas-
realidades locais; integração entre as áreas de paroto quando ele enfatiza a dimensão polí-
conhecimento e educação para a cidadania. tica da prática colaborativa que envolve pro-
De acordo com o autor acima: fessores, alunos e comunidade escolar como
um todo:
Quando o aluno aprende a lidar com método, a
planejar e a executar pesquisa, a argumentar e Outra dimensão a que nos remete o exercício do
a contra argumentar, a fundamentar com a au- professor pesquisador é a prática colaborativa
toridade do argumento, não está só “fazendo ci- entre os participantes do processo. A ação edu-
ência”, está igualmente construindo a cidadania cativa não é uma ação isolada, é sempre um ato
que sabe pensar (DEMO, op. cit., p. 20). coletivo que envolve professor/aluno e professor/
professores. Ela não se desenvolve mais de forma
Na concepção do PESCO, o trabalho com a isolada, individual, mas de maneira coletiva, em
pesquisa científica escolar se caracteriza pela grupos, porque a reflexão da prática pedagógica
relação de parceria entre alunos e professores, leva a uma ação social, a um objetivo de mudan-
começando na definição dos temas de inte- ça social (GASPAROTO, 2015, p.7).
resse para a comunidade escolar. Em diálo-
go com os alunos, são formuladas perguntas As pesquisas propostas em parceria com
sobre os problemas e assuntos escolhidos e, o PESCO têm uma natureza situada, ou seja,
assim, as temáticas levantadas vão se configu- elas partem daquilo que instiga a reflexão de
rando como objetos de pesquisa, bem como, uma determinada comunidade de alunos e

77
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

professores sobre questões que perpassam a cias, História, Língua Portuguesa, Matemática
realidade de um território concreto. Contudo, e Artes de nossa Rede.
isso não significa que essas se limitem a temas
locais, mas que almejam investigar a relação Os professores atuaram com os pesquisa-
entre o local e o global, refletindo sobre a rea- dores em diversas fases, selecionando con-
lidade complexa do tema abordado, conside- ceitos, temas e assuntos a partir de variadas
rando sua relação com questões econômicas, fontes e mídias, propondo textos, mapas, grá-
sociais, políticas, ecológicas e científicas mais ficos e infográficos a serem explorados com os
amplas, dialogando com soluções pesquisadas alunos na discussão da RMC. Os principais re-
em outras localidades, informando e qualifi- sultados desta parceria foram o Atlas Escolar
cando propostas de intervenção e mobiliza- da Região Metropolitana de Campinas (CRIS-
ção. CUOLO, 2013), concebido como um material
potencialmente mobilizador de pesquisas a
serem desenvolvidas nas escolas, abordando a
10.1. Histórico
região em que os alunos habitam ou circulam,
Experiências anteriores com projetos de e a própria metodologia de construção perso-
formação de nossa Rede criaram as condições nalizada de materiais didáticos com apoio de
para que este Programa fosse idealizado. As- geotecnologias.
sim, o PESCO se coloca em continuidade his-
tórica com o projeto “Ciência na Escola” que, 10.2. Formação no Programa
por mais de uma década (1997-2010), formou,
direta ou indiretamente, centenas de professo- Os cursos oferecidos pelo PESCO são rea-
res que incorporaram, nas suas práticas peda- lizados à distância por meio de um Ambiente
gógicas, a metodologia científica. Tal projeto, Virtual de Aprendizagem (AVA), permitindo o
criado e conduzido pelo LEIA (Laboratório de desenvolvimento de estudos, atividades e in-
Educação e Informática Aplicada), da Facul- terações assíncronas, ou seja, que não exijam
dade de Educação da UNICAMP, desdobrou- a presença concomitante de formadores e cur-
-se em um curso de especialização, no ano de sistas. Em nosso espaço virtual, os educadores
2008, intitulado “A Pesquisa e a Tecnologia na são assessorados na construção de seus proje-
Formação Docente”, formando trinta e seis tos e na condução de suas pesquisas com os
profissionais da Rede Municipal de Campinas. alunos, discutindo expectativas, experiências
e resultados de forma colaborativa. Ao lon-
O PESCO, também, se coloca em continui- go do processo, conteúdos produzidos nas
dade com as ações formativas desenvolvidas escolas participantes, a partir das experiên-
a partir dos convênios de cooperação técnica, cias locais com a pesquisa, são disseminados
firmados entre a EMBRAPA Monitoramento e discutidos no AVA, tornando-se material
por Satélite e a Secretaria Municipal de Educa- formativo para todos. Ao final do ano letivo, é
ção de Campinas, desde 2009. A primeira eta- realizado, presencialmente, o Fórum Estudantil
pa do convênio ocorreu no período de 2009 de Pesquisa, possibilitando a integração de
a 2012 e propiciou o trabalho colaborativo alunos e educadores em evento próprio para
de um grupo constituído por pesquisadores compartilhar o conhecimento gerado. Afinal,
da EMBRAPA, do INPE e 41 professores dos como diz Pedro Demo, “Pesquisa começa na in-
componentes curriculares de Geografia, Ciên- fância, não no mestrado!” (DEMO, op. cit., p. 22).

78
CAPÍTULO 10  –  PESCO – PESQUISA E CONHECIMENTO NA ESCOLA

79
Capítulo 11

CURRÍCULO: EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Introdução gregos chamavam de polis, e, atualmente, um


Estado-Nação lhe atribui um conjunto de di-
Ao longo da história da humanidade, em reitos e obrigações, sob vigência de uma cons-
diversos momentos, como na Grécia e na tituição.
Roma da Idade Antiga, e na Europa da Idade
Média, ocorreram diferentes entendimentos Observam-se, assegurados na Constituição
sobre o conceito de cidadania. Atualmente, da Repú­blica Federativa do Brasil, os funda-
este conceito insere-se no contexto do mentos do Estado Democrático de Direito,
surgimento da Modernidade e da estruturação resultado de construção de um processo his-
do Estado-Nação. tórico, quando a lei maior aborda que:
Segundo Milton Santos (1993), a cidadania é [...] a República Federativa do Brasil, formada
um aprendizado social, tendo passado por um pela união indissolúvel dos Estados e Municí-
processo de construção ao longo da história. pios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Levando em consideração a realidade ociden- Democrático de Direito e tem como fundamentos:
tal, a construção deste conceito tem sua ori-
gem com a aquisição da qualidade de cidadão, i - a soberania;
como membro de um Estado-Nação, ocorrida
na Europa, no século XVII; em seguida, veio ii - a cidadania;
no século XIX, a conquista de direitos coleti-
vos, como o direito das classes trabalhadoras iii- a dignidade da pessoa humana;
formarem associações. Depois, vieram os di-
reitos sociais conquistados já no século XX, iv - os valores sociais do trabalho e da livre ini-
tendo como exemplo o sistema do Bem-Estar ciativa;
Social. Dessa forma, o significado de cidadão
para os sujeitos e para a sociedade não foi pro- v - o pluralismo político.
duzido de modo abrupto e nem linear, mas
nas idas e vindas, sendo lentamente formado Parágrafo único. Todo o poder emana do povo,
por meio da história, das relações sociais, re- que o exerce por meio de representantes eleitos
sultando em conquistas e etapas vencidas. ou diretamente, nos termos desta Constituição
(BRASIL. Constituição da Repú­blica Fede-
Na sua origem etimológica, o termo cida- rativa do Brasil, 1988, s/p.).
dania tem origem no termo latim civitas, que
significa “cidade”. Estabelece um estatuto de Assim, a discussão sobre cidadania na edu-
pertencimento de um indivíduo a uma co- cação busca formar alunos críticos, participa-
munidade politicamente articulada, a qual os tivos e no gozo consciente dos seus direitos

81
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

e deveres, com apropriação de conhecimento Assim, a educação escolar, em seu escopo


da qualidade social, por meio do currículo es- de promover a formação integral dos alunos,
colar, em sua relação com o desenvolvimen- por meio da produção e difusão de conheci-
to científico e tecnológico. Para Galli Soares mentos e da cultura, torna-se espaço social
(2006): privilegiado para sedimentar a formação cida-
dã. Para tanto, são necessárias ações que pro-
[...] a relação entre cidadania e educação amplia porcionem a construção cidadã no cotidiano
seu sentido na medida em que o desenvolvimen- da organização, dentro e para além do espaço
to científico e tecnológico complexifica processos, escolar, por meio de uma gestão educacional
eleva a qualidade de bens culturais e amplia o que inclua as comunidades locais numa inter-
fosso entre a participação democrática e a apro- locução capaz de fazê-las, também, responsá-
priação dos benefícios da revolução científica veis pela escola. Isto é, uma gestão que possi-
tecnológica por todas as pessoas (GALLI SOA- bilite debates e discussões sobre as questões
RES, 2006, p. 29). do cotidiano, de modo que as comunidades
tenham significativa participação.
Para a autora, o conhecimento indispensá-
vel para discernimento e compreensão crítica Essa forma de gestão imprime a ideia de
dos mecanismos de comunicação e poder pas- que a responsabilidade pela educação cabe à
sa pelo sistema educacional e pelo currículo sociedade como um todo, independente do
escolar em seu compromisso com a qualidade nível econômico e tecnológico das comuni-
social da educação. dades, desde que desenvolvidas socialmente.
Como afirma Luck (2006), é necessário toda
Por educação cidadã, portanto, compreen- uma aldeia para educar uma criança. Com
de-se um processo de ensino e aprendizagem essa frase, a autora nos remete à educação e
que promova a cidadania do educando, para luta de classes de Ponce (1986) ao retratar o
que ele possa participar de forma crítica e au- comprometimento das comunidades primiti-
tônoma da sociedade. Gohn (1999), em suas vas na educação das crianças, atribuindo a to-
análises sobre a sociedade atual e a demanda dos a responsabilidade. Retomar a participa-
por uma educação contextualizada, “trabalha ção cidadã da comunidade é, hoje, parte dos
com a perspectiva da Educação como pro- desafios da gestão educacional escolar, previs-
motora de mecanismos de inclusão social, to no Projeto Político Pedagógico, que estabe-
que promove o acesso aos direitos de cidada- lece a participação ativa da comunidade nos
nia [...]” (GOHN, 1999, p.12). Destaca ainda espaços abertos para analisar e decidir sobre
questões sobre o aumento da demanda por dificuldades e suas superações, por meio de
educação, a qualidade e tipo de formação a ações realizadas, com e pelas crianças, jovens
ser oferecida. Nesta perspectiva, a respeito do e adultos, educadores e as famílias ou respon-
que se espera da escola para a qualificação da sáveis legais, num processo de construção e
cidadania, que vai além das reivindicações de exercício da cidadania.
igualdade e defesa de seus interesses, Mello
(1994) destaca: A cidadania, vivenciada pela comunidade
escolar, promove um aprendizado coletivo, o
Aquisição de conhecimentos, compreensão de respeito mútuo e a convivência democrática e
ideias e valores, formação de hábitos de convi- solidária. Dessa forma, transforma o conheci-
vência num mundo cambiante e plural, são en- mento em atitude cidadã, desvelando sonhos
tendidas como condições para que essa forma em possibilidades, por meio das trocas coti-
de exercício da cidadania contribua para tornar dianas, de forma consciente e crítica. As ações
a sociedade mais justa e solidária (MELLO, cidadãs devem ser contempladas no espaço
1994, p.36). escolar para podermos caminhar em direção

82
CAPÍTULO 11  –  CURRÍCULO: EDUCAÇÃO E CIDADANIA

ao pleno exercício da cidadania. Este cami- social e racionalmente construída (BAIRERLE,


nhar se fortalece quando vinculado ao ensino 2000, p.212).
dos conceitos, procedimentos e atitudes, tra-
balhados como conteúdos escolares de forma A cidadania engendrada como prática,
interdisciplinar ou vivenciados, diariamente, como exercício diário precisa estar presente
com ações que promovam uma interação com no cotidiano das escolas para além do currí-
o outro. culo. Os direitos e deveres do cidadão fazem
parte das relações estabelecidas, tanto no in-
Assim, o objetivo do educador é contribuir terior das es­colas como também para com o
para a formação integral dos alunos, por meio seu entorno e comunidade mais ampla. O ci-
da produção e difusão de conhecimentos e da dadão não pode ficar restrito às ações, muitas
cultura, dentro e fora do ambiente escolar. Para vezes restritivas, da política, ou seja, a ação da
isto, são necessárias a elaboração e a execução cidadania deve transcender limites para bus-
de atividades que promovam a participação car a equidade nas condições do cidadão, seja
social e política de todos (alunos, professores, quanto às oportunidades, direitos e deveres,
gestores, pais ou responsáveis legais) no con- dado que a equivalência entre os indivíduos
vívio democrático, para o efetivo exercício da deve ser resultado de atuação política e social.
cidadania, segundo Ganzeli (2011).
No Brasil, a partir da redemocratização,
É preciso promover a participação real dos iniciada ao longo dos anos 1980, a noção de
alunos e suas famílias nos órgãos colegiados, nova cidadania ou cidadania ampliada ganhou
incentivar a criação de agremiações, incluí-los espaço por meio de ações encampadas pelos
nas estruturas participativas, tais como, Con- movimentos de lutas por demandas relacio-
selho de Escola, Grêmios Estudantis, Con- nadas à vida urbana, como asfalto, moradia,
selhos de Ciclo e Termos, Assembleias de trans­porte, saúde, educação e outros. Esses
Classe, Comissão Própria de Avaliação, entre movimentos tanto são frutos, como aconte-
outras, para que expressem sua vontade e sua ceram concomitantemente às lutas realizadas
voz, participando das decisões tomadas den- pelos movimentos sociais, contra a Ditadura
tro da escola, para uma educação emancipa- Militar que assolou o país de 1964 a, aproxi-
dora de sujeitos. madamente, 1986.

11.1. Assessoria de Educação e A nova cidadania compreende os direitos


Cidadania advindos não somente de definições legais e
jurídicas, mas se percebe seu “nascimento”
As pessoas não se reúnem só porque gos- nas questões concretas das lutas diárias, pre-
tam de estar juntas, por um gesto de solida- sentes nas mais diferentes esferas. Como já
riedade cristã, embora muitas vezes existen- apontado na edição anterior das Diretrizes,
te e válida. Elas se reúnem porque precisam, a cidadania é compreendida como apren-
porque têm necessidades e, discutindo suas dizado social, portanto, desdobramento de
urgências constroem interesses coletivos, des- disputas históricas e resultante desses pro-
cobrem causas e consequências, aprendem a cessos. Dessa forma, a prática da cidadania,
falar, a ouvir, a planejar, ou seja, a ação pro- compreendida na esfera dos direitos e como
duz mudanças concretas que melhoram a sua resultante de disputas em determinado con-
vida. A consciência coletiva de saber-se autor texto sócio-histórico, apresenta também as
de transformações na sua rua, no seu bairro, contradições e movimentos dessas disputas
na sua cidade é a ferramenta fundamental, e espaços para que novas necessidades sur-
através da qual forja-se este novo princípio jam e se transformem em novos direitos. Se-
ético-político, estruturando uma solidariedade gundo Dagnino (2004):

83
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

A nova cidadania requer [...] a constituição de sível presenciar resquícios dessa “cidadania
sujeitos sociais ativos (agentes políticos), definin- concedida” (Sa­les, 1994) e, por vezes, pratica-
do o que consideram ser seus direitos e lutando da como dádiva daqueles que exercem o po-
para seu reconhecimento enquanto tais. Nes- der, no ambiente escolar. Ademais, em vários
se sentido, é uma estratégia dos não-cidadãos, outros momentos, vê-se o esgarçamento de
dos excluídos, uma cidadania “desde baixo”. espaços e brechas para o exercício de outra ci-
(DAGNINO,2014,P.104) dadania, praticada como disputa de interesses,
em busca da conquista de maiores direitos.
Logo, ao se redimensionar o conceito de
cidadania con­ cedida, elaborado por Teresa Na escola, o assunto cidadania pode estar
Sales (Revista Brasileira de Ciências Sociais, presente como currículo, mas, assim como
1994), ao estudar os direitos no Brasil, perce- outros temas, a sua percepção extrapola,
be-se que essa caracterização tanto integra o uma vez que é praticando, exercitando que se
processo histórico quanto o de direitos como aprende e se vive a cidadania. Portanto, a ci-
cidadão. Nesse sentido, a cidadania conce­ dadania, embora possa ser discutida nas salas
dida, exercida ao longo da história do Brasil, de aulas e compreendida em sua trajetória his-
compreendia os sujeitos como “merecedores” tórica, deve ser vivenciada, para se configurar,
de favores, sendo estes decididos e providos de fato, em um aprendizado. E a escola pode
por aqueles que detinham o poder político, e deve ser um espaço dessas vivências, trans-
econômico e de mando. Segundo Albuquer- formando-se em lugar de empoderamento de
que (2006), advindos da luta pelos direitos crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos
humanos, os movimentos apresentam, como e profissionais da educação.
singularidade, a participação efetiva de par-
celas da socieda­de civil, na definição de suas Ao se olhar para a escola como um dos lu-
necessidades e garantia de direitos que, não gares e espaços de exercício da cidadania, não
mais seriam expressos tão somente por meio se pode deixar de compreendê-la como uma
da identifi­cação prévia, por parte de setores instituição de convivência social. As crianças,
políticos e de mando. adolescentes e jovens vão à escola também
para se socializarem. Ao se considerar as ge-
Houve, portanto, um processo avanço em rações atuais, em que as crianças iniciam a
relação aos conceitos de cidadania e de di- frequência aos espaços educacionais institu-
reitos e, subjacente, às mudanças de concep- cionalizados cada vez mais cedo, passando
ções, a articulação dos movimentos de lutas e grande parte de sua vivência de infância e ado-
conquistas pelo “direito a ter direitos”. Nesse lescência neste ambiente, há a necessidade de
aspecto, a nova cidadania compreende o pa­ compreendermos esses lugares como extre-
pel dos sujeitos-cidadãos como aquele que, mamente importantes para a socialização e
de fato, interfere na política por meio de dis­ construções de relações para essas gerações.
putas, abrindo espaços, ocupando lugares em Portanto, a escola, como espaço atravessado
conselhos e ampliando brechas observadas, pela diversidade, é um lugar de convivência,
na estrutura social. Consequentemente, quan- de cooperação, de disputas e de encaminha-
do se refere ao currículo escolar, não há como mento e resolução de conflitos.
desconsiderar que este é um meio pelo qual as
reformas e propostas políticas dialogam com Relacionando cidadania e currículo, somos
o movimento da escola e, muitas vezes, aca­ levados a pensar no currículo oculto presente
bam sendo implementadas. nas escolas. O que as crianças, adolescentes
e jovens estão aprendendo sem que nem eles
Nessa perspectiva, ao se refletir sobre o e nem os adultos tenham consciência des-
exercício da cida­dania, na escola, ainda é pos- se aprendizado? Ressalta-se que é por meio

84
CAPÍTULO 11  –  CURRÍCULO: EDUCAÇÃO E CIDADANIA

das relações travadas no cotidiano da esco- ficam mais retidas às resoluções imediatas e/
la que a cidadania é exercida; é através da ou restritas apenas ao seu interior.
busca conjunta de resolução de conflitos e de
encaminhamento de questões práticas, rela- Outra esfera dessa discussão diz respeito
cionadas à vivência escolar que as crianças e ao fato de que a escola, aliada ao seu com-
jovens vão construindo valores, na medida promisso com a transmissão dos conteúdos,
em que vão decidindo, opinando sobre as di- socialmente acumulados, não se restringe
ferentes situações e temas. Dessa maneira, somente a essa função, pois, em contato
não é possível estabelecer ações voltadas ao cotidiano, direto com seu público cativo,
exercício da cidadania, sem considerar as re- também é tomada pelas questões culturais,
lações travadas tanto por parte das crianças, sociais, econômicas que esse público leva à
adolescentes e jovens entre si, como, tam- escola. Como lidar com tudo isso? Uma das
bém, destes com os adultos e idosos presen- maneiras, com certeza, é possibilitando que
tes neste universo. Ressalta-se que é preciso, a comunidade participe das discussões no in-
também, considerar as relações travadas en- terior da escola, conhecendo e participando
tre os sujeitos da escola e a comunidade em da construção do Projeto Político Pedagógico
seu entorno. E é, nesta interlocução, que a da escola.
prática da cidadania extrapola os muros da
escola, como também os problemas, dificul- A participação nas discussões interescola-
dades e disputas adentram o cotidiano da res, as possibilidades da construção de indi-
unidade educacional. cadores e de ações postas no Projeto Político
Pedagógico, tanto por parte dos alunos, como
A compreensão de que os conteúdos, as- por parte da comunidade escolar mais ampla,
suntos, problemáticas discutidas nas escolas é uma das esferas de exercício de cidadania e
não podem e não devem ficar restritos ao da promoção e garantia de direitos.
mundo escolar vem ganhando força e espa-
ço em pesquisas e propostas educacionais, A maneira pela qual a escola está inseri-
demonstrando que o entorno escolar precisa da e se relaciona com seu entorno e com os
estar presente, no contexto da escola. É nessa diferentes equipamentos e espaços presen-
relação que a cidadania na escola é de extrema tes no bairro, também, diz sobre como essa
importância e também ganha espaço, na me- mesma escola é compreendida e encarada
dida em que a escola se torna um dos lugares por esse entorno. Essa relação mais ampla,
onde é possível discutir e intervir socialmente, que se traduz em uma abertura da escola e
provocando inclusive mudanças que vão além em uma maior participação, tanto do entor-
do cotidiano escolar. no da escola, como, igualmente, da escola no
bairro no qual está inserida, reflete, inclusi-
As novas ferramentas digitais e as redes so- ve, em ações e comportamentos que acabam
ciais também servem ao exercício da cidada- forçando e indicando que esse entorno, e até
nia na escola, pois as questões e problemáticas mesmo a cidade, possa ser considerada uma
que surgem no interior da escola, no caminho “cidade educadora”. Pois, a cidade – seus es-
para a escola, nas relações travadas na esco- paços, as relações travadas nos caminhos até
la, extrapolam esse lugar e são, muitas vezes, a escola – tanto educa como deseduca, ensina
discutidas, refletidas, valoradas, encaminha- valores, favorece disputas, e essas aprendiza-
das por meio das redes sociais. Portanto, ao gens, essas relações acompanham as crianças,
discutir e encaminhar as questões referentes adolescentes e jovens para o interior da escola.
ao exercício da cidadania no seu interior, a Não há como desprezar essas relações e essas
escola não pode ficar alheia a essas questões, aprendizagens ao se discutir e exercer a cida-
que lhe dizem respeito, as quais, porém, não dania na escola.

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DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Trilla (1999) argumenta que compreender zendo com que a vida que circula fora da
a cidade, inclusive, como espaço educativo, escola, adentre ao espaço escolar e atraves-
com seu currículo oculto, e principalmente, se os conteúdos, fazendo parte dos assuntos
as relações entre o que acontece no interior escolares.
e exterior aos muros escolares, é de grande
importância para o exercício de valores demo- Portanto a cidadania, exercida, vivenciada,
cráticos, de tolerância, de ética como apren- praticada no ambiente escolar, está presente
dizados de justiça e solidariedade para com a em todos os espaços e momentos e atravessa
diversidade, que se desdobram em ações cida- as relações que se dão nas aulas, nas discipli-
dãs. Nesse sentido, tanto a escola interfere em nas, na entrada e saída, nas relações com os
seu entorno, como se vê sendo impregnada pais e comunidade, enfim, nas diferentes ma-
e penetrada pelas questões que a envolvem, neiras que os profissionais que atuam no inte-
transformando-se e sendo transformada pela rior da escola, encaminham, problematizam,
vivência dessas relações. lidam com as questões que ali acontecem.
Todas essas ações apontadas estão amparadas
Os Conselhos de Escola, assim como as pela legislação educacional e pela legislação no
Comissões Próprias de Avaliação, têm pa- campo dos direitos, já apresentadas na edição
péis importantes para promover a demo- anterior. Porém, sabe-se que a garantia legal é
cratização das/nas escolas, na articulação apenas um aspecto de sua concretização. Para
das esferas formais e não formais que atu- que a cidadania aconteça, de fato, há a neces-
am nos arredores da escola, propondo, até, sidade de ser vivenciada, exercitada nos mais
mudanças e trazendo novos autores para diferentes espaços e em todas as situações e
contribuir com questões intraescolares, fa- relações.

86
Capítulo 12

EDUCAÇÃO INTEGRAL

12.1. Educação em Tempo Integral: “mais completa possível” para o ser huma-
Programa Mais Educação no, embora não haja consenso sobre o que
se convenciona chamar de “formação com-
O “Programa Mais Educação” foi institu- pleta” por aqui e, nem muito menos, sobre
ído pela Portaria Interministerial nº 17, em quais pressupostos e metodologias a consti-
26 de abril de 2007, sendo, posteriormen- tuiriam.
te, regulamentado pelo Decreto Federal nº
7.083, de 27 de janeiro de 2010, constituin- Desde a primeira metade do século XX, en-
do-se em contribuição para a formação in- contramos estudos e experimentações signifi-
tegral de crianças, adolescentes e jovens, cativas a favor da Educação Integral, mais ou
por meio da articulação de ações, projetos e menos difusas pelo tecido social e abrangendo
programas das diferentes esferas de governo uma coloração ideológica que ia da extrema
e de Entidades Parceiras, mediante subsídio direita à extrema esquerda, abarcando ações
do Governo Federal. de católicos, de anarquistas, de integralistas e
de educadores como Anísio Teixeira, que tan-
O “Programa Mais Educação” foi concebi- to defendiam quanto procuravam implantar
do para ser indutor de uma política pública, instituições escolares em que essa concepção
de Estado e de Governo, voltada à Educação fosse vivenciada.
Integral, o “Programa Mais Educação” ob-
jetiva ampliar o tempo de permanência e o Analisando o panorama da década de 30,
espaço educacional dos alunos nas redes pú- por exemplo, vemos que até mesmo o Mo-
blicas. Com aumento da oferta de atividades vimento Integralista defendia a “Educação
diversi­ficadas, previstas na parte diversifica- Integral”, tanto a partir dos escritos de Plínio
da do Currículo, as ações educacionais e so- Salgado, seu “mentor intelectual”, quanto da-
ciais ocorrem nas escolas e em outros espaços queles desenvolvidos por militantes represen-
socio­culturais, disponibilizados por meio de tativos do Integralismo. Para esses pensado-
ações conjuntas entre os parceiros. Institui-se, res, porém, as bases dessa “Educação Integral”
assim, uma nova forma de planejar os espaços eram a espiritualidade (via de regra ligada ao
e tempos educativos que, transcendem a con- catolicismo), o nacionalismo cívico e a disci-
cepção da sala de aula como único ambiente plina, fundamentos que, no contexto de suas
de aprendizagem, centrados na relação pro- ações, podem ser caracterizados como conser-
fessor - aluno - conhecimento. vadores. Já, para os anarquistas, por exemplo,
exatamente na mesma década, a ênfase recaía
Devemos ressaltar que, em se tratando sobre a igualdade, a autonomia e a liberdade
de Brasil, o conceito de Educação Integral humana, em uma clara opção política eman-
caracteriza-se pela ideia de uma formação cipadora.

87
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Anísio Teixeira (1959), enquanto um dos a ser o modelo educacional escolhido para todo
idealizadores do “Manifesto dos Pioneiros da o Brasil.
Escola Nova”, pensando na implementação
de um Sistema Público de Ensino para o país, O sistema educacional elaborado criou a
propunha uma educação em que a escola fos- Universidade de Brasília e o Plano para a Educa-
se mais abrangente: ção Básica. Para o nível educacional elementar,
foi concebido um modelo de Educação Integral
“[...]Desejamos dar, de novo, à escola primária, inspirado no modelo de Salvador, porém mais
o seu dia letivo completo. Desejamos dar-lhe os complexo e amplo: as primeiras quatro super-
seus cinco anos de curso. E desejamos dar-lhe quadras, onde hoje está situado o centro his-
seu programa completo de leitura, aritmética e tórico da cidade, cada uma delas recebeu uma
escrita, e mais ciências físicas e sociais, e mais “Escola-Classe” e Jardins de Infância. Na super-
artes industriais, desenho, música, dança e edu- quadra 308 Sul foi construída a “Escola-Parque”,
cação física. Além disso, desejamos que a escola destinada a receber os alunos das “Escolas-Clas-
eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive se”, no turno complementar, para o desenvolvi-
aspirações, prepare, realmente, a criança para a mento de atividades físicas, esportivas, artísti-
sua civilização – esta civilização tão difícil por ser cas e culturais. Todas as escolas citadas foram
uma civilização técnica e industrial e ainda mais projetadas por Niemeyer e tinham a capacidade
difícil e complexa por estar em mutação perma- de atender os cerca de 30.000 habitantes, resi-
nente. E, além disso, desejamos que a escola dê dentes nas quatro superquadras iniciais.
saúde e alimento à criança, visto não ser possível
educá-la no grau de desnutrição e abandono em Durante o primeiro governo de Leonel Bri-
que vive”.22(TEIXEIRA, 1959, p.78) zola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ri-
beiro criou, planejou e dirigiu a implantação
Essa sua concepção, Teixeira colocou em dos Centros Integrados de Ensino Público
prática no “Centro Educacional Carneiro Ri-
(CIEP), um projeto que pretendia reavivar os
beiro”, implantado em Salvador, na Bahia, na
ideais de Educação Integral defendidos, por
década de 1950. Neste Centro, encontramos as
Anísio Teixeira, quatro décadas antes, apenas
atividades, historicamente entendidas como
diferenciando em alguns aspectos como o de
escolares, sendo trabalhadas nas Escolas-Clas-
agregar as funções das “Escolas - Classes” e
se, bem como outra série de atividades acon-
das “Escolas - Parques” em uma única estrutu-
tecendo no contraturno escolar, no espaço que
ra física e abolindo a separação entre turno e
o educador denominou de Escola-Parque.
contra turno.
Na década de 1960, a fundação da cidade de
Brasília trouxe consigo vários centros educa- Em relação a Paulo Freire (1998), considera-
cionais, construídos nessa mesma perspectiva, do como um dos pais da “Pedagogia Crítica”,
quando Teixeira, então na presidência do INEP, corrente pedagógica que alia os pressupostos
foi convocado pelo então Presidente da Repú- e práticas do Materialismo Dialético a várias
blica, Juscelino Kubitschek de Oliveira, para outras correntes filosóficas, como a psicogê-
coordenar a comissão encarregada de criar o nese da linguagem, o relevante é registrar que
“Plano Humano” de Brasília, juntamente com ele conseguiu, em 1963, em apenas 45 dias,
Darcy Ribeiro, Cyro dos Anjos e outros expo- alfabetizar 300 alunos adultos do Rio Grande
entes da educação brasileira. A comissão orga- do Norte e que esta experiência foi replica-
nizou o Sistema Educacional da capital, cuja da algumas vezes, consolidando o “Método
pretensão de Juscelino era que o mesmo viesse Paulo Freire”, adotado primeiramente em Per-
nambuco e depois em vários estados brasilei-
22 TEIXEIRA, Anísio. Centro Educacional Carneiro Ribeiro. Re-
vista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 31, n. 73, ros, durante a época de nacionalismo desen-
p. 78-84, jan./mar. 1959. volvimentista, no governo de João Goulart.

88
CAPÍTULO 12  –  EDUCAÇÃO INTEGRAL

Enquanto Secretário da Educação do Mu- da SECAD/MEC, construirmos um campo


nicípio de São Paulo, durante a gestão de Lu- de debates que estabeleça, de modo substan-
ísa Erundina (1989-1993), Paulo Freire criou tivo, elementos que nos ajudem a significar,
os MOVAS (“Movimentos de Alfabetização’, compreender e construir práticas de Educação
“Centros de Alfabetização” e “Instrução de Integral que eduquem integralmente o indiví-
Adultos”) e anteviu a experiência dos Centros duo, que coloquem:
Educacionais Unificados (CEUs), os quais fo-
ram, posteriormente, instituídos por Decreto [...] o desenvolvimento humano como horizonte
Municipal, no governo Martha Suplicy (2000- [...], a necessidade de realização das potenciali-
2004). O educador, pela sua criação e antevi- dades de cada indivíduo para que possa evoluir
são, faz-se presente no debate, mesmo que não plenamente com a conjugação de suas capacida-
pretendesse o tempo integral, sua importância des, conectando as diversas dimensões do sujeito
pode ser reconhecida com base nos estudos (cognitiva, afetiva, ética, social, lúdica, estética,
de Santos (2004)23, ao destacar a persecução física, biológica) (GUARÁ, 2006, p.16)25.
do educador de articular os atendimentos em
creche, educação infantil e fundamental, o No sentido de potencializar a flexibiliza-
desenvolvimento de atividades educacionais, ção curricular, através das ações do “Programa
recreativas e culturais, em um mesmo espaço Mais Educação”, são planejadas anualmente,
físico, com a perspectiva de que os centros se em atendimento ao Projeto Político Pedagó-
constituíssem em experiências de convivência gico da Unidade, as “atividades optativas”
comunitária. que estão agrupadas em macrocampos como:
acompanhamento pedagógico, meio ambien-
Como podemos observar, cabe destacar te, esporte e lazer, direitos humanos, cultura
que eram propostas e experiências que ema- e artes, cultura digital, prevenção e promoção
navam de matrizes ideológicas bastante di- da saúde, educomunicação, educação cientí-
versas e até mesmo contraditórias, as quais, fica e educação econômica (BRASIL. Portaria
porém, mantêm naturezas semelhantes, em Intermi­nisterial nº 17, 2007).
termos de atividades educativas, já que falar
sobre Educação Integral implica considerar a O desenho inicial do Programa colocava-o
questão das variáveis tempo, com referência enquanto apoio à melhoria de escolas com
à ampliação da jornada escolar, e espaço, com IDEB baixo, sendo que, quando da implanta-
referência aos territórios em que cada esco- ção em Campinas, já estava ampliando o seu
la está situada. Trata-se de tempos e espaços formato. A partir de iniciativa da gestão do
escolares reconhecidos, graças à vivência de município, no segundo ano de funcionamen-
novas oportunidades de aprendizagem, para to, pleiteou-se estendê-lo a todas as Unidades
a reapropriação pedagógica de espaços de so- Educacionais de Ensino Fundamental da rede,
ciabilidade e de diálogo com a comunidade sendo esta proposta acolhida prontamente
local, regional e global. pelo MEC.

Dando um passo além dos possíveis acalo- A operacionalização do “Mais Educação”,


rados “prós e contras” a respeito da escola de mediante as contrapartidas que devem ser
tempo integral, cabe a nós, segundo a Profª Ja- oferecidas pelo município, envolve a partici-
queline Moll24, Diretora da Educação Integral pação de um Professor Articulador, da Ges-
tão Escolar e de uma Coordenadoria Central,
23 SANTOS, Alfredo Sérgio Ribas. As políticas educacionais de fi- cujas funções, em tese, devem estar integradas
nanciamento e a autonomia financeira municipal: o caso de São Paulo
nas gestões do período de 1997-2002. Campinas: Unicamp, 2004 para o Futuro, Educação Inte­gral, Ano XVIII Boletim 13 - Agosto
(Tese de Doutorado). de 2008; p. 11-16.
24 MOLL, Jaqueline. Conceitos e Pressupostos: o que queremos di- 25 GUARÁ, Isa. É imprescindível educar integralmente. Cadernos
zer quando falamos de educação integral? In: Brasil, MEC – Salto CENPEC, n. 2, 2º semestre, p.15-24, 2006.

89
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

e referenciadas pelo Projeto Político Pedagógi- cesso de avaliação teve como produto um re-
co (PPP) das escolas/rede de ensino. latório de 81 páginas. Nas Conclusões, a Profª
Mara coloca que:
No momento da efetivação das atividades
junto aos estudantes, surge a figura dos Edu- Retomando os objetivos dessa pesquisa avalia-
cadores Sociais (anteriormente denominados tiva, observamos que o Programa Mais Educa-
“monitores” ou “oficineiros”), voluntários ção é reconhecido em suas potencialidades no
que exercem a sua atividade mediante res- que tange à ampliação das oportunidades de
sarcimento dos seus gastos com alimentação aprendizagens que propicia aos estudantes da
e transporte, na forma de um subsídio. Estes escola pública. A expansão desta oportunida-
voluntários são supervisionados pelos Profes- de a todas as escolas da Rede Municipal que
sores Articuladores que auxiliam a gestão da não apenas àquelas com baixo IDEB se reve-
U.E., em relação à contratação ou dispensa lou estratégia importante no campo das políti-
dos mesmos, elaboram o quadro de horário cas públicas compromissadas com práticas de
das oficinas, acompanham e avaliam as ofici- inclusão de grande contingente de estudantes a
nas realizadas. O Articulador é o elo entre os uma escola pública regida por concepção mais
alunos, os educadores sociais, a Gestão Esco- alargada de qualidade. [...] Os depoimentos
lar e a Coordenação Central do Programa. fazem crer que é possível e desejável construir
outra qualidade educacional que não se restrin-
A Coordenação Central é exercida pelo Co-
ja às medidas de proficiência dos estudantes nos
ordenador Titular e Coordenadora Adjunta,
exames nacionais e que abranja outros conhe-
que se encarregam das funções institucionais
cimentos, habilidades e valores, visceralmente
e políticas inerentes ao funcionamento do
incorporados aos currículos escolares. (LOED
Programa, sendo a ponte entre a Gestão Cen-
- UNICAMP - Relatório Avaliação Partici-
tral, no MEC/SECAD, a Secretaria Municipal
pativa, 2010, p.70-72).
de Educação (SME) e as escolas participantes,
além de estabelecer parcerias institucionais,
Ao mesmo tempo, porém, a autora ponde-
válidas para todas as escolas.
ra, logo em seguida:
Cabe a essa Coordenação gerir o Comitê
Decorrente desta percepção, os respondentes, em
Metropolitano de Educação Integral da RMC,
especial, os diretores e orientadores pedagógicos
o qual agrega Campinas, Hortolândia, Indaia-
demandam por maior contrapartida e responsa-
tuba, Itatiba, Sumaré e Vinhedo. Vale ressaltar
bilidade institucional compatível com os compro-
que, pelo atual regimento26, o Comitê é uma
das instâncias mais democráticas que existe, missos assumidos ao se tornar a rede signatária
pois o que decide é o voto da Plenária (como do Programa, que lhes parece ainda insuficiente
uma grande Assembleia), podendo todos par- e revelam-se preocupados com a continuidade
ticiparem, independentemente do cargo. desta política que, de alguma forma, trouxe vida
nova à escola (ainda que sobrecarregando as
O “Programa Mais Educação” da SME Cam- equipes gestoras). [...] Reconhecida a potencia-
pinas passou por um processo de Avaliação lidade do Mais Educação como esforço de am-
Participativa, no segundo semestre de 2012, pliação da jornada escolar (7 horas) e recurso
chefiada pela Profª Drª Mara Regina Lemes de promotor de aprendizagens diferenciadas a to-
Sordi, do LOED – Laboratório de Observação dos os estudantes, identifica-se certo desconforto
e Estudos Descritivos, da UNICAMP – Uni- dos profissionais da educação com os riscos de
versidade Estadual de Campinas – e esse pro- entender este Programa (educação integral) como
sinônimo de escola em tempo integral podendo
26 CAMPINAS. Regimento Interno do Comitê Metropolitano de
Educação Integral da RMC. Resolução SME 18/2010, de 11 de no- enfraquecer a luta nesta direção. Em que pesem
vembro de 2010. Publicado em DOM de 28/06/2012, páginas 8 e 9. estes limites, há forte simpatia dos responden-

90
CAPÍTULO 12  –  EDUCAÇÃO INTEGRAL

tes com o Programa Mais Educação que parece pes gestoras e comunidades escolares, ligadas às
colaborar fortemente com anseios presentes nos descontinuidades dos governos, o que reacende
PPs das escolas municipais na direção de um a necessidade inadiável de se pensar programas
projeto educativo mais consequente socialmente educacionais como políticas de Estado e não de
e menos livresco ou condicionado pela métrica governo, o que asseguraria repercussões mais
dos exames. (LOED - UNICAMP - Relatório du­radouras e consistentes, evidenciadas por
Avaliação Participativa, 2010, p.70-72). proces­sos de avaliação longitudinal. (LOED -
UNICAMP - Relatório Avaliação Participa-
Em parte, como decorrência natural da im- tiva, 2010, p.70-72).
plementação exitosa do Programa, durante o
ano de 2013, foi constituída uma comissão 12.2. Educação Integral
com representantes de vários segmentos (Su-
pervisores, Diretores, Coordenadores Pedagó- “A Educação Integral tem sido um ideal presente
gicos, Orientadores Pedagógicos e Professores na legislação educacional brasileira e nas for-
Articuladores) para pensar a questão da Escola mulações de nossos mais brilhantes educadores.
de Educação Integral, em tempo integral, fi- Iniciativas diversas, em diferentes momentos da
cando estabelecido que, a partir de 2014, duas vida pública do país, levaram esse ideal para
escolas da rede estariam funcionando no novo perto das escolas, implantado propostas e mo-
mo­delo: EMEF “Prof. Zeferino Vaz” e EMEF delos de grande riqueza, mas ainda pontuais e
“Pe. Francisco Silva”. esporádicos.” (MEC, 2009, p.527)

Certamente, o processo de construção da Entendemos que uma proposta de Educa-


educação integral, que começa a brotar, em ção Integral impõe um projeto pedagógico que
nossa Rede, passará por muitos desafios, pois, contemple suas especificidades, em termos de
na ausência de modelos ideais, são os conheci- matriz curricular adequada, jornada de seus
mentos e os contextos, nos quais estão inseri- educadores, formação de seus agentes, infra-
das as escolas, que darão fundamento à cons- estrutura e meios para sua implantação. Ela
trução de uma escola de educação em tempo será o resultado dessas condições de partida
integral, capaz de desenvolver e emancipar, e daquilo que for criado e construído em cada
integralmente, o aluno. E, enquanto não des- escola, em cada rede de ensino, com a partici-
cobrimos caminhos alicerçados em currículos pação dos educadores, educandos e das comu-
escolares sólidos, elaborados por toda comu- nidades que podem e devem contribuir para
nidade escolar, encerramos com reflexão, em- ampliar os tempos e os espaços de formação
basada nos conceitos da Prof.ª Mara de Sordi de nossas crianças, adolescentes e jovens, na
(2010), para nos incitar a novas buscas: perspectiva de que o acesso à educação pú-
blica seja complementado pelos processos de
O cenário da escola pública campineira, certa­ permanência e aprendizagem.
mente, espelhará de alguma forma a realidade
vivida por outros municípios, nos quais situa- Propõe-se um desenho de Educação Integral
ções de precariedade das condições de vida dos que intensifique os processos de territorializa-
es­tudantes e suas famílias reclamam por aten­ ção das políticas sociais, articuladas a partir
ção, posto que interferem em suas condições de dos espaços escolares, por meio do diálogo in-
aprendizagem. Assim, pensar a educação a tragovernamental com as comunidades locais,
partir, apenas, da escola desgarrada de suas re­ para a construção de uma prática pedagógica
lações com o entorno social, é pensar de forma que afirme a educação como direito de todos
reducionista a complexa questão da qualidade e de cada um. Entende-se que o tempo quali-
do ensino. Igualmente, se replicarão em outros 27 BRASIL, Educação integral: texto de referencia para o de-
espaços as inseguranças enfrentadas pelas equi­ bate nacional. Brasília: MEC, SECAD, 2009.

91
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

ficado é aquele que mescla atividades educa- dáticas planejadas que contribuam para o
tivas diferenciadas e que, ao fazê-lo, contribui desenvolvimento de novos conhecimentos.
para a formação integral do aluno, para a su- Abordagens interdisciplinares, pesquisas
peração da fragmentação e do estreitamento a partir de temas ou complexos geradores,
curricular e da lógica educativa demarcada estudo do meio e tantas outras propostas
por espaços físicos e tempos delimitados ri- metodológicas que promovam o espírito in-
gidamente. Nesse sentido, acreditamos que a vestigativo, devem ser analisadas e incenti-
extensão do tempo – quantidade – deve ser vadas junto aos professores.
acompanhada por uma intensidade do tempo
– qualidade – nas atividades que constituem a Apropriação e produção da cultura, com-
jornada ampliada, na instituição escolar. preendendo esta última como realizações
humanas nos diferentes campos, conside-
Fundamentado nesta concepção de educa- rando todos os membros da comunidade
ção integral e considerando a legislação edu- escolar como sujeitos ativos. Nessa perspec-
cacional de âmbito federal e municipal28, os tiva, todo o trabalho da escola é compreen-
princípios a serem considerados para a imple- dido como uma produção cultural.
mentação da Escola de Educação Integral, no
município de Campinas, são: Articulação com o mundo do trabalho,
entendendo-se o trabalho como processo
Valorização da experiência extraescolar pelo qual o homem produz sua existên-
dos alunos, promovendo um conhecimento cia material e subjetiva, transformando o
contextualizado nas práticas sociais. Os pro- mundo e a si mesmo.
blemas vividos em cada realidade local, os
saberes, hipóteses e propostas mobilizados Questões de classe social, de gênero, de se-
pelos alunos na busca de soluções devem ser xualidade e étnico-raciais, que marcam as
articulados com o que se estuda na escola. relações dentro da escola, devem ser tema-
tizadas de modo a superarmos as práticas de
Promoção de uma postura investigativa preconceito, discriminação e exclusão.
do aluno, proporcionando-lhe situações di-
Em 2014, na condição de escola piloto, 2
28 Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010, que Define
Unidades Educacionais foram transforma-
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica; das em escola de Educação Integral. A par-
Resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010, que Fixa tir de 2015, mais 3 Unidades Educacionais:
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9
(nove) anos; Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o En- EMEF Avelino Canazza, EMEF/EJA Raul Pilla
sino Fundamental – Anos Finais: um processo continuo de reflexão e EMEF/EJA Dr. João Alves dos Santos. Como
e ação, Prefeitura Municipal de Campinas (2010); Diretrizes Cur-
riculares da Educação Básica para o Ensino Fundamental – Anos
escola de Tempo Integral, a CEMEFEJA Paulo
Iniciais: um processo continuo de reflexão e ação, Prefeitura Muni- Freire.
cipal de Campinas (2012).

92
Capítulo 13

PROGRAMAS E PROJETOS

13.1. Programa Arte e Movimento interesse pelo esporte como fator cultural e so-
cial, na formação do cidadão. A Educação Físi-
A arte, a cultura e o esporte são instrumen- ca tem um papel pedagógico muito importante
tos importantes de construção de valores, quando da sua intervenção na escola, principal-
identidades e de perspectivas de futuro. Esses mente no caso dos alunos com deficiência, pos-
instrumentos deixaram de ser vistos como sibilitando a prática das atividades esportivas e
meras atividades complementares ou simples recreativas e seu envolvimento no processo de
ocupação do tempo livre para serem conside- conhecimento e aprendizado da inclusão.
rados fundamentais para o processo de trans-
formação e inserção social. Histórico

A arte é uma das mais antigas linguagens O “Programa Arte e Movimento” foi cria-
humanas e é inclusiva por si só. É integra- do através da Resolução SME/FUMEC Nº
ção, pois permite mesclar temas e assuntos 05/2007, considerando a relevância e o signi-
de várias áreas ou componentes curriculares. ficado do desenvolvimento de atividades rela-
Porém, precisa ser construída, reconstruída e cionadas à Arte e à Educação Física como pro-
apropriada pelas pessoas. cesso de conhecimento e aprendizado, com a
finalidade de melhorar a qualidade social da
As atividades culturais contribuem para o de- educação e a formação integral do educan-
senvolvimento da criatividade, da imaginação, do. Como indutor da Educação Integral, seu
da expressão, do respeito mútuo, da coopera- principal objetivo era, inicialmente, ampliar o
ção, da amizade e, inclusive, da autoestima dos tempo de permanência e o espaço educacional
alunos, já que estes vivenciam a importância de dos alunos, aumentando a oferta de ativida-
cada um no desenvolvimento do trabalho cole- des diversificadas e tempos escolares.
tivo e sentem o reconhecimento por parte dos
colegas e da comunidade, principalmente na Os projetos desenvolvidos pelo Programa
ocasião das apresentações em festas da escola. compreendem aqueles vinculados, especial-
Nessas ocasiões, pode-se observar o estreita- mente, à prática esportiva e à arte, promoven-
mento das relações não só entre os membros do a formação cultural. Até 2011, o trabalho
de uma mesma família, que vão prestigiar seus com alunos se desenvolvia, principalmente,
parentes que estão se apresentando, mas tam- através de oficinas culturais, nas áreas de Ar-
bém entre as famílias e a escola, que se organi- tes Cênicas (danças diversas, teatro, contação
zam para colaborar para o sucesso do evento. de histórias, coral, artes circenses, capoeira);
Artes Visuais (pintura, grafite, desenho de hu-
A prática das atividades esportivas e recrea- mor) e Esportivas (xadrez, modalidades espor-
tivas desperta no aluno o prazer de brincar e o tivas diversas) e outras.

93
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Com a adesão da Secretaria Municipal de oferecidas, desde 2011, são: Artes Integra-
Educação ao “Programa Mais Educação”, as das (arte e literatura); Artes Visuais (pintura,
oficinas culturais passaram a ser organizadas desenho, fotografia); Música (violão, teoria
pelas próprias escolas e o Programa se concen- musical, técnica vocal, banda rítmica) e Ar-
trou em suas outras ações que já aconteciam, tes Cênicas (dança, teatro, contação de his-
buscando ampliar o oferecimento de cursos ou tória, circo).
grupos de formação específicos para os profis-
sionais da educação, formações para alunos, Em 2013, por orientação do Departamento
através de oficinas e eventos como jogos, fes- Pedagógico, formaram-se Grupos de Estudo
tivais, mostras, concursos e exposições. para agregar os profissionais com alguma for-
mação nas áreas contempladas pelos cursos,
Objetivos Principais anteriormente, oferecidos, a fim de formar
novos multiplicadores desses conhecimentos,
Ressaltam-se, a seguir, os objetivos gerais para atuarem em suas escolas ou regiões, em
do Programa Arte e Movimento: 2014.
• promover a formação cultural e o desenvol- Na área da Educação Física, os objetivos dos
vimento da sensibilidade e do senso crítico Grupos de Formação consistem em discutir e
do aluno, motivando-o para a aprendiza- elaborar subsídios com referenciais teóricos e
gem e possibilitando-lhe novas formas de práticos sobre o Currículo, a prática pedagógi-
relacionamento em sua vida familiar e co- ca e o cotidiano da sala de aula, das escolas da
munitária; Secretaria Municipal de Educação. Em 2013,
o Grupo de Estudo concentrou-se na revisão
• dar suporte à elaboração e à implementação
do texto do componente curricular de Educa-
do projeto pedagógico nas unidades educa-
ção Física, parte do documento das Diretrizes
cionais, no que se refere a essas temáticas;
Curriculares dos Anos Iniciais do Ensino Fun-
• instrumentar os(as) professores(as)/moni- damental.
tores(as) da Educação Infantil, Ensino Fun-
damental e Educação de Jovens e Adultos Frente de Atuação – Eventos
(EJA) e FUMEC nos conhecimentos especí-
Várias ações direcionadas para educado-
ficos das áreas de Arte e de Educação Física,
res, alunos e escolas têm sido desenvolvidas,
através de formação continuada;
anualmente, pelo Programa, pois os “Even-
• contribuir para a atuação pedagógica mais tos” constituem uma das formas mais efica-
signifi­cativa, autônoma e criativa do(a) pro- zes e significativas de se mostrar o resultado
fessor(a)/monitor(a); dos trabalhos desenvolvidos com professo-
res, através das formações, e com alunos,
• fortalecer, no currículo escolar, a produção permitindo-nos observar o quanto eles se
do conhecimento nas áreas da Arte e de envolveram durante o processo, o seu em-
Educação Física. penho e desempenho, revelados a partir da
relação estabelecida com os demais colegas,
Frente de Atuação – Formação professores, oficineiros e os educadores so-
ciais.
Os cursos, grupos de formação e de estudo
têm o objetivo de promover a formação cul- Na área de Educação Física, podemos des-
tural e a prática pedagógica dos educadores tacar os “Jogos Escolares Municipais”, ideali-
nas áreas de Educação Física, Cultura Corpo- zados por um grupo de professores, em 2006,
ral e de Artes. As formações que vêm sendo antes mesmo da criação do Programa. Assim,

94
CAPÍTULO 13  –  PROGRAMAS E PROJETOS

os “Jogos Escolares Municipais – JEMs” são da Criança e do Adolescente, Bullying e Direitos


atividades esportivas dirigidas aos alunos, na Humanos.
faixa etária entre 6 a 16 anos e EJA, das 44
escolas do Ensino Fundamental da Rede Pú- A participação de professores é essencial
blica Municipal de Campinas e acontecem em para o desenvolvimento deste projeto nas es-
instituições parceiras, ligadas ao esporte da colas, desde a divulgação, a organização das
cidade de Campinas. Influenciar o interesse etapas, promoção da pesquisa até o acom-
pelo esporte, como fator cultural e social da panhamento aos ensaios e à apresentação
formação do cidadão, promover a formação da etapa final, quando os alunos colocam à
esportiva do aluno, a inclusão e fortalecer o prova todo seu empenho durante o proces-
desenvolvimento do esporte, são alguns dos so, acompanhados por músicos profissionais
objetivos dos “Jogos Escolares”. que fazem os arranjos de suas composições,
ensaiam com eles, orientando-os e comparti-
Os jogos são organizados em quatro mo- lhando da emoção experimentada no palco. A
dalidades: JEM, desde 2006, para alunos do 6º partir de 2014, o Festival passou a ser gerido
ao 9º ano; JEM Lúdico, desde 2010, para alu- pelo “Programa Mais Educação”, abandonan-
nos do 1º ao 5º ano; JEMA Jogos Adaptados, do o formato de concurso, passando a ser or-
desde 2011, para alunos com deficiência, do ganizado enquanto Mostra.
1º ao 9º ano; e JEMEJA, também desde 2010,
para alunos da Educação de Jovens e Adultos. Algumas ações, também, foram adequa-
Envolvem a participação dos professores de das a partir da adesão da SME ao “Programa
Educação Física da Rede Municipal, através Mais Educação”. A “Mostra de Artes Cêni-
de comissões específicas e de seminários, para cas”, que aconteceu de 2008 a 2011, tinha o
a elaboração e aprovação do regulamento do objetivo de divulgar o trabalho realizado nas
JEM, a cada ano e das atividades para os de- oficinas com alunos, nas escolas, envolvendo
mais jogos. todas as modalidades oferecidas: danças nas
mais diversas modalidades, teatro e contação
Ações voltadas a educadores e alunos tam- de histórias, coral, capoeira e grafite, para a
bém têm sido desenvolvidas na área da Arte. criação do cenário. A partir de um roteiro, de
O “Festival Estudantil de Música” (FEM), re- uma história criada por alguns profissionais
alizado desde 2008, tem como objetivo geral que atuavam nas oficinas, esboçava-se um
ampliar as atividades pedagógicas de cunho “musical”, a ser apresentado em teatros ou
artístico e cultural das escolas municipais, no auditórios cedidos para o Evento. Como as
contraturno, integrando as ações voltadas à oficinas, nas escolas, começaram a ser geridas
música, às artes cênicas, à pesquisa e ao le- pelo “Programa Mais Educação”, essa Mostra
tramento e revelando talentos entre os alunos foi substituída, a partir de 2012, pela “Mos-
das escolas de Ensino Fundamental da Rede tra Estudantil de Dança do Comitê Metropo-
Municipal de Ensino de Campinas. litano de Educação Integral da RMC” e pela
“Mostra de Esquetes” (teatro) em 2013, orga-
A cada edição, um tema pertinente às dire- nizadas em parceria pelos dois Programas, a
trizes da SME é proposto para que os alunos saber, “Mais Educação” e “Arte e Movimen-
pesquisem e produzam conhecimentos, textos, to”. Iniciou-se, também, em 2013, a “Mostra
conheçam gêneros musicais, agreguem colegas de Talentos da EJA”, com o objetivo de opor-
que já tocam instrumentos, gerando um grupo tunizar aos alunos deste segmento a apresen-
que se destaca na escola e produz cultura. Em tação pública de seus talentos.
suas cinco edições, os alu­nos participantes do
FEM, trabalharam os seguintes temas: Meio A “Mostra de Educadores Artistas”, que
Ambiente, Igualdade na Diversidade, Estatuto aconteceu de 2009 a 2011, tinha como obje-

95
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

tivo divulgar os talentos artísticos e literários cleos do “Projeto Vôlei em Rede”: EMEF Dr.
dos educadores da SME, mas ela foi substituí- “João Alves dos Santos”, EMEF “Pe. José
da pelas mostras de trabalhos de encerramen- Narciso Vieira Ehremberg”, EMEF “Júlio de
to dos cursos ou grupos de estudo propostos Mesquita Filho”, EMEF “Maria Pavanatti Fá-
pelo “Programa Arte e Movimento”. varo” e EMEF “Odila Maia Rocha Brito”.

As Parcerias Outra parceria significativa é o SOB – “Spe-


cial Olympics Brasil”, cuja missão é propor-
Projetos apoiados ou patrocinados por ter- cionar treinamentos e competições esporti-
ceiros têm sido recepcionados e organizados vas, na modalidade olímpica, para as pessoas
pelo “Programa Arte e Movimento”, oferecen- com deficiência, a partir dos 8 anos de idade,
do apresentações de teatro para alunos e pro- dando-lhes a oportunidade de desenvolver
fessores, visitas a exposições, oficinas de arte, aptidões, trocar experiências e desenvolver
vídeo, contação de histórias, doação de livros o companheirismo com suas famílias, outros
a alunos e escolas, CDs de áudio e documen- atletas e a comunidade. Além de dar suporte
tários em DVDs às escolas. ao JEMA, existem outras iniciativas que são
oferecidas aos participantes, tais como Atletas
Entre as parcerias na área da Arte, vale Saudáveis, Atletas Jovens, Atividade Motora
destacar as ações do “Instituto Thomaz Adaptada e Programa Michael Phelphs, este
Perina”, com a abertura do espaço para último voltados à natação, com o apoio da
professores e alunos, a fim de que conhe- SME, no que tange ao transporte dos alunos
çam a vida e a obra do artista campineiro, aos treinos semanais.
oferecendo oficinas de arte e promovendo
exposições de trabalhos de alunos e profes- Outros projetos advindos de universidades,
sores da SME, como a “Mostra Criança Faz também, têm contribuído para estudos sobre
Arte”, desde 2011, e a “Mostra Educadores o desenvolvimento e a saúde de nossos
também faz Arte”, em que nossos profis- alunos, que impactam diretamente no seu
sionais apresentaram releituras da obra de desempenho escolar. Mas, ainda que as várias
Thomaz Perina. O Programa também de- parcerias tragam contribuições significativas
senvolve ações integradas a outros projetos às diversas áreas da SME, as áreas de Arte e
e programas da SME. Educação Física - que foram contempladas na
Resolução do “Programa Arte e Movimento”-
Na área de Educação Física têm-se, ao lon- podem ser mais bem potencializadas e
go dos anos, firmado parcerias com institui- planejadas, a partir de suas especificidades. E,
ções que oferecem formação para o apren- nesse sentido, a coordenação do “Programa
dizado de modalidades esportivas, como o Arte e Movimento” expôs a sugestão de
caso do “Instituto Compartilhar”, instituição desvinculação dessas duas frentes, a partir de
sem fins lucrativos, fundada e presidida pelo 2014, através da readequação do Programa.
técnico Bernardinho, desde 2003. Atua em
projetos socioesportivos, que trabalham a 13.2. Programa Linguagens e Educação
iniciação dos alunos no voleibol, orientados
pelos professores de educação física, possi- Atualmente, vivemos em uma sociedade
bilitando a assimilação de conceitos de cida- cada vez mais plural, flexível, suscetível a mu-
dania e valores como cooperação, responsa- danças rápidas, as quais demandam cidadãos
bilidade, respeito, autonomia e outros, bem críticos, reflexivos, capazes de tomar iniciati-
como promovendo jogos, festivais e visitas vas e resolver conflitos rapidamente. Cabe à
culturais. Campinas iniciou a participação escola contribuir para a construção de habili-
neste projeto, em 2009 e, hoje, são 5 os nú- dades e conhecimentos que permitam que os

96
CAPÍTULO 13  –  PROGRAMAS E PROJETOS

alunos possam ser, de fato, protagonistas, ci- aluno e o professor, enquanto produtores de
dadãos, ou seja, participem efetivamente das conhecimento e cidadãos reflexivos.
práticas sociais.
Em breve ocorrerá a retomada do Programa
Considerando que as Diretrizes Curricu- LIMAE “Linguagem, Mídia, Arte e Educação”
lares do Município de Campinas assumem o e a reorganização do “Programa Arte e Movi-
compromisso com a formação integral do in- mento”, para que as ações pertinentes à arte
divíduo, a área de linguagens deve contribuir voltem a ser planejadas, tendo em vista as de-
para essa formação mais linguagens reunidas no primeiro, e am-
pliar as ações voltadas à Educação Física, ao
[…] através do estudo e expressão das várias Esporte e à Cultura Corporal, pertinentes ao
linguagens para que o aluno possa se apro- segundo programa, para que ambas as frentes
priar do conhecimento das diversas e diferen- sejam potencializadas como processo de co-
tes culturas, compreendendo a relatividade dos nhecimento e aprendizado, com a finalidade
valores que estão enraizados nos seus modos de melhorar a qualidade social da educação e
de refletir e agir, podendo criar um campo de a formação integral do aluno.
sentido para a valorização do que lhe é pró-
prio e possibilitar o senso crítico e a diversi- 13.3. Projeto Línguas
dade da imaginação humana (CAMPINAS,
2010, p. 77). O “Projeto Línguas” prevê a formação lin-
guística, cultural e pedagógica de professores
Dentro dessa perspectiva, o Programa titulares da Rede Municipal de Campinas e a
“Linguagens e Educação”, corresponde a uma apropriação desse conhecimento pelos alunos,
reestruturação do Programa LIMAE “Lingua- através de atividades realizadas em suas esco-
gem, Mídia, Arte e Educação”, criado atra- las, para o ensino das estruturas linguísticas pri-
vés da Resolução SME/FUMEC Nº 13/2004, márias da língua estrangeira e principalmente
com a finalidade de reunir projetos que se estudo da cultura dos países cujas línguas são
desenvolviam separadamente e tinham ob- ensinadas. As línguas estrangeiras que são con-
jetivos e metas comuns. Porém, com a cria- templadas no Projeto Línguas são o Francês, o
Italiano e o Espanhol, visto que a língua inglesa
ção do “Programa Arte e Movimento”, Reso-
faz parte da grade curricular, enquanto discipli-
lução SME/FUMEC Nº 05/2007, a frente de
na obrigatória. Esse trabalho orienta-se no sen-
Arte passou a ser de responsabilidade deste
tido de ampliar a visão de mundo dos alunos
último, que também reuniu projetos que já
de maneira que eles estabeleçam analogias, re-
aconteciam no âmbito institucional, mas de lações com a sua própria língua e também com
áreas diferentes, ou seja, voltadas à Arte e à sua própria cultura e com outras culturas.
Educação Física.
A língua é também marca de identidade
Na estrutura posta a partir de 2009, o “Pro- de um povo, de uma comunidade, e aprender
grama Linguagens e Educação” reuniu e ar- com o outro e sobre o outro nos auxilia a re-
ticulou o “Projeto Imprensa na Escola” e o conhecer a nossa própria identidade, a nossa
“Projeto Línguas”, tendo como objetivos ge- própria cultura. Aprender uma língua estran-
rais desenvolver a leitura, a produção escrita geira, independente da necessidade de apren-
e a oralidade em língua materna e segunda dê-la por questões pragmáticas, relacionadas
língua, presentes nas várias esferas sociais e à ascensão social ou econômica, enriquece o
também veiculadas nas diversas mídias, bem conhecimento da nossa própria língua, assim
como promover o respeito pela diversidade como enriquece o conhecimento da nossa
cultural, a interdisciplinaridade e valorizar o própria cultura. Assim, conhecendo a cultura

97
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

do outro, conhecemos melhor a nossa própria tura ocidental. Basta pensarmos nos artistas,
cultura. pintores, escultores europeus que são referên-
cias mundiais e estão presentes nos conteúdos
Reportando-nos diretamente às línguas das diretrizes do município; nos autores que
contempladas no “Projeto Línguas”, reconhe- influenciaram a nossa literatura; na origem do
cemos relações quase que diretas com a nos- nosso sistema político, a República; nos direi-
sa língua materna, uma vez que o Francês, o tos humanos tão conclamados por nós, pro-
Italiano e o Espanhol fazem parte das línguas fessores; na nossa gastronomia, entre outros.
latinas, ao lado do Português, do Catalão e do
Romeno. São inúmeras as semelhanças lexi- A nossa cidade carrega marcas resultantes
cais, semânticas, gramaticais que coexistem das culturas desses e de outros países; basta
entre essas línguas. Mesmo muitas das seme- olhar­mos as esculturas, as fachadas de pré-
lhanças presentes na língua inglesa, que não é dios, os outdoors. É importante ressaltar que
uma língua latina, foram incorporadas da lín- não po­demos hierarquizar línguas e culturas
gua francesa em função de razões históricas de for­ma hegemônica, se quisermos, de fato,
no passado. É de fácil dedução que o aprendi- inserir os alunos no mundo globalizado e se
zado dessas línguas nos auxilia a melhor com- quisermos que eles desenvolvam uma postura
preendermos nossa língua. de respeito à diversidade e pluralidade cultu-
ral. Todas as culturas e línguas, do ponto de
E é, exatamente, isso que ocorre durante vista linguístico, cumprem seu papel social co-
as aulas e com os projetos desenvolvidos em municativo.
nossas escolas, voltados para as línguas estran-
geiras. As habilidades de comparar, relacionar, O “Projeto Línguas”, assim, tem como pre-
pesquisar são aguçadas mediante o contato missa o acesso dos alunos a conhecimentos
com qualquer uma das línguas citadas. Há que que, por muitas vezes, é direito apenas das
se fazer uma referência ao Espanhol, que além classes mais favorecidas. As Diretrizes Cur-
de ser muito semelhante ao Português em to- riculares do Município têm como princípio
dos os aspectos linguísticos, o que vem a auxi- básico a inclusão social, política, econômica
liar o aprendizado da nossa língua, atualmente e, talvez a maior delas, o acesso ao conheci-
é a segunda língua falada mundialmente, es- mento.
tabelecendo relações econômicas e políticas.
Não nos esqueçamos dos nossos vizinhos lati- O “Projeto Línguas” na Rede Municipal
no-americanos, com os quais nossas relações
culturais já são estreitas e as econômicas estão O “Projeto Línguas” começou com o Projet
em crescimento, em razão do MERCOSUL. École (Projeto Francês), em 1993, com o ofe-
recimento de bolsas de estudos pela Aliança
Pensando no aspecto cultural, que é um Francesa de Campinas a alunos das escolas
dos objetivos mais importantes do projeto, o municipais e, em seguida, formação de pro-
“Projeto Línguas” visa proporcionar ao aluno fessores titulares do cargo de Letras para que
o conhecimento, juntamente a outros com- desenvolvessem o trabalho com a língua fran-
ponentes curriculares como Arte, Geografia, cesa e a cultura dos países francófonos.
História, e temas transversais como Educa-
ção Ambiental, Cidadania, Ética e outros, de Em 1995, estabeleceu-se, oficialmente, pela
aspectos culturais de países francófonos, his- primeira vez, o convênio entre o Consulado
panófonos, assim como da própria Itália, que Geral da França, a Aliança Francesa de Cam-
permeiam a nossa cultura. São inúmeras as pinas e a Prefeitura Municipal de Campinas.
contribuições desses países, se pensarmos no No mesmo ano o “Projet École” começou a ser
Brasil que é herdeiro em grande parte da cul- desenvolvido em quatro escolas de Ensino

98
CAPÍTULO 13  –  PROGRAMAS E PROJETOS

Fundamental, como projeto piloto. Como a SME, por meio de grupos de estudos redimen-
experiência foi considerada exitosa, o traba- sionou os cursos de línguas, direcionando-os
lho com o Francês expandiu-se em três eixos: para a formação linguística e cultural dos pro-
a oferta de bolsas aos alunos do Ensino Fun- fessores, com o intuito de discutir metodolo-
damental Anos Finais; a formação linguística, gias e estratégias de implementação do ensino
cultural e pedagógica dos professores, reali- da língua e cultura estrangeiras, nas escolas da
zada, inicialmente, pela Coordenadoria Se- Rede Municipal, enquanto projetos.
torial de Formação e tendo prosseguimento
pela “Aliança Francesa”, por meio de bolsas Ações principais
de estudos; projetos desenvolvidos nas esco-
las junto aos alunos, com os professores que • Formação linguística e cultural em língua
frequentam ou já frequentaram os cursos na francesa, italiana e espanhola dos professo-
Aliança Francesa. Atualmente o Projet École res sob a responsabilidade da SME;
conta com professores de Ensino Fundamen-
tal e educação infantil. • Grupos de Estudos para reflexão de temas
ligados ao ensino de língua estrangeira, es-
De 1998 a 2003 foi desenvolvido o “Proje- tratégias e metodologias;
to Italiano”, resultado de uma parceria entre o
Consulado Geral da Itália, a Prefeitura Munici- • Continuidade da formação linguística e cul-
pal de Campinas e a Casa d’Italia, aos moldes tural dos professores, em cursos regulares
do “Projet École”. Em 2007, o Departamento Pe- na Aliança Francesa;
dagógico da Secretaria Municipal de Educação,
através da Coordenadoria Setorial de Forma- • Bolsas de Estudos na Aliança Francesa para
ção, considerando relevante o ensino da língua alunos do Ensino Fundamental do município;
e cultura italianas, dadas as origens de grande
parcela da população de Campinas, decidiu re- • Projetos desenvolvidos nas unidades escola-
tomar a formação dos professores, contratan- res, segundo os objetivos do Projeto Político
do uma professora de Italiano, que ministrou Pedagógico e das Diretrizes Curriculares;
cursos para professores do município, até o
• Simpósio de Práticas Pedagógicas em língua
final de 2012. Após cerca de dois anos do iní-
materna e estrangeira;
cio dessa formação, algumas escolas passaram
a desenvolver projetos com a língua e cultura • Integração com outros projetos/programas
italianas. No ano de 2013, estabeleceu-se um em eventos, oficinas;
convênio entre o Consulado da Itália, a FECI-
BESP (Federação das Entidades Culturais Ítalo
• Oficinas nas escolas.
Brasileiras do Estado de São Paulo) e a Prefeitu-
ra Municipal de Campinas, pelo qual a forma-
ção de professores foi retomada. 13.4. Projeto Imprensa na Escola

Com relação ao ensino da língua espanhola, em O “Projeto Imprensa na Escola” trabalha,


2009, a Secretaria Municipal de Educação iniciou, fundamentalmente, com a leitura dos textos
através da Coordenadoria Setorial de Formação, veiculados no jornal impresso e eletrônico.
grupos de formação de professores, desenvolven- Trata-se de considerar a leitura jornalística
do atividades culturais e linguísticas com a língua como um instrumento para aquisição de in-
dos países hispanófonos nas escolas municipais. formações e de ter a clareza de que, acompa-
nhando os fatos cotidianos, acompanhamos,
Em 2013, exceção feita aos grupos de for- também, o processo histórico do homem e da
mação de professores em língua italiana, a sociedade. É importante que o aluno conhe-

99
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

ça e reflita sobre os fatos e estabeleça relações de textos dos/ para pais, alunos, professores e
com os mesmos. No trabalho com o jornal, demais funcionários. Além dos aspectos cul-
não se trata, então, meramente de se extraírem turais e pedagógicos, o mural demanda a co-
apenas informações dos diferentes textos que operação e a participação coletiva, condições
compõem o jornal, pegar palavra por palavra importantes para o exercício da cidadania. A
isolada de seu contexto e sentido para, tão so- participação coletiva estende-se para a ativi-
mente, estudá-la como uma categoria grama- dade do jornal falado e impresso.
tical, mas sim de abordar o texto jornalístico,
estabelecendo uma relação dialógica entre o Além dos textos informativos, os jornais tra-
leitor e o texto, de modo a construir-lhe um zem diversos gêneros textuais que são aborda-
significado/sentido a partir da sua leitura. dos e analisados nos cursos de formação e na
escola. Nesse sentido, o trabalho com o jornal
Nessa abordagem, procura-se levantar hi- na sala de aula é significativo e mostra que a
póteses explicativas, identificar o ponto de linguagem tem uma função social. Cada gê-
vista do autor em relação ao texto para, en- nero textual tem sua especificidade, tem um
tão, o leitor/aluno se posicionar em relação ao objetivo de se constituir como tal e um propó-
que lê, estabelecendo, enfim, relações entre os sito na sociedade. Dessa forma, o projeto visa
textos e a realidade. Assim, ao se fazer a leitu- mostrar que as relações interpessoais, sociais
ra do jornal, dos seus vários gêneros textuais, e profissionais são expressas e intermediadas
nesta perspectiva, desenvolve-se uma cons- pela linguagem, através de textos verbais e não
cientização a respeito da função social que a verbais, ampla e diversificadamente presentes,
linguagem desempenha, seja ela gráfica, visu- nas várias seções jornalísticas. Ao mesmo tem-
al ou oral. Portanto, além de formar leitores e po em que a língua é o veículo pelo qual to-
multiplicadores da leitura, o projeto também mamos conhecimento das ações e efeitos des-
visa trabalhar as particularidades do jornal, sas relações, é também por ela que essas ações
como sua estruturação, sua função específica, concretizam-se. Segundo Cortella (2007, p. 30),
sua relação com o leitor, assim como o seu pa- “A leitura do jornal é uma porta de entrada no
pel na sociedade. presente, que, com critérios, permite entender
o passado e projetar a compreensão do futuro”.
Embasados pelos estudos e discussões nos
grupos, os professores começam, nas escolas, O “Projeto Imprensa na Escola” tem, assim,
não só o trabalho de leitura com os jornais, a intenção de propiciar uma prática da leitura
mas também o de produção escrita e oral. crítica dos textos veiculados no jornal impres-
Dentre essas produções, prevê-se a realização so e digital. Não bastam apenas as informa-
de boletins informativos, de um jornal impres- ções, mas o que fazemos a partir delas, en-
so, on-line, falado e mural. O intuito é de que o quanto cidadãos participativos na construção
professor, além de motivar o aluno para essas social. Ainda, de acordo com Cortella (2007,
realizações, seja o mediador da relação do alu- p. 31), “A finalidade da leitura do jornal é fazer
no com a leitura e a escrita, para que ele, real- biópsia, ou seja, estudar, olhar as condições do
mente, constitua-se leitor e produtor de textos. dia-a-dia para manter a “bio”, manter a vida,
manter a vitalidade, manter a animação da
Com a criação do mural, espera-se que haja vida, do trabalho e da história”.
uma maior integração entre os alunos, profes-
sores, funcionários e famílias na escola. O mu- Todas essas atividades levam a um objetivo
ral é um veículo de informação, mas também maior, que é a inserção do aluno no mundo
de conhecimento, de ampliação do universo da leitura, no mundo letrado, pois o trabalho
cultural, estendido a toda comunidade escolar, com o jornal reforça o processo de letramen-
uma vez que o que se espera é a veiculação to vivenciado pelo aluno. Sua participação na

100
CAPÍTULO 13  –  PROGRAMAS E PROJETOS

sociedade será efetiva se ele tomar parte desse oferecendo oficinas nas escolas e NAEDS e
processo e cabe, em grande parte, ao professor participando das exposições específicas, nas
e à escola ajudá-lo a percorrer esse caminho. Unidades Educacionais.
O Projeto Imprensa na Rede Municipal Ações principais
O “Projeto Imprensa na Escola” iniciou-se • Grupo de Estudo de professores, promo-
em 1981, na Escola Municipal de Educação vendo discussões e reflexões sobre funda-
Fundamental “Pe. Melico Cândido Barbosa”. mentos e práticas de leitura para que rea-
Em 24 de novembro de 1992, tornou-se insti- lizem as atividades e projetos em sala de
tucionalizado na rede, através de publicação aula;
no Diário Oficial do Município de Campinas.
• Proporcionar encontros mensais com gru-
Em 1993, iniciou-se a parceria entre o “Pro- pos de alunos, professores e demais profis-
jeto Correio Escola”, da RAC (Rede Anhan- sionais da educação, para leitura de livros
guera de Comunicação) e a Rede Municipal de de Literatura infanto-juvenil, jornal impres-
Ensino de Campinas, proporcionando forma- so, digital e revistas;
ção específica aos professores para o trabalho
com a leitura da mídia impressa e a produção • Subsídios à produção de jornal mural e de
de jornais escolares. Essa parceria fortaleceu jornal escolar (impresso, on-line e falado)
os estudos sobre a leitura e produção escrita para a socialização dos estudos realizados
dos profissionais, nos grupos de formação, as- por alunos e professores, integrando escola
sim como a organização e o desenvolvimento e comunidade;
das atividades com o jornal, em sala de aula.
• Oportunizar a produção de hemeroteca im-
A partir de 2010, o Projeto Imprensa foi pressa ou virtual para biblioteca escolar;
inserido no “Programa Linguagens e Educa-
ção” e retomou a formação dos professores e • Oficinas nos NAEDS e nas escolas para
especialistas da Educação Infantil, do Ensino toda comunidade escolar.
Fundamental e Educação de Jovens e Adultos,

101
Capítulo 14

NTE – NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL

Histórico Secretaria de Educação para a adoção e implan-


tação do Sistema Operacional Linux, nas esco-
O “Núcleo de Tecnologia Educacional” las, retomou-se a questão da formação para
(NTE) foi instituído, em Campinas, no ano de uso da informática, no contexto pedagógico,
1998, por meio de uma parceria entre o “Pro- agora, contemplando a utilização de Software
grama de Informática na Educação” (PROIN­ Livre, que tem suas raízes na livre troca de co-
FO), do Ministério da Educação (MEC) e a Pre- nhecimentos e pensamentos que podem tradi-
feitura de Campinas, através da Secretaria de cionalmente se encontrar no campo científico.
Educação. A implantação do NTE teve o apoio
da Universidade Estadual de Campinas, a UNI- Tal como as ideias, os programas de compu-
CAMP, já que esse programa deveria destinar- tadores não são tangíveis e podem ser copiados
-se, em um primeiro momento, ao atendimen- sem perda. A distribuição dos programas é a
to da instância estadual. A função dos “Núcleos base de um processo de evolução, que alimen-
de Tecnologia” se fundamentava na filosofia do ta o desenvolvimento do pensamento de seus
“Programa PROINFO”, cuja finalidade era a de usuários. Deste modo, vários cursos foram im-
inclusão da informática nos ambientes escola- plantados, tanto para professores quanto para
res e de formação continuada dos professores, gestores das escolas intensificando a migração
para utilização das tecnologias. para o sistema Linux, até então, pouco conhe-
cido na Rede Municipal de Ensino.
De 1998 a 1999, o NTE esteve voltado, qua­
se que exclusivamente, para a formação dos A partir de 2007, com a atualização do
professores da Rede Municipal de Ensino de “Pro­grama PROINFO”, através do Decreto
Campinas, em in­formática; o Núcleo era sus- Lei nº 6.300/07 de 12/12/07 e cujo nome foi
tentado por pro­gramas apoiados pelo NIED alterado para “Programa Nacional de Tecno-
(Núcleo de Infor­mática Aplicada à Educação), logia Educacional”, o MEC in­ tensificou os
da UNICAMP. Entretanto, em 2001, iniciou-se investimentos para os estados e municípios,
um processo de estudos de uma nova propos- no sentido de proporcionar subsídios tecno-
ta de formação continuada para professores, lógicos e de formação continuada aos educa-
da Rede Municipal de Ensino de Campinas, e dores, para a inserção no uso das TIC (Tec-
o núcleo retomou suas atividades, interrompi- nologias de Informação e Comunicação), nas
das no ano 2000, com uma equipe pequena de práticas pedagógicas. Assim, o Programa re-
multiplicadores. fez os convênios com as secretarias estaduais
e municipais, oferecendo computadores para
Em 2004, com a reestruturação dos “Labo- os laboratórios das escolas, conexão em Ban-
ratórios de Informática Educativa” (LIEDs), das da Larga e o “Proinfo Integrado”, um programa
escolas de Ensino Fundamental, e a opção da de formação continuada que compreendia

103
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

diversos cursos específicos para a integração • Capacitação de professores e gestores para


das mídias, no contexto escolar, e uso das o uso da informática e outras mídias.
TIC, sendo dois deles na modalidade à dis-
tância (EAD), e que foram repassados às re- • Apoio à resolução de problemas técnicos
des de ensino pelos NTEs. O Governo Federal nos LIEDs (Laboratórios de Informática
também migrou para o Sistema Operacional Educativa), bem como estruturação e nor-
Linux, criando a distribuição Linux Educacional matização do uso desse espaço;
para os laboratórios de informática, mais tar-
de adotada, também, pela Secretaria Munici- • Assessoria pedagógica para uso da tecnolo-
pal de Educação. gia no processo de ensino e aprendizagem;

A Secretaria de Educação de Campinas, re- • Acompanhamento e avaliação de projetos


conhecendo que as tecnologias estão presen- das escolas que envolvam tecnologias na
tes e inseridas em todos os setores da socie- educação;
dade e que é de extrema importância que a
educação acompanhe os processos naturais • Pesquisas na área de software livre para uso
de aquisição das novas linguagens midiáticas, educacional;
dentro do cenário da informação e comuni-
cação, renovou o convênio com o “Programa • Intensificação da formação continuada dos
PROINFO”, em 2008. Neste ano e no ano sub- educadores da Rede Municipal de Ensino,
sequente, foram oferecidas, pelo MEC, capa- para a utilização das tecnologias integradas
citações aos formadores dos NTEs e, a partir aos conteúdos curriculares, desencadeando
de 2009, os cursos começaram a ser ofereci- novas práticas de ensino e aprendizagem.
dos pelos municípios, aos professores. Além
disso, o PROINFO proporcionou curso de es- 14.2. As Novas Tecnologias e o
pecialização em tecnologias a multiplicadores Currículo Escolar
e formadores de todo o País, oferecido pela
PUC-RJ. Tratando-se das diretrizes para a elaboração
de um currículo para o Ensino Fundamental, da
14.1. Objetivos do Núcleo de Rede Municipal de Ensino, é necessário consi-
Tecnologia de Campinas derar os instrumentos e linguagens que fazem
parte da cultura da atual geração de alunos que,
Atualmente, o Núcleo de Tecnologia tem hoje, frequenta as escolas e que vive imersa em
intensificado suas ações em pesquisas de no- uma era digital que vai desde a utilização da
vos recursos educacionais, com as várias mí- televisão com controle remoto, do telefone ce-
dias, principalmente, ligadas ao uso da WEB lular, do computador, até os novos dispositivos
2.0, no que se refere a instrumentos que pro- como tablets e smartphones com conexão à Inter-
porcionem a interação e compartilhamento de net. Ainda que, muitas vezes, poucos desses
produções e conhecimentos entre alunos, pro- recursos estejam em seus lares, as crianças e
fessores e comunidade escolar, acompanhan- jovens dessa geração estão mergulhados na
do a filosofia do software livre. Nesta linha de sociedade digital.
pensamento, as principais ações do Núcleo,
respeitando, também, as ações e ideias do É fato, também, que as crianças e jovens, de
“Programa PROINFO”, são as seguintes: hoje, desenvolveram formas diferentes de se co-
municar, brincar e aprender, além de terem uma
• Sensibilização e motivação das escolas para noção diferenciada de distância, tempo e espaço,
o uso das Tecnologias de Informação e Co- constituída pelo desenvolvimento das redes de
municação (TIC); comunicações, principalmente, pela Internet. Sen-

104
CAPÍTULO 14  –  NTE – NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL

do assim, é imprescindível que os alunos apren- ções acarreta implicações epistemológicas, pe­
dam com a integração das novas mídias e tecno- dagógicas e culturais e aponta novas tendências
logias às atividades curriculares, cabendo à escola para o currículo. A integração de tecnologias ao
abarcar esse ambiente digital que é considerado desenvolvimento do currículo, na escola e na
por esta geração como natural e inerente ao seu sala de aula, desperta a consciência para algu­
cotidiano. Neste sentido, ao utilizar as TICs em mas problematizações já presentes na escola. E,
atividades curriculares e escolares, é possível: para que haja essa nova postura, a autora apre-
senta referências que sinalizam alguns aponta-
• Vislumbrar as possibilidades de abertura de mentos, para os quais a escola e os profes­sores
espaços, tempos e conhecimentos, tradicio- devem se atentar. Essa perspectiva de articu-
nalmente, trabalhados na escola; lação de saberes exige do professor uma nova
postura, o compro­metimento e o desejo pela
• Estabelecer conexões entre a escola, o coti- busca, pelo aprender a aprender e pelo desen-
diano da vida dos alunos e os acontecimen- volvimento de compe­tências, as quais poderão
tos do mundo; favorecer a recons­trução da sua prática peda-
gógica:
• Integrar o local com o global;
[...] Portanto, não basta que o professor tenha
• Abrir as fronteiras para o diálogo e o traba- apenas acesso às propostas e às concepções edu-
lho integrado entre as disciplinas escolares. cacionais inovadoras condizentes com as socie-
dades do conhecimento e da tecnologia. É preciso
Para aproximar as questões curriculares das oportunizar a esse profissional a ressignificância
novas tecnologias de informação e comunica- e a reconstrução de sua prática pedagógica, vol-
ção, bem como atender a essas novas lingua- tada para a articulação das áreas de conheci-
gens próprias dos alunos do Ensino Funda- mento e da tecnologia (PRADO, 2005, p. 58).
mental, novos recursos digitais audiovisuais
para visualização de conteúdos, simulações 14.3. O CAMPIX – Pacote de
mostrando experimentos físicos e químicos Tecnologias Assistivas para
e jogos educacionais diversos são indicados
Uso Educacional
para uso nas práticas pedagógicas. Tais recur-
sos proporcionam aprofundamento dos con- Resultado do trabalho das Secretarias de
ceitos de uma maneira lúdica e agradável aos Educação, dos Direitos da Pessoa com Defi-
jovens. Exemplificando alguns recursos online ciência e Mobilidade Reduzida e do Departa-
que são indicados, podemos citar: mento de Informática para reunir vários apli-
cativos de tecnologia assistiva, disponíveis em
http://jogos.wwf.org.br/casaeficiente/ softwares livres, em uma única plataforma,
para serem liberados na rede municipal de en-
http://www.fmu.br/game/home.asp sino e com possibilidade de, no futuro, serem
disponibilizados a toda a população. De acor-
http://revistaescola.abril.com.br/jogos/
do com Freire (2000), o MEC classifica as tec-
http://rachacuca.com.br/ nologias assistivas em quatro grandes áreas:

- sistemas auxiliares de comunicação;


http://tvescola.mec.gov.br
- controle das atividades da vida diária;
http://www.livroclip.com.br/
- ferramentas de aprendizagem; e
Segundo Prado (2005), a sociedade configu­
rada pela cultura tecnológica das novas gera­ - meio de inserção cidadã.

105
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

O sistema Campix busca abranger todas as colas, atendem aos diferentes componentes
quatro áreas, visando a melhoria dos proces- curriculares, desde a Educação Infantil até os
sos de ensinagem e aprendizagem, através do anos finais do Ensino Funda­mental e a EJA.
uso de tecnologias de informação e comuni- Essa socialização acontece nas escolas, nos
cação e do software livre, assim como para momentos comuns de Trabalho Docente Co-
promoção da educação inclusiva para todos letivo (TDC), por meio de oficinas e, também,
e acessibilidade curricular ao público-alvo da via os cursos oferecidos na sede do Núcleo.
educação especial.
Outra prerrogativa do NTE é proporcionar
Este projeto, também, tem como desafio maior integração entre os agentes envolvidos
constante a formação docente e das equipes na rede de ensino de Campinas, por meio da
gestoras das escolas para o uso potencial des- disponibilização de ambiente colaborativo,
se sistema operacional e das tecnologias as- para compartilhamento de ideias, experiências,
sistivas, enquanto ferramentas pedagógicas e documentos e também para divulgação de pro-
com a capacidade de, além de ganhos cogni- duções diversas – o ambiente Educação@Co-
tivos, proporcionar uma efetiva transforma- nectada (http://educacaoconectada.campinas.
ção no contato com o mundo da informação sp.gov.br/). Trata-se, também, de um espaço de
e da cidadania para os estudantes. Assim, esta forma­ção virtual, denominado AVA (Ambien-
formação contempla as seguintes áreas de co- te Virtual de Aprendizagem), disponibilizado
nhecimento: a utilização dos recursos de in- para o ofereci­mento de cursos semipresenciais
formática como ferramentas de aprendizagem e à distância, podendo ser utilizado por todas
e de autoria; os softwares que atuam enquan- as frentes de formação ligadas à SME, além de
to sistemas auxiliares de comunicação; os su- agregar con­teúdos educacionais diversos.
portes para a produção de multilinguagens e
da aprendizagem lúdica; os usos cotidianos do 14.5. As Tecnologias e os Projetos
computador no contexto escolar; e a inserção
cidadã, tanto através do uso de software livre Finalmente, deve-se reforçar que o traba-
e seus conceitos, quanto do acesso às oportu- lho com as TICs (Tecnologias de Informação
nidades de interação e colaboração na apren- e Comunicação) permite possibilidades de
dizagem ativa. produção e construção de conhecimento por
meio do trabalho por projetos. Ressalta-se que
14.4. Formação dos Educadores para um currículo integrado e o desenvolvimento
Uso Adequado das Tecnologias de projetos de trabalho, aliados a um tema
instigador, despertam a curiosidade do aluno
O NTE (Núcleo Tecnológico Educacional) por novos conhecimentos, pois:
preocupa-se em proporcionar ao professor
oportunidades de conhecimento e apropria- O projeto é, sobretudo, uma reforma de ordem meto-
ção de ferramentas e sua aplicabilidade no dológica que não se impõe ao professor nem a esco-
trabalho com os alunos. Algumas ferramentas la, mas, sim, ao contrário, quando o professor deduz
utilizadas, hoje em dia, são: Blogs, para divul- a maneira de conseguir a instrução de seus alunos,
gação de ações dos profissionais e produções é uma questão dada, inventa livremente um projeto
de alunos; recursos didáticos digitais, como (HERNÁNDEZ apud SAINZ, 1998, p. 68).
videoaulas, jogos, livros digitais (e-books),
que sirvam de suporte para trazerem as prá- Alguns projetos especiais, envolvendo tec-
ticas escolares mais próximas dos recursos nologias, já são realidade em algumas escolas
tecnológicos, proporcionando dinamismo e da Rede Municipal, como o “Projeto Um Com-
contemporaneidade às ações dos educadores. putador por Aluno”, que disponibiliza um lap-
Os jogos socializados aos pro­fessores, nas es- top por aluno, para ser utilizado no ambiente

106
CAPÍTULO 14  –  NTE – NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL

escolar e fora dele, em um projeto envolvendo 9º ano, integrado ao trabalho do professor, com
mobilidade e desenvolvimento de ações cola- o intuito de promover o uso consciente dos la-
borativas com objetos e ferramentas offline e boratórios de informática e demais tecnologias
online, via conexão Wi-Fi. inseridas no ambiente escolar. As ações do alu-
no monitor estão em consonância com as prá-
Outro projeto que fomenta ações colabora- ticas curriculares dos professores, visando ao
tivas, envolvendo tecnologias, no Ensino Fun- apoio às aulas desenvolvidas nos laboratórios
damental, é o “Projeto Aluno Monitor de Infor- de informática e à integração com os projetos
mática”, com a participação de alunos do 4º ao diversos praticados por alunos e professores.

107
Capítulo 15

O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO CONTINUADA

Ao definirmos estas Diretrizes Curricula- os cursos realizados em parceria com institui-


res para o Ensino Fundamental Regular e EJA ções, como as universidades.
(Ensino de Jovens e Adultos), enunciamos um
conjunto de conceitos, perspectivas teóricas e Em 2011, destaque especial foi dado aos
práticas que devem nortear o trabalho educa- grupos de formação, por componente curri-
tivo, na Rede Municipal de Ensino. Não são cular, realizados no CEFORTEPE, articulados
ideias totalmente novas, pois estão apontadas junto aos Programas e Projetos do DEPE/SME,
na produção educacional das últimas déca- já que os objetivos de ensino, apresentados
das, em nosso país. Porém, todas elas exigem nestas Diretrizes Curriculares (versão 2010),
aprofundamento de estudos e, principalmen- indicavam a necessidade de fortalecimento de
te, uma postura investigativa sobre as próprias um trabalho comum, de rede, que, ao fortale-
práticas, a fim de mantermos coerência entre cer a identidade dos componentes, alavancas-
concepções, objetivos, princípios e modos de se trabalhos interdisciplinares nas escolas.
organização do trabalho pedagógico no coti-
Durante o ano de 2010, a Coordenadoria Se-
diano. A política de formação continuada deve
torial de Formação do DEPE/SME desencadeou
prever propostas concretas para realização de
um processo de discussão com as escolas, com
estudos sobre os conceitos e perspectivas de
o objetivo de definição de fundamentos e dire-
trabalho apontadas pelas Diretrizes Curricula-
trizes para a política de formação continuada.
res e criar as condições necessárias para que A seguir, a partir dos debates, então realizados,
todos os profissionais que atuam nas escolas, trazemos, aqui, algumas indicações para que a
NAEDS e outras instâncias da SME, possam formação continuada venha a contribuir para a
participar de programas de formação. continuidade de implementação das Diretrizes
Curriculares, que ora apresentamos:
A escola deve ser o espaço privilegiado para
a formação continuada, local em que os pro- • Todo profissional da educação, articulado
fissionais se encontram, socializam suas difi- em seu grupo de trabalho (escola ou outras
culdades e suas realizações junto aos alunos. instâncias da SME), deve estar envolvido
Grupos de estudos e cursos, no interior das es- em processos de formação continuada, de-
colas, devem ser incentivados. Porém, outros finindo planos de estudos para superar os
espaços são também potenciais para realiza- problemas concretos que enfrenta em seu
ção da formação continuada dos educadores, trabalho.
como os grupos de estudos e cursos organi-
zados pelos NAEDs e pelo Centro de Forma- • A formação continuada deve contribuir
ção, Tecnologia e Pesquisa Educacional “Prof. para a construção do trabalho educativo so-
Milton de Almeida Santos”- CEFORTEPE - ou bre bases coletivas e solidárias.

109
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

• As experiências formativas devem estar ali- fio colocado aos educadores e a forma-
cerçadas na concepção de que todas as Crian- ção continuada pode contribuir para sua
ças, Jovens e Adultos, como também os pro- superação. Para tanto, devem-se realizar
fissionais da educação, produzem cultura e se estudos sobre os processos de ensino e
apropriam da mesma, nas condições materiais avaliação numa perspectiva de interven-
e nas relações socioculturais que vivenciam. ção pedagógica de continuidade, para a
As situações de fracasso e reprovação escolar aprendizagem de todas as crianças, jovens
devem ser superadas e substituídas pela pos- e adultos.
sibilidade de todos aprenderem sempre.
• Todas as modalidades de formação conti-
• A formação continuada deve ser pautada pela nuada (cursos, grupos de formação, semi-
leitura, estudo e pesquisa, contribuindo para nários e outros) devem contribuir para que
que os profissionais apreendam métodos de os profissionais incorporem as práticas de
análise e investigação sobre os problemas Avaliação Diagnóstica e a Descrição de Sa-
que emergem da relação pedagógica com as beres, práticas estas que podem contribuir
crianças, jovens e adultos e suas famílias. para o replanejamento constante do traba-
lho de ensino em sala de aula.
• As concepções de educação, ensino, apren-
dizagem e formação humana devem ser es- • Que a formação continuada contribua para
tudadas, assim como a produção teórica e a superação de uma dura realidade que ain-
prática das diversas áreas do conhecimento da temos em nossas escolas, que diz respei-
e, especialmente, das ciências da educação. to ao grande número de alunos que percor-
rem a escolaridade, sem apropriar-se com
• Que se promovam pesquisas sobre novos autonomia da leitura e escrita.
conhecimentos, novas metodologias e no-
vos processos educativos, sempre partindo • Programas de formação específicos devem
dos saberes que os profissionais produzem focar os processos de ensino e aprendiza-
no seu trabalho cotidiano, ampliando hori- gem das crianças, jovens e adultos que pos-
zontes para uma fecunda crítica que saiba suem deficiências ou necessidades específi-
preservar os acertos e renovar as práticas. cas.

• As categorias de infância, adolescência, ju- • A formação continuada pode e deve con-


ventude e velhice devem ser recuperadas tribuir para que o trabalho educativo junto
pela formação continuada, de modo a con- às crianças, jovens e adultos, nas Unidades
tribuir para a compreensão tanto das mu- Educacionais, seja prazeroso e fecundo,
danças sociais e culturais que as populações fundamentado numa relação ética e moral-
vivem, ao longo da vida, como dos impac- mente comprometido com um mundo jus-
tos destas transformações em seu modo de to e humano.
aprender e estar na instituição educacional.
• As questões relacionadas aos preconceitos
• Que as várias linguagens, que comportam e autoritarismos – fundamentados nas dis-
a formação humana, sejam objetos de estu- criminações de classe, raça, etnia, religião
dos dos educadores, com destaque para o e gênero – devem ser, sistematicamente,
campo das Letras, das Artes, da Comunica- abordadas em todas as experiências forma-
ção e das Tecnologias. tivas, pois só assim poderemos construir
uma escola de fato acolhedora e inclusiva,
• A construção de uma escola organizada como se propõe nestas Diretrizes Curricu-
em ciclos de aprendizagem é um desa- lares.

110
PARTE II

COMPONENTES CURRICULARES – ANOS FINAIS


Capítulo 16

LÍNGUA PORTUGUESA

Apresentação conceitos de análise linguística que propor-


cionem o emprego de uma metalinguagem
As diretrizes para o componente curricular adequada à descrição de fenômenos textu-
de Língua Portuguesa dos anos finais do Ensi- ais, discursivos e gramaticais relevantes para
no Fundamental partilham dos pressupostos o trabalho nestes ciclos, bem como a opera-
teóricos e metodológicos essenciais da pro- ção de elementos da estrutura da língua, ne-
posta dos anos iniciais e procuram avançar cessários à produção textual, de acordo com
na discussão da especificidade deste compo- as expectativas definidas.
nente para os Ciclos III e IV. Assim, como nos
anos iniciais, propõe-se, aqui, a continuidade Ao eleger os gêneros discursivos como
do desenvolvimento das atividades cotidia- uma das categorias organizadoras das prá-
nas em torno das modalidades organizativas ticas de ensino, estas diretrizes assumem a
que constituem a rotina planejada, ainda que necessidade de se promover a sistematiza-
algumas adaptações tenham que ser feitas ção escolar adequada dos gêneros, num tra-
em função da diferença da organização dos balho pedagógico intencionalmente voltado
tempos escolares, nesta etapa. Outro ponto ao domínio da produção e compreensão
fundamental, que articula o trabalho de 1º textual. Este posicionamento contrapõe-se
ao 9º ano, é a ênfase nos gêneros discursivos às perspectivas automáticas de abordagem
como objetos de ensino para a compreensão dos gêneros, para as quais a mera exposi-
e produção textual, considerando-se o texto ção dos alunos à diversidade textual basta-
como “produto da atividade discursiva oral ria para a aprendizagem de seu uso. Assim,
ou escrita que forma um todo significativo” indicamos a necessidade de que sejam de-
(PCN, 21)29. senvolvidas sequências didáticas que abor-
dem as dimensões textuais e discursivas
Nos anos finais do Ensino Fundamental, o dos gêneros priorizados, em cada ciclo, para
trabalho com múltiplos letramentos se in- aprofundamento sistemático. Não se trata
tensifica, buscando o desenvolvimento de de “didatizar” inadequadamente os gêneros,
maior autonomia dos alunos com diversas “gramaticalizando” a abordagem dos textos,
linguagens e modalidades no uso de recur- para depreender, apenas, os elementos for-
sos digitais, audiovisuais e (hiper) midiáti- mais que os constituem. Segundo os PCNs
cos que participam da construção de senti- (1998, p. 21):
dos dos textos contemporâneos. Além disso,
nesta etapa do ensino, devem-se consolidar [...] todo texto se organiza dentro de determi-
nado gênero em função das intenções comuni-
29 Todas as menções aos PCNs, aqui, se referem aos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – Terceiro e Quarto
cativas, como parte das condições de produção
Ciclos do Ensino Fundamental. do discurso, as quais geram usos sociais que os

113
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

determinam. Os gêneros são, portanto, deter- envolve sua implementação, especialmente


minados historicamente, constituindo formas re- daqueles denominados “Projetos de Letra-
lativamente estáveis de enunciados, disponíveis mento”, pelo interesse que representa para
na cultura (PCNs ,1998, p. 21). o trabalho em Língua Portuguesa. As “ativi-
dades sequenciadas” aproximam-se do con-
Assim, é preciso recuperar, tanto quanto ceito de sequência didática adotado nestas
possível, a inserção discursiva do texto que se diretrizes (definido e explorado nos Cader-
lê, ouve e produz, refletindo sobre as práticas nos de Suporte Pedagógico mencionado),
sociais que lhe dão vida fora da escola, bem articulando-se em função de objetos de en-
como definir claramente as expectativas, pro- sino específicos, focalizando a produção e a
priamente escolares, sobre o gênero escolhi- compreensão textual, nos diversos gêneros,
do, de tal forma que se garanta a progressão definidos a cada ano.
de aprendizagens dos alunos, nas sequências
e projetos planejados. Assim, as “atividades permanentes”, cuja
marca principal é a regularidade, são situa-
Organização de Rotinas de Trabalho ções didáticas que têm como objetivo desen-
volver hábitos e atitudes, ocorrendo sema-
O trabalho pedagógico no componente cur- nalmente, de forma sistemática e previsível.
ricular de Língua Portuguesa deve se organizar Já as “situações independentes” dividem-se
de modo a garantir que situações de aprendi- em dois tipos: “situações ocasionais” e “si-
zagem, relacionadas à leitura, compreensão tuações de sistematização”. “Ocasionais”
oral, análise linguística e produção textual, em são as situações em que algum conteúdo
suas diversas modalidades, desenvolvam-se significativo é trabalhado sem que precise
equitativamente, nos tempos e espaços edu- ter relação direta com o que foi planejado,
cativos das escolas. Para isso, propõe-se, aqui, como ocorre, por exemplo, quando um tex-
o uso de categorias de organização da rotina to é levado à sala de aula por ter relação
de trabalho indicadas no documento curricular com acontecimentos ou curiosidades que
dos anos iniciais e discutidas no Caderno de Su- mobilizem uma turma específica. Por sua
porte Pedagógico – Anos Finais como parte da vez, as “situações de sistematização” são
orientação de Língua Portuguesa para a pro- constituídas por atividades que desenvol-
dução textual. Nestes documentos, aponta-se vem objetivos e conteúdos mais amplos ou
a relevância da organização cotidiana, em 4 gerais, definidos para o ano ou ciclo, pois se
modalidades principais: projetos, atividades destinam, justamente, à sistematização de
sequenciadas, atividades permanentes e situa- conhecimentos transversais, em momentos
ções independentes30 (cf. LERNER, 2002). estratégicos do percurso do aluno, como o
são, por exemplo, procedimentos e catego-
Em linhas gerais, os “projetos” (interdis- rias que envolvem a análise linguística ou
ciplinares ou não) definem-se por situações determinadas formas de uso padrão da es-
didáticas que se articulam em função de crita e da oralidade.
uma finalidade compartilhada por todos os
envolvidos e que se expressam num produto Tomando estas modalidades organizativas
final, de circulação mais ampla que a sala do trabalho pedagógico, são estabelecidos,
de aula, como resultado de uma sequência aqui, parâmetros para sua disposição no que
de atividades. Indicamos a leitura da seção se refere ao: 1) desenvolvimento de sequên-
sobre projetos nas diretrizes dos anos iniciais cias didáticas no âmbito das atividades linea-
para melhor compreensão da discussão que res; 2) organização das dinâmicas de trabalho
30 Organização semelhante é apresentada nos PCNs dos anos ini- no quadro das atividades permanentes; 3) de-
ciais do Ensino Fundamental. finição das atividades que compõem as situ-

114
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

ações independentes. Deste modo, indica-se uso das convenções da linguagem oral e
que: escrita nas situações formais de comunica-
ção. Evidentemente, diversos conceitos e
- semanalmente, enquanto atividades se- procedimentos sistematizados nessas situ-
quenciadas, sejam realizados os módulos ações, também, serão abordados no decor-
que compõem as sequências didáticas es- rer das sequências didáticas relacionadas
pecíficas para o ensino da produção tex- a gêneros específicos. Porém, nestas, tal
tual. Nestas sequências didáticas, são de- abordagem estará relacionada à compreen-
senvolvidos procedimentos próprios para são ou uso do gênero, enquanto que, nas
construção progressiva dos textos, no gê- situações ocasionais de sistematização, os
nero-alvo, bem como as diversas práticas conteúdos e problemas tratados podem
de leitura e de análise linguística que res- abranger questões gerais que se observam
pondem ao objetivo de levar os alunos a se nas produções dos alunos, em diversos
apropriarem dos parâmetros de produção contextos (como também em outras dis-
textual, nas situações de comunicação ins- ciplinas) ou determinados conceitos gra-
tituídas para ensino do gênero escolhido; maticais, cuja discussão não precisa estar
atrelada ao estudo de gêneros, mas que se
- semanalmente, enquanto atividade per- configurem como objetos da reflexão es-
manente, os alunos frequentem o acervo de trutural sobre o funcionamento da língua.
livros da escola (esteja este organizado na
biblioteca escolar ou na biblioteca de clas- Gramática, Metalinguagem e Análise
se) e que possam tomá-los emprestados por Linguística
escolha própria e socializar suas impressões
sobre o que foi lido em círculos de leitura, Tomar os gêneros textuais como eixo or-
nos quais o diálogo sobre os livros possa ganizador das práticas de ensino implica que
ocorrer sem se transformar, obrigatoria- os conteúdos gramaticais devam se tornar
mente, em exercícios ou avaliações escritas instrumentos de aprimoramento da leitura
formais; e da escrita. Para tanto, precisam constituir
um corpo conceitual interessante para o es-
- ocasionalmente, sejam lidos e discutidos tabelecimento de metalinguagem, comum
textos que não, necessariamente, guardem em sala de aula, que favoreça a discussão
relação com os gêneros já definidos nas se- das formas de uso situado da linguagem. Por
quências didáticas para o trabalho com lei- essa razão, é apresentada, aqui, uma sequên-
tura ou produção textual, mas que respon- cia de tópicos gramaticais a serem seguidos
dam a curiosidades, polêmicas ou interesses numa ordem predefinida. A produção verbal
identificados entre os alunos e nos assuntos é complexa e envolve, a todo momento, di-
que envolvem a comunidade escolar; en- versos níveis de textualização que respon-
quanto parte de uma situação ocasional e in- dem por elementos característicos dos gê-
dependente, tal atividade pode ser realizada neros, estilos de uso da linguagem, recursos
numa só aula ou mesmo em parte dela, ten- coesivos nas frases, entre outros.
do como resultado, por exemplo, o debate
oral em torno da leitura de um texto curto; Diante desta complexidade, é necessário
analisar o conjunto conceitual que será de
- regularmente, em frequência e intensi- maior utilidade para o aprimoramento das ca-
dade definidas pelo professor, diante dos pacidades de leitura e produção textual, nessa
dados de suas avaliações, sejam realizadas etapa da escolarização. Um excesso de infor-
atividades de sistematização de conceitos mações, relacionadas à nomenclatura e classi-
úteis à análise linguística, bem como de ficação de estruturas morfológicas e sintáticas,

115
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

corre o risco de colocar em segundo plano a fixa predeterminada, mas deve sempre estar
operacionalização concreta destes conceitos, em função dos saberes de que os alunos já
e mesmo, tomar o tempo e a energia neces- dispõem e daqueles que precisam desenvol-
sários para priorizar o desenvolvimento das ver, para aprimorar os usos formais da língua.
capacidades de leitura e escrita. Tais concei-
tos precisam se constituir em um conjunto de
ferramentas à disposição dos alunos, no apri- Seleção de Gêneros e Sequências
moramento dos usos da língua, o que implica Didáticas
em uma seleção de objetos de ensino, pauta-
da pelos letramentos em curso31. A seleção de gêneros discursivos, para
aprofundamento sistemático nas sequên-
Portanto, aspectos textuais-discursivos cias didáticas, precisa responder às diretri-
relacionados ao uso dos gêneros e elemen- zes municipais e ao projeto pedagógico da
tos estruturais da língua, imbricados neste escola, uma vez que é necessário considerar
uso, devem ter seu lugar de estudo nas se- o percurso de aprendizagens dos alunos, ao
quências didáticas, para ensino da produção longo dos quatro anos, desta etapa do Ensi-
textual. Outros conceitos gramaticais, geral- no Fundamental. Assim, mais do que fruto
mente, relacionados à classificação morfo- de uma decisão individual de cada profes-
lógica e sintática, que não estão implicados sor, a escolha de gêneros deve considerar
diretamente na discussão de gêneros, podem aqueles que foram trabalhados em anos an-
ser abordados, de maneira processual e es- teriores e quais serão ensinados, posterior-
piralada em situações ocasionais de siste- mente, de acordo com estes documentos
matização, ao lado de outros estudos gerais parametrizadores, garantindo-se o direito
sobre importantes aspectos linguísticos, tais dos alunos ao aprendizado dos gêneros de-
como: o uso de elementos coesivos referen- finidos pela rede. Trata-se de uma política
ciais e sequenciais; pontuação; paragrafação; de letramento que precisa ser de responsa-
ortografia; processos de formação de pala- bilidade do coletivo da escola e que, por-
vras, entre outros. tanto, se sobrepõe a eventuais mudanças na
equipe educativa, resguardada a possibili-
Trata-se, aqui, de conceber tais conceitos dade de alterações no projeto, em vista de
e procedimentos como objeto de aproxima- maior adequação às demandas pelas quais a
ções sucessivas, ao longo dos ciclos do En- Unidade Educacional responde.
sino Fundamental e retomá-los, a cada ano Há diversas formas de organizar quadros
em níveis progressivos de complexidade, vi- de gêneros que podem ser úteis a uma sele-
sando sempre a sua operacionalização, numa ção pautada por critérios discursivos e tipo-
análise linguística que favoreça o aprimora- lógicos. Os PCN de Língua Portuguesa, dos
mento das práticas de interpretação e produ- 3º e 4º ciclos, do Ensino Fundamental, foca-
ção textual, num “movimento metodológico lizando as instâncias públicas de uso da lin-
de ação-reflexão-ação” (PCN, p. 65). Tal pro- guagem, sugerem, como podemos visualizar
gressão, portanto, não se apoia numa ordem a seguir, dois quadros: em um, são apresen-
tados gêneros privilegiados para a prática de
31 Chegar a um conjunto de conceitos essenciais, do ponto de escuta e leitura de textos; em outro, estão os
vista descritivo e funcional, a ser desenvolvido em cada ciclo po- gêneros sugeridos para a prática de produção
deria ser uma das metas dos processos de formação continuada de textos orais e escritos.
na rede, tal como ocorre em grupos de formação, e resultar num
documento curricular específico.

116
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

Gêneros privilegiados para a prática de escuta e leitura de textos

Linguagem oral Linguagem escrita


- conto
- novela
- cordel, causos e similares - romance
Literários - texto dramático Literários - crônica
- canção - poema
- texto
dramático
- notícia
- editorial
- comentário radiofônico
- artigo
De - entrevista
De imprensa - reportagem
imprensa - debate
- carta do leitor
- depoimento
- entrevista
- charge e tira
- exposição - verbete enciclopédico (nota/artigo)
De
- seminário - relatório de experiências
divulgação De divulgação científica
- debate - didático (textos, enunciados de questões)
científica
- palestra - artigo
Publicidade - propaganda Publicidade - propaganda

Gêneros sugeridos para a prática de produção de textos orais e escritos

Linguagem oral Linguagem escrita


- crônica
- canção
Literários Literários - conto
- textos dramáticos
- poema

- notícia - notícia
- entrevista De - artigo
De imprensa
- debate imprensa - carta do leitor
- depoimento - entrevista

- exposição
De divulgação De - relatório de experiências
- seminário
científica divulgação científica - esquema e resumo de artigos ou verbetes de enciclopédia
- debate

Outra forma de organização dos gêneros pode nossas diretrizes. Neste artigo, os gêneros são
ser apreciada no importante artigo de Dolz, No- agrupados levando-se em conta domínios so-
verraz e Schneuwly (2004), em que se encontra ciais de comunicação e aspectos tipológicos ou
o conceito de sequência didática subjacente às capacidades de linguagem dominantes:

117
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Gêneros por domínios sociais de comunicação e aspectos tipológicos ou capacidades de


linguagem dominantes

Domínios sociais Aspectos tipológicos – capacidades Exemplos de gêneros orais e escritos


de comunicação de linguagem dominantes
NARRAR Conto maravilhoso, Fábula, Lenda, Narrativa de aventura,
Cultura literária Narrativa de ficção científica,
ficcional Mímesis da ação através da criação de Narrativa de enigma, Novela fantástica,
intriga Conto parodiado...
RELATAR Relato de Experiência vivida, Relato de viagem, Testemunho,
Documentação e Curriculum Vitae, Notícia, Reportagem,
memorização de Representação pelo discurso de Crônica esportiva,
ações humanas experiências vividas, situadas no Ensaio biográfico...
tempo
Texto de opinião,
Diálogo argumentativo, Discussão
de problemas, Carta do leitor, Carta de
reclamação,
ARGUMENTAR Deliberação informal, Debate regrado,
Discussão de Discurso de
problemas sociais Sustentação, refutação e negociação de defesa (adv.), Discurso de acusação (adv.)...
controversos tomadas de
Posição

Seminário, Conferência, Artigo ou verbete de enciclopédia,


EXPOR Entrevista de especialista, Tomada de notas, Resumo de textos
Transmissão e
construção de "expositivos" ou
Apresentação textual de diferentes explicativos, Relatório científico, Relato de experiência
saberes
formas dos saberes científica...

DESCREVER AÇÕES Instruções de


Instruções e montagem, Receita, Regulamento, Regras de jogo, Instruções
prescrições de uso, Instruções...
Regulação mútua de comportamentos

Focalizando os aspectos tipológicos e as ferência de saberes entre diferentes gêneros,


respectivas capacidades de linguagem domi- no eixo de uma mesma tipologia textual.
nantes, os autores propõem um segundo qua-
dro no qual distribuem os gêneros de acordo As diretrizes municipais de Língua Portu-
com as sequências didáticas indicadas para guesa, dos anos iniciais, empregam o conceito
cada ano e ciclo, em torno dos agrupamentos: de esfera social ao agrupar os gêneros indica-
“narrar”, “relatar”, “argumentar”, “transmitir dos para estudos sistematizados, propondo o
conhecimentos” e “regular comportamentos”, seguinte quadro:
configurando uma proposta que ousa na trans-

118
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de Gêneros – Anos Iniciais

Ano Esfera social Gêneros


Tradição Oral Cantiga, trava-língua, parlenda, adivinha.
1º Cotidiana Aviso, bilhete, convite, legenda de foto, lista.
Literária Poema, conto de fada, conto de assombramento, conto acumulativo.
Cotidiana Lista, carta e textos instrucionais: receita, regra de jogo.
Divulgação científica Ficha técnica, verbetes: de curiosidade, de dicionário, de enciclopédia infantil.

Literária Poema, fábula e contos: populares, de fada, de assombramento.

Jornalística Manchete, notícia.


3º Cotidiana Diário e textos de entretenimento: história em quadrinhos, tirinhas.
Literária Poema, narrativas de aventura, contos, canção.
Jornalística Manchete, notícia, reportagem, charge, cartum, telejornal.
Verbete de enciclopédia infantil, artigo de divulgação científica para crianças, notícia de
4º Divulgação científica
popularização da ciência, relato de pesquisa.
Literária Haicai, poema concreto, literatura de cordel, canção.
Publicitária Propaganda institucional e comercial, anúncio, panfleto, outdoor e slogan.
5º Cidadania Estatuto e leis, debate, carta do leitor, carta de reclamação e de solicitação.
Literária Texto teatral, narrativa fantástica, lenda, conto maravilhoso e de terror.

Como se vê, critérios diferentes compõem xão-ação constante para o aprimoramento de


formas diversas de agrupamentos. Diante descrições e modelizações didáticas dos gê-
destas possibilidades, estas diretrizes dos anos neros com que a rede trabalha, constituindo-
finais do Ensino Fundamental propõem dois -se paulatinamente numa referência amplia-
tipos de quadros. O primeiro apresenta alguns da para o trabalho pedagógico. No primeiro
exemplos de gêneros que podemos agrupar quadro não são atribuídos ciclos ou anos para
em torno das sequências textuais típicas que cada gênero, uma vez que tal seleção, no âm-
os constituem e que indicam prioritariamente bito da leitura e discussão de textos, deve ser
o trabalho com sua leitura e análise. Subdi- pautada por uma política de letramento da es-
vidido em 5 partes, cada uma relacionada a cola, a qual deve responder pelos quatro anos
uma determinada tipologia textual, o quadro de permanência mínima dos alunos na segun-
sugere alguns aspectos textuais-discursivos e da etapa do Ensino Fundamental. O segundo
gramaticais a focalizar na abordagem destes quadro retoma o conceito de esfera, usado
gêneros. Para tal organização, o critério tipo- nas diretrizes dos anos iniciais, para definir al-
lógico pareceu mais produtivo, uma vez que guns gêneros a serem abordados no ensino da
podemos perceber alguns conteúdos e capaci- produção textual. É necessário destacar que
dades comuns perpassando textos que se cons- o segundo quadro, elaborado como parte das
tituem por sequências típicas. Haveria muito orientações presentes no Caderno de Supor-
mais gêneros a mencionar e diversos outros te Pedagógico de Língua Portuguesa dos anos
aspectos a serem trabalhados; entretanto, a finais, assume caráter prescritivo, de forma a
lista apresentada não pretende ser exaustiva. garantir o desenvolvimento de capacidades
Trata-se do registro de um exercício explora- de produção textual em gêneros considerados
tório que não deve se esgotar nestas diretrizes, fundamentais para o projeto de formação de
mas demandar um movimento de ação-refle- nossa rede.

119
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

4.1 Sugestão de aspectos textuais-discursivos e gramaticais para práticas de


análise de gêneros
QUADRO I – Sugestão de gêneros relacionados a aspectos textuais-discursivos
e gramaticais agrupados por tipologia textual
[1A] TIPO TEXTUAL: NARRATIVO/DESCRITIVO LITERÁRIO (FICCIONAL)
Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com
GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais-discursivos elementos gramaticais
Conto maravilhoso Exploração de elementos constitutivos da Desinências número-pessoal e modo-
Conto de fadas estrutura narrativa em geral, como: apresen- temporal no uso dos verbos no eixo do
Conto fantástico tação da situação inicial, conflito e desfecho. pretérito ou do presente para marcar os
Conto de aventura eventos anteriores e posteriores a esse
Conto de ficção científica Composição de sequências textuais descri- tempo (pretérito perfeito / imperfeito, mais
Conto de mistério tivas e narrativas na constituição do texto que perfeito, futuro do pretérito e futuro do
Conto policial narrativo. presente), conforme a construção do enredo
Conto popular e do tempo narrado.
Fábula Construção de personagens em seus aspec-
Lenda tos físicos, psicológicos e ideológicos. Estrutura e uso de verbos dicendi. Prono-
Mitos mes relacionados aos discursos direto e
Romance Vozes dos personagens e representação de indireto.
Novela seus pontos de vista.
Biografia romanceada Recursos coesivos para relacionar fatos no
História engraçada, anedota Organização do tempo e do espaço narrado. tempo e no espaço (advérbios, locuções
Crônica narrativa literária adverbiais, orações adverbiais).
Foco Narrativo.
Sintaxe de colocação (ordem direta, coorde-
Linguagem formal e informal. nação e deslocamento de termos) relaciona-
da à pontuação.
Linguagem figurada e outros recursos
expressivos. Processos de adjetivação.

Marcadores linguísticos que indicam as


diferentes vozes citadas em discurso direto
(aspas, dois pontos e travessão).

Pontuação na construção de efeitos estéticos


e literários.

120
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com


GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais-discursivos elementos gramaticais
História em quadrinhos Recursos gráficos em geral, tais como a Estrutura e uso de verbos dicendi. Prono-
justaposição de quadrinhos, articulação mes relacionados aos discursos direto e
Cartoon entre os enunciados icônicos e verbais do indireto.
narrador, balões com a fala das personagens,
Tirinhas efeitos especiais no uso das fontes. Desinências número-pessoal e modo-
temporal no uso dos verbos no eixo do
Enquadramento das cenas e suas pretérito ou do presente para marcar os
implicações para o foco narrativo e demais eventos anteriores e posteriores a esse
efeitos de sentido. tempo (pretérito perfeito / imperfeito, mais
que perfeito, futuro do pretérito e futuro do
Linguagem formal e informal. presente), conforme a construção do enredo
e do tempo narrado.
Sentido literal e conotativo.
Fonemas que participam da construção de
Caracterização gráfica de personagens. onomatopeias.

Estilo de desenhistas no uso da linguagem Interjeição.


visual.

Articulação entre imagem e texto na produ-


ção de sentidos.

A construção discursiva dos efeitos de hu-


mor e as questões sociais e culturais impli-
cadas.

Mobilização de conhecimento prévio na


compreensão dos efeitos de humor ou de
ironia.

Marcadores linguísticos que indicam as


diferentes vozes citadas em discurso direto
(aspas, dois pontos e travessão).
Poema (em seus Arranjo gráfico e espacial do texto. Elementos estruturais da palavra que par-
diversos gêneros) ticipam do ritmo, da rima e da construção
Exploração visual da grafia das palavras. dos efeitos de assonância e aliteração: síla-
bas poéticas, fonemas.
Canção (em Associação das palavras a objetos visuais
seus diversos gêneros) (fotos, desenhos, pinturas, colagens). Conceito de sinônimo na reflexão sobre as
opções lexicais para a manutenção do ritmo
Efeitos de sentido provocados pela sonori- e da rima.
dade (assonância, aliteração).
Noções gramaticais que permitam aprofun-
Emprego de linguagem figurada e outros dar a reflexão sobre inversão de períodos
recursos expressivos. e outras possibilidades de disposição dos
elementos da oração.
Estrofes e versos, refrão.

121
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com


GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais-discursivos elementos gramaticais
Peças de teatro Divisão em atos, cenas, falas e rubrica. Estrutura e uso de verbos dicendi. Prono-
mes relacionados aos discursos direto e
Apresentação das personagens, do conflito indireto.
ou da intriga.
Desinências número-pessoal e modo-
Estruturação do enredo e desenvolvimento temporal no uso dos verbos no eixo do
das ações. pretérito ou do presente para marcar os
eventos anteriores e posteriores a esse
Funcionamento de diálogos: usos da lingua- tempo (pretérito perfeito / imperfeito, mais
gem em função do personagem. que perfeito, futuro do pretérito e futuro do
presente), conforme a construção do enredo
Variação linguística na construção de perso- e do tempo narrado.
nagens.
Recursos gráficos e pontuação nas marcas
Linguagem cênica e gestual na encenação da conversação.
das peças.

Entonação oral na produção de efeitos de


sentido.

Marcadores linguísticos que indicam as


diferentes vozes citadas em discurso direto
(aspas, dois pontos e travessão).

[1B] TIPO TEXTUAL: NARRATIVO/DESCRITIVO NÃO LITERÁRIO (NÃO FICCIONAL)


(DOCUMENTAÇÃO, MEMORIZAÇÃO E REPRESENTAÇÃO, PELO DISCURSO,
DAS AÇÕES HUMANAS, SITUADAS NO TEMPO, POR MEIO DO RELATAR)
GÊNEROS Sugestão de trabalho com aspectos textuais - Sugestão de trabalho com elementos
DISCURSIVOS discursivos gramaticais
Relato de experiência Estrutura típica da narrativa não ficcional: situação Desinências número-pessoal e modo-tempo-
vivida inicial, relato dos fatos, descrição de personagens e ral no uso dos verbos no eixo do pretérito ou
cenário. do presente para marcar os eventos anterio-
Biografia res e posteriores a esse tempo (pretérito per-
Organização cronológica dos dados relevantes da feito / imperfeito, mais que perfeito, futuro
Autobiografia vida do biografado ou dos acontecimentos históri- do pretérito e futuro do presente), conforme
cos. a construção do enredo e do tempo narrado.
Relato histórico
Marcadores linguísticos que indicam as diferentes No discurso indireto, estrutura e uso de ver-
Relato de viagem vozes citadas em discurso direto (aspas, dois pontos bos dicendi.
e travessão).
Pronomes relacionados aos dicursos direto e
indireto.

Elementos gramaticais que participam das


referências a lugar e tempo (advérbios, locu-
ções adverbiais, orações adverbiais).

122
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

GÊNEROS Sugestão de trabalho com aspectos textuais - Sugestão de trabalho com elementos
DISCURSIVOS discursivos gramaticais
Curriculum Vitae Organização geral do texto: Identificação (nome, Paralelismo sintático no uso de verbos e de
endereço físico e eletrônico, telefones). Formação e substantivos em listas e descrições que se fi-
escolaridade. Experiência de trabalho. zerem necessárias.

Objetividade e concisão em campos mais dissertati- Numerais na orientação da subdivisão dos


vos do documento, caso seja solicitado. tópicos.

Emprego de recursos gráficos para a organização do


documento.

Relatório de estudos do Sequência e articulação de fatos e informações. Numerais na orientação da subdivisão dos
meio tópicos.
Estrutura geral do gênero: capa, sumário, seções do
relatório etc. Elementos estruturais que constituem verbos
no eixo do pretérito para o relato de procedi-
Uso de linguagem concisa e objetiva. mentos nas sequências narrativas.

Uso, conforme a necessidade, das sequências narra- Elementos estruturais que constituem verbos
tivas ou descritivas para a construção do relato. no presente do indicativo e do subjuntivo
para sequência expositiva e argumentativa.

Formas adverbiais para localização espaço-


temporal adequada dos eventos relatados.

Notícia Estrutura formal do gênero: manchete, lide, corpo Construções que fazem referência a lugar e
do texto. tempo (advérbios, locuções adverbiais, ora-
Reportagem ções adverbiais).
Efeitos de sentido produzidos pela disposição de
Entrevista textos e imagens. Marcadores linguísticos que indicam as di-
ferentes vozes citadas em discurso direto
Organização e hierarquização das seções em supor- (aspas, dois pontos e travessão). No discurso
tes impressos e digitais. indireto, estrutura e uso de verbos dicendi.
Pronomes relacionados aos discursos direto
Organização textual das entrevistas: apresentação e indireto.
do assunto e do entrevistado.
Desinências número-pessoal e modo-tem-
Recursos discursivos através dos quais os veículos poral que constituem os verbos no eixo do
de imprensa apresentam os fatos e a opinião sobre pretérito e do presente, usados de forma al-
os fatos. ternada na manchete e no relato da notícia.

Posicionamentos implícitos nas formas de apresen- Estruturas verbais e nominais típicas de le-
tar uma notícia. genda.

Uso de recursos multissemióticos: gráficos, infográ-


ficos, mapas, esquemas.

Organização geral por meio de vinhetas e chamadas


em textos sonoros (imprensa radiofônica) ou audio-
visuais (telejornal, documentário).

Uso da linguagem visual ou sonora na produção de


sentidos.

123
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

[1C] TIPO TEXTUAL: EXPOSITIVO


(TRANSMISSÃO, CONSTRUÇÃO E APRESENTAÇÃO TEXTUAL DE SABERES)

Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com elementos


GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais - discursivos gramaticais
Texto expositivo de enciclopé- Esquematização inicial (finalidade e obje- Estrutura de formas verbais que participam da
dias, dicionários, livros didáticos. tivos) e expansão do tema tratado. construção de definições ou orientações.

Texto explicativo, “tutorial” im- Numeração para subdivisão do tema. Adjetivação (adjetivo, locução adjetiva, ora-
presso e audiovisual. ções adjetivas).
Termo de entrada, área de conhecimento
Texto de divulgação científica à qual pertence o termo. Análise de elementos estruturais das palavras
que compõem termos técnicos.
Esquemas, diagramas, infográficos e de-
mais objetos visuais que apoiam a expo-
sição.
Exposição oral Reorganização e hierarquização de infor- Nominalização na seleção de palavras-chave.
mações.
Seminário Uso das palavras típicas que constituem os
Planejamento e execução do texto falado marcadores lógicos do discurso.
em registro formal.
Palavras típicas que participam do efeito mo-
Turnos de fala: organização da apresenta- dalizador e apreciativo do discurso.
ção e da fala dos apresentadores; diálogo
com a plateia para responder a perguntas Classes gramaticais que participam da coesão
e comentários. entre frases do discurso oral.

Uso de linguagem não verbal e de textos Estruturas que compõem a enumeração de tó-
escritos como apoio à produção oral. picos e seções para antecipação dos assuntos
principais à plateia.
Reformulação por meio de paráfrase.
Desinências que marcam o tempo verbal no
Construção de encadeamentos lógico-dis- presente atemporal e no futuro.
cursivos para garantir a coesão da apre-
sentação oral. Uso da 1ª pessoa do singular ou do plural.

Progressão temática da exposição. Estruturas linguísticas responsáveis pelo efeito


de impessoalidade e de apassivação, quando
Uso de léxico específico e adequado ao necessários na exposição.
objeto de conhecimento apresentado.

Uso retórico de frases declarativas, inter-


rogativas, assertivas.

124
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com elementos


GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais - discursivos gramaticais
Resumo de textos expositivos e Seleção e hierarquização de informações No discurso indireto, estrutura e uso de verbos
explicativos do texto base. dicendi.

Tomada de notas Procedimentos discursivos para reformu- Pronomes relacionados aos discursos direto e
lação, em paráfrase, do texto base. indireto.

Procedimentos para citações diretas do Usos típicos da pontuação no contexto de uma


texto resumido. linguagem objetiva e concisa para o resumo e a
tomada de notas.
Marcadores linguísticos que indicam as di-
ferentes vozes citadas em discurso direto
(aspas, dois pontos e travessão).

Organização geral do gênero “resumo”,


articulado ao uso que se fará do texto
produzido (finalidade do resumo: estudo,
exercício específico de uma disciplina, fi-
chamento).

Elaboração de esquemas conceituais e


apoios gráfico-visuais articulados ao texto
resumido ou anotado.
Relatório científico Emprego da estrutura do texto cien- Análise da estrutura de palavras que consti-
tífico: introdução, objetivos, justifica- tuem um vocabulário técnico.
tiva, descrição do método emprega-
do na experiência, análise dos dados Elementos gramaticais que participam da
observados e conclusão. construção de orações intercaladas para acres-
centar informações e explicações ao raciocínio
Estilo de linguagem científica: economia, principal.
concisão, objetividade.
Elementos estruturais que constituem verbos
Organização textual das seções: no eixo do pretérito para o relato de procedi-
sequências narrativas da ordem do relatar mentos nas sequências narrativas.
para apresentação dos procedimentos e
sequências expositivas para apresentação Elementos estruturais que constituem verbos
de conceitos e produção de conclusões e no presente do indicativo e do subjuntivo para
considerações finais. sequência expositiva e argumentativa.

Se for o caso, uso de sequências argumen- Formas adverbiais para contrapor argumentos
tativas para defesa de opinião diante dos e para modalizar o enunciado.
dados.

Produção de paráfrases para reformulação


do texto fonte visando à apropriação do
material pesquisado.

125
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

[1D] TIPO TEXTUAL: ARGUMENTATIVO (DISCUSSÃO DE PROBLEMAS CONTROVERSOS


POR MEIO DA SUSTENTAÇÃO, REFUTAÇÃO E NEGOCIAÇÃO DE TOMADAS DE POSIÇÃO)

Sugestão de trabalho com aspectos textuais - Sugestão de trabalho com ele-


GÊNEROS DISCURSIVOS
discursivos mentos gramaticais
Carta de leitor (para mídia Estrutura típica da carta: data, invocação, explanação Elementos estruturais que compõem
em geral) do assunto, fecho e assinatura. os verbos no eixo do presente para
reconhecer os eventos anteriores e
Carta de reclamação Estrutura argumentativa: apresentação e organização posteriores a esse tempo (pretérito
dos argumentos que sustentam a posição do autor. perfeito / futuro do presente).
Carta de solicitação
Uso da linguagem em função da imagem do inter- Verbos de dizer e expressões adver-
Artigos de opinião locutor. biais (segundo, de acordo) para intro-
duzir citações.
Editorial No artigo ou editorial: introdução com a tese que
será desenvolvida e ou contestada e, no desenvolvi- Elementos coesivos que estabelecem
mento, apresentação de argumentos que sustentam relações de causa, comparação, ex-
a opinião do autor e sua conclusão. plicação, condição, etc.

Palavras tipicamente usadas como


marcadores e orientadores argumen-
tativos, como as conjunções.

Resenha crítica Informações gerais sobre a obra ou fato, resumo do No discurso indireto, estrutura e uso
conteúdo, julgamento ou apreciação do que foi rese- de verbos dicendi.
Crônica jornalística social, es- nhado ou comentado pelo cronista.
portiva, política… Pronomes relacionados aos discursos
Discussão do gênero “crônica” a partir de alguns de direto e indireto.
seus temas recorrentes.
Usos típicos da pontuação visando
Efeito de sentido provocado pelo discurso em 1ª linguagem objetiva e concisa para a
pessoa das crônicas e estratégias textuais de diálogo resenha crítica.
com o leitor.
Elementos coesivos que estabelecem
Construção discursiva do posicionamento sobre o relações de causa, comparação, ex-
objeto resenhado, organizando a relação entre aqui- plicação, condição, etc.
lo que foi tomado para análise e a opinião decorrente
desta análise. Palavras tipicamente usadas como
marcadores e orientadores argumen-
Discurso direto/indireto, marcadores da fala, lingua- tativos.
gem coloquial.

Marcadores linguísticos que indicam as diferentes


vozes citadas em discurso direto (aspas, dois pontos
e travessão).

126
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

Sugestão de trabalho com aspectos textuais - Sugestão de trabalho com ele-


GÊNEROS DISCURSIVOS
discursivos mentos gramaticais
Charge Recursos gráficos em geral, tais como a justaposição
de quadrinhos, articulação entre os enunciados icô-
nicos e verbais do narrador, balões com a fala das
personagens, efeitos especiais no uso das fontes.

Enquadramento das cenas e suas implicações para o


foco narrativo e demais efeitos de sentido.

Linguagem formal e informal.

Sentido literal/ sentido conotativo.

A construção discursiva dos efeitos de humor e as


questões sociais e culturais implicadas.

Mobilização de conhecimento prévio na compreen-


são do efeito de humor ou de ironia.

Efeitos de humor provocados pela ruptura da lógica


comum e cotidiana.
Debate regrado Procedimentos discursivos para construção conjunta Unidades dêiticas para indicar obje-
(oral formal) de decisões e de pontos de vista: síntese e negocia- tos do discurso que estão sendo reto-
ção dos posicionamentos, objetividade e concisão na mados e tematizados.
Assembleia consolidação de encaminhamentos.
Elementos que compõem o funcio-
Escutar o posicionamento do outro, identificando namento gramatical das 1ª e 2ª pes-
seus pontos de vista mais importantes para a discus- soas do discurso e do uso do prono-
são em pauta. me de tratamento “você”.

Identificar o posicionamento do outro na escuta, re- Pronomes de tratamento que são


tomando-o para (contra)argumentar, refutar, conce- usados em discussão com autorida-
der, persuadir... des.
Reformulação (retomada de discurso), exemplifica-
ção e citação.

Uso da linguagem formal.

Regulação dos turnos da fala por meio de regras es-


tabelecidas no coletivo e em função de cada tipo de
situação.

127
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

[1E] TIPO TEXTUAL: INJUNTIVO (INSTRUÇÕES E PRESCRIÇÕES PARA REGULAÇÃO


MÚTUA DE COMPORTAMENTOS)
Sugestão de trabalho com aspectos Sugestão de trabalho com
GÊNEROS DISCURSIVOS
textuais – discursivos elementos gramaticais
Estatutos e regulamentos Natureza injuntiva das sequências textuais que Emprego de formas verbais no impe-
constituem estes gêneros: recursos discursivos rativo e estudo dos elementos que as
Instruções de uso e de montagem para orientar, regular, induzir.… constituem.

Regras de jogo e comandos diver- Em estatutos e regulamentos, observar elemen- Uso de formas verbais no infinitivo
sos tos constitutivos da organização interna: títulos, ou no futuro do presente em sequ-
capítulos, seções e artigos, data, assinaturas e ências instrucionais, analisando-se
Textos publicitários rubricas. os elementos estruturais que consti-
tuem estas formas.
Receita culinária Em instruções, manuais e regras, observar recur-
sos gráficos e esquemas, numerais na orientação Uso de numerais na orientação da
Receita médica, bula da sequência de ações prescritas e vocabulário subdivisão do tema, na enumeração
técnico. de propriedades ou na listagem de
prescrições.
Em receitas culinárias, observar listagem dos in-
gredientes, unidades e medidas de quantidade,
e os procedimentos no modo de fazer e servir.

Em receitas e bulas médicas, observar o uso


de vocabulário técnico, unidades e medidas de
quantidade, e os procedimentos no modo de
administração dos cuidados prescritos, efeitos
adversos do medicamento ou terapia.

Em textos publicitários, observar recursos gráfi-


cos e persuasivos relacionados à linguagem ver-
bal e não verbal.

Leitura crítica dos discursos da propaganda.

O quadro a seguir, com pequenas diferen­ essas modificações não contradizem a orienta-
ças, está publicado nas orientações para pro­ ção anterior, mas enfatizam deter­minadas con-
dução textual, em Língua Portuguesa, no Ca­ cepções de trabalho pedagógico com língua
derno de Suporte Pedagógico – Anos Finais. materna e também a organização das situações
Neste caderno, o conceito de sequência didá­ de aprendizagem, em função das finalidades e
tica é explorado em maior profundidade, bem da circulação de textos, na esco­la. Procurou-se
como é historiado o percurso de estudos que consolidar o caráter de uso da escrita como fer-
fundamentou tal opção pedagógica. Aqui, as ramenta de construção de sa­beres e o princípio
indicações de gêneros buscaram um maior da interlocução, tanto em relação à própria es-
detalhamento, já em sua denominação (tor­ cola quanto em relação à comunidade, para a
nando-as um pouco diferentes de indicações produção textual em di­versas linguagens. Os
presentes em outras diretrizes), bem como são gêneros indicados para ensino da produção
feitos alguns acréscimos e deslocamentos, em textual estão agrupados em torno de “esferas
função do avanço das discussões nos gru­pos de discursivas” (também entendidas como “esfe-
formação. Contudo, como se poderá perceber, ras sociais” ou “de co­municação”), colocando

128
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

em foco as práticas sociais que tal organização de determinados aspec­tos da produção tex-
do trabalho peda­gógico poderá constituir, na tual, em gêneros específicos a cada ciclo, de
comunidade es­colar. modo que possamos ga­rantir o direito dos
alunos à continuidade dos estudos e à pro-
Pelo seu caráter prescritivo, esse quadro gressão de suas aprendizagens, mesmo numa
procura tencionar o debate sobre a necessida­ eventual mudança de professor ou mesmo de
de de se garantir que determinadas práticas escola em nossa rede. Contudo, apesar das
ocorram na escola, sendo esta compreendi- indicações a cada ano, a flexibili­dade de (re)
da enquanto comunidade, na qual os textos apresentação dos gêneros é garan­tida pelos
produzidos são consumidos pelo próprio co- princípios que regem nossos ciclos de apren-
letivo, estabele­cendo interlocutores que não dizagem. Assim, em virtude das avaliações e
estão limitados ao espaço de uma turma ou do projeto pedagógico, a abordagem dos gê-
sala de aula. En­quanto prerrogativa de um neros deve favorecer a progressão de apren-
documento que participa da construção cur- dizagens dos alunos, mesmo que, para tanto,
ricular da unidade de rede de nosso municí- algumas adaptações tenham que ser fei­ tas
pio, afirma-se, aqui, a necessidade de ensino diante do quadro.

Quadro de Gêneros Discursivos a Ensinar na Produção Textual


Ciclo III Ciclo IV
ESFERA 6º ANO 7º ANO 8º ANO 9º ANO
Escolar Anotações de aula e de Resumo Relatório de pesquisa e/ou Resenha crítica de textos e
estudo. Exposição oral de observação em estudo do outros objetos culturais.
Esquemas ou mapas meio. Registros da pesquisa escolar
conceituais para (“monografia”).
compreensão de textos.

Publicitária Propaganda do livro Anúncios diversos de “Slogan” e “Jingle” tpara Campanha publicitária
que se está lendo (oral, eventos da escola e/ou apoiar campanhas educativas educativa envolvendo
escrita, imagética) comunidade. da escola. diversas linguagens e meios
integrando sinopses Cartazes de divulgação de divulgação.
e estratégias de de produções escolares
divulgação. (inclusive de outras
disciplinas).
Literária Poema (Auto) biografia Poema Peça teatral
Fábula Memórias literárias Conto Conto
Conto
Jornalística Manchetes e Entrevista gravada e Reportagem escrita para ser Crônica
Notícias escritas (da editada em áudio ou divulgada no jornal da escola Artigo de opinião
comunidade e/ou da vídeo sobre temas de ou produzida em áudio ou Participação na produção de
escola) interesse. vídeo para ser divulgada na conteúdos para o “Blog” da
Síntese escrita da en- rádio escolar ou no canal de escola.
trevista realizada. vídeos da escola.
Carta do leitor

Cidadã Debate oral regrado Opinião oral ou escri- Carta de solicitação e/ou re- Curriculum Vitae
para participação em ta em debates de sala clamação. Abaixo-assinado
Assembleia de Classe. de aula ou em fóruns Requerimento Petição
Regras e combinados digitais sobre assuntos
de sala de aula. estudados (inclusive
de outras disciplinas).

129
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Considerando a infinidade de gêneros dis­ O exemplo acima nos permite tra­zer, para
poníveis na cultura humana, suas disposições o componente de Língua Portuguesa, a res-
em cada esfera, bem como a suas representa- ponsabilidade por ensinar determinados gê-
ções a cada ano, percebe-se um recorte que, neros em sequências didáticas específicas,
na consolidação da proposta, pre­cisou excluir os quais são também de uso de outros com­
inúmeras outras possibilidades. É necessário, ponentes, mas que, provavelmente, nunca
também, ressaltar que aqui são elencados os se­riam abordados enquanto objeto de ensi-
gêneros a serem ensinados na produção tex- no sistematizado, fora da área de linguagem.
tual, não representando, portan­to, uma limi- Não se trata de eximir os outros componentes
tação para as práticas de leitura. Outro pon- curriculares da responsabilidade por abordar
to importante é que estes gêneros se referem questões textuais que surgem em seu cotidia­
àqueles que não devem ser exclu­ ídos dos no de trabalho – afinal, a maior parte dos sa-
ciclos III e IV e, assim, também, não se con- beres escolar constitui-se na cultura escri­ta.
trapõem a outros a serem abordados, comple- Contudo, é necessário haver situações em
mentarmente, em função do proje­to pedagó- que os gêneros de uso, tipicamente, esco-
gico da escola. Contudo, mais im­portante que lar e os procedimentos textuais relaciona-
justificar a escolha de cada um desses gêneros, dos sejam tomados como objeto de análise,
a inclusão deles, em determinada esfera e sua discussão e ensino, de maneira que se possa
abordagem num ano específico, é a discussão compreendê-los em suas diversas dimensões
dos princípios que nortearam esta proposta (circulação, finalidade, estrutura, estilo pre-
que pode contribuir para que cada escola faça dominante…), e que sejam descritos a partir
ajustes necessários, em função de sua política de noções que componham uma metalingua-
de letramento. gem útil ao apri­moramento de seu uso.

Para exemplificar esta abordagem, tome­ Ainda na “esfera escolar”, encontramos,


mos para análise alguns eixos, tanto em recor­ também, para o 6º ano, o gênero “esquema
tes por esfera quanto por ano e ciclo. A pri­ conceitual”, ferramenta que, da mesma for­
meira esfera do quadro é a “escolar”. Nesta, ma como as anotações, objetiva instrumenta­
foram incluídos gêneros que funcionam como lizar os alunos para operarem procedimentos
“ferramentas” escolares de construção e socia­ de compreensão de textos, numa perspecti-
lização de conhecimentos, cujo domínio é, fre­ va que os ajude a articular seus diversos ele­
quentemente, mais esperado em determinados mentos (conteúdos temáticos, conceitos,
anos do que selecionado como conteúdo a ser argumentos...) de forma lógica e interdepen­
ensinado. Aqui, a proposta é envolver o aluno dente. Talvez não se trate de um gênero des­
que chega ao 6º ano em situações de aprendi­ conhecido para os alunos, uma vez que não
zagem, nas quais se aprenda, com o professor é raro que diversos componentes curriculares
de Língua Portuguesa, a tomar notas de aulas e materiais didáticos apresentem sínteses es­
e de textos estudados, bem como construir es- quemáticas de determinados conteúdos. En­
quemas ou mapas conceituais para apoiar seu tretanto, pode ser que a produção de esque­
processo de compreensão textual e, por­tanto, mas conceituais não seja, ainda, considerada
de aprendizagem escolar. Mesmo que tais pro- como ferramenta de sistematização de estu­
cedimentos tenham sido ensinados até o final dos ou mesmo de planejamento de textos e,
do Ciclo II, é necessário determinar o grau de portanto, não se configure como algo a ser
familiaridade que se tem com os gê­neros desta ensinado no campo da produção textual. Se
esfera, bem como de autonomia para seu uso percorrermos o eixo da esfera escolar, iremos
efetivo, a fim de estabelecer li­nhas de atuação nos deparar com outros gêneros que compar­
e parâmetros coletivos que serão esperados, tilham da mesma importância para a dinâmi­
nessa nova etapa do Ensino Fundamental. ca escolar: resumo, exposição oral, relatório

130
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

de pesquisa e estudo do meio. São gêneros parte de uma política curricular de letramen-
que participam da própria constituição do to. Tomemos para análise as esferas “publici-
ofício de aluno e que ganham seu lugar como tária”, “jornalística” e “cidadã”.
objeto de ensino, em determinados momen­
tos do ciclo, apesar de seu uso constante, ao Em um primeiro momento, pode causar es­
longo de todo Ensino Fundamental. tranhamento o fato de se definir a “esfera pu­
blicitária” como um dos eixos para o ensino da
Tome­mos o exemplo da “exposição oral”: produção textual, uma vez que, geralmente, o
sabe-se que, constantemente, os alunos texto publicitário é objeto de práticas de leitu­
são solicita­dos a organizarem seminários e ra e, apenas eventualmente, resulta em exercí­
apresenta­ rem trabalhos oralmente. Even- cios do tipo “anunciar um produto inventado
tualmente, os professores dos vários com- pela turma”. Vemos, no quadro apresentado,
ponentes curricu­ lares discutem, além das diversas ações relacionadas à divulgação de
questões temáticas envolvidas no estudo, a produções, tipicamente escolares, tais como
organização geral da apresentação, incluin- propaganda de livros lidos (no âmbito da ação
do-se adequações tex­tuais do que foi expos- permanente de uso do acervo da escola e da
to. Contudo, pode ser que a abordagem da constituição de círculos de leitura), anúncios
exposição oral enquan­to gênero não tenha, de eventos ou de semanas temáticas da comu­
ainda, espaço garantido em momentos estra- nidade escolar, exibição de cartazes que deem
tégicos dos ciclos, de maneira que possa ser visibilidade ao trabalho de todas as áreas, en-
analisada e discutida, abstraindo-se suas ca- tre outras. Nesta proposta, podemos perceber,
racterísticas predomi­nantes, focalizando os também, outros papéis atribuídos aos alunos,
procedimentos e as estratégias típicas para para o funcionamento da própria escola: ao
seu aprimoramento, quaisquer que sejam produzi­rem os textos de diversas modalidades
os temas e conteúdos tratados. Se, por um e sua dinâmica de circulação, necessários para
lado, solicitações cons­ tantes de apresenta- a di­vulgação do acervo literário aos seus pares,
ções orais e seminários sejam fundamentais dos eventos de interesse e das discussões que
para a apropriação deste gênero, por outro, são realizadas em diversos componentes cur­
as situações de aprendiza­gem em que este é riculares, os alunos assumem lugares de atu­
destacado, explicitamente, como objeto de ação institucional num sentido mais amplo,
ensino, inclusive pelo uso de uma metalin- responsabilizando-se pela construção coletiva
guagem apropriada, funcionam como ações das estratégias de significação do espaço esco­
complementares que buscam garantir o ensi- lar. As produções de uma turma nos diversos
no, a todos os alunos, daquilo pelo que são, componentes curriculares são tornadas públi­
também, avaliados. cas, em cartazes ou outras mídias, não ape­nas
para dar a conhecer o trabalho realizado, mas
Outras esferas nos permitem discutir de para participar, igualmente, do ato de educar
que forma entendemos a circulação escolar de todos os outros alunos, constituindo espaços
textos e que relação este aspecto pode ter com educativos que ensinam fora da sala de aula.
nossas concepções do papel dos alunos e da
própria escola. Não se trata de enveredarmos, Nesta concepção, os textos multimodais,
aqui, numa ampla discussão sobre os fins da que classificamos como “cartazes”, assumem
educação na sociedade contemporânea, mas fi­nalidades e interlocutores que vão além do
de propor, do ponto de vista do componente diálogo interno de um grupo e se propõem a
curricular de Língua Portuguesa, alguns ele- chamar a atenção do leitor que passa, de­vendo,
mentos que podem evidenciar práticas que já portanto, fazerem parte de um projeto educa-
ocorrem em nossa rede e que, devido ao seu tivo que se lança no ambiente escolar – o que,
alto potencial formativo, precisam se tornar evidentemente, torna problemática a prática

131
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

de se publicarem cartazes ou trabalhos que res- diálogos com a escola e sua comunidade para
pondam a uma só pergunta ou tarefa idêntica além da sala de aula, envolvendo grupos mul-
para a turma inteira. Imaginando-se a consti- tietários dentro de um mesmo ciclo.
tuição do espaço educativo com este gênero,
podemos nos aproximar da ideia de que os di- O mesmo princípio se aplica às outras duas
versos cartazes deveriam representar partes de esferas mencionadas, a jornalística e a cidadã.
um texto maior, cada uma desem­penhando sua Para o trabalho com jornais (impressos e digi-
função no desenvolvimento do tema. Com os tais) na escola, a implicação é evidente: criar
recursos de que se dispõem, atualmente, é pos- ou fortalecer núcleos de produção jornalística
sível, inclusive, imaginarmos o uso de monito- escolar como parte da política de letramento
res no lugar dos murais, quem sabe implemen- da unidade. Há vários jornais escolares sendo
tando “murais digitais”, nos quais os alunos publicados em diversos formatos, tiragens e
possam fazer uso de imagens em movimento, periodicidade, em nossa rede. Entretanto, ape-
ao atuarem como educadores da comunidade sar do grande potencial formativo que caracte-
escolar, papel que assumem nesses espaços de riza o envolvimento dos alunos na produção
divulgação de seus estudos e pesquisas. de jornais, tal iniciativa não se consolidou, ain-
da, como política curricular de rede que bus-
Esta lógica culmina no Ciclo IV, em que se que garantir o direito de todos os alunos do
propõe um gênero multimodal para articu- sistema a vivenciarem as práticas de letramen-
lar discussões sobre temas relevantes para os to que constituem esta produção. Em alguns
adolescentes e a comunidade escolar: trata-se casos, jornais escolares são desativados devi-
da “campanha publicitária educativa”, talvez do a mudanças de professores, falta de priori-
melhor classificada como um complexo de gê- dade no orçamento ou mesmo por conta de se
neros multimodais, dado que diversos gêneros entender tal produção como algo de importân-
podem compor uma mesma campanha publi- cia menor, em face a todos os conteúdos que
citária, na qual se deve estabelecer um diálogo precisam ser trabalhados. Entretanto, defen-
formativo com a escola e seu entorno, sem des- demos que o jornal escolar não deva ser visto
considerar a possibilidade de que, em virtude como parte de um trabalho apenas assessório
do alcance das mídias digitais, as campanhas do processo educativo, mas sim como catali-
ganhem o mundo. Conhecemos as campa- sador de uma dinâmica que envolve, além de
nhas direcionadas aos jovens, mas como eles importantes conteúdos e representações dos
mesmos fariam uso da(s) linguagem(ns) para usos da linguagem escrita, imagética, sonora
influenciar um determinado público-alvo? Ve- (rádio escolar) ou audiovisual (no caso de exis-
mos, no trabalho com este gênero, uma possí- tir um canal de vídeos da escola), instâncias de
vel articulação entre os 8º e 9º anos deste ciclo: trabalho coletivo em que atitudes essenciais
por exemplo, enquanto os alunos do 9º ano es- são desenvolvidas, tais como negociação, coo-
tariam se dedicando a filmar e editar pequenos peração e compromisso com o projeto.
esquetes relacionados à campanha (esquetes
que poderão se beneficiar do trabalho desen- No quadro de gêneros, podemos imaginar
volvido com o texto teatral, também previsto diversas articulações entre os ciclos na produ-
para este ano), os alunos do 8º ano produzi- ção textual que tenha como destino o jornal
riam slogans e jingles para apoiarem um pro- escolar (impresso, sonoro, digital, audiovisu-
duto final – a campanha publicitária – que seria al), cuja edição poderia ficar a cargo de um
o resultado do trabalho articulado entre estes grupo multietário de alunos, coordenados por
dois anos do ciclo. Evidentemente, trata-se professores ligados a este núcleo. Tomando
apenas de um exemplo para ilustrar o princípio este caso, podemos também considerar que,
considerado aqui: o estabelecimento de núcle- apesar da proposta de gêneros a cada ano, não
os de produção textual que possam estabelecer se está defendendo que alunos do 6º ano, por

132
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

exemplo, devam produzir apenas manchetes somente em aulas frontais, nas quais um úni-
e notícias para o jornal. O ensino da produ- co conteúdo cognitivo-verbal é ministrado da
ção textual de notícias, no interior da sequên- mesma forma a todos, com a expectativa de
cia didática planejada para o gênero, contaria, que cada um lhe responda no mesmo ritmo e
como horizonte possível, com a publicação de intensidade. Produzir textos jornalísticos, por
algumas delas no jornal. Porém, finda a sequ- exemplo, não se esgotam na escrita de notí-
ência didática, os alunos publicariam quais- cias, entrevistas ou reportagens que tenham
quer tipos de textos aprovados pela comissão como único fim a avaliação do rendimento
editorial, a qual resguardará espaços para pro- escolar em tais exercícios, mas se articula à
duções espontâneas que se esperam fomentar. implementação de um núcleo de produção
jornalística escolar, instituindo ou reforçando
O conceito de “esfera cidadã” pode soar práticas de letramento possíveis de serem vi-
estranho se considerarmos que toda seleção venciadas apenas no quadro de um trabalho
de gêneros, no currículo, deve responder às concreto que concebe a escola como uma co-
grandes finalidades da escola, dentre elas o munidade de interlocutores.
desenvolvimento de saberes e atitudes que
proporcionem condições para o exercício da Os textos publicitários não são apenas ana-
cidadania. Em um país, dramaticamente, desi­ lisados com o objetivo de se depre­enderem
gual, os canais públicos e democráticos de suas características mais evidentes, para de-
luta por direitos essenciais devem se tornar pois se exercitar sua produção em situ­ações
objeto de análise, discussão e exercício nas limitadas a um momento específico da sequ-
escolas, principalmente naquelas que servem ência didática, mas se promove uma di­nâmica
às classes sociais, economicamente, desfavo­ em que os próprios alunos assumam o prota-
recidas. Trata-se de um “conteúdo” que não gonismo por executar estratégias de divulga-
pode ser ensinado apenas pelo discurso ver­ ção e conscientização sobre assuntos e temas
bal. A participação em instâncias que consti­ relevantes, tomando o espaço escolar como
tuem a gestão participativa e democrática das arena pública de significação. Aprender a se
escolas não deve ser tratada como algo apar­ posicionar numa assembleia de classe, não
tado da prática educativa. Em nossa proposta, só significa a apropriação de um gênero, mas
o exercício desta participação não apenas se pressupõe, também, a existência da prática de
relaciona a posturas e atitudes que se esperam assembleia na gestão da escola e da sala de
de um cidadão atuante e crítico, mas também aula, a qual, por sua vez, articula-se a determi­
aos letramentos que constituem tais práticas. nadas concepções de escola, aluno e cidadão.
Cabe ressaltar, também, que esta é uma esfera
já abordada no 5º ano do Ciclo II e, portanto, Na esfera literária, verificamos a predominân-
caberá aos anos finais aprofundar e consolidar cia de gêneros tradicionais, cuja denominação
os letramentos já iniciados foi, propositalmente, simples de forma a indicar
possibilidades amplas e flexíveis para o posicio-
Todos os gêneros não apenas indicam um namento necessário de cada escola neste campo.
trabalho textual, mas também instituem práti- Uma discussão mais aprofundada sobre o traba-
cas sociais relacionadas. Algumas destas práti- lho com a linguagem literária escapa das possibi-
cas foram mencionadas acima na produção de lidades do presente documento, contudo, pode-
textos jornalísticos e publicitários. Foi possível -se dizer que, atualmente, ganha força a ideia de
observar que não se trata apenas de abordar que o ensino dos gêneros desta esfera precisa es-
textos em sala de aula, mas de propor uma or- tar articulado ao letramento literário (COSSON,
ganização orquestrada de pessoas, materiais, 2009), pelo qual a escola se responsabiliza, não
estruturas escolares, tempos e espaços educa- apenas no interior da aula de Língua Portuguesa
tivos, em práticas de ensino que não caberiam mas enquanto parte de sua política de letramen-

133
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

to, proporcionando recursos e ações tais como literária apropriada a cada tipo de conto serão
a dinamização do uso da biblioteca, promoção desenvolvidos, nas sequências didáticas. En-
de exposições temáticas e discussões interdis- cadear as peripécias de um personagem numa
ciplinares em que o texto literário participe da narrativa de aventura, de tal forma que o texto
significação dos diversos espaços educativos. final não resulte apenas num relato de diver-
Além disso, o ensino da produção textual nos sas ações, mas num todo orgânico que cative
gêneros dessa esfera deve colocar em evidência seu leitor, assim como, num conto de mistério,
as dimensões estéticas e lúdicas do discurso lite- construir o clima de suspense e cuidadosamen-
rário. Não se trata, portanto, de reproduzir mo- te dispor pistas que levem o leitor a conclusões
delos textuais em determinado gênero, mas de erradas, na solução de um enigma, fazendo-o
atuar sobre o conjunto de regras discursivas que perceber que as pistas verdadeiras, também, es-
possibilitam o efeito literário (MAINGUENE- tavam lá, sob seu nariz, compõem condições li-
AU, 2006), na sua relação com as culturas e os terárias importantes para que, efetivamente, se
critérios de avaliação de diferentes comunidades traba­lhe com um ou outro gênero. Entretanto,
de interpretação (ABREU, 2004). en­quanto experiência inscrita em certas dimen­
sões da arte, a inovação e o rompimento com
Os gêneros “poema” e “conto”, que apare- modelos conhecidos, também, compõem este
cem nos 6º e 8º anos, podem exemplificar a tipo de trabalho. Tomando outro exemplo, se
abordagem que se defende, aqui. Em primeiro o objetivo prioritário de ensino na produção de
lugar, não são definidos gêneros específicos de poemas é a mobilização das dimensões estéti-
poemas ou contos no quadro, colocando-se tal cas e lúdicas do texto literário, então as ativi-
definição a cargo do projeto pedagógico, bus- dades relacionadas não devem ter como tôni-
cando-se proporcionar amplitude e flexibilida- ca, evidentemente, o tipo de adequação formal
de coerentes ao campo da arte. Se o que se exigido em outros gêneros das demais esferas,
deseja é a experiência estética com o universo tais como o requerimento e o currículo vitae, na
literário, a imersão nas condições de produção esfera cidadã, ou o relatório de estudo do meio,
de sentidos nesta esfera deve buscar a constru- na esfera escolar – a não ser quando tomam tais
ção de uma relação especial com a produção características para subvertê-las e parodiar. Evi-
textual, pois aqui ela é perpassada por valores dentemente, há aspectos formais que se eviden-
e afetos próprios do fazer artístico. Se, por um ciam na construção de sonetos ou haicais, por
lado, não se aposta mais numa concepção ingê- exemplo, mas estes precisam ser elementos de
nua de criação artística, definida apenas em re- uma dinâmica lúdica para a produção de efei-
lação a inspirações e genialidades individuais, tos estéticos, configurando as aulas sobre tais
mas se a considera como fruto de um trabalho gêneros a partir de expectativas mais flexíveis
inscrito em condições materiais e históricas, e negociadas sobre a produção textual e favo-
por outro, a possibilidade de transgressão que recendo um ambiente propício à brincadeira e
caracteriza o diálogo literário deve, também, expressividade na criação literária.
ser percebida como ação intencional com e so-
bre a linguagem, por vezes levando a língua ao Demarcar uma progressão que vai do mais
seu limite e mesmo pressupondo leitores que fácil ao mais complexo para a produção literá-
ainda não existem para esta língua reinventa- ria não é tarefa isenta de riscos conceituais, pois
da (DELEUZE, 1997). textos literários sofisticados podem ser cons-
tituídos de construções linguísticas bastante
Se, por exemplo, escolhe-se, do universo dos simples do ponto de vista estrutural. Contudo,
contos, o “conto de aventura” ou o “conto de é razoável imaginar que dominar alguns pro-
mistério” como objeto de ensino, num deter- cedimentos, envolvendo o desenvol­vimento
minado ano, diversos procedimentos de cons- de certos conteúdos temáticos, articu­lados às
trução estética para a produção da experiência estruturas linguísticas mais complexas pode

134
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

ser desafio melhor explorado, caso a familia- Os objetivos a cada ano e ciclo não especi­
ridade com o discurso literário já tenha sido ficam, detalhadamente, diferenças muito mar­
desenvolvida a partir de expectativas anterio- cadas entre si. Não se indica que determinado
res, mais simples, alinhadas às possibilida­des conteúdo de análise linguística seja abordado
identificadas em outras produções textuais de num ano e não em outro, assim como não se
um ciclo. Porém, não é demais enfatizar que procedimentos de forma fragmentada, apon-
a produção textual, na esfera literária, deve tando, por exemplo, que as questões relaciona-
estar aberta, inclusive, para uma relação com das à tipologia narrativa sejam abordadas antes
a linguagem que não se manifesta em outras das outras tipologias, como se a primeira fosse
esferas. Pode-se imaginar que alunos com difi- preparatória das demais. Tampouco se incen-
culdade na produção textual, em gêneros mais tivam delimitações que soariam artificiais do
estáveis de esferas ligadas, por exemplo, ao ponto de vista de uma proposta que considera
estudo, mostrem uma relação própria com a a complexidade das práticas de letramento, em
escrita, até então desconhecida, no campo do função dos saberes e da autonomia dos alunos,
fazer artístico e literário – desde que este cam- bem como das finalidades maiores da educação
po seja entendido, nas práticas educativas, a e da escola, discutidas em outras seções destas
partir de sua potencialidade e complexidade. diretrizes. Em termos gerais, os enunciados dos
objetivos a cada ano assemelham-se, pois in-
Objetivos de Aprendizagem dicam o caráter processual do trabalho com as
diversas práticas implicadas por eles. Pode-se
Os objetivos, aqui, apresentados foram con­ dizer que os objetivos gerais dos ciclos, apesar
cebidos, pensando-se numa estrutura curricu- de enunciados praticamente idênticos, apon-
lar espiralada, em que determinados conteúdos tam para a necessária construção das expecta-
(procedimentos de produção textual, leitura, tivas de aprendizagem a cada ano, alinhados à
escuta e análise linguística) sejam reapresenta­ política de letramento da escola. Será no nível
dos em ciclos e anos diferentes, variando-se a concreto da abordagem de cada gênero com
complexidade de sua abordagem, dentro de nossos alunos em que se poderão indicar “as di-
uma progressão de ensino que vise ao domí­ mensões trabalhadas, a complexidade dos con-
nio daqueles aspectos considerados cruciais, teúdos e as exigências quanto ao tamanho e ao
no projeto pedagógico da escola, em função de acabamento do texto” (DOLZ, NOVERRAZ E
sua política de letramento. O fato de a maioria SCHNEUWLY, op. cit.). A seleção dos gêneros
dos gêneros indicados para o ensino da pro­ e seu grau de aprofundamento e sistematização
dução textual não se repetir, não significa que devem considerar, obrigatoriamente, a abor-
certos gêneros não possam ou não devam ser dagem de todos os tipos de texto a cada ano,
retomados a partir das necessidades dos alu- cabendo ao projeto pedagógico da escola, em
nos e dos projetos em desenvolvimento. diálogo com estas diretrizes, definir expectati-
vas de aprendizagem adequadas aos objetivos
A articulação desses fatores – necessidades da equipe educativa. Professores de todos os
dos alunos, possibilidades de aprendizagem, componentes curriculares precisam participar
grau de complexidade do objeto e das exigên- da definição coletiva do nível de proficiência de
cias da tarefa – possibilita o estabelecimento de leitura, escuta e produção textual que se espera
uma sequenciação não a partir da apresentação a cada ano e ciclo. Esta perspectiva reforça a ne-
linear de conhecimentos, mas do tratamento cessidade do planejamento integrado entre os
em espiral, sequenciação que considere a rea- anos de um mesmo ciclo e entre os dois ciclos
presentação de tópicos, na qual a progressão do Ensino Fundamental, de forma a não inter-
também se coloque no nível de aprofundamen- romper um processo que estará em construção,
to com que tais aspectos serão abordados e no por pelo menos 4 anos. É importante, ressaltar,
tratamento didático que receberão (PCN, p. 39). ainda, que tal processo não se esgota num úni-

135
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

co planejamento, mas precisa ser constante- ticular o projeto educativo da escola e os obje-
mente avaliado e, caso necessário, reformulado tivos de ensino ao grau de complexidade dos
em função das necessidades de aprendizagem objetos (re) apresentados a cada ano e ciclo,
dos alunos. Como nos apontam os PCN (p. 39), visando ao desenvolvimento progressivo da
sintetizado pelo quadro abaixo, trata-se de ar- autonomia do sujeito

Objetivos Gerais para o Ciclo III considerando as condições de produção


textual (interlocutor, finalidade, situação,
Ao final do Ciclo, o aluno deverá ser capaz gênero e suporte), empregando mecanis-
de: mos coesivos adequados e recursos rela-
tivos à paragrafação, pontuação e outros
a) Ler, compreender e interpretar textos sinais gráficos.
dos gêneros selecionados para o ciclo, a
partir do estabelecimento de relações en- d) Posicionar-se criticamente diante de tex-
tre diversos segmentos do texto e entre tos verbais e não verbais em várias lingua-
o texto e outros diretamente implicados gens, formulando apreciações estéticas e
por ele, articulando informações textuais éticas, compreendendo a construção de
e conhecimentos prévios. efeitos de ironia, humor, entre outros, a
partir dos elementos que os constituem.
b) Utilizar procedimentos de leitura como:
identificar o tema de um texto, localizar e) Na produção de textos, empregar proce-
informações explícitas, inferir o sentido de dimentos que garantam a qualidade do
uma palavra, expressão ou informação im- trabalho: planejar, por meio de anota-
plícita, distinguir um fato da opinião rela- ções, o que se vai escrever; fazer rascu-
tiva a esse fato, considerando os objetivos nhos e compartilhá-los com colegas ou
da leitura e as características do gênero. professor; revisar seu próprio texto e de
outros; consolidar a versão final de seu
c) Escrever textos coerentes e coesos, utili- texto, submetendo-a a uma apreciação
zando as convenções da escrita padrão, coletiva.

136
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

f) Participar oralmente de situações comu- c) Escrever textos coerentes e coesos, de


nicativas formais, tais como assembleias menor complexidade, dos gêneros se-
e debates regrados, bem como se expres- lecionados para o ano, considerando
sar por meio de exposições orais, sele- as condições de produção textual (in-
cionando informações ou argumentos terlocutor, objetivo, situação, gênero e
em função dos objetivos da exposição suporte), empregando mecanismos co-
ou discussão, manifestando e acolhendo esivos adequados e recursos relativos à
opiniões e adequando a linguagem à si- paragrafação, pontuação e outros sinais
tuação de comunicação. gráficos.
g) Utilizar os conhecimentos gramaticais d) Expressar-se diante de textos verbais e
decorrentes das análises linguísticas não verbais em várias linguagens, apre-
como instrumentos de aprimoramento sentando indícios de apreciações estéti-
da leitura e da escrita. cas e éticas, compreendendo a constru-
ção de efeitos de ironia, do humor, entre
h) Reconhecer o processo de variação lin- outros, a partir dos elementos que os
guística decorrente de fatores geográ- constituem.
ficos e sociais, bem como do grau de
formalidade da situação de uso da lin- e) Na produção de textos, mostrar cuidados
guagem, compreendendo que este pro- em empregar procedimentos que garan-
cesso participa da construção do senti- tam a qualidade do trabalho: planejar,
do e expressividade dos textos em que por meio de anotações, o que se vai es-
ocorre. crever; fazer rascunhos e compartilhá-los
com colegas ou professor; revisar seu
Objetivos Específicos para o Ciclo III próprio texto e de outros; consolidar a
versão final de seu texto, submetendo-a
6º ANO a uma apreciação coletiva.

Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: f) Participar oralmente de situações comu-
nicativas formais, tais como assembleias
a) Ler, compreender e interpretar, com rela- e debates regrados, bem como expres-
tiva autonomia, textos menos complexos sar-se por meio de exposições orais,
dos gêneros selecionados para o ano, a mostrando cuidados em selecionar in-
partir do estabelecimento de relações en- formações ou argumentos em função
tre diversos segmentos do texto e entre dos objetivos da exposição ou discus-
o texto e outros diretamente implicados são, manifestando e acolhendo opiniões
por ele, articulando informações textuais e adequando a linguagem à situação de
e conhecimentos prévios. comunicação.

b) Utilizar corretamente os procedimentos g) Utilizar os conhecimentos gramaticais


de leitura: identificar o tema de um texto, decorrentes das análises linguísticas
localizar informações explícitas e inferir o como instrumentos de aprimoramento
sentido de uma palavra, expressão ou in- da leitura e da escrita.
formação implícita, distinguir um fato da
opinião relativa a esse fato, considerando h) Reconhecer o processo de variação lin-
os objetivos da leitura e as características guística decorrente de fatores geográficos
dos textos de menor complexidade dos e sociais, bem como do grau de formali-
gêneros selecionados para o ano. dade da situação de uso da linguagem.

137
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

7º ANO f) Participar oralmente de situações comu-


nicativas formais, tais como assembleias
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: e debates regrados, bem como expres-
sar-se por meio de exposições orais, se-
a) Ler, compreender e interpretar, com au- lecionando informações ou argumentos
tonomia, textos menos complexos dos em função dos objetivos da exposição
gêneros selecionados para o ano, a partir ou discussão, manifestando e acolhendo
do estabelecimento de relações entre di- opiniões e adequando a linguagem à si-
versos segmentos do texto e entre o tex- tuação de comunicação.
to e outros diretamente implicados por
ele, articulando informações textuais e g) Utilizar os conhecimentos gramaticais
conhecimentos prévios. decorrentes das análises linguísticas re-
alizadas a partir do estudo dos gêneros
b) Utilizar corretamente os procedimentos previstos até este ano.
de leitura: identificar o tema de um texto,
localizar informações explícitas, inferir o h) Reconhecer e compreender o processo
sentido de uma palavra, expressão ou in- de variação linguística decorrente de fa-
formação implícita, distinguir um fato da tores geográficos e sociais, bem como do
opinião relativa a esse fato, considerando grau de formalidade da situação de uso
os objetivos da leitura e as características da linguagem.
dos textos de menor complexidade dos
gêneros selecionados para o ano.
Objetivos Gerais para o Ciclo IV
c) Escrever, com eficiência, textos coeren-
tes e coesos de menor complexidade dos Ao final do Ciclo, o aluno deverá ser capaz de:
gêneros selecionados para o ano, consi-
derando as condições de produção textu- a) Ler, compreender e interpretar textos dos
al (interlocutor, objetivo, situação, gêne- gêneros selecionados para o ciclo, a partir
ro e suporte), empregando mecanismos do estabelecimento de relações entre di-
coesivos adequados e recursos relativos versos segmentos do texto, identificando
à paragrafação, pontuação e outros sinais as relações intertextuais, reconhecendo
gráficos. marcas de autoria e valorizando a leitura
como fonte de conhecimento de mundo
d) Expressar-se diante de textos verbais e e de si mesmo.
não verbais em várias linguagens, formu-
lando apreciações estéticas e éticas, com- b) Utilizar procedimentos de leitura como:
preendendo a construção do efeito de identificar o tema de um texto, localizar
ironia, humor, entre outros, a partir dos informações explícitas, inferir o sentido de
elementos que os constituem. uma palavra, expressão ou informação im-
plícita, distinguir um fato da opinião rela-
e) Na produção de textos, empregar corre- tiva a esse fato, considerando os objetivos
tamente procedimentos que garantam da leitura e as características do gênero.
a qualidade do trabalho: planejar, por
meio de anotações, o que se vai escre- c) Escrever textos coerentes e coesos, conside-
ver; fazer rascunhos e compartilhá-los rando as condições de produção textual (in-
com colegas ou professor; revisar seu terlocutor, objetivo, situação, gênero e su-
próprio texto e de outros; consolidar a porte), empregando mecanismos coesivos
versão final de seu texto, submetendo-a adequados e recursos relativos à paragrafa-
a uma apreciação coletiva. ção, pontuação e outros sinais gráficos.

138
CAPÍTULO 16  –  LÍNGUA PORTUGUESA

d) Posicionar-se criticamente diante de tex- dos gêneros selecionados para o ano, a


tos verbais e não verbais em várias lingua- partir do estabelecimento de relações en-
gens, formulando apreciações estéticas e tre diversos segmentos do texto e entre
éticas, compreendendo a construção do o texto e outros diretamente implicados
efeito de ironia, humor, entre outros, a por ele, articulando informações textuais
partir dos elementos que os constituem. e conhecimentos prévios.

e) Na produção de textos, empregar proce- b) Utilizar com maior autonomia proce-


dimentos que garantam a qualidade do dimentos de leitura como: identificar o
trabalho: planejar, por meio de anotações, tema de um texto, localizar informações
o que se vai escrever, consolidando o con- explícitas, inferir o sentido de uma pala-
ceito de projeto de texto; fazer rascunhos vra, expressão ou informação implícita e
e compartilhá-los com colegas ou profes- distinguir um fato da opinião relativa a
sor; revisar seu próprio texto e de outros; esse fato, considerando os objetivos da
consolidar a versão final de seu texto, sub- leitura e as características dos textos de
metendo-a a uma apreciação coletiva. maior complexidade dos gêneros selecio-
nados para o ano.
f) Participar oralmente de situações comu-
c) Escrever textos de maior complexidade
nicativas formais, tais como assembleias
dos gêneros selecionados para o ano co-
e debates regrados, bem como expres-
erentes e coesos, considerando as condi-
sar-se por meio de exposições orais, se-
ções de produção textual (interlocutor,
lecionando informações ou argumentos
objetivo, situação, gênero e suporte), em-
em função dos objetivos da exposição
pregando mecanismos coesivos adequa-
ou discussão, manifestando e acolhendo
dos e recursos relativos à paragrafação,
opiniões e adequando a linguagem à si-
pontuação e outros sinais gráficos.
tuação de comunicação.
d) Posicionar-se diante de textos verbais e
g) Utilizar os conhecimentos gramaticais
não verbais em várias linguagens, formu-
decorrentes das análises linguísticas lando apreciações estéticas e éticas, com-
como instrumentos de aprimoramento preendendo a construção do efeito de
da leitura e da escrita. ironia, humor, entre outros, a partir dos
elementos que os constituem.
h) Reconhecer o processo de variação lin-
guística decorrente de fatores geográficos e) Na produção de textos, empregar efeti-
e sociais, bem como do grau de formali- vamente procedimentos que garantam a
dade da situação de uso da linguagem, qualidade do trabalho: planejar, por meio
compreendendo que este processo parti- de anotações, o que se vai escrever; fazer
cipa da construção do sentido e expressi- rascunhos e compartilhá-los com colegas
vidade dos textos em que ocorre. ou professor; revisar seu próprio texto
e de outros; consolidar a versão final de
Objetivos Específicos para Ciclo IV seu texto, submetendo-a a uma aprecia-
ção coletiva.
8º ANO
f) Participar oralmente de situações comu-
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: nicativas formais, tais como assembleias
e debates regrados, bem como expres-
a) Ler, compreender e interpretar, com rela- sar-se por meio de exposições orais, se-
tiva autonomia, textos mais complexos lecionando informações ou argumentos

139
em função dos objetivos da exposição e coesos, de maior complexidade dos gêne-
ou discussão, manifestando e acolhendo ros selecionados para o ano, considerando
opiniões e adequando a linguagem à si- as condições de produção textual (interlo-
tuação de comunicação. cutor, objetivo, situação, gênero e suporte),
empregando mecanismos coesivos ade-
g) Utilizar os conhecimentos gramaticais quados e recursos relativos à paragrafação,
decorrentes das análises linguísticas pontuação e outros sinais gráficos.
como instrumentos de aprimoramento
da leitura e da escrita. d) Posicionar-se criticamente diante de tex-
tos verbais e não verbais em várias lin-
h) Compreender o processo de variação lin- guagens, formulando criteriosamente
guística decorrente de fatores geográficos apreciações estéticas e éticas, compreen-
e sociais, bem como do grau de formali- dendo a construção do efeito de ironia,
dade da situação de uso da linguagem, humor, entre outros, a partir dos elemen-
percebendo que este processo participa tos que os constituem.
da construção do sentido e expressivida-
de dos textos em que ocorre. e) Na produção de textos, empregar efeti-
vamente procedimentos que garantam a
qualidade do trabalho: planejar, por meio
Objetivos Específicos para Ciclo IV de anotações, o que se vai escrever, consoli-
dando o conceito de projeto de texto; fazer
9º ANO rascunhos e compartilhá-los com colegas ou
professor; revisar seu próprio texto e de ou-
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: tros; consolidar a versão final de seu texto,
submetendo-a a uma apreciação coletiva.
a) Ler, compreender e interpretar, com auto-
nomia, textos mais complexos dos gêneros f) Participar oralmente de situações comu-
selecionados para o ano, a partir do esta- nicativas formais, tais como assembleias
belecimento de relações entre diversos seg- e debates regrados, bem como expres-
mentos do texto e entre o texto e outros sar-se por meio de exposições orais, se-
diretamente implicados por ele, articulan- lecionando informações ou argumentos
do informações textuais e conhecimentos em função dos objetivos da exposição
prévios, identificando as relações intertex- ou discussão, manifestando e acolhendo
tuais, reconhecendo marcas de autoria e opiniões e adequando a linguagem à si-
valorizando a leitura como fonte de conhe- tuação de comunicação.
cimento de mundo e de si mesmo.
g) Utilizar os conhecimentos gramaticais
b) Utilizar, de forma autônoma, os procedi- decorrentes das análises linguísticas
mentos de leitura: identificar o tema de como instrumentos de aprimoramento
um texto, localizar informações explícitas, da leitura e da escrita.
inferir o sentido de uma palavra, expressão
ou informação implícita, distinguir um fato h) Reconhecer e compreender o processo
da opinião relativa a esse fato, consideran- de variação linguística decorrente de fa-
do os objetivos da leitura e as característi- tores geográficos e sociais, bem como
cas dos textos de maior complexidade dos do grau de formalidade da situação de
gêneros selecionados para o ano. uso da linguagem, entendendo que este
processo participa da construção do sen-
c) Escrever, com eficiência, utilizando as con- tido e expressividade dos textos em que
venções da escrita padrão, textos coerentes ocorre.
Capítulo 17

LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA – INGLÊS

Introdução humano e cidadão. Ao entender o outro e sua


alteridade, pela aprendizagem de uma língua
Na proposta das Diretrizes Curriculares estrangeira, ele aprende mais sobre si mesmo
de Ensino Fundamental II, da Secretaria Mu- e sobre um mundo plural, marcado por valores
nicipal de Educação de Campinas, o ensino/ culturais diferentes e maneiras diversas de orga-
aprendizagem da Língua Inglesa é fundamen- nização política e social (BRASIL, 1998, p.19).
tado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais:
Língua Estrangeira (BRASIL,1998). Este docu- Para além da aquisição de sinais e normas
mento concebe a linguagem como fenôme- linguísticas, o aprendizado de uma LE (Língua
no social e histórico. Portanto, pela natureza Estrangeira) é de extrema importância para a
sociointeracional da linguagem, a língua é formação do educando, por auxiliar no desen-
concebida como atividade social, sendo he- volvimento de “aspectos psicológicos, sociais,
terogênea, por envolver a interação entre os culturais e afetivos”, já que “envolve habilida-
interlocutores inseridos em determinado mo- des de compreensão e produção aprendidas,
mento sócio-histórico. Desta forma, está des- através de estratégias cognitivas, tais como:
vinculada da neutralidade por ser um signo identificar, inferir, deduzir, generalizar, com-
vivo e móvel, e, por conseguinte, dialógico/ parar, combinar, memorizar e intuir” (SILVA,
ideológico (BAKHTIN, 2004, p.29-31). 1992, p.17).

Ao aprender uma LE, o aluno depara-se com Como a língua não é neutra, ela estabelece
outra língua, outra cultura, o que gera desesta- o poder e a autoridade do falante ou de um
bilização, analogias, levando-o a enxergar a si grupo em determinado momento histórico,
pelo outro. Ou seja, ele amplia a percepção do político, econômico e social, exercendo um
funcionamento de sua língua materna, bem papel primordial para o estabelecimento do
como passa a pensar sobre aspectos culturais poder hegemônico do povo que a fala, con-
de seu país, por estar em contato com uma lín- forme argumenta Carvalho (2013). Conside-
gua que tem normas linguísticas distintas de rando a propagação da atuação política, eco-
sua língua materna, sendo pertencente a um nômica e militar dos Estados Unidos a partir
povo que possui costumes e valores diferentes da II Guerra Mundial, a Língua Inglesa (LI
do seu. Conforme apontado nos Parâmetros doravante) difundiu-se mundialmente, assu-
Curriculares Nacionais: Língua Estrangeira mindo, atualmente, o status de língua franca,
(BRASIL,1998): não havendo outra língua usada em tão larga
escala (CRYSTAL, 2005). O aprendizado de LI
O distanciamento proporcionado pelo envolvi- tornou-se essencial para os dias de hoje, pro-
mento do aluno no uso de uma língua diferente piciando a inserção no mercado de trabalho,
o ajuda a aumentar sua autopercepção como ser no mundo tecnológico, político, econômico,

141
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

acadêmico, turístico e científico. Portanto, a políticas, e que o ensino da cultura da língua


aprendizagem da LI na escola pública favore- alvo seja utilizado como fortalecedor na for-
ce a inclusão do aluno na sociedade da infor- mação do aluno, transpondo o sentido da do-
mação, pois possibilita que ele desenvolva ha- minação. Ele salienta que o objetivo principal
bilidades de comunicação por meio de outra deve ser:
língua além da língua materna, favorecendo a
reflexão sobre a realidade em que está inseri- a preservação da identidade cultural brasileira
do. Moita Lopes (2005) salienta: do aluno, ou seja, uma exigência de se pensar a
língua estrangeira de um ponto de vista que re-
Daí a importância da educação linguística críti- flita os interesses do Brasil (identifica-se o ensino
ca e, notadamente, da educação em inglês, pois de línguas estrangeiras com interesses políticos)
os discursos que circulam na Internet e na maior (MOITA LOPES, 1996, p. 42).
parte dos canais internacionais de TV, para não
mencionar os discursos do mundo da pesquisa, Desta forma, o ensino/aprendizagem da
das finanças, do comércio, dos congressos, dos Língua Inglesa pode ser um instrumento que
eventos esportivos mundiais etc., são, primor- propicie a educação do aluno, no sentido de
dialmente, construídos em inglês, mesmo aqueles sua formação, favorecendo a percepção de
que são produzidos em países onde não se fala que, atualmente, há vários tipos de Inglês e que
inglês como primeira língua. O inglês é o armê- a Língua Inglesa não pertence apenas aos Es-
nio, grego, latim, nahuatl, espanhol e francês de tados Unidos, pois, devido à sua propagação,
nossos tempos e pode se tornar a língua comum tornou-se uma língua de apropriação mundial.
por meio da qual aprendemos a ler o mundo
criticamente para participar ativamente de sua Neste sentido, os temas transversais (PCNs,
construção (MOITA LOPES, 2005, p. 7 e 8). 1998) propiciam abordar questões de interes-
ses social e político, possibilitando desvincu-
Conforme apontado nos Parâmetros Cur- lar o processo de ensino/aprendizagem da LI
riculares Nacionais: Língua Estrangeira (BRA- das questões, simplesmente, normativas da
SIL, 1998), diante do caráter hegemônico da língua, para favorecer o aprimoramento do
LI, deve-se utilizar do momento de ensino/ conhecimento de mundo do aluno.
aprendizagem da língua para desenvolver a
consciência crítica do aluno, a fim de deses- Objetivos Gerais para os Ciclos III e IV
truturar discursos totalizantes de reprodução
social e cultural, para que os indivíduos assu- Dentre as quatro habilidades que envolvem
mam a postura de sujeitos ativos e criadores, a língua (ler, escrever, falar e ouvir), a que será
não sendo consumidores passivos da cultura e mais enfocada neste documento será a leitura,
do conhecimento alheio. Segundo Cox e As- visto que, dentre todas as habilidades, esta é
sis-Peterson: que está mais próxima de suprir a necessidade
real do aluno, para que ele possa “ler” as infor-
Aqueles que trabalham com o ensino de inglês mações do mundo ao seu redor.
não podem reduzi-lo a questões sócio-psicológi-
cas de motivação, a questões metodológicas, a O ensino de Língua Inglesa em todos os ci-
questões linguísticas. A língua está imersa em clos deverá ser organizado de modo a levar o
lutas sociais, econômicas e políticas e isso não aluno a:
pode ser deixado de fora da cena da sala de aula
(COX e ASSIS-PETERSON, 2001, p.20). a) Perceber que vive em um mundo plu-
rilíngue e que o aprendizado de línguas
Segundo Moita Lopes (1996), é preciso que estrangeiras não apenas possibilita a co-
o ensino de LE esteja vinculado às questões municação entre diferentes povos, como

142
CAPÍTULO 17   –  LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA – INGLÊS

também desempenha papel fundamental ções de comunicação oral e escrita pre-


e dominante em determinado momento vistas para o ciclo.
histórico na nossa sociedade.
f) Conhecer o sistema fonético da língua
b) Ver o mundo de forma mais crítica, en- inglesa, de modo a estabelecer analogias
tendendo as relações políticas, econô- entre este e o da língua materna.
micas e sociais envolvidas para o esta-
belecimento do aprendizado da Língua Objetivos Específicos para o Ciclo III
Inglesa, ampliando assim a compreensão
de seu papel como cidadão em seu país e 6º ANO
no mundo para a preservação da diversi-
dade linguística e cultural. Ao final do sexto ano, o aluno deverá ser
capaz de:
c) Expandir sua visão de mundo, reconhe-
cendo que o aprendizado da língua ingle- a) Perceber a presença e importância da lín-
sa possibilita o ingresso à sociedade da gua inglesa, identificando palavras que
informação devido à sua importância no permeiam nosso cotidiano em veículos
cenário mundial atual. de comunicação, embalagens e vesti-
mentas, assim como conhecer alguns
d) Compreender a importância da leitura aspectos culturais (exemplos: situação
em língua inglesa como fonte de infor- geográfica, alimentação, etc.) dos países
mação e prazer. falantes desse idioma, visando à percep-
ção de um mundo pluricultural.
Objetivos Gerais para o Ciclo III
b) Utilizar-se dos diversos temas transver-
Ao final do III Ciclo, o aluno deverá ser ca- sais abordados para analisar e refletir cri-
paz de: ticamente sobre os assuntos estudados.

a) Perceber a presença e importância da c) Ler, compreender, interpretar e produzir


língua inglesa no nosso cotidiano, bem textos de gêneros mais simples (exemplos:
como conhecer alguns aspectos culturais fichas de apresentação, pequenos diálogos,
dos países falantes da língua inglesa, vi- bilhetes, cartas e descrições pessoais, etc.).
sando à percepção de um mundo pluri-
cultural. d) Utilizar-se de enunciados que envolvam
situações contextualizadas a respeito
b) Utilizar-se dos diversos temas transver- de sua realidade (exemplos: saudações,
sais abordados para analisar e refletir cri- apresentações, descrições pessoais, etc.)
ticamente sobre os assuntos estudados. para aprimorar tanto a pronúncia como
o uso das entonações.
c) Ler, compreender, interpretar e produzir
textos de gêneros mais simples. e) Fazer uso das estruturas gramaticais bá-
sicas, relacionadas aos gêneros previstos
d) Utilizar-se de enunciados envolvendo para o ano, para produzir situações de
situações contextualizadas a respeito de comunicação oral e escrita.
sua realidade, para aprimorar sua pro-
núncia e reforçar o uso das entonações. f) Conhecer sons e entonações básicos, de
modo a estabelecer analogias entre o sis-
e) Fazer uso das estruturas gramaticais bá- tema fonético da língua inglesa e o da lín-
sicas necessárias para produzir as situa- gua materna.

143
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

7º ANO ticamente sobre os assuntos estudados.

Ao final do sétimo ano, o aluno deverá ser c) Ler, compreender e interpretar textos de
capaz de: gêneros um pouco mais complexos.

a) Conhecer aspectos culturais (exemplos: es- d) Produzir, considerando o universo lin-


porte, protocolos sociais, hábitos, etc.) dos guístico do aluno, diversos tipos de tex-
países falantes da língua inglesa, visando à tos que envolvam situações cotidianas
percepção de um mundo pluricultural. de comunicação.

e) Utilizar-se dos enunciados que envolvam


b) Utilizar-se dos diversos temas transver-
situações contextualizadas a respeito de
sais abordados para analisar e refletir cri-
sua realidade para aprimorar tanto a pro-
ticamente sobre os assuntos estudados.
núncia como o uso das entonações.
c) Ler, compreender, interpretar e produzir
f) Fazer uso das estruturas gramaticais bá-
textos de gêneros mais simples (exem-
sicas, relacionadas aos gêneros previstos
plos: pequenas biografias, descrições de
para o ano, para produzir situações de
pessoas, lugares, etc.). comunicação oral e escrita.
d) Utilizar-se dos enunciados que envolvam
situações contextualizadas a respeito de Objetivos Específicos para o Ciclo IV
sua realidade (exemplos: descrições de pes-
soas, comidas, vestimentas e expressões 8º ANO
de preferência, etc.) para aprimorar tanto
a pronúncia como o uso das entonações. Ao final do oitavo ano, o aluno deverá ser
capaz de:
e) Fazer uso das estruturas gramaticais bá-
sicas, relacionadas aos gêneros previstos a) Conhecer, de maneira mais profunda,
aspectos culturais dos países falantes
para o ano, para produzir situações de
da língua inglesa, e estabelecer relações
comunicação oral e escrita.
entre o contexto político, econômico,
f) Conhecer os sons e entonações da língua social destes países e o contexto brasi-
inglesa, de modo a estabelecer analogias leiro.
com a língua materna.
b) Utilizar-se dos diversos temas transver-
sais abordados para analisar e refletir
Objetivos Gerais para o Ciclo IV criticamente sobre os assuntos estuda-
dos.
Ao final do IV ciclo, o aluno deverá ser ca-
paz de: c) Ler, compreender e interpretar textos de
gêneros mais complexos que envolvam
a) Conhecer, de maneira mais profunda, os tipos textuais narrativos e descritivos
aspectos culturais dos países falantes da (exemplos: relatos, biografias, entrevis-
língua inglesa, e estabelecer relações en- tas, notícias, etc.).
tre o contexto político, econômico, social
destes países e o contexto brasileiro. d) Fazer uso das estruturas gramaticais bá-
sicas, relacionadas aos gêneros previstos
b) Utilizar-se dos diversos temas transver- para o ano, para produzir situações de
sais abordados para analisar e refletir cri- comunicação oral e escrita.

144
CAPÍTULO 17   –  LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA – INGLÊS

e) Utilizar-se dos enunciados que envolvam fletir criticamente sobre os assuntos


situações contextualizadas a respeito de estudados.
sua realidade para aprimorar tanto a pro-
núncia como o uso das entonações. c) Ler, compreender e interpretar textos
de gêneros mais complexos que envol-
f) Produzir, considerando o universo lin- vam também tipos textuais dissertativos
guístico do aluno, diversos tipos de textos e argumentativos, além dos narrativos
que envolvam situações cotidianas de co- (e-mails, biografias, relatos, entrevistas,
municação (exemplos: relatos, biografias, notícias, etc.).
entrevistas, cartões postais, charges, etc).
d) Produzir, considerando o universo lin-
9º ANO guístico do aluno, textos de gêneros di-
versos que envolvam situações cotidia-
Ao final do nono ano, o aluno deverá ser nas de comunicação (exemplos: relatos,
capaz de: biografias, entrevistas, cartões postais,
charges, etc.).
a) Conhecer, de maneira mais profunda, as-
pectos culturais dos países falantes da lín- e) Utilizar-se dos enunciados que envol-
gua inglesa (exemplos: sistema político, vam situações contextualizadas a respei-
organização social, etc.), e estabelecer, de to de sua realidade para aprimorar tanto
forma crítica, relações entre o contexto a pronúncia como o uso das entonações.
político, econômico, social destes países
e o contexto brasileiro. f) Utilizar-se das estruturas gramaticais bá-
sicas, relacionadas aos gêneros, para pro-
b) Utilizar-se dos diversos temas trans- duzir as situações de comunicação oral e
versais abordados para analisar e re- escrita.

145
Capítulo 18

ARTE

Introdução Os textos a seguir visam apresentar, em li-


nhas gerais, a inter-relação entre eles, abrindo
Diego não conhecia o Mar. O pai, Santiago caminho para um processo permanente de (re)
Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. pensar o quê, por quê e como ensinar arte.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas,
esperando.
Arte na Contemporaneidade
Quando o menino e o pai enfim alcançaram
Na pós-modernidade, a ideia de arte am-
aquelas alturas de areia, depois de muito
plia-se e desconstrói-se a partir das frequen-
caminhar, o mar estava na frente de seus
tes rupturas e (re)invenções, provocadas pelos
olhos.
artistas e influenciadas pelo advento de novas
tecnologias e mídias; pela relação dialógica es-
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu ful-
tabelecida entre diferentes linguagens32 e poé-
gor, que o menino ficou mudo de beleza.
ticas – dando origem a hibridismos e conver-
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gências; entre culturas – percurso em direção
gaguejando, pediu ao pai: ao multiculturalismo; entre espaços e épocas –
possibilitando retomadas, revisitas, ressignifi-
– “Me ajuda a olhar!” cações e apropriações; entre artistas e público
– na qual a obra passa a materializar-se muitas
Eduardo Galeano vezes através da participação e interação – e
pelo advento da cultura visual, a evidenciar
cada vez mais seu potencial educativo.

As Diretrizes Curriculares, que visam de- Christov (2011) vem ao encontro dessas
finir os processos de construção de conheci- ideias, ao evocar Luigi Pareyson e Imanol
mento, ensino e aprendizagem no componen- Aguirre. O primeiro, quando defende a com-
te curricular Arte, assim como a proposição
dos objetivos gerais e específicos para este
32 Linguagem é entendida neste texto, a partir da contribuição de
componente, fundamentam-se na análise e re- Sogabe e Leote, quando afirmam que: A arte se transforma em seus
flexão de quatro aspectos que influem na cor- propósitos tanto quanto na gama de linguagens que produz e opera. Em
qualquer das linguagens da arte, graus de comunica­ção se estabeleceram,
porificação da arte/educação nas escolas: (1) a ou seja, arte comunica. Mas, como se vale de ambiguidades, também, a
arte na contemporaneidade; (2) as concepções clareza do que comunica se resolve em escala poética. Em outras palavras,
contemporâneas de arte/educação; (3) o espa- do público de uma obra de arte é exigido capacidade de reconhecimento
da linguagem em que ela se constrói. Isso não pode ser feito sem repertó-
ço da arte na escola e (4) as linguagens da arte rio estético. Este repertório confere relação poética entre público e obra no
e o trabalho do professor. momento da fruição, que, afinal, é processo de comunicação (SOGABE;
LEOTE, 2012, p. 20).

147
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

preensão de arte como construção, conheci- buições e a importância da arte na educação


mento e expressão: e dos filósofos gregos a importantes pensado-
res dos séculos XX (quando da consolidação
Desta forma, evitando enclausurar a arte em de uma epistemologia de ensino de arte) e da
um único conceito, o autor defende que imitar ou atualidade. Entre essas contribuições, destaca-
transformar o real, criando formas (construção) mos as de Vygotsky, Duarte Junior, Aguirre e
e significados que geram sentidos e provocam Albano.
perguntas (conhecimento), bem como criar for-
mas de dizer e externar emoções e conhecimen- Em seus estudos, Vygotsky (2001) destacou
tos (expressão) são atributos do fazer artístico a importância da arte na educação ao afirmar
(CHRISTOV, 2011, p. 34). que por meio dela elaboramos linguagem, sa-
beres, conceitos e sentimentos em mediações
E Aguirre, quando apresenta outra caracte- de linguagens, pensamentos e experiências,
rística importante da produção artística con- conforme explicita Christov (2011):
temporânea, configurar-se a partir de narrati-
vas que exploram múltiplas questões – muitas Para Vygotsky, a educação estética não se limita à
vezes controversas – de temáticas sociais: formação do artista, porque é aproximação da arte
e do mundo de forma a ampliar universo cultural e
[...] arte como relato aberto e como condensado de condições de pensar e de expressar o mundo. Esta
experiências. Como relato aberto porque é cons- ampliação que inclui criação de linguagem e de me-
trução narrativa que elege certos elementos para lhores condições de compreensão do mundo consiste
construir significados, deixando outros de fora. um direito de todos os homens. Por isso, para o autor,
Este processo seletivo sugere perguntas associadas a arte não pode ser entendida como mera comple-
às razões pessoais e culturais que motivam esta mentação no conjunto da experiência humana, mas é
ou aquela seleção, mais do que perguntas sobre prática essencial para formação do ser humano (VY-
o que é arte em termos de uma definição geral. A GOTSKY, 2001 apud CHRISTOV, 2011, p. 34).
partir de John Dewey e Roland Barthes, Imanol
afirma sua convicção de que é preciso despojar Em outra direção, mas complementando
a arte e suas obras da dimensão transcendental esses apontamentos, contribuiu Duarte Júnior
na qual a tradição moderna as havia colocado e (1988) ao defender que o sentimento é a porta
compreendê-las como relato aberto, como investi- de entrada da percepção humana, anteceden-
gação criativa e condensado de experiências que do o pensamento e a reflexão e, ao mesmo
permite compreensão da arte como materializa- tempo, constituindo a base dos mesmos, já
ção estética de todo um sistema de crenças, valo- que valoramos o que vivemos, conhecemos e
res, formas, projetos e sensibilidades individuais aprendemos; o autor argumenta, ainda, que a
e coletivas (CHRISTOV, 2011, p. 34). experiência artística possibilita ao indivíduo:

Ambas as contribuições enfatizam o poten- a) a relação, compreensão e vivência de seus


cial da arte para a mobilização de questiona- próprios sentimentos e do sentimento de sua
mentos, provocações, reflexões e diálogos em época, possibilitando um processo de autoco-
sentidos diversos. nhecimento, de desenvolvimento e educação
do sentir e de ampliação de sua capacidade
As Concepções Contemporâneas de de significação e representação;
Arte/Educação
b) a compreensão de sentidos externos à sua cultura;
As ideias, acima, já evidenciam o potencial
educativo e formador da arte enquanto pro- c) a agilização da imaginação, a princípio orien-
cesso humano, fator esse, inclusive, mobiliza- tada por seus conhecimentos, para então lan-
dor de muitas investigações sobre as contri- çá-lo a novas descobertas;

148
CAPÍTULO 18 – ARTE

d) a vivência de situações, extremas ou impossí- imagem e, por isso, facilmente se comunica pelas
veis no cotidiano (mas na segurança do con- linguagens artísticas (ALBANO, 2013).
tato com a obra);
Diante desses apontamentos, torna-se fun-
e) a proposição do inexistente ou da utopia, a damental considerar as contribuições da epis-
propiciar reflexão, descobertas e aprendizado. temologia da Arte/Educação no que se refere
(DUARTE JÚNIOR, 1988, p. 111-122). a seus procedimentos metodológicos, ou seja,
como operacionalizar a arte, na escola, para
Coadunam-se a essas ideias as de Imanol que esta cumpra sua função.
Aguirre (2009) e Ana Angélica Albano (2013).
Aguirre, quando defende a presença da di- A esse respeito, Barbosa e Coutinho (2011)
mensão emotivo-afetiva na produção artísti- salientam a relevância de uma concepção de
ca e na fruição estética das diversas culturas e ensino de arte que permita a articulação entre
manifestações contemporâneas: culturas, sociedade e os indivíduos, em diálo-
gos abertos – interdisciplinares e multicultu-
É importante não esquecer que, com frequência, rais – desenvolvendo a significação, o senso
os artefatos estéticos, também para os jovens, crítico, a compreensão e o posicionamento do
cumprem a função de detonadores da emoção estudante, enquanto interator na cultura e na
e que, diante disto, costuma ficar em suspeito o sociedade, na qual influencia e é influenciado.
juí­zo racional. As experiências estéticas não são
fa­cilmente redutíveis a um juízo crítico, ou, dizen- Nesse sentido, a “Proposta Triangular”33 apre-
do melhor, quando se reduzem a um juízo crítico, senta-se como relevante recurso metodológico
fica, notavelmente, minguado esse outro valor que para a arte/educação na contemporaneidade,
comportam e que não é outro que o de dar oportu- conforme evidencia Barbosa ao apresentar a re-
nidades à exploração emotiva, à vivência intensa lação entre três pensadores que a fundamentam:
das experiências estéticas, como as que podem
desfrutar os espectadores dos shows de rock ou Para ambos [Eisner e Freire], a educação é
música pop, por exemplo. [...] Acredito que é im- mediatizada pelo mundo em que se vive, for-
portante considerar esse aspec­to em educação já matada pela cultura, influenciada por lingua-
que, muitas vezes, quando se fala de alfabeti- gens, impactada por crenças, clarificada pela
zação, procura-se apenas a ex­plicação racional necessidade, afetada por valores e moderada
do juízo estético, seja pela via da análise formal, pela individualidade. Trata-se de uma expe-
seja pelo lado da crítica cultu­ral (AGUIRRE, riência com o mundo empírico, com a cultura
2009, p. 11). e a sociedade personalizada pelo processo de
gerar significados, pelas leituras pessoais auto-
E, por sua vez, Albano, ao defender que a -sonorizadas do mundo fenomênico e das “pai-
arte: sagens interiores”. É na valorização da expe-
riência que os três filósofos e/ou epistemólogos
[...] ocupa um lugar entre o sonho e a realidade. se encontram. Se, para Dewey, experiência é
As pessoas precisam do imaginário para aces- conhecimento, para Freire é a consciência da
sar suas imagens e emoções e dar forma ao que experiência que podemos chamar conhecimen-
querem expressar e que, às vezes, não cabem to. Já Eisner destaca da experiência do mun-
em palavras, mas são possíveis de serem expres- do empírico sua dependência de nosso sistema
sas em pinturas, filmes e músicas. A arte pos- sensorial biológico, que é a extensão de nosso
sibilita o trânsito entre o cognitivo e o afetivo, o
consciente e o inconsciente, porque habita essa 33 “Sistematizada por Ana Mae Barbosa, entre 1987 e 1993, no
zona intermediária. A criança pequena trafega contexto do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo e experimentada nas escolas da Rede Municipal de En-
por esse espaço com muita espontaneidade. Ela sino da Cidade de São Paulo, quando Paulo Freire era Secretário
tem acesso direto às imagens, porque pensa por Municipal de Educação” (BARBOSA; COUTINHO, 2011, p. 50).

149
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

sistema nervoso (BARBOSA apud BARBO- e à ecologia, valores curriculares que definem a
SA; COUTINHO, 2011, p. 51). pedagogia pós-moderna (BARBOSA; COUTI-
NHO, 2011, p. 52);
A “Proposta Triangular” estrutura-se a partir
de três eixos orientadores do ensino de arte: a c) uma produção que não seja descontex-
leitura, a contextualização e a produção; estas tualizada ou pautada apenas em si mes-
dialogam e interagem, não de forma hierarqui- ma, mas que articule os conhecimentos
zada, mas sistêmica, em múltiplas combinações, de arte aos da cultura e dos processos de
direções e percursos, no processo de construção comunicação e expressão – linguagens a
do conhecimento para uma aprendizagem sig- se configurarem relatos diversos:
nificativa. De acordo com Barbosa e Coutinho
(2011), aprendizagem em arte pressupõe: [...] a dimensão da produção pode ser iluminada
pelas concepções de Dewey, que nos apresenta
a) uma leitura não apenas dos aspectos for- uma possibilidade de compreensão mais orgâ-
mais, compositivos ou materiais da obra, nica da experiência pelo fato de não separar as
mas uma leitura que (re)signifique a vi- dimensões artísticas das dimensões estéticas.
são de mundo no diálogo com a obra: Sendo assim, ao configurar e operar no âmbito
das práticas artísticas, o sujeito necessariamente
Precisamos entender esta leitura não apenas
precisa estar conectado com os aspectos estéticos.
como leitura crítica da materialidade da obra e
Toda produção tem seu contexto de origem, seja
de seus princípios decodificadores, mas também
material ou conceitual. A história das técnicas, o
como leitura de mundo, como indica Paulo Frei-
desenvolvimento das tecnologias no campo das
re. ‘Leitura de palavras, gestos, ações, imagens,
artes são questões intrinsecamente relacionadas
necessidades, desejos, expectativas, enfim, leitu-
com as práticas de produção e de recepção. Fe-
ra de nós mesmos e do mundo em que vivemos’.
Neste sentido, este princípio de leitura está mais cha-se assim o elo entre as dimensões da Pro-
próximo da ideia de interpretação cultural e a posta Triangular (BARBOSA; COUTINHO,
ação contextualizadora está intrinsecamente re- 2011, p. 52).
lacionada ao ato de ler, ouvir... perceber e sig-
Vale ressaltar, por fim, a forte inter-relação
nificar o mundo (BARBOSA; COUTINHO,
entre a “Proposta Triangular” e as teorias so-
2011, p. 51);
ciointeracionistas, uma vez que a mesma traz
b) uma contextualização que promova o em seu cerne os pressupostos de Vygotsky, no
diálogo da obra com os conhecimentos que se refere à relevância da mediação e da
da arte e com as mais diversas temáticas, interação entre professor e estudante como
áreas do conhecimento e culturas, no principal estratégia para a construção de co-
tempo e no espaço, ampliando assim as nhecimento significativo, a partir da mobiliza-
redes de significação: ção das regiões de desenvolvimento proximal
(CRHISTOV, 2011).
A contextualização que pode ser histórica, social,
psicológica, antropológica, geográfica, ecológi- Dessa forma, com base em todos os pressu-
ca, biológica, etc. vai tecer a trama desse siste- postos, aqui, apresentados, reafirmamos a ca-
ma interpretativo. ‘Contextualizar é estabelecer pacidade da arte, como área de conhecimento
relações. Neste sentido, a contextualização no no currículo, em promover a sensibilidade, o
processo ensino-aprendizagem é a porta aberta sentir e a subjetividade articulada com o de-
para a interdisciplinaridade. A redução da con- senvolvimento cognitivo; mobilizar e fomen-
textualização à história é um viés modernista. É tar saberes, conhecimentos e habilidades; e
através da contextualização que se pode praticar mediar e inter-relacionar culturas, coletivida-
uma educação em direção à multiculturalidade des e individualidades.

150
CAPÍTULO 18 – ARTE

O Espaço da Arte na Escola movimentação de carteiras e deslocamento de


materiais, o que ocasiona uma consequente
Sabemos que não apenas concepções de “desorganização” ainda maior do espaço es-
ensino, diretrizes curriculares e professores in- colar e uma perda significativa do tempo de
fluenciam na aprendizagem. Várias pesquisas interação entre professor e aluno (com foco
já demonstraram o quanto o espaço físico in- nos objetivos em estudo), para a realização
terfere de maneira considerável nesse proces- dessa adaptação a cada vez que se faz neces-
so. Frago (Apud SILVA, 2008, p. 9). afirma que sária. Dessa forma, infelizmente os resultados
não poderiam ser outros: o desencorajamento
“A escola é espaço e lugar. Algo físico, ma- dessa adaptação pelos professores; a presen-
terial, mas também uma construção cultural ça cada vez maior de trabalhos e atividades
que gera fluxos energéticos. Com isso quero que se adaptam ao que os espaços permitem
dizer, mais uma vez, que o espaço educa”. (quando o desejável seria o contrário); e a re-
dução das possibilidades de experimentação e
No que se refere à importância da sala de investigação pelos alunos.
arte, Mognol (Apud SILVA, 2008, p. 10) des-
taca que: Corrobora-se com essas reflexões Barbosa
(Apud SILVA, 2011, p. 12), ao dizer que
Para a concretização dessas concepções, a au-
tora faz sugestão da instalação de laboratórios de “Nas salas, professores sobrevivem com
linguagens artísticas com disponibilidade de recur- o que têm e podem fazer, enfrentando a au-
sos materiais, físicos e de equipamentos adequados sência de condições mínimas que lhes dariam
à percepção, ao estímulo e ao significado para o prazer e engajamento para realizar sua parte
aluno. Espaços flexíveis e versáteis possibilitadores na formação educacional dos alunos e, neste
da criatividade, da ludicidade, da interação e do caso, na sua formação cultural e artística”.
respeito à diversidade, sem esquecer-se do espaço
externo (MOGNOL Apud SILVA, 2008, p. 10). Diante do exposto, podemos inferir que in-
felizmente, apesar de a arte ocupar espaço de
Entretanto, o espaço para o ensino das lin- destaque nos documentos, projetos e diretrizes,
guagens artísticas, longe de atender aos pré-re- na prática ainda encontra-se acontecendo nos
quisitos acima, simplesmente inexiste ou é ina- “porões” das escolas, subvalorizada, como nos
dequado na maioria das escolas da rede, uma permite compreender o alerta de Escolano (2001):
vez que, apesar dos avanços na epistemologia
da arte/educação, a arte ainda enfrenta na esco- o espaço educativo sendo um reflexo da peda-
la, na opinião de Silva, gogia como um ‘constructo cultural’ que reflete
as ideologias predominantes em determinado pe-
Preconceitos que têm dificultado o traba­ lho ríodo da história. É significante para o currícu-
inovador do professor, que ao buscar a quebra lo, como uma ‘forma silenciosa de ensino’. Para
do convencional do ensino tradicional em suas ele, a arquitetura é um currículo oculto que está
aulas, provoca ‘bagunça’ e ‘sujeira’. Precon- presente no valor, no estímulo, no conteúdo e na
ceitos que limitaram professores a um trabalho imposição de normas pré-estabelecidas quanto à
fragmentado e de ênfase apenas na teorização ordenação de poder (ESCOLANO apud SIL-
(SILVA, 2008, p. 6). VA, 2008, p. 8).

Nesse contexto, o(s) espaço(s) da arte cor- Tais afirmações evidenciam que garantir
porifica(m)-se ocasionalmente, quando de si- a qualidade da aprendizagem em arte, exige
tuações especiais, através de improvisos, pelo a valorização dos espaços onde a arte acon-
esforço do professor de arte e da boa vontade tece, na escola. Para tanto, deve-se promo-
da equipe escolar (quando existente), exigindo ver a adaptação de ambientes existentes ou

151
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

construção de novos que sejam adequados ao f) ter espaço que possibilite a exposição de
ensino de arte, capazes de proporcionar uma trabalhos e imagens;
vivência artística mais intensa e diversificada,
como propõe Fragoso (Apud SILVA, 2008) ao g) dispor de armários para organização de
dizer que: materiais e ferramentas;

[...] a criação de ateliês [...] propicia às crian­ças e h) possuir rádio, projetor multimídia, caixa
aos jovens estudantes a possibilidade de expres- de som e tela de projeção (ou parede com
sarem-se num ambiente adequado, que atenda às espaço, acabamento e cores que não in-
necessidades específicas das ativida­des desenvol- terfiram nas imagens projetadas).
vidas (FRAGOSO apud SILVA, 2008, p. 21).
Tais requisitos são fundamentais para que
Silva (2008) reforça que o espaço destinado se corporifique, na sala de arte, o ambiente de
às aulas de arte deve estimular o aluno, dis- um ateliê no qual, como o artista, os alunos
por de diferentes materiais e deve favorecer tenham a sua disposição diferentes recursos
as relações interpessoais, seja pela disposição para operar sua criação. É o que defende Fra-
do mobiliário ou por sua flexibilidade de uso goso (Apud SILVA, 2011, p. 21) ao dizer que,
(necessárias ao trabalho com as diferentes
linguagens artísticas), destacando, inclusive, Em um ateliê, [...] o aluno deve ser coloca­do em
como ideal a existência de diferentes espaços contato com a maior diversificação de materiais,
na escola, para acolher cada uma das quatro suportes, técnicas e situações-desa­fio, objetivan-
linguagens artísticas do currículo. do sempre o seu maior desenvol­vimento (FRA-
GOSO apud SILVA, 2008, p. 21).
Nesse sentido, dadas as especificidades das
diferentes linguagens artísticas, apontamos As Linguagens da Arte e o Trabalho do
que a sala de arte deve34: Professor
a) permitir a criação de uma comunicação Até o presente momento, apresentamos as
visual que a caracterize como espaço das concepções e conceituações gerais orientado-
artes; ras do ensino da arte, bem como alguns apon-
tamentos sobre a importância do espaço para
b) ser ampla, iluminada, ventilada e de fácil a arte na escola. Faz-se necessário, portanto,
limpeza; considerar uma última questão fundamental:
“que linguagens da arte ensinar?”.
c) ter mobilidade e flexibilidade (mobili-
ário) para adaptação às diferentes neces- Os PCNs de Arte (MEC/SEF, 1997) – anos
sidades de cada atividade / trabalho com iniciais e finais – apresentam orientações para
as linguagens artísticas; a organização do ensino de arte nas escolas, a
partir da compreensão de que, arte como área
d) possuir pia/tanque para limpeza de ma- do conhecimento, é composta por quatro lin-
teriais e utilização de água como recurso; guagens principais: artes visuais, dança, músi-
ca e teatro, para as quais apresentam concei-
e) conter prateleiras e bancadas para dispo- tuação, definições e suas contribuições para a
sição de diferentes materiais acessíveis formação humana, bem como propostas de
aos alunos e para guardar seus trabalhos; objetivos gerais e específicos, conteúdos e cri-
térios de avaliação.
34 A adaptação/construção dos ateliês nas escolas deverá contar
com assessoria de projeto arquitetônico que busque atender aos re- Cabe, aqui, uma reflexão importante: situar
quisitos mínimos estabelecidos, conferindo conforto e ergonomia. as quatro linguagens como arte poderia, num

152
CAPÍTULO 18 – ARTE

primeiro momento, constituir um problema? tas disciplinas artísticas (BARBOSA, 2012, p.


Vale dizer que, para o senso comum, todas 10).
essas linguagens são consideradas arte e os
PCNs (1997) as referendam como tal, como A partir da LDB 9394/96, a arte foi consoli-
vimos. Na verdade, o problema está no fato de dada como componente curricular obrigatório
estas quatro linguagens terem que ser ensina- na Educação Básica. Os PCNs apresentaram
das por um único professor, prática conhecida uma importante organização dos princípios,
como polivalência – professor com formação objetivos e da importância da arte como área
em uma linguagem apenas, mas com exigên- de conhecimento no currículo e na forma-
cia de atuação em mais de uma ou nas quatro ção humana. As universidades, por sua vez,
linguagens. Vale ressaltar que esta prática já se já apresentavam suas licenciaturas plenas
mostrou ineficaz, conforme alguns episódios organizadas para cada linguagem artística,
recentes da história da arte-educação, no Bra- abandonando a formação polivalente, dada a
sil, os quais serão relembrados a seguir. impossibilidade de se formar, em 4 anos, indi-
víduos especialistas nas 4 linguagens, devido
A LDB 5692/71 tornou o ensino de arte – à diversidade de conhecimentos específicos e
denominado educação artística – uma ativi- distintos a cada uma. Fato este comprovado
dade curricular polivalente, ou seja, as aulas pela própria experiência da década de 70, em
compreendiam o ensino das artes visuais, da que, após dois anos de licenciatura polivalente
música e das artes cênicas (dança e teatro), sob (curta), a transformação da mesma em plena
a responsabilidade de um único professor com ocorria com a habilitação em uma única lin-
formação, também, polivalente. A esse respei- guagem e não em todas.
to, Barbosa e Coutinho (2011) afirmam que:
Podemos destacar ainda outros dois con-
No que diz respeito ao ensino da arte, cursos trapontos da polivalência. Um deles refere-se
universitários de dois anos foram criados para à inexistência de professores e/ou disciplinas
preparar professores aligeirados, que ensinas- polivalentes nas universidades, bem como
sem todas as artes ao mesmo tempo, tornando a a de qualquer livro de história da arte ou de
arte na escola uma ineficiência a mais no currí- epistemologia do ensino de arte que assim
culo (BARBOSA; COUTINHO, 2011, p. 28). se constitua. O outro refere-se à própria or-
ganização de outras disciplinas do currículo,
Na prática, a polivalência em arte foi mar- como o caso do ensino de línguas em duas
cada pela superficialidade da formação do pro- disciplinas distintas - Língua Portuguesa (ma-
fessor (não complementada qualitativamente terna) e língua estrangeira moderna (inglês ou
por nenhuma rede de ensino) e de sua atuação espanhol) - na educação básica, mesmo com
nas escolas, o que pode ter contribuído, inclu- a existência de professores habilitados nas
sive, para institucionalizar o trabalho manual duas. Ou seja, se ao professor que possui for-
e o “desenho livre” como referência de ensino mação em duas áreas do conhecimento, não
de arte, no imaginário de algumas gerações. é exigida a polivalência, por que exigi-la de
Concorda com essas ideias, Barbosa (2012) ao quem não a possui?
defender que:
Neste sentido, pode-se pensar que esta
É um absurdo epistemológico ter a intenção de confusão, ainda, permaneça no contexto do
transformar um jovem estudante (a média de ensino de arte devido à denominação dada à
idade de um estudante ingressante na univer- disciplina ser a geral e não a de cada uma das
sidade no Brasil é dezoito anos), com um curso linguagens: artes visuais, dança, música e te-
de apenas dois anos, em um professor de tan- atro.

153
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Retomando, então, a questão lançada, an- interesses dos alunos e da existência de


teriormente: poderia então a proposição fei- professores na rede, com formação ini-
ta pelos PCNs (1997), de enquadrar as quatro cial em artes visuais (predominância),
linguagens no ensino de arte constituir-se em dança, música e teatro;
uma incoerência ou retrocesso ao voltar a apre-
sentar um ensino de arte polivalente? Certa- b) caberá ao professor o desenvolvimento
mente a ideia da polivalência constitui-se em dos objetivos específicos, previstos nesta
uma incoerência e uma prática que não trouxe Diretriz, para o ensino da linguagem de
êxito algum para o ensino de arte, como pu- sua formação inicial – linguagem eixo35
demos constatar. Todavia, cabe ressaltar que - com maior aprofundamento e respei-
os próprios PCNs de Arte, ao organizarem as tando os princípios metodológicos, já
4 áreas – artes visuais, dança, música e teatro, explicitados neste documento. Quan-
evidenciam a necessidade da presença de pro- do o professor tiver formação inicial ou
fessores de arte com formação nas 4 lingua- complementar (formação técnica ou pós-
gens, nas escolas: -gradução) em mais de uma linguagem,
deverá equacionar tempo, recursos36 e
Cabe à equipe de educadores responsável pelo conteúdos para que seja possível o desen-
projeto curricular da escola trabalhar com os volvimento dos objetivos das mesmas,
professores de Artes Visuais, Dança, Música podendo a ênfase em uma delas respeitar
ou Teatro para fazer um diagnóstico do grau de os interesses e características das turmas;
conhecimento de seus alunos e procurar saber o
que já foi aprendido, a fim de dar continuidade c) deverá o professor promover um trabalho
ao processo de educação em cada modalidade interdisciplinar entre as linguagens, atra-
artística (MEC.PCNS de Arte , 1997, p. 62, vés do diálogo da linguagem eixo com
grifo nosso). aquelas que não sejam de sua formação
inicial (com ênfase na linguagem da mú-
Também a FAEB – Federação de Arte/edu- sica, conforme legislação específica), com
cadores do Brasil – posiciona-se de forma con- vistas ao desenvolvimento de noções das
trária à ideia da polivalência e luta pela obri- mesmas. O professor deverá indicar, em
gatoriedade das 4 áreas serem consideradas seu plano de ensino, quais objetivos das
como componentes curriculares. demais linguagens estarão em articulação
com os objetivos da linguagem eixo;
Desdobramentos, Orientações e
d) buscar-se-á garantir a promoção dos ob-
Encaminhamentos jetivos gerais de cada ciclo a partir dos
objetivos da linguagem eixo. Os objetivos
Diante do exposto e considerando a con-
específicos das demais linguagens, sele-
cepção de interdisciplinaridade que perpassa
cionados e explicitados nos planos dos
esta Diretriz Curricular da Educação Básica da
professores, devem propiciar a contextua-
Rede Municipal de Ensino de Campinas, es-
lização exigida pelo trabalho interdiscipli-
truturar-se-á o ensino de arte e o trabalho do
nar, almejando a ampliação de repertório;
professor a partir das seguintes orientações:
Reconhecemos que, para garantir a qualida-
a) manter-se-á a presença das 4 linguagens
de do ensino de arte, explicitada nesse docu-
artísticas: artes visuais, dança, música e
teatro, como ampliação das possibilida-
des de exploração e investigação do uni- 35 A linguagem eixo será aquela estruturante do plano de ensino
verso da arte, dada a existência de múl- do professor.
tiplas inteligências e heterogeneidade de 36 Conjuntamente com os pares e equipe gestora da escola, consi-
derando-se as verbas públicas destinadas a tal fim.

154
CAPÍTULO 18 – ARTE

mento, fazem-se necessárias políticas públicas sala de arte nos projetos arquitetônicos
comprometidas em: das futuras escolas.

e) promover e realizar cursos de formação


Considerações Finais
continuada e permanente (especializa-
ção e/ou aperfeiçoamento), em parceria Ao promover o encontro entre as princi-
com universidades, pautados nas neces- pais referências utilizadas, almejamos evi-
sidades de formação, geradas a partir dos denciar o diálogo entre arte, concepção de
objetivos específicos propostos nestas arte/educação na contemporaneidade, entre
Diretrizes, com vistas a ampliar o apri- as demandas referentes à atuação do profes-
moramento da atuação de seus docentes; sor e os eixos norteadores dessas Diretrizes,
a fim de fundamentar os objetivos ora pro-
f) ampliar a carga horária semanal do com- postos. Além disso, desejamos promover a
ponente curricular arte, para 4 aulas, em arte na escola, subsidiando as práticas e pes-
todos os anos, criando condições para quisas do professor de arte e a atuação dos
que se desenvolvam os objetivos da lin- gestores na orientação e suporte ao trabalho
guagem eixo e das demais linguagens de docente.
maneira processual, permanente e com
maior profundidade; As concepções e discussões, aqui, apresen-
tadas, bem como os objetivos, abaixo, orga-
g) realizar estudos, nesta fase inicial de im- nizados, representam e refletem o desejo pela
plantação experimental das Escolas de consolidação de um ensino de arte capaz de
Educação Integral, na rede, quanto aos ga- contribuir, efetivamente, para o desenvolvi-
nhos de qualidade para o ensino de arte mento da melhoria da qualidade social, na edu-
e aprendizagem dos alunos, quando da cação pública.
existência de um professor com forma-
ção inicial específica para as aulas de cada
Objetivos de Arte
linguagem, o que poderia indicar a viabi-
lidade/necessidade da criação de futuros Sobre os objetivos gerais e específicos, é im-
cargos de PEB III Arte em cada linguagem, portante salientar que apresentam em suas estru-
ou ainda a atribuição das funções: artes vi- turas (seja por ciclo, por ano ou por linguagem)
suais, dança, música e teatro para o cargo os três eixos da “Proposta Triangular” como
PEB III Arte, para esse modelo de escola. base, de forma a garantir que a inter-relação en-
Para isso, propõe-se que as aulas de arte tre eles ocorra ao longo de todo o processo.
de cada linguagem sejam atribuídas, pre-
ferencialmente (nessa fase experimental), No que se refere aos objetivos gerais, a es-
para professores com a respectiva forma- sência do Ciclo III está no aprofundamento
ção inicial ou complementar em artes vi- dos conhecimentos acerca das linguagens ar-
suais, dança, música e/ou teatro, os quais tísticas, da diversidade de expressões poéticas,
deverão desenvolver os objetivos específi- dos artistas, suas obras e os períodos de suas
cos de sua linguagem, de maneira articula- produções, bem como da identidade cultural.
da e em diálogo com os das demais lingua-
gens artísticas e componentes curriculares; Para o Ciclo IV, por sua vez, a ênfase está
no fomento de uma maior criticidade do alu-
h) adaptar os espaços existentes e propor a no, a partir da relação da arte com os meios
construção de novos espaços adequados tecnológicos, nas diversas possibilidades das
à prática educativa em arte, nas atuais artes aplicadas, bem como na compreensão
Unidades Educacionais e a inclusão da dos diferentes usos da arte, na sociedade.

155
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Já, com relação aos objetivos específicos, Objetivos Específicos para o Ciclo III
sua organização visou garantir a continuidade
àqueles desenvolvidos nos anos iniciais, pos- 6º ANO
sibilitando retomadas e propiciando o apro-
fundamento em cada linguagem, ao longo dos Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de:
anos finais do Ensino Fundamental, de manei-
ra cíclica e ascendente. Artes Visuais38 39

a) Conhecer e compreender as possibilida-


Objetivos Gerais para o Ciclo III des expressivas dos elementos da lingua-
gem visual (ex: ponto, linha, forma, tex-
Ao final do Ciclo, o aluno deverá ser capaz de:
tura, cor, luz e sombra e outros);
a) Compreender a importância dos patri-
b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
mônios37 artísticos e culturais (materiais
duções visuais bidimensionais, a partir da
e imateriais) para a sociedade, através da
investigação do desenho – seus gêneros,
pesquisa e apropriação de espaços, bens
usos e relações com outras linguagens ar-
e obras de Campinas e região; tísticas (ex: gravura, HQ, charge, tirinhas,
grafite, ilustração, design, moda, outros);
b) Conhecer e expressar-se por meio de
diferentes linguagens artísticas, explo- c) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
rando seus gêneros e modalidades, bem duções visuais tridimensionais, a partir
como suas técnicas, materiais, suportes e da investigação e criação em escultura
ferramentas; (ex: modelagem, dobradura, entalhe e
outros) ou assemblage, explorando suas
c) A partir da apropriação de repertório ar- técnicas, procedimentos, materiais e fer-
tístico e cultural, vivenciar experiências ramentas;
com produções artísticas;
d) Desenvolver o olhar investigativo por
d) em diferentes linguagens, estéticas, épo- meio de vivências de leitura de imagens
cas e culturas, estimulando o estabeleci- – descrição, análise, comparação, inter-
mento de uma relação mais ativa e sig- pretação, contextualização dos aspectos
nificativa com a cultura brasileira, suas compositivos, formais, perceptivos, sub-
matrizes e manifestações populares; jetivos, cognitivos e históricos, a partir
da produção artística visual local, regio-
e) Desenvolver habilidades múltiplas, bem
nal, estadual, nacional e internacional
como a descoberta/reconhecimento de si
por meio de reproduções de obras, de
mesmo pela interação com a arte.
visitas a espaços expositivos e da obser-
vação qualitativa do cotidiano;

e) Relacionar e contextualizar os temas e as-


suntos em estudo, com os diferentes perí-
37 Citamos como exemplo o “Mercado Público Municipal”, o
“Mu­seu da Imagem e do Som” e “Palácio dos Azulejos”, a “Cate- 38 Os dois últimos objetivos estão presentes nos dois anos do ci-
dral Me­tropolitana”, o “Museu de Arte Contemporânea José Pan- clo por entender-se que são habilidades a serem desenvolvidas de
cetti”, o “Mu­seu da Cidade”, o “Teatro Castro Mendes”, o “Espaço maneira processual.
Cultural Maria Monteiro”, o “Centro de Convivência Cultural de 39 O professor poderá desenvolver apenas o trabalho com as lin-
Campinas Carlos Gomes”, o “Centro de Ciências, Letras e Artes”, guagens bidimensionais ou tridimensionais no ano, quando seu
o “Jóquei Clube”, a “Estação Cultura”, o “Observatório do Caste- planejamento demandar um processo de investigação e aprofunda-
lo”, “Escola de Cadetes”, a “Fazenda Roseira” e a “Fazenda Santa mento maior, exigindo mais tempo, no entanto, precisará garantir
Genebra”, o “Parque Ecológico Monsenhor Salim”, entre outros. que, ao longo do ciclo, ambas sejam desenvolvidas.

156
CAPÍTULO 18 – ARTE

odos e movimentos artísticos no mundo Barbatuques, STOMP, Blue Man Group,


e no Brasil, destacando quando possível a Beat Box, UAKTI, etc);
contribuição das matrizes africanas e in-
dígenas, formadoras da cultura brasileira. f) Contextualizar os temas em estudo
com informações da história da música
Dança e contribuições das matrizes culturais
brasileiras para formação da música
a) Realizar pesquisas e vivenciar as diferen- brasileira.
tes formas de movimentação do corpo
no espaço, explorando os elementos da Teatro
linguagem da dança (ex: níveis, cinesfera,
tempo, fluência e peso); a) Compreender a relevância do corpo e do
gesto na criação teatral pela experimen-
b) Criar combinações de movimentos que tação e observação de cenas teatrais por
possam expressar ideias e sentimentos; meio de vídeo, ou ainda novelas, séries e
filmes;
c) Conhecer e apreciar danças brasileiras e
outras danças da atualidade, por meio de b) Explorar os elementos da linguagem te-
vídeos ou apresentações na comunidade atral: espaço cênico (onde), personagem
e/ou município; (quem) e ação dramática (o que), por
meio de jogos dramáticos;
d) Contextualizar os temas em estudo com
informações da história da dança e con- c) Conhecer produções teatrais através de
tribuições das matrizes africanas e indí- vídeos ou de apresentações na comuni-
genas para a formação da cultura brasi- dade e/ou no município;
leira.
d) Contextualizar os temas em estudo com
Música informações da história do teatro e quan-
do possível, com as influências das ma-
a) Escutar e pesquisar sons e o silêncio em trizes africanas e indígenas, para a for-
diferentes espaços e nas composições mação da cultura brasileira.
musicais;
7º ANO
b) Pesquisar o corpo e materiais diversos
como fonte sonora, investigando as va- Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de:
riações de sons possíveis;
Artes Visuais
c) Criar combinações de sons que expres-
sem ideias e sentimentos; a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
duções visuais bidimensionais, a partir
d) Criar novas formas de expressões, por da investigação da pintura – seus gêne-
meio de outras linguagens artísticas, a ros, técnicas, suportes e materiais, seus
partir da interpretação de composições usos e relações com outras linguagens
musicais; artísticas (ex: monotipia, serigrafia,
arte digital, ilustração, moda, body art,
e) A partir de diferentes gêneros musicais, outros);
ouvir músicas e conversar sobre elas,
entre estas, aquelas que exploram as so- b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
noridades do corpo e dos materiais (ex: duções visuais tridimensionais, a partir

157
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

da investigação e criação em escultura sentações na comunidade e/ou município;


(ex: modelagem, dobradura, entalhe e
outros) ou assemblage, explorando suas e) Contextualizar os temas em estudo com
técnicas, procedimentos, materiais e fer- informações da história da dança e con-
ramentas; tribuições das matrizes africanas e indíge-
nas, para a formação da cultura brasileira.
c) Explorar as possibilidades expressivas dos
elementos da linguagem visual (ex: ponto, Música
linha, forma, textura, cor, luz e sombra e
outros); a) Explorar as possibilidades de diferentes
instrumentos musicais;
d) Desenvolver o olhar investigativo por
meio de vivências de leitura de ima- b) Compreender as propriedades/parâme-
gens – descrição, análise, comparação, tros do som, bem como suas possibi-
interpretação, contextualização dos as- lidades expressivas na criação musical;
pectos compositivos, formais, percepti-
c) Criar combinações de sons que expres-
vos, subjetivos, cognitivos e históricos,
sem ideias e sentimentos, utilizando ma-
a partir da produção artística visual lo-
teriais, o corpo e/ou instrumentos musi-
cal, regional, estadual, nacional e inter-
cais;
nacional por meio de reproduções de
obras, de visitas a espaços expositivos e d) Criar novas formas de expressão, por
da observação qualitativa do cotidiano; meio de outras linguagens artísticas, a
partir da interpretação de composições
e) Relacionar e contextualizar os temas e musicais;
assuntos em estudo com os diferentes
períodos e movimentos artísticos no e) Apreciar música de diferentes gêneros,
mundo e no Brasil, destacando quando explicitando suas impressões, percep-
possível a contribuição das matrizes afri- ções e conhecimento sobre instrumen-
canas e indígenas formadoras da cultura tos, compositor e intérprete;
brasileira.
f) Contextualizar os temas em estudo com
Dança informações da História da Música e con-
tribuições das matrizes culturais brasilei-
a) Explorar os elementos da linguagem da ras para formação da música brasileira.
dança (níveis, cinesfera, tempo, fluência
e peso), por meio da experimentação e Teatro
pesquisa em jogos de movimentos;
a) Desenvolver jogos teatrais para inves-
b) Experimentar a criação de movimentos tigação e experimentação do corpo, do
coletivos que possam expressar ideias e gesto e da voz de forma expressiva;
sentimentos;
b) Explorar os elementos da linguagem te-
c) Explorar músicas, materiais, temáticas e atral: espaço cênico (onde), personagem
ações do cotidiano, como referência para (quem) e ação dramática (o que), por
a criação e pesquisa de movimentos; meio de jogos dramáticos;

d) Apreciar danças brasileiras e outras danças c) Explorar as diferentes modalidades tea-


da atualidade, por meio de vídeos ou apre- trais (bonecos, sombra, rua, mímica, etc);

158
CAPÍTULO 18 – ARTE

d) Conhecer produções teatrais através de Objetivos Específicos para o Ciclo IV


vídeos ou de apresentações na comuni-
dade e/ou no município; 8º ANO

e) Contextualizar os temas em estudo com Artes Visuais41 42


informações da história do teatro e,
quando possível, com as influências das a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
matrizes africana e indígena, para a for- duções visuais bidimensionais, a partir
mação da cultura brasileira. da investigação e criação em algumas das
diferentes linguagens artísticas (ex: pu-
blicidade, fotografia, design, arte digital,
Objetivos Gerais para o Ciclo IV entre outras), explorando seus elemen-
tos, técnicas, materiais e ferramentas;
a) Compreender os conceitos de preserva-
ção e restauro como forma de valoriza- b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
ção e reconhecimento social dos patri- duções visuais tridimensionais, a partir
mônios40 artísticos e culturais (materiais da investigação e criação em algumas
e imateriais), através da pesquisa e visi- das diferentes linguagens artísticas (ex:
ta/observação de espaços, bens e obras moda, arquitetura, paisagismo, objeto,
de Campinas e região; instalação, entre outras);
b) Estabelecer relações entre contexto his- c) Conhecer e explorar os elementos da lin-
tórico-social e a produção de arte, anali- guagem visual em estudo;
sando de forma crítica os usos da arte na
contemporaneidade; d) Desenvolver o olhar investigativo por
meio de vivencias de leitura de imagens
c) Expressar-se por meio diferentes linguagens – descrição, análise, comparação, inter-
artísticas, explorando seus gêneros e moda- pretação, contextualização dos aspectos
lidades, suas técnicas, materiais, suportes, compositivos, formais, perceptivos, sub-
ferramentas, bem como as novas tecnolo- jetivos, cognitivos e históricos, compre-
gias; endendo os diferentes usos da arte na
sociedade (ex: cultura visual, cultura ju-
d) A partir da apropriação de repertório
venil, sociedade de consumo);
artístico e cultural, vivenciar experi-
ências com produções artísticas, em e) Relacionar e contextualizar os temas e
diferentes linguagens, estéticas, épo- assuntos em estudo com os diferentes
cas, artistas e culturas, estimulando o períodos e movimentos artísticos no
estabelecimento de uma relação mais mundo e no Brasil, destacando quando
crítica e significativa com a cultura bra- possível a contribuição das matrizes afri-
sileira, suas matrizes e manifestações canas e indígenas, formadoras da cultura
populares. brasileira.

40 Citamos como exemplo o “Mercado Público Municipal”, o


41 Os dois últimos objetivos estão presentes nos dois anos do ci-
“Mu­seu da Imagem e do Som” e “Palácio dos Azulejos”, a “Cate-
clo IV por entender-se que são habilidades a serem desenvolvidas
dral Me­tropolitana”, o “Museu de Arte Contemporânea José Pan-
de maneira processual.
cetti”, o “Mu­seu da Cidade”, o “Teatro Castro Mendes”, o “Espaço
Cultural Maria Monteiro”, o “Centro de Convivência Cultural de 42 O professor poderá desenvolver apenas o trabalho com as lin-
Campinas Carlos Gomes”, o “Centro de Ciências, Letras e Artes”, guagens bidimensionais ou tridimensionais no ano, quando seu
o “Jóquei Clube”, a “Estação Cultura”, o “Observatório do Caste- planejamento demandar um processo de investigação e aprofunda-
lo”, “Escola de Cadetes”, a “Fazenda Roseira” e a “Fazenda Santa mento maior, exigindo mais tempo, no entanto, precisará garantir
Genebra”, o “Parque Ecológico Monsenhor Salim”, entre outros. que, ao longo do ciclo, ambas sejam desenvolvidas.

159
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Dança e) Contextualizar os temas em estudo com


informações da História da Música e con-
a) Apropriar-se dos elementos da lingua- tribuições das matrizes culturais brasilei-
gem da dança (níveis, cinesfera, tempo, ras para formação da música brasileira.
fluência e peso), bem como de diferentes
esforços e apoios, por meio da experi- Teatro
mentação e pesquisa em jogos de movi-
mentos, desenvolvendo consciência cor- a) Explorar os elementos da linguagem te-
poral e orientação espacial; atral: espaço cênico (onde), personagem
(quem) e ação dramática (o que), por
b) Criar combinações de sequências de mo- meio de jogos dramáticos;
vimentos, explorando os elementos da
dança para a criação coreográfica; b) Pesquisar e conhecer os diferentes re-
cursos teatrais (maquiagem, iluminação,
c) Apreciar os gêneros de dança e suas di- figurino, cenografia, trilha sonora e sono-
ferentes expressões (ex: danças urbanas, plastia, etc) explorando-os numa criação
danças regionais, danças de salão e dan- coletiva;
ças cênicas entre outras), por meio de ví-
deos ou apresentações na comunidade e/ c) Estudar a linguagem teatral, explorando
ou município; suas modalidades (ex: teatro de som-
bras, bonecos e pantomima, etc), de ma-
d) Contextualizar os temas em estudo com neira a introduzir noções de produção
informações da história da dança e con- cênica;
tribuições das matrizes africanas e indí-
genas para a formação da cultura brasi- d) Conhecer produções teatrais através de
leira. vídeos ou de apresentações na comuni-
dade e/ou no município;
Música
e) Contextualizar os temas em estudo com
a) Explorar as possibilidades sonoras de di- informações da história do teatro e,
ferentes instrumentos musicais, do corpo quando possível, com as influências das
e de materiais; matrizes africana e indígena para a for-
mação da cultura brasileira.
b) Explorar os parâmetros do som, bem
como suas possibilidades expressivas na 9º ANO
criação musical;
Artes Visuais
c) Produzir combinações de sons que in-
terpretem cenas de dança, teatro e/ou a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
imagens (ex: trilha sonora, sonoplastia, duções visuais bidimensionais, a partir
“jingles”, CD Telas de Osvaldo Mon- da investigação e criação em algumas das
tenegro, paisagem sonora de Murray diferentes linguagens artísticas (ex: publi-
Schafer); cidade, fotografia, design, arte digital, ví-
deo-arte e curtas, entre outras), explorando
d) Apreciar, experimentar e interpretar mú- seus elementos, técnicas, materiais e ferra-
sicas de diferentes gêneros, desenvol- mentas;
vendo suas percepções e ampliando seu
conhecimento sobre instrumentos, com- b) Conhecer, pesquisar e desenvolver produ-
positores e intérpretes; ções visuais tridimensionais, a partir da inves-

160
CAPÍTULO 18 – ARTE

tigação e criação em algumas das diferentes Música


linguagens artísticas (ex: moda, arquitetura,
paisagismo, objeto, instalação, entre outras); a) Explorar os parâmetros do som e as diver-
sas fontes sonoras, utilizando-se de suas
c) Investigar e compreender o processo de possibilidades expressivas na criação mu-
criação em artes visuais inter-relacionado-o sical;
aos demais temas e assuntos objeto de es-
tudo, permitindo assim o reconhecimento b) Criar colagens, mixagens ou composi-
das diferentes poéticas existentes em uma ções musicais, explorando diferentes
mesma linguagem e época; fontes sonoras, gêneros musicais, refe-
rências musicais e culturais, palavras e
d) Desenvolver o olhar investigativo por
textos literários entre outros, por meio
meio de vivencias de leitura de imagens
de recursos e equipamentos tecnológicos
– descrição, análise, comparação, inter-
pretação, contextualização dos aspectos (gravadores, mp3, celulares, softwares,
compositivos, formais, perceptivos, sub- entre outros);
jetivos, cognitivos e históricos, compre-
endendo os diferentes usos da arte na so- c) Apreciar música de diferentes gêneros, ex-
ciedade (ex: cultura visual, cultura juvenil, plicitando suas impressões, percepções e
sociedade de consumo; conhecimento sobre instrumentos, com-
positor e intérprete;
e) Relacionar e contextualizar os temas e as-
suntos em estudo com os diferentes perí- d) Contextualizar os temas em estudo com
odos e movimentos artísticos no mundo informações da História da Música e con-
e no Brasil, destacando quando possível a tribuições das matrizes culturais brasileiras
contribuição das matrizes africanas e in- para formação da música brasileira.
dígenas, formadoras da cultura brasileira.
Teatro
Dança
a) Entender, experimentar e vivenciar jogos
a) Criar coreografia que comunique/expresse dramáticos para investigação e experimen-
ideias e sentimentos, explorando diferen- tação quanto ao uso do corpo, do gesto e
tes gêneros da dança; da voz de forma expressiva;
b) Utilizar-se da linguagem do “happening” e b) Pesquisar e conhecer textos dos diferentes
da “performance”; gêneros teatrais (sátira, comédia, drama e
c) Apreciar os gêneros de dança e suas di- tragédia) e explorá-los numa criação coletiva;
ferentes expressões (ex: danças urbanas,
c) Conhecer produções teatrais nas apresen-
danças regionais, danças de salão e danças
cênicas entre outras), por meio de vídeos tações na comunidade e/ou no município,
ou apresentações na comunidade e/ou mu- ou por meio de vídeos;
nicípio;
d) Contextualizar os temas em estudo com
d) Contextualizar os temas em estudo com informações da história do teatro, desta-
informações da história da dança e contri- cando as influências das matrizes africa-
buições das matrizes africanas e indígenas nas e indígenas para a formação da cultura
para a formação da cultura brasileira. brasileira.

161
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Objetivos Específicos – organizados Dança


por linguagem e anos
a) Pesquisar e experimentar as diferentes for-
6º ANO mas de movimentação do corpo no espa-
ço, explorando os elementos da linguagem
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: da dança (ex: níveis, cinesfera, tempo, flu-
ência e peso);
Artes Visuais
b) Criar combinações de movimentos que
a) Conhecer e compreender as possibilidades possam expressar ideias e sentimentos;
expressivas dos elementos da linguagem
visual (ex: ponto, linha, forma, textura, cor, c) Conhecer e apreciar danças brasileiras e
luz e sombra e outros); outras danças da atualidade, por meio de
vídeos ou apresentações na comunidade e/
b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro- ou município;
duções visuais bidimensionais, a partir
da investigação do desenho – seus gêne- d) Contextualizar os temas em estudo com
ros, usos e relações com outras lingua- informações da história da dança e contri-
gens artísticas (ex: gravura, HQ, char- buições das matrizes africanas e indígenas
ge, tirinhas, grafite, ilustração, design, para a formação da cultura brasileira.
moda, outros);
Música
c) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
duções visuais tridimensionais, a partir a) Escutar e pesquisar sons e o silêncio em
da investigação e criação em escultura diferentes espaços e nas composições mu-
(ex: modelagem, dobradura, entalhe e sicais;
outros) ou assemblage, explorando suas
técnicas, procedimentos, materiais e fer- b) Pesquisar o corpo e materiais diversos
ramentas; como fonte sonora, investigando as varia-
ções de sons possíveis;
d) Educar e estimular o olhar investigativo
por meio da leitura de imagens – descri- c) Criar combinações de sons que expressem
ção, análise, comparação, interpretação, ideias e sentimentos;
contextualização dos aspectos compositi-
vos, formais, perceptivos, subjetivos, cog- d) Criar em outras linguagens artísticas a par-
nitivos e históricos, a partir da produção tir da interpretação de composições musi-
artística visual local, regional, estadual, cais;
nacional e internacional por meio de re-
produções de obras, de visitas a espaços e) Ouvir músicas de diferentes gêneros mu-
expositivos e da observação qualitativa sicais e conversar sobre elas, entre estas,
do cotidiano; aquelas que exploram as sonoridades do
corpo e dos materiais (ex: Barbatuques,
e) Relacionar e contextualizar os temas e STOMP, Blue Man Group, Beat Box, UAK-
assuntos em estudo com os diferentes TI, etc);
períodos e movimentos artísticos no
mundo e no Brasil, destacando quan- f) Contextualizar os temas em estudo com
do possível a contribuição das matrizes informações da história da música e con-
africanas e indígenas, formadoras da tribuições das matrizes culturais brasileiras
cultura brasileira. para formação da música brasileira.

162
CAPÍTULO 18 – ARTE

Teatro análise, comparação, interpretação, con-


textualização dos aspectos compositivos,
a) Compreender a relevância do corpo e do formais, perceptivos, subjetivos, cognitivos
gesto na criação teatral pela experimen- e históricos, compreendendo os diferentes
tação e observação de cenas teatrais por usos da arte na sociedade (ex: cultura visu-
meio de vídeo, ou ainda novelas, séries e al, cultura juvenil, sociedade de consumo);
filmes;
e) Relacionar e contextualizar os temas e as-
b) Explorar os elementos da linguagem te- suntos em estudo com os diferentes perí-
atral: espaço cênico (onde), personagem odos e movimentos artísticos no mundo
(quem) e ação dramática (o que), por meio e no Brasil, destacando quando possível a
de jogos dramáticos; contribuição das matrizes africanas e indí-
genas, formadoras da cultura brasileira.
c) Conhecer produções teatrais através de ví-
deos ou de apresentações na comunidade Dança
e/ou no município;
a) Aprofundar conhecimento sobre os ele-
d) Contextualizar os temas em estudo com mentos da linguagem da dança (níveis, ci-
informações da história do teatro e, quan- nesfera, tempo, fluência e peso), bem como
do possível, com as influências das matri- de diferentes esforços e apoios, por meio
zes africanas e indígenas para a formação da experimentação e pesquisa em jogos de
da cultura brasileira. movimentos, desenvolvendo consciência
corporal e orientação espacial;
7º ANO
b) Criar combinações de sequências de movi-
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: mentos, explorando os elementos da dan-
ça para a criação coreográfica;
Artes Visuais
c) Conhecer e apreciar os gêneros de dança e
a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro- suas diferentes expressões (ex: danças ur-
duções visuais bidimensionais, a partir da banas, danças regionais, danças de salão e
investigação e criação em algumas das di- danças cênicas entre outras), por meio de
ferentes linguagens artísticas (ex: publici- vídeos ou apresentações na comunidade e/
dade, fotografia, design, arte digital, entre ou município;
outras), explorando seus elementos, técni-
cas, materiais e ferramentas; d) Contextualizar os temas em estudo com
informações da história da dança e contri-
b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro- buições das matrizes africanas e indígenas
duções visuais tridimensionais, a partir para a formação da cultura brasileira.
da investigação e criação em algumas das
diferentes linguagens artísticas (ex: moda, Música
arquitetura, paisagismo, objeto, instalação,
entre outras); a) Aprofundar conhecimento musical exploran-
do as possibilidades sonoras de diferentes ins-
c) Conhecer e explorar os elementos da lin- trumentos musicais, do corpo e de materiais;
guagem visual em estudo;
b) Explorar os parâmetros do som, bem como
d) Educar e estimular o olhar investigativo suas possibilidades expressivas na criação
por meio da leitura de imagens – descrição, musical;

163
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

c) Produzir combinações de sons que in- Artes Visuais


terpretem cenas de dança, teatro e/ou
imagens (ex: trilha sonora, sonoplastia, a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
“jingles”, CD Telas de Osvaldo Mon- duções visuais bidimensionais a partir da
investigação e criação em algumas das di-
tenegro, paisagem sonora de Murray ferentes linguagens artísticas (ex: publici-
Schafer); dade, fotografia, design, arte digital, entre
outras), explorando seus elementos, técni-
d) Ouvir, apreciar, experimentar e interpretar cas, materiais e ferramentas;
músicas de diferentes gêneros, desenvol-
vendo suas percepções e ampliando seu b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
conhecimento sobre instrumentos, com- duções visuais tridimensionais a partir da
investigação e criação em algumas das di-
positores e intérpretes; ferentes linguagens artísticas (ex: moda,
arquitetura, paisagismo, objeto, instalação,
e) Contextualizar os temas em estudo com entre outras);
informações da História da Música e con-
tribuições das matrizes culturais brasileiras c) Conhecer e explorar os elementos da lin-
para formação da música brasileira. guagem visual em estudo;

Teatro d) Educar e estimular o olhar investigativo


por meio da leitura de imagens – descri-
ção, análise, comparação, interpretação,
a) Explorar os elementos da linguagem te- contextualização dos aspectos compositi-
atral: espaço cênico (onde), personagem vos, formais, perceptivos, subjetivos, cog-
(quem) e ação dramática (o que), por meio nitivos e históricos, compreendendo os
de jogos dramáticos; diferentes usos da arte na sociedade (ex:
cultura visual, cultura juvenil, sociedade de
b) Pesquisar e conhecer os diferentes recursos consumo);
teatrais (maquiagem, iluminação, figurino,
e) Relacionar e contextualizar os temas e as-
cenografia, trilha sonora e sonoplastia, etc) suntos em estudo com os diferentes perí-
explorando-os numa criação coletiva; odos e movimentos artísticos no mundo e
no Brasil, destacando, quando possível, a
c) Aprofundar o estudo da linguagem teatral, contribuição das matrizes africanas e indí-
explorando suas modalidades (ex: teatro genas formadoras da cultura brasileira.
de sombras, bonecos e pantomima, etc),
de maneira a introduzir noções de produ- Dança
ção cênica;
a) Criar coreografia que comunique/expresse
d) Conhecer produções teatrais através de ví- ideias e sentimentos, explorando diferen-
deos ou de apresentações na comunidade tes gêneros da dança. Aprofundar conhe-
e/ou no município; cimento sobre os elementos da linguagem
da dança (níveis, cinesfera, tempo, fluência
e) Contextualizar os temas em estudo com e peso), bem como de diferentes esforços e
informações da história do teatro e, quan- apoios, por meio da experimentação e pes-
do possível, com as influências das matri- quisa em jogos de movimentos, desenvol-
zes africana e indígena para a formação da vendo consciência corporal e orientação
cultura brasileira. espacial;

8º ANO b) Criar combinações de sequências de movi-


mentos, explorando os elementos da dan-
Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de: ça para a criação coreográfica;

164
CAPÍTULO 18 – ARTE

c) Conhecer e apreciar os gêneros de dança e cenografia, trilha sonora e sonoplastia, etc)


suas diferentes expressões (ex: danças ur- explorando-os numa criação coletiva;
banas, danças regionais, danças de salão e
danças cênicas entre outras), por meio de c) Aprofundar o estudo da linguagem teatral,
vídeos ou apresentações na comunidade e/ explorando suas modalidades (ex: teatro
ou município; de sombras, bonecos e pantomima, etc),
de maneira a introduzir noções de produ-
d) Contextualizar os temas em estudo com ção cênica;
informações da história da dança e contri-
buições das matrizes africanas e indígenas d) Conhecer produções teatrais através de ví-
para a formação da cultura brasileira. deos ou de apresentações na comunidade
e/ou no município;
Música
e) Contextualizar os temas em estudo com
a) Aprofundar conhecimento musical, explo- informações da história do teatro e, quan-
rando as possibilidades sonoras de diferen- do possível, com as influências das matri-
tes instrumentos musicais, do corpo e de zes africana e indígena para a formação da
materiais; cultura brasileira.

b) Explorar os parâmetros do som e as diversas 9º ANO


fontes sonoras, utilizando-se de suas possi-
bilidades expressivas na criação musical; Ao final do ano, o aluno deverá ser capaz de:

c) Produzir combinações de sons que inter- Artes Visuais


pretem cenas de dança, teatro e/ou imagens
(ex: trilha sonora, sonoplastia, “jingles”, CD a) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
Telas de Osvaldo Montenegro, paisagem duções visuais bidimensionais, a partir
da investigação e criação em algumas das
sonora de Murray Schafer); diferentes linguagens artísticas (ex: publi-
cidade, fotografia, design, arte digital, ví-
d) Ouvir, apreciar, experimentar e interpre- deo-arte e curtas, entre outras), explorando
tar músicas de diferentes gêneros, desen- seus elementos, técnicas, materiais e ferra-
volvendo suas percepções e ampliando mentas;
seu conhecimento sobre instrumentos,
compositores e intérpretes; b) Conhecer, pesquisar e desenvolver pro-
duções visuais tridimensionais, a partir
e) Contextualizar os temas em estudo com da investigação e criação em algumas das
diferentes linguagens artísticas (ex: moda,
informações da História da Música e con- arquitetura, paisagismo, objeto, instalação,
tribuições das matrizes culturais brasileiras entre outras);
para formação da música brasileira.
c) Investigar e compreender o processo de
Teatro criação em artes visuais inter-relacionado-
-o aos demais temas e assuntos objeto de
a) Explorar os elementos da linguagem te- estudo, permitindo assim o reconhecimen-
atral: espaço cênico (onde), personagem to das diferentes poéticas existentes em
uma mesma linguagem e época;
(quem) e ação dramática (o que), por meio
de jogos dramáticos; d) Desenvolver o olhar investigativo por
meio de vivencias de leitura de imagen –
b) Pesquisar e conhecer os diferentes recursos descrição, análise, comparação, interpreta-
teatrais (maquiagem, iluminação, figurino, ção, contextualização dos aspectos com-

165
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

positivos, formais, perceptivos, subjetivos, fontes sonoras, gêneros musicais, refe-


cognitivos e históricos, compreendendo os rências musicais e culturais, palavras e
diferentes usos da arte na sociedade (ex: textos literários entre outros, por meio
cultura visual, cultura juvenil, sociedade de de recursos e equipamentos tecnológicos
consumo);
(gravadores, mp3, celulares, softwares,
e) Relacionar e contextualizar os temas e as- entre outros);
suntos em estudo com os diferentes perí-
odos e movimentos artísticos no mundo c) Ouvir e apreciar música de diferentes gêne-
e no Brasil, destacando quando possível a ros, explicitando suas impressões, percep-
contribuição das matrizes africanas e indí- ções e conhecimentos sobre instrumentos,
genas, formadoras da cultura brasileira. compositor e intérprete;
Dança d) Contextualizar os temas em estudo com
informações da História da Música e
a) Criar coreografia que comunique/expresse
contribuições das matrizes culturais bra-
ideias e sentimentos, explorando diferen-
sileiras para formação da música brasi-
tes gêneros da dança;
leira.
b) Conhecer e utilizar-se da linguagem do
Teatro
“happening” e da “performance”;
a) Entender, experimentar e vivenciar jogos
c) Conhecer e apreciar os gêneros de dança e
dramáticos para investigação e experimen-
suas diferentes expressões (ex: danças ur-
tação quanto ao uso do corpo, do gesto e
banas, danças regionais, danças de salão e
da voz de forma expressiva;
danças cênicas entre outras), por meio de
vídeos ou apresentações na comunidade e/
b) Pesquisar e conhecer os diferentes gêneros
ou município;
teatrais (sátira, comédia, drama e tragédia),
tendo contato com os textos teatrais, e ex-
d) Contextualizar os temas em estudo com
plorá-los numa criação coletiva;
informações da história da dança e contri-
buições das matrizes africanas e indígenas
c) Conhecer produções teatrais através de ví-
para a formação da cultura brasileira.
deos ou de apresentações na comunidade
e/ou no município;
Música
d) Contextualizar os temas em estudo com
a) Explorar os parâmetros do som e as diversas
informações da história do teatro e, quan-
fontes sonoras, utilizando-se de suas possi-
do possível, com as influências das matri-
bilidades expressivas na criação musical;
zes africanas e indígenas para a formação
b) Criar colagens, mixagens ou composi- da cultura brasileira.
ções musicais, explorando diferentes

166
Capítulo 19

MATEMÁTICA

A matemática não é a-histórica, O ensino da Matemática quando incentiva o


faz parte do nosso cotidiano. aluno a construir ideias matemáticas, a refletir
Não foi criada por e para algumas pessoas.
e a tirar conclusões, está contribuindo para sua
Determinados grupos sociais e étnicos
formação intelectual” (IMENES, 1997 apud
têm sua própria maneira de construir conhecimentos
DAMIN, 2004, p.115)
(Chieus Júnior, 2004, p.186).

E, ainda, favorecendo o exercício da cida-


dania ao operar com os conhecimentos ma-
Introdução temáticos em seu cotidiano, para interferir e
modificá-lo significativa e qualitativamente.
A proposta do Componente Curricular de Vale ressaltar que, para a escolha de determi-
Matemática objetiva um processo pedagógico nados conceitos que possam contribuir para
que atenda às particularidades dos estudantes o desenvolvimento dos saberes matemáticos,
da Rede Municipal de Campinas que, ao se considera-se a influência do contexto social,
apropriarem dos conhecimentos matemáti- histórico e cultural no processo de ensino e
cos, desenvolvam o aprender a aprender, as- aprendizagem. A Matemática é uma ciência
sociando tais saberes ao contexto e às demais desenvolvida pela humanidade, a partir dos
áreas do conhecimento. problemas que a realidade lhe apresenta. É
desse modo, então, que se pretende tratá-la
Na elaboração desta proposta, o saber da com nossos estudantes. Ou seja, é fundamen-
prática docente se fez presente em forma de tal no processo pedagógico partir do princípio
contribuições vindas das escolas, da partici- de que ela é uma ciência dinâmica, em cons-
pação de profissionais das equipes educativas tante movimento e presente em todas as situ-
nos I e II Seminários Curriculares ocorridos ações do cotidiano.
em agosto e novembro de 2010, no III Semi-
nário em outubro de 2013 e das revisões reali- Assim, na sala de aula, podem-se contem-
zadas pelo Grupo de Estudos do Componente plar as múltiplas vivências, escolhendo dinâmi-
Curricular de Matemática da Rede Municipal cas de trabalho que envolvam instrumentos de
de Campinas, além de teorizações sobre o medidas, jornais, revistas, panfletos, receitas,
ensino e a aprendizagem da matemática, pre- bulas de remédios, tabelas de valores nutricio-
sentes em diversos documentos oficiais e na nais dos alimentos, contas de consumo de água
bibliografia especializada. e luz, notas fiscais, entre outros, visto que são
materiais de grande circulação social e acessí-
Em relação à formação do educando, priori- veis a todo tipo de público. Transformar pro-
zamos situações em que a Matemática propi- blemas da realidade em problemas matemáti-
cie a análise crítica e a reflexão: cos; pode-se, por exemplo, vivenciar conceitos

167
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

básicos da estatística, possibilitando ao educan- educação, uma vez que, com a grande mobili-
do a visão de diversos conceitos matemáticos, dade das pessoas e de famílias, as relações in-
produção de textos, comunicação e análise de terculturais são muito intensas, como pontua
seu resultado. É um processo de aprendizagem D´Ambrosio (2007). O encontro intercultural
em que o aluno produz conhecimento em par- gera conflitos que só poderão ser resolvidos
ceria com o professor e o socializa. a partir de uma ética que resulte do indivíduo
conhecer-se, conhecer sua cultura e respeitar a
Os recursos tecnológicos, tais como cal- cultura do outro, o que implica considerar as
culadoras, jogos, computadores auxiliam os práticas culturais e sociais dos sujeitos (BAS-
indivíduos a enfrentarem os problemas reais SANEZI, 1999).
com seus números, tal como aparecem na
vida cotidiana e nas atividades profissionais. Abordar a história de como se origina-
Vivemos em um mundo permeado por dife- ram determinados conceitos matemáticos,
rentes tecnologias, como o uso dos celulares e visando provocar reflexões com os estudan-
do computador doméstico, atendimentos ele- tes acerca de sua construção, ao longo da
trônicos em bancos e até mesmo em institui- existência humana, também, contribui para
ções públicas que prestam serviços ao grande a compreensão da Matemática como uma
público. A calculadora pode ser um recurso ciência construída e em construção pelo ho-
em determinadas atividades das aulas de Ma- mem. Portanto, a História da Matemática e a
temática, pois ela contribui para que o aluno Etnomatemática podem oferecer aos educa-
utilize a notação correta nas operações e pos- dores caminhos e procedimentos para o tra-
sa explorar diferentes maneiras de se fazer um balho pedagógico.
cálculo, além de estimular a habilidade de fa-
zer estimativas e conferir resultados. A seguir, apresentamos os objetivos para
os Ciclos e para cada ano do Ciclo, respecti-
Essa prática, com elementos do cotidiano, vamente, cabendo ao professor escolher as
já muito utilizada pelos docentes da Rede Mu- dinâmicas de abordagem dos saberes propos-
nicipal de Campinas, remete às teorizações da tos, considerando a realidade de sua escola, os
metodologia da modelagem matemática, pro- grupos de saberes dos estudantes, bem como
posta por D’Ambrósio (1986) para o programa as particularidades de cada grupo.
da Etnomatemática, que consiste, essencial-
mente, na arte de transformar problemas da Objetivos Gerais para o Ciclo III
realidade em problemas matemáticos e resol-
vê-los, interpretando suas soluções na lingua- Ao final do ciclo, os alunos deverão ser ca-
gem do mundo real (BASSANEZI, 1994 apud pazes de:
MONTEIRO e POMPEU, 2001, p. 71).
a) Consolidar o conceito de números natu-
O foco central da Etnomatemática é a re- rais, inteiros e racionais;
lação entre o saber e a cultura, e, é na dinâ-
mica dessa correspondência que o educador b) Compreender e consolidar os procedi-
problematiza o universo cultural, no qual está mentos de cálculos (adição, subtração,
inserido. Para D’Ambrósio (2001, p. 10), a Et- multiplicação, divisão, potenciação e ra-
nomatemática diz respeito mais a uma postu- diciação), operando-os em diversas situ-
ra a ser adotada do que a um método. A mo- ações problematizadas do cotidiano;
delagem matemática é que vai permitir levar à
prática essa postura, o que implica em acolher c) Generalizar situações-problema, repre-
as diferenças nesta época em que o multicul- sentando-as através de expressões algé-
turalismo é a característica mais marcante da bricas e equações do 1º grau;

168
CAPÍTULO 19   –  MATEMÁTICA

d) Compreender e utilizar, em situações- b) Resolver situações-problema do cotidiano;


-problema, os procedimentos de resolu-
ção de equações de 1º grau; c) Compreender e construir uma sequência
de números ou figuras;
e) Compreender a ideia de razão, propor-
ção e porcentagem, aplicando-as de di- d) Usar os múltiplos e divisores de um nú-
versas maneiras para resolver problemas; mero em diferentes situações do cotidia-
no e identificar números primos;
f) Compreender os conceitos de paralelis-
mo e perpendicularismo, utilizando-os e) Resolver problemas do dia a dia utilizan-
em situações, nas quais sejam necessá- do conceitos básicos de números deci-
rias construções geométricas com régua mais, frações e porcentagens para ler e
e compasso; interpretar diferentes informações e rea-
lizar cálculos simples;
g) Reconhecer características e representa-
ções de figuras planas, espaciais e ângu- f) Identificar as diferentes formas geomé-
los em seu dia a dia; tricas encontradas na natureza e em seu
dia a dia, por meio da observação e ex-
h) Ampliar e reduzir figuras geométricas ploração do espaço, desenvolvendo sua
identificando seus elementos. Ler e inter- percepção visual e compreendendo o
pretar guias, mapas e plantas, utilizando- conceito de ângulo, utilizando-se da no-
-se dos conceitos de escala e das noções ção de giro, direção e sentido;
de direção e sentido;
g) Reconhecer figuras planas e espaciais,
i) Identificar e realizar transformações das identificando suas representações no dia
diferentes unidades de medidas de espa- a dia, compreendendo a utilização das
ço, massa e tempo; formas geométricas nas construções hu-
manas ao longo da história, reportando-se
j) Compreender o significado de perímetro em alguns momentos à consulta de obras
e área e utilizar os conceitos em situa- de arte e livros de História, a fim de ob-
ções-problema; servar como as formas geométricas foram
sempre usadas nas construções humanas;-
k) Ler, interpretar e construir tabelas e gráfi- Conhecer as principais características do
cos. Realizar o processo de uma pesquisa sistema métrico decimal: unidades de
estatística simples, com coleta e análise medida e transformações de unidades;
de dados.
h) Utilizar diferentes unidades de medidas e
Objetivos Específicos para o Ciclo III alguns instrumentos de medição, resolver
problemas simples em que apareçam tais
6º ANO unidades e reconhecê-las em diversas situ-
ações de utilização, demarcando grande-
a) Explorar os números em situações de con- zas: tempo, espaço e massa;
tagem, de possibilidades, de ordenação e
de cálculos (adição, subtração, multiplica- i) Compreender o que é e como é realizada
ção, divisão, potenciação e raiz quadrada), uma pesquisa quantitativa, organizando-
compreendendo as regras do nosso siste- -a em tabelas, gráficos e na produção de
ma de numeração decimal, utilizando-se textos e socializando a análise de seu re-
de diferentes materiais e instrumentos; sultado;

169
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

7º ANO j) Resolver problemas que envolvam áreas


e perímetros de figuras planas;
a) Identificar números fracionários em pro-
cessos de medições, realizar as transfor- k) Elaborar, construir e interpretar gráficos
mações de frações em números decimais de setores, de barras e de linhas e resolver
e ordená-los; problemas a partir destes. Calcular a mé-
dia aritmética de um conjunto de dados.
b) Realizar as operações de adição, subtra-
ção, multiplicação, divisão, potenciação e
Objetivos Gerais para o Ciclo IV
raiz quadrada com números fracionários
e decimais, bem como sua utilização em Ao final do ciclo, os alunos deverão ser ca-
diferentes situações do dia a dia; pazes de:
c) Realizar operações com números intei- a) Compreender os números reais, identifi-
ros em diferentes situações presentes do cando os números racionais e irracionais,
cotidiano; além de resolver problemas nos quais
eles estejam presentes;
d) Calcular porcentagens de diversas ma-
neiras, incluindo o uso da calculadora e b) Realizar operações simples com monô-
do cálculo mental, resolvendo problemas mios e polinômios. Relacionar as lingua-
que trazem a ideia de razão, proporção gens algébricas e geométricas, traduzin-
e porcentagem e identificar o uso de fra- do uma delas na outra, particularmente
ções percentuais para cálculos em situa- no caso dos produtos notáveis;
ções de comércio e de medidas;
c) Atribuir significado à fatoração algébrica,
e) Formar sentenças e encontrar valores a sua simplificação e como utilizá-la na
desconhecidos em um problema. Reco- resolução de equações e em outros con-
nhecer e resolver equações do 1º grau; textos;
f) Elaborar questões relacionadas à porcen- d) Resolver problemas envolvendo equa-
tagem e proporções, utilizando-se de di- ções de 1º e 2º graus, inequações e siste-
ferentes recursos; mas de equações;
g) Compreender os conceitos de paralelis- e) Reconhecer uma função de 1º grau e
mo e perpendicularismo, utilizando-os construir o gráfico para representá-la;
em situações nas quais sejam necessá-
rias construções geométricas com régua f) Reconhecer as características de um po-
e compasso; lígono regular, a semelhança entre figuras
planas e aplicar as relações métricas e tri-
h) Reconhecer características e representações gonométricas dos triângulos retângulos,
de figuras planas, espaciais e ângulos em com ênfase ao “Teorema de Pitágoras”;
seu dia a dia. Identificar polígonos como
triângulos, quadriláteros, dentre outros; g) Reconhecer e aplicar o “Teorema de Ta-
les” em situações-problema;
i) Ampliar e reduzir figuras geométricas
identificando seus elementos. Ler e inter- h) Reconhecer as diferenças entre figuras
pretar guias, mapas e plantas, utilizando- bidimensionais e tridimensionais e resol-
-se dos conceitos de escala e das noções ver problemas que envolvam o cálculo
de direção e sentido; de áreas e volumes das mesmas;

170
CAPÍTULO 19   –  MATEMÁTICA

i) Resolver problemas que envolvam gran- sistemas de equações de 1ºgrau;


dezas utilizando-se de variadas estraté-
gias, incluindo os processos envolvendo i) Resolver problemas que abordem con-
a regra de três; ceitos geométricos e relações determi-
nadas entre os ângulos de um triângulo
j) Compreender e utilizar os diferentes e os ângulos de um quadrilátero qual-
conceitos encontrados na Estatística tais quer;
como: a frequência, moda, mediana e
média aritmética; j) Calcular áreas de superfícies planas tais
como triângulos, paralelogramos, losan-
k) Conhecer noções de contagem e proba- gos e trapézios;
bilidade.
k) Resolver problemas utilizando noções de
Objetivos Específicos para o Ciclo IV escala e analisar plantas e mapas, identi-
ficando as escalas utilizadas;
8º ANO
9º ANO
a) Decompor um número em fatores pri-
mos e resolver problemas utilizando-se a) Operar diferentes potências e usar as suas
do cálculo do máximo divisor comum; propriedades para representar números
muito pequenos ou muito grandes;
b) Realizar operações com números racionais;
b) Reconhecer os número reais, identifican-
c) Resolver e elaborar problemas que en- do os números racionais e irracionais,
volvam o uso da porcentagem em situa- compará-los e localizá-los na reta numé-
ções variadas; rica. Resolver problemas nos quais esta-
rão presentes;
d) Resolver problemas que envolvam o cál-
culo de proporção, descontos e acrésci- c) Calcular perímetro e área do círculo;
mos, incluindo o uso da regra de três;
d) Reconhecer e resolver os diferentes tipos
e) Conhecer e identificar expressões algé- de equações de 1º e 2º graus;
bricas, calcular o valor numérico e reali-
zar operações simples com monômios e e) Conhecer a noção de função de 1º grau
polinômios; como relação de interdependência entre
grandezas e construir seu gráfico para re-
f) Relacionar as linguagens algébricas e ge- presentá-la;
ométricas que envolvem produtos notá-
veis e fatoração; f) Resolver situações-problema envolven-
do o Teorema de Tales;
g) Reconhecer, identificar e resolver equa-
ções, inequações e sistemas de equações g) Reconhecer as diferenças entre figu-
de 1º grau, utilizando-se deles na resolu- ras bidimensionais e tridimensionais
ção de problemas em situações que apa- e resolver problemas que envolvam o
recem no cotidiano; cálculo de áreas e volumes das mes-
mas;
h) Compreender e usar o plano cartesiano
para a representação de pares ordenados h) Reconhecer a semelhança entre figuras
e para a representação das soluções de planas a partir das medidas dos ângulos

171
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

e da proporcionalidade entre as medidas k) Compreender e utilizar os diferentes concei-


lineares correspondentes; tos encontrados na Estatística tais como: a
frequência, moda, mediana e média aritmé-
i) Identificar e resolver situações-problema tica para elaborar gráficos, produzir textos in-
envolvendo semelhança de triângulos; formativos, construir ideias e tomar decisões;

j) Compreender e aplicar as relações mé- l) Resolver problemas de contagem através


tricas e trigonométricas no triângulo re- do princípio multiplicativo e utilizar-se das
tângulo na resolução de problemas em noções de probabilidade para calcular a pos-
diferentes contextos. sibilidade de acontecimento de um evento.

172
Capítulo 20

CIÊNCIAS

Introdução tionamentos sobre o que leu e, a partir daí,


desenvolver todo um trabalho de pesquisa:
Após três anos de publicação destas Dire- quais hipóteses o aluno elabora para os seus
trizes, antes de apresentarmos a sequência questionamentos, quais dados buscará para
dos objetivos de Ciências, para o processo de verificar tais hipóteses, qual tratamento e
aprendizagem dos alunos deste segmento do registro dará a estes dados, à qual conclusão
Ensino Fundamental, Ciclos III e IV, faremos chegará e como redigirá toda a pesquisa fei-
uma abordagem do contexto em que estes ob- ta. Este deve ser um exercício contínuo, es-
jetivos devem ser desenvolvidos, visando, as- tabelecido, ao longo dos quatro anos, o que
sim, nesta nova versão, ressignificar o ensino promoverá a ele conhecer o procedimento
de Ciências. científico de um pesquisador.

Objetivos Gerais para o Ciclo III No decorrer do Ciclo III, a interação dos se-
res vivos, com todos os elementos ou recursos
No início do Ciclo III, no sexto ano, dando naturais que a eles se interligam, serão estu-
continuidade aos estudos dos Anos Iniciais, dados: a água, o solo, o ar e como eles com-
propomos o aprofundamento da linguagem põem os diversos ambientes da Terra, de for-
científica, utilizando-se da formação do Uni- ma preservada ou não. Será possível o aluno
verso como tema mobilizador da curiosidade entender como os seres vivos se adaptaram,
humana, sobre o entendimento do mundo. ao longo do tempo, aos mais diversos ambien-
Para tanto, indicamos que seja introduzida, tes - do aquoso ao mais árido - realizando as
neste ano, a biografia de cientistas que cons- mesmas funções básicas como a respiração, a
truíram a história da ciência, como as trajetó- alimentação, o metabolismo e a reprodução.
rias de Copérnico e de Galileu com o sistema
heliocêntrico, assim como Leonardo da Vinci Ao se falar da presença humana na Terra, pre-
e suas invenções como instrumentos para in- cisamos atentar para o seu papel nas relações
terpretar o mundo. estabelecidas com o ambiente – o que e como
ela observa, o que aprende, o que domina e o
Reforçamos, aqui, o que já apontamos no que transforma. Neste sentido, analisamos o
documento anterior sobre a metodologia que precisamos conservar e preservar ou o que
científica ser o caminho de se trabalhar esta precisamos mudar nos nossos hábitos para que
linguagem, uma vez que ela possibilita ao a humanidade continue usufruindo dos recur-
aluno ler várias fontes de informação (livros, sos que o planeta oferece, por muitas gerações.
revistas, sites de busca, sites especializados) É o conceito de sustentabilidade que será pro-
sobre um determinado tema, levantar ques- blematizado, para possibilitar ações individuais

173
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

ou coletivas que promovam uma nova forma nética e a química inserida no cotidiano das
de entender, respeitar e atuar no ambiente. pessoas na forma de alimentos, de fármacos,
de cosméticos, e tantos outros produtos que já
Ao final do Ciclo III, os temas, acima, apre- nem perguntamos mais como eles devem ter
sentados terão continuidade de forma apro- sido descobertos. Para tanto, é necessária uma
fundada, ao se tratar das transformações, abordagem histórica do avanço da química,
ocorridas no planeta, que possibilitaram o sur- assim como da medicina como campos do
gimento da vida, de forma a enfatizar as se- conhecimento humano e como eles transfor-
melhanças entre todos os seres vivos a partir maram a qualidade da vida humana. Sugeri-
da célula, ao longo do tempo evolutivo. Cabe mos as biografias de Hipócrates, de Lavoisier
aqui apresentar aos alunos as afirmações la- e de Mendel, que mostram que a ciência se
marquianas sobre o processo evolutivo, assim faz pelo acúmulo de conhecimentos produzi-
como o trabalho e os dilemas de Darwin a dos e não com simples estalos de inteligência.
respeito da seleção natural; não menos impor- Porém, há uma demanda de recursos naturais
tante é a nomenclatura binominal criada por para a fabricação dos produtos, antes citados,
Lineu e adotada até hoje. daí, a intenção de se estudar quais alterações
no ambiente são causadas pelos avanços bio-
Este estudo possibilitará ao aluno entender, tecnológicos.
comparativamente, as transformações que a
espécie humana apresentou; da mesma forma, Ao final do Ciclo IV, os estudos apontarão
será feita a introdução sobre as modificações para os princípios da física e da química, como
que o organismo humano pode apresentar, ao eles foram propostos e como são aplicados até
longo do ciclo da vida, com ênfase nos hábitos hoje, nas diversas tecnologias existentes. Uma
adquiridos que podem favorecer ou compro- articulação com o componente curricular Ma-
meter o desenvolvimento deste ciclo, de for- temática poderá ser significativa para a com-
ma individual e coletiva. preensão destes princípios. Será interessante,
também, o aluno conhecer as histórias de Ar-
Objetivos Gerais para o Ciclo IV quimedes, retomar a de Galileu, de Newton,
de Lavoisier e de Einstein como pensadores
No início do Ciclo IV, centra-se no estudo destas áreas do conhecimento científico.
do organismo humano, a partir das modifi-
cações naturais e das favorecidas pelos avan- O aprofundamento do estudo do átomo
ços da ciência, a começar pela alimentação. É possibilita ao aluno entender que toda a ma-
oportuno, aqui, destacar o papel da alimenta- téria, desde o que se conhece sobre o univer-
ção escolar que, além de ser nutricionalmen- so, até o lápis que ele usa, é constituída pelas
te equilibrada, pode representar a principal múltiplas combinações existentes entre os ele-
refeição diária para muitos alunos. É oportu- mentos da tabela periódica.
na, ainda, estabelecer-se a diferenciação entre
Destaque deve ser dado às diversas fontes
átomo, molécula e substância, até como for-
e formas de energia, hoje reconhecidas como
ma de entendimento das reações bioquímicas
uma das preocupações que atinge a toda hu-
que ocorrem no organismo humano, tanto em
manidade e quais são os custos e benesses que
condições ideais como nos problemas meta-
elas proporcionam, atualmente, ao ambiente
bólicos decorrentes da alimentação insuficien-
ou proporcionarão às gerações futuras.
te ou dos transtornos alimentares muito co-
muns a esta faixa etária. Da mesma forma ocorrida, nos anos ante-
riores, o conhecimento científico produzido,
Neste estudo serão incorporadas as inova-
ao longo da história, deve ser analisado sem-
ções científicas tais como a manipulação ge-

174
CAPÍTULO 20 – CIÊNCIAS

pre com as lentes da ética, princípio tão pro- b) Compreender as mudanças nos seres vi-
pagado e, muitas vezes, não aplicado quando vos e nos ecossistemas a partir das eta-
se trata de benefícios que a ciência produz. pas da linha da evolução;
Produz para quem? Esta é a pergunta recor-
rente. Entendemos que o aluno terá uma vi- c) Compreender o funcionamento e estru-
são ampliada das três áreas - Biologia, Física tura da célula como unidade básica dos
e Química - que compõem este componente seres vivos e sua relação com a fisiologia
curricular de maneira a articular tais conheci- e a morfologia;
mentos com a qualidade de vida que almeja
bem como a almejada, nas esferas individual d) Compreender a classificação dos seres
e coletiva. vivos a partir de suas semelhanças mor-
fofisiológicas;
Objetivos Específicos para o Ciclo III e) Analisar criticamente o ser humano
como espécie animal;
6o ANO
f) Conscientizar-se sobre a importância da
a) Conhecer as primeiras experiências cien- prática de bons hábitos de higiene, relacio-
tíficas abrangentes do universo, dentro do nando-os com a promoção da saúde e com
contexto histórico da ciência, a partir das a prevenção de doenças transmissíveis.
personalidades que dele participaram;
8o ANO
b) Utilizar-se da metodologia científica a
partir da leitura de diversas fontes de a) Entender as fases que compõem a vida
pesquisa sobre os temas em estudo para dos seres vivos, notadamente, da espécie
registrar suas observações, problemati- humana;
zação, hipóteses, conclusões e a sociali-
zação; b) Compreender a importância da alimen-
tação ser nutricionalmente balanceada,
c) Compreender como as relações ecoló- com ênfase na alimentação escolar;
gicas se estabelecem de maneira sincro-
nizada, equilibrada e dinâmica, contem- c) Aprofundar o conhecimento dos siste-
plando os fatores bióticos e abióticos, mas que compõem o organismo humano
enfatizando-se a conservação e a preser- e suas relações;
vação ambientais;
d) Conceituar, diferenciando átomos das
d) Investigar a diversidade da vida como re- moléculas e das substâncias;
sultados das adaptações dos organismos
em seus ambientes; e) Conhecer as diversas reações bioquí-
micas que ocorrem no organismo hu-
e) Analisar criticamente o ser humano como mano;
espécie animal e se conscientizar a res-
peito das relações ecossocioeconômicas f) Conhecer os avanços científicos e tecno-
por ele construídas ao longo da história. lógicos por meio da biografia de estudio-
sos da Química e da Medicina.
7o ANO
g) Conhecer a aplicação da Genética no co-
a) Compreender o planeta Terra antes e tidiano com destaque para os alimentos,
após o surgimento da vida; geneticamente, modificados;

175
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

h) Relacionar a biotecnologia com as trans- seus aspectos fisicoquímicos, compre-


formações eticossocioambientais decor- endendo a circulação dos elementos na
rentes dela; natureza.

i) Conhecer a história da química e a aplica- c) Conhecer os princípios básicos da Física


ção desses conhecimentos na fabricação e da Química e suas aplicações nas di-
de produtos de larga utilização cotidiana. ferentes tecnologias, refletindo sobre as
suas implicações no cotidiano;
9º ANO
d) Comparar os processos de transforma-
a) Aprofundar os conhecimentos sobre a ção de energia, enfocando os impactos
estrutura dos átomos e sua importância ambientais;
na formação de moléculas e substâncias;
e) Analisar criticamente a rapidez e os refle-
b) Aprofundar os conhecimentos das pro- xos das interferências humanas no am-
priedades da água, do ar e do solo em biente.

176
Capítulo 21

EDUCAÇÃO FÍSICA

Introdução mento, que concebe a cultura como produto da


sociedade, da coletividade à qual os indivídu-
A Educação Física43 é uma área de conheci- os pertencem, antecedendo-os e transcenden-
mento e de intervenção profissional que tem do-os, pois o ser humano, desde suas origens,
como objeto de estudo e de aplicação o corpo e produz cultura (MEC.PCN - ED.F. 1998).
o movimento humano, com foco nas diferentes
formas e modalidades do exercício físico, da gi- Ainda de acordo com os PCN EDF (1998),
nástica, do jogo, do esporte, da dança e da luta, em função da fragilidade de seus recursos bio-
nas perspectivas da prevenção de problemas de lógicos, os seres humanos buscaram suprir suas
agravo à saúde, da formação cultural, da educa- insuficiências com criações que pudessem tor-
ção e reeducação motora (DARIDO; RANGEL, nar os seus movimentos mais eficazes, seja por
2005; DARIDO; SOUZA JUNIOR, 2007). 54 razões militares, relativas ao domínio e uso de
espaço, seja por razões econômicas, que dizem
Neste sentido, a partir de novos estudos aca- respeito às tecnologias de caça, pesca e agricul-
dêmicos, influenciados por um olhar cultural, tura, seja por razões religiosas, que tangem aos
profissionais da Educação Física buscaram co- rituais e festas ou por razões apenas lúdicas:
nhecimento nas ciências sociais e humanas,
surgindo, assim, a área de estudo da Cultura Derivaram daí inúmeros conhecimentos e re-
Corporal do Movimento, que se caracteriza presentações que se transformaram ao longo do
como uma área de intervenção pedagógica, tempo, tendo ressignificadas as suas intencio-
pois procura unir os conteúdos desta área com a nalidades e formas de expressão, constituindo,
preocupação da contextualização das manifes- assim, a chamada Cultura Corporal do Movi-
tações corporais (DARIDO, RANGEL, 2005), mento (PCN, 1998, p.28).
utilizando para tanto as demais áreas de estudo
(cinesiologia, motricidade humana, ciências do Também, pela Cultura Corporal do Movi-
esporte, aptidão física), que são partes integran- mento, a questão da saúde é vista em relação às
tes da Educação Física, como disciplinas cientí- manifestações como entendimento de uma au-
ficas tradicionais também contextualizadas. toconsciência, autonomia e consciência coletiva.
Para os PCN, com a finalidade de contribuir para
Deste modo, a Educação Física assume como uma vida saudável, é importante a integração do
objeto de estudo a Cultura Corporal do Movi- aluno, na Cultura Corporal do Movimento44.
43 Professores de Educação Física, reunidos em grupo de forma- 44 “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social
ção específica, elaboraram uma pesquisa qualitativa mapeando as e não apenas a ausência de doença.” Organização Mundial de Saú-
práticas pedagógicas existentes neste componente, na Rede Muni- de (OMS), 1948. A escola procura fornecer elementos aos alunos
cipal de Campinas (RMC). Desta pesquisa, resultou a definição das que os capacitem para uma vida saudável, mas, sozinha, não os
seguintes manifestações da Cultura Corporal do Movimento para levará a adquirirem saúde (vol. 09.2, Saúde, Secretaria de Educação
a RMC: jogo, esporte, dança, ginástica e vida saudável. Fundamental, MEC). CARTA DE OTTAWA (1986) “É o processo

177
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

De fato, na Educação Física a aprendiza- com avanços e retomadas a fim de aprofundar


gem deve ocorrer de forma ativa e dinâmica, os conceitos, contextualizando e consolidan-
no desenvolvimento do seu percurso e de sua do os conhecimentos.
trajetória, ao longo dos ciclos. Reforçamos,
assim, que a Educação Física deve estar arti- Neste sentido, um dos objetivos da Edu-
culada aos demais componentes do primeiro cação Física é ensinar os conceitos básicos da
ao nono ano, garantindo a interdisciplinari- relação entre atividade física (dentro desta, a
dade. Não só a interdisciplinaridade como, atividade motora adaptada45), aptidão física e
também, a ludicidade devem estar presentes saúde, numa perspectiva que procura atender
nas atividades realizadas pela Educação Físi- a todos os alunos.
ca escolar, de modo a valorizar as vivências
infantis, tanto na escola quanto fora dela, nas Sendo assim, a Educação Física escolar é en-
mais variadas situações e sob as mais diver- tendida como a prática pedagógica que intro-
sas formas. duz e integra:

Na Educação Física, assim como em outros os alunos na Cultura Corporal do Movimento,


componentes curriculares, conforme aponta- desde a Educação Infantil até o Ensino Médio,
do neste documento, a criança desenvolve-se formando os cidadãos que irão usufruir, parti-
por meio de atividades lúdicas. Muitas são as lhar, reproduzir e transformar as manifestações
concepções sobre o lugar e a importância des- que caracterizam essa área (Darido, Rangel,
tas, no contexto escolar. Segundo Vygotsky 2005, p.34).
(1984), as crianças brincam porque se interes-
sam por uma esfera mais ampla da realidade Vale ressaltar que estas manifestações cons-
e sentem a necessidade de agir sobre ela. A tituem conteúdos da área da Educação Física
brincadeira e o jogo são considerados como escolar e estes devem ser elaborados dentro
espaço e compreensão do mundo pelas crian- das dimensões de conceitos, procedimentos e
ças, na medida em que os significados que ali atitudes.
transitam são apropriados por elas de forma
específica. Objetivos Gerais para o Ciclo III
Nas diversas metas das manifestações da Ao final do terceiro ciclo o aluno deverá:
Cultura Corporal do Movimento, com des-
taque para o jogo, esporte, dança, ginástica e a) Ter conhecimentos e práticas ampliadas
vida saudável, deve haver atividades e exercí- relativas aos diversos jogos, esportes,
cios que possibilitem a inclusão de todos os danças, ginásticas e demais práticas cor-
alunos e que estes possam utilizar e desenvol- porais;
ver suas habilidades de acordo com suas capa-
cidades e individualidades. b) Conhecer os fundamentos46 e aplicar as
técnicas e táticas (estratégias criativas co-
A aprendizagem, assim concebida, promo- letivas) das práticas corporais;
ve a compreensão sobre a diversidade, plura-
lidade e universalidade dessas manifestações, 45 A atividade motora adaptada é uma área da Educação Física
que tem como objetivo desenvolver a motricidade e as capacida-
des inter-relacionais e intelectuais das pessoas com deficiência,
de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qua- adequando métodos de ensino para o atendimento às característi-
lidade de vida e saúde, incluindo maior participação em seu con- cas de cada individuo, respeitando suas diferenças.
trole. Para atingir um completo bem-estar físico, mental e social, os
46 Se conhece assim o arcabouço dos conhecimentos básicos de
indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer
um jogador... para realizar com eficácia as ações elementares do
necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saú-
jogo: passar, driblar, defender, etc. (tradução livre do espanhol) (Di-
de deve ser vista como um recurso para a vida e não como objetivo
cionário Paidotribo de La Actividade Física Y el Deporte, Editorial
de viver”.
Paidotribo, Badalona, Espanha, 2008, A-F, pág. 1101.

178
CAPÍTULO 21  –  EDUCAÇÃO FÍSICA

c) Ter noções de regras e suas implicações so- crescente capacidade de respeito mú-
ciais nas práticas esportivas e no cotidiano; tuo.

d) Ter conhecimentos sobre crescimento Ao final do sétimo ano o aluno deverá:


(tamanho e dimensão corporal) e desen-
volvimento motor (habilidades e capaci- 7º ANO
dades);
a) Empregar o conhecimento ampliado so-
e) Distinguir as práticas da Educação Física bre movimentos técnicos e táticas (es-
em diferentes culturas e práticas sociais; tratégias criativas coletivas) em práticas
corporais;
f) Estabelecer relações inclusivas e de co-
operação com os colegas demonstrando b) Usar o conhecimento ampliado sobre o
respeito e sociabilidade. crescimento físico para o entendimento
da dimensão corporal, relacionada ao de-
Objetivos Específicos para o Ciclo III senvolvimento de suas habilidades e ca-
pacidades motoras;
Ao final do sexto ano o aluno deverá:
c) Conhecer de forma ampliada as regras,
6º ANO os papéis do árbitro e das entidades or-
ganizativas e sobre as políticas em jogos,
a) Ter noções sobre movimentos técnicos e eventos e atividades físicas;
táticas (estratégias criativas coletivas) e
empregá-los em práticas corporais; d) Estabelecer relações entre o desenvol-
vimento físico, aptidão física e o cresci-
b) Estabelecer relação entre o seu cresci- mento humano através das manifesta-
mento físico (estatura, massa corporal) e ções da cultura corporal do movimento;
o desenvolvimento de suas habilidades e
capacidades motoras; e) Conhecer de forma ampliada e aprofun-
dada as diversas manifestações da cultu-
c) Ter noções sobre regras, os papéis do ár- ra corporal do movimento;
bitro e das entidades organizativas e so-
bre as políticas em jogos, eventos e ativi- f) Utilizar-se das manifestações da cultura
dades físicas; corporal do movimento para discutir, es-
tudar e reconstruir as regras construídas
d) Estabelecer relações entre o desenvol- socialmente;
vimento humano e as manifestações da
cultura corporal do movimento; g) Valorizar a cooperação nas diferenças
entre os grupos sociais;
e) Utilizar-se das manifestações da cultura
corporal do movimento para discutir, es- h) Interagir de forma inclusiva e coope-
tudar e reconstruir as regras construídas
rativa com os colegas, demonstrando
socialmente;
crescente capacidade de respeito mú-
f) Respeitar as diferenças entre os grupos tuo.
sociais;
Objetivos Gerais para o Ciclo IV
g) Interagir de forma inclusiva e coope-
rativa com os colegas demonstrando Ao final do quarto ciclo o aluno deverá:

179
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

a) Compreender a lógica, as técnicas e tá- flexiva, participativa, construtiva e trans-


ticas dos diferentes jogos, para que pos- formadora;
sa, de forma autônoma, organizar, criar
variações e fazer adaptações das ativi- d) Ser capaz de conviver com as diferenças
dades; no coletivo, estabelecendo relações que
transformem as regras do jogo;
b) Negociar a unificação de regras de jogos
regionais para possibilitar o jogar juntos, e) Relacionar qualidade de vida e atividade
bem como criar e transformar regras para física;
o mesmo ou para novos jogos;
f) Compreender que o conhecimento corpo-
c) Relacionar qualidade de vida com estu- ral e a atividade física dão oportunidades de
do, trabalho, lazer, cultura, consumo de diversão, desafio e interação social, e apre-
alimentos, organização social e política e sentam um estilo de vida mais saudável;
atividade física;
g) Estabelecer relações inclusivas e de co-
d) Distinguir semelhanças e diferenças das operação com os colegas demonstrando
atividades tendo em vista os gêneros nas respeito e sociabilidade.
relações sociais e humanas;
Ao final do nono ano o aluno deverá:
e) Estabelecer relações inclusivas e de co-
operação com os colegas demonstrando 9º ANO
respeito e sociabilidade.
a) Ter conhecimentos e práticas sobre téc-
Objetivos Específicos para o Ciclo IV nicas e táticas aprofundados, para que
possa, de forma autônoma, organizar,
Ao final do oitavo ano o aluno deverá: criar variações e adaptações das ativida-
des físicas;
8º ANO
b) Analisar criticamente os problemas no
a) Ter conhecimentos e práticas sobre fun- âmbito dos esportes coletivos e indi-
damentos, técnicas e táticas ampliados, viduais, apresentando soluções que
para que possa, de forma autônoma, or- exprimam sua cognição na linguagem
ganizar, criar variações, e fazer adapta- tática e técnica, bem como concretiza-
ções das atividades; ção da ação do jogo esportivo durante
o enfrentamento do adversário, tanto
b) Conhecer e aplicar conceitos e princípios em situações de vitória como de der-
de movimento relacionados à habilidade rota;
motora nos jogos coletivos e individuais,
sendo capaz de trabalhar em equipe e re- c) Compreender os elementos utilizados
solver conflitos gerados pela competição; para a construção de novos jogos, por
meio de conhecimentos de transforma-
c) Situar-se a partir das diferentes funções e ção e adequação de jogos já conhecidos;
manifestações da cultura corporal na rea-
lização dos movimentos, demonstrando d) Saber interagir coletivamente na constru-
noções de justiça e ética, integrando seu ção de jogos, utilizando processos criativos;
interesse pessoal com o projeto coletivo
e expressando sentimentos de forma re- e) Relacionar a qualidade de vida com o
estudo, consumo de alimentos, organi-

180
CAPÍTULO 21  –  EDUCAÇÃO FÍSICA

zação social e política, trabalho, lazer, g) Ter conhecimento das manifestações da


cultura e atividade física; cultura corporal ampliado e aprofundado;

f) Compreender a composição corporal e h) Estabelecer relações inclusivas e de co-


sua relação com a vida saudável; operação com os colegas demonstrando
respeito e sociabilidade.

Quadro básico de conteúdos


EIXOS 6º ANO ao 9º ANO
FUTSAL
HANDEBOL
ESPORTES BASQUETE
VOLEI
ATLETISMO
XADREZ
DAMA
JOGOS
TÊNIS DE MESA
PRÉ-DESPORTIVOS
GA
GINÁSTICAS GR
PARA TODOS
FOLCLÓRICAS/REGIONAIS
CIRCULARES
DANÇAS
DE RUA
ATIVIDADES RÍTMICAS EXPRESSIVAS
MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS
ANATOMIA HUMANA
SAÚDE
NUTRIÇÃO
MATURAÇÃO

O quadro acima apresenta conteúdos bási- tância e necessidade de uma discussão apro-
cos para a organização do trabalho pedagógi- fundada e ampla com o grupo de profissionais
co. Cabe aos professores a devida adequação de Educação Física da RMEC, nos grupos de
a partir de sua realidade47. Deve, ainda, o pro- formação curricular, no sentido de produzir
fessor, conforme o Projeto Pedagógico da Uni- os avanços necessários para a implementação
dade, vivenciar outros conteúdos, de modo a das Diretrizes, com vistas a garantir a melho-
enriquecer a sua prática. Ressaltamos a impor- ria da qualidade social.
47 Cada escola tem suas necessidades e apresentam especificida-
des quanto à falta e/ou inadequação de espaço físico e de mate-
riais, o que pode dificultar a prática pedagógica.

181
Capítulo 22

HISTÓRIA

Introdução quer como objeto não o fato isolado e, sim,


a trama de que este faz parte. Vale ressaltar,
Os objetivos postos nas presentes Diretri- portanto, que essa característica deve estar
zes Curriculares, para o componente curricular explícita nos objetivos traçados nestas Dire-
de História, decorrem do objetivo fundamen- trizes, ou seja, deve estar claro não somen-
tal do ensino básico, fixado pela Lei 9394/96 te o que pretendemos que o aluno aprenda,
(LDB), qual seja, a formação do cidadão. mas, também, o para quê, mormente no que
tange à compreensão mais profunda e ampla
Cidadão é agente transformador do mun- de sua realidade.
do em que nasceu e, como tal, deve ter pen-
samento autônomo e não se contentar com Ao analisarmos a realidade contemporâ-
o consumo, inconsciente, de informações nea, marcada de um lado pelas mudanças nas
prontas e reprodutíveis. Faz parte de sua ação relações socioespaciais e econômicas (globa-
consciente e transformadora a capacidade de lização) e, de outro, pela ampliação das desi-
projetar suas ações e, para isso, o conheci-
gualdades e diferenças entre classes, povos e
mento de como a sociedade a que pertence se
nações, bem como pela intensificação do in-
constrói no tempo é fundamental. Sem essa
dividualismo e isolamento grupal, tornam-se
preocupação com o fazer histórico, sucumbe-
necessárias perspectivas teóricas e metodoló-
-se à visão mágica das coisas como prontas,
gicas para o componente curricular de His-
dadas.
tória, adequadas à compreensão dos novos
A formação de um pensamento autônomo tempos.
requer ligação dos conhecimentos ensinados
com a experiência vivida e o universo mental Na esteira do proposto pela legislação vi-
do aluno. Só se aprende o que faz sentido. gente, cabe-nos reforçar a necessidade da
Para isso, necessário se faz, tanto o diálogo valorização da História Local e Regional, da
dos saberes acumulados com a realidade do História da África, Afro-brasileira e Indígena
aluno, quanto o alargamento de sua consci- (LDB, Lei nº 9394/96, suas alterações na forma
ência, através da ampliação de horizontes, da Lei nº 10.639/03 e Lei nº 11.645/08, PCNs),
da superação do individualismo que mina o bem como a valorização da memória, que é
sentido do pertencimento, através da supe- o mote central da cultura popular, através da
ração da experiência de descartabilidade e oralidade. Esse trabalho não acontece na sim-
naturalização dos fatos históricos. O saber ples justaposição de conhecimentos, mas na
histórico há de ser pressuposto como ferra- sua contextualização e relação dialógica entre
menta de reflexão e não como conjunto de as diversas culturas, da qual o povo brasileiro
informações a serem reproduzidas, o que re- se origina em sua formação.

183
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

Esclarecemos que a abordagem adotada foi manente construção. O Currículo não deve
a da História Integrada, até pela maior afinida- resultar num rol de conteúdos, mas, sim, em
de desta modalidade com o trabalho interdis- um conjunto de experiências e práticas dos
ciplinar/área de conhecimento, e considerada professores e alunos. Mais que a reprodução
na sua perspectiva original, conforme traçada de conteúdos, estas práticas devem priorizar
por Morais (2009): a reflexão que possibilite a compreensão dos
fatos e processos históricos. Arrolaremos, a
História Integrada, como o próprio nome diz, seguir, os objetivos de História.
deveria integrar, completar, totalizar e somar.
O Brasil integrado à história da humanidade. Objetivos Gerais para o Ciclo III
Esse seria o objetivo tão claro e tão caro para o
século XXI, quando os muros da linguagem são a) Dar continuidade ao seu processo de for-
derrubados num mundo de rápida comunicação, mação como leitor de diferentes fontes,
o mundo da internet, em que fica cada vez mais tais como textos, mapas, imagens, docu-
difícil estabelecer fronteiras bem definidas. A mentos e textos digitais, bem como ao
História Integrada teria como meta, então, con- processo de escritor crítico e reflexivo, de
tar uma história do Brasil menos superficial, em modo a valorizar, também, a oralidade
que as conexões com os acontecimentos mun- nos debates, entrevistas, expressões tea-
diais fossem estabelecidas; história mais rica, trais, participações nas aulas expositivas
cheia de idas e vindas, num processo em que o e outros momentos de discussão entre
Brasil não poderia ficar isolado. Narrar as his- professor e aluno, dentro do processo de
tórias do Brasil e do Mundo juntas seria uma ensino e aprendizagem, a fim de desen-
forma de acompanhar a inserção do Brasil num volver a sua autonomia intelectual e a
mundo e mercados amplamente globalizados. iniciação à pesquisa;
(MORAIS, 2009. p. 201-217).
b) Contextualizar e valorizar o estudo da
A História Integrada, numa perspectiva crí- História local e regional, como ponto de
tica, possibilita tecer ligações não apenas entre partida para o conhecimento de diferen-
os componentes de uma área de conhecimen- tes processos históricos, compreenden-
to, mas, também, entre várias áreas. Há a pos- do a importância do ser humano como
sibilidade de enxergar o Brasil como produção sujeito histórico, na construção de sua
de determinada ordem social, política e econô- identidade;
mica, a qual, como sabemos, é historicamente
datada, não apenas numa perspectiva euro- c) Ampliar os conhecimentos e práticas his-
cêntrica (ou seja, exclusivamente do ponto de tóricas vivenciadas nos Ciclos I e II, per-
vista da História Europeia), mas, também, le- cebendo a relevância do estudo da His-
vando em conta a história indígena e africana. tória para o seu processo de formação
como cidadão crítico e atuante;
Esclarecemos que, neste momento especí-
fico do trabalho de construção das Diretrizes d) Aprender e elaborar conceitos relativos
Curriculares, estamos estabelecendo os obje- ao processo histórico e às estruturas so-
tivos para o ensino de História, até porque a ciais, políticas, econômicas e culturais,
organização de uma proposta curricular não reconhecendo-se como atuante, na orga-
deve pautar-se, simplesmente, na acomoda- nização social do espaço;
ção de conteúdos entre as disciplinas escola-
res ou áreas do conhecimento, uma vez que e) Estabelecer relações entre os proces-
o currículo deve ser entendido como um pro- sos naturais e históricos, em diferentes
cesso, algo vivo/dinâmico e que está em per- tempos/espaços, compreendendo que a

184
CAPÍTULO 22 – HISTÓRIA

sociedade está em constante transforma- razões da diversidade dos diferentes gru-


ção; pos sociais;

f) Contextualizar a sua realidade, refletindo d) Conhecer realidades históricas singula-


de maneira crítica sobre os aspectos sociais, res, seus diferentes modos de convivên-
econômicos e culturais e a forma como es- cia/organização social (espaços/lugares/
tes são construídos historicamente; tempos), para reconhecer as diferenças
socioculturais, no processo de compre-
g) Compreender aspectos relativos à quali- ensão do mundo;
dade de vida da população, relacionan-
do-os à prática da cidadania, na sua di- e) Perceber as relações sociais, em dife-
versidade étnica, racial, de gênero, etc; rentes realidades históricas e espaciais,
apropriando-se do conceito de ética e de
h) Analisar criticamente fatos, dados e situ- cidadania e compreendendo a desnatura-
ações apresentadas em forma de textos, lização dos processos históricos;
gráficos, tabelas, imagens, pinturas ou
mapas, textos digitais, para a compreen- f) Conhecer aspectos ligados ao modo de
são de fenômenos histórico-geográficos vida dos primeiros grupos humanos, dan-
nas suas diferentes dimensões (econômi- do relevo aos ameríndios e comunidades
ca, política, cultural etc.), bem como nas africanas pré-coloniais (Lei 10.639/03 e
distintas formas de sociedades humanas; Lei 11.645/08) e a sua organização so-
cioespacial, para melhor compreender as
i) Apropriar-se dos conceitos e dos co- heranças culturais que definem a nossa
nhecimentos histórico e geográfico para identidade;
ler, interpretar e posicionar-se frente ao
mundo no qual vive e atua como agente g) Apropriar-se das noções do “multicul-
transformador. turalismo”, compreendendo a origem e
transformação do ser humano e valori-
Objetivos Específicos para o Ciclo III zando o respeito às diferenças étnico-ra-
ciais e de gênero;
6º ANO
h) Reconhecer as mudanças e permanências
a) Conhecer a diversidade e importância históricas, ao longo do tempo, levando
dos documentos históricos para o acesso em conta os aspectos econômicos, polí-
à memória coletiva; ticos, sociais, culturais e religiosos, a fim
de distinguir as relações de exploração,
b) Perceber as diferenças na mensuração dominação e cooperação entre os vários
dos diferentes tempos (histórico, bioló- grupos humanos das primeiras civiliza-
gico e geológico), para dar continuidade ções.
ao processo de compreensão da história
nos diversos níveis de realidade a que 7º ANO
pertencemos e em que nossa identidade
se constitui; a) Pesquisar e contextualizar a história lo-
cal e a regional, levando-se em conta os
c) Pesquisar e contextualizar a história lo- conceitos de demografia e multicultu-
cal e regional, levando-se em conta os ralismo, para compreender e respeitar
conceitos de demografia e multicultura- as razões da diversidade dos diferentes
lismo, para compreender e respeitar as grupos sociais;

185
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

b) Reconhecer a transição do escravismo e por isso são variáveis e estão em cons-


antigo (clássico) para o feudalismo, tante transformação;
percebendo quais foram os valores
que moldaram as sociedades do Oci- i) Posicionar-se criticamente, apresentan-
dente Medieval, suas influências na do atitudes pessoais e coletivas que con-
formação do Mundo Ocidental Mo- tribuam para a promoção do respeito
à diversidade e luta pela superação das
derno, principalmente as heranças cul-
desigualdades.
turais na formação de comunidades
segmentadas;
Objetivos Gerais para o Ciclo IV
c) Conhecer diferentes aspectos cultu-
rais do Oriente (além das contribuições a) Dar continuidade ao seu processo de for-
tecnológicas para o próprio Ocidente), mação como leitor de diferentes fontes,
questionando ideias preconcebidas em tais como textos, mapas, imagens, docu-
relação aos outros povos; mentos e textos digitais, bem como ao
processo de escritor crítico e reflexivo, de
d) Compreender o processo de transição modo a valorizar, também, a oralidade
do feudalismo para o capitalismo, rela- nos debates, entrevistas, expressões tea-
cionando-o ao surgimento dos Estados trais, participações nas aulas expositivas
Nacionais e da classe burguesa, para e outros momentos de discussão entre
perceber mudanças e permanências na professor e aluno, dentro do processo de
forma de organização social, política, ensino e aprendizagem, desenvolvendo a
econômica e cultural das sociedades oci- autonomia intelectual e a iniciação à pes-
dentais; quisa;

e) Relacionar o processo de formação do b) Contextualizar e valorizar o estudo da


território brasileiro com os interesses História local e regional, como ponto de
mercantilistas do Estado Nacional Por- partida para o conhecimento de diferen-
tuguês, percebendo o mecanismo de do- tes processos históricos, tendo em vista a
minação sobre nações indígenas; importância do ser humano como sujeito
histórico;
f) Conhecer diferentes sociedades Afri-
canas e Ameríndias em momentos c) Reconhecer os fenômenos e processos
históricos diversos (Lei nº 10.639/03 e históricos estabelecendo relações entre
11.645/08), percebendo as suas peculia- as questões sociais, políticas, econômi-
ridades políticas, sociais, religiosas, cul- cas e culturais;
turais e econômicas;
d) Analisar criticamente a relação entre as
g) Identificar e analisar criticamente o mo- diferentes classes sociais nos determi-
delo de exploração colonial implantado nados tempos e espaços, a partir das es-
pelos europeus nos continentes africa- truturas sociais, políticas, econômicas e
no, asiático e americano, bem como as culturais;
mudanças que tais continentes sofreram
a partir desse processo; e) Posicionar-se criticamente frente às rela-
ções sociais que se constroem a partir da
h) Perceber que os conceitos de cidadania, divisão social do trabalho e as formas de
ambiente e patrimônio (material e ima- exploração e convívio dos homens com
terial) são definidos no tempo e espaço a natureza;

186
CAPÍTULO 22 – HISTÓRIA

f) Compreender-se enquanto cidadão ple- condições econômicas, políticas e sociais


namente constituído de direitos e deve- de cada lugar e momento, e perceber que
res e sentir-se capaz de propor ações que sua construção é um processo histórico;
contribuam para alterar a conjuntura lo-
cal, regional, nacional e global; c) Identificar como se deu o choque cultu-
ral entre as civilizações envolvidas na ex-
g) Buscar a autonomia no uso dos concei- pansão marítima europeia e o processo
tos assimilados e construídos, refletindo de dominação e exploração econômica e
sobre a maneira pela qual as condições social que se configura com a instituição
sociais, políticas, econômicas e culturais do escravismo moderno e exploração
se consolidam nas superestruturas ideo- dos recursos naturais dos continentes
lógicas, levando à competição, individu- africano e americano, questionando a vi-
alismo e consumismo, nas sociedades de são eurocêntrica presente em grande par-
classes em confronto com as caracterís- te da história de nossa formação cultural;
ticas de cooperação e sociabilidade das
sociedades sem classes; d) Reconhecer como se deu o processo de
emancipação política das colônias euro-
h) Analisar criticamente fatos, dados e situ- peias na América, África, Ásia e Ocea-
ações apresentadas em forma de textos, nia, distinguindo as diferenças entre cada
gráficos, tabelas, imagens, pinturas ou processo e compreendendo as disputas
mapas, textos digitais, para a compreen- locais e internacionais pelo controle po-
são de fenômenos histórico-geográficos lítico das novas nações;
nas suas diferentes dimensões (social,
econômica, política e cultural) nas distin- e) Conhecer os conceitos do liberalismo
tas formas de sociedades; nos aspectos político e econômico e a
relação deste movimento com as revo-
i) Desenvolver uma atitude de reflexão e luções burguesas, compreendendo as
questionamento diante dos aconteci- transformações que estas provocaram no
mentos mundiais, nacionais e locais, ana- mundo;
lisando os diferentes contextos, a partir
f) Estudar a Revolução Industrial, analisan-
de uma consciência clara das relações de
do o desdobramento das novas formas
exploração, dominação e/ou cooperação
de produção de mercadorias, em diferen-
que lhes dão origem.
tes modelos de organização e exploração
da mão de obra, relacionando as trans-
Objetivos Específicos para o Ciclo IV formações econômicas deste processo
com as mudanças sociais e a degradação
8º ANO ambiental;

a) Ampliar o estudo das diferentes socie- g) Compreender criticamente a formação


dades que se constituem, ao longo do do Estado brasileiro nos seus diferentes
tempo, analisando as novas relações so- aspectos econômicos, políticos, sociais e
ciais, culturais, políticas e de exploração culturais, refletindo sobre as contradições
econômica da natureza e do trabalho e desigualdades sociais e regionais que se
humano; transformam, mas também se consolidam
e permanecem ao longo do processo;
b) Conhecer os diferentes contextos nos
quais as sociedades se estabelecem e pro- h) Compreender os diferentes conceitos de
duzem seu próprio espaço, a partir das cidadania, do ser cidadão em diferen-

187
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

tes tempos/espaços ao longo da histó- d) Entender e apropriar-se dos conceitos


ria e, em especial, no Brasil. Entender e históricos, sociológicos e antropológi-
relacionar a preservação ambiental e do cos, de ecologia e economia sustentável,
patrimônio (material e imaterial) como questionando suas diferenças e contradi-
constitutivo de sua identidade e da so- ções de interesses sociais e econômicos;
ciedade em que está inserido;
e) Fazer uso de conceitos e do conhecimen-
i) Desenvolver uma atitude de reflexão to histórico e geográfico para analisar cri-
e questionamento diante dos aconte- ticamente o mundo no qual vive e atua
cimentos mundiais, nacionais e locais, como agente participante e transforma-
analisando os diferentes contextos, a dor da sociedade;
partir de uma consciência explícita das
relações de exploração, dominação e/ou f) Identificar as relações étnico-raciais e de
cooperação que lhes dão origem. gênero, bem como as relações de explo-
ração do trabalho e de dominação políti-
9° ANO ca e ideológica, presentes nos atuais pro-
cessos históricos capitalistas;
a) Analisar criticamente fatos, dados e si-
tuações do processo histórico apresenta- g) Identificar as relações étnico-raciais e de
dos em forma de textos, gráficos, tabe- gênero e suas influências políticas, eco-
las, imagens, pinturas ou mapas, objetos, nômicas, culturais e sociais presentes na
textos digitais, para a compreensão de sociedade brasileira, como forças trans-
fenômenos histórico-geográficos nas formadoras, conservadoras e de resistên-
suas diferentes dimensões (social, eco- cia da mesma;
nômica, política, cultural);
h) Estabelecer relações entre a economia ca-
b) Conhecer como se deu a consolidação e pitalista mundial contemporânea, o de-
expansão do Capitalismo contemporâ- senvolvimento industrial e tecnológico e
neo, como processo de articulação entre as desigualdades socioeconômicas entre
o particular e o geral, o micro e macro, os países;
nas diferentes escalas (local, regional, na-
cional e mundial); i) Compreender as transformações sociais,
econômicas e culturais pelas quais o Bra-
c) Relacionar os diversos períodos do pro- sil passou após a implantação da Repú-
cesso de formação histórica do Brasil, blica, percebendo os conflitos de interes-
com as etapas de consolidação do capi- ses em cada uma das fases da sua história
talismo contemporâneo, em níveis nacio- republicana e como esses conflitos se re-
nal e mundial. solveram nas diversas instituições.

188
Capítulo 23

GEOGRAFIA

A produção das Diretrizes Curriculares de te dos processos históricos e, portanto, transfor-


Geografia iniciou-se no ano de 2010, a partir mador do espaço terrestre. Desta maneira, cabe
de um Grupo de Trabalho Curricular, com a à Geografia revelar a relação entre espaço natural
participação direta dos professores e, tam- e o espaço transformado pela ação do trabalho
bém, a partir dos Seminários Curriculares I e do homem enquanto ser social e cultural – espa-
II, realizados no ano de 2010, nos meses de ço geográfico – bem como dar conta do trinômio
setembro e novembro, com a participação formado pelo Homem, o Espaço e o Tempo.
dos educadores por meio eletrônico e de for-
ma presencial. Sendo assim, o conteúdo desse A produção do espaço geográfico se dá de
documento marca o processo coletivo de ela- forma diferenciada, em cada sociedade, de acor-
boração de princípios e objetivos comuns que do com sua cultura. Entendemos cultura como
os professores da rede têm a respeito da Geo- o conjunto das manifestações humanas de com-
grafia e das suas escolhas sobre o ensino dessa portamento, costumes, tradições, posturas,
ciência, na Rede Municipal de Campinas. transmitidos de geração em geração e que, desta
forma, a partir de uma vivência comum, passam
Ao analisarmos a realidade contemporâ- a construir a identidade deste povo/comunida-
nea, marcada, de um lado, pelas mudanças de e suas formas de organização. Logo, todo o
nas relações socioespaciais e econômicas e, de conhecimento que é apropriado e partilhado pe-
outro, pela ampliação das desigualdades entre los indivíduos de um determinado grupo, uma
povos e nações, torna-se necessária a definição entidade coletiva lhes é conferida. Este processo
de um corpo teórico-metodológico adequado de construção da identidade cultural se materia-
à compreensão das novas espacialidades. Para liza no espaço construído pela sociedade.
atender a essa premissa, tem-se a Geografia
Crítica48 como uma referência teórica. A análise do processo de construção do es-
paço geográfico pode ser fomentada por uma
Nesta perspectiva crítica e humanista, o estu- abordagem dialética marxista49 que, através
do da Geografia está centrado no Homem, agen-
Há, então, um rompimento com a neutralidade no estudo da
48 Geografia Crítica: a partir dos anos 1970, grande variedade de Geografia, que vai propor uma criticidade junto à conjuntura
autores da área, com expoentes como David Harvey, Yves Lacoste social, política e econômica do mundo. Em relação ao ensino, a
e Milton Santos, mesmo com uma heterogeneidade de pensamen- Geografia Crítica entende que à escola não cabe reproduzir as
tos, foram responsáveis por um momento de ruptura e mudança relações de poder, mas sim estimular o aluno a desenvolver um
de paradigma na ciência geográfica, realizando severas críticas ide- espírito crítico, considerando o estudo do espaço e as formas de
ológicas e epistemológicas às vertentes tradicional e quantitativa apropriação da natureza.
da Geografia. Entre as novas formas de fazer Geografia ganha força 49 Dialética Marxista: para Marx, o mundo material é dialético e
a relação entre marxismo e Geografia, que passa a ser chamada de está em constante movimento, sendo que as contradições ocorrem
Geografia Crítica (Moreira, R. Para onde vai o pensamento geográfico? a partir dos antagonismos das classes no processo de produção so-
– Por uma epistemologia crítica. São Paulo, Contexto, 2006). cial. Desta contradição é gerada uma síntese, que é a nova realida-

189
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

do conflito de classes, movimenta as estrutu- c) Conhecer os conceitos de paisagem, lu-


ras sociais e espaciais. Desta maneira, cabe à gar, espaço geográfico, território e região;
Geografia refletir o espaço geográfico, ou seja,
a relação do homem com o meio, analisando d) Compreender os processos e fenômenos
as diversas maneiras que cada sociedade pro- naturais da Terra, tais como relevo, hi-
duz as formações socioespaciais, políticas e drografia, clima e vegetação, e as ações
econômicas em virtude das quais os grupos e sociais sobre eles;
as diversas culturas se organizam.
e) Reconhecer semelhanças e diferenças nos
Essa abordagem dialética marxista, tam- modos que diferentes grupos sociais se apro-
bém, pode ser utilizada no processo de ensino priam da natureza e a transformam, identifi-
e aprendizagem, de modo que os alunos pos- cando o trabalho e a técnica como elementos
sam compreender as relações de dominação/ essenciais para a transformação do espaço;
exploração presentes no mundo, refletindo e
apontando, também, sobre as possíveis for- f) Refletir sobre o Brasil estabelecendo re-
mas de superação das desigualdades. Desta lações acerca de seus aspectos socioes-
forma, enfatiza-se a importância de um ensi- paciais (econômicos, políticos, sociais,
no crítico e significativo para o aluno. culturais e físicos), construídos historica-
mente, considerando as diferentes esca-
Por fim, destacamos que cabe ao professor las geográficas (do local ao global);
fazer as adequações a cada realidade de sua
unidade ou comunidade escolar, de modo que g) Compreender as diferentes condições de
este documento, como o próprio nome diz, se vida da população e os direitos e deveres
valide como diretriz, que apresenta princípios do cidadão brasileiro, refletindo sobre
e objetivos gerais para toda a Rede Municipal. a desigualdade social e os mecanismos
Vale dizer que adequações também devem ser para o estabelecimento da cidadania, em
feitas quanto às especificidades exigidas na uma sociedade mais justa e igualitária
Educação Especial, pois cada situação neces-
sita de um planejamento de atividades e ações
conjuntas entre o professor de Geografia e o Objetivos Específicos para o Ciclo III
de Educação Especial, garantindo assim iso-
nomia de direitos ao acesso e apropriação ao 6º ANO
conhecimento de qualidade social.
a) Ampliar a habilidade leitora para dife-
rentes leituras e interpretações de textos
Objetivos Gerais para o Ciclo III e imagens em suas diferentes modalida-
des (mapas, fotografias, fotografias aére-
Após o Ciclo III, o aluno deverá ser capaz de:
as, imagens de satélites, filmes, quadros,
gráficos, entres outros);
a) Resgatar vivências e práticas adquiridas
através dos estudos geográficos realiza-
b) Reconhecer diferentes formas de regio-
dos nos Ciclos I e II;
nalização do mundo a partir de carac-
b) Compreender conceitos significativos da terísticas naturais e sociais, como por
linguagem cartográfica, envolvendo no- exemplo, em hemisférios, continentes,
ções de orientação e localização; zonas térmicas, entre outras;

c) Compreender o conceito de lugar e as


de. (Aranha, M. L. de A. e Martins, M. H. P. Filosofando: introdução à noções de orientação e localização espa-
filosofia. São Paulo, Moderna, 1993). cial (no bairro/município/país/mundo)

190
CAPÍTULO 23   –  HISTÓRIA

iniciando, assim, a compreensão das di- h) Conhecer e refletir sobre as principais


ferentes escalas geográficas; questões ambientais e sociais brasileiras;

d) Identificar e compreender os diferentes i) Contextualizar e ressignificar as noções


tipos de paisagens geográficas; de cidadania (direitos e deveres) e preser-
vação ambiental e do patrimônio históri-
e) Reconhecer os diferentes setores econô- co-cultural (material e imaterial).
micos e associá-los aos diferentes espa-
ços produzidos;
Objetivos Gerais para o Ciclo IV
f) Realizar o intercâmbio de conhecimentos
Após o Ciclo IV, o aluno deverá ser capaz de:
promovendo o respeito e a valorização do
“multiculturalismo”, ou seja, da diversidade a) Compreender e analisar criticamente os
cultural, bem como das diversidades étni- processos e fenômenos naturais da Terra,
co-raciais (Leis nºs 10.639/03 e 11.645/08); tais como relevo, hidrografia, clima e ve-
getação e na sua interação com as ações
g) Vivenciar e desenvolver ações de ética e
sociais, políticas, culturais e econômicas;
cidadania.
b) Analisar criticamente as questões do am-
7° ANO biente “natural” e do espaço construído
a) Ampliar os conhecimentos de cartogra- socialmente pelo homem no modo de
fia, aplicando-os no estudo do espaço ge- produção capitalista;
ográfico brasileiro;
c) Analisar os resultados das ações antrópi-
b) Localizar o território brasileiro de diferen- cas em relação à natureza, em uma socie-
tes formas: em relação às zonas térmicas, dade que busca, sobretudo, o lucro em
aos continentes, aos hemisférios, reto- detrimento da preservação ambiental,
mando tópicos estudados no sexto ano; discutindo conceitos como “desenvolvi-
mento sustentável”, “sociedade de con-
c) Compreender e diferenciar os conceitos sumo”, “economia solidária”, “comércio
de governo, Estado, nação, território, justo”, entre outros;
povo e país;
d) Compreender os modos como os dife-
d) Conhecer o processo de formação his- rentes grupos sociais se apropriam da
tórica, cultural e social do território e do natureza e a transformam, identificando
povo brasileiro; o trabalho e a técnica como elementos
essenciais para a transformação socioes-
e) Identificar e compreender as diferentes pacial;
formas de regionalização do Brasil;
e) Compreender a conformação do espaço
f) Compreender o processo de urbanização mundial atual como resultado do proces-
e industrialização brasileiro, destacando so histórico e o significado que a homo-
a Região Metropolitana de Campinas; geneização/diferenciação socioespacial
adquire nesta etapa do capitalismo. Iden-
g) Compreender conceitos demográficos tificar a regionalização do espaço mun-
no estudo da população brasileira e sua dial de diferentes modos: divisão físico-
diversidade/multiculturalismo (Leis nºs -continental, aspectos socioeconômicos,
10.639/03 e 11.645/08); características culturais, entre outros;

191
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL • ANOS FINAIS: UM PROCESSO CONTÍNUO DE REFLEXÃO E AÇÃO

f) Compreender a nova divisão internacio- e) Compreender os indicadores socioeco-


nal do trabalho, da produção e as redes nômicos do desenvolvimento humano,
de cidades mundiais; como o IDH, o índice de felicidade, o
mapa da violência, entre outros;
g) Reconhecer as mudanças socioespaciais
e as relações econômicas e políticas no f) Mediado pelas relações de trabalho, as-
período técnico-científico informacional; sociar transformação socioespacial e mo-
vimentos sociais, relacionando-os aos
h) Compreender os processos de globaliza- conceitos de Estado, povo, nação, terri-
ção que caracterizam as novas dinâmicas tório e país, de forma a redesenhar suas
do espaço mundial, como as inovações fronteiras;
tecnológicas nas redes e fluxos e os mo-
vimentos de consumo da cultura de mas- g) Identificar e compreender a ligação entre
sa, entre outros; a política e os problemas socioambien-
tais dentro do processo de produção e
i) Realizar o intercâmbio de conhecimentos organização/desorganização do espaço
promovendo o respeito e a valorização geográfico;
do “multiculturalismo”, ou seja, da diver-
sidade cultural, bem como das diversida- h) Conhecer os aspectos físico-naturais e
des étnico-raciais (Leis nºs 10.639/03 e populacionais dos continentes da Terra,
11.645/08); como América e África;

j) Vivenciar e desenvolver ações de ética e i) Identificar e compreender as relações


cidadania. étnico-raciais e de gênero presentes nas
sociedades estudadas;
Objetivos Específicos para o Ciclo IV j) Desenvolver uma atitude crítica de ques-
tionamento diante dos problemas socio-
8° ANO espaciais em diferentes contextos e sus-
citar possibilidades de mudanças.
a) Ampliar os conceitos ligados à cartogra-
fia, retomando as noções de geodesia/ 9° ANO
coordenadas geográficas;
a) Ampliar os conceitos da cartografia e da
b) Conhecer as paisagens naturais do planeta sua linguagem, dominando suas técnicas
Terra, a partir das diferenças climáticas e suas de expressão quantitativas e qualitativas;
formações vegetais, estabelecendo relações
com a ocupação e a apropriação humanas; b) Estabelecer relações entre a parte e o
todo, o micro e o macro, compreenden-
c) Analisar a presença do homem na Terra do as diferentes escalas geográficas – lo-
e suas diferentes formas de relação com cal, regional, mundial;
o meio mediadas pelas técnicas/tecnolo-
gias e suas consequências para a organi- c) Identificar e caracterizar diferentes ecos-
zação do espaço; sistemas dos continentes como Europa,
Ásia, África e Oceania, bem como as in-
d) Compreender as diversidades do espaço terações do Homem com o meio;
mundial e as diferentes formas de regio-
nalizá-lo, como as diferenças socioeco- d) Compreender e analisar as questões so-
nômicas dos países; ciais, como a exclusão social, a pobre-

192
CAPÍTULO 23   –  HISTÓRIA

za e a fome, utilizando-se das noções e h) Identificar e compreender os principais


conceitos básicos de geopolítica; conflitos mundiais, bem como suas
causas e consequências, analisando as
e) Compreender conceitos ligados à pre- Grandes Guerras, Guerra Fria, diversi-
servação ambiental como: ecologia, eco- dade étnica, religiosa, entre outros as-
nomia, crescimento e desenvolvimento, pectos;
suas vertentes e concepções político-ide-
ológicas, interpretando-os e posicionan- i) Identificar e analisar o paradigma da
do-se de forma crítica; globalização, percebendo suas face-
tas quanto à economia mundial, ao
f) Empregar os conceitos e o conhecimen- desenvolvimento tecnológico, às im-
to histórico-geográfico adquiridos para posições culturais e às desigualdades
ler e interpretar o mundo e atuar como sociais no mundo, bem como quanto
agentes reflexivos, críticos e transfor- às relações de dominação e resistência
madores; entre os países, posicionando-se criti-
camente.
g) Analisar as questões étnico-raciais e de
gênero e suas relações socioespaciais;

193
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