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IDENTIFICAÇÃO DE ALGUNS PROCEDIMENTOS / ESTRATÉGIAS PREDOMINANTES NA

TRADUÇÃO DE FILMES: UMA ABORDAGEM SOBRE A LEGENDAGEM PARA VÍDEO

Daniel R. Forner
Profª. Sônia M. M. Gazeta

Introdução

Dentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito
desde que foi lançada pelos Irmãos Lumière, na França em 1895: a chamada Sétima Arte – o
cinema – que se tornou uma das formas de diversão e entretenimento mais popular do
mundo.

É através de sua obra-prima – o filme – que choramos, nos emocionamos, rimos,


aprendemos, criticamos e analisamos o mundo ao nosso redor. Enfim, o filme prende a
nossa atenção e apela aos sentidos; mas para que esse apelo seja eficaz, o filme,
principalmente quando produzido originalmente em língua estrangeira, requer que a
tradução entre em cena em primeiro lugar, para que o obstáculo de não saber a língua
estrangeira seja superado através de legendas ou dublagens.

Embora até muito recentemente não se considerasse a legendagem relevante como


objeto de estudo, temos que reconhecer não somente o valor da tradução de filmes, mas
também o trabalho de se fazer legendas, pois exige tanto esforço, conhecimento e
habilidade quanto a prática de tradução de um livro.

Este trabalho tem como objetivo analisar alguns procedimentos / estratégias utilizados
pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar
apenas a falar sobre a legendagem, já que a dublagem exige outras técnicas que merecem
um estudo à parte.

A tradução de um filme envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre
em mente. Tais requisitos referem-se às técnicas em relação à composição das legendas,
que trabalham simultaneamente a relação tempo / espaço. Isso significa que o tradutor,
além de elaborar sua tradução, deve ficar atento para não ultrapassar os limites de tempo,
em segundos, e de espaços relacionados à quantidade de caracteres por legenda.

O trabalho do tradutor de filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar
alguns procedimentos / estratégias, que procuraremos descrever, neste estudo. Além disso,
discutiremos algumas questões relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao
desempenhar sua tarefa, bem como questões pertinentes à legenda.

Capítulo 1

Cinema: um pouco de sua história1


Antes de focalizar o processo de tradução para legendagem de filmes, faremos, neste
capítulo, uma breve retrospectiva em relação às origens do cinema, cuja invenção inaugurou
uma dos entretenimentos mais populares de todos os tempos.

O cinema, declarou o historiador Paul Rotha, “é a grande equação não resolvida entre a
arte e a indústria”. É uma das maiores formas de arte industrializada que dominou a cultura
no século XX. Desde seus primórdios, surgiu para se tornar uma indústria bilionária e uma
das mais espetaculares e originais expressões da arte contemporânea.

A história do cinema não começou com um “big bang”. Nenhum acontecimento exclusivo
- quer seja a invenção patenteada do cinetoscópio de Thomas Edison ou a primeira exibição
de filmes pelos Irmãos Lumière a um público pagante em 1895 – possa distinguir o pré-
cinema incerto do cinema em si. Pelo contrário, há uma seqüência que começa com os
primeiros testes de aparelhos de projeção de imagens em movimento, o que inclui não só o
surgimento, nos anos de 1890, do mecanismo reconhecido como cinema, mas também os
precursores da produção de imagem eletrônica. Os primeiros testes de transmissão de
imagens por um aparelho do tipo televisão são, de fato, tão antigos quanto o cinema:
Adriano de Paiva publicou seus primeiros estudos sobre o assunto em 1880, e George
Rignoux parece ter alcançado uma transmissão efetiva em 1909. Enquanto isso, certas
técnicas pré-cinema continuaram a ser usadas em conjunto com o cinema em si por volta de
1900-5, quando o cinema estava se firmando como uma nova forma de entretenimento e
ensino em massa. Portanto, a lanterna mágica, o filme e a televisão não constituem três
universos separados, com campos de estudo distintos, mas fazem parte, em conjunto, de um
único processo de evolução (Geoffrey Nowell-Smith: 1996, minha tradução).

1.1 As primeiras experiências2:

Os filmes produzem a ilusão de movimento contínuo pela passagem rápida de uma série
de imagens distintas e seqüenciais à frente de uma fonte de luz, possibilitando que essas
imagens sejam projetadas na tela. Cada imagem é mantida brevemente – uma questão de
milésimos de segundos – e então é rapidamente substituída pela imagem seguinte. Se o
processo for rápido e suave o suficiente, e as imagens semelhantes uma das outras, as
imagens descontínuas são então percebidas como contínuas, criando-se, assim, a ilusão de
movimento.

A sensação luminosa produzida por um raio de luz que atinge a retina perdura, mesmo
depois que o raio cessou de chegar ao olho, aproximadamente durante um décimo de
segundo. O movimento que se aprecia no cinema é possível devido a essa persistência das
imagens na retina. Na tela se projeta uma imagem que se mantém durante um tempo muito
curto (aproximadamente 0,04 s), embora suficiente para que impressione a retina. A seguir é
substituída por outra, enquanto no olho persiste ainda a anterior, e assim sucessivamente;
de modo que para o olho essa sucessão produz o efeito de um movimento contínuo.

O obturador do projetor permite que a luz chegue ao quadro do filme somente quando
este se encontra em posição na janela, não deixando que a luz passe enquanto avança. Um
mecanismo de ganchos encaixa-se nas perfurações no filme para sincronizar o avanço com a
rotação do obturador.

1.2 Projetor

Todos os projetores, desde os primeiros projetores de filmes até os mais modernos,


possuem os mesmos componentes: fonte de luz, condensador e lente de projeção. O
material transparente, com a imagem a ser projetada, é colocado no plano objeto de
maneira que a fonte de luz, orientada pelo condensador, possa brilhar através do material e
atingir a lente, que projeta a imagem ampliada sobre a tela.

O sistema condensador é indispensável para a iluminação uniforme de todos os pontos


da tela. Em geral, tem duas partes: um espelho esférico atrás da fonte de luz e um sistema
de lentes que se localiza entre a fonte luminosa e o plano objeto. O espelho esférico capta a
luz que, de outra maneira, se irradiaria para longe do objeto, e a reflete em direção ao
objeto, dobrando com isso o brilho da fonte.

1.3 O filme
O filme consiste numa seqüência de quadros transparentes que mostram objetos e
pessoas em diferentes posições. O projetor de cinema possui, além da fonte luminosa e da
lente, uma garra que puxa o filme, quadro por quadro, através de orifícios. É equipado
também com um obturador, que corta o feixe luminoso quando se dá a mudança de quadro.
Quando o filme é projetado, o obturador corta o feixe de luz cada vez que ocorre
mudança de um quadro para outro. Nesse instante não há projeção. Entretanto não
percebemos esse corte porque, apesar de apagado o feixe de luz, a imagem ainda persiste
em nossa retina o tempo necessário para a troca de quadro. Se a freqüência é maior que
trinta lampejos por segundo, não conseguimos perceber a variação da luminosidade, e temos
a ilusão de que a luz permanece continuamente acesa.
Assim o filme é uma seqüência de quadros separados e a imagem projetada na tela é
sempre imóvel. Mas, como nossa vista guarda a imagem por um certo tempo, quando vemos
um quadro a imagem do anterior ainda está em nosso olho. Assim, não percebemos o
intervalo entre a projeção dos quadros de movimento.

1.4 Formatos

A largura de 35 mm para a película de celulose de filme foi primeiramente adotada por


Thomas Edison, em 1892, para o seu cinetoscópio, um aparelho primitivo de visão de
imagens, na qual era possível um espectador por vez assistir a um breve segmento do filme.
O cinetoscópio teve tamanho sucesso comercial, que outros aparelhos criados
posteriormente adotaram a largura de 35 mm como formato padrão.

Hoje, os cinemas continuam adotando o formato de 35 mm de largura, com a taxa de


projeção de 24 quadros por segundo, ou seja, um segundo é o resultado da projeção de 24
quadros seqüenciais. Já a televisão trabalha com a taxa de 30 quadros por segundo.

Como arte e como tecnologia, o cinema já completou um século de existência. Os


primeiros aparelhos cinemáticos começaram a ser testados nos anos de 1890 quase ao
mesmo tempo nos EUA, França, Alemanha e Grã-Bretanha. Dentro de vinte anos, o cinema
se propagou para o mundo todo. Desenvolveu-se uma tecnologia sofisticada e esteve no
caminho para se tornar uma grande indústria, proporcionando a forma de entretenimento
mais popular para o público do mundo todo, atraindo a atenção de empresários, artistas,
cientistas e políticos, tal como é hoje, pois somos povoados de inúmeros filmes, que, além
de terem os mais sofisticados efeitos especiais, mexem com nossa imaginação, fazendo-nos
entrar no mundo da magia do cinema. Além de entretenimento, o filme era usado para fins
educativos, propaganda e pesquisas científicas. Esse novo meio de entretenimento e
comunicação de massa atraía público cada vez maior onde quer que o filme fosse exibido.

Atualmente, o cinema é conhecido como a única arte com um perfil tecnológico, que se
desenvolve cada vez mais.

Nesse capítulo procuramos fazer um breve comentário sobre a surpreendente história do


cinema, desde seus primórdios até os dias de hoje. No próximo capítulo vamos falar sobre
as técnicas referentes à composição das legendas.

Capítulo 2

O segredo de quem traduz e faz legendas

Os filmes produzidos são exibidos por três veículos: o Cinema, o vídeo (VHS) e o DVD.
Como já mencionamos, a tradução do material é necessária pois é através dela que podemos
entender o filme através de duas modalidades: dublagem e legendagem.

Filme

Dublado Legendado

Cada uma das modalidades de tradução exige suas técnicas próprias. Este estudo se
limitará a uma abordagem sobre a legendagem que, por sua vez, divide-se em: Legendagem
para Cinema, Legendagem para Vídeo (VHS) e agora, legendagem para DVD. Neste caso,
estudaremos a legendagem para vídeo. Para falar do contexto histórico das legendas,
apresentamos uma cronologia dos primórdios do cinema:
A primeira fase do cinema é denominada cinema mudo (silent cinema, 1895 -1930) que
vai desde as primeiras exibições de trechos curtos de imagens (early cinema), passando pela
consolidação da indústria cinematográfica poderosa com fins comerciais (1915), até a
introdução do som no início da década de 1930. Embora essa época seja denominada
cinema mudo, os filmes exibidos não eram totalmente mudos: A trilha sonora era
reproduzida, ao vivo, separadamente por uma orquestra (Ou apenas um pianista,
dependendo da classe social onde o filme fosse exibido), ao lado da tela de projeção
enquanto o filme fosse exibido. Também nesse período, todos os filmes mudos tinham algum
tipo de sonoplastia, também executada ao vivo, para reprodução de alguns efeitos sonoros,
além de uma espécie de orador (lecturer) que fazia comentários em relação às imagens que
passavam na tela, explicando o conteúdo e o significado à platéia.

Com o passar dos anos, inovações tecnológicas para a época foram-se desenvolvendo. O
cinema cresceu rapidamente nas duas primeiras décadas de sua existência. Foi no período
de transição (transitional cinema), entre 1907 e 1913, em pleno cinema mudo, que as
legendas começaram a ser introduzidas para reproduzir os diálogos dos filmes. Este novo
recurso permitia ao público entender o enredo durante sua exibição, além de reduzir os
custos com a exibição, já que antes era preciso contratar vários oradores para transmitirem a
mensagem do filme ao público.

A mudança para o uso das legendas durante o período de transição foi um dos fatores
responsáveis pela vivacidade e credibilidade individual das personagens. As legendas eram
produzidas quadro a quadro, como se fosse uma cena do filme, com um fundo preto, pois
nessa época não havia tecnologia que permitisse “imprimir” as legendas na película
cinematográfica, nem mesmo programas de computador que facilitasse a composição das
legendas e sua inserção na tela conforme se faz hoje. Inicialmente, as legendas eram
explicativas, sempre precedendo a cena e proporcionando descrições longas sobre a ação
seguinte. Gradativamente, legendas explicativas mais curtas se distribuíram por toda a cena,
substituindo as mais longas. O mais importante é que as legendas de diálogos começaram a
aparecer a partir de 1910. Os cineastas experimentaram a colocação dessas legendas,
primeiramente inserindo-as antes da cena onde houvesse o diálogo. Nessa época, as
legendas eram escritas no mesmo idioma do país de origem para exibição local; e já
traduzidas para o idioma de determinado país, onde quer que fosse exibido. A partir de
1913, as legendas começaram a ser introduzidas no momento da fala da personagem. Isso
era uma forma de promover uma integração mais forte entre o diálogo e o ator,
fortalecendo, assim, a individualidade da personagem.

2.1 Legendas – Em Busca de um Conceito

Até o presente, a literatura e estudos sobre tradução cinematográfica parecem não ter se
preocupado em definir, do ponto de vista lingüístico, o que é uma legenda. Até mesmo os
profissionais da área estão em busca de um conceito, apesar de a legenda estar presente
nas telas desde 1913. Etimologicamente, “legenda” significa ler.

Ela constitui, como já visto, um dos elos de comunicação entre o filme e o público:
nitidamente, podemos perceber que é a tradução escrita da fala que acompanha a imagem
sendo, portanto, visual, pois consiste na impressão de um texto escrito na imagem.

Como as legendas transmitem por escrito algo que foi falado, uma das possibilidades
seria considerar que elas transformam a língua falada em língua escrita. Marcuschi (1994),
em seu artigo intitulado Da Fala para a Escrita, chama o processo de transformação da fala
para a escrita de retextualização. Na realidade, a língua escrita possui suas marcas próprias
referentes à legibilidade do texto, onde as sentenças seguem uma ordem lingüística.

Já a fala, quando naturalmente transcrita, não se torna legível pois a organização do


discurso falado segue normas diferentes da escrita. A fala é marcada por pausas,
reiterações, hesitações, omissões e outras características normalmente não presentes no
texto escrito. Se observarmos um texto transcrito, podemos ver que as marcas da fala se
refletem na escrita, tornando os enunciados difíceis de compreender. As operações de
transformação da fala para a escrita seguem um processo de tratamento da seqüência dos
enunciados de forma que o texto escrito fique legível.

Se considerarmos a legenda como um produto da retextualização (transformação da fala


para a escrita), observaremos que o processo que envolve a legendagem é um pouco mais
complexo, pois sua composição passa por um processo lingüístico mais longo até chegar na
sua forma final, conforme os passos a seguir: 1 – O filme é escrito por um roteirista,
portanto, temos um roteiro original escrito; 2 – Esse roteiro será decorado por um ator que,
por sua vez, repetirá oralmente as falas do roteiro original, podendo modificar algo sobre
esse roteiro, usando sua criatividade, o talento artístico que envolve a interpretação ou a
orientação do diretor do filme; 3 – O tradutor fará a tradução no formato de legendas,
recorrendo ao roteiro escrito para a elaboração da forma escrita traduzida, também
utilizando sua criatividade e domínio lingüístico através de certas estratégias. Assim, temos a
seguinte representação:

Roteiro (texto escrito) ® Representação do ator (texto falado) ® LEGENDA (texto escrito
traduzido)

De acordo com essa perspectiva mencionada acima, podemos observar que o processo
de composição de legendas não segue os procedimentos comuns de uma retextualização;
porém envolve maior complexidade em termos de manobras lingüísticas. As etapas de
transição (escrita – fala – tradução escrita) envolvem operações de ajustes da linguagem
para que haja clareza e legibilidade. Seguindo esse raciocínio, podemos atribuir esse
conjunto de características próprias da legenda à formação de um gênero discursivo que
chamamos de legenda, pois, segundo Bakhtin (1993), “cada esfera de utilização da língua
elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo denominado de gêneros do
discurso.” Portanto, podemos considerar a legenda como um gênero discursivo com suas
características próprias, atuando na esfera ou no mundo dos filmes. Além do processo
descrito acima, é necessário que o tradutor siga as regras técnicas que serão descritas a
seguir.

As legendas trabalham, via de regra, com a relação tempo / espaço simultaneamente. O


tempo é cronometrado em segundos, e o espaço é medido pela quantidade máxima de
caracteres por linha. Esse espaço varia de acordo com o programa utilizado na geração das
legendas. No cinema, as legendas normalmente compõem-se de, no máximo, duas linhas
com 36 a 44 espaços cada, e na televisão / vídeo / DVD, as legendas compõe-se de duas
linhas entre 26 e 30 espaços.

Segundo Alvarenga (2000), convencionou-se que o tempo médio de leitura de cada


legenda de duas linhas de 30 caracteres cada, na tela, é de quatro segundos. Fazendo as
divisões proporcionais, até 15 caracteres, numa linha, representam 1 segundo de leitura. 30
caracteres, 2 segundos de leitura; 45 caracteres (uma linha e meia), 3 segundos de leitura e,
finalmente 60 caracteres, 4 segundos de leitura. Vejamos os seguintes exemplos de legendas
tirados do filme O Fugitivo (1993, Warner) – Fala de Richard

Não matei minha esposa!

A legenda acima possui 24 caracteres, portanto, o tempo que ficará na tela será de 2
segundos.

A próxima legenda é um vocativo, extraído da fala de Helen Kimble. Como ela possui
menos de 15 caracteres, ficará na tela apenas 1 segundo, servindo de exemplo também para
outras legendas de uma ou duas palavras como: Vai!, Corra!, Rápido! Peguem-no!, Agora!,
etc.

Richard!

Nesta próxima legenda composta de duas linhas, a primeira linha tem 15 caracteres,
portanto, 1 segundo, mais a linha de baixo com 27 caracteres, portanto, 2 segundos.
Somando o tempo das duas linhas, essa legenda ficará ao todo 3 segundos na tela. Fala de
Kimble:

Quando cheguei,

havia um cara em minha casa


2.2 O processo de legendagem para video

Descrevemos o processo lingüístico de composição das legendas, a seguir descreveremos


o processo técnico que envolve sua elaboração. A legendagem de um filme consiste de
quatro etapas:

1 – A tradução:

O filme é traduzido por um tradutor, que irá se encarregar de transmitir a mensagem da


língua-alvo ao público. Durante a tradução, o tradutor deve ter em mãos: um computador,
onde irá formular a legenda, geralmente em um processador de texto como o MS-Word, um
vídeocassete, uma TV e o mais importante: normalmente o profissional é auxiliado pelo
roteiro original do filme que está traduzindo. Portanto, ele assiste ao filme enquanto traduz,
pois o filme, a imagem, a seqüência das cenas é o seu objeto de trabalho. Ao fazer a
tradução para legendas, os principais aspectos a serem analisados são a duração e o
tamanho da legenda medido pelo número de caracteres por linha. Como podemos perceber,
o tradutor que atua na área de tradução de filmes está diante de um processo rigoroso e
delicado que exige muita habilidade, percepção e esforço, pois é necessário seguir à risca
suas normas técnicas e, conseqüentemente, adaptar sua tradução à legenda.

Para Alvarenga (2000) essa etapa inicial pode ser chamada de legendação. Nesta etapa,
o tradutor traduz os diálogos e compõem as legendas, recebendo, assim, o título de tradutor
legendista. Alvarenga também afirma que o tradutor legendista deve ter, além da habilidade
com a língua portuguesa e domínio cultural, a habilidade para articular a língua com o
objetivo de compor a legenda em português. Para isso, é necessário que haja percepção da
cena e “enxugar ao máximo possível” o diálogo para obter uma legenda adequada. Muitas
vezes, as pessoas criticam a tradução de um filme sem contudo, conhecer o rigoroso e
delicado processo que é traduzir e fazer legendas.

2 – A Marcação:

A tradução é encaminhada para o marcador, que é o profissional encarregado de fazer a


marcação das legendas. Nesta etapa o arquivo traduzido em formato .DOC é convertido para
o software de legendagem específico - analógico ou digital. O Software digital é utilizado
também para legendagens em DVDs. A marcação é dividida em duas etapas. Primeiramente,
o marcador irá indicar o tempo da entrada e da saída de cada legenda, respeitando o
sincronismo entre a fala e os padrões de tempo da mesma. Na segunda etapa ele assistirá
ao filme fazendo um controle de qualidade da marcação.

3 – A Revisão

Nesta etapa, o revisor, profissional encarregado da revisão com amplo conhecimento


lingüístico da Língua Portuguesa, assistirá ao filme para fazer o controle de qualidade das
legendas, onde a tradução é analisada para se detectar possíveis erros gramaticais e
ortográficos cometidos pelo tradutor.

4 – Gravação Final

Esta é a etapa final em que o revisor encaminhará o arquivo com as legendas marcadas e
revisadas para o responsável pelo centro de masterização. Neste centro, que consiste numa
enorme ilha de edição, as legendas serão gravadas no filme, em uma nova fita matriz,
através de equipamento profissional de última geração. A este responsável, Alvarenga
sugere que seja chamado de legendador , pois é o profissional técnico cuja tarefa é de
gravar o filme, já fazendo a inserção das legendas. Depois de feita a nova fita matriz já com
as legendas gravadas, esta fita é encaminhada para o centro de duplicação onde são feitas
centenas de duplicações ou replicações, a partir do original, destinando-se, assim, para
serem comercializadas. Para finalizar, todo esse processo é chamado de legendagem,
abrangendo as quatro etapas.

Vale lembrar que normalmente emprega-se o termo duplicação ou replicação para se


referir às cópias dos filmes devidamente legais com destino à comercialização e à locação, o
que conhecemos por fita selada, para distinguir do mero termo “cópia”, empregado para fins
ilícitos (pirataria).

2.3 Duração da legenda:

A legenda deve permanecer na tela durante o tempo adequado para leitura, nem mais -
tornando se cansativa e prendendo a atenção desnecessariamente, e nem menos - tornando
a legenda muito rápida para a leitura. Portanto, é necessário que haja sincronismo entre a
fala e a velocidade com que é realizada, ou seja, uma boa legenda deve entrar junto com a
fala e sair junto com ela, observando-se sua velocidade. A velocidade da fala é o fator
determinante nos seguintes aspectos: quando uma determinada frase é falada
pausadamente a legenda pode sair logo após o término; se a fala é feita de forma mais
rápida a legenda será mantida um pouco mais tempo na tela ou se ligará com a fala
seguinte, como nos dois exemplos abaixo extraídos do filme Indiana Jones e A Última
Cruzada (Paramount : 1989), envolvendo a fala de Henry Jones e Indy, respectivamente,
formando um único diálogo:

- Eles estão querendo nos matar!

- Eu sei, Pai!

****************************************

- Ela é nazista!

- O quê disse?

Nesses dois diálogos acima, cada linha é a fala de uma personagem diferente que se uniu
numa só legenda, pois a velocidade de ambas as falas foi muito rápida. O legendista, neste
caso, também atua como um marcador, mas um marcador “virtual”, pois, durante a
tradução, ele precisa contar o tempo de cada diálogo.

Há também critérios como a mudança de cena. Neste caso é ideal que a legenda não
transponha uma cena, a não ser que a fala também a transponha. Se assim for, a legenda
será em itálico.

2.4 Tamanho
Outro fator determinante é a limitação do número de caracteres permitidos por linha,
que, como já foi dito, irá variar de acordo com o software utilizado para a legendagem -
Muitas empresas que produzem legendas normalmente utilizam o programa SYSTIMES e
também o TRANSPOTTING. Já a VIDEOLAR utiliza o programa sueco de marcação e
legendagem CAVENA SCAN TITLING. Considerando a limitação do número de caracteres
permitidos por linha o tempo máximo e mínimo para leitura, o tradutor, muitas vezes, terá
que fazer resumos e adaptações para adequar a legenda às falas.

Neste capítulo analisamos sinteticamente os procedimentos técnicos necessários para a


composição das legendas. A seguir, trataremos das estratégias de tradução cinematográfica,
utilizadas pelo tradutor conforme as normas técnicas.

Capitulo 3

Estratégias de tradução para legendagem de vídeo

Como vimos, a tradução de um filme para legendagem envolve uma série de requisitos
que um tradutor deve ter sempre em mente. Esses requisitos, como vimos no capítulo
anterior, referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, além de o
profissional ter uma ampla bagagem cultural e domínio nas articulações dos diálogos no
estilo da língua alvo.

Para realizar este estudo, alguns filmes legendados foram selecionados, sempre fazendo
uma comparação entre o Roteiro original e a tradução. Nessas observações, constatamos
que o tradutor adota algumas estratégias para tradução em vários diálogos, em virtude das
técnicas impostas para a legendagem, a fim de transmitir da melhor maneira possível a fala
das personagens.

No livro Procedimentos Técnicos da Tradução, Barbosa (1990) apresenta vários


procedimentos, ou modelos, para traduzir textos de qualquer natureza, como uma
ferramenta auxiliar no trabalho do tradutor. Segundo a autora, essa obra constitui:

“...uma tentativa de recaracterização e de recategorização dos procedimentos técnicos


necessários para transferir significados de um código lingüístico para outro.”

Através das observações feitas, procuraremos apresentar as estratégias que o tradutor


legendista utiliza para traduzir de tradução utilizadas, tendo em vista os procedimentos3 que
a autora defende em seu livro, pois, como também ocorre na tradução de filmes, esses
procedimentos são utilizados para transmitir a mensagem da língua de origem para a língua
alvo. Heloísa Barbosa faz um levantamento de quatorze procedimentos técnicos descritos
sinteticamente a seguir:

3.1 TRADUÇÃO PALAVRA-POR-PALAVRA

É a tradução em que determinado segmento textual (palavra, frase, oração) é expresso


na LT mantendo-se as mesmas categorias numa mesma ordem sintática, utilizando
vocábulos cujo semantismo seja (aproximadamente) idêntico ao dos vocábulos
correspondentes no TLO (Aubert, 1987:15), por exemplo:

He wrote a letter to the mayor sans retard.

Ele escreveu uma carta para o prefeito sem demora.

3.2 TRADUÇÃO LITERAL

É a tradução em que se mantém uma fidelidade semântica estrita, adequando porém a


morfossintaxe às normas gramaticais na LT (Aubert, 1987:15). Alguns autores como
Vazquez-Ayora (1977), negligenciam esse procedimento pois, segundo eles, é o responsável
por muitos erros de tradução.

Os exemplos abaixo são de segmentos textuais, onde é possível observar as alterações


morfossintáticas a que foram submetidos. Essas alterações distinguem a tradução palavra-
por-palavra da tradução literal. Exemplo:

It is a known fact

\ é \ fato conhecido

3.3 A TRANSPOSIÇÃO

Consiste na mudança de classe gramatical de elementos que constituem o segmento a


traduzir, como se observa nos exemplos abaixo:

She said apologetically - advérbio

(ela) disse desculpando-se - verbo reflexivo

(ela) disse como justificativa - adjunto adverbial


3.4 A MODULAÇÃO

Esse procedimento consiste em...

“...reproduzir a mensagem da TLO no TLT4 mas sob um ponto de vista diverso, o que
reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam a expressão do real ...”

Em outras palavras, esse procedimento / estratégia consiste em transmitir a mesma


mensagem em outras palavras. É um procedimento muito utilizado nos diálogos traduzidos,
visto que eles são necessários caso as normas administrativas tenham que ser seguidas,
obrigando o tradutor a fazer uma reestruturação ou uma adaptação na legenda para não
ultrapassar os limites de espaço e tempo de leitura permitidos, resultando, assim, no uso
desses procedimentos / estratégias.

3.5 OMISSÃO

Quanto à omissão, a autora afirma que:

“...consiste em omitir elementos do TLO que, do ponto de vista da LT, são


desnecessários ou excessivamente repetitivos. Na tradução do inglês para o português, esse
procedimento é usado, por exemplo, em relação aos pronomes pessoais. Em inglês ocorre
aquilo que, em português, seria considerada uma repetição excessiva deles, já que o
português, auxiliado pelas desinências verbais que deixam claro a que pessoa se refere o
verbo, costuma omitir o pronome pessoal na posição de sujeito, ao contrário do inglês, onde
é obrigatória sua presença.”

3.6 EQUIVALÊNCIA

A equivalência consiste em substituir um segmento de texto da LO por um outro


segmento da LT que não o traduz literalmente, mas que lhe é funcionalmente equivalente.
Esse procedimento é muito utilizado em clichês, expressões idiomáticas, provérbios, ditos
populares. Exemplos:

It´s a piece of cake - É sopa!


Yours faithfully - Cordialmente

He fell off a turnip truck - Caiu de pára-quedas

3.7 EXPLICITAÇÃO

Ao passo que a omissão consiste em omitir elementos desnecessários para a LT, como é
o caso dos pronomes pessoais (ver: omissão), a explicitação é o processo inverso quando se
traduz do português para o inglês, já que é necessária a explicitação do pronome, pois sua
presença é obrigatória em inglês. (Vazquez-Ayora 1977, q.v. 2.1.4, p.46).

3.8 A COMPENSAÇÃO

Consiste em deslocar um recurso estilístico, ou seja, quando não é possível reproduzir no


mesmo ponto, no TLT, um recurso estilístico usado no TLO, o tradutor pode usar um outro
recurso de efeito equivalente em outro ponto do texto. Os trocadilhos, por exemplo, muito
freqüente nos filmes, quando não podem ser efetuados com um mesmo grupo de palavras,
podem ser feitos em outro ponto do texto onde sejam possíveis para equilibrar o texto
estilisticamente. (Nida, 1964; Vazquez-Ayora, 1977, q.v. 2.1.4, p.47; Newmark, 1981, 1988)

3.9 A RECONSTRUÇÃO DE PERÍODOS

Consiste em re-dividir ou reagrupar os períodos e as orações do original ao passá-los


para a LT. Na tradução do português para o inglês, é necessário, muitas vezes, distribuir as
orações complexas do português em períodos mais curtos em inglês. Já na tradução do
inglês para o português ocorre o inverso (Newmark, 1981, q.v. 2.1.5, p. 55).

3.10 AS MELHORIAS

As melhorias consistem em não se repetirem na tradução os erros de fato ou outros


tipos de erros cometidos no TLO. (Newmark, 1981, p. 55, 1988).

3.11 A TRANSFERÊNCIA

Consiste em introduzir material textual da LO no TLO (Newmark, 1988 : 81-82) e pode


assumir as seguintes formas:
Estrangeirismo: copiar ou transcrever para o TLT vocábulos ou expressões da LO que se
refiram a um conceito, técnica ou um objeto mencionado no TLO;
Estrangeirismo transliterado: consiste em substituir uma convenção gráfica por outra, como
no caso de glasnost, uma transliteração do alfabeto cirílico para o romano, e que não deve
ser confundida com a transcrição fonética. Na tradução entre o inglês e o português
normalmente não haverá lugar para este procedimento, uma vez que as duas línguas
utilizam o alfabeto romano.
Estrangeirismo aclimatado; processo através do qual os empréstimos são adaptados à língua
que os toma. (Ex: coktail = coquetel; Football = futebol; Whisky = Uísque, etc)
Estrangeirismo + explicação = pode ser uma nota de rodapé ou através de uma diluição do
texto para situar um expectador ou um leitor a um determinado contexto.
3.12 EXPLICAÇÃO

Havendo a necessidade de eliminar do TLT os estrangeirismos para facilitar a


compreensão, pode-se substituir o estrangeirismo pela sua explicação. Isso pode acontecer
numa peça de teatro, por exemplo, em que, por uma questão de ritmo cênico, é preciso que
o expectador tenha uma compreensão imediata da situação. Este procedimento é descrito
por Nida (1964).

3.13 O DECALQUE

O decalque consiste em traduzir literalmente sintagmas ou tipos frasais da LO no TLT,


abandonando a confusão que se criou em torno do termo decalque empregado por Vinay e
Darbelnet (1977, q.v. 2.1.1, p. 27), já que, como foi visto, muitos autores interpretam o
decalque como sendo uma aclimatação do empréstimo lingüístico.

3.14 ADAPTAÇÃO

É o limite extremo da tradução: aplica-se em casos onde a situação toda a que se refere
o TLO não existe na realidade extralingüística dos falantes da LT. Esta situação pode ser
recriada por uma outra equivalente na realidade extralingüística da LT.

O tradutor utiliza esses procedimentos / estratégias para adequar sua tradução de


acordo com as técnicas da legenda que devem ser respeitadas. Se um diálogo for muito
longo, ele pode omitir elementos desnecessários, deixando apenas a informação essencial
para o expectador.
3.15 A Liberdade do Tradutor sob Limitações de Tempo e Espaço

Dependendo do gênero do filme, principalmente comédia, com exceção aos filmes de


linguagem mais técnica, a maioria dos seus diálogos possui uma linguagem coloquial no
estilo cultural do país que o produziu. Diante disso, o tradutor pode utilizar esses
procedimentos estratégias não apenas para adaptar a tradução na legenda, levando em
conta a noção de tempo e espaço, mas também pode utilizá-las como recurso estilístico para
adequar a linguagem coloquial do diálogo original ao nosso estilo de linguagem coloquial
compreendendo provérbios e trocadilhos, expressões idiomáticas, e os aspectos culturais
próprios da região. Neste caso, o uso desses procedimentos é facultativo.

Diante disso, mesmo sob as limitações de tempo e espaço impostos pela legenda, o
tradutor pode desfrutar de uma certa liberdade para realizar a transferência da mensagem
do original para a língua alvo, sempre com o objetivo de formular uma legenda natural,
seguindo o ritmo do enredo, das cenas, para que não desvie a atenção do expectador do
filme.

Normalmente os tradutores legendistas fazem uso da modulação, ou da adaptação, ou


de algum outro procedimento, dependendo da situação, com a finalidade de aproximar o
diálogo original de uma cultura diferente ao nosso estilo de linguagem, recorrendo, assim, ao
uso das nossas expressões idiomáticas, do nosso estilo de linguagem coloquial. Tudo isso
para não perder a essência da trama, embora muitos afirmem que a trama é prejudicada na
tradução. Portanto, eis mais um motivo pela qual se requer tanta habilidade e percepção do
tradutor, justamente para evitar essa perda, e, assim, tentar resgatar o valor que devemos
dar a essa atividade.

No próximo capítulo, faremos uma discussão na prática como esses procedimentos /


estratégias são utilizados, com exemplos de diálogos traduzidos de alguns filmes famosos.
Capítulo 4

Da teoria à prática: o emprego de alguns dos procedimentos / estratégias

Nesse capítulo, faremos uma exemplificação de vários diálogos traduzidos: primeiro o


Roteiro original e, a seguir, a tradução final que foi legendada. Quero chamar a atenção para
os procedimentos / estratégias presentes na versão brasileira.

4.1 Indiana Jones e A Última Cruzada

O filme Indiana Jones e A Última Cruzada (1989) conta as aventuras de Indiana Jones e
seu pai em busca do Santo Graal, o cálice que, segundo a lenda, foi usado por Cristo na
última ceia. Neste filme podemos observar algumas modulações nos seguintes diálogos:
Roteiro Original
Legenda

Chaps, don't anybody wander off!

Some of the passageways in here can run for miles


Não vão se distrair!

Algumas trilhas são muito fundas!

Essa cena se passa no início do filme. Nesse diálogo, houve uma concordância de
significados entre as versões. Dizer que as passagens subterrâneas são fundas em sentido
horizontal (e não de profundidade) é o mesmo de dizer que elas se estendem por
quilômetros, conforme mencionado no Roteiro original, por se tratar de passagens
subterrâneas.

Esta próxima cena se passa depois que o jovem Indiana recupera um crucifixo de ouro
que estava sendo roubado por um suposto dono (Fedora5). Este recupera a peça, e,
juntamente com um xerife local, diz:

Roteiro Original
Legenda

FEDORA: You lost today, kid, but that doesn't mean you have to like it!
Hoje você perdeu, mas não quer dizer que não ganhe.

Hoje você perdeu, que quer dizer “perder a parada”. Os dois diálogos basicamente dizem
a mesma mensagem. Literalmente no roteiro original, Fedora quis dizer: Mas não significa
que precisa gostar de perder. Já na tradução, o tradutor optou por fazer uma alteração que
soe melhor na nossa língua para transmitir a mesma mensagem do original: “... mas não
quer dizer que não ganhe.” Portanto, ao analisar ambos pontos de vista, Indiana um dia iria
vencer e que ele não seria um perdedor.

Nesse próximo diálogo, Indy fala sobre seu pai a Walter Donovam:
Roteiro Original
Legenda

INDY - Grail lore is his hobby. He's a teacher of Medieval Literature. The one the students
hope they don't get.
Seu hobby é os mitos do Graal. Ele é professor de Literatura Medieval, matéria da qual os
alunos tentam fugir.

Como o próprio diálogo diz, o pai de Indy (Henry Jones) é professor de uma disciplina
que não é do agrado dos alunos. Portanto, dizer que a Literatura Medieval é uma disciplina
que os alunos esperam não ter é o motivo de eles tentarem fugir. O que importa é que eles
não gostam mesmo.

Na próxima cena, Indy e seu pai estão sentados cada um na sua cadeira e amarrados um
de costas para o outro. Então, a traidora nazista Elza Schneider dirige a palavra para Indy.
Eis o diálogo, dando ênfase à fala de Indy:

Roteiro Original
Legenda

ELZA - Don't look at me like that-we both wanted the Grail, I would have done anything to
get it. You would have done the same.

INDY - I'm sorry you think so


Não me olhe assim, nos dois queremos o Grall. Eu faria qualquer coisa para obtê-lo, e você
faria o mesmo que eu.

É o que pensa?

Nesta cena, Indy contraria a opinião de Elza. Literalmente, segundo original, seria
lamento por você pensar assim. O tradutor optou por uma colocação mais próxima ao nosso
estilo e de uma forma mais reduzida, fazendo o uso da modulação e da omissão, pois, além
de manter a mesma idéia segundo o original, observe que a tradução se transformou numa
pergunta. Além da escolha, É o que pensa?, poderia também ser usado a colocação É aí que
você se engana!, pois, neste caso, a modulação mudou o ponto de vista semântico, sem
transformá-la numa pergunta, mantendo a frase no modo afirmativo como no original.
Portanto, a tradução literal de 29 caracteres foi traduzida para uma legenda de 10
caracteres: É o que pensa?

Vejamos o próximo diálogo:

Roteiro Original
Legenda

HENRY - Those people are trying to kill us!

INDY - I know, Dadl

HENRY - It's a new experience for me.

INDY- It happens to me all time


Eles estão querendo nos matar!

Eu sei, Pai!

É uma novidade para mim!

Estou acostumado!

Esse diálogo se passa na cena em que pai (Henry) e filho (Indy) tentam escapar de dois
aviões nazistas. Eles estão passando por perigos a que o pai não está acostumado, só o
filho, Indiana, que diz literalmente, acontece comigo a toda hora (Perigo). Na tradução final
se estabeleceu: estou acostumado!, por ele correr perigo a toda hora. Poderia até arriscar
uma outra opção como: pra mim já virou rotina. A fala de Henry dizendo é uma nova
experiência pra mim literalmente como no original, ficou É uma novidade pra mim!, o que
também poderia ser expressa como: nunca passei por isso!

Nesse mesmo filme, destaco algumas omissões, que também não fugiram da mensagem
original. Foram usadas por se tratarem de falas rápidas, e se as legendas fossem longas, iria
atrapalhar a observação da cena.

Esta cena se passa dentro da biblioteca, em Veneza, onde Indy, Elza Schneider e Marcus
Brody procuram pistas sobre o paradeiro do pai de Indy. Num determinado momento, Elza
sai de cena e Indy pede a Marcus para não contar a ela sobre o diário do Grall, escrito pelo
pai de Indy.

Roteiro Original
Legenda

INDY - My dad sent me this Diary for a reason. Until we find out why, I suggest we keep it to
ourselves.
Não conte a ela que tenho o diário.

Indy disse sussurrando e rapidamente. Se todas as palavras fossem colocadas, haveria a


necessidade de compor duas ou até três legendas com tempo muito curto na tela. Portanto,
o tradutor reduziu o texto para que essa fala rápida pudesse ser descrita em uma legenda de
uma linha, podendo ficar até 4 segundos no ar, que foi o tempo da fala toda, sem fugir da
mensagem que Indy queria passar para Brody e, conseqüentemente para o público.

Observemos a seqüência dos diálogos a seguir:

Roteiro Original
Legenda

INDY - Since I've met you, I've nearly been incinerated, drowned, shot at, and chopped into
fish bait. We're caught in the middle of something sinister here. My guess is Dad found out
more than he was looking for. And until I'm sure..., I'm going to continue to do things the
way I think they should be done.
INDY - Até agora fui quase afogado,

Incinerado e picado. 1

É sinistro. Meu pai descobriu

mais do que procurava. 2

E até ter certeza... 3

Vou continuar fazendo tudo


À minha maneira. 4

No diálogo acima, a velocidade da fala de Indy foi muito rápida e, para não perder o
conteúdo, foi necessário fazer um resumo de toda a fala, resultando em quatro legendas. Por
exemplo, a frase Since I've met you foi reduzida e modulada para Até agora, para sintetizar
a seqüência dos acontecimentos até o presente momento. Se fosse para colocar todo o texto
em legendas, elas teriam um tempo muito curto na tela – a metade do tempo requisitado -
impossibilitando o expectador de acompanhar o raciocínio do protagonista. Embora a
tradução tenha sido reduzida, o conteúdo permaneceu e as legendas tiveram o tempo
suficiente para leitura, sem causar prejuízo ao expectador. A frase the way I think they
should be done também foi reduzida e modulada para à minha maneira, pois, literalmente,
ficaria: do modo que eu acho que deveriam ser feitas (as coisas).

Roteiro Original
Legenda

HENRY - The quest for the Grail is not archaeology. It's a race against evil. If it is captured
by the Nazis,

the armies of darkness will march all over the face of the earth. Do you understand me?
HENRY – A busca pelo Graal

Não é arqueologia.

É a luta contra o mal.

Se cair nas mãos dos nazistas...

As forças do mal vencerão.

Entende?

Neste diálogo, passo a destacar as estratégias utilizadas nos diálogos em itálico. O primeiro
período, If it is captured by the Nazis, teve um outro tratamento na tradução: Se cair nas
mãos dos nazistas... (Santo Graal), mantendo-se a mesma idéia do original. Já o segundo
período, the armies of darkness will march all over the face of the earth, Henry usou toda
uma retórica para dizer quão era importante o Grall para ele, e as conseqüências que
acarretariam caso o Grall fosse capturado pelos nazistas. Neste caso, também foram
utilizadas a omissão e a modulação para sintetizar, não de forma retórica, mas sim de forma
objetiva, a mensagem de Henry. A legenda ficou As forças do mal vencerão. Já literalmente,
ficaria: Os exércitos das trevas marcharão sobre a face da terra.

Vejamos este próximo diálogo, quando Indy encontra com seu pai, Henry.

Roteiro Original
Legenda

INDY - I came here to save you.


Vim te salvar.

Podemos observar que foi omitido o sujeito Eu, o adjunto adnominal de lugar aqui (here),
a conjunção subordinativa final para (to) se transformou em pronome para substituir o
pronome você. Portanto, o diálogo original de seis palavras foi reduzido à metade.

A seguir, quando eles ainda estão amarrados e o tapete começa a pegar fogo embaixo
deles, há uma omissão que quero destacar em itálico:

Roteiro Original
Legenda

HENRY - I ought to tell you something.

INDY - Don't get sentimental now Dad, save it 'til we get out of here.

HENRY - The floor's on fire! See?!


Preciso te dizer uma coisa.

Conte mais tarde!

O chão está pegando fogo! Está vendo?


Literalmente seria: Nada de sentimentalismo agora, Papai, guarde para quando sairmos
daqui. Essa frase foi possível dizer com apenas três palavras: Conte mais tarde.

Nesta próxima cena, Henry foi capturado pelos nazistas e é mantido como refém dentro
do tanque de guerra. Um dos nazistas, Vogel, faz perguntas a Henry sobre o diário do Grall.
Eis o diálogo:

Roteiro Original
Legenda

VOGEL - What are you hiding?

VOGEL - What does the Diary tell you that it doesn't tell us?!

HENRY - It tells me that goose-stepping morons like yourself should try reading books
instead of burning them.
O quê está escondendo?

O que este diário diz a você que não sabemos?

Diz que idiotas como vocês

Deveriam ler livros

Em vez de queimá-los!

Podemos perceber a incidência da omissão, começando pelo pronome oblíquo me;


goose-stepping morons (débil mentais com andar de ganso) foi substituído apenas por
idiotas; foi omitido o try resultando numa legenda objetiva, sempre mantendo a mesma
mensagem.

4.2 O Rei Leão I

O filme O Rei Leão (Walt Disney Pictures, 1994) conta a história do leãozinho Simba que
queria ser rei. O pai de Simba, Mufasa, começa lhe mostrando todo o reino de cima da
grande pedra. Simba pergunta sobre uma região sombria ao fundo e Mufasa alerta o filho
para não ir lá:
Roteiro Original
Legenda

MUFASA – That´s beyond our borders.


Não faz parte do nosso reino.

É clara a modulação, pois uma região além dos nossos limites, da nossa fronteira,
significa que não faz parte do nosso reino, no caso, do território deles.

A seguir, Simba e sua amiga Nala, juntamente com Zazu, o papagaio fiel escudeiro do
Rei, vão até esse local sombrio, desobedecendo, assim, as ordens do pai.

Nala diz:

Roteiro Original
Legenda

NALA – We can get a big trouble.


Podemos entrar numa fria.

Entrar numa fria é o estilo nosso de dizer quando existe a possibilidade de um grande
problema ocorrer.

A seguir, os dois são perseguidos por hienas, lembrando que eles já não estão mais em
suas terras. Após a perseguição, as hienas desaparecem e Simba diz:

Roteiro Original
Legenda

SIMBA – We lost them.


Escapamos deles!
Nós os perdemos, no sentido de despistar, se livrar, é outra maneira de dizer que
escapamos deles.

Mas as hienas continuam perseguindo os dois leões. De repente, Mufasa entre em cena e
põe para correr os agressores! Mufasa fica muito sentido com seu filho pela desobediência. A
sós, pai e filho conversam. Simba se justifica: ele queria ser corajoso e valente igual ao pai.
Mufasa, além de dizer que ser corajoso não é se envolver com problemas, também diz:

Roteiro Original
Legenda

MUFASA – I am brave when I have to be.


A coragem tem hora e lugar.

Eu sou valente quando é preciso ser pode ser dito em outras palavras que a coragem
tem hora e lugar, conforme foi traduzido. Portanto, existe o momento certo para ser
corajoso. Neste diálogo também há o uso da transposição, pois brave, que no original é um
adjetivo (Sou corajoso), passou a ser um substantivo (A coragem), havendo também a
mudança do ponto de vista: sou corajoso – pessoal; a coragem – impessoal.

4.3 Perigo Real e Imediato

Passo a destacar uma modulação no filme Perigo Real e Imediato (1994). Numa conversa
entre o chefe de segurança dos EUA (Cutter) e um dos chefes do narcotráfico (Felix Cortez),
Cortez pergunta a Cutter o que acharia se fosse diminuída a entrada de drogas nos EUA. A
resposta de Cutter:

Roteiro Original
Legenda

CUTTER – I would say that you´re using to much your product.


Diria que você está cheirando muito.

Nesse diálogo, há os dois procedimentos / estratégias juntos. A modulação: o fato de


usar muito ter o mesmo significado, no nosso estilo popular de dizer, que cheirar muito
(drogas). Nessa modulação o tradutor quis até dar um tom cômico para o diálogo. Quanto à
omissão, foi omitido o sujeito Eu, e seu produto. Este diálogo, tendo dez palavras no original,
foi reduziu para seis na tradução para poder adequar a legenda ao tempo e espaço.

4.4 O Fugitivo

Passo agora a apontar algumas estratégias no filme O Fugitivo (1993). Esse filme conta a
história de um médico famoso (Richard Kimble) acusado injustamente de matar sua esposa,
pois ele alega que um homem de um só braço a matou. No caminho para a penitenciária, há
um acidente com o ônibus que levava os condenados, dentre eles, Kimble. A partir daí, o
médico foge para provar sua inocência.

Numa das primeiras cenas da caçada ao fugitivo, Kimble foge numa ambulância e entra
em um túnel. O agente federal Sam Gerard sobrevoa a área de helicóptero atrás dele e cerca
o fugitivo na saída do outro lado do túnel dizendo:

Roteiro Original
Legenda

SAM - All right, we got him.


Agora ele é nosso!

Agora ele é nosso ficou uma outra forma de dizer Pegamos ele, como no Roteiro
original.

Agora outra cena. Sam e seu assistente Kosmo vão em direção ao prédio onde acredita-
se que Kimble esteja lá. Eles ouvem uma conversa da polícia de Chicago, pelo rádio amador,
dizendo que Kimble matou um policial no metrô.

Roteiro Original
Legenda

Sam: What did he do, shot a cop?


O quê ele fez, matou um policial?
Kosmo: Chicago P. D. will eat him alive!
A polícia de Chicago o matará!

Nesse diálogo, a expressão will eat him alive é uma expressão coloquial para a polícia de
Chicago o matará. Pode-se usar também outras expressões que denotam matar, tais como:
enterrar vivo, acabar com, arrancar a pele, etc.

Essa próxima cena se passa no telhado do prédio onde o fugitivo brigava com seu falso
companheiro, Charles Nichols. Os dois estão sendo observados por um helicóptero da polícia
federal com um atirador de elite apontando sua arma para eles. O agente federal Sam
Gerard entra no telhado e o atirador começa a abrir fogo em direção ao fugitivo. Sam fica
desesperado e ordena que o helicóptero saia do local dizendo:

Roteiro Original
Legenda

SAM - I don’t wanna get shot!


Não quero levar chumbo!

I don’t wanna get shot foi traduzido como não quero levar chumbo, uma expressão
coloquial muito familiar na nossa língua. Poderia ser também: não quero levar tiro, bala, etc.

Na seqüência, o assistente de Sam comunica à polícia de Chicago:

Roteiro Original
Legenda

Newman: CPD, there´s a U. S. Marshall on the roof. Hold your fire.


Há um agente federal no telhado, não atirem!
Da mesma forma como o diálogo anterior, a expressão hold you fire (cessar fogo) é o
mesmo que dizer Não atirem!, já que fogo também significa tiro.

O filme também possui omissões como:

Roteiro Original
Legenda

Nichols: I´ve never seen that person in my life before.


Eu jamais o vi!

Esse diálogo, literalmente: eu nunca vi essa pessoa em minha vida antes foi
perfeitamente reduzida para eu jamais o vi, ficando numa frase curta e objetiva, ou seja,
dando a informação máxima em poucas palavras.

Roteiro Original
Legenda

Kimble: Do you remember what you´ve said?

Sam: I remember you´re appointed my gun at me


Você se lembra do que disse?

Você estava apontando minha arma pra mim!

Nesse diálogo, omitiu-se “Eu me lembro” da fala do Sam, já que não houve a
necessidade de repeti-la, pois ficou subentendido de acordo com a fala anterior de Kimble e
também para não formar uma legenda muito longa.

Podemos perceber que, em muitos casos, o tradutor legendista faz uso de um ou mais
procedimentos / estratégias em um mesmo diálogo, como um recurso para que o texto não
tenha uma impressão de tradução, mas sim, que as legendas sejam tão naturais quanto ao
próprio roteiro original, levando em conta as expressões idiomáticas, comparações com fins
cômicos, etc.
De acordo com a análise dessas legendas, pude observar, na maioria dos casos, a
incidência muito forte da síntese do roteiro original para a legendação. A essa síntese atribuo
a estratégia omissão, pois pode ser utilizada para sintetizar a mensagem em um
determinado espaço e tempo de leitura no filme. Penso que não haveria a necessidade de
colocar uma legenda completa de duas linhas se há a possibilidade de sintetizá-la em uma
linha, transmitindo sempre a mesma mensagem (Ver: técnicas de composição das legendas),
já que não podemos desviar a atenção do expectador da imagem do filme.

Ao fazer uma analogia com a análise do discurso, verifiquei que a estratégia omissão
relaciona-se de certo modo com a lei da exaustividade. Essa lei consiste numa não repetição
da lei da informação. Enquanto essa lei incide sobre o conteúdo dos enunciados e estipula
que não se deve falar para não se dizer nada, que os enunciados devem fornecer
informações novas ao destinatário, a lei da exaustividade especifica que o enunciador deve
dar a informação máxima, considerando-se a situação. A lei da exaustividade também exige
que não se deve esconder uma informação importante (Maingueneau, 2001). Portanto, uma
legenda (o enunciador) adequada é aquela que transmite a informação máxima, mas sem
informações desnecessárias que possam desvincular o expectador do filme.

Neste capítulo, discutimos algumas legendas levando em consideração o uso dos


procedimentos técnicos para tradução. A seguir, exporemos nossas minhas considerações
finais sobre o assunto.

Considerações Finais

Com este trabalho, procuramos apresentar os procedimentos que mais se destacam no


processo de tradução de um filme. Através de observações feitas entre o roteiro original e a
legenda, concluímos que a omissão, a modulação e a transposição são os procedimentos
predominantes que auxiliam o tradutor para transmitir a mensagem do enredo ao
telespectador, seguindo as técnicas da legenda. Há casos em que a omissão é obrigatória,
dependendo da velocidade e do tamanho do diálogo, e há casos em que é facultativa.

Na tradução de filmes, a omissão vai além de apenas omitir elementos. Ela consiste na
verdadeira redução, ou seja, na síntese da idéia empregada na legenda, que normalmente
poderá resultar no uso da modulação. Mesmo sob limitações de tempo e espaço, o tradutor
de filmes - o legendista – também tem a liberdade de transmitir a mensagem original ao
estilo coloquial de discurso da cultura alvo para a cultura de chegada, além do que, um filme
também pode apresentar uma terminologia própria de áreas como política, economia, saúde,
direito e outros. Portanto, o bom tradutor – o profissional – deve conhecer as técnicas de
legendagem e transmitir a mensagem original seguindo-as, além de possuir uma ampla
bagagem cultural, pois, afinal, são duas culturas diferentes postas lado a lado. Portanto, ele
deve transmitir a mensagem, ter ótima habilidade técnica e lingüística e percepção para
sintetizar e ainda ser capaz de fazer com que o público possa ler e entender a mensagem do
filme, garantindo, assim, sua apreciação.

Também procuramos discutir e valorizar a tradução de filmes, já que há muito pouco


material publicado sobre o assunto, restringindo-se apenas a alguns artigos e teses que
tentam, da mesma forma, divulgar a extrema importância desse trabalho. Temos que
reconhecer a árdua tarefa que envolve o processo de legendagem, pois apesar das
limitações impostas, o tradutor deve manter o conteúdo sem desviar a atenção do
expectador da imagem. Depois de melhor conhecer o processo que envolve a legendagem,
chegamos à conclusão de que a tradução de filmes também é relevante como objeto de
estudo.

BIBL

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