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Historia Da Legendagem PDF
Historia Da Legendagem PDF
Daniel R. Forner
Profª. Sônia M. M. Gazeta
Introdução
Dentre as mais diversas artes existentes no mundo, existe uma que se destacou muito
desde que foi lançada pelos Irmãos Lumière, na França em 1895: a chamada Sétima Arte – o
cinema – que se tornou uma das formas de diversão e entretenimento mais popular do
mundo.
Este trabalho tem como objetivo analisar alguns procedimentos / estratégias utilizados
pelo tradutor de filmes na hora de realizar sua atividade. Neste trabalho, vou me limitar
apenas a falar sobre a legendagem, já que a dublagem exige outras técnicas que merecem
um estudo à parte.
A tradução de um filme envolve uma série de requisitos que um tradutor deve ter sempre
em mente. Tais requisitos referem-se às técnicas em relação à composição das legendas,
que trabalham simultaneamente a relação tempo / espaço. Isso significa que o tradutor,
além de elaborar sua tradução, deve ficar atento para não ultrapassar os limites de tempo,
em segundos, e de espaços relacionados à quantidade de caracteres por legenda.
O trabalho do tradutor de filmes, neste caso o legendista (Alvarenga 2000), pode utilizar
alguns procedimentos / estratégias, que procuraremos descrever, neste estudo. Além disso,
discutiremos algumas questões relacionadas ao grau de liberdade do tradutor de filmes ao
desempenhar sua tarefa, bem como questões pertinentes à legenda.
Capítulo 1
O cinema, declarou o historiador Paul Rotha, “é a grande equação não resolvida entre a
arte e a indústria”. É uma das maiores formas de arte industrializada que dominou a cultura
no século XX. Desde seus primórdios, surgiu para se tornar uma indústria bilionária e uma
das mais espetaculares e originais expressões da arte contemporânea.
A história do cinema não começou com um “big bang”. Nenhum acontecimento exclusivo
- quer seja a invenção patenteada do cinetoscópio de Thomas Edison ou a primeira exibição
de filmes pelos Irmãos Lumière a um público pagante em 1895 – possa distinguir o pré-
cinema incerto do cinema em si. Pelo contrário, há uma seqüência que começa com os
primeiros testes de aparelhos de projeção de imagens em movimento, o que inclui não só o
surgimento, nos anos de 1890, do mecanismo reconhecido como cinema, mas também os
precursores da produção de imagem eletrônica. Os primeiros testes de transmissão de
imagens por um aparelho do tipo televisão são, de fato, tão antigos quanto o cinema:
Adriano de Paiva publicou seus primeiros estudos sobre o assunto em 1880, e George
Rignoux parece ter alcançado uma transmissão efetiva em 1909. Enquanto isso, certas
técnicas pré-cinema continuaram a ser usadas em conjunto com o cinema em si por volta de
1900-5, quando o cinema estava se firmando como uma nova forma de entretenimento e
ensino em massa. Portanto, a lanterna mágica, o filme e a televisão não constituem três
universos separados, com campos de estudo distintos, mas fazem parte, em conjunto, de um
único processo de evolução (Geoffrey Nowell-Smith: 1996, minha tradução).
Os filmes produzem a ilusão de movimento contínuo pela passagem rápida de uma série
de imagens distintas e seqüenciais à frente de uma fonte de luz, possibilitando que essas
imagens sejam projetadas na tela. Cada imagem é mantida brevemente – uma questão de
milésimos de segundos – e então é rapidamente substituída pela imagem seguinte. Se o
processo for rápido e suave o suficiente, e as imagens semelhantes uma das outras, as
imagens descontínuas são então percebidas como contínuas, criando-se, assim, a ilusão de
movimento.
A sensação luminosa produzida por um raio de luz que atinge a retina perdura, mesmo
depois que o raio cessou de chegar ao olho, aproximadamente durante um décimo de
segundo. O movimento que se aprecia no cinema é possível devido a essa persistência das
imagens na retina. Na tela se projeta uma imagem que se mantém durante um tempo muito
curto (aproximadamente 0,04 s), embora suficiente para que impressione a retina. A seguir é
substituída por outra, enquanto no olho persiste ainda a anterior, e assim sucessivamente;
de modo que para o olho essa sucessão produz o efeito de um movimento contínuo.
O obturador do projetor permite que a luz chegue ao quadro do filme somente quando
este se encontra em posição na janela, não deixando que a luz passe enquanto avança. Um
mecanismo de ganchos encaixa-se nas perfurações no filme para sincronizar o avanço com a
rotação do obturador.
1.2 Projetor
1.3 O filme
O filme consiste numa seqüência de quadros transparentes que mostram objetos e
pessoas em diferentes posições. O projetor de cinema possui, além da fonte luminosa e da
lente, uma garra que puxa o filme, quadro por quadro, através de orifícios. É equipado
também com um obturador, que corta o feixe luminoso quando se dá a mudança de quadro.
Quando o filme é projetado, o obturador corta o feixe de luz cada vez que ocorre
mudança de um quadro para outro. Nesse instante não há projeção. Entretanto não
percebemos esse corte porque, apesar de apagado o feixe de luz, a imagem ainda persiste
em nossa retina o tempo necessário para a troca de quadro. Se a freqüência é maior que
trinta lampejos por segundo, não conseguimos perceber a variação da luminosidade, e temos
a ilusão de que a luz permanece continuamente acesa.
Assim o filme é uma seqüência de quadros separados e a imagem projetada na tela é
sempre imóvel. Mas, como nossa vista guarda a imagem por um certo tempo, quando vemos
um quadro a imagem do anterior ainda está em nosso olho. Assim, não percebemos o
intervalo entre a projeção dos quadros de movimento.
1.4 Formatos
Atualmente, o cinema é conhecido como a única arte com um perfil tecnológico, que se
desenvolve cada vez mais.
Capítulo 2
Os filmes produzidos são exibidos por três veículos: o Cinema, o vídeo (VHS) e o DVD.
Como já mencionamos, a tradução do material é necessária pois é através dela que podemos
entender o filme através de duas modalidades: dublagem e legendagem.
Filme
Dublado Legendado
Cada uma das modalidades de tradução exige suas técnicas próprias. Este estudo se
limitará a uma abordagem sobre a legendagem que, por sua vez, divide-se em: Legendagem
para Cinema, Legendagem para Vídeo (VHS) e agora, legendagem para DVD. Neste caso,
estudaremos a legendagem para vídeo. Para falar do contexto histórico das legendas,
apresentamos uma cronologia dos primórdios do cinema:
A primeira fase do cinema é denominada cinema mudo (silent cinema, 1895 -1930) que
vai desde as primeiras exibições de trechos curtos de imagens (early cinema), passando pela
consolidação da indústria cinematográfica poderosa com fins comerciais (1915), até a
introdução do som no início da década de 1930. Embora essa época seja denominada
cinema mudo, os filmes exibidos não eram totalmente mudos: A trilha sonora era
reproduzida, ao vivo, separadamente por uma orquestra (Ou apenas um pianista,
dependendo da classe social onde o filme fosse exibido), ao lado da tela de projeção
enquanto o filme fosse exibido. Também nesse período, todos os filmes mudos tinham algum
tipo de sonoplastia, também executada ao vivo, para reprodução de alguns efeitos sonoros,
além de uma espécie de orador (lecturer) que fazia comentários em relação às imagens que
passavam na tela, explicando o conteúdo e o significado à platéia.
Com o passar dos anos, inovações tecnológicas para a época foram-se desenvolvendo. O
cinema cresceu rapidamente nas duas primeiras décadas de sua existência. Foi no período
de transição (transitional cinema), entre 1907 e 1913, em pleno cinema mudo, que as
legendas começaram a ser introduzidas para reproduzir os diálogos dos filmes. Este novo
recurso permitia ao público entender o enredo durante sua exibição, além de reduzir os
custos com a exibição, já que antes era preciso contratar vários oradores para transmitirem a
mensagem do filme ao público.
A mudança para o uso das legendas durante o período de transição foi um dos fatores
responsáveis pela vivacidade e credibilidade individual das personagens. As legendas eram
produzidas quadro a quadro, como se fosse uma cena do filme, com um fundo preto, pois
nessa época não havia tecnologia que permitisse “imprimir” as legendas na película
cinematográfica, nem mesmo programas de computador que facilitasse a composição das
legendas e sua inserção na tela conforme se faz hoje. Inicialmente, as legendas eram
explicativas, sempre precedendo a cena e proporcionando descrições longas sobre a ação
seguinte. Gradativamente, legendas explicativas mais curtas se distribuíram por toda a cena,
substituindo as mais longas. O mais importante é que as legendas de diálogos começaram a
aparecer a partir de 1910. Os cineastas experimentaram a colocação dessas legendas,
primeiramente inserindo-as antes da cena onde houvesse o diálogo. Nessa época, as
legendas eram escritas no mesmo idioma do país de origem para exibição local; e já
traduzidas para o idioma de determinado país, onde quer que fosse exibido. A partir de
1913, as legendas começaram a ser introduzidas no momento da fala da personagem. Isso
era uma forma de promover uma integração mais forte entre o diálogo e o ator,
fortalecendo, assim, a individualidade da personagem.
Até o presente, a literatura e estudos sobre tradução cinematográfica parecem não ter se
preocupado em definir, do ponto de vista lingüístico, o que é uma legenda. Até mesmo os
profissionais da área estão em busca de um conceito, apesar de a legenda estar presente
nas telas desde 1913. Etimologicamente, “legenda” significa ler.
Ela constitui, como já visto, um dos elos de comunicação entre o filme e o público:
nitidamente, podemos perceber que é a tradução escrita da fala que acompanha a imagem
sendo, portanto, visual, pois consiste na impressão de um texto escrito na imagem.
Como as legendas transmitem por escrito algo que foi falado, uma das possibilidades
seria considerar que elas transformam a língua falada em língua escrita. Marcuschi (1994),
em seu artigo intitulado Da Fala para a Escrita, chama o processo de transformação da fala
para a escrita de retextualização. Na realidade, a língua escrita possui suas marcas próprias
referentes à legibilidade do texto, onde as sentenças seguem uma ordem lingüística.
Roteiro (texto escrito) ® Representação do ator (texto falado) ® LEGENDA (texto escrito
traduzido)
De acordo com essa perspectiva mencionada acima, podemos observar que o processo
de composição de legendas não segue os procedimentos comuns de uma retextualização;
porém envolve maior complexidade em termos de manobras lingüísticas. As etapas de
transição (escrita – fala – tradução escrita) envolvem operações de ajustes da linguagem
para que haja clareza e legibilidade. Seguindo esse raciocínio, podemos atribuir esse
conjunto de características próprias da legenda à formação de um gênero discursivo que
chamamos de legenda, pois, segundo Bakhtin (1993), “cada esfera de utilização da língua
elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo denominado de gêneros do
discurso.” Portanto, podemos considerar a legenda como um gênero discursivo com suas
características próprias, atuando na esfera ou no mundo dos filmes. Além do processo
descrito acima, é necessário que o tradutor siga as regras técnicas que serão descritas a
seguir.
A legenda acima possui 24 caracteres, portanto, o tempo que ficará na tela será de 2
segundos.
A próxima legenda é um vocativo, extraído da fala de Helen Kimble. Como ela possui
menos de 15 caracteres, ficará na tela apenas 1 segundo, servindo de exemplo também para
outras legendas de uma ou duas palavras como: Vai!, Corra!, Rápido! Peguem-no!, Agora!,
etc.
Richard!
Nesta próxima legenda composta de duas linhas, a primeira linha tem 15 caracteres,
portanto, 1 segundo, mais a linha de baixo com 27 caracteres, portanto, 2 segundos.
Somando o tempo das duas linhas, essa legenda ficará ao todo 3 segundos na tela. Fala de
Kimble:
Quando cheguei,
1 – A tradução:
Para Alvarenga (2000) essa etapa inicial pode ser chamada de legendação. Nesta etapa,
o tradutor traduz os diálogos e compõem as legendas, recebendo, assim, o título de tradutor
legendista. Alvarenga também afirma que o tradutor legendista deve ter, além da habilidade
com a língua portuguesa e domínio cultural, a habilidade para articular a língua com o
objetivo de compor a legenda em português. Para isso, é necessário que haja percepção da
cena e “enxugar ao máximo possível” o diálogo para obter uma legenda adequada. Muitas
vezes, as pessoas criticam a tradução de um filme sem contudo, conhecer o rigoroso e
delicado processo que é traduzir e fazer legendas.
2 – A Marcação:
3 – A Revisão
4 – Gravação Final
Esta é a etapa final em que o revisor encaminhará o arquivo com as legendas marcadas e
revisadas para o responsável pelo centro de masterização. Neste centro, que consiste numa
enorme ilha de edição, as legendas serão gravadas no filme, em uma nova fita matriz,
através de equipamento profissional de última geração. A este responsável, Alvarenga
sugere que seja chamado de legendador , pois é o profissional técnico cuja tarefa é de
gravar o filme, já fazendo a inserção das legendas. Depois de feita a nova fita matriz já com
as legendas gravadas, esta fita é encaminhada para o centro de duplicação onde são feitas
centenas de duplicações ou replicações, a partir do original, destinando-se, assim, para
serem comercializadas. Para finalizar, todo esse processo é chamado de legendagem,
abrangendo as quatro etapas.
A legenda deve permanecer na tela durante o tempo adequado para leitura, nem mais -
tornando se cansativa e prendendo a atenção desnecessariamente, e nem menos - tornando
a legenda muito rápida para a leitura. Portanto, é necessário que haja sincronismo entre a
fala e a velocidade com que é realizada, ou seja, uma boa legenda deve entrar junto com a
fala e sair junto com ela, observando-se sua velocidade. A velocidade da fala é o fator
determinante nos seguintes aspectos: quando uma determinada frase é falada
pausadamente a legenda pode sair logo após o término; se a fala é feita de forma mais
rápida a legenda será mantida um pouco mais tempo na tela ou se ligará com a fala
seguinte, como nos dois exemplos abaixo extraídos do filme Indiana Jones e A Última
Cruzada (Paramount : 1989), envolvendo a fala de Henry Jones e Indy, respectivamente,
formando um único diálogo:
- Eu sei, Pai!
****************************************
- Ela é nazista!
- O quê disse?
Nesses dois diálogos acima, cada linha é a fala de uma personagem diferente que se uniu
numa só legenda, pois a velocidade de ambas as falas foi muito rápida. O legendista, neste
caso, também atua como um marcador, mas um marcador “virtual”, pois, durante a
tradução, ele precisa contar o tempo de cada diálogo.
Há também critérios como a mudança de cena. Neste caso é ideal que a legenda não
transponha uma cena, a não ser que a fala também a transponha. Se assim for, a legenda
será em itálico.
2.4 Tamanho
Outro fator determinante é a limitação do número de caracteres permitidos por linha,
que, como já foi dito, irá variar de acordo com o software utilizado para a legendagem -
Muitas empresas que produzem legendas normalmente utilizam o programa SYSTIMES e
também o TRANSPOTTING. Já a VIDEOLAR utiliza o programa sueco de marcação e
legendagem CAVENA SCAN TITLING. Considerando a limitação do número de caracteres
permitidos por linha o tempo máximo e mínimo para leitura, o tradutor, muitas vezes, terá
que fazer resumos e adaptações para adequar a legenda às falas.
Capitulo 3
Como vimos, a tradução de um filme para legendagem envolve uma série de requisitos
que um tradutor deve ter sempre em mente. Esses requisitos, como vimos no capítulo
anterior, referem-se às técnicas em relação à composição das legendas, além de o
profissional ter uma ampla bagagem cultural e domínio nas articulações dos diálogos no
estilo da língua alvo.
Para realizar este estudo, alguns filmes legendados foram selecionados, sempre fazendo
uma comparação entre o Roteiro original e a tradução. Nessas observações, constatamos
que o tradutor adota algumas estratégias para tradução em vários diálogos, em virtude das
técnicas impostas para a legendagem, a fim de transmitir da melhor maneira possível a fala
das personagens.
It is a known fact
\ é \ fato conhecido
3.3 A TRANSPOSIÇÃO
“...reproduzir a mensagem da TLO no TLT4 mas sob um ponto de vista diverso, o que
reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam a expressão do real ...”
3.5 OMISSÃO
3.6 EQUIVALÊNCIA
3.7 EXPLICITAÇÃO
Ao passo que a omissão consiste em omitir elementos desnecessários para a LT, como é
o caso dos pronomes pessoais (ver: omissão), a explicitação é o processo inverso quando se
traduz do português para o inglês, já que é necessária a explicitação do pronome, pois sua
presença é obrigatória em inglês. (Vazquez-Ayora 1977, q.v. 2.1.4, p.46).
3.8 A COMPENSAÇÃO
3.10 AS MELHORIAS
3.11 A TRANSFERÊNCIA
3.13 O DECALQUE
3.14 ADAPTAÇÃO
É o limite extremo da tradução: aplica-se em casos onde a situação toda a que se refere
o TLO não existe na realidade extralingüística dos falantes da LT. Esta situação pode ser
recriada por uma outra equivalente na realidade extralingüística da LT.
Diante disso, mesmo sob as limitações de tempo e espaço impostos pela legenda, o
tradutor pode desfrutar de uma certa liberdade para realizar a transferência da mensagem
do original para a língua alvo, sempre com o objetivo de formular uma legenda natural,
seguindo o ritmo do enredo, das cenas, para que não desvie a atenção do expectador do
filme.
O filme Indiana Jones e A Última Cruzada (1989) conta as aventuras de Indiana Jones e
seu pai em busca do Santo Graal, o cálice que, segundo a lenda, foi usado por Cristo na
última ceia. Neste filme podemos observar algumas modulações nos seguintes diálogos:
Roteiro Original
Legenda
Essa cena se passa no início do filme. Nesse diálogo, houve uma concordância de
significados entre as versões. Dizer que as passagens subterrâneas são fundas em sentido
horizontal (e não de profundidade) é o mesmo de dizer que elas se estendem por
quilômetros, conforme mencionado no Roteiro original, por se tratar de passagens
subterrâneas.
Esta próxima cena se passa depois que o jovem Indiana recupera um crucifixo de ouro
que estava sendo roubado por um suposto dono (Fedora5). Este recupera a peça, e,
juntamente com um xerife local, diz:
Roteiro Original
Legenda
FEDORA: You lost today, kid, but that doesn't mean you have to like it!
Hoje você perdeu, mas não quer dizer que não ganhe.
Hoje você perdeu, que quer dizer “perder a parada”. Os dois diálogos basicamente dizem
a mesma mensagem. Literalmente no roteiro original, Fedora quis dizer: Mas não significa
que precisa gostar de perder. Já na tradução, o tradutor optou por fazer uma alteração que
soe melhor na nossa língua para transmitir a mesma mensagem do original: “... mas não
quer dizer que não ganhe.” Portanto, ao analisar ambos pontos de vista, Indiana um dia iria
vencer e que ele não seria um perdedor.
Nesse próximo diálogo, Indy fala sobre seu pai a Walter Donovam:
Roteiro Original
Legenda
INDY - Grail lore is his hobby. He's a teacher of Medieval Literature. The one the students
hope they don't get.
Seu hobby é os mitos do Graal. Ele é professor de Literatura Medieval, matéria da qual os
alunos tentam fugir.
Como o próprio diálogo diz, o pai de Indy (Henry Jones) é professor de uma disciplina
que não é do agrado dos alunos. Portanto, dizer que a Literatura Medieval é uma disciplina
que os alunos esperam não ter é o motivo de eles tentarem fugir. O que importa é que eles
não gostam mesmo.
Na próxima cena, Indy e seu pai estão sentados cada um na sua cadeira e amarrados um
de costas para o outro. Então, a traidora nazista Elza Schneider dirige a palavra para Indy.
Eis o diálogo, dando ênfase à fala de Indy:
Roteiro Original
Legenda
ELZA - Don't look at me like that-we both wanted the Grail, I would have done anything to
get it. You would have done the same.
É o que pensa?
Nesta cena, Indy contraria a opinião de Elza. Literalmente, segundo original, seria
lamento por você pensar assim. O tradutor optou por uma colocação mais próxima ao nosso
estilo e de uma forma mais reduzida, fazendo o uso da modulação e da omissão, pois, além
de manter a mesma idéia segundo o original, observe que a tradução se transformou numa
pergunta. Além da escolha, É o que pensa?, poderia também ser usado a colocação É aí que
você se engana!, pois, neste caso, a modulação mudou o ponto de vista semântico, sem
transformá-la numa pergunta, mantendo a frase no modo afirmativo como no original.
Portanto, a tradução literal de 29 caracteres foi traduzida para uma legenda de 10
caracteres: É o que pensa?
Roteiro Original
Legenda
Eu sei, Pai!
Estou acostumado!
Esse diálogo se passa na cena em que pai (Henry) e filho (Indy) tentam escapar de dois
aviões nazistas. Eles estão passando por perigos a que o pai não está acostumado, só o
filho, Indiana, que diz literalmente, acontece comigo a toda hora (Perigo). Na tradução final
se estabeleceu: estou acostumado!, por ele correr perigo a toda hora. Poderia até arriscar
uma outra opção como: pra mim já virou rotina. A fala de Henry dizendo é uma nova
experiência pra mim literalmente como no original, ficou É uma novidade pra mim!, o que
também poderia ser expressa como: nunca passei por isso!
Nesse mesmo filme, destaco algumas omissões, que também não fugiram da mensagem
original. Foram usadas por se tratarem de falas rápidas, e se as legendas fossem longas, iria
atrapalhar a observação da cena.
Esta cena se passa dentro da biblioteca, em Veneza, onde Indy, Elza Schneider e Marcus
Brody procuram pistas sobre o paradeiro do pai de Indy. Num determinado momento, Elza
sai de cena e Indy pede a Marcus para não contar a ela sobre o diário do Grall, escrito pelo
pai de Indy.
Roteiro Original
Legenda
INDY - My dad sent me this Diary for a reason. Until we find out why, I suggest we keep it to
ourselves.
Não conte a ela que tenho o diário.
Roteiro Original
Legenda
INDY - Since I've met you, I've nearly been incinerated, drowned, shot at, and chopped into
fish bait. We're caught in the middle of something sinister here. My guess is Dad found out
more than he was looking for. And until I'm sure..., I'm going to continue to do things the
way I think they should be done.
INDY - Até agora fui quase afogado,
Incinerado e picado. 1
No diálogo acima, a velocidade da fala de Indy foi muito rápida e, para não perder o
conteúdo, foi necessário fazer um resumo de toda a fala, resultando em quatro legendas. Por
exemplo, a frase Since I've met you foi reduzida e modulada para Até agora, para sintetizar
a seqüência dos acontecimentos até o presente momento. Se fosse para colocar todo o texto
em legendas, elas teriam um tempo muito curto na tela – a metade do tempo requisitado -
impossibilitando o expectador de acompanhar o raciocínio do protagonista. Embora a
tradução tenha sido reduzida, o conteúdo permaneceu e as legendas tiveram o tempo
suficiente para leitura, sem causar prejuízo ao expectador. A frase the way I think they
should be done também foi reduzida e modulada para à minha maneira, pois, literalmente,
ficaria: do modo que eu acho que deveriam ser feitas (as coisas).
Roteiro Original
Legenda
HENRY - The quest for the Grail is not archaeology. It's a race against evil. If it is captured
by the Nazis,
the armies of darkness will march all over the face of the earth. Do you understand me?
HENRY – A busca pelo Graal
Não é arqueologia.
Entende?
Neste diálogo, passo a destacar as estratégias utilizadas nos diálogos em itálico. O primeiro
período, If it is captured by the Nazis, teve um outro tratamento na tradução: Se cair nas
mãos dos nazistas... (Santo Graal), mantendo-se a mesma idéia do original. Já o segundo
período, the armies of darkness will march all over the face of the earth, Henry usou toda
uma retórica para dizer quão era importante o Grall para ele, e as conseqüências que
acarretariam caso o Grall fosse capturado pelos nazistas. Neste caso, também foram
utilizadas a omissão e a modulação para sintetizar, não de forma retórica, mas sim de forma
objetiva, a mensagem de Henry. A legenda ficou As forças do mal vencerão. Já literalmente,
ficaria: Os exércitos das trevas marcharão sobre a face da terra.
Vejamos este próximo diálogo, quando Indy encontra com seu pai, Henry.
Roteiro Original
Legenda
Podemos observar que foi omitido o sujeito Eu, o adjunto adnominal de lugar aqui (here),
a conjunção subordinativa final para (to) se transformou em pronome para substituir o
pronome você. Portanto, o diálogo original de seis palavras foi reduzido à metade.
A seguir, quando eles ainda estão amarrados e o tapete começa a pegar fogo embaixo
deles, há uma omissão que quero destacar em itálico:
Roteiro Original
Legenda
INDY - Don't get sentimental now Dad, save it 'til we get out of here.
Nesta próxima cena, Henry foi capturado pelos nazistas e é mantido como refém dentro
do tanque de guerra. Um dos nazistas, Vogel, faz perguntas a Henry sobre o diário do Grall.
Eis o diálogo:
Roteiro Original
Legenda
VOGEL - What does the Diary tell you that it doesn't tell us?!
HENRY - It tells me that goose-stepping morons like yourself should try reading books
instead of burning them.
O quê está escondendo?
Em vez de queimá-los!
O filme O Rei Leão (Walt Disney Pictures, 1994) conta a história do leãozinho Simba que
queria ser rei. O pai de Simba, Mufasa, começa lhe mostrando todo o reino de cima da
grande pedra. Simba pergunta sobre uma região sombria ao fundo e Mufasa alerta o filho
para não ir lá:
Roteiro Original
Legenda
É clara a modulação, pois uma região além dos nossos limites, da nossa fronteira,
significa que não faz parte do nosso reino, no caso, do território deles.
A seguir, Simba e sua amiga Nala, juntamente com Zazu, o papagaio fiel escudeiro do
Rei, vão até esse local sombrio, desobedecendo, assim, as ordens do pai.
Nala diz:
Roteiro Original
Legenda
Entrar numa fria é o estilo nosso de dizer quando existe a possibilidade de um grande
problema ocorrer.
A seguir, os dois são perseguidos por hienas, lembrando que eles já não estão mais em
suas terras. Após a perseguição, as hienas desaparecem e Simba diz:
Roteiro Original
Legenda
Mas as hienas continuam perseguindo os dois leões. De repente, Mufasa entre em cena e
põe para correr os agressores! Mufasa fica muito sentido com seu filho pela desobediência. A
sós, pai e filho conversam. Simba se justifica: ele queria ser corajoso e valente igual ao pai.
Mufasa, além de dizer que ser corajoso não é se envolver com problemas, também diz:
Roteiro Original
Legenda
Eu sou valente quando é preciso ser pode ser dito em outras palavras que a coragem
tem hora e lugar, conforme foi traduzido. Portanto, existe o momento certo para ser
corajoso. Neste diálogo também há o uso da transposição, pois brave, que no original é um
adjetivo (Sou corajoso), passou a ser um substantivo (A coragem), havendo também a
mudança do ponto de vista: sou corajoso – pessoal; a coragem – impessoal.
Passo a destacar uma modulação no filme Perigo Real e Imediato (1994). Numa conversa
entre o chefe de segurança dos EUA (Cutter) e um dos chefes do narcotráfico (Felix Cortez),
Cortez pergunta a Cutter o que acharia se fosse diminuída a entrada de drogas nos EUA. A
resposta de Cutter:
Roteiro Original
Legenda
4.4 O Fugitivo
Passo agora a apontar algumas estratégias no filme O Fugitivo (1993). Esse filme conta a
história de um médico famoso (Richard Kimble) acusado injustamente de matar sua esposa,
pois ele alega que um homem de um só braço a matou. No caminho para a penitenciária, há
um acidente com o ônibus que levava os condenados, dentre eles, Kimble. A partir daí, o
médico foge para provar sua inocência.
Numa das primeiras cenas da caçada ao fugitivo, Kimble foge numa ambulância e entra
em um túnel. O agente federal Sam Gerard sobrevoa a área de helicóptero atrás dele e cerca
o fugitivo na saída do outro lado do túnel dizendo:
Roteiro Original
Legenda
Agora ele é nosso ficou uma outra forma de dizer Pegamos ele, como no Roteiro
original.
Agora outra cena. Sam e seu assistente Kosmo vão em direção ao prédio onde acredita-
se que Kimble esteja lá. Eles ouvem uma conversa da polícia de Chicago, pelo rádio amador,
dizendo que Kimble matou um policial no metrô.
Roteiro Original
Legenda
Nesse diálogo, a expressão will eat him alive é uma expressão coloquial para a polícia de
Chicago o matará. Pode-se usar também outras expressões que denotam matar, tais como:
enterrar vivo, acabar com, arrancar a pele, etc.
Essa próxima cena se passa no telhado do prédio onde o fugitivo brigava com seu falso
companheiro, Charles Nichols. Os dois estão sendo observados por um helicóptero da polícia
federal com um atirador de elite apontando sua arma para eles. O agente federal Sam
Gerard entra no telhado e o atirador começa a abrir fogo em direção ao fugitivo. Sam fica
desesperado e ordena que o helicóptero saia do local dizendo:
Roteiro Original
Legenda
I don’t wanna get shot foi traduzido como não quero levar chumbo, uma expressão
coloquial muito familiar na nossa língua. Poderia ser também: não quero levar tiro, bala, etc.
Roteiro Original
Legenda
Roteiro Original
Legenda
Esse diálogo, literalmente: eu nunca vi essa pessoa em minha vida antes foi
perfeitamente reduzida para eu jamais o vi, ficando numa frase curta e objetiva, ou seja,
dando a informação máxima em poucas palavras.
Roteiro Original
Legenda
Nesse diálogo, omitiu-se “Eu me lembro” da fala do Sam, já que não houve a
necessidade de repeti-la, pois ficou subentendido de acordo com a fala anterior de Kimble e
também para não formar uma legenda muito longa.
Podemos perceber que, em muitos casos, o tradutor legendista faz uso de um ou mais
procedimentos / estratégias em um mesmo diálogo, como um recurso para que o texto não
tenha uma impressão de tradução, mas sim, que as legendas sejam tão naturais quanto ao
próprio roteiro original, levando em conta as expressões idiomáticas, comparações com fins
cômicos, etc.
De acordo com a análise dessas legendas, pude observar, na maioria dos casos, a
incidência muito forte da síntese do roteiro original para a legendação. A essa síntese atribuo
a estratégia omissão, pois pode ser utilizada para sintetizar a mensagem em um
determinado espaço e tempo de leitura no filme. Penso que não haveria a necessidade de
colocar uma legenda completa de duas linhas se há a possibilidade de sintetizá-la em uma
linha, transmitindo sempre a mesma mensagem (Ver: técnicas de composição das legendas),
já que não podemos desviar a atenção do expectador da imagem do filme.
Ao fazer uma analogia com a análise do discurso, verifiquei que a estratégia omissão
relaciona-se de certo modo com a lei da exaustividade. Essa lei consiste numa não repetição
da lei da informação. Enquanto essa lei incide sobre o conteúdo dos enunciados e estipula
que não se deve falar para não se dizer nada, que os enunciados devem fornecer
informações novas ao destinatário, a lei da exaustividade especifica que o enunciador deve
dar a informação máxima, considerando-se a situação. A lei da exaustividade também exige
que não se deve esconder uma informação importante (Maingueneau, 2001). Portanto, uma
legenda (o enunciador) adequada é aquela que transmite a informação máxima, mas sem
informações desnecessárias que possam desvincular o expectador do filme.
Considerações Finais
Na tradução de filmes, a omissão vai além de apenas omitir elementos. Ela consiste na
verdadeira redução, ou seja, na síntese da idéia empregada na legenda, que normalmente
poderá resultar no uso da modulação. Mesmo sob limitações de tempo e espaço, o tradutor
de filmes - o legendista – também tem a liberdade de transmitir a mensagem original ao
estilo coloquial de discurso da cultura alvo para a cultura de chegada, além do que, um filme
também pode apresentar uma terminologia própria de áreas como política, economia, saúde,
direito e outros. Portanto, o bom tradutor – o profissional – deve conhecer as técnicas de
legendagem e transmitir a mensagem original seguindo-as, além de possuir uma ampla
bagagem cultural, pois, afinal, são duas culturas diferentes postas lado a lado. Portanto, ele
deve transmitir a mensagem, ter ótima habilidade técnica e lingüística e percepção para
sintetizar e ainda ser capaz de fazer com que o público possa ler e entender a mensagem do
filme, garantindo, assim, sua apreciação.
BIBL