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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

Centro de Psicologia – Paraíso

1. IDENTIFICAÇÃO

ÁREA: Práticas Psicológicas - Plantão Psicológico.

PRONTUÁRIO Nº 2503

1.1. Relatores
Estagiários responsáveis: Luciana Tedesco Andreazza Costa – RA T67639-8.
João Laforé Daniel - RA T47276-8.

Supervisor: André Prado Nunes. CRP 06/71982.

1.2. Interessados
A.F.R., sexo feminino, 48 anos, odontóloga.

1.3. Assunto
Atendimento psicológico com A.F.R. – realizado em 18 de março de 2019.

2. DESCRIÇÃO DA DEMANDA
A paciente A.F.R procurou o serviço de plantão psicológico afim de receber um atendimento
emergencial, em virtude de ter sofrido uma crise compatível com ansiedade, bastante acentuada há 4
dias. Durante o atendimento contou que estava se sentindo muito triste e deprimida e que precisava
conversar com alguém.
Relatou que há cerca de 1 (um) ano separou-se do pai de seus dois filhos, que no momento vem
tendo dificuldades financeiras e muita angústia por estar “fazendo” [sic] com que os filhos, um menino
de 18 anos e uma menina de 17, “passem por isso” [sic]. Relatou de forma ansiosa e emocionada que
já tentou o suicídio há alguns anos e que seu filho também tentou suicidar-se há cerca de 1 ano.
A.F.R. disse que se sente responsável e culpada por todas as tristezas e dificuldades que os filhos já
passaram e estão passando em virtude do casamento, e agora da separação. Conta ainda, chorando,
que por vezes foi vítima de violência física, moral e psicológica por parte de seu ex-cônjuge, tendo
sido agredida fisicamente pela primeira vez na gravidez de seu primeiro filho.
Não suportando mais toda a angústia e sofrimento, A.F.R resolveu, a pedido também de seu filho,
procurar pelo plantão na tentativa de conseguir ajuda para superar as atuais dificuldades e sentir-se
mais fort
e e equilibrada para retomar sua vida.

3. PROCEDIMENTO
Atendimento de Plantão Psicológico na abordagem Fenomenológica Existencial com objetivo de
atender a demanda psicológica imediata e emergente a partir de intervenções coerentes com o
referencial teórico e com a população atendida.
4. DESCRIÇÃO DO ATENDIMENTO
A.F.R chegou bastante animada e logo após nos cumprimentarmos, disse ter uma notícia muito boa
que a estava deixando muito animada e feliz – conseguira recursos financeiros e estava abrindo uma
empresa em seu nome para voltar a trabalhar, começaria a atender como odontóloga. A.F.R. também
demonstrou estar contente, pelo fato do ex-marido, ter concordado em desocupar o apartamento
onde mora (ainda não quitado) , para colocá-lo à venda , e ambos terem o mesmos direitos quanto a
esse imóvel. Nesse sentido, tanto o advogado dela quanto do marido, haviam marcado um encontro
para tratar do assunto. Perguntamos como tinha sido sua semana, e se conseguira pensar sobre os
pontos que levantamos no último encontro, a respeito de seus sentimentos de culpa. A.F.R. contou
que pensou bastante sobre o assunto, e reuniu os filhos para uma conversa, ocasião em que
perguntou a eles como estavam se sentindo em relação ao lugar que estavam morando, que é
pequeno, e quanto ao fato de estarem passando por dificuldades financeiras depois da separação.
Os filhos asseguraram que não deveria se preocupar com essas questões, pois não estavam
achando a nova moradia desconfortável , e a situação financeira não estava tão ruim, já que não
estava lhes faltando nada que fosse urgente para o momento. Disseram também que estavam sendo
mais felizes depois da separação. Diante disso, A.F.R. se sentiu mais tranquila , e disse que gostaria
que as coisas melhorassem, mas que realmente percebia que não existia motivos para que se
sentisse culpada. Salientamos que a atitude de ter feito essa reunião com os filhos, para que todos
tivessem a oportunidade de expor seus pontos de vista a respeito da atual situação, foi uma iniciativa
bastante importante, já que pode verificar o quanto seus pensamentos a respeito do “sofrimento” dos
filhos estava ou não adequado à realidade. Sugerimos que toda vez que lhe surgisse alguma dúvida
a respeito do bem-estar de seus filhos, conversasse abertamente com eles a fim de evitar
pensamentos irreais e inadequados, o que não lhe faria bem. Colocamos em questão a importância
da harmonia que estavam vivendo, o quanto essa situação positiva era mais relevante naquele
momento, do que ter uma vida financeira mais confortável. Enfatizamos que a situação atual parece
ser provisória, já que vai voltar a trabalhar e, dessa forma, logo poderiam estar com a vida financeira
estabilizada, e, vivendo momentos de paz e tranquilidade em casa. Parabenizamos A.F.R. pelas
iniciativas tomadas até então, reforçando suas atitudes positivas em relação aos fatos recentes.
No encontro anterior sugerimos que A.F.R. marcasse uma consulta com um psiquiatra, para
conversar sobre a ideação suicida, e os sintomas que teve durante uma crise de ansiedade no dia
06/03/2019. A.F.R. foi ao psiquiatra, e agora está fazendo uso de uma medicação para dormir (não
lembra o nome) e de Escitalopram, que é indicado para o tratamento da depressão, e outros
transtornos mentais, como ansiedade, síndrome do pânico ou transtorno obsessivo compulsivo
(TOC).
A.F.R. disse estar se sentindo bem melhor após o nosso primeiro encontro, que conseguiu perceber
que ainda tem questões importantes a serem resolvidas consigo mesma, a respeito da separação, já
que percebeu que não se sente tão indiferente ao final do casamento como achou que fosse. Mas
que essas questões ela deixaria para depois, já que seu foco agora estava (no lugar de “estava”
sugiro a palavra “está”) voltado para o retorno ao mercado de trabalho, quer dar ( no lugar de “quer
dar “sugiro a palavra “dando” ) ênfase à sua vida profissional.
Perguntamos se havia mais alguma questão que ela achasse importante levantar e ela disse que
não, e que iria acolher nossa sugestão de fazer psicoterapia, mas que começaria depois que já
estivesse trabalhando, pois durante os próximos 15 dias iria se dedicar à abertura da empresa e início
das atividades profissionais.
Entendendo que não havia mais nada a ser trabalhado naquele momento, nos colocamos a
disposição, nos despedimos e reforçamos a importância da psicoterapia para que ela possa resolver
conflitos internos, e dessa forma fortalecer sua saúde mental prevenindo, possíveis quedas
emocionais.

5. ANÁLISE
Mahfoud (2004) explica que o objetivo do Plantão, é o de acolher o sofrimento das pessoas, no exato
momento em que elas necessitam. Portanto, este serviço pode atender a demanda em um momento
de crise; encaminhar para um serviço adequado, e até mesmo aumentar a tolerância do paciente, na
espera por um atendimento psicológico convencional.
A.F.R. procurou o plantão psicológico em um momento de crise que, segundo Cunha, é definida
como: "alteração, desequilíbrio repentino, estado de dúvida e incerteza, tensão, conflito"
(CUNHA,1982, p.228).
Moffatt descreve a experiência da crise, como se o indivíduo sentisse "uma vivência de paralisação
do processo de vida, invadido por um sentimento de confusão e solidão. O futuro parece vazio e o
presente fica paralisado." (MOFFAT,1986, p. 23).
Tendo em vista o que nos trouxe no primeiro encontro, A.F.R. estava experienciando (sugiro a
palavra “vivenciando” no lugar de “experienciando”) uma situação em que sentia grande culpa por
diversos acontecimentos decorrentes de sua separação, principalmente o fato de os filhos estarem
passando por dificuldades financeiras e não desfrutarem o mesmo conforto de quando se encontrava
casada. Não conseguia perceber os fatores positivos que desdobraram-se a partir de sua atitude de
se separar. Desta forma, sentia-se ansiosa, desmotivada, defectiva e não percebia com clareza quais
os reais sentimentos e pensamentos de seus filhos em relação a toda problemática. Também não se
sentia segura para retomar sua vida profissional, o que possibilitaria reverter de forma mais efetiva o
quadro financeiro em que se encontrava, e que era motivo de muita angústia.
Tanto no primeiro encontro, quanto neste, procuramos pontuar a importância de escutar os filhos, e
tentar acreditar no que estes externavam: o quanto se sentiam bem em estarem morando com ela , e
estarem vivendo momentos de maior tranquilidade, e harmonia dentro de casa. Ponderamos que o
fato de atualmente viverem com maior qualidade nas relações dentro de casa, seria muito mais
relevante do que uma situação financeira confortável. Enfim, tentamos ajudá-la a ressignificar alguns
conceitos acerca dos acontecimentos que estavam desencadeando sofrimento.
A.F.R. neste encontro, chegou com ânimo renovado, bastante confiante em relação ao importante
passo de voltar a trabalhar, já tendo tomado atitudes importantes para viabilizar este projeto (já
contratara um contador que estava abrindo uma empresa em seu nome). Também refletiu sobre a
validade de seus sentimentos de culpa, o que lhe proporcionou um maior bem-estar, entendendo que
responsabilidade é diferente de culpa.
Percebeu ainda que precisa trabalhar a questão da separação, fato que ainda a magoava. Disse que
estava segura para seguir em frente e que assim que as questões de sua retomada profissional
estivessem resolvidas, iria começar um tratamento psicoterápico em nossa clínica-escola.
Tendo em vista que “a função do plantonista, é o de ajudar o cliente a ter uma visão mais ampliada
de si e do mundo , estando disponível para compreender e acolher a experiência deste, no momento
de sua expressão, isto é, frente aquela problemática que gerou o pedido de ajuda”. MAHFOUD (1987)
entendemos que cumprimos o nosso papel e que o objetivo do plantão psicológico foi atingido.

São Paulo, 22 de março de 2019.

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Luciana Tedesco Andreazza Costa - RA T63679-8.
Estagíária

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João Laforé Daniel - RA T47276-8.
Estagiário

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André Prado Nunes
Professor Orientador
CRP 06/71982

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