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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

(segundo o Assistente Dr. Diogo Pereira)

Como saber se temos um problema de Competência Internacional?


R: Quando verificamos que no caso existem vários elementos de conexão pertencentes a ordens
jurídicas distintas. P.e: se o caso se referir apenas a Portugal vamos diretamente para a análise da
competência interna, ou seja, aplicaremos o CPC.

Fontes que temos de ter em conta:


1) Regulamento Comunitário de 1215/2012 -> para tratar a competência internacional
2) CPC -> para tratar a competência interna

Qual das fontes prevalece?


R: A legislação comunitária, no caso, o Regulamento supra, pelos artigos 8º, nº 3 CRP e pelo
artigo 59º CPC (que não é nada mais do que a concretização do artigo 8º da CRP).

Relativamente ao REGULAMENTO temos de apurar, primeiramente, se se aplica ou não? E em


que medida? Se se aplicar temos de atender aos seguintes fatores:
 Âmbitos de Aplicação
 Critérios de Atribuição de Competência

ÂMBITOS DE APLICAÇÃO

Temos os seguintes:
A. Material
B. Temporal
C. Espacial
D. Subjetivo

Todavia, para a maior parte dos autores, costuma considerar-se uma terminologia diferente
reduzida a três: o material, o temporal e o subjetivo-espacial.

A. Quanto ao ÂMBITO MATERIAL…


O Regulamento aplica-se em matéria civil e comercial (art.º 1º Reg.). Já não se aplica às
matérias referidas no artigo 1º, nº 1 e 2 Reg.).

B. Quanto ao ÂMBITO TEMPORAL…


Aplicam-se os artigos 66º a 81º do Regulamento:

Artigo 81º
"O presente regulamento (…). Aplica-se a partir de 10 de janeiro de 2015, com exceção dos artigos 75. o e
76. o , que se aplicam a partir de 10 de janeiro de 2014.
O presente regulamento é obrigatório em todos os seus elementos e diretamente aplicável nos Estados-
Membros nos termos dos Tratados."

C. Quanto ao ÂMBITO SUBJETIVO/ESPACIAL…


Este diz-nos que os fatores relevantes a ter em conta são:
 Domicílio habitual do réu num dado Estado-Membro (art.º 4º, nº 1 + art.º 6º, nº 1 +
art.º 62º, nº 1 Reg. + art.º 82º, nº 1 CC) - também designado domicilio do foro, ou
seja, do Estado onde a ação foi apresentada/intentada.
Assim:
 Art. 62º Reg. + art. 82º CC aplicam-se às pessoas singulares;
 Art. 63º Reg. + art. 5º CSC aplicam-se às sociedades comerciais; e
 Art. 63º Reg. + art. 159º CC aplicam-se às pessoas coletivas.
 Se o réu não tiver domicílio em qualquer Estado-Membro, releva para o caso o
domicílio onde esteja sito o imóvel (art.º 4º, nº 1 + art.º 6º, nº 1 + art.º 24º, nº 1
Reg.):

Artigo 24º
"Têm competência (…) os tribunais de um Estado-Membro, independentemente do domicílio das
partes: em matéria de direitos reais sobre imóveis e de arrendamento de imóveis, os tribunais do
Estado-Membro onde se situa o imóvel."

P.e. Autor e réu domiciliados nos EUA intentam ação sobre imóvel sito em Portugal. Em
princípio, os tribunais portugueses seriam competentes. Todavia, isto só se concluiria desta forma
depois de verificar se estaria ou não preenchido algum dos casos 'alternativos' previstos pelo art.º 6º
Reg.: artigos 4º, nº 1; 18º, nº 1; 21º, nº 2; 24º ou 25º Reg.

Os artigos 18º e 21º Reg. são os casos mais raros e menos suscetíveis de nos surgir no teste,
enquanto que os artigos 24º e 25º Reg. são os casos mais frequentes e suscetíveis de nos surgir no
teste.

Alguns destes artigos correspondem aos critérios de atribuição de competência que trataremos
em seguida.

CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA

Temos quatro leques de normas distintos:


 Gerais: art. 4º, nº 1 Reg.;
 Especiais: art. 7º ao 23º Reg.;
 Exclusivos: art. 24º e 25º Reg.

Mas a ordem hierárquica de aplicação é a seguinte:


1º. Exclusivos
2º. Especiais
3º. Gerais

Coloca-se aqui, todavia, o problema de que o art.º 7º Reg. não é verdadeiramente um critério
especial, mas antes, um critério concorrente ou alternativo. Falando concretamente dos Critérios
Especiais temos a destacar os seguintes artigos:
 Artigo 7º Reg. – diz respeito a matérias do foro contratual e extracontratual, ações de
indemnização ou restituição fundadas em infração penal, ações cíveis fundadas no
direito de propriedade, litígios relativos a sucursais, litígios contra fundadores, trustee
ou beneficiários de trust, litígios relativos a remunerações devidas por assistência e
salvamento;
 Artigo 10º Reg. – diz respeito a matéria de seguros;
 Artigo 17º Reg. – diz respeito a matéria de contratos de consumo;
 Artigo 20º Reg. – diz respeito a matéria de contratos individuais de trabalho.

Depois dentro do mesmo âmbito de cada um destes artigos existem outros em particular, que
os poderão derrogar, a saber:
 Artigo 10º Reg. – pode ser derrogado pelo art.º 15º Reg;
 Artigo 17º Reg. – pode ser derrogado pelo art.º 19º Reg;
 Artigo 20º Reg. – pode ser derrogado pelo art.º 23º Reg.
Estes artigos podem derrogar os critérios gerais mas nunca os critérios exclusivos.
Os artigos 5º e 7º, nº 1 do Regulamento são artigos concorrentes ou alternativos que permitem
que os critérios especiais possam derrogar os critérios gerais especificamente, o art.º 4º Reg. O artigo
5º Reg. em concreto constitui verdadeiramente, uma norma programática através da qual podemos
derrogar a aplicação do artigo 4º Reg. Quanto ao artigo 7º geralmente surge em casos em que é
potencialmente aplicável a par do artigo 4º Reg. pelo que perante estas situações o autor pode
escolher entre meter a ação nos termos do artigo 4º Reg. ou nos termos do artigo 7º Reg.

Escrutínio do artigo 7º, nº 1 do Regulamento – temos 3 alíneas que versam sobre matérias
distintas:
 Sobre matéria contratual;
 Sobre matéria de venda de bens e prestação de serviços;
 Meramente remissiva.

Escrutínio do artigo 7º, nº 1 do Regulamento - correspondência:


 Local onde a obrigação foi cumprida -> compreende as alíneas a) e b) – se as partes já
executaram o contrato;
 Local onde a obrigação deva ser cumprida -> compreende as alíneas a) e b) – se as
partes já estabeleceram o local do cumprimento;
 Local não convencionado pelas partes ou local estipulado pelas partes em Estado terceiro
-> compreende a alínea c) que remete basicamente para aplicação (não do Regulamento
porque este apenas é aplicável a Estados-Membros) de outra legislação comunitária.
Costuma atender-se nestes casos, em primeiro lugar, ao Regulamento de Roma I,
todavia, não impede que haja mais legislação comunitária a ter em conta (todavia, o Dr.
Diogo Pereira disse que não precisamos obter o Regulamento Roma I).

Como saber o local? Artigos 772º e 776º CC sempre que as partes não tenham definido o
local do cumprimento, isto, relativamente ao regulamento internacional. Fora do
regulamento internacional teríamos de atender ao Regulamento Roma I que nos
remeterá para a legislação nacional a aplicar.

PACTOS DE JURISDIÇÃO
(segundo o Assistente Dr. Diogo Pereira)

Temos requisitos:
 Positivos (que têm de se verificar):
 Contrato bilateral;
 Por escrito - de acordo com os usos do comércio internacional;
 Que identifique o objeto do litígio - determinabilidade;
 Que adjudique a competência a um tribunal de um Estado-Membro.

 Negativos (que não podem verificar-se):


 O pacto não pode regular as matérias das competências especiais nem as matérias
exclusivas do art.º 24º sob pena de ser inválido.
Se estiverem todos preenchidos o pacto será ineficaz (*discussão doutrinária abaixo) porque
os requisitos negativos não podem verificar-se.

*Pela letra do art.º 25º, nº 4 é dito que o pacto é ineficaz. Mas há outros autores (PCS e MTS) que
discordam e defendem o desvalor da invalidade e que o vício seria o da nulidade. A consequência típica é a
da redução (artigo 292º CC), e portanto, o contrato manter-se-ia válido mas agora, sem a cláusula que
gerou o vício. Esta nulidade contaminaria a totalidade do contrato se se verificasse que as partes não
teriam contratado sem a presença daquele facto/cláusula.
O artigo 24º versa sobre ações reais (1ª premissa e mais abrangente) e sobre ações reais sobre imóveis
sitos em Estado Membro (2ª premissa e mais restrita).
O Prof. MTS interpreta este artigo tendo em conta a 2ª premissa pelo que se seguíssemos a sua tese
aplicaríamos o artigo 25º (porque neste caso concreto excluímos a aplicação do art. 24º) sendo que os
tribunais competentes seriam os portugueses (isto quanto à resolução do caso prático 16 do caderninho
verde).
Já o Prof. Lima Pinheiro interpreta o art.º 24º tendo em conta a 1ª premissa pelo que se seguíssemos a sua
tese os tribunais competentes seriam os de Angola. Todavia, sabe-se que Angola não é um Estado Membro
pelo que os tribunais portugueses tal como os franceses teriam de se declarar incompetentes. Lima
Pinheiro entende assim porque tem como base a interpretação literal da letra do artigo, questões de
direito internacional privado e questões relativas à soberania dos Estados (p.e. Angola nunca iria permitir
que os tribunais portugueses viessem opinar sobre ações reais de imoveis sitos em Estados terceiros). À
partida a tese do prof. Lima Pinheiro será a mais sensata (dito pelo assistente Diogo Pereira).

Hierarquia a seguir:
1) o artigo 24º; e se não se aplicar…
2) o artigo 25º; e se não se aplicar…
3) o artigo 4º.

Imaginando que a tese do Prof. Lima Pinheiro prevalecia o que é que os tribunais portugueses
deveriam fazer? R.: Declarar-se incompetentes. Seria no caso uma incompetência absoluta por violação
das regras de competência internacional nos termos do artigo 96º, alínea a) CPC.

"Artigo 96º - Casos de Incompetência Absoluta


Determinam a incompetência absoluta do tribunal:
a) A infração das regras de competência em razão da matéria e da hierarquia e das regras de competência
internacional."

Essa incompetência absoluta seria de conhecimento oficioso de acordo com o art.º 97º, nº 1 - 2ª
parte CPC.

"Artigo 97º - Regime de Arguição - Legitimidade e oportunidade


1 - A incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes e, exceto se decorrer da violação de pacto
privativo de jurisdição ou de preterição de tribunal arbitral voluntário, deve ser suscitada oficiosamente
pelo tribunal enquanto não houver sentença com trânsito em julgado proferida sobre o fundo da causa.
2 - A violação das regras de competência em razão da matéria que apenas respeitem aos tribunais
judiciais só pode ser arguida, ou oficiosamente conhecida, até ser proferido despacho saneador, ou, não
havendo lugar a este, até ao início da audiência final."

Este vício é uma exceção dilatória definida pelo artigo 576º, nº 2 CPC.

"Artigo 576º - Exceções Dilatórias e Perentórias - Noção


1 - As exceções são dilatórias ou perentórias.
2 - As exceções dilatórias obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e dão lugar à absolvição da
instância ou à remessa do processo para outro tribunal.
3 - As exceções perentórias importam a absolvição total ou parcial do pedido e consistem na invocação de
factos que impedem, modificam ou extinguem o efeito jurídico dos factos articulados pelo autor."

É uma exceção dilatória porque integra uma das causas previstas no artigo 577º, alínea a) CPC.

"Artigo 577.º - Exceções dilatórias


São dilatórias, entre outras, as exceções seguintes:
a) A incompetência, quer absoluta, quer relativa, do tribunal;
b) A nulidade de todo o processo;
c) A falta de personalidade ou de capacidade judiciária de alguma das partes;
d) A falta de autorização ou deliberação que o autor devesse obter;
e) A ilegitimidade de alguma das partes;
f) A coligação de autores ou réus, quando entre os pedidos não exista a conexão exigida no artigo 36.º;
g) A pluralidade subjetiva subsidiária, fora dos casos previstos no artigo 39.º;
h) A falta de constituição de advogado por parte do autor, nos processos a que se refere o n.º 1 do artigo
40.º, e a falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por parte do mandatário que propôs a
ação;
i) A litispendência ou o caso julgado."
Esta exceção dilatória em particular tanto pode resultar em absolvição do réu da instância ou
indeferimento em despacho liminar ou remessa nos termos do artigo 99º CPC.

"Artigo 99.º - Efeito da incompetência absoluta


1 - A verificação da incompetência absoluta implica a absolvição do réu da instância ou o indeferimento em
despacho liminar, quando o processo o comportar.
2 - Se a incompetência for decretada depois de findos os articulados, podem estes aproveitar-se desde que
o autor requeira, no prazo de 10 dias a contar do trânsito em julgado da decisão, a remessa do processo ao
tribunal em que a ação deveria ter sido proposta, não oferecendo o réu oposição justificada.
3 - Não se aplica o disposto no número anterior nos casos de violação de pacto privativo de jurisdição e de
preterição do tribunal arbitral."

Quanto à absolvição do réu da instância…


 Esta pode ocorrer no Despacho Saneador ou na Sentença nos termos do artigo ???? CPC.

Quanto ao indeferimento em despacho liminar…


 Só pode ocorrer após a PI e antes da Citação nos termos do artigo 590º, nº 1 CPC.

Os dois não podem ocorrer simultaneamente nos termos do artigo 99º, nº 1, 2 e 3 CPC por três
razões, a saber:
 Porque cada uma ocorre em fases diferentes;
 Porque no caso da absolvição do réu da instância temos réu constituído e a absolvição
implica a extinção do processo;
 Porque no indeferimento em despacho liminar ainda não temos réu constituído e o
indeferimento implica também a extinção do processo.

E quando é que a REMESSA é possível?


De acordo com uma interpretação literal da letra do artigo 99º, nº 2 nos casos de
incompetência absoluta permite-se a remessa. Mas se virmos bem, tal não é viável por dois motivos:
 Por motivos de ordem prática, isto porque, os articulados foram feitos ao abrigo da
ordem e língua portuguesas que não são nem têm de ser conhecidas nem respeitadas
por outros Estados, sejam Membros ou não;
 Por motivos de soberania nacional.

PONTOS A SEGUIR PARA A RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS – SÍNTESE:


1) Qualificar a incompetência: dizer se é relativa ou absoluta
2) Regime do conhecimento dessa incompetência: se é oficioso ou depende do requerimento das
partes.
3) Extensão do conhecimento: ate quando o tribunal pode conhecer?
4) Efeitos: se absolvição do reu da instancia ou indeferimento liminar ou remessa para o tribunal
competente.

PACTOS DE JURISDIÇÃO TÁCITOS

Análise do artigo 26º do Regulamento: é um pacto de jurisdição tácito.

Requisitos:
 A ação é apresentada junto de um tribunal diferente daquele que é
legalmente/contratualmente determinado;
 O réu comparece;
 O réu não argui a incompetência absoluta;
 Não se trata de uma matéria de conhecimento oficioso.
P.e.: Vamos imaginar que os tribunais competentes eram os espanhóis mas a ação é intentada
em Portugal. Em que termos são os tribunais portugueses competentes no âmbito do artigo 26º
Regulamento? R.: Só aplicamos o art. 26º do Regulamento depois de termos identificado qual o
tribunal competente ao nível internacional nos termos do Regulamento Comunitário.
De que forma é que um tribunal incompetente onde foi intentada a ação pode passar a tornar-
se competente? R.: Se o réu comparecer, apresentar p.e., uma contestação e argui a exceção dilatória
da incompetência absoluta do tribunal.
Quando se trate de matérias de conhecimento oficioso a arguição/opinião do réu seria
irrelevante. Já em matérias de conhecimento não oficioso (que são as previstas no art. 26º, nº 2 Reg.),
estas dependem da arguição do réu. E se o réu nada disser a ação continua e o tribunal não se pode
declarar incompetente.

Porque designamos Pacto de Jurisdição Tácito?


É pacto porque há duas manifestações de vontade.

É tácito porque da omissão do réu em não arguir a incompetência do tribunal (comportamento


concludente) retira-se a aceitação por parte do réu da competência do tribunal [que antes era
incompetente] passando assim, a ser competente.

PACTOS DE COMPETÊNCIA TÁCITOS


(segundo o Assistente Dr. Diogo Pereira)

Encontram-se previstos no artigo 95º CPC.

Diz que as matérias/regras relativas à matéria, hierarquia e ao valor da causa são de


conhecimento oficioso pelo que não podem assim, ser afastadas por vontade das partes (artigo 95º, nº
1 – 1ª parte CPC).

Já as matérias/regras de competência territorial não são de conhecimento oficioso e por isso,


podem ser afastadas pelas partes, mediante convenção expressa (artigo 95º, nº 1 – 2ª parte CPC).

As matérias de conhecimento oficioso geram sempre pactos de competência inválidos.

P.e.: Temos uma ação de divórcio cujo tribunal competente seria o de Lisboa, mas a ação foi
intentada em Santarém. O réu compareceu e apresentou a contestação, mas não argui a incompetência
do tribunal. Quid iuris? R.: A matéria é de conhecimento oficioso. Os pactos de competência tácitos
constituem-se por força da verificação dos mesmos requisitos supra mencionados para os pactos de
jurisdição. Aplicação analógica: 95º, 103º, 104º e 573º CPC - se o réu não argui a incompetência em
matérias de conhecimento oficioso, o tribunal não pode declarar-se incompetente, e deve prosseguir
com a ação.
COMPETÊNCIA INTERNA
(segundo o Assistente Dr. Diogo Pereira)

Espécies:
A. em razão da matéria;
B. em razão da hierarquia;
C. em razão do território; e
D. em razão do valor da causa.

Desenvolvimento:
A. Em RAZÃO DA MATÉRIA…
Os tribunais competentes são os tribunais judiciais - artigos 64º CPC + 40º da Lei Organização
do Sistema Judiciário + 209º, nº 3 CRP.
Com competência residual são competentes os tribunais judiciais.

B. Em RAZÃO DA HIERARQUIA…
Os tribunais competentes são os tribunais judiciais:
 Os tribunais de 1ª Instância (Comarca) – artigos 67º CPC + 42º e 79º LOSJ
 Os tribunais da Relação – artigos 68º CPC + 42º e 73º LOSJ
 O Supremo Tribunal de Justiça – artigos 69º CPC + 42º e 53º a 55º LOSJ
Com competência residual são competentes os tribunais de comarca nos termos do artigo 80º
LOSJ (por exclusão dos artigos 53º a 55º e 73º LOSJ).

C. Em RAZÃO DO TERRITÓRIO…
Estão em questão os artigos 70º a 84º CPC.

Qual é a relação entre os artigos 70º a 81º CPC? Quais aplicamos em primeiro lugar?
R.: Os artigos 70º a 79º CPC são especiais e por isso aplicam-se em primeiro lugar. Caso não se
apliquem então passamos à aplicação dos artigos 80º e 81º CPC, que são os gerais.

D. Em RAZÃO DO VALOR DA CAUSA…


Está em questão a aplicação do artigo 66º CPC relativo às instâncias central e local e que nos
remete para a LOSJ.

Somos remetidos primeiramente, para o artigo 81º LOSJ que nos diz que os tribunais de
comarca desdobram-se em instâncias centrais que integram secções de competência especializada, e
em instâncias locais que integram secções de competência genérica [e secções de proximidade].

Apenas releva para a matéria em estudo, a análise do artigo 117º (relativo à instância central)
em confronto com o artigo 130º (relativo à instância local) LOSJ.

O artigo 130º LOSJ é residual pelo que aplicar-se-á para todas as matérias em que se verifique
que não cabem em nenhuma das secções anteriores.

Assim sendo, e para concluir, temos que:


 em matérias cujo valor da causa seja superior a €50 000 -> aplicamos o artigo 117º
LOSJ;
 em matérias cujo valor da causa seja inferior a €50 000 -> aplicamos o artigo 130º LOSJ.

E é só isto que temos que saber no entender do Assistente Dr. Diogo Pereira.
COMPETÊNCIA INTERNA
(síntese retirada da Internet)

Segundo o artigo 60º, nº 2 CPC, na ordem interna, a jurisdição reparte-se pelos diferentes
tribunais em razão:
 Da matéria
 Do valor da causa
 Da hierarquia
 Do território

A. EM RAZÃO DA HIERARQUIA
Três graus de jurisdição (por ordem crescente):
 Tribunais de 1ª Instância
 Tribunais da Relação
 Supremo Tribunal de Justiça

Em regra, uma ação não deve ser inicialmente proposta numa Relação ou no Supremo
Tribunal de Justiça.
Exceções - exemplos:
 Relação - ações contra juízes por causa das suas funções;
 STJ - crimes do Presidente da República praticados no exercício das suas funções.

B. EM RAZÃO DA MATÉRIA
São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra
ordem jurisdicional - art.º 64º CPC.

Ordens jurisdicionais - art.º 209º CRP:


 Judicial
 Administrativa e fiscal
 Julgados de paz - Lei nº 78/2001, 13 de Julho
 Tribunais arbitrais - Lei nº 31/86, de 29 de Agosto

C. EM RAZÃO DA FORMA DO PROCESSO


Eliminação pela LOFTJ da competência específica (varas, juízos e pequena instância)

Divisão passou para desdobramento da competência especializada (grande, média e


pequena instância)

D. EM RAZÃO DO TERRITÓRIO
Critérios Especiais:
 Determinados por razões de proximidade das partes e do tribunal com a ação e o
seu objeto

Critérios gerais:
 Residuais
 Orientam-se por um principio de favorecimento do réu

Critérios exclusivos:
 Aqueles que não podem ser objeto de um pacto de competência - artigos 95º, nº
1 e 104º CPC

Critérios supletivos:
 Regra geral, podem ser afastados por um pacto de competência
D.1. Critérios Territoriais Especiais
1. Local da situação dos bens - Artigo 70º CPC:
 Ações relativas a direitos reais sobre imóveis
 Direitos pessoais de gozo
 Ações de despejo
 Ações de preferência e de execução específica
 Ações relativas a hipotecas

Não se incluem:
 Ações de anulação de contrato de compra e venda de imóvel
 Ações de cumprimento de contrato em que se exige a entrega de coisa
imóvel

Havendo vários imóveis - artigo 70º, nº 3 - local do imóvel de maior valor.

2. Ações relativas à responsabilidade contratual - Artigo 71º, nº 1 CPC - todas as


ações de que o credor dispõe perante um incumprimento:
 Local do domicilio do réu - regra geral (Alteração pela Lei 14/2006 -
"foro do consumidor")

Responsabilidade contratual - Artigo 71º, nº 1 CPC: o credor pode escolher o


local do cumprimento da obrigação se:
 Réu é pessoa colectiva
 Réu e autor residentes na área metropolitana de Lisboa ou do Porto

Qual o local de cumprimento?


 Legal - Artigos 772º, 773º, 774º, 885º, etc C.Civil
 Convencional

3. Responsabilidade extracontratual - Artigo 71º, nº 2 CPC - inclui culpa in


contrahendo:
 Local do acontecimento do facto
 Casos em que o local do facto não é concreto ou único - autor pode
escolher

4. Ações de divórcio e de separação de pessoas e bens - Artigo 72º CPC

Local do domicilio ou da residência do autor:


 Domicilio - Artigos 82º e 85º a 88º Ccivil
 Residência - implica também a ligação a um lugar com intenção de a
ele permanecer ligado, ainda que precária e não habitualmente.

5. Ações de Honorários - Artigo 73º CPC


6. Navios - Artigos 74º a 77º CPC
7. Procedimentos Cautelares - Artigo 78º CPC
8. Notificações avulsas - Artigo 79º CPC
9. Ações em que seja parte o juiz, seu cônjuge ou certos parentes - Artigo 84º CPC

D.2. Critérios Territoriais Gerais


Aplicáveis quando a competência não se determina por nenhum dos critérios
especiais.
Exemplos:
 Ação de anulação de um contrato
 Ação de restituição de prestação cumprida em contrato nulo
 Ação de reivindicação de móvel
 Ação de investigação da paternidade

1. Um só reu pessoa singular - Artigo 80º CPC:


 Domicilio do réu - artigo 82º ss C.Civil
 Réu não tem domicilio, está ausente ou é incerto -domicilio do autor
 Réu tem domicilio em país estrangeiro:
 Lugar em que se encontrar
 Domicilio do autor
 Tribunal de Lisboa

2. Um só réu pessoa coletiva - Artigo 81º, nº 2 CPC:


 Sede da administração principal
 Sede da sucursal, agencia ou filial se a ação for dirigida contra esta
 Se a administração principal for estrangeira, pode a ação ser proposta
na sede da sucursal.

PLURALIDADE SUBJETIVA

Vários réus e um só pedido - Artigo 81º, nº 1 CPC

Tribunal do domicílio do maior número de réus; se for igual [o número de réus], autor pode
escolher.

Na competência internacional:
 Regulamento 1215/2012 - Artigo 8º, nº 1: autor pode escolher domicilio de qualquer
dos réus.
 Direito Interno - Artigo 82º, nº 1 CPC: faz funcionar o Principio da Coincidência.

PLURALIDADE OBJETIVA

Vários pedidos independentes ou alternativos (haja um ou mais réus) - Artigo 82º, nº 2 CPC:
autor pode escolher qualquer um dos tribunais competentes.
Salvo se se tratar de uma incompetência de conhecimento oficioso (Artigo 104º CPC): neste
caso a competência é desse tribunal.

Vários pedidos dependentes ou subsidiários - Artigo 82º, nº 3 CPC: a ção deve ser proposta no
tribunal competente para a apreciação do pedido principal.

Alguns preceitos prevêem regras para casos especiais de pluralidade:


 Artigo 70º, nº 2 CPC
 Artigo 70º, nº 3 CPC
 Artigo 78º, nº 1, alínea a)

Havendo RECONVENÇÃO - Artigo 93º CPC: o Tribunal da ação é competente desde que tenha
competência internacional, em razão da hierarquia e da matéria.
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL

Partes convencionam qual o tribunal competente:


 Competência Internacional - pacto de jurisdição (Artigo 25º do Regulamento e 94º CPC)
 Competência Interna - pacto de competência (Artigo 95º CPC)
 Celebração de convenções sobre competência sujeita às mesmas regras e aos mesmos
requisitos de validade de qualquer contrato substantivo
 Elementos constitutivos: direito material
 Admissibilidade e efeitos: direito processual

PACTO DE JURISDIÇÃO

No Regulamento 1215/2012 - Artigo 25º:


 Uma das partes tem de estar domiciliada num Estado Membro
 É convencionada a competência de um Estado Membro
 Fora do âmbito das competências exclusivas do artigo 24º e das restrições dos artigos
15º (seguros), 19º (consumidores) e 23º (trabalho)

Nos restantes casos, a validade do pacto é analisada pelo direito interno do Estado Membro
designado (artigo 25º).

No Regulamento 1215/2012:
 Forma - escrita ou verbal com confirmação escrita (Artigo 25º, nº 2 Regulamento)
 Pacto tácito - artigo 26º Regulamento
 Efeitos - competência exclusiva, a menos que as partes convencionem em sentido
contrário.

No direito interno - Artigo 94º CPC:


 Pacto atributivo - concede competência concorrente ou exclusiva a um tribunal ou a
vários tribunais portugueses
 Pacto privativo - retira competência a um ou a varios tribunais portugueses, atribuindo-
a em exclusivo a um ou vários tribunais estrangeiros.

Nos termos do artigo 94º, nº 2 CPC, in fine, presume-se que a competência é concorrente com a
competência legal dos tribunais portugueses.

Só há pacto privativo quando for retirada aos tribunais portugueses a competência legal
concorrente.

Requisitos de validade - Artigo 94º, nº 3 CPC:


 Situações subjetivas disponíveis - a) - crítica: não implica disposição de direitos
 Interesse sério de ambas as partes ou de uma delas - c) - evitar escolha de jurisdição que
não tenha qualquer conexão com a relação controvertida
 Não violar competência exclusiva dos tribunais portugueses - d)
 Menção expressa da jurisdição competente - e) - jurisdição ou tribunal em concreto
 Aceitação pela lei do tribunal designado - b) - competências exclusivas
 Acordo escrito ou confirmado por escrito - e) + nº 4 (qualquer meio de comunicação de
que fique prova escrita)
PACTO DE COMPETÊNCIA

Convenção pela qual as partes designam como competente um tribunal diferente daquele que
resulta das regras de competência interna.
Pacto só pode incidir sobre competência em razão do território - Artigo 95º, nº 1 CPC.
Fora dos casos do artigo 104º CPC.

Requisitos - Artigo 95º, nº 2 CPC:


 Forma:
o Do contrato se formal
o Forma escrita se consensual
 Aplica-se o artigo 94º, nº 4 CPC
 Designar as questões submetidas à apreciação do tribunal - cfr. nº 4
 Designar o critério de determinação do tribunal ao qual é atribuída competência

Efeitos: competência vinculativa para as partes - nº 3 - gera incompetência relativa.

INCOMPETÊNCIA

Verifica-se quando as normas não atribuem àquele tribunal competência para julgar aquela
ação.

Modalidades:
 Incompetência absoluta
 Incompetência relativa

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

Artigo 96º CPC - Infração de regras de:


 Competência internacional legal
 Competência interna material
 Competência interna hierárquica

Infração da competência internacional:


 Não abrange violação de pacto de jurisdição
 Mas violação do Regulamento 1215/2012
 E dos artigos 62º e 63º CPC

Regulamento 1215/2012:
 Artigo 27º: incompetência do tribunal portugues decorre de competência exclusiva de
outro Estado-Membro
 Artigo 28º: incompetência do tribunal portugues decorre de competência do Estado-
Membro do domicilio do réu ou da aplicação de um critério especial e réu não
compareceu (cfr. Art.º 26º, nº 1 Regulamento)

Arguição:
 Conhecimento oficioso
 Momento limite de apreciação:
o Regra - artigo 97º, nº 1 CPC: até transito em julgado da sentença
o Exceção: incompetência material dentro da ordem judicial - artigo 97º, nº 2 CPC:
até proferimento de despacho saneador.
Efeitos - Artigo 99º CPC:
 Absolvição do réu da instância
 Indeferimento em despacho liminar, quando o houver

Havendo acordo das partes, pode, a requerimento do autor, haver remessa do processo para o
tribunal competente (mas há absolvição do réu).

INCOMPETÊNCIA RELATIVA

Artigo 102º CPC - Infração de regras de:


 Competência em razão do valor e da forma de processo
 Competência territorial
 Competência convencional - violação de um pacto de competência ou de jurisdição

Arguição pelo réu na contestação (Artigo 103º, nº 1 CPC).

Casos de conhecimento oficioso (Artigo 104º CPC):


 Incompetência por violação das regras de competência em razão do valor e da forma de
processo - nº 2 e nº 4
 Incompetência por violação das regras de competência em razão do território só nos
casos referidos no nº 1

Conhecimento Oficioso da Incompetência Relativa


Alínea a) do Artigo 104º, nº 1 CPC:
 Artigo 70º CPC - ações reais;
 Artigo 71º, nº 1 - 1ª parte CPC (Lei nº 14/2006);
 Artigo 71º, nº 2 CPC - responsabilidade extracontratual;
 Artigo 78º CPC - procedimentos cautelares;
 Artigo 83º CPC - recursos
 Artigo 84º CPC - juiz ou parente
Nenhum critério geral, apenas alguns critérios especiais.

Artigo 104º, nº 1 CPC:


 Processos cuja decisão não seja precedida de citação do requerido
 Causas que devam correr na dependência de outro processo - ação de honorários
(Artigo 73º, nº 1 CPC), incidente de habilitação (Artigo 352º, nº 2 CPC).

Consequência - Artigo 105º, nº 3 CPC:


 Regra: remessa do processo para o tribunal competente
 Exceção: incompetência decorre de violação de pacto privativo de jurisdição -
não podendo haver remessa para o tribunal estrangeiro, a consequência é a
absolvição do réu da instância.

Dois aspetos importantes - ambos decorrentes do Artigo 105º, nº 2 CPC:


 Como a remessa para o processo não extingue a instância (Artigo 278º, nº 2
CPC), o processo continua, pelo quea decisão é vinculativa para o tribunal para o
qual o processo é remetido (Artigo 105º, nº 2 CPC).
 Se o tribunal considerar improcedente a alegação da incompetência relativa,
precludem quaisquer outros fundamentos da sua incompetência.
Ou seja, depois de discutida não se pode voltar a discutir a questão, qualquer que seja o
fundamento alegado pela parte.
Regime em caso de pluralidade de réus - Artigo 106º CPC:
 Decisão vincula todos, mesmo se só alegada por um
 Os não «alegantes» podem contestar a incompetência.

THE END

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