a n g e l o n i
Cozinha
com afeto
Os chefs alex
atala, heloisa
Bacellar e
renata Cruz
revelam suas
m a i o
receitas de
Ι
família
j u n h o
2 0 1 2
2 entrevista com emannuel bassoleil e a receita preferida da atriz maria fernanda cândido
Ao leitor
Receitas do coração
Esta edição celebra o prazer de preparar e saborear comidas que têm história,
que remetem a memórias gastronômicas, e receber com carinho quem mais gos-
tamos. Nossa matéria de capa traz as receitas que três chefs aprenderam em casa
e servem em seus restaurantes. O renomado Alex Atala, eleito recentemente o
quarto melhor chef do mundo pela revista britânica Restaurant, declara-se apaixo-
nado pelo risoto que sua mãe fazia com as sobras do almoço. Para ele, “as grandes
cozinhas do mundo, como a italiana e a japonesa, têm como base a culinária fami-
liar”. É também o que pensam – e praticam – Renata Cruz e Heloisa Bacellar, que
ensinam nas próximas páginas dois pratos carregados de boas lembranças.
E se o assunto é afeto, não podíamos deixar de pensar no Dia dos Namorados.
Fizemos uma matéria especial para inspirar os amantes a comemorar a data com
muita intimidade, um belo jantar, músicas românticas e inesquecíveis e mesa ca-
prichada. Um verdadeiro deleite para os sentidos.
O amor também foi o ingrediente que trouxe o francês Emmanuel Bassoleil às
nossas terras tropicais. Casado com uma brasileira (mãe de seus dois filhos), co-
nheceu o país e caiu de paixão, à primeira vista. Com 35 anos de profissão, o chef
revela aqui seus hábitos frugais e o que gosta de preparar quando chega em casa
depois de muitas horas de forno e fogão.
Outra celebridade que só vai à cozinha movida por afeto é Maria Fernanda Cân-
dido. Nas poucas horas que tem entre filmagens e fotos, a atriz gosta de preparar
para os filhos a especialidade que aprendeu com a mãe: deliciosos bolos que en-
chem a casa de aromas e lembranças.
Mas isso não é tudo. Os brasileiros descobriram o gosto das cervejas e dos quei-
jos especiais. O Angeloni está conectado com o que há de melhor pelo mundo.
Fizemos uma matéria especial sobre boas cervejas e como degustá-las. E ainda
várias receitas com o delicado e saboroso queijo brie. Gastronomia Angeloni está
servida. Deguste cada página e divirta-se.
Um abraço,
grupo angeloni
4 gastronomia angELoni
07
Sumário
50 14 no super
Para um chá da tarde especial,
veja as receitas incríveis feitas com
produtos encontrados no angeloni
nossa capa
foTo - rogério voltan atenção
produÇÃo - silvia goischman consulte a disponibilidade do produto e, caso
©3
não o encontre, procure o gerente da loja.
sabor
Tempero
multifunção
O aceto balsâmico Di Modena, da marca italiana De
Nigris, é ótimo para temperar saladas, mas pode dar um to-
que diferenciado a vários outros pratos. Basta colocar uma
quantidade do aceto numa panela, com fogo em tempera-
tura moderada, e deixá-lo reduzir até virar um creme. Essa
mistura pode ser usada como molho para peixes, carnes e
até doces. Isso mesmo, doces! E você pode também com-
prá-lo pronto. O creme balsâmico VSQP Vila Grimelli, da
Itália, passa por um processo de envelhecimento longo até
chegar à consistência densa, de sabor adocica-
do, perfeita para acompanhar sobremesas como
sorvete ou morangos frescos.
gastronomia angELoni 7
Tira-gosto
hi-tech
Cozinha
do futuro
Foi-se o tempo em que falar de tecno-
logia dentro de casa era apenas ter um
notebook no escritório. Hoje os equipa-
mentos inteligentes já fazem parte de
outros ambientes e chegaram à cozinha.
O refrigerador Side by Side Electrolux,
modelo SS72X, é um exemplo. Com
504 litros de capacidade e acabamento
de aço inox para não deixar marcas de
dedos, combina freezer e geladeira num
só equipamento, o que reduz a ocupação
de espaço. Ainda possui water dispenser
externo e ice maker, isto é, água e gelo
estão disponíveis na porta para evitar
abrir o freezer. Além disso, possui con-
trole de temperatura independente para
cada compartimento e aviso lu-
minoso que indica a hora de tro- 1©
car o filtro de água.
2©
tour pelo mundo
Influência peruana
É na capital Lima, no Peru, que se encontra o 35º melhor restau-
rante do mundo na lista dos 50 melhores do Guia San Pellegrino,
da revista inglesa Restaurant. À frente do Astrid & Gastón está o
chef Gastón Acurio. Depois de estudar na escola Le Cordon Bleu,
em Paris, ele retornou ao país de origem e decidiu valorizar os in-
gredientes locais. A opção rendeu-lhe o título de um dos grandes
chefs do mundo. Acurio pratica uma culinária chamada novo-an-
dina, que valoriza as raízes peruanas de diferentes formas e apre-
sentações, além, claro, de ser especializado em ceviche, clássico
da culinária do seu país. Por tudo isso, ele é admirado não só pela
crítica gastronômica mas também por seu povo. Em seu restau-
rante, um menu degustação sai por cerca de R$ 200 por pessoa.
Além do Astrid & Gastón (em que ele prepara os pratos salgados e
Gastón Acurio: o chef carrega a bandeira da
a mulher, Astrid, é responsável pelos doces), o chef tem outras 28
culinária peruana pelo mundo casas, incluindo o La Mar, que tem uma filial em São Paulo.
As receitAs AmOrOsAs
de umA feiticeirA
Bem-humorada, a autora ensina pratos
para ocasiões amorosas. São 100 receitas
divididas em categorias como ervas e ape-
ritivos, entradas e saladas, sopas e cremes,
carnes, entre outras. A brincadeira é fazer
com que o leitor se sinta um feiticeiro pre-
parando uma poção mágica na cozinha.
3© de brigitte bulard-Cordeau, editora
estante senaC são paulo e editora boCCato,
Sabor do Brasil
232 páginas, r$ 49,90
gastronomia angELoni 9
Tira-gosto
aroma
Personalidade
e distinção
Mais que um simples acompanhamento de hot-dog, a mostarda é um ingre-
diente sofisticado que pode ser usado em diversas receitas. Ela torna especial kit gourmet 2©
o paladar de um molho para carnes ou peixes ou entra no preparo de um cre-
me para harmonizar legumes. No Angeloni, é possível encontrar a mostarda
de alta qualidade Kühne, da Alemanha. São três variedades disponí- O ideal
veis: amarela, dijon pic amarela e amarela doce. Qualquer uma delas
garante um algo mais nas suas preparações culinárias. à mão
Há um ditado para indicar quando
se tem tudo o que precisa: “Estar
com a faca e o queijo na mão”.
Com o conjunto CASAMBIENTE
é exatamente isso o que acontece.
Reúna os amigos em torno de uma
mesa de queijos, abra um bom
vinho e deixe que o conjunto de
facas com tábua de vidro decorada
cumpra suas funções. Cada uma
das quatro é indicada para um tipo
de queijo. Com esse aces-
1© sório, sua noite de queijos
será um sucesso.
fácil, fácil
Tomate 1 Lave os
tomates e
pelado
retire o umbigo
(aquela parte de
onde sai o caule).
1©ricardo de vicq, 2© divulgação 3©foto: rogerio voltan. produção de objetos: silvia goichman.
10 gastronomia angELoni objetos: artmix - mini prato de bolo e xícara, roupa de mesa - guardanapo
delícia
Cupcake
original
Depois dos vinhos que ganham a
denominação D.O.C. (de origem con-
trolada), chegou a vez dos cupcakes.
Localizada no bairro de Higienópolis,
em São Paulo, a Pricake aderiu a esse
conceito ao seguir um rigoroso con-
trole de qualidade em todo o processo
produtivo. Há mais de 80 tipos de mi-
nicupcakes, indo da maçã ao pistache,
passando pelo de cenoura e de frutas
vermelhas. As receitas não levam leite
nem ovos. Outra novidade do espaço
é o tamanho do doce. Os bolinhos
têm 3,5 centímetros, o que permite
experimentar vários sabores, além de
deixar o cupcake mais elegante. 3©
6 retire as sementes
e pique os tomates.
gastronomia angELoni 11
Deguste
cerveja
sem
segredos
Para melhor apreciar essa paixão nacional,
vale conhecer algumas dicas de quem é
especialista no assunto
por flávia Benvenga foto rogério voltan
E
la tem apelidos carinhosos – loirinha, suco de cevada,
gelada, breja –, é uma das nossas paixões nacionais
e, por isso mesmo, está presente na maioria dos en-
contros e celebrações. No Brasil, é possível encontrar
cada vez mais marcas e tipos, nacionais e importadas, dispo-
níveis nos supermercados. “As que fazem mais sucesso entre
os brasileiros são weis, pilsen e bock, tanto nacionais quanto
importadas”, diz Amanda Reitenbach, mestre cervejeira e som-
melier de cervejas, de Santa Catarina.
Para os amantes da bebida, vale saber degustá-la corretamente.
A especialista dá algumas dicas: “Degustar uma cerveja é subme-
tê-la aos órgãos dos sentidos, analisando-a atentamente”. Inicia-
KAiserdOm
se escutando o som da garrafa ao ser aberta, quando se pode iden- WeissBier – 1 l
tificar se o recipiente está com o gás apropriado para o estilo. André Luiz domin-
Depois, coloca-se a taça contra uma fonte de luz ou uma superfí- gos: “Cerveja de trigo
cie branca para observar a coloração, a turvação, a formação das alemã feita de malte
bolhas e a intensidade e a persistência da espuma. Na sequência, de trigo, malte de
cevada, lúpulo e levedura. Esta
avaliam-se os aromas (olfato), com inalações curtas e longas. Por bebida é consumida principal-
último, coloca-se a cerveja na boca, deixando-a “passear” por mente no sul da alemanha, nos
toda a cavidade bucal para potencializar alguns aromas. estados da Baviera e Baden-
Outra etapa importante é saber harmonizá-la. “Ela é, sem Württemberg, mas também é
dúvida, a melhor de todas as bebidas para acompanhar os mais bastante popular em outras
regiões do país. É apreciada na
variados pratos”, afirma Amanda. “Na verdade, há uma sinergia Áustria, na Bélgica e nos Esta-
entre ambos, cerveja e alimento, quando bem casados, propi- dos Unidos. 5% e 6% alc./vol.”.
ciando um prazer muito maior do que quando cada um é degus- Amanda reitenbach: “Esta
tado separadamente”, diz ela. cerveja tem notas cítricas e
leve presença de malte contra-
pondo o doce com o amargo
amanda reitenbach do lúpulo. Possui final seco,
Mestre cervejeira e sommelier de é levemente ácida e frutada”.
cervejas, é idealizadora e coordenadora harmonização: “É ideal
da pós-graduação em processos para acompanhar saladas,
cervejeiros da Uniasselvi/Blumenau, SC. peixes, ceviche e brie”.
12 gastronomia angELoni
thWAites dOuBLe KAiserdOm KeLLer thWAites LAncAster
centurY – 500 ml – 500 ml BOmBer – 500 ml
André Luiz domingos: André Luiz domingos: André Luiz domingos:
“a cervejaria foi fundada em “É uma cerveja do tipo “trata-se de uma cerveja
1807 por Daniel thwaites, lager (baixa fermen- de cor castanha, produ-
na cidade de Blackburn, tação), maturada em zida com os melhores
em Lancashire, na inglaterra. Esta barris de carvalho. É servida ingredientes ingleses: pale ale e
Double é especial de aniversário. Foi diretamente do barril, ainda com malte cristal, que lhe confere um
fabricada em 2007 para o bicentenário muito fermento e sem espuma. o sabor encorpado. Equilibrada
de thwaites. Possui cor âmbar e é resultado é uma bebida bastante com final delicadamente amargo
cheia de sabores de lúpulo com toque seca que serve como aperitivo e aroma de lúpulo proeminente,
de raspas de laranja. 5,2% alc./vol.”. para estimular o apetite. Produ- esta cerveja ganhou o prêmio de
Amanda reitenbach: “Possui colo- zida desde 1624 por st. georgen melhor cerveja inglesa no concurso
ração dourada, brilhante, espuma Bräu, na cidade de Buttenheim, Estrelas Europeias de Cerveja, em
branca de boa duração e formação, alemanha, esta cerveja é servida 2007. 4,4% alc./vol.”.
aromas de lúpulo, herbal e condi- em copo de pedra. 4,8% alc./vol.”. Amanda reitenbach: “Cerveja de
mentado. o sabor de lúpulo também Amanda reitenbach: “Esta é uma cor acobreada com espuma branca
se faz presente tanto para o amargor, cerveja de coloração alaranjada e de boa formação e duração. aroma
de média intensidade, quanto para com turvação. Possui sabores de de tofe, cereal, levemente adocica-
as notas condimentadas de pão e malte, pão, fermento, cítrico; lúpu- do, lembrando caramelo e notas de
biscoito.apresenta leve doçura”. lo em sabor e amargor”. lúpulo cítrico. sabor marcante de lú-
harmonização: “É indicada harmonização: “Perfeita pulo e cereal. É balanceada”.
para acompanhar carnes para acompanhar saladas harmonização: “ideal com
vermelhas assadas”. e bolinho de bacalhau”. carnes assadas e carpaccio”.
gastronomia angELoni 13
No Super
14 angELoni gastronomia
3 o pão de queijo é a melhor opção
de salgado para a ocasião. Para
incrementar a receita, acrescente
recheios, como requeijão com azeito-
nas picadas ou doce de leite.
pão de queijo
pote de vidro para geleia, mel e requeijão, da spicy. bowl branco e fruteira verde, de cerâmica, da doural.
Misture tudo. Faça rolinhos com as mãos e 1 colher (chá) de fermento ferver, desligue. Adicione o leite e o óleo fervidos
produção: cinthia pergola. produção culinária: paula rainho. colaboração de texto: bruna caricati.
feche em círculo. Asse em forno a 180ºC. ao polvilho. Misture bem com uma colher de
Modo de preparo pau. Deixe esfriar. Acrescente os ovos e misture.
dica Para deixar seu chá da tarde mais Bata o açúcar com as gemas, adicione Adicione o queijo ralado e misture com as mãos
sofisticado, escolha uma louça fina e clara, o óleo, a farinha, o suco e o fermento. Bata até obter uma massa homogênea. Faça bolinhas
de porcelana, com motivos florais. A toalha as claras em neve e incorpore à massa. Leve com a massa e disponha sobre as fôrmas. Leve
deve ser de tecido delicado e tom neutro. ao forno a 180ºC, em uma fôrma untada. ao forno e asse por 50 minutos.
e+
Lista de compras no Angeloni •queijos leves
•crepe
chás de maçã com •pasta de avelã
canela, de erva-doce biscoito de mel biscoitos de cappuccino •patês variados
e verde com laranja, e cacau, belvita e de chocolate amargo •biscoito de água e sal
dr. oetker com avelã, loacker •torradas
wafers crocantes
com recheio de avelã
e de baunilha, loacker
angELoni gastronomia 15
capa
C
elebridade dentro e fora do Brasil, o chef Alex
Atala, de 43 anos, tem como marca registrada
a ousadia. À frente do restaurante paulistano
D.O.M., recém eleito o quarto melhor do mun-
do pela revista britânica Restaurant, Atala apli-
ca as mais modernas técnicas culinárias para transformar
ingredientes brasileiros pouco conhecidos ou desvaloriza-
dos, como quiabo e raiz de priprioca, em joias da cozinha
contemporânea. A 30 metros dali, em seu outro restauran-
te, o Dalva e Dito, o premiado chef dá vazão a emoções bem
diferentes. Cozinhando pratos simples como um prosaico
arroz de forno com cenouras, ervilhas, tomate e queijo
ralado, ele rememora as refeições da infância preparadas
pela mãe, Otavia Mack. “Sou fanático por essa receita”,
admite. “Risotto, o italiano, eu só provei depois de grande.
Para mim, a palavra risoto sempre esteve associada ao ar-
roz de forno que minha mãe fazia para aproveitar as sobras
do almoço.” Atala dedicou uma seção inteira do cardápio
aos pratos que povoam suas lembranças – uma tendência
internacional batizada de comfort food (comida confortável,
na tradução do inglês). Embora o termo seja antigo, pois
figura no Webster's Dictionary desde 1972, só nos últimos
anos a moda vem ganhando força por aqui. “Mesmo achan-
do horrível esse rótulo em inglês, pois não tem nada a ver
com a comida afetiva que nós brasileiros fazemos, sou um
entusiasta da ideia, já que valoriza a formação do nosso pa-
ladar. As grandes cozinhas do mundo, como a italiana e a
japonesa, têm como base a culinária familiar”, defende Ata- arroZ DE Forno
la. “Acho impressionante que, até pouco tempo atrás, não (risoto CasEiro)
pudéssemos encontrar receitas caseiras nos restaurantes.” por Alex Atala, do restaurante dalva e dito
Por mexer com recordações muito íntimas, o conceito de rendimento: 4 porções
comfort food admite inúmeras interpretações. Cada país, ingredientes
cada região e cada pessoa em particular tem aquele prato 100 ml de óleo de canola 80 g de ervilha
especial que, à primeira garfada, cutuca o cérebro e traz de 80 g de cebola picadinha 400 g de extrato de tomate
volta emoções há muito adormecidas – exatamente como 80 g de pimentão 500 g de arroz parboilizado
aconteceu com o crítico Anton Ego, do filme de animação vermelho picadinho 1 litro de caldo de frango
Ratatouille, instantaneamente transportado para a infância 80 g de pimentão amarelo 200 g de queijo de minas
pela obra do ratinho cozinheiro Rémy. Atala conta que duas picadinho meia-cura
receitas também o levam de volta ao convívio com o avô 80 g de cenoura picadinha Sal a gosto
materno, Antonio, brasileiro de família irlandesa e único 80 g de milho
homem da família com dotes culinários. “Rãs fritas me lem-
bram as tardes em que saíamos para caçá-las. Eu esperava Modo de preparo
ansiosamente pela chuva, não esqueço o barulhinho delas Em uma panela, refogue a cebola e os legumes no óleo
no mato. A outra receita é o frango cozido com vinho tinto. de canola. Coloque o extrato de tomate e o arroz. Adicione
Certa vez, cheguei à casa dele, no bairro do Tatuapé, e o en- o caldo de frango e o sal, tampe e deixe em fogo médio até que
contrei preparando esse prato. Sentei ao lado do fogão e ele toda a água evapore. Arrume o arroz em uma fôrma refratária,
ficou me explicando passo a passo como fazê-lo.” polvilhe com o queijo e leve ao forno para gratinar.
Cozinha e conceito
A diferença fundamental entre as versões domésticas e as re-
leituras propostas pelos chefs de cozinha reside na técnica.
Os bons resultados do passado, obtidos quase por intuição
por gerações de mães e avós com talento para o fogão, dão
lugar a métodos precisos de cocção e mesclas mais ousadas
de temperos. Tais mudanças, longe de descaracterizar re-
ceitas originais, têm a capacidade de evidenciar texturas e
sabores. Formada pela conceituada escola francesa Lenôtre,
a chef paulistana Renata Cruz, de 28 anos, proprietária do
restaurante Amici, em São Paulo, assa seus galetinhos embe-
bidos em suco de laranja e ervas frescas. O resultado são aves
de casquinha crocante e interior suculento, sem excesso de
gordura. Um dos acompanhamentos também recebeu um
toque gourmet: as batatas rústicas vão ao forno com dentes
inteiros de alho e folhinhas de alecrim fresco.
Renata não abre mão de outras guarnições bem caseiras: os
brasileiríssimos arroz, feijão e farofa. Na hora da sobremesa,
o doce mais pedido na casa é o brigadeiro de colher feito com o chef alex atala
Nescau, exatamente como sua mãe e sócia, Lucia Collarile, tem uma seção do
fazia para as festinhas de todas as crianças do clã. “Quando cardápio dedicada
a receitas de família
idealizei o Amici, há três anos, notei que a maioria dos pratos
se baseava em antigas referências”, conta a chef. Não por aca-
so, as paredes e os jogos americanos exibem colagens de fotos
de Renata entre amigos e parentes. Em seu menu ainda há
espaço para filé de frango com creme de milho rústico, mi-
lanesa acompanhado de espaguete e bife à parmigiana com
fritas e arroz. “Todas as minhas receitas vêm da memória afe-
tiva. Até a salada de rúcula com cebola roxa e limão-siciliano
foi invenção da minha avó paterna, Diva.”
18 gastronomia angELoni
llaum zzrit, sisa
cortiu
m zzrit, sisa co
rting er iure
Marilyn Monroe e
nt dqugnibh estie
20 gastronomia angELoni
gaLEto assaDo Dos ruidosos almoços da infância também vêm as lembran-
por renata cruz, do Amici ças que a chef Heloisa Bacellar, de 48 anos, transforma em
rendimento: 1 porção matéria-prima do restaurante Lá da Venda, em São Paulo.
“Éramos entre 10 e 12 pessoas em torno da mesa da fazen-
ingredientes da, uma delícia”, puxa pela memória. “Aos 6 anos, lembro de
1 galeto viver atrás da minha avó materna, Betty, tentando aprender
500 ml de suco de laranja a fazer maionese em um lindo liquidificador com copo de
1 cebola roxa em rodelas vidro.” Além de herdar o desejado eletrodoméstico, Heloisa
4 dentes de alho roxo inteiros eternizou a receita em seu livro Cozinhando entre Amigos 2 –
200 ml de azeite extravirgem Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua (editora DBA). Os
3 folhas de louro pratos que mais fazem sucesso no restaurante são aqueles dos
Alecrim fresco a gosto almoços e jantares do dia a dia. Entre eles o estrogonofe de
Sal e pimenta-do-reino a gosto molho agridoce, à base de ketchup, páprica doce e molho in-
Manteiga para pincelar glês, servido com arroz branco, salada e batatas assadas com
casca. “Não tem nada a ver com a receita original russa, é nos-
sa adaptação brasileira, que minha mãe aprendeu a fazer an-
Modo de preparo tes de se casar e preparava para mim quando criança”
Misture o suco de laranja e os temperos e deixe o
galeto marinando, na geladeira, por 48 horas. Ponha Cardápio tropical
a ave em uma assadeira junto com 2 conchas do Outro best seller do Lá da Venda, jamais retirado do menu, o
líquido da marinada, com o peito para cima e coberta picadinho brasileiro vem guarnecido por arroz, farofa, bana-
com papel-alumínio, e asse em forno médio por 1 na à milanesa e ovo frito, como manda o figurino. Para obter
hora. Retire o alumínio, pincele manteiga e volte ao o molho de consistência aveludada que provoca gemidos en-
forno até que a pele esteja dourada. Sirva com arroz, tre a clientela, Heloisa tem um segredo, também revelado
feijão, farofa e batatas assadas com alecrim e alho. no livro: “Polvilhar a carne com farinha logo no início do
preparo, depois dourá-la na gordura e deixar que o líquido
do cozimento vá engrossando aos poucos”.
Boas receitas ajudam, mas os chefs são categóricos ao afir-
mar que a comfort food se constrói a partir da relação afetuo-
sa com a comida. Mãe de duas meninas – Isabel, de 21 anos,
e Ana, de 15 –, Heloisa se diverte ao ver que as duas acu-
mulam memórias gustativas parecidas com as suas. “Quem
da minha geração não cresceu comendo panqueca de carne
moída e creme de abacate na sobremesa? Naturalmente,
minhas filhas cresceram apreciando as mesmas receitas.”
Na casa de Alex Atala é diferente. Pai de três – Pedro, de 17
anos, e os gêmeos Joana e Tomás, de 9 –, o chef não vê mui-
tas semelhanças entre a sua cozinha sentimental e aquela
no restaurante que está ajudando a formar para o trio. “Há traços em co-
da jovem mum, como o peru de Natal, que eles reconhecem como a
renata cruz,
os pratos têm comida da avó. Mas cozinha de mãe e de pai é outra história.
memória afetiva Por isso, sempre que posso cozinho para meus filhos.”
gastronomia angELoni 21
capa
22 gastronomia angELoni
PiCaDinHo BrasiLEiro
por Heloisa Bacellar, do Lá da Venda*
rendimento: 6 porções
Ingredientes (picadinho)
1 kg de filé mignon ou alcatra em tirinhas
miúdas e finas
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
25 g de manteiga
100 g de bacon em cubinhos
1 cebola grande em cubinhos
1 dente de alho picado
1 colher (sopa) de mostarda
2 colheres (sopa) de ketchup
1 colher (sopa) de molho inglês
1½ xícara de polpa de tomate
1 xícara de caldo de carne
1 folha de louro
2 colheres (sopa) de salsinha bem picadinha
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Ingredientes (farofa)
50 g de manteiga
Modo de preparo 1 cebola média em cubinhos
Numa tigela, misture a carne e a farinha 2 xícaras de farinha de mandioca crua
e reserve. Numa panela grande, aqueça a ½ xícara de salsinha e cebolinha picadinhas
manteiga e o bacon. Quando os cubinhos Sal a gosto
começarem a dourar, acrescente a cebola,
espere dourar um pouquinho e junte o alho. Modo de preparo
Quando perfumar, adicione a carne e mexa Numa panela média, aqueça a manteiga e doure
produção: silvia goischman. objetos: talheres e taça de vinho, minha avó tinha. mesa de madeira, oficina de agosto.
até dourar de todos os lados. Acrescente a cebola. Junte a farinha, a salsinha, a cebolinha
a mostarda, o ketchup, o molho inglês, sal, e um pouco de sal, misture até umedecer e retire
pimenta, a polpa de tomate, o caldo de carne do fogo.
e o louro e cozinhe em fogo baixo, por uns
20 minutos, até que a carne esteja bem macia. Ingredientes (banana à milanesa)
pratos, stella ferraz. jogo americano, bazar. jogo americano e guardanapo, roupa de mesa.
Acerte o sal e a pimenta, junte a salsinha 1 litro de óleo para fritar
e retire do fogo. 6 bananas-nanicas começando a amadurecer
1½ xícara de farinha de rosca
A chef Heloisa 2 ovos
Bacellar
e a receita de Modo de preparo
sucesso de seu
restaurante, Uns 20 minutos antes de servir, aqueça o
Lá da Venda óleo numa panela ou frigideira grande. Corte
a banana em tiras ou rodelinhas de 0,5 cm.
Coloque a farinha de rosca num prato fundo
e os ovos em outro e bata ligeiramente com
um garfo. Passe a banana pelo ovo e depois
pela farinha de rosca e frite no óleo quente
até que os pedaços estejam dourados e com
uma casquinha crocante. Escorra sobre papel
absorvente. Sirva o picadinho com a farofa, a
banana, um ovo frito, arroz branco e feijão.
*(do livro Cozinhando para Amigos 2 – Entre Panelas
e Tigelas, a Aventura Continua, editora DBA)
gastronomia angELoni 23
elementoprincipal
versátil e
elegante o queijo brie vai muito além do tira-gosto
e do coquetel. Em criações clássicas ou
inventivas, marca presença sem perder a
sutileza. É o ingrediente que agrega sabor
e combate a mesmice de uma receita
por sergio crusco fotos Alex silva
(Queijo Brie)
N
os coquetéis, estamos acostumados a vê-lo co- CarPaCCio DE CoPa Com FoLHas
berto de geleia vermelha, depois de aquecido, EsPECiais E triângULos DE BriE
fazendo a vez de patê e degustado entre uma rendimento: 6 porções
conversa e outra. Nas reuniões entre amigos,
é saboreado com pão ou torradas, em meio a ingredientes
diversos acepipes. Há quem goste de combinar suas tenras 200 g de queijo brie picado 2 folhas pequenas de louro
fatias com frutas como pera ou maçã. Mas as qualidades 20 folhinhas de espinafre cru 50 g de parmesão ralado
gastronômicas do queijo brie vão além do prazer de saborear 1 maço pequeno de minirrúcula 1 tomate italiano picado
um petisco. Ele pode – e deve – estar presente em diversos 1 maço pequeno de miniagrião 1 ramo de tomilho fresco
pratos, da entrada à sobremesa. Adiciona sabor quando usa- 1 maço pequeno de 150 g de massa filo laminada
do como coadjuvante ou substitui outros tipos de queijos em alface americana (pode ser comprada pronta)
preparações clássicas. “O brie é muito versátil”, diz o chef 500 ml de aceto balsâmico 1 ovo para pincelar
Lucas Benute, que comanda a cozinha do restaurante paulis- 6 grãos de pimenta-do-reino preta 54 fatias bem finas de copa
tano Pasta Nostra e nos ensina algumas alquimias com um
dos mais populares queijos franceses. “Ele não tem um sabor Modo de preparo
tão marcante quanto o roquefort ou o gorgonzola, mas tem Lave as folhas e desfolhe-as. Rasgue a alface em pedaços
personalidade”, afirma Benute. Portanto, é o ingrediente menores e misture todas em um recipiente. Reserve. Em uma
ideal para sacudir a mesmice de uma receita sem sobrepor o panela, despeje o aceto balsâmico, a pimenta-do-reino preta
sabor dos outros elementos. Ele propicia muitas harmonias. e o louro e leve à fervura. Já em fogo baixo, deixe ferver até
Em massas recheadas, costuma gerar ótimos resultados. reduzir a 1/3 da quantidade original. Coe e transfira para uma
Unido a outros queijos, como mussarela e parmesão, forma molheira. Para o recheio dos triângulos, misture o queijo brie, o
mix imbatíveis. Pode servir como crosta para carnes gratina- parmesão, o tomate picado e o tomilho. Corte a folha de massa
das. Outra ideia é cortá-lo em cubinhos e agregá-lo a conser- filo em tiras de 4 cm x 14 cm. Pincele com ovo na tira inteira.
vas, caponatas de berinjela ou abobrinha. Se for consumido Coloque um pouco da mistura de brie na ponta da tira de
puro , é preciso retirá-lo da geladeira cerca de meia hora an- massa, faça a primeira dobra formando um pequeno triângulo
tes de servir e esperar que atinja a temperatura ambiente. e continue enrolando a tira em volta desse triângulo. Duas a
Diz a lenda que o brie foi “descoberto” no século VIII em três voltas bastam. Siga o procedimento até terminarem o
um monastério de Reuil-em-Brie pelo imperador Carlos recheio e a massa. Disponha os triângulos em uma assadeira
Magno. Ficou doidinho pela cremosidade da iguaria, envol- antiaderente e asse em forno preaquecido a 200oC por 15
ta por uma crosta branca formada pela presença do fungo minutos. No centro de cada prato raso, coloque uma fatia de
Penicillium candidum em sua fórmula. Por essa razão, o brie copa. Em volta dessa fatia, arrume sete outras fatias, lado a
passou a ser conhecido como “queijo dos reis”. Depois da lado (formando o desenho de uma flor). Retire a fatia do meio
Revolução Francesa e a consequente queda da monarquia, (ela só serviu de guia) e monte, em cada prato, ninhos com o
transformou-se em “rei dos queijos”, título outorgado ao sa- mix de folhas. Regue com aceto balsâmico reduzido e finalize
boroso alimento pelo Congresso de Viena em 1815. colocando 4 a 5 triângulos de brie sobre a salada.
Hoje ele é produzido largamente no mundo, inclusive no
Brasil. Para quem pretende apreciá-lo no local de criação, as
cidades mais notáveis por sua manufatura são Meaux, Me-
lun e Montereau, todas próximas a Paris – é fácil programar
um pulo da capital até uma dessas localidades. Enquanto não
vem a próxima viagem, delicie-se com os excelentes exem-
plares de brie disponíveis no nosso mercado. Aprenda a usá-
los de diferentes maneiras com as receitas de Lucas Benute e
impressione família e amigos no próximo encontro.
gastronomia angELoni
elementoprincipal
ingredientes
6 peitos de frango desossado
250 g de queijo brie
3 ramos de alecrim
Sal com pimenta-do-reino a gosto
Barbante culinário para fechar
Azeite de oliva para grelhar
(para o risoto)
1 cebola picada
100 ml de azeite de oliva
150 g de arroz carnaroli
100 ml de vinho branco seco
1 litro de caldo de legumes
100 g de manteiga com sal
100 g de queijo parmesão fresco ralado
2 peras descascadas e picadas em cubos
Sal a gosto
Pimenta-do-reino rosa para decorar
Modo de preparo
Divida cada peito de frango ao meio, como se estivesse
fazendo dois filés mais finos. Polvilhe ambos com sal.
Sobre cada um deles, disponha duas ou três fatias
de queijo brie e algumas folhinhas de alecrim. Enrole os
filés e amarre com o barbante, fazendo pequenos rolês.
Reserve-os para grelhar, em azeite, na hora de servir.
Comece a preparar o risoto. Refogue a cebola no azeite e,
em seguida, acrescente o arroz. Adicione uma
pitada de sal para que os grãos peguem sabor.
Mexa até aquecer e regue com o vinho branco.
Deixe evaporar completamente. Acrescente, aos poucos,
o caldo de legumes, mexendo constantemente. Repita esse
processo até os grãos atingirem a textura desejada.
Nesse momento, apague o fogo e grelhe os envoltinis de
frango até ficarem dourados. Finalize o risoto adicionando
a manteiga, o queijo parmesão e os cubos de pera. É
importante que a manteiga esteja gelada, o que faz o risoto
ficar mais cremoso e brilhante. Mexa bem, para deixá-lo
cremoso. Para servir, disponha o risoto no centro dos
pratos e espalhe-o em um movimento circular. No centro,
coloque dois envoltinis, um sobreposto ao outro. Para
finalizar, polvilhe pimenta rosa com um moedor.
26 gastronomia angELoni
(Queijo Brie)
produção: andrea silva. produção culinária: silvia marques. prato e guardanapo dos triângulos de brie: m.dragonetti e roupa de
150 g de açúcar refinado tradicional quantidade de água, aqueça e incorpore
mesa. prato da panna cotta de brie: art mix. prato e guardanapo do envoltinis de frango: m.dragonetti e roupa de mesa.
150 g de queijo brie em temperatura ambiente ao creme ainda quente. Unte 6 forminhas
300 ml de creme de leite fresco de alumínio de 150 ml com a manteiga e
10 g de gelatina incolor sem sabor preencha-as com o líquido. Leve ao refrigerador
Manteiga em temperatura ambiente para untar por, no mínimo, 4 horas. Misture todos os
ingredientes da calda (menos o corante)
(para a calda de limão e gengibre) em uma panela e leve ao fogo brando. Deixe
400 ml de água reduzir até chegar a 1/3 da quantidade original.
80 ml de suco de limão peneirado Passe a calda por uma peneira (que não seja
300 g de açúcar refinado tradicional de plástico). Quando esfriar completamente,
50 g de gengibre descascado picado acrescente as 3 gotas de corante alimentício
3 gotas de corante alimentício verde e misture. É importante que a calda esteja
realmente fria – caso contrário, o calor pode
(para o pralinée) alterar a cor. Para fazer o pralinée, leve a
100 g de manteiga com sal manteiga e as amêndoas ao fogo em uma
150 g de amêndoas moídas grosseiramente panela antiaderente. Após aquecer, junte
100 g de açúcar refinado tradicional o açúcar e a farinha e mexa até começar a
100 g de farinha de trigo peneirada caramelizar. Transfira para uma travessa e deixe
esfriar. Depois de frio, solte, caso necessário, os
Modo de preparo pedaços que estiverem unidos, transformando a
Bata o leite, o açúcar e o queijo brie no mistura em uma espécie de farofa doce. Depois
liquidificador até obter um creme homogêneo. de geladas, desenforme as porções de panna
Transfira o líquido para uma panela e adicione cotta em pratos de sobremesa. Regue com a
o creme de leite fresco. Leve ao fogo baixo, calda escolhida e polvilhe o pralinée.
gastronomia angELoni 27
saberdosabor
fartura e alegria
Pescadores puxam
a rede repleta de
tainhas, na praia
do Campeche
28 gastronomia angELoni
o milagre
das
tainhas
a pesca artesanal desse peixe, no litoral
de santa Catarina, é um ritual realizado
há mais de 200 anos para celebrar a
harmonia entre o homem e a natureza
por Flávia Benvenga
D
esde o fim do século XVIII, nos meses de maio
e junho, milhares de pessoas, sobretudo pesca-
dores, se reúnem nas praias do litoral de Santa
Catarina para vivenciar um ritual. É a pesca da
tainha, que registra imagens quase bíblicas, o verdadeiro
milagre dos peixes. Feita nos moldes açorianos, a pesca
artesanal desse peixe é muito mais que uma atividade de
pescadores. É um espetáculo que une o homem à natureza
e celebra a fartura. “Trata-se de um fenômeno natural: as
tainhas saem da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul,
rumo ao litoral sudeste em busca das águas mais quentes
para desovar. Por isso há uma quantidade tão grande de
peixes”, explica Guta Chaves, autora do livro Larousse da
Cozinha Brasileira (Larousse), escrito com Dolores Freixa.
Para os especialistas, essa é uma pescaria de ventos.
Nesse caso, o vento sul faz as tainhas migrarem para o
norte e é nesse momento que os pescadores entram em
ação. A quantidade de cardumes que surgem é tamanha
que em meados de maio colocam-se placas nas praias
proibindo a prática do surfe. Durante cerca de dois me-
ses, pescadores, moradores e turistas fazem uma espé-
cie de mutirão. “Eles preparam suas redes e montam em
cada comunidade a escala para uma vigia diária. É tem-
po do arrastão da tainha, pesca com rede e canoa à beira
do mar”, diz Guta em seu livro.
Celebração e ameaça
É realmente uma festa que proporciona a todos alegria e
satisfação. Mas estudiosos e pesquisadores dão sinais de
alerta: a pesca industrial, feita com traineiras, na saída
da Lagoa dos Patos, compete com os pequenos barcos.
“Isso vem ocasionando a desistência de muitos pescado-
res de continuar com a atividade nos moldes antigos”,
afirma Maria Carolina Soares, da Universidade do Es-
tado de Santa Catarina, em seu estudo Pesca artesanal
da tainha em Florianópolis, SC: conhecimento da atividade
para manutenção de um legado biológico e cultural. “A pos-
sibilidade da extinção de uma atividade com tantos atri-
butos fez com que esse estudo e tantos outros se façam
cada vez mais necessários, para preservar e promover o
legado biológico da pesca da tainha na capital catarinen-
se”, diz a estudiosa.
Durante a temporada da pesca, os pescadores se en-
contram nos ranchos, geralmente do capitão do barco,
para preparar e apreciar as tainhas pescadas. Arantinho,
filho de Osmarina e Arante, fundadores em 1958 do tra-
dicional Bar do Arante, na praia do Pântano do Sul , em
Florianópolis, dá a receita do prato tradicional.
© 1 foto: alex silva. produção: andréa silva. produção culinária: silvia marques. objetos: fôrma e talheres, minha avó tinha. tecido, art mix. 2 tarcísio mattos/tempo editorial
tainHa assaDa E rECHEaDa
DE FaroFa DE oVas
rendimento: 4 porções
ingredientes
1 tainha inteira de 2 kg, limpa e sem escamas
Sal a gosto
Modo de preparo
Limpe o peixe, tirando as vísceras, e salgue a gosto. Coloque
a farofa (receita abaixo) dentro da tainha para recheá-la.
Feche a barriga, costurando com linha ou prendendo com
palitos de dente. Leve ao forno quente por cerca de 40
minutos. Sirva com arroz branco, batata sauté e pirão.
ingredientes
3 colheres (sopa) de óleo de soja
2 ovas grandes de tainha
Temperos verdes a gosto (salsinha e cebolinha)
Sal a gosto
1 cebola picada
1 tomate picado
2 xícaras (chá) de farinha de mandioca
Modo de preparo
Em uma frigideira, coloque o óleo de soja e frite as ovas.
Quando estiverem cozidas, esfarele-as com um garfo e junte
os temperos verdes picadinhos, o sal, a cebola e o tomate.
Refogue mais um pouco. Se quiser, acrescente camarões
frescos descascados. Para finalizar, coloque a farinha de
mandioca aos poucos, mexendo bem. Recheie
©1 a tainha com essa farofa.
E
la já foi comparada à atriz italiana Sophia Lo-
ren e eleita a mulher mais bonita do século.
Esguia e elegante, a morena de olhos verdes
atrai elogios por onde passa. Viveu em Curiti-
ba dos 4 aos 12 anos, quando se mudou para
São Paulo. Modelou no Brasil, na França e nos
Estados Unidos. Cursou terapia ocupacional, mas o teatro, a
televisão e o cinema arrebataram seu talento. E, ao contrário
do que se pode imaginar, Maria Fernanda Cândido também
se sai muito bem diante do forno e do fogão. Essa faceta culi-
nária, no entanto, ela reserva apenas para amigos íntimos e
familiares, em ocasiões especiais.
Aos 37 anos, a atriz confessa que cozinhar não faz parte do
seu dia a dia, até porque com a rotina agitada não sobra mui-
to tempo. Ora está no teatro – ela encerrou no ano passado a
temporada da peça Ligações Perigosas –, ora no cinema (seu
último filme foi Aparecida, com direção de TizukaYama-
zaki), ora na tevê, em novelas, minisséries e comerciais. Há
alguns meses, Maria Fernanda protagonizou a minissérie O
Brado Retumbante, da Rede Globo, e, mais recentemente,
foi a estrela do episódio A Perseguida de Curitiba, da série As
Brasileiras. “Diante de uma agenda tão corrida, fica difícil
conseguir um intervalo para ir à cozinha. Às vezes, faço uma
comidinha saborosa para a família. Reconheço que cozinho
apenas o trivial, receitas simples e gostosas”, diz a atriz. Mas
é quando recebe os amigos que ela prepara uma especialida-
de típica brasileira, a farofa de carne-seca. “Um prato fácil
de fazer, com um temperinho todo especial. É sucesso na
certa”, conta Maria Fernanda. Entre os ingredientes pre-
“Adoro sentes na sua cozinha, a atriz destaca a noz-moscada. “Acho
o aroma que essa especiaria dá um toque a qualquer prato. Gosto de
de bolo
pela casa” acrescentar uma pitadinha ao leite quente, em carnes e so-
1© pas. Fica uma delícia”, comenta.
maria
Cheiro de infância
Casada há seis anos com o empresário francês Petrit Spahija,
proprietário do Le Poème Bistrô, em São Paulo, Maria Fer-
Fernanda
nanda confessa que adora jantar no restaurante do marido.
Seu prato preferido? “Steak Tartar, sem dúvida!”, ela conta.
Mas em casa gosta mesmo é de preparar uma receita espe-
cial para surpreender os filhos Tomás, de 5 anos, e Nicolas,
Cândido
de 3. Esse é o momento de descontração e alegria, no qual
a atriz arregaça as mangas e entrega-se ao prazer de fazer
um delicioso lanche para seus queridos. “Adoro fazer bolos,
são minha especialidade. O tradicional de chocolate, assim
como o de fubá e o de cenoura com cobertura de chocolate
e a torta de banana, agrada a toda a família, principalmente
Bela e talentosa, a atriz e modelo, sempre as crianças”, conta a atriz. Ela relembra que aprendeu a pre-
que pode, exercita suas habilidades culinárias. parar os bolos com sua mãe, ainda menina. “Adoro o aroma
que eles exalam pela casa enquanto assam. Tem cheirinho
Confira aqui sua receita preferida de infância”, brinca. E, de tanto preparar essas gostosuras
por fernanda cury para os filhos, a atriz já sabe a receita de cor!
gastronomia angELoni 33
pratopreferido
34 gastronomia angELoni
ComCole,no
Waldorf
O hotel preferido do compositor Cole Porter, em
Nova York, sempre deliciou seus hóspedes com receitas
como a salada Waldorf e os crepes de frutos do mar
por sergio crusco
V
ocê sabe como são as viagens a Nova York: frenéticas, enlouquecidas,
quase não há tempo. Mil compras a fazer, musicais na Broadway a
conferir, exposições monumentais no MoMA ou no Metropolitan,
a culinária de um novo chef que virou o queridinho do momento. A
sensação que se tem, na volta, é de que os dias voaram e pouco se fez de tudo o
que se tinha vontade. Da próxima vez na Big Apple, que tal desacelerar por pelo
menos uma tarde? Já que os demais dias serão mesmo entregues ao frenesi da
capital do mundo, enfie-se no melhor modelo e deixe-se levar, com calma, por
algumas horas de luxo e sabor no Waldorf Astoria Hotel – só para variar, fugir
do circuito Macy’s-Starbucks-Times Square. Todos os magnatas que se possa
imaginar passaram por lá, os grandes estadistas e até os mais temidos gângs-
teres. Claro, estrelas de cinema também contribuíram para a fama do hotel,
que na época de sua reinauguração, em 1931, no número 301 da Park Avenue,
gabava-se de ser o maior e mais alto do mundo. Ele tinha 47 andares e 1.413
quartos, substituindo o velho prédio fundado em 1893 no local onde hoje fica
o Empire State. Vários filmes usaram o Waldorf Astoria como cenário, desde
Week-End at the Waldorf (de 1945, estrelado por Ginger Rogers e Lana Turner)
até A Pantera Cor-de-Rosa (2006, com Steve Martin e Beyoncé), passando pela
emblemática cena do tango de Perfume de Mulher (1992), com Al Pacino. Mas
ninguém contribuiu tanto para a mística do Waldorf quanto a música de Cole
Porter (1891-1964) e a própria gastronomia criada no hotel. Autor de mais de
mil canções – e de um punhado de clássicos como “Night and Day”, “Begin the
nOites musicAis Beguine” e “I’ve Got you Under my Skin” –, Cole Porter não deixou de fazer
cole também referência em sua obra à mais célebre receita do hotel, apreciada por gourmets
adorava ir ao no mundo inteiro. Em “You’re the Top”, compara o ser amado ao Museu do
tradicional hotel
americano para Louvre, ao Mickey Mouse, ao Coliseu de Roma, ao Inferno de Dante e à salada
tocar suas músicas Waldorf, entre outras obras monumentais.
©agência
1© o globo
latinstock gastronomia angELoni 35
pratopreferido
Além da paixão
pela música,
Porter adorava
saborear pratos
como a salada
Waldorf e os
crepes de frutos
do mar
©1
produção: andréa silva. produção culinária: silvia marques. prato: kirk’s presentes. guardanapo: roupa de mesa.
cogumelos selvagens, criado pelos cozinheiros de Napoleão Junte todos os ingredientes e regue com o suco
Bonaparte, figura entre os pratos principais, assim como o de limão . Em seguida, adicione a maionese
cordeiro com corações e fundos de alcachofra, a salada Wal- e tempere com sal e pimenta.
dorf e os crepes com frutos do mar típicos do hotel.
gastronomia angELoni 37
docedelícia
sotaque
português
38 gastronomia angELoni
muitos doces de lá caíram no
gosto dos brasileiros de cá, por isso
preparar algumas gostosuras
P
lusas é sucesso garantido
nas refeições, ora pois! ortugal e Brasil possuem laços muitos estreitos,
por silvia regina desde a história de colonização do nosso país, o
que inclui o idioma e, claro, a culinária. Além
fotos ricardo de vicq do bacalhau, acompanhado de um bom vinho
do Porto, os doces da Terrinha são muito apre-
ciados aqui. “São sobremesas deliciosas, sucu-
PastÉis DE santa CLara lentas e que se desfazem na boca”, avisa Ana Maria San-
rendimento: 6 porções tos, gerente de operações do Sofitel Guarujá Jequitimar,
portuguesa que acompanha de perto o Festival Português,
ingredientes organizado pelo hotel. “As ilhas de Açores e Madeira são
(para o recheio) ricas no quesito gastronômico e muitos doces sofreram
500 g de açúcar refinado influência desses lugares. Os imigrantes portugueses que
24 gemas, mais 2 claras de ovos
se instalaram na região de Florianópolis são, na maioria,
125 g de amêndoas peladas e raladas
provenientes dessas regiões e trouxeram para o Brasil os
segredos da culinária do outro lado do oceano”, completa.
1 colher (chá) de canela em pó
Um dos ingredientes que mais aparecem nos doces lu-
Gema de ovo para pincelar
sitanos são os ovos, principalmente as gemas. Diz a lenda
Açúcar de confeiteiro para polvilhar
que as freiras que ficavam enclausuradas usavam claras de
ovos para engomar suas roupas e aproveitavam as gemas
(para a massa)
para inventar doces. É daí também que vem a denomina-
500 g de farinha de trigo
ção doces conventuais, feitos nos conventos.
125 g de manteiga
Uma pitada de sal Famosos e gostosos
Modo de preparo Do lado de cá, alguns doces caíram no gosto dos brasileiros.
Leve o açúcar ao fogo com um copo Os mais famosos são os pastéis de Santa Clara e de Belém.
de água. Deixe ferver até fazer ponto de “Os doces aqui chamados de pastéis de Santa Clara, em Por-
fio. Reserve. Depois que a calda estiver tugal são pastéis de Tentúgal, isso porque faziam parte das
fria, coloque as gemas e as claras, receitas da doçaria do Convento de Nossa Senhora da Na-
previamente batidas, as amêndoas tividade-Carmelo, da Vila de Tentúgal”, conta Ana Maria.
e a canela. Reserve para esfriar. Aqui no Brasil ganharam formato redondo ou de meia-lua,
Enquanto isso, peneire a farinha de trigo mas na receita original eles eram palitos folhados.
em uma tigela e junte com a manteiga e Já o toucinho do céu tem muitas variações, dependendo
o sal e coloque água morna aos poucos, da região onde é preparado. Todos são à base de ovos e
amassando até obter uma massa macia de açúcar, mas podem ter ingredientes como amêndoas ou
e possível de ser aberta com o rolo. doce de abóbora. Este é originário da cidade de Murça e
Abra a massa, com espessura fina, é uma das variações mais famosas. E o pastel de Belém?
e corte-a em círculos. Coloque um Também denominado pastel de nata, é o doce português
pouco do recheio no centro de cada mais conhecido e sua receita original é guardada a sete
pedaço. Dobre a massa sobre o recheio chaves até hoje pela Pastéis de Belém, nome da fábrica que
deixando o pastel em forma de meia- faz o doce em Lisboa. Por lá, ele é comido quente, polvilha-
lua. Para as bordas não desgrudarem, do com canela e açúcar. Mas nós conseguimos uma receita
passe um pouco de água. Pincele os bem parecida com essa, apresentada a seguir pelo chef Pa-
pastéis com gema de ovo, polvilhe com o trick Ferry, responsável pela gastronomia do Sofitel Gua-
açúcar de confeiteiro e leve ao forno em rujá Jequitimar, no litoral paulista. Comece já a separar os
temperatura moderada até assar. ingredientes e aproveite essas delícias!
gastronomia angELoni 39
docedelícia
40 gastronomia angELoni
charmeàmesa
Jantar
adois
no Dia dos namorados, fuja do burburinho
dos restaurantes lotados e prepare
saborosas receitas em casa com a ajuda do
Angeloni. surpreenda seu amor com um
produção: silvia goichman. objetos: toalha de mesa, mais home. bandeja coração, d. filipa. vaso de flor, l’oeil. taças e balde de gelo, angeloni.
s
air para jantar fora no Dia dos Namorados nem
sempre é a melhor opção para celebrar a data.
Os restaurantes ficam tão lotados e barulhentos
que acabam com o clima de romance. Por isso,
uma ótima pedida pode ser preparar um jantar
especial em sua casa. A comida, claro, é funda-
mental, mas caprichar na decoração é o que vai criar uma
atmosfera de paixão e sensualidade. E, nessa hora, menos
é mais. “Os exageros podem pôr tudo a perder. Sutileza
e bom gosto vão dar mais resultado”, aconselha Tete da
Silva, instrutora da área de hospitalidade do Senac PR.
“Uma mesa bem-posta – de acordo com o cardápio –, com
louças e talheres elegantes, é uma excelente dica. Coloque
arranjos em tons de vermelho, mas cuidado com as flores
muito perfumadas, pois elas interferem no sabor dos ali-
mentos”, acrescenta.
Para beber, não há dúvidas: o champanhe continua sen- rosas vermelhas, rosa na
do o elixir dos amantes, perfeito para celebrar o amor. E, cor rosa, gérberas laranja
para brindar, a flûte não pode faltar na sua mesa. Se for e astromélias vermelhas
dão colorido aos vasos
servir vinho durante o jantar, disponha também uma taça transparentes
42 gastronomia angELoni
gastronomia angELoni 43
charmeàmesa
O amor está no ar
Os aromas, aliás, são fundamentais não só para
aguçar os sentidos mas para que o jantar român-
tico seja lembrado para sempre. “Uma fragrância
associada a um momento marcante fica registra-
da no cérebro humano e, toda vez que senti-la, a
pessoa vai se lembrar daquela experiência”, explica
Clóvis Alves Sebastião, gerente da Biomist, empre-
sa de marketing olfativo. Ele dá a dica para deixar
a noite com cheirinho de romance. “Para o público
feminino que quer impressionar, as fragrâncias da
família floriental, composta de elementos doces e
balsâmicos, com um toque de flores exóticas ou
notas frutadas com toques orientais, tornam o
ambiente único, sofisticado e elegante. Para os ho-
mens mostrarem seu poder de sedução, o oriental Os sousplats dourados dão sofisticação aos pratos
contempla mistério, criando uma atmosfera quente brancos com friso de ouro
e sensual. Já o oriental amadeirado é sensual e, ao
mesmo tempo, requintado”, indica. Pronto! Agora
é só ligar o som (veja nossas sugestões no playlist
abaixo), vestir aquela roupa especial e aproveitar
cada segundo desta noite ao lado de quem você
ama. Feliz Dia dos Namorados!
44 gastronomia angELoni
enfeitar os
apaixonante
com detalhes.
ideia original e
mime seu amor
especiais é uma
guardanapos de
pano com frases
O balde de inox, o espumante freixenet e a taça de cristal, do Angeloni, criam uma atmosfera romântica
gastronomia angELoni
produção: silvia goischman. objetos: toalha, mais home. sousplat, d. filipa. pratos, divino espaço. talheres, conceito firma casa. guardanapos e
porta-guardanapos, mais home. candelabro, benedixt. vaso, l’oeil. jarra de água, casa vostra. bowl, benedixt. presentes, krepon.
45
charmeàmesa
entrada
BLinis DE HaDoCK
Com soUr CrEam
rendimento: 2 porções
ingredientes
2 fatias de pão miga
1 limão-siciliano
1/3 de maço de ciboulette, picada
30 g de cream cheese
150 ml de creme de leite fresco batido
em chantilly ( sem açúcar, apenas o creme)
80g de hadock ou salmão defumado fatiado
1 talo de erva-doce cortado finamente
1 colher (sobremesa) de ovas
(sugestão massagô)
20 ml de azeite
Sal e pimenta branca a gosto
Buquê de folhas verdes
Modo de preparo
Com o auxílio de um cortador, faça dois círculos
de pão miga. Leve ao forno médio até que
Prato principal
comece a dourar, retire e reserve. Faça um sour
cream misturando o suco do limão e a ciboulette
com o cream cheese e junte ao chantilly PEixE Do JoUr
delicadamente. Em seguida, adicione sal e rendimento: 2 porções
46 gastronomia angELoni
sobremesa
Pain PEr DU
rendimento: 2 porções
ingredientes 2 colheres (sopa) de açúcar agradecimento: daniela frança pinto, chef do lola bistrot (receitas e locação).
gastronomia angELoni 47
entrevista
simplicidade
à francesa
o chef Emmanuel Bassoleil, naturalizado brasileiro, diz o que o
encanta na culinária brasileira e revela-se um homem de hábitos
frugais – sua geladeira é repleta de frutas, verduras e queijos
por sergio crusco foto ivan shupikov
E
mmanuel Bassoleil tem vários motivos para O Brasil influenciou sua forma de cozinhar?
comemorar o ano de 2012. Acaba de com- Aqui tive que me adaptar e criar algo diferente.
pletar 50 anos, 35 de profissão, 25 de Brasil Quando cheguei, tínhamos frutas, mas faltavam
e 10 como chef executivo do restaurante Skye, no carne, peixe, açúcar... Era a época da recessão do
topo do Hotel Unique, um dos mais requintados Plano Sarney. Não havia salmão, as pessoas pe-
de São Paulo. Todas essas datas comemorativas diam “aquele peixe rosa” e eu me virava com tru-
fazem o chef francês, nascido na Borgonha, acre- tas rosadas criadas em Campos do Jordão. Depois
ditar que este seja um ano de transição. Ele está veio o Plano Collor, todos esses planos, os tempos
prestes a lançar seu terceiro livro e a montar, pela de inflação absurda. Tive de mudar toda minha
primeira vez, uma cozinha completa em sua casa. técnica de trabalho, mesmo com dez anos de car-
Sim, o premiado Emmanuel, formado em Dijon, reira e tendo todo o know-how da culinária fran-
não gosta de cozinhar no lar – compara-se a um cesa. Tive de reaprender a trabalhar.
cantor que não canta fora do palco. É adepto da
simplicidade e da comida leve, saudável. Suas A culinária francesa passa por um bom mo-
invenções, no entanto, continuam a deixar bo- mento no Brasil?
quiaberto o público que frequenta o Skye, onde se A cozinha francesa será sempre falada no mun-
misturam várias tendências culinárias, da japone- do pelas técnicas, pela formação dos profissio-
sa à italiana – sem esquecer as iguarias francesas, nais. A França é o berço da gastronomia, tem
claro. Conversamos com o chef, que se considera mil anos de história. Sempre será uma referên-
mais brasileiro que francês – “apesar de todo esse cia. Há muitos nomes franceses no mercado
sotaque” –, e ele nos revela as paixões que o fize- brasileiro, mas pouca coisa aqui tem a ver com
ram trocar a Europa pela América do Sul. a gastronomia francesa. Hoje temos um chef, o
Erick Jacquin, da La Brassserie Erick Jacquin,
Como você decidiu se estabelecer no Brasil? em São Paulo, que faz culinária 100% francesa.
Quando conheci minha primeira mulher, brasi- Os outros que chegaram há uns 30 anos estão
leira e mãe dos meus filhos, demos uma volta ao em restaurantes italianos. Fazem cardápios va-
mundo e vim visitar o Brasil como turista. Ha- riados ou trabalham em hotéis, como eu.
via trabalhado quatro anos em um navio e quis
dar um tempo aqui antes de morar nos Estados E como se explica a onda de novos bistrôs em
Unidos. Foi uma escala que demorou bem mais várias cidades brasileiras?
do que eu imaginava, uma escolha do destino. A gastronomia francesa ainda é uma fonte de
O amor por este país me motivou a ficar. influência e de criação de novos negócios. Mas
48 gastronomia angELoni
(Emmanuel Bassoleil)
O chef emmanuel não é mais dirigida por chefs franceses. Aqui, Quais são seus planos para o futuro?
Bassoleil na a culinária francesa já se abrasileirou bastante, Este é um ano de transição, vou lançar meu novo
cozinha do
restaurante skye, como a japonesa. Mas essa não é uma crítica, é livro, que será bem diferente de tudo – mas ainda
no hotel unique apenas uma análise. é um assunto sigiloso. Hoje moro sozinho e quero
pensar um pouco mais em mim, porque a vida in-
O que gosta de cozinhar em casa? teira só pensei nos outros. Meu filho mais velho,
Não gosto, nunca tive cozinha montada em casa. de 22 anos, mora em Londres, o mais novo, de 21,
Sou muito dedicado ao meu trabalho, de 15 a 18 vive em Paris. Quero ter uma cozinha completa
horas por dia. Quando chego em casa, quero pen- em casa, mas só para brincar, chamar a namo-
sar em outra coisa. rada, agradar a um amigo. Hoje, meu prazer é
chegar do trabalho e abrir um belo vinho. São tão
Mas alguma coisa você tem na geladeira. raros os momentos em que posso fazer isso...
De manhã, faço uma vitamina de banana, maçã,
pera, leite de soja, iogurte, acompanhada de nozes Com a cozinha montada, qual seria, enfim, o
e castanhas. Se preparo mais alguma coisa, é uma primeiro menu caseiro?
salada com rúcula, endívias, um queijinho. Sempre fui uma pessoa simples, minhas receitas
nunca foram complicadas, nunca misturo cin-
Nunca exigiram que você cozinhasse em casa? quenta ingredientes. Posso pensar num peixe,
Minhas mulheres cobravam e reclamavam que numa carne... Mas, honestamente, quando estou
se casaram com um chef que não cozinhava para em casa, só como queijos, saladas e frutas. Com
elas. Mas também elas nunca cozinharam para 40 anos comecei a me preocupar com o que como.
mim. Só porque sou cantor, vou ter de cantar uma Não é frescura – me faz bem e eu gosto. Agora,
musiquinha todo dia para a minha mulher, para quando quero comer fartamente, gosto de ser ser-
ela começar bem o dia? vido, e não de servir.
gastronomia angELoni 49
viajepelacomida
garfada
a culinária tailandesa é rica, criativa e interessante.
agrada a paladares refinados e é perfeita para quem
gosta de ousar em experiências gastronômicas
por veridiana mercatelli
S
e é verdade que um país pode ser definido por sua
culinária, pode-se dizer que a Tailândia é mesmo
uma mistura interessante de aromas, cores e tex-
turas. Afinal, onde mais uma gastronomia con-
segue reunir tanta variedade de sabores em um
único prato? Uma simples refeição tailandesa pode ser uma
verdadeira viagem “ardente” graças à mistura inusitada de
ingredientes e especiarias. Por ser forte e delicada, a criativa
culinária thai é singular se comparada a outras cozinhas do
Oriente – e do resto do mundo!
Para os iniciantes, pode-se começar pelo Pad Thai (ma-
carrão de arroz frito com molho de peixe). Uma das receitas
mais populares da Tailândia, esse prato é encontrado facil-
mente em restaurantes e até mesmo nas ruas de Bangcoc
a um preço bastante convidativo. Apesar da variedade dos
alimentos que podem compor um bom Pad Thai, há algo
fundamental da tradição: a mistura perfeita entre doce, sal-
gado, amargo, azedo e picante, cada um deles representado
por um ingrediente. O sabor azedo pode vir do vinagre ou do
suco de tamarindo. O doce, do açúcar de palmeira ou nor-
mal. Mas alguns elementos estão sempre presentes, como
amendoim, broto de feijão, ovos e tofu. mercAdO
Os curries fazem parte do dia a dia do povo tailandês, as- fLutuAnte
sim como o arroz. Aliás, esse é um ingrediente primordial em Bangcoc,
preparação e
na Tailândia, servido de diversas formas: cozido, frito ou venda de
em sopa. “O arroz é o alimento mais importante não só na alimentos
gastronomia angELoni 51
viajepelacomida
máscara usada
para dança
tailandesa
gastronomia angELoni 55
viajepelacomida (tailândia)
Entre o sagrado e o profano
Dona de lugares incomuns e de uma beleza singular, a Tai-
lândia é um dos destinos mais impressionantes do Oriente.
Reúne cultura, religião, belas paisagens, sabores inusitados...
tudo em um só país. Bangcoc é moderna, imponente, espiri-
tual, colorida, divertida e um pouco caótica. Estes são só al-
guns dos adjetivos que podem ser atribuídos a esta metrópole
repleta de contrastes e opções turísticas. A capital tailandesa,
também conhecida como “Cidade dos Anjos”, possui mais de
400 templos budistas em funcionamento, grandes palácios,
museus, muitos centros comerciais, ótimos restaurantes e
uma vida noturna agitada. Confira algumas atrações imper-
díveis durante a sua estada:
Azeitonas, sempre
Além do sabor refinado, as azeitonas argentinas
Dona Helena são bem versáteis à mesa. Dão
um toque especial às receitas de massas, carnes
e saladas e combinam perfeitamente com
pedacinhos de queijo ou de pão. Produzidas
pela Angel Camacho, filial da empresa espanhola
Compañia Envasadora Loreto, elas aparecem
em várias versões: verde fatiada, verde recheada
de pimentão, verde com e sem caroço e preta
com e sem caroço. À venda com exclusividade
no Angeloni. Experimente!
foto: alex silva. produção: andréa silva. produção culinária: silvia marques. objetos: prato e bowl
de cerâmica, hideko honma. bowl de madeira e tábua, art mix. toalha, roupa de mesa.