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O Jardim da Emuná – Introdução
Meu humilde pedido é que você leia este estudo com atenção e tente ao
máximo aplicar os conselhos à sua rotina.
Tenho certeza de que este estudo o ajudará a conquistar uma medida maior
de emuná em sua vida.
Se assim for, todos os meus esforços terão valido a pena.
Rezo para que D'us realize meu desejo: que todos que leiam este estudo se
esforcem para obter emuná.
Abençoo todos vocês, queridos leitores; que vocês possam se conectar a
Hashem com a ajuda desse estudo.
Que seus problemas desapareçam e que vocês mereçam uma redenção
pessoal de corpo e alma, assim como uma vida longa e feliz.
Que possamos presenciar a reunião de todos os exilados e a reconstrução
do Templo Sagrado em Jerusalém, em breve e em nossos dias, amém.
Shalom Arush
O Jardim da Emuná – Parte 1
Os enigmas da vida
O mundo está repleto de questões:
Qual o significado da vida?
Aonde estou indo?
O que será no final?
Como devo viver minha vida?
Serei feliz um dia?
A lista é interminável...
As diferenças drásticas e aparentemente injustas entre a vida de duas
pessoas nos deixam perplexos.
Enquanto alguns se conduzem suavemente pela vida, outros passam uma
vida inteira de sofrimentos.
Alguns nascem com força e saúde perfeita; outros são fracos e
incapacitados.
Alguns são ricos; outros são pobres.
Uma pessoa boa que nunca feriu sequer uma mosca morre jovem, ao passo
que um tirano cruel fica no poder até a velhice.
Por quê?
Aqueles que fazem mais perguntas são os que mais sofrem.
A pessoa que ganha pouco pergunta: "Por que tal pessoa tem tanto dinheiro
enquanto eu, mesmo trabalhando tão duro quanto ela, quase enlouqueço
tentando pagar as contas?"
O pai de uma criança adoentada pergunta: "Por que todos têm filhos fortes
e saudáveis e eu tive a má sorte de criar uma criança que precisa de
cuidados médicos vinte e quatro horas por dia?"
O deficiente físico pergunta: "Por que todo mundo é livre e ágil e eu sou tão
limitado e debilitado?"
O pobre olha para o rico e pergunta: "Por que ele mereceu ter nascido em
berço de ouro enquanto a minha vida é uma guerra sem fim contra a
pobreza e a privação?"
O solitário que não consegue encontrar uma companheira pergunta: "Por
que eu — com todas as minhas qualidades — não consigo me casar
enquanto outros, com todos os seus defeitos, encontram, ainda jovens,
esposas perfeitas?"
Isso não é tudo...
Tempos de mudança
Há ainda um leque adicional de questões sobre as mudanças que ocorrem
de um dia para o outro.
Eis alguns exemplos familiares:
- Por que ontem foi um dia tão esplêndido, em que tudo correu como
planejado, enquanto hoje — sem nenhuma razão aparente — tudo é um
desastre e não sinto nada a não ser dor e sofrimento?
A resposta universal
Todas as questões da vida têm uma resposta universal — Emuná.
A emuná é como uma chave-mestra para os dilemas da vida.
Emuná é o termo em hebraico bíblico original para a crença firme em um
único, supremo, onisciente, benevolente, espiritual, sobrenatural e
onipotente Criador do universo, ao qual nos referimos como Deus (ou
Hashem, que literalmente significa "o nome", para que não nos arrisquemos
a usar o nome de Deus em vão).
Ele sozinho cuida de cada um de nós de maneira única e personalizada,
conforme nossas necessidades individuais.
Como veremos no decorrer deste estudo, tudo o que acontece conosco é o
resultado da vontade de Hashem e da Sua intervenção em nossa vida,
fenômeno que muitas vezes chamaremos de Providência Divina.
A Providência Divina existe para nos ajudar a cumprir nossa missão.
A Providência Divina não apenas determina acontecimentos numa escala
global, como também dita os menores detalhes do universo, como o jantar
de uma minhoca.
Toda a nossa vida — incluindo cada momento — é o resultado das decisões
de Hashem realizadas pela Providência Divina.
Hashem decide quando prosperamos e quando fracassamos, quando os
tempos são fáceis e quando são difíceis.
De acordo com a Cabalá, o pensamento esotérico judaico, completar a
retificação da alma, ou ticún, é a realização mais elevada que se pode
alcançar neste mundo material.
Muitas vezes, precisamos sofrer ou passar por dificuldades para conseguir
um nível espiritual mais elevado ou a retificação da alma, assim como um
atleta campeão precisa suportar sessões excruciantes de treino para chegar
ao seu melhor desempenho.
Uma vez que desenvolvemos um senso profundo de emuná segundo o qual
Hashem, por meio da Providência Divina, faz tudo para o nosso benefício,
para nos conduzir pelo caminho da necessária retificação da alma, então as
peças do quebra-cabeça da vida se juntam, formando uma imagem de
espantosa clareza.
Com esses princípios em mente, a emuná se torna a resposta universal
para todas as perguntas da vida.
Conhecendo Hashem
Basicamente, Hashem nos faz apenas um simples pedido — que nós O
conheçamos.
Segundo o sagrado Zohar (interpretação esotérica da Torá do século II da
e.c., do Rebe Shimon Bar Iochai e seus discípulos), Hashem nos criou para
o único propósito de O conhecermos.
Assim sendo, as experiências e os acontecimentos diários de nossa vida não
são mais que mensagens particulares de Hashem, criadas para motivar em
nós a emuná, para nos encorajar a falar com Ele, facilitando, assim, os
nossos esforços de aproximação.
Por quê?
Quanto mais próximo alguém chega de Hashem, melhor O conhece.
Conseguir uma aproximação de Hashem e conhecê-Lo é a retificação
máxima da alma, nosso objetivo individual e missão na Terra.
Hashem, em seu ilimitado amor por todos nós, dirige a nossa vida para nos
ajudar a alcançar com êxito esse objetivo.
Compreender que tudo na vida é para o nosso bem, isto é, para nos ajudar
a alcançar a retificação da alma, nos capacita a lidar com todas as situações
— sejam boas ou aparentemente más — com alegria e sem estresse,
preocupação ou ansiedade.
Consequentemente, quando as pessoas ignoram as mensagens de Hashem,
Ele manda mensagens ainda mais "altas" - situações mais difíceis.
Aqueles que fracassam em conhecer Hashem nos bons momentos se
arriscam ter problemas sem qualquer "solução natural ou lógica", em que a
única alternativa é clamar a Hashem.
Desta maneira, Hashem — em sua bondade infinita — nos ajuda a contatá-
Lo e a alcançar a máxima retificação da alma.
Quanto mais cooperamos, mais fácil fica a nossa vida.
O chamado de Hashem
O Rebe Nachman de Breslav ensina (Licutei Moharan 1: 206) que Hashem
imediatamente chama a pessoa que se desvia do caminho correto,
mandando sinais para que ela retorne.
Hashem chama a cada um de acordo com suas necessidades e de maneira
individualizada.
Para alguns, o chamado de Hashem pode ser uma sugestão sutil, mas, para
outros, pode ser uma forte reprimenda.
Um chamado "em voz alta" pode assumir a forma de punição física; no
jargão dos nossos sábios (Midrash Mishli, 22), "um sussurro é suficiente
para o sábio, mas o tolo precisa de flagelo".
Até mesmo as deficiências extremas existem para o próprio bem da pessoa.
Somente Hashem sabe o que uma alma precisa corrigir e, portanto, coloca
cada uma nas circunstâncias que levarão ao ticún necessário.
Como geralmente não estamos cientes do ticún de que precisamos, às
vezes fazemos escolhas erradas ou mantemos aspirações inúteis; Hashem
nos ajuda a modificar nossos planos para evitar que desperdicemos nossa
vida com tolices e fantasias.
Por exemplo, vamos supor que um homem — conforme a própria vontade
— deseje ser cantor profissional.
Mas, como cantor, ele não alcançaria seu ticún.
Assim, Hashem o faz nascer com a voz rouca.
Mesmo assim, a rouquidão não o impede de se tornar um professor
excepcional ou um líder espiritual que inspira milhares de pessoas (a chegar
a seus verdadeiros ticunim!).
Hashem fecha as portas que não são benéficas para a nossa alma, mas
abre as que mostram a melhor direção para cada um de nós, para nos
manter em um caminho focado e direcionado.
Sem a Sua orientação Divina, estaríamos completamente perdidos.
Neste ponto, as pessoas geralmente perguntam: "Se tudo está nas mãos de
Hashem, qual o meu trabalho na Terra?"
Boa pergunta.
Nossa tarefa é desenvolver as nossas antenas espirituais e discernir — ao
processar corretamente as mensagens de Hashem — o que Hashem quer de
nós.
Hashem se comunica conosco constantemente por meio do nosso ambiente,
dizendo aonde Ele deseja nos levar e com qual objetivo.
E embora essas "sugestões" — ou mensagens celestes — venham
frequentemente em forma de tristeza, sofrimento e privação, elas são o
epítome da perfeita benevolência.
Como?
Tristeza, sofrimento e privação representam a benevolência perfeita quando
são agentes que possibilitam um ticún — a retificação e o aperfeiçoamento
da alma.
Quando aceitamos as dificuldades da vida com emuná — com tranquilidade
e felicidade, sabendo que Hashem está fazendo tudo para nos ajudar a
alcançar a mais elevada das aspirações -, nos tornamos candidatos e
experimentar a paz interior e a felicidade eterna, neste mundo e no
próximo.
Um atleta está preparado para executar tarefas exaustivas ordenadas por
um treinador aparentemente impiedoso.
Como se isso não bastasse, ele geralmente ama e respeita seu treinador.
Por quê?
O atleta conhece o treinador e acredita que ele queira torná-lo campeão.
Devemos ter o mesmo conhecimento e a mesma confiança em Hashem.
Imagine que estamos dirigindo e queremos virar à direita, mas Hashem
bloqueou o caminho; decidimos então virar à esquerda, mas Hashem
colocou um obstáculo para bloquear também essa opção.
Sem emuná, estaríamos sujeitos aos sentimentos de raiva, frustração e
decepção.
No entanto, com emuná, acreditamos que obstáculos, barreiras e
impedimentos são agentes da Providência Divina de Hashem.
Não afundamos em frustração, raiva e depressão quando temos o
conhecimento de que as contrariedades da vida são na verdade marcos,
luzes condutoras e presentes pessoais de Hashem.
Imagine que o agente no aeroporto lhe informa que houve overbooking no
seu voo e que você tem de esperar o próximo.
Então você se pergunta: "Por que eu — você não pode tirar alguma das
outras trezentas pessoas da lista?"
O agente não cede; ele nem se digna a ouvir a sua reclamação.
Você reage com raiva; o coração bate mais rápido, você fecha os punhos e
sente o sangue subir à cabeça.
Estressado e desnorteado, não sabe se liga para um advogado, se bate no
balcão ou se faz uma cena.
Espere um minuto!
Suponha que o voo decolou — sem você — e o avião teve um problema na
turbina, caindo no mar sem deixar sobreviventes.
Você ainda estaria bravo porque perdeu o voo?
É claro que não!
Com a percepção depois do ocorrido, você entenderia que Hashem fez algo
que pareceu cruel na hora, mas que foi para o seu bem — para salvar a sua
vida.
A emuná transforma a percepção tardia, como no exemplo anterior, no
conhecimento antecipado de que Hashem está conduzindo cada um de nós
pelo melhor caminho.
Com emuná, podemos rir dos tombos da vida, sabendo que dificuldades —
até mesmo fracassos — são expressões de amor da Providência Divina que
nos ajudam a conseguir a perfeição da alma.
Sem emuná, estaríamos condenados a uma vida de confusão, frustração e
erros graves, que podem ser evitados se as mensagens de Hashem são
ouvidas.
A emuná é a melhor ferramenta — ou a única ferramenta — para
alcançarmos a correção da alma, complementando a nossa missão na vida.
Falta de comunicação
Quando ignoramos as mensagens de Hashem, ocorre uma "falta de
comunicação" com Ele.
A mão amorosa de Hashem tenta conduzir o indivíduo confuso pelo caminho
certo — para o seu próprio bem -, mas o cabeça-oca teimosamente insiste
em pegar outra estrada, um caminho prejudicial.
As pessoas teimosas que não têm emuná forçam Hashem a lhes mandar
todos os tipos de obstáculos - para impedir que desperdicem a vida ou que
se prejudiquem.
Geralmente, os cabeças-ocas continuam a ignorar as mensagens de
Hashem, adicionando mais amargura e frustração à vida, o que muitas
vezes faz com que eles precisem de pílulas e psiquiatras.
E o mais alarmante é que eles não entendem por que vivem com tanta dor
e amargura.
Aqueles que desperdiçam o dia tentando satisfazer apetites físicos —
enquanto ignoram os mandamentos de Hashem — podem esperar um
destino de sofrimento e dureza.
Por quê?
Um ser humano guiado por luxúria e pelos desejos do corpo é inferior a um
animal.
A essas pessoas falta o refinamento espiritual para discernir os delicados
sinais de Hashem, que dizem: "Meu filho, você está seguindo um caminho
perigoso!"
Quando as pessoas ignoram os sinais, Hashem é forçado a chamar a
atenção com sinais mais ruidosos e severos.
Em suma, quando não ouvem o suspiro gentil, se arriscam a escutar o
barulho ensurdecedor de uma sirene.
O Rei David nos ensina a seguir a orientação de Hashem, quando roga
(Salmos, 25:5): "Orienta-me a seguir Tua verdade."
A Tua verdade e não a minha, pois apenas Tu, Hashem, sabes o que é
melhor para mim.
Ele também diz (ibid. 73:24): "Tu me guias com Teu conselho."
O Teu conselho, Hashem, e não o conselho da minha limitada mente
humana.
Talvez você esteja se perguntando: "Como reconheço as mensagens de
Hashem? Como saber o que Ele realmente quer de mim?"
Com a ajuda amorosa de Hashem, este estudo responderá a essas questões
e lhe ajudará a realizar com sucesso a sua missão na Terra.
Além disso, este estudo o poupará de dores de cabeça e de sofrimentos e
lhe ajudará a alcançar a commodity mais rara da vida — a verdadeira
felicidade.
Uma razão para viver
Sem emuná, qual o propósito da vida?
Se os mortais estão destinados a morrer, então toda a sua vida de esforço,
sofrimento e aspirações mostra-se sem sentido.
Mesmo se uma pessoa consegue realizar um sonho ou um objetivo, ela não
aproveitará os resultados por muito tempo, porque a última parada do trem
da vida é o cemitério.
A maioria das pessoas deixa a Terra antes de completar o que se propôs a
fazer.
Então, para que serve uma vida cheia de sofrimentos, testes e atribulações?
A mulher de um mendigo teve um acesso de raiva por causa da preguiça do
marido.
Ela lhe atirou uma frigideira e gritou: "Vá arrumar um trabalho decente, seu
inútil!"
O mendigo se esquivou a tempo, e a frigideira quebrou a única janela da
cabana, que já estava caindo aos pedaços.
Com um sorriso, ele levantou a cabeça e disse: "Para que o seu próximo
marido herde a minha riqueza conseguida a duras penas? De jeito
nenhum!"
Olhe à sua volta; assim que você enxerga além da "máscara", dos sorrisos
plásticos e da fachada cosmética atrás dos quais as pessoas se escondem,
quase sempre descobre que seus vizinhos, amigos e parentes, todos trazem
consigo uma porção generosa de sofrimento e dor.
Mesmo os muito bem-sucedidos — os glamorosos, ricos e famosos —
podem ter uma vida obscura que muitas vezes acaba em falência,
casamento fracassado, vícios e suicídio.
Toda fama e fortuna do mundo — quando destituídas de emuná — não são
nada mais que um caminho sombrio e sem saída.
A emuná propicia uma razão para tudo na Terra.
Ela é o único consolo eficaz para a dor e tristeza que todos enfrentamos de
vez em quando.
Hashem não quer nos atormentar, D'us nos livre, mas sim estimular a
busca espiritual e a teshuvá — para o nosso próprio bem.
Desse modo, conferimos sentido à vida e realizamos a retificação da alma.
Com uma razão verdadeira para viver, a vida ganha uma dimensão
totalmente nova de propósito e de recompensa duradoura.
Com a alma retificada, podemos alcançar a verdadeira felicidade.
Paz e tranquilidade
O mundo exterior é um palco de tensão, estresse e raiva.
O homem moderno está sempre com pressa e sob pressão; ele não
encontra alívio para a agitação emocional, insegurança financeira e
competição acirrada, resultados de uma sociedade carente de emuná.
Se as pessoas tivessem emuná, viveriam relaxadas e contentes.
Sentimentos como ansiedade, preocupação e estresse se tornam supérfluos
se sabemos que a vida está nas mãos de um Criador amoroso.
Uma população guiada pela emuná faz do Mundo um porto-seguro celestial
de paz, justiça e compaixão.
Essencialmente, esse é o mundo que esperamos quando cultivamos a
expectativa da Geulá e do Mashiach - a redenção do nosso povo e a
chegada do messias.
Guerra e discórdia entre nações seriam coisas impossíveis em um mundo de
emuná, pois cada nação perceberia que tem sua própria missão no
esquema global dos acontecimentos.
Assim como o carpinteiro não compete com o açougueiro — ao
contrário, um precisa dos serviços do outro -, as nações do mundo
cooperariam em paz em vez de estar em constante conflito.
O profeta fala da era messiânica de emuná (Isaías, 11:6-9): "E o lobo
habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito... Eles não
causarão dano nem destruição, pois a Terra estará plena do conhecimento
de D'us, da mesma maneira que as águas cobrem os oceanos."
Somente a emuná leva ao conhecimento de Hashem que abrirá o caminho
para um maravilhoso mundo de paz e tranquilidade.
O Rebe Nachman de Breslav escreveu (Licutei Moharan II:8): "No futuro, à
medida que o conhecimento de Hashem aumentar, não haverá mais dano
nem crueldade. A misericórdia e a compaixão se espalharão, já que são
resultam do nosso conhecimento de Hashem."
O poder da emuná
A emuná não apenas nos ajuda a entender o mundo à nossa volta, como é
basicamente o nosso bem mais poderoso.
Ela nos instila uma poderosa força interior e nos permite superar com êxito
todos os testes e desafios da vida, quaisquer que sejam.
Altos e baixos, períodos de transição e tempos de turbulência ficam mais
fáceis quando a pessoa conta com a emuná.
Colapsos nervosos e desespero resultam de falta de emuná.
A vida é intolerável quando se perde e esperança.
A rua sem saída a que a pessoa chega quando não consegue acreditar que
há uma solução para os seus problemas é como ter o pé na cova — uma
morte em vida.
Com emuná, sabemos que não há situação — por mais obscura que pareça
— em que Hashem não possa vir ao nosso socorro.
Isaías, o profeta, informou ao Rei Ezekias que este havia sido condenado à
morte por um decreto celestial.
O rei respondeu ao profeta: "Ben Amotz — pare com suas profecias e saia!
Tenho uma tradição, do meu bisavô, o Rei David, de que mesmo que uma
espada afiada esteja na garganta de uma pessoa, ela não deve perder a
esperança da misericórdia Divina” (Tb, Tratados de Berachat, 10a).
O Rebe Nachman de Breslav ensinou: "Aquele que tem emuná está
realmente vivo e seus dias estão sempre repletos de coisas boas”.
É muito bom quando as coisas dão certo. Mas também 'é bom' quando
alguém tem um problema porque Hashem eventualmente terá compaixão e
trará um bom desfecho para a situação. Como tudo vem de Hashem, tudo
definitivamente acontece para o bem. Um homem sem fé, porém, não está
realmente vivo. O mal o assola e ele perde toda a esperança.
Não há nada para alegrá-lo ou confortá-lo, pois ele não tem emuná.
Ele está fora da providência de Hashem e não vive nada de bom.
Mas com emuná, a vida é boa e agradável”. (Sichot Haran, 53).
O poder da reza
Internalize esta regra de ouro: Com a verdadeira emuná, qualquer pessoa
— por meio de simples reza pessoal e diálogo com Hashem — pode
transcender qualquer limitação natural e fazer maravilhas!
A reza tem o poder de alterar a natureza.
Como Hashem está acima da natureza, aqueles que se voltam a Ele ficam
acima das limitações da natureza.
A tradição judaica é repleta de histórias sobre como nossos sábios iniciaram
milagres que desafiavam a natureza com o poder de suas orações.
A lista é longa.
Nunca se esqueça de que Hashem escuta, vê e pessoalmente provê às
criaturas mais baixas e simples do universo.
Portanto, não é preciso dizer que Hashem está sempre pronto a ajudar um
de seus queridos filhos, a classe mais elevada da Criação.
Assim que ativamos nossa emuná e nos voltamos a Hashem com nossas
próprias palavras, como quando falamos com um parente querido ou com
um amigo —, podemos conseguir literalmente qualquer coisa, como
remédios para nossas mazelas, ou a superação das nossas necessidades.
O Rabino Natan de Breslav, principal discípulo do Rebe Nachman, sempre
dizia: "Onde quer que eu veja carência, ou não houve reza, ou não houve
reza suficiente."
Portanto, um nível suficiente de reza pode trazer solução para qualquer
problema.
Segundo uma efetiva lei espiritual, cada reza tem o seu poder e cada
pedido requer uma certa quantidade de reza — ou poder espiritual — para
realizar a sua manifestação.
Assim como 28 gramas de dinamite são o suficiente para fazer um buraco
em uma mesa de laboratório, é necessária uma tonelada de dinamite para
se abrir um buraco em uma montanha.
Do mesmo modo, quanto mais importante o pedido, mais reza — ou
dinamite espiritual — é preciso.
Lembre-se, um nível suficiente de reza pode trazer solução para qualquer
problema.
Quando acreditamos no poder da reza, somos capazes de continuar rezando
até que o nosso pedido seja realizado.
O Talmud declara (TB, Tratados de Berachót, 32b): "O Rabino Chanina diz
que qualquer um que reza o tempo suficiente não sai de mãos vazias!"
O Midrash explica (Yalkut Shimoni, 31) que quando Hashem decretou que
Moisés não poderia entrar em Israel, ele fez 515 orações, até que Hashem
ordenou que ele parasse de rezar! Por quê? Com mais uma oração, Hashem
teria sido obrigado a anular o decreto.
Aprendemos com o Midrash acima que quando atingimos a cota de reza
para um determinado pedido, o pedido é realizado!
Enquanto Hashem não nos manda parar de rezar, nós podemos — e
devemos — continuar a rezar até que a nossa oração seja atendida!
A missão
Cada um de nós vem a este mundo com o propósito expresso de cumprir
uma missão.
A longevidade depende da tarefa que temos de completar.
A morte — mesmo em decorrência de uma tragédia ou um de um acidente
repentino — é sempre o resultado da decisão de Hashem.
Alguns vivem vinte anos, outros vivem cem, mas todos eventualmente
deixaremos este mundo no exato momento em que Hashem decidir.
Um conjunto complexo de considerações Divinas influencia as circunstâncias
da vida e da longevidade de uma pessoa — ações, vidas passadas, leis
públicas e outros critérios que desafiam o nosso entendimento.
Algumas almas vêm à Terra para cumprir um ticún breve e específico e
depois retornam aos mundos superiores.
Essas almas são geralmente pessoas extraordinariamente especiais, gentis,
boas e agradáveis, com pouca ou nenhuma inclinação para o mal.
Portanto, não se surpreenda quando ouvir sobre pessoas jovens e justas
que morreram repentinamente.
Elas simplesmente completaram o ticún — a retificação de sua alma e a sua
missão na Terra.
O Rabino Isaac Luria Ashkenazi, o famoso pai da cabalá, o "Arizal" — da
cidade de Tsfat do século 17 -, ensina que encontramos mais resistência
com relação à nossa missão na Terra, já que o ietser hará — a inclinação
para o mal — não quer que completemos a nossa missão com êxito.
Isso significa que quanto mais o ietser hará nos impede, mais temos o que
realizar na Terra.
Depósito
O Midrash (Mishli, 31) conta uma história comovente sobre o sagrado Tana
(sábio da Mishná, século II da e.c.) da cidade de Tibéria, o Rebe Meir Baal
Haness:
Em um Shabat, o Rebe Meir estava na casa de estudos, sem saber que seus
dois filhos haviam morrido.
Bruria, sua mulher, omitiu a má notícia, cobriu os dois corpos com um
lençol e os colocou no sótão.
Naquela noite, depois de terminado o Shabat, o Rebe Meir voltou para casa
e perguntou: "Onde estão os meninos?"
Bruria mudou de assunto e lhe serviu o jantar.
Quando o Rebe Meir terminou a reza após a refeição, sua esposa disse:
"Rebe, tenho uma pergunta."
"Fique à vontade para perguntar."
"Se uma pessoa me deu uma quantia para que eu guardasse e agora quer
tomá-la de volta, o que devo fazer?"
"Simples," respondeu o Rebe, "você deve devolver o depósito."
Bruria pegou o Rebe pela mão, levou-o ao sótão e mostrou-lhe seus dois
filhos sem vida.
O Rebe Meir começou a chorar, lamentando sua dolorosa perda.
"Rebe," disse sua mulher, "você não acabou de me dizer que devemos
devolver o 'depósito' quando o dono pedir?"
O Rebe Meir parou de chorar imediatamente e citou (Job, 1:21): "Hashem
deu, Hashem tirou, bendito seja o nome de Hashem!"
O Rebe Chanina, outro santo sábio e contemporâneo do Rebe Meir, elogiou
Bruria e seu pungente consolo que aliviou a dor do marido com tanta
eficácia.
Ele disse (Provérbios, 31:10): "Uma mulher de valor, quem poderá
encontrar?"
O Talmud (TB, Tratados de Berachót, 5b) conta sobre o renomado sábio
Rebe Yochanan, que perdeu os dez filhos e andava com o dente de seu
décimo filho no bolso, dizendo: "Este é o osso do meu décimo filho, que
morreu. Veja como eu perdi dez filhos, mas ainda estou feliz e sorrindo!
Percebi que este mundo não é o nosso interesse principal, e as almas
sagradas que eram meus filhos simplesmente terminaram os seus
respectivos ticúnim e missões neste mundo. Então por que eu deveria estar
triste? Eles estão agora em um mundo de êxtase eterno, enquanto nós
ainda sofremos nesta Terra."
O Rebe Nachman de Breslav perdeu os dois filhos, sua primeira mulher, e
deixou este mundo ainda jovem, aos 38 anos.
Muitos tsadikim enterraram entes queridos e passaram por sofrimentos
cruéis, mas todos sabiam que eles eram pilares de retidão.
Muitas vezes, não há conexão entre longevidade e boas ações.
Estremecemos ao ouvir sobre a perda de uma pessoa jovem.
Na verdade, a ideia da morte de um idoso deveria nos impactar ainda mais,
já que mostra que a morte é inevitável.
Homem mortal
Não podemos saber quando completamos nosso ticún.
Ninguém sabe como irá deixar este mundo.
Ainda assim, devemos sempre lembrar que somos mortais, destinados a
morrer algum dia.
O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, aconselhou (Eclesiastes
7:2): "É melhor frequentar a casa do luto do que a casa do banquete, pois
aquela representa o fim de todo homem — e os vivos devem refletir (sobre
isso) em seu coração."
Aparentemente, o conselho de comparecer a funerais e visitar enlutados é
simples: quando visitamos os enlutados, lembramos que, um dia, a nossa
vida também chegará ao fim.
No entanto, é surpreendente que, para certos profissionais, como médicos,
enfermeiras e acompanhantes de idosos, a morte seja algo corriqueiro...
mas quantos deles fazem teshuvá?
Muitos continuam atolados na busca de posses materiais por toda a vida.
Por isso o Rei Salomão ressaltou: "... e os vivos devem refletir!"
Todos nós devemos lembrar que somos apenas mortais; se esquecemos,
podemos cair em sono espiritual.
O medo e a reverência com relação ao nosso dia final na Terra e o dia
seguinte do ajuste de contas são sentimentos que nos ajudam a monitorar
pensamentos, falas e as ações.
Quando estabelecemos nossa lista de prioridades, precisamos lembrar que
fama e fortuna não valem nada no túmulo; os confortos deste mundo não
valem nada no mundo vindouro.
Nosso objetivo supremo é o mundo vindouro e a emuná nos levará até lá.
Verdade
Agora que temos uma melhor compreensão sobre o nosso propósito na
Terra, fica a pergunta: é lógico que Hashem nos mande para cá sem nos
dar uma indicação do que devemos fazer?
Ele distribuiria recompensas e punições sem nos informar o que é e o que
não é permitido?
Hashem nos deixaria tateando no escuro sem direção?
É claro que não.
O caminho de ouro
Sem Torá, a vida é um labirinto de caos absoluto, em que pessoas confusas
levam uma vida de insensatez e fantasia.
Olhe à sua volta: o vizinho A está em uma busca maluca por mais dinheiro.
O vizinho B deseja fama e reconhecimento.
O vizinho C nunca para de seduzir a mulher do vizinho D.
O vizinho E não aguenta o vizinho F, que tem inveja do carro novo do
vizinho G.
Sem Torá, o mundo é uma estufa intolerável e cruel de discórdia, ódio,
competição, difamação, roubo, vingança, crueldade, adultério e injustiça.
O mundo pode ser encantador, agradável e tranquilo.
Uma vida de Torá é como um passeio suave em um carro novo quando o
dono segue todas as instruções do manual do proprietário.
A Torá — manual do Criador para o nosso bem-estar material e espiritual —
nos mostra como ser feliz, respeitar o próximo e educar nossas crianças.
Um verdadeiro cumpridor da Torá negocia honestamente, ajuda os outros e
se alegra quando os outros estão felizes.
Pessoas assim nem sonhariam tocar em algo que não lhes pertencesse.
Elas levam uma vida digna e realizada, tomando o mundo um lugar melhor.
Em suma, a Torá é o caminho de ouro para uma vida boa e significativa.
Infelizmente, se uma pessoa estuda Torá sem tentar conseguir emuná, o
poder da Torá se toma prejudicial e até letal.
Por exemplo, sem emuná, D'us nos livre, um simples ladrão pode utilizar a
sabedoria da Torá para se tomar um ladrão mais perigoso e sofisticado.
Sem a orientação dos tsadikim de cada geração —nossos guias espirituais
—, não se pode alcançar a verdade nem a emuná.
Assim, muitos podem ser religiosos, mas permanecer distantes da verdade
e da verdadeira emuná.
Em vez de pedir a Hashem por todas as suas necessidades, as pessoas
colocam suas esperanças nas mãos de gente de carne e osso, ficam
facilmente preocupadas e brigam umas com as outras.
Um homem de espírito
Uma corrente ininterrupta se estende desde Moisés até esta nossa geração.
Os tsadikim nos ajudam a entender a Torá, seus mandamentos e nosso
propósito individual na vida.
Cada um de nós deve procurar um tsadik genuíno, de verdadeira estatura
espiritual, que possa nos ajudar a encontrar o caminho para aplicarmos a
Torá ao nosso cotidiano.
Uma pessoa justa qualquer, que não tenha sido orientada por um guia
espiritual virtuoso, não é suficiente.
O guia espiritual expert — a quem a Torá chama de "homem no qual há
este espírito" (Números 27:18), sabe como aplicar as leis da Torá para o
benefício do espírito de cada pessoa.
Por exemplo, uma autoridade rabínica qualificada que também seja um
"homem de espírito" pode permitir certa ação sob uma determinada
circunstância, mas proibi-la completamente em outra situação.
Ele enxerga as necessidades únicas de cada indivíduo, assim como um
pastor conhece as necessidades de cada cordeiro ou ovelha.
Tal rabino, tsadik e guia espiritual sabe como despertar a pessoa de um
sono espiritual, fortalecer sua alma e mostrar-lhe o caminho de Hashem.
Sem um guia espiritual qualificado e justo, a pessoa pode aprender Torá por
toda a vida e, mesmo assim, cometer erros trágicos na caminhada
espiritual, nunca alcançando o seu ticún.
Dois grupos de pessoas têm dificuldade em encontrar seu caminho no
mundo — aqueles sem nenhuma Torá e aqueles sem um guia espiritual.
"Bendito seja Ele, que nos separa dos equivocados" (kedusha D'sidra, reza
matinal); todos os dias, pedimos a Hashem que nos salve dos dois grupos.
Cuidado!
Podemos encontrar um verdadeiro guia e líder espiritual apenas por meio da
reza, porque a maioria de nós não tem as ferramentas necessárias para
discernir entre um tsadik autêntico e uma boa imitação.
Ademais, podemos encontrar um tsadik que não seja o guia espiritual certo
para nós, ou um indivíduo de estatura espiritual insuficiente para nos guiar
no verdadeiro caminho da emuná e do ticún.
Devemos, portanto, ter muito cuidado para evitar a armadilha de criticar
um líder, ou seu grupo, que não pareça ser o líder certo para nós.
Por quê?
Diminuir um judeu — ainda mais um grupo inteiro e seu líder — é uma
transgressão severa da Lei da Torá.
Aqueles que se fiam apenas em sua própria aptidão para procurar um líder
espiritual adequado estão sujeitos a cometer erros.
Por isso, devemos rezar para encontrar o verdadeiro tsadik que possa nos
mostrar o caminho da verdadeira emuná.
Agora que aprendemos os fundamentos da emuná, estamos prontos para
seguir ao próximo capítulo e aprender os níveis da emuná.
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 2
1. Nível básico de emuná: É a crença firme de que tudo vem de Hashem por
meio da perfeita Providência Divina, até mesmo o menor e aparentemente
insignificante acontecimento.
O mensageiro e a vara
Precisamos agora aprender duas importantes leis da espiritualidade:
Livre arbítrio
A maioria das coisas que nos entristece pertence a uma das três categorias
a seguir:
• Natureza, como um vírus ou uma bactéria;
• O próximo e seu livre-arbítrio;
• Nós mesmos; os nossos próprios erros.
Foco em Hashem
Vamos colocar essas lições em termos práticos.
De tempos em tempos, todos nós nos deparamos com um ser humano de
livre-arbítrio que nos causa dor e sofrimento, como um policial que nos
para, um companheiro que nos repreende ou um filho que não se comporta
bem.
Quando outra pessoa nos magoa, devemos nos concentrar em Hashem e
não em quem está nos causando dor e sofrimento.
Quando confiamos em Hashem, não precisamos agradar ou suplicar a outra
pessoa.
Não temos de nos ajoelhar ou falar até perder o fôlego para tentar
convencer alguém a não nos ferir e com certeza não precisamos reagir
violentamente.
Emuná significa que focamos o Mestre — Hashem — e não a vara em Sua
mão.
Há vários tipos de falha em emuná, que variam das mais escancaradas às
mais sutis, com vários níveis intermediários.
Por exemplo, aquele que sofre por causa de outra pessoa pode aceitar a má
situação com emuná, falar com Hashem, fazer uma séria busca espiritual e
teshuvá e, mesmo assim, no final, apelar ao algoz e pedir-lhe misericórdia
ou consideração.
Essa tentativa é uma falha em emuná, pois a vítima dá importância —
mesmo que muito pouca — à "vara" de carne e osso, e não à mão do Todo-
Poderoso que a controla.
Aqueles que colocam seu destino nas mãos do homem afetam a Providência
Divina criada para protegê-los.
Por outro lado, quanto mais nos colocamos nas mãos de Hashem, mais
ampliamos a Providência Divina que nos liberta do mal.
Por quê?
Aquele que alcança o nível básico de emuná — a crença na Providência
Divina — está no caminho de uma vida feliz.
No entanto, a limitada emuná de nível básico é insuficiente.
Embora a pessoa de fé de nível básico atribua tudo a Hashem, ela ainda é
suscetível a questões e reclamações sobre como Hashem comanda o
mundo.
É provável que ela se pergunte: "Por que Hashem fez isso comigo? Eu não
mereço! Por que tenho de sofrer?"
A lista de mágoas é longa.
Qualquer questão ou mágoa contra Hashem é uma falha escandalosa em
emuná.
A verdadeira crença de que tudo vem de Hashem deve caminhar de mãos
dadas com o próximo nível de emuná, segundo o qual Hashem faz tudo
para o bem.
O Rei David disse (Salmos, 145:9): "Ele é bom para com todos e o
manifesta através de todos os Seus feitos"
Já que tudo o que Hashem faz é bom, ninguém pode ao mesmo tempo
reclamar da vida e dizer que acredita em Hashem — isso seria uma
contradição.
Portanto, para atingir a emuná completa, devemos passar para o próximo
nível.
Um judeu infeliz?!
O mesmo jovem não-religioso participou de outra palestra do autor, mas
dessa vez levou o irmão, um judeu religioso que estuda Torá o dia todo.
O jovem era otimista, ao passo que o irmão se mostrava deprimido e
reclamava de uma longa lista de preocupações e problemas.
"Nada dá certo em minha vida. Se não fosse pelo meu irmão, que
ultimamente tem sido uma fonte de força e encorajamento, não sei o que
seria de mim!"
O irmão melancólico reclamou do modo "ilógico" e "injusto" como Hashem
comanda o mundo.
"Eu cumpro todos os mandamentos e estudo Torá o dia inteiro. Por que
minha vida é tão amarga? Já para meu irmão, que não cumpre nada,
parece que tudo está bom. O que está acontecendo?"
O autor citou um trecho do Talmud (TB, Tratado Shabat 55a) segundo o
qual o pecado causa atribulações, sugerindo que o irmão fizesse uma auto
avaliação e teshuvá.
"Por que eu tenho de fazer teshuvá?", contestou o irmão, "Eu cumpro o
Shabat, como comida casher, faço caridade, mando meus filhos a uma
escola religiosa e tenho uma vida de pobreza e privação. O que há de
errado comigo? Entendo que até mesmo o maior dos tsadikim pode cometer
um pequeno pecado de vez em quando; mas me diga — como é que eu
posso merecer problemas tão insuportáveis?".
O autor respondeu: "Você obviamente pensa que, desde que não infrinja
nenhuma lei, não merece nenhum problema na vida. Mas você está
perdendo de vista a questão principal: a Torá e as mitsvót deveriam estar
lhe trazendo emuná. Você deveria agradecer a Hashem pelo que tem —
como esposa e filhos — e aceitar o resto da Providência Divina com amor e
alegria. O contrário provoca julgamentos severos que se manifestam por
meio de sofrimentos e atribulações. Hashem não se alegra com a Torá e as
mitsvót de uma pessoa amarga."
"Olhe para o seu irmão", continuou o autor, "Apesar de seu estilo de vida
não-religioso, ele está sempre sorrindo, mas você não. Ele agradece a
Hashem pelo que tem, e você não. Ele se tomou um vencedor, ao passo
que sua vida é insuportável. A emuná sozinha já é o suficiente para adoçar
a vida de uma pessoa. E sabe o quê?", concluiu o autor, "O seu irmão, com
todos seus defeitos, traz muito mais alegria a Hashem do que você com
toda sua Torá. A emuná pesa na balança a favor do seu irmão!"
"Como pode ser?", protestou o irmão religioso, "Meu irmão infringe quase
todas as leis da Torá!".
O autor retirou um livro de sua pasta, o clássico comentário do Ramban
acerca da Torá, e o abriu na porção Bó.
Ele leu em voz alta: "O propósito de todas as mitsvót é que acreditemos em
Hashem e Lhe agradeçamos por ser nosso Criador; esse é o propósito de
toda criação. O único pedido dos mundos superiores para os mundos
inferiores é que o homem deve agradecer e conhecer seu Criador."
O Rabino BenTzion Halevi Bamberger, autor do Ginzei Shaarei Tzion,
acrescenta ao comentário do Ramban: "Conhecer o Criador, aceitar com
emuná o seu domínio e agradecer a Hashem é o propósito da Criação. Sem
isso, toda a Criação é supérflua."
Tranquilidade genuína
A Torá exalta a tribo de Issachar (Gênesis 49:15): "E viu que o descanso
era bom e a terra deleitosa. E sujeitou seu ombro à carga, servindo como
tributo."
O santo Rebe Yitzchak de Varka comentou sobre o versículo acima: "E
sujeitou seu ombro à carga — o termo "sujeitar" neste trecho tem uma
conotação positiva, significa tolerância, como quando alguém
pacientemente suporta tudo o que acontece na vida - o oposto de
impaciência e intolerância."
Somos capazes de suportar pacientemente qualquer dificuldade quando
acreditamos que tudo vem de Hashem e que tudo é para o bem.
Uma resistência paciente, derivada da emuná, abre o caminho para a
verdadeira tranquilidade, que por sua vez significa uma existência
despreocupada, serena e feliz.
Com emuná, evitamos incontáveis desgastes emocionais.
Sem emuná, este mundo se torna um purgatório pior que o próprio
purgatório.
Nossos sábios nos ensinam que os perversos são testados por doze meses
no purgatório; quem não tem emuná, porém, se condena a décadas de
tortura em vida.
Amargura, desespero e descontentamento são como queimaduras na alma;
em muitos aspectos, uma queimadura na alma é muito mais aguda que
uma queimadura no corpo.
Queimaduras corporais se curam com o tempo, ao passo que queimaduras
emocionais e espirituais levam a discussões e brigas, raiva, preocupação,
desespero e depressão — tudo por causa de falta de emuná!
Felicidade no cotidiano
Quando estamos felizes com o que recebemos da vida, podemos nos
assegurar de que pelo menos o primeiro estágio de nossas escolhas é bem-
sucedido.
Vemos vários exemplos de pessoas à nossa volta que, por nenhum motivo
aparente, não estão felizes com sua porção na vida.
Se você lhes perguntar por que não estão felizes, elas provavelmente não
conseguirão dar uma resposta conclusiva.
Na maioria dos casos, essas pessoas não estão certas sobre seu caminho e
cultivam um sentimento inoportuno e constante de que algo está faltando.
Basicamente, pessoas assim não têm certeza de que estão fazendo as
escolhas certas.
Conforme o que dissemos até agora, quando alguém não está satisfeito
com a vida, fica propenso a fazer escolhas erradas constantemente.
Escolhas adequadas decorrem de uma mente clara, o que por sua vez é
consequência da felicidade.
Por isso, o pré-requisito para uma vida direcionada e significativa, livre de
erros desastrosos, é a escolha de sermos felizes com a nossa porção.
Uma vez que essa opção inicial é feita, aumentamos as chances de sucesso
quanto às nossas escolhas nos campos espiritual e material.
Não importa o que estamos fazendo — no trabalho, na escola ou em casa -,
se decidimos ser feliz, dominamos os inoportunos pensamentos de
descontentamento, de que algo nos falta.
Se estamos felizes com a nossa situação atual, repelimos a depressão e a
confusão.
A inclinação para o mal constantemente tenta introduzir pensamentos de
arrependimento e descontentamento em nosso coração, como por exemplo:
• "Como eu gostaria de ter um trabalho diferente..."
• "Como eu gostaria de ter me casado com outra pessoa..."
• "Como eu gostaria de morar em outra cidade..."
A lista de exemplos é interminável, como você sabe a partir da própria
experiência.
Porém, ao escolhermos ser feliz, evitamos as armadilhas da confusão,
decepção e depressão.
Mantemos a clareza de pensamento que nos permite fazer as boas escolhas
que depois aumentarão a nossa satisfação na vida.
O motorista de ônibus
Aqueles que vivem com a emuná de que tudo é para o bem são felizes e
confiantes.
Essas pessoas não suspeitam que Hashem as esteja levando pelo caminho
errado.
É como se fizessem uma viagem interestadual de ônibus.
Elas têm certeza de que o motorista sabe dirigir o ônibus e irá escolher a
melhor rota.
Sem nada com o que se preocupar, ficam livres para relaxar, olhar pela
janela e aproveitar cada minuto da viagem.
Elas chegam alegremente ao destino e realizam suas tarefas com vigor.
Aqueles que não têm emuná são como os passageiros nervosos daquele
ônibus.
Como "motoristas do banco de trás", eles pensam que podem dirigir o
ônibus melhor que o verdadeiro motorista.
Eles também pensam que são capazes de escolher uma rota mais rápida e
curta.
Frustrados, eles tentam dirigir o ônibus sentados na fileira 12.
Cada minuto passa com amargura e frustração, pois eles têm certeza de
que o motorista não sabe o que está fazendo ou aonde está indo.
Preocupam-se se o ônibus está indo para o oeste em vez de ir para o leste.
Pensam que o motorista está indo muito rápido, ou muito devagar.
Esses mesmos passageiros preocupados sofrem um grande estresse
emocional porque não têm fé no motorista.
Chegam ao destino atormentados e completamente desgastados.
Liberdade da mente
A mente de uma pessoa feliz é livre para procurar e entender as mensagens
que Hashem instila em todo nosso ambiente.
Sem as reclamações das emoções negativas, podemos discernir mais
facilmente aonde Hashem está nos levando.
Mesmo que não entendamos completamente o que nos acontece, com
emuná podemos rezar e pedir a Hashem que nos abra os olhos e nos ajude
a fazer as escolhas certas.
Compreender as mensagens de Hashem - realizando um despertar
espiritual - e aprender a corrigir o que precisa ser corrigido são resultados
da emuná de nível superior, o terceiro estágio da nossa busca por emuná.
Mas não podemos passar ao próximo estágio até termos solidificado nossa
posição no segundo estágio - a emuná de nível intermediário.
Não podemos fazer boas escolhas a partir da emuná de nível superior até
que internalizemos primeiro a nossa emuná de nível intermediário, isto é, a
crença de que tudo o que Hashem faz é para o bem.
Neste nível, devemos aceitar os desafios da vida com alegria.
Só então estaremos prontos para entender a mensagem contida em cada
desafio.
Não se deve tentar entender as mensagens de Hashem sem uma boa
prática da emuná de nível intermediário.
Sem acreditar que Hashem faz tudo para o bem, não se pode chegar a uma
conclusão verdadeira.
A verdade vem da mente livre e clara, que por sua vez vem da felicidade de
saber que Hashem faz tudo para o bem.
Portanto, precisamos da emuná de nível intermediário para evitar
conclusões equivocadas sobre as mensagens Divinas.
O Rebe Nachman de Breslav ensina (Licutei Moharan 11:10) que felicidade
e despreocupação levam à liberdade (da mente) que facilita a verdadeira
tranquilidade mental.
Chefe ou empregado?
Uma pessoa dedicada realiza introspecções espirituais e confessa suas más
ações diariamente a Hashem.
Quem não se preocupa com buscas espirituais não pode ser chamado de
servo de Hashem, já que vive com a sensação de estar no comando.
Um chefe não precisa fazer relatório de suas ações a ninguém.
Ele faz o que quer na hora que quer.
Não se pode ser chefe e subalterno simultaneamente.
O amor e a devoção motivam o servo mais louvável.
O medo de punição motiva o servo menos louvável.
Se o "chefe" pensa que pode fazer o que quiser sempre que quiser, ele não
sente que há alguém por perto que possa puni-lo.
Sem temer punição, ele nem chega a atingir o nível espiritual do pior
empregado.
Mesmo que tenhamos apenas o mínimo de temor à punição, tememos as
consequências de nossos erros e, por isso, fazemos um relatório diário de
nossas transgressões, confessamos a Hashem e pedimos o Seu perdão.
Também rezamos por assistência Divina para evitar cometer erros no
futuro.
Um discípulo principiante ainda não desenvolveu o amor e o respeito pelo
mestre que levam ao serviço dedicado.
Ainda assim, ele sabe que será recompensado por bom comportamento e
punido por preguiça e negligência.
Do mesmo modo, a emuná inicial começa com a crença em recompensa e
punição: tudo o que acontece na vida — bem ou mal, sucesso ou fracasso,
prazer ou dor — vem de Hashem.
A emuná de nível inicial começa com a crença em recompensa e punição,
que por sua vez é o resultado do reconhecimento de que não há atribulação
sem transgressão.
E este último é o pré-requisito da emuná básica.
Todos desejam ter sucesso e uma vida prazerosa.
As transgressões desequilibram o jogo da felicidade, já que criam
problemas e sofrimento.
Portanto, uma dose diária de busca espiritual, confissão de erros e esforços
para melhorar nos poupa de muita tristeza.
Se permanecemos em estado de sono espiritual e agimos como chefe e não
como servo, as dificuldades da vida — resultado de nossas próprias
transgressões — tornam-se ainda mais insuportáveis.
Aquele que atribui as dificuldades da vida a algo ou alguém e não às suas
próprias transgressões está a anos luz de distância da mínima fé em
Hashem!
Pessoas assim não se responsabilizam por suas ações, nunca fazem
teshuvá, aprofundam-se no sono espiritual e estão, portanto, bem distantes
de Hashem.
Irát Shamaim, o temor a Hashem, começa com o reconhecimento espiritual
básico de que os problemas resultam de erros.
O medo básico de punição leva ao elevado medo de decepcionar nosso
querido e compassivo Pai quando fazemos algo contra a Sua vontade, D'us
no livre.
O Rebe Nachman de Breslav explica (Licutei Moharan 1:15) que os medos
de uma pessoa decorrem de suas transgressões, que se materializam em
vários estímulos que as amedrontam, provocando, assim, buscas espirituais
e arrependimento.
Quem teme Hashem não precisa temer mais nada.
As causas do sofrimento
Tristeza
A primeira e mais comum causa de sofrimento é a tristeza.
Nada chama julgamentos severos como as reclamações e a insatisfação de
alguém com relação ao que lhe cabe nessa vida.
A Torá cita enfaticamente a tristeza como a causa das maldições da vida
(Deuteronômio 28:47): "Em troca de não teres servido ao Eterno, teu Deus,
com alegria e com bondade de coração..."
Os tristonhos protestam: "Abundância? Do que você está falando? Olhe os
meus problemas!"
Eles desconsideram os milhares de bênçãos diárias da vida e se concentram
nas dificuldades, tornando a vida ainda mais sofrida.
Hashem sempre trata as pessoas com compaixão e misericórdia.
Pessoas insatisfeitas negam que a Providência Divina de Hashem seja
compassiva e misericordiosa.
Rejeitar Hashem, ou não ter emuná, é um grande antecedente de
sofrimento e fracasso.
Por quê?
Quando uma pessoa fica insatisfeita com a justiça de Hashem, o tribunal
celeste abre o dossiê da sua vida para analisar de perto se ela realmente
merece as atuais dificuldades.
A inspeção das dívidas e dos créditos de uma pessoa sempre mostra que
ela na verdade merece problemas piores e menos bênçãos do que tem.
Hashem é sempre "pego" por Sua compaixão excessiva e misericórdia -
muito mais do que requer a justiça.
As reclamações da pessoa não são apenas desconsideradas, como
provocam novas necessidades de julgamento.
O Rei David passou por inúmeras dificuldades e, não obstante, reconheceu
a misericórdia e a compaixão de Hashem em cada etapa da sua vida.
Ele implorou (salmos 143:2): "Contra Teu servo não ponderes em
julgamento, pois criatura não há que diante de Ti se justifique."
O sofrimento deveria provocar uma busca espiritual, já que não há
atribulação sem transgressão.
Ainda assim, antes da busca espiritual, nos perguntamos se estamos
contentes com a nossa porção na vida.
A agonia prolongada é muitas vezes resultado de transgressões cometidas
contra outro ser humano.
Aquele que causa dor a outra pessoa não pode ser perdoado pelos pecados
até que implore pelo perdão de sua vítima.
Enquanto as injustiças contra o próximo não são corrigidas, os julgamentos
severos continuam.
Arrogância
As atribulações também podem ser um indício de que não se acredita que
"não há outro que não Hashem" (Deuteronômio 4:35).
Hashem muitas vezes usa o sofrimento para desinflar egos inflados.
Frequentemente, a queda de uma pessoa é o resultado de sua própria
arrogância.
O Rei Salomão, o mais sábio de todos os homens, disse (Provérbios 16:18):
"O orgulho precede a destruição, e a arrogância vem antes do fracasso."
Geralmente, podemos encontrar um sinal de arrogância e complacência
antes de uma crise.
Hashem é particularmente compassivo quando "diminui" nosso ego, pois
uma pessoa arrogante não pode se aproximar Dele.
Os sábios do Talmud afirmam (TB, Tratado Sotá 5a): "O Santíssimo diz: 'O
arrogante e Eu não podemos viver no mesmo mundo.'"
Como resultado, Hashem retira Sua Presença Divina de onde há arrogância
e pessoas arrogantes.
De onde Hashem retira Sua Presença Divina, o sofrimento toma se
estabelece.
Olho por olho, dente por dente
Hashem frequentemente nos manda problemas que refletem as nossas
transgressões para nos mostrar por que estamos sofrendo.
Por exemplo, um motorista de taxi que violou o Shabat acabou com os dois
pneus furados e uma multa por excesso de velocidade no domingo de
manhã, fazendo com que ele perdesse a quantia exata que havia ganhado
naquele Shabat.
Ou o caso de um patrão que acusou injustamente um empregado de roubo
e que depois foi acusado pelas autoridades fiscais de fraudar seu imposto
de renda.
A política Divina do "olho por olho" certamente não é punição; é um método
Divino de educação.
Segundo nossos sábios, (ibid. 8b) "Uma pessoa é avaliada da maneira como
ela avalia os outros. Sansão perseguiu o desejo de seus olhos e, portanto,
perdeu os próprios olhos pelas mãos dos filisteus'; Absalão tinha muito
orgulho do próprio cabelo e acabou pendurado, preso pelos cabelos. Miriam
esperou uma hora por Moisés e, portanto, todo o povo de Israel esperou
uma semana por ela".
[Veja Juizes, capítulo 16. Sansão seguiu o desejo de seus olhos e escolheu
Dalila — uma adoradora de ídolos, traiçoeira e filha de uma nação inimiga
— e acabou perdendo os olhos pelas mãos do povo dela.]
[Veja Samuel II, capítulo 18. Absalão era vaidoso com seu cabelo, entre
outras coisas. Ele também se revoltou contra seu pai, o Rei David. Certa
vez, quando andava de mula, seu cabelo se enrolou nos galhos de um
carvalho. A mula continuou trotando e Absalão ficou pendurado pelo couro
cabeludo até a morte.]
[Veja Êxodo 2:4. Miriam se escondeu perto do Nilo para vigiar seu irmão
Moisés, que havia sido colocado dentro de uma cesta no rio e acabou sendo
descoberto pela filha do Faraó. Depois, quando Miriam contraiu lepra (veja
Números, capítulo 12), todo o povo de Israel esperou uma semana até que
ela se curasse]
Os sábios também ensinam (TB, Tratado Shabat 33a) que a difteria — uma
doença terrível que começa com uma bactéria gram-positiva no intestino e
culmina em na liberação da toxina que bloqueia a garganta — é resultado
da prática da difamação.
Em outro trecho (TB, Tratado Berachót 5b), O Talmud conta a história do
Rav Huna, cujos 400 barris de vinho azedaram: Os colegas do Rav Huna lhe
aconselharam a fazer uma busca espiritual e a ponderar por que Hashem
havia transformado seu vinho em vinagre.
Ele reagiu: "O que foi? Para vocês, sou suspeito de ter cometido algum
erro?"
Eles responderam: "O que foi? Hashem é suspeito de punir sem motivo?"
O Rav Huna respondeu: "Se alguém escutou que eu cometi um erro, que
ele venha e me diga!"
"Ouvimos falar que você não tem sido justo com seu inquilino fazendeiro, e
que você não lhe deu uma porção justa da colheita das uvas."
O Rav Huna protestou: "Meu inquilino me rouba! Então eu tomo essas
porções para mim."
Os rabinos comentaram: "Diz o ditado que 'ladrão que rouba ladrão tem
cem anos de prisão.'”
O Rav Huna reconheceu o erro e disse: "Tomo para mim a obrigação de me
redimir e devolver a justa parte do inquilino sobre a colheita."
O Rav Huna se comprometeu a fazer teshuvá e a retificar a injustiça, então
Hashem fez um milagre e transformou o vinagre em vinho novamente.
Segundo outra opinião do Talmud, o vinagre não voltou a ser vinho, mas o
preço do vinagre de vinho disparou e o Rav Huna teve um bom lucro.
De qualquer modo, vemos como a aceitação da justiça Divina reverte uma
situação de julgamento rigoroso à compaixão milagrosa.
O Rav Huna transgrediu com uma colheita de uvas e foi punido em seguida
por meio do próprio vinho.
Com mensagens assim, Hashem nos ajuda a entender o que precisamos
corrigir.
Rashi explica (Gênesis 37:2) como o episódio de José ilustra esse aspecto
da justiça Divina.
José contou ao pai três histórias difamatórias sobre seus irmãos.
Em cada caso, ele foi punido com medidas "olho por olho, dente por dente":
1. José disse que seus irmãos tinham comido a carne de um animal vivo;
em troca, os irmãos mergulharam a túnica de José no sangue de um
cordeiro abatido.
2. José disse que os filhos de Lea estavam chamando seus meios-irmãos, os
filhos de Bilcha e Zilpa, de escravos.
Em troca, ele foi vendido como escravo.
3. José disse que seus irmãos eram suspeitos de haver praticado sexo
proibido.
Em troca, ele mesmo foi acusado de manter relações proibidas com a
esposa do ministro egípcio Potifar.
Jacob ficou 22 anos fora de casa.
Sua ausência causava dor a seus pais, Isaac e Rebeca.
Jacob foi punido quando seu querido filho José desapareceu e foi dado como
morto por exatamente 22 anos!
Judá enganou seu pai, Jacob, ao mergulhar a túnica de José no sangue de
um cordeiro, dizendo que o irmão havia sido devorado por um animal
selvagem.
Em troca, a nora de Judá, Tamar, o enganou com um cabrito (veja Gênesis,
capítulo 38).
Simão aconselhou os irmãos a jogar José em um poço.
Consequentemente, Simão foi mantido preso no Egito
Os irmãos de José lhe causaram muito sofrimento.
Por sua vez, eles sofreram extremamente no Egito.
Os filhos de Hashem
Como Hashem nos chama "Seus filhos", problemas relacionados aos nossos
próprios filhos são provavelmente uma medida "olho por olho" que resulta
de alguma dor que causamos a Hashem, D'us nos livre.
Por exemplo, quando o filho de uma pessoa é desobediente, essa pessoa
provavelmente desobedeceu a Hashem.
Crianças insolentes são indícios de pais atrevidos e insolentes.
Em nossa busca espiritual, devemos atentar a como nossos próprios filhos
nos tratam, pois essa é uma indicação de como tratamos Hashem.
Ademais, devemos fazer um esforço concentrado para nos redimirmos de
nossos pecados contra nossos pais.
Como diz o velho ditado, "a maça não cai longe da árvore".
No final das contas, nossos próprios filhos nos tratam da mesma maneira
como tratamos nossos pais.
Contra ou complementar?
A palavra bíblica que descreve a esposa como parceira na vida é “kenegdo”
(veja Gênesis, 2:18).
Essa palavra significa "contra" e também "complementar".
A nação de Israel é como se fosse a "esposa" de Hashem.
Assim sendo, o modo como a esposa trata o marido é reflexo do modo
como o marido trata Hashem.
Uma esposa desrespeitosa é sinal de que o marido não respeita Hashem.
Uma esposa preguiçosa é sinal de que o marido é negligente quanto às suas
obrigações para com Hashem, e assim por diante.
De acordo com os sábios, quando um marido merece, sua mulher é uma
ajudante "complementar".
Mas quando ele não merece, ela fica "contra" ele — uma inimiga!
As ações do marido ditam o comportamento da esposa.
Segundo o pensamento judaico esotérico, a esposa é um espelho do marido
— nela, ele pode ver a si mesmo, seus traços de personalidade, seus pontos
fortes, suas fraquezas etc.
Além disso, o marido é como o sol e a mulher é como a lua — ela reflete a
luz dele.
Portanto, se ela é "pavio curto", ele deve corrigir seu problema com a raiva.
Quando ela não cumpre direito suas obrigações, ele com certeza não está
cumprindo suas obrigações para com Hashem.
Muitas das dificuldades de um casamento são indicações da falta de emuná,
da arrogância e do comportamento inapropriado do marido.
Problemas de amor
Os problemas de amor são um tipo adicional de sofrimento criado
especialmente para os justos e devotos.
Dizem os sábios que se uma pessoa sofre, ela deve iniciar uma séria auto
avaliação e fazer teshuvá.
Se a auto avaliação tem um bom resultado, ela provavelmente foi
negligente quanto ao estudo de Torá.
Se foi diligente em seu estudo de Torá, seus sofrimentos são problemas de
amor.
O caminho do meio
A maioria das pessoas não pertence à "vida fácil" do mal, nem ao caminho
de atribulações dos justos.
A grande maioria de nós, "viajantes do caminho do meio", deveria se
lembrar de que não há tribulação sem transgressão.
Portanto, devemos nos treinar para enxergar o "olho por olho" em nossos
problemas para saber o que corrigir.
Quando percebemos o que fizemos de errado, podemos começar o processo
de teshuvá, que é dividido em quatro etapas: confissão a Hashem, remorso,
pedido de desculpas pelos erros e decisão de melhorar a partir daquele
momento.
Se entendemos a mensagem de Hashem e agimos, Ele não precisa mais
falar conosco em linguagem de atribulações!
Ninguém quer testes e atribulações.
Mas, quando eles chegam, são um bom sinal de que Hashem se importa
muito conosco.
Problemas são um sinal de que Hashem está nos chamando para chegar
mais perto.
Todos queremos retificar a alma, mas às vezes não sabemos
especificamente o que temos de fazer.
Por isso, devemos falar com Hashem e pedir que Ele ilumine nossa mente e
nossos olhos, assim: "Hashem, por favor me ajude a entender o que fiz de
errado. Tenha piedade e me explique por que estou sofrendo. Quero me
aproximar, melhorar e fazer com que o Você tenha orgulho de mim. Por
favor, me ajude!"
Orações sinceras e persistentes — falar com Hashem com as nossas
próprias palavras — raramente ficam sem resposta.
Eventualmente, Hashem nos mostrará exatamente o que temos de corrigir.
Se tentamos ao máximo entender as mensagens de Hashem, mas ainda
não entendemos por que passamos pelos problemas que temos atualmente,
precisamos recorrer à emuná e lembrar que Hashem faz tudo com um
propósito.
Eis uma sugestão de como falar com Hashem numa situação dessas:
"Hashem, meus problemas certamente não são casuais ou injustos. Acredito
e confio em Você com todo meu coração, mas, infelizmente, não entendo o
que fiz de errado para provocar isso (conte aqui o seu problema) e,
portanto, não sei como me redimir. Hashem, querido Pai, por favor, me
ajude a entender por que estou sofrendo. Por favor, me perdoe e tenha
compaixão. Não me afaste de Você! Por favor, me conceda a Sua graça
Divina e ilumine minha alma dolorida. Ajude-me a fazer a Sua vontade e a
corrigir o que precisa ser corrigido..."
Obstáculos
Há dois obstáculos que nos previnem de vencer com emuná as atribulações:
Primeiro, quando dizemos: "Não sou forte o suficiente para aguentar! Isso
vai me derrubar!"
Esse sentimento reflete uma falta de crença na nossa força interior e na
capacidade de tolerar o estresse.
A fim de superar esse obstáculo, devemos internalizar a vital lei espiritual
segundo a qual Hashem não nos dá testes e atribulações que não podemos
aguentar.
Segundo, quando dizemos: "Deixe-me viver em paz!" ou "Não quero lidar
com isso."
Esse é um pedido para viver sem teshuvá, retificações da alma, altos e
baixos ou tempestades.
Hashem quer que fortaleçamos nossa alma, mas não podemos fazer isso
sem passar por testes de vez em quando.
Apenas por meio dos testes e problemas que fundamentam a nossa emuná
é que conseguimos a verdadeira paz de espírito.
Tentar escapar das dificuldades da vida em vez de enfrentá-las as torna
ainda mais intoleráveis.
Hashem não desiste; Ele sabe o que temos de corrigir.
O fato de que não queremos nos retificar não significa que Hashem vai se
esquecer de aplicar o ticún necessário, seja nessa vida ou em uma outra
encarnação.
Os sábios advertem que qualquer dificuldade nessa vida é preferível a uma
outra encarnação.
Não podemos viver em estado de calma imaginária e alcançar as
retificações da alma ao mesmo tempo.
Todo nosso propósito na Terra é conseguir realizar o ticún.
Portanto, altos e baixos, dificuldades, testes e atribulações fazem parte da
batalha.
Não podemos decidir ficar do lado de fora deste mundo.
Quando nascemos, já entramos na "quadra".
Isso significa que temos de pegar a bola dos desafios da vida e correr com
ela em direção ao nosso objetivo.
Com emuná, retificaremos nossa alma e ganharemos o jogo.
A recompensa e o sucesso verdadeiros, tanto em esforços materiais como
em espirituais, vêm da emuná.
Aqueles que não estão dispostos a se empenhar para retificar a alma
sofrerão, no final, um conjunto pior de testes e atribulações.
Portanto, sempre que nos fortalecemos com emuná, reza e temor a
Hashem, tornamos a vida muito mais fácil.
Com a ajuda de Hashem, os próximos capítulos lhe mostrarão como aplicar
a emuná à nossa vida diária.
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 3
Vá para o acostamento!
Ouvimos o barulho de uma sirene.
Olhamos pelo espelho retrovisor e vemos as luzes azuis e vermelhas de um
carro de polícia.
Um policial "durão" gesticula para que paremos no acostamento.
Se infringimos a lei ou não é agora irrelevante; trata-se de um teste
inesperado de emuná.
Agora é a hora de colocar em prática as lições que aprendemos no capítulo
anterior:
2. Devemos acreditar que o que nos acontece agora é para o nosso próprio
bem.
Portanto, precisamos deixar de lado os pensamentos inoportunos de que o
que acontece não é bom.
Ademais, devemos agradecer a Hashem por ter nos mandado o policial, já
que essa situação certamente existe para o nosso benefício.
Libertação do preso
A prisão é um teste extremo de fé.
Uma pessoa na cadeia não pode culpar ninguém pelo seu problema — juiz,
promotor ou testemunhas.
Hashem coloca as pessoas atrás das grades para expiá-las de seus pecados.
Às vezes, pessoas inocentes são julgadas, culpadas e condenadas.
Geralmente elas sofrem com sentimentos de raiva, frustração e amargura
por causa da injustiça pela qual estão passando.
Mas se elas analisassem a própria alma e avaliassem suas ações
objetivamente e sob a luz dos mandamentos da Torá, se julgariam culpadas
de erros graves.
Por quê?
O Tribunal Celeste não decreta prisão sem motivo.
Então, mesmo que a pessoa seja inocente das acusações, pode ser culpada
de outra má ação, que levou ao veredito Celeste da prisão.
Portanto, quem está preso deve aceitar a situação e usá-la como uma
oportunidade de fazer teshuvá e retificar a alma.
A rotina na prisão deve girar em torno de teshuvá, reza e ações de
caridade.
O preso deve falar com Hashem o máximo possível por meio de orações
pessoais, pedindo a Hashem força, orientação, redução da sentença e uma
rápida soltura.
Confessar a Hashem é vital para o bem-estar espiritual e emocional do
preso, assim como os outros atos de teshuvá, como expressar remorso
pelas transgressões e decidir melhorar dali em diante.
Para merecer a verdadeira e completa teshuvá, o preso deve também rezar
constantemente pela assistência e orientação de Hashem, para ser
conduzido pelo caminho correto.
Ele precisa rezar também para que Hashem o proteja de influências e
amigos negativos e para que Ele mande bons mensageiros que ajudem na
retificação da alma.
Quanto mais reza — em sua própria língua —, melhor!
Considerações Divinas
Segundo o Ticunei Zohar (Patach Eliahu, Introdução, seção 17), Hashem
governa o mundo de acordo com nossas ações.
Hashem criou o mundo para nos mostrar sua magnitude, e pode comandá-
lo misericordiosa ou severamente conforme nossas ações.
Quando as pessoas se comportam corretamente, o mundo se torna um
lugar de harmonia e bondade.
Por outro lado, injustiça, imoralidade e crueldade invocam julgamentos
severos e calamidades.
As doenças estão diretamente enraizadas nas más ações das pessoas.
Portanto, a medicina e seus profissionais — por mais avançados e hábeis
que sejam — não podem levar em consideração essas razões Divinas, tais
como as dívidas espirituais e os méritos do paciente, seus esforços para se
redimir e assim por diante.
Nenhum profissional — por mais talentoso que seja — pode anular um
decreto Divino.
Se Hashem decreta que a pessoa tem de ficar doente por uma semana,
nenhum tratamento no mundo irá ajudá-la a melhorar mais rápido.
O contrário também é verdade — se Hashem decreta que uma pessoa irá se
recuperar — apesar de desafiar a lógica médica -, ela começa a se
recuperar imediatamente.
Imagine dois gêmeos idênticos que cresceram juntos na mesma casa,
comeram a mesma comida etc.
Eles pareciam ser igualmente saudáveis quando eram pequenos.
Mas cada um desenvolveu seus próprios problemas de saúde ao longo do
tempo.
Isso é prova de que a saúde de uma pessoa não é determinada pela
natureza, mas pelas próprias ações da pessoa.
Se a natureza fosse o fator determinante, então ambos os gêmeos, que
nasceram e cresceram em circunstâncias idênticas, deveriam ter o mesmo
perfil de saúde.
Milagres e maravilhas
O princípio de que a natureza não influencia a cura se torna ainda mais
evidente quando vemos que assim que a pessoa corrige a causa espiritual
de sua doença, esta desaparece sem qualquer intervenção natural.
Se a natureza determinasse a cura, o doente continuaria a sofrer apesar de
seus esforços para fazer teshuvá.
E nada ajudaria nos casos em que danos aparentemente irreversíveis são
causados.
Como a natureza não determina a saúde - e vemos com nossos próprios
olhos que pessoas sinceramente arrependidas se recuperaram
milagrosamente até mesmo de doenças terminais -, podemos concluir que a
saúde e a cura desafiam as leis naturais. [Muito embora a saúde desafie a
natureza, a Torá nos ordena a fazer todos os esforços para cuidar da saúde.
Isso inclui dieta adequada, exercícios e o não consumo de tabaco e álcool.
As leis judaicas sobre a saúde podem ser encontradas em Rambam, Hilehót
Deot.]
Eu pude observar esse princípio em ação inúmeras vezes.
Centenas de pessoas, que seguiram minhas orientações de como retificar
erros que levam a doenças, foram abençoadas com uma melhora drástica
na saúde assim que fizeram teshuvá e melhoraram seus modos.
Até mesmo em minha experiência pessoal, vi como meus próprios
problemas foram resolvidos assim que percebi o que eu precisava corrigir.
Compartilharei com você uma das minhas experiências pessoais.
Certa vez, num Shabat, eu sofria com uma tremenda dor de dente.
Toda a minha mandíbula estava inchada e infectada — a dor era
excruciante.
Eu disse à minha família que precisava fazer um "tratamento de raiz"
imediatamente. [Em hebraico, diz-se "tratamento de raiz", e não
"tratamento de canal". O autor fez um jogo de palavras, se referindo à
solução central (raiz) de seu problema, e não ao tratamento dentário.]
Todos ficaram surpresos.
"Desde quando se pode ir ao dentista no Shabat?"
"Mas eu preciso fazer um „tratamento de raiz'”, respondi. "A dor está
insuportável e não é mitsvá sofrer no Shabat. Vou ao melhor dos dentistas
fazer um tratamento — para Hashem, bendito seja o Seu nome."
Fui a um campo vizinho e pedi a Hashem que me iluminasse quanto à raiz
espiritual da minha doença, ou seja, que me mostrasse o que fiz de errado
para merecer a dor de dente, a infecção e o inchaço.
Fiz uma intensa busca espiritual até que encontrei algo que eu não deveria
ter feito.
Pedi perdão por esse erro e fiz a teshuvá mais completa que consegui.
Após alguns minutos, o inchaço cedeu e a dor desapareceu, sem
antibióticos ou outra explicação natural.
Compreendi que a dor de dente era apenas um alerta e, assim que retifiquei
minha conduta, Hashem não precisava mais "me alertar".
Milagres Diretos
Como provas adicionais sobre o que falamos, eis dois acontecimentos do
passado que muitos testemunharam (veja Rebe Nachman Discourses, 187):
O professor de Anipoli
Hashem é o médico de toda carne e só Ele pode curar.
Certa vez, um judeu visitou o renomado tsadik Rebe Mordechai de Neschiz
e reclamou de uma doença grave.
O tsadik perguntou: "Você já visitou o famoso professor de Anipoli?"
O doente respondeu que nunca ouviu falar desse professor.
"Nesse caso, vá", disse o tsadik. "Ele certamente poderá ajudar em sua
cura!"
O judeu doente seguiu o conselho do Rebe Mordechai e fez uma viagem
dura e difícil de carroça a Anipoli.
Quando ele chegou ao distrito municipal, perguntou ao primeiro judeu que
encontrou onde morava o famoso professor.
O morador da cidade encolheu os ombros e disse que não havia doutores ou
médicos em Anipoli, muito menos um famoso professor.
O coração do doente se partiu leria ele feito toda essa jornada excruciante
para nada?
"O que vocês fazem quando ficam doentes, sem médicos na cidade?",
perguntou o doente.
O judeu local respondeu: "Sempre que as pessoas aqui ficam doentes, elas
fazem teshuvá, rezam para Hashem, pedem que Hashem as cure. E então
elas melhoram."
O doente, de coração partido, virou sua carroça e seu cavalo na direção
oposta e fez a longa e dificil viagem pelo caminho acidentado de volta a
Neschiz.
Ele tinha uma séria reclamação a fazer para o Rebe Mordechai, o tsadik:
"Você sabe como estou doente e fraco, Rebe! Por que me mandou a Anipoli
para nada? Não há nenhum médico naquele pequeno povoado!"
O Rebe Mordechai sorriu pacientemente: "Ninguém lhe explicou o que eles
fazem em caso de doença se não há médicos?"
O doente respondeu: "Sim. Alguém me deu a simples resposta que eles
rezam, fazem teshuvá e melhoram."
"Esse é o professor de Anipoli", respondeu o tsadik. "É Hashem! Sempre
que as pessoas se voltam a Ele, Ele as cura! Ele é o professor para o qual
as pessoas de Anipoli se voltam. Ele está disponível 24 horas por dia e não
cobra por visitas a domicílio. Ele pode até transformar pão e água em
remédios milagrosos, como está escrito (Êxodo 24): "E servireis ao Eterno,
vosso Deus, e Ele abençoará o teu pão e a tua água e Eu tirarei toda
doença de ti."
O filho do famoso Chafetz Chaim, de santa memória, contou que sua mãe
raramente procurava os serviços de um médico durante os anos em que
criou os filhos.
Sempre que alguém ficava doente, o Chafetz Chaim a instruía a distribuir
dezoito quilos de pão aos pobres, e ele próprio rezava por várias horas no
sótão.
Pouco depois, a criança doente se recuperava.
Só Hashem sabe
Segundo o Talmud (TB, Tratado Avodá Zará 55a), "imediatamente antes de
doença e sofrimento serem lançados sobre uma pessoa, eles juram irão
embora num dia e numa hora determinados, por meio de uma certa pessoa
e de um certo agente medicinal".
O Rebe Nachman de Breslav ensina que (Licutei Moharan 11:3) todas as
condições acima deve ser cumpridas para que um doente se cure.
Se assim for, como um médico pode curar alguém?
Um médico não pode curar uma pessoa a menos que ele seja o mensageiro
Celeste eleito para levar a cura apropriada na hora apropriada.
Ademais, como um doente procura a ajuda de um médico se ele não sabe
se aquele médico é o mensageiro escolhido?
Assim, ir ao médico é como apostar nos cavalos — talvez você ganhe,
talvez não.
Um dos novos estudantes da nossa yeshivá sofreu anos com uma doença
crônica.
Nenhum médico ou tratamento ajudava; nem mesmo suas próprias rezas e
esforços para retificar seus pecados.
Até que um dia ele ouviu uma lição de emuná segundo a qual tudo é para o
bem e a pessoa deve agradecer a Hashem mesmo por suas deficiências e
problemas na vida.
Esse aluno decidiu dedicar sua hora diária de reza pessoal para agradecer a
Hashem.
Por vários dias, ele agradecia a Hashem por deixá-lo doente e por toda a
dor e sofrimento.
Ele refletia sobre como Hashem certamente faz tudo para o bem e se
consolava com o fato de que sua dor era uma expiação por seus pecados.
Ele percebeu que Hashem, como um Pai amoroso, estava pessoalmente
purificando-lhe a alma.
Com lágrimas nos olhos — lágrimas de alegria -, o estudante agradecia a
Hashem sinceramente por sua saúde fraca.
Ele nem pedia por uma cura.
Em duas semanas, a doença havia desaparecido completamente, sem a
ajuda de tratamentos ou remédios.
A doença crônica que o acometeu por anos passou a ser coisa do passado,
tudo graças ao seu agradecimento a Hashem.
A gratidão a Hashem é o auge da emuná e conduz à boa saúde.
O contrário também é verdade, pois a falta de emuná é muitas vezes a
causa/raiz de uma doença.
O fortalecimento da emuná, portanto, contribui para a boa saúde.
Se temos emuná, não sofremos.
Enquanto nos apegamos à crença de que tudo o que Hashem faz é para o
bem, não sentimos ter qualquer problema.
Portanto, podemos abrandar julgamentos severos se reforçamos nossa
emuná de que tudo o que Hashem faz é para o nosso máximo bem e se Lhe
agradecemos por tudo.
Essa é a atitude que uma pessoa doente deve ter.
Quando ela começa a agradecer a Hashem, a vida dá uma volta dramática
para melhor.
O principal é a emuná
O Rebe Nachman ensina (Licutei Moharan 11:5) que há certas doenças que
resultam de falta de emuná.
Tais doenças não podem ser curadas por meios físicos, mas apenas por reza
intensa, teshuvá e emuná reforçada.
Povo compassivo
Qualquer um da área médica deve saber que realiza uma tarefa elevada no
mundo.
Geralmente, quem escolhe uma carreira em medicina é uma pessoa
compassiva.
As características de misericórdia e compaixão combinadas ao desejo de
ajudar a humanidade são incentivos maravilhosos para se estudar medicina.
Entretanto, os médicos devem evitar a armadilha da arrogância e lembrar
que são apenas mensageiros da cura, pois Hashem sozinho decide quem irá
viver e quem irá morrer.
Hashem também decide o quanto ã pessoa sofrerá e se ela irá ou não se
curar.
O médico deve rezar diariamente antes de começar o trabalho para que
Hashem o ajude a ser um emissário digno de Sua confiança.
Suas orações também devem incluir um pedido especial de que ele mereça
ser agente da cura, e não da morte, D'us no livre - o erro de um médico
pode ter consequências trágicas ou fatais.
Portanto, os profissionais da saúde devem sempre rogar a Hashem que
tenham assistência Divina em tudo o que fazem.
Eles também precisam pedir por paciência, compreensão e sensibilidade
frente a seus pacientes.
Não há desespero!
Dizem os sábios que os médicos têm uma licença Divina para curar.
Isso não lhes dá licença para desencorajar ou desanimar pacientes.
Em muitos casos, os médicos dão aos pacientes e aos seus familiares uma
perspectiva pessimista e uma sensação de desesperança.
Dizer a um paciente que ele tem pouco tempo de vida é um erro terrível.
Pesquisas médicas mostram que otimismo e alegria desempenham um
papel importante na cura, recuperação e resistência a doenças.
Sutilezas como a terapia do riso ajudariam em algumas doenças.
Não é de admirar que o Rebe Nachman ressaltasse a importância de se
manter a felicidade e se evitar a tristeza e a depressão a todo custo.
O Rebe Nachman enfatiza que uma doença é resultado de uma "quebra" na
felicidade (veja Licutei Moharan 11:24).
Já que a emuná leva à felicidade, ela também facilita a recuperação de
doenças e indisposições.
O médico, portanto, deve evitar entristecer ou desencorajar pacientes.
De fato, uma de suas tarefas mais importantes é justamente encorajá-los.
Uma palavra de alento do médico pesa muito mais que o consolo do leigo.
O médico deve usar também sua boa influência para ajudar a fortalecer a
emuná do paciente.
Esse apoio emocional e espiritual é inestimavelmente benéfico para todos.
O prognóstico
A afirmação de que o médico deve dar ao paciente avaliações verdadeiras
sobre seu quadro clínico é uma falácia.
Não se deve roubar do paciente a esperança de recuperação.
E mesmo que o doente esteja destinado a morrer, ele deve, mesmo assim,
estar cercado de otimismo e encorajamento.
Os médicos que desencorajam e assustam seus pacientes, particularmente
os que preveem quanto tempo de vida resta a um paciente aparentemente
terminal, estão na verdade lhes roubando qualquer chance de recuperação.
Hashem não nos revela o dia da morte porque tal conhecimento poderia ser
prejudicial.
Se Hashem oculta o dia da morte, como pode um mortal ser tão presunçoso
a ponto de achar que sabe quando será essa data?
Prognósticos negativos às vezes são completamente incorretos.
Até mesmo em casos aparentemente terminais, um prognóstico pessimista
rouba do paciente o direito de morrer com otimismo e fé no coração.
O prognóstico de condenação leva a uma morte mais amarga,
acompanhada de sentimentos de desespero, confusão e até mesmo raiva de
Hashem, D'us nos livre.
Quando os médicos dizem que o fim está próximo e "selam" o destino do
paciente, negam a ele sua única tábua de salvação — a emuná.
Pare e pense um pouco: quem disse que o quadro do paciente não
apresentará uma melhora repentina?
Todos já ouvimos falar de pessoas clinicamente mortas que voltaram à
vida!
Os médicos são Deus para saber o que foi decretado a cada paciente?
Hashem pode mudar qualquer coisa no mundo de uma hora para a outra.
Portanto, um doente pode se recuperar apesar de todas as previsões
negativas dos médicos.
Assumir um compromisso, por menor que seja, de fazer teshuvá, melhorar
a si mesmo ou cumprir uma mitsvá, como doar dinheiro para caridade,
pode levar o paciente à recuperação não conseguida por métodos naturais.
Mas sejamos justos com os médicos; às vezes a família do paciente faz uma
grande pressão, exigindo a "verdade".
Em tais situações, o médico deve ter cuidado e dizer que de acordo com as
circunstâncias naturais, a situação parece grave, mas que a experiência
prova que a intervenção de Hashem pode alterar a situação de uma hora
para a outra, desconsiderando qualquer lei natural.
O melhor conselho
O médico que tem emuná sabe que o quadro do paciente pode mudar de
uma hora para a outra.
É suficiente que a família dê o nome do paciente a um tsadik e que ele
comece a rezar ou que faça um pidion nefesh pelo paciente.
Porém, o paciente pode se sentir melhor e depois ter uma recaída por
descumprir uma promessa ou deixar de ter emuná.
De qualquer modo, o médico deve evitar dar previsões sombrias, pois, se
Hashem decide reanimar o paciente, o médico pode acabar manchando sua
reputação.
Por outro lado, se o médico estiver correto, o que se ganha?
Se ele assusta o paciente — mesmo que sinceramente —, o médico é
culpado de onaat devarim, a transgressão da Torá de causar sofrimento a
outro ser humano.
A "verdade" pode fazer o paciente sofrer ainda mais com desespero e
desesperança.
O melhor conselho para os médicos é, portanto, evitar dizer qualquer coisa
comprometedora, mesmo se a família do paciente fizer muita pressão.
Há várias rotas verbais de saída, como "é muito cedo para dizer" ou "não
temos informação suficiente para fazer um prognóstico exato".
Há situações em que o médico força sua opinião com relação a um
determinado tratamento, remédio ou operação.
Isso também é um erro.
Mesmo que o médico esteja convencido de que as suas recomendações
estão certas, o paciente não deve ser privado de seu livre-arbítrio.
E mesmo que o médico queira ajudar o paciente, ele não deve pressioná-lo,
dramatizando as próprias opiniões.
Em suma, somente Hashem decide o destino de cada paciente.
A missão do médico é ser um emissário da Vontade e da Providência
Divinas, além de rezar para que seja afortunado o bastante para ser um
agente da cura e não da morte.
Portanto, o médico deve dizer ao paciente: "Farei o melhor que puder, mas
saiba que a sua saúde não depende de mim; por isso você deve fazer a sua
parte — fortaleça sua emuná em Hashem! Não importa o que dizem os
resultados dos testes, há muitas surpresas em medicina e Hashem pode
anular qualquer circunstância natural, por mais difícil que ela possa parecer.
Rezo para que Hashem me dê o melhor conselho com relação ao seu caso,
mas você pode contribuir muito para a sua própria recuperação por meio de
reza, caridade, teshuvá e emuná. Espero que, se trabalharmos juntos,
Hashem lhe conceda uma recuperação rápida e completa."
Salmos
Os Salmos têm um poder enorme, equivalente a uma infusão intravenosa
de fé em Hashem.
A confiança em Hashem contribui muito para a recuperação rápida e
completa de um paciente.
Há dezenas de histórias sobre pessoas que mereceram recuperações
milagrosas por terem recitado os Salmos.
Licutei Tefilót
Um homem sofria com graves dores nas costas, ao ponto de não poder
erguer nem coisas leves.
Ele perguntou a um dos tsadikim de sua geração o que fazer.
O tsadik lhe recomendou recitar todas as rezas para cura da clássica
coleção de orações do Rebe Natan de Breslav, Licutei Tefilót.
Ele seguiu o conselho do tsadik ao pé da letra.
Em pouco tempo, ele estava completamente curado.
Seja feliz!
O rigor no cumprimento da religião é uma loucura; ninguém deve ser
demasiado exigente consigo mesmo.
Não se preocupe se o seu cumprimento de uma mitzvá é perfeito ou não,
apenas faça o que puder com inocência e boa intenção.
Lembre-se de que a Torá não foi dada aos anjos, mas a seres humanos
limitados.
Aqueles que exigem um comportamento angelical de si mesmos ficam
propensos à frustração, tristeza e decepção, que resultam do sentimento
arrogante de que tudo deve ser feito de modo perfeito.
A pessoa conectada à verdade é feliz servindo Hashem da melhor maneira
possível sem se impor uma rigidez de arrancar os cabelos.
Acreditar no sábio
O Rebe Nachman ensina que (veja Rebe Nachman's Discourses, 67)
"ignorar o sábio pode causar insanidade. A pessoa age de maneira insana
apenas porque ignora o conselho de outros. Se seguisse conselhos
racionais, agiria normalmente. Seu estado mental pode justificar sua
necessidade de fazer coisas como rasgar a própria roupa ou rolar no lixo.
Mas um homem mais sábio lhe diz para não fazer isso. Se o insano
subjugasse sua vontade à do sábio, suas ações se tornariam
completamente racionais. Comportamento insano, portanto, é resultado
apenas de ignorar os sábios. Entenda bem isso".
O ensinamento acima obriga qualquer pessoa racional a dar atenção às
palavras do sábio, especialmente aos nossos renomados líderes.
A crença em suas palavras, juntamente à emuná em Hashem, é o segredo
para a boa saúde mental.
A Torá louva os filhos de Israel durante sua fuga da escravidão no Egito
(Êxodo 14:31): "E viu Israel o grande poder que exerceu o Eterno sobre os
Egípcios e temeu o povo ao Eterno, e creram no Eterno e em Moisés, seu
servo."
Estudo da Torá
O Rebe Nachman de Breslav, provavelmente o melhor médico da alma que
já viveu, também ensina (Licutei Moharan abridged 1:1) que "quando
estuda Torá, a pessoa se salva da loucura".
O ietser hará - a inclinação para o mal - quer nos levar à loucura.
De acordo com os nossos sábios, a pessoa não peca a não ser que o espírito
da insanidade entre em seu cérebro.
Como a inclinação para o mal quer que as pessoas pequem, ela lhes instila
uma dose de insanidade.
O ietser hará conhece todos os tipos de armadilha e usa várias tentações e
confusões diferentes para distorcer o julgamento de uma pessoa.
A única maneira de se resguardar dessas armadilhas é fortalecer a emuná e
o estudar Torá.
Pensamentos
"Maus pensamentos e expectativas de luxúria deixam as pessoas loucas."
(Licutei Moharan 1:60).
Há uma relação muito forte entre elevação espiritual pessoal e saúde
mental.
O contrário também é verdade (além de ser triste): quanto mais a pessoa
sucumbe a pensamentos baixos e de luxúria, menos sã ela fica.
As pessoas cometem loucuras para satisfazer seus desejos, seja
desperdiçando dinheiro suado, arriscando-se a enfurecer o marido da
mulher cobiçada ou destruindo a própria casa, arruinando a própria vida e a
da família.
Isso sem falar em pornografia, que é mais uma insanidade.
Portanto, resguardar os olhos e a mente da luxúria e das coisas proibidas é
tão importante quanto resguardar a boca de engolir veneno.
De fato, é mais fácil envenenar a mente do que envenenar o corpo.
É muito importante estudar Torá, aprender a ter emuná, fazer teshuvá
sincera, rezar intensamente e resguardar os olhos, especialmente de livros,
filmes, revistas e websites impuros.
Isso tudo nos leva a escapar das armadilhas dos maus pensamentos e das
contemplações de luxúria que deixam maluca uma pessoa normal.
Devemos rezar por felicidade.
Felicidade e boa saúde mental andam de mãos dadas.
A verdadeira felicidade vem da emuná reforçada.
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 4
Sustento.
A qualidade do nosso sustento depende de nossa confiança em Hashem,
conseguida por meio da emuná.
Portanto, os esforços para reforçar a emuná e a confiança em Hashem são
capazes de melhorar nosso sustento.
A emuná nos ensina que quem mantém todas as criações, da ameba
unicelular às galáxias magníficas, é Hashem.
De acordo com os nossos sábios, aquele que dá a vida também dá o
sustento.
Ou seja, se acreditamos que Hashem é o Criador que dá a vida, devemos
acreditar também que o Criador sustenta todas as Suas criações.
A confiança completa em Hashem inclui a crença de que o sustento faz
parte da Providência Divina sobre cada criação.
O sustento é preocupação do Criador, não da criação individual.
Por isso, aquele que confia em Hashem fica livre da inquietação sobre seu
sustento e aclara a mente para se concentrar em sua tarefa específica na
Terra.
Pessoas assim sabem que Hashem irá cumprir Suas obrigações fielmente.
Os pensamentos não focados em dinheiro são um sinal de confiança em
Hashem.
Aqueles que confiam em Hashem não se preocupam em saber de onde virá
a próxima refeição.
Mesmo quando a "situação aperta", sabemos que nossos problemas
financeiros vêm de Hashem.
Portanto, não nos culpamos ou a mais ninguém por nossas dificuldades.
Quando sofrer uma perda financeira, seja em forma de roubo, perda ou
acidente, você deve se voltar aos três princípios de emuná:
1. Tudo vem de Hashem, assim como esta perda em particular.
Não apenas tudo vem de Hashem, como isso é exatamente o que Ele quer.
2. Essa perda particular é para o bem, assim como tudo o que Hashem faz.
3. A perda é uma mensagem de Hashem para estimular a auto avaliação e
a busca espiritual com relação a algo que precisa ser corrigido, pois não há
atribulação sem transgressão.
Pessoas com emuná sabem que Hashem é O Provedor.
Portanto, quando encontram dificuldades financeiras, reagem colocando a
emuná para trabalhar, como no processo tripartite de pensamento baseado
nos princípios da emuná apresentado acima.
A melhor maneira de se compensar a falta de dinheiro é fazer teshuvá, ou
seja, retificar os erros que a princípio causaram a carência.
Com teshuvá e reza pela compaixão de Hashem, a pessoa pode literalmente
deslizar sobre suas dificuldades financeiras.
Não roubarás
Quanto menos emuná, mais a pessoa fica vulnerável a contemplar meios
ilegais de conseguir dinheiro.
A desonestidade e a falta de emuná são parceiras.
Mas, com emuná, entendemos que Hashem provê o sustento dentro da
estrutura dos mandamentos da Torá.
Qualquer quantia destinada a uma pessoa chegará a ela de modo
permissível e por meios honestos.
Lembre-se desta importante regra espiritual: O dinheiro que se obtém ao
transgredir as leis da Torá (mentir, trapacear, não pagar o salário de
alguém, fraudar e roubar, para mencionar apenas alguns) é não apenas
amaldiçoado, como prejudica o dinheiro conseguido de modo "casher"
(assim como uma maça podre estraga as maçãs boas da mesma cesta).
Dinheiro desonesto invoca uma torrente de problemas e atribulações.
Confiança
O melhor conselho para se resolver um problema de renda é fortalecer a
confiança em Hashem.
Um ótimo método de se fortalecer a emuná em Hashem é aprender o
capítulo intitulado O portão da confiança, do clássico livro de ética Os
deveres do coração, do Rabenu Bachia.
O melhor modo de aprender é o seguinte:
1. Aprenda um pequeno trecho todo dia, não mais que quinze linhas.
Revise esse trecho três vezes ao longo do dia.
2. No dia seguinte, aprenda o próximo trecho de quinze linhas e o revise
três vezes.
3. Quando terminar o capítulo seguindo esse método, repita todo o
processo até que você internalize os princípios de confiança em Hashem.
Rezar e estudar
Os Portões da Confiança formam um extraordinário conjunto para melhorar
a renda.
Aqueles que desejam resolver seus problemas financeiros de uma vez por
todas devem realizar um "tratamento de raiz" espiritual e não usar a reza
para pedir dinheiro; em vez disso, eles devem pedir emuná e confiança a
Hashem.
Por quê?
Quando rezamos por dinheiro, a reza serve como solução temporária, como
um remendo numa calça jeans rasgada.
Orações por dinheiro não resolvem a essência das dificuldades financeiras.
Uma crise financeira leva à outra caso não reforcemos nossa confiança em
Hashem.
Mas quando fortalecemos a emuná, nossos problemas de renda se
resolvem!
Hashem quer que aprendamos a confiar Nele.
Quando o fazemos, Ele não precisa nos incomodar com problemas
financeiros.
Com emuná e fé, merecemos uma vida agradável e um sustento suficiente
para toda a vida.
Aqueles que estão atolados em dívida devem passar ao menos uma hora
por dia rezando, procurando a ajuda de Hashem, fazendo teshuvá e
tentando corrigir os erros que geraram as dívidas.
Eles devem pedir a Hashem emuná e confiança, criando assim um forte
recipiente espiritual que poderá receber bênçãos Divinas de abundância.
Negócios
Um empresário sem emuná é infeliz.
Um comerciante deprimido foi visitar seu rabino.
O prognóstico espiritual imediato feito pelo rabino foi: "Seus problemas
empresariais e financeiros ocorrem porque você pensa ser o chefe e,
portanto, todas as preocupações estão em seus ombros. Você depende do
seu cérebro, da sua perspicácia e do seu talento, e por isso sofre decepções
amargas quando as coisas não ocorrem do modo como você queria. Até
pior, você deposita sua confiança em pessoas — clientes, fornecedores,
bancos e assim por diante — e elas mentem e enganam e o decepcionam."
O rabino deixou o homem refletir um pouco e continuou: "Se você
percebesse que Hashem conduz os seus negócios e que você é apenas um
'administrador’ seu trabalho seria muito mais simples; você não precisaria
se preocupar nem sofrer, e não teria de perder a cabeça. Como funcionário,
você pode se concentrar em fazer o seu trabalho, deixando que o Grande
Chefe — Hashem — Se preocupe com o resto. Toneladas de pressão sairiam
de seus ombros."
"Como eu faço Hashem ser o chefe? ", perguntou o empresário.
"Simples. Você diz a Hashem: 'Mestre do Universo, quero que Você controle
os meus negócios. Não tenho como saber se os bancos e os fornecedores
estão sendo honestos ou se meus clientes pretendem pagar suas contas.
Você enxerga tudo, até mesmo os pensamentos mais profundos do coração
de uma pessoa. Você sabe se uma transação futura será lucrativa ou não.
Quero que Você tome as decisões. Por favor, Pai, ajude-me a confiar
apenas em Você. Se um acordo não é bom, não deixe que ele seja
concluído. Mas se um negócio vale a pena, por favor, faça-o acontecer!"
O empresário arregalou os olhos, pasmo.
"Rabino, você está dizendo que Hashem intervém toda vez que uma dona
de casa entra em minha loja?"
"É melhor você acreditar!", respondeu o rabino. "Hashem coloca o desejo
em seu coração para comprar exatamente o produto que está à mostra na
vitrine de sua loja. Hashem também pode avaliar um futuro empregado ou
pode dar a você a sabedoria para expandir ou limitar o negócio de maneira
lucrativa. Se você consulta Hashem antes de cada transação, deposita toda
a sua confiança Nele e pede a Sua orientação, você prosperará."
O empresário que reza por uma emuná mais forte aprende a administrar
seus negócios sem estresse nem ansiedade.
Quando deposita sua fé em Hashem, nada pode assustá-lo ou entristecê-
lo.
Basicamente, podemos escolher entre dois caminhos na vida empresarial
(ou em qualquer outra fase da vida): Ou nomeamos Hashem o CEO da
nossa companhia — e aproveitamos uma vida suave e tranquila -, ou
carregamos os problemas sozinhos, com o estresse, as preocupações, os
nervos e os problemas de saúde que eles nos trazem.
O empresário bem-sucedido
Um princípio fundamental da emuná com relação ao esforço para se ganhar
dinheiro é que nosso sustento é determinado em Rosh Hashaná.
Nosso nível de confiança em Hashem é a manifestação prática da emuná
em nossa vida.
A confiança inclui a consciência de que Hashem mantém todas as Suas
criações e que Ele faz o Seu trabalho de forma confiável.
Quando confiamos em Hashem, não nos preocupamos com a próxima
refeição; sabemos que Aquele que alimentou no passado continuará a fazê-
lo no futuro.
Também sabemos que nosso sustento não depende da nossa habilidade ou
esperteza — depende somente de Hashem.
Ninguém pode subtrair da renda que Hashem destina a uma pessoa.
O Talmud afirma enfaticamente (TB, Tratado Yoma 38b) que um ser
humano é incapaz de tocar a porção destinada a outro ser humano.
Sabendo desse fato, nunca precisamos nos preocupar ou temer algo ou
alguém.
A confiança em Hashem — internalizar o princípio fundamental de emuná
segundo o qual o nosso sustento é predeterminado e vem exclusivamente
de Hashem — nos capacita a conduzir os negócios com convicção e lucidez.
Estresse, ansiedade e preocupação ficam de fora.
Quando confiamos em Hashem, vivemos com paz interior, evitando as
armadilhas das loucas jogadas e negócios em busca de dinheiro à custa de
nossa saúde física, emocional e espiritual.
Parece exagero?
Eis o que a busca fútil por dinheiro faz com uma pessoa:
• Danos emocionais — preocupação, raiva, estresse e ansiedade que
também podem resultar em depressão e oscilações bruscas de humor.
• Danos físicos — as dificuldades emocionais acima aumentam as chances
de ataques cardíacos, distúrbios digestivos, derrames e problemas
cardiovasculares, D'us nos livre.
Ademais, elas servem de trampolim para vícios como álcool, tabaco e
outras drogas.
• Danos espirituais — os caçadores de dinheiro se esquecem das leis da
Torá e muitas vezes valem-se de desonestidade, fraude, roubo e outras
transgressões que causam máculas severas na alma.
Com confiança em Hashem, não pensamos em dinheiro o dia todo.
A paz de espírito está apenas a duas palavras de distância — Hashem
provê.
Ter um negócio é um teste contínuo de fé.
Empresários são testados a cada segundo: se eles acreditam que seu
sustento vem de Hashem, ficam tranquilos e conduzem suas obrigações
honestamente.
Se acreditam no contrário — em que sua renda depende de seu próprio
esforço e aptidão — então provavelmente estão trabalhando duro demais e
desperdiçando energia em toda sorte de planos para ganhar mais dinheiro.
Toda a vida de uma pessoa depende da emuná de que Hashem provê para
toda criação.
A emuná cria um cano espiritual limpo pelo qual a abundância corre,
diretamente do céu para a conta bancária ou para a mesa de jantar.
Beber do "cano da emuná" é como beber de um cálice de prata.
Sem emuná, bebe-se do equivalente a um cano de esgoto, em que a renda
é contaminada com emoções negativas, má saúde e danos à alma.
Decida qual opção de vida você prefere, pois, basicamente, há apenas
duas:
Primeira: você pode acreditar que Hashem predetermina a sua renda e que
cada centavo destinado a você irá chegar na hora certa.
Se não vier de uma determinada fonte, virá de outra.
Se não hoje, então amanhã.
Consequentemente, você fica sereno e evita os transtornos causados por
negócios ilegais e desonestos, hipertensão, úlceras e ataques cardíacos.
A história de Yossele
O Baal Shem Tov tinha um discípulo chamado Yossele.
Seu ietser hará o instigava a roubar.
Sem conseguir superar seu desejo, Yossele decidiu tentar roubar à noite,
quando toda a cidade estaria dormindo.
Ele estava de olho na mansão de Lady Sara, a ampla residência de três
andares que ficava no bairro onde todas as solteironas ricas viviam.
Sara era a única filha de um rico comerciante que havia morrido e deixado
para ela toda sua fortuna.
Yossele chegou sorrateiramente à mansão e, para a sua alegria, o guarda
do portão roncava em sono profundo.
Dois cachorros bem alimentados estavam sentados balançando o rabo ao
lado do guarda.
Yossele mal podia acreditar na sorte.
Até a porta de entrada da mansão estava destrancada e não havia nenhum
empregado à vista!
Em silêncio, como se pisasse em ovos, Yossele entrou na mansão.
Ele nunca tinha visto tanta abundância - tapetes persas, lustres de cristal
de Viena, quadros de famosas galerias de Paris e Amsterdã.
Ele foi, na ponta dos pés, da sala de estar ao ateliê de pintura.
Yossele já havia estado ali para receber uma doação do pai de Sara, que
não fez esforço algum para esconder a localização do cofre.
Ele moveu a pintura da cachoeira e ali estava o cofre.
Yossele girou o disco e a porta se abriu.
Diamantes, ouro e pilhas de dinheiro guardados bem na sua frente.
Yossele estava surpreso com o fato de que tudo havia corrido tão bem; o
guarda dormia, os cachorros não latiram, a porta da frente estava aberta,
todos os empregados haviam desaparecido e até o cofre estava
destrancado!
Por mais estranho que parecesse, Yossele sentia que contava com
aprovação Divina!
"Por que Hashem está deixando isso tão fácil para mim?", Yossele se
perguntou. "Estranho. Parece que todas essas riquezas estão esperando por
mim."
Quanto mais ele olhava as riquezas, mais seu coração batia com culpa.
Ele se lembrou de uma passagem talmúdica segundo a qual o sustento de
uma pessoa é predeterminado.
"Se assim for", ele argumentou consigo mesmo, "por que devo tocar em
algo que não me pertence?"
Mas os diamantes e as pilhas de dinheiro pareciam estar lhe chamando -
"Yossele, nos leve daqui..."
O conhecimento de Torá, a consciência e a inclinação para o bem de Yossele
estavam vencendo essa batalha interna.
Uma faísca de emuná acendeu um fogo de fé em seu coração.
"Se todas essas riquezas são realmente minhas, elas virão a mim por meios
honestos. Certamente não há motivos para eu roubar e transgredir os
mandamentos de Hashem."
De repente, à beira de cometer um crime terrível, Yossele passou a sentir
um maravilhoso temor a Hashem.
"Hashem, me salve!", ele gritou e saiu correndo sem levar nada.
No dia seguinte, à tarde, depois de ter derramado um mar de lágrimas e ter
se inundado em remorso implorando pelo perdão de Hashem, Yossele
recebeu um chamado do Baal Shem Tov.
Obedientemente, ele foi ao encontro de seu mestre.
"Sente-se, Yossele", disse cordialmente o Baal Shem Tov. "Como você está
se sentindo?"
"B-bem, b-baruch Hashem", gaguejou Yossele, esperando a pior bronca
possível.
"Yossele, recebi uma mensagem de Lady Sara -você sabe de quem estou
falando?"
Yossele parecia ter engolido uma bola; ele mal podia respirar, muito menos
falar.
Ele tossiu várias vezes enquanto seu rosto mudava de cor, de rosado a
amarelo pálido a branco acinzentado. Ele tinha certeza de que Lady Sara
relatara ao Baal Shem Tov a tentativa de assalto.
E mesmo se ela não tivesse contado, nada escapava à ilimitada visão
espiritual do tsadik.
Yossele queria pular num buraco e ser devorado pela terra.
Ele estava tão envergonhado...
"Yossele", continuou o Baal Shem Tov, "Lady Sara, como órfã e filha única,
me pediu que eu fosse seu protetor e que eu a aconselhasse e a ajudasse a
conduzir seus negócios..."
O Baal Shem Tov parou de falar e seus celestiais olhos azuis pareciam
penetrar as fibras da alma de Yossele.
"... Lady Sara me pediu para encontrar um chatan adequado; ela quer se
casar. Ela quer um marido devoto, que passa todo momento estudando
Torá e servindo a Hashem. Ela não quer um homem de negócios para
administrar sua fortuna, pois isso ela mesma pode fazer. Seu pai a treinou e
ela está adaptada ao mundo empresarial. Ela quer um marido que se isole
do mundo exterior e cujas energias e aspirações sejam canalizadas para a
Torá."
Yossele quase caiu da cadeira; ele esperava ser consumindo por um raio a
qualquer segundo, mas em vez disso...
O Baal Shem Tov sorriu ternamente.
"Sabe, Yossele, quando Lady Sara veio a mim algumas semanas atrás, eu
não consegui pensar em um candidato apropriado. Depois, Hashem me deu
a ideia de que chegou a hora de você se casar e que você e Sara formariam
um belo casal. Quero que você se prepare para o casamento. As festas
estão chegando, então acho que você e Sara devem se casar sem demora."
Qualquer bomba - mesmo uma bomba de chocolate - requer tempo para
ser digerida.
Com a cabeça girando, Yossele saiu da casa do tsadik pelas ruas
ensolaradas do verão ucraniano.
Ele se sentou à beira do rio e contemplou a grandeza da Providência Divina
frente aos mínimos detalhes, pensando sobre a misericórdia e a
benevolência fenomenais de Hashem.
"E se eu não tivesse passado no teste?", ele se perguntou e quase
desmaiou quando considerou as consequências de um possível fracasso.
Se ele tivesse roubado, teria pegado um dinheiro que chegaria a ele de
qualquer maneira por meios permissíveis!
Em vez de ser o noivo de Lady Sara e um devoto estudante de Torá com
todas as necessidades supridas, ele seria um ladrão solitário e comum
vagando pelas ruas.
Yossele enxergava a vida como uma corda bamba - uma linha tênue
separava o bem do mal, a felicidade do desespero, o sucesso magnífico do
fracasso máximo.
Ele agradeceu a Hashem por ter lhe dado forças para resistir à tentação e
passar no teste de fé.
Ele também compreendeu que, mesmo sem "forçar a barra", sorte e
abundância podem ocorrer repentinamente.
Para que o dinheiro — ou qualquer outra coisa — traga bênçãos, ele deve
chegar às pessoas por meios permissíveis.
Quando alguém prematura ou ilegalmente pega algo que não é seu, arrisca-
se a perder o que conseguiu e a perder também o que lhe era destinado.
Muitos não visualizam de maneira tão clara a abundância que lhes é
reservada como aconteceu com Yossele.
E poucos percebem que as necessidades do futuro já estão garantidas.
Nossos esforços para ganhar dinheiro são apenas testes sobre como vamos
ganhar o sustento = de maneira direta e honesta ou por meio de negócios
duvidosos, fraudes, trapaças etc.
Essencialmente, somos todos como Yossele — com emuná e paciência,
receberemos tudo de que precisamos.
Talvez você esteja pensando sobre a boa sorte de Yossele ter se casado
com uma mulher rica.
Saiba que mesmo se Yossele não se casasse com Lady Sara, ele receberia a
fortuna de qualquer modo, por meio de qualquer outra maneira.
Para Hashem não há limites quanto às maneiras pelas quais Ele manda o
sustento das pessoas.
Negociando com fé
De acordo com o Talmud (TB, Tratado Shabat 31a), a primeira pergunta
que o Tribunal Celeste faz a uma pessoa quando ela deixa este mundo é:
"Você negociou com fé?"
Aqueles que incorporam emuná em todas as suas negociações poderão
responder com orgulho, "sim!".
Emuná nos negócios significa que a pessoa é justa, honesta e cumpre a sua
palavra.
Com a emuná de que o sustento vem de Hashem, a pessoa não recorre a
meios criminosos ou imorais de ganhar dinheiro.
Um comerciante com emuná não faz declarações falsas sobre sua
mercadoria, pois sabe que cada produto tem seu comprador, que pagará o
preço certo na hora certa.
Ele não pressiona nem tenta agradar a um possível cliente porque sabe que
o sustento vem de Hashem, e não do consumidor.
Mesmo assim, ele é educado e respeita o cliente, pois esse também é o
desejo de Hashem.
Ele não tenta forçar uma venda, pois sabe que o consumidor pode se
arrepender, reclamar ou devolver a mercadoria, ou pode até mesmo falar
mal do comerciante e de sua loja.
Um comerciante sem emuná — quando força uma compra — se torna um
perdedor a longo prazo.
Nada assusta uma pessoa de negócios que tem emuná.
Ela não se decepciona quando um consumidor potencial vai embora.
Com emuná, sabemos que se o lucro não se materializa com o fechamento
do negócio A, ele se materializará com o negócio B.
As pessoas frequentemente obtém dinheiro de fontes que não têm nada a
ver com o seu campo de atuação; todos já ouvimos histórias como as do
não tão bem-sucedido dentista que fez muito dinheiro na bolsa de valores,
ou da simples dona de casa que transformou uma boa ideia em um
próspero negócio online.
A escolha
Este assunto ainda pode dar margem à confusão; muitos empresários de
sucesso não se importam com emuná.
Muitos deles são extremamente desonestos e, ainda assim, conseguem
"vender gelo a esquimó" e fechar inúmeros negócios graças aos seus
poderes de persuasão.
Onde está a Providência Divina?
Todos sabemos que há pessoas que ganham milhões com transações
criminosas ou corrupção, riem-se por dentro a caminho do banco e estão
tomando sol nas ilhas Bermudas neste exato momento.
O que está acontecendo?
Onde está Hashem?
Nossos sábios têm a resposta: Hashem nos concede livre-arbítrio para
fazermos o bem ou o mal.
Imagine se Hashem mandasse um raio atingir uma pessoa cada vez que ela
mentisse, ou se Ele mandasse um cheque de dez mil reais a uma pessoa
cada vez que ela dissesse a verdade.
Ninguém mais mentiria e todos passariam a dizer apenas a verdade.
Mas isso não é livre escolha — é coerção!
Um sistema de punição e recompensa não faz sentido fora do contexto da
livre escolha.
Por isso, Hashem oculta Sua Providência Divina para poder deixar às
pessoas a livre escolha de fazer o bem ou o mal.
Quando as pessoas escolhem o caminho da emuná, o sustento chega a elas
sem esforço, honestamente, sem que elas precisem quebrar a cabeça ou
bajular os outros.
Mas se elas escolhem o caminho da arrogância e falta de emuná, Hashem
as deixa acreditar que estão controlando seu próprio destino.
Na verdade, elas recebem exatamente o que Hashem planeja.
Muitas vezes, um empresário desonesto é apenas a "vara" nas mãos de
Hashem, roubando ou enganando a pessoa que estava destinada a sofrer
uma perda.
Pessoas com severas dívidas espirituais são usadas por Hashem para
concretizar um mau decreto.
Essas pessoas, porém, também serão punidas.
Jogos de azar
Os jogos de azar são uma doença terrível e viciam mais que álcool, tabaco e
drogas.
Eles literalmente enterram as pessoas, reduzindo-as a uma condição
subumana.
Jogo e emuná não se misturam.
A cobiça por dinheiro é a causa do vício no jogo, que não apenas deixa a
pessoa maluca, como a faz esquecer Hashem, a verdade e a emuná na
Providência Divina, D'us nos livre.
Jogar parece um caminho para o dinheiro fácil; mas o brilho do "caminho
fácil" não é nada mais que uma avenida ilusória em direção a uma vida de
amargura, lares desfeitos, dívidas, agiotas e máximo desespero.
Os jogos de azar fazem a cabeça girar.
O ietser hará tem um modelo padrão para fazer as pessoas caírem em sua
armadilha: ele mostra a uma pessoa alguém que conseguiu a sorte no
cassino; a pessoa pensa que é a próxima na fila para pegar o pote de ouro.
Com a fantasia da riqueza fantástica que alimenta a sua imaginação, o
jogador desperdiça todo seu dinheiro em busca do arco-íris de riquezas.
Um jogador pode vender seu negócio, sua casa e seu carro para continuar
jogando os dados.
Ele se esquece da esposa e dos filhos; se pudesse, ele os venderia também.
Bilhetes de loteria
De acordo com a Lei Judaica, os ganhos da loteria são permitidos porque
não representam a perda de ninguém.
Entretanto, comprar bilhetes de loteria não é 100% compatível com o
espírito da emuná.
Se a pessoa quer comprar um bilhete de loteria, deve comprar apenas um.
Se Hashem quer que a pessoa ganhe o prêmio, Ele dá um jeito de o bilhete
ter o número vencedor.
Quem compra muitos bilhetes de loteria mostra que confia em estatísticas
ou chances aumentadas, e não em Hashem, além de desperdiçar um
dinheiro que seria alocado para necessidades básicas.
Os bilhetes de loteria são, portanto, um teste de fé.
Quem acredita na Providência Divina de Hashem não compra mais que um
único bilhete.
Se ganhar, parabéns!
Se perder, a pessoa sabe que Hashem não queria que ela ganhasse e que o
dinheiro teria sido prejudicial.
Aceitar o resultado de um bilhete perdedor sem se decepcionar dá nota dez
em emuná.
Sem emuná, as pessoas compram vários bilhetes para aumentar as chances
de ganhar.
Quem deposita a fé em probabilidade e sorte não apenas desperdiça
dinheiro, como fracassa no teste da emuná.
Por quê?
A maioria das pessoas não possui os meios espirituais para conviver com
muito mais do que o habitual, o que causa confusão e arrogância.
De repente, o novo marido rico não quer mais a esposa, e vice-versa.
Muita gente alimenta fantasias de glamour e grandeza, como se isso fosse
consequência direta do dinheiro.
Muitos usam o dinheiro de maneira imprudente, esbanjam ou fazem
investimentos insensatos e acabam caindo nas mãos de golpistas, parentes
gananciosos, "novos amigos" ou bandidos de "colarinho branco" como
advogados, contadores ou corretores antiéticos.
Nesses casos, a nova riqueza é uma grande dor de cabeça.
A emuná é o recipiente espiritual adequado para a riqueza.
O rico que tem emuná sabe que o dinheiro pertence a Hashem.
O dinheiro não passa de um depósito temporário em nossas mãos para que
possamos cumprir os mandamentos de Hashem.
Quem sabe disso não fica arrogante.
Se sabemos que Hashem pode nos tomar o dinheiro num instante, então
para que ostentar?
Os ricos nos níveis mais altos de emuná doam 20% de seus ganhos para
a caridade.
Eles são eternamente gratos a Hashem e mostram sua gratidão ajudando
instituições de estudo da Torá e projetos de caridade pelo mundo.
Com emuná, passamos no "teste do dinheiro" com notas altas.
O contrário é verdade quando não se tem emuná.
Os ricos, especialmente os novos ricos, são consumidos pelo medo de
perder dinheiro.
Eles ficam arrogantes e confusos.
Seu sonho de riqueza se torna um pesadelo, pois eles não têm em quem
confiar.
Eles não passam no teste da emuná.
Felicidade ou riqueza
O desejo de fazer dinheiro rápido demonstra falta de emuná.
Aqueles que acreditam em Hashem sabem que sua qualidade de sua vida
não depende do dinheiro, mas sim da importância que atribuem à emuná e
de como conseguem realizar a vontade de Hashem.
Reza, caridade e teshuvá são as únicas soluções para dificuldades
financeiras.
Se Hashem nos dá problemas financeiros, não é o dinheiro que resolverá a
situação.
A única maneira de acabar com os problemas é a teshuvá, já que não há
atribulação sem transgressão.
Enquanto a pessoa se abstém de fazer teshuvá — mesmo com todo o
dinheiro do mundo —, ela sofrerá por causa de suas transgressões
pendentes e não corrigidas.
Mas com teshuvá e um saldo espiritual positivo, pode-se viver uma vida
doce e agradável mesmo sem um centavo no bolso.
O teste principal
Os principais testes de fé estão em casa.
Involuntariamente, a(o) esposa(o) e os filhos testam nossa fé o dia todo.
Eles têm demandas de tempo, dinheiro e atenção.
Às vezes, eles nos frustram e nos humilham, e nunca parecem estar
satisfeitos.
A emuná é o único jeito de passar por esses testes.
Os desafios de um relacionamento conjugal requerem um nível maior de
emuná do que as dificuldades encontradas fora de casa.
Muitas vezes é possível evitar conflitos na rua, mas é difícil se escapar de
situações desafiadoras dentro casa.
Ademais, podemos trocar de amigos e colegas muito mais facilmente do
que trocar de esposa(o), já que um relacionamento conjugal implica muito
mais obrigações.
O verdadeiro ticún, ou retificação da alma, começa apenas quando saímos
de casa.
Os solteiros geralmente vivem sem precisar de muito esforço para adquirir
emuná.
Mas as demandas de se ter esposa(o) e filhos tornam a vida praticamente
intolerável sem emuná.
Por exemplo, os solteiros podem evitar a convivência com quem eles não se
dão bem, pois na maioria dos casos eles não são obrigados a manter
contato.
Se podemos nos afastar de situações difíceis, nossa emuná não é testada.
Onde não há a necessidade de enfrentar uma dificuldade, não há teste
nenhum!
Por outro lado, uma pessoa casada e responsável simplesmente não pode
abandonar sua família.
Esposa(o) e filhos sãos testes diagnósticos de emuná.
Na estrutura do meio familiar, podemos saber se realmente temos emuná
ou não.
Por exemplo: Roberto é solteiro e trabalha como representante de
marketing de uma grande companhia.
Se um de seus colegas de trabalho o insulta ou o incomoda, ele responde e
muda de humor rapidamente; ele está mais que pronto para destilar uma
dose dupla de veneno para qualquer um que pise no seu pé.
Às vezes, porém, Roberto se desvia de um soco verbal para preservar uma
imagem que ele quer criar para seus clientes.
É de seu interesse parecer ser uma pessoa distinta e de caráter impecável,
especialmente se isso o ajuda a fechar um negócio.
Na verdade, Roberto é mal-humorado e egocêntrico.
Se enfrentasse um problema conjugal, ou ele destruiria sua mulher e seus
filhos, ou acabaria se divorciando.
A fim de evitar qualquer um dos dois tristes destinos, ele deve aprender a
ter emuná.
Caso contrário, ele nunca passará nos testes do ambiente familiar.
Uma pessoa casada deve dar, e não apenas receber.
Devemos constantemente prover as necessidades de nossos dependentes,
ouvir seus problemas e dar-lhes tempo, atenção e compreensão.
Para cumprir essas tarefas, temos de ser calmos e serenos — sem emuná,
paz interior e serenidade são coisas totalmente impossíveis.
Uma pessoa não casada pode ter um sorriso artificial e convencer o mundo
de que ela é feliz e satisfeita.
Mas depois do casamento, a verdadeira medida da felicidade se revela,
especialmente quando é preciso abrilhantar o lar com alegria e confiança.
Um marido não pode fazer sua mulher e filhos felizes quando ele próprio é
infeliz.
A verdadeira felicidade é impossível sem emuná, e a vida em família é uma
importante pista de testes de emuná.
Relacionamentos extrafamiliares, especialmente segundo as normas da
sociedade moderna, se baseiam em vantagens mútuas.
"Coce as minhas costas e eu coçarei as suas" é o tipo de pensamento que
indica relacionamentos interesseiros feitos para se conseguir dinheiro, fama,
dignidade, status social, avanço e reconhecimento.
Mas em casa, a pessoa tira a máscara da diplomacia interesseira e age
naturalmente.
Se ela não tem emuná, odiará dar sem receber — uma pessoa assim
certamente terá tensão em casa, para dizer o mínimo.
Se desejamos shalom bait — paz no lar — temos de aprender a ter emuná.
Divórcio
Esta seção é obrigatória para aqueles que desejam a verdadeira paz no lar
assim como para aqueles que estão pensando em divórcio ou estão quase
se divorciando.
Se você já é divorciado, então esta seção o ajudará a planejar e administrar
sua vida de agora em diante.
Um dos líderes mais sábios desta geração disse que o alto número de
divórcios atualmente é resultado de uma geração mimada que não percebe
que o sucesso conjugal requer trabalho duro.
"Também tivemos nossa quota de dificuldades, mal-entendidos e brigas,
mas nunca consideramos a opção de acabar com o casamento", ele disse.
"Nosso objetivo era construir um relacionamento de sucesso; portanto,
estávamos preparados para investir esforços e alcançar nosso objetivo. Se
não tivéssemos a paciência e a perseverança necessárias a um casamento,
não teríamos colhido os frutos de filhos, netos e bisnetos que enchem a
nossa vida de alegria."
Esta seção tem como objetivo corrigir o conceito equivocado segundo o qual
um casamento bom é algo automático.
Casais com problemas olham para casais felizes como se estes
simplesmente tivessem sorte — o que está longe de ser a verdade.
Mesmo um casamento entre duas pessoas justas e de caráter impecável
sofre com tensão e divergências.
Para conviver em paz com alguém, devemos aprender a ceder e a
renunciar.
Muitos terapeutas de casais ensinam que casamento é "dar e receber".
De acordo com os pensamentos chassídico e judaico-esotérico, casamento é
apenas doação.
Visto que o propósito da criação é a emuná - e o Criador quer que cada um
de nós cumpra nosso propósito -, Hashem nos apresenta oportunidades
para desenvolver nossa emuná.
O casamento é a principal pista de testes de emuná.
Portanto, ao aprender os princípios da emuná, as chances de sucesso no
casamento são elevadas.
A falta de emuná é a principal causa de divórcio.
Com emuná, podemos superar a discórdia conjugal por meio de teshuvá e
reza.
Aqueles que não têm treinamento em emuná muitas vezes recorrem ao
divórcio como a solução final para seus problemas.
Geralmente, o divórcio não zera o saldo de problemas de um casal.
O antigo conjunto de problemas (tensão, brigas etc) é simplesmente
substituído por um novo (advogados, audiências desagradáveis, pensão
alimentícia, batalhas por bens e dinheiro e assim por diante).
Frequentemente, os problemas do divórcio são piores do que os antigos
problemas conjugais.
Sem emuná, casais infelizes atribuem seus problemas a uma longa lista, da
casamenteira mentirosa a sogros horríveis e má sorte.
Mas com emuná na Providência Divina de Hashem, a pessoa compreende
que suas próprias transgressões são a causa de seu sofrimento, pois não há
atribulação sem transgressão.
Então, com teshuvá e um treinamento básico em relacionamentos conjugais
segundo a Torá, qualquer um é capaz de ter sucesso no casamento.
Se a pessoa não faz teshuvá nem retifica os erros do passado, o sofrimento
conjugal é perpetuado.
A melhor das terapias para casais não ajudará uma pessoa que não faz
teshuvá.
É como colocar um bom vinho em um copo sujo.
Sem teshuvá, o divórcio não traz alívio.
Ninguém pode escapar de Hashem.
Portanto, divórcio sem teshuvá só toma a vida ainda mais insuportável.
O Rebe Nachman de Breslav certa vez notou que se uma pessoa não está
preparada para sofrer um pouco, ela sofre bastante.
Problemas conjugais são testes de fé.
Um casal deve saber que uma vez juntos sob a chupá, eles são almas
gêmeas com uma retificação em comum.
Por meio de esforços adequados, eles podem chegar à perfeição.
Mas a estrada rumo ao êxtase matrimonial às vezes é esburacada.
Sem emuná, muitos casados querem saltar do trem assim que a viagem
passa a não ser 100% suave — não existe erro maior!
Coração ferido
Os divorciados muitas vezes só acordam depois do fato consumado.
Quando o divórcio se completa, muitos casais sentem uma ferida aberta no
coração.
Eles têm dificuldades de se adaptar à nova situação.
A aflição da saudade e da solidão não lhes dá descanso.
Quando baixa a poeira da batalha do divórcio, os envolvidos ficam mais
tristes sem seus parceiros do que quando ainda eram casados.
A Torá chama o documento de divórcio de guet critót, que quer dizer
"registro de separação".
Essa denominação é bastante adequada, já que, segundo o pensamento
espiritual judaico, as almas de duas pessoas casadas são na verdade as
metades de um todo.
Então, quando duas pessoas se divorciam, suas almas são "separadas" uma
da outra, o que equivale a fazer uma cirurgia cardíaca sem anestesia — é
uma tortura!
E a solidão se estabelece.
Antes do divórcio, as pessoas tendem a imaginar todos os tipos de fantasias
sobre o futuro de rosas e sobre o casamento dos sonhos que as espera.
Quando o divórcio se completa, elas descobrem que seu valor no
"mercado de casamento" é bem mais baixo do que pensavam.
Não existe uma fila de homens esperando mulheres divorciadas,
especialmente as que têm filhos.
Do mesmo modo, as mulheres são cautelosas com homens separados.
O divórcio é um sério estigma que complica a busca por um novo parceiro.
Os divorciados não admitem, mas muitos deles se arrependem e, se
pudessem, voltariam no tempo.
A solução real
Antes de dar o passo irreversível do divórcio, pare e pense: com um
aconselhamento básico e boa vontade, é possível salvar a própria vida e
também a dos filhos.
Pode-se também salvar centenas, senão milhares, de dólares.
Para isso, é preciso engolir um pouco de orgulho e expressar a disposição
de recomeçar.
Os CDs de aconselhamento matrimonial do autor, que já salvaram centenas
de vidas em Israel, estão agora disponíveis mundialmente em inglês.
Essas gravações devem ser ouvidas várias vezes até que os princípios de
um casamento feliz se tornem uma segunda natureza.
Ignorância
A maioria dos divórcios é causada pela ignorância do marido quanto aos
princípios de paz no lar.
Por exemplo, um marido que não apresenta um comportamento extremo —
não bate na mulher nem é criminoso, ganha um salário razoável e é fiel —
ainda pode se dar mal no casamento se está constantemente criticando e
culpando a esposa.
Mesmo com apenas o mínimo de aconselhamento sobre sucesso
matrimonial, o marido aprende que a primeira regra de paz no lar é evitar
criticar a esposa, mesmo quando a situação é perfeitamente justificável.
As mulheres querem se sentir amadas e respeitadas; críticas — mesmo as
mais sutis —tem o resultado oposto.
Até pior, elas fazem com que a mulher fique nervosa e destroem sua
autoconfiança.
Com criticismo e atribuição de culpa, o marido destrói seu casamento e sua
vida com as próprias mãos.
O autor salvou inúmeros casamentos aconselhando maridos sobre esse
exato ponto.
Depois do criticismo, o segundo culpado por casamentos infelizes é a
indisposição e/ou impaciência do marido de ouvir sua esposa.
Sem um parceiro com quem conversar e dividir as cargas pesadas de seu
coração, a esposa fica frustrada e infeliz.
Quando ela vê que o marido animadamente dá atenção a outras pessoas,
ela fica magoada e insultada.
Todas as suas aspirações de casamento eram encontrar uma alma gêmea
que a faria feliz e iluminaria a sua alma.
Com um marido que não a respeita nem a aprecia o suficiente para lhe dar
o mínimo de atenção, ela perde toda a vontade de estar casada.
Os filhos não são um consolo para uma mulher que se sente não-amada,
esquecida e desrespeitada.
Mesmo que ela tenha um grande medo de divórcio, ela o exigirá a todo
custo se visualizar um futuro sem esperança.
As mulheres preferem a solidão ao purgatório de constante critica e
humilhação.
Depois que a bomba estoura, o perplexo e ignorante marido sacode os
ombros com inocência e pergunta: "O que fiz de errado?"
Ele não pode saber que quebrou as regras de shalom bait se nunca as
aprendeu.
Mas a boa notícia é que nunca é tarde para aprender.
Agora é a hora de adicionar emuná à nossa vida.
Este capítulo não pretende cobrir todas as situações-teste que existem.
No entanto, estaremos certamente preparados para encarar todo e qualquer
desafio da vida se aplicarmos os princípios de emuná explicados neste
capítulo.
Os vários testes
Até aqui, definimos alguns dos vários tipos de desafios de emuná.
As lições que aprendemos podem ser aplicadas a todas as áreas da vida.
Por exemplo:
Comprar ou vender uma casa ou um apartamento — mesmo quando a
negociação ocorre sem problemas, não é um processo fácil.
É preciso bastante paciência e emuná, pois vários obstáculos podem surgir
no caminho.
Às vezes a assinatura do contrato é adiada ou completamente cancelada.
Enquanto isso, outra pessoa já pode ter conseguido comprar, vender ou
alugar uma casa ou um apartamento.
Pode ser que o outro lado atrase um pagamento, fazendo com que você
também atrase seu esquema de pagamento.
O número de coisas que pode dar errado é altíssimo.
Devemos acreditar que todas as dificuldades representam exatamente o
que Hashem quer.
Portanto, precisamos evitar ficar nervosos ou deprimidos.
Hashem manda dificuldades como uma indicação de que temos algo a
corrigir, por isso devemos usar nossa energia — reza pessoal e introspecção
- para tentar entender as mensagens de Hashem.
Fortalecer a emuná também nos poupa de cair em batalhas legais
desnecessárias que irão apenas esgotar nosso tempo e dinheiro.
Assim que percebemos que as dificuldades vêm de Hashem e reagimos com
reza e teshuvá, as dificuldades se resolvem.
Os quatro filhos
Há uma maneira de aliviar ou de neutralizar nossos sofrimentos e
problemas neste mundo, como veremos no próximo exemplo:
Um pai pune seu filho.
Se o filho for estúpido, ele guardará rancor e passará a odiar o pai.
Se esse filho tem bom senso, ele entende que foi castigado por uma razão,
mesmo que não tenha gostado da punição.
Quando compreende o que fez de errado, ele admite seu erro, expressa seu
remorso, pede desculpa e promete melhorar.
E mesmo que ele não entenda exatamente o que fez de errado, pede
perdão ao pai e diz: "Desculpe-me por tê-lo aborrecido, pai. Ajude-me a
evitar o mesmo erro no futuro."
Um filho realmente inteligente compreende que seu pai o ama e que a
punição aconteceu para o seu próprio bem.
Então ele aceita sua punição e diz: "Pai, sei que sua intenção era me
despertar para que eu me aproximasse de você. Obrigado por me dar tanta
atenção — isso significa muito para mim. Pai, por favor, me explique o que
fiz de errado e me ajude a melhorar..."
Quando o pai mostra o erro ao filho, este expressa remorso, admite o erro,
pede perdão e decide agir melhor no futuro.
O terceiro filho do nosso exemplo está em um elevado nível de consciência
espiritual.
Ele aprecia seus problemas, pois reconhece ter imperfeições que precisam
de correção.
E ainda há o quarto filho, que ultrapassa os três irmãos.
Ele não espera punição para melhorar.
Todo dia, ele faz uma checagem completa, uma auto avaliação em que
analisa tudo o que fez naquele dia e se pergunta se suas ações foram
mesmo corretas segundo os pedidos e padrões de seu pai.
Ele fala com o pai todo dia: "Pai, graças à maravilhosa educação que você
me deu, tive a felicidade de fazer tal e tal ação. Muito obrigado. Por outro
lado, acho que meu comportamento hoje em outra ocasião não foi do modo
como você esperava. Sinto muito. Vou fazer o melhor para fortalecer
minhas fraquezas."
O pai de um filho assim fica radiante de satisfação e alegria.
"Que ser humano bonito! Que filho sensível, atencioso e humilde! Ele não
espera que eu o castigue — está sempre tentando melhorar. E mesmo se
ele fizesse algo gravemente errado, como eu poderia puni-lo? Ele está
sempre se auto avaliando; está sempre tentando cumprir as minhas
vontades. Então, se um dia ele cometer um erro, eu lhe darei uma dica
sutil. Com sua sensibilidade, ele certamente entenderá."
O pai não vai querer nada mais que realizar os desejos desse filho
maravilhoso.
Ao refletir sobre seus outros três filhos, o pai diz: "Gostaria que meus
outros filhos falassem comigo por iniciativa própria todo dia. Se eles
percebessem como eu os amo, eles pediriam o que quisessem e eu ficaria
feliz em dar. Mesmo o filho que guarda rancor de mim saberia do meu amor
se falasse comigo todo dia."
O filho amoroso
Imagine um filho amoroso que agradece ao pai todo dia por todas as coisas
que recebe.
Imagine que o mesmo filho sempre confessa seus erros sem precisar ser
repreendido.
Se isso não bastasse, o filho está sempre buscando, cada vez mais, o amor
do pai.
Se esse fosse o seu filho, como você poderia puni-lo?
Agora sabemos como ser os queridos filhos e filhas de Hashem.
Tudo o que temos de fazer é dedicar uma hora por dia à reza, sozinhos,
seja em um campo, no escritório ou na cozinha, e falar com Hashem —
nosso querido Pai — com as nossas próprias palavras.
Analisamos tudo que fizemos nas últimas vinte e quatro horas desde a
última sessão de hitbodedut, nossa reza pessoal solitária.
Julgamo-nos em três níveis — pensamento, fala e ação.
Corrigimos nossos erros e decidimos melhorar.
Pedimos a Hashem que nos aproxime Dele.
Esse processo de reza pessoal nos liberta de estresse, preocupação, tristeza
e de todas as outras emoções negativas.
Ainda melhor, quando nos julgamos, Hashem não deixa o Tribunal Celeste
nos julgar, e nos poupamos de muito sofrimento e de julgamentos severos.
Preste atenção
Aquele que dedica uma hora por dia à reza pessoal está em um nível
espiritual ainda mais elevado do que a pessoa que aceita seus problemas
com alegria, pois o primeiro não espera até ser despertado por uma
atribulação; por vontade própria, ele busca servir a Hashem cada vez mais.
Segundo o Talmud (TB, Tratados de Berachót, 7), um ato de autodisciplina
é mais eficaz que cem chicotadas.
Assim sendo, a pessoa autodisciplinada se poupa de inúmeros problemas na
vida.
Caro leitor, pare e pense sobre o maravilhoso presente de Hashem que é a
possibilidade de falarmos com Ele sempre que quisermos, a qualquer hora
do dia ou da noite.
Agora podemos entender o que o Rebe Nachman quis dizer quando afirmou
que hitbodedut é algo mais virtuoso que qualquer outra coisa!
Largue tudo
Se é assim que funciona, então por que não estão todos falando com
Hashem?
Por que há tantos obstáculos para algo tão bonito e natural?
A resposta é que o ietser hará sabe o valor da reza pessoal.
Ele sabe que ela é a expressão máxima de emuná e a realização do nosso
propósito neste mundo!
Ele sabe que a pessoa que faz hitbodedut diariamente alcançará uma
retificação completa da alma e superará os obstáculos e as dificuldades da
vida.
Por esse motivo, o ietser hará faz o máximo para enfraquecer a pessoa e
para desencorajá-la de rezar.
Ele diz: "Você está louco? O que pensa que vai conseguir desperdiçando
uma hora para conversar com as árvores? Ademais, desde quando você tem
uma hora livre?"
O iester hará lhe dá centenas de razões diferentes para você não falar com
Hashem por meio de reza pessoal.
Nossos sábios leitores certamente concluirão que precisamos dar um jeito
de dedicar uma hora por dia para a reza pessoal.
A reza pessoa diária é um recomeço de vida, uma doçura especial.
Como no exemplo anterior dos quatro filhos, a grande satisfação de
Hashem ocorre quando seus queridos filhos se aproximam Dele diariamente
por meio de reza pessoal, auto avaliação e pedidos.
Mesmo que Seus queridos filhos não consigam corrigir tudo, Hashem espera
pacientemente e não os pune.
Um dos itens mais importantes da nossa reza pessoal diária é pedir a
Hashem que nos ajude a fortalecer nossa emuná, como no seguinte
exemplo:
Por favor, Hashem, conceda-me emuná completa.
Ajude-me a acreditar que não há mal no mundo, que tudo está em Suas
mãos e que tudo é para o bem.
Dê-me a emuná de que Você me ama como eu sou e de que Você está
satisfeito comigo.
Dê-me a emuná completa de que não há outro senão Você, ou seja,
qualquer coisa que me aborrece é apenas uma "vara" em Suas mãos que
serve para me fazer procurar uma aproximação.
Dê-me a completa emuná de que não há ninguém que eu possa culpar
pelos meus problemas — esposa, sogros, chefe... .
Meus momentos de desgosto na vida são todos chamados Seus, querido
Pai.
Dê-me a completa emuná de que não preciso me torturar ou me derrubar.
Ajude-me a dirigir minhas energias para a atividade positiva da reza, e me
ajude a acreditar no poder das minhas rezas.
Querido Pai, me ajude a sentir que Você está comigo. — não há melhor
presente ou sentimento.
Ajude-me a abandonar maus hábitos e a fazer a Sua vontade.
Dê-me a vontade de rezar e me ajude a compreender que todas as minhas
carências materiais e espirituais são apenas o resultado de reza insuficiente.
Dê-me a emuná de que tudo está em Suas mãos, Hashem.
Deixe que meus esforços principais sejam canalizados para a reza, e me
deixe depender de Tua magnifica benevolência e não de minhas habilidades
limitadas.
Que as orações fluam de meu coração...
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 5
Prazer em conhecê-lo!
Vamos esclarecer esse conceito com uma história:
O Rabino de Tulchin um dia reclamou ao seu professor e guia espiritual, o
Rebe Natan de Breslav: "Sinto muito não ter tido o privilégio de conhecer o
Rebe Nachman de Breslav pessoalmente."
O Rebe Natan respondeu austeramente: "E quem tem a audácia de pensar
que 'conhece' o seu Rebe? Yossef Frunick?"
Yossef Frunick era um homem simples que conduzia uma balsa.
Durante todo o dia, ele levava as pessoas de um lado ao outro do rio.
O Rebe Nachman de Breslav usava frequentemente os serviços de Yossef
Frunick.
Yossef se orgulhava: "Eu costumava passar bastante tempo com o Rebe
Nachman — eu o conhecia muito bem!"
O Rebe Natan quis enfatizar que conhecer alguém superficialmente não
significa nada.
Yossef Frunick conhecia a aparência física do Rebe, mas não fazia a menor
ideia de sua enorme importância espiritual.
Para começarmos a conhecer o Rebe Nachman, explicou o Rebe Natan,
devemos conhecer e praticar seus ensinamentos.
Portanto, um discípulo de uma geração posterior pode conhecer um tsadik
melhor do que um contemporâneo que o tenha visto em carne e osso.
Yossef Frunick não apenas viu o Rebe Nachman, como também o tocou
várias vezes enquanto o ajudava a subir e a descer da balsa.
A proximidade física, porém, não tem nada a ver com consciência espiritual.
De fato, o simples balseiro estava extremamente distante do tsadik.
Ele não tinha noção da elevação espiritual, da sabedoria, dos ensinamentos,
das capacidades e da amplitude da santa alma do Rebe Nachman.
Ele apenas o ajudava a atravessar o rio.
O mesmo princípio se aplica ao conhecimento de Hashem.
A alma nos mundos superiores tem prazer na luz de Hashem mesmo sem
saber nada sobre Ele.
Ela lembra o balseiro que se gabava de conhecer o Rebe Nachman embora,
na verdade, ele não conhecesse nada mais que a cor de sua barba.
O próprio Rebe Nachman define "proximidade" como consciência espiritual
(veja Licutei Moharan 1:21): "Por meio da consciência espiritual —
conhecimento de Hashem - podemos alcançar uma união com Hashem."
Portanto, quando buscamos uma conexão com Hashem no mundo físico,
podemos chegar a conhecê-Lo melhor do que por meio de uma mera
aproximação no mundo espiritual.
Pode não ser aparente, mas a presença de Hashem está em todo lugar.
A vantagem do mundo material é que ele possibilita um ganho espiritual, ao
passo que o mundo espiritual não nos permite isso.
Essa é uma contradição aparente, mas um princípio primordial de
espiritualidade.
No mundo material, precisamos da constante assistência de Hashem,
especialmente para superar os testes e problemas deste mundo.
Este é o ambiente em que nossa alma pode realmente dizer a Hashem:
"Prazer em conhecê-Lo!"
Ocultação
Quando a alma desce a este mundo, ela cai em um abismo de escuridão
espiritual, onde a luz Divina está encoberta em camadas de ocultação.
Uma pessoa racional pergunta: "Como a alma pode encontrar e se
aproximar de Hashem em um ambiente onde tudo parece esconder ou
negar Sua própria existência?"
Vemos com nossos próprios olhos que algumas pessoas conseguem
"atravessar" as camadas de escuridão e revelar a esplêndida luz de
Hashem.
Procuraremos uma resposta analisando as várias camadas de ocultação:
Descoberta
A constante luta da vida neste mundo material é exatamente o que faz uma
pessoa procurar Hashem.
Assim que percebemos a futilidade da nossa luta contra todas as forças do
mundo, ficamos mais modestos.
A modéstia é um importante pré-requisito para se ter emuná - já que o
modesto sabe que não pode navegar os mares bravios deste mundo sem a
ajuda de Hashem.
Portanto, nos voltamos a Hashem e cultivamos um forte desejo de sentir
Sua influência reconfortante em nossa vida.
Modéstia, emuná e desejo formam basicamente uma única entidade.
O reconhecimento de nossas limitações leva à modéstia, que por sua vez
leva à emuná.
E a emuná invoca um forte desejo de buscar Hashem.
Quando nossa emuná se desenvolve e chega ao ponto em que efetivamente
procuramos Hashem, a vida fica doce e gratificante, apesar dos problemas.
Para que esperar tempos difíceis?
Quanto mais procuramos Hashem, melhor a nossa qualidade de vida.
Devemos nos voltar a Hashem regularmente, mesmo se não sofremos
nenhuma dificuldade extrema.
Segundo os sábios talmúdicos, devemos agradecer a Hashem
constantemente pelo passado e rogar pelo futuro (TB, Tratados de
Berachót, 54a).
Se falamos regularmente com Hashem, - agradecendo o passado e pedindo
pelo futuro, mesmo quando as coisas estão dando certo —, podemos sentir
a Providência Divina de Hashem e Sua compaixão magnífica a cada
momento.
Vamos supor que você seja 100% saudável, rico e bem-sucedido e que as
pessoas o admirem.
Você faz o que quiser na hora que quiser.
Parece uma bênção?
Pois não é — ao contrário, é uma maldição.
Muitos famosos, ricos e bem-sucedidos sucumbiram ao desespero, vazio,
abuso de drogas e até mesmo suicídio porque não procuraram Hashem.
A existência mais solitária é uma vida sem Hashem, D'us nos livre.
Então, quando Hashem nos manda problemas como lembretes para que O
procuremos, Ele está nos fazendo um grande favor.
Mas se somos espertos o suficiente para buscar Hashem quando nossa vida
está progredindo de modo positivo, Ele não precisa recorrer a testes e
problemas para nos despertar do sono espiritual.
Assim que compreendemos o propósito da vida e percebemos que a corrida
por recompensas materiais não leva a nada, podemos canalizar nossos
desejos e energias para satisfazer as necessidades da alma e procurar uma
proximidade com Hashem.
Com olhos espirituais que fitam o objetivo máximo da vida, problemas
aparentes neste mundo subitamente se tornam valiosas oportunidades de
crescimento espiritual.
Quando descobrimos que nosso propósito é conhecer Hashem, a vida fica
doce, gratificante e significativa.
Atribuir tudo a Hashem aplana as estradas esburacadas da vida —
agradecemos a Hashem os sucessos e não nos desesperamos com os
fracassos.
Aproveitamos os testes da vida para fortalecer nossa relação com Hashem.
De repente descobrimos que cada estímulo em nosso meio é uma pequena
mensagem que nos chama para mais perto Dele.
Nada é mais doce que receber uma mensagem pessoal do nosso Pai
glorioso e compassivo.
Ficamos mais atentos ao nosso redor quando desenvolvemos a consciência
de que nosso meio consiste numa maneira de Hashem falar conosco.
Uma pessoa receptiva às mensagens de Hashem sempre reage ao que Ele
está "transmitindo".
Por exemplo, ela entende certo evento como uma mensagem para corrigir
uma falha, ou outro acontecimento como uma chamada para fazer teshuvá.
A vida se torna uma história harmoniosa de constante ganho espiritual.
Situações difíceis demandam reforços de emuná.
Quando lembramos que testes e atribulações são criados para nos
aproximar de Hashem, e não para nos afastar, lidamos com eles com muito
mais facilidade e sucesso.
Hashem criou o mundo para revelar sua ilimitada compaixão.
Ao nos aproximarmos dEle, entendemos melhor Sua vasta bondade.
Então quando lembramos que nossas lutas e sofrimentos existem para nos
aproximar de Hashem, evitamos cair na armadilha da raiva, da ansiedade e
do desespero.
Ao contrário, corremos mais rápido em direção a Hashem.
Devagar e sempre
"Se Hashem quer que eu me aproxime, por que Ele não se revela para
mim?"
Imagine que uma companhia elétrica, querendo economizar dinheiro,
desligue os transformadores e estações transmissoras de sinais e ligasse
um cabo direto do gerador principal até a sua casa.
Quando você ligasse o interruptor da lâmpada de 100 watts da sala, 50.000
watts de energia passariam pelo cabo.
A lâmpada explodiria em menos de um segundo.
Os cabos dentro das paredes também explodiriam e a casa inteira poderia
pegar fogo.
Por isso, a eletricidade não pode chegar à sua casa sem uma série de
transformadores, disjuntores e estações que reduzem a energia principal da
eletricidade gerada a uma medida que você pode usar com segurança.
Do mesmo modo, a luz Divina de Hashem é infinita e ilimitada.
Para o nosso próprio bem, Hashem não nos transmite uma iluminação mais
forte que aguentamos, senão a nossa "lâmpada" queimaria — morreríamos,
ficaríamos loucos ou perderíamos a fé de vez, D'us nos livre.
Portanto, Hashem — como um bom treinador — nos dá oportunidades para
fortalecer nosso eu espiritual, para que nos tornemos recipientes fortes o
suficiente para receber uma porção maior de luz Divina.
Toda vez que uma pessoa passa por um teste de fé, supera um obstáculo
para fazer uma mitsvá ou luta contra tentação e desejos do corpo, ela
fortalece sua alma e se torna um recipiente adequado para mais luz Divina.
Quanto mais forte a iluminação, mais perto se chega de Hashem, e vice-
versa.
À medida que nos aproximamos de Hashem, a vida fica muito mais doce.
O Talmud conta a história (Tratado Chagiga, 14b) de quatro sábios que
entraram no "pomar de frutas cítricas", uma alusão aos mundos espirituais
superiores.
Um morreu, um ficou louco e outro perdeu toda a fé.
Somente o Rabi Akiva entrou e saiu em paz. Os três primeiros não haviam
se tornado um recipiente espiritual adequado para tamanha exposição da
luz Divina.
O Rabi Akiva, por outro lado, havia fortalecido seu eu espiritual de tal
maneira que a iluminação não o prejudicou - ela lhe era gratificante, já que
ele era um recipiente apropriado para aquele nível de luz Divina.
O Rabi Akiva era filho de convertidos pobres.
Ele fez um tremendo esforço para se refinar, passando de camponês
comum a grande sábio da Torá com milhares de discípulos.
O Rabi Akiva não tinha sangue azul, nem um pai que fosse um grande
rabino.
Espiritualmente, ele foi um homem que se fez sozinho.
Aos quarenta anos, ele começou o longo caminho de Torá e teshuvá,
obstruído por dificuldades indescritíveis, pobreza e capacidade natural de
aprendizagem limitada.
Conta o Talmud que ele derramou rios de lágrimas implorando a Hashem
que o ajudasse a estudar Torá.
Ele era tão pobre que dormia num celeiro.
Mas as desvantagens de sua vida aumentaram seu desejo de se aproximar
de Hashem.
Durante anos de esforço, privação e sofrimento nas mãos dos romanos,
além de ter sido rejeitado pelo próprio sogro, o Rabi Akiva continuou,
devagar e sempre, com seus esforços obstinados e implacáveis para
aprender Torá e refinar sua alma.
Assim, ele se tornou um extraordinário recipiente de espiritualidade que
ultrapassava seus contemporâneos.
Os três "colegas" do Rabi Akiva tinham uma vida mais fácil.
Cada um deles vinha de uma família de alto padrão social e todos eram
grandes estudiosos de Torá.
Mas a eles faltava a profundidade da força espiritual do Rabi Akiva.
Eles acabaram sendo, portanto, prejudicados pelo excesso de luz Divina.
Quando compreendemos que dificuldades são veículos que fortalecem a
alma e nos aproximam de Hashem, temos força para lidar com qualquer
situação.
Que motivação seria maior do que saber que Hashem quer nos levar para
mais perto dEle?
Quando olhamos a vida com olhos de emuná, ficamos instantaneamente
mais fortes e felizes.
Não tenha inveja de quem tem a vida fácil — isso não é um prêmio.
Qualquer atleta sabe que sem esforço não há vitória.
Pessoas que nunca foram testadas têm pouca capacidade de entender a fé
e de se aproximar de Hashem.
Agora que compreendemos os benefícios das dificuldades da vida, podemos
entender por que Hashem mandou nossa alma a este baixo mundo
material.
O seu caminho
As dificuldades da vida têm também outro propósito importante — elas nos
ajudam pelo caminho da nossa missão individual na Terra.
Se não entendemos a mensagem subjacente às situações difíceis que
encontramos, tudo o que temos de fazer é pedir a Hashem que nos guie e
nos ajude a entender.
Quando rezamos constantemente, temos a garantia de que vamos
encontrar nosso caminho no mundo.
Procurando a luz
Toda vez que usamos o poder da reza para superar uma situação difícil,
aumentamos nossa consciência da magnitude de Hashem.
Estresse e ansiedade resultam de falta de consciência espiritual, o que é
equivalente à escuridão.
Reconhecer Hashem é a luz que ilumina a escuridão.
Portanto, o desespero se torna esperança quando "procuramos a luz", ou
seja, quando buscamos a mensagem Divina nos problemas e percebemos
que Hashem os usa para motivar nosso crescimento pessoal e espiritual.
Os acontecimentos opressivos (overwhelming) da vida se tornam desafios
que estamos prontos a enfrentar quando buscamos a luz na escuridão.
Alegria de viver
Vida é alegria e felicidade.
Apenas uma pessoa feliz pode dizer que está realmente "viva".
"Vida" e "felicidade" são sinônimos - a palavra vida alude a um estado de
alegria (assim como a palavra morte alude a um estado de abandono).
Muita gente tem o coração batendo e os pulmões funcionando, mas não
tem alegria de viver porque não tem emuná.
Segundo o Rebe Nachman de Breslav, a vida sem emuná não vale a pena;
todas as dificuldades, por menores que sejam, fazem quem não tem fé se
afundar em tristeza, depressão e desespero.
O Rebe Nachman explica que quem não tem fé é incapaz e de entender ou
de lidar com situações que não estejam de acordo com seus planos ou
desejos.
Pessoas assim se sentem desamparadas, nas mãos do "destino" ou da
"natureza" que os tortura sem motivo.
Por outro lado, quem tem emuná raramente perde a serenidade porque
sabe que os períodos difíceis da vida ao final existem para o bem.
A vida passa a ser alegre e doce, neste mundo e no próximo.
Agnósticos e ateus não têm vida neste mundo nem no próximo.
Se analisamos melhor, vemos que por trás do sorriso artificial, eles são
ansiosos, preocupados e estressados.
Sua vida é repleta de dificuldades inexplicáveis, lutas diárias por
sobrevivência e uma busca interminável por confortos materiais que quase
sempre os ilude (frustra, elude).
A pessoa de fé, por outro lado, sabe o que está fazendo no mundo e
entende que os desafios da vida são marcos de crescimento pessoal e
espiritual que existem para que alcancemos um objetivo claramente
definido.
É preciso emuná para se experimentar a alegria da vida.
Saber que tudo é um presente eterno do nosso querido Pai nos dá a alegria
de viver que ativa nossa força interior.
Com emuná, conseguimos colocar as dificuldades em perspectiva,
especialmente quando contemplamos o objetivo máximo do êxtase eterno
na próxima vida.
Nível espiritual
O Talmud (Tratado Pessachim, 50a) conta sobre o Rav. Yosef, filho do
Rabino Yehoshua ben Levi, que ficou tão doente a ponto de ter a "morte
clínica" declarada.
Pela graça de Hashem, o Rav. Yosef se recuperou depois que sua alma
havia estado no limiar do mundo vindouro.
Seu pai lhe perguntou: "O que você viu no mundo espiritual?"
O Rav. Yosef respondeu: "Vi um mundo de cabeça para baixo; o alto era
baixo e o baixo era alto."
Analisemos esse pensamento simples, mas profundo.
Muita gente neste mundo goza de riqueza e prestígio, sendo considerada da
"alta sociedade".
Mas no mundo espiritual, essa gente está no patamar mais baixo.
O contrário também vale; certas pessoas neste mundo são humilhadas,
ridicularizadas ou perseguidas.
Porém, no outro mundo elas passam a uma posição mais elevada.
Nosso nível espiritual é determinado pelo grau de desenvolvimento da
nossa emuná e pelo sucesso nos vários testes de fé realizados durante
nosso período no mundo material.
A emuná é a fundação da vida.
Disse o profeta (Habacuque 2:4): "E o justo viverá pela emuná."
Com emuná, temos garantida uma vida boa, gratificante e significativa
neste mundo e no próximo.
O nível espiritual aumenta proporcionalmente à emuná.
Grandeza e insignificância
Diz o profeta (Samuel 1, 16:7): "A pessoa vê os olhos e Hashem vê o
coração."
Em outras palavras, não temos as ferramentas certas para julgar a
verdadeira posição de outra pessoa.
Temos a tendência de avaliar a importância dos outros de acordo com
dinheiro, sabedoria, beleza ou origem social.
Esses padrões de medida são imprecisos e enganosos.
Eles muitas vezes mostram uma grande pessoa como se fosse
insignificante, e vice-versa.
Um iletrado pode ser mais nobre que um professor, especialmente se
aquele sabe reconhecer sua missão no mundo e este não sabe.
Quem tem um grande conhecimento sobre Hashem ultrapassa a pessoa que
não faz ideia de quem criou o mundo e para qual propósito, mesmo que o
primeiro seja limpador de rua e o último um físico nuclear.
Isaías, o profeta, (Isaías 1:3), quando pune Israel por renunciar à emuná,
ensina que a pessoa que não tem consciência de Hashem está em um nível
espiritual mais baixo que o de um boi: "O boi conhece seu criador e o burro
conhece seu Mestre. Israel não conhecia porque não observou."
Ou seja, o boi e o burro estão cientes de que Hashem os mantém, ao passo
que aquele que cegamente busca uma vida de prazeres físicos nunca
encontra Hashem.
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 6
Parte 1: Tristeza
A tristeza é um sentimento que resulta diretamente da falta de emuná.
De acordo com um importante princípio de emuná, Hashem concede
Providência Divina a cada criação.
Ele dá ao ser humano — Sua criação mais sofisticada — as condições
específicas que cada um precisa para desenvolver a fé e conhecer Hashem.
Essas características são personalizadas para cada um de nós.
Geralmente, os problemas são agentes criados para estimular nosso
crescimento espiritual.
Algumas pessoas sofrem de doenças físicas; outras têm problemas
financeiros.
Alguns se decepcionam com os filhos; outros têm problemas conjugais.
Essas atribulações nos motivam a procurar Hashem.
Sem elas, pode ser que nunca levantaríamos a voz para rezar.
Com emuná, nunca caímos em tristeza ou desespero, pois ela nos ensina
que Hashem faz tudo para o nosso bem.
Aprendemos que nossas dificuldades na vida existem para o nosso bem,
para nos aproximar de Hashem.
Sem emuná, porém, a vida nos apresenta vários motivos para tristeza e
depressão.
Como o estado de carência e imperfeição é inerente à Criação, a vida nunca
é exatamente como queríamos que fosse.
Sem emuná, ficaríamos tristes e decepcionados várias vezes ao dia, sempre
que as coisas não dessem certo.
Um soldado numa tropa de elite ou um atleta campeão encaram a dureza
de seus treinamentos como uma oportunidade de crescimento para alcançar
a excelência.
Um integrante do time olímpico de boxe não chora se leva um soco no
treino.
Ao contrário, ele usa sua dor como uma oportunidade de aprendizado para
melhorar seu desempenho.
Do mesmo modo, quem tem emuná não se entristece com as dificuldades
da vida, mas faz com elas sejam trampolins para o crescimento espiritual.
Quando as pessoas sem emuná não conseguem o que querem, começam a
se culpar ou a quem estiver por perto.
E ficam tristes.
Mesmo que tenham uma crença geral em Hashem, elas O acusam de
torturá-las e persegui-las sem motivo.
Com a consciência espiritual de que as dificuldades da vida são a maneira
de Hashem nos aproximar Dele, nunca afundamos em tristeza ou em
desespero.
Aproveitamos a situação "ruim" para reza e teshuvá, superando as
dificuldades e chegando, ao final, mais perto de Hashem.
Testes e problemas são os recipientes espirituais ideais para uma
aproximação com Hashem.
Eles são como o fogo; quando controlado adequadamente, o fogo é uma
excelente fonte de energia para cozinhar, aquecer e curar.
Do mesmo modo, testes e atribulações dão a energia espiritual que pode
nos impulsionar para mais perto de Hashem.
Não há comparação entre uma pessoa que conseguiu força espiritual e
emocional e se aproximou de Hashem por meio de testes e atribulações e
uma pessoa acostumada a uma vida fácil.
Enquanto a primeira possui uma forte defesa espiritual e emocional e pode
lidar com as mais difíceis situações, a última fica estressada e ansiosa em
vista da menor dificuldade.
É por isso que as companhias de remédios estão fazendo bilhões de dólares
com uma geração estragada que não tem emuná.
Falhas e desejos
Levemos nosso raciocínio um passo adiante: às vezes, a pessoa sofre com
um mau hábito ou um desejo que é um obstáculo direto para servir
Hashem.
Nesse caso, a pessoa aparentemente tem o "direito" de estar triste.
Ela se pergunta: "Como posso ser feliz se tenho esse desejo por certas
coisas que vão contra a vontade de Hashem?"
Alguns sentem vontade de fumar no Shabat; outros desejam um
cheeseburger.
Pessoas assim se sentem tristes e culpadas por não conseguir superar seus
desejos.
A boa notícia é: Hashem criou a vontade de cheeseburger, cigarros no
Shabat ou qualquer outra coisa que o corpo deseje.
A emuná nos ensina que apetites físicos — como tudo na vida — vêm de
Hashem.
Ele coloca um desejo específico em uma pessoa para direcioná-la na
retificação necessária de sua alma.
Por exemplo, se em uma vida passada a pessoa não cumpriu o
mandamento de não cozinhar ou comer carne com leite, nesta encarnação
ela pode ter um grande desejo de comer cheeseburger.
Por quê?
Superar a vontade de comer cheeseburger — ou qualquer outra combinação
de carne com leite — é a missão de sua alma na Terra.
Com emuná, ela fica feliz pela oportunidade de se retificar!
Hashem nos dá nossos defeitos, desejos e maus hábitos para o nosso bem,
para facilitar a retificação de nossa alma.
Esse é um grande motivo para comemoração, e não para tristeza!
Se permanecemos serenos, rezamos e fazemos auto avaliações constantes,
descobrimos que nossos aparentes defeitos não são realmente falhas, mas
agentes pelos quais podemos realizar crescimento e retificação espiritual.
Sem emuná, as dificuldades da vida e as falhas pessoais são motivos de
confusão e desespero.
Não conseguimos nada quando estamos tristes, especialmente a retificação
da alma.
Somente a emuná pode nos salvar de tristeza e desespero.
A desvantagem é na verdade uma vantagem
Quando contemplamos a Torá e as gloriosas histórias do povo judeu, vemos
como os líderes de nossa história sofreram com desvantagens
intransponíveis.
Moisés era gago e foi criado na casa de um não judeu — o Faraó, rei do
Egito.
Ele não recebeu uma educação judaica formal, mas se tornou o mais
sagrado dos profetas de todos os tempos, além de ser o mensageiro de
Hashem que conduziu o povo judeu na fuga do Egito.
Sansão ficou cego, mas se tornou um dos homens mais poderosos da
história, aterrorizando o coração dos inimigos, mesmo após a morte!
David foi exilado e perseguido; seu próprio pai e seus próprios irmãos
pensavam que ele era um filho ilegítimo.
Mas, apesar da baixa estatura, ele venceu o gigante Golias.
Além disso, foi escolhido para substituir Saul — um homem de qualidades
perfeitas — como Rei de Israel e escolhido de Hashem.
Uma mulher fraca e insignificante — Yael, esposa de Heber, o queneu —
salvou Israel das mãos do poderoso Sisera.
O Magid de Mezeritch tinha um problema no pé esquerdo, mas se tornou o
tsadik da sua geração e o sucessor do santo Baal Shem Tov.
Abaye — o sábio talmúdico cujo nome está escrito em quase todas as
páginas do Talmud — era órfão.
Seu pai morreu antes de ele nascer e sua mãe morreu no parto.
Essas dificuldades tão duras não o impediram de se tornar um dos
principais sábios de Israel de todos os tempos.
A continuação dessa lista é longa e exaustiva.
Poucos são os nascidos em "berço de ouro" na história judaica.
Os exemplos anteriores nos ensinam que desvantagens pessoais não
impedem o nível de conquista de uma pessoa.
Ao contrário, aqueles que passam por dificuldades desenvolvem uma
capacidade mais forte de perceber o seu potencial.
Esse conceito fica claro quando observamos um levantador de peso — seus
músculos são o resultado de uma exposição extrema a estresse e esforço.
No plano espiritual, pessoas com desvantagens são humildes.
Elas têm de rogar a Hashem por assistência para superar suas falhas.
Ao incluir Hashem em sua vida, elas têm um progresso muito maior do que
as pessoas que, mesmo sem falhas, não O incluem.
Portanto, a desvantagem é na verdade uma vantagem porque serve de
agente para nos aproximar de Hashem.
Pensamento positivo
A primeira escolha de uma pessoa pressionada é se ela vai se entregar a
pensamentos negativos e acreditar neles, ou se vai se fortalecer com
emuná e substituir a tristeza por otimismo e felicidade, confiando em
Hashem.
Neste último caso, os problemas sempre se revertem para melhor.
Pensamento positivo significa pensamento de emuná - Hashem pode nos
resgatar de qualquer situação.
Com emuná, não há desespero.
Hashem pode reverter qualquer problema.
Quem tem emuná está ciente de que tempos difíceis são oportunidades de
crescimento que nos permitem fortalecer nossa relação com Hashem.
Tomemos como exemplo uma pessoa que esteja há muito tempo buscando
sua alma gêmea.
Não é um teste fácil: o ietser hará se aproveita de oportunidades como essa
para instilar desespero e depressão no coração da pessoa e destruir sua
emuná.
Mas, com emuná, a pessoa se volta a Hashem por meio de reza, assim:
"Hashem, por favor, me perdoe por qualquer transgressão que eu tenha
cometido e que esteja dificultando a busca pela minha alma gêmea. Por
favor, me ajude a corrigir o que precisa ser corrigido. Você mesmo sabe que
não se pode retificar a alma sem se estar casado. Por isso, por favor me
ajude a encontrar a minha cara-metade na vida."
Pensamentos positivos vêm do ietser hatov, a inclinação para o bem (ou
para o sagrado).
Pensamentos e emoções negativas são frutos do ietser hará, o obscuro lado
do mal.
Mágoas ou emuná
O Rebe Nachman de Breslav descreve a tristeza como a reclamação de
quem está com raiva de Hashem porque não conseguiu o que queria.
A raiva expressa falta de emuná, quando não reconhecemos que a
Providência Divina de Hashem existe para o nosso bem.
Quem tem emuná não reclama nem guarda rancor contra Hashem e sabe
que tudo o que Ele faz é para o seu beneficio.
Quando alguém se esquece de Hashem, passa a ter medo de forças
naturais percebidas como obstáculos.
Quanto mais a pessoa se esquece de Hashem, mais ela teme essas forças e
se entrega à raiva, ansiedade e impaciência.
Até pior, quando as pessoas atribuem seus problemas a si mesmas, ficam
deprimidas e desesperadas.
Quando não aceitam o que lhes cabe na vida com alegria — ou seja, quando
não têm emuná -, significa que estão magoadas com Hashem.
Autoperseguição
A autoperseguição é uma das principais causas de tristeza e depressão.
Trata-se de outra manifestação de uma emuná incompleta, que faz a
pessoa se culpar por suas falhas.
Podemos nos perguntar: "Como posso ser feliz quando fracasso?"
A resposta é simples: com emuná, encaramos uma dificuldade dizendo que
isso é o que Hashem quer e que tudo é para o bem!
Vamos analisar um exemplo: Uma mulher está casada há oito anos, mas
ainda não foi abençoada com filhos.
Sem emuná, ela começa a se perseguir de todos os modos, como: "Não sou
normal, não mereço filhos. Hashem não quer nada comigo. Nasci com má
sorte..."
Esses pensamentos são decorrentes de falta de emuná, pois ela pensa que
ter filhos é algo que depende só dela quando, na verdade, ela tem pouco
poder de decisão no caso.
Filhos, como tudo na vida, vêm de Hashem.
Então o que a mulher sem filhos deve fazer?
O melhor conselho é rezar a Hashem, assim: "Hashem, Você pode me
ajudar. Mostre-me por que não tenho filhos e o que falta em mim. Se me
falta emuná, me dê emuná! Se não rezei o suficiente, me ajude a rezar
mais! Ensine-me a pedir o que preciso. Sei que tudo que Você faz é para o
bem e que Você quer nossas orações assim como quis as orações dos
nossos patriarcas. Acredito que um dia Você me fará mãe também."
Eis uma regra importante: A maioria das pessoas está triste e deprimida
porque se sente fracassada e sem esperança.
Isso é o resultado de pensamentos negativos e autoperseguição.
Autoperseguição decorre de falta de emuná.
A emuná diz: "Hashem pode me ajudar neste minuto. E mesmo que Ele
decida não me ajudar, sei que é para o meu bem."
Emuná e tristeza se excluem mutuamente.
A fim de quebrar o ciclo de tristeza, a pessoa deve parar de se perseguir a
si mesma.
Para acabar com a autoperseguição, é preciso emuná.
Para conseguir emuná, é preciso conversar com Hashem por meio de reza
pessoal e pedir-Lhe emuná.
Assim sendo, falar com Hashem em oração pode literalmente levantar a
pessoa das profundezas da tristeza e depressão.
A autoperseguição começa assim que a pessoa diz "eu fracassei".
Essa é a maneira errada de pensar.
O correto a se dizer é "Hashem não quer que eu prospere agora e com
certeza isso é para o bem. Ele quer eu aprenda algo ou que eu reforce
minha emuná. Farei isso e pedirei para Ele me ajudar!".
Se nos concentramos em Hashem e não em nós mesmos, quebramos o
ciclo de autoperseguição.
A consciência de que todo acontecimento na vida vem de Hashem e existe
para o nosso bem é a base da emuná e a chave do bom-humor, aconteça o
que acontecer.
Poder de crescimento
Basicamente, emuná é poder de crescimento.
É a força que nos ajuda a alcançar ganhos pessoais mais do que qualquer
outra força no mundo.
A emuná nos dá vontade de viver e o poder não apenas de aguentar
tempos difíceis, mas de melhorar com eles.
A emuná é como as raízes profundas que fazem a árvore aguentar ventos
fortes, tempestades e períodos de seca.
O poder da emuná é enorme.
Quem tem emuná não teme nada, mantém a serenidade em situações de
estresse e encara desafios com um sorriso.
Com emuná, confiamos que Hashem escuta cada reza e nunca nos
abandona.
Saber que podemos sempre nos voltar a Hashem, em qualquer
circunstância, nos faz sempre feliz.
Parte 2: Raiva
A raiva destrói vidas.
Ela pode variar de uma brasa no coração a uma expressão externa de fúria
e violência.
A raiva pode ser infundada, baseada em um motivo imaginário, ou
aparentemente justificada.
Como nossos sábios condenam a raiva do tipo aparentemente justificado,
todas as suas outras formas devem ser evitadas.
Todos desejam se libertar das algemas da raiva, mas poucos realmente
conseguem.
O segredo para eliminar esse sentimento de nossa vida é a emuná.
Consciência espiritual
Com emuná, erradicamos a raiva; com consciência espiritual, adquirimos
emuná.
Portanto, para eliminar a raiva de nossa vida, temos de implorar a Hashem
que nos ajude a ter consciência espiritual, que é o reconhecimento de que
Hashem comanda o mundo e faz tudo com um propósito específico.
Nada no mundo é coincidência ou acontece por acaso.
O Rei Salomão disse (Eclesiastes 7:10): "A raiva permanece no coração dos
tolos."
Tolice é ignorância, e ignorância é o oposto de consciência.
Assim, quanto mais a pessoa espiritualmente reconhece Hashem, menos ela
está sujeita à raiva.
As crianças, por exemplo, se chateiam facilmente quando não conseguem o
que querem porque ainda não desenvolveram consciência espiritual.
A maturidade, portanto, é principalmente uma questão de consciência
espiritual, e não uma função da idade cronológica.
A pessoa que tem uma forte emuná e a consciência espiritual altamente
desenvolvida não fica triste mesmo quando sofre um insulto ou passa por
uma humilhação, pois ela sabe que sua atribulação vem de Hashem para
lhe facilitar a retificação da alma.
Um falso deus
A raiva tem mais efeito negativo no corpo e na alma que todas as
transgressões à Torá.
Segundo o Zohar, mesmo que estudemos Torá extensivamente e façamos
boas ações, perdemos todo o mérito se sucumbimos à raiva.
A raiva é como um ácido espiritual que corrói a alma.
O Zohar se refere à raiva como um "falso deus" que espanta o aspecto
sagrado da alma.
Pessoas enfurecidas perdem toda sua conexão com Hashem; sua alma se
"afasta" e forças obscuras do mal tomam o controle preenchendo o vazio
deixado pela "saída" da alma.
É preciso trabalhar duro para se conseguir escapar desse abismo espiritual.
A teshuvá só é eficaz quando acompanhada pelo aprendizado da emuná e
pela superação da raiva.
Devemos erradicar a raiva para ganhar novamente a aspecto sagrado da
alma.
A lista é longa.
Há um elemento essencial que desvenda todos esses enigmas — a raiva.
A vida pode dar uma virada súbita para pior se ficamos com raiva e
perdemos o aspecto sagrado da alma.
A mulher não quer mais viver com o marido cujas ações sejam governadas
pelo seu lado obscuro, por exemplo.
Não vale a pena, por nada nesse mundo, perder o sagrado da alma.
A raiva é pior que a história da pessoa que vende a alma por algum bem
material, pois, com raiva, não se ganha nada em troca.
Ao contrário, até mesmo este mundo vira um purgatório.
Pureza do coração
A única maneira de se purificar um coração furioso é aprender e reaprender
os princípios da emuná.
Feito isso, deve-se rezar a Hashem e pedir que a emuná se torne uma
segunda natureza, como respirar e enxergar.
Quanto mais emuná se tem, mais a raiva se afasta e mais o coração se
purifica.
Parte 3: Inveja
Com emuná, sabemos que temos uma alma única, com sua própria tarefa e
retificação neste mundo.
Hashem, por meio de sua Providência Divina compassiva, dá a cada alma as
qualidades e as condições de que ela precisa para alcançar seus objetivos.
Assim, quem tem uma emuná forte nunca cai na armadilha da inveja.
Imagine que a sua correção de alma e missão nesta vida seja ser piloto de
avião.
Hashem lhe dá um conjunto específico de talentos e aptidões que lhe
ajudam a ganhar asas.
Seu caminho personalizado na vida o leva à cabine de um F16, onde você
alcança importância e seu objetivo de vida - voar a Mach 1 acima das
nuvens.
Você teria inveja de quem possui um iate?
É claro que não!
O teste da pobreza
Frequentemente surge a pergunta "por que Hashem faz uma pessoa ser
pobre".
Provavelmente o pobre precisa de uma retificação que envolva humildade,
emuná, confiança em Hashem e reza constante.
A pobreza é a condição certa que ajuda algumas pessoas a adquirir essas
características maravilhosas.
Se fossem ricas, essas pessoas provavelmente nunca rezariam.
E depositariam sua confiança nos bens materiais, e não em Hashem.
O teste da pobreza não é fácil.
No entanto, ser pobre é um sinal claro de que a pobreza é o caminho
pessoal para uma aproximação a Hashem.
Com emuná, a pessoa não tem inveja da riqueza dos outros, nem recorre a
transgressões para tentar obter mais dinheiro.
Com emuná, o pobre sabe que sua situação atual é para o seu próprio bem.
Quando o pobre fica com inveja do vizinho rico, ele não se concentra em
sua missão de vida.
Se fosse rico, provavelmente sentiria um enorme vazio espiritual porque
não estaria realizando a retificação de sua alma com emuná, confiança em
Hashem e reza constante.
O teste da riqueza
O desafio do rico é desenvolver generosidade, humildade e confiança em
Hashem apesar de seu poder e riqueza.
Assim, a riqueza constitui um teste mais difícil que a pobreza.
É muito mais fácil para o pobre ter esperança em Hashem.
O rico deve compreender que Hashem não lhe deu dinheiro e poder para
que ele apenas alimente seus próprios desejos materiais.
Hashem espera que ele supere o egoísmo e a mesquinharia naturais ao ser
humano e faça atos de caridade e benevolência; essa não é uma tarefa
fácil.
Espera-se que o rico apoie causas nobres como o estudo da Torá e projetos
judaicos de kiruv, e não que use os presentes de Hashem para satisfazer
seus próprios prazeres egoístas.
Algumas pessoas ricas conseguiram dinheiro ilegalmente em uma vida
passada.
Nesta vida, elas têm a oportunidade de se corrigir ajudando os
necessitados.
É provável que elas estejam apenas devolvendo a um pobre o que
injustamente lhe roubaram em uma vida passada.
Portanto, o rico deve se acostumar a doar o máximo possível.
O verdadeiro sucesso
O verdadeiro sucesso é estar contente com o que temos.
O Rebe Nachman de Breslav ilustra esse princípio em seu famoso conto
"O inteligente e o simples".
Era uma vez dois amigos, um muito inteligente e o outro muito simples.
Eis como o Rebe Nachman os descreve: O simples aprendeu o oficio de
sapateiro.
Porque era simples, teve de praticar por muito tempo até poder aceitar
trabalhos, mas mesmo assim não se tornou expert.
Ele se casou e viveu de seu trabalho.
Mas como ele era simples e não tinha muito talento, ganhava pouco.
Ele não tinha nem tempo para comer porque trabalhava constantemente, já
que não era um perito em sapataria.
Então, enquanto trabalhava, enquanto martelava e costurava, ele dava uma
mordida num sanduíche.
E ele tinha o costume de estar feliz o tempo todo — ele estava sempre
muito alegre.
Ele tinha todo tipo de comida, bebida e roupa.
Ele dizia à esposa, "quero comer!", e ela lhe dava um pedaço de pão.
Depois de comer o pão, ele dizia, "agora quero feijão com molho!".
Ela então cortava mais um pedaço de pão e ele comia e elogiava, "como
estava gostoso esse molho!".
E ele lhe pedia carne e outros pratos requintados.
Mas no lugar de cada coisa que ele pedia, ela lhe dava um pedaço de pão,
com o qual ele se deliciava.
Ele elogiava cada "prato", dizendo como estava gostoso e bem preparado,
como se estivesse realmente comendo o que imaginava.
Ele realmente sentia no pão o gosto de cada comida que queria, graças à
sua simplicidade e à sua grande felicidade.
Do mesmo modo, ele pedia à esposa, "me traga cerveja!".
Ela lhe dava água e ele elogiava a qualidade da cerveja.
"Agora quero mel!"
Ela lhe trazia água e ele mais uma vez elogiava.
"Quero vinho!" e assim por diante.
Toda vez ela lhe trazia água e ele apreciava a bebida como se estivesse
bebendo o que desejava.
E o mesmo se passava com seu vestuário.
Ele dividia com a esposa um único casaco de pelos.
Ele pedia a ela o casaco quando precisava sair, para ir ao mercado por
exemplo.
Mas quando precisava de um terno para eventos formais, ele pedia para a
esposa buscar "o terno" e ela lhe dava o casaco.
"Como é elegante este terno!", ele dizia.
Quando ele precisava de uma capota para ir à sinagoga, ele pedia uma à
mulher.
Ela novamente lhe dava o casaco de pelos e ele elogiava, "como este capota
é vistosa!"
Do mesmo modo, quando precisava de um sobretudo formal, ela lhe dava o
velho casaco e ele se admirava, "como é elegante e bonito este sobretudo",
e assim por diante.
E ele sempre estava pleno de alegria e satisfação.
Quando ele terminava de fazer um sapato (e pode-se assumir que não
ficava muito bem feito, pois ele não dominava bem o oficio), ele o pegava e
o elogiava bastante.
"Como este sapato é belo! Este sapato é doce como mel e açúcar!"
E a mulher lhe perguntava: "Se é assim, por que todos os outros sapateiros
cobram três pedaços de ouro por um par de sapatos e você ganha apenas
uma pedaço e meio?"
Ele respondeu: "O que me importa? Aquilo é o que ele deve ganhar; isto é o
que eu devo ganhar! Por que temos de falar dos outros? Por que não
fazemos uma estimativa do lucro direto que eu faço com um par de
sapatos? O couro custa tanto, o cadarço custa tanto e os outros materiais
custam tanto. Eu tenho um lucro direto de dez moedas. Para que reclamar
com um lucro desses?"
Parte 4: Mesquinharia
A mesquinharia é um péssimo traço de personalidade, além de ser um sinal
de crueldade.
O amor de uma pessoa mesquinha por dinheiro a impede de enxergar as
necessidades do próximo, até mesmo da própria família.
Por isso, o mesquinho é desprezado pelos outros e raramente tem paz no
lar.
Há vários tipos de mesquinho:
• Mesquinho com os outros mas generoso com a própria família;
• Mesquinho com a própria família e generoso com estranhos — esse é o
tipo de pessoa que faz caridade por prestígio e publicidade;
• Mesquinho com todos, mas generoso consigo mesmo;
• Mesquinho com todos, inclusive com ele mesmo — esse é o tipo de pessoa
que acumula dinheiro e acaba perdendo tudo ou deixando tudo aos outros.
O bom marido
Um dos exemplos mais trágicos de mesquinharia é o do marido avarento.
A mesquinharia é uma expressão dupla de crueldade e insensibilidade.
O marido mesquinho é cruel com a esposa e com os filhos e é insensível às
suas necessidades e sentimentos.
Qualquer gasto na casa desperta a sua fúria.
Não há maior tristeza para uma esposa do que um marido mesquinho.
De acordo com a Cabalá, a saúde da alma de uma mulher depende de como
o marido a trata.
Quando o marido é pobre e não tem recursos para prover à esposa com
fartura, ela se entristece.
Mas quando ele dispõe de recursos e mesmo assim não é generoso, ela
"murcha" como uma planta não regada.
E quando ele diz "não" às necessidades da esposa, mas compra o que
deseja para si próprio, ela se torna sua inimiga.
Segundo o Talmud (Tratado Bava Metzia, 59a), o marido que honra a
esposa enriquece.
Se o homem é esperto, ele aprecia a mulher, compra para ela o que puder
e nunca a critica por seus gastos.
Assim como honrar a esposa traz riqueza, ficar com raiva dela traz prejuízo.
Os sábios também ensinam (flulin, 84b) que um homem deve comer e
beber menos do que pode gastar, vestir-se conforme o que pode gastar e
honrar a esposa com mais do que pode gastar.
Essa é a única mitsvá na Torá que requer que a pessoa gaste mais do que
tem.
Até mesmo em uma mitsvá tão importante como honrar o Shabat, o
Talmud diz que se deve evitar esbanjar na comida se isso significa pegar
dinheiro emprestado (TB, Tratado Pesachim 112a)!
Se o homem não pode comprar o que a mulher deseja, ele deve rezar e
pedir a Hashem que o ajude a suprir as necessidades da esposa e a fazê-la
feliz.
Se um homem reza pela felicidade da esposa como reza pela própria saúde,
Hashem certamente lhe dará os recursos para satisfazê-la.
Se a esposa pede algo ao marido e ele não pode atender ao pedido, ele
nunca deve dizer não.
Em vez disso, deve prometer que, com a ajuda de Hashem, ele se esforçará
ao máximo para atender ao pedido assim que puder.
O marido deve completar seus esforços com reza — quanto mais, melhor.
Quando Hashem vê que o marido é sincero quanto ao desejo de honrar a
esposa, Ele responde às suas orações.
Despesas reembolsáveis
As despesas com mitsvót são "reembolsáveis".
Nossos sábios ensinam que mesmo que uma quantia anual nos seja pré-
designada, despesas com Shabat, feriados e educação em Torá para nossos
filhos são incluídas nos "bônus".
Gastos com mitsvót são como tirar leite de vaca — quanto mais se ordenha,
mais leite sai.
Assim, Hashem "devolve" o dinheiro que gastamos com mitsvót.
Ademais, o Talmud afirma (TB, Tratado Shabat, 119a) que aquele que dá o
dízimo à caridade ficará rico.
Hashem tem compaixão por aqueles que têm compaixão pelos outros.
Um procurador leal
Com emuná, sabemos que nosso dinheiro não é nosso, mas de Hashem.
Hashem nos deixa investir o dinheiro que Ele nos dá para render
dividendos.
Por exemplo, quando convertemos nosso dinheiro em mitsvót e estudo de
Torá, ele se eleva do estado material para o espiritual.
Hashem considera isso um bom uso do dinheiro e fica feliz em nos dar
mais, já que agimos como um procurador leal que sabe como investir
adequadamente.
Hashem não tem satisfação em ver a pessoa mesquinha juntar e não usar o
dinheiro.
Ele também se decepciona quando alguém esbanja dinheiro com coisas
desnecessárias ou o usa para transgredir os mandamentos da Torá.
Certa vez, um pobre foi visitar o famoso mestre chassídico do século 18, o
Rebe Avraham Yehoshua Heschel de Afta, conhecido carinhosamente como
o "Afta Rav".
O pobre precisava de um dote para casar a filha, mas não tinha nenhum
centavo em seu nome.
Ele pediu ajuda ao Rebe, que escreveu uma carta, colocou num envelope e
disse ao pobre que a levasse a um certo homem rico da cidade grande.
O pobre chegou à mansão do rico e lhe apresentou a carta do Rebe.
O rico leu a carta, franziu a sobrancelha, resmungou algo entre os dentes e
rasgou a carta.
"Quem esse Rebe pensa que é? Que atrevimento! Eu nunca ouvi falar dele e
ele tem a ousadia de mandá-lo aqui para pedir três mil rublos? Desde
quando ele tem o direito de colocar a mão no meu bolso? Por que ele acha
que eu tenho de ouvi-lo?"
Humilhado, o pobre deixou a mansão de mãos vazias.
Ele voltou ao Afta e lhe contou sobre sua fracassada jornada à cidade
grande.
O Rebe soltou um suspiro e disse: "Vá visitar o Avremel — ele é um
discípulo meu que mora em uma cabana de palha na periferia da cidade.
Diga-lhe que eu pedi para ele lhe dar 500 rublos."
Quinhentos rublos eram bem menos que três mil, mas para o pobre
Avremel — um dedicado estudioso do Talmud —, é como se essa quantia
equivalesse a cinco milhões.
O pobre encontrou a cabana de Avremel e repetiu o pedido do Rebe.
Avremel rapidamente vestiu seu casaco desfiado e disse alegremente:
"Certamente, meu amigo. Sente-se aqui e descanse da viagem. Minha
esposa lhe trará comida e bebida. Volto em uma ou duas horas."
Avremel trocou algumas palavras com a esposa.
Com um sorriso no rosto, ela pegou todas as suas joias e as colocou num
saco de pano.
Ela desejou sucesso ao marido e ele partiu em direção ao centro da cidade.
Avremel empenhou as joias da mulher, seu candelabro de Chanucá e alguns
pertences de prata - o copo de kidush, sua caixinha de rapé e as velas da
esposa.
Ao todo, ele conseguiu juntar 320 rublos.
Então ele foi de porta em porta pedir uma quantia urgente para um homem
pobre poder casar a filha.
Em uma hora, ele arrecadou os 180 rublos restantes.
Com o coração cheio de alegria, ele correu para casa para dar ao homem os
500 rublos.
Todos estavam muito contentes.
O pobre abraçou e abençoou Avremel e agradeceu à esposa dele.
Avremel e a esposa agradeceram a Hashem por lhes permitir fazer uma
mitsvá tão elevada.
Nos meses seguintes, a sorte de Avremel deu uma virada brusca para
melhor.
Ele era praticamente forçado a participar de bons investimentos.
Ele começou a ganhar mais dinheiro que nunca, mesmo sem quase levantar
a cabeça dos estudos talmúdicos.
Ele se tornou rapidamente um dos homens mais ricos da vizinhança.
O rico da cidade grande não teve tanta sorte — seus negócios afundaram
até ele perder quase tudo que possuía.
Sua esposa sentiu que havia uma conexão entre a má sorte do marido e
sua recusa em ajudar o Rebe de Afta.
Ela insistiu que o marido fosse imediatamente a Afia e implorasse pelo
perdão do Rebe.
E ele foi...
O "ex-rico" foi conduzido ao Rebe.
"Rebe, por favor perdoe-me por minha insolência!", o homem chorou.
"Que insolência?", perguntou o Rebe.
"Eu ridicularizei a palavra do Rebe e me recusei a ajudar o pobre, conforme
o Rebe havia pedido."
"Ahã", o Rebe concordou com a cabeça. "Não há nada para perdoar,você
tinha uma tarefa e fracassou."
"Como assim? ", perguntou o homem.
"Deixe-me explicar", disse o Rebe. "A minha alma estava destinada a vir a
este mundo como uma pessoa rica. Eu argumentei diante do trono Celeste
que a riqueza só me distrairia de devotar minha vida ao estudo da Torá e ao
serviço a Hashem. Meu apelo foi aceito com a condição de que eu
encontrasse outra alma disposta a ser "guardiã" de minha fortuna. Eu
escolhi você. A sua fortuna na verdade é minha. Então, quando eu lhe pedi
para dar ao pobre homem os três mil rublos, para que ele tivesse recursos
para casar a filha, eu estava lhe pedindo o meu próprio dinheiro. A sua
recusa mostrou que você não era mais confiável para guardar o meu
dinheiro, então você o perdeu. Meu discípulo Avremel se tornou o guardião
em seu lugar"
"Rebe, por favor, tenha dó de mim", implorou o ex-rico. "Por favor, me
consiga uma quantia mínima para que eu e minha esposa não morramos de
fome!"
Avremel ficou mais que feliz em atender ao pedido do Rebe de mandar uma
quantia mensal ao ex-rico da cidade grande.
"Afinal", Avremel disse a si mesmo, "o dinheiro não é meu; sou apenas um
guardião!"
Arrogância — com emuná, não podemos ser arrogantes; sabemos que todo
nosso sucesso vem de Hashem.
Gula — com a emuná de que Hashem nos sustenta, não comemos mais do
que precisamos.
Adulação— com emuná, não é preciso temer ou adular nenhum outro ser
humano no mundo, não importa quão aparentemente poderoso ou influente
ele possa ser.
Difamação — com emuná, não dizemos uma palavra sequer sobre outra
pessoa.
Deixamos o julgamento dos outros a cargo de Hashem.
Continua
O Jardim da Emuná – Parte 7
Reza pessoal
A reza pessoal é o nosso discurso individual direcionado a Hashem, em
nossa própria língua e com as nossas próprias palavras.
Uma das maravilhosas qualidades da reza pessoal é que não é preciso
texto, horário ou lugar determinado para se falar com Hashem.
Qualquer lugar (exceto em lugares expressamente proibidos pela lei
judaica, como no banheiro ou no chuveiro) e qualquer hora são propícios
para a reza pessoal.
A reza pessoal é fundamental para se desenvolver a emuná:
1. Falar com Hashem diariamente instila emuná no coração.
2. Ter a reza pessoal atendida reforça imensamente a emuná.
3. A reza pessoal é uma importante ferramenta para o crescimento pessoal.
Construímos emuná quando superamos nossos próprios traços negativos, e
vice-versa.
4. Hashem irradia verdade e emuná no coração daqueles que Lhe
agradecem diariamente.
5. Se confessamos nossas transgressões diariamente a Hashem por meio de
reza pessoal, conseguimos o reconhecimento de que tudo o que Hashem faz
é para o nosso melhor.
Emuná tangível
De acordo com o Rabino Avraham Yeshayahu Karelitz, o famoso Chazon
Ish, de santa e abençoada memória, conseguimos uma emuná tangível
quando pedimos a Hashem tudo o que precisamos, do grande ao pequeno,
até mesmo o mais mundano dos pedidos.
Por exemplo, você está a caminho da loja de sapatos.
Fale com Hashem enquanto está andando ou dirigindo e diga: "Hashem, por
favor, me ajude a encontrar o par de sapatos certo por um preço que posso
pagar. Que eles calcem bem e sejam confortáveis. Que também sejam
bonitos, para que eu possa usá-los no Shabat e nos feriados."
Você ficará surpreso de ver que encontrará exatamente o que quer!
Tal reza toma a emuná tangível.
O Chafetz Chaim, de santa e abençoada memória, ensina que devemos falar
com Hashem como uma criança fala com um pai amoroso; de modo simples
e sincero, e com as próprias palavras.
Essas rezas — pedidos sinceros por misericórdia, compreensão e assistência
Divina — são sempre ouvidas.
O Rebe Natan de Breslav escreve (Sichot Haran, 233) que certa vez o Rebe
Nachman falou sobre roupas com um de seus discípulos: "Você deve rezar
por tudo. Se sua roupa rasgou e você precisa de outra, reze a D'us por uma
peça nova. Faça isso para tudo. Faça com que a reza pelas suas
necessidades se torne um hábito. Suas rezas principais devem ser para as
necessidades fundamentais (da alma) — que D'us o ajude em sua devoção,
que você mereça se aproximar Dele. E reze também pelas coisas triviais."
O Rebe Nachman enfatiza: "D'us pode lhe dar comida, roupa e todas as
coisas de que você precisa, mesmo que você não peça por elas. Mas, assim,
você vive como um animal. D'us dá pão a todo ser vivo. Ele pode agir da
mesma maneira com você. Mas se você não estabelece suas necessidades
por meio da reza, o seu sustento é como o de um animal. O ser humano
deve retirar de D'us todas as necessidades da vida por meio da reza."
Uma vez o Rebe Natan precisou de um botão para seu casaco.
O Rebe Nachman lhe disse: "Reze a D'us por isso."
O Rebe Natan ficou surpreso de aprender que deve rezar a Hashem até
mesmo pelas coisas mais triviais.
Vendo sua surpresa, o Rebe Nachman perguntou: "Rezar a D'us por algo
tão pequeno como um botão está abaixo da sua dignidade?"
A fim de desenvolver a emuná, devemos rezar por tudo, até pelas coisas
mais banais.
Ao rezar pelas pequenas coisas da vida, aprendemos a não contar tudo
como garantido e a desenvolver a emuná de que tudo vem de Hashem.
A base da emuná é o reconhecimento de que Hashem é a fonte de tudo e
de que dependemos Dele para tudo — cada respiração e cada batida do
coração —, em cada momento de toda nossa vida.
Quando as pessoas insistem em acreditar em seu próprio poder, se expõem
a problemas feitos para mostrar sua futilidade.
Muitas vezes, sentimentos de complacência invocam problemas quase que
imediatamente.
Eis um exemplo: um homem está cheio de si dirigindo uma nova Mercedes,
sentindo como se fosse dono do mundo quando, de repente, um dos pneus
fura.
Quando ele tenta trocar o pneu, descobre que o estepe está murcho.
Agora ele precisa chamar o guincho, perder tempo e dinheiro.
Tudo por causa de um pequeno prego na estrada — que não é nada mais
que um mensageiro inanimado de Hashem para mostrar ao homem da
Mercedes a sua futilidade inata.
O recipiente da abundância
A reza é o recipiente da abundância Divina.
Devemos ser específicos na reza e explicar a Hashem o que queremos ou
precisamos.
Muita gente se pergunta por que precisamos de reza se Hashem lê nossa
mente e nosso coração e sabe exatamente o que precisamos!
Verdade, mas Hashem nos dá o poder da reza para desenvolvermos emuná.
Se nossas necessidades se suprissem automaticamente, sem que nunca
precisássemos pedir nada, nunca buscaríamos Hashem ou emuná, e nossa
alma se enfraqueceria.
Para saber como rezar, devemos aprender sobre o que estamos rezando.
Quanto mais específica a reza, melhor recipiente para a abundância Divina
ela se torna.
Quando aprendemos sobre emuná, precisamos pedir a Hashem que nos
ajude a internalizar cada etapa do aprendizado.
Após aprender o primeiro nível de emuná, ou seja, que tudo no mundo é
produto da vontade Divina, devemos incorporar isso em nossas orações,
assim: "Hashem, ajude-me a acreditar que tudo vem de Você. Ajude-me a
enxergar que os gritos da minha mulher não passam de uma reprimenda
Sua, para que eu não perca a cabeça e arruíne a paz do meu lar. Ajude-me
a ver que meu sucesso no trabalho hoje foi uma bênção Sua, para que eu
Lhe agradeça o tempo todo..."
E assim por diante.
Após aprender o segundo nível de emuná, ou seja, que tudo o que Hashem
faz é para o bem, podemos criar um novo recipiente para a abundância
Divina, rezando para realizar isso também.
Um exemplo de reza nesse caso seria: "Hashem, ajude-me a ver que tudo
que Você faz é para o bem, e seu eu não entendo como ou por que, ajude-
me a acreditar firmemente que tudo que está acontecendo em minha vida é
para o meu bem."
Esse princípio também se aplica quando aprendemos o terceiro nível de
emuná, segundo o qual tudo é uma mensagem de Hashem para
cumprirmos um propósito específico.
A reza criada para colocar em prática o nosso aprendizado é um potente
recipiente espiritual.
Hashem ama as orações que decorrem do estudo da Torá, pois elas
mostram que internalizamos os seus princípios e os aplicamos em nosso
cotidiano.
Viver conforme a Torá é a motivação mais elevada para o seu estudo.
Hashem sempre responde às rezas que pedem para concretizarmos o que
aprendemos.
Segundo o Rebe Nachman de Breslav (Licutei Moharan 11:25), nos
empenhamos em converter nosso estudo de Torá em reza e imploramos
para que Ele nos ensine a implementar corretamente o que aprendemos.
Quando uma pessoa deseja realmente aplicar e internalizar as lições da
Torá, Hashem responde prontamente.
Ademais, Hashem tem bastante alegria das rezas que resultam do estudo
da Torá.
De acordo com o ensinamento do Rebe Nachman, quando compreendemos
a emuná e então transformamos nosso aprendizado em reza, conseguimos
mais e mais emuná - o segredo do sucesso e da felicidade neste mundo e
no próximo!
Clamar a Hashem
O Rebe Nachman de Breslav ensina (Rebbe Nachman 's Discourses, 146)
que quando nos falta emuná, devemos clamar a Hashem.
Tal clamor não precisa ser em voz alta; um grito silencioso do fundo do
coração já é muito bom.
O fato de que alguém clama a Hashem é prova da existência da centelha de
emuná, que, por sua vez, se torna uma ardente chama de fé.
Palavras de emuná
Qualquer um pode se recuperar de um colapso de emuná recitando palavras
de emuná.
Quando a pessoa sente que está envolvida em escuridão e tem dificuldade
de sentir a presença de Hashem, deve falar palavras de emuná em voz alta,
como: "Eu acredito em Hashem, Ele é o Único D'us. Ele me protege e cuida
de mim a cada minuto do dia, por toda a minha vida, e Ele sempre escuta
as minhas preces. Hashem me ama e se preocupa comigo."
Devemos continuar a dizer palavras de emuná em qualquer área que
precisemos de ajuda, assim: "Acredito que Hashem sustenta todas as Suas
criações. Ele certamente me mandará o meu sustento."
Ou: "Acredito que Hashem é o médico de toda carne. Ele com certeza me
mandará uma cura."
Antes de um teste importante ou de uma negociação, aumentamos nossas
chances de sucesso dizendo: "Acredito que o sucesso vem de Hashem. Fiz o
meu melhor para me preparar. Por favor, Hashem, me ajude a prosperar!"
Quando dizemos palavras de emuná, despertamos nossa centelha de fé que
acende uma chama de emuná.
Essa chama não apenas nos aquece a alma e ilumina a escuridão dentro de
nós, como invoca a compaixão Divina.
Visto que falar de emuná faz maravilhas à alma, devemos, então, ter o
cuidado de evitar dizer qualquer coisa que contenha a mais sutil alusão à
heresia, mesmo em uma piada.
Palavras heréticas ou agnósticas extinguem a centelha de emuná e deixam
a alma fria e escura, D'us nos livre.
Auto avaliação
Se nos avaliamos todos os dias, nos lembramos de nossa relação com
Hashem.
Quatro coisas maravilhosas acontecem quando nos julgamos diariamente:
1. Lembramo-nos de Hashem e de Seus mandamentos;
2. Tomamos decisões de corrigir o que precisa ser corrigido e, portanto, não
acumulamos dívidas espirituais que levam a julgamentos severos;
3. Como Hashem não permite julgamentos duplos, o Tribunal Celeste não
pode nos julgar quando nós mesmos nos julgamos;
4. A auto avaliação diária nos lembra de que há um Criador no mundo.
Quando pensamos se nossas ações estão de acordo com a Sua vontade, nós
O contemplamos.
Pensar em Hashem aumenta a emuná.
Estudar Torá
A luz da Torá destrói a escuridão da heresia.
As pessoas veem a heresia, ou epicorsis, como uma negação total de
Hashem; isso não é verdade.
Muitas vezes, pessoas tidas como religiosas cultivam ideias heréticas, como
ervas daninhas num jardim.
Estudar Torá erradica essas ervas.
A Torá leva à emuná somente quando é adquirida para que possamos
cumprir a vontade de Hashem e não para ganho pessoal.
A luz da Torá limpa e ilumina o coração e a alma, e os faz recipientes
adequados para a emuná.
Com emuná, a alma é o recipiente ideal da luz Divina.
Aproximando-se de Hashem
O Talmud pergunta: aproximar-se de Hashem é uma mitsvá, mas Hashem é
como um fogo ardente; então, quem pode se aproximar dEle?
O Talmud responde à própria pergunta e diz que, se nos aproximamos dos
estudiosos de Torá e dos tsadikim, que nos ensinam o caminho de Hashem,
nos aproximamos de Hashem.
A lei judaica determina que devemos nos aproximar dos nossos sábios e dar
atenção às suas palavras.
Grande parte da Torá é classificada como "Torá Oral", aquela que vem
sendo passada de professor a discípulo de geração em geração, em uma
corrente ininterrupta que data de Moisés, que recebeu a explicação oral da
Torá diretamente de Hashem.
Portanto, não devemos pensar que é suficiente estudarmos Torá sozinhos —
há muito espaço para erro.
Evitamos o erro se nos aproximamos de um estudioso justo e aprendermos
com ele.
Do mesmo modo, não podemos conseguir a emuná completa sem nos
aproximarmos dos líderes espirituais da geração, o que chamamos de
emunat chachamim, ou fé nos sábios.
Sem emunat chachamim, não podemos desenvolver corretamente a emuná
em Hashem.
Estudar obras de verdadeiros tsadikim é algo altamente conducente à
emuná, pois os escritos de um verdadeiro tsadik despertam o coração para
procurar Hashem.
Como todos os outros livros sagrados, devemos aprender os ensinamentos
de um tsadik com a ajuda de um de seus discípulos instruídos, para evitar
confusões e equívocos.
Ao estabelecer uma relação com os discípulos do tsadik, podemos nos
aproximar dele e posteriormente melhorar nossa emuná.
O Rebe Nachman de Breslav escreve no Sefer Hamidót (sob o título
"tsadikim"):
• O principal aperfeiçoamento da alma depende de nos aproximarmos dos
tsadikim.
• A nossa aproximação com os tsadikim é benéfica neste mundo e no
próximo.
• A chegada do Mashiach depende de nossa aproximação com os tsadikim.
• Quem é próximo a um tsadik durante a vida ficará próximo a ele depois
da morte.
• O que se escuta da boca de um tsadik é mais benéfico do que o que se
aprende em livros.
• É bom investir bastante tempo para merecer uma hora de aproximação
com um tsadik.
Por todas as razões mencionadas, devemos procurar um tsadik e guia
espiritual genuíno e justo.
Assim, se lhe ficamos próximos e aprendemos com ele, conseguimos mais
emuná.
Fortalecer a emuná
O Rebe Natan de Breslav escreve (Rebe Naclnan's Discourses, 222): "Ouvi
que o Rebe certa vez estava encorajando um homem muito confuso sobre
emuná. O Rebe lhe disse: 'Está escrito que toda a Criação surgiu apenas
por causa de gente como você. D'us viu que haveria pessoas que se
apegariam à nossa fé sagrada, sofrendo imensamente por confusões e
dúvidas que constantemente os atormentariam. Ele viu que essas pessoas
superariam as dúvidas e permaneceriam fortes em suas crenças. Foi por
isso que D'us deu origem a toda a Criação.”
O Rebe Natan adiciona: "Então esse homem passou a ficar extremamente
fortalecido e tranquilo sempre que tinha esses pensamentos confusos.
O Rebe disse várias vezes que a Criação foi principalmente em nome da fé.
Está escrito (Salmos 33:4): 'pois perfeita é a palavra do Eterno, e fidelidade
marca tudo o que Ele faz.'"
Continua
O Jardim da Emuná – Parte Final
Hashem ajuda
Depois que ficamos conscientes de que temos um ietser hará, a segunda
coisa que temos de saber é que somos incapazes de superá-lo sem a ajuda
de Hashem.
Isso nos faz procurar a Sua ajuda.
A principal maneira de vencer o ietser hará e fortalecer a espiritualidade é
rezar a Hashem e pedir-Lhe ajuda e orientação para conseguirmos evitar
pecados e fazer as escolhas certas.
Hashem ajuda aqueles que buscam a Sua ajuda.
Algumas pessoas se punem, se castigam ou ficam totalmente
decepcionadas consigo mesmas quando fazem algo errado.
Esse é um modo autodestrutivo, que leva apenas à depressão e ao
desespero.
Se um boxeador ficasse deprimido cada vez que levasse um golpe do
adversário, ele logo sofreria um nocaute geral.
Cada um de nós, mesmo os grandes tsadikim, se depara com obstáculos de
vez em quando.
Ficar decepcionado consigo mesmo não serve para nada.
É preciso pedir ajuda a Hashem!
Onisciência e livre-arbítrio
O clássico dilema da fé judaica é a aparente diferença entre a onisciência de
Hashem e o livre-arbítrio.
Se Hashem sabe o que vamos fazer, como podemos ter livre-arbítrio?
Se Hashem "fez, faz e fará tudo", como dito anteriormente, isso tornaria
Hashem responsável por nossos pecados também.
Se a pessoa não pode levantar um dedo sem que Hashem o permita, onde
está o livre-arbítrio?
Vamos recordar o ensinamento do Rebe Nachman: "Temos uma escolha
simples: se queremos, fazemos. Se não queremos, não fazemos."
Mesmo que Hashem saiba o que vamos escolher, Ele não nos força a fazer
uma determinada escolha.
Se fôssemos robôs, não haveria um contexto para um sistema de
recompensa e punição.
Hashem nos deixa escolher entre o bem e o mal.
Apesar disso, o Rebe Nachman explica que o intelecto humano é incapaz de
compreender completamente o conceito de onisciência e livre-arbítrio
(Licutei Moharan 1:21).
Quem consegue abarcar completamente essa noção não é uma pessoa, mas
sim um ser espiritual muito mais elevado.
Os seres espirituais elevados não têm livre arbítrio, pois a verdade de
Hashem lhes é perfeitamente clara.
Somente o homem, um ser mortal, tem livre-arbítrio, mas ele não pode
compreender totalmente o conceito de onisciência e livre-arbítrio e a
compatibilidade entre os dois.
Se insistimos em entender, podemos ficar totalmente confusos.
Até pior, podemos cair no poço da heresia, D'us nos livre.
O Rei Salomão disse (Provérbios 2:19): "Alguns nunca voltam, e não
conseguem compreender os caminhos da vida."
Ou seja, devemos reconhecer que há leis espirituais que governam o
universo e que transcendem o entendimento humano.
Onde termina o entendimento começa a emuná.
Quando falamos de livre escolha, o melhor conselho é deixar o conceito da
onisciência de Hashem de lado.
A onisciência de Hashem e o livre-arbítrio são dois conceitos que utilizamos
em ocasiões diferentes, mas, como leite e carne, nunca os misturamos.
Antes do fato, usamos o poder do livre-arbítrio.
Depois do fato, confiamos na onisciência de Hashem, pois todos os dias
estão em Suas mãos.
Mais uma vez, isso nos salva de duas armas do ietser hará: a arrogância e a
autoperseguição.
Quando você tem de fazer uma escolha, não pense na onisciência de
Hashem.
Use as ferramentas à sua disposição para fazer a melhor escolha que puder.
Tente o seu melhor e confie no seu desejo de fazer o que é certo, no seu
estudo de Torá, na sua emuná e nos conselhos dos tsadikim.
Acima de tudo, invista bastante tempo e esforço em rezar para que Hashem
o guie na direção correta; quanto mais rezamos, maiores as chances de
sucesso.
Verdade
Continuamos a fracassar se não nos conformamos com nossas fraquezas e
não entendemos que os problemas são uma parte necessária do nosso
crescimento pessoal e espiritual.
Se a arrogância não nos deixa reconhecer e aceitar nossas falhas, nunca
enxergaremos a verdade.
O Rebe Menachem Mendel de Kotsk comenta sobre o episódio do fruto
proibido da porção Bereshit da Torá.
Hashem pergunta a Adão (Gêneses, capítulo 3): "Onde estás? (...) Acaso da
árvore de que te ordenei não comer dela, comeste?"
O que a primeira pergunta tem a ver com a segunda?
O Rebe de Kotsk explica que Hashem está dizendo a Adão: "Olha onde
caíste. Em vez de aprender com teu erro, culpaste Eva!"
Hashem sabe que somos seres humanos.
Ele também sabe que, apesar de nossos melhores esforços, caímos de vez
em quando.
Hashem não está nos pedindo para sermos perfeitos.
Tudo que Ele quer é que usemos nossos problemas e fracassos como
instrumentos de avaliação e aperfeiçoamento.
Dizer obrigado
Não podemos realmente fazer teshuvá até construirmos emuná o suficiente
para agradecer a Hashem por nossos problemas.
Viver sem emuná significa viver sem Hashem.
Como alguém pode fazer teshuvá se vive sem Hashem?
Agradecer a Hashem por nossos problemas e falhas é uma verdadeira
indicação de emuná e um trampolim para reza e aperfeiçoamento pessoal.
Teshuvá é felicidade
Uma pessoa triste e deprimida não controla seu próprio raciocínio.
Sem serenidade mental, não é possível obter emuná nem fazer teshuvá.
Uma pessoa triste e deprimida é como um prisioneiro de guerra, capturado
pela implacável inclinação para o mal.
Depressão e elevação espiritual se excluem mutuamente.
Por isso, o ietser hará quer que estejamos sempre no fundo do poço.
E nos perguntamos, "como posso ser feliz?".
A resposta é surpreendentemente simples: somos felizes quando nossa
alma é recompensada, e a alma é recompensada quando cumprimos a
vontade de Hashem.
Visto que a teshuvá leva a pessoa a cumprir a vontade de Hashem, ela
também leva à gratificação da alma e à felicidade.
Os 24 Tribunais Celestes
Há 24 Tribunais Celestes que nos julgam a cada hora de cada dia.
Quem faz boas ações recebe um bom veredito; a alma reage
imediatamente a um julgamento positivo de um Tribunal Celeste com
otimismo e felicidade.
O oposto também é verdade; quem tem um veredito desfavorável
proveniente de uma ação negativa sente tristeza, pessimismo e uma
"angústia de espírito".
Rosh Hashaná, o ano novo do calendário judaico, é o Dia do Julgamento
anual que determina se a pessoa irá viver ou morrer, qual será sua renda
anual, entre outras coisas.
Isso não contradiz o fato de que somos julgados de hora em hora.
Por exemplo, em Rosh Hashaná foi determinado que uma pessoa ganharia
dois mil dólares no dia oito de janeiro; na manhã do dia oito, é decidido
como essa pessoa ganhará o dinheiro, se com alegria ou tristeza.
A seguinte história chassídica explica o conceito dos julgamentos diário e
anual.
O Baal Shem Tov encontrou um velho carregador de água no caminho e
perguntou com ele estava.
O carregador de água deu um sorriso desdentado e louvou a Deus por ter
lhe dado mais uma vez a força para ganhar o sustento do dia de forma
respeitável.
Alguns dias depois, o Baal Shem Tov encontrou o mesmo carregador de
água.
Dessa vez, o velho homem mal podia carregar seu jugo e seus dois baldes,
como se estivesse carregando o mundo todo nos ombros.
Ele reclamou ao Baal Shem Tov como sua vida era difícil.
A extrema mudança de humor do ancião surpreendeu o Baal Shem Tov.
Depois de pensar por um momento, o Baal Shem Tov sorriu e agradeceu ao
carregador de água.
"Meu amigo, você acaba de responder a uma difícil questão que eu tinha
enquanto estudava o tratado Rosh Hashaná. A Mishná diz que somos
julgados em Rosh Hashaná, mas o Talmud diz que somos julgados todo dia
e toda hora. A minha questão era, se somos julgados em Rosh Hashaná
para o destino do ano inteiro, por que somos julgados novamente todo dia e
toda hora? Então o Baal Shem Tov explicou que o julgamento de cada hora
e o de cada dia determinam o modo como vamos receber o que foi
predeterminado no começo do ano; se nossas ações são favoráveis,
recebemos nossa porção alegremente naquela hora. Caso contrário,
recebemos o que merecemos com tristeza, depressão ou aborrecimento.
O dia em que o carregador de água estava feliz e otimista foi um dia em
que suas ações receberam um julgamento favorável no Tribunal Celeste.
Ele não ganhou mais do que costumava ganhar nos outros dias, nem
trabalhou menos.
No entanto, ele sentiu gratidão a Hashem e alegria no coração.
Alguns dias depois, tendo recebido aparentemente um julgamento
desfavorável do Tribunal Celeste devido a ações não muito desejáveis, seu
humor despencou e o trabalho se tornou uma tortura.
Enxergando as mensagens
A história do "Baal Shem Tov e o carregador de água" explica como o
humor e as circunstâncias podem mudar de uma hora para outra.
Você já deve ter passado por isso: uma hora você está se dando super bem
com sua (seu) esposa (o) ou com seu chefe e, de súbito, do nada, ele (ou
ela) começa a gritar com você de uma maneira que não faz sentido
nenhum.
Mas quando você leva em consideração os julgamentos de cada hora, tudo
faz sentido.
O julgamento favorável da hora anterior simplesmente se tornou o
julgamento severo desta hora.
Tudo que nos entristece, até mesmo uma pequena irritação, como uma
coceira, decorre de uma decisão do Tribunal Celeste.
Segundo o Talmud (TB, Tratado Arachin 16b), cada pequeno sofrimento na
vida faz parte das atribulações enviadas do Céu — coisas como
experimentar uma roupa que não serve direito ou colocar a mão no bolso e
pegar uma moeda de 25 centavos quando na verdade você queria uma de
10 centavos.
Quando internalizamos o conhecimento de que esse tipo de acontecimento
é o resultado de julgamentos do Tribunal Celeste, aumentamos nossa
consciência espiritual, emuná e conexão com Hashem.
Hashem é justo
Imagine que um filho se comporta mal e recebe uma punição do pai.
O filho travesso então atribui a sua má sorte ao irmão mais novo e começa
uma briga com ele.
O pai fica duplamente preocupado: não só o filho mais velho não corrigiu
seu comportamento, como iniciou uma briga com o irmão mais novo, que
não tinha nada a ver com a punição!
Muitos de nós agem como o filho travesso.
Em vez de atribuir nossos problemas a Hashem e às nossas próprias ações,
buscamos um terceiro elemento o qual podemos culpar, ou o usamos para
desabafar.
Em vez de tomar a decisão correta — teshuvá, a única solução real para os
nossos problemas — caímos nas armadilhas da raiva, da frustração e do
desespero.
É lamentável...
E, ainda pior, não reconhecemos que Hashem é justo.
O sentimento de que os julgamentos de Hashem são inadequados é o que o
Rebe Natan de Breslav chama de "justiça corrompida".
Aquele que sente que os julgamentos de Hashem são injustos desenvolve
um senso distorcido de justiça que prejudica a auto avaliação e a busca
espiritual honesta.
O Rebe Natan de Breslav escreve (Licutei Halachot, Choshen Mishpat,
Nezikin 5): "Desenvolve-se um senso distorcido de justiça a partir de
noções equivocadas do mundo. Muitas pessoas reclamam que Hashem não
as trata justamente, e que suas atribulações estão além de sua capacidade
de resistência. Essas pessoas também dizem que não têm tempo para
servir Hashem por causa das exigências de se ganhar um sustento. Elas
acreditam, então, que Hashem faz pedidos impossíveis."
A verdade é que Hashem não pede nada que não possamos fazer.
O segredo da paz interior é a internalização do fato de que Hashem é justo
e que Suas decisões são justas.
Conseguimos isso revisando constantemente os princípios de emuná, ou
seja, que Hashem comanda o mundo, faz tudo para o melhor e tem um
propósito específico para tudo que faz.
Assim como acreditamos que tudo vem de Hashem, devemos acreditar que
todos os Seus julgamentos não são apenas justos, mas também
misericordiosos e compassivos.
E, assim sendo — mesmo que às vezes isso não seja aparente —, os
julgamentos Divinos são sempre para o nosso beneficio pessoal.
Os testes e as atribulações que Ele nos manda são criados para nos
aproximar Dele.
Comece a andar!
Um grupo de amigos certa vez fez uma viagem.
No caminho, eles viram um mochileiro parado num cruzamento deserto.
Sete dias depois, a caminho de casa, eles encontraram a mesma pessoa
parada no mesmo cruzamento deserto sob o sol quente.
O grupo de amigos perguntou ao mochileiro: "Por que você está parado
aqui?"
"Quero ir a Jerusalém", respondeu o mochileiro. "Estou esperando uma
carona."
"Há quanto tempo você está esperando?", eles perguntaram.
"Mais de uma semana", ele respondeu.
Os amigos riram.
"Jerusalém está apenas a dois dias de caminhada daqui. Se você tivesse
caminhado, poderia ter ido e voltado quatro vezes!"
Muitos de nós queremos mudar, mas esperamos que isso aconteça
automaticamente, sem esforço de nossa parte.
A vida não é assim.
Um velho ditado hebraico diz: "Até mesmo uma jornada de mil quilômetros
começa com o primeiro passo."
O primeiro passo rumo à teshuvá, à retificação e ao aperfeiçoamento de
caráter é estabelecer uma sessão diária de sessenta minutos de reza
pessoal e auto avaliação.
Quando damos o primeiro passo na estrada do ganho espiritual, Hashem
nos ajuda por todo o caminho.
O Rei David descreve a constante orientação de Hashem na jornada do
aperfeiçoamento pessoal quando diz a Ele (Salmos 73:23): "Estou sempre
Contigo e minha destra sustentas."
Em nossas rezas pessoais mais importantes, pedimos por uma emuná
fortalecida e que Hashem nos faça ver o que precisamos corrigir.
Esses pedidos, juntamente com auto avaliação e teshuvá diárias, invocam
uma iluminação maravilhosa da alma que nos leva à verdadeira felicidade e
paz interior.
Conclusão
A prática faz a perfeição.
Agora que você leu este estudo uma primeira vez, tente revisá-lo, do
começo ao fim.
Quanto mais você internaliza os princípios da emuná, mais fácil aplicá-los
na vida diária.
A emuná é o eixo em torno do qual o mundo gira.
Quando fortalecemos nosso reconhecimento de que Hashem comanda o
universo, faz tudo para o nosso bem e tem um propósito específico em tudo
que faz - ou seja, Ele nos ajuda a retificar a alma e a nos aproximarmos
dEle -, ficamos mais felizes e temos mais sucesso em tudo o que fazemos.