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américa
Autor: Loic Wacquant
Primeira prova disso é que a baixa da violência criminal em Nova York foi declarada três
anos antes de Giuliani aceder ao poder, no fim de 1993, e ela seguiu a mesma tendência
depois que ele se instalou na Gracie Mansion. E mais: a taxa de homicídios cometidos
sem arma de fogo nessa cidade diminui lentamente, mas com regularidade, desde 1979;
apenas os homicídios por meio de balas diminuíram fortemente desde 1990, após terem
alçado vôo entre 1985 e 1990, em razão da difusão do comércio de crack; e nenhuma
dessas duas curvas apresenta particular inflexão sob o governo de Giuliani. Segunda
prova: o refluxo da criminalidade violenta é igualmente nítido nas cidades que não
aplicam a política nova-iorquina de "tolerância zero", incluindo aquelas que optaram por
uma aproximação diametralmente oposta, como Boston, San Francisco ou San Diego -
em que a polícia, dita "de resolução de problemas", se ocupa em estabelecer relações
contínuas com os moradores, preferindo-se prevenir os atentados a tratá-los ex post pela
excessiva repressão penal. (p. 4)
Terceira prova: Nova York já havia colocado em funcionamento, entre 1984-87, uma
política de conservação da ordem exigente e agressiva, similar à praticada após 1993, sob
o nome de Operation Pressure Point, que se fez seguir por um aumento pronunciado de
violências criminais e notavelmente de homicídios. Daí resulta que, contrariamente às
afirmações dos promotores e importadores do "modelo Bratton", a estratégia policial
adotada por Nova York durante a década de 90 não é nem necessária nem suficiente para
explicar a queda da criminalidade nessa cidade. (p. 5)
Assim, desde 1993, toda pessoa surpreendida a mendigar ou divagar na cidade, a colocar
seu auto-rádio em volume demasiado alto, a sujar ou pichar a via pública, ou ainda a
transgredir uma simples regra municipal, deve ser presa e imediatamente levada, mais
uma vez, para trás das grades: "Acabaram os simples boletins de ocorrência nas
delegacias. Se você urinar na rua, será levado à prisão. Estamos decididos a reparar as
'janelas quebradas' [i.e., as mínimas marcas exteriores de desordem] e a impedir quem
quer que seja de quebrá-las novamente". Tal estratégia, afirma seu chefe William Bratton,
"funciona na América" e funcionaria do mesmo modo "em qualquer cidade do mundo".
(p. 6)