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FOTOINTERPRETAÇÃO

PARTE TEÓRICA

I -CONCEITOS BÁSICOS DA FOTOINTERPRETAÇÃO

QUADRO I.1 - CONCEITOS BÁSICOS DA FOTOINTERPRETAÇÃO

FOTOGRAFIA AÉREA

OBLÍQUA VERTICAL

EM CORES PRETO/BRANCO

FOTOLEITURA
FOTOGRAMETRIA FOTOINTERPRETAÇÃO
FOTOANÁLISE

PADRÕES DE INTERPRETAÇÃO

VEGETAÇÃO DRENAGEM COR RELÊVO TONALIDADE

TEXTURA

LITOLOGIA ESTRUTURA

FOTOGEOLOGIA

MULTIDISCIPLINAS
MAPA FOTOGEOLÓGICO

I .1 - FOTOGRAFIA AÉREA

I.1.1 -Definição: imagem do terreno captada desde o espaço utilizando-se câmaras fotográficas
adequadas.

I.1.2 - Elementos da fotografia aérea: informações contidas na fotografia aérea (Fig.I.1), objetivando,
principalmente, a resolução de problemas fotogramétricos (deslocamentos devido ao relevo, escala
média da fotografia,elaboração de perfis topográficos e geológicos ,etc)

Por José Robinson Alcoforado Dantas


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FIGURA I.1 – ELEMENTOS DA FOTOGRAFIA AÉREA

O
N da foto
O
Arquivo N do vôo
Escala
Relógio Altímetro Nível

X X

Marcas fiduciais

X X
O = ponto principal = centro da foto

Além das indicações dos números da fotografia e voo, e da escala, um outro dado importante
encontrado em algumas fotografias, é o valor (em mm) da distância principal ( c ) da câmara fotográfica,
que, como será visto mais adiante, não só indica qual o tipo de câmara fotográfica utilizada e,
conseqüentemente, qual o tipo da fotografia obtida, como também tem papel fundamental na definição da
escala.

Do ponto de vista geométrico a fotografia aérea vertical é uma projeção central do terreno, cuja
representação esquemática é mostrada na figura abaixo:

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FIGURA I.2 - REPRESENTAÇÃO GEOMÉTRICA DA FOTOGRAFIA AÉREA

p=n
Plano do negativo
c
O= centro da objetiva da câmara
Z c
Positivo
Zo
Nível médio do terreno
Terreno
Q Dt R P=N
Nível do mar

c = distância principal = distância do centro de projeção da câmara fotográfica ao plano do negativo ou


plano da fotografia.

Z = Altura de vôo = distância do centro de projeção ao plano do terreno.


p = ponto principal = projeção ortogonal do centro de projeção do terreno (p) sobre o plano da fotografia
(p).
n = ponto nadir = interseção da vertical que passa pelo centro de projeção com o plano do negativo ou
plano da fotografia. É representado com as letras “n” e “N”, na fotografia e no terreno,
respectivamente. Na foto aérea vertical o ponto nadir se confunde com o ponto principal.

I.1.3 – Classificação das fotografias aéreas

Basicamente, os critérios empregados para a classificação de fotografias aéreas estão relacionados à


inclinação do eixo da câmara fotográfica e ao seu campo angular

• em função da inclinação do eixo da objetiva

FIGURA 1.3 - CLASSIFICAÇÃO DA FOTOGRAFIA AÉREA EM FUNÇÃO DO EIXO DA OBJETIVA

VERTICAL INCLINADA MUITO INCLINADA

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QUADRO I.2 - COMPARAÇÃO ENTRE AS FOTOGRAFIAS AÉREAS VERTICAL, INCLINADA E
MUITO INCLINADA
Fotografia aérea Vertical Inclinada Muito inclinada
0 0 0 0
Características Inclinação < + 3 Inclinação entre 12 e 18 > 18 com o horizonte
sem horizonte visível visível
Área fotografada Muito pequena Pequena Grande
Forma da área Retangular Trapezoidal Trapezoidal
foto grafada
Escala Uniforme para um mesmo Decresce da parte mais Decresce da parte
plano horizontal eleva da do terreno para a mais elevada do
mais baixa terreno para a mais
baixa
Vantagem Melhor de interpretar Maior área recoberta Ilustrativa
Uso mais Fotogrametria e Fotointerpretação Fotointerpretação
freqüente Fotointerpretação

• em função do campo angular da objetiva

FIGURA I.4 - CLASSIFICAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS AÉREAS EM FUNÇÃO DO CAMPO ANGULAR DA OBJETIVA

60º 90º 120º

NORMAL GRANDE ANGULAR SUPER GRANDE ANGULAR

Quadro I.3 - Relação entre campo angular e distância principal em fotografias aéreas verticais
de 23 cm x 23 cm
TIPO DE OBJETIVA DA CÂMARA CAMPO ANGULAR DISTÂNCIA PRINCIPAL
0
Normal 60 210 mm
0
Grande angular 90 152 mm
0
Super grande angular 120 88 mm

I.1.4 - Escala

Escala de uma fotografia aérea vertical é a relação entre uma distância medida na fotografia (df)
e sua correspondente no terreno (Dt). Pode ser definida, também, como a relação entre a distância
principal (c) e a altura da voo(Z ).

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FIGURA I.5 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ESCALA DA FOTOGRAFIA AÉREA

p df

c
O

ZM
ZQ ZA Z
Za Zb
B
Zo A
M Nível médio do terreno
Q R B Nível médio do terreno
Dt HM B
HQ HB Nível
Níveldo
domar
mar

Dt = distância medida no terreno;


df = distância medida na foto;
Z0 = altura do vôo em relação ao nível do mar = altura absoluta de vôo;
ZA = altura de vôo em relação ao nível mais elevado do terreno (A);
ZB = altura de vôo em relação ao nível mais baixo do terreno (B);
ZM = altura de vôo em relação à elevação média do terreno (M);
ZQ = altura de vôo em relação a um ponto qualquer do terreno (Q);
HA = elevação do nível mais alto terreno em relação ao nível do mar;
HB = elevação do nível mais baixo do terreno em relação ao nível do mar;
HM = elevação do nível médio do terreno em relação ao nível do mar;
HQ = elevação de um nível qualquer do terreno em relação ao nível do mar.

Considerando a figura anterior e aplicando a definição de escala fotográfica, tem-se:


1\ EA = dfA \ DtA = c \ ZA = c \ Z0 - HA (escala da fotografia para o nível mais elevado);
1\ EB = dfB \ DtB = c \ ZB = c \ Z0 - HB ( escala da fotografia para o nível mais baixo);
1\ EM = dfM \ DtM = c \ ZM = c \ Z0 - HM (escala da fotografia para o nível de elevação média);
1\ EQ = dfQ \ DtQ = c \ ZQ = c \ Z0 - HQ (escala da fotografia para um nível qualquer ).

Em terrenos planos, como a altura de vôo é constante, a escala da fotografia pode ser calculada
utilizando-se a seguinte equação: 1\E = df \ Dt = c \ Z0.

No caso de terrenos acidentados, a escala da fotografia corresponde à escala do nível de


elevação média, ou seja: 1\ EM = dfM \ DtM = c \ ZM = c \ Z0 - HM.

I.1.5 - Deformações geométricas

Denominam-se de deformações geométricas das fotografias aéreas os deslocamentos e


imperfeições que afetam, quantitativamente, a qualidade da imagem fotográfica, e que influem nas
medições a serem realizadas. Tais deformações são classificadas em: deslocamento devido ao relevo,
deslocamento devido à inclinação da fotografia e distorção devido a imperfeições da lente da câmara
fotográfica. Levando-se em consideração que para a prática da fotointerpretação geológica, utilizam-se
fotografias aéreas verticais (teoricamente) e que a deformação mais comum encontrada nelas está

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relacionada ao deslocamento devido ao relevo, no presente trabalho apenas será abordado este tipo de
deformação. Convém salientar que, como veremos mais adiante, a correção do deslocamento devido ao
relevo tem papel fundamental na determinação da espessura e mergulho de camadas.

FIGURA I.6 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO DESLOCAMENTO DEVIDO AO RELEVO

r
n=p a 1 a 2

r
c
O

ZR
N=P
A
H
A
2 A
1 R Nível de referência
R HA
R HR

Nível do mar

∆r = a1a2 = r. ∆H \ ZR = r . (HA - HR) = deslocamento devido ao relevo


HA = altitude do ponto “A” em relação ao nível do mar
HR = altitude do nível de referência
∆H = HA - HR = diferença de altitude entre o ponto “A”e o nível de referência
ZR = Altura de vôo em relação ao nível de referência
A = posição do ponto “A” sobre o terreno
A1 A2 = posição do ponto “A” sobre o nível de referência
R = ponto sobre o nível de referência em relação ao nível do mar
∆R= A1 A2
a1 = imagem na fotografia do ponto A1
a2 = imagem na fotografia do ponto A2

I.1.6 - Comparação entre fotografias aéreas e mapas

A fotografia aérea nada mais é que a imagem produzida pela projeção central do terreno, a partir
de um ponto fixo (ponto principal), denominado de ponto Nadir. Os deslocamentos devido ao relevo e à
inclinação da fotografia, e as distorções produzidas pela lente da câmara fotográfica, produzem
deformações das imagens fotográficas de todos os pontos do terreno, que crescem, radialmente, a partir
do ponto nadir ou ponto principal. Entretanto, considerando-se que o terreno fotografado é perfeitamente
horizontal, e que a lente da câmara fotográfica não apresenta distorções, as deformações deixariam de
existir e, conseqüentemente, a fotografia aérea representaria a imagem do terreno projetado
ortogonalmente , assemelhando-se, portanto, a um mapa plani-altimétrico. Como as condições descritas
são hipotéticas, na prática observa-se que fotografias aéreas e mapas diferem em vários aspectos,
conforme pode ser visto no quadro seguinte:

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QUADRO I.4 - COMPARAÇÃO ENTRE FOTOGRAFIAS AÉREAS E MAPAS
MAPA FOTOGRAFIA AÉREA
Projeção ortogonal Projeção central
Escala uniforme Escala variável em função da topografia do
terreno e da inclinação da fotografia
Representação geométrica incorreta em função
Representação geométrica correta dos deslocamentos devido ao relevo e à
inclinação da fotografia e à distorção da lente da
câmara
Os elementos aparecem deslocados de suas Os objetos aparecem deslocados e desfigurados
posições reais e com tamanhos diferentes, devido às deformações geométricas
devido ao processo de generalização,
exageração e simbolização
É uma representação abstrata do terreno, na É uma representação real do terreno não
qual é necessária uma legenda havendo necessidade de legenda
Modificado de Routin (1984)

I .2 - APLICAÇÕES DA FOTOGRAFIA AÉREA

O uso de fotografias aéreas em quaisquer tipos de levantamentos (geológico, pedológico,


topográfico, florestal, urbanístico, etc), é viável devido a quatro fatores básicos:

Fornece uma visão sinóptica do terreno;


Permite a observação tridimensional;
Permite a visualização de imagens não detectadas pelo olho humano;
Tratando-se de uma imagem permanente do terreno, pode ser utilizada sempre que houver
necessidade..

Apesar de apresentar algumas limitações (distorções, qualidade do filme e da revelação,


influência do meio ambiente e da atividade humana), a fotografia aérea é largamente utilizada, tendo em
vista que:

Constitui um registro permanente do terreno;


Permite uma observação regional , rápida e a baixo custo, da área a ser estudada;
Apresenta exagerações verticais, permitindo uma melhor análise do relevo e da drenagem;
Permite a observação de áreas inacessíveis;
Permite planejar o trabalho de campo;
Permite analisar os processos dinâmicos a que foram, ou estão, submetidas às áreas levantadas
(erosão, desmatamento, assoreamento, etc.), através do estudo comparativo entre fotografias
tomadas em épocas diferentes (resolução temporal).

Dentre as aplicações da fotografia aérea, destacam-se a Fotogrametria e a Fotointerpretação,


que podem ser empregadas juntas ou separadas, dependendo, é evidente, dos objetivos a que se propõe
o trabalho.

I.2.1 - Fotogrametria

A Fotogrametria é definida como a ciência ou a arte de realizar medições com auxílio de


fotografias aéreas objetivando determinar características métricas e geométricas (tamanho, forma e
posição) dos objetos fotografados no terreno.

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A utilização de fotografias aéreas nos levantamentos topográficos e mapeamentos regionais é de
fundamental importância, pois as imagens obtidas, além de refletirem todas as características do terreno,
permitem a visualização tridimensional do mesmo. Entretanto, às deformações que as mesmas
apresentam (deslocamento devido ao relevo, deslocamento devido a inclinação da fotografia, distorções,
etc.), inviabilizam sua aplicação em estudos de precisão. Assim torna-se necessário conhecer
exatamente as deformações e, com auxílio de instrumentos e métodos especiais, eliminá-las ou corrigi-
las. Efetuadas todas as correções, a imagem fotográfica transforma-se numa carta imagem ou mapa
imagem, possibilitando a sua utilização em tais estudos, sendo este, portanto, um dos principais
objetivos da Fotogrametria.

I.2.2 - Fotointerpretação

Análise qualitativa da fotografia aérea, visando identificar os elementos por reconhecimento ou


dedução e interpretar seu significado.

• Fases da Fotointerpretação
• Fotoleitura: identificação dos elementos fotografados. Ex: identificação de rios, estradas, construções,
formas de relevo, etc.
• Fotoanálise: identificação e análise de um conjunto de elementos de mesmo significado. Ex: padrão da
rede de drenagem, padrão das formas de relevo, lineações estruturais, litologia, etc.

II. - FOTOINTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA

Quando a análise de fotos aéreas é dirigida visando identificação e interpretação de


características e fenômenos geológicos, recebe a denominação de Interpretação Fotogeológica,
Fotogeologia ou Fotointerpretação Geológica.

O processo básico consiste na extração, seleção e classificação dos dados geológicos que,
seguidas de uma análise lógica, identifica, mede e interpreta o significado dos terrenos fotografados.

Desta forma, para que a aplicação do método de interpretação de fotografias aéreas e de outras
imagens de sensores remotos (RADAR, LANDSAT, SPOT, etc.) em estudos geológicos tenha pleno
êxito, é necessário que o fotointérprete preencha os seguintes requisitos:

• Conhecimento e experiência na área da ciência geológica;

• Conhecimento dos fundamentos da fotografia aérea e outras imagens de sensores remotos;


• Conhecimento e experiência nas técnicas de fotointerpretação.

O processo geral de interpretação fotogeológica não se resume apenas na interpretação das fotos
aéreas, mas requer uma metodologia de trabalho, na qual podem ser individualizadas as seguintes
etapas:

• Compilação e avaliação das informações geológicas sobre a área a ser fotointerpretada Neste
contexto devem ser levadas em consideração as informações sobre os aspectos geomorfológicos
e pedológicos, além das informações sobre vegetação e hidrografia, principalmente em áreas
onde o acervo de dados geológicos é raro ou inexistente;

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• Interpretação bi-dimensional de imagens de satélites ou foto-mosáicos, através da qual o
fotointérprete obtém uma visão regional da área, permitindo-lhe, via de regra, a identificação das
grandes feições estruturais e litológicas da área a ser fotointerpretada;

• Interpretação tri-dimensional, com auxílio do estereoscópio de espelho (preferencialmente) ou de


bolso, das fotografias aéreas;

• Elaboração do Mapa Fotogeológico Preliminar;

• Planejamento dos trabalhos de campo, no qual serão definidas as áreas a serem estudadas.
Nesta etapa serão definidas as seções geológicas a serem realizadas, bem como serão
individualizadas as áreas com interpretação duvidosa;

• Estudos de campo segundo o plano elaborado;

• Reinterpretação das fotografias aéreas com base nos dados obtidos no campo;

• Elaboração do Mapa Fotogeológico Final;

• Confecção do Relatório Final , dando ênfase à descrição das unidades fotogeológicas


(litológicas, estruturais e geomorfológicas) individualizadas.

II.1 - ELEMENTOS BÁSICOS DA FOTOINTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA

II.1.1 - Drenagem: inclui todo sistema natural produzido pelo escoamento, superficial ou subterrâneo de
águas. O sistema de drenagem é determinado, basicamente, pelo clima, relevo, vegetação e pelas
características do terreno (propriedades do solo, litologia e estruturas geológicas). Trata-se de um dos
mais importantes elementos de identificação, pois reflete não só as características das rochas ou dos
solos drenados, como também o controle exercido pela estrutura geológica. Assim, por exemplo, uma
maior ou menor porosidade e/ou permeabilidade da rocha implica, respectivamente, numa menor ou
maior densidade de drenagem. Portanto, a análise detalhada do sistema de drenagem permite
diagnosticar a presença de determinados tipos de litologias, mudanças litológicas e estruturas geológicas.

QUADRO II.1 - PRINCIPAIS SISTEMAS DE DRENAGEM

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SUPERFICIAL OU EXTERNO
INTERNO
EROSIONAL OU DESTRUTIVO DEPOSICIONAL OU CONSTRUTIVO

C / C ON TR OLE ESTRUTURAL

Dendrítico Parreira ou treliça Meândrico Sink-hole

Radial Retangular Anastomosado Poços de infiltração

Paralelo Anular Leque aluvial

FIGURA II.1 – FOTO ANÁLISE - PADRÕES DE DRENAGEM

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2
1
2

2
1

3
2

3
3
3 2

800m 400 0 400 800m

1 Dendrítico de alta densidade

2 Dendrítico de média a baixa densidade

3 Raro ou ausente

II.1.2 -Relevo: As formas de relevo, resultantes de processos endogenéticos (tectonismo, extrusão,


intrusão) e exogenéticos (desnudação, erosão de rochas e solos, transporte e deposição de sedimentos),
estão diretamente relacionadas ao clima, às características das rochas (resistência à erosão,
permeabilidade, porosidade, etc.) e às estruturas geológicas. O estabelecimento de um padrão de relevo
para uma determinada unidade fotogeológica, portanto, é um tanto impreciso, pois, num clima seco ou
numa área afetada tectonicamente a forma de relevo desenvolvida por esta unidade será diferente
daquela desenvolvida num clima úmido ou numa área tectonicamente estável. Desta forma, cabe ao
fotointérprete estabelecer, para a região estudada, a relação entre os padrões de relevo e as unidades
fotogeológicas.

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QUADRO II.2 - PRINCIPAIS PADRÕES DE GEOFORMAS
LITOLOGIA GEOFORMA
Atectônica Tectônica
horst, graben, blocos
Sedimentar Consolidada escarpa de erosão, mesa, cuesta, escalonados, escarpa de
hogback, vale plano, vale em V, vale em falha, sinforme, antiforme
U, etc.
dunas, planície aluvial, leque aluvial,
Inconsolidada terraço fluvial, depósito de talus, vale
aluvial
Intrusiva dique, domo
Vulcânica derrame, pseudo-terraço, cratera, cone
Ígnea Extrusiva vulcânico, canal de escoamento
Plutônica domo, batólito, stock, inselberg, dique
Metamórfica colina, crista assimétrica, crista simétrica, sinforme, antiforme, escarpa
vale em V de falha

FIGURA II.2 – FOTO ANÁLISE - PADRÕES DE RELÊVO

800 400 0 400 800

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II.1.3 - Vegetação: considerando-se que o desenvolvimento da vegetação está intimamente associado ao
clima, a correlação entre um padrão de vegetação e a unidade fotogeológica, sobre a qual ela
desenvolve-se, só é valida quando se analisa uma região isoladamente. É de se esperar, portanto, que
em regiões sujeitas a processos climáticos distintos, em um mesmo tipo litológico pode desenvolver-se
tipos diferentes de vegetação. O fotointérprete, ao estudar uma determinada região, deve ficar atento
para as variações nos padrões de vegetação, pois elas podem significar, também, variações litológicas.
Alinhamentos de vegetação podem indicar a presença de estruturas, tais como falhas, fraturas, diáclases,
foliações, etc.

II.1.4 - Tonalidade ou Tom Fotográfico: corresponde à intensidade da cor cinza no intervalo entre o
branco e o negro. Teoricamente podem ser diferenciadas mais de 200 tonalidades cinza, entretanto na
prática somente são reconhecidos 5 a 10 tons. A importância deste elemento diagnóstico não está
relacionada à tonalidade cinza propriamente dita, mas aos contrastes de tons observados, pois os
mesmos indicam a resposta diferencial do terreno à refletividade das ondas eletromagnéticas. O tom
fotográfico é determinado por fatores inerentes ao material fotografado, ao processo fotográfico (filme
utilizado, revelação, etc.), ao meio ambiente e, também, à atividade humana. Desta forma, é válido
afirmar que os tons fotográficos estritamente definidos não estão associados com exclusividade a
determinados tipos litológicos ou feições estruturais. Deve-se salientar que o contraste de tons depende
diretamente dos efeitos atmosféricos, pois a névoa, as partículas finas de pó e a umidade atmosférica
provocam a difusão da luz refletida, acarretando, por conseguinte, uma diminuição dos contrastes de
tons observados na fotografia e provocando um maior brilho do objeto fotografado.

II.1.5 - Cor: as cores observada nas fotografias em branco e preto refletem indiretamente a cor das
rochas através das diferenças de tons cinza. Obviamente, rochas com colorações claras e escuras
determinarão, respectivamente, tonalidades claras e escuras nas fotos aéreas, pois os contrastes de
refletividade podem estar diretamente relacionados às características químicas e mineralógicas das
rochas. Assim, as rochas básicas e ultrabásicas ricas em minerais ferromagnesianos (escuros) refletirão
tonalidades escuras, enquanto que as rochas ácidas com pouco ou nenhum daqueles minerais, refletirão
tonalidades claras

II.1.6 - Textura: Segundo Cristancho (op. cit.), Colwell (l952) define a textura fotográfica como “a
freqüência de mudança de tom dentro da imagem” e está diretamente relacionada à escala da fotografia.
Assim, uma textura homogênea definida em uma fotografia pode ser considerada heterogênea em outra
de escala diferente. A textura resulta da combinação dos elementos básicos de fotointerpretação, tais
como o tom, o relevo, a vegetação e as características de drenagem. São reconhecidas texturas
homogêneas ou heterogêneas, ou, ainda texturas finas, grossas, rugosas, bandadas, mosqueadas,
granular, etc.

II.1.7 - Padrão: trata-se do arranjo especial de determinados elementos de identificação. Portanto, numa
fotoanálise, podem ser estabelecidos padrões de drenagem, relevo, vegetação, tonalidade, cor, etc., dos
quais o de maior importância é o padrão de drenagem (Fig. II.1), tendo em vista que suas características
permitem ao fototointérprete diferenciar litologias e identificar estruturas geológicas dentro de um limite
razoável de confiabilidade
.
II.1.8 - Outros elementos: a forma, o tamanho e as sombras dos objetos fotografados podem ser
considerados, também, como elementos de interpretação.

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II. 2 - CRITÉRIOS DE RECONHECIMENTO DAS UNIDADES FOTOGEOLÓGICAS

II.2.1 - Unidades Litológicas

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II.2.2 - Feições estruturais

Num estudo de caráter regional, o exame cuidadoso das fotos aéreas pode fornecer ao
fotointérprete uma quantidade de informações sobre as estruturas, que, sem sombras de dúvidas, será bem
maior do que aquela obtida diretamente no terreno. Este comportamento deve-se ao fato de que o exame
estereoscópico propicia uma visão bem mais ampla da área estudada do que aquela obtida por uma série
de observações no campo. Além disso, em áreas onde, devido ao clima, a alteração das rochas e a
vegetação mascaram qualquer expressão superficial do acamamento, da foliação ou de outras
características, o exame do estereopar pode permitir a determinação, bem próxima da realidade, das
atitudes das rochas. Outra vantagem das fotografias aéreas está relacionada ao exagero vertical do modelo
estereoscópico, pois, devido a ele, os mergulhos de baixos ângulos (em torno de 2o a 5o), difíceis de serem
percebidos no terreno, podem ser perfeitamente identificados nas aerofotos.

• Direção e mergulho da camada e/ou da foliação


A direção regional do acamamento ou do traço da foliação é, freqüentemente, reconhecida por
uma série de cristas, colinas, sulcos de drenagem ou alinhamentos de vegetação alongados em uma mesma
direção.

O uso das aéreofotos para a determinação dos mergulhos, melhor se aplica para os terrenos
sedimentares onde se desenvolvem formas de relevo características, tais como escarpas, mesas,
cuestas, hog backs, etc.

Em áreas do embasamento cristalino pré-cambriano, especialmente no caso das rochas


metamórficas, os mergulhos podem ser definidos através da assimetria das cristas e/ou da drenagem. Os
lados menos íngremes das cristas e os riachos mais longos, em geral, indicam o sentido do mergulho,
entretanto, quando os ângulos de mergulho assumem valores muito altos pode ocorrer o inverso.

As camadas horizontais ou sub-horizontais são facilmente perceptíveis quando o relevo


modelado apresenta-se sob a forma de “mesa”. Neste caso a alternância de camadas mais e menos
resistentes a erosão, mostra diferentes comportamentos quanto á inclinação das vertentes. As camadas
mais resistentes (clásticas média a grosseira) tendem a formar escarpas verticais ou muito íngremes,
enquanto as menos resistentes (clásticas finas) mostram ângulos de inclinação menor. Em geral, estas
mudanças no comportamento no declive entre as duas camadas acompanham o contorno topográfico ou
as curvas de nível

Nas camadas inclinadas, o sentido do mergulho está diretamente relacionado ao comportamento


do curso principal de drenagem:

a) Quando a drenagem é perpendicular à direção das camadas, o sentido do mergulho é paralelo


ao sentido do rio principal.
b) Quando a drenagem principal é paralela à direção das camadas, o sentido do mergulho é
perpendicular ao sentido do rio principal.

• Dobras

Ao contrário das observações feitas diretamente no terreno, as fotografias aéreas, por


proporcionarem uma visão global da área investigada, têm a vantagem de mostrar os dobramentos em
toda sua plenitude. Quase sempre, tais dobramentos, mostram aspectos fotográficos inconfundíveis, nos
quais, os arranjos estruturais das camadas são bem evidentes. Em áreas elevadas, os riachos principais,
na grande maioria das vezes, curvam-se ao redor do nariz da dobra. Neste caso, analisando-se o
comportamento das cristas e/ou colinas assimétricas é possível determinar qual o tipo de dobra. Em
áreas de relevo suave ou onde as rochas estão mascaradas por uma vegetação densa ou por um solo
espesso, o padrão de drenagem também reflete a existência de dobramentos, entretanto a determinação
do sentido do mergulho torna-se bem mais difícil.

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Quando se necessita fazer uma análise regional sobre os aspectos estruturais de uma determinada área,
é aconselhável utilizar fotografias de escala grande (em geral, 1:70.000), pois nelas os padrões ou
anomalias de drenagem, de vegetação e de relevo são melhores observados.

• Falhas, fraturas, juntas e diáclases

Tendo em vista que a expressão topográfica do traço de falha é caracterizada por linhas retas ou
ligeiramente curvas, a interpretação de falhamentos e fraturamentos a partir do estudo de aerofotos é
aparentemente simples e prende-se essencialmente à definição dos grandes alinhamentos de drenagem,
relevo e vegetação. Na prática, no entanto, observa-se que muitos dos alinhamentos de drenagem não
têm nenhuma relação com fenômenos tectônicos, mas sim que estão associados às características
inerentes a determinados tipos litológicos, tais como, estratificação, xistosidade, foliação, etc. Assim, as
mudanças bruscas nos cursos dos rios, a linearidade da drenagem e da vegetação, e o contato retilíneo
entre zonas de diferentes tonalidades e/ou textura, não necessariamente indicam a existência de
falhamentos. Cabe, portanto, ao fotointérprete investigar outros detalhes que possam indicar-lhe, com
relativa segurança, a presença de uma falha. Dentro deste contexto podem ser destacados: alinhamentos
de cascatas e corredeiras, escarpas retilíneas, deslocamentos e truncamentos de cristas e interrupções
bruscas, em linhas retas ou ligeiramente curvas, de cristas e vales.. Outras evidências de falhamentos,
fraturas, diáclases e juntas são os segmentos retilíneos de drenagem dispostos obliquamente em relação
à estrutura regional.

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FIGURA II.3– FOTOANÁLISE - PADRÕES ESTRUTURAIS

FOTO:1493 N
VÔO: LS-11
ESCALA: 1:40.00
REGIÃO: EQUADOR-RN
QUADRÍCULA: 1114

EQUADOR

800 400 0 400 800


Falh a

Falha inferida e/ou fratura

Foliação

Mergulho fotogeológico

Antiforme inferido

Sinforme inferido

Dique

A associação entre as figuras II.1, II.2, II.3 e o quadro.II.3 leva à elaboração do Mapa
Fotogeológico (Fig.II.4)

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FIGURA II.4 – MAPA FOTOGEOLÓGICO

N
FOTO:1493
VÔO: LS-11
ESCALA: 1:40.00
REGIÃO: EQUADOR-RN
QUADRÍCULA: 1114

+ +
+

+
+

800 400 0 400 800

Cobertura areno-argilosa Contato litológico Anticlinal inferido


Arenito Falha Sinclinal inferido
Pegmatito Falha inferida e/ou fratura Escarpa
Xisto Foliação,xistosidade Crista assimétrica
Quartzito
+ Camada horizontal Cidade
Gnaisse e migmatito Mergulho da camada

III - OUTRAS APLICAÇÕES DA FOTOINTERPRETAÇÃO

O emprego de fotografias aéreas como uma técnica auxiliar, não é um privilégio apenas daqueles
que desenvolvem seus trabalhos no campo da Geologia (mapeamento geológico e pesquisa
mineral) pois é imprescindível, também, na pesquisa e levantamento de outros recursos naturais,
no planejamento de obras de engenharia, nas pesquisas hidrogeológicas e hidrológicas e no
estudo do meio ambiente. Dentre as principais atividades técnicas que utilizam fotografias aéreas
no desenvolvimento de suas pesquisas podem ser citadas:

III.1 - HIDROGEOLOGIA: A análise detalhada dos terrenos sedimentares,através das fotos


aéreas, fornece ao Hidrogeólogo informações, mais ou menos precisa, sobre a permeabilidade e
porosidade das rochas, permitindo-lhe tirar algumas conclusões sobre a potencialidade das
mesmas como reservatório de água. Isto, de certa forma, facilita a locação da sondagem para
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captação da água em sub-superfície. Por outro lado, nas áreas de domínio do embasamento pré-
cambriano, como as rochas não apresentam porosidade nem permeabilidade, a infiltração das
águas superficiais que vão constituir o manancial subterrâneo, é feita através de falhas, fraturas e
diáclases (“riachos fenda”). Desta maneira, na escolha dos locais para a captação das águas
subterrâneas, torna-se imprescindível o estudo das fotografias aéreas visando à identificação das
feições mencionadas, haja vista que as mesmas podem indicar a presença de água em sub-
superfície.

III.2 - HIDROLOGIA: Dentre as muitas aplicações da fotointerpretação no campo da Hidrologia, o


traçado integral da rede de drenagem e a classificação dos cursos dos rios (permanentes ou
intermitentes) têm importância fundamental para o Hidrólogo, pois, tendo em mãos os dados
acima referidos, ele terá condições de selecionar os pontos onde deverão ser instaladas
estações hidrológicas, de delimitar as áreas inundáveis ou susceptíveis de inundação e de
identificar os locais onde, devido as características litológicas e estruturais, há perda d’água por
infiltração. A presença de exutórios naturais de água (fontes), também é ressaltada nas fotos
aéreas. Para lograr a identificação de fontes é necessário um exame detalhado da zona de
contato entre rochas permeáveis e impermeáveis (ex: contato arenito/folhelho, ou arenito/rocha
cristalina).

III.3 - ENGENHARIA: O reconhecimento das características das rochas e solos, dos aspectos
estruturais e das condições hidrogeológicas e hidrológicas da região, permitem ao Engenheiro
selecionar os locais mais favoráveis à construção de represa, de canais de irrigação, de túneis,
etc. O traçado de estradas (de ferro e de rodagem), de oleodutos, de adutoras, de linhas de alta
tensão e de outras obras de engenharia, é grandemente facilitado quando é feita uma
fotointerpretação prévia. Finalmente a identificação de jazidas de materiais de construção (areia,
argila, pedra para brita) nos locais onde serão desenvolvidas as citadas obras, diminui
sensivelmente os custos das construções.

III. 4 - ECOLOGIA: Como não poderia deixar de ser, a preservação do meio ambiente constitui-
se, atualmente, numa das grandes preocupações não só dos órgãos. governamentais e de
entidades privadas, como também de toda humanidade. Em virtude disso, vem crescendo, cada
vez mais, o interesse pelo uso das imagens de sensores remotos (imagens de satélites e
fotografias aéreas), com o objetivo de identificar áreas degradadas ou em processo de
degradação. As extensões das áreas de vegetação nativa que, ao longo dos anos, foram
queimadas e/ou devastadas, são facilmente identificadas e calculadas quando é realizado um
estudo comparativo entre fotografias aéreas tomadas em épocas distintas. Através da
fotointerpretação, é possível identificar-se áreas onde, devido à intensa exploração pelo homem
(retirada de areia e argila, queima e derrubadas de árvores, etc.), houve um recrudescimento
dos processos de assoreamentos de barragens e rios e da erosão e meteorização das rochas e
solos.

III.5 - URBANISMO: Fotografias aéreas de grande escala (1:2.000 a 1:10.000) são largamente
utilizadas no cadastramento urbano ou no planejamento de expansão urbana.

PARTE PRÁTICA

I - VISÃO ESTEREOSCÓPICA:

I.1. - OBJETIVO
Orientar corretamente o estereopar sob os estereoscópios de espelho e de bolso.

I.2. - MATERIAL
Fotografias aéreas, estereoscópios de espelho e de bolso, porta minas de 0,5 mm ou
lápis, agulha, régua de 50 cm, borracha, fita adesiva.

I.3 - METODOLOGIA:
Para se obter uma visão estereoscópica perfeita torna-se necessário obedecer a uma
metodologia de trabalho, através da qual são estabelecidos procedimentos cuja seqüência lógica
pode ser assim descrita:
Por José Robinson Alcoforado Dantas
62
• Determinar os centros ou os pontos principais das fotografias do par estereoscópico. O ponto
principal ou centro da fotografia é determinado pela interseção das retas que unem as marcas
fiduciais

FIGURA I.1 - DETERMINAÇÃO DO CENTRO DA FOTOGRAFIA AÉREA

X X

Marcas fiduciais

X X

O = ponto principal = centro da foto

• Examinar o par de fotografias, marcar os pontos principais ou centro das fotos (Figura I.1.1) e
determinar a zona de recobrimento (zona comum às duas fotografias).
• Colocar uma fotografia sobre a outra fazendo coincidir, aproximadamente, a zona de
recobrimento. A posição dos pontos principais das duas fotografias indica a direção da linha de
vôo;
• Estando as fotografias superpostas, posicioná-las de tal maneira que a direção da linha de vôo
fique paralela à borda da mesa. Mantendo este posicionamento, orientá-las de modo que as
sombras caiam para o lado do observador; Este procedimento serve para definir as posições
das fotografias (esquerda e direita.);
• Marcar com um círculo (1 cm de diâmetro) a posição aproximada dos pontos principais nas
fotografias adjacentes., obtendo-se, portanto a direção provável da linha de vôo;
• Fixar a fotografia esquerda sobre a mesa, mantendo a linha de vôo paralela à borda da mesa;
• Colocar a fotografia direita sobre a mesa, tendo o cuidado de verificar se a linha de vôo se
encontra sobre o prolongamento da sua correspondente na fotografia esquerda. Deslocá-la na
direção da linha de vôo até que o ponto principal (P2 ) e seu homólogo (p2)transferido para a
fotografia esquerda se encontrem a uma distância igual à Base Instrumental do Estereoscópio
(em torno de 25 e 26 cm) e fixá-la sobre a mesa;
• Posicionar o estereoscópio de espelho sobre as fotografias de modo que a base ocular fique
paralela à linha de vôo (Figura I.2);
• Enfocar as binoculares e ajustá-las à sua distância interpupilar;
• Obtida a visão estereoscópica, transferir os pontos principais para as fotografias adjacentes e
em seguida traçar uma reta unindo, em cada fotografia, o ponto principal e o ponto transferido,
obtendo-se, assim , a direção correta da linha de vôo;
• Finalmente, satisfeitas as condições de orientação das fotografias com relação às linhas de vôo
e à distância entre o ponto principal e seu homólogo, as mesmas encontram-se corretamente
orientadas e prontas para serem interpretadas (Figura I.3).
Por José Robinson Alcoforado Dantas
63
FIGURA I.2 - VISÃO ESTEREOSCÓPICA: ESTEREOSCÓPIO DE ESPELHO

Ol ho
esp elh o esp elh o
le nte

Pris ma de e spel ho

B
p2 P2

FOTO 1 FOTO 2

B = base instrumenta l
b = ba se ocula r

FIGURA I.3 -ORIENTAÇÃO DO PAR ESTEREOSCÓPIO SOB O ESTEREOSCÓPIO DE ESPELHO

FOTO 1 FOTO 2

P1 P2 Linha de vôo
X X
p2 p1

P = Ponto pr incipal da foto


p = Ponto transferido de uma foto para outr a

Área de cober tura da F oto 2 = 60% (em média)

Área de cober tura da F oto 1 = 60% (em média)

Como no estereoscópio de bolso, o ângulo do campo visual é bem menor do aquele do


estereoscópio de espelho, a visão estereoscópica é obtida superpondo-se as duas fotografias.
Inicialmente superpõe-se uma foto sobre a outra e desloca-se a foto superior, no sentido de “Y”,
até obter-se a fusão de pontos homólogos . No caso das fotografias aéreas convencionais, de
dimensões 23 cm x 23 cm e recobrimento longitudinal em torno de 60%, uma pequena faixa
central só poderá ser observada estereoscopicamente levantando-se a margem de fotografia que
está superposta (Figura I.4).

Por José Robinson Alcoforado Dantas


64
FIGURA I.4 - VISÃO ESTEREOSCÓPICA: ESTEREOSCÓPIO DE BOLSO

II - APLICAÇÃO DA BARRA DE PARALAXE NA FOTOINTERPRETAÇÃO

II.1 - OBJETIVO

Medir as paralaxes das imagens fotográficas de pontos do terreno, objetivando corrigir o


deslocamento devido ao relevo; calcular diferenças de altitudes e\ou espessuras de camadas;
determinar mergulhos de camadas e construir perfis semigráficos topográficos ou geológicos.

II.2 - MATERIAL

Fotografias aéreas, estereoscópio de espelho, barra de paralaxe (FiguraII.1.1), porta minas de


0,5 mm ou lápis, agulha, régua de 50 cm, borracha, fita adesiva.

FIGURA II.1. - BARRA DE PARALAXE

Marcas de medição
+ +

Escala milimétrica Nônio

Parafuso para fixarr a marca de medida esquerda (B)


Parafuso micrométrico (A)
Parafuso para deslocar a marca de medida esquerda(C)

II.2.1 - AJUSTE DA BARRA DE PARALAXE

• Orientar corretamente o par estereoscópico


Com o parafuso micrométrico “A” deslocar a marca de medição direita até obter a leitura igual
ao valor médio da graduação da escala milimétrica (em geral = 20 mm);

Por José Robinson Alcoforado Dantas


65
• Afrouxar o parafuso “B” e deslocar a marca de medição, com auxílio do parafuso “C”, no
sentido conveniente, até que as que as duas marcas se encontrem a uma distância igual à
Base Instrumental do estereoscópio (P1 P2), cujo valor depende da marca do aparelho e varia
de 25 a 26 cm (Figura II.1.2)
• Apertar o parafuso “B”.

FIGURA II.2 - AJUSTE DA BARRA DE PARALAXE

+ P1 + P2

50 40 30
BASE INSTRUMENTAL

II.4 -OPERAÇÕES COM A BARRA DE PARALAXE NA INTERPRETAÇÃO FOTOGEOLÓGICA

II.4.1 – CÁLCULO DA ESPESSURA DAS CAMADAS

Na fotointerpretação geológica, a espessura de uma camada horizontal corresponde


à diferença de altitude entre seu topo e sua base (Figura II.1.6) e é calculada através da fórmula:

e = ∆Hab = ∆Pab (Zm \ Pb + ∆Pab)


a e b = equivalentes na foto aérea dos pontos A e B do Terreno

FIGURA II.3 - ESPESSURA DA CAMADA HORIZONTAL

A
B e
e1

Para camadas inclinadas o cálculo da espessura é um pouco mais complicado e requer, por
parte do foto interpréte, algum conhecimento de geometria e trigonometria, além da determinação
fotogramétrica das distâncias longitudinal e vertical entre o topo e a base da camada, e do seu
ângulo de mergulho (Figura II.1.7)

Da figura seguinte, podem ser determinadas as seguintes relações:


h = diferença de altitude entre o topo e a base da camada;
d = distância horizontal corrigida entre o topo e a base da camada;
Por José Robinson Alcoforado Dantas
66
a = ângulo de mergulho
e = espessura da camada = x + x’
x = h . cos a
x’= d . sen a
e = h . cos a + d . sen a

FIGURA II.4 - ESPESSURA DA CAMADA INCLINADA

a
x h
d
e ’
a
x

II.4.2 - DETERMINAÇÃO DA ESCALA MÉDIA DA FOTOGRAFIA AÉREA

OBJETIVO

Determinação da escala média da fotografia aérea utilizando-se:


o
1 Os dados do vôo fotogramétrico
o
2 Mapas topográficos de escala conhecida
o
3 Distâncias medidas no terreno

MATERIAL

Fotografia aéreas, estereoscópio de espelho, barra de paralaxe, mapa topográfico de


escala conhecida “Em”, régua de 50 cm, lápis ou porta mina de 0,5 mm e borracha.

METODOLOGIA

No caso de terrenos acidentados, a escala da fotografia corresponde à escala do nível de


elevação média, ou seja: 1\ EM = dfM \ DtM = c \ ZM = c \ Z0 - HM.

• Em função da distância principal e da altura de vôo

. Anotar o valor da distância principal “c” e da altura de vôo “Zo", contidos nos registros da
fotografia;
. Utilizando o mapa topográfico calcular a altura média do terreno = “Hm”
. Calcular a altura média de vôo = “Zm”;
Zm = Zo - Hm
. Calcular a escala média da fotografia
1 \ E = c \ Zm = c \ (Zo - Hm)

• Comparação com mapa de escala conhecida

. Selecionar nas fotografias as distâncias “ab” e “cd” correspondentes às distâncias “AB” e “CD”
sobre o nível de altitude média do mapa;
. Medir com a régua as distâncias selecionadas na fotografia aérea:
. Calcular as escala correspondentes para cada uma das distâncias;

Por José Robinson Alcoforado Dantas


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1 \ H = (ab \ AB) (1 \ Em) e 1 \ E2 = (cd \ CD) (1 \ Em)
. Calcular a escala média.
1 \ E = 1 \ (E1 + E2) \ 2

• Comparação entre as distâncias medidas no terreno e suas correspondentes na


fotografia

. Selecionar na fotografia as distâncias “ab” e “cd” correspondentes às distâncias “AB” e “CD”


medidas no terreno.
. Medir com a régua as distâncias selecionadas na fotografia aérea:
. Calcular as escalas correspondentes para cada uma das distâncias;
1 \ E1 = (a’b’ \ AB) (1 \ Em ) e 1 \ E2 = (c’d’ \ CD) (1 \ Em )
a’b’ = distancia ab após a correção do deslocamento devido ao relevo
c’d’ = distancia cd após a correção do deslocamento devido ao relevo
. Calcular a escala média.
1 \ E = 1 \ (E1 + E2) \ 2

FIGURA II.5 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ESCALA DA FOTOGRAFIA AÉREA

p df

c
O

ZM
ZQ ZA Z
Za Zb
B
Zo A
M Nível médio do terreno
Q R B Nível médio do terreno
Dt HM B
HQ HB Nível
Níveldo
domar
mar

Dt = distância medida no terreno;


df = distância medida na foto;
Z0 = altura do vôo em relação ao nível do mar = altura absoluta de vôo;
ZA = altura de vôo em relação ao nível mais elevado do terreno (A);
ZB = altura de vôo em relação ao nível mais baixo do terreno (B);
ZM = altura de vôo em relação à elevação média do terreno (M);
ZQ = altura de vôo em relação a um ponto qualquer do terreno (Q);
HA = elevação do nível mais alto terreno em relação ao nível do mar;
HB = elevação do nível mais baixo do terreno em relação ao nível do mar;
HM = elevação do nível médio do terreno em relação ao nível do mar;
HQ = elevação de um nível qualquer do terreno em relação ao nível do mar.

Considerando a figura anterior e aplicando a definição de escala fotográfica, tem-se:


1\ EA = dfA \ DtA = c \ ZA = c \ Z0 - HA (escala da fotografia para o nível mais elevado);
1\ EB = dfB \ DtB = c \ ZB = c \ Z0 - HB (escala da fotografia para o nível mais baixo);
1\ EM = dfM \ DtM = c \ ZM = c \ Z0 - HM (escala da fotografia para o nível de elevação
média);
1\ EQ = dfQ \ DtQ = c \ ZQ = c \ Z0 - HQ (escala da fotografia para um nível qualquer ).

Em terrenos planos, como a altura de vôo é constante, a escala da fotografia pode ser calculada
utilizando-se a seguinte equação: 1\E = df \ Dt = c \ Z0.

Por José Robinson Alcoforado Dantas


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No caso de terrenos acidentados, a escala da fotografia corresponde à escala do nível de
elevação média, ou seja: 1\ EM = dfM \ DtM = c \ ZM = c \ Z0 - HM.

BIBLIOGRAFIA

CONDORE, R.V. - Princípios de Fotointerpretação. Centro Panamericano de Aperfeiçoamento


para Pesquisa de Recursos Naturais. 1967

CRISTANCHO, P..A. - Princípios Básicos de Interpretacion de Fotografias Aéreos Aplicados a


Geologia. Centro Interamericano de Fotointerpretacion. Bogotá - Colômbia, 1984.

FORERO, J. A. M. - Ejercicios practicos de Fotogrametria Elemental. Centro Interamericano de


Fotointerpretacion (CIAF). Bogotá - Colômbia, 1984.

LAHEE, F.H. - Geologia Práctica. Ediciones Omega, S./A . Barcelona. 1962.

MILLER, V.C. & MILLER, C.F. - Photogeology. McGraw-Hill Book Company, INC. New York.
1961.

RAY, R.G. - Fotografias Aéreas na Interpretação e Mapeamento Geológico. Instituto Geográfico e


Geológico. São Paulo. 1963.

RICCI, M . & PETRI, S. - Princípios de Aerofotogrametria e Interpretação Fotogeológica.


Biblioteca Nacional. Cia Editora Nacional, São Paulo, 1965.

ROUTIN, D. D. - Introduccion a la Fotogrametria. Centro interamericano de Fotointerpretacion.


Bogotá - Colômbia, 1984

SMITH, H.T.U. - Aerial Photographs and Theirs Applications. Appleton-Century-Crofts, Inc. New
York. 1943.

Por José Robinson Alcoforado Dantas


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ANEXO 1 - PLANILHA ORIENTATIVA DA FOTOINTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA

UNIDADE FOTO-CARACTERÍSTICAS EXPRESSÃO TOPOGRAFICA PROPRIEDADES DAS ROCHAS


tonalidade textura drenagem relevo
rocha vegetaçã cultivo rocha vegetaçã tipo padrã densidad forma do plano ondulad resistênci acamamen atitud fratura contato
o o o e vale o a to e
A
B

UNIDADE COBERTURA CONCLUSÕES


material superficial vegetaçã cultivo ou outra atividade LITOLOGIAS E ESTRUTURAS VERIFICAÇÃO DE CAMPO
o humana PROVÁVEIS
A
B

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ANEXO 2 – GUIA PARA O PREENCHIMENTO DA PLANILHA ORIENTATIVA DA FOTOINTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA

Tonalidade Textura Drenagem Relevo


Cobertura
externa interna densidade forma do material vegetação cultivo
vale superficial
branca homogênea dendrítica sink-hole alta plano plano fino homogênea muito denso
cinza clara heterogênea retangular poço de média V Mesa médio heterogênea denso
infiltração
cinza média fina paralela baixa U escarpa grosso muito densa pouco
cinza escura média subparalela Cuesta espesso densa raro
negra grossa treliça Hog-back delgado pouco ausente
densa
Lisa anular Crista simétrica ausente rara
áspera radial Crista ausente
assimétrica
bandada meandrante Ondulado
anastomosa colinoso
da
leque aluvial

PROPRIEDADES DAS ROCHAS


Acamamento Atitude da Relação de contato CLASSIFICAÇÃO
camada Fraturamento
fino Horizontal grau tipo
médio Fraco fraco falha encoberto
grosso Médio médio fratura normal
maciço Forte forte diáclase gradacional
Subvertical junta brusco
vertical discordante
falhado

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