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PROCESSO CIVIL IV - Marcelo Zenkner


(mzenkner@mpes.gov.br)

12/02/08
Conteúdo
 Sentença
 Coisa julgada
 Teoria Geral dos Recursos
 Recursos em Espécie

Avaliação

1º Bimestre → somatório dos exercícios práticos (6 exercícios valendo 2,0 pontos cada,
totalizando o máximo de 10,0 pontos).

2ª Bimestre (peso 2) → Prova com 5 questões dissertativas-práticas, valendo 2 pontos cada. As


questões são mini-exercícios. A prova é de conhecimento aplicado. Será de toda matéria do
semestre. Data da prova: 17/06/08 – 21h.

Observações:

1) Os exercícios práticos serão agendados com uma semana de antecedência. No dia


marcado os alunos se dividirão em grupos de 5 componentes. Poderá ser utilizada qualquer
coisa como material de apoio. Única regra: não poderá haver comunicação entre os grupos.
Os grupos receberão o caso prático em uma única folha para fomentar o debate. O
desenvolvimento é uma peça jurídica. No dia do agendamento, o professor informará a
matéria que será abordada no exercício prático (sempre um conteúdo novo), bem como o
personagem jurídico que o grupo deverá representar. A peça tem que ser apresentada no
formato mínimo. Na aula da semana seguinte o professor trará o espelho de correção do
exercício, bem como um quadro de requisitos mínimos objetivos que deveriam constar na
peça.

2) Os alunos que apresentarem no início das aulas (durante aproximadamente 5 minutos)


algum tópico da aula que irá acontecer, após leitura prévia do conteúdo da aula, poderão
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ser pontuados de 0,2 a 0,5 pontos para cada apresentação, que serão somados à nota da
prova.

Bibliografia
Importante ter um manual com toda disciplina de Processo Civil. Sugestões:
 Alexandre Freitas Câmara
 Cassio Scarpinela Bueno
 Fredie Didier

18/02/08 – 08/08/08
Capítulo I – Introdução

1) RECAPITULAÇÃO
Trilogia do Direito Processual Civil:
 Processo
 Jurisdição
 Ação

O processo começa quando o autor protocola a petição inicial (art. 262, CPC).
Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso
oficial.

O processo é um instrumento de prestação da tutela jurisdicional diante de uma lide.

Jurisdição é o poder/dever/função do juiz de dizer o direito no caso concreto, visando a solução


da lide.

Lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.

Formas de composição da lide


A lide pode ser resolvida pela:

 Autotutela (uso da força física para dar solução à lide). A doutrina chama de vingança
privada. Exemplo de autotutela prevista em lei: defesa da posse. Se você utilizar a
autotutela, sem que esteja prevista em lei, será um exercício arbitrário das próprias
razões, que é um crime.
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 Auto-composição → busca da solução da lide de forma amigável, por meio de acordos,
conciliação. É a forma mais indicada para a resolução da lide no direito brasileiro. Dado o
prestígio da auto-composição, pode o juiz subverter as regras do Processo Civil em prol
do acordo. A transação se sobrepõe à sentença transitada em julgado (art. 475-L, VI,
CPC).

 Jurisdição (hetero-composição) → aparece de forma subsidiária ou substitutiva, porque só


será exigida se os litigantes não conseguirem resolver por si próprios a lide. A jurisdição é
uma atividade secundária do Estado, é uma atividade substitutiva à vontade das partes.

Ação é um direito de provocar a jurisdição, é um direito de exigir do Estado a prestação


jurisdicional. A ação deve ser contra o Estado e não contra o réu. A ação é considerada
proposta quando o Estado aparecer na relação jurídica processual, ou seja, quando o juiz
despacha ou quando distribui os processos (art. 263, CPC).
Art. 263. Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz,
ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. A propositura da ação, todavia,
só produz, quanto ao réu, os efeitos mencionados no art. 219 depois que for validamente
citado.

A relação processual se completa quando o réu for citado validamente.


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1.1) Fluxograma – Procedimento ordinário

Petição Inicial
(art. 282 e 283, CPC)
Emenda Indeferimento
(art. 264, CPC) (art. 267, CPC)
Deferimento
(art. 285-A, CPC)
Antecipação de tutela
(art. 273, CPC)
Citação Contestação

Reconvenção

Resposta do Réu Exceção

Impugnação ao
valor da causa

Impugnação ao pedido
de assistência Judiciária
Providências
preliminares
Julgamento conforme o
Despacho saneador estado do processo
Audiência Preliminar (art. 329 e 330, CPC)
Fase instrutória

A. I. J.

SENTENÇA

O processo se inicia com o protocolo da petição inicial (requisitos elencados nos art. 282 e 283,
CPC). Faz-se a juntada regular, vai ao fórum, recolhe as custas e protocola, vai para o cartório que
monta os autos, registra (autua) e envia os autos conclusos ao juiz.

A partir desse momento o juiz tem 3 caminhos:


1º) Se encontrar falha grave, incorrigível, de plano irá indeferir a petição inicial e proferir uma
sentença de extinção do processo sem resolução de mérito (art. 267, I, CPC, sem necessidade de
citação do réu).
2º) Se encontrar uma falha que pode ser sanável, corrigido, em homenagem ao principio do
aproveitamento dos atos processuais, vai intimar o advogado para que faça uma emenda à
petição inicial nos moldes do art. 284, CPC. Se o advogado deixar transcorrer o prazo de 10 dias
sem a devida correção, o processo será extinto sem resolução do mérito.
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3º) Petição Inicial apta a deflagrar o curso procedimental. Deferimento da petição inicial,
observando-se o disposto no art. 285-A, caput, CPC – possibilidade de improcedência prima facie.
De forma superveniente pode surgir uma falha e, sendo questão de ordem pública, não gera
preclusão para o juiz, podendo a qualquer tempo extinguir o processo, por meio de uma sentença.

Da mesma forma que de plano o juiz pode indeferir a petição inicial, ele pode julgar o processo de
plano no mérito, desde que a petição inicial esteja regular, ou seja, seja deferida.

A partir do deferimento da petição inicial, o juiz pode conceder uma antecipação de tutela estando
presentes os requisitos do art. 273.
Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte,( 1º.) antecipar, total ou parcialmente, os
efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca,(2º) se
convença da verossimilhança da alegação(3º.) e: (Redação dada pela Lei nº 8.952, de
13.12.1994) REQUISITOS ALTERNATIVOS:
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação( 4º.); ou (Incluído pela
Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório do réu( 5º.). (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do
seu convencimento. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do
provimento antecipado. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as
normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4 o e 5o, e 461-A. (Redação dada pela Lei nº 10.444,
de 7.5.2002)
§ 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo( 6º.), em
decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento.
(Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos
cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. (Incluído pela Lei nº 10.444, de
7.5.2002)
§ 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar,
poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em
caráter incidental do processo ajuizado. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

Em seguida vem a citação, que é uma convocação para que o réu integre a relação jurídica
processual. Há apenas um caso em que o réu pode recusar a citação e não integrar a relação
jurídica processual, a nomeação a autoria. A citação pode ser feita por: que pode ser feita por:
edital; carta AR; Mandado oficial de justiça; Hora certa.

Abre-se para o réu o prazo de resposta. O réu tem 5 mecanismos de defesa que podem ser
usados ao mesmo tempo: contestação, exceções, reconvenção, impugnação ao valor da causa,
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impugnação do pedido de assistência jurídica. A forma normal de defesa é a contestação (prazo
de 15 dias - art. 302 e 303 CPC).
Art. 302, CPC – Princípio da especificidade, da impugnação específica
Art. 303, CPC – Princípio da eventualidade

A reconvenção é um contra-ataque do réu em relação ao autor. No prazo da defesa ele formula


em seu favor uma defesa própria, em uma peça própria, separada, que deve ser protocolada
simultaneamente à contestação, concomitantemente (no mesmo dia). É uma ação do réu em face
do autor no mesmo processo, que será decidida junto. Uma de suas regras é que sua petição
deve observar as mesmas regras da petição inicial. E se o juiz indeferir a petição inicial da
reconvenção? Será sentença ou decisão interlocutória?

Outra forma de defesa é a exceção que tem como espécies a exceção de incompetência (15 dias),
impedimento (art. 485, II) e suspeição (15 dias a partir da ciência do fato). Cabendo exceção de
incompetência, é mais vantajoso apresentar esta em primeiro, pois suspenderá o prazo para a
apresentação da contestação. As exceções de impedimento e de suspeição são julgadas pelo
Tribunal, pois são contra o juiz. Ambas suspendem o processo. A exceção é autuada em
separado, mas fica apensado aos autos principais. A decisão do juiz que decide a exceção não
é sentença, mas sim uma decisão interlocutória.

A contestação e a reconvenção são juntadas nos mesmos autos do processo, os outros terão
autos próprios, vão ficar em apenso (abre outra pasta e amarra uma na outra) – não é um novo
processo, mas sim um incidente processual, ele proferirá decisão interlocutória também. A
impugnação valor da causa e pedido se assistência também são espécies de defesa, que também
são autuadas em autos em separado.

As providências preliminares são a última fase da fase postulatória (art. 326 e 327, CPC). O juiz
deve abrir vista ao autor pra réplica, se for o caso. Será caso de réplica:
1) Quando a contestação tiver defesa indireta de mérito, ou seja, o réu reconhece os fatos
articulados pelo autor, mas a esses atos opõe outros fatos novos impeditivos, modificativos ou
extintivos do direito do autor (prazo de 10 dias, art. 326, CPC).
2) Também será o caso de réplica quando a contestação contiver defesas processuais (art. 301,
CPC), prazo de 10 dias, conforme art. 327, CPC.
3) Outra possibilidade de réplica é quando a contestação vem acompanhada de documentos
(prazo de 5 dias – art. 398).
Art. 326. Se o réu, reconhecendo o fato em que se fundou a ação, outro Ihe opuser
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo de 10
(dez) dias, facultando-lhe o juiz a produção de prova documental.
Art. 327. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 301, o juiz mandará
ouvir o autor no prazo de 10 (dez) dias, permitindo-lhe a produção de prova documental.
Verificando a existência de irregularidades ou de nulidades sanáveis, o juiz mandará supri-
las, fixando à parte prazo nunca superior a 30 (trinta) dias.
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A defesa de mérito direta é a impugnação das alegações do autor, a indireta é a refutação dos
fatos e oposição de outros fatos novos, neste caso o juiz deve abrir possibilidade para o autor
replicar, devido ao contraditório. Também o ônus da prova nesse caso incumbirá ao réu. O art. 327
(preliminares) são defesas processuais que podem ser levantadas pelo réu. A dilatória dilata o
processo, mas não o extingue, a peremptória pode extinguir o processo e haverá a necessidade
de réplica, dentro das providencias preliminares.

Depois da réplica, o juiz irá intimar o Ministério Público para manifestação, se for caso de
intervenção (art. 82, CPC). Poderá ser agente, quando for autor ou réu da ação. Pode ser também
interveniente, custus iuris. Ex: ação onde um menino de 5 anos fora atropelado por um caminhão
de uma empresa – o MP autua em prol do incapaz.

Em seguida, o juiz poderá tomar três caminhos: julgar conforme o estado do processo, dar um
despacho saneador ou marcar audiência preliminar. O juiz marcará a audiência preliminar se
perceber a possibilidade de acordo, de conciliação.

1º) O juiz vai tentar julgar pelo estado do processo e verificar se o processo já está maduro para
receber uma sentença, conforme art. 329 e 330, CPC. Tanto no julgamento conforme o estado do
processo (art. 329), assim como no julgamento antecipado da lide (art. 330), não há necessidade
de dilação probatória.
Art. 329. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 267 e 269, II a V, o juiz
declarará extinto o processo.
O legislador definiu esses casos porque para todas essas sentenças não há necessidade de
dilação probatória.
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº
11.232, de 2005)
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a
causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento
válido e regular do processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a
legitimidade das partes e o interesse processual;
Vll - pela convenção de arbitragem; (Redação dada pela Lei nº 9.307, de 23.9.1996)
Vlll - quando o autor desistir da ação;
IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
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X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI - nos demais casos prescritos neste Código.
§ 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a
extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta
e oito) horas.
§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as
custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários
de advogado (art. 28).
§ 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não
proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a
não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas
custas de retardamento.
§ 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento
do réu, desistir da ação.

Art. 269. Haverá resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor;(Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
II - quando o réu reconhecer a procedência do pedido; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
III - quando as partes transigirem; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - quando o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
V - quando o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. (Redação dada pela Lei
nº 5.925, de 1º.10.1973)

Sentença de mérito própria, típica (art. 269, I). Único caso dentro do CPC que o juiz presta a tutela
jurisdicional e compõe a lide, nos demais casos a atividade é desempenhada pelo autor ou réu.

Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: (Redação dada
pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não
houver necessidade de produzir prova em audiência; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
II - quando ocorrer a revelia (art. 319). (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
OBS: os efeitos da revelia são relativos, se a prova documental não for
suficiente, mesmo sendo revel o juiz abrirá instrução.

2º) Se não for possível julgar o processo, e o juiz perceber que há possibilidade de acordo,
marcará audiência preliminar (art. 331).
Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes, e versar
a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará audiência preliminar, a
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realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as partes intimadas a comparecer,
podendo fazer-se representar por procurador ou preposto, com poderes para transigir.
(Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)
§ 1o Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença. (Incluído pela
Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 2o Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos
controvertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a
serem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário. (Incluído
pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
§ 3o Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da causa
evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o processo e
ordenar a produção da prova, nos termos do § 2 o. (Incluído pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002)

3º) Sanear o processo (limpar o processo de questões processuais que podem se apresentar
como embaraço para a análise do mérito).

Saneamento não é fase do procedimento ordinário, ele termina a fase postulatória e inicia a fase
instrutória, após a fixação dos pontos controvertidos da lide (as questões de embate entre
alegações do autor e contestação do réu). O saneamento pode ser feito numa audiência preliminar
ou em gabinete (despacho saneador). O juiz marcará a audiência preliminar se perceber a
possibilidade de acordo.
Obs.: Às vezes a petição inicial vem cheia de preliminares, principalmente quando o mérito for
difícil de analisar. Sanear o processo significa limpar o processo.

Em ambos os casos, o juiz vai resolver as questões preliminares, fixar pontos controvertidos da
lide, deferir ou indeferir as provas requeridas (separação da fase postulatória e instrutória).

Em seguida, inicia-se na seqüência a fase instrutória, onde serão analisadas provas periciais e
testemunhais. Há uma ordem para a instrução de provas. O Código traz uma ordem para o juiz ao
presidir essa audiência (art. 452, CPC) – cogente.
Art. 452. As provas serão produzidas na audiência nesta ordem:
I - o perito e os assistentes técnicos responderão aos quesitos de esclarecimentos,
requeridos no prazo e na forma do art. 435;
II - o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu;
III - finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.

1. Documentais → que estão fixadas ao processo na Petição Inicial e/ou na Contestação.


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2. Periciais → nomeação de peritos. Vindo o laudo aos autos, o juiz abrirá o contraditório para a
manifestação das partes. Se surgirem dúvidas, essas serão esclarecidas na audiência de
instrução e julgamento.
3. Orais → o oficial de justiça deverá informar às partes que estas deverão prestar depoimento
pessoal sob pena de confesso, se não informar estes não estarão obrigados. Os
depoimentos pessoais são feitos apenas pelo juiz. O advogado do réu pede o depoimento
pessoal do autor e questiona via petição inicial para o juiz fazer as perguntas durante a
audiência de instrução e julgamento e vice e versa. O juiz formula as perguntas primeiro,
depois o advogado e por último o Ministério Público, mas quem reformula as perguntas ao
réu será o próprio juiz.

Após coleta da prova oral o juiz converte os debates orais em apresentação de memoriais, e
posteriormente converte em sentença.

Observação
Teoria da asserção → para essa teoria as condições da ação são afirmadas na petição inicial.
Também chamada de teoria da prospectação. Nesse caso a sentença será de mérito.
Teoria da apresentação → para essa teoria as condições da ação são apresentadas na petição
inicial, devendo ser verificadas. Nesse caso a sentença será sem resolução do mérito.

19/02/08 – 12/08/08
1.2) Efetividade processual
A expressão efetividade processual é indevida, pois o que se busca é um processo eficaz
e não efetivo, o processo que atinge o fim a que se presta. Processo efetivo é aquele que
atinge o fim a que se presta, ou seja, é aquele que soluciona a lide (art. 269, I, CPC –
sentença de mérito própria).

Elementos da efetividade processual:


a) Simplicidade/informalidade→ art. 244, CPC (princípio da instrumentalidade das formas)
No sentido de que o processamento das ações deve ocorre com o mínimo de
rebuscamento possível, ou seja, sempre atento a finalidade e não a forma, sempre
observando o devido processo legal.
Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.

b) Especificidade da tutela → o bem jurídico reclamado pela parte tem que ser igual
àquele que ele teria caso não precisasse acionar a jurisdição. O processo tem que dar
a parte exatamente o que ela teria se não tivesse acionado ao Judiciário. Quando não
for possível, será o caso de conversão em perdas e danos.

c) Tempestividade (razoável duração do processo) → art. 5º, LXXVIII, CF/88


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Celeridade, a tutela jurisdicional deve ser prestada em menor tempo possível a fim de
se evitar os efeitos deletérios do chamado “dano marginal” (prejuízo decorrente da
demora do processo).
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 189. O juiz proferirá:


I - os despachos de expediente, no prazo de 2 (dois) dias;
II - as decisões, no prazo de 10 (dez) dias.

Conjugando o art. 5º, LXXVIII, CF com o art. 189, CPC, em caso de demora na decisão
do juiz, caberá Mandado de Segurança pela ausência da sentença.

d) Operosidade (operacionalidade do sistema) → o sistema processual deve ser dotado


de meios de tutela hábeis e adequados a defesa de direitos. O processo deve conter
meios que facilitem a busca para atingir o bem almejado. Ex: tutela antecipada (art.
273, CPC).

1.3) Ativismo judicial1


Princípio da cooperação → princípio de direito estrangeiro, mas que se aplica ao Direito
Processual brasileiro. Esse princípio orienta o magistrado a tomar uma posição de agente-
colaborador do processo, de participante ativo do contraditório, e não mais de um mero
fiscal de regras. Daí decorrem:
 O dever de esclarecimento → no sentido de que se por acaso houver uma exposição de
pedidos ou de fatos de forma truncada que gere dúvidas para o juiz, ele tem o dever de
esclarecimento, ou seja, antes de tomar uma providência, tem o dever de esclarecer.
 O dever de consultar → no sentido de submeter ao contraditório toda e qualquer
questão do processo, mesmo aquelas que podem ser conhecidas de ofício.
 O dever de prevenir → se o juiz percebe que o trâmite processual está sendo conduzido
de forma que gere nulidade, tem o dever de prevenir essa nulidade.

25/02/08 e 15/08/08
2) SENTENÇA
2.1) Conceito (art. 162, § 1º, CPC) – Lei 11.232/2005.
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
§ 1o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269
desta Lei.
Antes da reforma processual, a sentença era considerada o ato do juiz que põe termo ao
processo. Com isso, para cada tutela jurisdicional era necessário um tipo de processo
específico.

1
O ativismo judicial como elemento máximo da efetividade processual. Artigo de Fredie Didier, REPRO 127.
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Com a alteração dada pela Lei 11.232/2005 a sentença passou a ser o ato do juiz que
implica algumas das situações previstas nos art. 267 e 269, CPC. Assim, vigora
atualmente a era do sincretismo processual – é o processo que convive com todos os
tipos de tutelas jurisdicionais: cognitiva, executiva e cautelar. Por isso não se fala mais em
processo de execução, mas sim em fase de cumprimento da sentença, tudo dentro de um
mesmo processo sincrético.
Sent. Cond. Sent. T. J.
Fase postulatória Fase Fase Fase Fase de cumprimento
da sentença
instrutória decisória recursal
Petição inicial É feita no juízo de1º grau.
Contestação

Hoje, sentença teve seu conceito alterado de uma raiz topológica para uma raiz de
conteúdo, ou seja, a sentença não é o fim do processo. É possível, então, que num
mesmo processo haja mais de uma sentença (ex. art. 475-M. § 3º, CPC).

No entanto, o legislador resolveu esse problema conceitual, mas criou um novo problema
no âmbito dos recursos.

Ex: se numa ação o autor pede 100 mil reais e o réu, em sua contestação, reconhecer que
deve 70 mil, o juiz pode conceder por tutela antecipada a quantia incontroversa (70 mil),
por meio de uma sentença (art. 269, II, CPC) e não por meio de uma interlocutória 2. No
entanto, qual seria o recurso? Não poderia ser apelação, visto que o processo teria que
subir para o 2º grau, e como ficaria a controvérsia dos 30 mil? Para não tumultuar, a
contrário do art. 513, CPC, o recurso a ser utilizado é o agravo. Assim, a regra do art. 513,
CPC não é absoluta.
Art. 513. Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269).
Não é porque se trata das hipóteses dos arts. 267 e 269, que o recurso utilizado será
sempre apelação.

2.2) Características principais das sentenças


a) Clareza → no sentido de que a sentença deve ser inteligível ao jurisdicionado. A
sentença não pode gerar obscuridades. Não pode conter contradições. Não pode gerar
dúvida em relação aquele a quem se destina.
Essa característica é tão importante que o legislador criou um recurso específico para
afastar esses defeitos que a sentença pode conter. O recurso nesse caso é chamado de
embargos de declaração (ou embargos declaratórios – prazo de 5 dias), que poderia ser
usado sempre que a sentença tivesse algum desses defeitos: obscuridade, contradição

2
A contrário senso, decisão interlocutória é a decisão do juiz que não é sentença, ou seja, decisão interlocutória é
todo ato do juiz que não esteja previsto no art. 267 e no art. 269, CPC.
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ou dúvida. Após a reforma de 1994, ficou excluída possibilidade de embargos de
declaração em caso de dúvida (art. 535, CPC).
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; (Redação dada pela Lei
nº 8.950, de 13.12.1994)
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação dada pela
Lei nº 8.950, de 13.12.1994)

Com o advento da Lei 9.099/95 (art. 48), caberá também o recurso de embargos de
declaração em caso de dúvida. Assim, em caso de dúvida, só caberão embargos de
declaração nos Juizados Especiais Cíveis. Nos outros procedimentos do CPC, não cabe
mais.
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver
obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

b) Precisão → a sentença será precisa sempre que o juiz houver analisado/enfrentado


todos os pedidos formulados pelo autor na petição inicial, assim como todas as teses
defensivas contidas na contestação, sob pena de ser a sentença considerada omissa. A
precisão gravita em torno dos pedidos, sejam eles do autor, sejam eles do réu. O juiz,
analisando todos os pedidos do autor e do réu, estará dando a sua sentença a
característica da precisão. Se o juiz deixar faltar algum desses pedidos a sua sentença
será omissa. Nesse caso, caberá, também, o recurso de embargos de declaração. A não
ser que a rejeição de um pedido implique na rejeição dos outros ou o acolhimento de um
deles implique no acolhimento dos demais. Ex: pedido de rescisão contratual com perdas
e danos – ele só analisaria o 2º pedido se acolhesse o primeiro pedido. O mesmo ocorre
com ação de investigação de paternidade e pedido de alimentos.

Essas duas características (clareza e precisão) são características de toda e qualquer


sentença, para que haja regularidade. Toda e qualquer sentença tem que ser clara e
precisa. Já a próxima característica não é comum a todas as sentenças, ou seja, é possível
que uma sentença seja absolutamente regular, mas seja ilíquida.

c) Liquidez → é representada por dois elementos, a saber: a qualidade da obrigação e a


quantidade da obrigação. A liquidez está atrelada diretamente às tutelas jurisdicionais
condenatórias e executivas.
Condenação traz como ligação imediata uma obrigação. A sentença pode indicar que
essa obrigação esteja estabelecida em termos de qualidade (tipo de obrigação) e
quantidade ou só qualidade.
14

Se a sentença trouxer a qualidade da obrigação (pagar, fazer, não fazer, entregar coisa)
e, também a quantidade, a obrigação será líquida e a sentença, via de conseqüência,
será líquida. Se a sentença determinar apenas a qualidade, a sentença será ilíquida.
Como o juiz vai saber se tem que proferir uma sentença líquida ou ilíquida? Depende do
pedido formulado pelo autor. Se o pedido for:
 Certo e determinado → a sentença, obrigatoriamente, será líquida.
 Genérico → a sentença será ilíquida.

A regra do Código de Processo Civil (art. 286, caput) é que o pedido deve ser certo e
determinado. Em algumas situações o Código permite que o pedido seja genérico (art.
286, I, II e III).
Art. 286. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se não puder o autor individuar na petição os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do
fato ilícito;
III - quando a determinação do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado
pelo réu.

Se o pedido for certo e determinado e o juiz proferir uma sentença ilíquida, a sentença
será omissa, cabendo embargo de declaração.
Art. 459. Parágrafo único. Quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz
proferir sentença ilíquida.

O pedido pode ser genérico:


 Ação universal → aquela que guarda pertinência com uma universalidade de direitos.
Ex: ação de petição de herança – para peticionar o seu direito ao quinhão na herança,
a quantidade será determinada na liquidação da sentença, na fase do cumprimento da
sentença. A propriedade é adquirida pela transcrição, usucapião, sucessão, avulsão
(acessão).
 Quando não for possível determinar de modo definitivo as conseqüências do ato ilícito.
Ex: ação de indenização por danos causados em acidente automobilístico.
 Quando sua formulação depender de um ato que deva ser praticado pelo réu. Ex: nas
ações que tenham por objeto a entrega de coisa, especificada apenas pelo gênero e
pela quantidade, cabendo a escolha ao devedor, será o caso de sentença ilíquida, ou
seja, a escolha ficará para a liquidação da sentença, que é parte da fase do
cumprimento da sentença (Art. 461, a, CPC)
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

26/02/08
15
2.3) Principais efeitos da sentença
Tutela jurisdicional → proteção emanada do Poder Judiciário para as hipóteses de lesão e
ameaça a direitos.

Classificação quinária, adotada por Cássio Scarpinella Bueno, mas que não é aceita por
todos os doutrinadores. Barbosa Moreira não é adepto dessa classificação, é adepto da
classificação trinária (considera a tutela executiva “lato sensu” e a tutela mandamental
como espécies de tutela condenatória).

a) Tutela jurisdicional declaratória


É aquela que tem por objetivo simplesmente declarar a existência de um direito ou de
uma relação jurídica que vincule o autor ao réu. Exemplos: investigação de paternidade,
ação declaratória de reconhecimento de união estável pos mortem para fins
sucessórios, usucapião3, ação declaratória de inexistência de dívida. Não é necessária
fase de cumprimento de sentença, pois a declaração é suficiente para satisfação da
parte. Seus efeitos retroagem, ou seja, são efeitos ex-tunc.

b) Tutela jurisdicional (des)constitutiva


É aquela em que a decisão judicial tem por objetivo criar, modificar ou extinguir um
direito ou uma relação jurídica. Exemplos: separação judicial, divórcio, anulação de
casamento, rescisão de contrato, dissolução de união estável. Seus efeitos não
retroagem, ou seja, são efeitos ex-nunc.

c) Tutela jurisdicional condenatória


É aquela que, além de declarar a existência de um direito material lesado ou ameaçado
de lesão, também impõe uma obrigação de dar (pagar importância em dinheiro ou
entregar coisa), de fazer ou de não fazer, conferindo ao vencedor o direito de exigir a
satisfação desse direito no mesmo processo em que foi proferida a sentença pela
técnica da sub-rogação indireta (o juiz vai se sub-rogar na atividade que seria do
devedor para satisfazer o direito do credor, não no bem in natura, mas com a entrega
do equivalente em dinheiro – transformação do patrimônio do devedor em dinheiro
suficiente para pagamento do credor).

Técnicas que o juiz pode utilizar para solucionar a lide no processo de execução:
 Meios executivos sub-rogatórios → o Estado-juiz se sub-roga na atividade que
deveria ser desenvolvida pelo devedor para fins de dar quitação ao credor. Os meios
coercitivos sub-rogatórios podem ser:
 Diretos → quando é possível a satisfação do credor com a tutela específica da
obrigação, ou seja, o credor vai receber exatamente o bem da vida almejado.

3
Usucapião é uma forma de aquisição da propriedade. Cumprido o prazo e presente todos os requisitos a pessoa já é
proprietária. Dessa forma, a ação apenas vai declarar esse direito.
16
 Indiretos → quando não é possível a entrega do bem da vida almejado, a
satisfação do credor será com o equivalente em dinheiro (exemplo: hasta pública,
penhora)

 Meios executivos coercitivos → o juiz não se sub-roga na posição do devedor, mas


vai pressionar o devedor para que ele próprio cumpra a obrigação (exemplos: prisão
civil em caso de alimentos; astreintes – multa civil diária por atraso).

d) Tutela jurisdicional executiva “latu sensu”


Será verificada sempre que a sentença contiver comandos capazes de assegurar o
direito material daquele que saiu vitorioso da demanda pela técnica da sub-rogação
direta, ou seja, através da imposição de medidas que assegurem a apreensão ou
fruição direta de determinados bens. Exemplos: ação de despejo – o que o autor quer é
a desocupação do imóvel, se o réu não desocupar o juiz pode mandar sair; ação de
reintegração de posse; compromisso de compra e venda; ação de outorga compulsória
de escritura (art. 466-A, art. 466-B, art. 466-C). Ocorrerá sempre que for possível a
satisfação do direito do autor com o bem in natura.

e) Tutela jurisdicional mandamental


É aquela que tem por objetivo fazer com que a pessoa obrigada, a partir de meios
coercitivos ou impositivos, cumpra por si própria a providência específica determinada
pelo juiz na sentença sem a possibilidade de conversão dessa providência em
reparação pecuniária. Não é o Estado que vai cumprir a obrigação, será o próprio
devedor, coagido pelo Estado. Se o devedor não cumprir a determinação, incorrerá na
prática de crime de desobediência (art. 330, CP). Exemplos: mandado de segurança,
habeas corpus, ação de exibição de documento ou coisa (art. 362, CPC), habeas data.

2.4) Efeitos secundários ou acessórios da sentença*


São efeitos automáticos, independe de requerimento formulado pela parte a quem vai
beneficiar. Os efeitos secundários da sentença decorrem da lei e o juiz deve conhecer de
ofício. Se o juiz não der o que deveria, caberão embargos de declaração, pois a sentença
foi omissa.

 Extinção da sublocação em razão de sentença de procedência em ação de despejo (art.


15, Lei 8245/91 - Lei do inquilinato).
 Constituição de hipoteca judiciária em razão de sentença que condena o réu ao
pagamento de uma prestação em dinheiro ou coisa (art. 466, CPC) – providência
cautelar;
17
 Constituição de capital, cuja renda assegure o cumprimento de pensionamento
estabelecido em sentença condenatória (art. 475-Q, CPC) – ex: em caso de alimentos
civis;
 Incidência de correção monetária (art. 1º, Lei 6.899/81) e cômputo de juros moratórios
(art. 293, CPC);
 Condenação no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios – ônus
da sucumbência (art. 20, caput, CPC);
 Separação de corpos a partir da sentença que decreta a separação judicial (art. 7º,
caput, LDi). A separação judicial não pode ser concedida pela tutela antecipada, pois é
impossível a reversibilidade (art. 273, § 3º, CPC), mas é possível conceder
antecipadamente um dos efeitos da separação judicial, que é a separação de corpos.
 Fixação de alimentos em ação de investigação de paternidade (art. 7º da Lei nº
8.560/92).
Art. 7° Sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se
fixarão os alimentos provisionais ou definitivos do reconhecido que deles necessite.
 Perempção após abandono de causa por três vezes;

2.5) Estrutura das sentenças (art. 458, CPC)


Art. 458. São requisitos essenciais da sentença:
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu,
bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes Ihe submeterem.

Essa estrutura será exigida apenas para as sentenças de mérito típicas (art. 269, I, CPC,
quando o juiz acolhe ou rejeita do pedido do autor). Nos casos do art. 269, II, III, IV e V, e
do art. 267, CPC, as sentenças podem ser concisas ou compactadas, mas não significa que
não precisam ser fundamentadas (art. 93, IX, CF).
 Relatório → narrativa em torno dos atos processuais mais importantes que foram
praticados ao longo do procedimento.
 Fundamentação → iniciada a partir do final do relatório, o juiz aplica o direito ao caso
concreto e fundamenta com base na doutrina, na jurisprudência e nas provas.
 Conclusão → parte dispositiva da sentença, onde o juiz deixa explícito a conclusão a
que chegou, se acolhe ou rejeita a pretensão do autor.
A coisa julgada incide exatamente da parte conclusiva ou dispositiva da sentença. O
relatório e a fundamentação não fazem coisa julgada (art. 469, CPC).

Exercício prático nº 1 – Dia 04/03 (3ª feira) – Valor: 2,0 pontos (grupos de até 5 componentes)
Sentença e principalmente os princípios norteadores da sentença.
Encarar a figura de um advogado que irá responder aos termos de um recurso. Haverá uma sentença e o
advogado da parte que saiu derrotada irá oferecer um recurso (apontando supostos defeitos da sentença) e
nós como advogados da parte vencedora temos que defender a sentença (contra-razões de recurso).
18
03/03/08 e 27/08/08
2.6) Capítulos da sentença (Livro de Cândido Dinamarco)*
A sentença pode se dividir em partes, denominadas capítulos, na hipótese de existência
de mais de uma pretensão, ou também quando se analisam, na fundamentação e na
conclusão, separadamente as questões processuais das questões materiais.
Uma das importâncias da sentença que se organiza em capítulos é quanto ao aspecto das
nulidades processuais, pois se poderá aproveitar a parte da sentença que não estiver
contaminada por algum vício. Finalidade: Aproveitamento dos atos processuais →
princípio da instrumentalidade das formas → efetividade do processo.

Capítulos são unidades autônomas do decisório da sentença. Cada uma dessas unidades
expressa uma deliberação específica; cada uma dessas deliberações é distinta das
contidas nos demais capítulos e resulta da verificação de pressupostos próprios, que não
se confundem com os pressupostos das outras.

Obs.:
A tutela antecipada é concedida, via decisão interlocutória, a partir do deferimento da
inicial, desde que exista fundamento que a justifique. Pode até ser concedida no momento
da sentença. Nesse caso, segundo entendimento de Marinoni, deve o juiz conceder a
tutela antecipada por meio de decisão interlocutória e em outra decisão proferir a sentença
(a crítica a essa sentença é a formalidade, mas, é uma formalidade importante para
preservar o direito de recorrer). Mas, na prática, há jurisprudências que concedem a tutela
antecipada no bojo da própria sentença, em um capítulo da sentença (podendo ser
recorrida por meio de agravo – posição do TJ/ES). O professor entende que quando o juiz
concede a tutela antecipada no bojo da sentença estará julgando com error in procedendo,
podendo isto ser argüido por meio de correição parcial, além de poder apelar da sentença.

2.7) Princípios fundamentais da sentença4

A) Princípio da identidade física do juiz (Art. 132, CPC)


Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide (art. 269, I), salvo
se estiver convocado (ocupando vaga para desembargador), licenciado (doutorado no
exterior), afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os
autos ao seu sucessor.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender
necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.
Significa que o juiz que concluiu a audiência de Instrução e Julgamento deverá ser aquele
que irá proferir a sentença de mérito própria (art. 269, I, CPC), ou seja, o juiz que presidiu
a audiência de instrução e julgamento, que colheu as provas orais (presença física do juiz
na coleta da prova oral), é o juiz mais capaz de enfrentar o mérito.

4
Ver livro: Princípios do processo civil. PORTANOVA, Rui. Porto Alegre: Editora Livraria do Advogado.
19
Exceções: convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou
aposentado. O novo juiz que for proferir a sentença, caso tenha alguma dúvida, poderá
mandar repetir as provas que achar necessárias.
Obs.: O art. 132 não fala de remoção (ocorre horizontalmente, é a mudança de uma vara
para outra na mesma entrância), mas apenas de promoção (ocorre verticalmente, é a
mudança de uma entrância para outra entrância). Nos casos de remoção, o juiz removido
continuará responsável pelo processo, ou seja, deve o juiz voltar para julgar o mérito do
processo (princípio da identidade física do juiz).

A violação desse princípio é caso de nulidade absoluta. Mas esse princípio é


sistematicamente violado. O STJ tem mitigado a aplicação desse princípio, considerando
que este só traz conseqüências práticas diretas se, aquele que alegar seu
descumprimento, demonstrar efetivo prejuízo sofrido com a sentença emitida. O professor
discorda dessa posição, pois entende que o prejuízo é ínsito, visto que o juiz que proferiu
a sentença não esteve presente na colheita das provas. Considera que essa solução do
STJ é mais política do que jurídica.

B) Princípio do livre convencimento do juiz (art. 131, CPC)


Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias
constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na
sentença, os motivos que Ihe formaram o convencimento.
O princípio do livre convencimento se opõe ao Princípio da Prova legal ou tarifada (quando
a lei estabelece uma ordem de preferência/valoração entre as provas). Pelo princípio do
livre convencimento, o juiz pode transitar livremente em torno das provas para
fundamentar sua decisão.
Ex: exame de DNA não pode ser considerado sempre a prova mais relevante e definitiva.
C) Princípio da motivação das decisões (art. 93, IX, CF/88)
Decisões é o gênero que engloba também as sentenças.
Art. 93, IX. todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença,
em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em
casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;
Significa que o juiz, seja qual for a decisão (decisão interlocutória, sentença, decisão
monocrática, acórdão), tem que fundamentá-la juridicamente, para que o destinatário da
decisão tenha conhecimento da fundamentação do juiz para que possa fundamentar seu
recurso. Decisão sem fundamentação é nula, pois impede, inclusive, o direito de recorrer.
Na jurisdição contenciosa, o juiz está vinculado à lei. Somente em jurisdição voluntária,
pode o juiz se desvincular da lei para fundamentar sua decisão.
20
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a
observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar
mais conveniente ou oportuna.
21
29/08/08
D) Princípio da vinculação do juiz aos fatos da causa (art. 128, CPC)
Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de
questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.

Elementos da causa

Subjetivos:
Autor
 Partes
Réu
Objetivos:
 Causa de Próxima → repercussão jurídica do fato
Remota → fato (narrativa, descrição dos acontecimentos)
pedir
Imediato → prestação jurisdicional pretendida (tipo de tutela)
 Pedido
Mediato → o bem da vida almejado

Conceito moderno de parte: Parte é todo sujeito do processo apto a formular


requerimentos dirigidos ao juiz da causa.
O MP, atuando como interveniente (custus iuris) pode pedir antecipação da tutela? Sim,
conforme esse novo conceito moderno de parte.

Teoria da substanciação → o que importa para a caracterização da causa de pedir são os


fatos, a descrição jurídica dos fatos.

Decorre uma máxima no sentido de que o que não está nos autos não está no mundo,
como decorrência do princípio da vinculação do juiz aos fatos da causa. Um dos requisitos
da petição inicial é a causa de pedir (causa de pedir fática + causa de pedir jurídica). Em
relação à causa de pedir fática, temos a referência daquela construção que é feita na
petição inicial, em torno exatamente dos fatos (causa de pedir fática ou remota). Dessa
causa de pedir o juiz não pode se distanciar para julgar os fatos, pois exatamente em
relação a esses fatos é que o réu apresentará suas defesas.

A priori, os fatos são apresentados pelas partes.


Art. 264, parágrafo único, CPC → depois do saneamento do feito, o pedido e a causa de
pedir não podem mais ser alterados.

Obs.: exceção a esse princípio está no art. 462, CPC:


Art. 462. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo
do direito influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou
a requerimento da parte, no momento de proferir a sentença.
Para que o juiz tome essa providência é fundamental garantir o contraditório e a ampla
defesa, abrindo vista às partes para que seja produzida prova em torno desses fatos
novos.

E) Princípio da adstrição do juiz ao pedido da parte (art. 128 e art. 460, caput, CPC)
22
Também chamado de princípio da congruência.
Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida,
bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi
demandado.
Parágrafo único. A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica
condicional. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de
questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.

O juiz ao julgar a lide encontrará limites na elaboração da parte dispositiva da sentença,


estabelecidos na formulação do pedido do autor, ou seja, quando for sentenciar, ficará
diretamente atrelado, vinculado ao pedido que é formulado na petição inicial, tanto no que
diz respeito a natureza do pedido quanto a quantificação desse pedido, sob pena de
incorrer em julgamentos:
a) extra petita (fora do pedido) → pode se apresentar de dois modos:
a.1) Será verificada sempre que o juiz conceder uma tutela jurisdicional de natureza
diversa daquela pretendida pelo autor. Ex.: se a pretensão do autor for de natureza
declaratória, a natureza da tutela jurisdicional tem que ser de natureza declaratória.
Se o juiz julgar procedente ou parcialmente procedente, a natureza da tutela
jurisdicional tem que ser a mesma da natureza da pretensão do autor, pois, caso
contrário, a sentença será nula.
Exceção: quando o juiz julgar improcedente o pedido.

a.2) Será verificada quando o juiz condenar o réu em objeto diverso do que lhe foi
demandado. Ex: numa ação de indenização por danos materiais, o juiz condena o réu
a pagar, além dos danos matérias, danos morais (fora do pedido). Se esse vício for
verificado no Tribunal, será invalidado o capítulo que concedeu o que não foi pedido.

Muito cuidado com as exceções!!! Se houver exceção a essa regra, tem que está
prevista em lei. Situações em que o juiz está autorizado, de ofício, a acolher ou
conceder, tutelas de natureza diversa da pretensão do autor. Ex: O art. 7º da Lei
8.560/1992 (Lei da averiguação oficiosa). O juiz além de declarar a paternidade,
condena ao pagamento de alimentos.
Art. 7° Sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se
fixarão os alimentos provisionais ou definitivos do reconhecido que deles necessite.

b) ultra petita (mais do que o pedido) → será verificada sempre que o juiz condenar o réu
em quantidade superior àquela que lhe foi demandada. O julgamento ultra petita só
pode ocorrer quando a sentença for líquida. Não é ultra petita a sentença que
considerar os efeitos da correção monetária.
23
c) citra petita ou infra petita (menos que o pedido) → ocorrerá sempre que o juiz deixar
de analisar um dos pedidos formulados pela parte (omissão), ou seja, será verificada
diante de pedidos cumulativos ou sucessivos, quando o juiz deixar de analisar um dos
pedidos formulados pelo autor.
Cuidado com os pedidos subsidiários! Ex: investigação de paternidade e alimentos.

10/03/08
F) Princípio “iura novit curia”
O juiz conhece o direito, dai-me os fatos que lhe darei o direito, essa máxima, significa
que o juiz não está vinculado a fundamentação jurídica lançada na petição inicial. De
acordo com esse princípio o juiz está vinculado a causa de pedir fática, e não está
vinculado a causa de pedir jurídica, pois o réu irá se defender dos fatos e não da
repercussão jurídica desses fatos. O juiz pode utilizar uma fundamentação para decidir
completamente diferente das que forem suscitadas pela parte. Esse princípio é um
princípio de direito processual (inclusive no processo penal – art. 383, CPP) e de direito
internacional.
Ex.: Imagine que eu estava trafegando meu carro e outro carro bate no meu. Diante do
prejuízo, ajuízo uma ação de reparação de danos, fundamentando que ocorreu com
dolo. O réu, em sua contestação, diz que foi com culpa. O fato é que houve uma
violação do direito. Se o juiz decidir com culpa ou dolo não vai diferenciar, pois neste
caso haverá procedência do pedido. O enquadramento jurídico dado pelo juiz não o
vincula, ele dá o que acha que deve.

RESP 439280-RS - AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. VIOLAÇÃO


DOS DEVERES DE MORALIDADE E IMPESSOABILIDADE. CONTRATAÇÃO MEDIANTE
CARTA-CONVITE PELO MUNICÍPIO DE EMPRESAS AS QUAIS FAZIAM PARTE O VICE-
PREFEITO E O IRMÃO DO PREFEITO, PESSOAS IMPEDIDAS DE LICITAR. LESÃO À
MORALIDADE ADMINISTRATIVA QUE PRESCINDE DA EFETIVA LESÃO AO ERÁRIO.
SANÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS COMPATÍVEIS COM A INFRAÇÃO. PRINCÍPIO
DA RAZOABILIDADE.
1. A Ação de Improbidade Administrativa. Explicitação do cânone do art. 37, § 4º da
Constituição Federal. A Ação de Improbidade tem como escopo impor sanções aos agentes
públicos que pratiquem atos de improbidade nos casos em que: a) importem em
enriquecimento ilícito (art.9º); b) que causem prejuízo ao erário público (art. 10); c) que
atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11), aqui também compreendida
a lesão à moralidade administrativa. 2. Preliminar de julgamento extra-petita. Os recorrentes
foram demandados em Ação de Improbidade, sede em que vários fatos foram invocados
como incidentes na citada Lei 8.429/92. Assim os réus defenderam-se dos fatos, competindo
ao juízo a qualificação jurídica dos mesmos. Aliás, é cediço que a qualificação jurídica dos
fatos é dever de ofício do Juízo, por isso iura novit curia. Consectariamente, essa
24
qualificação não integra a causa petendi e o seu ajuste na decisão à luz da demanda inicial
não significa violação da regra da congruência, consubstanciada nos artigos 128 e 460 do
CPC. Nesse sentido é lição de Barbosa Moreira, in O Novo Processo Civil Brasileiro, 1995,
p. 20-21. Deveras, as multifárias ações administrativas que se enquadram no novel diploma,
transmudam o pedido de adequação das mesmas, aos fatos previstos, como nítida ação
fungível, podendo o juízo, ao decidir, impor sanção aliud porém minus. 3. A ausência de
dano ao erário público não obsta a aplicação das sanções previstas na Lei 8.429/92.
Inteligência do art. 21. O enriquecimento ilícito a que se refere a Lei é a obtenção de
vantagem econômica através da atividade administrativa antijurídica. O enriquecimento
previsto na Lei 8.429/92 não pressupõe lucro ou vantagem senão apropriação de qualquer
coisa, ainda que proporcional ao trabalho desenvolvido, mas viciado na sua origem. O fruto
do trabalho, como de sabença, nem sempre é lícito, gerando o enriquecimento ilícito à luz da
mens legis. Deveras, a transgressão à moralidade administrativa in casu restou patente
porquanto, tanto quanto se pode avaliar na estreita esteira de cognição do E. S.T.J, a
participação na licitação de pessoas impedidas de fazê-lo é o quanto basta para incidir a
regra do art. 11 da Lei. Outrossim, a adequação da conduta ao cânone legal, impede o
arbítrio judicial que exsurgiria acaso a imputação derivasse do conceito subjetivo de
moralidade plasmado pelo Poder Judiciário. In casu, uma conduta objetiva e incontroversa
dos réus frustrou a licitude da concorrência com a participação das pessoas impedidas
encerrando ato ímprobo im re ipsa. 4. A participação de empresas em licitação pública, que
tem como sócio majoritário o Vice-Prefeito do Município, Secretário de Obras. Lesão aos
princípios da impessoalidade e moralidade administrativa (art. 11, da Lei 8.429/92). 5.
Condutas que recomendam o afastamento no trato da coisa pública, objetivo aferível pela
manutenção das sanções político-administrativas consistentes na inabilitação para contratar
com a Administração Pública. 6. Recurso parcialmente provido, para aplicar a regra prevista
no art. 12, III da Lei 8.429/92, imputando-se a multa civil em 10 vezes o valor da
remuneração, excluindo-se o ressarcimento do dano ao erário e seus consectários e
mantendo a suspensão dos direitos políticos, assim como a inabilitação para contratar com o
Poder Público, pelo prazo de 03 (três) anos, como forma de obtemperar a sanção.

G) Princípio da invariabilidade da sentença (art. 463, CPC)


O princípio da invariabilidade da sentença, disposto no art. 463 do CPC, dispõe que após
a publicação da sentença, não pode o juiz revê-la. As exceções estão previstas no art.
463, I e II e, também, nos arts. 285-A, 296, CPC e art. 198, ECA.

Exceções:
1) Erro material ou erro de cálculo (art. 463, I)
2) Embargos declaratórios (art. 463, II)
3) Juízo de retratação (art. 296 e 285-A, do CPC e art.198 da Lei 8069/90)
 Contra sentença que indefere a petição inicial (Art. 296)
 Todas as sentenças que forem proferidas com base no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
 Contra sentenças de mérito em causas repetitivas.

2.8) Sentenças de mérito proferidas em causas repetitivas (art. 285-A, caput, CPC)
25
Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver
sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser
dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente
prolatada.
Para o professor, o art. 285-A é uma antecipação do julgamento antecipado da lide, ou seja,
antes de abrir a instrução da causa. Veio atender um reclame antigo dos juízes. O juiz pode
proceder a uma sentença de mérito (art. 269, I), desde que seja de total improcedência.

Questões importantes:
a) O legislador falhou a fazer referência a questão controvertida unicamente de direito, pois
questões dessa natureza são raríssimas. A melhor interpretação é a seguinte: questão
controvertida unicamente de direito ou questão controvertida de direito e de fato, quando
não houver necessidade de produção de qualquer outra prova que não seja a documental
que já está nos autos.

b) Cuidado com a expressão casos idênticos, pois a doutrina reporta a ações idênticas e não é
isso que o legislador quis dizer. O legislador quis se reportar a casos análogos, pois se
fossem idênticos seria o caso de coisa julgada ou litispendência.

c) A primeira ação que chegar ao julgamento do juiz não pode se aplicar o art. 285-A, pois é
necessário fazer referência a uma ação que já se tenha julgado improcedente o pedido
anteriormente. Só a partir da segunda ação é que o juiz pode aplicar o artigo.

d) O significado da expressão juízo.

Qual a diferença entre Comarca, Foro, Fórum e Juízo?


 Comarca → circunscrição territorial onde o juiz exerce a jurisdição, que pode ser composta por
um ou mais municípios. Pode haver uma Comarca com vários foros, para facilitar o trâmite
processual.
Na Justiça Federal não se utiliza a expressão Comarca e sim Circunscrição.
 Foro → pode ser composto por vários juízos. É decorrência da organização judiciária de cada
Estado. O foro é uma ficção estabelecida pelo legislador, dividindo-se os trabalhos judiciários
que são realizados em dada comarca, objetivando a facilitação da prática de atos processuais.
Em um foro não pode ter mais de um fórum.
 Fórum → é o prédio.
 Juízo → é o órgão jurisdicional onde o juiz está lotado. Vara é a nomenclatura que é dada ao
juízo de acordo com a matéria. No juízo é possível ter mais de um juiz.

Se já houve uma sentença de improcedência no juízo, qualquer outro juiz desse juízo pode usar
essa sentença anterior e aplicar o art. 285-A.

3) COISA JULGADA
3.1) Conceito
“É um direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal (art. 5º, XXXVI), que tem por
objetivo garantir a estabilidade de determinadas manifestações do Estado Juiz, pondo-as a
26
salvo inclusive dos efeitos de novas leis que, por qualquer razão, possam pretender eliminar
aquelas decisões ou, quando menos, seus efeitos e, nesse sentido, uma forma de garantir
maior segurança jurídica aos jurisdicionados.” (Cássio Scarpinella Bueno)
11/03/08
3.2) Natureza jurídica
Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a
sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.

De acordo com esse artigo, a coisa julgada se verifica quando a sentença produz os seus
efeitos, no plano da percepção, segundo Barbosa Moreira. No entanto, segundo art. 520, é
possível que a sentença produza seus efeitos mesmo sem haver coisa julgada, nos casos em
que houver apelação sem efeito suspensivo. Assim, a referência do art. 467 não pode ser usada
como uma verdade clara e translúcida.

Se a coisa julgada não é efeito ou eficácia da sentença, é o que então?

Para Liebman a coisa julgada é uma qualidade especial que a sentença pode possuir ou não.
Alexandre Câmara, reportando-se a Barbosa Moreira, considera a coisa julgada uma situação
jurídica que guarda pertinência com a imutabilidade da sentença como ato processual e,
também, com seu conteúdo. Esse posicionamento é um aprimoramento da teoria de Liebman.
Coisa julgada não tem nada a ver com eficácia, pois pode ser até que a sentença tenha
transitado em julgado e os seus efeitos não sejam imutáveis. Ex: ação de separação judicial,
ação condenatória de pagamento (pode haver acordo, mesmo depois da sentença).

Prevalece hoje, 2008, a linha de entendimento de que a coisa julgada é uma situação jurídica
que guarda pertinência com a imutabilidade da sentença como ato processual e, também, com
seu conteúdo.

3.3) Importâncias do instituto


Ponto positivo → Proporciona ao jurisdicionado a segurança jurídica almejada.
Ponto negativo/impeditivo → impede que as ações sejam reproduzidas infinitamente, ou seja,
impede que haja julgamentos conflitantes.

3.4) Modalidades

Coisa julgada formal

Coisa julgada material


27
Toda coisa julgada material será necessariamente coisa julgada formal. Mas nem toda
coisa julgada formal fará coisa julgada material. Existem 6 hipóteses de sentença que
fazem apenas coisa julgada formal.

a) Coisa julgada formal (processual)


A coisa julgada formal é chamada de preclusão 5 máxima, pois impede a prática de
qualquer outro ato processual naquele processo que tenha por objetivo combater a
sentença.
Conceito: consiste no fenômeno da imutabilidade da sentença enquanto ato processual
em razão da impossibilidade de ser utilizada a via recursal por força da preclusão
(temporal, lógica e consumativa), admitindo-se que a matéria decidida, entretanto, possa
ser novamente analisada em outro processo, caso não ocorra concomitantemente a coisa
julgada material.

b) Coisa julgada material (substancial)


Quando além de não poder ser mais discutida no mesmo processo, também não pode ser
discutida em outro processo.
Só existe coisa julgada material se existir necessariamente coisa julgada formal.
Conceito: consiste no fenômeno da imutabilidade do conteúdo da sentença dentro e fora
do processo em que a mesma foi proferida, tanto em razão da impossibilidade de ser
utilizada a via recursal, por preclusão, como por força da impossibilidade de se analisar
novamente a matéria já decidida em um outro processo.

Hipóteses de sentença que só fazem coisa julgada formal (para o processo civil individual):
A) Sentenças terminativas → art. 267, CPC (exceto: inciso V e o indeferimento da inicial pelo
reconhecimento da prescrição e da decadência).
B) Sentenças de processos cautelares → art. 807, CPC, pois dependem da sobrevivência
desses dois institutos: fumus boni iuris e periculum in mora (exceto se o juiz acolher a
alegação de prescrição ou decadência do direito do autor – art. 810, CPC).
C) Separação judicial litigiosa procedente → art. 46, Lei de Divórcio (Lei 6.515/77), pois é
possível restabelecer o casamento, ou seja, voltar a condição de casado.

D) Improcedência na conversão do divórcio → art. 37, § 2º, Lei de Divórcio (Lei 6.515/77), pois
é possível a repropositura da ação.
E) Jurisdição voluntária → art. 1.111, CPC, pois se trata de jurisdição administrativa, ou seja,
como não há lide, a questão pode ser reproposta a qualquer tempo.
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se
ocorrerem circunstâncias supervenientes.

5
Perda da faculdade de se praticar ato processual. A preclusão pode ser temporal (em razão do decurso do tempo),
lógica (pela prática de ato processual incompatível com o ato que gostaria de praticar) ou consumativa (perda da
faculdade de praticar o ato processual por já ter praticado todos os atos possíveis).
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F) Sentenças determinativas ou dispositivas → são sentenças que tratam de ações que se
prolongam ao longo do tempo (art. 471, I, CPC). Ex: ação de alimentos, pois é possível a
revisão para adequar a real situação do condenado.
Art. 471. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide,
salvo:
I - se, tratando-se de relação jurídica continuativa, sobreveio modificação no estado de fato
ou de direito; caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença

17/03/08
3.5) Teorias informadoras da coisa julgada
a) Teoria da tríplice identidade
Para essa teoria, duas demandas são idênticas quando têm as mesmas partes, a
mesma causa de pedir e o mesmo objeto. Isto significa dizer que, como regra geral, a
coisa julgada material só implica extinção do processo que se instaure após a sua
formação se este novo feito decorrer de demanda idêntica à que levou à instauração do
primeiro processo, sendo certo que duas demandas são idênticas quando seus três
elementos identificadores (partes, causa de pedir e pedido) são iguais.
Art. 301.
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente
ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e
o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando
se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso.

Ocorre, porém, que a teoria das três identidades não é capaz de explicar todas as
hipóteses, servindo, tão somente, como regra geral. Há casos em que se deve aplicar:

b) Teoria da identidade da relação jurídica


Para essa teoria, o novo processo deve ser extinto quando a res in iudicium deducta
(questão trazida a juízo) for idêntica à que se deduziu no processo primitivo, ainda que
haja diferença entre alguns dos elementos identificadores da demanda.
Situação
Ajuizada demanda em que pretende o autor a declaração da existência de um crédito
em seu favor (ação declaratória), vê o demandante seu pedido ser rejeitado, por ter sido
provado pelo réu que já havia efetuado o pagamento. Após o trânsito em julgado da
sentença, propõe o autor (o mesmo autor) nova demanda, em face do mesmo réu, e
com base na mesma causa de pedir, mas agora pleiteando a condenação do réu ao
pagamento do débito (ação condenatória). Tratam-se de demandas distintas, já que os
pedidos formulados são diferentes. No entanto, o resultado do segundo processo será a
29
prolação de sentença terminativa, extinguindo o processo sem resolução do mérito, em
razão da existência de coisa julgada material revestindo a sentença que declarou a
inexistência do crédito. Este resultado, porém, não é alcançado pela teoria da tríplice
identidade (visto que o pedido é distinto), mas sim pela teoria da identidade da relação
jurídica.
A coisa julgada material tem como efeito impedir qualquer nova apreciação da questão
já resolvida, e não obrigar os juízes a decidir sempre no mesmo sentido da decisão
transitada em julgado. Além disso, se surgir um processo em que haja uma questão
prejudicial que já tenha sido objeto de resolução por sentença transitada em julgado, tal
questão não poderá ser discutida no novo processo, cabendo ao juiz, tão-somente,
tomar o conteúdo da sentença transitada em julgado como verdade.

3.6) Limites objetivos da coisa julgada

3.7) Limites subjetivos da coisa julgada

3.8) Eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 474)


Em alguns livros aparece como princípio do deduzido e do dedutível.
Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas
todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à
rejeição do pedido.
Princípio do “iura novit curia”.
Art. 303 → princípio da eventualidade ou concentração da defesa na contestação.

3.9) Relativização da coisa julgada


Exemplos: Precatórios, Investigação de paternidade, Fraude na avaliação de bens
desapropriados.

EXERCÍCIO PRÁTICO Nº 2
Dia: 18/03 (3ª feira) – Papel de juízes na fase de saneamento do processo.
Na contestação tem uma preliminar de coisa julgada. Se acolher a preliminar, irá julgar extinto o
processo sem resolução do mérito. Se rejeitar, deve continuar o procedimento para sanear o
processo.
Matéria: Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada.
24/03/08
4) AÇÃO RESCISÓRIA

4.1) Conceito
É o remédio processual utilizado para desconstituir ou revogar Acórdão ou Sentença de mérito
transitada em julgado por ocorrência de algum dos vícios de anulabilidade indicados no art.
485, CPC.
O prazo para ajuizamento da ação rescisória é decadencial de 2 anos, contados do trânsito em
julgado da sentença (art. 495, CPC)
30
Se o réu, numa ação de danos materiais e morais, apelar apenas quanto aos danos morais, a
parte da sentença que fala dos danos materiais transitou em julgado. Caso queira entrar com
uma ação rescisória quanto à sentença (na parte dos danos materiais) o prazo decadencial
começa a contar da data em que o réu entrou com o recurso de apelação (preclusão
consumativa).
A exigência da lei é em torno de sentença de mérito. O objeto da ação rescisória é a sentença
de mérito própria (Art. 269, I), tendo sido admitido nos casos do art. 269, IV.
Não cabe ação rescisória nas sentenças homologatórias, deve-se utilizar ação de anulação de
sentença.
Cabe ação anulatória ou ação rescisória de sentença terminativa?
Cabe ação anulatória, desde que essa sentença gere coisa julgada material.
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei
civil.

4.2) Natureza jurídica


A ação rescisória não é recurso, é uma ação autônoma de impugnação. É um meio de
impugnação da sentença, mas não é verificado na mesma relação jurídica processual, por isso
não é recurso.
Tem natureza jurídica de ação autônoma de impugnação de sentença, ou seja, é um sucedâneo
recursal (faz as vezes de um recurso, mas não é um recurso). Inclusive, se ainda não houve o
trânsito em julgado da sentença, não se pode utilizar a ação rescisória.

4.3) Hipóteses de cabimento (art. 485) → rol de causa de pedir próxima da ação rescisória.
As hipóteses estão elencadas em numerus clausus, ou seja, o rol é taxativo. É perfeitamente
possível conjugar os incisos na ação rescisória.

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; [não precisa
haver ação penal contra o juiz]

II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, [quando a parte
vencedora agiu com fraude processual] ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
[conluio entre as partes a fim de fraudar a lei, ou seja, autor e réu se unem para fraudar a lei –
ex.: marido que quer fazer uma doação a sua amante] 6
6
Tema para Monografia - Art. 129, CPC: Art. 129: “Convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor e réu
se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim proibido por lei, o juiz proferirá sentença que
obste aos objetivos das partes”. Deve o juiz julgar extinto o processo (de ofício) sem resolução do mérito, por falta de
interesse de agir, e condenar os dois por litigância de má-fé.
31

IV - ofender a coisa julgada;

V - violar literal disposição de lei;


[Súmula 343, STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a
decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos
tribunais. Esse inciso ficou reservado apenas para os casos em que há julgamento contra
legem, mas não contra interpretação da lei. Saiu um informativo do Supremo (Informativo ???,
STF), admitindo ação rescisória com base em nova informação.]

Vl - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja,
provada na própria ação rescisória; [A falsidade do documento, que tenha sido determinante
para a sentença, pode ser provada na própria ação rescisória.]

Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que
não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável; [O
documento novo deve ser um documento que já existia por ocasião do processamento da ação
originária, mas que a parte não sabia de sua existência ou não pudesse fazer uso. Mas tem que
ser um documento determinante para o julgamento]

VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou
a sentença; [Existem dois erros nesse inciso, pois a desistência e a transação não são capazes
de gerar sentença que possa ser rescindida. No caso de transação, a ação cabível é anulatória]

IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;


§ 1o Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente
um fato efetivamente ocorrido.
[Poder gerar até a relativização da coisa julgada]

§ 2o É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem
pronunciamento judicial sobre o fato.

4.4) Legitimidade ativa (art. 487) + interesse (tem interesse aquele que saiu da ação pelo
menos parcialmente derrotado)
Art. 487. Tem legitimidade para propor a ação:
I - quem foi parte (autor ou réu) no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular;
[no caso de morte, desde que o objeto da ação seja transmissível]
32
II - o terceiro juridicamente interessado;
III - o Ministério Público:
a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a intervenção;
b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.

25/03/08
4.5) Competência
Regra de competência funcional (competência absoluta).
A regra de competência das ações rescisórias é que são processadas e julgadas perante uma
das Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. No momento em que é sorteado o
Desembargador Relator (que irá presidir a ação), tem-se a Câmara Cível que será responsável
pelo julgamento. Apesar de o julgamento da ação rescisória ser em Colegiado, o
Desembargador Relator é que presidirá o processo desde o recebimento da petição inicial até o
julgamento final do processo.

TJES
 1ª Câmara Cível → 3 Desembargadores (A, B, C)
 2ª Câmara Cível → 3 Desembargadores (D, E, F)
 3ª Câmara Cível → 3 Desembargadores (G, H, I)
 4ª Câmara Cível → 3 Desembargadores (J, K, L)

4.6) Ajuizamento / Interposição (art. 282 c/c art. 488)


Na petição inicial, o autor deve observar os requisitos do art. 282, CPC.
Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art.
282, devendo o autor:
I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento da causa;
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título de multa,
caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou improcedente.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no n o II à União, ao Estado, ao Município e ao
Ministério Público.

Ao invés de se dirigir ao Juiz de Direito, vai se dirigir ao Desembargador Relator.


Tem que fazer referência, obrigatoriamente, a alguma das hipóteses de cabimento do art.
485, CPC (causa de pedir próxima).
Deve depositar a importância de 5% do valor da causa, a título de multa caso a ação seja
inadmissível ou improcedente, por unanimidade. Se o autor não depositar essa importância,
o Desembargador Relator manda o autor emendar a petição inicial, integralizando o valor,
no prazo do art. 284. Se não o fizer, o Desembargador irá indeferir a petição inicial.
Requisito específico e imprescindível da petição inicial da ação rescisória → cumular ao
pedido da rescisão (juízo rescindente), se for o caso (a hipótese concreta é que vai dizer se
cabe esse pedido), o de novo julgamento da causa (juízo rescisório). Esse pedido é para
que os Desembargadores julguem, pois caso não houvesse o pedido eles não poderiam
julgar a ação originária, sob a alegação de estarem julgando extra petita. Se o autor não
cumular o pedido e o Des. Relator perceber que é o caso de seguir até o juízo rescisório,
33
deverá mandar o autor emendar a petição inicial para acrescentar o pedido de novo
julgamento da causa.

4.7) Processamento / Procedimento (art. 491 a 493)


O procedimento da ação rescisória é o procedimento ordinário com algumas ressalvas.
1ª) O prazo para contestação é fixado pelo Des. Relator, variando esse prazo entre 15 e
30 dias – prazo judicial7.
2ª) É uma exceção ao princípio da indelegabilidade da jurisdição 8, visto que o Des. Relator
pode delegar ao juiz de direito da Comarca, por meio de uma Carta de Ordem, a
competência para a coleta de prova (art. 492).
Art. 491. O relator mandará citar o réu, assinando-lhe prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias
nem superior a 30 (trinta) para responder aos termos da ação. Findo o prazo com ou sem
resposta, observar-se-á no que couber o disposto no Livro I, Título VIII, Capítulos IV e V.
Art. 492. Se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova, o relator delegará a
competência ao juiz de direito da comarca onde deva ser produzida, fixando prazo de 45
(quarenta e cinco) a 90 (noventa) dias para a devolução dos autos.
Art. 493. Concluída a instrução, será aberta vista, sucessivamente, ao autor e ao réu, pelo
prazo de 10 (dez) dias, para razões finais. Em seguida, os autos subirão ao relator,
procedendo-se ao julgamento:
I - no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, na forma dos seus
regimentos internos; (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
II - nos Estados, conforme dispuser a norma de Organização Judiciária.

4.8) Julgamento
A ação rescisória pode ter até três etapas de julgamento:
1ª) Admissibilidade → é feita em tese. O Des. Relator, fazendo uma leitura prévia da petição
inicial, vai verificar se esta se enquadra em alguma das hipóteses do art. 485. Sendo
admitida a ação rescisória passará a ser processada. O Desembargador Relator pode,
monocraticamente, indeferir a petição inicial, se esta não se enquadrar em uma das
hipóteses do art. 485, CPC. O juízo de admissibilidade do Des. Relator não vincula os
demais Desembargadores da Câmara, podendo haver a inadmissibilidade no julgamento
Colegiado.

2ª) Juízo rescindente (judicium rescindens) → corresponde ao mérito da ação rescisória.


Qual é o mérito da ação rescisória? O pedido de rescisão, de invalidade do julgado.
Se o juízo rescindente for positivo, a sentença será rescindida, invalidada. O que pode
gerar, nos casos em que for possível e necessário, uma terceira etapa de julgamento.

7
Outro exemplo de prazo judicial é o prazo para arrolar testemunhas no procedimento comum ordinário – art. 407,
CPC: “Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da audiência, depositar em cartório o rol de
testemunhas, precisando-lhes o nome, profissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será
apresentado até 10 (dez) dias antes da audiência.”
8
O Princípio da indelegabilidade da jurisdição significa que o juiz não pode delegar parcela de sua competência a
outro órgão jurisdicional, pois violaria o princípio do juiz natural.
34
Se a sentença rescindida for de 1º grau e, em caso de incompetência absoluta ou
impedimento do juiz, deve o processo originário voltar ao Juízo de 1º grau, para novo
julgamento.

3ª) Juízo rescisório (judicium rescissorium) → corresponde ao mérito da ação originária. É o


novo julgamento da ação originária, que ficou sem julgamento devido ao juízo rescindente
positivo, pela própria Câmara Cível do Tribunal, quando a causa já estiver pronta para ser
julgada, ou seja, quando tudo o que foi feito no juízo de 1º grau é considerado válido.
01/04/08
4.9) Intervenção do MP
O Ministério Público tem que intervir em toda ação rescisória?
Na prática, o MP tem sido intimado em toda ação rescisória, pois sempre se entendeu que
toda ação rescisória tem objeto atrelado à segurança jurídica (coisa julgada), que é uma
questão de ordem pública.
Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:
III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas
em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

O professor acha que nem toda ação rescisória deva ter intervenção do MP, pois não é
escopo da Constituição para o Ministério Público. Acredita que pode intervir desde que a
intervenção seja também na ação originária. Nos casos em que se restringe às partes, não
se mostra necessária a intervenção do MP.

4.10) Rescisória da rescisória(ver texto do Klippel).


Como não existe, no ordenamento jurídico, proibição para o cabimento da rescisória da
rescisória, tem-se que é a mesma juridicamente possível, pelo fato de que a decisão
proferida ao julgar-se uma ação rescisória também transita em julgado. Algumas regras
técnicas essenciais para a aplicação do instituto:
 O alegado vício que justifica a propositura da rescisória da rescisória (dentre aqueles
previstos no art. 485 do CPC) deve estar contido no acórdão que julgou a rescisória e
cujo conteúdo se quer revogar.
 O termo inicial do prazo para o ajuizamento da rescisória contra acórdão de rescisória
é o trânsito em julgado deste último.
 Embora a rescisória da rescisória se volte contra o acórdão transitado em julgado
proferido ao julgar-se a primeira ação rescisória, é possível que, devido ao julgamento
desta segunda rescisória, restabeleça-se a eficácia do comando decisório
originariamente proferido. Essa situação é bastante interessante e demonstra que a
procedência da rescisória da rescisória pode gerar como efeito o restabelecimento do
conteúdo e dos efeitos da primeira decisão objeto de rescisória.
35
 O julgamento da rescisória da rescisória e a propositura de uma outra ação rescisória
contra a decisão originária. A partir do momento em que o art. 485 traz um número
plural de fundamentos para a rescisão do julgado é possível pensar em tantas
rescisórias quantos sejam esses fundamentos. Desde que não tenha escoado o prazo
de dois anos contados da sentença.

Cuidado: não é possível reconvenção da reconvenção.

07/04/08
CAPÍTULO II – TEORIA GERAL DOS RECURSOS

1) INTRODUÇÃO
1.1) Noção
1.2) Conceito → “É o meio processual que a lei (A) coloca à disposição(B) das partes, do
Ministério Público e de um terceiro (C), a viabilizar, dentro da mesma relação jurídica
processual(D), a anulação, a reforma, a integração ou o aclaramento (F) da decisão judicial(G)
impugnada.” (Nelson Nery. Teoria Geral dos Recursos. p. 184.)

(A) Só existe recurso se houver expressa previsão legal. Todos os recursos devem estar
expressamente previstos em lei. Essa lei é lei federal, porque recurso é instituto de Direito
Processual, que é matéria de competência privativa da União (art. 22, I, CF).

(B) Recurso é ato voluntário. É da essência de todo e qualquer recurso a voluntariedade.


Como conseqüência disso não se pode utilizar a expressão recurso de ofício ou
obrigatório (desde 1973 que não existe mais essa expressão). Remessa necessária não é
recurso. Não existe recurso obrigatório nem mesmo para o Estado.

(C) Legitimação para recorrer (art. 499, caput, CPC) → as partes (autor ou réu), o MP
(interveniente – custus iuris) e o terceiro (juridicamente prejudicado – desde que
demonstre a situação legitimante que é própria da intervenção de terceiros).

(D) A interposição de um recurso jamais irá alterar a relação jurídica processual, não
geram a formação de uma nova relação jurídica processual. A relação jurídica deverá
continuar a mesma, ou seja, o recurso é interposto dentro da mesma relação jurídica
processual. Se houver formação de nova relação jurídica processual, não será recurso.

(E) Objetivos que um recurso pode possuir → reformar ou invalidar uma decisão judicial.
Na reforma é reconhecido o chamado error in judicando, ou seja, o juiz observou o devido
processo legal, mas houve um erro no julgamento. Se for error in procedendo, ou seja,
quando o juiz não observou o devido processo legal, gera a invalidação da decisão
36
judicial. Existe um recurso específico que não tem como objetivo reformar ou invalidar a
decisão judicial. Os Embargos de Declaração têm como característica ou integrar a
decisão (em caso de omissão) ou esclarecer (em razão de uma obscuridade ou
contradição).

(F) Recursos que são próprios do processo jurisdicional. É próprio para impugnar decisões
judiciais. Só pode recorrer se houver uma decisão.

Art. 496, CPC → arrola os recursos previstos no Código de Processo Civil: apelação;
agravo; embargos infringentes; embargos de declaração; recurso ordinário; recurso
especial; recurso extraordinário; embargos de divergência em recurso especial e em
recurso extraordinário.

1.3) Natureza jurídica


O recurso é uma faculdade, um ônus, um dever ou uma obrigação processual?
 Faculdade processual → sempre será decorrente do direito de ação e do direito de
exceção (que é o direito de defesa – contestação, reconvenção, exceção, impugnação
ao valor da causa, impugnação ao pedido de assistência judiciária). Ex: arrolar
testemunhas, contestar, formular perguntas às testemunhas, juntar documentos, indicar
quesitos e assistentes técnicos, recorrer.
 Dever processual e obrigação processual → ambos são imperiosos, ou seja, a sua
observância pode ser determinada, observância cogente – tem que observar. A
diferença é que a obrigação tem aspecto pecuniário (ex: pagar as custas do processo,
pagar as custas do recurso, pagar honorários do perito, depósito do valor para ajuizar a
ação rescisória). Já o dever processual não tem aspecto pecuniário (ex: dever de agir
com boa-fé, dever de o magistrado impulsionar o processo, dever de lealdade – de
tratar as partes com urbanidade).
 Ônus processual → diferentemente do dever e da obrigação, não é de observância
cogente, pode observar ou não. Se não observa a regra derivada de um ônus, haverá
uma sanção processual para essa inobservância. Ex: contestar (se não contestar
sofrerá os efeitos da revelia), comparecer à AIJ (se não for, sofrerá a sanção da
confissão), recorrer (se não recorrer da sentença, esta transitará em julgado; se não
recorrer da interlocutória, ocorrerá a preclusão).
Recorrer é tanto uma faculdade processual quanto um ônus processual.

1.4) Distinção com outros institutos


Conjunto dos meios das impugnações processuais:
 Recursos
 Ações autônomas de impugnação → não são recursos, pois geram a formação de uma
nova relação jurídica processual. Ex: Ação Rescisória, Habeas Corpus, Mandado de
Segurança, Querela Nulitatis, ação anulatória (art. 486, CPC).
37
 Sucedâneos recursais → não são considerados ações judiciais, mas servem para
impugnar decisões judiciais. Só poderão ser usadas se não couber recurso, ou se o
recurso não surtir os efeitos que você dele espera. Ex: correição parcial, pedido de
suspensão de segurança (só pode ser utilizado quando a ordem pública estiver em
risco – a suspensão de segurança pode ser utilizada mesmo utilizando também o
recurso), pedido de reconsideração.

1.5) Confronto com o Processo Penal


O sistema recursal do processo civil é completamente diferente do sistema recursal do
processo penal, apesar de ter recursos com o mesmo nome (ex: apelação – recurso para
atacar sentença). No processo penal há dois prazos para a apelação, o primeiro é para
dizer que quer recorrer (interpor o recurso) e o segundo é para oferecer as razões. Há
também, a possibilidade de apresentar as razões no Tribunal (art. 600, § 4º, CPP).

08/04/08
2) Lei processual no tempo e os recursos
2.1) Regra geral
A lei processual nova tem aplicação imediata e é irretroativa (preserva os atos processuais
já praticados) – art. 1.211, CPC.
Art. 1.211. Este Código regerá o processo civil em todo o território brasileiro. Ao entrar em
vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes.

Exceção:
No caso de penhora de bens de família (antes da Lei 8.009/90). O que fazer com as
penhoras realizadas antes dessa lei? Haveria um confronto: de um lado o ato jurídico
perfeito e de outro lado a dignidade da pessoa humana. Aplicando o princípio da
proporcionalidade o STJ sumulou.
Súmula 205, STJ: A Lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.

2.2) Repercussões no âmbito recursal


A lei que regula o recurso é a lei vigente na época em que foi proferida a sentença, ou
seja, a lei vigente no dia em que a decisão passou a existir.

3) Classificação dos recursos


3.1) Quanto ao âmbito de abrangência (é importante para delimitar o julgamento)
a) recursos totais → são aqueles que abrangem todo o conteúdo passível de impugnação
da decisão recorrida.
b) recursos parciais → são aqueles que, por opção do recorrente, não compreendem a
totalidade do conteúdo impugnável da decisão recorrida.

3.2) Quanto à fundamentação


38
a) recursos de fundamentação livre → são aqueles em que é admissível a formulação de
qualquer tipo de crítica contra o conteúdo da decisão impugnada.
b) recursos de fundamentação vinculada → são aqueles em que a lei cuida de discriminar
quais as críticas que podem ser ventiladas contra a decisão impugnada. São recursos de
fundamentação vinculada: o recurso extraordinário (art. 102, III, CF), o recurso especial
(art. 105, III, CF), os embargos de declaração (art. 535, CPC).

3.3) Quanto à finalidade


a) recursos de reforma → são aqueles que buscam uma modificação na solução dada
pelo juiz quando do julgamento da causa ou de uma questão incidental, objetivando a
obtenção de um pronunciamento mais favorável ao recorrente. Os recursos de reforma
são verificados diante de hipótese de error in judicando, ou seja, erro no julgamento. O
juiz, aqui, não violou o devido processo legal, o problema foi no julgamento em si.
b) recursos de invalidação → são aqueles que buscam a anulação do julgado, eliminando-
o do plano jurídico, a fim de que outro seja proferido em seu lugar por ter incorrido o juiz
em error in procedendo, ou seja, erro no processamento, violação do devido processo
legal. Exemplos: juiz que confere uma sentença extra petita; juiz, absolutamente
incompetente, que profere uma decisão. Aqui, é importante a aplicação da teoria dos
capítulos da sentença, pois é possível invalidar apenas um capítulo.
c) recurso de esclarecimento ou integração → único caso: embargos de declaração. Tem
por objetivo afastar a falta de clareza ou de precisão do julgamento ou, então, suprir
alguma omissão do julgador.

3.4) Quanto ao órgão jurisdicional que os decide


a) recursos devolutivos ou reiterativos → são aqueles que são julgados por órgão
jurisdicional diferente daquele que proferiu a decisão impugnada, seja na mesma ou em
outra instância. Não há necessidade de alteração de instância nos recursos devolutivos.
b) recurso não devolutivo ou iterativo → único caso: embargos de declaração. É julgado
pelo mesmo órgão jurisdicional que prolatou a decisão impugnada.
c) recursos mistos → são aqueles que são julgados por outro órgão jurisdicional, mas
permitem no chamado “juízo de retratação” a re-análise da decisão impugnada pelo
próprio órgão jurisdicional que a proferiu. Exemplos: os agravos e algumas apelações, a
saber: apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 296, CPC), apelação
contra sentença que julga de plano totalmente improcedente o pedido formulado na
petição inicial (art. 285-A, CPC) e apelação contra as sentenças proferidas nos
procedimentos do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 198, VII, Lei 8.069/90).

14/04/08
4) Princípios fundamentais

4.1) Voluntariedade
39
Os recursos são considerados uma faculdade processual, pois o ato de recorrer é uma
decorrência tanto do direito de ação quanto do direito de exceção (ampla defesa estabelecida
na Constituição).
No sistema processual brasileiro não existe a expressão “recurso de ofício” ou “recurso
obrigatório”, nem para se reportar ao exame necessário, que não é recurso. Essa expressão
está banida do Código de Processo Civil vigente. O recurso é sempre ato voluntário daquele
que está recorrendo. Da mesma forma não se tem que falar em recurso voluntário, pois seria
redundância, visto que o recurso já é voluntário.
Mesmo em se tratando dos entes de direito público interno (União, Estados, Distrito Federal,
Autarquias), o recurso também é um ato voluntário.
Não existe nenhuma hipótese de obrigatoriedade em se recorrer.

4.2) Singularidade
Também chamado de princípio da unicidade ou unirrecorribilidade das decisões. Significa que
pelo sistema do CPC, para cada decisão emanada do Poder Judiciário existe apenas e tão
somente uma única espécie de recurso, ou seja, tem que haver sempre uma adequação entre a
decisão recorrida e o recurso que está sendo interposto. Não se trata de um único recurso, mas
sim de uma única espécie de recurso (das previstas no art. 496, CPC).
Exceções:
1ª) Interposição de embargos de declaração e, sucessivamente, do recurso adequado para
impugnar àquela decisão específica (art. 535, CPC). Os embargos são juntados aos autos do
próprio processo e serão julgados primeiro (recurso iterativo) pelo próprio juiz que julgou a
decisão.
2ª) Interposição de recurso especial e de recurso extraordinário, concomitantemente, caso o
acórdão, ao mesmo tempo, viole lei federal e afronte também a Constituição da República
(art. 498, CPC).

4.3) Personalidade
Também chamado de princípio da proibição da reformatio in pejus, princípio do efeito devolutivo
ou princípio de defesa da coisa julgada parcial, esse princípio objetiva evitar que o tribunal
destinatário decida de maneira pior para o recorrente.
A proibição da reforma para pior nada mais é do que uma decorrência natural da incidência de
outro princípio, o princípio dispositivo, ou seja, em razão de o juiz somente se manifestar
quando provocado, e na medida dessa provocação, a decisão por ele proferida não prejudicará
a situação do recorrente.
Esse princípio não está expressamente no Código de Processo Civil, mas decorre da
"conjugação do princípio dispositivo, da sucumbência como requisito de admissibilidade e,
finalmente do efeito devolutivo do recurso." (Nelson Nery, p.158).
Como o órgão julgador somente pode conhecer e julgar a parte da decisão impugnada pelo
recorrente, àquele abrem-se apenas dois caminhos: dá-se provimento ao recurso, e a situação
40
do recorrente é melhorada; ou nega-se provimento ao recurso, e o recorrente encontrar-se-á
em idêntica situação àquela que se encontrava quando da prolação da decisão.
Quando ambas as partes recorrem, face à existência de sucumbência recíproca, é possível que
a situação dos recorrentes venha a ser piorada, mas tal fato em nada altera o que aqui se
expõe, pois a questão em tela diz respeito, por óbvio, a piora da situação do recorrente em
razão da interposição do recurso da parte contrária.
Essa decisão pior para o recorrente poderia acontecer quando os julgadores extrapolassem o
âmbito de devolutividade do recurso ou mesmo por não haver recurso da parte contrária. Isso
porque se a parte adversa interpõe recurso, não haverá reforma para pior se o tribunal der
provimento ao recurso de qualquer das partes.
Não haverá proibição de reforma para pior mesmo que haja apenas um recurso interposto, se o
tribunal decidir contra o recorrente por ter examinado matéria de ordem pública, já que esse tipo
de questão pode ser examinada a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição (art.
267, § 3º, CPC), podendo inclusive ser pronunciadas ex officio pelo magistrado ou pelo tribunal.
Isso nada tem a ver com o efeito devolutivo dos recursos, mas sim com o princípio inquisitório.
Esse princípio tem exceções.
A sucumbência recíproca é um requisito necessário para a adesividade. O “recurso adesivo” é
uma forma de contornar a vedação da reformatio in pejus. O recurso adesivo não é um recurso
é um procedimento recursal.

4.4) Dialeticidade
Tese – recurso
Todos os recursos têm que ser fundamentados já na própria petição. Recurso é ato de
desconstrução. Fundamenta-se um recurso com argumentos que desconstruam a decisão
impugnada.

Antítese – contra-razões de recurso


Também tem que ser fundamentadas. A apresentação de contra-razões recursais não configura
ônus processual, configura apenas uma faculdade processual. Prazo simples.

Síntese – julgamento do recurso no Tribunal

4.5) Taxatividade
Pelo princípio da taxatividade, os recursos estão listados em numerus clausus em lei federal
(Art. 22, I, CF), pois somente lei federal pode tratar de recurso que é instituto de Direito
Processual. No Código de Processo Civil, podem ser utilizados os recursos previstos no art.
496, CPC. Mas existem espécies de recursos que não estão no CPC. Exemplo a Lei dos
Juizados Especiais (Lei 9.099/95) criou o recurso inominado para as sentenças. Não há
previsão de recurso para as decisões interlocutórias nos Juizados Especiais, nem para tutela
antecipada.
41
Não pode uma lei estadual ou uma norma regimental criar espécie de agravo (regimental), pois
seria inconstitucional, visto que afronta o princípio da taxatividade.

4.6) Fungibilidade (mais importante de todos)


É um sub-princípio do princípio da instrumentalidade das formas (art. 244, CPC).
Art. 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, Ihe alcançar a finalidade.

A única forma de salvar um recurso inadequado é o princípio da fungibilidade recursal.


O recurso interposto erroneamente, decorrente da incongruência do próprio sistema, estando a
parte de boa-fé, será aceito como se o correto fosse.

Um requisito de aplicação do princípio da fungibilidade é objeto de divergência na doutrina


(Flávio Cheim Jorge, Nelson Nery, Marcelo Abelha). O STJ exige que se a parte estiver na
dúvida quanto ao recurso a ser interposto, o prazo para a interposição do recurso será o do
recurso correto. Já os doutrinadores entendem que não tem como a parte que quer recorrer
saber qual é o prazo correto, visto que não sabe qual é o recurso correto. Mas o entendimento é
que na dúvida, deve-se recorrer no menor prazo.
15/04/08
4.7) Complementaridade
Em regra a interposição de um recurso gera a preclusão consumativa, não podendo o
recorrente emendar ou complementar a petição do recurso. A aplicação deste princípio só será
possível diante da modificação da decisão no julgamento dos embargos de declaração no caso
de sucumbência recíproca, ou seja, só será possível emendar ou complementar o recurso,
quando o julgamento dos embargos de declaração modificar a sentença.

5) Reexame necessário

5.1) Generalidades
É a mesma coisa que remessa obrigatória, que é a mesma coisa que remessa ex ofício, que é a
mesma coisa que duplo grau de jurisdição obrigatório.
Significa que havendo ou não recurso, a sentença proferida pelo juiz, será analisada pela
instância superior.
Em 1973, a sentença de anulação de casamento era uma hipótese de reexame necessário (em
razão da importância que se dava ao casamento). Hoje, o reexame necessário ainda sobrevive,
com o pressuposto da necessidade de avaliar a sentença em razão de um suposto interesse
público. A tendência é acabar com o reexame necessário. Os doutrinadores como Ada
Pelegrine9 consideram que o reexame necessário é fator de entrave da celeridade processual.
O reexame necessário gera uma ampliação dos limites do julgamento.

5.2) Natureza jurídica

9
Foi Ada Pelegrine que elaborou o projeto de Lei da Ação Civil Pública. Não faz referência ao reexame necessário,
pois ela abomina este instituto, ou seja, considera que o reexame necessário é um instituto completamente superado
dentro do Processo Civil.
42

Sérgio Bermudes é o único doutrinador que considera o reexame necessário como recurso,
pois assim como os recursos, tem a característica da devolutividade, ou seja, devolve a exame
superior a matéria decidida. Argumentos contrários a essa tese:
1º) Voluntariedade – A característica fundamental de todo e qualquer recurso é a
voluntariedade e o reexame é obrigatório. Logo, não é recurso.
2º) Taxatividade – O reexame necessário também não pode ser recurso, por conta da
taxatividade. Os recursos são enumerados em numerus clausus (art. 496, CPC).
3º) Singularidade –
4º) Dialeticidade – todo recurso tem que ser fundamentado e o reexame necessário não
tem nenhuma fundamentação contrária à sentença. Trata-se de re-análise.
5º) Legitimidade e interesse em recorrer – só podemos falar em recurso se há legitimidade
e interesse de quem está recorrendo, mas como é o juiz que remete para o reexame
necessário e ele não tem legitimidade para recorrer, não será o caso de recurso.
6º) Tempestividade – todos os recursos estão submetidos aos prazos previstos no Código
de Processo Civil, e o reexame necessário não tem prazo. Só haverá o trânsito em julgado
da sentença se houver o reexame necessário (art. 475, § 1º, CPC). O reexame necessário
é impositivo, o juiz tem que observar a regra, é dever do juiz.
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja
ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los.
7º) Preparo – os recursos, de um modo geral, devem ser preparados, ou seja, deve-se
recolher as custas do recurso (nome técnico: preparo) e o reexame necessário não tem
preparo.

Se não é recurso, o que é o reexame necessário?


O reexame necessário é um requisito ou uma condição de eficácia da sentença, é uma
condição para que a sentença produza efeitos.

5.3) Hipóteses de cabimento


a) as sentenças proferidas contra a Fazenda Pública (União, Estados, Distrito Federal,
Municípios, e as respectivas autarquias e fundações de direito público) – art. 475, I, CPC.

b) a sentença que julgar procedente, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida


ativa da Fazenda Pública (art. 475, II, CPC). O prof. entende que essa hipótese está incluída na
1ª.

c) sentença proferida nos mandados de segurança em caso de procedência total ou parcial do


pedido (art. 12, parágrafo único, Lei 1.533/1951 – Lei do Mandado de Segurança). Em regra, o
réu no mandado de segurança é um ente público. Se for concedida a segurança haverá
sentença contra a Fazenda Pública, caso de reexame necessário.
Obs1: Não se pode fazer uma interpretação fechada desse dispositivo, pois nos casos em
que o réu não é um ente público, não haverá sentença contrária à Fazenda Pública, não
sendo, portanto, o caso de reexame necessário.
43
Obs2: O mandado de segurança possui regras de competência funcional diferenciadas. Se
o ato ilegal de abuso de poder for praticado pelo Governador do Estado, o mandado de
segurança deverá ser impetrado no Tribunal de Justiça. Sendo julgado pelo pleno, não será
o caso de reexame necessário, pois não é sentença e sim acórdão.

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença: (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas
autarquias e fundações de direito público; (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da
Fazenda Pública (art. 585, VI). (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja
ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avocá-los. (Incluído pela Lei
nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 2o Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como
no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo
valor. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 3o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em
jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

22/04/08
d) Art. 19, Lei 4.717/65 (Lei da Ação Popular)
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita ao
duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal ; da
que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.
Interesse público
 Primário → quando é um interesse da coletividade
 Secundário → quando é um interesse da própria Administração Pública

A partir da leitura do art. 19, da Lei 4.717/65, como que o intérprete vê a aplicação do
dispositivo frente à sistemática processual (art. 475, CPC), ou seja, caberá reexame necessário
mesmo em caso da procedência da ação da ação popular? Há três correntes.
1ª) A lei da ação popular é uma lei especial e via de conseqüência, em razão do princípio da
especialidade, não se aplica ao art. 475 do código de processo civil. A lei da ação popular é
uma lei voltada para o processo coletivo, enquanto o CPC trata do processo meramente
individual. O próprio artigo 19 dispõe que da sentença que julgar procedente, caberá
apelação com efeito suspensivo.

2ª) O Código de Processo Civil (1973) é lei posterior à lei da Ação Popular que é de 1965.
Ademais, diante de uma interpretação sistemática, há a necessidade de integrar o sistema
processual com a regra genérica do art. 475, I, CPC. O que leva a conclusão no sentido de
44
que qualquer que seja o sentido dado à solução de mérito da ação popular, a sentença
reclamará o reexame necessário.

3ª) A Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) revogou implicitamente o art. 19 da Lei
4.717/65, pois não há não Lei da Ação Civil Pública, nenhuma hipótese de cabimento de
reexame necessário. Para essa corrente, com base no micro sistema de direito processual
coletivo, não caberia nenhuma hipótese de reexame necessário, em se tratando de direito
processual coletivo.

Observação quanto ao Direito Processual Coletivo:


Não há um Código de Processo Civil Coletivo. O que há são leis específicas, como:
 Lei da Ação Popular
 Lei da Ação Civil Pública
 Constituição Federal
 Código de Defesa do Consumidor
 Estatuto da Criança e do Adolescente
 Lei da improbidade administrativa
 Lei da pessoa portadora de deficiência
 Lei do idoso
São leis que se integram, mas não formam um Código de Processo Civil Coletivo, mas sim
um micro sistema de Direito Processual Coletivo, que para ser aplicado tem que ser
harmônico, não podendo haver leis que se contraponham.

Existem outras hipóteses de reexame necessário, mas sempre previstos em lei.


28/04/08
5.4) Descabimento (rol taxativo)
Hipóteses em que não cabe reexame necessário:
a) Decisões interlocutórias e liminares que antecipam o direito material reclamado em
desfavor da Fazenda Pública.
O Supremo entende que é possível a concessão de tutela antecipada contra a Fazenda
Pública, salvo quando o objeto da lide guardar pertinência com acréscimo de vantagens
pecuniárias aos vencimentos dos servidores públicos. Contra essas decisões não cabe
reexame necessário, pois a tutela antecipada pode ser revista.

b) Sentenças terminativas (art. 267, CPC) e sentenças de mérito meramente


homologatórias (art. 269, II, III e V, CPC)
As sentenças terminativas não geram coisa julgada material, assim, caso venha uma
sentença terminativa desfavorável contra o Estado, basta ajuizar uma nova ação.
Quando houver reconhecimento de prescrição ou decadência (art. 267, I, CPC) no início
do processo haverá reexame necessário.
Em relação às sentenças do art. 269, II, III e V (quando o juiz apenas homologa), não
haverá reexame necessário.

c) Art. 13 da Lei 10.259/2001 (Lei dos Juizados Especiais Federais)


45
No Juizado Especial Federal, o legislador, por opção, entendeu que não haveria
necessidade de remeter as decisões ao reexame necessário, pois a condenação não
excede a 60 salários mínimos.

d) Art. 475, § 2º, CPC


Quando o valor da condenação na sentença não exceder a 60 salários mínimos, não
haverá reexame necessário.
§ 2o Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como
no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo
valor.
Só vale para as hipóteses do reexame necessário dos incisos I e II do art. 475, CPC.
Essa regra do art. 475, § 2º não vale para as hipóteses de reexame necessário que
estão fora do CPC, como o mandado de segurança 10. O STJ rechaçou uma
interpretação extensiva desse dispositivo.

e) Art. 475, § 3º, CPC


§ 3o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em
jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do
tribunal superior competente.
Caso o juiz utilize uma súmula na fundamentação de sua sentença, esta não
necessitará de reexame necessário. O prof. entende que o tribunal superior pode ser o
tribunal hierarquicamente superior ao juiz.

5.5) Vedação de “reformatio in pejus” em desfavor da Fazenda Pública


O reexame necessário foi concebido para proteger o interesse público secundário (aquele
da Administração Pública, propriamente dita). Sendo assim, diante de uma sentença que
condenou a Fazenda Pública a pagar 80 mil (num pedido de 1 milhão), os limites de
julgamento do recurso estarão voltados para o interesse da Fazenda Pública, ou seja, entre
0 e 80 mil.
Súmula 145, STJ: No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação
imposta a Fazenda Pública.
Para Nelson Nery, em caso de reexame necessário, não deveria haver limites para o
reexame, podendo inclusive prejudicar a Fazenda Pública, mas esse entendimento é
isolado, estando pacificada a aplicação da Súmula 145, STJ.

6) Pressupostos recursais (matéria importantíssima)


Não existe, no CPC, um dispositivo que enumere quais sejam os pressupostos processuais,
ficando a cargo da doutrina essa enumeração, o que leva a uma variação muito grande dessa
classificação. Alexandre Câmara chama os pressupostos processuais de requisitos do
provimento final.
Tudo isso também se aplica aos pressupostos recursais. Para que os julgadores analisem o
pedido do recurso, necessariamente deverão estar presentes os pressupostos recursais, ou
10
STJ: Resp 664873-SP. Min. Eliana Calmon. 24/05/2005.
46
seja, o recurso só será julgado se estiverem presentes os pressupostos recursais. Podem-se
chamar de requisitos do provimento do recurso.

Classificação dos pressupostos recursais:

6.1) Subjetivos → guardam pertinência com os sujeitos da relação jurídica processual.


a) legitimidade para recorrer
Terá legitimidade para recorrer aquele que a lei disser que tem (art. 499, caput, CPC):
autor, réu, MP (atuando como interveniente - custus juris) e o terceiro juridicamente
prejudicado (tem que demonstrar a chamada situação legitimante – interesse jurídico que
o terceiro tem que ter na reforma da decisão).
Obs.: O terceiro prejudicado não será notificado da decisão e terá o mesmo prazo que as
parte têm para recorrer.
Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo
Ministério Público.
§ 1o Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de
intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.
§ 2o O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte,
como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.

b) interesse em recorrer (necessidade + utilidade)


Interesse de agir = necessidade + utilidade
A necessidade pode decorrer da resistência do adversário em relação à pretensão ou em
razão de uma imposição da lei (processo necessário – ex: interdição).
A interposição ou o ajuizamento da ação deve trazer ao autor uma vantagem, um proveito,
uma utilidade. O Judiciário não pode ser um órgão de mera consulta. A utilização de uma
via inadequada gera uma ausência do interesse de agir.
Em termo de recurso, descarta-se a hipótese de necessidade por imposição legal, visto
que o recurso é voluntário. A utilidade do recurso tem haver com o fato da sentença não
transitar em julgado e a decisão interlocutória não precluir.
29/04/08

6.2) Objetivos → guardam pertinência com a interposição do recurso propriamente dito.


a) cabimento → tem que se verificar se o recuso é cabível. Para que o recurso seja
cabível, o ato praticado pelo juiz deve ser recorrível (artigos 162 e 163, CPC).
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.
§ 1o Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269
desta Lei. (Redação dada pelo Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2o Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão
incidente.
§ 3o São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a
requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
47
§ 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando
necessários. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
Art. 163. Recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos tribunais.

São recorríveis as sentenças, as decisões interlocutórias e os acórdãos, mas não de


forma absoluta, pois em determinada situação, prevista em lei, haverá decisões que não
caberão recurso. Ex: tutela antecipada no Juizado Especial Cível – não tem recurso para
decisão interlocutória, utiliza-se o Mandado de Segurança, que não é espécie de recurso.
As vezes o próprio Código de Processo Civil deixa claro hipóteses de situações
irrecorríveis, como por exemplo o art. 519, CPC.
Em relação aos despachos, o entendimento é que cabe agravo. Ver artigo “Da
recorribilidade do cite-se” (livro do Nelson Nery de Questões controvertidas)
b) adequação
O recurso tem que ser adequado (dentre o leque do art. 196, CPC). A lei processual indica
qual é o recurso adequado. Caso você interponha um recurso inadequado, este não será
admitido e, conseqüentemente, não será apreciado. A única forma de contornar a
inobservância desse pressuposto objetivo é a possibilidade de utilização do princípio da
fungibilidade recursal (desde que presentes seus requisitos).

c) Fundamentação ou motivação
No sistema recursal, todo e qualquer recurso deve estar devidamente fundamentado já no
ato de interposição – princípio da dialeticidade. É importante sempre se lembrar de que
recurso é ato de desconstrução, ou seja, não basta fundamentar/motivar, é necessário
utilizar argumentos capazes de destruir a decisão atacada.
Súmula 182, STJ: É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada.
Súmula 284, STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.

d) tempestividade
Todo recurso do Código de Processo Civil tem um prazo. Se esse prazo não é observado,
será o caso de preclusão temporal e o recurso não será admitido. Prazos:
 Embargos de declaração → 5 dias
 Agravo → 10 dias
Agravo interno (diante de decisão monocrática dos Desembargadores) → 5 dias.
 Apelação, embargos infringentes, recurso ordinário, recurso extraordinário, embargos
de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário → 15 dias
Art. 508. Na apelação, nos embargos infringentes, no recurso ordinário, no recurso especial,
no recurso extraordinário e nos embargos de divergência, o prazo para interpor e para
responder é de 15 (quinze) dias.
Pelo princípio da isonomia ou igualdade das partes, o prazo para apresentação das
contra-razões será o mesmo.

Obs.: Benefício de prazo


48
d.1) Art. 188, CPC → prazo em dobro para a Fazenda Pública (União, Estados, Distrito
Federal, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas) e para o Ministério Público
recorrer. Essa regra específica só vale para a interposição do recurso, o prazo para as
apresentação de contra-razões é simples (não terá prazo em dobro).
Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer
quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
Na opinião do Professor o art. 188 é inconstitucional, em vista do princípio da isonomia ou
igualdade das partes – inconstitucionalidade progressiva (que vai se apresentando com o
decorrer do tempo).
Segundo Dinamarco, parte é todo o sujeito do processo apto a formular requerimentos
dirigidos ao juiz da causa. O Ministério Público interveniente é considerado parte (art. 83,
CPC). Assim, o prazo será sempre em dobro para o MP.
Art. 83. Intervindo como fiscal da lei, o Ministério Público:
I - terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo;
II - poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em audiência e requerer medidas ou
diligências necessárias ao descobrimento da verdade.

d.2) Art. 191, CPC → prazo em dobro para recorrer e para apresentação de contra-razões
Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em
dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.
d.3) Art. 5º, § 5º, Lei 1.060/1950 (Lei da assistência judiciária) → em caso de assistência
jurídica gratuita (ocupante de cargo público) haverá prazo em dobro para recorrer e
apresentar contra-razões.
§ 5° Nos Estados onde a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida, o
Defensor Público, ou quem exerça cargo equivalente, será intimado pessoalmente de todos
os atos do processo, em ambas as Instâncias, contando-se-lhes em dobro todos os prazos.

Contagem do prazo (art. 242, CPC)


Art. 242. O prazo para a interposição de recurso conta-se da data, em que os advogados
são intimados da decisão, da sentença ou do acórdão.

e) preparo
Recurso preparado é o recurso em que foram recolhidas as custas do recurso (de acordo
com o valor da causa) e o porte de remessa e de retorno.
Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela
legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob
pena de deserção.
O recurso sem preparo é considerado deserto, mas em alguns casos é possível que o juiz
reconsidere o recurso, relevando a pena de deserção.
Art. 519. Provando o apelante justo impedimento, o juiz relevará a pena de deserção,
fixando-lhe prazo para efetuar o preparo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
Parágrafo único. A decisão referida neste artigo será irrecorrível, cabendo ao tribunal
apreciar-lhe a legitimidade.
49

Hipóteses de dispensa de preparo:


1) Por critérios objetivos → embargos de declaração (art. 536, CPC) e o agravo retido
(art. 522, parágrafo único, CPC), independentemente de quem está recorrendo.
2) Por critérios subjetivos → art. 511, § 1º
§ 1o São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União,
pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
(Parágra único renumerado pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
Também as Fundações públicas (Lei 9494/97) e os núcleos de prática jurídica não
precisam preparar o recurso.

Obs.: Se o advogado errar nas contas o juiz pode intimá-lo para, no prazo de 5 dias,
complementar o valor do preparo.
§ 2o A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não
vier a supri-lo no prazo de cinco dias. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)

7) Prazo para recorrer


7.1) Classificação dos prazos processuais
A) Dilatórios → são prazos que podem ser convencionados pelas partes. As possibilidades
da convenção desse prazo pelas partes são permitidas pelo CPC, tendo em vista o
interesse das partes. Ex: art. 454, § 3º, CPC

B) Aceleratórios ou peremptórios → é fixado em vista do interesse público, qual seja, a


celeridade do processo. Assim, as partes não podem convencionar. O prazo para recorrer
é peremptório, pois tem o objetivo de dar celeridade para o andamento do processo.

7.2) Interposição de recursos antes da publicação da decisão impugnada


Até pouco tempo a orientação do STJ é que o recurso interposto antes da publicação da
sentença é um recurso intempestivo. Depois dos julgados EResp 649526 e EAg 522249

EAg 522249 / RS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO 2004/0121708-4


PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. RECURSO INTERPOSTO ANTES
DE PUBLICADA A DECISÃO RECORRIDA. INTEMPESTIVIDADE. PUBLICAÇÃO, ATO
INDISPENSÁVEL. EXTEMPORANEIDADE. PRECEDENTES. ENTENDIMENTO DO
RELATOR. NOVA POSIÇÃO DA CORTE ESPECIAL DO STJ. TEMPESTIVIDADE DO
RECURSO.
1. A extemporaneidade de um recurso não se caracteriza apenas por sua interposição após
término do prazo recursal, mas, também, pela apresentação em data anterior à efetiva
intimação das partes interessadas a respeito do teor da decisão a ser combatida.
2. A publicação da decisão que se pretende recorrer é ato indispensável para ensejar e
justificar a interposição de novo recurso, sendo intempestivo o recurso manejado antes da
publicação das conclusões do aresto no Diário da Justiça (STF, AG nº 187448-1/SP e
AGAED nº 242842/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa). Precedentes de todas as Turmas e da
50
Corte Especial deste Tribunal Superior. Entendimento deste Relator com base em
precedentes desta Casa Julgadora.
3. No entanto, embora tenha o posicionamento acima assinalado, rendo-me, ressalvando
meu ponto de vista, à posição assumida pela maioria da Corte Especial deste Sodalício, pelo
seu caráter uniformizador no trato das questões jurídicas no país que, com base em recente
decisão (EResp 492461/MG), datada de 17/11/2004, consignou que a interposição de
recursos contra decisões monocráticas ou colegiadas proferidas pelo STJ pode, a partir de
agora, ser realizada antes da publicação dessas decisões na imprensa oficial.
4. Embargos de divergência acolhidos.

A partir desses julgados, o STJ está admitindo os recursos interpostos antes da publicação
da sentença, com fundamento de que o prazo é peremptório, ou seja,

8) Julgamento dos recursos


8.1) Juízo de admissibilidade → guarda pertinência com a análise dos pressupostos recursais.
Pode ser positivo, quando estão presentes todos os pressupostos recursais, ou negativo,
quando ausente um dos pressupostos recursais, caso em que o recurso não será admitido.
8.2) Juízo de mérito → só será alcançado diante de um juízo de admissibilidade positivo.

06/05/08
9) Efeitos dos recursos
Podem aparecer em qualquer recurso. Quem sistematizou essa proposta foi Nelson Nery.

9.1) Devolutivo → a devolutividade é uma característica própria dos recursos em geral. Os


recursos devolvem ao Poder Judiciário a análise da matéria neles impugnada. É o efeito
devolutivo que vai estabelecer o limite de julgamento do recurso.

Tantun devolutum quantum apelatum → se devolve a julgamento a matéria que foi impugnada
pela apelação.

Barbosa Moreira concebe o efeito devolutivo como a devolução da matéria impugnada a outro
órgão do Poder Judiciário. Como os Embargos de Declaração devolvem a matéria impugnada
ao mesmo órgão, pelo entendimento de Barbosa Moreira, não seria uma espécie de recurso.

9.2) Suspensivo → consiste exatamente em um prolongamento do estado de ineficácia da


decisão impugnada, ou seja, se o recurso tiver efeito suspensivo, a decisão impugnada não
produzirá efeitos práticos. Esse efeito ocorrerá dependendo da espécie de recurso. Ex:
apelação – possui efeito suspensivo; agravo – não tem efeito suspensivo; Resp e RE – não
possuem efeito suspensivo.

9.3) Extensivo (expansivo) → o efeito extensivo se divide em:


 Efeito extensivo objetivo → outros atos processuais, além daqueles impugnados no
recurso, também serão atingidos por seu julgamento em razão de questões de ordem
lógica. Ex: ação de reparação de danos provocado por um acidente automobilístico, o
51
advogado do autor requereu uma perícia (análise da marca de frenagem no asfalto). O
juiz indeferiu o pedido de perícia. O autor pode agravar a decisão que indeferiu a perícia.
Mas o agravo não tem efeito suspensivo, ou seja, o processo continuará seu rito normal.
Quando o agravo for provido no Tribunal, todos os atos processuais subseqüentes ao
indeferimento da perícia serão invalidados, por uma questão lógica.

 Efeito extensivo subjetivo → outros legitimados para recorrer serão atingidos por seu
julgamento. Esse efeito se apresenta diante da exceção ao princípio da autonomia dos
co-litigantes (art. 48, CPC), ou seja, em caso de litisconsórcio unitário.
Art. 48. Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em suas
relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões de um não
prejudicarão nem beneficiarão os outros.

9.4) Regressivo → se apresenta sempre que no processamento do recurso houver o chamado


“juízo de retratação”, que permite que ao juiz que relatou a decisão rever a mesma antes que o
recurso seja julgado. Se o juiz voltar atrás, o recurso fica prejudicado (falta de interesse recursal
superveniente). Esse efeito raramente acontece, pois o juiz não volta ao atrás. Têm juízo de
retratação: todos os agravos; as apelações do 285-A; as apelações do art. 296 e as apelações
dos procedimentos do ECriAd.

9.5) Translativo → o efeito translativo é uma exceção ao princípio da personalidade dos


recursos (proibição da reformatio in pejus). Esse efeito se verifica quando se reconhece
questão de ordem pública no julgamento do recurso, desde que essa questão não tenha sido
decidida anteriormente. Se já tiver sido decidida anteriormente, estará preclusa a possibilidade
de nova discussão.
Para ajudar a verificar as questões de ordem púbica, ver artigos 301, § 4º e 267, § 3º, do CPC.
Art. 301, § 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria
enumerada neste artigo.
Art. 267, § 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu
que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá
pelas custas de retardamento.

9.6) Substitutivo → interposto um recurso de apelação contra uma sentença, sendo esse
recurso admitido e provido, a sentença jamais transitará em julgado, pois a decisão proferida
pelo Tribunal substitui o julgamento operado pelo juiz de primeiro grau (art. 512, CPC).
Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida
no que tiver sido objeto de recurso.
07/05/08

10) Fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer


52
10.1) Impeditivos → se estabelecem no sentido de que quando o legitimado para recorrer
contribui de alguma forma para a prática do ato processual que ele pretende impugnar não
será admitida a interposição de recurso. Ressalvados os vícios dos atos processuais: erro,
dolo, fraude, coação.

10.2) Extintivos
a) Desistência do recurso → a desistência ocorre após a interposição do recurso.
Independe da aceitação da parte contrária. CUIDADO: pois desistência do direito de
ação precisa de aceitação da outra parte.
Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.

b) Renúncia ao direito de recorrer → ocorre tão logo a decisão da qual se possa


recorrer é publicada. Independe da aceitação da parte contrária.
Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.

c) Aceitação (aquiescência) → preclusão lógica da possibilidade de recorrer


Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá
recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato
incompatível com a vontade de recorrer.

CAPÍTULO III – RECURSOS EM ESPÉCIES

APELAÇÃO

1) INTRODUÇÃO
1.1) Conceito → é o meio processual que a lei coloca à disposição das partes (autor e réu) do
Ministério Público interveniente, ou de um terceiro prejudicado a viabilizar na mesma
relação jurídica processual a anulação ou reforma de uma sentença que tenha ou não
resolvido o mérito da causa (art. 267 e 269, CPC).
Art. 513. Da sentença caberá apelação (arts. 267 e 269).
Único caso de uma sentença que não cabe apelação, mas sim recurso ordinário ao STJ.
Art. 105 (CF). Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II - julgar, em recurso ordinário:
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um
lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Art. 109 (CF). Aos juízes federais compete processar e julgar:


II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;

1.2) Interposição
53
O recurso de apelação é protocolado perante o juiz prolator da sentença, razão pela qual a
petição inicial do recurso é dirigida a esse juiz, requerendo que o recurso seja recebido
(juízo de admissibilidade prévio positivo). Em seguida, no corpo da mesma petição, deve-
se dirigir ao Tribunal para expor as razões de apelação. Por último, tem que formular a
pretensão recursal, para estabelecer os limites do recurso.
Art. 514. A apelação, interposta por petição dirigida ao juiz (juízo), conterá:
I - os nomes e a qualificação das partes; → necessária apenas, e tão somente, quando o
recorrente é um terceiro interessado que não tinha ainda ingressado na relação jurídica
processual.
II - os fundamentos de fato e de direito;
III - o pedido de nova decisão.

1.3) Principais Efeitos


a) Devolutivo
É representado pela máxima tantum devolluttum quantum apellattum.
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

Exceções ao efeito devolutivo da apelação: (Matéria de prova, com certeza)


§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.
§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um
deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
§ 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode
julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 4o Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a
realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência,
sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação. (Incluído pela Lei nº 11.276, de
2006)

I II III IV V VI VII Horizontalidade (art. 267)


I Extensão
II Art. 515, § 3º
III
IV
V

Verticalidade (art. 269)


Se a sentença é do art. 267, podem os Desembargadores mudar o inciso que foi utilizado
Profundidade
(salvo o inciso VIII - convenção de arbitragem). Da mesma forma, se a sentença foi do art.
269, também podem mudar o inciso utilizado. Pode o Desembargador ao julgar o recurso
mudar do art. 267 para o 269.
54

b) Suspensivo
A apelação tem efeito devolutivo e suspensivo. Só não terá efeito suspensivo nas
seguintes hipóteses:
Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto,
recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: (Redação dada pela
Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - homologar a divisão ou a demarcação; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
II - condenar à prestação de alimentos; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
III - julgar a liquidação de sentença; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973 )
(Revogado pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV - decidir o processo cautelar; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; (Redação dada
pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem. (Incluído pela Lei nº 9.307, de
23.9.1996)
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela; (Incluído pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)

12/05/08
Outras hipóteses de apelação sem efeito suspensivo:
 Apelação interposta contra sentenças proferidas em Mandado de Segurança (art. 12,
parágrafo único, Lei nº 1.533/51);
 Apelação interposta contra sentenças que concedem habeas-data (art. 15, parágrafo
único, Lei nº 9.507/97);
 Apelação interposta contra sentenças que declaram a interdição (art. 1.184, CPC);
 Apelação interposta contra sentenças proferidas nos procedimentos da Lei de
Locações (art. 58, V, Lei nº 8.245/91).

O que fazer para dar efeito suspensivo à apelação que não o tenha?
Sentença → apelação com pedido de efeito suspensivo (art. 558, p. único) → art. 518 → decisão
interlocutória negando efeito suspensivo → agravo de instrumento (art. 522)

Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,
adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros
casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a
fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da
turma ou câmara. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo as hipóteses do art. 520. (Redação
dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)

Art. 518. Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar
vista ao apelado para responder. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
55
§ 1o O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade
com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. (Renumerado
pela Lei nº 11.276, de 2006)
§ 2o Apresentada a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos pressupostos
de admissibilidade do recurso. (Incluído pela Lei nº 11.276, de 2006)

Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma
retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de
30.11.1995)

2) JULGAMENTO DA APELAÇÃO
O julgamento da apelação ocorre em até quatro etapas.

2.1) Juízo de admissibilidade em 1º grau


A) Análise dos pressupostos recursais subjetivos e objetivos
Se o juiz de primeiro grau verificar que falta um dos pressupostos recursais, não receberá
o recurso de apelação. Ao contrário, se prima facie verificar a presença dos pressupostos
recursais, receberá o recurso de apelação, declarará os efeitos em que a recebe e abrirá
vista para o apelado para as contra-razões (art. 518, CPC). Depois de ouvir o apelado, o
juiz poderá rever o juízo de admissibilidade positivo (art. 518, § 2º, CPC). O segundo juízo
de admissibilidade é facultativo ao juiz, ao contrário do primeiro que é obrigatório.

B) Análise da apelação interposta à luz de matéria sumulada (art. 518, § 1º)


A doutrina vem chamando esse dispositivo de “súmula impeditiva de recursos”.
§ 1o O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade
com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. (Renumerado
pela Lei nº 11.276, de 2006)

Há uma crítica em relação a esse dispositivo, pois se o juiz não receber a apelação, o
apelante poderá agravar dessa decisão. Flávio Cheim Jorge e Marcelo Abelha defendem a
inconstitucionalidade desse dispositivo, pois impede o direito de recorrer. O professor
discorda, visto que é possível a interposição do agravo.
Esse dispositivo dá competência ao juiz para deixar de receber apelação contra sentença
que esteja em conformidade com súmula do STJ e do STF (análise de mérito).
A interposição do agravo no Tribunal, quando for acolhido, gerará uma análise do mérito
da própria apelação. Aplica-se, o art. 544, § 3º, 2ª parte, por analogia, ao art. 518, § 1º.
Art. 544, § 3o Poderá o relator, se o acórdão recorrido estiver em confronto com a súmula ou
jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, conhecer do agravo para dar
provimento ao próprio recurso especial; poderá ainda, se o instrumento contiver os
elementos necessários ao julgamento do mérito, determinar sua conversão, observando-se,
56
daí em diante, o procedimento relativo ao recurso especial. (Redação dada pela Lei nº 9.756,
de 17.12.1998)
13/05/08
O julgamento da apelação se encerrará na primeira etapa se entender que está ausente algum
dos requisitos recursais ou quando for possível a aplicação do art. 518, § 1º.

2.2) Julgamento em 2º grau


A) Monocraticamente pelo relator (art. 557)
O sorteio do Desembargador relator é que determina o órgão jurisdicional responsável
pelo julgamento da apelação. A atividade processual do Desembargador relator está
prevista no art. 557. Segundo o professor, a redação desse artigo é cheia de
controvérsias. Poderá o Desembargador relator:
 Juízo de admissibilidade → poderá negar seguimento por falta de pressuposto recursal
(recurso prejudicado – ausência de interesse em recorrer superveniente).
 Juízo de mérito:
a) Poderá negar provimento em recurso manifestadamente improcedente
b) Poderá negar provimento ao recurso que esteja em confronto com súmula dos
Tribunais Superiores.
c) Poderá dar provimento ao recurso da sentença que está em confronto com a súmula
(§ 1º-A).
Dessa decisão monocrática do Desembargador Relator, caberá agravo interno (chamado
de “agravinho”) ao Colegiado.
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente,
prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº
9.756, de 17.12.1998)
§ 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator
poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
§ 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o
julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em
mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº
9.756, de 17.12.1998)
§ 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o
agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa,
ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo
valor. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)

Se não for caso de aplicação do art. 557, a apelação será julgada pelo Colegiado.

B) Em colegiado pela Câmara Cível respectiva


O Desembargador Relator (A) elaborará um relatório que será anexado aos autos do
processo e encaminhará para a Câmara Cível respectiva. Em seguida o processo será
encaminhado ao Desembargador Revisor (B) que irá analisar a atividade processual
57
desenvolvida pelo Relator. O revisor irá pedir dia para julgamento e será marcado o dia
para que o recurso seja julgado na Câmara Cível respectiva. No dia marcado, o Relator
expõe a causa e faculta a sustentação oral dos advogados (art. 554). Em seguida, passa-
se aos votos na seguinte ordem: Des. Relator, Des. Revisor e, por último, o terceiro
Desembargador (C).

Art. 551. Tratando-se de apelação, de embargos infringentes e de ação rescisória, os autos


serão conclusos ao revisor.
§ 1o Será revisor o juiz que se seguir ao relator na ordem descendente de antigüidade.
§ 2o O revisor aporá nos autos o seu "visto", cabendo-lhe pedir dia para julgamento.
§ 3o Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários, de despejo e nos
casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá revisor. (Redação dada pela Lei
nº 8.950, de 13.12.1994)

Art. 552. Os autos serão, em seguida, apresentados ao presidente, que designará dia para
julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial.
§ 1o Entre a data da publicação da pauta e a sessão de julgamento mediará, pelo menos, o
espaço de 48 (quarenta e oito) horas.
§ 2o Afixar-se-á a pauta na entrada da sala em que se realizar a sessão de julgamento.
§ 3o Salvo caso de força maior, participará do julgamento do recurso o juiz que houver
lançado o "visto" nos autos.

Art. 554. Na sessão de julgamento, depois de feita a exposição da causa pelo relator, o
presidente, se o recurso não for de embargos declaratórios ou de agravo de instrumento,
dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, pelo prazo improrrogável de
15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem as razões do recurso.

Art. 555. No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na câmara ou


turma, pelo voto de 3 (três) juízes. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 1o Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou compor
divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor seja o recurso
julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhecendo o interesse público na
assunção de competência, esse órgão colegiado julgará o recurso. (Incluído pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)
§ 2o Não se considerando habilitado a proferir imediatamente seu voto, a qualquer juiz é
facultado pedir vista do processo, devendo devolvê-lo no prazo de 10 (dez) dias, contados
da data em que o recebeu; o julgamento prosseguirá na 1 a (primeira) sessão ordinária
subseqüente à devolução, dispensada nova publicação em pauta. (Redação dada pela Lei nº
11.280, de 2006)
§ 3o No caso do § 2o deste artigo, não devolvidos os autos no prazo, nem solicitada
expressamente sua prorrogação pelo juiz, o presidente do órgão julgador requisitará o
processo e reabrirá o julgamento na sessão ordinária subseqüente, com publicação em
pauta. (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)
58

Art. 556. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando


para redigir o acórdão o relator, ou, se este for vencido, o autor do primeiro voto vencedor.

3) Correção de vícios processuais antes do julgamento de mérito da apelação


3.1) Generalidades
A nulidade pode ser:
 Absoluta → pode ser conhecida de ofício pelo juiz a qualquer tempo e grau de
jurisdição.
 Relativa → deve ser requerida pela parte.
 Sanável →
 Insanável →
A nulidade pode ser absoluta, mas sanável. Pode ser relativa, mas insanável.
O fato de ser sanável ou insanável tem a ver com existência ou não de prejuízo – princípio
da instrumentalidade das formas.

A respeito do tema, ler:


BEDAQUE, José dos Santos. Técnica processual e efetividade do processo (Capítulo
quinto: Nulidades Processuais).
3.2) Aplicação no âmbito recursal (art. 515, § 4º)
Sempre que a nulidade for sanável e o vício possa ser corrigido no próprio Tribunal, não
há que se falar em anulação desse processo, em nome da efetividade, celeridade,
economia processual. Se o vício for insanável, anula-se o processo desde a ocorrência do
vício.
§ 4o Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a
realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência,
sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação. (Incluído pela Lei nº 11.276, de
2006)

4) Expansão do efeito devolutivo da apelação


(Matéria de prova e do exercício nº 4 – um dos pontos mais importantes do Proc. Civil IV)

Exceções à regra do tantun devolutum quantun apellattun:


4.1) Análise de questões não analisadas por inteiro na sentença (art. 515, §§ 1º e 2º)
Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.
§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um
deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais. (parágrafo explicativo
ao primeiro parágrafo)

4.2) Análise de questões anteriores à sentença ainda não decididas (art. 516, CPC)
Art. 516. Ficam também submetidas ao tribunal as questões anteriores à sentença, ainda
não decididas. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
59

19/05/08
4.3) Art. 515, § 3º → chamado por Alexandre Freitas Câmara de teoria da causa madura
Se foi observado no 1º grau o princípio do devido processo legal, caso haja reforma da
sentença terminativa no julgamento da apelação, os Desembargadores já podem enfrentar
o mérito, ou seja, estão autorizados a sair da linha horizontal e penetrar na linha vertical.
§ 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode
julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

Para que seja aplicado o art. 515, § 3º, CPC, há necessidade de observância dos seguintes
requisitos:
a) Juízo de admissibilidade positivo da apelação → tem que estar presentes todos os
pressupostos recursais.
b) Inexistência de vício capaz de invalidar a sentença → se os Desembargadores se
depararem com outra questão de ordem pública, não poderão enfrentar o mérito. Ex:
incompetência absoluta.
c) Inexistência de outro obstáculo impeditivo ao exame do mérito → quando o
Desembargador reforma a sentença no conteúdo e não na decisão. Continua na
horizontal.
d) Estar a causa em condições de imediato julgamento (“causa madura”) →
Se o juiz indefere a petição inicial, o autor interpõe apelação e o Desembargador verifica
que o juiz se equivocou, e reforma a sentença terminativa, não poderá julgar o mérito,
pois não foi observado o devido processo legal.
e) Requerimento da parte recorrente?
A aplicação do art. 515, § 3º conduz a uma hipótese de reformatio in pejus permitida.
Por isso, alguns autores entendem que para sua aplicação deve haver requerimento
expresso do recorrente. Esses autores ainda dizem, o direito de recorrer é uma
extensão do direito de ação, que está escorado na iniciativa das partes, razão pela qual
não devem os Desembargadores analisar o mérito sem requerimento do recorrente.
Em posição contrária, o Prof. Marcelo Zenkner entende que o Desembargador pode
aplicar, de ofício, o art. 515, § 3º, ou seja, admite que o 2º grau resolva o mérito da
questão, sem requerimento expresso do recorrente, tendo em vista a celeridade
processual.

Obs.: Em relação à conjunção e, doutrina e jurisprudência têm aceitado que esta não é
necessária, pois basta que a causa esteja em condições de imediato julgamento.

Tema para próxima aula:


60
Por que o julgamento da apelação interposta contra sentença do art. 285-A pode representar
hipótese de reformatio in pejus permitida?
Dica: Texto do Prof. Américo Bedê

5) Processamento especial da apelação interposta contra sentença do art. 285-A


Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver
sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser
dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente
prolatada. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)

5.1) Juízo de retratação (art. 285-A, § 1º)


É uma apelação que tem efeito regressivo, pois permite ao juiz, depois da apelação, rever sua
sentença.
§ 1o Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não manter a
sentença e determinar o prosseguimento da ação. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)

5.2) Processamento (art. 285-A, § 2º)


Sendo uma sentença de mérito, deve ser garantido o devido processo legal. A relação jurídica
processual será formada depois da sentença, pois o réu será citado (ato de comunicação) para
apresentar contra-razões de recurso. Se ele não apresentar as contra-razões, ele não será
considerado revel, pois o réu não é chamado para se defender. As contra-razões são mera
faculdade e não ônus processual.
§ 2o Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder ao
recurso. (Incluído pela Lei nº 11.277, de 2006)

Sentença de improcedência → Apelação → Juízo de retratação (se negativo) → Citação para


apresentação de contra-razões → Contra-razões de apelação → revisão da admissibilidade da
apelação → remessa para o Tribunal

5.3) Reformatio in pejus permitida (Ver texto do Bedê)


No caso de apelação, necessariamente haverá a citação do réu, para responder ao recurso,
sendo necessária a contratação de advogado, que implicará em despesas econômicas para o
mesmo. Sendo negado provimento ao recurso, é claro que as posições jurídicas do recorrente e
do recorrido permanecerão inalteradas, mas deverá o Tribunal condenar o autor-recorrente a
ressarcir o réu-recorrido dos gastos com honorários advocatícios, obrigação essa que não era
suportada anteriormente diante da simples sentença de improcedência, exatamente porque o
réu não havia ainda sido citado. Haverá, assim, uma possibilidade de o julgamento em 2º grau
piorar a situação jurídica daquele que interpõe o recurso.
03/06/08

Se a apelação for provida, podem os Desembargadores julgar procedente o pedido da petição


inicial ou devem remeter ao Juízo de 1º Grau? Depende. Se a questão é exclusivamente de
61
direito, podem julgar o mérito? A discussão na doutrina é se as contra-razões são suficientes
para garantir o contraditório e a ampla defesa. As contra-razões fazem as vezes de uma
contestação? A tendência da doutrina é no sentido de que o Tribunal possa, dando provimento
a essa apelação, julgar o mérito em sentido contrário, ou seja, julgar procedente o pedido do
autor. Desta forma, cabe aos advogados formularem contra-razões como se contestações
fossem, tocando na questão de fundo do processo.

Se a causa não estiver madura, quando, por exemplo, os Desembargadores entenderem que a
sentença não é caso do art. 285-A, deve ser devolvido o processo para o juiz de primeiro grau.

Programação:
 03/06 → Agravo
 09/06 → Agravo
 10/06 → Agravo
 11/06 → Exercício Prático nº 5
 16/06 → Embargos Infringentes
 17/06 → PROVA (matéria: até agravo)
 23/06 → Embargos Infringentes
 24/06 → Embargos Infringentes
 30/06 → Exercício Prático nº 6
6) Inovação na apelação
6.1) Fatos novos (art. 517)
Posso ventilar fatos novos na apelação? Depende do caso concreto (ver exemplo da apelação
enviada pelo professor)
Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir, sem o
consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas por
lei.(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Parágrafo único. A alteração do pedido ou da causa de pedir em nenhuma hipótese será
permitida após o saneamento do processo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)

Art. 517. As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas na
apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.

6.2) Documentos novos – desde que guardem pertinência com os fatos novos.

AGRAVO

1) INTRODUÇÃO

1.1) Conceito → é o recurso cabível contra as decisões interlocutórias simples, mistas ou de


mérito, proferidas em qualquer tipo de processo (de cognição cautelar ou de execução),
que tem por objetivo principal evitar a preclusão em torno da matéria decidida pelo juízo
de primeiro grau.
62
Juiz de direito só pode proferir dois tipos de decisão: sentença ou decisão interlocutória. O
conceito de sentença está no art. 162, § 1º, CPC. Logo, decisão interlocutória é a decisão
do juiz que não é uma sentença. As decisões interlocutórias podem ser:
 Simples → resolvem questão incidente do processo sem tocar no mérito da causa.
 Mérito → resolvem incidentalmente o processo, mas tocam no objeto da causa.
 Mistas → resolvem questão incidental no processo, mas alteram a relação jurídica
processual.

1.2) Objeto → decisões interlocutórias simples, mistas e de mérito, desde que recorríveis.
Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma
retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de
30.11.1995)
Existem decisões interlocutórias irrecorríveis. Exemplos:
 Decisões interlocutórias nos Juizados Especiais (os advogados usam Mandado de
Segurança).
 Decisão do juiz que recebe a petição ou que recebe o recurso (mesmo sendo
intempestivo).

1.3) Prazo → 10 dias, ressalvados os prazos em dobro.

 agravo retido e de instrumento: 10 dias


 agravo retido contra decisões proferidas em audiência: interposição imediata
 agravo interno: 5 dias

- PRINCIPAIS EFEITOS GERAIS (não tem nessa folha mas zenkner colocou no slide)
2.1 Suspensivo

Via de regra o agravo não possui efeito suspensivo, o artigo abaixo exemplifica as possibilidades
cabíveis, sendo sempre que houver em decisão interlocutória lesão grave ou de difícil reparação a
parte, a partir do requerimento do agravante e análise do caso concreto.

Art. 558, caput, CPC. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão
civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em
outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a
fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da
turma ou câmara.

2.2 Expansivo objetivo

Como o agravo não tem o condão de atingir a marcha processual, os atos processuais
praticados após sua interposição ficarão sujeitos à condição resolutiva. Isso significa dizer que a
eficácia dos atos processuais posteriormente praticados, inclusive a sentença, dependerão do
63
desprovimento do recurso; caso seja ele provido, os atos processuais subseqüentes à interposição
do agravo, se incompatíveis com o resultado de seu julgamento, tornar-se-ão insubisistentes.

2.3 Regressivo

Art. 523, §2º, CPC. Interposto o agravo (RETIDO), e ouvido o agravo no praz de 10 dias, o
juiz poderá reformar sua decisão.

Art.529 CPC. Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará
prejudicado o agravo.

2.4 “Ativo”

Art.527 CPC. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o


relator: (...)
III – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art.588), ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

Se o tribunal pode suspender os efeitos de uma decisão, ele pode promover os efeitos de uma
decisão que não as produz, dando a parte que está recorrendo aquilo que ela teria com o
julgamento final do recurso. Não se relacionam apenas as possibilidades de tutela antecipada.

Atenção:
A primeira corrente diz que, à luz do artigo 558, numa interpretação sistemática, deve haver
requerimento do agravante para a produção do “efeito ativo” do art.527.
A outra corrente, dispensa essa exigência para a produção de ambos os efeitos. (suspensivo e
“ativo): a primeira justificativa, diz que, o artigo 527, III, tem a nova disposição estampada por uma
lei de 2001, enquanto a 558 por uma lei de 1995, logo LEI POSTERIOR DERROGA LEI
ANTERIOR. Além disso, a parte que recorre deseja a prestação jurisdicional de forma célere, não
precisa ser explícito, até em termos de garantia constitucional. Logo o desembargador também
pode dar de ofício ambos os efeitos.

2) AGRAVO RETIDO (art. 523)

Art. 523. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele
conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. (Redação dada
pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
§ 1o Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões
ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal. (Incluído pela Lei nº 9.139,
de 30.11.1995)
§ 2o Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá
reformar sua decisão. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
§ 3o Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento
caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem
como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do
agravante.(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005).
64

2.1) Generalidades → a regra de interposição de recurso contra decisões interlocutórias é o


agravo retido (art. 522, CPC). O Código de Processo Civil elenca as hipóteses de interposição
de agravo instrumento.
O agravo retido tem o apelido de recurso “bela adormecida”, porque fica anexado aos autos do
processo aguardando o julgamento final da causa (a sentença).

2.2) Procedimento

Decisão interlocutória (10 dias) → Agravo retido (protocolizado e juntado aos autos do
processo) → conclusos ao juiz → abre vista para o agravado apresentar contra-razões (10 dias)
→ juízo de retratação (o juiz pode reformar a decisão – prazo do art. 189 – 10 dias) 
continuação da tramitação do processo normalmente.

Se o agravo retido for intempestivo, a melhor decisão do juiz é deixar ele prosseguir, pois caso
ele desentranhe, irá promover outra decisão interlocutória que cabe outro agravo, que atrapalha
o processo.

Como acordar a “bela adormecida”?


O que é efeito devolutivo impróprio ou diferido do agravo retido?
09/06/08
2.3) Efeito devolutivo impróprio (diferido) ou imperfeito
Efeito do agravo retido, pois ele para ser julgado pelo tribunal necessita de outro recurso para
ser julgado, a apelação. Se não houver apelação ou faltar um pressuposto, o agravo retido não
vai ser julgado.

Art. 523. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele
conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. (Redação dada pela Lei
nº 9.139, de 30.11.1995)

§ 1o Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões ou na


resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal.

O reexame da matéria impugnada no recurso do agravo retido depende da devolutividade de


outro recurso, que no caso é a apelação. Para que o agravo retido seja julgado no Tribunal, a
apelação tem que ser conhecida e processada, além de ser necessário um requerimento
expresso na apelação ou nas contra-razões de apelação.

Em caso de reexame necessário, não havendo recurso de apelação, o entendimento da


doutrina é que os agravos retidos, tanto da Fazenda Pública quanto do particular devem ser
julgados pelo Tribunal, ainda que não haja requerimento expresso do agravante (particular),
pois este não teve oportunidade de formular requerimento nesse sentido.

Pergunta: Numa apelação, o apelante não requer o julgamento do agravo retido. O apelado
apresenta recurso adesivo. Pode o apelante formular o requerimento nas contra-razões do
recurso adesivo?
65
Depende. Se o interesse no julgamento do agravo retido já existisse por ocasião da apelação,
haveria preclusão. Se o interesse do julgamento do agravo retido só ocorrer após a apelação
adesiva, terá o apelante o direito de formular requerimento de julgamento do agravo retido nas
contra-razões de apelação adesiva – única hipótese de requerer o julgamento do agravo após a
interposição da apelação. Ex: ação de investigação de paternidade, cumulada com pedido de
alimentos. Ver jurisprudência do STJ: RESP 121.730 – PR. O juiz indeferiu o exame de dna,
autor interpõe agravo retido, e a outra parte interpõe as contra razões dizendo que não é pai,
então o autor interpõe apelação adesiva para julgar o primeiro agravo retido.

2.4) Decisões interlocutórias proferidas em A. I. J. (art. 523, § 3º)


O prazo para a interposição do agravo retido contras as decisões interlocutórias proferidas na
audiência de instrução e julgamento é imediato, ou seja, o agravante deve apresentar suas
razões na hora e o agravado deve apresentar suas contra-razões.
§ 3o Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá
agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do
respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante.(Redação
dada pela Lei nº 11.187, de 2005)

Observações:
a) O art. 523, § 3º fala em A. I. J, mas a doutrina caminha no sentido de estender essa regra
também para as audiências preliminares (audiências de tentativa de conciliação e
saneamento do feito – art. 313, CPC).
b) Se a decisão do juiz causar lesão grave ou de difícil reparação tem que ser utilizado o
agravo de instrumento no Tribunal de Justiça, apesar de a decisão ser proferida na A. I. J.
Para saber se é o caso de lesão grave ou de difícil reparação tem que se analisar o caso
concreto. Mas se o advogado entender que é o caso de lesão grave ou de difícil reparação,
mas o Desembargador não considerar assim e indeferir o agravo, o prazo para a
interposição do agravo retido estará precluso, pois este deveria ser interposto
imediatamente. O que fazer nesse caso? Deve o advogado deixar registrado o protesto (art.
867, CPC) para ressalvar direitos, e propor o agravo de instrumento dentro do prazo. Se o
Desembargador entender que não é o caso de lesão grave ou de difícil reparação, deverá
converter o agravo de instrumento em agravo retido. Essa decisão foi dada pela Ministra
Nancy Andrighi, STJ. O protesto é importante para garantir a tempestividade do agravo,
caso venha a ser convertido em retido.
Art. 867. Todo aquele que desejar prevenir responsabilidade, prover a conservação e
ressalva de seus direitos ou manifestar qualquer intenção de modo formal, poderá fazer por
escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e requerer que do mesmo se intime a
quem de direito.
66
3) AGRAVO DE INSTRUMENTO
3.1) Conceito → é a modalidade de agravo que somente poderá ser utilizada por aquele que
necessita obter desde logo o reexame de uma decisão interlocutória proferida em seu desfavor
em razão de os efeitos dessa decisão causar-lhe “lesão grave e de difícil reparação”.

As hipóteses de agravo de instrumento são exceções, pois a regra é de agravo retido. No


agravo de instrumento são formados autos próprios, ou seja, outro instrumento diferente do
processo.

Tem como regra de competência funcional e hierárquica o Tribunal de Justiça ou o Tribunal


Regional Federal. Pode ser interposto pelo correio, desde que postado dentro do prazo de 10
dias (art. 525, § 2º).
§ 2o No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou postada no correio sob
registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local.
(Incluído pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
Há jurisprudência no sentido de ser aceitável a interposição também por fax.

3.2) Leitura da cláusula geral – “Lesão grave e de difícil reparação” (conceito subjetivo, vago e
indeterminado)
Os casos de interposição de agravo de instrumento são os seguintes:

a) Diante de decisão interlocutória que envolver tutela jurisdicional de urgência, que não
pode aguardar o decurso do tempo (tutela que está assentada no periculum in mora).
Exemplos: liminares em ações cautelares; tutelas antecipadas (art. 273, I); tutelas
antecipadas específicas (liminar em mandado de segurança, liminar em ação civil pública,
liminar em ação de improbidade, alimentos provisórios); ação popular.

b) Diante de decisão interlocutória que reclama agravo de instrumento por imposição legal.
Exemplos:
 Art. 522, CPC (inadmissão da apelação e decisão interlocutória em relação aos efeitos
em que é recebida);
 Art. 475-H (decisão interlocutória que julga liquidação de sentença);
 Art. 475-M, § 3º (decisão interlocutória que rejeita a impugnação apresentada pelo
devedor na fase de cumprimento da sentença. Obs.: se o juiz acolher a impugnação o
processo será extinto, cabendo a parte perdedora apelação);
 Art. 17, § 10, Lei 8.429/92 (Lei da Improbidade Administrativa) – protocolada a petição
inicial o juiz manda notificar o réu para apresentar defesa preliminar, podendo inclusive
ventilar matéria de mérito, e o juiz vai decidir se rejeita a petição inicial (hipótese de
recurso de apelação) ou pode rejeitar a defesa preliminar e mandar citar o réu para
apresentar contestação (hipótese de recurso de agravo de instrumento)
10/06/08
67
c) Decisões interlocutórias em relação às quais é verificada uma situação de incompatibilidade
do sistema com a utilização do agravo retido. Se o sistema processual observado não
comporta o agravo retido, deverá ser utilizado o agravo de instrumento, ou seja, quando for
verificada uma situação de incompatibilidade do sistema com a utilização do agravo retido.

Exemplos:
 Numa ação indenizatória se o juiz da Vara Cível se dá por incompetente dizendo que a
ação deverá ser interposta mediante o Juizado Especial Cível – o recurso que deve ser
utilizado é o agravo de instrumento.
 Processo do Trabalho – não existe agravo retido.
 No processo de execução por título extrajudicial (termina apenas e tão somente com as
sentenças que estão elencadas no art. 794, CPC) – o recurso será o agravo de
instrumento.
 Inventário (similar com o processo de execução, pois não tem sentença apelável) –
havendo qualquer tipo de decisão interlocutória, o agravo tem que ser o agravo de
instrumento.

d) Decisões interlocutórias diante das quais a utilização da modalidade retida implicar em falta
de interesse em recorrer. Exemplo: julgamento antecipado da lide.

3.3) Documentos que instruem o agravo de instrumento (IMPORTANTE)


Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: (Redação dada pela Lei nº
9.139, de 30.11.1995)
I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e
das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; (Redação dada
pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. (Redação dada pela
Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
§ 1o Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte
de retorno, quando devidos, conforme tabela que será publicada pelos tribunais. (Incluído
pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
§ 2o No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou postada no correio sob
registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local.
(Incluído pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)

Pode documento obrigatório ser dispensado? Sim, como agravo interposto antes da intimação e
depois da sentença.

São entendidos como pressupostos recursais do agravo de instrumento, não sendo admitido ,

 Agravante
 Obrigatórios (art. 525, I) → cópia da decisão interlocutória; cópia da certidão de
intimação (para demonstrar a tempestividade do recurso); cópia das procurações dos
68
advogados do agravante e do agravado (para que este possa ser intimado no
Tribunal).
 Necessários (jurisprudência) → documentos que apesar de não serem obrigatórios
podem ser determinantes para o julgamento do agravo.

“ o agravo de instrumento deve ser instruído com as peças obrigatórias e também com
as necessárias à correta apreciação da controvérsia, nos temos do art.525, II, do CPC.
A ausência de qualquer delas obsta o conhecimento do agravo.”

 Facultativos (art. 525, II) → qualquer documento que o agravante entender útil, não é
necessário que faça parte do processo.

Obs.: Os documentos obrigatórios e os necessários constituem pressuposto recursal


específico do agravo de instrumento. Se o Desembargador entender que está ausente
algum documento obrigatório ou necessário, o agravo não será admitido, havendo
preclusão consumativa.

 Agravado
 Facultativos → por isonomia, se o agravante pode apresentar documentos
facultativos, o agravado também poderá apresentar qualquer documento que julgar
conveniente nas contra-razões (art. 527, V).
Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator:
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu
advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10
(dez) dias (art. 525, § 2 o), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente,
sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o expediente forense for
divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)

3.4) Procedimento
Decisão interlocutória
Em 3 dias da interposição ↓ Prazo de 10 dias
do agravo de instrumento, Agravo de instrumento
deve se comunicar ao juiz
do 1º grau a interposição Será interposto no TJ ou
(art. 526, CPC) indicando ↓ protocolado no Correio
inclusive quais os (art.524)
documentos presentes no
agravo de instrumento.
Desembargador Relator

A exigência do art. 526 é O Des. Relator chamará o Prazo de 10 dias
69
necessária para facilitar a
agravado para apresentar contra-
apresentação das contra-
razões (art. 527, V)
razões pelo agravado.

3 Desembargadores
Câmara Cível julga o Agravo de
(não tem revisor e nem
Instrumento sustentação oral)

3.5) Comunicação da interposição (art. 526) (o objetivo é facilitar a ampla defesa e o


contraditório)
Em 3 dias da interposição do agravo de instrumento, deve se comunicar ao juiz do 1º grau a
interposição (art. 526, CPC). Essa exigência é necessária para facilitar a apresentação
das contra-razões pelo agravado.
Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do processo
de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim
como a relação dos documentos que instruíram o recurso. (Redação dada pela Lei nº 9.139,
de 30.11.1995)
Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado
pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. (Incluído pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)

Quais as conseqüências para o descumprimento da exigência contida no art. 526, CPC?

1ª corrente(majoritária): faz uma interpretação literal do dispositivo – parágrafo único –


(Barbosa Moreira – Código de Processo Civil Comentado) inadmissibilidade do agravo (falta
de um pressuposto recursal). O agravado deve apresentar as contra-razões e abrir um
tópico intitulado preliminarmente que o agravo não deve ser admitido, por inobservância da
exigência do art. 526 e provar isso.
2ª corrente: interpretação restritiva do dispositivo (Flávio Cheim Jorge) – o legislador disse
mais do que queria dizer. Trata-se de um pressuposto recursal, específico do agravo de
instrumento, e os pressupostos recursais são questões de ordem pública, que podem ser
conhecidas de ofício pelo Desembargador. Sendo matéria de ordem pública, não pode
haver exigência de que o agravado tenha que suscitar essa questão. Para essa corrente, o
Desembargador pode inadmitir o agravo, mesmo sem argüição de ausência de
comunicação (art. 526) pelo agravado em suas contra-razões.
3ª corrente: interpretação extensiva do dispositivo (Alexandre Câmara). O agravado, em
suas contra-razões, tem que alegar a inobservância do art. 526, provar essa ausência e
demonstrar que sofreu prejuízo com a ausência da comunicação – Princípio da
transcendência ou princípio da ausência de prejuízo. (prof é afavor))
A jurisprudência do STJ tem seguido a primeira corrente, mas já há julgados aplicando-se a
2ª ou a 3ª corrente (profº curte essa)
70
3.6) Decisão monocrática do relator (art. 527)
O art. 527 ensina passo a passo as decisões que devem ser tomadas pelo Desembargador
Relator. Recebido o agravo de instrumento, deverá o Des. Relator, nesta ordem:

1º) Tentar aplicar inciso I → negar seguimento ao agravo.


2º) Se não for possível, vai tentar aplicar o inciso II → verificar se o caso é de agravo de
instrumento mesmo – sendo o caso, irá processar o agravo. Não sendo, deve converter em
agravo retido.
3º) Se não for possível aplicar o inciso I ou o inciso II, resta a aplicação dos incisos III
(envolve a concessão ou não do efeito suspensivo e ativo do agravo de instrumento), IV
(envolve o pedido de informações ao juiz) e V (manda intimar o advogado do agravado
apresentar contra-razões pelo prazo de 10 dias). Esses três incisos devem ser aplicados
juntos.
Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator:
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557; (Redação dada pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência
dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal
Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)
II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão
suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida,
mandando remeter os autos ao juiz da causa; (Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
IV - poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10 (dez)
dias; (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu
advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10
(dez) dias (art. 525, § 2 o), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente,
sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o expediente forense for
divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial;
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caput deste artigo, mandará
ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.
(Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste
artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o
próprio relator a reconsiderar. (Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
71
Se o Des. Relator nega seguimento ao agravo (inciso I), por qualquer das hipóteses do art. 557,
dessa decisão caberá agravo interno para a Câmara Cível no prazo de 5 dias. As decisões do
Des. Relator no caso dos incisos II e III são irrecorríveis, pois somente é passível de reforma no
momento do julgamento do agravo (art. 527, parágrafo único). Os advogados têm utilizado
Mandado de Segurança nesses casos.

3.7) Informações (Art. 527, IV)


O Des. Relator poderá pedir informações ao juiz da causa, por meio de ofício. O professor falou
que os Desembargadores sempre pedem essas informações, mas entende que essas
informações devam ser pedidas apenas quando realmente necessárias.

3.8) Julgamento em colegiado


Se não for o caso de julgamento monocrático do agravo de instrumento, os outros dois
desembargadores que seguirem na ordem de composição da Câmara também participarão do
julgamento do recurso, nos mesmos moldes da apelação, não havendo, entretanto, a figura do
revisor (art. 551, caput, CPC), razão pela qual o próprio relator pedirá dia para julgamento (art.
528, CPC).

4) EFEITOS GENÉRICOS
4.1) Devolutivo (retido e de instrumento) → vide teoria geral dos recursos.
O professor vislumbra a possibilidade de aplicação analógica das regras da apelação do
art. 515 para o agravo. Mas na prática os Desembargadores ainda não vêm aplicando.

4.2) Regressivo (retido e de instrumento)


É o juízo de retratação que todo agravo tem. Agravo de instrumento (art. 529) e agravo
retido (art. 523, § 2º).

4.3) Suspensivo (agravo de instrumento) – art. 527, III, primeira parte


Poderá ser concedido pelo relator, suspendendo a eficácia da decisão agravada para eliminar o
risco de danos sérios e de reparação problemática até o pronunciamento definitivo da turma ou
câmara.
III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de
tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,
adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros
casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a
fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o pronunciamento definitivo da
turma ou câmara. (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)

4.4) Ativo (agravo de instrumento) – art. 527, III, segunda parte


72
Diante de uma decisão interlocutória negativa o Des. Relator poderá antecipar a pretensão
recursal – dar a tutela antecipada desde logo.

Obs.: Não é necessário requerimento da parte para que o Desembargador conceda o efeito
suspensivo ou o efeito ativo.
16/06/08
EMBARGOS INFRINGENTES

1) Introdução

1.1) Noção: é um recurso tendente a ser extinto – já quase foi eliminado na última reforma do
CPC, em 2001, sendo “salvo” por Barbosa Moreira, sob o argumento de que os recursos
que ele julgou como Desembargador do TJRJ, os mais interessantes foram os de
embargos infringentes. Ele ocorre quando o julgamento, nas Câmaras Cíveis, não é
unânime, ou seja, o placar foi de 2 x 1. Na última reforma do CPC de 2001, ficou claro a
restrição ao cabimento dos embargos infringentes somente para apelação e ação
rescisória (art. 530, CPC).

1.2) Conceito: é o recurso que tem por objetivo fazer prevalecer o voto minoritário proferido em
acórdão não unânime (2 x 1), que tenha reformado sentença de mérito em recurso de
apelação (se o acórdão, ainda que não unânime, for no mesmo sentido da sentença de 1º
grau, não caberá os embargos infringentes), ou então que tenha julgado procedente
pedido formulado em ação rescisória. A lógica para permitir os embargos infringentes
somente na hipótese em que o acórdão tenha reformado sentença de mérito em recurso
de apelação, e não se o acórdão for no mesmo sentido da decisão de 1º grau, é porque,
no 1º caso, o scorre final da manifestação do Poder Judiciário será de um empate, ou
seja, 2 x 2, contando os votos do juiz de 1º grau e da câmara cível; já no 2º caso, o scorre
será de 3 x 1, não havendo dúvida sobre a posição final do Poder Judiciário acerca da
matéria.

1.3) Natureza jurídica: a dúvida é se é recurso de fundamentação livre ou vinculada. Uma


corrente doutrinária entende, pela leitura do art. 530 do CPC, que é recurso de
fundamentação vinculada, conforme redação final deste artigo:
Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado,
em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória.
Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência .
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)
73

Entretanto, como se pode deduzir qualquer crítica jurídica contra a decisão recorrida nos
embargos infringentes, outra corrente (a qual adere o Zenkner) entende que se trata de
recurso de fundamentação livre – o que é limitado é apenas o campo em que recairá o
recurso, qual seja, aquilo que foi objeto de divergência na câmara cível.
Recurso de fundamentação vinculada é aquele em que a lei discrimina o tipo de crítica
jurídica que pode ser deduzida contra a decisão recorrida. Exemplo: recurso especial, que
está vinculado à demonstração que a decisão recorrida ofende lei federal.

1.4) Incidência: a divergência que se deve estabelecer entre os Desembargadores, para efeitos
de embargos infringentes, deve estar na parte dispositiva do acórdão, o que significa que,
se houver divergência dos desembargadores na parte da fundamentação, isto não será
motivo para impetração de embargos infringentes, tendo em vista o princípio do iuri novit
cúria.

1.5) Competência: os embargos infringentes são julgados pelos 1º e 2º grupos de câmaras


cíveis reunidas, composto, cada grupo, por 6 desembargadores. No TJES, o 1º grupo de
câmara cível reunida é formado pelos desembargadores que compõem a 1ª e a 2ª câmara
cível; o 2º grupo de câmara cível reunida é formado pelos desembargadores que
compõem a 3ª e a 4ª câmara cível. Quando há empate (3 x 3), quem desempata é o Vice-
Presidente do TJES.

Revisão:
Teoria da asserção: as condições da ação devem ser afirmadas na petição inicial. Faz-se coisa
julgada material, porém a causa é julgada com resolução do mérito (sentença de mérito, com
base no art. 269, I, CPC), porém improcedente, se verificado posteriormente a ausência de
alguma das condições da ação;
Teoria da apresentação: as condições da ação devem ser provadas (apresentadas) no curso
do processo. Faz-se coisa julgada material, porém a causa é julgada sem resolução de mérito
(sentença terminativa, com base no art. 267, VI, CPC), pela falta da condição da ação
verificada posteriormente.
23/05/08
2) PRINCIPAIS EFEITOS
2.1) Devolutivo restrito (art. 530, parte final)
Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado,
em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação rescisória.
74
Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à matéria objeto da divergência.
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

É chamado de efeito devolutivo restrito, em razão do disposto na parte final do art. 530, do
CPC, pois fica limitada à matéria objeto da divergência. A devolutividade dos embargos
infringentes fica restrita aquilo que foi divergente.

Exceção ao princípio da singularidade. Em relação à parte não unânime, cabe embargos


infringente, em relação à parte unânime, cabe recurso especial ou recurso extraordinário.

2.2) Suspensivo
O Código de Processo Civil não fala nada a respeito do efeito suspensivo dos embargos
infringentes. Também o regimento do Tribunal de Justiça é silente a esse respeito.
A interposição dos embargos infringentes não tem o condão de alterar a situação vigente
em primeiro grau de jurisdição no tocante à eficácia da sentença (ou seja, o que está
acontecendo no 1º grau continua a acontecer independentemente da interposição de
embargos infringentes).
Se o autor se beneficia da eficácia da sentença, ele continuará se beneficiando. Se não
tiver se beneficiando, continuará sem se beneficiar.

2.3) Translativo
Possibilidade de se verificar questões de ordem pública, no julgamento dos embargos:
1ª corrente (Ernani Fidelis dos Santos – minoritária) → em sede de embargos infringentes
o Tribunal somente pode analisar matéria de julgamento não unânime (devolutividade
restrita), razão pela qual as questões de ordem pública somente poderão ser objeto de
julgamento caso constituam a questão suscitada do próprio recurso (só se for o próprio
objeto dos embargos infringentes – ex: dois Desembargadores entenderam que era caso
de prescrição e um não).
2ª corrente (STJ e doutrina majoritária) → é perfeitamente admissível a apreciação de
matéria de ordem pública no âmbito dos embargos infringentes já que se as mesmas
ainda não foram enfrentadas não incide sobre elas a preclusão (art. 301, § 4º e art. 267, §
3º, CPC).
Art. 301, § 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria
enumerada neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Art. 267, § 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu
que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá
pelas custas de retardamento.

Para essa corrente, se não couber embargos infringentes, a parte não tem como fazer
chegar aos Desembargadores a questão de ordem pública.
75
3) Admissibilidade
3.1) Em se tratando de apelação
Para que seja admissível o recurso de embargos infringentes contra acórdão que julgou
recurso de apelação, são necessários os seguintes requisitos:
a) Tenha a apelação sido conhecida à unanimidade ou não, pois a divergência entre os
Desembargadores tem que estar no mérito e não na admissibilidade.

b) Não tenha a sentença sido anulada.


(*) há divergência doutrinária em torno desse requisito
1ª corrente (Barbosa Moreira) → Para aqueles que defendem a necessidade desse
requisito, a referência é no sentido de que só cabem embargos infringentes se tiver
havido divergência que resulta em reforma da sentença. Essa corrente se prende à
literalidade do dispositivo (reformar é diferente de invalidar). Para essa corrente, em
caso de invalidação não caberiam embargos infringentes.
2ª corrente (Flávio Cheim e Sérgio Shimura) → “Se o Tribunal houver conhecido o
recurso e adentrado no exame do mérito recursal, temos por satisfeito o requisito
pretendido pelo legislador, sendo despicienda a distinção entre anulação ou reforma da
sentença. Em outras palavras, a reforma alberga duas situações: a invalidação e a
substituição da sentença”. (Sérgio Shimura)

c) Haja desconformidade entre a conclusão da sentença e a conclusão do acórdão (2 x 2,


ou seja, o juiz decidiu de uma forma e os Desembargadores, por maioria, decidiram de
outra forma). Assim, se os Desembargadores ficam do lado do juiz (3 x 1), ainda que
por maioria, não cabem embargos infringentes.

d) Haja divergência entre os Desembargadores no tocante à matéria de mérito, não


simplesmente processual, mas no mérito da questão controvertida de primeiro grau.
Pode ser que a sentença de 1º grau tenha sido terminativa e os Desembargadores
tenham divergido no mérito (art. 515, § 3º, CPC). Cabem embargos infringentes.

Observação final
Não cabem embargos infringentes contra Acórdão que julga apelação
interposta contra sentença proferida em mandado de segurança (Súmula
597, STF e Súmula 169, STJ), porque o procedimento do mandado de
segurança é célere.
Súmula 597, STF: NÃO CABEM EMBARGOS INFRINGENTES DE ACÓRDÃO QUE, EM
MANDADO DE SEGURANÇA DECIDIU, POR MAIORIA DE VOTOS, A APELAÇÃO.
Súmula 169, STJ: SÃO INADMISSIVEIS EMBARGOS INFRINGENTES NO PROCESSO DE
MANDADO DE SEGURANÇA.

24/06/08
3.2) Em se tratando de ação rescisória
76
No julgamento de ação rescisória, poderão acontecer:
Rescindente Rescisório
A 3x0 3x0
B 3x0 2x1
C 2x1 3x0
D 2x1 2x1
E 2x1 Sem juízo rescisório

A alternativa A não será caso de embargos infringentes, pois não houve divergência.
Nas demais possibilidades, existem três correntes doutrinárias acerca do cabimento dos
embargos infringentes:

1ª corrente (Barbosa Moreira11) → “tanto na fase do juízo rescindente quanto na fase do


juízo rescisório, se houver divergência na votação que julgou procedente o pedido e
rescindiu a sentença, o réu poderá interpor embargos infringentes com fundamento neste
voto divergente”. Para Barbosa Moreira, a divergência pode estar tanto no juízo
rescindente quanto no juízo rescisório. No caso, as alternativas B, C, D e E.

2ª corrente (Wambier12 e Professor Zenkner) → “De acordo com essa linha de


pensamento o importante é que haja discordância entre os Desembargadores quanto ao
mérito da causa, ou seja, que haja discordância no juízo rescisório, pouco importando que
a rescisão da sentença se dê por unanimidade ou não”. No caso, as alternativas B e D.

3ª corrente (Orione13 e Sérgio Shimura14) → é uma corrente intermediária, um pouco


híbrida. Essa corrente concorda com a segunda, mas amplia um pouco. Se o julgamento
da rescisória terminar no rescindente, ou seja, se não tiver o rescisório e o julgamento for
2 x 1, caberão embargos infringentes. Se tiver o rescisório, a divergência tem que estar no
rescisório, no mérito da causa. “Os casos em que para a procedência seja suficiente a
invalidade da decisão anterior, basta a presença do voto vencido do juízo rescindente.
Porém, quando houve necessidade do rejulgamento da lide, o voto minoritário terá de
ocorrer, nesta última fase, para efeito de cabimento dos embargos infringentes”. No caso,
as alternativas B, D e E.

3.3) Em se tratando de reexame necessário


O juiz de 1º grau julgou procedente o pedido e condenou a Fazenda Pública ao
pagamento de 500 mil. Ninguém recorreu. Chega ao Tribunal o reexame necessário. Se
os Desembargadores reformarem a sentença por 2 x 1, caberiam embargos infringentes?

11
MOREIRA, Barbosa. Comentários ao CPC. Editora Forense. P. 531.
12
WAMBIER, Luis Rodrigues. Comentários a 2ª fase da reforma do CPC.
13
Pág. 436
14
Artigo: Embargos Infringentes e seu novo perfil.
77
1ª corrente (vários acórdãos do STJ15) → se o CPC não trouxe referência ao reexame
necessário e não houve inclusão após a reforma, é porque o legislador não quis
contemplar o reexame necessário com os embargos infringentes. Interpretação literal e
restritiva. Além disso, reexame necessário não é recurso. Corrente do Professor (que é
contra os embargos infringentes).

2ª corrente (Barbosa Moreira e Araquém de Assis 16, vários acórdãos do STJ) → em razão
do reexame necessário ter os mesmos objetivos da apelação, se houver divergência deve
ser admitido esse recurso. Há um argumento desta corrente que o professor considera
interessante, mas que, no entanto, não o convence do cabimento dos embargos
infringentes em reexame necessário: se a Fazenda Pública não recorrer e o julgamento do
reexame necessário for contrário ao particular, este poderá recorrer, utilizando-se dos
embargos infringentes.

3.4) Em se tratando de agravo de instrumento


A questão gira em torno do agravo de instrumento pode ser um condutor de questão de
mérito aos Tribunais
1ª corrente (STJ - REsp 240846 23/05/2000) → não cabe embargos infringentes. Como
não é apelação e não é ação rescisória e como o art. 530, em sua nova redação, não
contemplou o agravo de instrumento, não caberão embargos infringentes,
independentemente de ser julgado mérito no agravo.
2ª corrente (Wambier e Súmula 255, STJ) → se o acórdão for de mérito,
independentemente de o veículo condutor ser um agravo (retido ou de instrumento),
caberá embargos infringentes.
Súmula 255, STJ: Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por maioria, em
agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito.
No caso de aplicação da Súmula, como se trata de agravo retido, haverá ao lado deste
uma apelação.

4) Procedimento
4.1) Regramento previstos nos Regimentos Internos
Cuidado: O procedimento dos Embargos Infringentes está estabelecido no CPC e,
também, nos Regimentos Internos dos Tribunais. Nem sempre as regras de um Tribunal
valem para os outros. Pode acontecer que haja uma disparidade entre a regra do RI e a
regra do CPC, caso em que prevalecerá a regra do CPC.
4.2) Interposição
4.3) Distribuição ao relator
4.4) Intimação para contra-razões
4.5) Admissibilidade (art. 531, CPC)
4.6) Julgamento Colegiado
15
FUX, Luis. Livro.
16
ASSIS, Araquém. Livro.
78

Apelação 2x1 Ação rescisória


Acórdão
15 dias
Deve ser dirigido ao Exmo. Sr.
Embargos infringentes Desembargador Relator do
Acórdão recorrido.

Deve recair, preferencialmente,


entre os Desembargadores que
Sorteio do novo Des. Relator
não participaram do julgamento do
acórdão embargado.

Intimação para apresentação


das contra-razões

Se a admissibilidade for
-
negativa, caberá agravo Admissibilidade
interno, no prazo de 5 dias (novo relator)
(Art. 532).
+
Julgamento Colegiado

4.7) Art. 498, CPC


Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e
julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso
extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado
até a intimação da decisão nos embargos. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)
Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à
parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a
decisão por maioria de votos. (Incluído pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

ACÓRDÃO

Capítulo 1 Capítulo 2
Dano Moral Dano material
3x0 2x1
(ofende Lei Federal) (reforma a sentença)
79
Prazo de 15 dias. Conforme art.
498, não perderá o prazo para a
Deve interpor apenas
interposição do recurso especial,
os Embargos
pois o prazo não começará a
infringentes correr até que seja julgado os
embargos infringentes.

Acórdão do julgamento
dos embargos
infringentes
Começa a contar o prazo de 15
dias para a interposição do
Recurso especial
Interposição do
Recurso Especial

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