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Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Líquenes como
Bioindicadores de Poluição

Botânica para Engenharia Ambiental

Grupo 1:
Hélio Elael Bonini Viana – RA: 367826
Paulo Henrique dos Santos Correa – RA: 367923

Renata Mendes Nory – RA: 367800


Simei Diniz Vieira – RA: 368091

Pólo: São José dos Campos I

04 Set 2010
UTILIZAÇÃO DE LÍQUENS COMO INDICADORES DE POLUIÇÃO

1. O que são liquens

Liquens são associações mutualísticas entre fungos (normalmente um


ascomiceto) e bactérias fotossintetizantes (algas ou cianobactérias), nas quais
o fungo se beneficia utilizando os açúcares que a alga produz, enquanto que a
alga é protegida pelo fungo contra o dessecamento.

Liquens podem ser encontrados nos mais variados ambientes, como a tundra
ártica e o deserto do Sahara. Crescem em um ritmo lento (poucos milímetros
1
por ano) e levam tempo para se estabelecer sobre o substrato (como rochas
e troncos de árvores). Estruturas liqueníticas podem ser bastante antigas,
algumas vezes chegando a milhões de anos. Por exemplo, em anos recentes,
pesquisadores identificaram liquens com idades da ordem de 600 milhões de
anos através da análise de fósseis e dados filogenéticos.2

Os Liquens são também considerados organismos colonizadores sobre solo e


rochas nuas, preparando o ambiente local para a chegada e estabelecimento
de outros organismos.

Costumam ser incluídos no reino Funghi e divididos em três tipos morfológicos:


os crostosos, de forma achatada que aderem firmemente ao substrato, os
foliosos, em forma de folha, e fruticosos, eretos e frequentemente ramificados
como arbustos.

2. Utilização como indicadores de poluição atmosférica

Segundo Arndt (1987) 3, biondicadores são organismos ou associações de


organismos que respondem a cargas de poluentes com mudanças em suas
funções vitais (response indicators) ou acúmulo desses poluentes
(accumulation indicator). Com relação à própria biomonitoração, esta pode ser
ativa (métodos que inserem organismos para o controle da poluição) ou
passiva (uso de organismos ou associações que já estão presentes em um
determinado ecossistema).

2
Nos últimos anos, os liquens vêm sendo amplamente empregados como
bioindicadores ambientais. Pelo fato de não possuírem cutícula protetora, como
as folhas de vegetais e absorverem diretamente a água juntamente com
contaminantes, tornam-se especialmente susceptíveis a variações atmosféricas
e ambientais, bem como mudanças nas condições de pH do substrato, sendo
por isso bons indicadores de poluição ambiental.4

São altamente dependentes dos elementos presentes na atmosfera para sua


nutrição, que é de responsabilidade das algas fotossintetizantes. As principais
substâncias às quais os liquens apresentam sensibilidade são dióxido de
enxofre, ozônio, óxidos de nitrogênio, monóxidos de carbono e outras advindas
da queima de combustíveis fósseis. Mostram alterações quando na presença
de poluição através do declínio da diversidade, ausência de espécies mais
sensíveis, e mudanças anatômicas, morfológicas e fisiológicas. 5

Os liquens fruticosos são mais sensíveis à poluição, seguidos dos foliosos e


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crostosos, que são mais resistentes. Entretanto, é importante que todos os
tipos de liquens, mesmo aqueles localizados em ambientes pouco poluídos e
em uma elevada altitude, estão sujeitos à ação antrópica mediante o transporte
de poluentes atmosféricos pelas correntes de ar.

São, ainda, bons acumuladores de muitas substâncias, especialmente metais


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pesados e radionuclídeos. Por exemplo, fungos liquenizados C. texaca
podem ser empregados na identificação de elementos metálicos pelo método
instrumental de ativação com nêutrons.8

A análise da poluição atmosférica de diferentes áreas pode ser feita pelo


simples levantamento demográfico, pois as regiões submetidas a maior carga
de poluentes apresentam menor quantidade e variedade de liquens.

Informações específicas acerca dos impactos das substâncias presentes no ar


sobre os liquens podem ser obtidas pela coleta de amostras de espécies para
análise em laboratório. Pequenas variações morfológicas podem ser
observadas em laboratório através de microscópio, e substâncias absorvidas

3
podem ser extraídas e identificadas por técnicas como reações de coloração,
microcristalização, e cromatografia.

Ainda, pode ser realizado o transplante de áreas de controle (despoluídas) para


áreas poluídas para analisar seu nível de mudanças fisiológicas, morfológicas e
anatômicas.7

3. Trabalho de campo

Embora este texto não tenha como objetivo ser um trabalho de pesquisa, com
os métodos, recursos e tempo que tal intento exigiria, no decorrer do
desenvolvimento deste trabalho, o grupo pode observar, pela experiência diária
e através de registros fotográficos, algumas diferenças com relação à presença
de liquens e sua diversidade em alguns locais, conforme figuras apresentadas
no Anexo 1.

São apresentados quatro exemplos distintos, a saber: uma área localizada em


encosta da serra da Mantiqueira, em Guaratinguetá, uma área de parque, com
alto índice de arborização (Parque Burle Marx), uma localidade intermediária,
também bastante arborizada (CTA), um trecho urbano (praça Afonso Pena)
com tráfego intenso, esses últimos localizados na cidade de São José dos
Campos, São Paulo. Não foi possível, no entanto, registrar uma área de mata
nativa, o que poderia acrescentar mais exemplos de interesse.

Visualmente, percebeu-se que houve uma clara variação na diversidade,


quantidade e vitalidade das espécies de liquens, em ordem decrescente, da
zona rural (Guaratinguetá) à localidade de trafego urbano intenso.

Com relação às espécies, foram encontradas variedades de liquens crostosos


e foliosos, mas nenhuma espécie de líquen fruticoso, o que corrobora com as
conclusões citadas neste texto acerca do nível de sensibilidade aos níveis de
poluição. Finalmente, vale ressaltar que o número de amostras não é suficiente
para caracterizar estatisticamente este trabalho, valendo apenas como dado de
observação.

4
Fuga (2007) realizou também estudos com fungos epifíticos, só que na região
da Grande São Paulo. Os resultados apontam para uma alta concentração de
cromo (Cr) no centro do município de São Paulo e estão relacionados,
principalmente, com a grande emissão de poluentes pela frota de veículos
(fig.7). Já na região do ABC foi constatada uma elevada concentração de
manganês (Mn), a qual é justificada pela presença de metalúrgicas (fig.8). Um
procedimento completo para amostragem e tratamento das amostras de
liquens pode ser observado em Fuga (2007).

4. Referências bibliográficas

[1] Erickson,W.N.,and Mann, R.(November 15,1947).Forest preserve district


of Cook county (Illinois). Disponível em:
http://www.newton.dep.anl.gov/natbltn/100-199/nb131.htm. Acesso em 13 Set.
2010.

[2] Yuan, X., Xiao, S.,and Taylor T.N.(2005). Lichen-like symbiosis 600
million years ago. Science 308,1017-1020. Disponível em:
http://www.sciencemag.org/cgi/data/308/5724/1017/DC1/1

[3] Arndt, U., Nobel, W., Schweizer, B. Bioindikatoren: Möglichkeiten,


Grenzen und neue Erkenntnisse. Stuttgart, 1987

[3] ACETO, M. et al apud CARNEIRO, Regina M. Alves in Bioindicadores


Vegetais de poluição atmosférica: uma contribuição para a saúde da
comunidade. USP – EERP. p. 22. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-19102004-170613/.
Acesso em: 9 Set. 2010.

[4] Uso de líquenes como bioindicadores de contaminación atmosférica


en la ciudad de San Luis, Argentina. Disponível em:
http://redalyc.uaemex.mx/pdf/370/37012009006.pdf . Acesso em 13 Set. 2010.

5
[5]TURIAN,G.(1985). Lichens as indicators of air pollution (zone scales of
Gene va). Cellular and Molecular Life Sciences, 41(4),534-535.

[6] The Chernobyl accident: Can lichens be used to characterize a


radiocesium contaminated range?

[7] A química dos liquens. Disponível em:


http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
40421999000100018. Acesso em: 13 Set. 2010.

[8]. Fuga, A. Uso de líquens epifíticos no bionitoramento da poluição


atmosférica da região metropolitana de São Paulo. 2006.127 f. Dissertação
(Mestrado em Tecnologia Nuclear). Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(IPT).São Paulo. Disponível em:
pelicano.ipen.b r/PosG30/TextoCompleto/Alessandra%20Fuga_M.pdf. Acesso
em: 07 Set. 2010.

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5. Anexos

Figura 1: Foto de local na serra da Mantiqueira (A). Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 2: Detalhe de árvore do Parque Burle Marx (B), em São José dos Campos, com
espécies variadas de liquens, e a presença de musgos e bromélia (Tilandsia sp.). Fonte:
Arquivo pessoal.

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Figura 3: Área com alto índice de arborização – CTA (D), São José dos Campos-SP. Presença
de líquens, musgos e uma bromeliácea (Tilandsia recurvata). Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 4: Mesma área da figura anterior. Nota-se a variedade de espécies (Parmelia sp.,
Cryptothecia sp. e musgo). Fonte: Arquivo pessoal.

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Figura 5: Praça no Centro de São José dos Campos (Praça Afonso Pena), com tráfego intenso
de carros, ônibus - ponto de embarque - e semáforos (C). Pode-se observar a ausência de
líquens, embora haja a presença de outras espécies de trepadeiras e epífitas, como o singônio
(Syngonium angustatum) e Ripsalis sp. Fonte: Arquivo pessoal.

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Figura 6: Locais das fotos. Fonte: Google Maps.

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Figura 7: Mapa da concentração de Cr, em ng g-1, obtidos para liquens da região metropolitana
de São Paulo (apud Fuga 2007 p.105).

Figura 8: Mapa da concentração de Mn, em µg g-1, obtidos para liquens da região


metropolitana de São Paulo. (apud Fuga 2007 p.110).

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