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Resumo
1
Graduanda de Ciências Biológicas, Centro Universitário UNA, Campus UNA
Guajajaras, Rua dos Guajajaras, 175, Centro – CEP: 30180-100. Belo Horizonte,
Minas Gerais.
E-mail: luanadasilva@una.edu.br
2
Professora Orientadora PhD, Centro Universitário UNA, Faculdade de Ciências
Biológicas, Campus Guajajaras, Belo Horizonte, Minas Gerais.
3
Professor co-orientador MsC em Química
Survey and characterization of filamentous fungi in two caves in lateritic “canga”
in Parque Municipal das Mangabeiras, Belo Horizonte, Minas Gerais
Abstract
In a global scale, there are few studies of microorganisms associated with caves. This
work aimed at surveying the filamentous fungi found in two caves of “Parque Municipal
das Mangabeiras”, Belo Horizonte, Minas Gerais (Brazil). Samplings of the
microorganisms were carried out in November of 2009 and March of 2010. Samples of
soil, rock, water and air (by the sedimentation method on Potato Dextose Agar in Petri
plates) were collected. The microcultivation technique was used to identify the
filamentous fungi. The results showed 79 isolates, 8 being Zygomycetes, 5 Micelia
sterilia, 8 not identified fungi, and 58 Deuteromycetes (mitosporic fungi).
Penicillium and Aspergillus were the genera most frequently found in the samples. This
is the first study to address the diversity of cave microorganisms in ferrouginous
outcrops in Brazil.
Key words: Cave fungi. “Canga” caves. Parque Municipal das Mangabeiras
1
Graduanda de Ciências Biológicas, Centro Universitário UNA, Campus UNA
Guajajaras, Rua dos Guajajaras, 175, Centro – CEP: 30180-100. Belo Horizonte,
Minas Gerais.
E-mail: luanadasilva@una.edu.br
2
Professora Orientadora PhD, Centro Universitário UNA, Faculdade de Ciências
Biológicas, Campus Guajajaras, Belo Horizonte, Minas Gerais.
3
Professor co-orientador MsC em Química
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
Com uma área de aproximadamente 2,8 milhões de km2, o Parque Municipal das
Mangabeiras abriga em seus limites 21 nascentes do Córrego da Serra, que integram
a Bacia do Rio São Francisco. Além desta imensa riqueza hídrica, no seu interior
existe uma abundante diversidade de fauna que conta com 29 espécies de mamíferos
(como esquilos, gambás, tatus e quatis), 160 espécies de aves (como andorinhas,
azulões e pica-paus), 20 espécies de répteis e 19 de anfíbios, com destaque para a rã
da espécie Hylodes uai (Anura: Lepidodactylidae). Já a flora é representada por uma
vegetação nativa, composta de exemplares de biomas como Mata Atlântica e Cerrado.
O Parque situa-se na região centro-sul de Belo Horizonte, Minas Gerais (Figura 1),
nas encostas da Serra do Curral, limite norte do Quadrilátero Ferrífero (QF), nas
formações geológicas denominadas Grupo Itabira e Grupo Piracicaba componentes do
Super Grupo Minas (Moreira et al., 1991).
Cavernas pesquisadas
Amostragem
Em cada uma das duas visitas realizadas nas cavidades GPMI e GPMIII, as
medidas de temperatura e umidade relativa do ar foram aferidas em dois pontos
(entrada e interior de cada caverna) com auxílio de um termo-higrômetro (Kestrel
3000). Para as duas medidas foi calculado o valor médio.
Isolamento dos fungos filamentosos
RESULTADOS
Quadro 1: Ocorrência (por gênero) em diferentes pontos dos substratos amostrados nas
cavernas GPMI e GPMIII.
Notas: (-) Indica a ausência de fungos, (p1) ponto 1; (p2) ponto 2; Não ident. Isolados não identificados;
T.I. Total de isolados em cada ponto pesquisado.
Dos gêneros isolados, os que apresentaram maior freqüência nas duas cavidades
(Figura 4) foram: Penicillium com 23 amostras (29,11%), Aspergillus, com 15 isolados
(18,98%) e Cladosporium com 9 isolados, representando 11,39% do total de isolados.
Fusarium e Mucor representaram 6,32% dos isolados, cada. Em seqüência estão
Geotrichum e Talaromyces, com 3,79% e 2,53%, respectivamente. Para cada um dos
gêneros Cunninghamella, Eupenicillium, Rhizomucor e Rhizopus, foi obtido somente
um isolado (1,26%), sendo estes, portanto, os gêneros de menor freqüência.
Figura 4: Freqüência dos gêneros de fungos isolados das cavidades GPMI e GPMIII em novembro de
2009 e março de 2010. Os dados representam as duas coletas.
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Riqueza de gêneros
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Figura 5: Freqüência dos gêneros de fungos isolados das cavidades GPMI e GPMIII em novembro de
2009 e março de 2010. Os dados representam as duas coletas.
Analisando as coletas separadamente por data de amostragem, pode-se perceber
que no mês de março de 2010 o número de isolados obtidos foi maior para
praticamente todos os gêneros, à exceção de Cladosporium e Fusarium. Notando-se
que os gêneros Cunninghamella, Eupenicillium, Rhizomucor e Rhizopus somente
foram isolados nas amostras desta data.
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Figura 6: Freqüência dos gêneros de fungos isolados das cavidades GPMI e GPMIII em novembro de
2009 e março de 2010.
Figura 7: Valores médios de temperatura e umidade relativa do ar obtidos para as cavidades GPMI e
GPMIII nas coletas de novembro/2009 e março/2010.
DISCUSSÃO
Das 5.055 cavernas cadastradas no Brasil, apenas 500 (menos de 10%) foram
inventariadas biologicamente (Taylor et al., 2009), o que leva a crer que uma parcela
bem inferior a esta fração já tenha passado por algum estudo microbiológico.
Os gêneros encontrados (Figura 8) nas cavidades pesquisadas são conhecidos
por sua ubiqüidade (Takahashi & Lucas, 2008; Ferreira et al. 2000), e já tiveram sua
ocorrência relatada para cavernas na Índia, Eslováquia, França, Malásia, Taiwan
(Koilraj et al., 1999; Nováková, 2009; Bastian & Alaboutte, 2009), e em cavernas
calcárias nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco e Rio
Grande do Norte (Taylor et al., 2009).
Figura 8: Alguns dos gêneros identificados, observados sob microscópio óptico (400X); A)
Rhizopus sp.; B)Mucor sp.; C) Cunninghamella sp.; e D) Aspergillus sp. (Foto: Luana da Silva)
Figura 8: Número de isolados obtidos em cada ponto pesquisado nas cavidades GPMI e GPMIII.
Os fungos isolados a partir das amostras de água (Aspergillus e Rhizopus)
provavelmente foram trazidos com o fluxo que percola as rochas, capaz de transportar
esporos e estruturas reprodutivas.
Na caverna GPMI a riqueza obtida foi maior para quase todos os gêneros isolados,
quando comparada a GPMIII. Esse dado condiz com o esforço amostral dos dois
ambientes. A cavidade GPMI é cerca de duas vezes maior que GPMIII e necessitou,
portanto, de um número maior de pontos de amostragem para as coletas de solo e
exposição de placas.
O aumento do número de isolados obtidos no mês de março/2010 em relação ao
mês de novembro/2009 pode ter sido potencializado pela diferença de umidade entre
os dois períodos, que foi maior em março de 2010. Sabe-se que fatores abióticos
como temperatura e umidade interferem diretamente no metabolismo de muitos
microrganismos, sendo que de uma maneira geral, a maioria dos fungos isolados se
reproduzem melhor quando em ambientes com alta atividade de água (aw) (Pitt &
Hocking, 2009).
A não obtenção de isolados de gêneros considerados raros pode estar relacionada
aos métodos de coleta empregados, ao meio de cultura utilizado (BDA) que por ser
rico em nutrientes talvez tenha desfavorecida microrganismos adaptados a ambientes
oligotróficos, ou ainda à presença de fungos de crescimento rápido como Aspergillus e
Penicillium que poderia estar inibindo o crescimento de outro grupos. Além disso,
sabe-se que apenas cerca de 1% ou menos dos microrganismos existentes no planeta
são cultiváveis (Barton, 2006).
Dos microrganismos isolados, todos os gêneros são de importância médica,
econômica e biológica. Os gêneros Cladosporium, Aspergillus e Penicillium são
causadores de alergias respiratórias e infecções pulmonares em humanos. Os dois
primeiros são considerados patógenos de diversos vegetais (Pitt & Hocking, 2009).
Fusarium é um dos três maiores gêneros de fungos produtores de micotoxinas. É a
espécie Fusarium sporotrichioides responsável pela aleucia alimentar tóxica (ATA),
doença que dizimou milhares de pessoas durante a IIª Guerra Mundial na extina União
Soviética (URSS). Este gênero também está relacionado à proliferação de manchas
negras que estão danificando pinturas rupestres na caverna de Lascaux na França
desde 2001. Algumas espécies de Fusarium, juntamente com Aspergillus,
Cladosporium, Mucor e Penicillium apresentam extrema importância ambiental, por
serem capazes de degradar pesticidas. (Pitt & Hocking, 2009; Bastian & Alouvette,
2009; Silveira & Freitas, 2007).
Os zigomicetos Mucor, Rhizomucor e Rhizopus são os agentes etiológicos da
mucormicose (zigomicose) em humanos. Todos os gêneros isolados são responsáveis
pela deterioração de frutas, legumes, cereais e outros alimentos, sendo de enorme
relevância econômica (Haber et al., 2008; Pitt & Hocking, 2009).
Enfim, os registros obtidos neste trabalho são pioneiros para a micoflora de
cavernas em canga laterítica no país. O registro destes gêneros nas cavidades
pesquisadas aumenta a distribuição dos mesmos em cavernas de diferentes litotipos
no Brasil e no mundo, uma vez que só era sua ocorrência relatada para litologias não
ferruginosas.
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
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