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TRANSPORTES E LOGÍSTICA

CAPÍTULO 2 – A ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE


TRANSPORTE

2.1 – Introdução

Dada a multiplicidade de formas de atuação de empresas privadas e órgãos governamentais


na área de transportes e o fato de que a maioria dos sistemas de transportes são, de alguma
forma, regulamentados pelo poder público, é conveniente descrever os vários tipos de
organizações que planejam, projetam, constroem, financiam, operam e regulamentam os
sistemas de transporte e as formas como estas entidades se relacionam. Estas empresas e
órgãos são os empregadores tradicionais de engenheiros de transportes, cujas atividades de
trabalho são definidas pelas características da organização que os empregam.

Os órgãos e empresas que atuam no setor de transportes variam de país para país e, em
menor grau, de região para região, refletindo diferentes filosofias políticas e econômicas,
bem como eventos históricos peculiares. Portanto, qualquer forma de descrição não será
totalmente correta para um local particular; entretanto, existem similaridades suficientes
para que uma forma geral de descrições permita identificar as linhas mestras de atuação de
cada entidade.

As organizações de transportes podem ser de três tipos diferentes [Morlok, 1978]:

- Entidades que fornecem serviços de transporte, tais como uma ferrovia, uma
companhia aérea, o automóvel particular, etc.
- Entidades que fornecem infra-estrutura necessária para o serviço de transporte,
como rodovias, aeroportos, portos e rios navegáveis.
- Entidades que planejam a operação de sistemas de transporte, estabelecendo
políticas de desenvolvimento para cada modalidade, critérios de inter-
relacionamento entre as várias modalidades e, de certa forma, controlando a
evolução de cada sistema através de ações reguladoras.

À parte desta classificação, existe uma distinção clara entre a forma de participação e a
responsabilidade do setor governamental e do setor privado.

A Figura 2.1 relaciona as principais organizações que atuam no setor de transportes de um


país. No nível mais elevado aparece o governo federal, no qual existe um ministério
responsável pela determinação da política nacional de transportes. Sua forma de atuação é
através da determinação das organizações que deverão ter responsabilidade sobre setores
específicos do sistema nacional de transportes e através da regulamentação e
financiamento das atividades destas organizações. Por exemplo, no Brasil, o Ministério dos
Transportes estabelece as diretrizes para o transporte rodoviário, ferroviário, hidroviário,
dutoviário e urbano, especificando a forma de atuação de organizações estaduais e locais,
quer públicas ou privadas, e até mesmo financiando sistemas como rodovias, ferrovias,
metrôs, em vários graus. No Brasil, como em outras nações, o governo federal possui e

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opera parte do sistema nacional de transportes – as rodovias federais, através da ANTT; os
principais aeroportos, através da INFRAERO; etc.

Figura 2.1 – Entidades atuantes no setor de transportes de um país [Morlok, 1978, pág. 26]

Como pode-se também notar na Figura 2.1, os governos estaduais ou locais também
desempenham papel destacado no contexto dos transportes. A maioria deles está envolvida
em atividades de planejamento de suas regiões e administram os investimentos em novos
componentes sob seu controle – tipicamente rodovias, sistemas de transporte urbano e, em
alguns casos, ferrovias, aeroportos e hidrovias. Por razões administrativas, é comum cada
segmento estadual ou municipal do sistema de transporte ser operado por um órgão
específico, que também tem poder de regulamentar a operação de empresas públicas e
privadas operando em sua área de jurisdição.

As empresas de transporte formam outra classe, conforme ilustra a figura 2.1. As empresas
de transporte de passageiros ou cargas de terceiros prestam um serviço em troca de uma
remuneração ou tarifa. Nesta categoria se inserem as empresas de ônibus, companhias
aéreas e empresas rodoviárias de transporte de carga, que podem ser públicas ou privadas.
No Brasil, a maior parte das empresas de ônibus, de transporte rodoviário, ferroviário e
aéreo são empresas privadas, enquanto que a navegação interior e o transporte dutoviário
são basicamente empresas estatais.

Outro tipo de empresas de transporte são aquelas onde os usuários fornecem o seu próprio
transporte, ou seja, onde o movimento de pessoas e cargas é feito em seus próprios
veículos ou sistemas de transporte.Este é o caso do automóvel particular e do transporte de
carga realizado por caminhões da própria empresa, bem como algumas dutovias e esteiras
transportadoras de minérios. Este tipo de transporte pode ser observado na maioria dos
países e é pouco regulamentado, exceto em termos de segurança. Ele é dominado pelo

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transporte rodoviário, pois esta tecnologia é bastante compatível com movimentos
individuais.

Existem ainda os fornecedores de componentes dos sistemas de transporte, que incluem os


fabricantes dos veículos, dos sistemas de controle e de outros componentes normalizados.
Também se incluem nesta categoria os projetistas e construtores de infra-estrutura. Como
estes componentes requerem continuamente expansões, readaptações e mesmo
substituições, esta área é muito importante e oferece um amplo campo de trabalho,
particularmente para os engenheiros civis.

2.2 – Os Organismos Nacionais

Exercício 2.1

Apresentar um sumário dos principais órgãos federais e estaduais e municipais (Volta Redonda)
que estão envolvidos com o sistema nacional de transportes, fornecendo as respectivas
atribuições.

2.3 – Os Organismos Internacionais

A intensa atividade de troca de produtos e serviços entre os países do mundo demanda um


certo grau de organização dos transportes em nível internacional. Não é possível, por
exemplo, sobrevoar um país estrangeiro ou navegar nas suas águas territoriais sem
autorização expressa. A carga e descarga de mercadorias e passageiros em portos ou
aeroportos estrangeiros também requer autorizações dos órgãos apropriados. Essas
autorizações, esporádicas ou semi-permanentes, são obtidas através de intercâmbios entre
ministérios de relações exteriores, em virtude de interesses políticos e comerciais das
nações envolvidas.

O trânsito internacional de veículos requer que haja um certo nível de compatibilidade


tecnológica entre os sistemas de transporte dos países envolvidos. Não adianta o Brasil
construir aviões que só podem operar nos aeroportos brasileiros, pois isto dificultaria o seu
relacionamento comercial com o resto do mundo. Outro aspecto importante nas relações
comerciais internacionais é a confiabilidade do transporte programado entre os vários
países.

Existem dois tipos de organismos criados para atender a estes dois requisitos:

- Organismos regulamentadores internacionais, cuja função é desenvolver critérios e


normas que conduzam a um grau aceitável de homogeneidade da infra-estrutura de
transportes, de segurança e economia nas operações dos sistemas de transportes
internacionais, do qual podem participar todos os países interessados; e

- Conferências de Frete, associações de transportadores de uma determinada


modalidade ou segmento do mercado de uma modalidade que se unem para
estabelecer tarifas unificadas e serviços programados, para assegurar a
confiabilidade dos sistemas de transporte programados.

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A Tabela 2.2 relaciona vários organismos e instituições internacionais que são relevantes
no panorama mundial dos transportes.

Os organismos do primeiro tipo são mais relevantes em termos de normas e critérios de


projetos que devem ser usados para a construção de obras de infra-estrutura de transportes
destinadas ao tráfego internacional. Contudo, os órgãos do segundo tipo não devem ser
omitidos do planejamento destas obras, em função de seu poder político e econômico como
usuários.

Percebe-se, também, que os países mais avançados tecnologicamente exercem uma


influência maior nas decisões dos organismos regulamentadores internacionais.
Historicamente, os E.U.A. e alguns países da Europa Ocidental, que se mantém na
vanguarda tecnológica, acabam por influenciar as normas e critérios de projeto dos países
menos avançados tecnologicamente. O Brasil, como muitas outras nações, tem suas
normas técnicas e critérios de dimensionamento e projeto de transportes baseadas
largamente nas normas e critérios adotados nestes países mais desenvolvidos.

Em linhas gerais, são estas as atividades destas organizações:

TRB – Transportation Research Board (Conselho de Pesquisas em Transporte), órgão da


Academia de Ciências dos Estados Unidos (NAS), que se dedica à coordenação de
pesquisas em todos os campos da Engenharia de Transportes. O TRB coordena o NHCRP
(National Highway Cooperative Research Program), posivelmente o maior programa
mundial de pesquisa de problemas de engenharia rodoviária, além de coordenar pesquisas
encomendadas pelo National Research Council (NRC) e pela NAS. Os resultados destas
pesquisas (e de outras realizados no mundo todo) são divulgados através dos
Transportations Research Records e de Special Reports, duas séries de publicações. Os
resultados do NHCRP são publicados em duas outras séries.

ASCE – American Society of Civil Engineers (Sociedade Norte-Americana de


Engenheiros Civil) dividida em vários grupos, sendo um deles específico para a
Engenharia de Transportes, que organiza reuniões técnicas e publica o Journal of
Transportation Engineering, periódico de divulgação de resultados de pesquisas científicas.

U.S. Army Corps of Engineers (Corpo de Engenheiros do Exército Norte-Americano)


tem papel relevante em quase todas as obras civis de grande porte nos Estados Unidos, tais
como rodovias, ferrovias, canais, portos e aeroportos. O Corps of Engineers tem papel
destacado em pesquisas, na normatização e execução de ensaios laboratoriais e “in situ” de
obras de infra-estrutura de transportes.

ICAO – International Civil Aviation Organization (Organização Internacional de


Aviação Civil), criada pela Convenção de Chicago (1944), com a participação de 54 países
interessados em estabelecer direitos comerciais de sobrevôo e pouso em países
estrangeiros. A ICAO foi criada pela Convenção para supervisionar a “ordem no ar” e para
promover a padronização técnica da aviação internacional. A ICAO recomenda as práticas
a serem adotadas através de publicações, que servem de base para as normas técnicas para
projeto e operação de sistemas de transporte aéreo no mundo todo.

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IATA – International Air Transport Association (Associação Internacional dos
Transportadores Aéreos), um cartel de empresas cuja finalidade é estabelecer critérios para
fixação de tarifas nos serviços regulares de transporte aéreo internacional e zelar por uma
exploração segura, eficaz e economicamente viável do setor. A IATA tem grande influência
na concepção e, em particular, na operação de terminais de passageiros e de carga em
aeroportos internacionais.

FAA – Federal Aviation Administration (Administração Federal da Aviação), órgão


normativo para o projeto, construção e operação de aeronaves, aeroportos e aerovias nos
Estados Unidos, que publica normas, recomendações e resultados de pesquisas contratadas
com empresas e instituições científicas. Dada a importância mundial da indústria
aeronáutica norte-americana, vários países adotam ou apóiam fortemente suas normas nas
normas da FAA.

Lloyd’s Register of Shipping, uma associação de seguradoras navais, fundada em


Londres em 1688, que acabou por se constituir num órgão normativo internacional. O
Lloyd’s e o American Bureau of Shipping registram navios para fins de seguros, para o
que estabelecem normas de projeto e construção de embarcações.

Conferências de Frete, são cartéis setoriais dedicados à fixação de tarifas para serviços
regulares de transporte marítimo e para zelar por uma exploração segura, eficaz e
economicamente viável do setor.

AASHTO – American Association of State Highway and Transportation Officials


(Associação Americana de Departamento Estaduais de Estradas de Rodagem e
Transportes), organismo que, junto com o U.S. Army Corps of Engineers, é responsável
pela normatização do projeto e construção de rodovias nos Estados Unidos.

ITE – Institute of Transportation Engineers (Instituto de Engenharia de Transportes),


uma associação científica internacional, com sede em Washington, D.C., cujo propósito é
capacitar engenheiros e outros profissionais com conhecimento e competência em
Engenharia de Transportes e de Tráfego. O ITE mantém um programa de bolsas de estudos
para engenheiros de transportes, organiza e promove reuniões técnicas, publica uma revista
técnica (o ITE Journal) e uma grande coleção de livros, manuais e relatórios técnicos, além
de participar ativamente do desenvolvimento de normas técnicas.

SAE - Society of Automobile Engineers (Sociedade de Engenharia Automotiva), órgão


normativo para o projeto e construção de veículos automotivos nos Estados Unidos.

FHWA – Federal Highway Administration (Administração Federal das Estradas de


Rodagem), órgão federal que, além de financiar a construção de rodovias nos Estados
Unidos, patrocina pesquisas sob aspectos relativos à construção, manutenção e operação de
rodovias.

TRRL - Transport and Road Research Laboratory to the Transport (Laboratório de


Pesquisas Rodoviárias e de Transportes), órgão inglês encarregado de pesquisas em
Engenharia de Transportes.

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LPC – Laboratoire de Ponts e Chausses (Laboratório de Pontes e Rodovias), equivalente
francês do TRRL.

UIC – Union Internationale des Chemins de Fer (União Internacional de Ferrovias), é


um órgão a que estão filiados todos os países da União Européia e cujos propósitos, no
campo ferroviário, são similares ao da ICAO, na aviação internacional.

AREA – (Associação Americana de Engenharia Ferroviária), órgão dedicado à


normatização de veículos ferroviários e ao desenvolvimento de normas para projeto e
construção de ferrovias e dispositivos de controle de tráfego ferroviário.

AAR - Association of American Railroads (Associação das Ferrovias Americanas), órgão


que, além de defender os interesses das ferrovias americanas junto ao governo
norte-americano, promove o estudo da economia e operação do transporte
ferroviário.

Tabela 2.2 – Organizações internacionais de transporte

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Morlok, E. K. (1978). Introduction to Transportation Engeneering and Planning.


McGraw-Hill Kogakusha, Ltd., Tokyo.

Setti, J. R. e Widmer, J. A. (1997). Tecnologia de Transportes. Universidade de São Paulo.


São Paulo

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