Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI-

UFVJM

BACHARELADO EM HUMANIDADES

Gabriela Regina de Araújo

RESENHA: Documentos de Identidade:

Uma Introdução às Teorias do Currículo

DIAMANTINA
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI-
UFVJM

BACHARELADO EM HUMANIDADES

Gabriela Regina de Araújo

RESENHA: Documentos de Identidade:

Uma Introdução às Teorias do Currículo

Trabalho apresentado ao curso de Bacharelado em


Humanidades, da Universidade Federal dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri, a matéria de Cultura,
Currículo e Conhecimento.
Orientadora: Prof. Dra. Kátia Franciele Corrêa
Borges

DIAMANTINA
2019
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.1-64

O livro “Documentos de Identidade: Uma Introdução às Teorias do currículo”


publicado no ano de 2002 pela editora Autêntica, do PhD em Educação, Tomaz Tadeu da
Silva, é referência no Brasil para todos os estudiosos e interessados nas leituras sobre
ensino. A obra tem por objetivo, realizar uma analise geral das Teorias do currículo, bem
como refletir a respeito de cada uma delas, desde o início da história do desenvolvimento
da educação e ao longo dos séculos.

O autor inicia a introdução, analisando como as teorias do currículo causam


interferências dependendo do seu contexto histórico, que embora viessem a atentar aos
desafios de um período, sabe se que atualmente teorias antigas continuam a ser algo a
servir de base para a educação. “A teoria é uma representação, uma imagem, um reflexo,
um signo de uma realidade que – cronologicamente, ontologicamente- a precede.”
(SILVA,2002). O livro se divide entre quatro capítulos, que tem como finalidade,
organizar os debates, diferenciando teorias tradicionais, das críticas, e das pós-críticas.
Faz ainda uma observação da situação atual e o que se viveu após tais teorias.

Notasse como que as Teorias de currículo, são apresentadas como uma forma de
invenção do próprio currículo, e a afirmação sugerida pelo autor é que se venha a falar
não em teoria, mas em discursos uma vez que este significa tudo aquilo que é escrito com
a finalidade de comunicar algo. O que o discurso “efetivamente faz é produzir uma noção
particular de currículo” (SILVA).

Os autores Tylor e Bobbitt são apresentados como referências sobre alguns


discursos sobre currículos, Tylor é citado como sendo a inspiração para conceitualização
de currículo encontrada em Bobbitt. Para Bobbit “currículo é visto como um processo de
racionalização de resultados rigorosamente especificados e medidos.” (SILVA,2002). O
que Bobbitt fez, na verdade foi como outros antes e depois dele, criar uma noção
particular de “currículo”, e assim dar mais força ao currículo que ate então era tradicional
e com este suporte teórico ganhou mais vigor. “O efeito final, de uma forma ou outra, é
o que o currículo se torna um processo industrial e administrativo.” (SILVA,2002). Mas
como apresentado pelo autor, talvez o mais importante e mais interessante do que a busca

DIAMANTINA
2019
da definição última de “currículo” seja a de quais questões uma teoria do currículo ou um
discurso curricular busca responder.

Ainda sobre o currículo como discurso, Silva apresenta como o currículo é sempre
resultado de uma seleção. Nas teorias do currículo, ele exibe como as perguntas “o que”
ou “o que é elas devem ser” nunca estão separadas, e como tal pergunta “qual é o tipo de
ser humano desejável para um determinado tipo de sociedade?” cabe dizer que a cada um
tipo de ser humano, correspondera um tipo de conhecimento, um tipo de currículo.

O educador apresenta como as teorias tradicionais se preocupam com “questões


de organização” e aceitavam as coisas como estavam e os conhecimentos concentram-se
nas questões técnicas, no preparo do individuo para a sociedade, não o via como a gente
transformador de nada, mas como sujeito de trabalho, mecanicamente parte nos sistemas
de massas geradoras de produto. Supostamente, os estudos sobre currículo deram origens
as teorias tradicionais, como são conhecidas. Enquanto as teorias críticas por sua vez,
não se limitam a perguntar, “o que”, mas submetem este “que” a um constante
questionamento, visto que estas estão preocupadas com as conexões entre saber,
identidade e poder.

Voltando a Bobbitt, seu livro The curriculum foi escrito num momento crucial da
história da educação, em um momento em que diferentes forças econômicas, politicas e
culturais procuravam moldar os objetivos e as formas da educação de massas de acordo
com suas diferentes e particulares visões. Ele propunha que a escola funcionasse da
mesma forma que qualquer outra empresa comercial ou industrial, ou seja seu modelo
estava claramente voltado para a economia. Já as vertentes consideradas progressistas
eram lideradas por John Dewey, este demonstrou estar muito mais preocupado com a
construção da democracia do que com o funcionamento da economia.

Logo surge no livro, a passagem das teorias tradicionais para as críticas, “surgiram
livros ensaios, teorizações que colocavam em xeque o pensamento e a estrutura
educacional tradicional” (SILVA,2002), que tinham por objetivo criticar e derrubar o
currículo tradicional, oferecendo uma nova visão do currículo ideal, transformador de
uma realidade. Diversos autores são citados ao longo do texto com o proposito de criticar
as ideias tradicionais vigentes, e discutir novas reflexões, que iriam abalar a teoria
educacional tradicional, Paulo Freire, Louis Althusser, Pierre Bourdieu, Passeron, entre

DIAMANTINA
2019
outros. Para as teorias críticas o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o
currículo, mas desenvolver conceitos que nos permitam compreender o que o currículo
faz.

Todas as ideias técnicas constituídas ao longo dos currículos formulados e


empregados foram reformuladas, ou seja “reconceptualizados” essa mudança deu-se por
fazer criar novas formas curriculares que formaram-se baseados não nas disciplinas
escolares, mas nas práticas de vivências, nas experiências de vida, no ser único, essas
práticas que buscaram de forma “pura” a construção do currículo chamam-se
fenomenologia, hermenêutica e autobiografia, todas buscam a adaptação do currículo à
vida do ser e não o ser ao currículo como fora proposto anteriormente. A perspectiva
Fenomenológica de currículo é, uma das mais radicais em termos epistemológicos das
perspectivas críticas, nesta o currículo é um local no qual docentes e aprendizes tem a
oportunidade de examinar de forma renovada, aqueles significados da vida cotidiana.

Ademais o escritor irá salientar a visão do currículo como politica cultural de


Henry Giroux, que contribuiu de forma decisiva para traçar os contornos de uma
teorização critica. Giroux como representado, embora sempre em conexão com a questão
pedagógica e curricular, tornará suas análises mais culturais do que propriamente
educacionais. Seu trabalho era inicialmente se concentrar em boa parte, no
desenvolvimento de uma cuidadosa critica sobre as perspectivas anteriores as dele, e
ainda criar alternativas que pudessem superar aquilo que ele via como falhas e omissões
destas teorias.

Silva ainda retrata o papel de Paulo Freire, cuja influência extrapolou o âmbito
nacional. O que o texto nos permite registrar é que, ao estruturar uma abordagem
pedagógica que ressignifica a cultura, traduzindo-a como o contexto existencial em
articulação com o contexto social, Paulo Freire traz a experiência de vida dos educandos
e, portanto, a dimensão cultural dessa existência para o centro do processo pedagógico.
Consubstanciada no conceito de educação problematizadora, Paulo Freire apresenta
alternativa teórico-metodológica para a superação do frequente fracasso dos processos de
educação de adultos.

DIAMANTINA
2019
Finalizando, destacamos que o livro de Tomaz Tadeu da Silva vem a favorecer
um modo de compreender as modificações das teorias curriculares, ampliando os debates
a partir de uma sólida fundamentação teórica, que objetiva nova visão sobre a assimilação
do currículo como algo em processo constante de mudança, e não um mero papel distante
de toda realidade. Entretanto, a linguagem do livro pode ser vista como ininteligível a
pessoas que não tem conhecimento nas áreas das teorias educacionais. Mas para além
disso, a obra impulsiona aqueles que se comprometem com as práticas educativas a
reconhecer a complexidade das teorias do currículo.

DIAMANTINA
2019

Você também pode gostar