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POLÍCIA MILITAR DO PIAUÍ

DIRETORIA DE ENSINO INSTRUÇÃO E PESQUISA


CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS

TÉCNICA DE ABORDAGEM POLICIAL


MÓDULO I
BEM – VINDO A DISCIPLINA

TÉCNICA DE ABORDAGEM POLICIAL

CRÉDITOS

Importante se faz mencionar e agradecer a compreensão do Sr. José


Wilson Gomes de Assis, Capitão da Polícia Militar do Piauí, bacharel em Direito pela
Universidade Estadual do Piauí, ministra diversas disciplina no Centro de Formação de
Praça, que autorizou a equipe encabeçada pelo Cap Aquino a fazer atualização e
ilustrações necessárias na obra de sua autoria: Apostila de Técnica de Abordagem
Policial.

Equipe:

Cap PM Aquino
1º Ten PM Mota
2º Sgt Sousa
2º Sgt Piroelton
3º Sgt Kelton
Cb James
Cb Magno
Sd Alexandre Santos
Feitosa
Aurino
APRESENTAÇÃO:

A presente apostila destina-se a tratar da disciplina Técnica de Abordagem


Policial para policiais militares, proporcionando-lhes conhecimentos teóricos e práticos.
É preciso, pois, e antes de tudo, ressaltar que abordagem policial é uma das
técnicas mais importantes e indispensáveis à atividade policial-militar, onde, a forma como
é empregada e a conduta do policial militar durante a ocorrência refletem de plano, o
preparo técnico, jurídico e operacional da Instituição como um todo.
Nessa ordem de raciocínio, e, embora não havendo como mensurar em dados
estatísticos, mas lastreado na rotina policial militar, podemos afirmar que a abordagem
policial é uma ação necessária em quase que 90% das ocorrências atendidas pela Polícia
Militar, e, caso a técnica seja empregada de forma errada, o policial militar estará pondo
em risco a sua vida, a de seus companheiros, e a vida de terceiros inocentes.
Assim, esperamos contribuir para que os Policiais Militares da PMPI atuem com
excelência no que concerne à aplicação da técnica de abordagem, nas mais diversas
situações.
ABORDAGEM POLICIAL

1. CONCEITO

A palavra abordar vem do francês aborder, daí abordagem, ato ou efeito de


abordar, qualquer tipo de aproximação (Dicionário Larousse). Na técnica policial,
podemos conceituar abordagem como: Ato de aproximar-se de pessoas, coisas,
veículos ou edificações quando houver FUNDADA SUSPEITA da prática de delito ou
a eminência da prática destes, com o objetivo de confirmar ou não a suspeição.

Obs. Não existe pessoas suspeitas e sim pessoas em atitudes suspeitas.


FIQUE POR DENTRO.

(...) A “fundada suspeita”, prevista no art. 244 do CPP, não pode fundar-se em
parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a
necessidade da revista, em face do constrangimento que causa. Assim, quando um
policial desconfiar de alguém, não poderá valer-se, unicamente, de sua experiência ou
pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpável, como: A denúncia feita
por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o cometimento do delito,
bem como pode ele mesmo visualizar uma saliência sob a blusa do sujeito, dando
nítida impressão de se tratar de um revólver, como também informação repassada
pelo COPOM,etc.

HC 81305, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 13/11/2001, DJ 22-
02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284)

2. FUNDAMENTO LEGAL

Os fundamentos legais para a ação policial militar da abordagem são


principalmente:
-Art. 144, § 5º, CF: Às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e preservação
da ordem pública.
-Art. 161, caput, primeira parte, Constituição Estadual: À Polícia Militar cabe o
policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.
-Poder de polícia: É a atividade administrativa, consistente no poder de restringir
e condicionar, dentro dos parâmetros da lei, o exercício dos direitos individuais em nome
do interesse coletivo. Essa é a definição dada pelo Código Tributário Nacional:
Código Tributário Nacional
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.

SAIBA MAIS:

O poder de polícia (faculdade de intervir na liberdade do cidadão visando o bem


comum)SAIBA M
fundamenta e legitima o poder da polícia (ação policial, ou seja, é a polícia
quando age, é a ação da polícia na acepção literal da palavra, ex: ato de abordar, fazer
blitz, mandar alguém retirar-se de um local por estar se portando de forma
inconveniente chegando a perturbar a tranqüilidade pública).

ATRIBUTOS DO PODER DE POLICIA:

a) DISCRICIONARIEDADE:
A discricionariedade refere-se a conveniência e a oportunidade de AGIR do
administrador que deve analisar (dentro da lacuna legal) a necessidade da interferência
estatal, se é o momento oportuno e o “quantum” da interferência para fazer chegar a
normalidade social. Tratando-se de um poder discricionário, a norma do ato de polícia,
todavia, quando assim estabelecer, o ato de polícia estará vinculado ao estrito
cumprimento da norma que ditou a forma de atuação e o seu conteúdo.

b) AUTOEXECUTORIEDADE:
A autoexecutoriedade reporta-se ao fato de que a Administração não precisa de
autorização de outro poder (no caso o judiciário) para executar suas atividades de poder
de polícia.

c) COERCIBILIDADE:
São imperativos aos seus destinatários, que devem acatar, sob pena de a execução
do ato ser realizada, inclusive, com emprego de força física.
EM RESUMO
O policial militar é autoridade administrativa de polícia, uma vez que é um agente
da Administração Pública incumbido da atividade de polícia de manutenção da ordem
pública. Assim, quando o policial militar aborda alguém, está utilizando o poder
administrativo de polícia (poder discricionário de polícia). E se na abordagem não
encontrar nenhuma irregularidade, liberará o abordado. Porém, encontrando alguma
irregularidade penal, o policial militar não poderá liberar o infrator, mas conduzi-lo ao
Distrito Policial da área, pois a partir deste momento estará agindo vinculadamente ao que
determina os preceitos processuais penais, principalmente ao Art. 301, caput, CPP, que
trata da prisão em flagrante.
3. PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM POLICIAL
3. PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM

Na realização da abordagem, devem ser observados os seguintes princípios:

I. Segurança;
II. Surpresa;
III. Rapidez;

IV. Ação vigorosa, e

V. Unidade de comando.

I. SEGURANÇA:

O princípio da segurança corresponde à certeza de que não há perigo


direto a recear, para realizar uma abordagem devemos cerca-nos de todos os cuidados
necessários que garantam a segurança dos policiais, do abordado e terceiros.
A segurança da abordagem policial é obtida através da aplicação das
técnicas individuais: redução da silhueta, aproximação, zonas de responsabilidade,
abrigo, posicionamento da viatura e dos policias, contato e cobertura e coordenação das
ações.

I.I TÉCNICAS DE SEGURANÇA NAS ABORDAGENS:

REDUÇAO DA SILHUETA: O policial ficará menos exposto, dificultando


sua visualização pelo abordado, e evitando ser atingido por possíveis disparos ou
outro tipo de agressão.
APROXIMAÇAO: Deve haver o máximo de cuidado durante a
aproximação, avaliando-se constantemente o ambiente, e estando pronto para
responder qualquer tipo de reação por parte do abordado, controlando rapidamente a
situação.
ZONAS DE RESPONSABILIDADE: Durante a abordagem cada policial
terá uma atribuição e uma área de responsabilidade específica, onde manterá controle
sobre a mesma, devendo ter ciência de que a sua responsabilidade individual somar-
se-á à responsabilidade individual dos demais policiais e garantindo a segurança de
toda guarnição durante a abordagem.
ABRIGO: Durante a aproximação para realização da abordagem, o policial
deve fazer o reconhecimento do ambiente, visualizando possíveis abrigos, os quais
serão utilizados em caso de agressão por parte do abordado.
POSICIONAMENTO DA VIATURA E DOS POLICIAIS: Na abordagem
policial utilizando viatura, a forma como esta será posicionada, bem como o
desembarque dos policias e o posicionamento tático dos mesmos, influem diretamente
no desenvolvimento da abordagem, devendo ser mantida uma distância de segurança,
para evitar possíveis reações ou a fuga do abordado, além de garantir a segurança
das respectivas áreas de responsabilidade e o cruzamento das linhas de fogo.
CONTATO E COBERTURA: Durante a abordagem deve haver o
constante contato visual entre o policias, principalmente entre os que fazem a
segurança da abordagem, uma vez que os policias que realizam a busca perdem
grande parte de sua visão periférica, cabendo aos demais a cobertura destes durante
a realização da busca.
COORDENAÇÃO DAS AÇÕES: Todas as ações desencadeadas durante
a abordagem devem estar em perfeita sincronia e coordenação, pois além de
garantirem a segurança refletem o grau de treinamento da guarnição, causando
inibição à possíveis reações do abordado.

II. SURPRESA:

O fator surpresa contribui decisivamente para segurança dos executores da


abordagem, pois o individuo pego de surpresa fica totalmente sem ação, incapaz de
reagir.
III. RAPIDEZ:
Este princípio está diretamente ligado ao anterior, sendo aquele conseqüência
deste. Uma ação rápida contribui para eliminar possíveis resistências. Porém, a rapidez
não deve comprometer a SEGURANÇA.

IV. AÇÃO VIGOROSA:


É a atitude firme, o que é externado através de sua postura, entonação de voz e
demonstração de força, pois a combinação desses fatores é decisiva para o acatamento
de ordens pelos abordados, bem como constituem inibidores de qualquer tipo de reação.

V. UNIDADE DE COMANDO:
Pelo princípio da unidade de comando há uma definição nítida de funções
durante a abordagem, ou seja, há um único comandante que determinará como será
procedida a abordagem, e os demais policias, aos quais caberão o acatamento das
determinações, evitando a multiplicidade de ordens, e indefinições durante a abordagem.
O poder de comando cabe ao policial militar de maior hierarquia ou mais antigo,
cabe a este a responsabilidade pelos atos dos seus subordinados.

4. PREPARO MENTAL
Preparo mental ou pensamento tático é o condicionamento mental para
responder adequadamente a possíveis ameaças que o policial militar possa enfrentar
durante uma abordagem. Funciona da seguinte forma: deve-se visualiza mentalmente os
possíveis perigos que possam ocorrer, e ensaiar mentalmente respostas adequadas para
estes.
O policial militar deve ter em mente que possuir respostas adequadas, estar em
alerta e agir preventivamente é mais importante que o tipo de arma que possa estar
portando, uma vez que se for surpreendido, seu armamento de nada adiantará.

5. ESTADO DE ALERTA
Estado de alerta ou nível de alerta. É o nível ou grau de atenção em que se
encontra o policial antes e durante a abordagem policial, e deve ser utilizado em conjunto
com a preparação mental, uma vez que ambos se completam, assim, ao deparar-se com
uma situação de perigo, o policial militar estará em certo nível de alerta, e, para poder
formular resposta adequada ao perigo apresentado e controlar a situação, dependerá de
seu grau de atenção, de sua autodisciplina tática, a qual é traduzida pelo binômio
preparação mental-nível de alerta.
Os níveis de alerta são os seguintes:

NÍVEL 0 (RELAXADO): Estado onde há dispersão total da atenção, nessa


situação o policial militar está distraído ao que passa ao seu redor e alheio aos
riscos que possam surgir durante a abordagem, não estando preparado para
responder adequadamente a possíveis ameaças, pondo em risco sua vida e a de seus
companheiros.

NÍVEL 1 (ATENTO): Estado em que o policial militar está atento, mas não
tenso, mantendo constante vigilância das pessoas, coisas e ações que ocorrem ao
seu redor, não há identificação de ameaça, mas o policial está ciente de que uma
agressão poderá ocorrer.

NÍVEL 2 (ALERTA): Estado em que o policial militar tem ciência da existência


do perigo, embora ainda não tenha identificado a ameaça, mas sabe que o
confronto é provável. Assim, o policial militar tenta detectar ameaças em potencial,
atribuindo-lhes graduações, devendo ter em mente um planejamento tático para utilizá-lo
no caso da ameaça se concretizar, tais como pedido de cobertura, uso de abrigos etc.

NÍVEL 3 (ALARME): Estado em que há a identificação da ameaça e o perigo é


real e iminente, a reação deve ser instantânea para controlar a ameaça, assim, o
policial militar deverá utilizar a intervenção verbal e demonstração de força, força
física e em último caso uso da força letal, conforme a circunstância. Embora a situação
seja extrema, o policial deve tomar decisões racionais, e nenhum instante deve esquecer
da utilização de abrigos, evitando ficar exposto a ameaça.

NÍVEL 4 (PÂNICO): Estado em que o policial militar encontra-se em descontrole


emocional generalizado em virtude da ameaça encontrada, nesse estado, seu organismo
entra em processo de sobrecarga e, embora consiga visualizar a ameaça, ele não
consegue reagir adequadamente, limitando-se a atirar descoordenadamente, chutar,
socar ou agarrar-se ineficazmente ao agressor, ficar paralisado, chorar, correr
desesperadamente ou até mesmo desmaiar, entre outras reações inadequada ao controle
da situação. Tal situação ocorre em virtude da deficiência técnico-emocional do policial
militar, ou ainda quando este não faz uma preparação mental para a situação, estando
despreparado para a ameaça que poderá enfrentar.
6. FASES DA ABORDAGEM
6.1. MEDIDAS QUE ANTECEDEM A ABORDAGEM
I. MOTIVAÇÃO DA ABORDAGEM.
Este é o primeiro passo para a realização da abordagem policial, assim, o
policial militar deve responder as seguintes perguntas: POR QUE ABORDAR? HÁ
INDÍCIOS QUE AUTORIZAM A ABORDAGEM?
O policial militar somente realizará uma abordagem quando houver
fundada suspeita, ou seja, havendo fortes indícios de suspeição, em atendimento ao
chamado de populares, ocorrências repassadas pelo COPOM etc. Não havendo nenhuma
motivação que autorize a abordagem, esta não deverá ser realizada.

II PLANEJAMENTO MENTAL
Havendo a necessidade da realização da abordagem, o policial militar
deverá fazer um planejamento mental para a execução da abordagem, assim, se esta for
em virtude de determinação do COPOM ou por atendimento ao chamado de populares, o
comandante da guarnição deverá colher todas as informações acerca da ocorrência.
Caso a abordagem seja motivada pelo próprio policial militar o planejamento mental será
realizado com base em sua avaliação da situação.
O planejamento mental consiste em avaliar as informações colhidas e a
situação apresentada com a sua capacidade para controlá-la, devendo ser observados os
seguintes aspectos:
Quantos são? Estão armados?
Que tipo de armas possuem?
Onde é o local da ocorrência?
Que tipo de abordagem será realizada?
Tenho condição de realizar essa abordagem?
Possuo efetivo suficiente?
É necessário solicitar reforço?
Tenho armamento e equipamento adequado?
Há possibilidade de resistência?
O que faremos se houver resistência?
Quando faremos à abordagem?
Por onde faremos à abordagem?
Minha ação é legal?
Outros aspectos que considerar relevante.
III PLANO DE AÇÃO
Após avaliação dos aspectos relacionados ao planejamento mental, o
comandante da guarnição deverá elaborar um plano de ação para a realização da
abordagem, em seguida, irá repassá-lo aos demais policiais militares, não devendo haver
dúvidas sobre a função de cada policial militar empregado na abordagem. Esse plano
deve ser o mais simples possível e de fácil entendimento. Muitas das vezes esse plano de
ação é concebido no momento da abordagem e repassado verbalmente aos policias,
entretanto não se deve esquecer que quanto mais complexa for à abordagem mais
complexo será o plano de ação.

6.2. EXECUÇÃO DA ABORDAGEM


Superada as fases anteriores, os policias militares estarão em condições de
realizar a abordagem, devendo ser observado todos os conceitos e princípios repassados
ao longo desta apostila, os quais são aplicáveis em todos os tipos e situações de
abordagem, devendo apenas ser adaptados e utilizados conforme a situação
apresentada.

6.3. DESFECHO DA ABORDAGEM


Após a execução da abordagem teremos, logicamente, o desfecho desta, que se
dará basicamente de duas maneiras; a primeira será com a ratificação da suspeição que
motivou a abordagem, e a segunda é justamente o contrário, nenhuma irregularidade foi
encontrada durante a abordagem. Assim, vejamos cada uma delas:

I. RATIFICAÇÃO DA SUSPEITA (CONFIGURAÇÂO DE UM DELITO)


Neste caso, quando ocorre a ratificação da suspeita, sendo encontrado a
existência do ilícito penal, será feita a condução do abordado até a Central de Flagrante,
onde será confeccionado o TCO ou Autuação em Flagrante do infrator.

II. INEXISTÊNCIA DE ILÍCITO


Não sendo encontrado nenhum delito, o policial deverá liberar o abordado, e
informando que a abordagem é um serviço rotineiro da Polícia Militar visando à segurança
de todos, inclusive do próprio abordado. É oportuno ressaltar, que embora nenhum ilícito
tenha sido encontrado durante a abordagem, mas observando que os abordados
encontram-se em local ermo onde rotineiramente acontece assaltos, ou quando o
abordados encontram-se em conduta anti-social ou inconveniente, o policial militar, se
considerar necessária, pode determinar que os mesmos se retire daquele local (tal
determinação não é ilegal e nem inconstitucional, pois embora afete o direito de ir e vir e
permanecer, a determinação se dá com fundamento no poder de polícia, e é utilizado em
favor da segurança da coletividade).
7. IDENTIFICAÇÃO E RESPOSTA À REAÇÃO DO ABORDADO

Sendo a Polícia Militar a Instituição responsável pela manutenção da ordem


pública, caberá aos policiais durante a abordagem policial, direcionar suas ações
conforme as atitudes do abordado, respeitando sempre a dignidade da pessoa humana.
Estando um polícia envolvido na solução de uma ocorrência policial, se outra medida não
restar, o uso devido e legal da força ou das armas poderá ser empregados, apenas o
necessário para fazer cumprir a lei e manter a ordem pública. Porém, o uso da força
deverá esta pautada nos princípios da Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e
Conveniência, do contrário caracterizariam o uso indevido da força.
Princípios que norteiam o USO DA FORÇA

Princípio da Legalidade: É a observação das normas legais vigentes no


Estado;
Ex. O caso do policial que durante uma abordagem, tenta conseguir uma
“confissão” do suspeito, à força, e em virtude disto, este policial é desacatado. A prisão
por desacato é uma ação legítima, contudo, ela ocorreu em virtude de um ato ilegal,
portanto o uso da força pela polícia é questionável posto que ela própria provocou a
situação.

Princípio da Necessidade: Verificar se existe realmente a necessidade de


se empregar a força ou uso de arma de fogo, ou se existem outros meios menos danosos
para se atingir o objetivo desejado.

Princípio da Proporcionalidade: Buscar utilizar sempre força proporcional


a ação do agressor.
Ex. A ilegitimidade da ação quando o policial não sabe a hora de parar, ou
seja, o suspeito já se encontra dominado e ainda assim é submetido ao uso da força que
naquele momento passará a ser considerada desproporcional.

Princípio da Conveniência: Diz respeito ao momento e ao local da


intervenção policial.
Ex. Não seria conveniente reagir a uma agressão por arma de fogo, se você
estivesse em um local de grande movimentação de pessoas, tendo em vista o risco que
sua reação ocasionaria naquela circunstância, ainda que fosse legal, proporcional e
necessário.

Sabendo, portanto que durante a ação policial, o nível da força, esta


condicionada ao nível da resistência do suspeito, os policiais deverão ter pleno
conhecimento da lei, deve esta equipado adequadamente ( com cassetetes, tonfas, armas
de menor potencial ofensivo, armas de fogo,etc.) e deve estar preparado tecnicamente,
para agir resguardado na lei vigente.
Foram elaborados diversos modelos de uso progressivo da força para
orientar o policial, na identificação e resposta à reação do abordado flagrado cometendo
um delito, ou até mesmo em atitude suspeita quando questionada.
Vejamos apenas o Modelo básico do uso Progressivo da Força.

O modelo apresentado é um gráfico em forma de trapézio com degraus em


seis níveis, representados por cores. De um lado (esquerdo) há a percepção do policial
em relação à atitude do suspeito. Do outro lado (direito) as resposta (reação) de forças
possíveis em relação à atitude do suspeito.
A seta, que é dupla, descreve o processo de avaliação e seleção de
alternativas. De acordo com a atitude do suspeito, haverá uma reação do policial, na
respectiva camada. Os níveis são crescentes de baixo para cima.
Na prática, o suspeito decide o que quer de você, e, com suas próprias
ações ou pelo modo como se comporta esse suspeito justificará a utilização de certo nível
de força pela polícia.
Conforme foi apresentado no gráfico do USO PROGRESSIVO DA FORÇA,
a atitude dos suspeitos com que você lida se enquadram em uma das seguintes
situações:
a) Normalidade
É a situação rotineira do patrulhamento em que não há a necessidade de
intervenção da força policial.

b) Cooperativo
O suspeito é positivo e submisso as determinações dos policiais. Não
oferece resistência pode ser abordado, revistado e algemado facilmente, caso seja
necessário prendê-lo.

c) Resistente passivo
A resistência do sujeito é primordialmente passiva, com ele não oferecendo
resistência física aos procedimentos dos policiais, contudo não acatando as
determinações, ficando simplesmente parado. Ele resiste, mas sem reagir, sem agredir.

d) Resistente ativo
A resistência do sujeito é ativa, ou seja, aumento a um nível de forte desafio
físico.
Ex. O suspeito que tenta fugir empurrando o policial ou vítimas.

e) Agressão não letal


O suspeita ataca fisicamente o policial ou as pessoas envolvidas na
intervenção.
f) Agressão letal
Representa a mais séria ameaça à vida do público e do policial. O policial
pode razoavelmente concluir que uma vida está em perigo ou existe a probabilidade de
grande dano físico as pessoas envolvidas na intervenção, como resultado da agressão.
E para cada reação do suspeita, haverá por parte do policial uma ação-
resposta escalonada em Níveis força, vejamos então cada nível:
a) NÍVEL I – Presença física
A mera presença do policial uniformizado, muitas vezes, será o bastante
para conter um crime ou contravenção ou ainda para prevenir um futuro crime em
algumas situações.

b) NÍVEL II – Verbalização
Baseia-se na ampla variedade de habilidades de comunicação por parte do
policial. O conteúdo da mensagem é muito importante. A escolha correta das palavras,
bem como a intensidade a serem empregadas, traduz com precisão a eficácia da invertida
policial.
Este nível de força pode e deve ser utilizado em conjunto com qualquer
outro nível de força, sempre que possível.

c) NÍVEL III – Controles de contato ou controle de mãos livres


Nesse nível, os policiais utilizam-se primeiramente de técnicas de mãos
livres para imobilizar o indivíduo. Compreende-se em técnicas de condução e
imobilizações, inclusive através de algemas.

d) NÍVEL IV – Controle físico (Técnicas de submissão)


Emprego da força suficiente para superar a resistência ativa do indivíduo.
Neste nível, podem ser utilizados cães e agentes químicos mais leves. O suspeito é
violento.

e) NÍVEL V – Táticas defensivas não letais


Diz respeito do uso de todos os métodos não-letais, através de gases fortes,
forçamento de articulações e uso de equipamentos de impactos (cassetetes, tonfa). Aqui
ainda se enquadram todas as situações de utilização das armas de fogo, desde que
excluídos os casos de disparo com intenção letal ( sacar e apontar a arma com finalidade
de controle intimidatório do suspeito, dentro dos procedimentos da verbalização).

f) NÍVEL VI – Força letal


Ao enfrentar uma situação agressiva que alcança o último grau de perigo, o
policial deve utilizar táticas absolutas e imediatas para deter a ameaça mortal e assegurar
a submissão e controle definitivos. A possibilidade de se ter um equipamento ou arma
não-letal faz com que o policial tente utilizar outros meios que não esse. Caso contrário,
sendo o único recurso disponível, o policial poderá fazer um disparo letal.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ASSIS, Jorge César de. Lições de direito para atividade policial militar. 4 ed. Curitiba: Juruá,
1999.

ASSIS, José Wilson Gomes de, 1º Ten. QOPMPI. Instrução Operacional Básica para Presídios
(apostila). Teresina, 2004.

ASSIS, José Wilson Gomes de, 1º Ten. QOPMPI. Escolta de presos. Teresina, 2005.

CRETELLA JÚNIOR, José (organizador). Direito administrativo da ordem pública. 3 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1998.

DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO: VEJA LAROUSSE. São Paulo: Editora Abril, 2006.

POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS. Manual de prática policial: geral. Belo Horizonte, 2002.

POLÍCIA MILITAR DO PARÁ. Curso Especial de Força Tática (Apostila). Belém, 2001.

POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ. Manual de Formação do Soldado. Curitiba, 1994

POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ. Policiamento Motorizado. São José dos Pinhais 1995.

POLÍCIA MILITAR DO PIAUÍ. Curso Ações Táticas Especiais (Apostila). Teresina, 2003.

POLÍCIA MILITAR DO PIAUÍ. Estágio de Patrulhamento de Alto Risco (Apostila). Teresina,


2006.
ASSIS, J. C. et al. Lições de Direito para a Atividade das Policias Militares e das Forças Armadas.
Curitiba, Ed:Juruá, 2006, p. 50-51.
SENASP/MJ. Uso progressivo da força – Módulo 1.Última atualização, 2009.

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