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DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE Fe (II) POR ESPECTROMETRIA DE ABSORÇÃO NO

VISÍVEL.

RESUMO
O objetivo deste experimento foi quantificar o íon Fe2+ em antianêmico comercializado. A
amostra foi analisada pela técnica de espectrometria de absorção molecular na região do
visível do espectro e a padronização externa foi o método de calibração adotado para a
quantificação de ferro, visto que um padrão externo foi preparado separadamente da
amostra. Para evitar a interferência do ferro (III) e garantir o pH adequado adicionou-se a
amostra e às soluções padrão, solução de hidroxilamina 5% e acetato de sódio,
respectivamente. O indicador 1,10 fenantrolina também foi adicionada às soluções para
formar o complexo de cor detectável e por isso determinou o comprimento de onda em que a
análise foi realizada. O resultado de concentração de Fe2+ encontrado está de acordo com a
indicação na caixa do medicamento.

1 - INTRODUÇÃO
A espectrofotometria é uma técnica muito empregada para análises quantitativas em
química analítica. Este fato pode ser explicado pelo baixo custo e pela praticidade da técnica
quando comparada a outras. Quando um composto é analisado por espectrofotometria ele
absorve luz, essa absorção é o que irá determinar sua concentração, pois a absorbância
medida é diretamente proporcional a concentração. Assim, de acordo com a lei de Beer, que é
a base matemática para medidas de radiação 1,2:
(1)
onde: é absortividade da amostra;
b é o caminho óptico percorrido;
c é a concentração da amostra.
A absorção molecular pode ser realizada na região do visível, infravermelho e
ultravioleta. As análises na região do visível são chamadas colorimétricas, isto porque quando
a luz é transmitida através do composto a porção que é absorvida é característica de sua cor.
Quando o composto não possui cor suficiente para ser distinguível de outras substâncias é
necessária a ocorrência de uma reação química com um reagente seletivo, para formação de
um complexo intensamente colorido 2,3.
No experimento realizado, determinou-se a concentração de ferro (II) em amostra de
medicamento contra a anemia, através da espectrofotometria de absorção molecular na
região do visível. Utilizou-se solução de 1,10-fenantrolina para formar um complexo colorido
estável com o ferro e assim realizar a leitura. Para evitar a interferência do ferro (III) e garantir
o pH adequado adicionou-se também a amostra solução de hidroxilamina 5% e acetato de
sódio, respectivo. As duas substâncias também foram colocadas no branco. A padronização
externa foi o método de calibração adotado para a quantificação de ferro.

2 - OBJETIVOS
Determinar a concentração de Fe(II) em antianêmicos por espectrometria de absorção
molecular na região visível do espectro.

1
3 - MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 - MATERIAIS
3.1.1 - Materiais e reagentes:
- Balões volumétricos de 50, 100, 250 e 500 mL
- Béqueres de 250 mL
- Pipetas volumétricas de 1,0 e 10,0 mL
- Ácido sulfúrico concentrado (Neon comercial LTDA). 95% a 98% P.A
- Ácido nítrico concentrado (Impex) 65% P.A.
- Acetato de sódio (Proquímios) P.A.
- Sulfato ferroso amoniacal (Proquímios) P.A. – ([Fe(NH4)2(SO4)2].6H2O)
- Cloridrato de hidroxilamina (Proquímios) P.A. (NH2OH.HCl)
- 1,10-fenantrolina (Vetec química fina) P.A.
- xarope antianêmico (Sulferbel 25 mg de sulfato ferroso/mL – BELFAR)

3.1.2 - Instrumentos:
Balança analítica
Espectrômetro de absorção molecular no UV/VIS. (Bioespectro- Modelo: FT – 220)

3.2 - MÉTODOS
3.2.1 - Preparo dos reagentes
Preparou-se uma solução padrão de Fe2+. Para tanto, pesou-se exatamente 0,7065 g
de sulfato ferroso amoniacal padrão primário [Fe(NH4)2(SO4)2].6H2O e transferiu-se
quantitativamente para um balão volumétrico de 500 mL. Acidificou-se com gotas de ácido
sulfúrico concentrado, dissolveu-se e completou-se o volume com água deionizada.
Logo após preparou-se a solução padrão diluída de Fe2+, onde 10mL de solução
padrão de Fe2+ foram pipetados em um balão volumétrico de 100 mL e completando-se o
volume com água deionizada.
As soluções de cloridrato de hidroxilamina 5% (m/v), de acetato de sódio 2 mol/L e de
1,10-fenantrolina 0,25% (m/v) foram preparadas previamente. Neste experimento já se
encontravam prontas para uso.
A solução de cloridrato de hidroxilamina foi preparada dissolvendo-se 5 g de
NH2OH.HCl em 100 mL de água destilada. Para preparar a solução de acetato de sódio 2 mol/L
pesou-se cerca de 41 g de acetato de sódio anidro, transferindo-o para um balão volumétrico
de 250 mL e completando-se o volume com água deionizada. Já a solução de 1,10-fenantrolina
foi preparada pesando-se 0,25 g de 1,10-fenantrolina, transferindo-a para um balão
volumétrico de 100 mL, adicionando-se cerca de 50 mL de água deionizada e 5 gotas de ácido
nítrico concentrado. Essa solução foi agitada e, então, o volume foi completado com água
deionizada.

3.2.2 - Confecção da curva analítica


Numerou-se 6 balões volumétricos de 50 mL. Nos balões 2, 3, 4, 5, 6, adicionou-se os
volumes de solução padrão de ferro (II) 0,0202 mg/mL que estão na Tabela 1.

2
Tabela 1: Volumes de solução padrão de ferro (II) adicionados aos balões
Nº do Balão Vol. da solução de Fe2+ 0, 0202 mg/mL (mL)
1 0,0
2 2,0
3 4,0
4 6,0
5 8,0
6 10,0

As soluções a seguir foram adicionadas em todos os balões, inclusive no branco, na


ordem indicada:
• 2 mL de solução aquosa de cloridrato de hidroxilamina a 5% (m/v);
• 2 mL de solução aquosa de acetato de sódio 2 mol L-1;
• 4 mL de solução de 1,10-fenantrolina a 0,25% (m/v).
Completou-se os volumes dos 6 balões com água destilada, homogeneizou-se as
soluções e as deixou em repouso por 10 minutos antes de fazer as leituras.
Escolheu-se o comprimento de onda de máxima absorção da fenantrolina, que é de
510 nm.
Mediu-se as absorbâncias de todas as soluções usando a solução do balão de nº 1
como branco. Traçou-se a curva (AxConc.) no Excel.

3.2.3 Determinação da concentração de ferro em medicamentos.


Mediu-se o volume da amostra de medicamento (antianêmicos a base de sulfato
ferroso na forma líquida), usando-se pipeta volumétrica, conforme concentração contida no
rótulo. Como o medicamento continha 25 mg/mL de FeSO4 diluiu-se 4 mL do antianêmico em
100 mL de água destilada.
A seguir, transferiu-se 2 mL da amostra diluída para um balão volumétrico de 100 mL e
adicionou-se, na ordem indicada:
• 2 mL de solução aquosa de cloridrato de hidroxilamina a 5%;
• 2 mL de solução aquosa de acetato de sódio 2 mol L-1;
• 4 mL de solução de 1,10-fenantrolina a 0,25% (m/v).
Completou-se o volume com água destilada e deixou-se em repouso por 10 minutos.
Fez-se a leitura no espectrofotômetro em %T, no comprimento de onda de 510 nm
previamente selecionado. Passou-se para absorbância e obteve-se a concentração através da
curva analítica. Então, calculou-se o resultado em mg de ferro por mL de medicamento.

4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Soluções de hidroxilamina 5% (m/v), acetato de sódio 2 mol/L e 1,10 fenantrolina
0,25% (m/v) foram preparadas previamente e adicionadas nesta ordem às soluções dos itens
3.2.1 e 3.2.2 para que a leitura se realizasse. A hidroxilamina é uma substância que tem por
objetivo garantir a estabilidade de Fe (II), visto que a oxidação de Fe (II) a Fe (III) é muito rápida
em meio aeróbio. O acetato de sódio tampona as soluções mantendo o pH próximo a 4,7 para
manter a estabilidade do complexo formado. A fenantrolina reage com o Fe2+ para formar um
complexo de cor vermelho-alaranjado, que é detectável na região do visível. Essa conversão
química do analito numa forma detectável é uma reação que recebe o nome de derivatização
e esta descrita na reação 1 1,4,5 .

3
Fe 2+ + 3C12H8N2 → [Fe2+( C12H8N2)3]2+ (1)

O composto [Fe(NH4)2(SO4)2].6H2O não absorve a luz incidente e os íons Fe2+ são


determinados pela absorbância a 510 nm, correspondente ao complexo produzido pela adição
de orto-fenantrolina 6.
O branco contem todos os reagentes e solventes usados na análise, mas nenhum
analito, por isso foi preparado segundo o mesmo procedimento das soluções padrão diluídas,
exceto que a solução de Fe2+ não foi adicionada. Com isso ele mede a resposta do método
analítico para impurezas e espécies interferentes, de modo a obter a resposta analítica
corrigida 2.
A solução padrão de Fe (II) foi preparada a partir da massa de sulfato ferroso amonical
pesada: 706,5 mg. Com esta, obteve-se a quantidade em massa de ferro contida no composto,
através da equação 2.
MMFe x mSFe = MMSFe x mFe (2)
56 g/mol x 706,5 mg =392 g/mol x mFe
mFe = 100,93 mg
onde: MMFe é a massa molar do ferro;
mSFe é a massa de sulfato ferroso amonical pesada;
MMFe é a massa molar do sulfato ferroso amonical;
mFe é a massa de ferro;
A partir da massa de ferro calculada, obteve-se a concentração de Fe (II) contida na
solução padrão, usando-se a equação 3.
(3)

Uma alíquota de 10 mL desta solução foi diluída a 100 mL. Admitindo-se a diluição 1:10,
obteve-se a concentração de Fe(II) na solução padrão diluída: 0,0202 mg/L. Com esta, foi
possível calcular as concentrações de Fe2+ nas alíquotas de solução padrão, de acordo com a
equação 4. Os resultados encontram-se na Tabela 2.

(4)

onde: C1 é concentração inicial (0,0202 mg/mL);


v1 é o volume inicial (mL);
C2 é concentração final (mg/mL);
v2 é volume final (50 mL).

Tabela 2: Concentrações das alíquotas de solução padrão de Fe2+


Vol. da sol. de Fe2+ 0,0202 mg/mL Concentração de Fe2+ mg/mL
0,0 0,0
2,0 0,000808
4,0 0,00162
6,0 0,00242
8,0 0,00323
10,0 0,00404

4
A maioria das análises químicas é realizada em réplicas quando, por exemplo, massas
são determinadas por medições feitas com balanças analíticas. As réplicas melhoram a
qualidade dos resultados e fornecem confiabilidade 7. A leitura das absorbâncias foi feita em
triplicata para cada uma das soluções diluídas e para a amostra, assim calculou-se a média e o
desvio padrão das absorbâncias de acordo com as equações 5 e 6 respectivamente.
(5)

(6)

Os resultados das leituras em triplicata para as alíquotas de solução padrão encontram-se na


Tabelas 3, juntamente com as respectivas médias e desvios.

Tabela 3: Absorbância em triplicata para cada concentração de Fe2+


Concentração de Absorbância Absorbância Absorbância Média das Desvio
Fe2+ nas soluções 1 2 3 Absorbâncias padrão
padrão diluídas
(mg/mL)
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 ±0,0
0,000808 0,149 0,149 0,146 0,148 ±0,00173
0,00162 0,308 0,297 0,292 0,299 ±0,00818
0,00242 0,468 0,471 0,468 0,469 ±0,00173
0,00323 0,642 0,622 0,624 0,629 ±0,0110
0,00404 0,756 0,756 0,738 0,750 ±0,0104

Analisando a Tabela 3 é possível dizer que os desvios padrão possuem valores que
podem ser considerados pequenos.
A calibração é realizada obtendo-se o sinal de resposta como uma função da
concentração conhecida. A curva analítica foi preparada colocando-se os dados em forma de
gráfico, ajustados por meio de uma equação linear 7. Dessa forma, plotou-se as absorbâncias
das alíquotas de solução padrão em função das concentrações conhecidas de Fe (II) nas
mesmas.

5
0,9
0,8 y = 189,72x - 0,0007
0,7 R² = 0,9982

0,6
Absorbância

0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005
Concentração de Fe 2+ (mg/mL)

Figura 1- Gráfico de calibração linear para determinação de Fe2+.

A concentração de um analito numa amostra original é calculada a partir da


concentração diluída da alíquota da amostra, aplicando-se a esta fatores de diluição
apropriados decorrentes do preparo da amostra 7.
A concentração de Fe (II) em cada alíquota da amostra foi calculada a partir da
equação de regressão linear fornecida pela Figura 1, onde y é a absorbância de cada alíquota e
x cada concentração.
Nos resultados obtidos, apresentados na Tabela 4, a concentração do anlito já está
considerando o fator de diluição (1:1250), que engloba as duas diluições realizadas com a
amostra no item 3.2.3.

Tabela 4: Resposta analítica em triplicata para a concentração de Fe(II) na amostra


Alíquota Transmitância Absorbância Concentração Média das Desvio
(%) de Fe(II) concentrações Padrão
(mg/mL) (mg/mL)
1 16,2 0,789 5,20
2 17,3 0,761 5,02 5,13 ±0,1
3 16,5 0,784 5,17

O xarope antianêmico analisado descreve em sua caixa que contem 5 mg/mL de Fe (II).
O resultado encontrado é de 5,13 mg do analito por mL, o que pode ser considerado
satisfatório. A análise de amostras reais pode ser complicada devido ao possível efeito matriz
da amostra. A matriz é todas as espécies que estão na amostra e têm propriedades similares
ao analito e por isso causam interferência na analise. Este fator pode ser agravado quando o
método de calibração é a padronização externa, pois este é mais afetado pelo efeito matriz.
No experimento este efeito foi consideravelmente minimizado devido à grande diluição da
amostra.

6
5 - CONCLUSÃO
A concentração de Fe (II) na amostra analisada não tem diferenças significativas
quando comparada àquela fornecida pelo fabricante na caixa do medicamento. A curva
analítica construída pelo método de padronização externa forneceu uma concentração de 5,13
mg de íons de Fe (II) por mL de amostra, enquanto que na indicação da caixa a concentração
de ferro é de 5 mg por mL de xarope. Este resultado pode ser considerado satisfatório,
indicando que as interferências laboratoriais que possam ter ocorrido durante a realização da
análise não foram significativas e que as condições da amostra, principalmente o alto fator de
diluição estavam adequadas para o método de calibração escolhido.

6 - REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - ROCHA, F. R. P.; TEIXEIRA, L. S. G. Estratégias para aumento de sensibilidade em
espectrofotometria UV-VIS. Química Nova, São Paulo, v. 27, n. 5, set./out. 2004. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422004000500021>.
Acesso em: 06 de abril de 2011.
2 - HARRIS, D. Análise Química Quantitativa. 6 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. 876 p.
3 - EWING, G. W. Métodos Instrumentais de Análise Química. São Paulo: Edgar Blücher, 2004,
vol. 1, 296 p.
4 - MENDONÇA, C. C. T. N.; PACCOL, A. A.; SARGENTELLI, V. Influência do pH na liberação de
íons ferro para a solução de um latossolo vermelho escuro tratado com sacarose. Energia
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5 - ALENCAR, M. A. S.; BENEDETTI, A. V.; FUGIVARA, C. S.; MESSADEQ, Y. Construção de célula
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6 – CAMILO, R. M. Complexos de Metais de Transição Neuroativos: Investigações
Fotoquímicas, Fotofísicas, Físico-químicas e Citotoxicidade para Drogas Neuroativas em Fase
III. Dissertação – Universidade Federal de São Carlos, 2010. 97 f. Disponível em:
<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=37
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7- SKOOG, D.A.; WEST, D.M.; HOLLER, F.J.; CROUCH, S.R. Fundamentos de Química Analítica. 8
ed. São Paulo: Thomson, 2007. 999 p.

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