15/11/2019 Disciplina Portal

Teoria da Natação

Aula 3: Princípios e propriedades físicas da

água II
INTRODUÇÃO

Você já percebeu que, quando não nos movimentamos na água, sentimos frio muito rápido? E por que será que nossa
visão parece distorcida quando olhamos de fora para dentro da piscina?

Nesta aula, entenderemos por que tudo isso ocorre. Além disso, explicaremos os famosos escalda-pés, banhos de
imersão dos pés e pernas para reduzir edemas, e outros aspectos vinculados à imersão.

Bons estudos!

OBJETIVOS

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Objetivo 1 – Identi car a interferência da refração e da tensão super cial na prática da natação.

Objetivo 2 – Analisar o efeito do calor especí co da água na termorregulação.

Objetivo 3 – Reconhecer a importância da pressão hidrostática nesse esporte aquático.

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REFRAÇÃO

Quando a luz passa de um meio (como o aéreo) para outro (como o aquático), ocorre o fenômeno denominado
refração, caracterizado por uma desorientação na direção do raio de luz, como mostra a gura a seguir:

Refração da luz ao passar do ar para a água

Disponível em: https://goo.gl/D8szS1 (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

Isso também acontece, por exemplo, com os raios solares quando entram em nossa atmosfera, pois a luz, nesse caso,
também muda de um meio para outro.

Além da refração, os raios de luz sofrem re exão (são re etidos no meio terrestre) ao incidirem sobre a superfície da
água. Quando atravessam a linha da superfície, eles se difundem pela água com menor velocidade, alterando sua
direção.

Essa mudança nos dá a impressão, por exemplo, de que um objeto dentro da água está quebrado ou dani cado.

Redução da nitidez na visualização dos membros inferiores

Disponível em: https://goo.gl/P78tLG (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

TENSÃO SUPERFICIAL

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De acordo com Castro e Loss (2010 apud SOARES, 2016), a tensão super cial está presente na linha da superfície
(glossário) graças à atração entre as moléculas do meio aquático no:

Exterior:
Aquelas que são atraídas para o interior do líquido e que só podem interagir com as moléculas internas;

Interior:
Aquelas que se unem entre si em todas as direções e que são comprimidas ou compactadas até que haja equilíbrio.

Como resultado, forma-se um tipo de película ou membrana elástica na linha da superfície que permite a utuação de
pequenos objetos ou corpos, mesmo os mais densos – como uma agulha, por exemplo.

Inseto utuando na película formada pela tensão super cial

Disponível em: https://goo.gl/N6qj4r (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

Soares (2016, p. 39) ainda a rma que as entradas na água a partir da borda ou do bloco têm técnicas especí cas para
furar essa película. Em seus termos:

“[...] é importante passar todo o corpo pelo ‘buraco’ inicialmente criado pelas pontas dos dedos, na posição mais
hidrodinâmica possível, evitando gasto desnecessário de energia”.

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Entrada na água a partir das pontas dos dedos

Disponível em: https://goo.gl/ux7tU2 (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

CALOR ESPECÍFICO

Fonte: Shutterstock

Provavelmente, você já sentiu frio dentro da água e, talvez, já tenha cado muito relaxado, com sensação de moleza,
em banheiras de água quente.

Como regra geral, perderemos calor para o meio aquático se a temperatura dele for inferior a nossa, e teremos
di culdade para manter uma temperatura adequada, ganhando calor, na água quente.

Isso ocorre pelo calor especí co da água – maior do que a temperatura do ar –, o que gera uma troca de calor mais
rápida e maior quando estamos imersos em uma piscina ou na praia, por exemplo.

De acordo com Duarte (2004, p. 38):

“[...] a condutividade térmica (glossário) da água é cerca de 0,58 W/m.k, e a [condutividade] do ar é de 0,0257 W/m.k a
20 °C – cerca de 23 vezes menor”.

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Portanto, a água é excelente condutora de calor quando você está tanto em repouso quanto em exercício.

Atenção
, Ao se movimentar, você produz calor, ou seja, aumenta sua temperatura interna. Para que não haja prejuízos a seu organismo, é
necessário que esse calor seja trocado com o meio ambiente.
Durante o exercício em terra, você troca calor com o meio pela evaporação e, no meio aquático, por condução e
convecção, principalmente.

Vamos entender melhor esses conceitos:

Condução

Processo que ocorre pela diferença de temperatura entre sua pele e a água. Esta deve ser
mais fria para possibilitar uma e ciente termorregulação no exercício aquático.

McArdle et al (1996) a rmam que a água é capaz de absorver muito mais calor do que o ar,
levando-o para longe de seu corpo aquecido.

Convecção

Processo que ocorre pelo movimento da água contra seu corpo. É como se seu calor fosse
levado por ela, desde que a temperatura recomendada para exercícios seja observada.

Para McArdle et al (1996), a perda de calor do corpo por convecção é mais rápida quando
nadamos do que quando camos parados dentro da piscina.

A Federação Internacional de Natação (FINA) indica que a temperatura da água para competições e treinamentos é de
25° a 28 °C, pois a alta intensidade faz com que nossa temperatura interna aumente bastante.

Além disso, a água mais fria facilita a troca de calor, evitando riscos de hipertermia (glossário), desidratação e fadiga
precoce.

Mas há um problema quanto à temperatura para o exercício aquático: seu controle nas provas realizadas em águas
abertas, como travessias e maratonas aquáticas.

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Nesses ambientes, há uma determinação de que a temperatura não pode ser inferior a 16 °C. Essa regra vale para as
competições, ou seja, para os indivíduos que se movimentam com alta intensidade.

 Já em turmas de natação para bebês e crianças pequenas, que se movimentam pouco e têm baixa produção de calor
corporal, a água deve estar mais quente, de modo que eles não sintam frio e desconforto.

Nesse caso, há variações quanto à temperatura ideal. A sugestão é algo em torno de 30 °C e 32 °C, enquanto para
jovens e adultos, de 28 °C a 30 °C.

Nos exercícios aquáticos, se a temperatura da água estiver muito menor do que a temperatura do corpo, haverá risco
de hipotermia (glossário), pois a perda de calor ocorre em alta velocidade.

Alguns sinais indicam que o aluno está com frio signi cativo na água, como, por exemplo:

Calafrios

Cãibras

Extremidades corporais com as pontas dos dedos arroxeadas

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Para piscinas e situações de aprendizagem, é melhor seguir as recomendações da literatura especializada, a m de

evitar problemas, reclamações e insatisfação dos alunos.

Faixas de temperatura para diferentes atividades

Disponível em: https://goo.gl/8sPmM3 (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

Curiosidade
, Em 2010, o norte-americano Fran Crippen, de 26 anos, faleceu durante a prova de 10 km na última etapa da Copa do Mundo,
realizada nos Emirados Árabes Unidos. Fran tinha sido campeão pan-americano em 2007, no Rio de Janeiro, e, quando morreu, era
o vice-líder do ranking mundial.

Na etapa dos Emirados Árabes, a prova foi liberada com a temperatura do mar a 33 °C, o que gerou questionamentos por parte da
comunidade médica e esportiva sobre a responsabilidade dos organizadores no acidente fatal.

PRESSÃO HIDROSTÁTICA

A água exerce pressão (força) contra os objetos nela imersos em todas as direções, de fora para dentro. Isso signi ca
que, quando você entrar em uma piscina, em uma profundidade de 1 metro, por exemplo, haverá uma pressão de 76
mmHg contra seu corpo.

Na prática da natação, realizada próxima da superfície, há menor pressão do que quando você mergulha para pegar um
objeto no fundo de uma piscina com tal profundidade, mas alguns efeitos da pressão já são sentidos – especialmente
sobre os sistemas respiratório e cardiovascular.

Além da profundidade, a pressão hidrostática aumenta com a densidade: em líquidos mais densos, como a água
salgada, a pressão é maior.

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Representação do aumento da pressão com a profundidade

Disponível em: https://goo.gl/bn kG (glossário). Acesso em: 4 out. 2017.

Alguns efeitos associados à pressão da água sobre o corpo incluem a redução de edemas nos membros inferiores e
da Frequência Cardíaca (FC) – bradicardia (glossário) de imersão –, e o maior esforço percebido pelos alunos de
natação na fase de inspiração do ar.

De acordo com Bates e Hanson (1998), a pressão exercida pela água na região do tronco torna a prática de exercícios
nesse meio um problema para pessoas que têm capacidade vital (glossário) muito reduzida (abaixo de 1.500 ml).

Em homens e mulheres saudáveis, a capacidade vital é de cerca de 4,5 e 3,2 litros, respectivamente.

Fonte: Shutterstock

Caromano et al (2003) a rmam que a compressão realizada pela pressão hidrostática sobre o tórax e o abdome gera
aumento da pressão intratorácica e sobre os grandes vasos sanguíneos, bem como deslocamento do centro
diafragmático para cima. Combinados, esses efeitos fazem com que o trabalho respiratório aumente 65%.

Iniciantes na natação podem se queixar de cansaço na musculatura respiratória devido à pressão da água, que, por ser
de fora para dentro, opõe-se ao movimento de inspiração. Conforme os alunos vão se adaptando ao exercício e
ganhando condicionamento físico, esse desconforto não é mais sentido.

A redução de edemas e da FC são explicadas pela facilitação circulatória que ocorre durante a imersão. Juntamente
com o empuxo, a pressão hidrostática causa um deslocamento dos líquidos para a região central do corpo. Este é,
possivelmente, o principal mecanismo causador da bradicardia dentro da água.

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Conforme apontam Ruoti et al (2000), aproximadamente 700 cm3 de sangue da região periférica e abdominal são
direcionados para o tórax e o coração.

O aumento do volume sanguíneo disponível para o sistema cardiovascular permite que, a cada batida do coração, mais
sangue possa ser enviado (volume de ejeção). Dessa forma, o coração pode bater menos vezes por minuto
(bradicardia de imersão) e desempenhar sua função básica de enviar sangue a todo o seu corpo.

A redução da FC pode ser mais signi cativa devido à temperatura da água, da profundidade de imersão e da posição
do corpo. Quando você ca na posição vertical (em pé), a bradicardia tende a ser maior do que na posição horizontal –
adotada na prática da natação.

Conforme destacam McArdle et al (1996), nesse esporte, a FC é, aproximadamente, 13 batimentos por minuto mais
baixa, tanto em pessoas treinadas quanto em iniciantes. Para os autores, a posição do corpo e a velocidade de perda
de calor no meio aquático têm relação com esse fato.

Se você atuar com natação competitiva, lembre-se desse detalhe, pois a FC é muito usada para o controle da
intensidade do treinamento.

A percepção subjetiva de esforço por meio de escalas e a concentração de lactato são outros métodos de controle do
esforço.

Finalmente, a redução de edemas (glossário) também é um benefício associado à imersão e, em particular, à pressão
da água sobre o corpo.

Para você ter uma ideia, Duarte (2004) a rma que meias de compressão – recomendadas para melhorar a circulação –
têm pressões que variam entre 18,4 mmHg e 59 mmHg. E, como vimos, a 1 metro de profundidade, a pressão é de 76
mmHg.

Curiosidade
, Recentemente, Silva (2013) propôs dois testes na natação, nas distâncias de 100 metros e 200 metros, para a determinação da
FC máxima (FCmax), a partir da qual é possível estipular percentuais de trabalho adequados aos objetivos do programa de
treinamento.

TESTE EXPERIMENTAL

1. Cite e explique dois efeitos da pressão hidrostática sobre a circulação sanguínea.

Resposta Correta

2. Quando leu sobre pressão hidrostática, você tomou conhecimento da ocorrência de uma bradicardia de imersão,
gerada pela interação entre alguns fatores.

Já que a mensuração da FC é bastante recomendada para o controle da intensidade, a bradicardia se torna uma
desvantagem para o pro ssional de natação realizar o acompanhamento dos estímulos dados a seus alunos.

Como opção bastante prática, cientí ca e muito indicada para os exercícios aquáticos, há as escalas de percepção
subjetiva de esforço. As mais conhecidas e usadas foram desenvolvidas, a partir de 1982, pelo siologista sueco
Gunnar Borg.

Pesquise na internet ou em livros as escalas e diga como funcionam.

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Resposta Correta
EXERCÍCIOS
1. Analise a gura a seguir:

Disponível em: https://goo.gl/2DBsYj (glossário). Acesso em: 21 nov. 2017.

Ao se posicionar horizontalmente em relação à superfície de um líquido, a aranha não afunda devido à:

a) Refração.
b) Flutuação.
c) Viscosidade.
d) Tensão super cial.
e) Pressão hidrostática.

Justi cativa

2. Analise as seguintes sentenças:

I. O exercício moderado a vigoroso realizado em água quente traz riscos à termorregulação.

II. O calor especí co da água di culta a perda de calor independentemente da temperatura da água.

A respeito destas asserções, assinale a opção CORRETA:

a) As duas são falsas.

b) A primeira é falsa, e a segunda é verdadeira.
c) A primeira é verdadeira, e a segunda é falsa.
d) As duas são verdadeiras, e a segunda justi ca a primeira.
e) As duas são verdadeiras, mas a segunda não justi ca a primeira.

Justi cativa

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3. A pressão hidrostática oferece alguns benefícios siológicos durante a imersão, mas representa um problema para
determinados indivíduos se exercitarem na água. O grupo que não deve praticar exercícios com água nivelada ao
tronco/peito é formado por pessoas com:

a) Hipertensão.
b) Diabetes tipo II.
c) Problemas articulares.
d) Problemas circulatórios.
e) Capacidade vital muito baixa.

Justi cativa

Glossário
LINHA DA SUPERFÍCIE

Limite entre o ar e a água.

CONDUTIVIDADE TÉRMICA

Capacidade de um material conduzir calor.

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HIPERTERMIA

Aumento da temperatura corporal.

HIPOTERMIA

Queda excessiva da temperatura corporal.

Fonte: Dicionário Aulete Digital.

BRADICARDIA

Redução da FC.

CAPACIDADE VITAL

Volume de ar que pode ser expelido dos pulmões após uma inspiração máxima.

EDEMAS

Popularmente conhecidos como inchaços nos membros inferiores, especialmente na região do tornozelo.

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