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CONTEÚDO E METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA

ESPÍRITO SANTO
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A CHEGADA DOS EUROPEUS AO CONTINENTE QUE HOJE


CHAMAMOS DE AMÉRICA

A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado de


Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões (ditas) monoteístas do
mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus,
cristãos e muçulmanos fazem peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos
de suas respectivas fés.
Na Idade Média – e ainda hoje, em certa medida – os cristãos em geral acreditavam
que os lugares onde os santos viveram, os objetos por eles usados e o que restava de seus
corpos (as chamadas “Relíquias”) possuíam poderes milagrosos, como a cura de enfermos
e a salvação para os pecadores. Havia vários lugares de veneração espalhadas por todo o
mundo cristão, mas a Terra Santa, onde Jesus viveu, pregou e foi supliciado, era
considerado o mais sagrado de todos.
Para os judeus, Jerusalém é a principal cidade de sua antiga pátria e ali se encontram
vários locais sagrados, principalmente o “Muro das Lamentações”, ruínas do Templo de
Salomão destruído pelos romanos no primeiro século de nossa era. Para os cristãos, é
reverenciada por ter sido o local no qual Jesus de Nazaré viveu durante os três últimos anos
de sua vida, pregou, fez discípulos e foi crucificado. Para os muçulmanos, Jerusalém é uma
Cidade Santa porque foi dali, da “Cúpula do Rochedo”, situada no coração de Jerusalém –
reza a Tradição que ainda é possível ver a marca do casco do cavalo alado que o levou –
que Maomé subiu ao céu.
Apesar da grande distância da Europa Ocidental, muitos peregrinos faziam uma longa
e arriscada jornada para chegar a Jerusalém. Alguns iam primeiro para Roma e, em seguida,
partiam de algum porto italiano para Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente
ou Império Bizantino e, de lá, para a Palestina. As pessoas mais pobres percorriam todo o
trajeto a pé.
Os Europeus dependiam visceralmente das especiarias encontradas nas Índias
(nome dado vagamente a toda a região sudeste do continente asiático). Em particular nos
períodos mais quentes do ano as especiarias ou temperos (cravo, canela, noz moscada,
pimenta...) eram fundamentais para a conservação e aprimoramento do sabor dos alimentos.
A mesma rota usada pelos Peregrinos era também a rota dos mercadores (hoje
eufemisticamente conhecidos como comerciantes) que iam da Palestina às Índias por terra

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e lá, trocavam produtos europeus pelas especiarias. Não raro, simplesmente saqueavam
vilarejos hindus de suas riquezas e as vendiam na Europa com lucro de 100%, independente
da desgraça causada no local do saqueio.
Após longo período de cerco, em 1453 as poderosas muralhas de Constantinopla
caíram sob o poder dos canhões de Maomé III. A “Queda de Constantinopla” e sua ocupação
pelos turcos otomanos (muçulmanos) marca o fim do Império Romano do Oriente. Muitos
sábios migraram de Constantinopla para Roma, Veneza e Gênova, na península Itálica e
ajudaram, com seus aportes, a incrementar o Renascimento Europeu.
Com as rotas terrestres para as Índias completamente bloqueadas pois os inimigos
mortais dos Europeus Ocidentais ocupavam toda a Palestina e até Constantinopla (hoje
Istambul, na atual Turquia), além disso as disputas entre Católicos e Protestantes no
Segundo Cisma do Cristianismo tornava a Europa Central uma área consideravelmente
perigosa para os mercadores católicos da Península Ibérica. Era necessário encontrar um
"Caminho Marítimo" para "as Índias".
As viagens navais daqueles tempos podem ser comparadas – grosso modo – às
viagens espaciais da era moderna. Inicialmente, somente Portugueses e Espanhóis
dispunham dos conhecimentos técnicos necessários à construção de grandes embarcações
e, com o auxílio de instrumentos aprendidos com os muçulmanos (como o astrolábio, por
exemplo, instrumento fundamental ao fiel muçulmano para localizar a direção da cidade de
Meca para suas preces diárias mesmo em dias nublados ou durante a noite) podiam navegar
e orientar-se pelas estrelas, mesmo à noite.
Após a Unificação do Reino de Espanha com o casamento de Fernando de Aragão
com Isabel de Castela que possibilitou a união de forças necessárias à retomada de
Granada, ao sul da Espanha (os muçulmanos ocuparam toda a Península Ibérica por cerca
de 700 anos, daí muito de sua influência aparece na cultura daqueles povos e dos latino-
americanos, nós, que descendemos deles) um navegador genovês (nascido em Gênova, na
Península Itálica) chamado Cristóvão Colombo conseguiu os recursos necessários a
subvencionar sua ambiciosa viagem de circunavegação – dar uma volta à Terra, que, já se
sabia, era redonda – e chegar “ao Levante, viajando na direção do Sol Poente”. Só não
contava mesmo encontrar um continente inteiro no meio do caminho - sorte dele, aliás, que
não contava com suprimentos, equipamentos e tripulação suficientemente motivada e
crédula para chegar tão longe quanto a China, na hipótese de o Continente que hoje
chamamos de América não existisse...

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Fonte: http://www.amorlegal.com/luizcalegari.com/index.php/geografia-oitavo-ano/8-ano-geografia-1-semestre/196-o-meio-natural-ap-1-
o-contexto-do-senhor-dos-ventos.html

No entretempo os Portugueses chegavam às Índias circunavegando o Continente


Africano em viagens, para a época, cheias de perigos e aventuras.
Após muitos contratempos Colombo chega às ilhas do Caribe e imagina haver
chegado às ilhas de “Cipango” – nome pelo qual o Japão era conhecido – e, como Marco
Polo 300 anos antes, embora viajando na direção contrária, chegar até o “Império Katai” –
como era conhecida a China. Índios do Caribe faziam referência a um "Grande Reino" no
Continente (referiam-se à Confederação Azteca) que Colombo interpretou como sendo o
famoso "Império Catai" encontrado por Marco Polo 250 anos antes. Toma posse de todas
as terras encontradas em nome dos reis Cristãos de Aragão e Castela – independentemente
de serem terras habitadas por outros seres humanos, que receberam o nome de “índios”
pois que se imaginava estar chegando às Índias. Colombo morreu acreditando haver
descoberto uma rota marítima para as Índias, navegando em linha reta na direção do Sol
Poente. Naquela época, era totalmente desconhecida a existência de um Continente inteiro
e habitado por milhares de Nações de Seres Humanos diferentes no caminho entre a Europa
e a Ásia. Este continente recebeu o nome de “América” pois foi o florentino (nascido em
Florença, na Península Itálica) Américo Vespúcio, que navegou, estudando todo o litoral

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destas terras recém encontradas, o descobridor de que se tratava de um “Mundo Novo” –


Mundus Novus é o título do Trabalho em que registra oficialmente, pela primeira vez na
história do Ocidente, que havia um continente inteiro entre a Europa e a Ásia, continente
que, como se disse, em sua homenagem leva o nome de “América”.

ETNOCENTRISMO E O ABANDONO SALUTAR DO BRASIL


ENTRE 1500 E 1530

O interesse pelo Oriente – a armada de Pedro Álvares Cabral, em verdade, dirigia-se


às “Índias” mas, seja acaso, tormentas, calmarias ou por propósito (o mais provável) chegou
ao Brasil em 1500. Apesar de ter tomado posse da terra em nome do rei de Portugal, o
principal interesse da monarquia, enfatize-se estava voltado para o Oriente, onde estavam
as tão cobiçadas especiarias.

O “Achamento”

A Carta de Pero Vaz de Caminha fala em “achamento” destas terras, não fala em
“descobrimento” ou “casualidade”. Tudo indica que, realmente, procuravam alguma terra, e
a acabaram “achando”... O relato abaixo permite-nos uma ideia de como aconteceu este
“achamento” segundo relatos de marujos da esquadra cabralina.
Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de “ervas compridas a que os
mareantes dão o nome de rabo-de-asno”. Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram
no horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos – uma espécie de gaivota
– rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se
encontrava próxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-
se os contornos arredondados de “um grande monte”, cercado por terras planas, vestidas
de um arvoredo denso e majestoso.
Era 22 de abril ale 1500. Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral
vislumbrava terra – mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Nos nove
dias seguintes, nas enseadas generosas rio sul da Bahia, os 13 navios da maior amada já
enviada às índias pela rota descoberta por Vasco da Gama permaneceriam reconhecendo
a nova terra e seus habitantes.

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O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, quinta-feira,


23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro de Gama, foi a
terra, em um batel, e deparou com 18 homens “pardos, nus, com arcos e setas nas mãos”.
Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto. Em troca,
recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O Brasil, batizado Ilha de Vera
Cruz, entrava, naquele instante, no curso da História.
O descobrimento oficial do país está registrado com minúcia. Poucas são as nações
que possuem uma “certidão de nascimento” tão precisa e fluente quanto a carta que Pero
Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, dom Manuel, relatando o “achamento” da nova
terra. Ainda assim, uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que conduziu a armada
de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria sido o
descobrimento do Brasil um mero acaso?
É provável que a questão jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a assinaturas
do Tratado de Tordesilhas, que, seis anos antes, dera si Portugal a posse das terras que
ficassem a 370 léguas (em torno de 2.000 quilômetros) a oeste de Cabo Verde explique a
naturalidade com que a nova terra foi avistada, o conhecimento preciso das correntes e das
rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta probabilidade de que o país já
tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a garantia de que o desembarque, naquela
manhã de abril de 1500, foi mera formalidade: Cabral poderia estar apenas tomando posse
de uma terra que os portugueses já conheciam, embora superficialmente. Uma terra pela
qual ainda demorariam cerca de meio século para se interessarem de fato.

Etnocentrismo

Todas as culturas e civilizações humanas partilham algumas coisas em comum; por


exemplo, tanto Esquimós, quanto Bosquímanos, Tupinambás, Astecas, Zulus, Mongóis,
Japoneses e Europeus consideram a própria cultura ou civilização superior a todas as
demais. Para os Ibéricos (Portugueses e Espanhóis) cristãos, com seu elã vital de "propagar
o cristianismo católico" iam além e consideravam sua cultura ou civilização "a única válida"
a exemplo dos estadunidenses hoje em dia, no século XXI.
Aquela visão tacanha não permitiu ver a tremenda diversidade cultural entre as mais
distintas civilizações e povos diferentes que aqui viviam: Tupinambás, Carijós, Tupiniquins,
Ianomamis, Guaranis... Todos eram "índios sem cultura, sem rei nem lei" e tinham de receber

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a cultura e a religião ibéricas - a alternativa era a morte ("Ficar entre a cruz e a espada" tem
precisamente este significado, por sinal).
Apenas a título de ilustração ou curiosidade, todas as civilizações humanas têm a sua
própria forma fazer sacrifícios humanos. Hoje em dia, nos EUA, a moda é julgar formalmente
e, o considerado "culpado" de algo como "crime hediondo" é sacrificado através do uso da
Cadeira Elétrica, da Forca ou da Injeção Letal. Na Península Ibérica ao tempo da conquista
colonial do Brasil eram também muito comuns os sacrifícios humanos. A Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, nome eufemístico da Santa Inquisição, julgava -
aplicando violentos métodos de tortura física e psicológica, extraindo confissões as mais
diversas - e, ao término dos trabalhos, "abandonava ao braço secular" o corpo da vítima a
ser sacrificada indicando como deveria ser. Um método muito popular de Sacrifício Humano
na Península Ibérica ao tempo da conquista colonial era a fogueira. A vítima era queimada
numa fogueira, em geral ainda em vida (como ocorreu com Giordano Bruno, por exemplo);
em alguns casos eram garroteados - mortos por enforcamento através de um garrote em
torno da garganta - e, a seguir, incinerados para delírio da plateia. Também no continente
que hoje chamamos América, nos tempos da conquista colonial, se praticava o sacrifício
humano: inimigos derrotados eram mortos e sua carne, devorada pelos vencedores - um
ritual nem tão raro nem tão comum quanto os Sacrifícios Humanos perpetrados na Europa
cristã, naturalmente. Mas uns não consideravam aos outros como praticando esse tipo de
coisa...
Agora, imagine que você desse de presente para um grupo de índios da Amazônia
(onde não há eletricidade, água encanada, saneamento básico ou mesmo respeito por parte
da FUNAI - Funerária Nacional de Índios) um computador de último tipo, capaz de pegar o
sinal da Internet por satélite e funcionar a bateria. Diante de tal peça, os Ianomami,
respeitosos, o enfeitariam com penas, colocariam outros adereços comuns e deixariam o
computador em exibição, todo enfeitado, a quem desejasse olhar. Estranho? E nós que
pegamos seus instrumentos de trabalho - como arco-e-flexa, por exemplo - e penduramos
como enfeite em nossas paredes? Qual a grande diferença?
Enfim, em última instância, no mundo humano e sendo o ser humano como é, vence
sempre quem dispõe de maior poderio bélico, não aquele povo que manifesta um tipo
superior de moralidade. Assim, hoje já não há quase nada de cultura nativa neste país. Os
"índios" foram convertidos ou assassinados.

Os Tupiniquins
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Ao longo dos dez dias que passou no Brasil, a armada de Cabral tomou contato com
cerca de 500 nativos.
Eram, se saberia depois, tupiniquins – uma das tribos do grupo tupi-guarani que, no
início do século 16, ocupava quase todo o litoral do Brasil. Os tupis-guaranis tinham chegado
à região numa série de migrações de fundo religioso (em busca da “Terra sem Males”, no
começo da Era Cristã). Os tupiniquins viriam no sul da Bahia e nas cercanias de Santos e
Bertioga, em São Paulo. Eram uns 85 mil. Por volta de 1530, uniram-se aos portugueses na
guerra contra os tupinambás-tamoios, aliados dos franceses. Foi uma aliança inútil: em 1570
já estavam praticamente extintos, massacrados por Mem de Sá, terceiro governador-geral
do Brasil.

O "ABANDONO SALUTAR" DE 1500 A 1530 COM POUCAS


VIAGENS EXPLORATÓRIAS

Fonte: http://www.colegioweb.com.br/primordios-da-colonizacao-portuguesa/as-primeiras-expedicoes.html

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Primeiras Expedições

O Brasil, ao contrário do Oriente, não possuía, em princípio, nenhum atrativo do ponto


de vista comercial. Ao longo do período pré-colonial foram, entretanto, enviadas várias
expedições a nosso pais.
Primeiras expedições – Entre 1501 e 1502, Portugal enviou a primeira expedição com
a finalidade de explorar e reconhecer o litoral brasileiro. Essa expedição, da qual se
desconhece o nome do comandante, foi responsável pelo batismo de inúmeros lugares:
cabo de S. Tomé, cabo Frio, São Vicente, etc. Com certeza, nessa expedição viajou o
florentino Américo Vespúcio, que, posteriormente, em carta ao governante de Florença,
Lourenço de Médici, irá declarar que não encontrou aqui nada de aproveitável. Apesar disso,
constata a existência do pau-brasil, madeira tintorial conhecida dos europeus desde a Idade
Média, que até então era importada do Oriente.
O pau-brasil – As primeiras atividades econômicas concentraram-se, pois, na
extração daquela madeira, segundo o regime de estanco, isto é, sua exploração estava sob-
regime de monopólio régio. Como era costume, o rei colocou em concorrência o contrato de
sua exploração, que foi arrematada por um consórcio de mercadores de Lisboa chefiado
pelo cristão novo Fernão de Noronha, em 1502.
No ano seguinte (1503) Fernão de Noronha montou uma expedição pata a extração
do pau-brasil e fez o primeiro carregamento do produto.
No Brasil, foram estabelecidas então as feitorias, que eram lugares fortificados e
funcionavam, ao mesmo tempo, como depósito de madeira. O pau-brasil era explorado
através do escambo, no qual os indígenas forneciam a mão de obra para corte e transporte
da madeira em troca de objetos de pouco valor para os portugueses.
Brasil 1570. Padres solicitam às Autoridades portuguesas - a Metrópole do Brasil na
época - que enviem órfãs para se casar com os rudes trabalhadores que aqui moravam pois
estavam obcecados - como usualmente os padres sempre são - com a sexualidade dos
trabalhadores que, além de os afastar da missa, produzia uma indesejável quantidade de
mestiços e a prioridade então era o "branqueamento da pele".
O filme DESMUNDO revela de maneira realista o choque cultural entre meninas
profundamente religiosas e seus maridos, brutais, acostumados com a dureza do trabalho e
a lidar com o trabalho escravo. A maioria "amolece" a esposa como um domador de cavalos.
Algumas se suicidam tentando voltar - a nado - a Portugal, algumas enlouquecem. A maioria,

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como desde sempre em terra brasilis, "se acomoda" à situação. Alain Fresnot explorou este
tema brilhantemente no filme "Desmundo".

O BRASIL NOS QUADROS DO SISTEMA COLONIAL


MERCANTILISTA

Fonte: http://www.estudokids.com.br/mercantilismo-surgimento-e-principais-caracteristicas-do-sistema-mercantilista/

O sistema colonial é o conjunto de relações entre as metrópoles e suas respectivas


colônias em uma determinada época histórica. O sistema colonial que nos interessa
abrangeu o período entre o século XVI e o século XVII, ou seja, faz parte do Antigo Regime
da época moderna e é conhecido como antigo sistema colonial.
Segundo o seu modelo teórico típico, a colônia deveria ser um local de consumo
(mercado) para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a metrópole e
de ocupação para os trabalhadores da metrópole. Em outras palavras, dentro da lógica do
“Sistema Colonial Mercantilista” tradicional, a colônia existia para desenvolver a metrópole,
principalmente através do acúmulo de riquezas, seja através do extrativismo ou de práticas
agrícolas mais ou menos sofisticadas. Uma Colônia de Exploração, como foi o caso do Brasil

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para Portugal, tem basicamente três características, conhecidas pelo termo técnico de
“plantation”:
_ Latifúndio: as terras são distribuídas em grandes propriedades rurais
_ Monocultura voltada ao mercado exterior: há um “produto-rei” em torno do qual toda
a produção da colônia se concentra (no caso brasileiro, ora é o açúcar, ora a borracha, ora
o café...) para a exportação e enriquecimento da metrópole, em detrimento da produção para
o consumo ou o mercado interno.
_ Mão de obra escrava: o negro africano era trazido sobre o mar entre cadeias e,
além de ser mercadoria cara, era uma mercadoria que gerava riqueza com o seu trabalho.

 O sentido da colonização – A atividade colonizadora europeia aparece como


desdobramento da expansão puramente comercial. Passou-se da circulação
(comércio) para a produção, No caso português, esse movimento realizou-se através
da agricultura tropical. Os dois tipos de atividade, circulação e produção, coexistiram.
Isso significa que a economia colonial ficou atrelada ao comércio europeu. Segundo
Caio Prado Jr., o sentido da colonização era explícito: "fornecer produtos tropicais e
minerais para o mercado externo".
Assim, o antigo sistema colonial apareceu como elemento da expansão mercantil da
Europa, regulado pelos Interesses da burguesia comercial. A consequência lógica, segundo
Fernando A. Novais, foi à colônia transformar-se em instrumento de poder da metrópole, o
fio condutor, a prática mercantilista, visara essencialmente o poder do próprio Estado.

 As razões da colonização – A centralização do poder foi condição para os países


saírem em busca de novos mercados, organizando-se, assim, as bases do
absolutismo e do capitalismo comercial. Com isso, surgiram rivalidades entre os
países. Portugal e Espanha ficaram ameaçados pelo crescimento de outras
potências. Acordos anteriores, como o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal
e a Espanha, começaram a ser questionados pelos países em expansão.
A descoberta de ouro e prata no México e no Peru funcionou como estímulo ao início
da colonização portuguesa. Outro fator que obrigou Portugal a investir na América foi a crise
do comércio indiano. A frágil burguesia lusitana dependia cada vez mais da distribuição dos
produtos orientais feita pelos comerciantes flamengos (Flandres), que impunham os preços
e acumulavam os lucros.

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 Capitanias hereditárias – Em 1532, quando se encontrava em São Vicente, Martim


Afonso recebeu uma carta do rei anunciando o povoamento do Brasil através da
criação das capitanias hereditárias. Esse sistema já havia sido utilizado com êxito nas
possessões portuguesas das ilhas do Atlântico (Madeira, Cabo Verde, São Tomé e
Açores).
O Brasil foi dividido em 14 capitanias hereditárias, 15 lotes (São Vicente estava
dividida em 2 lotes) e 12 donatários (Pero Lopes de Sousa era donatário de 3 capitanias:
Itamaracá, Santo Amaro e Santana). Porém, a primeira doação ocorreu apenas em 1534.
Entre os donatários não figurava nenhum nome da alta nobreza ou do grande
comércio de Portugal, o que mostrava que a empresa não tinha suficiente atrativo
econômico. Somente a pequena nobreza, cuja fortuna se devia ao Oriente, aqui aportou,
arriscando seus recursos. Traziam nas mãos dois documentos reais: a carta de doação e os
forais. No primeiro o rei declarava a doação e tudo o que ela implicava. O segundo era uma
espécie de código tributário que estabelecia os impostos.
Nesses dois documentos o rei praticamente abria mão de sua soberania e conferia
aos donatários poderes amplíssimos. E tinha de ser assim, pois aos donatários cabia a
responsabilidade de povoar e desenvolver a terra à própria custa. O regime de capitanias
hereditárias desse modo, transferia para a iniciativa privada a tarefa de colonizar o Brasil.
Entretanto, devido ao tamanho da obrigação e à falta de recursos, a maioria fracassou. Sem
contar aqueles que preferiram não arriscar a sua fortuna e jamais chegaram a tomar posse
de sua capitania. No final, das catorze capitanias, apenas Pernambuco teve êxito, além do
sucesso temporário de São Vicente. Quanto às demais capitanias, malograram e alguns dos
donatários não só perderam seus bens como também a própria vida.
Estava claro que o povoamento e colonização através da iniciativa particular era
inviável. Não só devido à hostilidade dos índios, mas também pela distância em relação à
metrópole, e sobretudo, pelo elevado investimento requerido.

 Governo geral (1549) – Em 1548, diante do fracasso das capitanias, a Coroa


portuguesa decidiu tomar medidas concretas para viabilizar a colonização. Naquele
ano foi criado o governo-geral com base num instrumento jurídico denominado
Regimento de 1548 ou Regimento de Tomé de Sousa. O objetivo da criação do

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governo-geral era o de centralizar política e administrativamente a colônia, mas sem


abolir o regime das capitanias.
No regimento o rei declarava que o governo-geral tinha como função coordenar a
colonização fortalecendo as capitanias contra as ações adversas, destacando-se particular-
mente a luta contra os tupinambás.
A compra da capitania da Bahia pelo rei, transformando-a numa capitania real é sede
do governo-geral foi o primeiro passo para a transformação sucessiva das demais capitanias
hereditárias em capitanias reais, Por fim, no século XVIII, durante o reinado de D. José I
(1750 - 1777) é do seu ministro marquês de Pombal, as capitanias hereditárias foram extintas
Com a criação do governo-geral, estabeleceram-se também cargos de assessoria:
ouvidor-mor (justiça), provedor-mor (fazenda) e capitão-mor (defesa). Cada um desses
cargos possuía, ademais, um regimento próprio e, no campo restrito de sua competência
era a autoridade máxima da colônia. Assim, com a criação do governo-geral, desfazia-se
juridicamente a supremacia do donatário.

 Tomé de Sousa (1549-1553) – O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa. Com


ele vieram todos os funcionários necessários à administração e também os primeiros
jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega. Começava, então, a obra evangelizadora
dos indígenas e, em 1551, criava-se em Salvador o primeiro bispado no Brasil, sendo
o primeiro bispo D. Pero Fernandes Sardinha. Com o segundo governador viria ainda
outro contingente de jesuítas, entre eles, José de Anchieta .
Apesar de representar diretamente a Coroa, algumas capitanias relutaram em acatar
a autoridade do governador-geral tais como as de Porto Seguro, Espírito Santo, Ilhéus, São
Vicente e Pernambuco. Esta última, de Duarte Coelho, foi a que mais se ressentiu da
intromissão do governo-geral. Recusando a autoridade do governador-geral o donatário de
Pernambuco apelou para o rei, que o favoreceu reafirmando a sua autonomia.
Consolidação do governo-geral – Duarte da Costa (1553 – 1558), que viera em
substituição a Tomé de Sousa, enfrentou várias crises e sua estada no Brasil foi bastante
conturbada. Desentendeu-se com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha e teve de enfrentar
os primeiros conflitos entre colonos e jesuítas acerca da escravidão indígena. Além disso,
foi durante o seu governo que a França começou a tentativa de implantação da França
Antártica no Rio de Janeiro.

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Esses problemas foram solucionados pelo terceiro governador-geral, Mem de Sá


(1558-1572). Com ele, finalmente, se consolidou o governo-geral e os franceses foram
expulsos.

 Predomínio dos poderes locais – Todavia, apesar da tendência centralizadora do


governo-geral, a centralização jamais foi completa na colônia. Vários obstáculos
podem ser mencionados. O primeiro deles estava na própria característica
econômica da colônia. A sua economia era de exportação, voltada para o mercado
externo. O comércio entre as capitanias era praticamente nulo. Além disso, as vias
de comunicação inter-regionais eram inexistentes ou muito precárias.
Daí a predominância dos poderes locais representados pelos grandes proprietários.
Até meados do século XVII, as câmaras municipais eram ocupadas e dominadas por esses
grandes proprietários, que se autodenominavam "homens bons".
Evolução administrativa até 1580 – D. Luís Fernandes de Vasconcelos, nomeado
sucessor de Mem de Sá foi atacado por piratas franceses que impediram a sua chegada ao
Brasil.
Nessa época, a preocupação com a conquista do Norte fez com que o rei de Portugal,
D. Sebastião (1557 - 1578), dividisse, em 1572, o Brasil em dois governos. O norte ficou com
D. Luís de Brito e Almeida e o sul com Antônio Salema tendo como capitais,
respectivamente, a Bahia e o Rio de Janeiro
Em virtude do tamanho do Brasil, almejava-se com essa divisão maior eficiência
administrativa. Entretanto, como esse objetivo não fora alcançado, a administração foi
reunificada em 1578. O novo governador nomeado, Lourenço da Veiga, governou de 1578
a 1580. Nesta última data, Portugal foi anexado pela Espanha, dando origem à União Ibérica,
que perdurou de 1580 a 1640.

 A crise do Antigo Regime – O declínio da mineração no Brasil coincide, no plano


internacional, com a crise do Antigo Regime. Fazendo um balanço de toda a
exploração colonial do Brasil, chegamos à melancólica conclusão de que Portugal
não foi o principal beneficiário da exploração colonial.
Os benefícios da colonização haviam se transferido para outros centros europeus em
ascensão: França e, em especial, Inglaterra. De fato, o século XVIII teve a Inglaterra como
centro da política internacional e pivô das mudanças estruturais que começavam a afetar

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profundamente o Antigo Regime. Como nação vitoriosa na esfera econômica, a Inglaterra


estava prestes a desencadear a Revolução Industrial, convertendo-se na mais avançada
nação burguesa do planeta.
A visível transformação econômica foi acompanhada, na segunda metade do século
XVIII, por uma ebulição no nível das ideias. Surgiu o Iluminismo e, com essa filosofia, uma
nova visão do homem e do mundo. Por trás de todo esse movimento, encontrava-se a
burguesia, comandando a crítica ao Antigo Regime e, portanto, à nobreza e ao absolutismo.
Mas os filósofos iluministas, como Voltaire e Diderot, seduziram os monarcas
absolutistas da Prússia, Áustria, Rússia, Portugal e Espanha. Sem abrir mão do absolutismo,
esses monarcas realizaram algumas das reformas recomendadas pelos iluministas, que
vieram reforçar o seu poder, uma vez que a modernização empreendida aliviou as tensões
sociais. Por se manterem absolutistas e optarem por reformas modernizadoras, aqueles
monarcas ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Esse foi um fenômeno típico da
segunda metade do século XVIII.
D. José I (1750-1777) e seu ministro, o marquês de Pombal, foram os representantes
do despotismo esclarecido em Portugal.

REFORMAS POMBALINAS

Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&

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As reformas pombalinas – No reinado de D. José I, o ministro Sebastião José de


Carvalho, marquês de Pombal, com sua forte personalidade, caracterizou o período,
denominado em virtude disso "pombalino”.
O período pombalino coincidiu com a época da decadência da mineração, e todo o
esforço político do ministro de D. José I concentrou-se na tentativa de modernização do
reino. Mas essa modernização, como era típico dos déspotas esclarecidos, foi imposta de
cima para baixo.
Considerando as suas realizações em conjunto, conclui-se que a política de Pombal
tinha em vista, de um lado, o fortalecimento do Estado e, de outro, a autonomia econômica
de Portugal.
No primeiro caso, Pombal tratou de diminuir a influência da nobreza e sobretudo dos
jesuítas, os quais expulsou de Portugal e de todos os seus domínios em 1759.
Quanto à autonomia econômica, o seu objetivo era o de tirar o país da órbita inglesa, na qual
ingressara a partir de meados do século XVII.
Desde o fim da União Ibérica em 1640, o Brasil era a mais valiosa possessão
portuguesa. Com a descoberta e a exploração do ouro em Minas, o Brasil ocupou o lugar
indiscutível de retaguarda econômica da metrópole. Porém, no tempo de Pombal, a
mineração encontrava-se em franca decadência. A sua preocupação foi então a de
reorganizar a administração colonial, fortalecer os laços do exclusivo metropolitano, a fim de
garantir o máximo de transferência da riqueza brasileira para Portugal.
Em sua política colonial, Pombal tratou de centralizar a administração para maior
controle metropolitano. Nesse terreno, o ministro tomou duas medidas importantes. A
primeira foi a extinção do regime de capitanias hereditárias e, portanto, o fim do poder dos
donatários. A segunda foi a reunificação administrativa.
Com essa reunificação ficava abolida a antiga divisão administrativa estabelecida em
1621, quando então o Brasil ficou dividido em dois Estados: o Estado do Maranhão e o do
Brasil, cada qual com um governador próprio. O primeiro abrangia Pará, Maranhão e Ceará
e o segundo, os demais territórios ao sul. A capital do Estado do Maranhão era São Luís e
a do Estado do Brasil era a Bahia.
Pombal reunificou a administração, transferindo, ao mesmo tempo, a capital para o
Rio de Janeiro, em 1763, o que mostrou a sua preocupação em manter a cabeça
administrativa bem próxima da economia mineira.

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Mas a sua política não estava concentrada apenas em Minas. Ela abrangia também
a economia açucareis do nordeste e a exploração das "drogas do sertão" da região
amazônica.
Em relação a Minas, com a finalidade de assegurar os rendimentos da Coroa, Pombal
tomou a iniciativa de converter a exploração diamantífera em monopólio real, com o Regi-
mento da Real Extração e, em relação ao ouro, ele estabeleceu um regime de taxação que
combinava a Casa de Fundição e o sistema de fintas com cotas de 100 arrobas,
complementado pela derrama.
Para atuar no nordeste e na região amazônica, Pombal criou a Companhia Geral do
Comércio do Grão Pará e Maranhão (1755) e a Companhia Geral do Comércio de
Pernambuco e Paraíba (1759).
Assim, o quadro geral da administração colonial caracterizou-se, no final do século
XVIII, pela crescente racionalização da atividade econômica, tendo por objetivo a
transferência do máximo de riqueza do Brasil para Portugal. Paralelamente a essa
racionalização, aumentava também o grau de opressão colonial. Essa tendência continuou
com D. Maria I, que sucedeu a D. José I. No seu reinado, através do Alvará de 1785, proibiu-
se a atividade manufatureira no Brasil.

CONTESTAÇÕES AO SISTEMA COLONIAL

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QgHFp8Mzq8c

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 Contradições do sistema colonial – O sistema colonial possuía dois eixos


contraditórios. De um lado, senhores e escravos; de outro, colônia e metrópole.
No Brasil, esse sistema ganhou a forma típica de escravismo colonial, e esse caráter
simultaneamente escravista e colonial não foi desfeito ao mesmo tempo. Primeiro, rompe-
ram-se os laços coloniais e, muito mais tarde, aboliu-se a escravidão.
Alguns historiadores, em data mais recente, afirmaram que o escravismo, e não o
caráter colonial, vem a ser o traço definidor mais importante da sociedade. Por isso não dão
muita importância à independência do Brasil. Para eles, o fato decisivo é a abolição da
escravidão, em 1888. E um exagero: a superação da ordem colonial (o processo de
independência) foi um fenômeno de grande importância e não tem sentido minimizá-lo em
favor de outro, que foi a abolição da escravatura.
De fato, nas inúmeras rebeliões ocorridas antes da independência, raras foram as
que colocaram em xeque o escravismo. A maioria contestava diretamente o regime colonial
a que o Brasil estava submetido, e muitas pessoas arriscaram a própria vida para aboli-lo. E
isso tem a sua importância histórica. Ninguém estava lutando contra uma ficção, mas contra
algo muito real: a opressão e exploração coloniais.
No entanto, aqueles historiadores não deixam de ter razão. Se prestarmos atenção
apenas à luta pela emancipação, deixamos de lado as camadas populares e os escravos,
pois a obra emancipadora foi, no Brasil, produto das elites. Não se deve esquecer que os de
baixo estavam tão insatisfeitos com o regime colonial quanto com a dominação dos senhores
de escravos.
Tendo em vista, portanto, essa dupla contradição do sistema colonial, examinemos o
processo emancipacionista.
A primeira constatação importante é a de que o rompimento dos laços coloniais
decorreu do próprio funcionamento do sistema: para explorar a colônia é preciso, antes de
tudo, desenvolvê-la. Porém, à medida que a colônia se desenvolve, engendra interesses
próprios que passam a divergir dos da metrópole. Esse é o momento em que os próprios
colonos tomam consciência da exploração e de si próprios como colonos. Por isso mesmo,
serão os integrantes da camada dominante os primeiros a alcançarem de forma aguda essa
consciência e, em regra, serão eles os dirigentes desse movimento de emancipação.
Isso não impediu, todavia, que as contradições sociais internas da colônia se
aguçassem paralelamente à luta contra a metrópole, de modo que a ruptura dos laços
coloniais poderia ser acompanhada, ao menos como possibilidade, de uma convulsão social.

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Examinando em conjunto o processo emancipacionista da América, verifica-se que,


em geral, a independência não se fez acompanhar de uma revolução social. A única exceção
foi o Haiti, colônia francesa que, em 1792, libertou-se da metrópole através de uma vasta
rebelião escrava, extinguindo, ao mesmo tempo, a escravidão. Nos demais países, a
independência não alterou em nada a estrutura social, que, no caso brasileiro, era
escravista. Porém, isso não significa que a possibilidade de uma revolução social não esteve
presente, de modo quase permanente, nas revoltas anticolonialistas.

 O sentido das rebeliões coloniais – As primeiras rebeliões anticolonialistas surgiram


nos fins do século XVII e início do seguinte e foram resultado direto da nova política
colonial adotada por Portugal depois da Restauração (1640). Nesse contexto, as
contradições entre metrópole e colônia se manifestaram de diversas maneiras: de um
lado, como protesto ao regime comercial monopolista, como na Revolta de Beckman
(1684), no Maranhão; de outro, como uma guerra entre senhores e escravos fugitivos,
como em Palmares (1694), em Alagoas; mas também como conflito entre senhores
de engenho e mercadores, como na Guerra dos Mascates (1709-1711), em
Pernambuco; e, enfim, como reação à opressão fiscal, exemplificada pela Revolta de
Vila Rica (1720), em Minas.
Todas essas rebeliões tiveram por base a contradição metrópole-colônia e, no caso
de Palmares, senhores escravos. Entretanto, cada rebelião possuía o seu caráter específico
e apresentou grande complexidade.
Porém, as rebeliões coloniais até o início do século XVIII não chegaram a propor
claramente a emancipação política como solução. Elas só terão esse caráter com a
Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates (1798).
As primeiras manifestações anticolonialistas. Nos primeiros tempos da colonização,
a contradição entre metrópole e colônia era latente e existia apenas em potencial. Na
realidade, a colônia era vista como um prolongamento da metrópole, e os interesses não
eram, de início, conflitantes. Na fase da montagem da economia colonial inexistia, na prática,
divergências entre colonos e o Estado metropolitano. Porém, à medida que o processo
colonizador avançou e se consolidou, os interesses tornaram-se conflitantes.
Ora, isso é perfeitamente compreensível, pois a metrópole não tem o que explorar se
a riqueza não for produzida. Uma vez produzida, a luta pela sua posse é desencadeada.
Na segunda metade do século XVII, com a Restauração (1640) e a expulsão dos
holandeses (1654), a divergência de interesses entre colônia e metrópole tornou-se
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evidente. A opressão colonial começou a ser sentida com a criação das Companhias de
Comércio, às quais a metrópole concedeu monopólio do comércio colonial. A própria
administração portuguesa ganhou um novo contorno com a criação do Conselho
Ultramarino.
Assim, à medida que o Estado português torna-se clara e conscientemente
colonialista, no Brasil desenvolve-se uma consciência anticolonialista.

 Revolta de Beckman (1684) – Em meados do século XVII, o Maranhão estava com


problemas devido à dificuldade de escoar a sua produção e de obter gêneros
metropolitanos e, sobretudo, escravos.
A criação da Companhia do Comércio do Estado do Maranhão em 1682, que tinha
por objetivo precisamente resolver tais problemas, veio agravar ainda mais a situação. Em
princípio, essa companhia deveria não apenas adquirir a produção açucareis como também
fornecer gêneros metropolitanos e escravos. Porém, visto que a ela fora concedido o
monopólio tanto da venda de escravos e produtos metropolitanos, como da compra do
açúcar, os colonos ficaram sujeitos aos preços arbitrariamente estabelecidos pela
companhia, o que já era motivo de insatisfação. Essa insatisfação converteu-se em aberta
rebelião porque, além disso, a companhia não cumpriu o seu compromisso de abastecer
adequadamente o Maranhão com bens metropolitanos e escravos.
A revolta eclodiu em 1684 liderada por Manuel Beckman, um abastado senhor de
engenho. Os revoltosos propunham a abolição do monopólio da companhia e uma relação
comercial mais justa. Em sinal de protesto, o governo local foi deposto, os armazéns da
companhia saqueados e os jesuítas, velhos inimigos dos colonos por impedirem a
escravização do índio, foram expulsos.
Sob a direção de Manuel Beckman foi composto um governo provisório, e seu irmão,
Tomás Beckman, foi enviado a Lisboa para apresentar as reivindicações dos revoltosos.
Estas não foram atendidas e Tomás Beckman foi preso e recambiado para o Brasil, na frota
em que veio o novo governador, Gomes Freire de Andrade. Este desembarcou no
Maranhão, onde foi recebido com obediência, e, em seguida, reconduziu as autoridades
depostas. Manuel Beckman fugiu e quando planejava libertar o irmão do cárcere foi traído
por um afilhado. Beckman foi preso e executado.
Apesar do fracasso, esse foi o primeiro movimento anticolonial organizado, embora
não tivesse ocorrido aos dirigentes do movimento a independência da colônia em relação a
Portugal, ou seja, a condição colonial não foi questionada.
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 Quilombo dos Palmares (1630-1694) – No Brasil, a exploração colonial resumia-se,


em última análise, na exploração do trabalho escravo pelo senhor. Devido ao caráter
colonial dessa exploração, é verdade que o próprio senhor não ficava com todo o
produto do trabalho escravo. Boa parte da riqueza ia para o Estado na forma de
impostos e, também, para os cofres dos comerciantes portugueses. Daí a razão da
revolta dos senhores contra o sistema colonial e as autoridades que o representavam.
Mas não apenas a camada dominante que se rebelava. Também os escravos
elaboraram meios de resistir contra o seu opressor imediato, isto é, o senhor.
A resistência dos escravos assumiu formas muito variadas: fuga, suicídio,
assassinato, passividade no trabalho, etc. Em qualquer uma dessas formas, o escravo
negava a sua condição e se contrapunha ao funcionamento do sistema como um todo.
A fuga, entretanto, foi a mais significativa forma de resistência e rebeldia. Não pela
fuga em si, mas pelas suas consequências: os fugitivos se reuniam e se organizavam em
núcleos fortificados no sertão, desafiando as autoridades coloniais. Observemos que, no
combate à rebeldia escrava, aliavam-se senhores e autoridades coloniais.
Esses núcleos eram formados por pequenas unidades, os mocambos (reunião de
casas), que, no conjunto, formavam os quilombos. Cada mocambo possuía um chefe, que,
por sua vez, obedecia ao chefe do quilombo, denominado zumbi. Os moradores dos
quilombos eram conhecidos como quilombolas. Eles se dedicavam ao trabalho agrícola e
chegavam a estabelecer relações comerciais com os povoados vizinhos.
Palmares foi o maior quilombo formado no Brasil. Localizava-se no estado atual de
Alagoas e deve o seu nome à grande quantidade de palmeiras existentes na região.
Sua origem situa-se no início do século XVII, mas foi a partir de 1630, quando a conquista
holandesa desorganizou os engenhos, que a fuga maciça de escravos tornou Palmares um
quilombo de grandes proporções. Em 1675, a sua população foi avaliada em 20 ou 30 mil
habitantes.
Com a expulsão dos holandeses em 1654 e a escassez de mão de obra aliada ao
fato de Palmares funcionar como polo de atração para outros escravos, estimulando a sua
fuga, as autoridades coloniais, apoiadas pelos senhores, decidiram pela sua destruição.
Várias expedições foram feitas contra ele, mas nenhuma delas teve sucesso. Foram
contratados então os serviços de um veterano bandeirante, Domingos Jorge Velho. Apoiado
por abundante material bélico e homens, o bandeirante contratado conseguiu finalmente

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destruir Palmares em 1694. Todavia, o chefe do quilombo, Zumbi, não foi capturado na
ocasião. Somente um ano depois foi encontrado e executado.

 Guerra dos Mascates (1709-1711) – A Guerra dos Mascates ocorreu em Pernambuco


e, aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e
comerciantes do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", eram, em sua
maioria, portugueses.
Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão. O
principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado.
Porém, depois da expulsão dos holandeses, Recife tornou-se um centro comercial, graças
ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de comerciantes portugueses.
Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O
desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o
crescimento do comércio, cuja importância sobrepujou a atividade produtiva agroindustrial
açucareis, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses.
O orgulho desses senhores havia sido abalado seriamente desde que a concorrência
antilhana havia colocado em crise a produção açucareis do nordeste. Mas ainda eram
poderosos, visto que controlavam a Câmara Municipal de Olinda.
À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a
reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e da
autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi parcialmente
atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na Câmara de Olinda.
Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a Câmara tornou esse direito, na
prática, letra morta.
A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara Municipal em
1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade política olindense.
Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando vários pretextos (a
demarcação dos limites entre os dois municípios, por exemplo), resolveram fazer uso da
força para sabotar as pretensões dos recifenses. Depois de muita luta, que contou com a
intervenção das autoridades coloniais, finalmente em 1711 o fato se consumou: Recife foi
equiparada a Olinda. Assim terminou a Guerra dos Mascates.
Com a vitória dos comerciantes, essa guerra apenas reafirmava o predomínio do
capital mercantil (comércio) sobre a produção colonial. E isso já era fato, uma vez que os
senhores de engenho eram frequentemente devedores dos mascates. Portanto, a
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equiparação política das duas cidades tinha fortes razões econômicas e obedecia à lógica
do sistema colonial.

A EXPANSÃO COLONIZADORA E A FIXAÇÃO DOS LIMITES

Fonte: https://rafatrotamundos.wordpress.com/2012/08/06/expansao-colonial-e-pensamento-geografico/

 Tratados luso-espanhóis – Portugal e a Espanha, os pioneiros da expansão


ultramarina, a fim de garantir a possessão dos territórios descobertos recorreram à
autoridade do papa para legitimá-los. Assim, no Ocidente foi estabelecido inicialmente
a Bula Inter-Coetera (1493), um meridiano que passava a 100 léguas a oeste de Cabo
Verde dividindo domínios portugueses e espanhóis. O meridiano da Bula Inter-
Coetera não permitia a inclusão do Brasil como domínio português. No ano seguinte,
uma nova divisão foi negociada, dando origem ao Tratado de Tordesilhas (1494), que
estipulou um meridiano a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, ampliando o domínio
português, incluindo desta vez parte do que seria mais tarde o Brasil.
Não tardou que a emergência de novas potências europeias (Holanda, França,
Inglaterra) viesse a contestar a partilha do mundo pelas nações ibéricas. Asim, a alteração
do quadro internacional no início do século XVI forçou Portugal e a Espanha a adotarem
uma atitude mais efetiva em relação à América. A colonização, como vimos, viabilizou a
posse efetiva.

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 A ocupação do litoral: a expansão oficial – Mesmo depois de decidida a ocupação


efetiva do Brasil pela colonização, o litoral não deixou de ser constantemente
ameaçado, principalmente pelos franceses. A dificuldade em desalojá-los foi devida,
em grande parte, à sua aliança com os tupinambás, inimigos mortais dos tupiniquins,
aliados dos portugueses. Por isso, a conquista do litoral deveu-se à conjugação de
ações militares e religiosas. Através das primeiras repelia-se o rival e, em seguida,
fundava-se um forte para guarnecer a região. Depois eram enviadas missões
religiosas a fim de pacificar os indígenas. Porém, quando estes se mostravam
excessivamente rebeldes, utilizava-se a força pura e simples para reduzi-los à
submissão.
À medida que a colonização avançava, os franceses foram sendo repelidos para o
norte, onde procuravam ainda extrair o pau-brasil. Assim, sucessivamente foram sendo
conquistados Sergipe Del Rei, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e,
finalmente, o Grão Pará, cuja conquista completa dar-se-ia somente em meados do século
XVII. Antes, porém, de serem repelidos para o Pará, os franceses tentaram ainda fundar no
Maranhão a França Equinocial, em 1612, erguendo o forte de São Luís, num derradeiro
esforço para preservar uma colônia no Brasil. Depois da conquista do Pará, os franceses
finalmente iriam se estabelecer nas Guianas, onde não foram mais molestados.
No sul, Portugal fundou em 1680 a Colônia do Sacramento, na margem esquerda do
rio da Prata, para se contrapor a Buenos Aires do outro lado do estuário do rio. Nessa área,
aliás, iria se desenrolar um intenso conflito entre portugueses e espanhóis, além da
intervenção de outras potências, como França e Inglaterra, em virtude da posição estratégica
do rio dá Prata, cuja livre navegação era defendida por várias nações.

 Povoamento do Brasil até meados do século XVII – A colonização do Brasil, que teve
como fundamento a agroindústria açucareira, possibilitou a ocupação efetiva do
litoral. Durante muito tempo, segundo a expressão famosa de frei Vicente do
Salvador, que viveu no século XVII, os colonos limitavam-se a "andar arranhando as
terras ao longo do mar como caranguejos".
A interiorização da colonização, entretanto, iniciou-se com o desenvolvimento da
pecuária nordestina, que foi gradualmente se afastando do litoral açucareiro que lhe dera
origem. Seus focos de irradiação foram Bahia e Pernambuco. Seguindo as margens dos

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rios, o gado iria possibilitar o povoamento do sertão de Pernambuco, Bahia, Alagoas,


Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Maranhão.
Outro importante fator de ocupação do interior foi o bandeirismo, o responsável pela
incorporação da maior parcela territorial pertencente à Espanha ao domínio português. O
bandeirismo foi um fenômeno tipicamente paulista.
A capitania de São Vicente, apesar do relativo sucesso no começo da colonização,
terminou por mergulhar num estado de profunda pobreza por causa de sua posição
excêntrica em relação ao polo dinâmico do nordeste. A falta de contato com a metrópole
estimulou os vicentinos a entrarem para o interior depois de subir a serra do Mar e atingir o
planalto de Piratininga. A principio, tratava-se de encontrar o ouro ou a prata. É a fase do
bandeirismo do ouro de lavagem. No início do século XVII, os holandeses ocuparam o
nordeste e estenderam o seu domínio sobre a África portuguesa, desencadeando uma crise
de mão de obra na parte portuguesa do Brasil. Os engenhos da Bahia passaram a ter
dificuldades de reposição de seu estoque de escravos. Para atender a essa procura, os
bandeirantes voltaram-se para a captura de índios, dando origem ao bandeirismo de
preação. Essa fase culminou com os ataques às missões jesuíticas espanholas do Tape,
Itatim e Guairá. Nessas missões (aldeamento de índios para a catequese), havia um número
considerável de índios guaranis. Esses aldeamentos foram estabelecidos com o
consentimento do rei espanhol, que via neles uma forma de preservar o domínio territorial
sulino que lhe pertencia por força do Tratado de Tordesilhas. Contudo, a reunião dos índios
nessas reduções atraiu os bandeirantes, que, num único ataque, conseguiam mão de obra
abundante e já disciplinada pelos jesuítas.
O bandeirismo de preação entrou em declínio tão logo os holandeses foram expulsos
e as posições portuguesas na África recuperadas, regularizando o abastecimento de
escravos. A partir disso, o bandeirismo tornou a se redefinir.
De fato, na segunda metade do século XVII, ao mesmo tempo em que aumentavam
a exploração e a opressão coloniais, ficava evidente a divergência de interesses entre
metrópole e colônia. Na colônia aumentou a tensão entre escravos e grandes proprietários.
Na época da conquista holandesa, ocorreram fugas em massa de escravos, que formaram
o mais famoso quilombo, o de Palmares, em Alagoas. Da mesma forma, os indígenas
oprimidos organizaram no Rio Grande do Norte a Confederação dos Cariris. Para destruir
esses focos de rebelião, os grandes proprietários do nordeste recorreram a esses rústicos
bandeirantes que agora passaram a ser utilizados como força repressora. Teve início aí o
sertanismo de contrato, a última forma e fase do bandeirismo. Para destruir a resistência do
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Quilombo dos Palmares e da Confederação dos Cariris foram contratados os serviços de


Domingos Jorge Velho.

 A mineração e o povoamento do Brasil central – Com a mineração deu-se o passo


decisivo na ocupação do interior. Com a descoberta de ouro nas Gerais, o centro
dinâmico da economia deslocou-se do litoral nordestino para. o centro-sul do Brasil.
Além de propiciar a formação de um mercado interno, o polo minerador serviu de
elemento articulador da economia colonial, através da pecuária nordestina e sulina.
Esta última, ao se desenvolver e se articular com os centros mineiros, criou condições
para a efetiva ocupação do Rio Grande do Sul.

 A colonização do extremo norte; o vale amazônico – A colonização da Amazônia -


que hoje corresponde aos estados do Amazonas e do Pará - foi estimulada pelas
preocupações de garantir a posse e o acesso ao rio Amazonas e impedir a presença
de rivais de outros países. A base de ocupação se deu através do extrativismo vegetal
e do apresamento indígena.
O extrativismo vegetal consistiu na exploração das chamadas "drogas do sertão”:
cacau, guaraná, borracha, urucu, salsaparrilha, castanha-do-pará, gergelim, noz de pixurim,
baunilha, coco, etc. Por isso, a escravidão tinha ali um terreno desfavorável, pois a
exploração da Amazônia dependia do bom conhecimento da região. Daí a importância dos
índios locais que serviam de guias. A forma predominante que caracterizou a integração da
Amazônia ao conjunto da economia colonial foi o estabelecimento das missões jesuíticas,
que chegaram a aldear perto de 50 mil índios.

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A FIXAÇÃO DAS FRONTEIRAS

Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s& 1462662109067451

 Os tratados de limites – Nos fins do século XVIII, o atual território brasileiro estava
praticamente formado. Para isso contribuíram a pecuária, o bandeirismo, a mineração
e as missões jesuíticas no vale amazônico.
Os limites no extremo norte foram discutidos com os franceses, que haviam se fixado
nas Guianas, e no extremo sul, com os espanhóis. A essa altura, estava claro que o
meridiano de Tordesilhas já não podia ser tomado como referência para delimitar os
domínios portugueses e espanhóis.
No século XVIII e no princípio do XIX, vários tratados foram assinados pelos
portugueses para definir os limites.
O primeiro tratado de limites ocorre com o Primeiro Tratado de Utrecht (1713). Por
esse tratado a França reconheceu o direito exclusivo de Portugal navegar no rio Amazonas,
em troca do reconhecimento português da posse da Guiana pelos franceses. Pelo Segundo
Tratado de Utrecht (1715), a Espanha reconheceu a possessão da Colônia do Sacramento

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(fundada em 1680) por Portugal, mas não de forma definitiva. Outros tratados foram
assinados entre Portugal e Espanha para a fixação dos limites no extremo sul.
Em 1750, a questão começou a ser rediscutida, resultando no Tratado de Madri
(1750). Segundo esse novo tratado, ficou estabelecido o princípio do uti possidetis, isto é,
Portugal e a Espanha estabeleceram como critério a ocupação efetiva. Assim, territórios
ocupa dos por portugueses foram reconhecidos pela. Espanha como portugueses, e
reciprocamente. Com esse tratado foram formalmente invalidados os limites estabelecidos
pelo Tratado de Tordesilhas. A Espanha, a fim m de assegurar a navegação exclusiva no rio
da Prata, trocou a Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões (referência às sete
missões jesuíticas espanholas que correspondiam, grosso modo, ao atual esta do Rio
Grande do Sul).
Entretanto, o acordo estabelecido pelo Trata do de Madri não foi cumprido, devido à
recusa dos jesuítas espanhóis em entregarem os Sete Povos das Missões aos portugueses.
Instigados pelos jesuítas, os indígenas moveram uma guerra contra os novos ocupantes, as
Guerras Guaraníticas, que se prolongaram até 1767.
Por essa razão, o ministro português, marquês de Pombal, decidiu anular essa
cláusula do Tratado de Madri e se negou a entregar a Colônia do Sacramento, levando os
países ibéricos a anularem o tratado anterior, o que se deu com o Tratado do Pardo (1761).
As negociações continuaram com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), com Portugal
renunciando à região dos Sete Povos e ao Sacramento, em troca da ilha de Santa Catarina,
então pertencente à Espanha. A situação só iria se definir, finalmente, em 1801, com o
Tratado de Badajós, depois da destruição dos Sete Povos pelos gaúchos. Retornando aos
termos do Tratado de Madri, Portugal reconheceu a posse do Sacramento e ficou com os
Sete Povos.

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O CONCEITO DE IDADE MÉDIA

Fonte: http://www.colegioweb.com.br/historia/o-que-foi-idade-media.html

Durante muito tempo a Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas. Isto
significa dizer que ela não teria trazido nenhuma contribuição para a história do mundo, em
especial do Ocidente. Teria sido um período dominado pela barbárie e pela cegueira do
conhecimento. Os homens que construíram este conceito sobre a Idade Média buscaram
condena-la em todos os aspectos que caracterizaram a vida social da mesma: a arte sob
influência de povos ditos bárbaros, a vida social e política organizada segundo os
parâmetros da fé católica, dentre outros fatores.
No século XVI, os renascentistas estavam desenvolvendo um novo conceito de arte
baseada no que havia sido produzido no mundo greco-romano. Para estes, a Idade Média,
ao admitir outras influências sobre a sua arte, além da clássica, acabou por barbarizá-la, daí
designarem a arte deste período como gótica. Foram alguns destes homens que primeiro
utilizaram os termos “Idade Média” e “Idade das Trevas”.
Nos séculos posteriores, o XVII e o XVIII, os intelectuais racionalistas, os protestantes,
os burgueses e os iluministas acrescentaram novas críticas ao período e ampliaram ainda
mais a visão negativa da Idade Média.
Os historiadores do século XX, movidos pelo desejo de compreender o homem do
passado em seu próprio tempo, desenvolveram métodos e novas teorias que, ao serem

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aplicadas ao estudo da Idade Média, levaram-nos a compreender a riqueza da produção


cultural deste período e a forma como o mesmo influenciou na construção da Europa
Ocidental. Seus estudos têm revelado a importante contribuição étnica, linguística, política,
cultural que estas sociedades legaram para o mundo europeu moderno.

A CRONOLOGIA DA IDADE MÉDIA

Fonte: https://jogadorpensante.com/tag/fable/

Neste tópico adotamos uma cronologia que consideramos mais completa, conforme
nos alerta o autor do texto em que a extraímos, Hilário Franco Júnior, por trabalhar com a
concepção de história como resultado de um processo e não de fatos isolados (Franco
Júnior, 2001, p. 14-17). Este autor divide o período que compreende os séculos IV a meados
do XVI em quatro momentos distintos que trazem uma relativa coesão interna:

PRIMEIRA IDADE MÉDIA (séculos IV-VIII): é o período de encontro entre os


elementos que vão fundamentar as sociedades medievais – a herança romana, a herança
germânica e o Cristianismo.

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ALTA IDADE MÉDIA (séculos VIII-X): período de alianças entre o poder germânico
e a Igreja, que culminou no Império Carolíngio, marcado pela recuperação econômica e pela
expansão territorial e cristã.

IDADE MÉDIA CENTRAL (séculos XI-XIII): período de apogeu da Idade Média, onde
vigoram em sua máxima expressão o feudalismo, o renascimento urbano e comercial, as
artes, o poder da Igreja, dentro outros fatores.

BAIXA IDADE MÉDIA (Séculos XIV-XVI): período de crise, marcado por guerras,
pestes e fome, pela recessão demográfica e monetária. Mas também gestam-se os valores
e as transformações do mundo moderno como a reforma protestante, os descobrimentos, o
renascimento artístico e cultural, numa resposta à crise do início do período.

OS ELEMENTOS DA TRANSIÇÃO DA IDADE ANTIGA PARA A


IDADE MÉDIA

Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=

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Pode-se verificar que os romanos conquistaram praticamente toda a região ao redor


do Mar Mediterrâneo, consolidando um Império em que este foi seu eixo principal. Uma das
mais significativas mudanças operadas na Europa Ocidental com a decadência do Império
e o início da Idade Média foi o deslocamento do centro da sua vida social para o norte,
sobrevivendo durante alguns séculos num ritmo de vida em que o mar, a vida urbana e as
relações comerciais deixaram de ter na região a referência que tinham durante o mundo
antigo.
A decadência do mundo romano é atribuída a diferentes fatores, e aqui destacaremos
alguns dos que consideramos mais significativos:
 Pax Romana: o fim das guerras de conquistas e de ampliação do Império põe fim aos
recursos representados pelos saques e a fácil obtenção da mão-de-obra escrava, que
desenvolvia o trabalho produtivo.
 Elevação do sistema tributário, para a manutenção do Estado, afetando os pequenos
proprietários de terras e levando a concentração da riqueza e de poder aos grandes
latifundiários.
 Declínio do comércio e da vida urbana, movimento de ruralização.
Como podemos ver, o Império Romano estava vivendo um grave momento de declínio
interno quando se soma a estes fatores a invasão dos povos germânicos na sua parte
ocidental. Os povos germânicos invadiram a Europa Ocidental em dois momentos distintos:
 Uma primeira geração - visigodos, suevos, burgúndios, ostrogodos e vândalos –
ocupa diferentes territórios da Europa ocidental a partir de 406. Os visigodos e suevos
fixaram-se na Península Ibérica organizando reinos na região. O que mais sobreviveu
foi o dos visigodos, que foi destruído pelos árabes em 711. Os ostrogodos fixaram-se
na península itálica sofrendo no século VI as ameaças do Império Bizantino e depois
com as invasões de lombardos. Os vândalos fixaram-se e organizaram um reino no
norte da África e os burgúndios no centro da Europa.
 Segunda geração de invasores – anglo-saxões, francos, alamanos, bávaros –
ocupam a área da Grã-Bretanha, Gália e outros territórios do centro europeu a partir
da segunda metade do século V. Composta de povos pagãos e conservando o
contato com a pátria-mãe germânica tiveram mais oportunidade de estabilidade,
graças à conversão ao catolicismo, o que facilitou o contato com os romanos, além
de se caracterizarem pela superioridade militar.

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O Cristianismo, por outro lado, veio se desenvolvendo de forma significativa ao longo


deste período. Em 313, o Imperador Constantino, através do Édito de Milão, tornou o
Cristianismo uma religião livre de perseguições e em 380 o Imperador Teodósio transformou
o Cristianismo em religião oficial do império através do Édito de Tessalônica. A partir de
então, a religião cresceu em número de adeptos, vindos de diferentes grupos sociais, e teve
a oportunidade, com a ajuda do Estado, de organizar-se internamente.
Durante este período, a Igreja organizou seu clero regular, seu clero secular o seu
patrimônio e a sua liturgia. Prestou, também, importante assistência a população durante as
invasões germânicas, estabelecendo alianças com os invasores à medida em que estes
conquistavam o poder. Como herdeira do legado cultural e do patrimônio do Império
Romano, a Igreja tornou-se a mais homogênea e duradoura instituição do Ocidente.
Podemos concluir, então, que a união dos três elementos descritos acima
caracterizou o desenvolvimento das sociedades medievais no Ocidente: a herança do
mundo romano, a herança do mundo germânico e o Cristianismo.
Vejamos qual foi, segundo Fernand Braudel, a contribuição de cada um deles
(Braudel, 1989, p. 3-5):

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Ao final deste período, os reis francos iniciaram um processo de expansão territorial


e política, e da união de seus interesses com os da Igreja Católica nasceu o Império
Carolíngio, que iremos estudar no próximo bloco.

CONHECENDO AS FONTES DA HISTÓRIA

Fonte: https://sciart.eu/pt/tags/historia

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ÉDITO DE MILÃO (313)

Eu, Constantino Augusto, e eu também, Licíno Augusto, reunidos felizmente em Milão


para tratar de todos os problemas que se relacionam com a segurança e o bem público,
cremos ser o nosso dever tratar junto com outros assuntos, que merecem a nossa atenção
para o bem da maioria, tratar também daqueles assuntos nos quais se funda o respeito à
divindade, a fim de conceder tantos aos cristãos quanto a todos os demais a faculdade de
seguirem livremente a religião que cada um desejar, de maneira que toda a classe de
divindade que habita a morada celeste seja propícia a nós e a todos os que estão sob a
nossa autoridade.
Assim, temos tomado esta saudável e retíssima determinação de que a ninguém seja
negada a faculdade de seguir livremente a religião que tenha escolhido para o seu espírito,
seja a cristã ou qualquer outra que achar mais conveniente; a fim de que a suprema
divindade a cuja religião prestamos está livre homenagem possa nos conceder o seu favor
e benevolência. Por isso, é conveniente que vossa excelência saiba que temos resolvido
anular completamente as disposições que lhe foram enviadas anteriormente com relação ao
nome dos cristãos, por encontrá-las hostis e pouco apropriadas à nossa Clemência, e temos
resolvido permitir a todos os que queiram observar a religião cristã, de agora em diante, que
o façam livremente sem ter que sofrer nenhuma inquietação ou moléstia. Assim, pois,
acreditamos ser o nosso dever dar a conhecer com clareza estas decisões à vossa
solicitude, para que saiba que temos concedido aos cristãos a plena e livre facilidade de
praticar a sua religião ... Levou-nos a agir assim o desejo de não aparecer como
responsáveis por diminuir em nada qualquer religião ou culto ... E além, disso, no que diz
respeito aos cristãos, decidimos que lhes sejam devolvidos os locais onde anteriormente se
reuniam, sejam eles propriedade do nosso fisco, ou tenham sido comprados por particulares,
e que os cristãos não tenham de pagar por eles nenhuma classe de indenização ... e como
consta que os cristãos possuíam não só locais de reuniões habitual, mas também outros
pertencentes à sua comunidade ... ordenamos que lhe sejam devolvidos sem nenhum tipo
de equívoco nem de oposição ... Em todo o dito anteriormente (vossa excelência) deverá
prestar o apoio mais eficiente à comunidade dos cristãos, para que as nossas ordens sejam
cumpridas o mais depressa possível e para que também neste assunto a nossa Clemência
vale pela tranquilidade pública. Desta maneira, como já temos dito anteriormente, o favor
divino que em tantas e tão importantes ocasiões nos tem sido propício, continuará ao nosso

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lado constantemente, para o êxito das nossas empresas e para a prosperidade do bem
público.
Lactancio. (De mortibus persecutorum) Sobre la muerte de los perseguidores. introd..,
trab. Española e notas de R. Teja. Madrid: Gredos, 1982. XLVIII, p.2-3. In: Apud Pedrero
Sanchéz, p. 27-8.

ÉDITO DE TESSALÔNICA (380)

Os imperadores Graciano, Valentiniano e Teodósio Augusto: édito ao povo da Cidade


de Constantinopla.
É a nossa vontade que todos os povos regidos pela administração de nossa
Clemência pratiquem a religião que o divino apóstolo Pedro transmitiu aos romanos, na
medida em que a religião por ele introduzida tem prosperado até os nossos dias. É evidente
que esta é a religião que professa também o pontífice Damaso, e Pedro, bispo de Alexandria,
homem de apostólica santidade; isto é, que de acordo com a disciplina apostólica e a
doutrina evangélica, devemos acreditar na divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo
com igualdade de majestade e sob (a noção) da Santa Trindade.

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Ordenamos que todas aquelas pessoas que seguem esta norma tomem o nome de
cristãos católicos. Porém, o resto, aos quais consideramos dementes e insensatos,
assumirão a infâmia dos dogmas heréticos, os lugares de suas reuniões não receberão o

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nome de igreja e serão castigados em primeiro lugar pela divina vingança, e, depois,
também, (por justo castigo) pela nossa própria iniciativa, que providenciaremos de acordo
como juízo divino.
Dado no terceiro dia das calendas de março, no ano de quinto consulado de Graciano
e do primeiro consulado de Teodósio Augusto. (28 de fevereiro de 380).
Código Teodosiano. XVI, 1-2. In: Tuñón de Lara, M. Textos y documentos de História
Antigua, Media y Moderna. Barcelona: Labor, 1984. p.127 (Historiade EspañaXI). In: Apud
Pedrero Sanchéz, p. 28-9.

SOBRE A ORIGEM DOS FRANCOS

(...) Muitos autores contam que estes povos saíram da Panômia e que se
estabeleceram primeiro na margem do Reno; tendo em seguida atravessado este rio,
passaram à Turíngia e aí, nas aldeias ou nas cidades, escolheram reis cabeludos, que foram
buscar na primeira, e, se assim posso dizer, à mais nobre das suas famílias.
(...) Mas este povo mostrou-se sempre entregue a cultos fanáticos sem ter qualquer
conhecimento do verdadeiro Deus. Fez imagens das florestas e das águas, dos pássaros,
dos animais selvagens e dos outros elementos aos quais tinha por hábito prestar um culto
divino e oferecer sacrifícios (...)”
São Gregório de Tours [Bispo de Tours – 538-595 – 1º historiador da França].
Historiae Ecclesiasticae Francorum. Lib. II, IX-X. Trad. De Guadet e Taranne. Paris, 1836.
In: Apud Pedrero Sanchéz, p. 33.

O ISLAMISMO: MAOMÉ, ORGANIZAÇÃO DA RELIGIÃO E


IMPORTÂNCIA PARA O EXPANSIONISMO, LEGADO
CULTURAL.

Agora, vamos sair um pouco da Europa Ocidental e deter o nosso olhar sobre outro
espaço geográfico do mundo medieval, observando a Península Arábica, do outro lado do
mar, lugar onde nascia uma nova sociedade que viria marcar de forma permanente, nos
séculos futuros, a história da humanidade. Vamos seguir o nosso caminho em direção ao
mundo islâmico.

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Maomé e as Origens do Islamismo

O Islamismo nasceu e expandiu-se, para além das fronteiras da Península Arábica,


no período medieval marcando a história universal desde então.
A Península Arábica teve um papel decisivo nas relações econômicas entre Ocidente
e Oriente devido às caravanas que atravessaram os desertos transportando mercadorias e
a navegação de cabotagem através de seu extenso litoral. Os árabes eram povos politeístas
e nômades cuja língua era semita, a aramaica.

Fonte: http://www.geocities.ws/lumini_religioes/LUMINI_RELIGIOES_ARTIGOS/LUMINI_Islamismo.html

O Islã nasceu no século VII com Maomé. Este nasceu em Meca em 570 d. C. Meca
era um importante centro comercial da Arábia Ocidental e de peregrinação, devido ao
santuário de Caaba, onde inúmeros deuses eram cultuados.
Maomé era filho de mercadores da tribo coraixitas que mantinham acordo com tribos
pastoris de Meca. Após sua experiência de revelação, - onde diz receber as profecias de
Alá, que ele passa a reconhecer como o único deus - Maomé sofreu a perseguição da
aristocracia mercantil de Meca, que não aceitava o monoteísmo de sua pregação. Ele fugiu
para Medina em 16 de julho de 622 e esta data ficou conhecida como hégira marcando o
início do calendário islâmico.

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Em Medina ocorreu a organização definitiva do Alcorão e a instituição da


peregrinação, prece regular, esmola e jejum. Maomé foi o sintetizador de doutrinas e
preceitos existentes em outras formas religiosas, como o judaísmo, com as quais manteve
contato através de viagens à Palestina. O conteúdo que resultou desta experiência revestiu-
se de um aspecto nacional (língua, origens, primeiros adeptos árabes) e um aspecto
internacional (acolhendo todos os povos sem distinção de raça tal qual o Cristianismo).
Após a morte de Maomé, em 632, os califas iniciaram o processo de expansão do Islã
e do poder árabe sobre outros territórios.

A Expansão do Islã
O sucesso da expansão dos árabes, e por consequência do Islamismo, pelo Oriente
explica-se pela:
 Fraqueza dos adversários (Bizâncio e Pérsia estavam exauridos pelas contínuas
lutas);
 O entusiasmo dos adeptos movidos por motivos religiosos e pela possibilidade de
riqueza;
 O bom acolhimento dos povos dominados por Bizâncio (para sírios, judeus e egípcios
os árabes foram considerados libertadores).

Os primeiros califas foram:


 Abu Bakr (632-34) – sogro de Maomé, conquista a Arábia e o sul da Palestina.
 Umar Ibn Abd al-Khattab (634-44) – avança até Damasco, parte do Império Sassânida
(Pérsia), províncias sírias e egípcias do Império Bizantino;
 Uthman ibn Affan (644-56) – desloca o poder de Medina para as cidades do norte, da
Síria e do Iraque, gerando conflitos com os conversos antigos e recentes do
islamismo;
 Ali ibn Abi Talib (656-61) – primo de Maomé, tem um governo marcado pelos conflitos
com Medina, que pretendia retomar o controle do império.
Os conflitos levaram ao poder a família dos Omíadas, que não possuíam laços
familiares com Maomé e tornaram a transmissão do califado hereditária. Estes levaram a
capital do império para Damasco e avançaram até o norte da África e Península Ibérica e
deram os primeiros passos em direção a Índia. A subida ao poder desta família dividiu os

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árabes em sunitas e xiitas. Os xiitas não concordavam com o califado nas mãos de não
familiares de Maomé e pretendiam uma interpretação rigorosa dos preceitos do Alcorão.
Após séculos os Omíadas foram substituídos pelos Abássidas, que transferiram a
capital do império para Bagdá, no Iraque. No século X as contradições do sistema de
governo centralizado e burocrático levaram a fragmentação do mesmo.
A partir do séc. XI, iniciou-se a intolerância religiosa e a guerra santa. Este período foi
marcado pelo declínio desta sociedade após aliança entre o califa de Bagdá e os turcos
seldjúcidas.

AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS E SOCIAIS


DA ALTA IDADE MÉDIA

Fonte: http://cafehistoria.ning.com/photo/1980410:Photo:11599?context=user

No século IX várias transformações modificaram o cenário europeu ocidental. Abaixo,


comentaremos algumas destas mudanças:

Novas invasões desestabilizam o espaço europeu (islâmicos, normandos,


húngaros):

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Ao norte e por mar - escandinavos ou normandos (vikings): seus objetivos eram a


pilhagem; fizeram isto devastando o litoral, abadias e cidades europeias. Suecos atacaram
a Rússia, noruegueses atacaram a Irlanda e dinamarqueses invadiram pelo mar do norte e
Canal da Mancha.
Em 980, os normandos tornaram-se senhores da Inglaterra, conquistando-a
definitivamente em 1066; em 911 criaram o reino da Normandia no norte da Gália de onde
enxameiaram o ocidente e deixaram sua marca; e em 1029 ocuparam a Itália meridional e
a Sicília. Os normandos controlavam o comércio através do mar do Norte.

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Ao sul e por mar - os islâmicos invadiram a costa italiana ao longo do século IX,
controlando boa parte do mediterrâneo e o comércio nele realizado.
Ao leste e por terra: húngaros ou magiares. Instalaram-se no território russo no século
VII, de onde foram expulsos por povos turcos iniciando, a partir de 899, invasões
sistemáticas nas fronteiras do leste da França Oriental e da Germânia, além de excursões
na França e Itália também.
A vitória sobre os húngaros em 955, pelo rei Otão I, ajudou no surgimento do poder
da dinastia otoniana que restaurou o poder imperial carolíngio, fundando o Sacro Império
Germânico, que durou de 936 a 1806, sob o território da Itália e Germânia. Otão I foi sagrado
pelo papa João XII, em 961. Os húngaros sedentarizam-se e cristianizaram-se fundando o
reino da Hungria.

Recuperação econômica:

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Segundo Jacques Le Goff, verificamos a partir do século IX uma recuperação da


economia medieval no Ocidente, desestabilizada desde o século V pela decadência romana
e invasões germânicas. Este século foi decisivo no campo das transformações econômicas
para a Cristandade Ocidental (Le Goff, 1995, p. 80-5). Foi o início do renascimento
econômico, resultado de uma renovação do comércio nos séculos VIII e IX, decorrentes do:
 apogeu do comércio da Frísia e do porto de Duurstede;
 reforma monetária de Carlos Magno;
 melhoria da produção agrícola: novos sistemas de atrelamento de animais, divisões
de terrenos cultivados, avanços das técnicas de cultivo.
 O século X foi um período de novidades decisivas, especialmente no domínio do
cultivo e da alimentação.
Le Goff atribui este despertar do Ocidente ao:
1) Estímulo externo: formação do mundo islâmico – administrando metrópoles
urbanas e consumidoras - que suscitaram no Ocidente germânico o aumento da produção
de matérias primas para exportação para Córdoba, Fustat, Cairo, Damasco, Bagdá. São
madeiras, ferro, estanho, mel e escravos.
2) Estímulo interno: progresso técnico verificado no próprio solo ocidental – agrícola,
com aumento das áreas cultivadas e seu rendimento; militar, no uso do estribo que permitiu
melhor domínio do cavalo e gerou uma nova classe de guerreiros, os cavaleiros.
- Os grandes proprietários promoveram exploração intensa do solo e geraram pequenos
excedentes de produção entregues aos mercadores (Le Goff, 1995, p. 84-5).

OS ELEMENTOS FORMADORES DO FEUDALISMO


O Feudalismo não possuiu as mesmas características e nem teve uma evolução
simultânea em toda a Europa. Embora concretamente só podemos falar de uma sociedade
feudal na Idade Média Central, iniciamos a discussão sobre este tema neste espaço
dedicado à Alta Idade Média para mostrar como sua consolidação dependeu de processos
históricos deste período.
Segundo Loyn, no Dicionário da Idade Média, “...as origens da sociedade feudal
situam-se melhor na França setentrional dos séculos IX e X, com o declínio da monarquia
carolíngia (na Inglaterra, de maneira mais dramática em 1066, com a conquista normanda),
e seu desaparecimento no século XVI (Loyn, 1997, p.146).

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Considerando a visão deste autor, listamos alguns dos elementos que caracterizam
o feudalismo e a sua origem, seguindo uma ordem de importância:
 A supremacia de uma classe de guerreiros especializados, chamados cavaleiros, que
formavam a classe dominante, surgindo o feudalismo deste processo de ascensão da
cavalaria;

Fonte: http://www.coladaweb.com/historia/o-sistema-feudal

 Relações de suserania e vassalagem, marcadas por vínculos de obediência e


proteção que ligam homem a homem e, dentro da classe guerreira, assumem a forma
específica denominada vassalagem (Bloch, Marc APUD Loyn, 1997, p. 146). Esta
relação foi originada de uma “forma de encomendação germância antiga, pela qual
um homem livre se submetia a um outro por um ato de homenagem (as mãos juntas
colocadas entre as do senhor), confirmado por um juramento sagrado de fidelidade e
vassalagem e usualmente acompanhada pela outorga de um feudo” (Loyn, 1997,
p.146).
 A existência do feudo, “que é a essência dominial do feudalismo e vincula o senhorio
e as relações feudais à terra” (Loyn, 1997, p.146). O feudo era outorgado por
investidura.
Segundo Loyn, feudo era a terra de um senhor, confiada a seu vassalo em troca de
serviços meritórios, os quais incluíam serviços militares, ajuda e conselhos. (Loyn, 1997,
p.146).
 A existência da propriedade senhorial, representada no castelo que “era o símbolo e
a essência do senhorio feudal, que se impunha à terra por meio dos homens
montados que tinham sua base dentro de suas sólidas muralhas” (Loyn, 1997, p.146).

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 A existência de um campesinato mantido em sujeição dentro de um senhorio.


É bom lembrar que, além de cavaleiros, nobres possuíam relações feudalizadas com
monarquia medieval e a Igreja. Esta última recebia a concessão de feudos “em troca do
serviço de rezar” (Loyn, 1997, p. 146). Mas sobre isto falaremos no próximo bloco, ao
tratarmos sobre a sociedade feudal.

A QUESTÃO DA TERRA NA IDADE MÉDIA

Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cmedia-
introducao.html&psig=AFQjCNHHwyv58NyMQwFmxM0K8Yo5sa8zfA&ust=1462915706014320

Os senhores

A posse dos domínios territoriais era de três grupos distintos: a Igreja, a Coroa e a
nobreza. Os domínios da Igreja eram indivisos, ao contrário dos outros que sofriam divisões
sucessivas devido a doações e partilhas sucessórias. Isto explica o fato de a Igreja possuir
a maior parte das terras do Ocidente cristão ao final da Alta Idade Média.

Os trabalhadores

Encontramos, nas propriedades feudais, os camponeses. Temos camponeses livre,


não-livres e escravos. A tendência é que a partir do século XII os encontremos em sua
maioria na condição de servos. Estes trabalhadores colocavam-se sob o domínio dos seus

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senhores em troca de proteção e de um pedaço da terra para usufruto pessoal. Para isto,
sujeitavam-se ao cumprimento de obrigações pessoais e encargos como descreveremos no
item abaixo, sobre as propriedades senhoriais.

Os domínios e os senhorios: a divisão interna

Vejamos como estavam divididas as propriedades do clero e da nobreza ao longo da


Idade Média:
 A Alta Idade Média predominou a economia agrária dominial, baseada no modelo da
villa romana. Neste período a grande propriedade era designada de domínio.
O domínio era dividido em: terra indominicata (reserva senhorial) e terra mansionaria
(mansus). Os mansus eram partes do território destinadas ao usufruto dos camponeses,
desde quando estes cumprissem sua parte no contrato estabelecido com os seus senhores.
As prestações pagas por servos ao senhor eram em forma de encargos em espécie
e em dinheiro por ano e encargos em prestações de serviços na reserva (corvéia). O
fundamento da economia dominial: prestação de serviços na reserva senhorial pelos
camponeses livres, mas dependentes.
No século IX este regime já encontrava-se descaracterizado, sendo as corvéias
substituídas por dinheiro.
 A Idade Média Central observamos a passagem da agricultura dominial para a
senhorial. Segundo Hilário Franco Júnior o “senhorio era um território que dava a seu
detentor poderes econômicos (fundiários) ou jurídicos-fiscais (banal)” e o feudo “era
uma cessão de direitos, geralmente, mas não necessariamente sobre um senhorio”
(Franco Júnior, 2001, p. 37). Portanto, não se deve confundir senhorio com feudo. O
senhorio era assim caracterizado: “era um território que dava a seu detentor poderes
econômicos (senhorio fundiário) ou jurídico-fiscais (senhorio banal), muitas vezes
ambos ao mesmo tempo (Franco Júnior, 2001, p. 37)”.
Durante este período observamos a diminuição das terras destinadas aos
camponeses, e os mansus foram transformados em tenências, lotes menores e com maiores
encargos. Os encargos destinados aos camponeses eram de duas espécies:

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 Senhorio fundiário: censive (pequena renda fixa – censo) paga em dinheiro ou


espécie. Mão-morta - transferência hereditária. Champart - proporcional ao
rendimento da colheita. Corvéia.
 Senhorio banal: taxas pelo uso de moinhos, lagar, forno, bosques albergagem,
alojamento, multas e taxas judiciárias, talha.
Com o seu poder ampliado devido ao poder banal sobre o senhorio, que agora o
senhor passava a possuir, este acabava aumentando a exploração sobre os camponeses
através da criação das taxas listadas acima. Verificamos também uma diminuição da reserva
senhorial devido a criação de novas tenências, ao progresso das técnicas agrícolas que não
exigiam necessariamente terras tão extensas para manter o mesmo nível de produção e a
cessão de feudos para os vassalos.
Este foi um período marcado por um intenso crescimento da produção consequência
da ampliação da mão de obra e de terras e da difusão de diferentes técnicas (sistema trienal,
charrua, força motriz animal, adubo mineral, moinho de água e de vento).

A SOCIEDADE FEUDAL

É preciso destacar a importância da Igreja na consolidação do modelo de sociedade


feudal, pois é através do seu intermédio que se dá, segundo Franco Júnior, a conexão entre
os vários elementos que compunham esta formação social. O autor lembra que a Igreja era
a maior detentora de terras e detinha o controle da vida dos indivíduos, além de ser a
legitimadora das relações de suserania e vassalagem e da dependência dos servos em
relação aos seus senhores (Franco Júnior, 2001, p. 89).
Que elementos caracterizam esta sociedade?
 Podemos lembrar, em primeiro lugar, da ideologia da ordem, que leva a mesma a ser
pensada dentro de uma lógica de imutabilidade e dificulta a mobilidade social, além
de promover a tradição e a obediência nas relações sociais.
 Esta ideologia por outro lado, baseada na ideia de uma ordem celeste e imutável que
inspiraria o modelo de vida dos homens, deu origem a uma forma de divisão social
em que uns oram, outros combatem e outros trabalham.
Mas, principalmente a partir da Idade Média Central, outros grupos começam a
crescer dentro deste: eram trabalhadores assalariados, artesãos, burgueses, resultado do

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renascimento comercial e urbano do período. Estas transformações viriam, séculos mais


tarde, alterar profundamente este modelo de sociedade.

Fonte: http://www.miniweb.com.br/historia/Artigos/i_media/sacerdotes_guerreiros.html

O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO

Renascimento Comercial

As transformações na agricultura da Europa Ocidental a partir do século X levaram à


produção de um excedente agrícola que gerou o revigoramento do comércio na região. Isto
levou a um amplo crescimento demográfico e urbano na região: havia mais mão-de-obra e
melhor qualidade na alimentação o que ampliava cada vez mais a produção.

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O crescimento demográfico e urbano gerou a ampliação das atividades artesanais em


cidades próximas a rios e estradas, produzindo um progresso econômico. E o que resultou
disto? Vejamos:
 Desenvolvimento do comércio marítimo e fluvial.
 Surgimento e o renascimento de muitas cidades europeias. Este processo era
resultado do povoamento dos pontos de encontros das atividades comerciais - feiras,
estimuladas por reis e nobres, através da emissão de salvo-condutos para os
mercadores garantindo a sua segurança na região.
 Desenvolvimento da indústria da construção (igrejas, mosteiros, castelos, palácios,
prédios públicos e militares).
 Desenvolvimento da indústria têxtil: panos de lã em Flandres, Itália e Inglaterra.
 Organização da produção nas cidades através das corporações de ofício.
 Monetarização da economia, promovendo o retorno da circulação da moeda.
 Nascimento das atividades bancárias: nasce na Itália - câmbio, depósitos,
empréstimos, transferências, crédito.

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Renascimento Urbano

Segundo Jacques Le Goff as cidades medievais nasceram como sucessoras das


antigas cidades, devido ao despertar da vida comercial e do desenvolvimento agrícola do
Ocidente, desenvolvendo-se a partir desta função econômica: renovação das trocas de
mercadorias. Nasceram ao longo dos rios ou estradas frequentadas por comerciantes,
também por iniciativa senhorial, para poder taxá-las, ou de um entreposto comercial ou de
um mercado rural (Le Goff, 1995, p. 102-13).
Estas cidades foram também importantes espaços de trocas das grandes rotas
comerciais. Aqui identificamos algumas destas cidades:
 Veneza e Gênova – cidades italianas, com parcas possibilidades agrícolas que
empurram-nas para as atividades mercantis. As Cruzadas promoveram o seu
crescimento pelo Extremo Oriente (especiarias, seda, perfumes), mar Egeu e mar
Negro (matéria prima para indústria têxtil).
 Hansa Teutônica – associação formada por cidades alemãs do norte, ligada a
expansão germânica sobre a Europa oriental. Em 1161, mercadores alemães criaram
associações, que em meados do séc. XIV transformaram-se em associações de
cidades.
O eixo que caracterizou as atividades comerciais por elas desenvolvidas foi:
 Novgorod-Reval-Lubeck-Hamburgo-Bruges-Londres.
 Eram comercializados: mel e cera da Rússia, trigo e madeira da Polônia e da Prússia,
minerais da Hungria, peixe da Noruega e da Islândia, cobre e ferro da Suécia, vinho
da Alemanha do sul, sal da França e de Portugal, lã da Inglaterra e tecidos de
Flandres.
Os pontos de encontros entre o eixo mediterrânico, controlado pelas cidades italianas,
e o eixo nórdico, controlado pelas cidades alemãs eram as feiras e os burgos, como o de
Champanhe, que deu origem a uma cidade.
As cidades são também áreas de produção “industrial”, ampliadas pelo
desenvolvimento do artesanato urbano, devido as crescentes necessidades de uma
população (rural e urbana) em expansão e mais exigente. Temos o desenvolvimento da
indústria têxtil -Flandres, Itália e Inglaterra -, e da construção.
Devido às atividades artesanais e comerciais que ocorriam com cada vez maior
intensidade nas cidades, vamos encontrar nestas a formação de corporações de ofícios, que

49
50

derivaram de confrarias religiosas, destinadas a devoção e caridade. Estas corporações


generalizaram-se após 1120. As mais antigas eram de mercadores e as mais recentes de
artesãos. Elas funcionavam como um conjunto de oficinas com monopólio da atividade
comércio ou artesanal para impedir concorrência.
A leitura de dois textos, Le Goff (1995, p. 87-140) e Franco Júnior (2001, p. 36-46) em
especial permitiram a seleção das informações acima sobre o comércio e as cidades.

A CULTURA MEDIEVAL E A INFLUÊNCIA DA IGREJA


CATÓLICA

Fonte: http://www.estudopratico.com.br/igreja-catolica-na-idade-media/

A cultura e a arte na Idade Média desenvolvem-se principalmente no ambiente


monástico. Segundo Hilário Franco Júnior, na Idade Média Central o primado cultural
transferiu-se dos mosteiros para as cidades, principalmente no ensino e na arquitetura
(Franco Júnior, 2001, p. 102-122).

EDUCAÇÃO

50
51

Devido ao crescimento das cidades e dos grupos sociais nela existentes, vemos a
partir do século XI as escolas urbanas ganharem mais destaque que as monásticas,
transformando-se em universidades no século XIII, que funcionavam como corporações
eclesiásticas.
O método de estudo destas escolas urbana era a escolástica. A escolástica consistia
num “conjunto de leis sobre como pensar determinado assunto” (Franco Júnior, 2001, p.
118).
Quais eram estas leis? Vejamos o que nos diz este autor:
A- Leis de linguagem para buscar o sentido exato da palavra;
B- Leis de demonstração usando a dialética, uma forma de provar certa posição
recorrendo a argumentos contrários;
C - Lei da autoridade, recurso a fonte cristã e do pensamento clássico para
fundamentar as ideias defendidas;
D - Leis da razão: utilizável para uma compreensão mais profunda. .
As etapas de estudo eram:
 Lectio, leitura, comentário e análise do texto.
 Disputatio ou debate sobre o assunto.
Também verificamos neste período a revalorização do estudo do direito antigo, devido
à necessidade das monarquias nascentes e da população urbana, e da medicina, num lento
processo de dessacralização da natureza, que permitiu a ampliação dos estudos.
 Anterior a Idade Média Central: Arte românica. Esta arte marca o período posterior
as invasões dos normandos, islâmicos e húngaros – séculos XI e XII, terminando por
volta de 40-60. Inúmeras igrejas foram construídas. O que caracteriza este estilo
artístico? Vejamos:
Não havia arte pela arte, feita pelo seu valor estético e sim eram elaboradas com
finalidade exclusivamente didática, marcada pelo simbolismo. Arte arquitetônica expressa
na construção de templos a ideia de construir “fortalezas de Deus” (largas paredes, grossos
pilares e poucas janelas), transmitindo a ideia de que somente dentro da igreja (edifício
religioso) e da Igreja (instituição) era possível a salvação (Franco Júnior, 2001, p. 111).

 Idade Média Central: Arte gótica. O estilo gótico resultou do renascimento urbano e
comercial verificado na Europa. Este estilo nasce por volta de 1140, no sul da França,
e a primeira experiência verificou-se na construção da basílica de Saint-Denis (1132-

51
52

44). Ocorreu um desenvolvimento importante da arquitetura que levou as igrejas


góticas a elevarem-se “a grandes alturas”, verificando-se também a introdução de
vitrais, arcos ogivais e rosáceas.
A escultura também adquire função decorativa e pedagógica (Batista Neto, 1988, p.
215). Neste período a arte não deixa de ser religiosa, inclusive estará sempre ligada ao
sagrado, mas há influência da cultura popular na sua elaboração, da burguesia local e da
monarquia. Quais as suas características? Vejamos:
Novas necessidades espirituais e práticas, ligadas a valorização da relação entre fé
e razão, e a cultura que está se desenvolvendo nas escolas urbanas.
. Deus como luz (vitrais) e valorização do seu lado humano (culto à Virgem); valorização da
natureza como parte essencial da criação (realismo). Arquitetura busca equilíbrio entre a
vida ativa e a contemplativa (Franco Júnior, 2001, p. 111).

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Nome autor: Margarida Maria de Carvalho I; Pedro Paulo A. Funari II


Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742007000100002
Data:06/05/2016

As pesquisas de História Antiga, no Brasil, remontam aos inícios da disciplina, no


âmbito universitário. Eurípides Simões de Paula, um dos primeiros historiadores
universitários – grande propugnador da disciplina histórica, na recém-criada Universidade
de São Paulo –, fundou a cadeira de História Antiga, tendo sido o primeiro catedrático. Sua
tese de doutoramento já se destacava pela ambição de inserir-se no âmbito internacional e,
ao mesmo tempo, por estudar a periferia, algo particularmente inovador 1.
Contudo, por muitas décadas, a História Antiga manteve-se como especialidade
pouco difundida nos cursos de História, que se multiplicaram exponencialmente a partir da
década de 1940. Seria apenas nas últimas décadas do século XX que a História Antiga
começaria a expandir-se, primeiro nas universidades mais antigas e centrais, para, aos
poucos, atingir as instituições mais novas e mais distantes. Tal fato será verificado quando
apresentarmos os autores dos artigos e resenhas desse dossiê.
Dessa forma, revela-se na década de 1970, quanto à expansão da disciplina no
território nacional, uma produção marcada pela repressão da ditadura militar. A História
Antiga será vista, no setor universitário, como controle ideológico e, assim, será identificada
com a chamada Direita política do país. Nos currículos de História das grandes
universidades brasileiras haverá o predomínio da História Antiga adotada de maneira factual,
bastante positivista, fator esse que irá ao encontro dos objetivos da censura.
Os espaços das reflexões sociopolíticas, tão características e inerentes aos cursos
de História, serão preenchidos por uma Antiguidade maniqueísta, olhada como algo curioso
e não como um convite à análise dos processos históricos. Essa mácula, quase indelével,
ficará durante muito tempo nos registros dos historiadores brasileiros especialistas em
História do Brasil, da América, História Moderna e Contemporânea, os quais não medirão

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58

esforços para combater tais estudos sobre História Antiga, apesar do empenho, após a
abertura política ocorrida na década de 1980, da maioria dos antiquistas brasileiros em
desconfigurar essa imagem distorcida ao acompanhar o novo resplendor da historiografia
marxista.
A partir de então, a produção de pesquisadores em Antiguidade não cessará em
acompanhar os avanços da historiografia. Detentores do conhecimento das denominadas
línguas mortas: aramaico, sânscrito, grego e latim e, fundamentalmente, de línguas
estrangeiras como espanhol, inglês, francês, italiano e alemão 2, os estudiosos na área da
Antiguidade terão acesso a tais avanços, como, por exemplo, à imprescindível contribuição
analítica do historiador americano Moses Finley, atuante na Grã-Bretanha, que revolucionou
a estrutura da análise da História Antiga ao criticar o modelo marxista com suas sínteses
totalizadoras transplantadas pelas revoluções, elucidando a eficácia do conceito
de ordem e status de inspiração weberiana em detrimento do emprego do conceito
de classe social no que se refere à interpretação do que seriam os grupos sociais na
antiguidade clássica.
Os historiadores antiquistas nacionais acompanharão, muito atentos, os
desdobramentos dessa interpretação, concordando ou não com essa premissa, mas não
deixando de respeitar a obra de Finley, cujo aparato bibliográfico nos inspira até os dias
atuais. As críticas às abordagens normativas inspiradas em Weber, a partir da década de
1990, só podem ser compreendidas pela absorção das propostas da Escola de Cambridge
no país3.
Os conflitos sociais ocorridos na Antiguidade serão analisados sob prismas mais
arrojados, e com o conhecimento da Nouvelle Histoire novos temas serão pesquisados em
nossa área. A partir de meados da década de 1990, com o advento da História
Cultural expandindo-se em nível nacional, houve uma multiplicação de Dissertações e Teses
influenciadas pelo conceito de representação, o qual, mais tarde, no clarão do século XXI,
será articulado à análise do discurso.
O respeito pelo trato documental, sua datação e autoria, críticas internas e externas
dos discursos, sua linguagem metafórica, enfim, a desconstrução do discurso serão
albergados à luz das tropas de reconhecimento da pós-modernidade. Sempre aliados ao
conhecimento documental e historiográfico, os investigadores antiquistas escolherão seus
métodos, técnicas e teorias de abordagem, associando tais interpretações à análise
iconográfica e à cultura material.

58
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Essa expansão no Brasil deu-se, portanto, em um contexto de renovação da


historiografia em geral, e, conseqüentemente, sobre a Antigüidade, em particular. A
Historiografia passou a interagir cada vez mais intensamente com as outras Ciências
Humanas e Sociais, em busca de interpretações que superassem as aporias teóricas e
práticas do estudo das sociedades no presente e no passado. A multiplicação dos
movimentos sociais e a explosão de conflitos e de identidades, com mais força desde a
década de 1960, levaria a crítica aos modelos normativos4. A historiografia sobre o mundo
antigo não deixaria de inserir-se nessa renovação, com a multiplicação de estudos e
abordagens contextuais e antinormativas5. As leituras modernas da Antigüidade foram
incorporadas à lide quotidiana da disciplina6. A pesquisa de História Antiga no Brasil insere-
se neste contexto. Cada vez mais atenta à sua inserção nas discussões internacionais, não
hesita, também, em mostrar como as especificidades brasileiras podem ser usadas, de
maneira produtiva e fertilizadora, para contribuir com os debates nos ambientes
hegemônicos. Deve-se também destacar a interação da História Antiga com o estudo da
História de outros períodos e épocas7. Foi com o sentido de esclarecer tais considerações
que organizamos esse dossiê.
Este volume, entretanto, não pretendeu abranger a imensa variedade da produção
nacional: isso superaria, em muito, o espaço disponível. Preferimos apresentar uma amostra
dessa mesma variedade, sabedores de que outras tantas iniciativas têm contribuído e
continuarão a contribuir para a complexa tarefa de difundir a História Antiga produzida no
Brasil. Assim, nesse empreendimento, destacam-se somente nove autores de artigos e três
autores de resenhas de livros recentemente publicados em nosso país.
Abrindo o leque de discursos investigativos aqui apresentado, em sua totalidade por
professores de História Antiga, temos o trabalho de Ana Teresa Marques Gonçalves – do
Departamento de História da Universidade Federal de Goiás (UFG) – intitulado Septímio
Severo e a Consecratio de Pertinax: Rituais de Morte e Poder, no qual a autora analisa a
cerimônia de deificação do Imperador Pertinax ocorrida após a sua morte (século III d.C.). O
texto de Andréa L.D.C. Rossi – do Departamento de História da Unesp/Assis e partícipe do
Núcleo de Estudos Antigos e Medievais das Unesp – Assis/Franca – leva-nos ao
conhecimento de Mitologia: Abordagem Metodológica para o Historiador da Antiguidade
Clássica, onde a historiadora propõe uma aplicação da análise da semiótica na interpretação
da obra de Dion Chrisóstomo, mais conhecido como Dion de Prusa, filósofo bitiniano que
viveu entre 40 e 115 d.C. Com Fábio Faversani – do Departamento de História da
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) –, percorremos o caminho para a compreensão
59
60

de O Estado Imperial e os Pequenos Impérios, onde o autor focaliza o tema na obra de


Sêneca, filósofo estóico do período neroniano. Ao nos debruçarmos sobre o texto de Fábio
Vergara Cerqueira – do Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas
(UFPEL) –, passamos a conhecer melhor A Imagem Pública do Músico e da Música na
Antiguidade Clássica: Desprezo ou Admiração?, no qual o autor analisa as representações
que definem o músico no imaginário social das sociedades grega e romana antigas. Já
Gilvan Ventura da Silva – do Departamento de História da Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES), uma das poucas referências do Brasil em estudos específicos sobre os
séculos IV e V d.C., disserta a respeito de Ascetismo, Gênero e Poder no Baixo Império
Romano: Paládio de Helenópolis e o Status das devotas cristãs. Através da obra História
Lausíaca de Paládio, o investigador interpreta o papel das ascetas no movimento monástico
dominado pelos homens. O historiador Glaydson José da Silva – pesquisador do Núcleo de
Estudos Estratégicos da Unicamp – apresenta um trabalho que trata da interface História
Contemporânea/História Antiga quando, em O Mundo Antigo visto por Lentes
Contemporâneas: as extremas direitas na França nas décadas de 80 e 90, ou da
instrumentalidade da antiguidade, o autor interpreta os usos do passado pelas extremas
direitas francesas como formas de se compreender a contemporaneidade; linha de pesquisa
que vem tomando vulto desde meados da década de 1990 e se fortalecendo cada vez mais
atualmente.
Dando seqüência ao dossiê, temos o artigo de Ivan Esperança Rocha – do
Departamento de História da Unesp/Assis e Coordenador do Núcleo de Estudos Antigos e
Medievais das Unesp Assis/Franca –, cujo título,Imagem do Judaísmo: Aspecto
do Aniconismo Identitário, refuta que as formas visuais vêm ganhando um espaço
significativo nos estudos da Antiguidade, pois a historiografia tem considerado sua
capacidade de representar os imaginários sociais e de evidenciar as mentalidades coletivas.
Com Norberto Luiz Guarinello – do Departamento de História da USP – adquirimos
conhecimento com Violência como Espetáculo: o pão, o sangue e o circo. Nesse trabalho,
de uma forma bastante dinâmica, Guarinello constrói um diálogo constante entre a violência
da contemporaneidade e a noção da mesma na Antiguidade. Finalmente, o último artigo, de
Renata Senna Garrafoni – do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) –, Os Bandidos entre os romanos: Leituras Eruditas e Percepções
Populares, esclarece como a elite romana visualizava os bandidos antigos na literatura
satírica e que, por meio de estudos epigrafemos, pode-se analisar a imagem do roubo na
cultura popular.
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Na seção final do volume, encontram-se as resenhas de livros de autores do país,


publicados nos últimos dois anos. Cláudio Umpierre Carlan 8 – Doutorando do Programa de
Pós-Graduação em História da Unicamp e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos
– resenha o livro da historiadora Lourdes M. G. Conde Feitosa,Amor e Sexualidade: o
masculino e o feminino em grafites de Pompéia. Fábio Duarte Joly – professor do
Departamento de História da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) – tece
comentários críticos sobre o livro da autora Marilena Vizentin, Imagens do Poder em Sêneca:
estudos sobre o De Clementia, e Maria Aparecida de Oliveira Silva9 – Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da USP –
redigiu a súmula crítica do livro de Renata Senna Garrafoni, Gladiadores na Roma Antiga:
dos Combates às Paixões Cotidianas. Todas essas resenhas são um convite instigante aos
leitores do mundo acadêmico ou para todos aqueles que gostam e valorizam a História
Antiga.
Enfim, a riqueza dos artigos e das obras resenhadas confirmam nossas alusões
anteriormente expostas acerca dos avanços historiográficos realizados pela produção
nacional, demonstrando que a História Antiga está mais viva do que nunca. Nesse sentido,
a residual obtusidade daqueles que insistem em não valorizar as pesquisas dessa área,
certamente, será questionada, uma vez mais, com o trabalho profícuo aqui desenvolvido.
Agradecimentos
Agradecemos aos editores da História/Unesp, Prof. Dr. Carlos Alberto Sampaio
Barbosa e Profa. Dra. Tânia da Costa Garcia, e à sua comissão editorial pelo espaço
concedido à publicação desse dossiê. A todos os autores do volume, assim como
mencionamos o apoio institucional do CNPq, do Núcleo de Estudos Estratégicos
(NEE/Unicamp), Departamento de História da Unicamp e Departamento de História da
Unesp/Franca, assim como ao Núcleo de Estudos Antigos e Medievais das Unesp
Assis/Franca. À Helena Amália Papa – mestranda em História Antiga do Programa de Pós-
graduação em História da Unesp/Franca, pelo apoio à organização desse dossiê. A
responsabilidade das idéias aqui apresentadas é da ordem exclusiva dos autores desta
apresentação.

1 Marrocos e suas relações com a Ibéria na Antiguidade, 1946.

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2 Exige-se, de qualquer historiador que pretenda ser um antiquista, o conhecimento de, pelo
menos, uma língua morta e duas línguas estrangeiras.

3 Cf. FUNARI, P. P. A. Júlio César, poder, instituições e jurisdições na construção biográfica


de Plutarco. In: GUIMARÃES, Marcella Lopes; FRIGHETTO, Renan (Org.). Instituições,
poderes e jurisdições. Curitiba: Juruá, 2007. , p.175-180.

4 Cf. MUNSLOW, Alun. Deconstructing history. Londres: Routledge, 1997.

5 Cf. FUNARI, Pedro Paulo A. A renovação no ensino de História Antiga. In: KARNAL,
Leandro (Org.). História na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. p.95-108, com
referências.

6 E.g. CARVALHO, Margarida Maria de. Interpretações Críticas sobre algumas Biografias
do Imperador Juliano dos séculos XIX e XX. In: ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira
(Org.). Relações de poder, cultura e educação na Antiguidade e Idade Média. 1. ed. São
Paulo: Solis, 2005. p.217-226.

7 E.g. CARVALHO, Margarida Maria de; LOPEZ, M. A. S.; FRANÇA, S. S. L. (Orgs.). As


cidades no tempo. 1. ed. São Paulo: Olho d'Água, 2005. v. 1. 323 p.

8 Doutorando do Prof. Dr. Pedro Paulo Funari.

9 Doutoranda do Prof. Dr. Norberto Luiz Guarinello.

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