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1. INTRODUÇÃO nacionais, como a 21a Conferência das Atenta a isso, a ABCP (Associa-
O
consumo apreciável de Partes – COP-21, que ocorreu em Paris ção Brasileira de Cimento Portland) e
energia durante o proces- no final de 2015 e outras anteriores a o SNIC (Sindicato Nacional da Indústria
so de fabricação do cimen- essa ou mais recentes, discutiram-se do Cimento), entidades representantes
to motivou a indústria de cimento nos os compromissos dos países em redu- da indústria cimenteira, concluÍram,
anos 70 do século passado na busca zir a emissão de gases causadores do em 2019, o Cement Technology Roa-
de medidas para diminuição do consu- efeito estufa (MMA, 2016). dmap Brazil 2050 (ABCP, SNIC, 2019),
mo energético. No Brasil, vários setores vêm acom- em parceria com organismos interna-
Uma das alternativas de sucesso panhando com grande interesse a evo- cionais, que apontou o aumento do uso
foi o uso de escórias granuladas de lução das negociações relacionadas de cimento com adições como sendo a
alto-forno e materiais pozolânicos na com a mudança do clima, em função alternativa de maior impacto na mitiga-
composição dos chamados cimentos de seu compromisso com o desenvol- ção de CO2 até 2050 (veja em Entida-
com adições. vimento sustentável e de possíveis re- des da Cadeia).
Quando adicionadas ao cimento, flexos em seus negócios. A produção de cimentos Portland
as pozolanas e escórias combinam-se O debate sobre mudanças climáticas com adições substituindo parte do
e/ou são ativadas pelo hidróxido de é questão importante para a indústria clínquer propicia a redução das emis-
cálcio liberado nas reações de hidrata- de cimento, uma vez que a emissão de sões de CO2, uma vez que diminui o
ção do clínquer, originando compostos CO2 é inerente ao seu processo de pro- consumo de clínquer e, consequente-
com propriedades ligantes. dução, seja pela descarbonatação da mente, a queima de combustíveis e a
Além do aspecto ligado à conser- sua principal matéria-prima, o calcário, emissão por calcinação/descarbonata-
vação de energia, as principais razões seja pela emissão resultante da queima ção, além de diversificar as aplicações
de utilização das escórias e pozolanas de combustíveis Isto faz com que a in- e características específicas do cimen-
devem-se às propriedades específicas dústria de cimento contribua com cerca to. De fato, o uso dessas adições em
que trazem ao cimento, com certas de 7 a 8% das emissões de CO2 globais cimento apresenta inúmeras vantagens
vantagens sobre o cimento Portland (ALI, SAIDUR, HOSSAIN, 2011), mas relacionadas com a maior durabilidade
sem adições, especialmente com rela- menos de um terço disso no Brasil. e vida útil de estruturas de concreto,
ção à durabilidade. No Brasil e em países em desenvol- como baixa permeabilidade, resistência
O tema teve sua importância reno- vimento, a produção de cimento deve- ao ataque de cloretos e sulfatos, pre-
vada com a agenda ambiental fazendo rá crescer acompanhando o aumento venção das reações álcali-agregado,
parte da sociedade no dia a dia. De populacional e a sua modernização. elevada resistência à compressão em
fato, há um consenso entre diversos Portanto, o desafio é grande e conhe- idades mais avançadas, entre outras
setores da sociedade de que as mu- cer a projeção de emissões setoriais a (SILVA et al., 2017). Os fíleres calcá-
danças climáticas afetarão a vida do médio e longo prazo, e seu respectivo rios por melhorem a compacidade e
homem e suas atividades, assim como potencial de redução, é essencial para a trabalhabilidade dos concretos e ar-
é exíguo o prazo para reverter essa se avançar para uma economia de bai- gamassas, fazendo o papel de ponte
tendência. Por isso, nas reuniões inter- xo carbono. entre os produtos de hidratação e, em
2. ESCÓRIA GRANULADA
DE ALTO-FORNO
A escória granulada é o coproduto
da fabricação do gusa nos altos-fornos,
material de natureza vítrea, constituído
em sua maior parte de aluminossilica-
Escória de alto-forno vista através do microscópio eletrônico de varredura,
tos de cálcio. Resulta da combinação onde se observa dendritos de mervinita em meio à matriz vítrea
dos minerais da ganga do minério de
ferro, das cinzas do coque utilizado do alto-forno, como temperatura, capa- como a composição química do vidro
como combustível e ativador da redu- cidade de dessulfuração, viscosidade interfere na solubilidade da escória, um
ção e da cal utilizada como fundente. e características do minério de ferro, início de cristalização de melilita ou
Além dos aluminossilicatos cálcicos, fundentes e combustível). Em linhas merwinita, por enriquecer o vidro em
ocorrem, secundariamente, sulfetos de gerais, quanto mais básica for a escó- cálcio e alumínio, aumenta a sua reati-
cálcio e manganês e óxidos de ferro e ria, maior será sua atividade hidráulica; vidade (SMOLCKYK,1980) . A determi-
manganês. A presença de magnésio porém, por se tratar de um subproduto nação do grau de vitrificação é geral-
está condicionada à utilização de cal- da indústria siderúrgica a partir do qual mente feita por microscopia.
cário magnesiano como fundente. o gusa, o produto principal, é controla- De acordo com a ABNT NBR 16697,
De acordo com a especificação bra- do, torna-se economicamente inviável as escórias utilizadas para cimento de-
sileira para cimento (ABNT NBR 16697 qualquer controle de composição quí- vem apresentar alto grau de vitrificação
Cimento Portland – Requisitos), no ci- mica da escória que ultrapasse o limite e obedecer à relação:
mento Portland de alto-forno (CPIII), de interferência no processo industrial
as escórias constituem de 35% a 75% de fabricação do gusa. 1
da massa total do ligante e no cimento O grau de vitrificação de uma es-
Portland composto com escória (CPII- cória depende de sua composição Até 1952 não se encontrava cimen-
-E), os teores desse constituinte podem química e viscosidade, porém, mais to com adições de escória no merca-
abranger de 6 a 34% (ABNT, 2018). primordialmente, do tipo e da rapidez do brasileiro, tendo pioneiramente a
Além das características do clínquer, de resfriamento na saída do alto-forno. Cimento Tupi produzido naquele ano
as propriedades do cimento Portland de A vitrificação é obtida industrialmen- 71.765 toneladas de cimento utilizan-
alto-forno dependem em grande parte te pelo processo de granulação, que do escória proveniente de Cia Siderúr-
do teor e das características das escó- consiste em submeter a escória, ainda gica Nacional, em Volta Redonda-RJ,
rias. A atividade hidráulica das escórias, fundida, a um resfriamento brusco, im- aliando-se às experiências europeia,
por sua vez, depende principalmente da pedindo que os átomos da escória se alemã e francesa, com “história” bem
sua finura, composição química e do organizem numa estrutura cristalina es- mais antiga. De fato, o primeiro cimen-
seu grau de vitrificação. A composição tável e sem reatividade. to comercial de alto-forno da Alemanha
química está ligada a diversos fatores Em linhas gerais, quanto mais ví- data de 1892, sendo exemplo clássi-
intrínsecos de produção (características trea, mais reativa será a escória; porém, co as obras do Metrô de Paris, com
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Ali M B, R. Saidur, M.S. Hossain. A review on emission analysis in cement industries. Renewable and Sustainable Energy Reviews, (2011) 2252–2261.
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[9] SILVA, M. G.; BATTAGIN, A. F.; GOMES, V. Cimentos Portland com Adições Minerais. In: ISAIA, G. C. Materiais de construção civil. 3 ed. São Paulo: Ibracon, 2017.
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[10] SMOLCKZYK H. G.Slag structure and identification of slags.In International Congresso n the chemestry of cement, 7th, Paris, 1980. Vol III-1, pág 3-17.