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Lei

de adoração
O Livro dos Espíritos, Livro III – As Leis Morais, Capítulo II

O verbete “adorar” vem do latim “adorare”, uma junção da preposição “ad”, que
significa aproximação espaço-temporal e da palavra “oratio” ou “oratus”, que
significa súplica, elocução. Portanto, adorar seria falar de perto, comunicar-se
com proximidade, mais diretamente, pensamento a pensamento.

Desta forma, adoração não é idolatria, pois ao contrário de afastarmo-nos da
Divindade, o objetivo de adora-lO é aproximar-se dEle, de tal forma que
tornemo-nos uno com Ele.

Jesus O adorava profundamente; e no Sermão do Cenáculo roga a Deus que assim
como Ele e o Pai são uno, também nós sejamos uno com Ele: “Crede-me quando
digo que estou no Pai e que o Pai está em mim; crede-o, ao menos por causa das
mesmas obras. Em verdade, em verdade vos asseguro que aquele que crê em
mim fará também as obras que Eu faço e outras maiores fará, pois eu vou para o
meu Pai” (João, 14:11-12)

Adorar a Deus, portanto, consiste, primeiro, na elevação de nossos pensamentos,
aproximando-nos dEle (questão 649 de O Livro dos Espíritos). E nesse ínterim, a
oração é poderoso recurso do amor de Deus, conquanto ainda não possamos
lográ-lo em espírito, empedernidos que somos por nossas imperfeições.

É como se no sentimento de ascensão, através da oração, a espiritualidade nos
auxiliasse a desfrutar, por breves momentos, das blandícias de paz que
provavelmente desfrutam os puros de coração. Em outras palavras, o doce alento
e sensação de plenitude que uma oração bem sentida nos causa deve ser apenas
os pródromos das bem aventuranças.

Mas orar não é suficiente, uma vez que “a prece não oculta as faltas e as boas
ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras”
(questão 661).

Portanto, dedicar-se ao bem no máximo limite de nossas forças é a forma mais
sincera e agradável de adorar a Deus.

A adoração está relacionada ao nível evolutivo do espírito quanto à sua
moralidade; sentimento inato (questão 650), houve na Antiguidade a crença de
que os sacrifícios de animais e de homens, por exemplo, seriam agradáveis a
Deus; hoje esta ideia nos perturba: “os homens, sendo ignorantes, poderiam crer
que faziam um ato louvável imolando um de seus semelhantes” (questão 670).

O homem progrediu intelectualmente e também passou por avanços morais,
embora tenha ainda largo périplo rumo à perfeição. Pelo discernimento
adquirido, não é mais plausível considerarmos atualmente as guerras santas e os
holocaustos de toda sorte, em nome de Deus: “este que conheceu a verdade é
cem vezes mais culpável do mal que fez, do que o ignorante selvagem do deserto,
e assim será tratado no dia de justiça” (questão 654).
E que dizer da adoração de figuras humanas contemporâneas nossas, tão
imperfeitas quanto nós, que fulguram nas luzes artificiais do poder e sucesso
mundano, como mariposas esvoaçantes num facho fugaz de claridade?

Herança de um tempo quando fomos politeístas, e acreditávamos que tudo
quanto fugisse das condições humanas seria divindade (questão 668); hoje, à luz
do conhecimento, reconhecemos que “o mundo não pode ser governado senão
por uma direção superior, o Deus único” (questão 667).

Este posicionamento é ligeiramente diverso da oração endereçadas aos santos,
por exemplo, que uma vez considerados mensageiros de Deus, são executores de
Sua vontade, e “dirigir a prece a tais espíritos é como se o fizesse ao próprio
Deus” (questão 666).

Assim, trabalhando e orando, adoraremos a Deus.

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