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Matheus Garcia de Moura

Ciências Sociais – Noturno 2014 – 23/08/2014


Introdução à Política
Autor: Aristóteles
Obra: “Política (Livro I)”
ARISTÓTELES. Política, Livro I. In: Aristóteles. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.
Tema e Objetivo:
“A OBSERVAÇÃO NOS mostra que cada Estado é uma comunidade estabelecida com
alguma boa finalidade, uma vez que todos sempre agem de modo a obter o que acham bom.
Mas, se todas as comunidades almejam o bem, o Estado ou comunidade política, que é a forma
mais elevada de comunidade e engloba tudo o mais, objetiva o bem nas maiores proporções e
excelência possíveis (p. 143).
“Acostumamo-nos a analisar outras coisas compostas até que não possam mais ser
subdivididas; façamos o mesmo com o Estado e com as partes que o compõem, e entenderemos
melhor as diferenças entre um e outras, e se podemos deduzir algum princípio de
funcionamento das diversas partes” (p. 144).
“Quem, portanto, considerar os temas visados a partir de sua origem e desenvolvimento, seja
de um Estado ou de qualquer outra coisa, obterá uma visão mais clara deles” (p.143).

Hipóteses:
A FAMÍLIA
“A família é a associação estabelecida por natureza para suprir as necessidades diárias dos
homens, e seus membros são chamados, por Charondas, ‘companheiros do pão’; já
Epimêmides, o Cretense, denomina-os ‘companheiros de comer’.” (p.145)

A ALDEIA
“Mas, quando várias famílias estão unidas em certo número de casas, e a essa associação
aspira a alo mais do que suprir necessidades cotidianas, constitui-se a primeira sociedade, a
aldeia. A forma mais natural de aldeia parece ser uma colônia de famílias com filhos e netos
dos quais se diz que foram ‘criados com o mesmo leite’, Por causa dessa composição, seu
governo era inevitavelmente monárquico; é por esse motivo que as cidades-Estado helênicas
foram, originalmente, governadas por reis – porque foi assim antes de os helenos se reunir em
cidades” (p.145)

O ESTADO
“Quando várias aldeias se unem numa única comunidade, grande o bastante para ser auto-
suficiente (ou para estar perto disso), configura-se a cidade, ou Estado – que nasce para
assegurar o viver e que, depois de formada, é capaz de assegurar o viver bem. Portanto, a
cidade-Estado é uma forma natural de associação, assim como o eram as associações primitivas
das quais ela se originou. A cidade-Estado é a associação resultante daquelas outras, e sua
natureza é, por si, uma finalidade; porque chamamos natureza de um objeto o produto final do
processo de aperfeiçoamento desse objeto, seja ele homem, cavalo, família, ou qualquer outra
coisa que tenha existência.” (p.145-146)

O ESTADO COMO CRIAÇÃO DA NATUREZA


“é evidente que o Estado é uma criação da natureza e que o homem é, por natureza, um
animal político.” (p.146)

CARACTERÍSTICA DO SER HUMANO


“Essa é uma característica do ser humano, o único a ter noção do bem e do mal, da justiça e da
injustiça. E é a associação de seres que têm uma opinião comum acerca desses assuntos que faz
uma família ou uma cidade.” (p.146)

O ESTADO COMO MAIOR IMPORTÂNCIA


“O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o
conjunto é necessariamente mais importante do que as partes. Separem-se do corpo os pés e as
mãos e eles não serão mais nem pés nem mãos (a não ser nominalmente, o que seria o mesmo
que falar em pés ou mãos esculpidos em pedra); destruídos, não terão mais o poder e as funções
que os tornavam o que eram. Assim, embora usemos as mesmas palavras, não estamos falando
das mesmas coisas.” (p.146-147)

A JUSTIÇA COMO PAPEL IMPORTANTE AO HOMEM


“o homem, quando perfeito, é o melhor dos animais; porém, quando apartado da lei e da
justiça, é o pior de todos; uma vez que a injustiça armada é a mais perigosa, e ele é
naturalmente equipado com braços, pode usá-los com inteligência e bondade, mas também para
os piores objetivos. É por isso que, se o ser humano não for excelente, será o mais perverso e
selvagem dos animais, o amis repleto de luxúria e de gula. Mas a justiça, é o vínculo dos
homens, no Estados; porque a administração da justiça, que é a determinação daquilo eu é
justo, é o princípio da ordem numa sociedade política.” (p. 147)

QUAL HOMEM DEVE SER ALVO DE ESTUDO


“devemos estudar o homem que apresente o melhor estado de alma e de corpo porque só nele
encontraremos a verdadeira relação entre ambos; em indivíduos maus ou corrompidos, o corpo
muitas vezes aparentará dominar a alam porque ele eles se encontram em condição ruim e
anormal.” (p.150)
ADMINISTRAÇÃO DA FAMÍLIA
-O ESCRAVO COMO PROPRIEDADE
“há instrumentos de produção e instrumentos de ação. Como a vida é ação e não produção, o
escravo, como propriedade, é um dos agentes da ação.” (p.149)
“alguns homens são livres por natureza, enquanto outros são escravos, e que para estes últimos
a escravidão é conveniente e justa.” (p.151)

- Aristóteles tenta expor a ideia de que existem homens escravos por natureza e outros que não
o podem ser por natureza, de maneira a inferir que os “povos bárbaros” são estes tipos de
indivíduos que, por natureza, podem ser capturados como escravos. (p.152-153)

-O CONHECIMENTO DO SENHOR E O CONHECIMENTO DO ESCRAVO


“Um homem não é considerado senhor em virtude do que sabe, mas simplesmente do que é”
(p.153-154)
“o conhecimento do escravo [...] pode ser ilustrado por um certo homem de Siracusa que, por
uma gratificação, ensonou aos garotos da famílias as tarefas ordinárias; essa espécie de
instrução pode ser ampliada para incluir a culinária e outros serviços domésticos.” (p.154)
“Quanto ao conhecimento do senhor, podemos dizer que consiste em saber como usar os
escravos; porque um senhor o é não por adquiri-los, mas por utilizá-los.” (p.154)

-AS DIFERENTES FORMAS DE AQUISIÇÃO DE PROPRIEDADE


- Aristóteles traz a ideia de que não se deve haver enriquecimento dentro da família, pois esta
deve adquirir propriedades de acordo com suas necessidades, e não acumulá-las em forma de
bens quantitativos.

-AS VARIADAS MANEIRAS DE VIVER


“entre os homens há variadas maneiras de viver: primeiro existem os nômades; estes têm
pouco trabalho, porque a tarefa de alimentar animais domésticos pode ser realizada com um
mínimo de labuta e um máximo de facilidade; mas, quando eles precisam ser removidos para
pastos frescos, os seres humanos têm de acompanha-los, constituindo, por assim dizer, uma
fazenda móvel. Depois vêm os caçadores, ou melhor, todos aqueles que vivem daquilo que
pegam; alguns simplesmente tomam de outros, enquanto os demais, os pescadores, precisam
morar nas proximidades de lagos, pântanos, rios ou da parte do mar onde há peixes; outros
vivem do abate de pássaros e de animais selvagens. A terceira classe, a maior delas, vive do
cultivo da terra. (p.155)

“Essas, portanto, são as principais formas de vida, isto é, as auto-suficientes, não aquelas que
dependem do comércio e da troca. São elas o nomadismo, a agricultura, a pirataria, a pesca e a
caça.” (p. 156)
FINALIDADE DAS COISAS DA NATUREZA AO HOMEM
- GUERRA COMO JUSTA POR NATUREZA
“Se, então, estamos certos em acreditar que a natureza nada faz sem uma finalidade, um
propósito, ela deve ter feito todas as coisas especificamente para benefício do homem. Isso
significa que é parte do plano da natureza o fato de que a arte da guerra, da qual a caçada é
parte, deva ser um modo de adquirir propriedade; e que esse modo deve ser usado contra as
bestas selvagens e contra os homens que, por natureza, devem ser governados mas se recusam
a isso; porque esse é o tipo de guerra que é justo por natureza.” (p.156)

OS BENS
“bens são coisas que podem ficar armazenadas e que são úteis, ou necessárias, para prover a
subsistência. Isso é verdade tanto para a família como para o Estado” (p.157)

A RIQUEZA
“A riqueza é um conjunto de instrumentos para a administração da família ou do Estado.
Portanto, está claro que um certo tipo de riqueza é dever natural daqueles que estão no
comando de uma casa ou de uma cidade” (p.157)

A AQUISIÇÃO POR TROCA


“A necessidade mútua de bens variados foi a base essencial dessas trocas” (p.158)
“Esse tipo de intercâmbio não é contrário à natureza nem um modo de enriquecer; mantém seu
propósito original, que é restabelecer o equilíbrio, a auto-suficiência da natureza. Mas, da
mesma maneira, é a partir daí que surge o enriquecimento.” (p.158)
“Nem todas as coisas de que naturalmente necessitamos são transportadas com facilidade; e
assim, para os propósitos de troca, os homens entraram em acordo para dar e receber, uns dos
outros, algum minério útil para o negócio do sustento e facilmente transportável como ferro,
prata e congêneres. As quantidades eram, a princípio, determinadas pelo tamanho e pelo peso,
mas finalmente as peças de metal receberam estampas. Isso afastou a necessidade de pesar e de
medir, pois a estampa indica o valor. Uma vez que a moeda foi providenciada, o
desenvolvimento foi rápido; e aquilo que começou como uma troca necessária de bens tornou-
se comércio, a outra forma de enriquecimento.” (p.158)

“a riqueza é frequentemente vista como uma pilha de dinheiro, pois o objetivo da acumulação e
do comércio é montar essa pilha.” (p.159)

“Discutimos a riqueza, tanto a desnecessária – o que ela é e para que, na verdade, a utilizamos
– quanto a necessária, que difere da outra por dizer respeito à administração e à manutenção da
casa de um modo que esteja de acordo com a natureza, e por ser limitada e ilimitada.” (p.160)
“O enriquecimento, então, como dissemos, dá-se de duas maneiras; uma necessária e aceitável,
a qual podemos chamar administrativa; a outra, comercial, que depende da troca, é com justiça
enxergada com desaprovação, pois nasce não da natureza mas dos negócios que os homens
mantêm uns com os outros. Também causa muito descontentamento a prática da usura; e o
descontentamento é plenamente justificado, pois o lucro resulta do dinheiro em si, não do que o
dinheiro pode propiciar.” (p. 161-162)
“lucro é dinheiro produzido de dinheiro. Portanto, de todos os meios de enriquecer, este é o
mais contrário à natureza.” (p.162)

RELAÇÕES DOMINADOR E DOMINADO


“se o que comanda for despótico e injusto, como poderá dirigir bem? E, se ao dominado
faltam virtudes, como poderá ser bem governado? Porque, se ele for desequilibrado e
desobediente, então irá executar seus deveres. Desse modo, torna-se claro que tanto dominador
como dominado devem ter sua cota de virtudes; mas existem diferenças em cada caso, assim
como as há também entre os que pretendem, por natureza, ser dirigidos.” (p.166)

Conclusão:
“Assim como para marido e esposa, filhos e pais, e para a virtude que pertence a cada um e seu
intercâmbio uns com os outros, o que é certo nessa ligação e o que não é, a perseguição do bem
e o evitamento do mal – todos esses assuntos serão necessários na discussão das formas de
constituição. Porque são todos assuntos pertinentes à administração da família e toda família é
parte do Estado; e a virtude da parte precisa ser examinada em relação à virtude do todo.”
(p.168)

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