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Aula 9 – Sistemas coletivos de

tratamento de esgoto
Tratamento Secundário: Lagoas de
estabilização
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

As lagoas anaeróbias constituem-se em uma forma alternativa


de tratamento, onde a existência de condições estritamente
anaeróbias é essencial.

Tal é alcançado através do lançamento de uma grande carga


de DBO por unidade de volume da lagoa, fazendo com que a
taxa de consumo de oxigênio seja muito superior à taxa de
produção.

A conversão de matéria orgânica é lenta, pois as bactérias


anaeróbias se reproduzem numa vagarosa taxa.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

As lagoas anaeróbias são usualmente profundas, no sentido


de reduzir a possibilidade da penetração do oxigênio
produzido na superfície para as demais camadas.

Pelas lagoas serem mais profundas, a área requerida é menor.

Não requerem nenhum tipo de equipamento especial e tem


um consumo de energia praticamente desprezível (para uma
eventual elevatória de esgoto bruto ou de recirculação do
efluente final).
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

A eficiência de remoção de DBO nas lagoas anaeróbias é da


ordem de 50 a 70%.

A DBO efluente é ainda elevada, implicando na necessidade


de uma unidade posterior de tratamento.

As unidades mais utilizadas são as lagoas facultativas,


compondo o sistema australiano.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

Fluxograma do Sistema Australiano


Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

A remoção de DBO na lagoa anaeróbia proporciona uma


substancial economia de área para a lagoa facultativa.

Isso faz com que o requisito de área total do sistema


australiano seja em torno de 45 a 70% do requisito de uma
lagoa facultativa única.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

A existência de uma etapa anaeróbia em um reator aberto é


sempre uma causa de preocupação, devido à possibilidade de
geração de maus odores.

Caso o sistema esteja bem equilibrado, a geração de mau


cheiro não deve ocorrer.

Mas eventuais problemas operacionais podem conduzir a


liberação de gás sulfídrico (H2S), responsável por odores
fétidos.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
a) Taxa de aplicação volumétrica (Lv)

✓ É função da temperatura, sendo que locais mais quentes


permitem uma taxa maior (maior volume).

✓ Na tabela, são apresentados valores de taxas admissíveis,


e o projetista poderá ficar a favor da segurança, adotando
taxas menores (até 50% menores).
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
a) Taxa de aplicação volumétrica (Lv)

TAXAS DE APLICAÇÃO VOLUMÉTRICA ADMISSÍVEIS PARA PROJETOS DE


LAGOAS ANAERÓBIAS, EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA
Temperatura média do ar no mês mais Taxa de aplicação volumétrica
frio (°C) admissível (kgDBO/m³.dia)
10 a 20 0,02T – 0,10
20 a 25 0,01T + 0,10
> 25 0,35
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento

a) Taxa de aplicação volumétrica (Lv)

✓ O volume final a ser adotado para a lagoa anaeróbia é um


compromisso entre dois critérios, taxa de detenção e taxa
volumétrica, devendo, tanto quanto possível, satisfazer
ambos.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
b) Tempo de detenção

✓ Normalmente situa-se na faixa de 3,0 a 6,0 dias.

✓ Com tempos inferiores a 3 dias, poderá ocorrer que a taxa


de saída das bactérias metanogênicas com o efluente da
lagoa seja superior a sua própria taxa de reprodução.

✓ Com tempos superiores a 6 dias, a lagoa poderia se


comportar ocasionalmente como facultativa.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
c) Profundidade

✓ Nas lagoas anaeróbias, a profundidade é elevada, para


garantir a predominância das condições anaeróbias.

✓ Quanto mais profunda, melhor. No entanto, escavações


profundas tendem a ter maior custo.

✓ São adotados usualmente valores entre 3,5 e 5,0 m.


Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento

d) Geometria

✓ As lagoas anaeróbias variam entre quadradas ou levemente


retangulares.

✓ A relação L/B típica está entre 1 e 3.


Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento

e) Eficiência

✓ Em função da equação da eficiência, deve ser encontrada a


DBO efluente, que será direcionada para a unidade posterior
(lagoa facultativa).
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
f) Lagoas facultativas

✓ As lagoas facultativas secundárias podem ser


dimensionadas como visto anteriormente.

✓ O tempo de detenção será menor, devido à prévia remoção


de DBO na lagoa anaeróbia.

✓ A concentração e a carga de DBO afluentes à lagoa


facultativa são as mesmas efluentes da lagoa anaeróbia.
Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
f) Lagoas facultativas

✓ Em lagoas facultativas secundárias há maior flexibilidade


com relação à geometria da lagoa, podendo ser adotadas
lagoas mais alongadas, uma vez que os problemas de
sobrecarga no trecho inicial da lagoa serão reduzidos.

✓ K para lagoas facultativas secundárias = 0,25 a 0,32 dia-1.


Lagoas de estabilização

3. Lagoas anaeróbias + Lagoas facultativas (sistema


australiano)

▪ Dimensionamento
g) Acúmulo de lodo

✓ Devido ao menor volume das lagoas anaeróbias, o acúmulo


de lodo se faz sentir mais rapidamente.

✓ Estas devem ser limpas quando a camada de lodo atingir


aproximadamente 1/3 da altura útil, ou então deve ser
realizada a remoção de um certo volume anualmente, em um
determinado mês, incluindo a etapa de limpeza de forma
sistemática na estratégia operacional da lagoa.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

Possibilitam um polimento do efluente de qualquer dos sistemas de


lagoas de estabilização descritos anteriormente ou, em termos
amplos, de qualquer sistema de tratamento de esgoto.

O principal objetivo é a remoção de organismos patogênicos, e não a


remoção adicional de DBO.

Usualmente, alcança-se remoção parcial de amônia.

Constituem-se numa alternativa bastante econômica à desinfecção


do efluente por métodos convencionais (ex.: cloração).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

O ambiente ideal para os organismos patogênicos é o trato


intestinal humano.

Fora deste, eles tendem a morrer, com os seguintes fatores


contribuindo para isto: temperatura, insolação, pH, escassez
de alimento, organismos predadores, competição, compostos
tóxicos, etc.

A lagoa de maturação é dimensionada de forma a utilizar estes


requisitos da melhor forma.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

Vários destes aspectos se tornam mais efetivos em menores


profundidades, o que justifica o fato deste tipo de lagoa ser
mais raso (1,0 m ou menos).

Mecanismos associados à profundidade: radiação solar,


elevado pH (> 8,5), elevada concentração de OD (comunidade
aeróbia mais eficiente na remoção de coliformes).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

Para utilização direta do efluente para irrigação, ou para


manutenção de diversos usos no corpo receptor, a eficiência
da lagoa de maturação deve ser elevada (E > 99,9 a
99,999%).

Atingem ainda remoção total de ovos de helmintos.

Para maximizar a eficiência, são projetadas em uma das duas


seguintes configurações:
a) 3 ou 4 lagoas em série;
b) Lagoa única com chicanas.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento
a) Regime hidráulico
✓ O comportamento das lagoas para remoção de coliformes
se dá segundo o regime hidráulico de fluxo disperso.

b) Número de dispersão da lagoa a montante


1
𝑑=
(𝐿Τ𝐵)

d = número de dispersão (adimensional);


L = comprimento da lagoa de estabilização a montante;
B = largura da lagoa de estabilização a montante.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento
c) Remoção de coliformes na lagoa a montante

𝐾𝑏 = 0,542 . 𝐻−1,259
Kb = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo
disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a 20°C;
H = profundidade da lagoa de estabilização a montante.

𝐾𝑏,𝑇 = 𝐾𝑏,20 . 𝜃 (𝑇−20)

Kb,T = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo


disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a T;
Kb,20 = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo
disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a 20°C;
θ = coeficiente de temperatura.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento
c) Remoção de coliformes na lagoa a montante

4 . 𝑎 . 𝑒 1Τ2𝑑
𝑁 = 𝑁0 . 𝑎= 1 + 4 . 𝐾𝑏 . 𝑡 . 𝑑
(1 + 𝑎)2 . 𝑒 𝑎Τ2𝑑 − 1 − 𝑎 2 . 𝑒 −𝑎Τ2𝑑

N = contagem de coliforme no efluente (org/100 mL);


N0 = contagem de coliformes no afluente (org/100 mL);
Kb = coeficiente de decaimento de coliformes (dia-1);
t = tempo de detenção (dias);
d = numero de dispersão (adimensional).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

d) Eficiência de remoção de coliformes na lagoa a montante

𝑁0 − 𝑁
𝐸= . 100
𝑁0

E = eficiência de remoção de coliformes na lagoa a montante (%);


N0 = contagem de coliformes no afluente (org/100 mL);
N = contagem de coliformes no efluente (org/100 mL).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

e) Volume

𝑉 = 𝑡 .𝑄

V = volume da lagoa de maturação (m³);


t = tempo de detenção (dias);
Q = vazão afluente (m³/s)

✓ Em geral, adota-se tempo de detenção mínimo de 3 dias.


Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

f) Dimensões
𝑉
𝐴𝑠 =
𝐻

𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 1,25 . 𝐴𝑠

As = área superficial da lagoa de maturação (m² ou ha);


Atotal = área total da lagoa de maturação (m² ou ha);
V = volume da lagoa de maturação (m³);
H = profundidade da lagoa de maturação (m).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

g) Número de dispersão da lagoa de maturação

1
𝑑=
(𝐿Τ𝐵)

d = número de dispersão (adimensional);


L = comprimento da lagoa de maturação;
B = largura da lagoa de maturação.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento
h) Remoção de coliformes na lagoa de maturação

𝐾𝑏 = 0,542 . 𝐻−1,259
Kb = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo
disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a 20°C;
H = profundidade da lagoa de maturação.

𝐾𝑏,𝑇 = 𝐾𝑏,20 . 𝜃 (𝑇−20)

Kb,T = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo


disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a T;
Kb,20 = coeficiente de decaimento de coliformes segundo o regime de fluxo
disperso (dia-1), para temperatura do líquido igual a 20°C;
θ = coeficiente de temperatura.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento
h) Remoção de coliformes na lagoa de maturação

4 . 𝑎 . 𝑒 1Τ2𝑑
𝑁 = 𝑁0 . 𝑎= 1 + 4 . 𝐾𝑏 . 𝑡 . 𝑑
(1 + 𝑎)2 . 𝑒 𝑎Τ2𝑑 − 1 − 𝑎 2 . 𝑒 −𝑎Τ2𝑑

N = contagem de coliforme no efluente (org/100 mL);


N0 = contagem de coliformes no afluente (org/100 mL);
Kb = coeficiente de decaimento de coliformes (dia-1);
t = tempo de detenção (dias);
d = numero de dispersão (adimensional).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

i) Eficiência de remoção de coliformes na primeira lagoa de


maturação

𝑁0 − 𝑁
𝐸= . 100
𝑁0

E = eficiência de remoção de coliformes na lagoa de maturação (%);


N0 = contagem de coliformes no afluente (org/100 mL);
N = contagem de coliformes no efluente (org/100 mL).
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

j) Eficiência global de remoção de coliformes nas lagoas em


série

𝐸 = 1 − [ 1 − 𝐸1 𝑥 1 − 𝐸2 𝑥 … 𝑥 1 − 𝐸𝑛 ]

E = eficiência de remoção global;


E1 = eficiência de remoção na lagoa 1;
E2 = eficiência de remoção na lagoa 2;
En = eficiência de remoção na lagoa n.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

j) Eficiência global de remoção de coliformes nas lagoas em


série
✓ No caso das lagoas terem as mesmas dimensões e
características, simplifica-se a equação:

𝐸 = 1 − (1 − 𝐸𝑛 )𝑛

E = eficiência de remoção global;


En = eficiência de remoção em qualquer lagoa da série;
n = número de lagoas em série.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

j) Eficiência global de remoção de coliformes nas lagoas em


série
✓ A concentração de coliformes no efluente final será dada
por:

𝑁 = 𝑁0 . (1 − 𝐸)

N = contagem de coliformes no efluente (org/100 mL).


N0 = contagem de coliformes no afluente (org/100 mL);
E = eficiência de remoção global.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

k) Lagoas de maturação em chicanas

✓ Neste tipo de lagoa, o percurso é predominantemente


longitudinal.

✓ Aplicação de defletores, que fornecem um percurso em zig


zag.

✓ As chicanas podem ser de lonas, madeira, taludes de terra


ou outro material adequado.
Lagoas de estabilização

4. Lagoas de maturação

▪ Dimensionamento

k) Lagoas de maturação em chicanas


✓ A relação L/B interna da lagoa será:

𝐿
𝐿Τ𝐵 = . (𝑛 + 1)2
𝐵

L/B = relação comprimento/largura interna resultante na lagoa de maturação;


L = comprimento da lagoa de maturação (m);
B = largura da lagoa de maturação (m);
n = número de divisórias internas.
Lagoas de estabilização

Exercício 3 – Dimensionar um sistema australiano com os


mesmos dados do exercício 1, exceto que:
• K = 0,27 dia-1;
• Temperatura do ar no mês mais frio = 10°C;
• H entre 3,5 e 5,0 m (lagoa anaeróbia);
• Eficiência de remoção de DBO na lagoa anaeróbia = 60%;
• Taxa de acúmulo de lodo na lagoa anaeróbia = 0,04 m³/hab.ano;
• L/B entre 1 e 3 (lagoa anaeróbia).

Do exercício 1:
População = 20.000 hab; Vazão afluente = 3.000 m³/dia; DBO afluente = 350 mg/L;
Temperatura = 23°C (líquido no mês mais frio); θ = 1,085; SS afluente igual a 80
mg/L; 1 mg SS/L no efluente = 0,3 a 0,4 mgDBO/L; H entre 1,5 a 2,0 (lagoa
facultativa); L/B entre 2 e 4 (lagoa facultativa).
Lagoas de estabilização

Exercício 4 – Dimensionar um sistema de lagoas de


maturação para tratar os efluentes do sistema de lagoas
facultativas, com as seguintes características.
• População = 20.000 hab;
• Vazão afluente = 3.000 m³/dia;
• Temperatura = 23°C (líquido);
• Coliformes fecais no esgoto bruto = 5x107 CF/100 mL;
• Duas lagoas facultativas em paralelo;
• Comprimento de cada lagoa facultativa = 245 m;
• Largura de cada lagoa facultativa = 98 m;
• Profundidade adotada para cada lagoa = 1,80 m;
• Tempo de detenção hidráulica = 28,8 dias
• θ = 1,07;
• Profundidade da lagoa de maturação na faixa de 0,8 a 1,0 m;
• L/B da lagoa de maturação = 1.
• Comparar as duas alternativas: 3 unidades em série, e uma com 3 chicanas.

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