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Crente Pode Perder A Salvação?

Antes de responder se o crente pode ou não perder a salvação, precisamos de analisar um pouco
as principais correntes teológicas sobre a Salvação

Quais as principais correntes teológicas sobre a salvação?


R: Luteranismo, Calvinismo e Arminianismo.

a) Luteranismo, resultante dos estudos e pensamentos de Martinho Lutero, a quem se deve o


início da Reforma na Alemanha (1483-1546).
De acordo com Lutero a essência do evangelho e o facto de a JUSTIFICAÇÃO se dar pelo dom
da graça de Deus recebido por fé (SOLA FIDE; SOLA GRATIA). Para ele, Deus declara o
pecador justo por intermédio da morte de Jesus e não por meio de obras ou méritos humanos. A
fé engloba a confiança e a aceitação do dom divino da SALVACAO por meio dos “méritos” de
Cristo. Porém Lutero condenou a ideia de Livre Arbítrio, publicando o livro DE SERVO
ARBITRIO (Da Escravidão do Arbítrio).
Essa posição o levou a perder muitos de seus adeptos. Segundo sua opinião, anulado o direito
do homem de tomar decisão, a predestinação tornava-se mais extremada do que a calvinista da
graça irresistível.

b) Calvinismo: João Calvino, um dos grandes teólogos e estudiosos da Reforma (1509-1564):


Calvinismo é representado pela teoria da graça irresistível. Para Calvino o sacrifício de Cristo
foi suficiente para todos, mas eficiente para os eleitos, por quem Cristo morreu. Calvino dizia:
"Deus predestinou alguns para serem salvos e os outros para serem perdidos". E defendia que
"Deus não é injusto, pois Ele não é obrigado a salvar ninguém”. E, "Se Cristo predestinou
apenas alguns para a salvação, então Cristo morreu somente pelos eleitos”.
Segundo este ensino "Uma vez salvo, salvo para sempre”. Neste caso a salvação é inteiramente
de Deus e o homem nada tem a ver com ela. Se ele se arrepender, crer e for a Cristo é por causa
do poder atractivo de Deus (graça irresistível). A salvação é por decreto divino e até mesmo a
queda devido ao pecado. Nesta perspectiva, Deus fixa o destino dos homens. A ideia de livre
arbítrio não cabe neste conceito da salvação. Esta doutrina defendida por Calvino, entretanto
não fora criada por ele, mas tinha sido defendida por Agostinho no IV século. E Agostinho, por
sua vez, dizia-se intérprete do apóstolo Paulo.

c ) Arminianismo: Jacobus Armínio, teólogo e pastor holandês (1560-1609).


Para Armínio “a vontade de Deus é que todos sejam salvos, porque Cristo morreu por todos” (I
Tm 2.4-6; Hh 2.9; II Co 5.14; Tt 2.11,12).
O pecador pode escolher entre aceitar a graça de Deus ou rejeitá-la. É o seu direito de livre
arbítrio. Segundo sua teologia as Escrituras ensinam a predestinação, mas não pensava como os
calvinistas e luteranos (para estes, a predestinação é um acto incondicional de Deus ao eleger
indivíduos para a salvação). Para Armínio, a predestinação era vista segundo a presciência
(conhecimento antecipado) divina. Segundo ele, Deus sabia se um individuo aceitaria ou
rejeitaria livremente a Cristo. Baseava-se em I Pd 1.2 “eleitos segundo a presciência de Deus
Pai...” Para Armínio, Deus previu o destino das pessoas, mas não o fixou. "A teologia resultante
também afirmava que, do mesmo modo que a salvação é escolhida livremente, pode também ser
livremente perdida - conceito alheio ao entendimento calvinista e luterano."

Após a análise resumida destas correntes teológicas, olhemos agora para a questão principal
O crente pode ou não perder a salvação? Existe o perigo da apostasia para quem já
cristão?
Esta pergunta nos remete ao assunto relacionado à “Preservacao” ou “A Perseverança dos
Salvos". Há uma linha de pensamento que afirma que são crentes verdadeiros àqueles que
perseveram até ao fim". Este posicionamento afirma que:
a) A perseverança é a prova da verdadeira conversão;
b) A demonstração de ser crente verdadeiro está no fim da carreira;
c) A perseverança até ao fim é a prova incontestável;
d) Nesta perspectiva não há possibilidade de um cristão genuíno apostatar-se da sua fé.
As bases bíblicas utilizadas para sustentar esta linha de pensamento são as seguintes:
“Eu lhes dou a vida eterna; JAMAIS PERECERÃO, e NINGUÉM AS ARREBATARÁ
DA MINHA MÃO. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai
ninguém poderá arrebatar.” (Jo 10.28,29)

“...PORQUE OS DONS e a vocação de Deus SÃO IRREVOGÁVEIS.” (Rm 11.29)

“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós HÁ DE
COMPLETÁ-LA ATÉ O DIA de Cristo Jesus.” (Fp 1.6)

“...porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para
GUARDAR O MEU DEPÓSITO ATÉ AQUELE DIA.” (II Tm 1.12)

Segundo esta linha de pensamento o homem não pode ser salvo hoje, perdido amanhã, salvo
depois de amanhã. Se for salvo mesmo, será salvo de uma vez para sempre. A perseverança será
a maior evidencia".

OUTRA LINHA DE PENSAMENTO

Por outro lado a Bíblia traz muitas advertências a respeito do perigo da apostasia. Apostasia
significa “revolta” contra Deus. Vejamos o que a Bíblia diz:

“...porquanto ALGUNS, TENDO REJEITADO a boa consciência, VIERAM A


NAUFRAGAR NA FÉ. E entre esses se contam Himeneu e Alexandre.” (I Tm 1.19,20)

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, ALGUNS


APOSTATARÃO DA FÉ, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de
demónios.” (I Tm 4.1)

“Porque DEMAS, TENDO AMADO O PRESENTE SÉCULO, ME ABANDONOU e se foi


para Tessalónica.” (II Tm 4.10)

“...todavia, O MEU JUSTO viverá pela fé, e: SE RETROCEDER, nele não se compraz a
minha alma.” (Hb 10.38)

“…tende cuidado, irmãos, JAMAIS ACONTEÇA haver em qualquer de vós PERVERSO


CORAÇÃO de incredulidade que VOS AFASTE DO DEUS VIVO.” (Hb 3.12)

“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno


conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, pelo contrário, certa
expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.” (Hb
10.26.27)

“É IMPOSSÍVEL, pois, que AQUELES QUE UMA VEZ FORAM ILUMINADOS, e


provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a
boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, E CAÍRAM, sim, é impossível
outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si
mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia.” (Hb 6.4-6)
Este último texto afirma que:
- Uma vez foram iluminados.
- Provaram o dom celestial.
- Tornaram-se participantes do Espírito Santo.
- Provaram a boa Palavra de Deus.
- E os poderes do mundo vindouro.
- E cairam (v. 6).

Aqueles a quem foram dirigidas estas palavras eram cristãos hebreus, que, desanimados e
perseguidos, estavam sendo tentados a “afastar-se do Deus vivo” (Hb 3.12). Por todas as
evidências, trata-se de pessoas regeneradas e não apenas cristãos nominais. Segundo este texto, a
dor causada a Cristo pela apostaria é comparada a uma nova crucificação (Hb 6.6). Não há
dúvida que o perigo aqui é evidente. Há outras advertências do apóstolo Pedro dirigidas
claramente a cristãos: “Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão,
ACAUTELAI-VOS; NÃO SUCEDA QUE, arrastados pelo erro desses insubordinados,
DESCAIAIS DA VOSSA PRÓPRIA FIRMEZA.” (II Pd 3.17 e 2.20-22)

Há outra importante advertência do Senhor Jesus dirigida a Igreja de Sardes: “O VENCEDOR


será assim vestido de vestiduras brancas, e DE MODO NENHUM APAGAREI o seu nome
do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos
seus anjos.” (Ap 3.5)

Bem, parece que chegamos a um impasse. Por um lado parece que a Bíblia diz que não pode
perder, mas por outro lado mostra que é possível desviar-se, afastar-se de Deus e perder a
salvação.
Para resolver este impasse é necessário posicionar-se de forma equilibrada entre as duas
posições. É o que Myer Pearlman propõe e chama de “equilíbrio escriturístico” que pode ser
de grande auxílio, conforme vemos abaixo.

“As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do Arminianismo, são


ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação -
e assim o faz a Bíblia;

O Arminianismo acentua a livre vontade e responsabilidade do homem e assim o faz a Bíblia. A


solução prática consiste em evitar os extremos anti-bíblicos de um e de outro ponto de vista, e
evitar colocar uma ideia em aberto antagonismo com outra. Quando duas doutrinas bíblicas são
colocadas em posição antagónica, uma contra a outra, o resultado é uma reacção que conduz ao
erro. Por exemplo: a ênfase demasiada à soberania e à graça de Deus na salvação, pode conduzir
a uma vida descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e actitude nada têm a
ver com a sua salvação, pode tomar-se negligente.

Por outro lado, a ênfase demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como
reacção contra o calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de
toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a ilegalidade e
o legalismo.

Quando Charles Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de Deus havia recebido
excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem. Quando dirigia trabalhos
em localidades onde a responsabilidade humana e as obras haviam sido fortemente defendidas,
ele acentuava a graça de Deus. Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos a
obra prática de salvar as almas, não temos dificuldades com o assunto. John Wesley era
arminiano e George Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a
Cristo...” In Conhecendo as Doutrinas da Biblia, pag. 174 - Myer Pearlman

Após esta exaustiva exposição, se calhar a sua pergunta é: E QUAL É A POSIÇÃO DO


PASTOR?

Salvação não se perde como se, se tratasse de algo difícil ou impossível de encontrar depois de
perdido. Salvação além de ser um acto de Deus, também é um estado em que o Homem é
colocado, mas pode ser abandonado por iniciativa e desobediência deste último, como
aconteceu com Adão e Eva no Jardim.

Note que as diversas histórias (parábolas) que Jesus contou na Bíblia, eram para mostrar a
actuação de Deus em relação a humanidade e como esta devia se posicionar diante da
divindade.

Para melhor ilustrar isso proponho a leitura de dois textos: o livro de Juízes, que retrata as
constantes quedas e os contínuos afastamentos do povo israelita, sendo sempre aceites por Deus,
quando se arrependiam; e a história do filho pródigo, em Lucas 15, àquele que saiu da casa do
pai (uma figura de Deus), mas foi recebido novamente porque o Pai nunca “deixou ele sair do
seu coração”.

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