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1. INTRODUÇÃO
O CDC trouxe regras específicas no âmbito da tutela coletiva no Brasil, iniciada com a Lei de
Ação Popular.
a) Possibilidade de determinar a competência pelo domicílio do autor consumidor (art. 101, I);
O CPC somente terá aplicação nas tutelas coletivas se não houver solução legal nas regula-
ções disponíveis dentro do microssistema coletivo. Logo, ele é residual.
Tendo o consumidor dúvidas quanto à lisura dos lançamentos efetuados pelo banco, é ca-
bível a ação de prestação de contas sujeita ao prazo de prescrição regulado pelo CC/2002.
Assim, o prazo decadencial estabelecido no art. 26 do CDC não é aplicável a tal ação ajui-
zada com o escopo de obter esclarecimentos acerca da cobrança de taxas, tarifas e/ou
encargos bancários, uma vez que essa não se confunde com a reclamação por vício do
produto ou do serviço prevista no mencionado dispositivo legal. REsp 1.117.614-PR, 2S
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/8/2011.
assumir a titularidade do feito quando a ação houver sido originariamente proposta por quaisquer
dos legitimados extraordinários concorrentes (art. 5º, § 3º, LACP). Se a desistência for efetuada pelo
MP, deverá proceder de acordo com o art. 9º do mesmo diploma.
b) Princípio da atipicidade da ação coletiva: a ação coletiva é cabível sempre que houver risco
para interesses difusos ou coletivos, seja qual for a matéria discutida. Qualquer direito coletivo poderá
ser objeto de ação coletiva.
c) Princípio do ativismo judicial: o Poder Judiciário possui poderes instrutórios amplos na tu-
tela coletiva, devendo buscar a verdade processual e a efetividade da tutela coletiva independente-
mente de provocação das partes. Ele poderá:
ii. Conceder liminar com ou sem justificação prévia (art. 12, LACP);
3. DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exer-
cida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
I – Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transin-
dividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e liga-
das por circunstâncias de fato;
II – Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os tran-
sindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
Direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos são espécies do gênero direitos coletivos
lato sensu.
No primeiro aspecto, há de se entender que os titulares dos direitos difusos não são apenas
indeterminados, mas indetermináveis, ou seja, não há como identificá-los, especialmente em função
da amplitude da lesão.
c) Origem do direito: Titulares ligados entre si ou com a parte contrária por uma relação jurí-
dica base.
Como os titulares dos direitos coletivos stricto sensu possuem uma relação jurídica entre si
ou com a parte contrária, eles são perfeitamente possíveis de serem identificados. Isso ocorre, v.g.,
com as mensalidades escolares abusivamente reajustadas.
Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo
Essa relação jurídica pode se dar entre membros de um grupo, categoria ou classe. Ademais,
a relação jurídica base necessita ser anterior à lesão, caso contrário não haverá nexo causal entre a
conduta e o dano.
Se os titulares do direito são identificáveis, por que o direito é indivisível? Pois a tutela terá o
escopo de reparar o dano em relação ao grupo, classe ou categoria, e não em relação a cada uma
das pessoas. Assim, se o aumento da mensalidade escolar foi abusivo, a ACP buscará minorá-la, o
que causará um benefício ao grupo.
Importante ter em mente que é perfeitamente possível a cumulação de pedidos em ação co-
letiva, visando tutelar todas as três modalidades de direito de uma só vez.
Pontos importantes:
Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo
O CDC tratou da intervenção de terceiros em 2 dispositivos legais, arts. 88 e 101, II. A saber:
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, A AÇÃO DE REGRESSO
PODERÁ SER AJUIZADA EM PROCESSO AUTÔNOMO, FACULTADA A POSSIBILI-
DADE DE PROSSEGUIR-SE NOS MESMOS AUTOS, vedada a denunciação da lide. 4
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem pre-
juízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
[...]
O art. 12 do CDC (fato do produto) prevê uma responsabilidade solidária entre o fabricante,
o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador, que respondem, independente-
mente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
ou informações do produto. O comerciante, entretanto, apenas responde solidariamente nas hipóte-
ses previstas nos incisos do art. 13.
1Isso mudou. Agora se admite ACP em matéria previdenciária, ante seu inquestionável interesse social (STF,
AgRg no AI 516.419/PR).
Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo
O parágrafo único do art. 13 prevê o direito de regresso de quem responder junto ao consu-
midor contra os demais responsáveis, para que possam ressarci-lo de prejuízos de acordo com a
participação de cada qual no evento danoso.
Ao permitir o direito de regresso nos mesmos autos ou em ação autônoma, mas vedar
a denunciação à lide, quis o legislador prestigiar a celeridade e efetividade do processo em
relação ao consumidor hipossuficiente. Ademais, A RELAÇÃO JURÍDICA BASE ENTRE CON-
SUMIDOR E FORNECEDOR É PAUTADA PELA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E A RELA-
ÇÃO ENTRE FORNECEDORES, INSTAURADA APÓS A DENUNCIAÇÃO À LIDE, SERIA REGIDA
PELO DIREITO SUBJETIVO.
Quanto à amplitude do art. 88, existe no STJ uma séria divergência sobre sua abrangência.
Como o dispositivo faz referência apenas ao art. 13 (fato do produto) sendo omisso quanto ao art. 14
(fato do serviço), vislumbram-se 2 correntes:
a) A primeira numa interpretação literal entende que a denunciação da lide apenas é vedada
quando se tratar de fato do produto, sendo, no entanto, permitida quando se tratar de fato do serviço:
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CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM
CADASTROS DE DEVEDORES. CHEQUES ROUBADOS DA EMPRESA RESPONSÁVEL
PELA ENTREGA DOS TALONÁRIOS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. REJEIÇÃO COM BASE
NO ART. 88 DO CDC. VEDAÇÃO RESTRITA A RESPONSABILIDADE DO COMERCI-
ANTE (CDC, ART. 13). FATO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE RESTRIÇÃO COM BASE NA
RELAÇÃO CONSUMERISTA. DESCABIMENTO. ABERTURA DE CONTENCIOSO PARA-
LELO.
Entretanto, existe uma corrente mais pragmática no próprio STJ, que mesmo diante de hipó-
teses de vedação de denunciação à lide e o processo tenha se desenvolvido com a participação do
terceiro, ou vice-versa, não há razão para anulação do processo:
PROCESSO CIVIL. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Ainda que a denunciação da lide tenha sido
mal indeferida, não se justifica, na instância especial, já adiantado o estado do processo,
restabelecer o procedimento legal, porque a finalidade do instituto (economia processual) 6
seria, nesse caso, contrariada. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. Nada importa que, no
processo criminal, o réu tenha sido absolvido por falta de provas; a instância cível é autô-
noma. Recursos especiais não conhecidos. (REsp 170681/RJ, Rel. Ministro ARI PARGEN-
DLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/04/2008, DJe 15/04/2008)
“O dispositivo legal demonstra de maneira definitiva que a Lei 8.078/1990 não respeitou o
conceito das intervenções de terceiro típicas previstas pelo Código de Processo Civil. Como
já afirmado, no art. 88 do CDC há menção à denunciação à lide quando na realidade o
correto seria a previsão de chamamento ao processo, considerando a responsabilidade so-
lidária pelo ressarcimento de danos suportados pelo consumidor de todos que participaram
da cadeia de prestação de serviços ou alienação de produtos.” (TARTUCE, Flávio; NEVES,
Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do consumidor: direito material e processual.
São Paulo: Método, 2012, pp. 497 e 498)
Quanto ao chamamento ao processo da seguradora, o CDC criou uma forma mais pro-
tetiva e abrangente em prol dos consumidores, a estipular uma solidariedade legal entre o
segurado-fornecedor, enquanto na sistemática clássica do CPC a existência de contrato de
Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo
seguro ensejaria a denunciação à lide, nos moldes do art. 70, III (art. 70. A denunciação da lide é
obrigatória: III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regres-
siva, o prejuízo do que perder a demanda).
No entanto o CDC foi mais abrangente que o CPC, ao indicar a incidência do art. 80 do CPC
na hipótese de procedência, que condenaria solidariamente o segurado-fornecedor e o segurador
em benefício do consumidor. Colha-se a doutrina:
“Interessante pôr em destaque que, fosse a matéria regulada pelo Código de Processo Civil,
a hipótese de chamamento ao processo que se acabou de ver seria de denunciação a lide.
Entretanto, na denunciação nunca o denunciado pelo réu poderia ficar diretamente respon-
sável perante o autor. Assim, o instituto do chamamento ao processo foi usado pelo Código
de Defesa do Consumidor, mas com contornos diversos do traçados pelo Código de Pro-
cesso Civil, visando, com tal atitude, a uma maior garantia do consumidor (vítima ou suces-
sores).” (ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. Volume I. 8. ed. São Paulo: RT,
2003, p. 708)
Entretanto, a distinção entre a condenação solidária não é mais tão relevante para a
distinção dos institutos, POIS O STJ VEM ADMITINDO A CONDENAÇÃO DIRETA DO LITISDE-
NUNCIADO EM RELAÇÃO AO AUTOR, EM VERDADEIRO LITISCONSÓRCIO, permitindo-se a 7
execução direta do autor-consumidor contra o denunciado:
I. Promovida a ação contra o causador do acidente que, por sua vez, denuncia à lide
a seguradora, esta, uma vez aceitando a litisdenunciação e contestando o pedido ini-
cial se põe ao lado do réu, como litisconsorte passiva, nos termos do art. 75, I, da lei
adjetiva civil. II. Sentença condenatória que pode ser executada contra ambos ou
quaisquer dos litisconsortes. III. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp
792.753/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
01/06/2010, DJe 29/06/2010)
Outro aspecto relevante é o de que pela literalidade do art. 101, II, do CDC, o consumidor
apenas poderia ajuizar a ação diretamente contra a seguradora na hipótese de falência do fornece-
dor. No entanto, mais uma vez a jurisprudência progressiva do STJ vem admitindo, com base na
função social do contrato e por entender que o contrato de seguro seria uma estipulação em favor
de terceiros, que o autor ajuíze ação contra o causador do dano e contra a seguradora, até mesmo
isoladamente, sem que o segurado-fornecedor esteja falido:
Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo
2. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma
clara e precisa sobre a questão posta nos autos.
4. Não obstante o contrato de seguro ter sido celebrado apenas entre o segurado e a segu-
radora, dele não fazendo parte o recorrido, ele contém uma estipulação em favor de terceiro.
E é em favor desse terceiro - na hipótese, o recorrido - que a importância segurada será
paga. Daí a possibilidade de ele requerer diretamente da seguradora o referido pagamento.
5. O fato de o segurado não integrar o polo passivo da ação não retira da seguradora a
possibilidade de demonstrar a inexistência do dever de indenizar.
6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não provido. (REsp 1245618/RS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 8
30/11/2011)