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Direito do Consumidor – Defesa do consumidor em juízo

1. INTRODUÇÃO

O CDC trouxe regras específicas no âmbito da tutela coletiva no Brasil, iniciada com a Lei de
Ação Popular.

Como principais inovações, pode-se destacar:

a) Possibilidade de determinar a competência pelo domicílio do autor consumidor (art. 101, I);

b) Vedação da denunciação da lide e criação de um novo tipo de chamamento ao processo


(art. 88 e 101, II);

c) Possibilidade de o consumidor valer-se, na defesa dos seus direitos, de qualquer ação


cabível (art. 83);

d) Primazia da tutela específica sobre o equivalente em dinheiro (art. 84);

e) Regulamentação da litispendência entre ação coletiva e ação individual (art. 104); 0


f) Alteração e harmonização da tutela da Lei nº 7.347/85.

Os sistemas processuais do CDC e da LACP foram interligados, formando um microssistema


processual coletivo, aplicáveis reciprocamente um ao outro e a todas as tutelas coletivas, como a
ação de improbidade administrativa, o MS coletivo, a ação popular, as disposições do ECA e do
Estatuto do Idoso, entre outros.

O CPC somente terá aplicação nas tutelas coletivas se não houver solução legal nas regula-
ções disponíveis dentro do microssistema coletivo. Logo, ele é residual.

Tendo o consumidor dúvidas quanto à lisura dos lançamentos efetuados pelo banco, é ca-
bível a ação de prestação de contas sujeita ao prazo de prescrição regulado pelo CC/2002.
Assim, o prazo decadencial estabelecido no art. 26 do CDC não é aplicável a tal ação ajui-
zada com o escopo de obter esclarecimentos acerca da cobrança de taxas, tarifas e/ou
encargos bancários, uma vez que essa não se confunde com a reclamação por vício do
produto ou do serviço prevista no mencionado dispositivo legal. REsp 1.117.614-PR, 2S
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/8/2011.

2. PRINCÍPIOS DO PROCESSO COLETIVO

a) Princípio da disponibilidade motivada: somente se poderá desistir da ação coletiva se hou-


ver motivação e fundamentação idônea para tanto. Não havendo, ou sendo incipiente, caberá ao MP
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assumir a titularidade do feito quando a ação houver sido originariamente proposta por quaisquer
dos legitimados extraordinários concorrentes (art. 5º, § 3º, LACP). Se a desistência for efetuada pelo
MP, deverá proceder de acordo com o art. 9º do mesmo diploma.

b) Princípio da atipicidade da ação coletiva: a ação coletiva é cabível sempre que houver risco
para interesses difusos ou coletivos, seja qual for a matéria discutida. Qualquer direito coletivo poderá
ser objeto de ação coletiva.

c) Princípio do ativismo judicial: o Poder Judiciário possui poderes instrutórios amplos na tu-
tela coletiva, devendo buscar a verdade processual e a efetividade da tutela coletiva independente-
mente de provocação das partes. Ele poderá:

i. Determinar a produção de provas de ofício;

ii. Conceder liminar com ou sem justificação prévia (art. 12, LACP);

iii. Conceder tutela antecipada (art. 84, § 3º, CDC);

iv. Conceder as medidas de apoio do CDC (art. 84, § 3º). 1


d) Princípio da obrigatoriedade da execução coletiva: previsto no art. 14 da LACP e no art. 16
da Lei de Ação Popular. Em havendo desídia dos outros legitimados ativos, caberá ao MP promover
a execução coletiva. O autor é obrigado a executar a sentença proferida em ação coletiva no prazo
de 60 dias, senão o fará o MP.

3. DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exer-
cida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I – Interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transin-
dividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e liga-
das por circunstâncias de fato;

II – Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os tran-
sindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – Interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.
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Direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos são espécies do gênero direitos coletivos
lato sensu.

Os direitos difusos possuem as seguintes características:

a) Titularidade do direito: titulares indetermináveis;

b) Indivisibilidade do direito: direitos ou interesses indivisíveis;

c) Origem do direito: titulares ligados por uma circunstância de fato.

No primeiro aspecto, há de se entender que os titulares dos direitos difusos não são apenas
indeterminados, mas indetermináveis, ou seja, não há como identificá-los, especialmente em função
da amplitude da lesão.

No segundo aspecto, a indivisibilidade decorre da própria natureza da titularidade dos direitos,


já que não se pode dividir algo entre pessoas indeterminadas, especialmente quando esse algo per-
tence a todos. É o caso de uma floresta que foi queimada. A quem indenizar, se não a toda a coleti-
vidade unissonamente considerada? 2
No terceiro aspecto, verifica-se que não há relação jurídica base entre a coletividade, e sim
uma situação fática. Não se pode tutelar um interesse difuso por tutela coletiva por se ter, por exem-
plo, editada uma lei que obrigue todos os cidadãos a pagar 80% de seus salários para os membros
do GE_JF. Há instrumentos próprios para isso, já que a ligação existente entre a coletividade, no
exemplo, se pauta no próprio fundamento do estado constitucional.

Os direitos coletivos possuem as seguintes características:

a) Titularidade do direito: Titulares determináveis, mesmo que indeterminados;

b) Indivisibilidade do direito: Direitos ou interesses indivisíveis;

c) Origem do direito: Titulares ligados entre si ou com a parte contrária por uma relação jurí-
dica base.

Como os titulares dos direitos coletivos stricto sensu possuem uma relação jurídica entre si
ou com a parte contrária, eles são perfeitamente possíveis de serem identificados. Isso ocorre, v.g.,
com as mensalidades escolares abusivamente reajustadas.
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Essa relação jurídica pode se dar entre membros de um grupo, categoria ou classe. Ademais,
a relação jurídica base necessita ser anterior à lesão, caso contrário não haverá nexo causal entre a
conduta e o dano.

Se os titulares do direito são identificáveis, por que o direito é indivisível? Pois a tutela terá o
escopo de reparar o dano em relação ao grupo, classe ou categoria, e não em relação a cada uma
das pessoas. Assim, se o aumento da mensalidade escolar foi abusivo, a ACP buscará minorá-la, o
que causará um benefício ao grupo.

Já os direitos individuais homogêneos independem de uma relação jurídica base anterior


ou de algum vínculo que una os titulares entre si ou com a parte contrária. O que importa é que a
origem do direito de cada um dos afetados seja identificável. A relação com a parte contrária advém
somente de um dano sofrido.

Como exemplo pode-se citar a venda de automóveis de um determinado modelo defeituoso.


A origem do direito de indenização de cada consumidor é comum, ou seja, advinda do simples fato
de serem proprietários de produto igual.
3
Imprescindível que as questões comuns predominem sobre as questões individuais; caso
contrário ocorra, ou seja, se em cada fato houver particularidades que tornem diferentes os
direitos de cada um, não se admitirá a tutela coletiva, e sim a individual, face à heterogenei-
dade do direito.

MODALIDADE DE DI- DIVISIBILIDADE DO BEM DETERMINAÇÃO DOS EXISTÊNCIA DE RELA-


REITO JURÍDICO TITULARES ÇÃO JURÍDICA

Não – ligados por cir-


Difusos Indivisível Indeterminados
cunstância de fato

Sim – ligados por rela-


Coletivos Indivisível Determinados
ção jurídica base

Individuais homogê- Determinados ou de- Irrelevante – importa


Divisível
neos termináveis ter origem comum

Importante ter em mente que é perfeitamente possível a cumulação de pedidos em ação co-
letiva, visando tutelar todas as três modalidades de direito de uma só vez.

Pontos importantes:
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a) Impossível postular direitos coletivos no JEF;

b) O STF veda a interposição de ACP em matéria tributária e previdenciária1, assim como o


art. 1º, p. único, da LACP, já que essas matérias poderiam ser individualmente postuladas;

c) A jurisprudência tem admitido o controle incidental de constitucionalidade na ACP, sendo


vedado, obviamente, declaratória incidental sobre o ponto controvertido constitucional;

d) A distinção entre interesses difusos e coletivos depende da fixação do objeto litigioso do


processo.

4. AS INTERVENÇÕES DE TERCEIROS NAS TUTELAS INDIVIDUAIS CON-


SUMEIRISTAS

O CDC tratou da intervenção de terceiros em 2 dispositivos legais, arts. 88 e 101, II. A saber:

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, A AÇÃO DE REGRESSO
PODERÁ SER AJUIZADA EM PROCESSO AUTÔNOMO, FACULTADA A POSSIBILI-
DADE DE PROSSEGUIR-SE NOS MESMOS AUTOS, vedada a denunciação da lide. 4
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem pre-
juízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:

[...]

II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o


segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80
do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar
a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, O AJUIZA-
MENTO DE AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DIRETAMENTE CONTRA O SEGURADOR, vedada
a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório
com este.

O art. 12 do CDC (fato do produto) prevê uma responsabilidade solidária entre o fabricante,
o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador, que respondem, independente-
mente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
ou informações do produto. O comerciante, entretanto, apenas responde solidariamente nas hipóte-
ses previstas nos incisos do art. 13.

1Isso mudou. Agora se admite ACP em matéria previdenciária, ante seu inquestionável interesse social (STF,
AgRg no AI 516.419/PR).
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O parágrafo único do art. 13 prevê o direito de regresso de quem responder junto ao consu-
midor contra os demais responsáveis, para que possam ressarci-lo de prejuízos de acordo com a
participação de cada qual no evento danoso.

Ao permitir o direito de regresso nos mesmos autos ou em ação autônoma, mas vedar
a denunciação à lide, quis o legislador prestigiar a celeridade e efetividade do processo em
relação ao consumidor hipossuficiente. Ademais, A RELAÇÃO JURÍDICA BASE ENTRE CON-
SUMIDOR E FORNECEDOR É PAUTADA PELA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E A RELA-
ÇÃO ENTRE FORNECEDORES, INSTAURADA APÓS A DENUNCIAÇÃO À LIDE, SERIA REGIDA
PELO DIREITO SUBJETIVO.

Quanto à amplitude do art. 88, existe no STJ uma séria divergência sobre sua abrangência.
Como o dispositivo faz referência apenas ao art. 13 (fato do produto) sendo omisso quanto ao art. 14
(fato do serviço), vislumbram-se 2 correntes:

a) A primeira numa interpretação literal entende que a denunciação da lide apenas é vedada
quando se tratar de fato do produto, sendo, no entanto, permitida quando se tratar de fato do serviço:
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CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM
CADASTROS DE DEVEDORES. CHEQUES ROUBADOS DA EMPRESA RESPONSÁVEL
PELA ENTREGA DOS TALONÁRIOS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. REJEIÇÃO COM BASE
NO ART. 88 DO CDC. VEDAÇÃO RESTRITA A RESPONSABILIDADE DO COMERCI-
ANTE (CDC, ART. 13). FATO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE RESTRIÇÃO COM BASE NA
RELAÇÃO CONSUMERISTA. DESCABIMENTO. ABERTURA DE CONTENCIOSO PARA-
LELO.

I. A vedação à denunciação à lide disposta no art. 88 da Lei n. 8.078/1990 restringe-se à


responsabilidade do comerciante por fato do produto (art. 13), não alcançando o defeito
na prestação de serviços (art. 14). [...] (REsp 1024791/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSA-
RINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 05/02/2009, DJe 09/03/2009)

CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. MÉDICO PARTICULAR. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. HOSPITAL. RESPON-
SABILIDADE SOLIDÁRIA. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. [...] 6. Admite-se a de-
nunciação da lide na hipótese de defeito na prestação de serviço. Precedentes. (REsp
1216424/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/08/2011,
DJe 19/08/2011)

b) Já uma segunda corrente, numa hermenêutica mais teleológica, entende que em


qualquer hipótese é vedada a denunciação à lide, dado que a ampliação probatória da lide
implicaria em demora em detrimento do consumidor. Se este poderia realizar a opção de de-
mandar mais de um réu pela solidariedade em litisconsórcio passivo, indicando mais de um
réu e não o faz, não pode o réu se valer da denunciação.
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Assim, não seria cabível a denunciação à lide em matéria consumeirista.

RECURSO ESPECIAL. DENUNCIAÇÃO À LIDE. MÉDICA PLANTONISTA QUE ATENDEU


MENOR QUE FALECEU NO DIA SEGUINTE. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO CONTRA O HOS-
PITAL. DENUNCIAÇÃO DA MÉDICA À LIDE. IMPOSSIBILIDADE. SERVIÇO DE EMER-
GÊNCIA. RELAÇÃO DE PREPOSIÇÃO DO MÉDICO COM O HOSPITAL. RESPONSABI-
LIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL. PRODUÇÃO DE PROVAS QUE NÃO INTERESSAM
AO PACIENTE. CULPA DA MÉDICA. ÔNUS DESNECESSÁRIO. [...] 3. Qualquer amplia-
ção da controvérsia que signifique produção de provas desnecessárias à lide principal vai
de encontro ao princípio da celeridade e da economia processual. Especialmente em ca-
sos que envolvam direito do consumidor, admitir a produção de provas que não in-
teressam ao hipossuficiente resultaria em um ônus que não pode ser suportado por
ele. Essa é a ratio do Código de Defesa do Consumidor quando proíbe, no art. 88, a denun-
ciação à lide. (REsp 801.691/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TER-
CEIRA TURMA, julgado em 06/12/2011, DJe 15/12/2011)

Entretanto, existe uma corrente mais pragmática no próprio STJ, que mesmo diante de hipó-
teses de vedação de denunciação à lide e o processo tenha se desenvolvido com a participação do
terceiro, ou vice-versa, não há razão para anulação do processo:

PROCESSO CIVIL. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. Ainda que a denunciação da lide tenha sido
mal indeferida, não se justifica, na instância especial, já adiantado o estado do processo,
restabelecer o procedimento legal, porque a finalidade do instituto (economia processual) 6
seria, nesse caso, contrariada. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. Nada importa que, no
processo criminal, o réu tenha sido absolvido por falta de provas; a instância cível é autô-
noma. Recursos especiais não conhecidos. (REsp 170681/RJ, Rel. Ministro ARI PARGEN-
DLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/04/2008, DJe 15/04/2008)

O instituto de denunciação da lide no CDC por conter responsabilidade solidária mais


se assemelha com o instituto de chamamento ao processo do CPC, principalmente na hipó-
tese do inciso III do art. 77, que trata de devedores solidários (Art. 77. É admissível o chama-
mento ao processo: III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns
deles, parcial ou totalmente, a dívida comum). Com a palavra a doutrina:

“O dispositivo legal demonstra de maneira definitiva que a Lei 8.078/1990 não respeitou o
conceito das intervenções de terceiro típicas previstas pelo Código de Processo Civil. Como
já afirmado, no art. 88 do CDC há menção à denunciação à lide quando na realidade o
correto seria a previsão de chamamento ao processo, considerando a responsabilidade so-
lidária pelo ressarcimento de danos suportados pelo consumidor de todos que participaram
da cadeia de prestação de serviços ou alienação de produtos.” (TARTUCE, Flávio; NEVES,
Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do consumidor: direito material e processual.
São Paulo: Método, 2012, pp. 497 e 498)

Quanto ao chamamento ao processo da seguradora, o CDC criou uma forma mais pro-
tetiva e abrangente em prol dos consumidores, a estipular uma solidariedade legal entre o
segurado-fornecedor, enquanto na sistemática clássica do CPC a existência de contrato de
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seguro ensejaria a denunciação à lide, nos moldes do art. 70, III (art. 70. A denunciação da lide é
obrigatória: III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regres-
siva, o prejuízo do que perder a demanda).

No entanto o CDC foi mais abrangente que o CPC, ao indicar a incidência do art. 80 do CPC
na hipótese de procedência, que condenaria solidariamente o segurado-fornecedor e o segurador
em benefício do consumidor. Colha-se a doutrina:

“Interessante pôr em destaque que, fosse a matéria regulada pelo Código de Processo Civil,
a hipótese de chamamento ao processo que se acabou de ver seria de denunciação a lide.
Entretanto, na denunciação nunca o denunciado pelo réu poderia ficar diretamente respon-
sável perante o autor. Assim, o instituto do chamamento ao processo foi usado pelo Código
de Defesa do Consumidor, mas com contornos diversos do traçados pelo Código de Pro-
cesso Civil, visando, com tal atitude, a uma maior garantia do consumidor (vítima ou suces-
sores).” (ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. Volume I. 8. ed. São Paulo: RT,
2003, p. 708)

Entretanto, a distinção entre a condenação solidária não é mais tão relevante para a
distinção dos institutos, POIS O STJ VEM ADMITINDO A CONDENAÇÃO DIRETA DO LITISDE-
NUNCIADO EM RELAÇÃO AO AUTOR, EM VERDADEIRO LITISCONSÓRCIO, permitindo-se a 7
execução direta do autor-consumidor contra o denunciado:

CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENI-


ZATÓRIA PROMOVIDA CONTRA O CAUSADOR DO SINISTRO. DENUNCIAÇÃO À LIDE
DA SEGURADORA ACEITA E APRESENTADA CONTESTAÇÃO. INTEGRAÇÃO AO
PÓLO PASSIVO, EM LITISCONSÓRCIO COM O RÉU. SOLIDARIEDADE NA CONDENA-
ÇÃO, ATÉ O LIMITE DO CONTRATO DE SEGURO. CPC, ART. 75, I. IMPROVIMENTO.

I. Promovida a ação contra o causador do acidente que, por sua vez, denuncia à lide
a seguradora, esta, uma vez aceitando a litisdenunciação e contestando o pedido ini-
cial se põe ao lado do réu, como litisconsorte passiva, nos termos do art. 75, I, da lei
adjetiva civil. II. Sentença condenatória que pode ser executada contra ambos ou
quaisquer dos litisconsortes. III. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp
792.753/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
01/06/2010, DJe 29/06/2010)

Outro aspecto relevante é o de que pela literalidade do art. 101, II, do CDC, o consumidor
apenas poderia ajuizar a ação diretamente contra a seguradora na hipótese de falência do fornece-
dor. No entanto, mais uma vez a jurisprudência progressiva do STJ vem admitindo, com base na
função social do contrato e por entender que o contrato de seguro seria uma estipulação em favor
de terceiros, que o autor ajuíze ação contra o causador do dano e contra a seguradora, até mesmo
isoladamente, sem que o segurado-fornecedor esteja falido:
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CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. AÇÃO


PROPOSTA DIRETAMENTE EM FACE DA SEGURADORA SEM QUE O SEGURADO
FOSSE INCLUÍDO NO POLO PASSIVO. LEGITIMIDADE.

1. A interpretação de cláusula contratual em recurso especial é inadmissível. Incidência da


Súmula 5/STJ.

2. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma
clara e precisa sobre a questão posta nos autos.

3. A interpretação do contrato de seguro dentro de uma perspectiva social autoriza e reco-


menda que a indenização prevista para reparar os danos causados pelo segurado a terceiro
seja por este diretamente reclamada da seguradora.

4. Não obstante o contrato de seguro ter sido celebrado apenas entre o segurado e a segu-
radora, dele não fazendo parte o recorrido, ele contém uma estipulação em favor de terceiro.
E é em favor desse terceiro - na hipótese, o recorrido - que a importância segurada será
paga. Daí a possibilidade de ele requerer diretamente da seguradora o referido pagamento.

5. O fato de o segurado não integrar o polo passivo da ação não retira da seguradora a
possibilidade de demonstrar a inexistência do dever de indenizar.

6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não provido. (REsp 1245618/RS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 8
30/11/2011)

Por fim, a vedação à denunciação à lide do Instituto de Resseguros do Brasil e sua


dispensa de convocação para a ação mantém-se em razão da disposição legal, prestigiando
uma solução mais rápida da lide, sem as dilações que tal intervenção implicaria.

Desta forma, EMBORA NÃO HAJA EXATA CORRESPONDÊNCIA ENTRE OS INSTITU-


TOS DE DENUNCIAÇÃO À LIDE E DE CHAMAMENTO AO PROCESSO PREVISTOS PELO CDC
COM O CPC, É DE SE OBSERVAR QUE A DENUNCIAÇÃO NO CDC GUARDA TRAÇOS DO
CHAMAMENTO DO CPC E O CHAMAMENTO DO CDC TEM APROXIMAÇÕES COM A DENUN-
CIAÇÃO À LIDE DO CPC.

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