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MACROECONOMIA
Organizadores:
Maria Isabel Busato
Marcelo Dias Carcanholo
Fábio N. P de Freitas
Reinaldo Gonçalves
Coordenação editorial:
Antonio Lopes
Revisão:
Carolina Lacerda
Diagramação:
Diniz Gomes
Capa:
Ingo Bertelli
ISBN: 978-85-68878-19-4
CDD 339
Prefácio 4
Macroeconomia clássica 5
Fábio N. P. de Freitas
Macroeconomia Marxista 17
Fábio Guedes Gomes
Macroeconomia Kaleckiana 28
Esther Dweck
Síntese Neoclássica 33
Jennifer Hermann
Monetarismo 39
Roberto Fendt
Macroeconomia Pós-Keynesiana 50
Andre de Melo Modenesi
Novos Keynesianos 61
Maria Isabel Busato e Fabio N. P. de Freitas
Abordagem Sraffiana 66
Carlos Pinkusfeld Bastos
moeda seria exógena e neutra no longo de produção que regulam a relação entre
prazo, em contraste com a visão de não o nível de produto real e a quantidade de
neutralidade da moeda de longo prazo trabalho utilizada. Finalmente, a adoção
implícita na visão mercantilista. da LS implica também que o investimen-
Enfraquecido, o sistema mercanti- to agregado é determinado pelo nível de
lista foi sucedido pela economia política poupança de plena capacidade da econo-
clássica como sistema de ideias domi- mia. Portanto, a acumulação de capital e
nante na discussão de assuntos econô- o crescimento do produto real dependem
micos. Particularmente, a partir das fundamentalmente dos determinantes da
contribuições de David Ricardo no início poupança potencial, entre os quais o mais
do século XIX verificou-se o surgimento importante é a distribuição funcional da
de um influente sistema de pensamento renda. Nesse sentido, sob a hipótese de
ortodoxo a respeito de questões macroe- que a poupança tem origem basicamente
conômicas. De acordo com a ortodo- nos lucros, haveria relação positiva entre
xia ricardiana, a riqueza está relacionada o ritmo de acumulação de capital e a par-
com o nível real de produto. Este último cela dos lucros na renda.
seria determinado em conformidade Em contraste com a TQM de Hume,
com a famosa “Lei de Say” (LS), segun- segundo a ortodoxia ricardiana o nível
do a qual a “demanda é limitada apenas geral de preços seria determinado no
pela produção”, o que é equivalente à pro- longo prazo de maneira independente da
posição de que o investimento agregado quantidade de moeda na economia. Os
é regulado pela poupança agregada. A preços relativos
produção, por sua vez, seria determina- das mercadorias
da pelo estágio de acumulação de capital dependeriam,
e pelas condições técnicas de produção no longo prazo
que regulam a relação entre o nível de e em condições
produto real e o estoque de capital dis- de livre con-
ponível na economia. Assim, de acordo corrência, das
com a LS, o nível de demanda agregada condições de
seria determinado no longo prazo pelo custos de pro-
nível de produto real governado por fa- dução das mer-
tores de oferta. Por outro lado, é impor- cadorias e, mais
tante notar que a adoção da LS nestas precisamente,
circunstâncias implica a plena utilização para Ricardo,
da capacidade produtiva da economia, das condições
porém não implica o pleno emprego técnicas de produção e do salário real.
da força de trabalho. Dessa maneira, a Como o ouro seria uma mercadoria
LS seria compatível com a existência de como outra qualquer, seu preço natural
desemprego estrutural. De fato, o volu- seria regulado pelo mesmo conjunto de
me de emprego seria determinado pelos forças no longo prazo. Logo, sendo consi-
mesmos fatores que explicam o nível de derado o ouro como padrão monetário, o
produto real e pelas condições técnicas sistema de preços é capaz de determinar
9 Escolas da Macroeconomia
Bibliografia sugerida
Laidler, D. The Golden Age of the Quantity
Theory: the development of neoclassical monetary
economics 1870-1914. Nova York: Philip
Allan, 1991.
Bibliografia sugerida
AGLIETTA, Michel. Macroeconomia
Financeira. Vols. 1 e 2. São Paulo: Edições
Loyola, 2004.
Bibliografia
FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo:
Saraiva, 2001.
Roberto Fendt*
não têm como antecipar perfeitamente políticas anticíclicas sugeria que esse tipo
o valor das variáveis no futuro e que, de política deveria ser evitado. De fato,
portanto, eles formulam as expectativas os monetaristas sempre enfatizaram sua
de forma a corrigir os erros de previsão preferência por regras preestabelecidas
cometidos em períodos passados. Como de expansão dos agregados monetários
essa correção é dada por uma fração do em oposição ao manejo discricioná-
erro anterior, esta hipótese é chamada de rio dessa expansão por bancos centrais.
expectativas adaptativas. O resultado que Esse foi o ponto de vista defendido por
se obtém é que os agentes, ao corrigirem Simons (1936), em trabalho seminal, que
os seus erros anteriores por uma deter- expôs o tema como o da contraposição
minada fração, formulam suas expecta- entre “regras de expansão monetária”
tivas observando os valores passados da versus “autoridade”, ou “regras” versus
variável, atribuindo pesos maiores para “manejo discricionário” na condução da
os períodos passados mais próximos. política monetária. Em um dos extremos,
Do ponto de vista do ajuste, isso faz com a autoridade monetária estaria ungida de
que, dado um choque monetário, apenas plenos poderes para fixar taxas de juros,
no longo prazo os erros sejam corrigidos, a taxa de redesconto, o percentual de re-
levando a economia para um equilíbrio servas compulsórias dos bancos e outros
de pleno emprego apenas no longo prazo. instrumentos da política monetária para
Finalmente, o controle de preços atingir fins outros que não o controle
para manter baixa a inflação mensura- monetário. No outro extremo, o banco
da – mas não a inflação que realmente central deveria ter por objetivo único
está ocorrendo – não faz parte do arsenal a manutenção do poder de compra da
de instrumentos dos monetaristas. Para moeda nacional e para isso utilizar como
eles, controles de preços e salários apenas instrumento uma regra de expansão mo-
interferem com o livre funcionamento do netária pré-definida.
mercado e são indesejáveis do ponto de Vale notar que os principais bancos
vista econômico como um todo. A distor- centrais contemporâneos não seguem as
ção do sistema de preços, com controles posições extremas, optando, na maioria
de toda natureza, afeta negativamente as dos casos, por um regime de metas de in-
decisões de investimento das empresas e flação em que a variável de controle não
de consumo e poupança dos indivíduos. é a expansão monetária, mas uma taxa
básica de juros fixada pelo banco central.
Agregados monetários e a política
monetária Política monetária e monetarismo
Bibliografia
FRIEDMAN, M. Capitalism and Freedom.
University of Chicago Press, 1962.
Bibliografia
BARBOSA, E. S. Uma exposição introdutória
da macroeconomia novo-clássica. In: Silva,
M.L.F. (Org.) Moeda e Produção: teorias
comparadas. Brasília: UNB, 1992.
pela interseção entre elas. Na figura 1b, 1 Kaldor (1956) e Robinson (1960)
o nível de emprego de equilíbrio é Nb . usam o termo “post-Keynesian eco-
Ao nível de pleno emprego (Nb ) corres- nomics” para se referirem ao seu traba-
ponde uma insuficiência de demanda lho e de seus colegas de Cambridge. A
efetiva (distância vertical JK). A lei de partir de Eichner e Kregel (1975), o ter-
Say não se verifica: nem todo volume de mo “Pós-Keynesiano” passa a ser usado
produção correspondente ao pleno em- de uma forma mais consistente, o que foi
prego pode ser vendido lucra tivamente. reforçado pelo lançamento do Journal
Resumindo, com a concomitante of Post Keynesian Economics, em 1978
negação dos axiomas da escola clássica – (Davidson, 2002b). Em 2012, foi lançada
substituição bruta, neutralidade da moe- a Review of Keynesian Economics.
da e ergodicidade – e adoção do PDE e da
teoria da PPL, os PK procuram resgatar a
essência da revolução keynesiana: aproxi- Referências
mar-se do mundo em que realmente vive- CARVALHO, F.J.C (1992). Mr. Keynes and
mos. Segundo Davidson: “Keynes criou the Post Keynesians. Aldershot: Elgar.
um sistema teórico [...] que reflete correta-
DAVIDSON, P. (2002a). “Resgatando a
mente as características do mundo econô-
Revolução Keynesiana”. In: J. Sicsú e Lima, G.T.
mico real, aquelas de Wall Street e da Sala (Orgs), Macroeconomia do Emprego e da Renda.
da Diretoria das empresas, mais do que Keynes e o Keynesianismo. Barueri (SP): Manole.
aquelas do mundo de Robinson Crusoé
ou da feira medieval. [...] seu modelo lógi- . (2002b). “Restating the Purpose of the
Journal of Post Keynesian Economics After 25
co não é tão completamente desenvolvido,
Years”, Journal of Post Keynesian Economics, Fall.
nem tão nítido e preciso quanto o neoclás-
sico [...] Não obstante, os Pós-Keynesianos . (2005a). “The Post Keynesian
acreditam que é melhor desenvolver um School”. In Snowdon, B. e Vane, H.R, Modern
modelo que reproduza as características Macroeconomics. Cheltenham: Edward Elgar.
especiais do mundo econômico em que . (2005b). “Responses to Lavoie,
vivemos do que continuamente refinar e King, and Dow on what Post Keynesianism is
polir um modelo belamente preciso, mas and who is a Post Keynesian”. Journal of Post
irrelevante. [...] a divisa que serve de guia Keynesian Economics, vol. 27(3), pp. 393-408.
é: “Melhor ser aproximadamente certo EICHNER, A.S. e KREGEL, J.A. (1975),
do que precisamente errado!”(Davidson, “An Essay on Post Keynesian Theory: A New
2002a, pp. 25-6) Paradigm in Economics”. Journal of Economic
O leitor interessado deve aces- Literature, 13(4), pp. 1293-1314.
sar os seguintes sites: Levy Institute
HICKS, J.R. (1937), ‘Mr. Keynes and the
(http://www.levyinstitute.org/resear- “Classics”: A Suggested Interpretation’,
ch/); Center for Full Employment and Econometrica, April.
Price Stability (http://www.cfeps.org/);
e Grupo de Estudos sobre Moeda HOLT, R.P.F. (1997), ‘Post Keynesian School of
e Sistema Financeiro (http://www. Economics’, in T. Cate (ed.), An Encyclopedia
of Keynesian Economics, Cheltenham, UK
ie.ufrj.br/moeda/). and Lyme, USA: Edward Elgar.
Macroeconomia do
Novo Consenso
Na década de 1990
desenvolveu-se um Novo
Consenso (ou uma Nova
Síntese Neoclássica) en-
tre os macroeconomistas
do mainstream, ao combi-
nar modelos que analisam
como as famílias e as firmas
tomam decisões ao lon-
go do tempo (ferramentas
desenvolvidas inicialmen-
te pelos Novos Clássicos)
com modelos nos quais os
preços mudam de forma in-
termitente (modelos Novos Keynesianos uma resposta de natureza keynesiana
que supõem firmas monopolisticamente aos autores chamados Novos Clássicos
competitivas com algum poder de mer- (como Robert Lucas Jr., Thomas J.
cado). Este consenso é considerado no Sargent e Robert Barro). Entre esses
mainstream a melhor abordagem teórica economistas podemos citar John B.
para explicar as flutuações econômicas Taylor, Stanley Fischer, Ben Bernanke,
de curto prazo e o papel das políticas N. Gregory Mankiw, David Romer,
econômicas, mas está sendo rediscutido Olivier Blanchard, Nobuhiro Kiyotaki e
devido à crise financeira de 2008. Michael Woodford.
O rótulo de Novo Consenso des- O Novo Consenso procura fazer
creve inicialmente aqueles economistas uma síntese entre os instrumentos te-
que, na década de 1990, desenvolveram óricos utilizados por autores Novos
* É professor do IE/UFRJ.
57 Escolas da Macroeconomia
Política econômica
Bibliografia
BENIGNO, Pierpaolo. New-Keynesian
Economics: An AS-AD View, Working
Paper 14824, NBER Working Paper Series,
Cambridge, March, 2009.
* Professores do IE/UFRJ.
63 Escolas da Macroeconomia
salários e preços fossem flexíveis, o ajuste preços por cada firma não está sujeito à
ocorreria sem alteração dos preços relati- revisão contínua e que as alterações de
vos e do salário real, e o produto não se preços são não sincronizadas, ou seja,
moveria. apenas uma parcela das firmas reajusta
Entre os modelos que enfatizam a ri- a cada momento e a probabilidade de
gidez nominal de preços no mercado de cada firma alterar seu preço é dada exo-
bens, ao nível da firma, podemos desta- genamente. Neste caso, a rigidez nominal
car (Akerlof e Yellen, 1985): (i) o modelo não depende de contratos, como na safra
de custos de menu (menu costs), que su- inicial dos modelos NK. Tais modelos
põe a existência de custos de ajustamento ganharam destaque em aplicações empí-
na remarcação de preços. Diante de, por ricas ao reforçar a interação entre rigidez
exemplo, um choque de demanda nega- nominal e real.
tivo, a firma somente reduz seu preço se Para além do argumento da relevân-
a variação na receita decorrente da re- cia da rigidez nominal, Mankiw & Romer
dução do preço for superior ao custo de (1991) discorrem sobre a importância da
ajustamento, ou seja, a firma remarca se interação entre a rigidez nominal e real
a receita marginal de remarcar superar o para compreender as flutuações econô-
custo marginal de ajustamento. Se os sa- micas observadas. Para esses autores, a
lários nominais são regidos por contratos maior persistência da rigidez de preços
e se mantêm nominalmente rígidos, o seria resultado da combinação entre a ri-
comportamento da curva de custo mar- gidez real e fricções nominais, pois se o
ginal será viscoso, reforçando o impacto custo marginal for muito pressionado a
dos custos de menu, e (ii) o modelo de rigidez nominal se desfaz. Imagine, como
comportamento quase-racional (near ra- exemplo, que a curva de oferta de mão
tionality), segundo o qual as firmas apre- de obra seja bastante vertical, de modo
sentariam um comportamento inercial que um pequeno deslocamento na cur-
na remarcação de preços, o que as levaria va de demanda por mão de obra levará
a uma rigidez de preços diante de cho- a grande variação no salário nominal e
ques de demanda. Além desses modelos real. Uma vez que o salário é importan-
há também os que argumentam que a te componente dos custos de produção,
tentativa das firmas de manter uma rela- seu aumento pressiona o custo marginal,
ção estável, relação de clientela com seus que, superando o custo de remarcação,
clientes levam as mesmas a definirem leva ao reajuste de preços, desfazendo a
calendários de reajustes, absorvendo via rigidez nominal. Esse é o argumento cen-
compressão de lucros possíveis choques tral para compreender como rigidez no-
de custos. minal e real interagem e caracterizam a
Nas versões mais modernas in- estrutura NK.
cluem-se os modelos dinâmicos de estra- Já os modelos de rigidez real tra-
tégias de precificação desenvolvidos por tam das explicações para a rigidez de
Rotemberg (1982) e por Calvo (1983). preços relativos, com ênfase particular
Este último desenvolveu um modelo na discussão da rigidez dos salários re-
que assume que o processo de fixação de ais. Do conjunto de modelos de rigidez
65 Escolas da Macroeconomia
que diz respeito à política fiscal, tam- à qual a inflação se estabiliza. Existe um
bém não há uma visão consensual so- amplo debate sobre o tema e sobre a
bre a viabilidade sua adoção e a grande real divergência prática entre NAIRU e
maioria autores NK não vê necessidade a taxa natural de desemprego. Para uma
desse tipo de ação do governo. Por fim, discussão sobre o tema ver Snowdon &
o enfoque Novo-Keynesiano busca ex- Vane (2005).
plicar as flutuações e a existência de de-
semprego involuntário a partir da rigiz
de preços e de salários, negando a hipó- Bibliografia
tese de market clearing simulem todos AKERLOF, G.A.,& YELLEN, J.L. A near-
os mercados, bem o argumento básico rational model of the business cycle, with
nela conde reposição quase instantânea wage and price inertia. Quarterly Journal of
produto e do emprego em seus eis de Economics, 1985. CALVO, A. Staggered prices
equilíbrio com pleno emego. Os novos- in a utility-maximizing framework. Journal of
Monetary Economics, n.12, p.383-398, 1983.
-keynesianos substituíram a hipótese de
market clearing pela de market failures,
com mercados incompletos, trabalho
heterogêneo, assimetria de informação e
firmas pricemakers. Como resultado de
curto prazo aceita-se não neutralidade
da moeda, no entanto, a maioria dos au-
tores NK aceita o resultado neoclássico
ou novo-clássico no longo prazo.
A essência teórica da crítica Novo-
-Clássica se refere ao caráter ad hoc das
hipóteses assumidas pelos modelos de
tradição keynesiana – compreendendo
inclusive os monetaristas – devido à au-
sência de microfundamentos robustos,
os quais inviabilizariam a ponte meto-
dológica entre os enfoques micro e ma-
croeconômico.
Este ponto também não é totalmente
consensual. Um grupo diminuto de au-
tores dessa corrente, dentre eles Stiglitz,
argumenta que a flexibilidade poderia ser
desestabilizadora.
NAIRU (non-accelerating inflation
rate of unemployment) é utilizada pe-
los novos-keynesianos ao invés da taxa
natural de desemprego de Friedman. A
NAIRU seria uma taxa de desemprego
Abordagem
Sraffiana
Carlos Pinkusfeld Bastos*
ESCOLAS da
MACROECONOMIA
Em março de 2014 o Jornal dos Economistas (Órgão Ofi-
cial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ) iniciou a publicação men-
sal de uma série de 12 artigos sobre escolas do pensamento
econômico, mais especificamente sobre Escolas da Macroe-
conomia. Esse projeto institucional do Corecon-RJ e do Sin-
decon-RJ contou com a colaboração de 12 economistas de
diferentes estados.
Com a conclusão desse projeto, o Corecon-RJ e o Sinde-
con-RJ fornecem mais um serviço de utilidade pública para
estudantes e profissionais na área de Economia no Brasil e,
principalmente, no Rio de Janeiro.
ISBN 978-85-68878-19-4
9 788568 878194