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A CONCEPÇÃO POSITIVISTA DE CIÊNCIA: DO CÍRCULO DE VIENA À

POPPER

Diego Lopes1
1-INTRODUÇÃO

O Papper aqui escrito, tem como objeto principal, procurar apresentar a maneira
pela qual, durante o século XX, duas grandes noções de ciência procuram responder aos
problemas da demarcação da ciência e do método científico a ser utilizado. À estas duas
noções, me refiro ao Positivismo lógico do Círculo de Viena como sua vasta gama de
autores e à Karl Popper. Para tal, procurarei apresentar na primeira parte do papper as
principais ideias propostas pelo Círculo de Viena, bem como o modelo proposto pelo
mesmo. Na segunda parte, pontuarei os ideais de Popper, seu método e sua crítica ao
ideal positivista do círculo de Viena, buscando opor ambas as noções de ciência e
também identificar suas semelhanças.

2-A CIÊNCIA POSITIVISTA DO CÍRCULO DE VIENA

O projeto positivista surge no início da década de 1920, sendo proposto e


estruturado por um grupo de cientistas das mais diversas áreas, indo desde físicos e
matemáticos até economistas e filósofos, que se reuniram na Universidade de Viena
para construir este projeto audacioso. O objetivo base do pensamento do projeto
positivista, era o de estabelecer uma ciência unificada, colocando as diversas áreas de
“produção cientifica do conhecimento” todas em uma unidade.
Para tal feito, o positivismo lógico busca primeiro definir um critério de
demarcação para aquilo que deve ser considerado cientifico, se pautando principalmente
na lógica e nos fatos empíricos. O critério para esta demarcação é definido como a
verificabilidade, ou seja, a possibilidade de verificar fatos de maneira empírica. Em
outras palavras, o positivismo lógico tem em sua noção, a ideia que o objeto da ciência,
é um composto de elementos que possam ser verificados empiricamente, capturados
pela experiência sensível e que seja sujeito a análise do método lógico.
O positivismo lógico procura estabelecer que todo enunciado científico se
identifica dentro de uma mesma concepção de ciência e realidade. A partir disto, a ideia

1
Graduando do curso de Filosofia do departamento de Filosofia (DEFIL) da Universidade Estadual do
Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO).
de unificar as ciências através de uma linguagem (principal objeto da lógica), é um
outro parecer do projeto positivista. A linguagem lógica é escolhida e dada para que as
ciências possam utiliza-las. Se determinada ciência consegue expressar-se através dos
símbolos dados pela lógica e suas regras, bem como também se relaciona através deles,
o conhecimento produzido por esta ciência passa a ser efetivamente cientifico para os
membros do círculo de Viena.
Assim, o positivismo encontra a necessidade de realizar uma cisão de
conhecimentos, ou seja, ele procura realizar uma drástica oposição à metafísica. Para o
positivismo apenas o dado é real. Apenas aquilo que é passível de interferência,
experiência e trabalho empiricamente é real. O dado para o positivismo é a base para o
conhecimento cientifico, sem o dado não há ciência. Neste sentido não existe ente
transcendental, pois toda e qualquer relação com dado se dá de três maneiras: Pressupõe
alguém que se dá, alguém a quem se dá e a coisa que é dada. Não há relação fora da
empiria e apenas ela pode dar um conhecimento que seja passível de ser verdadeiro ou
falso. Segundo o movimento, as proposições metafisicas pressupõem entes que por
estarem em um mundo externo, não conseguimos os observa-los ou experimenta-los e
quando algo assim acontece, não existe a possibilidade de realizar uma proposição
verdadeira ou falsa, não há critério de verificação.
Segundo Cavalcanti, as proposições definidas pelo positivismo eram três: as
proposições analíticas, sintéticas e metafisicas. Para o Positivismo as duas primeiras
possuem valor empírico e validade logica. Esta distinção também revela um outro
caracter de oposição do Positivismo aos ideais metafisico: A não aceitação do mundo
externo. Algo é verdadeiro quando existe uma correspondência. Entretanto, quando
buscamos uma proposição que pressupõe um mundo exterior cuja verificação não é
possível, estas proposições não contem valor, assim como este mundo externo é dado
apenas como uma pressuposição sem valor sensível.

“O positivismo lógico reconhecia três tipos de proposições: analíticas,


sintéticas e metafísicas (..) De acordo com o critério de cientificidade lógico-
positivista, apenas as proposições que possuíssem significado cognitivo
seriam consideradas científicas, enquanto as proposições sem significado
cognitivo seriam ditas não científicas. Como somente às proposições
analíticas e sintéticas era atribuído significado cognitivo, enquanto as
proposições metafísicas eram consideradas sem significado cognitivo, apenas
as primeiras poderiam ser consideradas científicas à luz do projeto lógico-
positivista “ (Cavalcante, p. 266)
Para o positivismo, a noção de regularidade de dados é um fator importante para
a compreensão da existência de algo no mundo. Com esta regularidade também é
possível realizar a verificação de determinada experiência e inferido valor de verdade
sobre determinada causa. Isto revela o caráter indutivista do ideal do círculo de Viena,
defensores da observação do fenômeno repetidamente para compreensão do mesmo.

3- A CIÊNCIA FALSEACIONISTA DE POPPER

Para Popper, o último item citado na parte anterior, é um dos maiores erros
epistêmicos propostos pelos membros do Círculo de Viena. O filósofo define como
“Indutivismo ingênuo” a maneira como o Positivismo formula as bases epistêmicas para
seu método cientifico. Esse Indutivismo ingênuo pressupõe universalização e
generalização, o que torna a teoria fraca não detentora de um poder de explicação
quando encontrado erros nesta universalização. O exemplo clássico é o dos cisnes: Um
positivista encontra um cisne, dois, três e assim consequentemente ele encontra quarenta
cisnes. O cientista positivista verifica que todos os 40 cisnes eram brancos, ele observa
que nenhum deles foge a uma regra de cor aos cisnes, logo pela generalização e pela
universalização ele conclui que todos os cisnes são brancos. Não prevendo que possa
ocorrer de uma espécie de cisne ser negro. Portanto, está generalização para Popper
afasta a universalidade do objeto em estudo, ela não consegue sustentar um
conhecimento realmente confiável sobre o objeto em questão.
Assim, Popper busca mostrar que, a ciência baseada somente na observação
empírica, não consegue abarcar e dar conta da multiplicidade dos fenômenos, também
por que o método positivista não apresenta os critérios para a generalização. Popper,
defende uma impossibilidade de conhecer empiricamente uma teoria cientifica,
principalmente as leis cientificas universais tal como o ideal positivista propunha. Dessa
forma, busca resolver um problema da demarcação entre a ciência e metafisica, tal
como aponta Rezende.

“Por outro lado, Popper defende que as teorias nunca podem ser
empiricamente verificáveis (POPPER, 1975, p.41-42). Com essa assertiva, o
filósofo contorna o paradoxo que identificou nas ideias dos positivistas
lógicos, pois se a tese desses últimos for aceita, a saber, que o critério de
demarcação entre ciência e metafísica consiste no método de verificação, as
leis científicas universais, apesar de extremamente importantes para o
desenvolvimento da ciência, seriam excluídas do escopo das proposições
científicas, por não serem passíveis de verificação. ” (Rezende, p. 13)
Neste sentido o que Popper apresenta é uma outra utilização da experiência, não
mais como a generalização, usada para estabelecer a verificação. O ponto de partida é o
de que não partimos da experiência para apresentar e desenvolver teorias. Lançamos
teorias como hipóteses, simplesmente as colocamos em jogo e procuramos evidencia-
las, de uma maneira a adequar a realidade à hipótese colocada em jogo. A resposta de
Popper ao problema da verificação e demarcação é dado enquanto a sua proposta de
método Falseacionista.
O método dado por Popper procura dar um outro enfoque para esse dado da
experiência, um foco de não realizar uma verificação dos dados, mas sim de uma
falsificação de uma teoria. O dado empírico é utilizado para contribuição na teoria. O
exemplo da generalização é usado como o inverso na teoria de Popper. Não se busca
generalizar os dados como o exemplo dos cisnes, o que se busca no método
falseacionista é falsificar a teoria. A busca passa a ser não mais tentar encontrar
elementos que corroborem com a teoria, ou seja, não buscamos mais encontrar cisnes
brancos para provar que realmente os cisnes são brancos. O que buscamos na teoria
falseacionista é encontrar o elemento que derrube a teoria. Este elemento deve ser
empírico, ou seja, no exemplo anterior, procuramos algum cisne que não seja branco,
um cisne negro. Se não o encontramos, a teoria vai se mantendo, vai se provando
competente. Se encontramos, a teoria deve ser reformulada de tal maneira a incorporar
este elemento ou será abandonada.
Partindo desta falseabilidade como critério para demarcação, uma teoria é
cientifica segundo o método Popperiano, se ela for passível de falsificação, se for
possível refuta-la. A busca pela comprovação segue um caminho inverso, um caminho
negativo que busca a refutação da teoria cientifica. Esta é a tarefa principal do cientista
segundo o autor, ele não deve buscar comprovar com sua generalização de casos a
teoria e sim procurar refuta-la. É, portanto, um exame de aproximação da verdade. A
ciência jamais encontrará verdades absolutas e sim verdades aproximadamente
verdadeiras.
O critério de falseabilidade pretende realizar um recuo da ciência à
probabilidade. Esta maneira de organizar dados e a partir deles, realizar as predições é
que Popper apresenta como a ferramenta contra a generalização. Para tal aplicação, as
predições serão como ditas anteriormente, aproximadamente verdadeiras, elas
conseguiram dar dados que através de uma probabilidade, consiga explicar os
fenômenos e dar conta dos problemas propostos segundo as teorias. Não será um dado
experiencial dizendo se é verdadeiro ou não que todos os cisnes são brancos. É a
utilização dos dados empíricos de que uma determinada porcentagem de ocorrências
demonstra apenas cisnes brancos, ou se, como no exemplo foi encontrado um
determinado cisne que contradiz esta primeira predição, ou seja, que todos os cisnes são
brancos, este elemento é incorporado nesta probabilidade. Desta forma, os testes, ou
seja, tudo aquilo que incorpora os dados, são os critérios para corroboração ou refutação
de uma teoria. A este método de utilização da probabilidade e da falseação teórica,
Popper chama de Hipotético Dedutivo, contrapondo o método indutivista do Círculo de
Viena.
Popper defende que, quanto maior for o potencial de falseabilidade, ou seja,
quanto mais falseável for determinada teoria, melhor ela será, pois, o critério de
verificabilidade estará mais propenso e palpável. Neste quesito, o filosofo consegue dar
conta dos problemas de demarcação positivistas, principalmente na questão do
conhecimento metafisico. A proposição “É cientifico se e somente se for passível de
falseabilidade” exclui as proposições metafisicas, levando em conta que, não possuo
meios para falsear que Deus existe ou que a Justiça é verdadeira, possuindo uma leve
semelhança com o ideal positivista.
Por fim apresento a concepção de progresso na ciência para Popper. À defino
como nas palavras de Rezende

“Popper propõe dois critérios racionais para o progresso na ciência.


Primeiramente, o autor estabelece que uma teoria seja considerada como um
passo adiante em relação às outras se essa nova teoria conflitar com a sua
antecessora, ou seja, se apresentar alguns resultados contraditórios. Isso
significa que a nova teoria deve contradizer a sua predecessora, derrotá-la
nesse sentido. Sob essa perspectiva, o progresso na ciência é sempre
revolucionário. Não obstante, o progresso na ciência também é, em certa
medida, conservador, pois mesmo sendo revolucionária, a nova teoria sempre
deve ser capaz de explicar, completamente, o sucesso de sua antecessora. ”
(Rezende, p. 17)

Defendo o termo progressista para caracterizar o progresso cientifico


Popperiano. Para o autor sim existe um progresso na ciência e seu desenvolvimento é
dependente de um critério de qualidade do progresso. Há progresso cientifico
acumulativo toda vez que a teoria que está em vigor, conseguir refutar e derrotar a
anterior de maneira a contradize-la (mostrar o quão falsa esta era). Este progresso é
passível de avaliação racional por meio dos indivíduos, na medida em que só se
estabelece se, por meio de critérios lógicos conseguimos atribuir à nova teoria,
candidata ao “cargo”, testes e um grau de poder explicativo e progressivo quanto à
anterior. Novamente, Popper não representa uma cisão tão grande com o ideal
positivista, mantendo aqui, a necessidade e a importância dos critérios lógicos como
guias da ciência.

REFERÊNCIAS
CAVALCANTE, C. M. Filosofia da ciência e metodologia econômica: do positivismo lógico
ao realismo crítico. In: Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 4, v. 1, n. 2, p. 263-300, jul.-dez.
2015.

POPPER, K. R. A lógica da pesquisa Científica. Trad. Leonidas Hegenberg. São Paulo. Cultrix,
1995.

REZENDE, E. P. Noção de progresso na ciência em Karl Popper. In: Pólemos, Brasília, vol. 2,
n. 4, dezembro de 2013. Pp. 9-20

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