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Wundt e a consciência

Wilhelm Wundt, nasceu em 1832, na Alemanha. Aos 19 anos, entra na


universidade, tendo-se formado em Medicina na Universidade de Heidelberg. No
decorrer do curso compreende que o seu interesse não é propriamente a
medicina e especializa-se em fisiologia.

Entre 1858 e 1862, publica a obra Contributos para uma Teorias das Percepções
Sensoriais, onde usa pela primeira vez a designação de «psicologia
experimental».

Tomando como modelo as ciências experimentais, como a física e a química,


propõe-se constituir a psicologia como uma nova área da ciência objectiva e
experimental. Neste sentido, fundou em Leipzing um laboratório, que designa
por Instituto de Psicologia Experimental, em 1879, procurando seguir o modelo
dos laboratórios de outras ciências, designadamente as técnicas utilizadas pelos
fisiologistas.

Organiza as suas aulas numa obra, que publica em 1874, Princípios de Psicologia
Fisiológica, considerada por muitos a sua obra fundamental, dado que é nela que
estabelece os princípios da psicologia como ciência experimental independente.
rientou a sua escrita para várias áreas: ética, lógica e filosofia sistemática.
Durante 10 anos, dedicou-se a uma área da psicologia de que é também o
primeiro investigador sistemático: a psicologia cultural. Numa obra monumental,
constituída por 10 volumes – Psicologia Cultural -, abordou o desenvolvimento
do pensamento humano manifestado na linguagem, nos mitos, nas artes, nos
costumes, nas leis, na moral. Defendeu uma concepção, ainda hoje vigente,
segundo a qual o desenvolvimento dos processos cognitivos está muito
influenciado pelas condicionantes sociais.

A consciência
O objectivo do estudo de Wundt era:

. Consciência;

. Os processos mentais;

Partilhava a convicção de que a consciência era constituída por várias partes


distintas e que se deveria recorrer à análise dos elementos mais simples. Para
ele, “a primeira etapa da investigação de um facto deve ser uma
descrição dos elementos individuais (…) dos quais consiste”. Para Wundt,
os elementos da consciência não eram estáticos: a consciência tinha um papel
activo na organização do seu próprio conteúdo.

O autor considerava que era compatível o reconhecimento dos elementos


simples da consciência e a afirmação de que a mente consciente tem capacidade
para proceder a uma síntese desses elementos em processos cognitivos de nível
mais elevado.

As sensações e os sentimentos

Os elementos simples constitutivos da consciência eram as sensações e os


sentimentos. As sensações ocorrem sempre que um órgão dos sentidos é
estimulado e esta informação é enviada ao cérebro. Seria possível estudar-se de
forma rigorosa a sensação estabelecendo a sua intensidade, modalidade do
sentido (visual, auditivo, etc.) e a sua duração.

O sentimento é a componente subjectiva da sensação; são as qualidades que


acompanham as sensações e que não fazem parte do estímulo. Assim, uma
sensação pode ser acompanhada de um sentimento de prazer/desprazer, de
excitação/depressão e de relaxamento/tensão.

E de notar que o sentimento subjectivo acontece ao mesmo tempo que as


sensações físicas provocadas pelos estímulos físicos sonoros. A emoção seria
constituída por um conjunto complexo de sentimentos.

Todos os processos psicológicos podem, segundo Wundt, ser descritos como


passagens de elementos mais simples aos mais complexos: é um processo
progressivo de complexidade em que, partindo de elementos simples como as
sensações, a consciência, no seu processo criativo de organização – produzir
ideias.

Exemplo: quando percepcionamos uma casa apercebemo-la como uma


unidade, um todo, e não como uma somo de elementos que podem ser
estudados num laboratório.

Para explicar esta experiência consciente unificada, Wundt recorre ao conceito


de apercepção: processo de organização dos elementos mentais que formam
uma unidade, uma síntese criativa. Esta unidade não é a soma dos elementos
constitutivos, mas uma combinação que gera novas propriedades e
características. Wundt afirma: “todo o composto psíquico é dotado de
características que e modo algum consistem na mera soma das características
das partes”.
Metodologia de investigação

Para conhecer os elementos constitutivos da consciência, Wundt utiliza como


método a introspecção controlada: só o sujeito que vive a experiência é que
pode descrevê-la, fazendo a auto-análise dos seus estados psicológicos em
condições experimentais.

Wundt definia as condições experimentais em que decorria a descrição das


experiências interiores, dos estados subjectivos provocados pelos estímulos que
poderiam ser visuais, auditivos ou tácteis. Os observadores treinadores eram
alunos ou psicólogos que trabalhavam com o autor, que exigia um grande rigor
nas descrições, que seriam quantificadas. Antes de se submeterem À
introspecção controlada, isto é, experimental, teriam de ter feito cerca de 10
000 auto-análises individuais.

Assim, a introspecção era uma percepção interna que dava a possibilidade de


aceder aos elementos básicos para se conhecer a consciência. Que é o objecto
da psicologia. As outras ciências recorriam à percepção externa para obterem
dados sobre o seu objecto de estudo, que é a realidade. O objecto da
introspecção é o próprio sujeito, enquanto o objecto das observações que se
fazem nas outras ciências é o real exterior ao sujeito.

Contudo, a introspecção controlada só dava a conhecer os elementos básicos da


consciência, as sensações e as percepções; os processos mentais complexos,
não poderiam ser estudados experimentalmente, tendo de se recorrer a
metodologias qualitativas.

Wundt demarcou-se do pensamento da época procurando autonomizar a


psicologia da filosofia. Nesse sentido, definiu um objecto (a consciência) e um
método de investigação (introspecção controlada) com a finalidade de dar um
estatuto de ciência à psicologia. Procurou desenvolver uma teoria sobre o mundo
interno a sua fundamentação nas investigações das neurociências
contemporâneas.

Freud e o inconsciente
Freud nasceu na Morávia. Formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em
1881, e desenvolveu e desenvolveu trabalhos experimentais em biologia e
fisiologia. Paralelamente interessava-se pelos clássicos gregos e latinos e pela
literatura europeia.

Durante cerca de um ano (1885-1886) estudou em Paris, com o professor Jean


Charcot, que recorria à hipnose para tratar a histeria. Na época dominava a
convicção de que a histeria era uma perturbação exclusivamente feminina.
Manifestava-se por um conjunto de sintomas orgânicos, como paralisias,
desmaios, perdas de memória, da fala, cegueira, etc., mas que não tinham
origem no sistema nervosa. São as experiências com Charcot que levam Freud a
pôr a hipótese da existência do inconsciente, isto é, de uma instância do
psiquismo que se desconhece.

Esta hipótese é aprofundada com o trabalho que vai desenvolver com Breur, que
recorria à hipnose como terapia para os sintomas histéricos. Os dois consideram
que a causa das perturbações teria de ser procurada no inconsciente do doente,
onde estavam retidas recordações traumáticas. O carácter penoso dessas
lembranças reprimidas impedia que se pudessem exprimir, manifestando-se em
perturbações orgânicas.

Freud abandona a actividade por considerar que a hipnose não era o melhor
método para a cura, os resultados positivos eram pouco duráveis. Sozinho, vai
desenvolver um conjunto de concepções que vão constituir uma teoria sobre o
psiquismo humano e uma técnica terapêutica: a psicanálise.

O inconsciente
A experiência com Charcot e sobretudo com Breuner leva Freud a concluir que
não é possível compreender muitos aspectos do comportamento humano,
designadamente certas patologias, se só se admitisse a existência do consciente.
A ideia de que o ser humano é racional e que através da introspecção conheceria
o fundamental de si próprio – a consciência – vai ser negada por Freud. Para se
compreender o ser humano, tem de ser admitir a existência do inconsciente, que
define como uma zona do psiquismo constituída por:

. Desejos;

. Pulsões;

. Tendências;

. Recordações recalcadas; fundamentalmente do carácter sexual.

. Concepção do psiquismo

Freud apresenta em dois momentos duas interpretações do psiquismo da mente


humana:

. A primeira tópica;

. A segunda tópica;
Na primeira tópica recorre à imagem do icebergue: o consciente corresponde à
parte visível, enquanto o inconsciente corresponde à parte invisível, submersa,
do icebergue. O inconsciente é uma zona do psiquismo muito maior por
comparação com o consciente e exerce uma forte influência no comportamento.
Ao consciente, constituído por imagens, ideias, recordações, pensamentos, é
possível aceder através da auto-análise, tendem a tornar-se conscientes. O
recalcamento é um mecanismo de defesa que desenvolve ao inconsciente os
materiais que procuram tornar-se consciente.

Icebergue

Consciente (parte visível) Inconsciente (parte submersa)

. Raciocínio . Memória

. Percepções . Fantasias

. Pensamentos . Lembranças

. Recalcamentos

. Desejos

. Pulsões agressivas

. Pulsões inatas

. Medos

A partir de 1920, apresenta a segunda tópica sobre a estruturação do psiquismo,


que é constituído por três instâncias:

. Id;

. Ego;

. Superego;

O Id é a zona inconsciente, primitiva, instintiva, a partir da qual se formam o


ego e o superego. Existe desde o nascimento e é constituído por pulsões,
instintivos e desejos completamente desconhecidos. «O id desconhece o
julgamento de valores, o bem e o mal, a moralidade». Rege-se pelo princípio do
prazer, que tem como objectivo a realização, a satisfação imediata dos desejos e
pulsões. Grande parte destes desejos é de natureza sexual. O id é o reservatório
da libido, energia das pulsões sexuais.

O ego é a zona fundamentalmente consciente, que se forma a partir do id. Rege-


se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos e decidindo
quais os desejos e impulsos do id que podem ser realizados. É o mediador entre
as pulsões inconscientes e as exigências, do mundo real. Forma-se durante o
primeiro ano de vida.

O superego é a zona do psiquismo que corresponde À interiorização das normas.


Resulta do processo de socialização, da interiorização de modelos como os pais,
professores e outros adultos. É a componente ética e moral do psiquismo.
Pressiona o ego para controlar o id. Forma-se entre os 3 e os 5 anos.

Sexualidade

Freud conclui que muitos dos sintomas por eles apresentados eram
manifestações de conflitos psíquicos relacionados com a sexualidade, sujeita à
repressão. Muitos desses conflitos remetiam para experiências traumáticas
vividas na infância e recalcadas no inconsciente. O reconhecimento da
importância da sexualidade na vida psíquica humana e a afirmação da existência
de uma sexualidade infantil vão provocar um enorme escândalo. Freud esclarece
que a sexualidade não pode ser associada à genitalidade, antes corresponde ao
prazer que tem origem no corpo e que suprime a tensão.

Para o fundador da psicanálise, o desenvolvimento da personalidade processa-se


numa sequência de estágios psicossexuais.

A cada estágio psicossexual corresponde uma determinada zona erógena. Aos


diferentes estágios do desenvolvimento correspondem conflitos psicossexuais
específicos.

. Estágio oral;

. Estágio anal;

. Estágio fálico;

. Estágio de latência;

. Estágio genital;

Estágio oral – decorre do nascimento até cerca dos 12/18 meses. A zona
erógena é a boca: o bebé obtém o prazer ao mamar, ao levar objectos à boca,
bem como através de estimulações corporais. O desmame corresponde a um dos
primeiros conflitos vividos. É neste estágio que o ego de forma.

Estágio anal – decorre dos 12/18 meses aos 2/3 anos, e a zona erógena é a
região anal. A criança obtém prazer pela estimulação do ânus e expulsar as
fezes. É nesta fase que se faz a educação para a higiene, relativamente À qual a
criança ou cede ou se opõe ao cumprimento das regras.
Estádio fálico – decorre dos 3 aos 5/6 anos. a zona erógena é a região genital:
os órgãos sexuais são estimulados pela criança, que assim obtém prazer. A
curiosidade sobre as diferenças sexuais é grande. É neste estágio que surge o
complexo de Édipo, que consiste na atracção da criança pelo progenitor do sexo
oposto e agressividade para com o progenitor do mesmo sexo. É com este, que
surge como modelo, que ela se vai identificar. A identificação leva a criança a
adoptar os seus comportamentos, valores e atitudes. É a sua interiorização que
conduz À formação do superego. É através do processo de identificação que se
supera o complexo de Édipo.

Estágio de latência – decorre dos 5/6 anos até à puberdade. Este período é
caracterizado por uma aparente atenuante da actividade sexual. Ocorria a
amnésia infantil: a criança reprime no inconsciente as experiências que a
perturbam no estágio fálico. A criança investe a sua energia nas actividades
escolares.

Estádio genital – a partir da puberdade. Há uma activação da sexualidade que


esteve latente no período anterior. É neste estádio que há uma reactivação do
complexo de Édipo. O processo de autonomia relativamente aos pais passa por
os encarar de forma mais realista (luto das imagens idealizadas dos pais que
caracterizam os estádios anteriores). O prazer sexual envolve todo o corpo,
integrando todas as zonas erógenas.

Metodologia de investigação

Freud considera a necessidade de constituir um método próprio. Aplica o método


clínico adaptando um conjunto de técnicas que permitiriam trazer ao consciente
as causas não conhecidas dos pacientes. O psicanalista, na sua prática
terapêutica, recorre a alguns procedimentos ou técnicas próprias:

. Associações livres;

. Interpretação de sonhos;

. Análise da transferência;

. Análise dos actos falhados;

Associações livres – o psicanalista pede ao analisando que diga tudo o que


sente e pensa. É no decorrer deste procedimento que se manifestam
resistências, desejos, recordações e recalcamentos inconscientes que o analista
procurará identificar e interpretar.
Interpretação dos sonhos – o psicanalista pede ao analisando que lhe relate
os sonhos. Segundo Freud, o sonho seria a realização simbólica de desejos
recalcados. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o
que e consciente) e o conteúdo latente (os desejos, medos, recalcamentos que
estão subjacentes)

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