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TV Globo

celebridade ZZZ

Multitalentosa,
ela canta, dança e
atua, arrancando
gargalhadas
do público que
acompanha o
remake de Ti-ti-ti

Simplesmente
Claudia Raia POR PIERO VERGÍLIO

Jaqueline Maldonado, de
“Ti-ti-ti”, já entrou para
a galeria de personagens
inesquecíveis interpretados
por Claudia Raia

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ue Jaqueline Maldonado é mais um dos tipos


memoráveis já interpretados por Claudia Raia,
ninguém duvida. Deliciosamente doida, alta-
mente surtada e excessivamente extravagante, a
personagem caiu nas graças dos telespectadores
com suas tiradas divertidas – e quase nunca poli-
ticamente corretas – ditas sem qualquer pudor. Em
mais de 25 anos de carreira, essa campineira, neta
de uma dançarina e filha de uma professora de balé
clássico, transformou-se numa das profissionais mais
respeitadas e queridas pelo público.
No remake de “Ti-ti-ti”, ela ganhou a opor-
tunidade de dar vida a alguém “que tem a sua
cara”: segundo Claudia, o papel deveria ser necessariamente
interpretado por uma atriz “superlativa”, ou seja, grandona e
exuberante. Sempre que pode, faz questão de reafirmar que
este foi um presente de Deus: embora tenha nascido com
um “chip da alegria”, a atriz confessa que a energia de
Jaqueline a revigora.
Para alcançar o desprendimento que o papel pede, e com
isso garantir a diversão de milhões de pessoas todas as noites,
não é preciso muito esforço. Isso porque, no estúdio, Claudia
se vê cercada por velhos amigos e parceiros de cena, como,
Claudia é uma das atrizes mais queridas
por exemplo, Alexandre Borges – que já foi seu par romântico do grande público, tanto que sua
em outras seis produções, sendo a primeira delas a minissérie personagem na novela das sete é um dos
“Engraçadinha” (1995) – Murilo Benício, Marcos Frota, além, maiores sucessos da trama
é claro, do diretor geral Jorge Fernando.
Destaca-se, além do ambiente favorável, o texto primo-
roso de Maria Adelaide Amaral, que conta com a ajuda ou,
melhor dizendo, a inspiração de Vincent Villari, responsável Da comédia ao drama
por criar o arsenal de frases tão peculiares. Antes de ser Outro fator se revela crucial para a repercussão deste
transformada em uma perua “tarja preta”, segundo palavras trabalho: a facilidade de Claudia em fazer rir. Na televisão,
do jovem colaborador – que começou a trabalhar com a au- alguns de seus papéis mais marcantes possuíam um viés
tora aos 18 anos, na novela “Anjo Mau” (1997) – Jaqueline cômico bastante acentuado, como é o caso de Tancinha, um
quase foi cortada do remake, mas juntos, eles optaram por dos grandes destaques da novela “Sassaricando” (1987). Ao
desconstruir a personagem interpretada por Sandra Bréa em lado da mãe e das irmãs, a personagem vendia frutas na feira:
1985, que era bastante contida e agora tem uma personali- ao anunciar os melões, balançava-os junto aos seios, fazendo
dade excêntrica. muito sucesso.
Essa mudança também se refletiu no figurino, que não é Com sotaque paulistano exagerado, o bordão “me tô
nem um pouco óbvio. “Ela só veste o que gosta e acredita: divididinha”, usado quando ela tinha dificuldade em escolher
coloca um casaco de mink roxo com uma cruz de roqueira, entre o publicitário Beto (Marcos Frota) e o musculoso Apolo
meio heavy metal, com uma bota de brechó, que você (Alexandre Frota), fez grande sucesso na época. Para poder
olha e pensa: Será que isso vai dar certo? E fica incrível!”, brincar com as palavras, Claudia conta que fez aulas de pro-
conta a intérprete. sódia. Mesmo assim, não escapou das críticas. “Eu e o Silvio
Todos esses elementos ajudam a caracterizar essa “nova” de Abreu (autor) fomos malhadíssimos no início da trama pelo
personagem – que, da primeira versão só herdou o nome e a sotaque, mas ele me disse: ‘não mude uma vírgula’”, relem-
paixão por Jacques Leclair – e frequentemente presenteia o brou, em depoimento ao projeto “Memória Globo”, mantido
público com pérolas como: “Olha, a empregada querendo ter pela emissora.
fala! Você está pensando o quê, querida? Isso aqui não é nove- A parceria com o autor se repetiria por várias outras vezes,
la do Manoel Carlos não!”. Há ainda conselhos que certamen- rendendo-lhe, inclusive, sua primeira protagonista, a trambi-
te não figurariam em livros de auto-ajuda: “Crianças, o álcool queira Maria Escandalosa, de “Deus nos Acuda” (1992), filha
é o pior inimigo do homem. Mas um homem que foge dos seus do também trapaceiro Tomás Euclides (Jorge Dória). Ao mes-
inimigos é um covarde”, filosofa. mo projeto, a atriz divertiu-se ao contar que teve dificuldades
Fica fácil de perceber, portanto, que – assim como a sua para aprender a andar de bicicleta. “Foi um caos, porque eu
intérprete – Jaqueline não é o tipo de pessoa que se entrega dava duas pedaladas e caía. Eu, bailarina, não tinha equilí-
ao sofrimento. Diante de um problema, ela vai à vida, com brio. A ideia era que eu fosse aquela cambalacheira do cais do
a cabeça erguida e a dor guardada atrás dos óculos escuros. porto, que andasse de bicicleta com cabelos esvoaçantes e as
Claudia a define como uma doida divertida. “Ela possui um pernonas aparecendo”.
raciocínio próprio; é divertida e, ao mesmo tempo, complexa. Mas, ao longo da carreira, a atriz já teve a oportunidade
Tem uma energia adolescente, de moleca, mas também é de de interpretar mulheres mais densas, provando que também
uma solidão horrorosa, que chega a ser meio patética”, sinteti- é capaz de fazer drama. Foi assim com a espanhola Hortên-
za a atriz. Natural, para alguém que foi esquecida pela própria cia de “Terra Nostra” (1999) e, mais recentemente, Dona-
mãe em Woodstock... tela Fontini, a mocinha de “A Favorita” (2008), vítima das

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Claudia com os colegas de elenco, Alexandre


Borges, Malu Mader e Murilo Benício Claudia e a colega Fernanda Souza, que
interpreta sua filha em “Ti-ti-ti”

armações de Flora, a vilã com cara de anjo – que roubou a cena pelas
mãos da igualmente talentosa Patrícia Pilar. Neste trabalho, Claudia
contracenou pela primeira vez com Murilo Benício.
CurtaZZZ de Claudia Raia
Na época da exibição da novela, o crítico de TV José Armando • Aos 17 anos, Claudia Raia foi a primeira menina a se inscrever
Vannucci analisou o desempenho da veterana em seu blog. “Não num teste para a peça “Chorus Line”, produzida por Walter Clark.
tenho medo de afirmar que ‘A Favorita’ será uma grande marca na Disputando com outras 2 mil candidatas, ela ganhou o papel
carreira de Claudia Raia, porque quando há entrega de uma atriz ao de substituta para interpretar a personagem Sheila, uma atriz
personagem a verdade de uma história criada para brilhar na tela decadente da Broadway, 18 anos mais velha que ela
da TV transforma-se em algo real e capaz de entrar na memória do • Surpreso com a performance de Claudia, o ator Jorge Dória
público: ela não mediu esforços físicos para mostrar a todos a queda indicou o espetáculo ao diretor Cecil Thiré, que na época co-
de uma mulher que vivia bem com sua família”, elogiou. mandava o humorístico “Viva o Gordo”, que marcou a estreia
da garota na televisão. Em 1992, Dória seria seu pai em “Deus
Atriz de vários palcos nos Acuda”
Claudia Raia também tem uma reconhecida e extensa trajetória • Na mesma trama, seu par romântico foi Edson Celulari, com
teatral. Participou da peça “Splish Splash”, produziu “A Pequena Loja quem foi casada por mais de 15 anos e nutre um grande
dos Horrores”, além dos musicais “Não fuja da Raia” – em que ela respeito. Antes de “Deus nos Acuda”, o autor Silvio de Abreu
trocava de roupa mais de 20 vezes – e “Nas Raias da Loucura”, que havia tentado juntá-los como casal (na ficção) em outras três
posteriormente, foram fundidos para ganhar uma versão televisiva, com novelas
direção de Jorge Fernando e coreografias de sua irmã, Olenka Raia.
• Depois de interpretar sua primeira personagem em novelas, a
Ninom, de Roque Santeiro (1985), ela ganhou o prêmio de atriz
Em 2000, esteve em cartaz com “Cinco Vezes Comédia”, com
revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA)
textos escritos por Mauro Rasi, Miguel Falabella e Patricya Travas-
• Em 1988, fez parte do elenco da TV Pirata. No humorístico,
sos. No ano seguinte, esteve na montagem de “O Beijo da Mulher
encarnou tipos como a presidiária Tonhão, dividindo a cena com
Aranha”, desta vez tendo Falabella como seu companheiro de cena. Débora Bloch, Diogo Vilella, Guilherme Karam, Louise Cardoso,
A atriz prepara sua volta ao teatro, com o musical “Cabaret” – que Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca e Regina
deve estrear em agosto de 2011 – depois da bem sucedida temporada Casé
de “Pernas pro Ar”, que, antes da estreia de “Ti-ti-ti”, passou por • Em 1989, Claudia Raia e César Filho assumiram a apresentação
diversas capitais. do programa Globo de Ouro, que levava ao ar as músicas da
O argumento central girava em torno de uma pacata dona de parada de sucessos da semana. No ano seguinte, a atriz teve
casa, que leva uma vida bastante tranquila até o dia em que suas per- que engordar alguns quilos para compor a personagem Adriana,
nas se revoltam e decidem viver novas aventuras, por conta própria. a bailarina fora de forma e desastrada da novela Rainha da
A partir desse fato um tanto inusitado, a personagem descobre novos Sucata
prazeres, e o mais importante, passa a conhecer melhor a si mesma. • Na versão televisiva de “Não fuja da Raia”, a parte ficcional
Enquanto isso acontece, o público é presenteado com sequências hi- era representada no quadro “A teletonta”. Com histórias curtas
lárias, com destaque para os momentos em que a protagonista decide que contavam com a participação de diversos atores, Cláudia
buscar ajuda em diferentes religiões. interpretava Lilica, uma balconista de loja de eletrodomésticos
Além dos palcos, Claudia também já pode ser vista na telona. viciada em telenovelas
No cinema, a atriz participou de “Quarup” (1989), de Ruy Guerra, • Na composição de sua personagem em “A Favorita”, Claudia
“Boca de Ouro” (1989), de Walter Avancini – que lhe rendeu o prêmio Raia contou com a ajuda do ator Cacá Carvalho e da atriz e
de melhor atriz da Associação de Críticos de São Paulo –, e “Matou instrutora de dramaturgia Rosana Garcia (a primeira Narizinho
a Família e Foi ao Cinema” (1991), de Neville de Almeida. Nos anos do “Sítio do Picapau Amarelo”)
2000, atuou em “Xuxa Abracadabra” (2003) e, mais recentemente • A repercussão de Jaqueline dançando “Ilariê” nos capítulos
em “Os Normais 2: A noite mais maluca de todas”. iniciais de “Ti-ti-ti” – “é a música da minha vida”, disse, em um
Mesmo com tantos compromissos, Claudia não esconde o orgulho de seus primeiros ataques de histeria – foi tão grande que o hit
dos filhos, Enzo e Sofia. Aos 13 anos, o primogênito é baterista e voca- de Xuxa acabou se tornando uma espécie de marca registrada
lista da banda Olly. A canção Patricinha, de autoria do menino, está na da personagem
trilha de “Ti-ti-ti”. Com tantas habilidades – domínio de técnicas de in- • Por fim, ela acredita que o ator é um profissional camaleônico.
terpretação, canto e dança – a atriz pode até passar a impressão de que Para realizar as inúmeras mudanças de visuais, ela conta, há
é muitas mulheres em uma só. Mas ela é simplesmente Claudia Raia. 15 anos, com a consultoria do cabeleireiro Wanderley Nunes
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