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Cannes: Triangle of Sadness - Crítica do Chippu


Comédia deliciosamente desconfortável de Ruben Östlund é um espetáculo hilário de comentários sociais e piadas
indescritíveis

Guilherme Jacobs
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21 Mai, 2022 • 6 min leitura

Charlbi Dean e Harris Dickinson em Triangle of Sadness (Divulgação)

Ruben Östlund já é uma comodidade conhecida em Cannes. Vencedor do prêmio da categoria Un Certain Regard com Force Majeure e da
Palma de Ouro com The Square, o perspicaz diretor sueco retornou ao Festival este ano com o excepcionalmente divertido e comicamente
desconfortável Triangle of Sadness. O título se refere à área entre as sobrancelhas, onde o nariz termina, e ao triângulo formado nela
quando uma pessoa franze a testa. Esse é um dos motivos frívolos pelos quais Carl (Harris Dickinson) perde um trabalho como modelo
masculino, e revela os interesses do cineasta nessa nova comédia de absurdos.

Dividido em três partes, Triangle of Sadness primeiro nos apresenta ao casal de modelos Carl e Yaya (Charlbi Dean). Seu relacionamento
está passando por algumas tensões agora que a carreira dela está em rápida ascensão enquanto ele foi basicamente reduzido fotógrafo de
instagram para a namorada. Uma longa briga mostra o quão banais seus problemas são. Eles estão juntos, mas são incapazes de funcionar
como um par. Carl e Yaya se perdem em raiva por motivos fúteis e superficiais, se tornando incapazes de conversar ou expressar
sentimentos com honestidade, e se tornam os instrumentos perfeitos para Ôstlund introduzir as ideias prestes a ser exploradas com seu
olhar preciso e senso de humor fantástico. À princípio, o filme parece destinado a comentar através de piadas a falta de noção presentes em
influencers e dentro da elite da moda. Isso, porém, é apenas o começo.

O verdadeiro escopo de Triangle of Sadness (e seus verdadeiros alvos) é revelado na segunda parte, quando Carl e Yaya vão para um iate de
luxo curtir uma semana no alto mar. Lá eles encontram uma série de personagens diferentes - todos ricos e completamente fora da
realidade. Zlatko Buric interpreta um hilário russo capitalista à frente de uma família repleta de figuras (uma delas, interpretada pela fonte
de risadas chamada Sunnyi Melles faz toda a tripulação do navio passar vergonha enquanto jura estar os entretendo), Henrik Dorsin vive
Jorma, um bilionário de tecnologia incapaz de falar com mulheres com uma cara de pânico indescritível, e Vicki Berlin faz a chefe Paula,
embora não parte dos ricaços, alguém igualmente fascinada pelo dinheiro. X
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Ô l dj d i di ( i i l d id á l f b i h lh d
Ôstlund joga todos esses ingredientes (e mais, porque nem mencionamos o casal de idosos responsável por fabricar… ah, melhor guardar a
surpresa) numa panela de pressão e os deixa cozinhando até queimarem o fogão inteiro. Depois, ele tira a tampa, derrama tudo no chão e
faz sua já tradicional arte com traços de comentário social e humor afiado numa escala de precisão pouco vistas no cinema atual. Adam
McKay precisa de outro meteoro para chegar perto de Ôstlund. Revelar a sequência de espetáculos lúdicos que se apresenta neste barco
seria um crime. Podemos dizer, contudo, que o diretor torna o ambiente mais constrangedor, ridículo, inacreditável e empolgante,
incrementando, riso após riso, um banquete de zombaria ácido. Isso tudo antes da entrada de Woody Harrelson como o capitão da
embarcação, um marxista bêbado totalmente ciente da sua hipocrisia. O personagem, porém, reflete o único erro do filme. Às vezes, depois
de tantos rir, o fôlego some. Nessas horas, Triangle of Sadness fica um pouco didático demais.

Esse problema é semelhante na terceira e última parte do longa, uma na qual os personagens do iate são surpreendidos com uma situação
totalmente inusitada. Eventualmente, o balão fica sem ar e as 2 horas e 30 minutos de duração pesam um pouco. Antes de chegarmos
nisso, entretanto, há muito mais risadas, ideias inesperadas e personagens memoráveis pelo caminho. Em especial, há a adição de Dolly De
Leon como uma figura que pontua, sublinha e circula a temática deste show de horrores (no bom sentido). Ela é o grande destaque de um
elenco recheado de atuações em total sintonia com o ritmo e tom do roteiro de Ôstlund, abrindo caminho para gargalhadas de uma
natureza totalmente inédita mesmo depois que Dickinson (caprichosamente irônico), Dean (de certa forma, a mais normal do grupo), Buric
(a dose certa de exagero) e Berlin (irritante na medida ideal) trouxeram, cada um, um sabor diferente de palhaçada.

Entrar em mais detalhes, além de não ser recomendado em filmes como estes, não faria jus ao sucesso e à graça do trabalho de Ôstlund em
criticar uma sociedade cada vez mais distante do aceitável, uma que através dos excessos esquece como lidar com as consequências de
seus atos, como desenvolver e cultivar relacionamentos, e acima de tudo como tratar o próximo como humano. Todos são seus alvos aqui.
O diretor não se prende à direita, à esquerda e, felizmente, não tenta atribuir a culpa apenas à geração da internet. Ele sabiamente
reconhece as redes sociais como apenas a mais nova forma de perpetuar a ostentação tóxica vinda do acúmulo material pelo qual homens
e mulheres cometem atrocidades, se humilham e maltratam outros. Essas pessoas são piadas. O humor de Östlund as desarma,
envergonha e expõe.

4.5/5

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CHARLBI-DEAN

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