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Torrado
Trint a p o r
um a l i n h a
Sumário
António Torrado
De aluna a professora
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Tentou, depois, com o Pimpas, mas o cão, antes da aula, quis
provar o livro e foi um sarilho para, depois, lho tirar da boca.
– Não é assim que se lê – zangou-se a Aldinha, a tentar pôr
ordem nas folhas descoladas pela demasiada vontade de saber
do Pimpas. – Ignorantes. Um só queria dormir. O outro só queria
brincar. Ora a vida não é só descanso e brincadeira. Há que
aprender. Há que aprender pelos livros. Há que trabalhar – dizia
a minha prima Aldinha.
A Aldinha, então, lembrou-se de que lhe tinham dado boas
informações de um bichito por todos considerado como muito
trabalhador, muito diligente.
Qual? A formiga.
E de uma persistência! Ela própria vira uma formiga car-
regar um niquito de bolo e não o largar, puxa daqui, empurra
de acolá, até se escapulir, com ele às costas, por uma fenda do
soalho.
Tão laboriosas já eram, que, se soubessem ler, do que elas
não seriam capazes! Por isso a minha priminha Aldinha decidiu
instruir, por junto, todo um formigueiro.
Abriu o livro das primeiras leituras, ao deitado, junto a um
carreirinho. Depois, chamou a atenção das formigas com uns
grãozinhos de açúcar.
Claro que elas vieram ao petisco. Enquanto se deliciavam, à
volta do açúcar e das letras, a minha prima apontava: A tua tia
Tila é tola e A tua tia Tila entalou a tola e A tua tia Tila tem a tola
com tala e tela.
Realmente, o desenho mostrava uma senhora de olhos
esbugalhados, sentada numa cama, com a cabeça enrolada, em
estilo de turbante hospitalar.
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Não faço ideia do que pensaram desta desastrada tia as for-
migas do carreiro. Pouco bem, acho eu. Entretanto, a minha
prima, por sua vez, achou que devia mudar de lição. Deixou
umas tantas formigas atrasadas, ainda às voltas da tia Tila, e
passou para A pala da Paula é de napa, outra interessantíssima
história, que dava gosto ler.
E por aí fora. Os progressos das formigas eram evidentes,
sobretudo quando atraídas com açúcar para os deveres escolares.
– Mas elas sabem mesmo ler? – intriguei-me eu.
– Claro que sabem – respondeu-me a priminha. – Ainda
ontem as vi, agarradas a uns bocados de jornal, que alguém
deixou no meio da mata, no domingo passado.
– Gostam de notícias frescas – comentei. – E escrever,
escrevem?
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– Claro que escrevem, mas com uma letra muito pequenina.
Pareceu-me natural. Tudo tem a sua proporção. Só a minha
priminha Aldinha escapa a esta lei. Tão pequenina e já tão dili-
gente, tão responsável, tão paciente. Qualidades que fazem
uma autêntica professora.
É o que ela vai ser, quando for crescida. Professora de
crianças, está visto, porque as suas alunas formigas, essas,
nessa altura já devem andar na universidade.
Vamos até combinar uma coisa.
Quando também vocês lá chegarem, ponham os olhos no
chão e procurem-nas. É que vão encontrá-las, pela certa, a
caminho da cantina universitária. Uma atrás da outra, incansá-
veis. São as disciplinadas formigas da minha priminha Aldinha.
Quem começa bem, vai longe.
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