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O SINAL DA CRUZ

Sinal da cruz é a aplicação simbólica da cruz em pessoas e coisas.

Na Escritura
Não há indicação direta do sinal da cruz na Escritura. Embora a mesma não seja a única
fonte de fé e de práticas piedosas na comunidade cristã, a Bíblia menciona a cruz de
maneira elevada como instrumento de salvação.

Algumas Alusões na Escritura


Em Ez 9,4 está escrito: “E Iahweh lhe disse: percorre a cidade, a sabar, Jerusalém, e assinala
com um tau (uma cruz, no alfabeto antigo) a testa dos homens que estão gemendo e
chorando por causa de todas as abominações que se fazem meio dela”.

Na realidade, o TAU, última letra do alfabeto hebraico, tinha então a forma exata de uma
cruz. Os primeiros cristãos viram nesta “visão” a prefiguração da cruz e do sinal da cruz.
Fazer este sinal na testa das pessoas era uma marca que simbolizava sua salvação. Não é
significado que, muito antes do nascimento de Nosso Senhor, Sua cruz tenha sido
“interpretada” e apresentada indireta? Os primeiros cristãos sempre consideravam o sinal
ou a marca da cruz como uma bênção.

Em Ap 7,3 encontramos escrito: “Não danifique a terra, o mar e as árvores, até que
tenhamos marcado a fronte dos servos de nosso Deus”.
Aqui, o autor do livro da Revelação, em seu estilo apocalíptico, faz alusão ao texto de Ez
9,4, com a forma de uma cruz.
Poderia o “selo” ser diferente da “marca do Filho do Homem (Mt 24,30)”, que é a cruz?

O Sinal da Cruz nos Primeiros Séculos da Igreja


Este sinal surge na terra Santa. Sua forma original era uma pequena cruz sobre a fronte.
Depois tornou-se o sinal que conhecemos.

Tertuliano (século II da nossa era) escreve: “Quando saímos de casa, quando voltamos,
quando comemos, quando acendemos nossos candelabros, fazemos em nossas testas o
sinal da cruz”.

São Cirilo de Jerusalém (313-386), em seu sermão 13,36, escreve: “Façamos corajosamente o
sinal da cruz. Façamo-lo sobre tudo”.

Aparentemente, o sinal da cruz foi primeiro feito com dois dedos, depois com três. No
Oeste era feito com todos os cinco dedos. Dois Dedos: símbolo da unidade plena da
natureza humana e divina em Cristo Jesus. Três Dedos: a Santíssima Trindade, Pai e Filho
e Espírito Santo. Cinco Dedos: as cinco chagas de Cristo.

Palavras que Acompanhavam o Sinal da Cruz


A história registra mais de uma fórmula que acompanhava o sinal da cruz na testa dos
fiéis: “Sinal de Cristo”, “Selo do Deus Vivo”, “Em nome de Jesus Nazareno”, “Nossa ajuda
vem do Senhor que fez o céu e a terra...”, “Santo é Deus, Santo é o Todo Poderoso, Santo é
o imortal, tende piedade de nós”, “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
A inteligência do coração e a intuição do Amor permitem à devoção cristã resumir, de
uma maneira muito simples, os maiores mistérios de nossa religião. A Santíssima
Trindade é resumida com a fórmula: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” que
é acompanhada pelo sinal da cruz, que simbolizava a Encarnação do Senhor e a Redenção.
Num único movimento, ali estavam reunidas duas realidades que os poderes deste mundo
e da sabedoria humana nunca coseguiram unir, ou seja, grandeza e miséria; felicidade e
sofrimento. Mas, no sinal da cruz, nossos lábios exprimem o maior dos Mistérios da
Grandeza Divina, da divina transcendência, o Deus único e Altíssimo: Pai, Filho e Espírito
Santo, enquanto nossa mão faz o sinal da cruz que é o símbolo da mais terrível e horrível
humilhação e miséria, fazendo assim contrastar a dignidade de Deus com a humilhação
absoluta do homem. Sim, em verdade, “Deus proíbe que nos vangloriamos de qualquer
coisa, com exceção da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14)”.

O Crucifixo
Baseados nos ensinamentos da Bíblia e nas explicações correlatas que os Concílios nos
dão, analisaremos as representações polêmicas da Cruz e do Crucifixo:

Os seres humanos são compostos de corpos e de almas. O Corpo tem também um papel a
desempenhar na religião e no culto. Nossos sentidos, especialmente o da visão, precisam
ser sensibilizados. Na verdade, cada IDEIA (do grego idein=ver) tem suas origens nos
sentidos: vem de algo visto ou ouvido, tocado ou provado. Por isso necessitamos de
quadros e imagens para nossa devoção. Por outro lado, sempre imaginamos uma imagem
ou uma pessoa que não conhecemos. As crianças e os analfabetos precisam ver imagens
para entender o ensinamento da Palavra de Deus que não podem ainda ler.

Por isso não há nada de errado na representação do crucifixo ou da Cruz, porque nenhum
dos dois é um ídolo que “adoramos (Ex 20,5). Agora, se alguém considerasse o “crucifixo”
como uma “imagem” proibida, também teria que cancelar a “cruz” pela mesma razão.

Podemos dizer o seguinte: Nas Escrituras, o Crucifixo, e não a cruz nua, está prefigurado.
Valos ler em Nm 21,8 : “Iahweh respondeu a Moisés: Faze para ti uma serpente ardente e
mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido por uma serpente e olhava para a
serpente de bronze, conservava a vida”. Em Jo 3, 14, o próprio Jesus nos dá a explicação
daquela construção estranha. “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim
também deve ser levantado o Filho do Homem para que todo homem que nele crê tenha a
vida eterna (Jo 12, 32)”. Portanto, nossa serpente “serpente de bronze” é Cristo, e o poste é
a cruz. Devemos, olhar para o principal; devemos olhar para o crucifixo e não para a cruz
nua, já que na realidade, quando Jesus deixa a cruz não há mais diferença entre a sua e as
cruzes dos ladrões crucificados do seu lado.

Naturalmente, quando honramos a cruz, sempre o fazemos relacionando-a com o Senhor


crucificado. A mesma coisa acontece quando, à imitação de Paulo, nos vangloriamos da
cruz (Gl 6, 14). Por outro lado, a Escritura encoraja os fiéis a olhar “para aquele que foi
transpassado”, isto é, Jesus crucificado (Jo 12, 32; 19, 37; Zc 12, 10).

Por isso, o Papa São Gregório I, morto em 1604, escrevia a Sereno, bispo de Marcélia: “Tu
não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas, não para ser adorado, mas
simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem e outra é aprender,
mediante essa imagem, a quem se dirige tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que
sabem ler, a imagem o é para os ignorantes, e mediante essas imagens aprendem o
caminho a seguir”.

“A imagem é o livro daqueles que não sabem ler”.

Santa Tereza de Ávila, morta em 1582, ao ensinar as vias da oração às suas religiosas,
dizia: “Eis um meio que vos poderá ajudar: cuidai de ter uma imagem ou uma pintura de
Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos contenteis com fazê-la
sobre o vosso coração sem jamais olhar, mas servi-vos da mesma maneira para os
entreterdes muitas vezes com Ele (Caminho da Perfeição)”.

Os reformadores do século XVI reagiram contra os excessos do culto das imagens


existentes na Idade Média decadente. Todavia, o próprio Lutero não foi intolerante, mas,
de certo modo, liberal, como no caso do texto datado de 1528: “tenho como algo deixado à
livre escolha as imagens, os sinos, as vestes litúrgicas e coisas semelhantes. Quem não as
quer, deixe-as de lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias
edificantes me pareçam muito úteis. Nada tenho em comum com os iconoclastas”.

Bibliografia
Fé e Escritura – Frei Ya' cub H. Saadeh
Frei Peter H. Madros
Apostila do Curso de Fé e Doutrina – Ano III – Lopes

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