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Della Estruturas

Tópicos especiais em concreto armado

Autor: Rodrigo Gustavo Delalibera

Texto apresentado para curso de


especialização - UNILINS

São Carlo, 25 de Julho de 2006.

Rua Vitório Giometi, 620, Apto, 33, Bl. 01, Jd. Nv. Sta. Paula, 13564-330, São Carlos, - SP, (16)3306-9107, dellacivil@yahoo.com.br
ÍNDICE

CAPÍTULO 1 1

INTRODUÇÃO 1

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1

CAPÍTULO 2 2

ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO 2

2.1. PROCEDIMENTOS 2
2.1. FUNDAÇÕES A SEREM PESQUISADAS 2
2.1.1. FUNDAÇÃO RASA 3
2.1.2. FUNDAÇÃO EM ESTACAS 3
2.1.3. FUNDAÇÃO EM TUBULÕES 5

CAPÍTULO 3 6

FUNDAÇÕES RASAS 6

3.1. COMENTÁRIOS INICIAIS 6


3.2. TIPOS DE FUNDAÇÕES RASAS 6
3.2.1. SAPATAS ISOLADAS 6
3.2.2. SAPATAS CORRIDA 7
3.2.3. SAPATAS ASSOCIADAS 7
3.2.4. GRELHA 9
3.2.5. BLOCOS DE FUNDAÇÃO 9
3.2.6. RADIER 10
3.3. DIMENSIONAMENTO DE RADIERS 11
3.3.1. CÁLCULO POR MÉTODOS ESTÁTICOS 11
3.3.2. CÁLCULO POR MÉTODOS NUMÉRICOS 14
3.3.3. EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO DE RADIER – ESFORÇOS SOLICITANTES. 19
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CAPÍTULO 4 25

BLOCOS SOBRE ESTACAS 25

4.1. COMENTÁRIOS INICIAIS 25


4.2. CRITÉRIOS DE PROJETOS DE BLOCOS SOBRE ESTACAS 27
4.2.1. PROCEDIMENTOS GERAIS DO PROJETO 27
4.2.2. DISTÂNCIA ENTRE EIXOS DE ESTACAS 28
4.2.3. MÉTODO DA SUPERPOSIÇÃO DOS EFEITOS PARA BLOCOS SOLICITADOS POR FORÇA
VERTICAL E MOMENTO 29
4.2.4. CLASSIFICAÇÃO DOS BLOCOS SOBRE ESTACAS 30
4.2.5. DISTÂNCIA DO EIXO DA ESTACA ATÉ A FACE DO BLOCO 30
4.2.6. LIGAÇÃO ESTACA-BLOCO 31
4.2.7. RECOMENDAÇÕES SOBRE EXCENTRICIDADES ACIDENTAIS 31
4.2.8. ANCORAGEM DA ARMADURA PRINCIPAL DE TRAÇÃO – TIRANTE 32
4.2.9. DETALHAMENTOS DAS ARMADURAS SECUNDÁRIAS 35
4.3. MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO 37
4.4. DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS SOBRE N ESTACAS 38
4.5. COMENTÁRIOS FINAIS 41

BIBLIOGRAFIA 43

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

Este texto trata de assuntos relativos ao projeto e dimensionamento de


elementos especiais de fundações que não são empregados usualmente em
estruturas correntes, como: radiers e blocos sobre n estacas.
A finalidade deste texto é orientar é dar subsídios aos alunos de graduação
para o projeto de estruturas de fundações.
A escolha do tipo de fundação para uma determinada construção é feita após
estudo que considere as condições técnicas e econômicas da obra. Por meio do
conhecimento dos parâmetros do solo, da intensidade das ações, dos edifícios
limítrofes e dos tipos de fundações disponíveis no mercado, o engenheiro pode
escolher qual a melhor a alternativa para satisfazer tecnicamente e economicamente o
caso em questão.
O projeto e execução de fundações requerem conhecimentos de geotecnia e
cálculo estrutural. Por exemplo, imaginado-se o caso de um edifício de concreto
armado, construído num terreno sem vizinhos, em geral, a estrutura é calculada por
um engenheiro de estruturas que supõe os apoios indeslocáveis, daí resultando um
conjunto de ações externas (forças verticais, horizontais e momentos) que é passado
ao projetista de fundações.
Com auxílios de informações técnicas sobre geotecnia, o engenheiro de
fundações projeta e dimensiona os elementos de fundações. Acontece que estas
fundações, quaisquer que sejam, quando em serviço, solicitarão o terreno, que se
deforma, e estas deformações resultam deslocamentos verticais (recalques),
horizontais e rotações. Com isto, a hipótese usual de apoios indeslocáveis fica
prejudicada, e nas estruturas hiperestáticas, que são a grande maioria, os esforços
solicitantes inicialmente calculados são modificados. Chega-se assim, ao conhecido
problema de interação solo-estrutura.
Portanto, o projeto de estrutura deve estar integrado ao projeto de fundações.
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CAPÍTULO 2

ESCOLHA DO TIPO DE FUNDAÇÃO

2.1. Procedimentos

A escolha de uma fundação para uma determinada construção só deve ser


feita após constatar que a mesma satisfaz às condições técnicas e econômicas da
obra em questão. Para tanto devem ser conhecidos os seguintes elementos:
– Proximidade dos edifícios limítrofes bem como seu tipo de fundação e estada da
mesma;
– Natureza e características do subsolo no local da obra;
– Intensidades das ações a serem transmitidas para a infra-estrutura;
– Tipos de fundações existentes no mercado.

O problema é resolvido por exclusão, escolhendo-se entre os tipos de


fundações existentes, aquelas que satisfaçam tecnicamente ao caso em análise. A
posteriore é feito um estudo comparativo de custos dos diversos tipos selecionados
visando com isso escolher o mais viável economicamente.
Quando não se dispõe dos esforços solicitantes oriundos do cálculo estrutural é
possível estimar as ações atuantes nas fundações por meio de valores médios. Por
exemplo, em se tratando de edifícios correntes de concreto armado (destinados a
moradia ou escritório) pode-se adotar uma ação uniformemente distribuída entre
10 kN/m2 e 12 kN/m2 (por pavimento).

2.1. Fundações a serem pesquisadas

No mínimo as seguintes fundações necessitam serem pesquisadas.


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2.1.1. Fundação rasa


É o primeiro tipo de fundação a ser pesquisada. A ordem de grandeza da taxa
admissível é obtida por:

SPTmédio
σs = (MPa) , para solos com SPT ≥ 20 (2.1)
50
sendo:
– σs a pressão de pré-adensamento de solos predominantemente argilosos,
expressa em Pa.

Em princípio este tipo de fundação só é vantajoso quando a área ocupada pela


fundação abranger, no máximo, de 50 % a 70 % da área disponível.
De uma maneira geral, este tipo de fundação não deve ser usado nos
seguintes casos:
– Aterro compactado;
– Argila mole;
– Areia fofa e muito fofa;
– Existência de água onde o rebaixamento do lençol freático não se justifica
economicamente.

2.1.2. Fundação em estacas


Dentre as fundações em estacas existem:
– Brocas;
– Strauss;
– Pré-moldadas de concreto;
– Franki;
– Metálicas;
– Tipo mega;
– Escavadas;

As Brocas são aplicadas para ações de pequenas intensidades (de 50 kN a


100 kN), acima do nível da água. Possuem diâmetro variável, entre 15 cm e 25 cm e
comprimento do fuste em torno de 3 m.
As estacas tipo Strauss abrangem a faixa de força compreendida entre 200 kN
e 800 kN. Apresentam a vantagem de não provocar vibrações, evitando desse modo

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danos às construções vizinhas, mesmo nos casos em que estas se encontrem em


situação relativamente precária. Quando executadas uma ao lado da outra (estacas
justapostas), podem servir de cortina de contenção para execução de subsolos (desde
de que devidamente armadas).
Não é recomendável sua utilização abaixo do nível da água, principalmente se
o solo for arenoso, visto que se pode tornar inviável drenar a água do subsolo dentro
do tubo e, portanto, impedir a concretagem (que deve ser feita a seco). Também no
caso de argilas moles saturadas, pois poderá ocorrer estrangulamento do fuste
durante a concretagem.
As Pré-moldadas de concreto abrangem as forças de 200 kN a 2400 kN. Não
se deve utilizar este tipo de estacas nos casos descritos abaixo:
– Terrenos com presença de matacões ou camadas de pedregulhos;
– Terrenos em que a previsão da conta de ponta da estaca seja muito variável, de
modo que não seja possível selecionar regiões de comprimento constantes;
– Situações em que as construções vizinhas se encontrem em estado “precário”,
quando as vibrações causadas pela cravação dessas estacas possam criar danos.
As estacas do tipo Franki abrangem a faixa de força de 200 kN a 1500 kN e
seu processo executivo (cravação de um tubo com a ponta fechada e execução de
base alargada) causa muita vibração. Não é recomendada sua utilização nos
seguintes casos:
– Terrenos com matacões;
– Construções vizinhas em estado precário;
– Terrenos com camadas de argila mole saturada (estrangulamento do fuste análogo
ao caso da estaca Strauss).
As estacas Metálicas, geralmente constituídas por perfis simples ou
compostos, tubos ou tribos, abrangem a faixa de força entre 400 kN a 3000 kN.
Embora, atualmente seja o tipo de estaca mais cara, por unidade de carga, a mesma
pode ser uma solução vantajosa nos casos descritos:
– Quando não se deseja vibração durante a cravação (principalmente se forem perfis
simples);
– Quando servem de apoio a pilares de divisa, pois eliminam o uso de vigas de
equilíbrio e ajudam no escoramento, caso de subsolos (perfis com pranchões de
madeira).
As do tipo Mega, geralmente construídas em concreto, são cravadas com
auxílio de um macaco hidráulico reagindo contra a estrutura. Normalmente são
utilizadas em reforços de fundações.
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Estacas Escavadas, geralmente construídas com lama bentonítica e utilizadas


em situações de forças elevadas (acima de 1500 kN), competindo em custo com
tubulões a ar comprimido. Não provocam vibrações, porém necessitam de área
relativamente grande para a instalação dos equipamentos necessário para a sua
execução.
Estacas com hélice contínua, se equivalem com as estacas escavadas.

2.1.3. Fundação em tubulões


Existem dois tipos de tubulões, a céu aberto e a ar comprimido (com camisa de
aço ou concreto).
Os tubulões a céu aberto são utilizados acima no nível da água e, os tubulões
a ar comprimido são construídos em situações em que a cota de arrasamento da base
do tubulão esta abaixo do nível da água, quando não é possível esgotar a mesma.
Os tubulões a céu aberto são utilizados praticamente para qualquer faixa de
força. Não produzem vibrações durante sua execução e seu limite de carga é
condicionado à área de sua base. O diâmetro da base deve ser limitado a 4 m e o
fuste deve ter diâmetro maior ou igual a 70 cm.
A tensão admissível do solo da camada de apoio da base é obtida por meio da
Expressão 2.2.

SPTmédio
σs = (MPa) , para solos com SPT ≥ 20 (2.2)
30
sendo:
– σs a pressão de pré-adensamento de solos predominantemente argilosos.

Os tubulões a ar comprimido são usualmente empregados para forças com


grande intensidade (acima de 3000 kN). O diâmetro da base e a tensão admissível
obedecem às mesmas diretrizes dos tubulões a céu aberto.

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CAPÍTULO 3

FUNDAÇÕES RASAS

3.1. Comentários iniciais

As fundações rasas são as que se apóiam logo abaixo da infra-estrutura e se


caracterizam pela transmissão das ações ao solo por meio das pressões distribuídas
sobre sua base. Neste grupo incluem-se os blocos de fundação, sapatas isoladas,
sapatas corrida, sapatas associadas, grelhas e radier.

3.2. Tipos de fundações rasas

3.2.1. Sapatas isoladas


Transmitem ações de um único pilar. É o tipo de sapata mais utilizada. Estas
podem receber ações centradas ou excêntricas. Podem ser quadradas, retangulares
ou circulares. E podem ainda ter a altura constante ou variável (chanfrada). A Figura
3.1 apresenta este tipo de sapata.

Figura 3.1 – Sapatas isoladas.


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3.2.2. Sapatas corrida


Sapata sujeita a ação distribuída. Geralmente utilizada com fundações de
muros de arrimo, muros de divisa e fundações de pequenas construções. A Figura 3.2
apresenta a fundação em questão.
Também podem ser utilizadas para fundações de pilares. Em situações em que
os pilares são posicionados um ao lado do outro com espaçamentos relativamente
curtos, de maneira que, se fossem utilizadas sapatas isoladas, estas se aproximariam
ou mesmo se sobreporiam a uma base adjacente, uma sapata corrida contínua é
então desenvolvida na linha dos pilares (Figura 3.3).

Figura 3.2. – Sapatas corrida contínua.

VIGA DE RIGIDEZ PILAR

Figura 3.3. – Sapatas corrida para pilares.

3.2.3. Sapatas associadas


Transmitem ações de dois ou mais pilares adjacentes. São utilizadas quando a
distância entre as sapatas é relativamente pequena.
Com condições de carregamento similares, podem ser assentes em uma
sapata corrida simples (Figura 3.4), mas quando ocorrem variações consideráveis de

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carregamento, um plano de base trapezoidal satisfaz adequadamente à imposição de


coincidir o centro geométrico da sapata com o centro das ações.
Podem ser adotadas também no caso de pilares de divisa, quando há um pilar
interno próximo não sendo necessário à utilização de vigas de equilíbrio (Figura 3.5).
Caso necessário, a viga de rigidez também poderá funcionar como viga de equilíbrio
(ou viga-alavanca).

VIGA DE RIGIDEZ PILAR

Figura 3.4. – Sapata associada retangular.

VIGA DE RIGIDEZ PILAR

Figura 3.5. – Sapata associada em divisa.

No caso de pilares posicionados junto a divisa do terreno (Figura 3.6), o


momento produzido pelo não alinhamento da ação com a reação deve ser absorvido
por uma viga, viga de equilíbrio, apoiada nas sapatas junto a divisa e em uma sapata
construída para pilar interno. A NBR 6122:1996 indica que, quando ocorrer redução
das ações, caso do projeto da sapata interna, esta deve ser dimensionada
considerando-se apenas 50% de redução da força; e quando da soma dos alívios
totais puder resultar tração na fundação do pilar interno, o projeto deve ser reavaliado.
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DIVISA

VIGA−ALAVANCA

Figura 3.6. – Sapata com viga de equilíbrio.

3.2.4. Grelha
Elemento de fundação constituído por um conjunto de vigas que se cruzam nos
pilares.

3.2.5. Blocos de fundação


São elementos de grande rigidez, executados com concreto simples ou
ciclópico, dimensionados de modo que as tensões de tração existentes possam ser
resistidas pelo concreto. Podem ter suas faces verticais, inclinadas ou escalonadas e
apresentar em planta seção quadrada ou retangular (figura 3.7).

Figura 3.7 – Sapata com viga de equilíbrio.

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3.2.6. Radier

Quando as áreas das bases das sapatas totalizam mais de 70% da área do
terreno recomenda-se a utilização de radier. Trata-se de uma sapata associada,
formando uma laje espessa que abrange todos os pilares da obra ou ações
distribuídas. O radier pode ser executado com e sem vigas. A Figura 3.8 apresenta
este tipo de fundação.
Atualmente o radier tem sido largamente utilizado em construções de casas
populares, em função da facilidade de execução.
É preciso tomar alguns cuidados quando se projetar uma fundação em radier: o
S.P.T. deverá ser superior ou no máximo igual a 20; não é aconselhável a utilização
de radier em aterros e em solos que apresentam perfil geológico decrescente (ou seja,
o valor do S.P.T. diminui com o aumento da profundidade das camadas).

VIGA

LAJE

PILAR

LAJE

VIGA

Figura 3.8 – Sapata com viga de equilíbrio.

Quanto à forma estrutural os radiers são projetados segundo quatro tipos


principais: radiers lisos; radiers com pedestais ou cogumelos; radiers nervurados;
radiers em caixão. Os tipos descritos foram classificados em ordem crescente da
rigidez relativa.

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3.3. Dimensionamento de radiers

Existem alguns métodos para o dimensionamento estrutural de radiers, entre


eles estão: método estático; sistema de vigas sobre base elástica; método da placa
sobre solo de Winkler; método das diferenças finitas; métodos dos elementos finitos.
Trataremos neste texto sobre os métodos estático e dos elementos finitos.
Quanto ao dimensionamento geotécnico, valem às mesmas considerações
utilizadas do dimensionamento das sapatas.

3.3.1. Cálculo por métodos estáticos


Como no caso das vigas de fundação, os esforços internos em radiers podem
ser calculados pelos chamados métodos estáticos, que são métodos que se baseiam
em hipóteses sobre a distribuição das pressões de contato, como:
– Pressões variando linearmente sob o radier;
– Pressões são uniformes nas áreas de influência dos pilares.

Estas duas hipóteses podem ser vistas na Figura 3.9. A primeira hipótese se
aplica aos radiers classificados como rígidos, enquanto que a segunda hipótese
aplica-se aos radiers flexíveis. Assim, o cálculo seguindo a primeira hipótese será
chamado de cálculo com variação linear de pressões, e o cálculo que segue a
segunda hipótese será chamado de cálculo pela área de influência dos pilares.

Figura 3.9 – Pressões de contato em radier: a) variação linear ao longo do radier; b)


pressões constantes na faixa de influência dos pilares.

Nos métodos estáticos nenhuma consideração é feita quanto à compatibilidade


de deformações do solo e da estrutura com as reações do solo. Leva-se em conta,
apenas o equilíbrio estático das ações atuantes e da reação do terreno. Esses
métodos são indicados, apenas, para o cálculo dos esforços internos na fundação

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para seu dimensionamento estrutural e não para avaliação da distribuição dos


recalques.

3.3.1.1. Cálculo como radier rígido ou com variação linear de pressões


Um cálculo por método estático em que se admite variação linear de pressões
de contacto coincide com aquele em que o radier é suposto rígido sobre o solo de
Winkler. Num cálculo deste tipo, as pressões de contacto são determinadas a partir,
apenas, da resultante do carregamento (ver Figura 3.10).

Radier

R Faixa

q2.b

Modelo de
cálculo

q1.b

Figura 3.10 – Pressões de contato em radier: a) variação linear ao longo do radier; b)


pressões constantes na faixa de influência dos pilares.

As equações das pressões de contacto sob sapatas rígidas sobre solo de


Winkler podem ser utilizadas.
Este método é normalmente utilizado para radiers de grande rigidez relativa,
como no caso de radiers nervurados e em caixão. Para efeito de análise, o radier é
dividido em dois conjuntos de faixas ortogonais. Segundo o ACI (1994), um radier
pode ser considerado rígido se o espaçamento entre colunas ℓ atender a expressão
3.1.

1,75
l≤
kv ⋅ b (3.1)
4
4 ⋅ Ec ⋅ I

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Sendo:
– b, a largura da faixa de influência da linha de colunas;
– kv, o coeficiente de reação vertical (corrigido para a forma e dimensão do radier);
– Ec.I, é o módulo de rigidez da faixa.

E se a variação nas forças e espaçamentos das colunas não forem maiores


que 20%.
Para dimensionamento estrutural, as faixas são calculadas como vigas de
fundação independentes. As pressões de contacto atuantes em cada faixa são
projetadas para o eixo das vigas para um cálculo como elemento unidimensional
(Figura 3.10). O problema a resolver recai, então, naquele em que as vigas têm suas
pressões de contacto supostas variando linearmente (Figura 3.9).

3.3.1.2. Cálculo pela área de influência dos pilares


O cálculo pela área de influência dos pilares é geralmente aplicado em radiers
de rigidez relativa média. O procedimento a seguir é explicado por meio da Figura
3.11, basicamente, deve-se fazer:
– Determinar a área de influência de capa pilar, Ai;
– Calcular a pressão média nesta área:
Fi
qi = (3.2)
Ai

– Determinar uma pressão média atuando nos painéis (média ponderada dos qi
naquele painel);
– Calcular, como num pavimento de superestrutura, os esforços nas lajes e vigas e
as reações nos apoios (pilares);

Se as reações nos apoios forem muito diferentes das forças nos pilares, deve-
se redefinir as pressões médias nos painéis.
Este método é análogo àquele em que as vigas têm suas pressões de contacto
supostas uniformes nas áreas de influência dos pilares (Figura 3.11b). Por outro lado,
considera-se a força dos pilares sem majoração, a despeito da aproximação que é
feita na definição das pressões de contato.

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Ai

Fi

Figura 3.11 – Esquema de cálculo de um radier pela área de influência dos pilares.

3.3.2. Cálculo por métodos numéricos


Os cálculos por métodos estáticos são trabalhosos além de não apresentarem
bons resultados, em função disto, as soluções numéricas ganham força. Neste texto
são apresentados dois métodos para o dimensionamento estrutural de radiers:
Analogia de Grelha e o Método dos Elementos Finitos.
Para que os resultados sejam mais representativos faz-se necessário a
modelagem do solo, para isto, podê-se adotar as hipóteses de Winkler (para os casos
de Analogia de grelhas e Métodos dos Elementos Finitos) ou considerar o solo como
meio contínuo (apenas no caso do Método dos Elementos Finitos).

3.3.2.1. Modelos discretos de representação do solo


A representação do solo em análise numérica pode ser feita de duas maneiras:
por meio de molas (modelos discretos com comportamento linear ou não – Hipótese
de Winkler); e, representado com um meio contínuo (elástico e linear ou não).
Quem primeiro representou o solo como um sistema de molas com resposta
linear foi Winkler (1867) apud Velloso & Lopes (1996). Este tipo de representação é
denominado Modelo de Winkler ou Hipótese de Winkler. Segundo o modelo, as
pressões de contato são proporcionais aos deslocamentos. Este modelo pode ser
utilizado tanto para carregamentos verticais, como por exemplo, radiers, sapatas e

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vigas de fundação, quanto para ações horizontais, como é o caso de estacas sob
forças horizontais e estruturas de escoramento de escavações.
A Equação 3.3 e Figura 3.12, exprimem a hipótese de Winkler.

F = Kv ⋅ w (3.3)

F = K v .w
w

w
Kv

Figura 3.12 – Esquema de cálculo de um radier pela área de influência dos pilares.

A constante de proporcionalidade Kv é usualmente chamada de coeficiente de


reação vertical, porém, também é chamada por alguns autores de módulo de reação
ou coeficiente de mola.
Este modelo também é conhecido como modelo de fluido denso, uma vez que
seu comportamento é análogo ao de uma membrana assente sobre fluido denso e,
também porque as unidades do coeficiente de reação são as mesmas do peso
específico (dimensão F.L-3).
O coeficiente de reação vertical, definido pela Equação 3.3 pode ser obtido por
meio de: ensaio de placa; cálculo do recalque da fundação real e uso de tabelas de
valores típicos.
Aos valores do coeficiente de reação obtido por meio do ensaio de placa cabe
fazer correções de dimensão e forma. Essas correções são necessárias, pois, o
coeficiente obtido por meio do ensaio não é uma propriedade do solo, mas, uma
resposta a uma força aplicada por uma dada estrutura. Desta maneira, define-se o
coeficiente de mola por meio da Equação 3.4.

1 E solo 1
Kv = ⋅ ⋅ (3.4)
B 1 − ν 2 Is

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sendo:
– Kv, o coeficiente de mola;
– B, a menor dimensão da fundação (sapata, viga ou radier);
– νsolo, o coeficiente de Poisson do solo;
– Esolo, o módulo de elasticidade do solo, e;
– Is, o fator de forma da fundação.

Por meio da Equação 3.4 observa-se que quanto maior a fundação (maior o
lado B), menor o coeficiente Kv e, quanto mais a forma da fundação se distancia da
quadrada ou circular, tendendo para uma forma retangular mais alongada, também
menor do valor de Kv.
O módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do solo podem ser obtidos
por meio de valores tabelados fornecidos por Bowles (1982). A Tabela 3.1 traz valores
de módulos de elasticidade de alguns solos em função do S.P.T. e da resistência de
ponta de um tubulão ou estaca. A Tabela 3.2 coeficientes de Poisson para alguns tipos
de solo.

Tabela 3.1 – Módulo de deformação do solo em função do SPT e Rp, Bowles (1982).
Módulo de deformação do solo (Esolo)
Tipo de solo Es = f(SPT) Es = f(Rp)
(KPa) (KPa e kN)
Areia Es = 500(SPT +15) Es = 2 a 4 Rp
Areia argilosa Es = 320(SPT + 15) Es = 3 a 6 Rp
Areia siltosa Es = 300(SPT + 6) Es = 1 a 2 Rp
Areia/pedregulho Es = 1200(SPT + 6) -
Argila mole - Es = 6 a 8 Rp

Tabela 3.2 – Coeficiente de Poisson para diferentes tipos de solos, Bowles (1982).
Coeficiente de Poisson -
Tipo de solo
ν
Saturada 0,4 -0,5
Não saturada 0,1 – 0,3
Argila
Arenosa 0,2 – 0,3
siltosa 0,3 – 0,35
Densa 0,2 – 0,4
Areia Fofa* e grossa 0,15
Fofa* e fina 0,25
Variação em função do
Rocha 0,1 – 0,4
tipo de rocha
Nota: (*) índice de vazios compreendido entre 0,4 e 0,7.

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Os fatores de forma da fundação também podem ser obtidos por meio de


valores tabelados, utilizando as recomendações de Perloff (1960) apud Velloso &
Lopes (1996). A Tabela 3.3 apresenta os coeficientes de forma para sapatas, os quais,
poderão ser utilizados para os radiers.

Tabela 3.3 – Coeficiente de forma, Perloff (1960) apud Velloso & Lopes (1996).

Compr.(L) Sapata flexível Sapata


Forma
Largura(B) centro canto Média rígida
Circular - 1 0,64 0,85 0,79
quadrada - 1,12 0,56 0,95 0,99
1,5 1,36 0,67 1,15 1,06*
2 1,52 0,76 1,30 1,20*
3 1,78 0,88 1,52 -
5 2,10 1,05 1,83 1,70*
10 2,53 1,26 2,25 2,10*
100 4,00 2,00 3,70 3,40*
100 5,47 2,75 5,15 -
Nota: (*) de acordo com Bowles (1982).

A outra maneira de representar o solo é considerá-lo na análise como meio


contínuo. O meio contínuo pode ter comportamento elástico e elasto-plástico. O
segundo caso só possível ser solucionado por meio dos Métodos dos Elementos
Finitos.
A Figura 3.13 mostra a representação solo em radiers utilizando a hipótese de
Winkler e meio contínuo.

Meio
Radier Contínuo
Radier

Molas

Figura 3.13 – Representação do solo por meio de molas e meio contínuo.

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3.3.2.2. Processo de analogia de grelha


O processo baseia-se na substituição de um pavimento (laje e vigas) por uma
grelha equivalente, em que as barras da grelha representam os elementos estruturais
do pavimento (lajes e vigas, no caso de radier, somente a placa). Este processo
permite reproduzir o comportamento estrutural de pavimentos com praticamente
qualquer geometria, seja ele composto de lajes de concreto armado maciças, com ou
sem vigas, ou de lajes nervuradas. Dessa maneira, deve-se dividir as lajes em um
número adequado de faixas, as quais terão largura dependentes da geometria e das
dimensões do pavimento (discretização, aconselha-se adotar distância entre nós em
torno de cinqüenta centímetros). Essas faixas são substituídas por elementos de
barra, obtendo-se um grelha (equivalente) que representa o pavimento.
As propriedades geométricas das barras da grelha equivalente são de dois
tipos: as do elemento placa (laje ou radier) e as do elemento viga-placa (viga-laje ou
viga-radier).
O cálculo da inércia à flexão dos elementos de placa (If) é feito considerando-
se uma faixa de largura b, a qual é dada pela soma da metade dos espaços entre os
elementos vizinhos (distância entre nós) e, altura h (espessura da placa). A Expressão
3.5 fornece essa inércia. A rigidez à torção (It), no estádio I, segundo Hambly (1976)
apud Carvalho & Figueiredo Filho (2005), é o dobro da rigidez a flexão (Expressão
3.6).

b ⋅ h3
If = (3.5)
12
b ⋅ h3
It = 2 ⋅ If = (3.6)
6

Para o elemento de viga-placa, na flexão, pode-se considerar uma parta da


placa trabalhando como mesa da viga, configurando-se então, dependendo da
posição, uma viga de seção T ou meio T. Uma vez determinada a largura colaborante,
a inércia à flexão da seção resultante pode ser calculada supondo que o elemento
esteja trabalhando tanto no estádio I como no II.
Como indicado em Carvalho (1994), pode-se considerar o valor da inércia à
torção do elemento viga, no estádio II, igual a 10% daquele dado pela resistência dos
materiais.
A Expressão 3.7 mostra a inércia à torção a ser considerada em elementos
viga.
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b ⋅ h3
It = (3.7)
30

Os valores do módulo de deformação longitudinal à compressão do concreto


(Ec), do módulo de deformação transversal do concreto (Gc) e do coeficiente de
Poisson (ν) relativo às deformações elásticas podem ser determinados a partir das
recomendações da NBR 6118:2003.
Maiores detalhes da modelagem de pavimentos podem ser obtidas em
Delalibera (2005).

3.3.3. Exemplo de dimensionamento de radier – esforços solicitantes.


Neste item é apresentado um exemplo para a determinação dos esforços
solicitantes em radiers.
Trata-se um uma edificação hipotética, apresentada por meio da Figura 3.14.
Constituída por alvenaria estrutural de blocos cerâmicos (19 x 19 x 9), laje maciça e
radier. Demais informações podem ser vistas na Figura 3.14.
Considerou-se para o solo sob o radier uma areia com SPT igual a 30 para
uma espessura de 5m. Após esta profundidade, admitiu-se SPT impenetrável. O
módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do concreto foram obtidos por meio
das Tabelas 3.1 e 3.2. Já o módulo de deformação longitudinal e o coeficiente de
Poisson do concreto foram determinados por meio das recomendações da NBR
6118:2003.
O solo foi modelo como meio contínuo (Figura 3.13), e o radier como placa.
Para isto utilizou-se programa de computador baseado no Método dos Elementos
Finitos. O solo foi modelado por meio de um elemento tridimensional com oito nós
sendo que cada nó tinha três graus de liberdade por nó (translações nas direções x, y
e z), enquanto que o radier foi modelado com um elemento de placa com três nós e
seis graus de liberdade por nó (translações e rotações nas direções x, y e z).
A seguir são apresentadas as propriedades mecânicas dos materiais utilizados
na análise.
– Esolo = 22,5 MPa (módulo de deformação longitudinal do solo);
– νsolo = 0,3 (coeficiente de Poisson do solo);
– Ecs = 23800 MPa (módulo de deformação longitudinal do concreto);
– ν = 0,2 (coeficiente de Poisson do concreto).

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Figura 3.14 – Exemplo de aplicação, estrutura hipotética.

A Figura 3.15 apresenta a discretização utilizada para o caso em questão.


Aconselha-se que o solo seja representado com as dimensões sugeridas na Figura
3.15.

Figura 3.15 – Discretização da estrutura hipotética.

Todo o carregamento da estrutura foi aplicado nos nós.


O peso próprio da estrutura é considerado automaticamente pelo programa de
computador.
As forças oriundas das paredes posicionadas sobre a laje também foram
aplicadas nos nós da placa, para isso, utilizou-se a Equação 3.6.

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Fpar
Fpar,nós = ⋅l (3.6)
n
onde:
– Fpar é a carga da parede por unidade de comprimento;
– ℓ é o comprimento da parede;
– n é número de nós existentes no comprimento da parede.

As forças utilizadas para a análise estrutural do radier foram obtidas com o


auxílio da NBR 6120:1980. A seguir são descritas algumas propriedades do edifício
hipotético necessárias para a determinação dessas forças.
– Altura das paredes: 2,80 m;
– Forro e contra-piso – espessura de 30 mm;
– Impermeabilização: 1,0 kN/m2;
– Paredes internas e externas: tijolos furados – 13 kN/m3.

A sobrecarga de utilização também foi determinada por meio da NBR


6120:1980. Considerou-se ação acidental na laje igual 0,5 kN/m2.
A Tabela 3.4 mostra o resumo das cargas utilizadas para a análise do
pavimento tipo do edifício.

Tabela 3.4 – forças atuantes no pavimento.

Tabela de forças
Descrição Forças
Paredes internas 6,16 kN/m
Piso, contra-piso 1,0 kN/m2
Impermeabilização 1,0 kN/m2
Ação acidental no radier 1,5 kN/m2
Ação acidental e revestimento na laje de forro (argamassa de
0,77 kN/m2
cimento, cal e areia, espessura de 15 mm).

A classificação das ações segundo a NBR 8681:1984 são descritas a seguir:


– Ações permanentes: peso próprio da estrutura, paredes de fechamento e internas,
piso, contra-piso, regularização e impermeabilização;
– Ações variáveis: sobrecarga de utilização.

Os Estados Limites de Serviço de deformação excessiva (ELS-DEF) e de


abertura das fissuras (ELS-W) também devem ser verificados com as combinações de

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ações sugeridas pela NBR 6118:2003: quase permanente para o caso de ELS-DEF e
freqüente para o caso de ELS-W. Neste exemplo apenas serão apresentados os
esforços solicitantes referente ao Estado Limite Último.
A Figura 3.16 mostra o radier deformado sobre o solo. Observa-se que a área
de influência do radier é praticamente à mesma utilizada na modelagem.
A Figura 3.17 apresenta dos deslocamentos ocorridos somente no radier.

Deslocamentos em metros.
Figura 3.16 – Radier e solo deformados.

Deslocamentos em metros.
Figura 3.17 – Radier deformado.
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Por meio dos diagramas de isomomentos apresentados nas Figuras 3.18, 3.19
e 3.20 procede-se o dimensionamento estrutural do radier quanto às tensões normais.

Momentos em kNm (mx, paralelo ao maior lado)


Figura 3.18 – Momento fletor na direção X, mx.

Momentos em kNm (my, paralelo ao menor lado)


Figura 3.19 – Momento fletor na direção Y, my.

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Momentos em kNm (mxy é o momento volvente)


Figura 3.20 – Momento fletor na direção X0Y, mxy.

É válido lembrar que verificações das tensões de cisalhamento devem ser


verificadas. Estas verificações são análogas aos procedimentos aplicados às lajes
maciças. Caso existam no radier pilares, a verificação da punção também deve ser
feita.

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CAPÍTULO 4

BLOCOS SOBRE ESTACAS

4.1. Comentários iniciais

As fundações em estacas são adotadas quando o solo em suas camadas


superficiais não é capaz de suportar ações oriundas da superestrutura, sendo
necessário, portanto, buscar resistência em camadas profundas. Quando for
necessária a utilização de fundação em estacas, faz-se necessário a construção de
outro elemento estrutural, o bloco de coroamento, também denominado bloco sobre
estacas. Nos casos de fundações em tubulões também há necessidade de blocos de
coroamento para transferência das ações.
Blocos sobre estacas são importantes elementos estruturais cuja função é
transferir as ações da superestrutura para um grupo de estacas. Esses elementos
estruturais, apesar de serem fundamentais para a segurança da superestrutura,
geralmente não permitem a inspeção visual quando em serviço, sendo assim, é
importante o conhecimento de seu real comportamento nos Estados Limites de
Serviço e Último. A Figura 4.1 ilustra esse elemento estrutural.

Figura 4.1 – Bloco sobre estacas.


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Grande parte das pesquisas desenvolvidas em relação ao tema nos últimos


anos, concentra-se em dois tipos de análise: análise teórica elástica e linear
compreendendo a analogia das bielas e tirantes e a teoria de viga e análise de
resultados experimentais. Normalmente emprega-se a teoria de viga nos blocos ditos
flexíveis e a analogia das bielas e tirantes nos blocos chamados de rígidos. Fica
evidenciado que para o dimensionamento e verificação desses elementos estruturais,
é necessário o prévio conhecimento de suas dimensões.
O comportamento estrutural de blocos sobre estacas pode ser definido
utilizando-se a analogia de bielas e tirantes, por ser tratarem de regiões descontínuas,
onde não são válidas as hipóteses de Bernoulli. No modelo de bielas e tirantes as
verificações de compressão nas bielas são as mesmas que as do Modelo de Blévot &
Frémy (1967), porém as tensões nas regiões nodais (entende-se por regiões nodais as
ligações estaca-bloco e pilar-bloco) têm valores diferentes das tensões limites
sugeridas por Blévot. O Código Modelo do CEB-FIP (1990) sugere geometrias para os
nós das regiões nodais, sendo possível realizar as verificações de tensões nessas
regiões.
O modelo de bielas e tirantes pode ser adotado considerando o fluxo de
tensões na estrutura, utilizando o processo do caminho das mínimas forças, sugerido
por Schlaich et al. (1987). Estas tensões podem ser obtidas por meio de uma análise
elástica e linear ou não, utilizando métodos numéricos, como por exemplo, o método
dos elementos finitos.
Segundo a NBR 6118:2003, “blocos são estruturas de volume usadas para
transmitir às estacas as cargas de fundação”, ou seja, todas as dimensões externas
têm a mesma ordem de grandeza. São tratados como elementos estruturais especiais,
que não respeitam a hipótese das seções planas permanecerem planas após a
deformação, por não serem suficientemente longos para que se dissipem as
perturbações localizadas. A NBR 6118:2003 classifica o comportamento estrutural dos
blocos em rígidos ou flexíveis. No caso de blocos rígidos o modelo estrutural adotado
para o dimensionamento pode ser tridimensional, linear ou não, e modelos de biela-
tirante tridimensionais, sendo esse último o preferido por definir melhor a distribuição
de forças nas bielas e tirantes. A NBR 6118:2003 não traz em seu texto
recomendações para verificação e dimensionamento deste elemento, apenas sugere
quais os critérios a utilizar.
Neste texto serão tratados os critérios de dimensionamento de blocos sobre n
estacas.

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4.2. Critérios de projetos de blocos sobre estacas

4.2.1. Procedimentos gerais do projeto


O primeiro passo no projeto de blocos sobre estacas é a definição do tipo de
estaca a ser usada.
Conhecendo-se as ações atuantes no pilar (força normal, momentos fletores e
forças cortantes) e definido o tipo de estaca e sua carga admissível determina-se o
número de estacas por pilar. Outras considerações devem ser feitas nesta fase do
projeto como, a consideração do efeito de grupo de estacas e estacas com forças
horizontais. Fundações submetidas a forças horizontais moderadas podem ser
dimensionadas com estacas verticais, distribuindo-se a força horizontal entre as
estacas, desde que se respeite capacidade horizontal; se as estacas estiverem
submetidas a forças horizontais elevadas, as camadas superiores do solo deverão
resistir a estas forças sem que ocorra movimento lateral excessivo, se isto não for
possível adotam-se estacas inclinadas. Os procedimentos para cálculo de forças
horizontais em estacas verticais são baseados em hipóteses simplificadas, uma
solução mais realista seria a consideração da interação estaca-solo.
Determinado o número de estacas, faz-se a distribuição em planta em relação
ao pilar. É recomendável, sempre que possível que o centro geométrico do
estaqueamento coincida com o centro geométrico do pilar. A disposição das estacas
deve ser feita sempre que possível de modo a obter blocos de menor volume.
Os projetistas, de maneira geral, usam distribuições de estacas associando-os
com modelos padronizados de blocos, mostrados na Figura 3.2, respeitando os
valores mínimos para os espaçamentos entre eixos de estacas e distâncias das faces
do bloco aos eixos das estacas mais próximas. Obedecendo a essas recomendações,
as dimensões dos blocos são minimizadas e, desde que a altura seja compatível
obtém-se blocos rígidos, entretanto, o espaçamento entre estacas pode ser
aumentado e se a altura não for compatível resultará em blocos flexíveis, ou seja,
distâncias maiores entre estacas e alturas pequenas resultam blocos flexíveis, que
têm comportamento semelhante às vigas de concreto armado.
Dependo da configuração adotada para disposição das estacas haverá
deslocabilidade em relação aos eixos ortogonais dos blocos como. No caso de bloco
sobre uma ou duas estacas deve ser empregado um elemento estrutural, por exemplo,
viga baldrame, para conferir indeslocabilidade horizontal. No caso de pilares de divisa
deve-se recorrer ao uso de viga de equilíbrio.

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l√3/3

l√3/6

l/2 l/2
l l/2 l/2
2 estacas l
3 estacas

l/2 l√2/2

l/2 l√2/2

l/2 l/2
l√2/2 l√2/2
l
4 estacas 5 estacas

Figura 4.2 – Bloco sobre estacas.

4.2.2. Distância entre eixos de estacas


A consideração de valores mínimos de espaçamento entre estacas é
necessária em virtude do efeito de grupo de estacas. O inchamento da superfície do
solo causado pela cravação de estacas pouco espaçadas em material compacto ou
incompressível deve ser minimizado e, portanto, é necessário que haja um
espaçamento mínimo entre estacas.
A NBR 6118:2003 sugere que o valor de espaçamento entre eixos de estacas
deva estar compreendido entre 2,5 vezes a 3 vezes o diâmetro destas.
Alguns autores adotam o espaçamento mínimo entre as estacas da ordem de
2,5 vezes o diâmetro no caso de estacas pré-moldadas e 3,0 vezes para estacas
moldadas “in loco”. Para ambos os casos esse valor não deve ser inferior a 60 cm.
Calavera (1991) sugere valores de separação mínima entre estacas de 2 vezes
a 3 vezes o seu diâmetro.
Montoya (2000) indica que deve ser adotado para espaçamento entre estacas
o menor valor entre: 2 vezes o diâmetro da estaca, 75 cm ou 1,75 vez a diagonal (no
caso de blocos quadrados).

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4.2.3. Método da superposição dos efeitos para blocos solicitados por força
vertical e momento
O método da superposição consiste em calcular a reação em cada estaca
somando-se separadamente os efeitos da ação vertical e dos momentos. Para ser
válido o procedimento, os eixos x e y devem ser os eixos principais de inércia e as
estacas devem ser verticais, do mesmo tipo, comprimento e diâmetro. A força
resultante (Ri) em uma estaca genérica i com coordenadas (xi, yi) é dada pela
Expressão 4.1.

Nd M x y i M y x i
Ri = ± ± (4.1)
n e ∑ y i2 ∑ x i2

Em que, Nd é a força normal, Mx é o momento em torno do eixo X e My é o


momento em torno do eixo Y. Os momentos são considerados positivos conforme a
indicação da figura 4.3.

My
Nd

C.G.
x
My
Mx
yi

xi

Nd

My

Figura 4.3 – Determinação das reações nas estacas, Alonso (1983).

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Na verdade o que este método faz nada mais é do que aplicar a fórmula de
flexão composta da Resistência dos Materiais, uma vez que as hipóteses coincidam,
ou seja, consideração de bloco infinitamente rígido e reações das estacas
proporcionais aos respectivos deslocamentos (na direção do eixo da estaca),
supondo-se ainda que todas as estacas tenham mesmo comprimento e desprezando-
se as pressões de apoio do bloco no terreno.

4.2.4. Classificação dos blocos sobre estacas


Os blocos sobre estacas podem ser classificados como rígidos ou flexíveis.
Essa classificação se dá com relação ao comportamento estrutural do bloco. A maioria
dos autores faz esta classificação com relação entre a altura do bloco e a distância do
centro da estaca mais afastada até a face do pilar. A classificação dos blocos em
rígidos e flexíveis vai definir o comportamento estrutural do modelo.
A NBR 6118:2003, sugere para blocos rígidos espaçamento mínimo entre
estacas de 2,5 vezes a 3 vezes o diâmetro destas e os considera rígidos se a
inequação apresentada na Expressão 4.2 for satisfeita.

h≥
(a − a ) p
(4.2)
3
onde:
– h é a altura do bloco;
– a é a dimensão do bloco em uma determinada direção;
– ap é a dimensão do pilar na mesma direção.

Segundo a NBR 6118:2003 os blocos rígidos têm comportamento estrutural


caracterizado por trabalho à flexão nas duas direções com trações nas linhas sobre as
estacas; as forças são transmitidas por meio de bielas de compressão com formas e
dimensões complexas; o trabalho ao cisalhamento também se dá nas duas direções,
não apresentando ruptura por tração diagonal e sim por compressão das bielas. No
caso de blocos flexíveis deve ser feita uma análise mais completa.

4.2.5. Distância do eixo da estaca até a face do bloco


Projetistas e alguns autores como Andrade (1989) e Alonso (1983) sugerem
que a distância mínima entre o eixo da estaca e a face do bloco deve ser igual a 15 cm
somado a meio diâmetro da estaca.
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Calavera (1991) e Montoya (2000) sugerem que a distância entre qualquer


ponto do perímetro da estaca até a borda do bloco não deva ser inferior ao raio da
estaca nem a 25 cm.

4.2.6. Ligação estaca-bloco


Calavera (1991) e Montoya (2000) considerando recomendações práticas
sugerem que a ponta superior da estaca deve ser embutida no bloco não menos que
10 cm e não mais que 15 cm.
A união entre a estaca e o bloco pode variar dependendo do tipo de estaca e
do processo de construção.

d
h
10 cm a 15 cm

c 10 cm
lastro de concreto

φest
φest 2
≥ 25 cm
Figura 4.4 – União de bloco e estaca, Calavera (1991).

4.2.7. Recomendações sobre excentricidades acidentais


A tendência do uso de estacas de grande diâmetro, por razões econômicas,
conduz muitas vezes a blocos sobre um número menor de estacas, como é o caso de
blocos sobre uma ou duas estacas. Calavera (1991) faz uma importante consideração
para o caso de compressão centrada em blocos sobre uma ou duas estacas. Em
virtude das incertezas na execução desses elementos sugere que se adote uma
excentricidade acidental mínima, que é levada em consideração no projeto do bloco.
Para os valores da excentricidade acidental pode-se adotar:
– e = 5 cm, em obras com alto controle de execução;
– e = 10 cm, em obras com controle de execução normal; e
– e = 15 cm, em obras com baixo controle de execução.
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e
e

Figura 4.5 – Excentricidade acidental em blocos sobre uma e duas estacas,


Calavera (1991).

4.2.8. Ancoragem da armadura principal de tração – tirante


A NBR 6118:2003 indica que as barras de armadura dispostas nas faixas
definidas pelas estacas devem se estender de face a face do bloco e terminar em
gancho nas duas extremidades. A ancoragem das armaduras de cada uma dessas
faixas deve ser garantida e medida a partir da face interna das estacas. Pode ser
considerado o efeito favorável da compressão transversal às barras, decorrente da
compressão das bielas. Destaca-se que esse procedimento já é adotado pelo meio
técnico.
Andrade (1989) também admite que a armadura principal que deve ser mantida
constante em toda a extensão do vão entre as estacas e convenientemente ancorada
nas extremidades do bloco. Admite ainda que a armadura adicional longitudinal,
quando constituída de barras pouco espaçadas entre si, tem o efeito de cintamento
(confinamento) das bielas, aumentando então a capacidade resistente do bloco. Tal
efeito ainda não foi estudado a fundo. Essas afirmações são baseadas em outras
análises, feitas principalmente por Burke (1978).
Considerando dados experimentais fornecidos por Minor & Jirsa (1975) e
Marques & Jirsa (1975), Burke (1978) determinou a capacidade resistente das
ancoragens (ganchos) de extremidade das barras para blocos de estacas alinhadas
adotando uma condição favorável e admitindo que a região que envolve os ganchos
esteja confinada transversalmente por barras finas (estribos). Para blocos com estacas
não alinhadas admite-se uma condição muito favorável, pois o confinamento é feito
com barras com grande diâmetro. Definidas estas condições e o diâmetro das barras
determina-se a força resistente de cálculo dos ganchos, esta força é subtraída da força

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a ancorar. Além disso, pode-se considerar um aumento no valor da tensão de


aderência com o aumento das pressões transversais na barra ancorada.
Calavera (1991) sugere que o comprimento de ancoragem das barras da
armadura principal de tração deve ser contado a partir do eixo da estaca. Considera
ainda que o comprimento de ancoragem possa ser diminuído em 20%, redução esta
admitida pela boa condição de aderência produzida pela compressão transversal das
barras por conta da reação nas estacas e da força da biela. Sugere ainda que, se o
comprimento de ancoragem reta não for suficiente pode-se adotar gancho sempre
que:

l1
≥ 0,8l b (4.3)
0,7

Pode-se adotar também prolongamentos verticais (ℓ2) tal que:

l1 l
l2 + = 0,8l b → l 2 = 0,8l b − 1 (4.4)
0,7 0,7

Os comprimentos ℓ1 e ℓ2 estão definidos na figura 4.6, e ℓb é o comprimento de


ancoragem básico de uma barra.

l2

l1

Figura 4.6 – Comprimento de ancoragem em blocos sobre estacas, Calavera (1991).

Calavera (1991) admite que o valor do comprimento ℓb possa ser reduzido


multiplicando-o pela relação da armadura necessária dividida pela armadura efetiva,
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mas deve se garantir que esta armadura seja prolongada até a face do bloco
(descontando apenas o cobrimento). O comprimento ℓ1 não deve ser menor que um
terço de ℓb, 10 vezes o diâmetro das barras e 15 cm.
Montoya (2000), diferentemente de Calavera (1991) não sugere redução da
seção da área de armadura, indicando que a armadura principal seja colocada em
todo o comprimento do bloco. A ancoragem das barras deve ser feita com ângulo reto
ou com barras transversais soldadas, medida a partir do plano vertical do eixo da
estaca até a face do bloco (desconsiderando o cobrimento). Considerando o efeito
benéfico da força resultante das tensões nas bielas de compressão permite reduzir a
força a ser ancorada em 20%.
Delalibera (2006) apresenta duas hipóteses para a determinação do
comprimento de ancoragem. A primeira hipótese sugere que o comprimento de
ancoragem se inicie a partir da face mais afastada da estaca estendendo-se até a face
do bloco (descontado o cobrimento), utilizando-se integralmente a força a ancorar. A
segunda sugere que o comprimento de ancoragem se inicie no eixo da estaca e se
estenda até a face do bloco (descontado o cobrimento), reduzindo-se 49% da força a
ancorar. A Figura 4.7 exemplifica estes métodos.
Delalibera (2006) sugere ancoragem reta, pois, por meio de ensaios
experimentais verificou que os ganchos não têm influência relevante.

F F

R st,anc = R st,d R st,anc = 0,51. R st,d


b,disp b,disp

Hipótese I Hipótese II

Figura 4.7 – Método para determinação do comprimento de ancoragem, Delalibera (2006).

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4.2.9. Detalhamentos das armaduras secundárias


Armaduras secundárias na forma de estribos na direção transversal e
longitudinal são indicadas pelo CEB-FIP (1970). A princípio, elas são exigidas apenas
no caso dos blocos sobre duas estacas em face de momentos provenientes de
excentricidades construtivas das estacas.
O CEB-FIP (1970) não contempla casos de blocos sobre uma estaca.
Em blocos sobre duas estacas uma armadura longitudinal é posicionada na
parte superior, estendida sobre todo o comprimento do bloco, cuja seção transversal
não deve ser inferior a 10% da área das barras de aço da armadura principal de
tração. Deve apresentar nas faces laterais, uma armadura em malha constituída por
estribos transversais que devem envolver as barras longitudinais superiores e
inferiores e, estribos na direção longitudinal envolvendo os estribos transversais.
A adoção desses critérios pode ser explicada, segundo Mautoni (1972) a ruína
de blocos sobre duas estacas se dá quando a resistência à tração horizontal no eixo
central for superada.

estribo
direção transversal

estribo
direção longitudinal
Figura 4.8 – Armaduras secundárias, CEB-FIP (1970).

Considerando a face do bloco, mostrada na Figura 3.8, a seção de uma barra


da malha, formada por estribos nas duas direções, em cm2 é dada por:

As, w = 0,0020.b.sh (4.5)

Na expressão, b designa a largura do bloco em cm e sh o espaçamento das


barras da malha também em cm. Se a largura b exceder a metade da altura total h do
bloco, deve-se substituí-la por h/2.
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Introdução ao dimensionamento estrutural de elementos especiais de fundações

A norma brasileira NBR 6118:2003 traz recomendações para armadura de


distribuição e suspensão.
A armadura de distribuição deve ser prevista para controlar a fissuração e deve
ser colocada na forma de uma malha adicional uniformemente distribuída nas duas
direções para complementar a armadura principal que é distribuída em faixas sobre as
estacas. Para o cálculo das áreas das barras das armaduras deve ser considerado no
máximo 20% da força adotada para o dimensionamento da armadura principal de
tração. A resistência de cálculo da armadura deve ser igual a 80% de fyd.
Em alguns casos, a NBR 6118:2003 sugere o uso de armadura de suspensão,
nos casos em que a armadura de distribuição for prevista para mais de 25% da força
adotada para o cálculo da armadura principal ou se o espaçamento entre estacas for
maior que três vezes seu diâmetro.
Segundo Leonhardt & Monning (1978) é muito importante que armadura
principal de tração nos modelos de blocos sobre estacas seja o mais possível
concentrada sobre as estacas e não distribuídas pela largura do bloco, pois as bielas
de compressão se concentram na direção dos apoios rígidos constituídos pelas
estacas e lá devem compor com esforços dos tirantes.
Para os casos em que essa armadura for disposta também entre as estacas,
deve-se adotar uma armadura de suspensão. Leonhardt & Monning (1978) indicam,
segundo mostraram seus que, quando a armadura for disposta também entre as
estacas, uma parte dos esforços das bielas de compressão atua nessa região e
pressiona o tirante para baixo, porque falta apoio nesse local (Figura 4.9). Surgem
então fissuras na parte inferior do bloco que podem conduzir a uma ruína prematura,
pois a zona comprimida para baixo e para fora arranca a malha de armadura mesmo
nas proximidades das estacas.

Corte passando pelas estacas. Corte passando pelo pilar.


Figura 4.9 – Esquema para colocação de armadura de suspensão em casos de armadura
disposta entre as estacas, Leonhardt & Monning (1978).
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No caso de distância entre as estacas maiores que três vezes o diâmetro


desta, não se deixa o trecho entre as estacas sem armadura, portanto haverá a
necessidade de se adotar armadura de suspensão. Essa armadura deve ser
dimensionada para uma força aproximadamente igual a F/(1,5.n), sendo F a força
aplicada no bloco e n o número de estacas (n ≥ 3).

4.3. Método de dimensionamento

O Método das Bielas é o método mais difundido para o dimensionamento de


blocos rígidos sobre estacas. É baseado nos trabalhos experimentais realizados por
Blévot e Frémy (1967).
O método das bielas consiste em admitir no interior do bloco uma treliça
espacial composta por barras tracionadas e barras comprimidas.
As barras tracionadas da treliça ficam situadas no plano médio das armaduras,
que é horizontal e se localiza logo acima do plano de arrasamento das estacas.
As barras comprimidas, chamadas de bielas, são inclinadas e definidas a partir
da intersecção do eixo das estacas com o plano médio das armaduras com um ponto
definido na região nodal do pilar (que é considerado de seção quadrada).
As forças de compressão nas bielas são resistidas pelo concreto, as de tração
que atuam nas barras horizontais da treliça, pela armadura.
O método consiste no cálculo da força de tração, que defini a área necessária
de armadura, e na verificação das tensões de compressão nas bielas, calculadas nas
seções situadas junto ao pilar e à estaca.
As tensões limites foram determinadas experimentalmente por Blévot & Fremy
(1967) em ensaios e assumidas iguais junto ao pilar e estaca. É importante observar
que a rigor não são iguais, junto ao pilar há o efeito favorável de confinamento do
concreto. Portanto, a tensão limite junto à estaca deveria ser considerada inferior;
Blévot & Frémy (1967) só fizeram essas considerações para blocos com mais de
quatro estacas.
O método das bielas é recomendado para ações centradas e todas as estacas
devem estar igualmente afastadas do centro do pilar. Pode ser empregado no caso de
ações que não são centradas, desde que se admita que todas as estacas estão
submetidas à maior força transferida.
Os critérios utilizados são para pilares de seção quadrada, sendo recomendado
por alguns autores que no caso de pilares retangulares se use seção quadrada
equivalente.
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O roteiro de dimensionamento, adaptado do Método de Blévot, que geralmente


é usado pelos projetistas de concreto armado pode ser visto em Munhoz (2005) e
Silva & Giongo (2000).
Não é objetivo deste texto apresentar o modelo de bielas e tirantes, nem os
critérios de dimensionamento de blocos sobre uma, duas, três, quatro e cinco estacas.
Caso o leitor se interessar, poderão encontrar mais informações a respeito disto nos
trabalhos citados anteriormente.
Basicamente ao se projetar blocos sobre estacas, o projetista deve fazer:
– Determinar o número de estacas;
– Dimensionar geometricamente o bloco;
– Verificar as tensões nas bielas;
– Verificar as tensões de tração perpendicular às bielas (fendilhamento);
– Dimensionar as armaduras principais de tração;
– Dimensionar as armaduras secundárias;
– Detalhar o elemento estrutural.

No caso de blocos flexíveis, além das verificações anteriores, deve-se verificar


o efeito de punção junto ao pilar e junto às estacas.

4.4. Dimensionamento de blocos sobre n estacas

Nos blocos com mais de seis estacas a disposição das armadura sobre as
estacas (ver Figura 4.10) é a mais adequada.
Para o cálculo, fica evidente que o modo de calcular segundo duas direções
(no caso de simetria nas direções dos respectivos eixos) é o que se aplica com mais
facilidade e clareza.
É o que se chama de Método Geral que consiste em:
– Definir duas direções ortogonais entre si (em geral eixos de simetria ou direções
paralelas às faces laterais dos blocos);
– Calcular para cada direção, sucessivamente em várias seções, o somatório das
forças de tração correspondentes às estacas que estiverem do mesmo lado (à
esquerda ou à direita da seção);
– Adotar armaduras em função das tensões de tração existente em cada direção;
– Verificar as tensões nas bielas junto às estacas. A estaca mais crítica será aquela
que corresponder a maior inclinação da biela (βmáx).

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Obs. Quase sempre os pilares terão seções com grandes dimensões. Deve-se
então adotar da maneira que se julgar mais adequada as posições (na seção do pilar)
das bielas correspondentes a cada estaca.
– Verificar as tensões nas bielas junto ao pilar. Nesse caso cada biela terá inclinação
βi e será necessário adotar um valor médio βm.

Figura 4.10 – Distribuição das barras da armadura principal de tração segundo recomendações da
NBR 6118:2003.

Parece ser mais adequado adotar um valor que corresponda a médias das
tangentes, isto é:

1 n
βm = ⋅ ∑ βi (4.6)
n 1

Por meio da Figura 4.11 desenvolve-se o dimensionamento estrutural dos


blocos sobre n estacas.
Determina-se a força nos tirantes (Txi e Tyi) e por méis desta forças determina-
se a quantidade necessária de barras de aço para absorver a força de tração e
verificam-se as ancoragens.
Observa-se por meio da Figura que existem dois ângulos, um dos ângulos (β)
se desenvolve ao longo da altura do bloco o outro, denominado de α é associado ao
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plano horizontal do bloco. Por meio deste ângulo é que são determinadas às forças de
tração nos tirantes.
A favor da segurança aconselha-se que o dimensionamento dos tirantes dos
blocos e as verificações das tensões nas regiões nodais inferior e superior (junto ao
pilar e junto à estaca) sejam feitos com a reação da estaca mais solicitada à
compressão.

Txi
Ti
Tyi i

i
Fb
Y

i
X Txi
F
My

Txi X

Ti

Estaca
Ti
i

Txi

Ri R i+1 R i+2

Figura 4.11 – Método de dimensionamento de blocos sobre n estacas.

A força na biela (Fb) é calcula por meio da Expressão 4.7 e é função da reação
da estaca mais comprimida (R+).

R+
Fb = (4.7)
sen(β i )

Por meio da força na biela determina-se a força nos tirantes nas direções X e
Y.
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Ti = Fb ⋅ cos(β i ) (4.8)
Txi = Ti ⋅ sen(α i ) (4.9)
Tyi = Ti ⋅ cos(α i ) (4.10)

Em função das forças Txi e Tyi calcula-se as áreas das barras de aço da
armadura principal de tração nas direções X e Y, sendo fyd a resistência de cálculo ao
escoamento das barras de aço.

Txi ⋅ γ f
A sx,i = (4.11)
f yd

Tyi ⋅ γ f
A sy,i = (4.12)
f yd

As verificações das tensões nas regiões nodais inferior e superior são feitas por
meio das Expressões 4.13 e 4.14.

Fb ⋅ n
≤ 0,85 ⋅ fcd (4.13)
A p ⋅ sen(β m )

Fb
≤ 0,85 ⋅ fcd (4.14)
A e ⋅ sen(β máx )

Nas expressões 4.13 e 4.14, Ap e Ae representam a área da seção transversal


do pilar e a área da seção transversal da estaca e claro, fcd a resistência de cálculo a
compressão do concreto.
Faz-se necessário ainda verificar a ancoragem das barras das armaduras
principais de tração (Tirantes nas direções X e Y), para isto, utiliza-se as
recomendações do item 4.2.8.

4.5. Comentários finais

O método de dimensionamento apresentada no item 4.4 deve ser utilizado com


bom senso respeitando todas as indicações da NBR 6118:2003.
Existem outros métodos para dimensionamento de blocos sobre n estacas. O
método apresentado pelo Boletim nº 73 do CEB (1970) é um dos mais utilizados pelos

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projetistas. Mais informações sobre este método pode ser encontrada em Munhoz
(2004) e Delalibera (2006).

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