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8 Ricardo Antunes

ria , sua histó ria e seu sindicalismo. Para tanto,


introduz algumas questões preliminares para todos
aqueles que, envolvidos ou n ão na condição de
assalariados, buscam principiar no entendimento
do que é o sindicalismo.
Da í que nos parece desnecessá rio frisar que
ele foge a todas as regras de um trabalho acadê¬
mico. Se n ão bastasse o seu cará ter meramente
introdutó rio, destina -se especialmente àquelas pes¬ 1? Parte
soas cujo cotidiano se desenvolve fora dos muros
da universidade.
Sob estas condições este texto foi concebido.
Nele se encontram duas partes: a primeira
mostra as origens do sindicalismo, suas vá rias con ¬
ORIGENS , EVOLUÇÃO
cepções, sua importâ ncia e os seus limites dentro E IMPORTÂ NCIA DOS SINDICATOS
da sociedade capitalista moderna. A segunda faz
um sintético balan ço da hist ó ria do movimento
sindical brasileiro, destacando seus principais
momentos, desde a cria ção das organiza çõ es de
aux í lio m ú tuo na segunda metade do século XIX
até às recentes greves dos metal ú rgicos do ABC.

Agosto / 79 RICARDO ANTUNES

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í
Ricardo Antunes O que é o Sindicalismo 11

O advento do capitalismo e o papel dos de ent ão, passou a pagar um sal á rio ainda mais
sindicatos humilhante para os operá rios.
Neste momento a divisão da sociedade atin ¬
“ Os
giu sua plenitude; constitu í ram -se as duas classes
sindicatos representaram ,
nos primeiros tempos do desen¬ fundamentais e antagó nicas que compõem a socie ¬
volvimento do capitalismo , um dade capitalista . De um lado os capitalistas, que
progresso gigantesco da classe são propriet á rios dos meios de produ ção, como
operária , pois propiciaram a as m á quinas, maté rias- primas e que vivem da explo ¬
passagem da dispersão e da ração da grande massa da população, e, de outro,
impotência dos operários aos
os proletá rios, que se encontram privados de toda
rudimentos da união da classe .”
a propriedade dos meios de produção e que só dis¬
põ em de sua força de trabalho, isto é, da sua
capacidade de produzir. Noutras palavras, o produ ¬
A sociedade capitalista encontrou em meados to criado pelo trabalho do operá rio passou a ser
do século X V I I I plenas condições para a sua expan ¬ apropriado pelo capitalista . E subsiste dentro da
são. 0 intenso desenvolvimento das m á quinas, sociedade capitalista a Lei do Salário que, como
substituindo a produ ção artesanal e manufatureira , demonstrou Engels em seus Escritos Sobre o Sindi¬
consolidou o capitalismo , que agora ingressava na calismo, acarretando cada vez mais a diminuição
fase industrial . da remunera ção do trabalhador , reforça as cadeias
O maqumismo desenvolveu -se prodigiosamente, que tornam cada vez mais o oper á rio escravo do
tornando-se mesmo uma lei imperativa para os fabri ¬ produto gerado pelas suas pró prias m ãos. Essa ten ¬
cantes capitalistas na concorrê ncia que faziam entre d ê ncia ao rebaixamento dos sal á rios atinge um
si, em busca de maiores lucros. Poré m , o emprego da n ível tal , que só é suficiente para a reprodu ção do
força mecâ nica e das m áquinas nos novos ramos trabalhador, forçando-o a uma jornada de traba ¬
industriais, assim como a utiliza ção de má quinas lho extenuante, cheia de "horas extras", al é m de
mais avan çadas em ramos já mecanizados, deixaram ver sua mulher e filhos, estes na maioria das vezes
sem trabalho um grande n ú mero de operá rios. Esse ainda em idade precoce, trabalhando sob condi ¬
excedente de m ã o-de-obra substitu ído pela m á qui ¬ ções desumanas.
na fortaleceu ainda mais o capitalista que, a partir Como decorrê ncia dessa situa ção , os operá -

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12 ti , jh , n Sindicalismo 13
t
rios, que inicialmente n ão dispõem de outra coisa anu sustento e o da sua fam í lia .
senão sua força de trabalho, subordinam-se aos in ¬ Os sindicatos são, portanto, associações criadas
teresses e à força do capital , mantendo com esse polos operá rios para sua pró pria seguran ça , para a
uma relação sempre desigual . A grande força que ilnlusa contra a usurpa ção incessante do capitalista ,
possuem é , em contrapartida , a sua quantidade, que
cresce quanto mais se desenvolve o capitalismo.
Porém , essa quantidade é anulada quando há desu ¬
.
pora a manutenção de um sal á rio digno e de uma
i < toada de trabalho menos extenuante, uma vez
que o lucro capitalista aumenta n ão só em função
ni ão entre a classe, o que n ão acontece com os ' lo baixa de sal á rios e da introdu ção das m á quinas,
capitalistas que, facilitados pelo seu reduzido mus també m em função do tempo excessivo de
n ú mero, encontram-se sempre organizados e coesos o aba lho que o capitalista obriga o operá rio a
na defesa da propriedade privada e dos lucros. Os exercer.
oper á rios encontrarão em suas organizações pró prias A atua ção dos sindicatos baseia -se nas lutas
condi çõ es para dispor de um meio de resist ê ncia cotidianas da classe operá ria . Mas al é m disso, os
eficaz contra essa pressão constante pela baixa de sindicatos constituem -se també m força organiza ¬

sal á rios. dora da classe operá ria na luta pela supressão do


é neste momento que surgem os sindicatos; sistema de trabalho assalariado . Devem ser conside ¬

estes nasceram dos esforços da classe operá ria na r óos como centro de organiza ção dos operá rios
sua luta contra o despotismo e a dominação do visando sua emancipa ção econó mica , social e po ¬

capital. Os sindicatos t ê m como finalidade primeira l í tica .


impedir que os n íveis salariais coloquem -se abaixo O sindicato, ao tornar-se representante dos
do m í nimo necessá rio para a manuten ção e sobre ¬ interesses de toda a classe operá ria , conseguiu
vivê ncia do trabalhador e sua fam í lia. Os operá rios agrupar em seu seio todos os assalariados que não
unidos em seu sindicato colocam-se de alguma ma ¬ estavam organizados, evitando que o operá rio
neira em pé de igualdade com o patronato no mo ¬ continuasse sua luta isolada e individual frente ao
mento da venda de sua força de trabalho, evitando capitalista . A partir do momento em que os ope ¬
que o capitalista trate isoladamente com cada r á rios constitu í ram suas organiza ções de classe,
operá rio . Esta é a função primeira dos sindicatos: ficou mais dif ícil para o capitalista baixar desme¬
impedir que o operá rio se veja obrigado a aceitar suradamente o sal á rio ou aumentar excessivamente
um sal á rio inferior ao m í nimo indispensá vel para o u jornada de trabalho.

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14 Ricardo Anium 1 í filc o Sindicalismo 15

Presentemente os sindicatos são instituições < * nascimento do sindicalismo e das


reconhecidas e sua ação é admitida como fator de
regulamentação e fiscalização dos sal á rios, da huir , operárias: os trade-unions
jornada de trabalho e da legislação social . É gra ças
à ação sindical que a Lei dos Salá rios é controlada ‘‘Se a histó ria das organizações
pelos pró prios operá rios. Mais ainda : o papel dos sindicais inglesas teve momentos
sindicatos é fornecer aos operá rios alguns meios de derrotas e vitórias , é inegável
de resistê ncia na sua luta contra os excessos do que elas constituíram a primeira
capitalismo. Essa luta subsistirá enquanto a redu ¬
tentativa efetiva dos trabalhado ¬

ção dos sal á rios continuar a ser o meio mais seguro res de organizarem-se na luta
e mais f ácil para o capitalista aumentar seus lucros, contra os capitalistas. Ao con ¬

ou seja, enquanto durar o pró prio sistema de sal á ¬


seguirem abater a concorrência
rio. A simples existência dos sindicatos é a prova existente entre os operários
disso : se n ão lutassem contra a usurpação do capi ¬
unindo-os e tomando -os soli¬
tal , diz Engels, para que serviriam ?
dários em sua luta , ao se uti ¬

Os sindicatos representaram , nos primeiros lizarem das greves como prin ¬


tempos do desenvolvimento do capitalismo, um
cipal arma contra os capitalis ¬

progresso gigantesco da classe operá ria , pois pro¬


tas, os operários conseguiram
piciaram a passagem da dispersão e da impotê ncia
dar os primeiros passos na
dos operá rios aos rudimentos da uni ão de
luta pela emancipação de toda
classe. *
a classe operária .”

A Inglaterra viveu , na segunda metade do


Mtculo XVIII , um processo de desenvolvimento
imenso. 0 advento do vapor e das m á quinas trans-
f ' ninou as manufaturas em grandes ind ú strias
* .
Lenin, Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, Ed Escriba , modernas, criando as novas bases da sociedade
. .
p 50
t npitalista . Vivia -se a etapa da produ çã o em larga

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tes O que é o Sindicalismo

escala . Cada vez mais se acentuava a divisão da mente perseguidos e suas máquinas destru ídas.
sociedade em grandes capitalistas, de um lado, e Mas essa forma de revolta era isolada, limitada
proletá rios, de outro, mediados por uma massa de e não conseguiu conter o inimigo maior que era
pequenos comerciantes e artesãos, segmento flu ¬
o próprio poder do capitalista. Mais ainda, colo ¬

tuante e oscilante da população. 0 capitalismo cou a sociedade inteira contra os operá rios pelo
iniciava um processo que ainda haveria de desenvol ¬
seu gesto considerado brutal. Era pois necessário
ver , mas já trazia consigo toda urna gama de trans ¬
encontrar uma forma de oposição mais eficiente
tornos sociais, como a superexploração do traba ¬
e que representasse um avanç o nas lutas da classe
lho, que atingia até 16 horas por dia, a exploração oper ária.
das mulheres e das crianç as, o trabalho sem condi ¬ Foi de grande importância para esse avanç o
ções m í nimas de salubridade, além da aglomera ¬ a lei votada em 1824 pelo Parlamento ingl ês, onde
ção da população operária em locais sem as mínimas se conquistou o direito que at é então era restrito
condiçõ es de vida e habitação. à s classes dominantes: a livre associação. Na verda¬

0 intenso desenvolvimento do processo de pro ¬


de as associações sindicais já existiam na Inglaterra
dução capitalista teve, como já nos referimos, a desde o século anterior, mas eram violentamente
necessidade de recorrer cada vez mais ao uso das reprimidas no desempenho de suas atividades, o que
máquinas, o que coadunava com os interesses dos dificultava a organização dos trabalhadores. Con ¬

capitalistas que procuravam auferir lucros cada vez quistado o direito de livre associação as uniões
maiores. Vimos também que dentro destas circuns ¬
sindicais —
trade-unions, como as chamam os
t âncias a introdução das máquinas trouxe a substi
tuição de grandes contingentes de mão-de-obra, que
¬
ingleses —desenvolveram-se por toda a Inglaterra,
tornando-se bastante poderosas. Em^. todos os
foram lançados ao desemprego . Da í as primeiras ramos industriais, diz ainda Engels, formaram- se
manifestações de revolta dos operários visarem a trade-unions com o objetivo de fortalecer o ope-
destruição das máquinas. t ário na luta contra a exploração capitalista. As
Engels, em seu célebre estudo A Situação da
trade-unions passaram ent ão a fixar os sal á rios
Classe Trabalhadora na Inglaterra, mostrou que a para toda a categoria, evitando com isso que o
forma mais elementar de luta da classe operária operá rio atuasse isoladamente na luta por melho¬
marcou uma resist ência violenta à introdução das res salá rios. Passaram também a regulamentar o
máquinas. Os primeiros inventores foram inicial ¬
.
• ilário em função do lucro, obtendo aumentos
que

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18
Ricardo Antun O que é o Sindicalismo 19
acompanhavam a produtividade industrial
lando -o a toda categoria. e nive ¬
principal da Associação Geral era resistir à dimi ¬

As trade-unions negociavam com nuição dos salá rios e dar apoio aos oper á rios em
tas a criação de uma os capitalis ¬
greve. Uma vez desrespeitado o sal á rio fixado pelas
escala de salários, forçando
sua aceitação, e deflagravam greve trade-unions, estas enviavam uma delegação junto
salários eram rejeitados. sempre que esses ao patronato exigindo a aceitação dos sal á rios pre
Ante as constantes mano
¬

bras dos capitalistas, as trade ¬


viamente estabelecidos pela escala. Se isso não
-
financeiramente os operários emunions auxiliavam
greve ou desem
fosse suficiente a Associação recorreria à parali ¬

pregados, através das " ¬


sação de todos os oper á rios daquele ramo ou setor.
Caixas de Resistência", o
que aumentava Estas greves eram parciais, em uma determinada
sobremaneira a capacidade de
luta da classe operária e f ábrica ou setor de produção, ou generalizadas,
tornava arriscado para o
capitalista diminuir os salá quando atingiam todo um ramo de produção, como
rios ou aumentar as
horas de trabalho. os têxteis, mineradores etc. Estes eram os meios
Outro avanç o que se procurou legais utilizados pela Associação Geral e somente se
aglutinação das vá rias obter foi a consolidavam em vit ó rias quando correspondiam a
categorias de uma região
numa federação. Em 1830 uma maciç a organização e atuação dos operá rios.
constituiu -se uma asso
ciação geral de operários ingleses ¬
À medida que surgiam estas associaçõ es sindi
— a "Associa
¬

ção Nacional para a ¬


cais, os patrõ es, através das demissões, começ aram
Proteção do Trabalho"
cujo objetivo era atuar
como — a pressionar e obrigar os operários a renunciar for ¬

sindicatos. Reuniu operários central de todos os


têxteis, mec ânicos,
malmente de participar da vida sindical. Isso fez
fundidores, ferreiros, mineiros com que vá rias associações sindicais fossem pos
deste movimento encontrava- se etc. Na vanguarda
¬

teriormente extintas, o que demonstrou quão á rdua


de Lancashire, ocupados o operariado fabril
foi a luta dos operá rios pela sua organização nos
nas f ábricas de tecidos.
A Associação era liderada
por John Doherty (um
sindicatos.
operário que já nos Destaque nesta luta das trade-unions inglesas
anos 20 era secretário do Sin
dicato dos Fiadores de Algod ¬
deve ser dado a Robert Owen, industrial que se
e reunia cerca de 100 ão em Manchester )
000 membros, além de uma tornou posteriormente um dos precursores do
publicação periódica
, A Voz do Povo, com socialismo ut ó pico ingl é s. Diz Engels em seu
tiragem inicial de 30 000 uma ensaio Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cien
exemplares. A função ¬

t ífico que, enquanto se limitou ao papel filan-


Il
Ricardo Antunes O que é o Sindicalismo

trópico e assistencialista , Owen só recolheu rique


za , aplausos, honra e fama , não só entre os homens
¬

e por isso foi um socialista utó pico é que a trans¬
forma ção da sociedade capitalista não seria pac í¬
de sua classe burguesa , mas tamb é m entre os gover ¬ fica e através de reforrr ías, mas sim a partir da luta
nantes e o Estado . Contudo , a partir do momento violenta entre as classes, conforme mostraram Marx
em que formulou suas teorias socialistas, foi banido e Engels no cé lebre Manifesto Comunista de 1848.
e perseguido pelos capitalistas e pelo Estado, al é m Se a histó ria destas Associações é caracterizada
de ser ignorado completamente pela imprensa . por momentos de vitó rias e de derrotas, é inegá vel
Owen aproximou -se cada vez mais dos interesses que elas constitu í ram a primeira tentativa efetiva
da classe operá ria , onde ainda atuou durante algu ¬ de organização dos trabalhadores na luta contra os
mas décadas. "Todos os movimentos sociais, todos capitalistas. Ao conseguirem abater a concorrê ncia
os progressos reais registrados na Inglaterra no in ¬ existente entre os operá rios, unindo-os e torn á ndo ¬

teresse da classe trabalhadora est ão ligados ao nome os solid á rios em sua luta , ao utilizarem -se í
t as gre¬
de Owen . Assim , em 1819, após cinco anos de gran ¬ ves como a principal arma contra os capitalistas,
des esforços conseguiu que fosse votada a primeira conseguiram dar os primeiros passos
os operá rios
lei limitando o trabalho da mulher e das crianças
na luta pela emancipação de toda a classe operá ria.
nas f á bricas. Foi ele quem presidiu o Primeiro
Congresso em que as trade-unions de toda a Ingla ¬
terra se fundiram numa ú nica e grande organiza ção A evolu ção do sindicalismo e suas várias
sindical": Grande União Consolidada dos Trabalha ¬ concepções: anarquista, reformista ,
dores, criada em 1834 e que se dedicou a sustentar cristã, corporativista e comunista
as greves que eclodiram por toda parte na Inglaterra .
Foi Owen quem organizou as cooperativas de Desde seu nascimento, os sindicatos mostra -
consumo e de produção que serviram para demons¬ ram -se fundamentais para o avan ço das lutas ope ¬

trar, na prá tica, que o comerciante ou intermediá rio rá rias. E sua evoluçã o não se limitou à nação ingle ¬
e o propriet á rio capitalista n ão são indispensá veis e, sa . O crescente desenvolvimento das atividades
por outro lado, organizou ainda os mercados ope ¬ industriais em França , Alemanha , E. U .A. e outros
r á rios, estabelecimentos de trocas dos produtos por pa íses, já na segunda metade do século passado,
meio de bó nus do trabalho, cuja unidade era a hora luz emergir um proletariado cada vez mais forte,


produzida. O que Owen n ão conseguiu perceber
— .
l into quantitativa quanto qualitativamente. O movi -

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22
Ricardo Antunes O que é o Sindicalismo 23

mento sindical expandiu- se.


em todo o mundo capitalista,
Floresceram as greves que aspirava reivindicações predominantemente
avançados até aqueles de industr
desde os países mais económicas, já não era a ú rtéca tendência.
ialização mais atra Uma segunda tendência emergiu em países
.
sada A classe operá ria ganhava
novas dimensões e
¬

como França e Itália, onde a classe operá ria ainda


avanç ava na batalha pela sua
emancipação; em 1866
realizou- se o Congresso da Associaçã não atingira o grau altamente concentrado da
dos Trabalhadores, reunindo
o Internacional indústria inglesa e onde a exploração capitalista
rios de todo o mundo. Lá
representantes operᬠatingia níveis ainda mais violentos. Precursora do
idé ias anarquistas de Bakuni
estavam presentes as anarquismo, esta segunda corrente se auto -intitulou
idéias comunistas de Marx e
n, de Proudhon e as "revolucionária". Enfatizando que a sociedade
de Engels. Neste Con¬ capitalista não se transformaria através de reformas,
gresso reafirmou-se a import
â ncia da criação dos os "sindicalistas revolucionários" acreditavam que
Sindicatos, definida como uma das
diais do proletariado. tarefas primor¬ somente a greve geral poderia levar à transformação
"Estas associações devem não só radical da sociedade. Os principais teó ricos desta
os ataques do capital, como lutar contra corrente foram o francês Georges Sorel e o italiano
também devem traba Arturo Labriola. Eles acreditavam que a prática da
lhar conscientemente como locais ¬

da classe operá ria em busca de organização luta exclusivamente económica, através da ação
do grande objetivo que direta nas fábricas e da deflagração da greve geral,
é a sua emancipação radical
. Devem ajudar qualquer constitu ía - se na ú nica forma de ação efetivamente
movimento social ou político que
direção." tenha esta revolucionária da classe operária. Dizia Sorel que a
O proletariado iniciou um ação direta violenta e a greve geral, levando ao
processo de luta, conflito as distintas classes sociais, acarretariam uma
desencadeando desde reivindicações puramen
económicas até movimentos te possível vitória dos operários, devido à justiça de sua
ticos, como o Cartismo na
propriamente pol í ¬
causa, a sua maioria numérica e a sua superioridade
Inglaterra, as Revo l ísica, esquecendo -se que a isto os patrões contra ¬
luções de 1848 em França ¬

e Alemanha e a c éle põem toda a violência da for ça militar e repressiva


bre Comuna de Paris de 1871 ¬

eventos a participação da
. Em todos estes do Estado capitalista. Sorel ainda rechaçava de
classe operária foi antemão a necessidade da luta política, inclusive
decisiva.
No movimento sindical o . iquela efetuada no parlamento, e negava qualquer
trade-unionismo, lorma de organização partidá ria, entendida sempre
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I — -J
24 Ricardo Antunes O que é o Sindicalismo

como sendo utópica e reacioná ria. O "mito sore- pa í ses europeus de menor desenvolvimento ca
liano" da greve geral espontânea caracteriza, talista e, conseqúentemente, de menor concentr
segundo o filó sofo marxista Georg Luk ács, a rebel ¬
ção industrial, onde predominavam as pequen
dia de sua ideologia pequeno-burguesa e irracio ¬
indústrias como na Espanha, França, Itá lia, Po
nalista, e que cada vez mais se distancia da ver ¬
tugal, e penetrou també m na maioria dos pa í s
dadeira ideologia do proletariado. Dado o cará ¬
latino- americanos.
ter emocional e a ausência do verdadeiro conteúdo Lenin faz agudas críticas aos anarquistas, mo
proletário — o que fez com que Lenin o definisse trando alguns fundamentos de sua ideologia in
como um "conhecido confusionista" — , as idéias vidualista e pequeno-burguesa : a defesa da peque
de Sorel foram demagogicamente exploradas pelo propriedade, a negação da força unificadora e or
fascismo de Mussolini. nizadora do poder ( os anarquistas propugnavam
Uma terceira tendência foi aquela constitu ída abolição do Estado antes mesmo da supressão d
pelos sindicalistas anarquistas que, coincidindo com classes antagó nicas) e a incompreensão da verd
os sindicalistas "revolucionários", também nega ¬
deira dimensão polí tica da luta de classe do p
vam violentamente a luta pol ítica e enfatizavam a letariado. Tudo isto acarretou a subordinação
importância e a exclusividade dos sindicatos no classe operá ria à ideologia burguesa, sob a fa
processo de emancipação da sociedade. Para Ba ¬
aparência de negação da pol ítica, apregoada pe
kunin, por exemplo, os sindicatos, al ém de "orga ¬
anarquistas.
nização natural das massas", seriam o " único
Outra corrente do movimento sindical, q
instrumento de guerra verdadeiramente eficaz" tem suas origens no trade-unionismo inglês,
na construção da sociedade anarquista baseada
aquela denominada reformista, uma vez q
na autogestão e na negação de qualquer forma
se opõ e à atuação revolucioná ria do proletariad
de administração estatal. Proudhon, Kropotkin
Som negar o princ í pio de que os sindicatos co
e Malatesta foram outros teóricos desta concep ¬
tituem um meio de luta a fim de obter reiv
ção libert á ria. Embora comportando algumas
dicaçõ es justas, os reformistas pretendem u
tendê ncias distintas, o anarquismo enfatizava o
papel do sindicato não só como ó rgão de luta, mas
«Imples melhora da situação dos trabalhado
dentro do sistema capitalista. O maior exem
também como núcleo básico da sociedade anar ¬
dentro desta corrente é o sindicalismo norte- am
quista. A concepção anarquista propagou- se nos
Iii ano. Na heranç a das trade-unions , o sindicalis
26 0 que é o Sindicalismo
Ricardo Antunes
v

mundo em primeiro de maio, tem origem n


luta dos operá rios norte- americanos — os M á rt
de Chicago — pela redução da jornada de traba
Depois de violenta repressão policial à s gre
\ quatro operá rios são condenados à morte e ou
à prisão perpétua sob a falsa acusação de te
cometido um atentado. A partir de então o 1?
Maio tornou- se um dia de luta de toda a cl
operária .
B
Apesar destas lutas no fim do século pass
a Federação Americana do Trabalho pratica,
os dias de hoje, um sindicalismo que nega a luta
classes e que se limita a uma estreita defesa
fnillcf interesses corporativos. 0 movimento sindical no
americano, neste seu apoliticismo, expressa u
Proudhon e Lenin ideologia conservadora e adequada aos interes
do capitalismo e, apesar de ter sua estrutura si
cal totalmente independente do Estado, não co
norte- americano pauta sua atuação no terreno gue exercer uma atuação aut ó noma, uma vez
estritamente economicista e reivindicator ío, nunca sua prática sindical encontra -se totalmente su
abalando, mas sim se ajustando ao sistema capita dinada à ideologia capitalista dominante, da q
.
lista Sua recusa a um "sindicalismo pol ítico" é
¬

Mhjetiva extrair algumas melhorias para o oper


violenta e data desde a criação da Federação Ame ¬
norte-americano.
ricana do Trabalho, em fins do século passado, Sem romper com a concepção reformista,
quando a luta operá ria grevista atingiu ampla < nutramos ainda a corrente do sindicalismo cris
re ¬

percussão ( mais de cinco mil greves em


1886), quit se inspirou, em sua origem, na enc íclica Re
objetivando conquistar a jornada de oito horas Nnvnrum ( 1891 ), de Leão XIII. Essa corrente ad
.
Vale lembrar que o Dia do Trabalho, universal ¬
urno ampla colaboração social e reconhece a legit
mente celebrado pela classe operária de todo o
Éado de princípio das organizações sindicais,
29
28 Ricardo Antunes I O que é o Sindicalismo

alto grau de exploração da classe operária. As


que isto implique radicais transformaçõ es no regime corpo ¬

representantes dos capi ¬

capitalista da propriedade privada. A concepção rações italianas aglutinavam


á rios de todas as categorias que
crist ã atribui ao capitalismo a necessidade de desen
¬ talistas e dos oper
volver sua função social, tornando-o um sistema contribu íam para a produ ção de determinado
produto. Por exemplo, na corporação dos cereais
,
.
"justo e equitativo" A Confederação Internacional
representante s dos patr õ es
dos Sindicatos Crist ãos, criada no Congresso de Haia na Itá lia, participavam os
e dos trabalhadores dos moinhos, padarias, confei
¬

em 1920, afirmou que "a vida econó mica e social


etc.
implica a colaboração de todos os filhos de um tarias, comércio de cereais, técnicos agrícolas
a criaçã o de corpora çõ es por
mesmo povo. Rejeita, portanto, a viol ência e a luta Com isso se evitava
categoria, que mais facilmente refletiriam os confli
¬

de classes, quer do lado patronal, quer do lado


oper á rio". A influência do sindicalismo crist ão é tos de classe, pois que dela participariam
os patr ões
ainda hoje bastante grande em alguns pa íses, como e os trabalhadores de uma ú nica categoria — por
exemplo, os capitalistas proprietários de ind ú strias
.
a Itá lia
Outra corrente dentro do sindicalismo — a metalúrgicas e os operá rios empregados naquelas
corporativista — datou das primeiras décadas deste indústrias refletindo diretamente as disparidades
século, durante a vigê ncia do fascismo. Seu apare ¬ existentes entre eles.
cimento só foi possível através da violenta repres ¬ Nos sindicatos fascistas, diz Togliatti em
conjunta
/ ições sobre o Fascismo, participavam
¬

são ao movimento sindical e oper á rio antifascista,


e proletá -
acabando com as verdadeiras lideranç as oper á rias, mente patr ões e oper á rios, capitalistas
além de uma prática de intensa manipulação das iios, fundamento para a implementa o çã da ideolo ¬

gia corporativista. É importante ressaltar que o cor -


massas populares. Em 1927 Mussolini decretou a
depois que os
Carta Del Lavoro, que organizou os sindicatos ita ¬ porativismo somente se organizou
. represen -
lianos nos moldes corporativistas: as corporações ti ibalhadores foram privados de qualquer
30
O que é o Sindicalismo

Lenin, em Que Fazer?, demonstrou que o mo ¬ nização que dá instrução, uma escola de g
vimento sindical, quando totalmente isolado das uma escola de administração, enfim, uma
demais lutas de toda a sociedade, acaba incorrendo de comunismo. É uma escola de tipo co
numa atuação demasiadamente "economicista" mente desconhecido no capitalismo,
po
trade-unionista. Da í a import â ncia da atuação
,
dos sindicatos não há mestres e alunos, mas s
comunistas dentro dos sindicatos para transfor ¬ escola que cada vez mais forma os setor
mar a luta trade-unionista numa luta
mais ampla avançados do proletariado.
pelo fim do sistema capitalista,
aproveitando os Durante a ditadura do proletariado, o
vislumbres de consciência pol ítica que a atuação catos situam - se entre o Partido e o poder
económica introduz no operário e
elevando esta do. Houve inclusive um debate entre
consciência ao n ível de uma consciência
revolu ¬ Trotsky, em 1921, sobre os v í nculos entre
cioná ria.
catos e o Estado socialista. Enquanto
Na R ússia czarista, fase imperial anterior
à defendia a necessidade de estatizar os sin
Revolução Socialista de 1917, os sindicatos que
giram nos fins do século XIX foram
sur ¬
isto é, torná-los ó rgãos estatais, Lenin dem
locais de orga ¬ que os sindicatos, mesmo sob o socialism
nização fundamentais para o avanço da classe
r ária. Em São Petesburgo, por exemplo
ope ¬ deveriam manter -se como órgão de def
, o movi ¬ interesses materiais dos trabalhadores na l
mento sindical foi muito ativo, sendo
justamente democracia prolet ária. Ressaltava a dupl
da í que nasceu a Revolução de
Fevereiro, que dos sindicatos durante a ditadura do prole
antecipou a Revolução Socialista de
Outubro. é, de um lado, atravé s das lutas diá rias dos
A partir do momento em que a classe tos que as massas aprendem a caminhar em
ope ¬

rária tomou o poder através da revoluçã


o, tornou - ao socialismo. De outro, os sindicatos
"reserva de força" do Estado. Na verdade
- se necessá rio alterar o significado
e a função dos
sindicatos. Os sindicatos tornaram-se, sob o socia ¬ de transição do capitalismo para o socia
lismo, uma organização que englobou a quase to ¬
sindicatos assumem algumas tarefas funda
talidade dos operários da indústria. Por ém com tais como: organização e direção da p
um novo cará ter, conforme disse Lenin em
Sobre evitando inclusive as sabotagens contra-r
os Sindicatos: os sindicatos tornaram- se uma
orga¬
nárias dos inimigos da revolução; a mel
nização educadora da massa operária ¬ ómica dos operários; a mel
32 O que é o Sindicalismo
Ricardo Antunes

condição operá ria dentro e fora da f á brica , através capitalista. Na verdade os sindicatos torna
de garantia do direito ao trabalho , da proteção a dispensá veis para o desenvolvimento da cla
acidentes, al ém de fornecer condições para a ma ¬ ria nos primó rdios do capitalismo e mes
nutenção de atividades culturais, de sa ú de, de fase atual , dominada pelo imperialismo . F
turismo, visando o bem -estar e a elevação do n ível com o surgimento do sindicalismo reacionvá
de vida do operá rio . Os sindicatos devem também iniciou uma grande discussão entre as
preocupar -se com a formação ideológica dos traba ¬ operá rias sobre a importâ ncia da atuaç
lhadores, através do trabalho cultural de massas, daqueles sindicatos.
fornecendo a educação pol ítica necessá ria para que Foi Lenin , em Esquerdismo, Doenç
os operá rios entendam e trabalhem pela construção do Comunismo, quem mostrou a incorreçã
da sociedade socialista , onde eles são os verdadeiros seq úê ncia da luta daqueles que julgavam d
beneficiados. ria a atuação dentro dos sindicatos reacio
lerindo-se aos revolucioná rios alemães L
" Mas, por muito convencido que estejam
A importância da atuação dentro dos distas' * alem ães do cará ter revolucioná ri
sindicatos oper ários lhante tá tica, ela é, na realidade, profund
ró nea e nada contém , a não ser frase
Na verdade, toda a discussão de Len
“Não atuar dentro dos sindica¬ nsquerdistas" alemães mostrou os equ í
tos reacionários significa aban¬
donar as massas operárias insu¬
ficientemente desenvolvidas ou
atrasadas à influência dos líde ¬
res reacionários, dos agentes da ‘ u termo "esquerdismo" é utilizado por Lenin pa
burguesia , dos operários aris ¬ u " rovolucionarismo pequeno-burguÉs ,
parecido com
dele alguma coisa, afastando-se, e
34
0 que é o Sindicalismo
desastres para a classe operá ria quando certos setores
procuraram criar organizações paralelas sindicatos onde estejam presentes as
: não pode
mais reacioná rias que sejam . E os sin
¬

mos deixar de achar um absurdo rid ículo e pueril


diz ainda Lenin, as argumentações ultra-sá , ainda Lenin , são precisamente as orga
pretensamente revolucion á rias daqueles
bias e de estão as massas. Isolar-se deles imp
que defen ¬
dem idéias de que n ão se deve atuar nos mento das massas operá rias, inevitave"
sindicatos
reacioná rios, e, mais ainda , de que é preciso abando palavra de ordem "infantil e esquerdista
nar os sindicatos e organizar obrigatoriamente
¬
de aos interesses exclusivos da burguesia
uniões operá rias "paralelas e livres". Sendo a organização mais massiva
Mesmo quando comportando certas todos os operá rios dos distintos ramo
ticas reacioná rias, como a estreiteza grupaicaracter ís¬ os sindicatos mostram -se como um t
ticismo, o reformismo, nem por isso deixou de
, o apoli - para o avanço de todos os setores do
o sindicato uma "escola de guerra", uma ser mesmo aqueles mais atrasados e com
escola pre ¬
parató ria para os operá rios na luta
contra o capita riê ncia de luta , uma vez que é no seu s
to com os operá rios mais avançados, q
¬
lismo. Da í a necessidade premente de os operá
mais avançados instruir, ilustrar, educar as rios çam a entender toda a complexidade d
mais atrasadas da classe operá ria. camadas os capitalistas.
N ão atuar dentro dos sindicatos reacioná Mesmo durante a época do fascism
diz ainda Lenin , significa abandonar as rios, ditadura da classe burguesa assumiu
rá rias insuficiente desenvolvidas ou massas ope ¬
mais violenta , o terreno dos sindicatos
atrasadas à in
mais vulnerá vel e onde as contradições
¬
flu ê ncia dos l íderes reacioná rios, dos agentes
lintravam de forma mais imediata . Foi
guesia , dos operá rios aristocratas
da bur ¬

ou "operá rios abur


partir de uma atuação lenta e vigoros
¬
guesados". É uma obrigação da
vanguarda mais
avançada dos operá rios trabalhar obrigatoriamente « Ind¡catos fascistas e ditatoriais que
onde estiverem as massas. E necessá rio saber superar forjar as grandes organizações sindica
todos os obstáculos e barreiras que se para a derrota da ditadura capitalista .
a colocam entre N ão atuar dentro dos sindicatos,
36 jes
O que é o Sindicalismo

A luta pela unidade sindical


uma Central Sindical dos trabalhadores, forte e un
A luta pela unidade sindical tem sido, desde os tá ria, os adeptos do pluralismo defendem a criaçã
primeiros tempos, uma luta incansá vel da classe ope ¬ de vá rias centrais sindicais independentes entre s
rá ria visando o seu fortalecimento e união contra os como acontece em vá rios pa íses da Europa , ond
interesses capitalistas. existe a central sindical controlada pelos comunista
Também não é recente o interesse dos capitalis outra pelos democratas-cristãos, outra pelos sociais
tas e dos falsos representantes da classe operá ria em
¬
democratas, e ainda outras de expressão meno
i dividir de todas as formas o sindicalismo operá rio, H á ainda outro aspecto negativo dentro da con
visando com isso seu enfraquecimento. Quando se cepção de pluralismo sindical e que precisa ser de
propõe o pluralismo sindical está-se diante de tacado : não poucas vezes um sindicato , dentre o
tentativa concreta de gerar o divisionismo no seio da
uma vá rios existentes em um ú nico setor, julga-se n
classe operá ria e da sua luta sindical . 0 princ ípio do direito de representar toda a categoria , sendo qu
pluralismo sindical garante, a pretexto de uma ole, por ser um dos vá rios sindicatos existentes, nã
falsa tem representatividade para tal ação.
liberdade sindical , o aparecimento de vá rios sindica
tos de uma dada categoria e em uma ú nica base ter ¬
¬
Ao contrá rio, o princ ípio da unidade sindic
ritorial. Esse princ ípio, que vai de encontro aos in ¬ garante a existê ncia de um único sindicato represe
teresses da burguesia , baseia -se no fato de que não tativo para cada ramo de atividade em uma determ
deve haver adesão de todos os operá rios de uma nada região. Com isso evita -se a divisão e o cons
mesma categoria a um ú nico sindicato. Com isso quente enfraquecimento do movimento sindical qu
permite-se a criação de vários sindicatos para « pesar da existê ncia de vá rias tendê ncias que atua
única categoria em uma mesma região, o que, em
uma dentro do sindicato, vê garantida a existência de u
vez de fortalecer um ú nico sindicato, cria vá rios pe ú nico sindicato por categoria. Tem-se, por exempl
quenos sindicatos. Exemplificando: em vez de exis-¬ , uma dada região, um ú nico sindicato dos met
tir um ú nico sindicato dos metal ú rgicos em uma re¬ l ú rgicos, um ú nico dos têxteis etc., ao contrá rio d
gião, tem -se vá rios pequenos sindicatos naquele lltuação onde h á pluralismo, onde existiriam vá ri
mes¬
mo local . Nada interessa menos à classe operá ria . . . ilndicatos metal ú rgicos, têxteis etc.
Outra decorrê ncia do princ ípio do pluralismo Com o princ ípio da unidade sindical evita
sindical é que, em vez de se lutar pela criação de também outro ponto nefasto para os operá rios: q
Update um sindicato para cada empresa. Um sindica
«
39
38 Ricardo Antunes l> que é o Sindicalismo

por f ábrica, não é dif í cil deduzir, permite um con


¬

trole muito grande da direção da empresa sobre a


direção do sindicato, o que, uma vez conseguido, to ^3
¬

lhe a possibilidade de uma luta autónoma por parte


dos operários, além de criar minúsculos sindicatos
em vez de um único e forte para toda a categoria.
i* SM
r
Ao contrário, quando existe um único sindicato
aglutinando várias empresas de um mesmo ramo, evi
¬

dentemente isto o fortalece, aumentando sua for ç a


frente aos patrões, o que faz com que, quando este
sindicato obtenha vitórias, elas beneficiem toda a
categoria, indiscriminadamente, e não uma ou outra
empresa, isoladamente. Vale lembrar que a exist ên
¬
Sr.
cia do princ ípio da unidade sindical não implica a ¥ Si?
obrigatoriedade da sindicalização; esta sim perma
*
¬

nece a crit ério do trabalhador que opta ou não pela


sindicalização.
Realmente um grande êxito na luta pela unida
¬

V.
de sindical foi a criação de sindicatos ú nicos em uma
J
determinada região. Mas há ainda outros aspectos re ¬ n»

levantes: a exist ência de sindicatos ú nicos por cate o


¬

gorias possibilita aos oper á rios, na sua luta pelo for ¬

talecimento sindical, a criação de uma central única


dos trabalhadores, momento maior da unidade sin ¬

dical, que aglutina todas as categorias assalariadas da


cidade e do campo. É evidente que uma central uni ¬

tária e forte constitui- se num dos baluartes mais os braços e paralisa a


ind ústria ( A Plebe ,
fahiurlado cruza
importantes da luta da classe operária contra o capi ¬

.
tal O que não impede que dentro dela existam ope- ir IVJ .í ).
>

4
<S 4
n
40 41
Ricardo Antunes O que é o Sindicalismo

rários de várias tendências, como comunistas,


socia ¬ a luta contra ele pelos direitos do povo . I
Assim, pois, as greves ensinam aos operários
listas, democratas-cristãos, reformistas, mas todos a
eles atuando juntos em torno das reivindicações ver que só unidos po
unirem- se, as greves lhes fazem
¬

ime ¬
as greves
diatas da classe operária na luta contra a exploração dem sustentar a luta contra os capitalistas,
capitalista. ensinam aos operários a pensar na luta de toda a
patronal e contra o
classe operária contra toda classe
governo autocrático e policial. Por isso mesmo os so
¬

Os limites do sindicalismo e o papel , escola


do partido político cialistas chamam as greves escola de guerraa guerra
onde os operários aprendem a desencadear
de todo o
contra seus inimigos pela emancipação
do jugo do governo
Marx, Engels e Lenin sempre enfatizaram a im povo e de todos os trabalhadores
e do capital.
¬

portância da luta económica como ponto de partida


própria
para o despertar da consciência da classe
operária e a Por ém, a escola de guerra não é ainda a
da classe ope
guerra. . . As greves são um dos meios ¬

necessidade de transformá-la em uma. luta política,


onde, além de se reivindicar maiores vantagens çã o, por ém nã o o ú nico , e se
no rária para sua emancipa
terreno económico, pretende-se a conquista aten ção aos outros meios
do os operários não prestam e os
poder político e o fim do sistema
capitalista de de luta, com isso demoram o desenvolvimento
produção. êxitos da classe oper á ria" .
Lenin, em seu artigo Sobre o Sindicalismo, tece No mesmo sentido vão as considerações
sobre
considerações fundamentais sobre a importância das constituem um momento funda ¬

os sindicatos: estes as
greves: estas, "por surgirem da natureza
do sistema mental de organização da classe operária contra
capitalista, significam o início da luta da
classe ope usurpações do capital. Mas a luta sindicai é limitada
pela melho
¬

rária contra toda a estrutura da na medida em que é uma luta constante


¬

sociedade. . . Toda capi


greve infunde com enorme força aos
ria salarial e não diretamente contra o sistema ¬

trabalhadores a
talista que gera o sistema de salários. A luta e não
idé ia do socialismo : a idéia da luta de sindi ¬

toda classe tra


¬

balhadora por sua emancipação do jugo do capital. . . cal é uma luta contra os efeitos do capitalismo
Durante cada greve cresce e desenvolve nos contra as suas causas.
entre a
operários a consciência de que o governo
é seu ini Marx apontou com lucidez a relação
primeira restrin-
¬
migo e de que a classe operá ria deve preparar
-se para luta económica e a luta política. A

'fe m _
* m mm
j
42 43
Ricardo Antunes 0 que é o Sindicalismo

ge-se ao terreno econó mico, não rompendo poder pelos trabalhadores, é dada pela
participa ção
ra ízes do modo de produ ção capitalista. A com as fundamental do Partido. Lenin enfatizou que o mo¬
classe é smo , não con ¬
ainda uma classe em si, pois que não se constitui vimento de massas, em seu espontane í
da como uma força pol ítica eficaz contra o ain ¬
seguiu ir além do reformismo, o que , por sua vez,
capitalis¬ ês; a par ¬
mo. O segundo momento, mais avançado, limita suas reivindicações ao universo burgu
a classe formula um projeto pol ítico que é quando ticipação propriamente pol ítica implica uma direção
visa extin ¬ concep çã o de revolu ção
guir o capitalismo, o que implica
destruir os antago ¬ do Partido através de uma
nismos existentes através da supressão que se fundamente na luta concreta das massas ope ¬

Esse momento, o da c/asse para si, é umdas classes. rá rias e que as direcione para a conquista do socialis ¬

nitidamente pol ítico e que carece da atuaçãmomento


o mo. Ainda para Lenin , a consci ê ncia pol ítica de
tido revolucioná rio da classe operá ria, cuja do par classe não pode ser levada ao operá rio sen
ão do ex ¬
¬

miss ão e , de fora das


tarefa é dar direção ao processo revolucion terior, isto é, de fora da luta econ ó mica
tarefa do Partido conduzir as explosões á rio; é
relações imediatas entre operá rios e patr õ es . O que
imediatas
massa visando à tomada do Estado e sua transforma da tornar -se revolucio ¬
significa que, para o operariado
¬
imediata ; é preciso
ção em Estado socialista , onde a
classe operá ria tor¬ ná rio, é preciso ir além da luta
na-se classe dominante. compreender o poder pol ítico e o papel do Estado
Lenin travou todo um debate com aqueles que que garante a dominação capitalista. O que Lenin
que n ão se
acreditavam que a luta econó mica em si já era mostrou em seu escrito Que Fazer? é processo es¬
revolucioná ria, mostrando que esta interpretação era atinge essa visão ampla atrav és de um
brica,
espontane ísta , pois acreditava na
sublevação pontâ neo, de luta exclusivamente dentro da f á
t â nea e espontâ nea das massas. Mostrou que instan¬ imediata ,
¬
mas que é necessá ria à fus ão desta luta
espon á ria dada pelo Par ¬
taneamente o proletariado não conseguiria afastar concreta , com a teoria revolucion
do trade-unlonlsmo, do economicismo, e que -se¬ tido Pol ítico.
a di
O Partido é, pois, a organiza ção que liga a atra ¬
mensão pol ítica da luta contra as ra ízes da ordem teo¬
e que dirige as massas
do Estado capitalista implicava a direção
dada pelo ria com a prá tica operá ria , de
Partido Revolucioná rio da classe operá ria. vés da elaboração de uma teoria do movimento gia para a
Se a luta econó mica é fundamental com ponto massas, de uma tática e de uma estrat é
de partida para a consciência operá ria, a
verdadeira transformação social .
consciê ncia de classe revolucioná ria, de
tomada do Do que se depreende que a luta pol ítica é mais

«
*m mm
j mrn «9
45
44 Ricardo Antunes ' O < jue é o Sindicalismo

influência não significa¬


complexa e mais ampla que a luta econó mica . Esta Lembre-se , porém , que essa
entre o Sindicato e o Parti
distin ção , por sua vez , é mais n ítida nos pa íses onde um v ínculo obrigató rio , isto sim , é que, sendo os
um
existem liberdades democrá ticas plenas. Nestes do. 0 que é necessá rio ,
a organização operá ria
pa íses a luta propriamente pol í tica é ainda mais local fundamental para levar sua luta em conso
¬

intensa . Essa distinção tende a diminuir considera ¬ sindicatos devem procurarpol ítica mais ampla de eman
¬

velmente em pa íses onde, em fun ção da inexist ê ncia nâ ncia com aquela luta ção é dada pelo Parti
¬

cipação da sociedade, cuja dire


de liberdades m í nimas, tanto a luta sindical quanto
a luta pol ítica são consideradas ilegais. A í, qualquer do Pol ítico.
manifestação , à princ í pio econ ó mica , ganha um
claro cará ter pol ítico de confronto com o poder.
De qualquer forma as relações entre o Sindi ¬
cato e o Partido são fundamentais e indispensá veis
para o avanço da classe operá ria . E dever de todo
operá rio comunista , diz Lenin , atuar e trabalhar efe¬
tivamente nos sindicatos que, dada a sua abrangê n -
cia , aglutinam todas as categorias de operá rios e co ¬
locam-se como locais fundamentais para que o Par ¬
tido possa exercer sua influ ê ncia junto à s massas.
Cada partido deve sistematicamente, e com perseve ¬

ran ça , conduzir uma a ção no seio dos sindicatos, das


comissões de f á bricas e demais organismos dos tra ¬
balhadores. No interior destas organiza çõ es é neces¬
sá rio criar n ú cleos comunistas que, através de um
trabalho cont ínuo , devem conquistar as direçõ es dos
sindicatos e demais organismos para a luta mais
ampla visando a transforma ção da sociedade.
Essa influ ê ncia será tão mais significativa
quanto mais amplos forem os sindicatos e maior for
a presença de operá rios avançados politicamente.
«
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