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“La cultura mexicana en el filme BABEL e la

Realidad”

Estudos Interculturais

2007 / 2008

Curso de Assessoria e Tradução


Trabalho individual
David Magalhães – 2030605@iscap.ipp.pt
R31N – 2030605
Docente: Dr.ª Clara Sarmento
ÍNDICE
1. La mujer mexicana en la película Babel – La emigrante...........................................................3
1.1 La Mujer e su identidad........................................................................................................3
1.2 La Mujer: Propiedad y pecado.............................................................................................5
1.3 La Mujer: La emigrante........................................................................................................5
2. La religión en la cultura Mexicana.............................................................................................6
2.1 Un indígena convertido?......................................................................................................7
3. Después de la frontera – “Llenos de mexicanos!”.....................................................................8
3.1 Entre dos fronteras?..............................................................................................................9
3.2 El Mexicano vs La Civilización.........................................................................................11
4. Rituales e Fiestas - La Identidad Mexicana..............................................................................12

Bibliografia:..................................................................................................................................15
Nota do Autor...............................................................................................................................16

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Introdução
O tema retratado no trabalho de grupo, leve dissertação sobre o filme BABEL de
Alejandro González Iñárritu, debruçou-se sobre a temática da Globalização vs
Localização, da Narrativa, História, e do papel individual de vários indivíduos
(personalidades) de 4 culturas diferentes que, dentro da sua esfera cultural e dos seus
códigos culturais, representavam (entre si) trocas de significados e acções com
repercussões Globais.

Na elaboração do trabalho individual para a disciplina de Estudos Interculturais, foram


utilizadas algumas noções dos diversos módulos mencionados nas aulas. Desde o
módulo Noções de Cultura, Representações Interculturais, Dimensões Culturais da
Civilização, etc.

A cultura mexicana, talvez um pouco distante da compreensão e conhecimento do


povo europeu, será o tema de abordagem utilizado nesta fragmentação mais teórica e
profunda do filme Babel. O filme reporta algumas cenas que permitem explorar alguns
dos diversos campos culturais da sociedade mexicana. Por exemplo, o papel da
mulher na cultura mexicana, a importância da religião, alguns rituais e costumes e a
gélida relação fronteiriça entre os Estados Unidos da América e o México.

Foram utilizados vários recursos e diversas ferramentas na recolha de toda a


informação e conteúdo descritos neste trabalho, nomeadamente: a criatividade do
autor, a utilização de recursos multimédia (internet, Diciopédia), citações do caderno
de apoio da disciplina de Estudo Interculturais e, sempre que possível, citações de
autores e livros da especialidade.

Alguns autores da especialidade (cultura mexicana) como Mariano Azuela, Octávio


Paz, Cristina Villaça, Cecilia Lavalle, ajudaram na percepção de dados históricos e
culturais, fundamentais da cultura mexicana. Juntamente com o trabalho individual,
será fornecido um DVD com o filme, vários livros e excertos no qual se baseou o
trabalho.

Todas as imagens fornecidas foram retiradas do filme BABEL excepto, a imagem do


livro com o vocabulário do “Manual de las línguas”.

Organização e estruturação do trabalho:


“La cultura mexicana en el filme BABEL e la Realidad”

O trabalho sobre a cultura mexicana será dividido por temas que derivam directamente
do filme de Iñárritu, BABEL. Estes temas serão, sempre que possível, ilustrados com
imagens do filme e/ou imagens retiradas de contextos históricos da cultura Mexicana
como pinturas, fotografias, imagens ilustrativas, etc.

Cada tema será comentado dando a minha interpretação pessoal, usando como
suporte comentários e excertos de autores da especialidade ao mesmo tempo que
descrevo momentos ou situações do filme BABEL.

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Como foi mencionado anteriormente, sempre que possível, irei traçar paralelos entre
factos presentes e vividos no filme BABEL com o panorama cultural e actual do povo
mexicano usando, também, elementos das aulas de Estudos Interculturais.

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1. La mujer mexicana en la película Babel – La emigrante

1.1 La Mujer e su identidad

O realizador Alejandro González Iñárritu exibe na primeira


intervenção e representação cultural mexicana do seu filme
BABEL, a personagem de Amélia. Trata-se da personagem
central que conduz o desenrolar do drama mexicano no filme. O
estereótipo de um cidadão (neste caso mulher) mexicano a viver
ilegalmente nos Estados Unidos. Trabalhador, dedicado à “sus
señores” que, normalmente, pertencem à classe média-alta ou
alta. Amélia, imigrante ilegal, longe da sua família, da sua cidade
natal (perto da cidade de Tiguana), trabalha à 16 anos para a
mesma família (rica) norte-americana.

A imagem que Iñárritu deixa transparecer neste filme, do retrato feminino, poderá ser
encontrado num dos textos do escritor, diplomata mexicano e vencedor do Prémio
Nobel de Literatura de 1990 Octavio Paz, “El Laberinto De La Soledad”:

“Las mujeres son seres inferiores porque, al entregarse, se abren. Su inferioridad es


constitucional y radica en su sexo, en su "rajada", herida que jamás cicatriza.”

“Sin duda en nuestra concepción del recato femenino interviene la vanidad masculina del señor
que hemos heredado de indios y españoles. Como casi todos los pueblos, los mexicanos
consideran a la mujer como un instrumento, ya de los deseos del hombre, ya de los fines que le
asignan la ley, la sociedad o la moral. Fines, hay que decirlo, sobre los que nunca se le ha
pedido su con-sentimiento y en cuya realización participa sólo pasivamente, en tanto que
"depositaria" de ciertos valores. Prostituta, diosa, gran señora, amante, la mujer transmite o
conserva, pero no crea, los valores y energías que le confían la naturaleza o la sociedad. En un
mundo hecho a la imagen de los hombres, la mujer es sólo un reflejo de la voluntad y querer
masculinos. Pasiva, se convierte en diosa, amada, ser que encarna los elementos estables y
antiguos del universo: la tierra, madre y virgen; activa, es siempre función, medio, canal. La
feminidad nunca es un fin en sí mismo, como lo es la hombría.” Octavio PAZ, In El Laberinto
De La Soledad, 1950

Este excerto de Octavio Paz, no qual o autor emana a definição de mulher mexicana,
quase que define os padrões universais da mulher ao mesmo tempo que molda
textualmente uma representação social da mulher mexicana.

Pode ser pouco perceptível, mas ao lermos o livro de “El Laberinto De La Soledad”, e
a análise ao livro “Los De Abajo” do escritor Mariano Azuela por Cristina Villaça,
encontramos as mesmas imagens e reacções emocionais no filme BABEL, descritas
em palavras e signos, tanto na obra de Octávio, como no drama ficcional e histórico de
“Los De Abajo” de Mariano Azuela.

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Observemos, a título de exemplo, algumas imagens orquestradas pelo fotógrafo do
filme Rodrigo Prieto, as quais podemos perfeitamente associar ao texto de Octavio;

Os vários padrões da mulher; a mulher leviana, lasciva,


pecadora, marginalizada descrita na Imagem 1 e 2. A
mulher vaidosa, feminina, mãe respeitável e amiga na
Imagem 4 e 5. A Imagem 3 ilustra um apaziguador,
leve e revelador olhar dos finos, tímidos e voluntários
traços da IDENTIDADE da mulher mexicana. Após
rever a cena do casamento e ao observar com atenção
a postura da noiva de Miguel (filho de Amélia), vemos Imagem 1
uma noiva inerte, com um olhar profundamente
marcado pela humildade e submissão.

Imagem 2

Imagem 3 Imagem 4

Imagem 5

“En principio me es difícil pensar en LA mujer mexicana, así en


singular. Me parece que habemos muchos “tipos” de mujeres mexicanas
y no todas pasan por las mismas situaciones. No es lo mismo ser una
mujer indígena que campesina que citadina. No se tienen los mismos
obstáculos si se es una mujer pobre que rica que de clase media. No se
viven las mismas situaciones si se es una mujer con estudios universitarios que apenas con la
primaria concluida. No se es igualmente vulnerable si se es casada que soltera, divorciada que
madre soltera, adulta que anciana.”
Cecilia LAVALLE, In Mujer mexicana

Seguindo a mesma linha de pensamento de Cecília Lavalle, conclui-se que a imagem


social da mulher mexicana desdobrasse de acordo com as diversas construções,
representações e realidades entre significados ao longo da história social da mulher no
México. Desde as origens indígenas até à postura feminina presente. Noção esta,
abordada nas aulas de Estudos Interculturais.

“Quando falamos, escrevemos ou lemos acerca de qualquer grupo ou fenómeno social, temos de
distinguir claramente entre representações e realidade vivida.” Clara SARMENTO, In Textos
de Apoio – E. Interculturais, 2007

Olhar para o presente e reconhecer os resultados da emancipação da mulher é mais


simples do que traçarmos o percurso complexo e difícil que a mulher teve (neste caso
mexicana) ao longo da sua demanda pela valorização pessoal e social. As
informações disponíveis e as representações da mulher utilizadas para comentar o
filme são baseadas apenas em autores do séc. XX. Por isso, na breve análise à

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mulher mexicana do filme BABEL foram usados argumentos e factos da “realidade” do
filme, juntamente com a representação fornecida pelos autores da especialidade.

1.2 La Mujer: Propiedad y pecado

No excerto seguinte, Octavio Paz revê a mulher como um sentido de posse, um


objecto fruto de uma sociedade tipicamente masculina.

“La actitud de los españoles frente a las mujeres es muy simple y se expresa, con brutalidad y
concisión, en dos refranes: "la mujer en casa y con la pata rota" y "entre santa y santo, pared de
cal y canto". La mujer es una fiera doméstica, lujuriosa y pecadora de nacimiento, a quien hay
que someter con el palo y conducir con el "freno de la religión"”

“Para los mexicanos la mujer es un ser oscuro, secreto y pasivo. No se le atribuyen malos instintos:
se pretende que ni siquiera los tiene.”
Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

Podemos, neste momento, fazer um paralelo entre o pensamento de Octavio Paz e


uma das análises retiradas pela Dr.ª Clara Sarmento, relativamente ao Case Study 2,
Cartas de São Francisco Xavier:

“Women and Sin


Regardless of a woman’s social status, ethnic heritage or religious convictions, in all the three
aforementioned categories she is commonly and extensively associated with ‘Sin’, either as an
agent and/or object of sin.”
Clara SARMENTO, In Textos de Apoio – E. Interculturais, 2007

Curioso como em 4 séculos (Cartas de São Francisco Xavier) de diferença pouco se


mudou na estrutura comportamental e mental, tanto a nível pessoal como social, quer
do autor, quer do homem, na sociedade local mexicana e na sociedade em global. A
frase seguinte elucida:

“La mujer vive presa en la imagen que la sociedad masculina le impone”


Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

1.3 La Mujer: La emigrante

No filme BABEL, Amélia é viúva desde muito cedo (presume-se), o que proporciona
uma entrada no mercado de trabalho para além fronteira (E.U.A neste caso). Amélia
está a trabalhar ilegalmente, longe da sua família, nos Estados Unidos à 16 anos.

As mulheres mexicanas que vivem do lado norte-americano


têm motivações bastante diferentes das americanas para
desenvolver relações entre fronteiras. Estas podem estar
relacionadas com a situação da mulher mexicana ter
salários consideravelmente baixos, tanto no México como
nos Estados Unidos, característica que cria uma relação de
subordinação com os americanos. A relação com o México torna-se um elemento que

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amortece a discriminação, a marginalização, o choque cultural e a desorientação
psicológica que influência a sua identidade pessoal. A condição de subordinação a
que são submetidas muitas mulheres de origem mexicana nos Estados Unidos
explica, em grande parte, os grandes esforços que elas fazem para atravessar a
fronteira (como se pode constatar no filme). Existem mulheres que atravessam
diariamente, com grande custo de tempo, energia e dinheiro, porque desejam e
necessitam estar num lugar onde se sintam seguras quanto ao seu idioma e seus
costumes, onde podem, simplesmente, entender as pessoas com as quais convivem
e, por elas, fazer-se entender.

2. La religión en la cultura Mexicana

Frequentemente o realizador foca diversos planos que abordam a religião no México.


As fortes crenças católicas dos mexicanos, implementadas desde cedo pela invasão
dos espanhóis. Esta raiz cultural no seio de cultura mexicana teve início com a
chegada de Grijalva e Hernán Cortés ao México no séc. XV juntamente com o padre
Juan Díaz e o frei Bartolomé de Olmedo.

“A base do latino-americano é a pluriculturalidade causada pelo embaralhamento das


identidades: ao lado das identidades impostas pelo invasor prolifera toda espécie de
identidades mestiças, todas elas fruto de uma recepção fragmentada.”
Cristina VILLAÇA, In Los de Abajo: A Identidade Cultural na Revolução Mexicana

No excerto seguinte, podemos ilustrar quase que na


perfeição, a Imagem 6, que mostra diversas imagens
da Virgem Índia ao lado de Jesus.

Imagem 6

“No es un secreto para nadie que el catolicismo mexicano se concentra en el culto a la Virgen de
Guadalupe. En primer término: se trata de una Virgen india; enseguida: el lugar de su aparición
(ante el indio Juan Diego) es una colina que fue antes santuario dedicado a Tonantzin, "nuestra ma-
dre", diosa de la fertilidad entre los aztecas.

La Virgen católica es también una Madre (Guadalupe-Tonantzin la llaman aún algunos peregrinos
indios) pero su atributo principal no es velar por la fertilidad de la tierra sino ser el refugio de los
desamparados. La situación ha cambiado: no se trata ya de asegurar las cosechas sino de encontrar
un regazo. La Virgen es el consuelo de los pobres, el escudo de los débiles, el amparo de los
oprimidos. En suma, es la Madre de los huérfanos. Todos los hombres nacimos desheredados y
nuestra condición verdadera es la orfandad, pero esto es particularmente cierto para los indios y los
pobres de México. El culto a la Virgen no sólo refleja la condición general de los hombres sino una
situación histórica concreta, tanto en lo espiritual como en lo material. Y hay más: Madre universal,
la Virgen es también la intermediaria, la mensajera entre el hombre desheredado y el poder
desconocido, sin rostro: el Extraño.” Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

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É patente a necessidade dos mexicanos de uma
intervenção divina, espiritual. Um povo sofrido,
com diversas revoluções internas, políticas e
acima de tudo culturais. Uma nação que procura
encontrar dentro da sua fragmentação cultural,
uma referência, uma protecção, uma afirmação.

Imagem 7

Imagem 8

2.1 Un indígena convertido?

Após a análise de algumas matérias relativamente à história cultural do povo


mexicano, foi possível retirar algumas ilações;

 Os contributos cedidos pelos missionários espanhóis,


que não só se preocupavam em converter almas (tal
como São Francisco Xavier), mas também em
recolher informação da cultura local. Grande parte do
conhecimento que dispomos das culturas indígenas
da época da colonialização e conquista deve-se aos
missionários. Aprenderam as línguas, escreveram
dicionários e recolheram informação valiosa sobre o
saber e formas de vida pré-hispánicas.
 A conversão do povo indígena para a religião católica
e a eliminação das antigas crenças dos povos
mesoamericanos era um propósito ao qual os
espanhóis davam grande importância, tanta como à sua conquista militar. Trata-
se não só de uma conquista de novas terras e riqueza mas de uma conquista
espiritual de maneira a criar o que os espanhóis chamavam “Nueva España”.
No entanto, a implementação da cultura cristã no meio indígena foi conturbada
e nunca verdadeiramente estabelecida.

 Numerosos grupos de indígenas resistiram em abandonar as suas crenças,


mas ao longo do tempo estabeleceu-se na população índia e mestiça a cultura
cristã. Nos rituais religiosos incorporaram-se formas de celebração e culto, que
têm origem em tradições antigas e deram ao catolicismo uma personalidade
própria.

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É esta personalidade própria que o realizador quer mostrar. Tal como aconteceu no
séc. III com Constantino e a Igreja Cristã, onde nasceu a fusão entre o paganismo
romano e a religião cristã, na implantação da reforma católica no México, sucedeu-se
o mesmo. A aceitação da religião cristã sem, no seu íntimo, abandonar os costumes
indígenas de adoração e cultos ditos ”pagãos” (imagens e deuses, culto à morte).

A cultura mexicana utilizava, por exemplo, esta “Madre”, ilustrada na Imagem 6, como
suporte e alimento espiritual em todas as ocasiões e momentos, Imagem 9 e 10. Esta
exortação culmina a 12 de Dezembro, quando se inicia a comemoração em honra de
Virgem de Guadalupe, Imagem 6.

A associação de Virgem (na fé cristã) à Virgem dos Mexicanos (Guadalupe) é um dos


exemplos da secreta união espiritual entre a entidade de adoração indígena e a
adoração efectiva da Virgem Maria (na fé cristã).

É seguro dizer que o realizador teve cuidado, em silenciosamente, mostrar diversas


imagens que transmitem um pouco do íntimo da cultura mexicana.

Imagem 9 Imagem 10

3. Después de la frontera – “Llenos de mexicanos!”


Umas das cenas mais interessantes no filme BABEL é a abordagem à gélida relação
fronteiriça entre México e os E.U.A. A facilidade com que se atravessa a fronteira para
o México e os avisos sobre os comparativamente drásticos trâmites aduaneiros e de
imigração que esperam o viajante no seu retorno ao norte.

A Imagem 11, demonstra um controlo apertado, durante o dia, na travessia da fronteira


entre o México e os Estados Unidos.

Imagem 11

Na Imagem 12, o realizador mostra uma imagem


sobre a facilidade por parte dos habitantes dos
Estados Unidos em atravessar a fronteira.

Imagem 12
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A Imagem 13 é realmente forte, cheia conteúdo e significado.

Imagem 13

A delimitação da fronteira entre o México e os Estados Unidos tem inúmeras cruzes de


madeira cravadas na delimitação. É curioso e ao mesmo tempo assustador o olhar
atento da criança. Aliás, esta subtileza do realizador permite, logo de imediato, uma
associação às inúmeras mortes que acontecem anualmente na passagem ilegal dos
emigrantes mexicanos (inclusive mulheres e crianças).

3.1 Entre dos fronteras?

As vantagens do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN, mais


conhecido como Nafta) beneficiam somente os norte-americanos e canadenses e um
número aparentemente alto de países europeus, com grande discriminação para os
mexicanos, que não têm sua documentação de residência nos Estados Unidos em
ordem.

“miles de campesinos viven en condiciones de gran miseria y otros miles no tienen más remedio
que emigrar a los Estados Unidos, cada año, como trabajadores temporales.”
Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

O excerto seguinte, retirado da revista “O olho da história” capta de maneira


irrepreensível esta dicotomia entre fronteiras, etnia, género, necessidades e cultura.

“Numa primeira análise, a utilização do lado mexicano ou norte-americano varia


segundo a localidade na qual a pessoa já viveu. Dessa forma, a visão do México ou
dos Estados Unidos, como lugares cheios ou vazios de oportunidades, é diferente de
acordo com o local em que cada pessoa viveu. Geralmente, aqueles que residem
durante muito tempo em ambos os lados da linha internacional são os mais propensos
a desenvolver os laços entre diferentes países. Isto ocorre devido ao conhecimento
que se adquire com a experiência interurbana, um conhecimento que leva à criação e
à manutenção dos laços através da linha.

Outros factores que estimulam a criação de laços entre fronteiras são a etnicidade e a
classe social, ainda que, em contraste com a experiência interurbana, obedeçam a
lógicas distintas no lado norte-americano e mexicano.

Ao comparar a frequência dos cruzamentos transfronteiriços de todos os grupos


étnicos no lado norte-americano, é evidente que aqueles que mais cruzam a fronteira
são os de origem mexicana. Isto deve-se a várias razões:

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 Primeiro, ao facto de que, entre os mexicanos, diferentemente de outros grupos
étnicos, há uma maior incidência de pessoas com experiência interurbana, o
que propicia as relações entre fronteiras
 Segundo, ao facto de que a região fronteiriça está povoada maioritariamente
por indivíduos de ascendência mexicana, devido à imigração para os Estados
Unidos. De facto, muitos dos que vivem no lado americano da fronteira residiam
anteriormente no México.

Junto com a experiência interurbana e a etnicidade, a classe social também


desempenha um papel chave nesse processo. Sem dúvida, o seu carácter e efeito
são distintos no lado norte-americano e no mexicano. Do lado norte-americano, a
maioria dos que cruzam a linha são indivíduos de classe baixa, algo que não
surpreende levando-se em consideração a composição étnica da região. A fronteira
dos Estados Unidos, com sua elevada percentagem de mexicanos — parte
significativa desses imigrantes — é composta maioritariamente por uma população de
escassos recursos materiais. Em outras palavras, os emigrantes tendem a ser
indivíduos de classe baixa porque provavelmente são emigrantes recentes.

Ao contrário, no lado mexicano, aqueles que desenvolvem e mantêm laços com os


Estados Unidos tendem a ser de classe média ou alta. Isto deve-se à dificuldade de
conseguir vistos necessários para a passagem da fronteira. É difícil, se não
impossível, a um mexicano conseguir um visto dos Estados Unidos se não puder
comprovar que tem um emprego estável, ganha um salário médio e reside na mesma
localidade há um longo tempo. Caso contrário, quase sempre o visto é recusado e
sem ele as emigrações tornam-se extremamente difíceis em função dos riscos e
custos, visto que a única forma de realizar o cruzamento é através da contratação de
um pollero*.

Desta forma, para entender o desenvolvimento das relações entre o México e os


Estados Unidos é necessário levar em consideração o contexto estrutural e o perfil
das pessoas e dos grupos sociais. Estruturalmente, é preciso situar as relações no
âmbito das diferenças económicas e das semelhanças culturais. As diferenças
económicas entre México e Estados Unidos geram o movimento de pessoas nesse
sentido. Por sua vez, as semelhanças culturais mobilizam a translação de indivíduos;
ao poder falar espanhol no lado norte-americano da fronteira, os mexicanos sentem o
‘outro lado’ mais acessível. O económico e o cultural, por sua vez, precisa ser situado
dentro da estrutura histórica e espacial.
De mesma forma, é necessário levar em conta o perfil das pessoas e das famílias que
cruzam a fronteira; mais especificamente o seu lugar de origem, a etnicidade, a classe
social, o género e o estágio do ciclo da sua vida. A existência de redes sociais entre
fronteiras está sujeita ao lugar de origem das pessoas que estabelecem essas
relações. No lado norte-americano, o lugar de origem está intimamente ligado à
etnicidade mexicana e a baixa renda que, por sua vez, caracterizam os emigrantes. O
sexo (género) também influi neste processo, quando se situam as emigrações dentro
da esfera da reprodução social, na qual as mulheres desempenham um papel chave.
Por sua vez, a óptica da reprodução social gera a necessidade de se abordar o ciclo
da vida; como já foi dito, parte daqueles que atravessam a fronteira são mulheres com
filhos, especialmente aquelas sem marido.” Olivia RUIZ, In Revista – O Olho da
História

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*(traficante de pessoas)

3.2 El Mexicano vs La Civilización

Na análise seguinte, sugiro que seja feito, embora de maneira metafórica, um olhar
entre os dois lados da fronteira pelos olhos do autor Matthew ARNOLD, Culture and
Anarchy, 1869.

Uma cultura, supostamente selvagem, o Mexicano vs a Civilização, a cultura


Americana, imperialista, estruturada, imponente, repleta de liberdade e consciência
social. Como podemos constatar nos textos seguintes, o próprio Octavio Paz, como
Mexicano, sentiu uma forte diferença quando chegou aos E.U.A. A frescura, a
organização e alegria dos ”indígenas” americanos.

“Cuando llegué a los Estados Unidos me asombró por encima de todo la seguridad y la confianza de
la gente, su aparente alegría y su aparente conformidad con el mundo que los rodeaba. Esta
satisfacción no impide, claro está, la crítica —una crítica valerosa y decidida, que no es muy
frecuente en los países del Sur, en donde prolongadas dictaduras nos han hecho más cautos para ex-
presar nuestros puntos de vista.”

“…los Estados Unidos son una sociedad que quiere realizar sus ideales, que no desea cambiarlos por
otros y que, por más amenazador que le parezca el futuro, tiene confianza en su supervivencia.”
Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

Quando a criança, Imagem 14, pergunta a Santiago (sobrinho


de Amélia) para onde se dirigem, Santiago responde para o
México. De seguida, a criança responde que o México está
cheio de pessoas perigosas.
Esta distinção, já tão evidente na concepção cultural da criança,
permite-nos um relance sobre a estrutura mental que os norte-
americanos têm sobre a cultura mexicana. São perigosos! Imagem 14

Imagem 15. Representa a maneira irónica como os


Mexicano se caracterizam, na resposta de Santiago;
“Está cheia de Mexicanos” permite-nos repensar sobre
a maneira como o “Selvagem” se identifica. Não se
trata agora de um simples indígena que grita, ou se
veste de maneira pouco ortodoxa (Diário de uma
Viagem a Timor (1882-1883), de Isabel Tamagnini),
Imagem 15 – “Llenos de mexicanos!” mas um Selvagem que tem a noção de ser
indesejado. Um Selvagem inteligente e atento às mudanças internas da estrutura
social a que pertence, sendo no entanto, tratado com precaução pelos ditos
“civilizados” americanos.

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De seguida, algumas imagens do filme BABEL que
ilustram de forma directa e inquestionável a maneira
desconfiada como a polícia trata Santiago que
pretende voltar aos Estados Unidos.

Em 2006, cerca de 400 mexicanos morreram ao tentar


atravessar a fronteira para o norte. Estima-se que
cerca de 1,2 milhão de imigrantes ilegais tenham sido
presos em 2005 ao tentar atravessar os Estados do
Texas, Novo México, Arizona e Califórnia. Cerca de 10
milhões de mexicanos vivem nos Estados Unidos,
metade deles ilegalmente.

4. Rituales e Fiestas - La Identidad Mexicana


Ao entrarmos no México, pela câmara de Alejandro
González Iñárritu constatamos imediatamente um
ambiente de alvoroço, festa e movimento. O
realizador captou diversas cenas do ambiente
mexicano que proporcionam ao espectador a visão
imediata de um México, com fortes raízes folclóricas
e regionais.

No excerto seguinte, o escritor Octavio Paz aprecia, refere e distingue o que mais
genuinamente sobreveio à sede da sua alma Mexicana, quando chegou aos Estados
Unidos.

“AL INICIAR mi vida en los Estados Unidos residí algún


tiempo en Los Ángeles, ciudad habitada por más de un
millón de personas de origen mexicano. A primera vista
sorprende al viajero —además de la pureza del cielo y de
la fealdad de las dispersas y ostentosas construcciones—
la atmósfera vagamente mexicana de la ciudad, imposible
de apresar con palabras o conceptos. Esta mexicanidad —
gusto por los adornos, descuido y fausto, negligencia,
pasión y reserva— flota en el aire. Y digo que flota porque no se mezcla ni se funde con el otro
mundo, el mundo norteamericano, hecho de precisión y eficacia.”
Octavio PAZ, In El Laberinto De La Soledad, 1950

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É fantástico saber que a cultura está de tal maneira enraizada na nossa identidade
social e pessoal, que na sua falta sentimos estranheza e saudade.

A tradição, por ser a forma mais simples de comunicar, transmitir valores e


manifestações culturais e artísticas no decorrer do tempo, é também a maneira mais
simples e directa de fazer história.

As raízes folclóricas, vivas e comuns, têm uma dimensão humana e social. Uma
dimensão geográfica e outra temporal, e sobre todas estas qualidades, a virtude de
misturar o homem do presente com o seu passado e com a sua terra (identidade).
É esta identidade que tece gerações e dá sentido, cor, sabor, perfil e carácter cultural
e fisionomia social.

O México tem muitas tradições ao longo do ano, e


de um modo ou outro, todas elas se relacionam
com a alimentação. De seguida, irei elaborar uma
pequena lista por ordem cronológica das festas
mais importantes no México.

 Día de Reyes
 Día de la Candelaria,
 La Cuaresma, Pascua
 Día de Muertos

Estas e mais informações podem ser obtidas no site http://www.folklorico.com/, onde se


encontram várias datas, receitas e noções sobre a cultura folclórica mexicana.

Por fim, julgo que não será errado deduzirmos


que uma das identidades sociais que retratam
com mais facilidade os mexicanos e mais
facetas revelam da sua cultura, são as suas
festas.

Fenómenos sociais com raízes antiquíssimas,


as festas mexicanas reflectem e representam a
mistura de raças, pois os indígenas e os
espanhóis não só misturaram os seus genes mas também as suas comidas, língua e
religião. Desde o deus da chuva Tláloc, o santo patrono dos viajantes São Cristóbal, a
deusa da terra Coatlicue e o santo dos casos difíceis São Judas Tadeo, o deus de
todos os anciões Huehuetéotl e todo um conjunto pré-hispánico e hispânico encontrou
equivalências e similitudes.
Desta forma, quase todas as festas mexicanas agregam à sua invocação católica,
uma reminiscência pré-colombiana.

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Neste contexto, as festas do calendário católico e dos seus dogmas, têm uma liturgia
impregnada de “ingénuo paganismo” proveniente dos tempos anteriores ao séc. XVI.

“O mexicano brinca com a morte, ri dela,


dorme com ela, festeja-a. Aliás, a festa é
seu único luxo. Em dia de festa, às vezes a
alegria acaba em injúrias, brigas, tiros e
facadas e, ao contrário do carácter
negativo que isto teria em outras
sociedades, para o mexicano, também faz
parte da festa. A festa é uma revolta, no
sentido literal da palavra e o mexicano
contempla o horror e a morte com a mesma familiaridade. A morte é vista como um
espectáculo que, ao invés de repulsa, causa-lhe admiração, pois, o culto à morte, para
o mexicano, é culto à vida. E esse culto vem da profunda religiosidade desse povo.
Sua religião, como sua cultura, é uma mistura de novas e antigas crenças. E o gosto
pelo que para nós poderia ser chamado crueldade, é para os mexicanos herança dos
astecas que praticavam sacrifícios humanos, extraíam corações e praticavam
canibalismo.”
Cristina VILLAÇA, In Los de Abajo: A Identidade Cultural na Revolução Mexicana

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Bibliografia:

Livros:
AZUELA, Mariano. Los de Abajo
SARMENTO, Clara. Textos de Apoio – E. Interculturais, 2007
PAZ, Octavio. El Laberinto De La Soledad, 1950 - Cabernos Americanos
RUIZ, Olívia. Revista – O Olho da História

Documentos Electrónicos:
[online]
Disponível na World Wide Web:
La mujer Mexicana en el trabajo, oportunidades, liderazgo y equilibrio en los roles
Mujer mexicana – Cecilia Lavalle
[online]
Disponível na World Wide Web:
http://www.e-mexico.gob.mx/wb2/eMex/eMex_Situacion_actual_de_la_mujer_en_Mexico
Instituto Cultural "Raíces Mexicanas"
"Dedicado a la Difusión de la Danza Folklórica Mexicana"
[online]
Disponível na World Wide Web:
http://www.folklorico.com/
VILLAÇA, Cristina. Los de Abajo – A Identidade Cultural na Revolução Mexicana.
[online]
Disponível na World Wide Web:
www.revistaipotesi.ufjf.br/volumes/5/cap13.pdf

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Notas do Autor:
Este pequeno trabalho individual privilegiou, essencialmente, os factos mais
essenciais da cultura mexicana no filme BABEL. Através de uma escrita acessível
julgo que foi possível reflectir as ideias principais sobre os códigos culturais do México.

O trabalho inicialmente continha mais capítulos, como o Amor Mexicano e o


Casamento. No entanto, foi apenas possível incidir sobre 4 planos da “mexicanidad”
que julgo serem os mais directos e fulcrais no filme.

Apesar de todos os excertos, textos e imagens existentes e disponíveis numa


sociedade moderna, repleta de informação na internet, livros, ensaios e manuais, foi
possível criar uma relação criativa, debruçada sobre o filme BABEL que julgo resumir
o que Alejandro González Iñárritu tinha em pensamento.

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