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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

ASPECTOS TÉCNICOS
DE POLICIAMENTO
OSTENSIVO
CFS PMPE 2020

Organizador: Major PM FLÁVIO da silva FRANÇA

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

SUMÁRIO
MÓDULO 01
Gestão Integrada e Comunitária nas ações policiais…………………...……..3

MÓDULO 02
Direitos Humanos aplicados a atividade policial e o uso diferencial
da força…………………………………………………………………………….….17

MÓDULO 03
Aspectos Técnicos da Abordagem Policial e suas particularidades……...55

MÓDULO 04
1º interventor em situação d de Crises………………………………………….73

MÓDULO 05
POPs e BO…………………………………………………………………………...84

REFERENCIAS……………………………………………………………………....85

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MÓDULO 1

GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA NAS AÇÕES


POLICIAIS
CARACTERÍSTICAS E EXIGÊNCIAS DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Refletir acerca da sociedade contemporânea conduz-nos a pensar sobre a


globalização. Para muitos, este fenômeno alcança à sua eficácia quando em um
determinado instante se atinge o equilíbrio social e econômico. Entretanto, no
Brasil, não tem sido apresentado desta forma. Antes, o que se observa é uma
instabilidade social que traz consigo prejuízos à ordem pública, com altos índices
criminais e uma visível sensação de insegurança.
Contudo, segundo o Professor Miguel Libório da UNISUL – Universidade do
Sul de Santa Catarina, a nova ordem moderna da globalização se caracteriza
pelo dinamismo e os inúmeros segmentos interligados e envolvidos, tendo como
principais os seguintes:

1. à industrialização;

2. à economia;

3. ao social (padronização de costumes e valores,


principalmente do bloco ocidental, não excluindo os
valores religiosos do bloco oriental), e

4. à Tecnologia da Informação (através das grandes


redes mundiais de comunicação, Internet, sistemas
integrados de transmissão de dados via satélite,
integrados a televisão – principal aparelho deste
processo).

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Um ponto a observar diz respeito às exigências dos países ricos, que


demandam das nações em desenvolvimento e até os mais pobres, a fomentarem
suas economias a todo custo dentro de uma competitividade desigual no mundo,
por conseguinte, o lucro é o maior alvo a ser alcançado por tais nações, o que
culmina no aparecimento das diferenças e crises sociais de toda ordem,
agravando cada vez mais a polarização mundial entre ricos e pobres.
Desta feita, há de se ressaltar outra vertente danosa da globalização,
advinda das desigualdades, os chamados crimes transnacionais, os quais já
ocorriam principalmente com mais ênfase na América Latina, e que certamente
foram potencializados. Libório (2008) ajuda na discussão elencando-os a seguir:
 Crime Organizado – caracterizado pelas grandes
organizações mafiosas (russa, chinesa, japonesa,
grupos de narcotraficantes da latino-américa e outras).
O crime organizado não tem fronteiras. Existe em
todas as nações e das mais diversas formas: tráfico
de drogas, prostituição, armas, roubos de cargas,
sequestro etc. E todos possuindo ramificações
internacionais, sociais, políticas e principalmente
econômicas. As estruturas governamentais se
mostram impotentes para uma das formas
econômicas mais rentáveis da atualidade.

 Banalização da Violência – caracterizado por


movimentos políticos e ideológicos e pela
desvalorização da vida como patrimônio maior do
homem. A banalização da violência e o aumento da

.
 delinquência é algo de extrema preocupação, visto
que até em países desenvolvidos, sem problemas
sociais discrepantes, os índices de violência têm

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aumentado, por estarem vinculados à intensa


competividade social e influência dos veículos de
comunicação de massa.

Aumento da delinquência – Tendo por base


legislações fracas causando o princípio da anomia e
impunidade. A anomia social no contexto brasileiro,
pode ser entendida não apenas como a ausência de
processos normativos, mas também a descrença
daquilo que regulamenta a vida em comum da
sociedade organizada. Com isso, torna-se claro ao
indivíduo que o que “é certo” passa a ser
“questionado ou duvidoso”; e o que era
“incorreto”, pode ser considerado “vantajoso e
seguro”.

Conforme menciona o filósofo e Sociólogo Alemão Ralf Gustav Dahrendorf,


nas sociedades contemporâneas assiste-se ao declínio das sanções. A
impunidade torna-se cotidiana. Esse processo é particularmente visível em
algumas áreas da existência social. Trata-se de áreas onde é mais provável
ocorrer a isenção de penalidade por crimes cometidos. São chamados de “áreas
de exclusão”, a saber:

 nas mais diferentes sociedades, uma enorme quantidade de furtos


não é sequer registrada. Quando registrada, é baixa a probabilidade de
que o caso venha a ser investigado. O mesmo é válido para os casos de
evasão fiscal, crime que parece ter instituído uma verdadeira economia
paralela e para o qual há sinais indicativos de desistência sistemática de
punição. A consequência desse processo é que as pessoas acabam
tomando as leis em suas próprias mãos.

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 uma segunda área afetada é a juventude. Constata-se que em todas as


cidades modernas os jovens são responsáveis pela grande maioria dos
crimes, inclusive os crimes mais violentos. No entanto, o que se observa é
a tendência geral para o enfraquecimento, redução ou isenção de
sanções aplicáveis aos jovens. Suspeita-se que essa tendência seja em
grande parte responsável pela delinquência juvenil;

 uma terceira é o reconhecimento, por parte do cidadão comum, de


espaços na cidade que devem ser deliberadamente evitados, isto é, o
reconhecimento de áreas que se tornam isentas do processo normal de
manutenção da lei e da ordem. A contrapartida desse fato tem resultado
no rápido envolvimento de sistemas privados de segurança, o que se
traduz na quebra do monopólio da violência em mãos dos órgãos e
indivíduos autorizados. Se levado ao extremo esse processo conduz
necessariamente à anomia parcial;

 uma quarta área de exclusão diz respeito a própria falta de direção


ou orientação das sanções. Para o sociólogo alemão, quando a
extensão das violações às normas se tornarem bastante vastas, sua
consequente aplicação se torna difícil, por vezes, impossível. Motins de
ruas, tumultos, rebeliões, revoltas, insurreições, demonstrações violentas,
invasões de edifícios, piquetes agressivos de greve e outras formas de
distúrbios civis desafiam o processo de imposição de sanções. Não há
como distinguir atos individuais de processo maciço de autênticas
revoluções ou manifestações coletivas de uma exigência de mudança.

O Professor Miguel Libório (2008) conclui que, analisar por esse espectro é
chegar ao pensamento de que à incompetência (ou ausência) das instituições
públicas em não saber agir, ou em agir tardiamente, causam duas
consequências imediatas em relação ao indivíduo:

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 Perda da noção do tempo – ou seja, vive-se só o presente e não se


projeta para o futuro; e

 Desconfiança generalizada – o indivíduo não acredita nas


instituições, procurando se defender com os recursos que possui ou
que adquire de qualquer maneira, a qualquer preço.

CONCEITUANDO GESTÃO

Muitos são os conceitos acerca do que se entende como gestão, levando-


se em conta as várias vertentes e áreas temáticas no campo social e científico.
Todavia, para fins de direcionamento do estudo em pauta, serão extraídos
fragmentos de textos da web, que visam um melhor entendimento quanto à
questão.

É o conjunto de tarefas que procuram garantir a afetação


eficaz de todos os recursos disponibilizados
pela organização a fim de serem atingidos os objetivos pré-
determinados.

Por outras palavras, cabe à gestão a optimização do


funcionamento das organizações através da tomada
de decisões racionais e fundamentadas na recolha e
tratamento de dados e informação relevante e, por essa
via, contribuir para o seu desenvolvimento e para a
satisfação dos interesses de todos os
seus colaboradores e proprietários e para a satisfação
de necessidades e interesse dos seus stakeholders ou da
sociedade em geral.

De acordo com o conceito clássico inicialmente


desenvolvido por Henry Fayol, compete à gestão atuar
através de atividades
de planeamento, organização, liderança e controlo de

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forma a atingir os objetivos organizacionais pré-


determinados.
(texto extraído através do endereço eletrônico:
http://www.significados.com.br/gestao)

Do latim gestĭo, o conceito de gestão refere-se à ação e ao


efeito de gerir ou de administrar. Gerir consiste em realizar
diligências que conduzem à realização de um negócio ou
de um desejo qualquer. Administrar, por outro lado,
consiste em governar, dirigir, ordenar ou organizar.

A gestão, como tal, envolve todo um conjunto de trâmites


que são levados a cabo para resolver um assunto ou
concretizar um projeto. Por gestão entende-se também a
direção ou administração de uma empresa ou de um
negócio.

(texto extraído através do endereço eletrônico:


http://conceito.de/gestao)

No campo da segurança pública, o termo “gestão” tem sido mencionado


com mais intensidade, em face dos novos modelos correlacionados aos Planos
Estaduais de Segurança Pública, a exemplo do Pacto pela Vida, idealizado pelo
Estado de Pernambuco nos idos de 2007, e que perdura até os dias atuais. Com
sucessivas reduções anuais dos chamados Crimes Violentos Letais
Intencionais – CVLI, o Pacto pela Vida angariou diversos prêmios nacionais e
internacionais, replicando inclusive, esse novo modelo de Gestão por Resultados
para municípios pernambucanos e outros Estados da federação, tal como a
Bahia.

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Responsável pela redução dos índices de criminalidade no


Estado de Pernambuco, o Programa Pacto Pela Vida, criado em
2007, recebeu mais uma premiação internacional. Nesta quarta-
feira (15), o governador do Estado e presidente Nacional do PSB,
Eduardo Campos, esteve na sede do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), em Washington, nos Estados Unidos,
onde recebeu o Prêmio Governante: A Arte do Bom Governo. O
Pacto Pela Vida foi premiado na categoria Governo Seguro: Boas
Práticas em Prevenção do Crime e da Violência. (Texto extraído
em: http://www.psb40.org.br)

INTEGRALIDADE E SEGURANÇA PÚBLICA

Em 2009, o Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria Nacional da


Segurança Pública - SENASP lançou uma coletânea (2003-2009) tratando dos
trabalhos alusivos aos Gabinetes de Gestão Integrada no Brasil. O texto
apresenta, dentre muitos assuntos, uma breve análise sobre alguns aspectos
atinentes a integralidade na segurança pública, os quais serão discorridos
doravante.
Integralidade, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, em
sua terceira edição revista e atualizada, quer dizer: (Do lar. Méd. integralitate)
s.f. Qualidade de, condição, ou atributo do que é integral: totalidade, total, inteiro.
Integrar: completar, tornar inteiro (inteirar-se, completar-se) e totalidade (De total
+ (i)dade) s.f. 1. O conjunto das partes que constituem um todo; soma. 2. filos.
Unidade de partes; sistema.
A integralidade abrange leituras distintas e sentidos diversos. Exatamente
por isso, pode, num determinado momento, aglutinar em torno dela atores
políticos que comungam de indignações semelhantes, mesmo que tenham
projetos específicos distintos. Quer dizer, possui vários sentidos, correlatos, sem
dúvida, posto que forjados num mesmo contexto de luta e articulados entre si
Possui, no entanto, sentidos distintos, que possibilitam que vários atores, cada
qual com suas indignações e críticas ao que existe, comunguem estas críticas e,
por um momento, pareçam comungar os mesmos ideais. Ela traz consigo um

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grande número de possibilidades de realidades futuras a serem criadas por meio


das lutas, que têm em comum a superação daqueles aspectos criticados na
realidade atual e que almejamos transformar.
Para que seja possível a realização de uma prática que atenda à
integralidade, precisamos exercitar efetivamente o grupo, desde o processo de
formação do profissional de determinada área.
O que é corresponder ao ideal de integralidade na Segurança Pública? A
integralidade não é somente uma atitude e, sim, uma marca de um modo de
organizar o processo de trabalho, feita de forma a otimizar o seu impacto social.

POLÍCIA COMUNITÁRIA
Um mecanismo que favorece a implantação da Gestão integrada e Comunitária.

 As atuais reformas na área policial estão fundadas na


premissa de que a eficácia de uma política de prevenção do
crime e produção de segurança está relacionada à existência
de uma relação sólida e positiva entre a polícia e a sociedade.
Fórmulas tradicionais como sofisticação tecnológica,
agressividade nas ruas e rapidez no atendimento de chamadas
do 190 se revelam limitadas na inibição do crime, quando não
contribuíram para acirrar os níveis de tensão e descrença
entre policiais e cidadãos. Mais além, a enorme desproporção
entre os recursos humanos e materiais disponíveis e o volume
de problemas, forçou a polícia a buscar fórmulas alternativas
capazes de maximizar o seu potencial de intervenção. Isto
significa o reconhecimento de que a gestão da segurança não
é responsabilidade exclusiva da polícia, mas da sociedade
como um todo. (A EMERGÊNCIA DE NOVOS MODELOS. Do
livro Policiamento Comunitário e o Controle Sobre a Polícia do
autor Theodomiro Dias Neto)

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Conceituando a Polícia Comunitária

Diante de vários conceitos que se pode observar no que concerne a polícia


comunitária, os que doravante se seguem, apresentam uma contextualização
que endossa a temática tratada nesta apostila.
É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova
parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a
polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e
resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime,
desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de
melhorar a qualidade geral da vida na área. (Trojanowicz ,1994)
A expressão “policia comunitária” remete a um significado mais abrangente,
ou seja, contém todas as atividades relacionadas à resolução dos problemas que
comprometem a qualidade de vida de uma comunidade. Essa resolução não
cabe apenas aos órgãos policiais, mas, também, a outros órgãos da sociedade.
Ela exige boa capacitação dos policiais que pretendem trabalhar com esta
filosofia.
Segundo Trojanowicz e Bucqueroux (1999), a Polícia Comunitária é uma
filosofia que associada a um novo modelo de agir da polícia com a comunidade
visa estabelecer uma relação de parceria. Uma de suas finalidades é aproximar
todos os órgãos de segurança e seus profissionais, para que a Polícia não seja
lembrada por um número ou Quartel.
É um conceito mais amplo, compreendendo todos os meios possíveis para
a solução de problemas, que de alguma maneira afetam a segurança de uma
comunidade, sendo que esses meios podem ser de origem governamental ou
não. (MARCINEIRO,2008)
A polícia comunitária é uma filosofia que ressalta a necessidade da parceria
entre a comunidade e a polícia nas políticas de segurança pública, para que
sejam direcionadas as ações e ocorra um controle social destas (COSTA,2004)

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Conceituando a Policiamento Comunitário

É uma forma de policiar. Entende-se por policiamento todo o emprego do


policial, seja através dos mais variados meios de locomoção ou a pé, que
tenham como finalidade a prevenção e inibição de práticas delituosas pela
ostensividade de sua presença. (MARCINEIRO,2008)
Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme
Trojanowicz (1994), o Policiamento Comunitário exige um comprometimento de
cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua
filosofia.(...) com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando a
resolução de problemas antes de que eles ocorram ou se tornem graves.
Baseia-se também no estabelecimento dos policiais como mini-chefesde
polícia descentralizados em patrulhas constantes, onde eles gozam da
autonomia e da liberdade de trabalhar como solucionadores locais dos
problemas da comunidade. (Trojanowicz e Bucqueroux, 1999)
Pode ser chamado também de policiamento de proximidade e constitui-se
de um primeiro estágio para se evoluir para a filosofia de polícia comunitária.

Diferença dos Termos

Na prática Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do


Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à comunidade). Aquela deve ser
interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de Policia,
esta pertinente às ações efetivas com a comunidade.

Figura 1 - Diagrama da Polícia Comunitária e do Policiamento Comunitário.

Conforme a figura 1 percebe-se que o policiamento comunitário está


contido na filosofia e estratégia chamada Polícia Comunitária.

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Os Princípios da Polícia Comunitária

Para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é


necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios, praticando-os
permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:
a. Filosofia e Estratégia Organizacional - A base desta filosofia é a
comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias
pré-concebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as
preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de
segurança;

a. Comprometimento da Organização com a concessão de poder à


Comunidade- Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como
plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na
identificação, priorização e solução dos problemas;

a. Policiamento Descentralizado e Personalizado - É necessário um


policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e
conhecedor de suas realidades;

a. Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo - A


idéia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à
ocorrência. Com isso, o número de chamadas do COPOM deve diminuir;

a. Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança - O Policiamento


Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais
ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos
procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;

a. Extensão do Mandato Policial - Cada policial passa a atuar como


um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa,
dentro de parâmetros rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o
Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se:

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 Isto está correto para a comunidade?


 Isto está correto para a segurança da minha região?
 Isto é ético e legal?
 Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
 Isto é condizente com os valores da Corporação?

Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-
o

a. Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas - Valorizar as


vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes,
sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso inalienável do Policial Comunitário;

a. Criatividade e apoio básico - Ter confiança nas pessoas que estão


na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria,
experiência e, sobretudo, na formação que recebeu. Isso propiciará abordagens
mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade;

a. Mudança interna - O Policiamento Comunitário exige uma


abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É
fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de
todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15
anos;

a. Construção do Futuro - Deve-se oferecer à comunidade um serviço


policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não deve
ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a
pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver
problemas atuais de sua comunidade.

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DIFERENÇAS BÁSICAS DA POLÍCIA TRADICIONAL COM A POLÍCIA


COMUNITÁRIA

POLÍCIA TRADICIONAL

• A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente,pelo


cumprimento da lei;
• Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviçopúblico, as
prioridades são muitas vezes conflitantes;
• O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
• As prioridades são por exemplo roubo a banco, homicídios etodos aqueles
envolvendo violência;
• A polícia se ocupa mais com os incidentes;
• O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
• O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidasaos crimes
sérios;
• A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que
devam ser cumpridas pelos policiais;As informações mais importantes são
aquelas relacionadas acertos crimes em particular;
• O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade desua área, que
representa, no máximo 2 % da população residente alionde “todos são inimigos,
marginais ou paisano folgado, até prova emcontrário”;
• O policial é o do serviço;
• Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
• Presta contas somente ao seu superior;
• As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências

POLÍCIA COMUNITÁRIA

• A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais sãoaqueles membros


da população que são pagos para dar atenção emtempo integral às obrigações
dos cidadãos;

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• Na relação com as demais instituições de serviço público, apolícia é apenas


uma das instituições governamentais responsáveispela qualidade de vida da
comunidade;
• O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando a resoluçãode
problemas, principalmente por meio da prevenção;
• A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e de desordem;
• As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo acomunidade;
• A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupaçõesdos cidadãos;
• O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperaçãodo público;
• O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamentocom a
comunidade;
• A função do comando é incutir valores institucionais;
• As informações mais importantes são aquelas relacionadas comas atividades
delituosas de indivíduos ou grupos;
• O policial trabalha voltado para os 98% da população de suaárea, que são
pessoas de bem e trabalhadoras;
• O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na soluçãodos
problemas com a marginalidade, que no máximo chega a 2%dos moradores de
sua localidade de trabalho;
• Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos eclientes da
organização policial;
• O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à comunidade;
• As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurançada
comunidade, ou seja 24 horas por dia; ·O policial é da área.

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MÓDULO 2

DIREITOS HUMANOS APLICADOS A ATIVIDADE


POLICIAL E O USO DIFERENCIAL DA FORÇA

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DIREITOS HUMANOS APLICADOS À ATIVIDADE POLICIAL

1. A construção da história dos Direitos Humanos

A história dos Direitos Humanos apresenta etapas que assinalam a


progressiva extensão do conteúdo do conceito. Por sua índole, pode-se dizer
que os Direitos Humanos nascem com o homem. As raízes do conceito se
fundem com a origem da História e a percorrem em todos os sentidos. Neste
imenso lapso de tempo, o homem, desde as mais diversas culturas, procura
ideais e aspirações que respondem à variedade de suas condições materiais de
existência, de seu desenvolvimento cultural, de sua circunstância política.

1.1 Antiguidade ( 4.000aC – 476 DC)

Mesmo sem um vasto registro escrito dos Direitos Humanos nesse


período, historiadores e juristas acreditam que mesmo na mais remota história
da humanidade é possível verificar registros rudimentares de direitos humanos.

Hoje, o Código de Hamurábi( 1.700 AC, Rei Hamurábi), é tido


como o melhor símbolo de registro desses direitos na antiguidade. De origem
Sírio-babilônicos (Mesopotâmia), previam penas cruéis, infamantes e desumanas
mas em desfavor dos Wardum( Classe “C”, representados pelos escravos
marcados) em privilégios aos Awilum (Classe “A”) ou por vezes aos Muskenum
(Classe “B”).

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Há ainda as Leis das 12 tábuas, normas que foram colocadas na frente do


fórum romano. Nela vemos a publicidade e a Igualdade (Diferentemente do
anterior). A compilação foi realizada pelo Rei Justiniano em 451AC ( 1ªs dez) e
450AC ( outras duas).

1.2 Idade Média

Um bom registro desse período é a Magna Carta ( 1215). Originou-se na


área geográfica hoje equivalente a Inglaterra e tinha o fim de pacificar a relação
entre João sem terra e o Papa Inocêncio III. Trazia uma previsão do Habeas
Corpus, do Direito de Propriedade e Devido Processo Legal.

1.3 Idade Moderna

Onde hoje está a Alemanha, temos os Tratados de Vestifália( Trat de


Münster + Osnaburk) ( 1648). Nela vemos uma concepção de estado moderno
(território definido + povo e governo soberano, + reconhecimento), um conceito
de Soberania ( renúncia à hierarquia baseada na religião).

Já na Inglaterra, temos a Bill ofRights( 1689).


Repetem-se os preceitos da Magna Carta, somando-se a idéia de independência
do parlamento (Divisão de poderes).
Já em 1776, vemos a Declaração de direitos do povo da Virgínia ( EUA).
Nela temos a idéia de que todo o poder emana do povo. Todo ser humano é
titular de direitos fundamentais.

1.4 Idade Contemporânea

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Em 1789 vemos a Declaração de Direitos do


Homem e do cidadão (França). Vemos invenções inéditas como o Estado laico,
Princípio da legalidade, anterioridade, Estado de inocência.

Em 1917, destacamos a Constituição mexicana. Nela


encontramos tutela aos interesses trabalhistas e previdenciários. Foram
elaboradas durante a 1ª guerra mundial.
Em 1919, temos a Constituição Alemã mas foi a criação da Liga das
Nações (Tratado de Versalhes ) nesse ano que mais chama a atenção da
evolução história já que representa um memorial do que viria a ser a ONU.

1.5 A 2ª guerra mundial e a ONU

Nada se compara aos horrores praticados Durante a 2ª guerra. Após o


conflito, emerge entre as nações envolvidas o sentimento de criar mecanismos
que evitassem males como o de uma guerra e que não repetisse os mesmos
fatores que levaram a ruína da Liga das Nações.
É nesse cenário que surge a ONU (1945). Embora não seja o único
órgão internacional de defesa dos direitos humanos é sem dúvida o de
maior hegemonia.
A ONU foi fundada em 24/10/1945 e situada originalmente em São
Francisco, Califórnia e inicialmente contava com 51 membros. Hoje sua sede fica
em Nova Iorque e são 193 membros.

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A Organização das Nações Unidas (ONU), ou


simplesmente Nações Unidas (NU), é uma organização internacional cujo
objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional,
segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos
humanos e a realização da paz mundial.
Seu documento originário é a Carta das Nações, mas o de maior destaque
é a Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948) que firmou as
Liberdades públicas, direitos econômicos e direitos de fraternidade.
Vale ressaltar que esse documento foi elaborado como uma resolução
mostrou-se como uma recomendação. Diferentemente dos tratados, não há nela
qualquer sanção em caso de violação de seus preceitos. Essa hoje ainda é a
maior crítica. Para dar executoriedade e efetividade à DUDH vieram outros
documentos, dos quais por hora destacamos o Pacto Int. sobre Direitos Civis e
Políticos (1966) e o Pacto Int. sobre os direitos econômicos, sociais e culturais
(1966). O Brasil aderiu a ambos em 1992.

2. DIREITOS HUMANOS

2.1 O que são direitos humanos?

“Não há nada mais Humano,


Que a humanidade,
(de) respeitar os direitos do outro”.
Liu Onawale Costa

Desde a publicação da Declaração Universal, “direitos humanos” é o


nome dado às necessidades básicas de todo ser humano, como os direitos à
vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, à liberdade de expressão,
à liberdade política entre outros.

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Atualmente os direitos humanos são direitos legais, isto significa que


fazem parte da legislação. Estão tanto nos instrumentos internacionais como
também são protegidos pelas constituições e legislações nacionais da maioria
dos países do mundo.
Os princípios fundamentais que constituem a legislação moderna dos
direitos humanos têm existido ao longo da história. No entanto, foi somente no
século XX que a comunidade internacional se tornou consciente da necessidade
de desenvolver padrões mínimos para o tratamento de cidadãos pelo governo.

2.2 A Carta Internacional dos Direitos Humanos

A Carta Internacional dos Direitos Humanos é o termo utilizado como uma


referência coletiva a três instrumentos importantes do direito, a saber:
a) A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) – Ratificada
pelo Brasil em 10 de dezembro de 1948;
b) Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP) –
Ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992;
c) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(PIDESC) - Ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992.

2.3 A Declaração Universal dos Direitos Humanos

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das


Nações Unidas (AGNU) em 10/12/1948 dispõem nos arts 1º e 2º que: todas as
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade. Tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de
raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Constituiu um grande avanço dado pela comunidade internacional devido
ao seu caráter moral persuasivo decorrente do consenso de que se trata de uma

22
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

declaração de regras internacionais de aceitação geral, que vinculada ao Pacto


Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e ao Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos formam a Carta Internacional dos
Direitos Humanos.
Foi precedida da assinatura da Carta das Nações Unidas em junho de
1945 que levou os Direitos Humanos para a esfera do Direito Internacional onde
os países membros das Nações Unidas se comprometeram em adotar medidas
para salvaguardá-los, após violações generalizadas dos direitos e liberdades
humanas na Segunda Guerra Mundial onde imperava a noção de que os
Estados não tinham que prestar contas a nenhuma outra instância a respeito do
tratamento ofertado a seus nacionais.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das


Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros


da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos


resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que
o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de
crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi
proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,

Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado


de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à
rebelião contra tirania e a opressão,

23
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas


entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé


nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana
e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram
promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade
mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em


cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e
liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da


mis alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

A Assembleia Geral proclama

A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a


ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada
indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração,
se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses
direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua
observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-
Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São


dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade.
Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de

24
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III - Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o


tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,


desumano ou degradante.

Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida


como pessoa perante a lei.

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção,
a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a
tal discriminação.

Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais
que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e
pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus
direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI - 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser


presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo
com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as
garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o


direito nacional ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII - Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua
família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e
reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou
ataques.

Artigo XIII - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência


dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Toda pessoa tem o direito de deixar
qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV - 1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de


gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de
perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV - 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será


arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade.

Artigo XVI - 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrição de


raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma
família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua
dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno
consentimento dos nubentes.

Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com


outros. 2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e


religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo
culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.

Artigo XIX - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber
e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras.

Artigo XX - 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação


pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI - 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país,
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda
pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade
do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em
eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou
processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII- Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança
social e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de
acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos,
sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da
sua personalidade.

Artigo XXIII - 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego,
a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho. 3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração justa
e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência
compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário,
outros meios de proteção social. 4. Toda pessoa tem direito a organizar
sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação
razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.

Artigo XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de


assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice
ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 2. A
maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas
as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção
social.

Artigo XXVI - 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita,
pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será
obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a
instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no
sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento
do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e
grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em
prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito n escolha do
gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII - 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida


cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e
de seus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais
e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da
qual seja autor.

Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em
que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser
plenamente realizados.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Artigo XXIV - 1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o
livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício
de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeita apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido
reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às
justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser
exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada


como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de
exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

1. Pilares que fundamentam os Direitos Humanos

Os Direitos Humanos são as coisas que precisamos para ter uma vida
digna. Sua ênfase não está na caridade ou na filantropia, mas sim na autonomia
e no protagonismo das pessoas, através da solidariedade e do respeito à
diversidade. A introdução da Declaração Universal dos Direitos Humanos
apresenta os motivos que levaram os países a assinarem o documento e os
pilares ou bases que devem sustentar os direitos humanos em todas as pessoas.

A partir do preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos,


podemos listar os princípios por trás dos direitos humanos:

• DIGNIDADE
• IGUALDADE
• LIBERDADE
• JUSTIÇA

Os direitos humanos nascem do reconhecimento do valor e da dignidade


da pessoa humana. Essa dignidade de todas as pessoas significa que o ser

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

humano vale pelo que é, por ser humano, por ser pessoa. Esse valor é
inegociável. Não pode ser comprado ou vendido. Todo ser humano merece
respeito. Ter DIREITOS HUMANOS!!

2. Qual a relação entre Direitos Humanos e Segurança Pública?

Dada a grave realidade nacional e internacional, onde o crime e a


violência ameaçam, a cada dia mais, as liberdades individuais e coletivas e as
instituições democráticas, é preciso que a segurança pública seja resolutamente
percebida como inclusa no mais fundamental dos Direitos Humanos.
É por isso que seus operadores diretos (policiais, bombeiros, agentes
penitenciários e guardas municipais), devam considerar-se e ser considerados,
cada vez mais, como promotores de direitos, e, é claro, como tal se portarem.

3. Código de Conduta dos Encarregados pela Aplicação da Lei (CCEAL)

Adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas pela resolução


34/169, de 17/12/1979, estipula que a natureza das funções dos Encarregados
da Aplicação da Lei (EAL) na defesa da ordem pública, e a maneira pela quais
essas funções são exercidas, possuem um impacto direto na qualidade de vida
dos indivíduos. Ressalta a importância de tais funções e o potencial para o
abuso que o cumprimento desses deveres acarreta.
Estipula, sinteticamente, para os EAL nos seus 8 artigos: cumprimento da
lei; respeito e proteção a dignidade humana; emprego da força estritamente
necessária e na medida exigida para o cumprimento do dever; sigilo funcional;
proibição da tortura ou outro tratamento ou pena, cruel, desumano ou
degradante; dever de cuidado e proteção a saúde das pessoas privadas da
liberdade; proibição, oposição e combate a corrupção; respeito ao CCEAL.

CÓDIGO DE CONDUTA DOS ENCARREGADOS PELA APLICAÇÃO DA LEI

Artigo 1°

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o


dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as
pessoas contra actos ilegais, em conformidade com o elevado grau de
responsabilidade que a sua profissão requer.
Artigo 2°
No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei
devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
humanos de todas as pessoas.
Artigo 3°
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força
quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu
dever.
Artigo 4°
Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o
cumprimento do dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro
comportamento.
Artigo 5°
Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou
tolerar qualquer acto de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel,
desumano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens
superiores ou circunstanciais excepcionais, tais como o estado de guerra ou
uma ameaça de guerra, uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política
interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 6°
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a protecção
da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar as medidas
imediatas para assegurar os cuidados médicos sempre que necessário
Artigo 7°
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer
ato de corrupção. Também se devem opor rigorosamente e combater todos
estes atos.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Artigo 8°
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e este
Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se
rigorosamente a quaisquer violações da lei e do Código.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para
acreditar que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem
comunicar o facto aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades
adequadas ou organismos com poderes de revisão e reparação.

USO DIFERENCIADO DA FORÇA

1. CONCEITOS

1.1 – FORÇA
É toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupo de
indivíduos, reduzindo ou eliminando sua capacidade de auto decisão.

1.2 – NÍVEL DE USO DA FORÇA


Intensidade da força escolhida pelo agente de segurança pública em
resposta a uma ameaça real ou potencial, comportando desde a simples
presença policial em uma intervenção, até a utilização da arma de fogo, em seu
uso extremo (uso letal).

1.3 – USO DIFERENCIADO DA FORÇA


Consiste na seleção adequada de opções de força pelo policial em
resposta ao nível de submissão do indivíduo suspeito ou infrator a ser
controlado.
- USO PROGRESSIVO DA FORÇA X USO DIFERENCIADO DA
FORÇA
Vale ressaltar que o outrora utilizava-se o termo “uso progressivo da
força”, todavia, considerando que o termo “progressivo” indica evolução, a

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

nomenclatura foi modificada para “uso diferenciado da força”, haja vista que este
termo (diferenciado) indica apenas uma distinção, permitindo, assim, não só a
evolução, mas também uma regressão de nível de força.
Destarte, a nomenclatura correta para a disciplina é “Uso
Diferenciado da Força”.
1.4 - INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
Conjunto de armas, munições e equipamentos desenvolvidos com a
finalidade de preservar vidas e minimizar danos à integridade das pessoas.

1.5 - TÉCNICAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Conjunto de procedimentos empregados em intervenções que
demandem o uso da força, através do uso de instrumentos de menor potencial
ofensivo, com intenção de preservar vidas e minimizar danos à integridade das
pessoas.

1.6 - ARMAS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Armas projetadas e/ou empregadas, especificamente, com a
finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas,
preservando vidas e minimizando danos à sua integridade.

1.7 - MUNIÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Munições projetadas e empregadas, especificamente, para conter,
debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas, preservando vidas e
minimizando danos a integridade das pessoas envolvidas.

1.8 - EQUIPAMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


Todos os artefatos, excluindo armas e munições, desenvolvidos e
empregados com a finalidade de conter, debilitar ou incapacitar temporariamente
pessoas, para preservar vidas e minimizar danos à sua integridade.

1.9 - EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Todo dispositivo ou produto, de uso individual (EPI) ou coletivo (EPC)


destinado a redução de riscos à integridade física ou à vida DOS AGENTES DE
SEGURANÇA PÚBLICA

2. A ÉTICA E A LEGALIDADE NO USO DA FORÇA

Todas as sociedades confiam à polícia uma diversidade de poderes para


fins de aplicação da lei e preservação da ordem. Inevitavelmente, o exercício, por
um agente policial, de qualquer um dos poderes que lhe estão atribuídos tem um
efeito direto e imediato sobre os direitos e liberdades dos seus concidadãos.
A par da faculdade de recorrer à força, em certas circunstâncias e dentro
de limites precisos, a polícia tem também a grande responsabilidade de assegurar
que a sua autoridade seja exercida de forma lícita e eficaz. A missão da polícia é
difícil e delicada, reconhecendo-se que a utilização da força por parte das
autoridades policiais, em circunstâncias claramente definidas, controladas e
inteiramente legítimas. Contudo, o abuso do poder de utilizar a força ofende o
principio essencial que serve de base à noção de direitos humanos – o do respeito
pela dignidade inerente à pessoa humana.
É, assim, fundamental, que sejam adotadas medidas para prevenir tal
abuso, bem como para garantir a existência de mecanismos de reparação,
investigação e sanção, quando se tenha verificado uma excessiva ou abusiva
utilização da força.
Uma extensa série de meios legais foi concedida às organizações de
aplicação da lei, no mundo todo, de modo a capacitá-los a cumprir com os seus
deveres de aplicação da lei e da prestação de assistência em situações em que seja
necessário. Esses meios como, por exemplo, poderes e autoridades, estão
relacionados, entre outros, à prisão, detenção, investigação criminal e o uso da arma
de fogo.
Em especial, a autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso
letal de armas de fogo em situações em que se torna necessário e inevitável para os
propósitos legais da aplicação da lei, cria uma situação na qual os encarregados e
membros da comunidade se encontram em lados opostos. Em princípio, os
confrontos envolvem os encarregados da aplicação da lei e cidadãos

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

individualmente. Na verdade, porém, têm a capacidade de influenciar a qualidade do


relacionamento entre a organização de aplicação da lei e a comunidade como um
todo. É óbvio que este relacionamento será ainda mais prejudicado no caso de uso
da força ilegal, isto é, desnecessária e desproporcional.
Os direitos à vida, á liberdade e à segurança devem ser considerados,
sempre, quando do uso da força. O direito à vida é inerente à pessoa humana e
deve ser protegido por lei; o direito à vida é um direito humano supremo. A
segurança e a liberdade também são direitos fundamentais da pessoa humana. A
organização policial, através de seus componentes, deve dar a mais alta prioridade
à proteção do direito à vida de todas as pessoas, através da tentativa de evitar a
tomada deliberada desta vida e através da perseguição com determinação e
persistência dos responsáveis pela morte violenta de um ser humano.
Em virtude desses fatores, os casos nos quais os policiais recorrem ao
uso da força e, principalmente, ao uso de armas de fogo, devem ser limitados ao
absolutamente necessário.
Negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos são
habilidades necessárias para a aplicação da lei. Comunicação é o caminho
preferível para alcançar os objetivos da legítima aplicação da lei. Contudo, os
objetivos da legítima aplicação da lei não podem sempre ser atingidos pela
comunicação, permanecendo basicamente duas escolhas: ou a situação é deixada
como está, e o objetivo não será atingido, ou os policiais decidem por usar a força
para fazer valer o ordenamento legal.

2.1 – Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei – CCEAL

É o código adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na


Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979. A resolução da ONU que adota o
CCEAL estipula que a natureza das funções de polícia na defesa da ordem pública,
e a maneira na qual essas funções são exercidas possui um impacto direto na
qualidade de vida dos indivíduos assim como da sociedade como um todo. Ao
mesmo tempo em que ressalta a importância das tarefas desempenhadas pelos
encarregados da aplicação da lei, a Assembleia Geral também destacou o potencial
para o abuso que o cumprimento desses deveres acarreta.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Esse código não tem força e tratado e busca criar padrões para que as
práticas de aplicação da lei estejam de acordo com as disposições básicas dos
direitos e liberdades humanas. É um código de conduta ética e se baseia no
exercício do policiamento ético e legal. Resumidamente, os artigos dizem que numa
conduta adequada os policiais devem:

 Cumprir sempre o dever que a lei lhes impõe;

 Demonstrar respeito e proteção à dignidade humana, mantendo


e defendendo os direitos humanos;

 Limitar o emprego da força;

 Tratar adequadamente os assuntos confidenciais;

 Reiterar a proibição da tortura ou outro tratamento ou pena


cruel, desumana ou degradante;

 Cuidar e proteger a saúde das pessoas privadas de sua


liberdade;

 Proibir o cometimento de qualquer ato de corrupção. Também


dever opor-se e combater rigorosamente esses atos;

 Respeitar as leis e o CCEAL.

Passaremos a abordar separadamente os artigos diretamente


relacionados ao uso da força.
No artigo 3º está estipulado que “os encarregados da aplicação da lei só
podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para
o cumprimento do seu dever”. As disposições enfatizam que o uso da força deve ser
excepcional e nunca ultrapassar o nível razoavelmente necessário para se atingir os
objetivos legítimos de aplicação da lei. O uso da arma de fogo, neste sentido, deve
ser visto como uma medida extrema.
O artigo 5º estipula “a absoluta proibição da tortura ou outro tratamento
ou pena cruel, desumano ou degradante”. Afirma que nenhum encarregado da
aplicação da lei pode invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais
como justificativa para esses atos.
O artigo 8º do CCEAL estipula que “os encarregados da aplicação da lei
devem respeitar a lei e este código. Devem também, na medida das suas

36
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

possibilidades, evitar e opor-se rigorosamente a quaisquer violações da lei e do


código”.
O código, pois, tem por objetivo sensibilizar os integrantes das
organizações policiais para a enorme responsabilidade que o Estado lhes outorga. O
policial é um sujeito da autoridade do Estado e, como tal, está investido de poder de
grande alcance e a natureza de seus deveres coloca-o em situação de corrupção e
violência policial, em potencial. O documento afirma que expor abertamente esses
perigos é o primeiro passo para combatê-los efetivamente. A atitude policial tem
uma forte relação com a imagem e percepção da organização como um todo,
carregando assim, alta expectativa com relação aos padrões éticos mantidos dentro
da força policial.
Um policial que excede no uso da força ou que seja corrupto, pode fazer
com que todos os policiais sejam vistos como violentos ou corruptos, porque o ato
individual reflete como ato coletivo da organização. O policial protege e socorre a
sociedade e, nesse sentido, exige-se um grau de confiança muito grande entre a
força policial e a comunidade como um todo. Os padrões estabelecidos pelo código
devem fazer parte da crença de todo encarregado da aplicação da lei e isto significa
que esses valores devem estar incorporados na sua atuação policial do dia a dia.

2.2 – Princípios Básicos sobre o Uso da Força e da Arma de Fogo – PBUFAF


Foram adotados no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a
Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, de
27 de agosto a 7 de setembro de 1990. Também não é um tratado, porém objetiva
proporcionar normas orientadoras aos Estados membros na tarefa de assegurar e
promover o papel adequado dos policiais.
Em resumo, o documento destaca os seguintes pontos:

 Os governos deverão equipar os policiais com vários tipos de


armas e munições, permitindo um uso diferenciado de força e
arma de fogo;

 A necessidade de desenvolvimento de armas incapacitantes


não-letais para restringir a aplicação de meios capazes de
causar morte ou ferimentos;

 O uso de armas de fogo com o intuito de atingir fins legítimos


de aplicação da lei deve ser considerado uma medida extrema;

37
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

 Os policiais não usarão armas de fogo contra indivíduos, exceto


em caso de legítima defesa de outrem contra ameaça iminente
de morte ou ferimento grave, para impedir a perpetração de
crime particularmente grave que envolva séria ameaça à vida,
para efetuar a prisão de alguém que resista à autoridade, ou
para impedir a fuga de alguém que represente risco de vida.

Os dois instrumentos, embora não estejam sob forma de tratados,


permitem o uso da força para qualquer propósito policial legítimo, reforçando o ponto
de vista segundo o qual a atividade policial pode ser vista como a busca para
resolver qualquer situação na sociedade, na qual a força pode ser usada.

2.3 – Legislação Nacional


Na legislação brasileira, vários instrumentos regulam o uso da força e da
arma de fogo pela força policial:

2.3.1 – Código Penal


O Código Penal apresenta justificativa ou causas de exclusão de ilicitude:
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de
direito.

2.3.2 – Código de Processo Penal


Dois artigos permitem o uso da força por policiais no exercício
profissional:
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável
no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso (...).
Art. 293. Se executor do mandado verificar, com segurança, que o réu
entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à
vista da ordem de prisão. Se for obedecido imediatamente, o executor convocará
duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se
preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for
atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que
amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.

38
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

2.3.3 – Código Penal Militar


No tocante ao emprego da força, o artigo 22 preconiza a exclusão de
crime:
Art. 22. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal;
IV – em exercício regular de direito.

2.3.4 – Código de Processo Penal Militar


Os artigos relacionados com o emprego da força na ação policial dizem
respeito à captura em domicílio, caso de busca e emprego de força:

Art. 231. Se o executor verificar que o capturando se encontra em alguma


casa, ordenará ao dono dela que o entregue, exibindo-lhe o mandado de prisão.
Parágrafo único. Se o executor não tiver a certeza da presença do
capturando na casa poderá proceder a busca, para a qual, entretanto, será
necessária a expedição do respectivo mandado, a menos que o executor seja a
própria autoridade competente para expedi-la.

Art. 232. Se não for atendido o executor convocará duas testemunhas e


procederá da seguinte forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando-lhe a
porta, se necessário; sendo noite, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombar-lhe-á a porta e efetuará a prisão.
Art. 234. O emprego da força só é permitido quando indispensável, no
caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da
parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para
defesa do executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do defensor. De tudo se
lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas.

2.3.5 - Portaria interministerial nº 4.226/2010 (Anexo I)

2.3.6 - Lei federal nº 13.060/2014 (Anexo II)

39
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

2.4 – Princípios essenciais do UDF

Os policiais só devem recorrer ao uso da força apenas quando todos os


outros meios para atingir um objetivo legítimo tenham falhado, devendo o objetivo
ser legítimo.
Os policiais devem ser moderados no uso da força e armas de fogo e
devem agir em proporção à gravidade do delito cometido e o objetivo legítimo a ser
alcançado.
Esta avaliação, que tem que ser feita individualmente pelo encarregado
da aplicação da lei em cada situação concreta em que a questão do uso da força
surgir, pois, do contrário, acarretará implicações negativas à corporação, à
sociedade e ao agente.
O uso arbitrário de força e armas de fogo pelos policiais constitui violação
da lei penal. Também constituem violações dos direitos humanos cometidas por
aqueles mesmos que são chamados a manter e preservar esses direitos.
O abuso da força e da arma de fogo pode ser visto como uma violação
da dignidade e integridade humana tanto dos encarregados envolvidos como das
vítimas.
Os direitos à vida, à liberdade e à segurança devem ser considerados,
sempre, quando do uso da força e, para tal, a legislação e a doutrina que tratam do
tema consideram que o agente de segurança, por ocasião do uso da força, deverá
observar fielmente os seguintes princípios:

 LEGALIDADE;
 NECESSIDADE;
 PROPORCIONALIDADE;
 MODERAÇÃO; E
 CONVENIÊNCIA

Por serem considerados essenciais, o agente da lei deve cumprir a todos,


sob pena de responder penal, civil e administrativamente pelo uso indevido da força.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Conforme Anexo II da Portaria Interministerial nº 4.226/2010, os


prinicípios essenciais são definidos da seguinte forma:

Princípio da Conveniência: A força não poderá ser empregada quando, em


função do contexto, possa ocasionar danos de maior relevância do que os objetivos
legais pretendidos.
Princípio da Legalidade: Os agentes de segurança pública só poderão
utilizar a força para a consecução de um objetivo legal e nos estritos limites da lei.
Princípio da Moderação: O emprego da força pelos agentes de segurança
pública deve sempre que possível, além de proporcional, ser moderado, visando sempre
reduzir o emprego da força.
Princípio da Necessidade: Determinado nível de força só pode ser
empregado quando níveis de menor intensidade não forem suficientes para atingir os
objetivos legais pretendidos.
Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado deve sempre ser
compatível com a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os
objetivos pretendidos pelo agente de segurança pública.

3. USO DA FORÇA E ATIVIDADE POLICIAL

O policial é o cidadão que porta a singular permissão para o uso da força


e das armas, no âmbito da lei, através da investidura do poder de polícia, conferida
pelo Estado.
Uma abordagem sobre o poder de polícia passa pela análise das
relações entre o Estado e os cidadãos, bem como pela possibilidade do Estado
intervir na vida social. Trata-se do Estado Interventor, aquele construído pela
burguesia para conservar e atender interesses sociais, políticos e econômicos. O
poder de polícia, pois, tem suas origens na formação do Estado moderno após a
desagregação do mundo feudal, ampliando a concepção de interesse público, que
pode ser entendido como a prevalência do coletivo sobre o individual.
Segundo Paulo de Bessa Antunes,
“O conceito de poder de polícia está vinculado a prerrogativas
e deveres da administração pública enquanto estrutura

41
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

tendente a assegurar um mínimo de coesão social, dentro dos


limites do estado de direito”.
“O poder de polícia, como atuação positiva do Estado, é
exercido no sentido de estabelecer freios à atividade
individual, de modo a assegurar a preservação da paz pública
e do bem-estar geral”.
“É indiscutivelmente o poder de polícia, uma restrição
imposta, coativamente, pelo Estado aos cidadãos, restrição
esta que atinge fundamentalmente a liberdade e a
propriedade individual. Em realidade, a atuação da polícia não
se faz sem uma profunda contradição dialética que se exprime
por uma constante luta entre as tendências aparentemente
opostas da intervenção estatal e da manutenção das
liberdades”.

Caio Tácito afirma: “A abstenção do poder público é tão nociva quanto a


violação dos direitos individuais”.
É imperativo observar, também, que o Estado tem a obrigação de
fundamentar seus atos em uma lei formal, no princípio da legalidade, ou seja, a ação
de polícia como instrumento do Estado deve observar essa legalidade.
O poder de polícia é definido pelo artigo 78 do Código Tributário
Nacional, que assim dispõe: “Considera-se poder de polícia a atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade,
regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, do exercício de atividade econômica dependentes de
concessão do poder público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e
aos direitos individuais e coletivos”.
No entanto, apesar de investido do poder de polícia, o policial não pode
confundir o uso legal da força com truculência. Balestreri ressalta que “a fronteira
entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, pela lei; no campo
racional, pela necessidade técnica; no campo moral, pelo antagonismo que deve
reger a metodologia de policiais e criminosos”.

42
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

3.1 – Uso indevido da força


O uso legítimo da força evidencia-se quando o policial aplica os princípios
da necessidade, legalidade, proporcionalidade e ética. O princípio da legalidade é a
observação das normas vigentes no Estado; o princípio da necessidade verifica se o
uso da força foi feito de forma imperiosa; o princípio da proporcionalidade é a
utilização da força na medida exigida para o cumprimento de seu dever; a ética dita
os parâmetros morais para a utilização da força.
O não atendimento a qualquer um desses princípios caracteriza o uso
indevido da força.

3.2 – Necessidade do uso da força


Algumas questões importantes devem ser respondidas para verificar a
necessidade de usar a força para atender o objetivo legítimo da aplicação da lei e
preservação da ordem pública:

ü A primeira é se a aplicação da força é necessária. Para responder, o


policial precisa identificar o objetivo a ser atingido. A resposta
adequada atende aos limites considerados mínimos para que se torne
justa e legal a ação. Caso contrário, o policial cometerá um abuso e
poderá ser responsabilizado.
ü A segunda refere-se a um questionamento se o nível de força a ser
utilizado é proporcional ao nível de resistência oferecida. Este
questionamento sugere verificar se todas as opções estão sendo
consideradas e se existem outros meios menos danosos para se
atingir o objetivo desejado. Neste momento, verifica-se a
proporcionalidade do uso da força, e caso não haja, estará
caracterizado o abuso de poder.

ü O terceiro e último questionamento verifica se a força a ser


empregada será por motivos sádicos ou maléficos. Busca-se verificar
a boa fé por parte do policial e os seus princípios éticos. A boa fé
demonstra a intenção do policial, embora ele possa errar ao adotar
uma opção equivocada, decorrente de uma análise também
equivocada.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Segundo Leal (2007), em relação à proporcionalidade no uso da força, há


de se destacar o brado do jurista Jellinek, após intensa discussão sobre o uso legal
do poder de polícia, no simpósio sobre Direito de Polícia, em 1971, na França:

NÃO SE ABATEM PARDAIS DISPARANDO CANHÕES

O nível de entendimento primário de uso legal e diferenciado da força


que o policial deve possuir é o de Jellinek, visto que o atributo da coercibilidade para
ser alcançado legalmente pelo policial deve ser analisado não somente pelo prisma
da técnica policial, mas, por um vasto conteúdo reformulador do próprio conteúdo
normativo do que seja meio coativo e uso proporcional da força. A coação policial,
por ser a mais nociva arma de freio e contrapeso social, deve abranger o uso da
técnica correta e o que seja proporcional e legítimo para, após essa profunda
análise, ser imposta ao cidadão em conflito com a lei (LEAL, 2007).

3.3 – Responsabilidades pelo uso da força


Na rotina da Força Policial, os policiais agem individualmente ou em
pequenos grupos. Para cada intervenção policial existe o potencial de se fazer
necessário o exercício de sua autoridade e poderes. Procedimentos adequados de
supervisão e revisão servem para garantir a existência de um equilíbrio apropriado
entre o poder discricionário exercido individualmente pelos policiais e a necessária
responsabilidade legal e política das Organizações Policiais como um todo.
A responsabilidade cabe tanto aos policiais envolvidos em um incidente
particular com o uso da força e da arma de fogo, como a seus superiores. Os chefes
têm o dever de zelo, o que não retira a responsabilidade individual dos encarregados
por suas ações.
É importante a compreensão de que o reconhecimento, pelo Estado, de
sua responsabilidade, apontando o erro do seu representante, não implica postura
subalterna ou desvalorização do agente da polícia. Mas sim, assume a mais nobre
das suas funções, que é a proteção da pessoa, célula essencial de sua existência
abstrata, além de cumprir importante papel exemplificador, fator de transformação e
solidificação.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

3.4 – Medidas práticas para aplicação das normas internacionais e nacionais

 Inscreva-se em programas de formação para aumentar os seus


conhecimentos e melhorar as suas aptidões nos seguintes domínios:
primeiros socorros, defesa pessoal, utilização de equipamento
defensivo, utilização de dispositivos não mortíferos, utilização de
armas de fogo, comportamento das multidões, resolução de conflitos e
controle das situações de tensão.

 Adquira e aprenda a utilizar escudos defensivos, coletes a


prova de bala, capacetes e dispositivos não mortíferos.

 Adquira, pratique e utilize diversos meios capazes de permitir a


utilização diferenciada da forca, nomeadamente armas incapacitantes
não mortíferas.

 Participe de sessões de apoio psicológico, para aliviar o stress.

 Acondicione cuidadosamente e de forma segura todas as


armas que lhe sejam entregues. Parta do princípio de que todas as
armas estão carregadas.

 Estude e utilize técnicas de persuasão, mediação e negociação.

 Planeje antecipadamente a utilização gradual e diferenciada da


força, começando pelos meios não violentos.

 Esteja atento ao estado físico e mental dos seus colegas e


intervenha sempre que seja necessário para assegurar que recebam
atenção, orientação e aconselhamento adequados.

3.5 – Escala da força contínua


A escala da força contínua tem sido incorporada por muitas instituições
policiais, sendo, para tal, organizada em níveis de força.
Vimos anteriormente que nível de força é a intensidade da força
escolhida pelo agente de segurança pública em resposta a uma ameaça real ou
potencial, sendo compreendida desde a simples presença policial em uma
intervenção, até a utilização da arma de fogo, em seu uso extremo (uso letal).
O UDF consiste na adequação, na perfeita correlação entre a ação
criminosa e a reação policial, para tal, a SENASP, no Curso de UDF, elenca este
tema como o ponto central na teoria do uso da força, dividindo a força em níveis
diferentes.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

É mister ressaltar que não existe uma classificação absoluta destes


níveis, porém, basicamente a escala contínua do uso da força é classificada da
seguinte forma:

 Presença física/ação de presença;

 Verbalização;

 Controles de contato ou controle de mãos livres;

 Técnicas de submissão/ táticas defensivas não letais;

 Força letal

 Presença policial: é a demonstração ostensiva de autoridade. O efetivo


policial corretamente uniformizado, armado, equipado, em postura e atitude
diligente, geralmente inibe o cometimento de infração ou delito naquele local.

 Verbalização: é o uso da comunicação ORAL com a entonação


apropriada e emprego de termos adequados que sejam facilmente
compreendidos pelo suspeito.

É uma técnica que busca diminuir a possibilidade de resistência e confrontos,


reduzindo o uso da força, conforme o modelo do Uso Diferenciado da Força.
As variações das posturas e no tom de voz do policial dependem da atitude da
pessoa abordada e deve ser empregada em todos os demais níveis de uso de
força.
Dicas importantes:

 O policial deve utilizar comando curtos;

 O tratamento deve ser respeitoso e digno/cortês e firme

 Técnica de “CD riscado”: repetir várias vezes o mesmo


comando, elevando-se e reduzindo o volume da voz;

 Verbos no modo imperativo;

 Mantenha a calma e a respiração;

 Jamais discuta;

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

 Não ameace o suspeito;

 Treine verbalização;

Portanto, ao verbalizar, o policial deve agir com tranquilidade e firmeza,


destacando que firmeza não se confunde com violência.
Ao dirigir-se as pessoas deve-se evitar o uso de termos vulgares, mantendo
uma linguagem imperativa e firme. Assim, o policial demonstra que controla a
situação e a linguagem que prevalece é a dele e não a do abordado.
 Controles de contato ou controle de mãos livres: é o emprego de técnicas de
defesa pessoal (combate corpo a corpo), aplicadas no abordado resistente
passivo. Faz-se necessário efetividade e eficiência na aplicação das técnicas,
devendo não negligenciar o treinamento.

São técnicas de defesa pessoal e imobilização de indivíduos infratores para a


realização de busca pessoal, colocação de algemas e condução.
 Técnicas de submissão/ táticas defensivas não letais: é o emprego das
técnicas de defesa pessoal policial, com um maior potencial de submissão para
fazer com que o abordado resistente ativo (agressivo) seja controlado, COM o
emprego de IMPO.

Neste nível, o policial recorrerá aos instrumentos disponíveis, tais como:


bastão tonfa, gás/agentes químicos, algemas, elastômeros (munições de
impacto controlado), “TASER” (armas de impulso elétrico), entre outros, com
o fim de anular ou controlar o nível de resistência.

 Força letal: consiste no disparo de arma de fogo efetuado pelo policial OU


aplicação de técnicas de defesa pessoal policial, com ou sem uso de
equipamentos, direcionados a regiões vitais do corpo do agressor.

Deve ocorrer somente em situações extremas, que envolvam risco


IMEDIATO de morte ou lesões graves ao agente ou terceiros, como o
objetivo imediato de fazer cessar a ameaça.

3.7 Modelos de Uso Diferenciado da Força


Não há modelos de UDF produzidos no Brasil de acordo com as
caracterísiticas locais. Sendo comumente observado a cópia de um modelo

47
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

preexistente, modificando apenas algum(ns) detalhes(s). Todavia, tais modelos


podem servir de referência para os agentes da lei. Vejamos alguns exemplos:

Modelo FLECT de uso da força, criado pelo Federal Law Enforcement Training
Center

NÍVEL DE CONTROLE DO USO DA


NÍVEL DE RESISTÊNCIA DO SUSPEITO
FORÇA
Presença do suspeito Posição de abordagem
Resistência verbal Comando verbal (verbalização)
Resistência passiva Técnicas de condução de preso
Resistência defensiva Agentes químicos
Resistência física ativa Táticas físicas: outras armas
Uso de arma de fogo e força letal Uso de arma de fogo e força letal

ASPECTOS MAIS IMPORTANTES DA PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº


4.226/2010

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

 O uso da força pelos agentes de segurança pública deverá se pautar


nos documentos internacionais de proteção aos direitos humanos e deverá
considerar, primordialmente:

 Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da


Lei;

 Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de Conduta para


os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei;

 Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos


Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei;

 Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas


Cruéis,Desumanos ou Degradantes

 O uso da força por agentes de segurança pública deverá obedecer aos


princípios: da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e
conveniência.

 Não deverão disparar ARMAS DE FOGO CONTRA PESSOAS, exceto


em casos de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo iminente de morte
ou lesão grave;

 Não é legítimo o uso de ARMAS DE FOGO CONTRA PESSOA EM


FUGA que esteja desarmada ou que, mesmo na posse de algum tipo de arma, não
represente risco imediato de morte ou de lesão grave aos agentes de segurança
pública ou terceiros;

 Não é legítimo o uso de ARMAS DE FOGO CONTRA VEÍCULO QUE


DESRESPEITE BLOQUEIO POLICIAL em via pública, a não ser que o ato
represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de segurança
pública ou terceiros;

 Os chamados "DISPAROS DE ADVERTÊNCIA" não são considerados


prática aceitável, por não atenderem aos princípios elencados na Diretriz n.º 2 e em
razão da imprevisibilidade de seus efeitos;

 O ato de APONTAR ARMA DE FOGO CONTRA PESSOAS durante os


procedimentos de abordagem não deverá ser uma prática rotineira e indiscriminada.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

 Todo agente de segurança pública que, em razão da sua função,


possa vir a se envolver em situações de uso da força, deverá portar no mínimo 2
(dois) instrumentos de menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção
necessários à atuação específica, independentemente de portar ou não arma de
fogo.

 Nenhum agente de segurança pública deverá portar armas de fogo ou


instrumento de menor potencial ofensivo para o qual não esteja devidamente
habilitado;

 Sempre que um novo tipo de arma ou instrumento de menor potencial


ofensivo for introduzido na instituição deverá ser estabelecido um módulo de
treinamento específico com vistas à habilitação do agente;

 Renovação da habilitação para uso de armas de fogo em serviço deve


ser feita com periodicidade mínima de 1 (um) ano;

 Inclusão nos currículos dos cursos de formação e programas de


educação continuada conteúdos sobre técnicas e instrumentos de menor potencial
ofensivo;

 Estimular e priorizar, sempre que possível, o uso de técnicas e


instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de segurança pública, sem
se restringir às unidades especializadas;

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

PRESENÇA POSTURA E VERBALIZAÇÃO

Presença policial: é a demonstração ostensiva de autoridade. O efetivo policial


corretamente uniformizado, armado, equipado, em postura e atitude diligente,
geralmente inibe o cometimento de infração ou delito naquele local.

VerbalizaçãoPolicial: Verbalização: é o uso da comunicação ORAL com a


entonação apropriada e emprego de termos adequados que sejam facilmente
compreendidos pelo suspeito.

É uma técnica que busca diminuir a possibilidade de resistência e confrontos,


reduzindo o uso da força, conforme o modelo do Uso Diferenciado da Força.
As variações das posturas e no tom de voz do policial dependem da atitude da
pessoa abordada e deve ser empregada em todos os demais níveis de uso de
força.
Dicas importantes:

 O policial deve utilizar comando curtos;

 O tratamento deve ser respeitoso e digno/cortês e firme

 Técnica de “CD riscado”: repetir várias vezes o mesmo


comando, elevando-se e reduzindo o volume da voz;

 Verbos no modo imperativo;

 Mantenha a calma e a respiração;

 Jamais discuta;

 Não ameace o suspeito;

 Treine verbalização;

Portanto, ao verbalizar, o policial deve agir com tranquilidade e firmeza,


destacando que firmeza não se confunde com violência.
Ao dirigir-se as pessoas deve-se evitar o uso de termos vulgares, mantendo
uma linguagem imperativa e firme. Assim, o policial demonstra que controla a
situação e a linguagem que prevalece é a dele e não a do abordado.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

TÉCNICAS DA ENTREVISTA

Técnicas da entrevista Segundo Lewgoy (2007: 239)

“o assistente social utiliza um conjunto de técnicas que serão selecionadas de


acordo com o momento ou finalidade da entrevista, mas nenhuma técnica é
empregada excluindo as demais. O que se modifica é a intensidade e a
frequência, de acordo com a etapa do desenvolvimento da entrevista”. Uma
particularidade a ter em conta, devido à sua vital importância para a eficácia do
uso de técnicas da entrevista, é a habilidade de escutar, mas neste caso,
quando se fala em escutar, quer-se antes dizer, que se deve ter uma atenção
desmedida, não só escutar o que o entrevistado diz, como aquilo que não diz
mas que uma atenção cuidada deixa perceber, seja As Etapas e Técnicas da
Entrevista 3 Maria de Lurdes dos Santos Pereira Nº 1100552 – 27/10/2012 pelos
gestos, seja por atitudes, como por exemplo uma comoção repentina, ou um
trejeito de desagrado, etc.
As técnicas usadas na entrevista são o acolhimento, questionamento,
clarificação, reflexão, exploração e aprofundamento, silêncio sensível,
apropriação do conhecimento e a síntese integrativa.

O acolhimento diz respeito ao momento em que as partes se apresentam uma à


outra. Ambos os intervenientes devem usar de clareza, preservando a
cordialidade e as regras de educação. Devem dizer de suas razões, o
entrevistado diz o que o trouxe e o assistente social, por sua vez, explica qual o
seu objetivo. O assistente social, por muita empatia que sinta pelo entrevistado,
deve ter sempre presente a importância de uma postura profissional e não
utilizar linguagem e formas de tratamento que extravasem o âmbito desta
relação. O entrevistado deve neste momento do acolhimento ser informado
sobre as etapas da entrevista, sobre a sua duração, sobre o preenchimento de
formulários de identificação e sobre o registo da evolução da entrevista. Assim, o
acolhimento é uma sequência de atos com vista a uma intervenção resolutiva.

52
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

O questionamento exige a habilidade de saber perguntar e de responder, como


tal é imperioso aprender a técnica do questionamento. Esta técnica é usualmente
mais usada nas entrevistas iniciais com vista a proceder à coleta de dados. As
perguntas devem ser feitas de forma clara e precisa, para que as respostas
sejam também elas claras e precisas. A qualidade dos conhecimentos do
assistente social pode aqui determinar a qualidade do questionamento, porque é
preciso saber perguntar. Por exemplo, ao invés de se fazer a pergunta “Em que
trabalha?”, deve antes fazer-se a pergunta deste modo: “Pode-me contar como é
o dia no seu trabalho?” A reflexão diz respeito à habilidade do assistente social
em provocar a reflexão, ou a necessidade do entrevistado meditar sobre o
significado das suas ações e assim poder compreender melhor os
acontecimentos e, consequentemente, promover as mudanças.
A clarificação tem como propósito ajudar o entrevistado a compreender o que é
dito na entrevista, ajudando-o a detalhar os acontecimentos, ou seja, o
entrevistador deve encorajar o entrevistado a ser preciso nos seus relatos em
vez deste estar à espera que o assistente social subentenda o que lhe vai na
alma. A exploração ou aprofundamento é uma técnica à qual o assistente social
recorre quando se revela necessária uma abordagem mais profunda acerca de
uma área da vida do entrevistado. Nestas circunstâncias recomenda-se um
especial cuidado acerca da verdadeira necessidade e As Etapas e Técnicas da
Entrevista 4 Maria de Lurdes dos Santos Pereira Nº 1100552 – 27/10/2012
pertinência em explorar assuntos delicados, isto é, o assistente social deve saber
dominar alguma eventual curiosidade mórbida. Existem assuntos de foro íntimo
que podem ser irrelevantes para o desenvolvimento e progressão da
intervenção, assim sendo, não devem de ser explorados.
O silêncio sensível remete para as atitudes que revelam mais do que as
palavras, como por exemplo, o silêncio da tensão que é a expressão da
ansiedade, o silêncio do medo que revela um certo tolhimento na pessoa, o
silêncio da reflexão quando a pessoa mergulha num estado de introspeção que
pode provocar tristeza. O silêncio de desinteresse que acontece quando a
pessoa se afasta da questão em causa.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

MÓDULO 3

ASPECTOS TÉCNICOS DA ABORDAGEM POLICIAL E SUAS


PARTICULARIDADES

54
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Com vistas a embasar a ação policial nos ordenamentos


jurídicos e/ou administrativos vigentes observamos as seguintes disposições:

1. ConstituiçãoFederal

Capítulo 1
Dos direitos e garantias fundamentais.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

1. - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos


termos desta constituição;
II. - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
III.- ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano
ou degradante;
XI.- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
XXXIX.- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal;
XLII.- a prática de racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII.- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

55
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

XLIX.- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e


moral;
LVII.- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória;
LXI.- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente Militar definidos em lei;
LXII.- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à
pessoa por ele indicada;
LXIII.- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;
LXIV.- o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua
prisão ou por seu interrogatório policial;
LXV.- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade
judiciária;
LXVII.- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;
LXXIV. - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos;

2. PoderdePolícia

2.1. Conceito

Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a


Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens,
atividades e direitos individuais, em benefÍcio da coletividade ou do próprio
Estado.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Em linguagem menos técnica, pode-se dizer que o poder de


policia é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para
conter os abusos do direito individual. Por esse mecanismo, que faz parte de
toda Administração, o Estado detém a atividade dos particulares que se revelar
contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao desenvolvimento e à
segurança nacional.

2.2. Atributos

O poder de polícia administrativa tem atributos


específicos e peculiares ao seu exercício, e tais são: a discricionariedade, a
auto-executoriedade e a coercibilidade.

1) Discricionariedade

A discricionariedade, como já vimos, traduz-se na livre


escolha, pela Administração, da oportunidade e conveniência de exercer o poder
de polícia, bem como de aplicar as sanções e empregar os meios conducentes a
atingir o fim colimado, que é a proteção de algum interesse público.

2) Auto-Executoriedade

A auto-executoriedade, ou seja, a faculdade da


Administração decidir e executar diretamente sua decisão por seus próprios
meios, sem intervenção do Judiciário, é outro atributo do poder de polícia.

3) Coercibilidade

A coercibilidade, isto é, a imposição coativa das medidas


adotadas pela Administração, constitui também atributo do poder de polícia.
Realmente, todo ato de polícia é imperativo (obrigatório para seu destinatário),

57
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

admitindo até o emprego da força pública para seu cumprimento, quando


resistido pelo administrado.

ABORDAGEM A PESSOAS

A Técnica de abordagem a pessoas tem por objetivo permitir


ao Policial Militar aproximar-se de uma pessoa ou grupo de pessoas, a pé,
montado ou motorizado e que emanam indícios de suspeição; que tenham
praticado ou estejam na iminência de praticar um ilícito penal e/ou conduta anti-
social passiva de intervenção corretiva, preventiva ou repressiva ou, ainda,
aproximar-se para: assistir, orientar, advertir, fiscalizar, prender, etc.
A atuação do policial militar deve guiar-se pelo embasamento
legal (seguir as leis e códigos em vigor), todavia sempre haverá questionamento
quanto à legalidade e à legitimidade da ação Policial, principalmente quando se
trata de abordagens a pessoas, sobretudo na execução da “busca pessoal”.

ASPECTOS NORTEADORES DA ABORDAGEM POLICIAL

1. Aspecto Ético (Legitimidade)

"O exercício consciente de proteção à Sociedade, justifica


o ato de abordar por parte do Policial Militar".

2. Aspecto Legal (Legalidade)


"A ação discricionária da PMPE, através do Poder de Polícia, fundamenta a
ação do PM".

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES PARA O POLICIAL

- Aspectos Culturais e Regionais e a Variação da


Incidência Criminal podem e devem ser observados numa ação policial.

58
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

- É importante para o PM analisar seu local de


atuação. Para tanto, a vivência e as experiências, colhidas com o passar do tempo,
servem para ajustar a conduta do PM diante das mais diversas situações encontradas,
as quais poderão variar em função do local, horário, tipos de delitos praticados e outras
considerações que certamente facilitarão a ação policial.

PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM POLICIAL

-SEGURANÇA - é a garantia que tem o PM, na hora de abordar,


que sabe o que está fazendo e está empregando o procedimento correto.

-SURPRESA - é a ação inopinada do PM, não possibilitando fuga


ou reação do abordado.

-RAPIDEZ - ação de curta duração na hora de abordar.

-AÇÃO VIGOROSA - ação resoluta, decidida e firme do PM na


hora de abordar.

-UNIDADE DE COMANDO - agir sob comando único, evitar


conflito de ordens. Controle das Ações desenvolvidas.

CASOS DE SUSPEIÇÃO

Na execução do Policiamento Ostensivo, devemos estar sempre


alerta. Atentos aos fatos e pessoas que nos cercam, colocando o ditado: “Ver e
Observar".

Observe qualquer fato suspeito, tome pleno conhecimento da


situação. Quanto mais souber, com maior segurança e profissionalismo você
poderá abordar.

59
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Existem vários casos de suspeição que poderemos citar. Todavia, as


aparências enganam. Esteja sempre alerta e desenvolva sua capacidade de
percepção policial.

Na experiência de rua, são citados alguns exemplos “clássicos”:

- Alguém usando casaco, quando a temperatura está alta para o uso;


- Alguém que corre ao avistar um policial aproximando-se;
- Indivíduo de má aparência e carente de higiene ocupando veículo de
alto valor;
- Alguém que entra ou sai por local por onde não é habitual (pulando o
muro ou janela);
- Loja cheia de pessoas, mas todas paradas;
- Pessoa pára em frente de uma registradora e/ou caixa com fisionomia
amedrontada;
- Veículo trafegando muitas vezes pelo mesmo local;
- Elementos rondando escolas, parques infantis, etc.
- Indivíduo com camisa por fora da calça e volume sob a mesma
- Indivíduo que, ao avistar carro de Polícia, toma atitude no sentido de
não ser reconhecido.

,
INDIVÍDUO EM ATITUDE SUSPEITA

Entende-se por indivíduo em atitude suspeita, aquela pessoa


que infunde dúvidas acerca de seu comportamento ou que não inspire confiança,
fazendo, em relação ao lugar onde se encontre o horário e outras circunstâncias,
justo receio às condições que nela se apresentam. (Definição dada pela
PMESP – em resposta ao questionamento feito pelo então Secretário de
Segurança Pública Sr. José Afonso da Silva – Revista A FORÇA POLICIAL
– São Paulo, 09MAR96)

60
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

A explicação para isso gira em torno de uma espécie de


sexto sentido, de uma valorização discricionária da situação fática, daí procura a
argumentação explicar: “O que faz o Policial suspeitar da atitude de alguém
diante da falta da norma jurídica particular, enumerando todos os casos
possíveis e imagináveis, é a reação de medo por parte da pessoa o que
leva a desconfiar que ela já fez ou iria fazer algo de errado.”

NÃO DEVE EXISTIR PRECONCEITO NA ADOÇÃO DE


DETERMINADOS CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DA ABORDAGEM. O
QUE CARACTERIZA A ATITUDE SUSPEITA DO INDIVÍDUO, É A
EXTERIORIZAÇÃO DE UM COMPORTAMENTO QUE FUJA DO CONTEXTO
SOCIAL, OU DA NORMALIDADE, ASSOCIADO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DE
HORÁRIO, LUGAR, CLIMA, PESSOAS, ETC. EM SÍNTESE TUDO QUE
POSSA CHAMAR A ATENÇÃO E SEJA PASSIVO DE AVERIGUAÇÃO;

O CONHECIMENTO DOS CASOS DE SUSPEIÇÃO

Os indivíduos em geral podem ser considerados em atitudes


suspeitas observando-se os seguintes aspectos:

a) Por informações de terceiros (COPOM, População, Vítimas, etc);


b) Pelas atitudes;
c) Pelo Local, horário e lugar.
d).Pela exteriorização de comportamentos que fujam do contexto da
normalidade.

Devemos redobrar a nossa atenção com os desconhecidos.


Às vezes poderemos estar abordando uma pessoa pensando que é um cidadão
comum que cometeu sua primeira infração, e na realidade o abordado é um
perigoso delinqüente. Para evitar surpresas, mantenha o abordado sob atenta
vigilância, sem, entretanto, fazer uso da violência.

61
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

SITUAÇÕES EM QUE O PM DEVE ABORDAR

- Para reconhecimento de pessoa procurada;


- Nos casos de cometimento de infração;
- Nos casos de conduta anti-social;
- Nos casos de suspeição;
- Para prestar assistência;
- Para Orientar;
- Para advertir;
- Para fiscalizar;
- Para prender.

PROCESSOS DA ABORDAGEM

Durante uma Abordagem Policial, devem ser consideradas


as seguintes fases:
a) PLANEJAMENTO MENTAL (coleta de dados e análise
dos fatos)

Juízo de valor, fundamentando na coleta de dados e análise dos


fatos com Vistas a otimizar a abordagem Policial, analisando os seguintes dados:

1).Tipo de Delito praticado;


2) Local da Ocorrência;
3) Número de envolvidos e meios utilizados;
4) Modus Operandi;
5) Possibilidade de Reação ou Resistência;
6) Análise de sua tropa;
7) Como, quando e o que fazer na abordagem;
8).Qualquer informação relevante, em relação à ação Policial
a ser desenvolvida.

62
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

b) PLANODEAÇÃO

São as linhas de ação, geralmente formuladas verbalmente, de


forma simples e no ambiente da Ação Policial.

c) EXECUÇÃO

Desencadeamento da Ação Policial.

BUSCA OU REVISTA

É uma atividade que consiste na procura ou exame de uma coisa


ou pessoa, podendo por conseqüência, ser pessoal, domiciliar ou em veículos.

BUSCA PESSOAL

É aquela executada exclusivamente em pessoas, podendo ser


realizada por qualquer Policial em serviço, com ou sem o respectivo Mandado, a
qualquer hora do dia ou da noite, respeitada a inviolabilidade domiciliar.
É discutível a legalidade e a legitimidade do ato de dar busca em
pessoas. Não é lícito ao Policial revistar indiscriminadamente todas as pessoas,
pois sua atitude, agindo dessa forma, é insensata e contraria um direito
constitucional de todo cidadão que é o, de ir e vir sem ser molestado.
Por outro lado, o Policial com sua vivência e experiência, aprende a
conhecer o infrator da lei e, sempre que julgar necessário, sempre que houver
indícios de que a pessoa está numa conduta antisocial ou contrariando um
dispositivo legal, procederá à abordagem e, se for o caso, a uma busca pessoal.
Caso uma pessoa, que emana indícios de suspeição, se
negue a sofrer uma busca pessoal, cabe ao Policial esclarecer que ele está
praticando, em tese, o crime de desobediência, podendo a busca, face à sua
resistência, ser procedida inclusive com o emprego de força física.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Durante a realização de Ações e/ou Operações Policiais (Blitz, Bloqueio,


Rondas Ostensivas) nos diversos Processos do Policiamento lançado, em caráter
ordinário ou extraordinário, face à natureza preventiva de sua ação, sobretudo quanto
ao combate ao Porte Ilegal de Armas, ao Porte ou Tráfico de Drogas e/ou de
determinados delitos em evidência na sua área de atuação, o Policial Militar poderá
abordar e realizar a busca pessoal, de forma mais genérica, sempre que tal
procedimento for relevante para a diminuição da incidência criminal e a proteção da
Sociedade.

DA BUSCA PESSOAL

O Código de Processo Penal, em seu art. 244, assim


dispõe, acerca da busca pessoal:

"Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso


de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na
posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de
delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca
domiciliar."(grifei)

Tal dispositivo legal foi recepcionado, segundo a


doutrina e a jurisprudência, pela Carta Magna. Mas há de salientar que a
autoridade só poderá fazer a busca pessoal nas hipóteses expressas na lei
processual.

 TIPOS DE BUSCA PESSOAL

A BUSCA PESSOAL PODE SER:


- Busca Ligeira ou Preliminar;
- Busca Minuciosa;
- Busca Completa.
ABORDAGEM A VEÍCULOS

Técnicas Policiais de Abordagem a Veículos

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

A análise operacional dos fatores de criminalidade aponta o


automóvel como meio de transporte mais utilizado para prática de crime ou
garantia de impunidade. Decorre, então, a necessidade premente das
abordagens realizadas terem como objeto tal meio de locomoção e, dessa forma,
constitui a grande parte da atividade operacional.

Características de um Veículo Suspeito

1 Placas velhas em veículos novos;


2. Veículos sem placas ou com placas encobertas;
3. Veículos novos em péssimo estado de conservação;
4. Arrancadas bruscas;
5. Excesso de velocidade e outras infrações de natureza grave;
6. Faróis apagados à noite;
7. Casal no banco traseiro do veículo e o banco do passageiro vazio
(não sendo taxi);
8. Homem conduzindo o veículo, e um ou mais homens utilizando
apenas o banco traseiro;
9. Condutores que sinalizam com o farol alto ao cruzar com a Vtr
(principalmente taxi e ônibus).
10.Taxi com passageiro e luminoso aceso;
11.Veículos à frente da VTr que fazem uso constante de freios (luz de
freio), sem necessidade aparente;
12.Taxi com casal de passageiros em que a mulher vai no banco de
passageiros dianteiro e o homem atrás;
13 Veículo com um passageiro que está sentado atrás do motorista;
14. Pessoa com dificuldade de conduzir o veículo;
15. Menores conduzindo veículo;
16. Em ônibus observar sempre a atitude de pessoas próximas ao
cobrador e ao motorista;

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

17.Circulação em marcha reduzida próximo a estabelecimentos


comerciais, bancos etc. ;
18.Veículos estacionados em locais ermos;
19.Veículos andando em conjunto, etc.

ABORDAGEM A EDIFICAÇÕES

Numa abordagem a edificação, em ocorrências/operações normais de


polícia, deve-se considerar os procedimentos básicos abaixo:

a. Isolamento (cerco) - A edificação onde se localiza o suspeito deve


ser imediatamente isolada a fim de se evitar que no curso da operação haja
danos à pessoas inocentes. O isolamento tem por finalidade, também, afastar da
área os curiosos e os colaboradores, pois esses, tentando interferir no trabalho
policial, podem dificultar a operação, como também, a de cercar e bloquear todas
as possíveis vias de fuga dos marginais, o mais rápido possível.

b Contenção e Localização - O objetivo desta ação é de localizar e


impedir que o suspeito tenha livre movimento, confinando-o a um espaço o mais
reduzido possível. Estando o suspeito isolado e confinado a um determinado
local, como, por exemplo, um apartamento, entra em ação a equipe destacada
para a missão de captura do suspeito.

Essa equipe deverá ser composta por elementos que tenham


treinamento de táticas de abordagem e hábeis no uso de armas. Desde que
tenham iniciado a operação para desalojar o suspeito, o comandante da equipe
de abordagem tem que ter controle absoluto da situação.

c. Evacuação da área - Deve-se retirar todas as pessoas que se


encontram dentro da zona de perigo. Estabelecida pelo comandante da
ação/operação.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

d. Abordagem - Tão logo o Comandante da Operação tenha


cumprido a fase anterior, efetuar a abordagem e, se constatar que necessita de
reforço, comunicar o fato ao COPOM e aguardar reforço ou pessoal
especializado (CIOE).

Para quebrar a resistência e dominar os infratores, podemos


empregar os seguintes procedimentos:

1. Verbalizar para convencê-los a sair;


2. Forçá-los a sair, através do emprego de:

 Agentes Químicos - Os gases empregados provocam nos


indivíduos a sensação de abafamento, desconforto e terrível mal estar
passageiro, podendo ainda provocar irritação na boca, nariz e áreas epidérmicas
úmidas, com sensação de queimadura. Desorientados, provavelmente, os
marginais entregar-se-ão.

 Cães - Os cães provocam nos malfeitores a sensação de medo;


ademais, se os mesmos estiverem armados e fizerem uso das armas, a
possibilidade de acertarem nos animais é mínima, devido ‘as características do
cão; e, em último caso, realizar o seguinte procedimento:

- Adentramento ao Local de Homízio - Somente em circunstâncias


especiais e de emergência deve o policial adentrar um recinto de homízio. Ações
desse tipo devem ser executadas apenas por indivíduos altamente treinados e
preparados para tal, na dúvida ou sem segurança, chamar o pessoal
especializado (grupo tático).

USO DE ALGEMAS

DEFINIÇÃO DE ALGEMAS:

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Instrumento de ferro ou plástico com que se prendem os membros


inferiores e/ou superiores (coação, coerção, opressão).
OBS.:
- Séc. XVI, os Árabes acrescentaram a palavra "AL JAMAR" (A
pulseira) no vocabulário latino.

ASPECTOS LEGAIS

Diz a lei que o emprego de força é permitido no caso de


desobediência, resistência ou tentativa de fuga. E mais, que se houver
resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para
vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares, inclusive a prisão do defensor
Art. 234, CPPM e 284 e 292 do CPP.

Obs.:
1) O uso da algema é regulado no §1º do Art. 234 CPPM;

"Artigo 234 - O emprego de força só é permitido quando


indispensável, no caso de: desobediência, resistência ou tentativa de fuga".

"Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados


meios necessários para vencê-la ou para defesa do executor e auxiliares seus,
inclusive a prisão do ofensor. E tudo se lavrará auto, subscrito pelo executor e
por duas testemunhas".

"§ 1º do Art. 234 - O Emprego de Algemas deve ser evitado, desde


que não haja tentativa de fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo
algum será permitido nos presos a que se refere o Art. 242".

"Ninguém ignora que tais reações de resistência do preso, muitas


vezes põem em risco a integridade física do próprio agente policial responsável

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

pela prisão, guarda ou condução do preso. Justo, portanto que o policial, para
proteger-se de tais perigos, use os meios necessários e indispensáveis de força".

Não será permitido o uso de algemas nos presos que gozam do direito
a prisão especial Art. 242 CPPM.

Art. 242 - trata da prisão especial. Por prisão especial entende-se o


direito que têm certas pessoas, em razão da profissão ou função, de
permanecerem em ambiente distinto dos presos comuns, quando condenados,
até o trânsito em julgado da sentença.

Art. 242 do CPPM - serão recolhidos a um Quartel ou à Prisão


Especial, ficando à disposição da autoridade competente, quando sujeitos à
prisão, antes de condenação irrecorrível:

a. Os Ministros de Estado;
b. Os Governadores ou Interventores de Estado ou Território, o
Prefeito do Distrito Federal, seus respectivos Secretários e Chefe de Polícia;
c. Os Membros do Congresso Nacional, dos Conselhos da União e
das Assembléias Legislativas dos Estados;
d. Os cidadãos inscritos no livro de mérito das ordens militares e
civis, reconhecidos em lei;
e. Os Magistrados;
f).Os Oficiais das Forças Armadas, das Polícias Militares e dos Corpos
de Bombeiros Militares, inclusive os da Reserva Remunerada ou não e os
Reformados;
g) Os Oficiais da Marinha Mercante Nacional;
h) Os diplomados por Faculdade ou Instituto Superior de Ensino
Nacional
i) Os Ministros do Tribunal de Contas;
j) Os Ministros de Confissão Religiosa.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Parágrafo Único - A prisão de Praças Especiais e a de Graduados,


atenderá aos respectivos graus de hierarquia.

SÚMULA VINCULANTE Nº 11

Desde logo cabe recordar que o uso de força física está


excepcionalmente autorizado em alguns dispositivos legais:

(a) CPP, art. 284 ("Não será permitido o emprego de força, salvo a
indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso");

(b) CPP, art. 292: ("Se houver...resistência à prisão em flagrante ou à


determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o
auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer
a resistência...").

Já pelo que se depreende do texto vigente do CPP, nota-se que a


força é possível:

(a) quando indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga;

(b) quando os meios devem ser os necessários para a defesa ou para


vencer a resistência.

O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou no dia 13 de agosto 2008


a Súmula Vinculante nº 11, da qual limita o uso de algemas a casos excepcionais
de resistência, de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física do
policial ou alheia, por parte do preso ou de terceiros.
Prevê a súmula, ainda, a aplicação de penalidades pelo abuso no seu
uso indevido, pois se consubstanciaria em constrangimento físico e moral do
preso, caso não seja devidamente justificada por escrito, podendo acarretar em

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

responsabilidades disciplinar, civil e penal do policial e de nulidade da prisão ou


do ato processual, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
Para a Polícia Militar o que mais importa é o ato da prisão dos
infratores da lei, que mesmo sendo um ato que viole a dignidade da pessoa
humana, haja vista ser a liberdade o fator natural do homem, observa-se que se
a prisão for amparada pela lei, não se justifica a não utilização das algemas
pelos órgãos policiais, entretanto o excesso em seu emprego caracterizaria em
um atentado à liberdade de locomoção, crime de Abuso de Autoridade, Lei nº
4898/65, além da responsabilidade civil e consequências disciplinares através de
seus Regulamentos Disciplinares.
O policial militar que fizer uso das algemas deverá justificar por escrito
o feito, podendo ser no próprio Boletim de Ocorrência, devendo, ainda, atentar
para a exposição indevida do preso à mídia, principalmente se algemado.
Independente da decisão a ser tomada pelo policial militar na
ocorrência ou na escolta do preso em se fazer valer das algemas, haverá a
necessidade que se haja a devida justificativa escrita por parte do agente do
Estado. Não configura crime de Abuso de Autoridade, pois deve se existir o dolo
de agir contrário às normas, sendo fato atípico o emprego de algemas da qual o
policial militar, na dúvida, a utilizou crendo estar fazendo o correto, se
justificando por escrito, não será passível de nulidade na fase judicial.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

MÓDULO 4

1º Interventor em situações de crise

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

1. Ocorrência de Alta Complexidade

É todo fato de origem humana ou natural, que,alterando a ordem pública, supere a


capacidade de resposta dos esforços ordinários de polícia, exigindo intervençãode
forças policiais através da estruturação de ações e operações especializadas, ou
típicas de bombeiros militares, com objetivo de proteger es ocorrer o cidadão.

a. Crise

Também conhecida como evento crítico. Existem dezenas de definições para crise,
porém, em nossa atividade podemos defini-la como:

 Manifestação violenta e repentina de ruptura do equilíbrio, da normalidade (em


qualquer atividade humana, inclusive e, principalmente, na Segurança
Pública);

b. Tensão no Conflito

 Situação grave em que os acontecimentos da vida social, rompendo padrões


tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de todos os grupos
integrados na sociedade.
 Momento perigoso ou difícil de uma evolução ou de um processo; período de
desordem acompanha do de busca penosa de uma solução (Dicionário
Aurélio);
 Conjuntura perigosa, situação anormal e grave. Momento grave, decisivo
(Dicionário Michaelis);
 A Academia Nacional do FBI(Federal Bureauof Investigation) dos Estados
Unidos da América define crise como: “Um evento ou situação crucial que
exige uma resposta especial da Polícia,a fim de assegurar uma solução
aceitável”.

São Modalidades de Crises Policias:

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

 Extorsão mediante sequestro

 Sequestro de pessoas

 Rebelião em presidio

 Ameaça ou localização de artefato explosivo

 Atos terroristas

 Captura de fugitivo

 Conflitos Agrários

 Suicídios

 Graves vazamentos

 Incêndio

 Outras ocorrências de Vulto

2. Gerenciamento de Crises

O FBI define o gerenciamento de crises como:“o processo de identificar, obter e


aplicar recursos necessários à antecipação, prevenção e resolução de uma crise”.
Pode ser descrito, também, como um processo racional de resolver problemas
baseados em probabilidades.

Essas ocorrências, por suas características, geram e criam no contexto da


segurança pública, situações críticas, nas quais se manifestam em um fato de
natureza policial, os mais diversifica dos problemas de ordem social,
econômica, política, psicológica e ideológica.

3. CaracterísticasdaCrise

As crises possuem três


características básicas:

a.Imprevisibilidade– a crise é não seletiva e inesperada,isto é,qualquer pessoa


ou instituição pode ser atingida a qualquer instante, em qualquer local, a

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

qualquer hora. Sabemos que ela vai acontecer, mas não podemos prever
quando. Portanto, devemos estar preparados para enfrentar qualquer crise.
Ela pode ocorrer assim que você acabar deler este parágrafo.

b. Compressão do tempo – Embora as crises possam perdurar por dias, os


processos decisórios que envolvem deliberações para adoção de posturas na
ambiência operacional devem ser efetivadas em um curto espaço de tempo.
As ocorrências de alta complexidade impõem às autoridades policiais
responsáveis por seu gerenciamento urgência, agilidade e rapidez nas
decisões.

c. Ameaça à vida – sempre se configura como elemento de um evento crítico,


mesmo quando a vida em risco é a do próprio causador da crise.

A experiência no tratamento dessas questões permite destacar ainda outros


três fatores que podem caracterizar uma situação de crise:

 Alto grau de pressão psicológica


 Conflitos de competência
 Alto poder desestabilizador do clima de segurança subjetivo

4. Posturas gerenciaisbásicas

Grande parte do serroscometidose distorções que são observadas durante a


estruturação de ações de resposta, por ocasião do gerenciamento de uma
crise, decorrem da inexistência ou do desrespeito a conceitos essenciais a
esse tipo específico de trabalho policial.
Isso compromete a compreensão do fato delituoso, inibe a adoção de posturas
na ambiência operacional e induz a operacionalizar estratégias equivocadas. É
preciso estabelecer os objetivos que direcionarão a atuação de uma força
policial nas situações de crise.

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ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Todos os esforços para a preservação da ordem devem ser desenvolvidos


como seguintes objetivos gerais:

1) Preservação devidas, sem distinções:

a) Dos policiais;

b) Dosreféns;

c) Do público emgeral;

d) Doscriminosos.

2) Aplicação da lei, incondicional:

a) Prisão dos infratores protagonistas da crise;

b) Proteção do patrimônio público/privado;

c) Garantir o estado de direito.

Esses objetivos estão sendo apresentados de acordo com seu grau de


importância e prioridade. Isso significa dizer que preservar vidas e aplicar a lei
devem ser considerados pontos balizadores do processo de gerenciamento
das ocorrências de alta complexidade.

5. Critérios para tomada de decisão

Na busca da consecução dos objetivos apresentados, o policial envolvido


numa ocorrência de alta complexidade está, durante todo o desenrolar do
evento, tomando decisões pertinentes aos campos de gerenciamento aqui
abordados.

76
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

Nessas ocasiões existe um constante processo decisório. Há o dilema do tipo


“faço ou não faço?”. Decisões, desde as mais simples às mais complexas, vão
sendo tomadas ato do o momento.
Elas envolvem matérias díspares ,como o fornecimento de água ou
alimentação para os reféns e para os delinquentes, atendimento médico de
urgência a uma vítima no interior do ponto crítico,o corte de linha telefônica e
fornecimento de eletricidade, ou até mesmo o emprego de força.

Assim, como intuito de balizar o processo decisório na ambiência operacional,


bem como para sua análise crítica, a doutrina do FBI preconiza três
critérios para a tomada de decisões:

 CRITÉRIOS PARA TOMADA DE DECISÕES

O critério de NECESSIDADE indica que toda e qualquer ação somente deve


ser implementada quando for indispensável. Se não houver necessidade de se
tomar determinada decisão, não se justifica sua adoção. O que se pretende
fazer é realmente necessário?

O critério da VALIDADE DO RISCO estabelece que toda e qualquer ação tem


que levar em conta se os riscos dela advindos são compensados pelos
resultados. A pergunta que deve ser feita é: vale apena correr esse risco?

Esse critério é muito difícil de ser avaliado, pois envolve fatores de ordem
subjetiva (já que o que é arriscado para um não o épara outro) e de ordem
objetiva (o que foi proveitoso em uma crise poderá não sê-lo em outra).

O terceiro critério, ACEITABILIDADE, implica que toda decisão deve ter


respaldo legal, moral e ético.

6. CLASSIFICAÇÃO

77
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

6.1. Classificação aos graus de risco de uma crise

Avaliar o grau de risco, em uma ocorrência de crises, deve ser uma das
primeiras ações do policial, uma vez que a doutrina do FBI estabelece uma
escala de risco ou ameaça, para a classificação da crise.

Essa classificação possui quatro graus, como no quadro abaixo:

CLASSIFICAÇÃO TIPOS EXEMPLOS (FBI)


1º GRAU ALTORISCO Assalto a banco promovido por uma ou d u a s
pessoas armadas de pistola ou revólver, sem reféns.
ALTÍSSIMO Um assalto a banco por dois elementos armados
2º GRAU
RISCO mantendo três ou quatro pessoas como reféns.
AMEAÇA Terroristas armados de metralhadoras ou outras
3º GRAU armas automáticas, mantendo oitenta reféns abordo
EXTRAORDINÁRIA
de uma aeronave.
Um indivíduo de posse de um recipiente, afirmando
AMEAÇA que seu conteúdo é radioativo e de alto poder
4º GRAU
EXÓTICA destrutivo ou letal, ameaçando a população de uma
cidade.

6.2.Níveis de resposta aos graus de risco de uma crise

Os níveis de resposta estão relacionados diretamente ao grau de risco de uma


crise, ou seja, o nível de respostas obena mesma proporção em que cresce o
risco da crise. É interessante conhecer o dimensionamento dos recursos a ser
utilizados, conforme visualizados no quadro abaixo:

NÍVEL RECURSOS RESPOSTA POLICIAL


1 LOCAIS As guarnições normais de área poderão

78
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

atender à ocorrência.
2 LOCAIS As guarnições normais com apoio de
ESPECIALIZADOS guarnições especiais da unidade de área.
3 TODOS DO NÍVEL DOIS + As guarnições especiais de área não
COMANDO GERAL conseguiram solucionar, pede-se apoio da
equipe especial da maior autoridade.
4 TODOS DO NÍVEL TRÊS + A equipe especial é empregada com auxílio de
RECURSOS EXÓGENOS equipe de profissionais de áreas específicas.

Uma correta avaliação do grau de risco ou ameaça representado por uma crise
concorre favoravelmente para a solução do evento, possibilitando, desde o
início, o oferecimento de um nível de resposta adequado à situação, evitando-
se perdas desnecessárias.

O grau de risco de uma crise pode ser mudado em seu transcorrer, pois a
primeira autoridade policial que chega ao local faz uma avaliação precoce da
situação, com base em informações precárias e de difícil confirmação.
Informações importantes,
como o número de reféns, número de bandidos e número de armas, que, às
vezes, só vê ma ser confirmados como andamento da crise.

7. LOCAL DA OCORRÊNCIA

Organização do local

O início de uma ocorrência de alta complexidade é sempre muito problemático,


uma vez que os transgressores da lei, os reféns e os primeiros policiais
envolvidos estão com elevados níveis de tensão, faltam informações reais e
sobram dados distorcidos, acerca do cenário predominantemente emocional
que se percebe nesse primeiro momento, contudo algumas ações são

79
ASPECTOS TÉCNICOS DE POLICIAMENTO OSTENSIVO – CFS 2020

necessárias, são adotadas pelo policial que primeiro chegou ao local de


ocorrência, ou seja, 1ºInterventor.
A primeira conduta consiste em conter os transgressores da lei, bem
como os eventuais reféns, em local determinado, cerceando a possibilidade de
fuga e isso, por si só, trará melhor controle da situação.

A contenção tem por objetivo também diminuir o espaço físico ocupado pelos
transgressores da lei e pelos reféns,o que facilitar áo processo de negociação
e a eventual aplicação de outras alternativas táticas.

A próxima conduta a ser adotada é o isolamento do local, estabelecendo-


se o perímetro de segurança em dois níveis (perímetro interno e perímetro
externo) ao redor do ponto crítico. Tais denominações podem receber outros
nomes, como por exemplo: área vermelha, amarela e verde; zonas A, B,e C;
entre outros.
O princípio do isolamento da área consiste em restringir o acesso das pessoas
que tenham funções específicas em cada um dos perímetros; dessa forma
entende-se, por ponto crítico, o local mais próximo dos causadores do evento,
nas imediações desse local só deve estar presente o grupo de negociação e o
grupo tático. Portanto, somente o pessoal especializado para aplicar as
alternativas táticas é que deve permanecer no perímetro interno.

Na área compreendi da entre o perímetro interno e o externo, será o local onde


será instalado oposto de comando (PC), local onde ficará o comitê de crise,
composto pelo gerente da crise e seu staff, posto de comando tático (PCT),
bem como demais órgãos de apoio obrigatórios, como médico, ambulância, e
as equipes eventuais: companhias de gás, eletricidade, água, corpo de
bombeiros etc.

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A área compreendida após o perímetro externo é caracterizada pelo livre


acesso de todas as pessoas, é nesse espaço que ficará o pessoal da imprensa
e o pessoal especializado para cuidar da fluidez do trânsito.

A forma e o tamanho dos perímetros táticos vão depender da natureza, da


localização e do grau de risco do ponto crítico. Nessas condições,
normalmente é esperado que o isolamento de um ponto comercial em uma rua
do interior do estado, onde ocorre um assalto, não possua as mesmas
características e o mesmo grau de dificuldade, se esse comércio estiver
localizado na Av. Jerônimo Monteiro, no centro da capital capixaba.

Contudo, um ponto muito importante deve sempre ser lembrado: não importam
quais as dificuldades, o isolamento do ponto crítico deve sempre ser realizado,
sob pena de comprometer o êxito da missão de gerenciamento da crise.
É importante lembrar que, ao ser estabelecido o contorno dos perímetros
táticos, quanto mais amplo for o perímetro mais difícil se torna sua
manutenção, por exigir um maior número de policiais e causar maiores
transtornos na rotina das pessoas que vivem nas proximidades do ponto
crítico, ou deles e utilizam.

Somente após proceder a contenção e o isolamento é que o policial


1ºInterventor fará contatos no intuito de iniciar as negociações, sem
proceder concessões e objetivando acalmar os envolvidos, adotando diálogo
racional, através das dicas listadas na alternativa tática da negociação.

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8. O GERENTE DA CRISE

Não há dúvida de que cabe às Polícias Militares a atribuição de preservação


da ordem pública, é o que assegura a nossa lei maior. O entendimento da
expressão “preservação da ordem pública”, além de ter caráter preventivo,
possui também caráter repressivo, representado pela restauração da ordem
pública, quando esta for rompida. É nesse entendimento que se enquadra
perfeitamente a atuação das Polícias Militares dos Estados como órgãos
responsáveis pela preservação da ordem pública, através do policiamento
ostensivo e preventivo e da imediata intervenção, quando isso não estiver
acontecendo.

Uma crise com reféns localizados, por exemplo, é uma atribuição específica de
restabelecimento da ordem pública, portanto, missão das Polícias Militares.
Normalmente são os policiais militares os primeiros a tomar conhecimento
desse tipo de evento crítico e, dessa forma, enquanto acimas coisas acontecer
em, recomenda-se que o gerente da crises ejao policial militar de maior
graduação ou posto, presente no local, cabendo-lhe então toda a
responsabilidade pelo gerenciamento da crise, sendo ele a única autoridade
do local com poder decisório.

Todo staff formado para assessoramento, o grupo de negociadores e o grupo


tático deverão estar subordinados ao gerente da crise.
É um erro comum de estratégia quando as autoridades do Poder Executivo,
em âmbito estadual, querendo agradar tanto a Polícia Militar, quanto a Civil,
determinam atribuições em conjunto e não havendo relação de subordinação,
entre elas, o impasse fica criado, o que prejudica a definição das
responsabilidades e o consequente controle do local.

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9. AS ALTERNATIVAS TÁTICAS

As alternativas táticas, para resolução de ocorrências de alta complexidade,


têm sido modificadas no decorrer dos anos. O refinamento do trabalho inicial
levou à concepção do mais moderno jogo das alternativas conhecidas até
1989, que eram Negociação, Tear Gás, Sniper e Assault.

Através de recentes estudos realizados por profissionais de times táticos


policiais, foi possível analisar uma nova evolução nas alternativas táticas,
resultante de desenvolvimentos tecnológicos, políticos e maior complexidade
em situações de crise, onde se procura diminuir os riscos de vida para as
partes envolvidas. Assim, as alternativas em cenários de crise passaram a
compreender negociação, agentes não letais, sniper e assault.

No Brasil, as quatro alternativas táticas empregadas são denominadas


mais comumente como:
 Negociação;

 Emprego de técnicas não letais;

 Tiro de comprometimento ou sniper;

 Invasão tática.

O gerente da Crise pode usar uma ou mais alternativas táticas, isoladamente


ou conjugadas para a resolução da crise. A decisão cabe somente a ele e vai
depender do andamento de cada ocorrência.

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MÓDULO 5

POPs e BO

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REFERÊNCIAS
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jurisprudência). 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1992.

BALESTRERI, R. B. Treze reflexões sobre polícia e direitos humanos. Artigo.


CICV. Direitos humanos e direito internacional humanitário para forças
policiais e de segurança – uso da força e da arma de fogo. Comitê Internacional
da Cruz Vermelha, caderno 10.

BETINI, Eduardo Maia. Curso de UDF: Uso Diferenciado da Força. 1. ed. – São
Paulo: Ícone, 2013.

GOMES, L. F. Algemas: quando usá-las. Artigo. Disponível em: www.ielf.com.br.


Acesso em: 22 nov. 2007.

LEAL, G. R. A proporcionalidade e o uso da força pelas polícias militares.


Artigo. Disponível em: <www.direitonet.com.br/artigos/x/35/81/3581>. Acesso em 22
nov. 2007.

ONU. Manual de direitos humanos. Organização das Nações Unidas. 2001.

PINC, T. M. Uso da força não letal pela polícia nos encontros com o público.
Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo (Mestrado em Ciência
Política), 2006.

SENASP. Técnicas e tecnologias não-letais de atuação policial. Módulo 1.

SENASP. Técnicas e tecnologias não-letais de atuação policial. Módulo 2.

SENASP. Técnicas e tecnologias não-letais de atuação policial. Módulo 3.

SENASP. Técnicas e tecnologias não-letais de atuação policial. Módulo 4.

SENASP. Uso legal da Força. Apostila. v. 1.

SENASP. Uso legal da Força. Apostila. v. 3

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