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V Roberto de Albuquerque Cavalcanti1


V Maria Alice Fernandes da Silva Gayo2
1 - Professor adjunto do Depto. de Cirurgia do CCS/UFPB.
2 - Aluna do curso de graduação em Psicologia do Unipê.
E-mail: alicegayo@yahoo.com.br

Andragogia
na educação
universitária
Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem in- novos paradigmas para a educação. En-
versa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os tre 1993 e 1996, a Comissão Interna-
cional sobre Educação para o Século
alunos são secundários.(...) O aluno é solicitado a se ajustar a
XXI, da Organização das Nações Uni-
um currículo pré-estabelecido. (...) Grande parte do aprendi- das para a Educação, Ciência e Cultura
zado consiste na transferência passiva para o estudante da ex- (UNESCO), desenvolveu um estudo que
periência e conhecimento de outrem (...) nós aprendemos aqui- culminou na produção do “Relatório Ja-
lo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto cques Delors”, publicado no Brasil com
o título “Educação – um tesouro a desco-
aprendiz. (LINDERMAN, 1926., apud CAVALCANTI, 1999, p.01)
brir” em 1998, síntese do pensamento das

E sta afirmação de Linderman, pes- diretivos – sejam os conselhos maiores autoridades mundiais sobre edu-
quisador da American Associati- escolares locais, sejam as admi- cação no final do século XX, sendo inves-
nistrações universitárias – ten- tido, portanto, de importância inquestio-
on for Adult Education, expressa sua dem a se agarrar tenazmente ao
percepção, no início do século passa- passado, promovendo apenas
nável para o planejamento de atividades
do, de que o ensino formal utilizado na mudanças simbólicas. É prová- educacionais atuais e futuras. O documento
época, para a maioria das atividades vel que nossas escolas sejam centra suas conclusões na premissa de que
educacionais, fôra concebido sobre
mais prejudiciais que benéficas a aprendizagem, neste século, deverá se
ao desenvolvimento da persona-
princípios inadequados. Linderman não estender por toda a existência da pessoa,
lidade e exerçam uma influência
estava sozinho em suas críticas. Assim negativa sobre o pensamento correspondendo à perspectiva da “educa-
expressava-se Carl Rogers, em artigo criador (ROGERS apud GOULART, ção permanente”, “educação continuada”
publicado em 1964: 2001, p.82). ou “Andragogia”. O termo “Andragogia”
já fora sugerido em documento da UNES-
Num mundo em rápida mudança, No século XXI, é preciso vencer CO no início da década de 1970, com o
os professores e seus conselhos essas resistências e abrir perspectivas, mesmo significado.

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Origem da Andragogia

O vocábulo “Andragogia” foi inici- Pierre Furter (1973, p.23) defi- a intervenção de outrem (individu-
al ou coletiva) aparece como indis-
almente utilizado por Alexander niu Andragogia como a filosofia, ciência
pensável (grifo nosso).
Kapp (1833), professor alemão, para e a técnica da educação de adultos.
descrever elementos da Teoria de Edu-
A palavra Andragogia deriva das
cação de Platão. Voltou a ser utilizado Propomos que, sob o nome de
“andragogia”, a universidade reco- palavras gregas andros (homem) +
por Rosenstock (1921), para significar
nheça uma ciência da educação agein (conduzir) + logos (tratado, ci-
o conjunto de filosofias, métodos e pro- dos homens; coisa que outras ência), referindo-se à ciência da educa-
fessores especiais necessários à educa- universidades estrangeiras já fize-
ção de adultos. Na década de 1970, o ram primeiro na Iugoslávia, e, mais
ção de adultos, em oposição à Peda-
termo era comumente empregado na recentemente, nos Países-Baixos. gogia, também derivada dos vocábu-
França (Pierre Furter), Iugoslávia (Su-
Essa ciência deve se chamar an- los gregos paidós (criança) + agein
dragogia e não mais pedagogia,
san Savecevic) e Holanda para designar (conduzir) + logos (tratado ou ciên-
pois seu objetivo não é mais so-
a ciência da educação de adultos. O mente a formação da criança e do cia), obviamente referindo-se à ciência
nome de Malcolm Knowles surgiu nos adolescente, mas do homem du- da educação de crianças. A Andrago-
Estados Unidos da América, a partir de rante toda a sua vida. gia deve ser entendida como a filosofia,
Essa ciência compreenderá tan-
1973, como um dos mais dedicados to o estudo das formas de autodi- a ciência e a técnica da educação de
autores a estudar o assunto. datismo quanto daquelas em que adultos.

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O adulto na ótica existencial-humanista

C rianças e adultos são criaturas sig-


nificativamente diferentes. Jean Ja-
cques Rousseau foi o primeiro a perce-
adolescência, mas nem por isso limita-
das a essa idade, que transformam pro-
gressivamente a criança no adulto.
o homem é capaz de conhecer o mundo e
a si mesmo e de conhecer que conhece
(reflexão), ter consciência. Através da cons-
ber que crianças não são miniaturas de Considerados pela perspectiva da ciência, ele “se identifica e se afirma como
adultos. O desenvolvimento psicológi- Psicologia Existencial-Humanista, os prin- pessoa, como indivíduo distinto e diferen-
co que ocorre no ser humano ao longo cípios compreensíveis das condutas huma- te dos demais, como portador de direitos
de sua vida produz modificações pro- nas adultas se concretizam na razão, liber- e deveres, e como criador de si próprio.”
fundas, progressivas, mais intensas na dade e responsabilidade. Através da razão (Bach, 1985, p.77).

A través da consciência, o adulto se


percebe como “ser livre, autôno-
mo” e, como tal, capaz de tomar deci-
subjetivas, que são incorporadas à sua
identidade, sua personalidade e sua ma-
turidade psicológica. Marcados assim
forços para atingir objetivos específi-
cos, plenos de significado para si. No
dizer de Rollo May (1973, p.76), “o
sões, fazer escolhas, direcionar suas pelas vivências, construindo-se e crian- homem não cresce como uma árvore,
ações para perseguir seus objetivos. Sua do-se a si próprios, os adultos reagem mas realiza suas potencialidades so-
consciência e liberdade o tornam sujei- de forma pessoal diferente perante situ- mente quando planeja e escolhe cons-
to de responsabilidade, tanto no senti- ações idênticas, o que precisa ser con- cientemente”.
do de saber como agir e reagir perante siderado na aprendizagem. Sujeito dessas características, que
os desafios e problemas existenciais, Finalmente, o adulto tem uma vão interagir e interferir em todas suas
como no de arcar com as conseqüênci- tendência a atualização, no sentido de atividades, inclusive no aprendizado, o
as de seus atos e decisões.A experiên- estar sempre buscando a concretização adulto aprendiz requer uma filosofia edu-
cia pessoal é outra dimensão psicológi- de suas potencialidades, o enriqueci- cacional específica, realizada através de
ca do adulto. Durante sua vida, vivencia mento amplo de sua vida, no campo do técnicas que utilizem estas peculiarida-
fatos, aprendizados, acertos, erros, al- saber, do poder, do fazer, do ter, do sen- des para potencializar seu aprendizado.
guns gratificantes outros desagradáveis, tir-se gratificado por suas conquistas. A Andragogia é a resposta para esta
vivências essas exclusivamente suas, Nessa busca, o adulto orienta seus es- necessidade educacional.
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ANDRAGOGIA versus PEDAGOGIA
C oncebido no objetivo de educar cri-
anças, o modelo pedagógico clás-
sico tem como pilar mestre a total res-
ponsabilidade do professor sobre o pro-
cesso educacional. Ele decide o que en-
sinar (prepara um programa), como faze-
lo (dispõe sobre o método) e como ava-
liar o progresso do aluno (...o aluno, ao
termino da disciplina, será capaz de...).
Ao aprendiz, cabe apenas o papel de
submissão e obediência. Durante as ati-
vidades didáticas, o professor age, toma
a iniciativa, fala e os alunos, cumprindo
o papel passivo que lhes cabe nesse pla-
nejamento, acompanham.
Diante das características psico-
lógicas dos adultos, a Andragogia, dife- siderado como agente capaz, autônomo, vação interna. O quadro a seguir com-
rentemente, tem o aluno como sujeito do responsável, dotado de inteligência, para as características das duas ciênci-
processo de ensino/aprendizagem, con- consciência, experiência de vida e moti- as segundo seis diferentes critérios:

Quadro 1- Comparação entre Pedagogia e Andragogia

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Pedagogia clássica na Universidade

E ducandos que chegam à Universi-


dade, em sua maioria, são adoles-
centes e adultos jovens, em ávida busca
tuda” o que corresponde em fixar
de memória o quanto lhe tem sido,
oralmente, ensinado nas aulas.
ceberão a dura realidade de que não es-
tão preparados para o mundo real. Ou-
tros, mais seguros de si e no propósito
Esta pedagogia podia funcionar
por suas identidades e pela realização perfeitamente numa escola da Ida- de defender seus ideais e objetivos, en-
de suas potencialidades. Ainda insegu- de Média. ( ANÍSIO TEIXEIRA. trarão em conflito com a instituição e com
1956, p.230)
ros, esperando da Universidade o ensi- professores. Rotulados de indisciplina-
no “superior” prometido pelo ordena- dos, serão punidos com faltas, suspen-
Nesse ambiente hostil, castrador,
mento educacional vigente, se deparam sões, reprovações. Dentre esses, uns
onde o professor ocupa o palco e os
com o mero continuísmo da educação poucos saberão superar as dificuldades,
alunos, a platéia, onde suas liberdades
fundamental e média: programas pré-or- mesmo sem ajuda, e extrair da Univer-
e autonomias não podem ser exercidas,
ganizados em períodos e disciplinas, sidade, por iniciativa e persistência, aqui-
suas inteligências são relegadas a se-
conteúdos selecionados e estabelecidos lo que necessitam para realizar seus ob-
gundo plano frente às exigências de me-
unilateralmente pelos professores ou pela jetivos. Alguns outros seguirão a estru-
mória, suas experiências e criatividade
instituição; são forçados a se ajustarem tura curricular de forma desinteressada
são solenemente ignoradas e desesti-
a essa estrutura rígida, a ocupar o espa- e irresponsável, desestimulados, chegan-
muladas, os estudantes irão viver por
ço de uma carteira que lhe é destinada do ao término de seus cursos em letár-
quatro, cinco ou seis anos, o exato pe-
como objetos da ação educacional da ins- gica mediocridade.
ríodo onde deverá ocorrer a consolida-
tituição. Devem fazer silêncio, prestar Finalmente, muitos estudantes
ção de seus desenvolvimentos psicoló-
atenção à “performance” dos professo- promissores sucumbirão ao ambiente
gicos. Será um tempo decisivo, que
res e memorizar os conteúdos com o inóspito, sentindo-se incapazes por não
marcará de modo indelével a postura
objetivo de responder perguntas nos tes- conseguir a aprendizagem que esperam
dos educandos frente aos desafios da
tes de avaliação. Se tiverem dúvidas (e e de que precisam, e sem aceitar abrir
vida cotidiana.
coragem), poderão dirigir perguntas ao mão de um mínimo de amor próprio para
A reação dos alunos a essa situa-
alto do púlpito docente, é claro, com o se enquadrar às regras vigentes. O con-
ção frustrante será variável, de acordo
máximo de propriedade para não serem flito psicológico resultante pode ser se-
com a índole e o grau de amadurecimento
ridicularizados por professores ou cole- vero, levando em numerosos casos à de-
de cada um deles. Alguns, mais imatu-
gas de classe. pressão, abandono do curso e, inclusi-
ros e dependentes, aceitarão passiva-
mente essa realidade, considerando que ve, ao suicídio. No dizer de Hoirisch
A atividade escolar consiste em
“aulas”, que os alunos “ouvem”, a “instituição deve estar certa e as coi- (1993, p.26), “... o problema vai-se ar-
e algumas vezes tomando notas, sas são assim mesmo”. Esses estudan- rastando com grande ansiedade para o
e em exames em que se verificam tes, uma vez inseridos no processo, te- aluno, e eclode alguns períodos adiante
o que sabem, por meio de provas
rão “sucesso” na vida escolar, boas no- através de episódios de depressão ou até
escritas e orais. Marcam-se al-
guns “trabalhos” para casa e, em tas, aprovações, prêmios acadêmicos. idéias e tentativas de suicídio diante das
casa, se supõe que o aluno “es- Receberão seus diplomas e só então per- pressões que enfrenta.”

Métodos andragógicos

O processo de ensino/
aprendizagem, do ponto de vista
andragógico, procura tirar o máximo
les do ensino clássico. Mais do que ser
um bom orador e conhecer o assunto a
ser ensinado, ele precisa ter habilidade
dispostos em círculo numa sala ou em
volta de uma mesa de trabalho (circu-
lar). O processo é centrado no aluno,
proveito das características peculiares para lidar com pessoas, orientar, criar não no professor.
dos adultos, discutidas acima, que já se empatia, incentivar, conduzir grupos de O programa, esboçado pelo pro-
mostram incipientes nos adolescentes. estudos de modo discreto, na direção de- fessor em linhas genéricas, será discuti-
Os resultados de todo o processo são sejada. O ambiente de atividades andra- do, aprofundado, reformulado e final-
potencializados, atingindo uma aprendi- gógicas é diferente daquele da pedago- mente aprovado por todo o grupo de tra-
zagem mais fácil, profunda, criativa. gia clássica. Na disposição física, não há balho. Daí em diante, o professor deve-
Os professores na Andragogia lugar especial para o professor, que se rá apenas tornar o ambiente propício,
desempenham um papel diferente daque- posta junto com os alunos, geralmente moderar as discussões, evitar desvios

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exagerados, mantendo presentes os ob-
jetivos traçados. O tutor andragógico
raramente responde a perguntas, ao con-
trário, utiliza seus conhecimentos para
produzir outras perguntas que, de modo
indutivo, levem os estudantes a desco-
brirem, eles próprios, as respostas. Tem
o cuidado, também, de jamais dizer que
o aluno está errado, ferindo sua auto-
estima. Procura, em vez disso, encon-
trar algo de certo na resposta do aluno e
reformular suas perguntas de modo a
induzir aproximações sucessivas à res-
posta correta. Nunca pode ser negligen-
ciado o papel da segurança do aluno no
processo de aprendizagem.

A pessoa sadia interage, espon- grupo andragógico um terreno fértil. O pesquisar, os meios de pesquisa neces-
taneamente, com o ambiente, método consiste na proposição de tare- sários (biblioteca, acesso à Internet, um
através de pensamentos e interes-
fas a serem resolvidas ou executadas, consultor especialista para tirar as dú-
ses e se expressa independente-
mente do nível de conhecimento bem como no fornecimento dos meios vidas, responder perguntas). Decorri-
que possui. Isto acontece se ela para se chegar aos objetivos. Os alunos do o prazo, nova reunião terá lugar para
não for mutilada pelo medo e na deverão trabalhar, segundo suas visões discussão profunda do problema, em
medida em que se sente segura dos problemas e suas experiências an- todos os aspectos envolvidos. Um pro-
o suficiente para a interação.
(MASLOW 1972, p.50-51). teriores, na construção de soluções ade- blema psicológico, por exemplo, será
quadas. Essas soluções nunca serão ho- estudado do ponto de vista fisiológico,
Como bem frisado acima, é es- mogêneas, visto que cada estudante ou psicanalítico, existencial, humanístico,
sencial tirar o máximo proveito da expe- cada grupo toma um caminho diferente, behaviorista. O conteúdo a ser discuti-
riência de vida dos alunos. Essa fonte mas todas serão corretas. Numa discus- do não terá fronteira de disciplinas, de
de aprendizagem deverá ser explorada são final, todo o grupo reunido terá uma estruturação pedagógica, de séries ou
exaustivamente através das quatro vias multiplicidade de caminhos para a solu- de períodos.
utilizadas pela consciência humana para ção, alargando seus horizontes e seus A avaliação é outro momento es-
processar as informações experienciais paradigmas.1 pecial da andragogia. Fugindo do lugar
– sensação, pensamento, emoção e in- A aprendizagem baseada em pro- comum de premiar ou punir o aluno, re-
tuição (Carl Jung). Métodos envolvendo blemas (Problem-Based Learning – prová-lo ou aprová-lo, através de alguns
discussões de grupo, exercícios de si- PBL) é um método muito utilizado em testes, meras verificações do condicio-
mulação, aprendizagem baseada em pro- andragogia e que se aplica particular- namento produzido pelo processo peda-
blemas, discussões de casos são comu- mente bem aos cursos de graduação gógico (...o aluno será capaz de...), a
mente utilizadas para atingir esse obje- profissionalizantes, onde podemos sem avaliação andragógica é contínua, cons-
tivo. O professor/tutor deverá ter sensi- dúvida incluir a Psicologia. Consiste na tante, diagnóstica. Visa, a cada momen-
bilidade e argúcia suficientes para per- narração ou construção de um proble- to, detectar falhas (não compreensão de
ceber o clima de cada grupo, quebrar as ma que será posto para o grupo de es- conceitos, aprofundamento insuficiente
inibições, propor discussões e pergun- tudos solucionar. Para essa solução, se- do raciocínio dedutivo ou indutivo na
tas pontuais que produzam conflitos in- rão necessários os conhecimentos ob- discussão de problemas, falhas no inte-
telectuais a serem debatidos com mais jetivados pelo momento particular da resse e participação, etc) de modo que
vigor e paixão. aprendizagem em que o problema é in- sejam prontamente corrigidas – utilizan-
O construtivismo encontra num serido. O grupo recebe um prazo para do-se desde reforço imediato dos con-

! 1 É como solicitar de vários arquitetos a construção de casas para famílias de classe média, com dois filhos de sexos diferentes, com garagem e piscina.
Não precisamos dizer que cada arquiteto tomará o material disponível e construirá uma casa diferente das demais, mas que todas atenderão às
necessidades que foram propostas.

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teúdos insatisfatórios, ajustes na progra- já não haverá tempo hábil para corrigir outros, estimulando a auto-avaliação,
mação e na trajetória para os objetivos, as distorções, que passarão a compor o capacidade importantíssima para o
chegando até à assistência psicológica patrimônio de experiências do aluno, ou aprendiz, no futuro, já fora da Universi-
individual daqueles que não estejam lidan- vão fazê-lo perder todo um período atra- dade, que lhe permitirá perceber de ime-
do adequadamente com o desenrolar do vés da reprovação e da repetência. diato o momento em que seu desempe-
processo. As falhas não devem ser pes- Os próprios alunos serão envol- nho se torne insatisfatório, levando-o a
quisadas apenas no final de períodos, vidos na avaliação. Serão solicitados a buscar atualização de seus conhecimen-
quando se encontram acumuladas. Então atribuir honestamente notas uns aos tos através da educação continuada.

Conclusão

C onsiderando as informações, opini-


ões, conceitos e análises levantadas
dos documentos e fontes pesquisadas,
nuada, a andragogia. Os alunos precisam
aprender do modo mais rápido e eficien-
te, precisam dominar os conhecimentos
por Furter, no aproveitamento das expe-
riências vivenciais dos adultos, tão valori-
zadas por Knowles. Por ser direcionada
bem como experiências pessoais como básicos ou clássicos a partir dos quais ao aproveitamento das faculdades psico-
alunos recém-inseridos no contexto do estão se desenvolvendo as pesquisas e a lógicas específicas dos adolescentes e
ensino superior, infere-se que a organi- construção de novas informações e, so- adultos, possibilita uma convivência mais
zação e a estrutura pedagógicas clássi- bretudo, precisam aprender a aprender, harmônica entre estudantes e professo-
cas, ainda hoje utilizadas em algumas Uni- para que possam, durante toda vida, in- res, e estudantes entre si, reduzindo as
versidades, são inadequadas para a reali- dependentes da Universidade, continuar tensões emocionais e evitando os dese-
dade do conhecimento humano atual. construindo o seu saber, e se manterem quilíbrios que levam a estados psicológi-
O mundo da cultura – aquele pro- atualizados e capazes de desenvolver a cos preocupantes, tão freqüentes que in-
duzido a partir da ação humana –, cresce contento o seu papel na sociedade. duziram a Unesco a sugerir a criação de
rapidamente; o conhecimento existente O maior inconveniente da pedago- unidades de apoio psicopedagógico em
duplica a cada 5 anos e tende a crescer gia clássica é limitar os alunos ao tama- todas as Instituições de Ensino Superior.
em velocidades progressivamente maio- nho da Instituição ou de seus professo- Embora não tenha se firmado ain-
res. As ciências naturais e aplicadas evo- res. Imagine-se o que seria do mundo da como ciência diversa da Pedagogia,
luem exponencialmente, tornando impos- cultural se nenhum aluno tivesse crescido o termo ANDRAGOGIA continua sen-
sível a inclusão de todo o conhecimento além de Sócrates, Platão ou Aristóteles. do o mais apropriado e expressivo para
existente em programas educacionais. Um A pedagogia clássica ofusca a inteligên- denominar as novas filosofias e técnicas
programa construído hoje se encontra cia em favor da memória, condiciona os voltadas para a educação de adultos.
incompleto e defasado no próximo semes- alunos a repetir o conhecimento existen- Sua utilização será importante para uma
tre. Os cursos não podem ser cada vez te, desestimula a criatividade por absolu- maior assimilação e disseminação de
mais estendidos em duração para com- ta falta de espaço e de incentivo. seus princípios e do “estado da arte”
portar os conhecimentos novos. A ANDRAGOGIA propõe uma dessa ciência entre estudantes e profis-
A solução para a Educação Uni- educação baseada na liberdade, nos mol- sionais envolvidos na Educação Univer-
versitária neste início de século XXI é a des concebidos por Carl Rogers, na edu- sitária e em outras formas de educação
educação permanente, a educação conti- cação por toda a vida como preconizado de adultos.
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