Você está na página 1de 125

MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 1

MANUAL

de

REDAÇÃO JURÍDICA
da
ADVOCAGIA GERAL DA UNIÃO
(A G U )
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 2

I – A REDAÇÃO JURÍDICA

1. A linguagem oral e escrita


É claro que primeiramente o homem falou (linguagem oral),
decodificando depois os sons mediante sinais escritos, as letras (linguagem
escrita). Em ambas as modalidades surgiram o linguajar do povo
(coloquial, que se utiliza de vocábulos e construções bem simples) e o
linguajar culto (literário, que se pauta pelas regras gramaticais da língua-
padrão) – este, de emprego obrigatório nas redações jurídicas.
Os recursos entregues à comunicação oral são bem superiores, porém, aos
de que dispõe a comunicação escrita. O orador ou o professor, p. ex., têm a
seu talante as modulações da voz, a postura do corpo, os gestos dos braços
e das mãos, a fisionomia da face, a vivacidade do olhar: eles se
comunicam, portanto, pelo ouvido, coadjuvados ainda, e sobretudo, pela
dinâmica das atitudes. Já o escritor tem de suprir a carência de seu recurso
imediato, reduzido à visão, apenas, veiculada esta, aliás, por um canal
deficitário, em si (o texto redigido): por isso, se quiser transmitir sua
mensagem com análoga força à do orador, p. ex., deve impregnar as
próprias palavras de uma técnica toda especial – a da estilística -, para que
nelas o leitor mantenha sua atenção constantemente, agradavelmente,
convincentemente.

2. O linguajar jurídico
O linguajar jurídico concentra-se nos conceitos de direito e de
justiça, veiculados predominantemente pela lei – que é sua fonte primária
(LICC, art. 3º) em nosso sistema romano-germânico -, e, supletivamente,
pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de direito (LICC,
art. 4º), além de, subsidiariamente, pela doutrina (aprofundamento dos
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 3

institutos pelos juristas) e pela jurisprudência (aplicação da lei após sua


correta interpretação, a cargo do Judiciário).

3. A finalidade da linguagem jurídica


Ora, como a lei é cogente, o emitente da mensagem tem de partir
sempre dela (ou de seus sucedâneos), mediante uma argumentação sólida,
baseada na doutrina e na jurisprudência, sobremodo, e calcada no
complexo probatório (CC, art. 136, I/VII; CPC, art. 332), não sem a
observância dos princípios da Lógica Formal – tudo com uma finalidade
precípua: a de convencer.

4. Os meios necessários ao convencimento


Para tanto, mister se faz um diálogo constante entre o emitente da
mensagem e o leitor (à distância), mediante: 1º) a exposição didática do
tema (com títulos e subtítulos nas peças mais longas); 2º) os diversos
elementos de persuasão, nomeadamente a ênfase (léxica, sintática, gráfica
e de pontuação), bem como os recursos estilísticos propiciados pelas
variadas modalidades de expressão da língua; e enfim, 3º) as intermitentes
provocações do receptor, pelos vocativos diretos ou indiretos, a fim de
manter o diálogo, aprisionando aquele em fixação constante na mensagem
que lhe está sendo enviada.
Ou em outros termos: quem escreve deve ser uma presença viva.
Quem o estiver lendo, vai ter de ouvir sua voz; vai ter de observar seus
gestos, seu olhar, sua fisionomia, suas atitudes; vai ter de sentir o vigor de
sua argumentação, obrigando-se a discuti-la.
Pré-requisito para se transformar um texto numa presença viva de
seu autor é a emoção (em seu sentido amplo), que deve diversificar-se
conforme a parte da peça que está sendo vazada: aliás a emoção integra o
processo do raciocínio, consoante a moderna Neurologia. Mas como o
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 4

texto permanece exposto a toda espécie de reflexão ou de crítica alheia,


faz-se mister uma recordação dos conceitos gramaticais essenciais (já tão
esquecidos) da matéria-prima de quem se comunica, isto é, da palavra em
si, na sua morfologia (estrutura, formação e classificação); da palavra
conjugada ordenadamente às outras, formando orações (sintaxe de
concordância, regência e colocação); da palavra à luz da semântica (ou
seja, a evolução de seu sentido no tempo e no espaço); da palavra utilizada
estilisticamente(as figuras de linguagem), não sem a atenta prevenção
contra os vícios desta.

5. O âmbito da obra
Não é de interesse apresentar aqui mais um desses “formulários”
para os diversos tipos de ação, que deles já existem muitos. A obra
pretende orientar o advogado (o da União, nomeadamente), sobre como
conduzir uma ação judicial, em suas diversas partes constitutivas (v.
VII/VII.3) – tomando como parâmetro o procedimento ordinário do CPC,
por ser o mais amplo. O procedimento sumário e dos Juizados Especiais, os
processos de execução e cautelares, bem como os procedimentos especiais
e o rito criminal, adaptar-se-ão ao que o bom senso sugerirá naturalmente.
Tais normas, aliás, também proporcionalmente ajustadas, poderão
utilizar-se nas peças administrativas mais longas, de caráter jurídico, como
nos inquéritos e sindicâncias, pareceres e representações, requerimentos e
ofícios onde se formulem pleitos ou defesas de natureza pública ou privada.
Necessárias, então, recordações gramaticais básicas (com vista à
correção da linguagem), antes de se penetrar no âmbito da literatura,
quando se descobrirão as possibilidades expressivas das palavras,
consideradas quer em si como conjuntos rítmicos de sons que vão dar
harmonia às frases, quer como associações de idéias travadas em razão das
construções sintáticas.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 5

II – FRASE x ORAÇÃO

1. A frase
Há dois modos fundamentais pelos quais espontaneamente nos
manifestamos pela palavra: mediante frases sem verbo (ou nominais) ou frases
com verbo (oracionais). Desta forma, podemos simplificar:
Frase é um todo significativo, constituído de um ou mais vocábulos,
podendo ser oracional ou meramente nominal.

2. Frase nominal (ou frase, simplesmente)


É uma construção excepcional - sem verbo - , o que não impede
tenha sentido: pois este é expresso sinteticamente, por facilmente
subentender-se; ex.:
O réu, nunca?! (interrogação/admiração retóricas)
Justiça e Direito! (proclamação/pregão)
Código de Processo Civil (título de uma obra)

Essas frases nominais tornaram-se de largo uso nas redações


jurídicas, por sua utilidade, como p. ex.:
a) Nos vocativos (iniciais ou intercalados):
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Fortaleza
Peço vênia a V. Exª, Senhor Ministro, para solicitar- lhe...
Excelsa Turma:
b) Nos cabeçalhos:
Of. nº 453/91-VS
Recurso em Mandado de Segurança nº 1187 - SP (91.0015064-0)
Recorrente: Laboratório Clímax S. A.
Recorrido: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Pinheiros - SP
Relator: Ministro Barros Monteiro – 4ª Turma/STJ
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 6

b) Nas ementas (acórdãos) e sumários (pareceres):


Conflito de competência – Ação ordinária de ressarcimento – Desvio de
verba pública – Ex-prefeito – Falta de interesse da União – Competência
estadual. (Conflito de Competência nº 19.974 – TO)
Constitucional. Administrativo. Servidor celetista. Aposentadoria
previdenciária anterior à Lei nº 8.112/90. Revisão de proventos.
Equiparação com os vencimentos dos servidores públicos da ativa.
Constituição Federal, art. 40, § 4º, na redação anterior à EC 20/98 (RE nº
241.372-3/SC).

d) Nos títulos (caixa-alta), subtítulos (negrito) e alíneas (itálico):

I – O RELATÓRIO
1. A d. sentença
1.1 A motivação do r. decisum
II – O DIREITO
2. A violação ao art. 458, I/III do CPC
3. O dissídio jurisprudencial
III – A CONCLUSÃO
4. A síntese da matéria
5. Os pedidos:
a) a liminar
b) o mérito
c) os requerimentos gerais (citação, provas etc.)

3. Frase oracional (ou oração, simplesmente)


É a construção normal, centrada em torno de um verbo, encerrando
uma declaração – que é a própria essência da oração -, a respeito de
alguém ou de alguma coisa.
Por isso, a oração é constituída sempre de um predicado (que às
vezes se confunde com o predicativo) e normalmente de um sujeito –
pois ocorre este não existir, quando o verbo é impessoal (v. ANEXO I).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 7

ANEXO I

A) PREDICADO X PREDICATIVO

Há três espécies de predicado: o verbal, o nominal e o verbo-nominal – os


quais devem ser tomados em especial consideração e apropriada escolha por quem
escreve, pois são eles que vão conferir o tom ou o vigor da frase.
a) O predicado verbal – é aquele que é expresso por um verbo (como
normalmente acontece), a respeito da atuação (ativa ou passiva) do sujeito (um
substantivo ou pronome do qual se faz a declaração); ex.:
O advogado compareceu à audiência.
Todos aclamaram o Promotor no Júri.
Os bons juízes velam pela Justiça.

b) O predicado nominal – é aquele que é veiculado por um verbo de ligação


(como ser, estar, parecer, ficar, tornar-se etc.), que indigita apenas um estado ou
qualificação do sujeito (expressos por um substantivo, pronome ou adjetivo); por isso,
tal predicado denomina-se predicativo do sujeito; ex.:

O juiz era muito competente.


O advogado parecia um leão na tribuna.
Os réus agiram como selvagens.
A Nação somos todos nós.

c) O predicado verbo-nominal – é aquele que é expresso simultaneamente por


um verbo (predicado verbal), o qual indica a atuação do sujeito, e por um substantivo,
pronome ou adjetivo (predicativos), os quais indicam o estado ou a qualificação de
uma pessoa ou coisa; tal predicado é raro, ocorrendo quando há dupla declaração na
mesma frase oracional: nesse caso, pode o predicativo ser tanto do sujeito da oração,
quanto do objeto direto ou do objeto indireto do verbo, conforme se referir
respectivamente a uma dessas funções sintáticas; ex.:
O causídico chegou atrasado à audiência.
Com a sentença, viram o autor muito feliz.
O criminoso foi tachado [de] louco.
A Rui chamaram-no/chamaram-lhe [de] Águia de Haia.
Os herdeiros constituíram o Dr. Oswaldo Othon como o advogado de
todos no inventário.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 8

B) ORAÇÕES SEM SUJEITO

Quando o verbo é essencialmente impessoal (como chover, gear etc., que


representam fenômenos da natureza; o verbo haver quando sinônimo de “existir” ou
quando indica tempo; o verbo fazer também quando indica tempo), ou acidentalmente
impessoal (como bastar, chegar, constar, ir, passar etc., seguidos de preposição) - a
oração não tem sujeito e o verbo comunica essa sua impessoalidade a seu verbo
auxiliar; ex.:
Choveu muito durante o interrogatório das partes.
Há poucos livros de direito nesta biblioteca.
Deve haver muitas pessoas na seção do Tribunal.
Há horas que estou esperando pela audiência com o Ministro.
Faz dias que o MM. Juiz se encontra doente.
Vai fazer dias muito chuvosos na próxima semana, impedindo as audiências.
Basta de tantos feriados inúteis e prejudiciais ao andamento da Justiça.
Não me consta de ordens do Juiz nesse sentido.
Vai em dez anos que esta ação se arrasta.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 9

III – O PERÍODO

1. Período
É a formulação de nossos conceitos mediante uma ou mais frases
oracionais.
Pode, assim, o período ter a dupla constituição abaixo:

2. Período simples (ou oração absoluta)


É o constituído de uma única oração (isto é: com um único verbo
principal, colocado no infinitivo, no gerúndio ou no particípio)); ex.:
O juiz chegou atrasado à audiência.
O autor vai obter sucesso em sua causa.
O réu esteve quase obtendo a absolvição.
As partes haviam argumentado com precisão.

3. Período composto

É o constituído por mais de uma oração, relacionadas entre si por


qualquer desses dois processos sintáticos: da coordenação e/ou da
subordinação (v. ANEXO II).

OBS.: Esses processos sintáticos estão entre os variados os recursos da


linguagem: as idéias de causa, concessão, conclusão e oposição, p. ex.,
podem expressar-se de modo diverso, porém não equivalentemente quanto
à expressividade, ora pela coordenação, ora pela subordinação (v. ANEXO
II), ora ainda por intermédio de meras expressões adjetivas ou adverbiais
(v. IV).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 10

ANEXO II

A) PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO

1. A coordenação
Na coordenação as orações são independentes entre si sintaticamente (mas
nem sempre semanticamente, isto é: quanto ao entrosamento das idéias): por isso, em
princípio têm menos vigor expressivo do que as orações subordinadas.
Essas orações são de dois tipos, caso tenham elos de ligação entre uma e
outra, ou não os tenham: dizem-se, então, por isso, assindéticas ou sindéticas,
respectivamente.

2. A coordenação assindética
Dá-se quando ocorre mera justaposição de uma oração com outra (quer dizer:
sem conectivo entre si). Nelas a independência é tanto sintática quanto de sentido,
cada uma das orações o tendo completo, a tal ponto que poderiam separar-se por
ponto final ou equivalente, quando então formariam orações absolutas, independentes,
meramente declaratórias: daí, não disporem de qualquer força enfática, por si
mesmas. Compare as duas formulações abaixo e verifique como elas se igualam de
sentido:
O advogado não compareceu à audiência: estava doente.
O advogado não compareceu à audiência! Estava doente.

3. A coordenação sindética
Dá-se quando as orações se acham ligadas por conjunções coordenativas
(aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas), assumindo o nome
destas, a saber:
a) Coordenadas aditivas – são as conexas pelas conjunções e ou nem
(simples), equivalendo às orações justapostas , pois essas conjunções têm o papel de
juntar, apenas, termos ou orações da mesma natureza sintática; mas se essas
orações forem ligadas por conjunção correlativa aditiva (como não só ... mas também ),
ocorre um paralelismo, de forma que a primeira parte do enunciado (prótase) prepara
a expectativa da segunda parte (apódose) – resultando como conseqüência uma
ênfase natural; compare as diversas formulações abaixo:
O advogado não compareceu à audiência e não se justificou (aditiva pura).
O advogado não compareceu à audiência, nem se justificou (idem ).
O advogado não só não compareceu à audiência, como também não se justificou
(aditiva correlativa).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 11

b) Coordenadas adversativas – são as ligadas pelas conjunções mas, porém,


todavia, contudo, no entanto..., identificando uma relação de oposição, aproximando-
se, na força de seu sentido, conquanto menos incisivamente, das orações
subordinadas adverbiais causais ou concessivas: não se lhes pode negar certa
ênfase, portanto; comparem-se as construções a seguir:
O advogado não compareceu à audiência, mas se justificou por quê (adversativa pura).
O advogado não compareceu à audiência, não por desídia, mas se justificou pela
ausência de intimação (adversativa-causal).
O advogado não compareceu à audiência, porque não foi intimado (causal).
O advogado não compareceu à audiência, mas também não o haviam intimado
(adversativa-concessiva).
O advogado se justificou de que não tinha comparecido à audiência, embora não
houvesse sido intimado (concessiva).

c) As coordenadas alternativas – são as ligadas pela conjunção ou (simples),


indicando mera exclusão; mas se ligadas por ou ... ou, ora ... ora, já ... já, quer ... quer,
indigitam uma correlação, adquirindo certa conotação concessiva, conferindo realce,
nesse caso, ou seja: ênfase mais amenizada que a da oração subordinada
correspondente; comparem -se as primeiras formulações abaixo com a última:
O advogado comparecerá à audiência ou perderá a ação (alternativa pura).
O advogado ou comparecerá à audiência ou perderá a ação (alternativa-concessiva).
O advogado comparecerá à audiência, quer haja sido intimado, quer não [o haja sido]
(idem).
O advogado comparecerá à audiência, intimado que venha a ser e mesmo que não
[venha a sê-lo] (concessiva).
OBS.: Seja ... seja tanto pode ser conjunção alternativa, quanto formas verbais: neste
último caso, devem ir para o plural (sejam ... sejam), a fim de concordarem com o
número do sujeito ou do predicativo posposto; ex.:
O advogado comparecerá à audiência, seja venha a ser intimado, seja não venha a sê-
lo (conjunção).
Os advogados comparecerão à audiência, quer sejam intimados, quer não o sejam
(formas verbais).

d) Coordenadas conclusivas – ligadas pelas conjunções logo, pois, portanto,


por conseguinte..., induzem um sentido subordinativo causal ou consecutivo entre as
orações, daí resultando uma ênfase amenizada em relação a estas últimas; ex.:
O advogado foi intimado: logo deverá comparecer à audiência (conclusiva).
O advogado foi intimado: por isso deverá comparecer à audiência (causal).
O advogado foi intimado: de modo que deverá comparecer à audiência (consecutiva).

e) Coordenadas explicativas – ligadas pelas conjunções pois, porque,


porquanto..., aproximam-se das orações subordinadas adverbiais causais (menos
enfaticamente que estas, contudo); ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 12

O advogado não compareceu à audiência, pois não foi intimado (conclusiva).


O advogado não compareceu à audiência, porque não foi intimado (causal).

B) PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO

1. A subordinação
Na subordinação, as orações são dependentes sintática e semanticamente de
uma outra - que é sua principal – e da qual exercem uma função sintática: por isso,
sozinhas e isoladas, não têm sentido. Se se disser, p. ex.: que o advogado virá; ou
que eu vi; ou ainda, quando o juiz chegar – essas orações só terão sentido caso se
lhes acrescente (antecipando, intercalando ou pospondo) as respectivas orações
subordinantes (principais), tais como:
Afirmo [que o advogado virá].
A peça jurídica [que eu vi] era linda.
[Quando o juiz chegar], começará a audiência .

As orações subordinadas podem formular-se desenvolvida ou reduzidamente,


denominando-se então desenvolvidas ou reduzidas:
a) Desenvolvidas – quando expressas com o verbo no modo finito (isto é: no
indicativo, no subjuntivo ou no imperativo), sendo antecedidas de conjunções
subordinativas, partículas interrogativas indiretas ou pronomes relativos.
b) Reduzidas – quando expressas mediante as formas nominais verbais (isto é:
o infinitivo, o gerúndio ou o particípio), tendo implícitos os conectivos nesse caso: por
isso, embora tornem a oração mais leve e elegante, podem também propiciar
multiplicidade de interpretação sintática, devendo assim ser empregadas com cautela,
a fim de não ensejarem ambigüidade de sentido.
Quer desenvolvidas, quer reduzidas, ambas classificam -se como substantivas,
adjetivas ou adverbiais – em função das respectivas equivalências léxica e sintática
que representarem.

2. Orações subordinadas substantivas


Chamam-se substantivas essas orações porque, além de equivalerem a um
substantivo, passam a exercer funções próprias deste, isto é: de sujeito, predicativo,
objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal – funções essas que, por si sós,
não conferem ênfase à oração. (Se desenvolvidas, seus conectivos serão as
conjunções subordinativas integrantes: que, se...; ou então, as partículas interrogativas
indiretas: quem, quanto, por que, como, quando, onde, que, qual [sem antecedente]):
a) Substantivas subjetivas – ex.:
Em razão das informações do Juízo impetrado, julgou-se que o mandamus estava
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 13

prejudicado [= a carência de ação].


Objetivava-se pelo MS impedir o protesto das cambiais [= o obstáculo].

c) Substantivas predicativas – ex.:


O certo é que a impetrante já sabia da expedição de ofício aos tabeliães [= o
conhecimento].
A verdade é ter a impetrante sabido da expedição de ofício aos tabeliães [= a ciência].

d) Substantivas objetivas diretas – ex.:


O Ministério Público requereu que se ultimasse o inquérito [= o término] .
A Corte perguntou se haveria sustentação oral [= a indagação].
O MM. Juiz nomeou quem seria o advogado dativo do réu [= o defensor].

O Presidente da Corte determinou quando o autor da ação cautelar se pronunciaria


relativamente ao prosseguimento do feito [= a manifestação].

O prisioneiro indagou por que permanecia preso além do prazo legal [= a permanência].
O mandamus objetivava impedir o protesto das cambiais [= o obstáculo].

d) Substantivas objetivas indiretas – ex.:


O Presidente da Corte informou o advogado de que deveria completar o valor da caução
[= a complementação].
O réu necessita de ter um advogado nomeado para sua defesa [= a nomeação].

e) Substantivas completivas nominais – ex.:


O MM. Juiz tomou conhecimento, pelas informações da autoridade coatora, de que os
protestos dos títulos já haviam sido tirados [= a extração].
O inocente não tem mister de ser defendido [= a defesa].
OBS.: Não raro a conjunção integrante que sofre elisão, por ser facilmente
subentendida, o que vem conferir mais leveza e elegância à oração; ex.:
O il. Presidente do Tribunal determinou q
[ ue] se processasse o REsp e [que] se
remetesse o recurso ao Eg. STJ.

3. Orações subordinadas adjetivas

Chamam-se adjetivas essas orações, por equivalerem a um adjetivo (ou a uma


locução adjetiva) e exercerem a função sintática de adjunto adnominal. Classificam -se
em restritivas ou explicativas, conforme o sentido que aferirem ao termo regente. (Se
desenvolvidas, seus conectivos serão os pronomes relativos que, o qual, como, onde,
quando... [que devem ser precedidos de antecedente]):

a) Adjetivas restritivas – são as que identificam a classe de pessoas ou coisas


a que pertence o antecedente, delimitando-se àquela; por si sós, não conferem ênfase
ao período; por isso não se separam, por vírgula, de seu antecedente; ex.:
Trata-se de recurso ordinário contra acórdão que julgou prejudicado o mandado de
segurança [= prejudicador].
Não se esclareceu o dia quando ocorreu o crime [= ocorrente].
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 14

O advogado falou como um trovão ribombando no Tribunal [= retumbante].


Foi marcada a audiência a realizar-se no próximo dia 13 [= futura].
A Instância ad quem ratificou o protesto cambiário autorizado pelo MM. Juiz
[= concedido].
O orador não era advogado de se dar por derrotado [= fracassado].

b) Adjetivas explicativas – são as que indigitam um pormenor específico do


antecedente, conotando uma circunstância, em geral de causa, fim ou concessão; por
isso, exigem uma forte pausa, sendo antecedidas ou intercaladas por vírgula:
conferem, assim, ênfase especial ao contexto; ex.:
A contestação, que era muito sólida, convenceu o juiz [= porque era sólida].
A União Federal enviou à Instância Superior seus advogados, os quais explicassem a
dificuldade jurídica do tema em discussão aos Srs. Ministros do Supremo [= para que
explicassem].
O advogado, que era tão dedicado à causa, não era reconhecido pelo
cliente [= embora fosse tão dedicado à causa].
Trata-se de Regimento do Tribunal, proibindo as advogadas de comparecerem às seções de
calças compridas [= para que não viessem].

4. Orações subordinadas adverbiais


Chamam-se adverbiais essas orações, por equivalerem a um advérbio (ou a
uma locução adverbial) e exercerem a função sintática de adjunto adverbial.
Estes expressam as mais diversas circunstâncias que envolvem uma
determinada situação (causa/efeito, fim, tempo, condição etc.), como noções que
estão no princípio de todos os conhecimentos, e que se tornam mais intensificadas
ainda quando advindas de uma correlação. Daí, a ênfase natural de que se revestem
essas orações, que se classificam pelo mesmo nome das conjunções subordinativas
(excetuadas as integrantes) que as precedem (ou que estão implícitas), a saber:
a) Adverbiais causais (conjunções: porque, porquanto, como, visto que/como,
já que, uma vez que...); ex.:
A concessão da liminar chegou a destempo, porque os protestos já haviam sido tirados.
Não havendo a requerente das medidas cautelares providenciado a caução em dinheiro,
o Juiz revogou as liminares.
Por não falar a verdade, a testemunha respondeu por perjúrio.
Irritado com a má fé do autor, a sentença o condenou severamente.

b) Adverbiais comparativas (conjunções: como, qual, tanto/tão ... quanto, mais


... [do] que, menos ... [do] que, a...), quando normalmente ocorre uma correlação; ex.:
Peticionava com tanto zelo numa causa pequena, quanto numa grande [peticionaria].
O advogado do réu era mais inteligente [do] que o do autor [era].
É preferível perder o cliente a [perder] os próprios princípios.

c) Adverbiais concessivas (conjunções: ainda que, se bem que, posto que,


embora, por mais ... que, por menos ... que..., por muito ... que...), ocorrendo uma
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 15

correlação quando intensivas; ex.:


Ainda que legalmente tal lhe fosse permitido, a empresa se recusava a fazê-lo por
motivos éticos.
Por mais que pretendesse a desconstituição dos protestos, não o obteria sem o
cumprimento das exigências do MM. Juiz.
Não constando dos autos a data certa da publicação do acórdão, é de se presumir sua
tempestividade pela não impugnação da outra parte.
Sem entender muito bem a lei, o habeas corpus lavrado pelo preso era, malgrado tudo,
convincente.

d) Adverbiais condicionais (conjunções: se, caso, sem que, contanto que...), as


quais constituem a correlação típica, onde a condicionante (prótase) já prenuncia a
conseqüência condicionada (apódose); ex.:
Se a impetrante tivesse manifestado seu interessse no prosseguimento do processo,
poderia ter argüido, então, a desconstituição dos protestos.
Um verdadeiro ressurgimento de seu pedido alternativo não ocorreria sem se apresentar
o comprovante do depósito da caução exigida.

e) Adverbiais conformativas (conjunções: como, conforme, consoante,


segundo); ex.:
Como lhe mandaram fazer a réplica, assim o fez.
A contestação foi vazada conforme lhe ditaram.

f) Adverbiais consecutivas (conjunções: tal, tão/tanto ... que, de modo/de


forma/de sorte que), as quais expressam a conseqüência decorrente da intensidade
ou do modo pelo qual a ação é praticada na oração principal; ex.:
Aprofundou-se tanto no assunto, que se tornou uma autoridade nele.
Agia de maneira que todos o respeitavam.
O juiz era severo de meter medo.

g) Adverbiais finais (conjunções: a fim de que, para que...); ex.:


Na audiência vestiu a toga a fim de que fosse respeitado.
Fez-se tudo para obter um bom resultado na demanda.
Adulava o juiz visando à obtenção de uma sentença favorável.

h) Adverbiais proporcionais (conjunções: à proporção que, à medida que, ao


passo que...), onde emerge uma correlação para mais ou para menos relativamente
ao que foi dito na oração principal; ex.:
Advogava melhor à medida que se empenhava.
À proporção que ouvia tais despropósitos, mais se horrorizava.
Tanto mais avançava em idade quanto menos conseguia lembrar-se dos textos legais.

i) Adverbiais temporais (conjunções: quando, antes que, depois que,


enquanto...); ex.:
Logo que o juiz chegou, iniciou-se a audiência.
Após deferir a liminar, o juiz pediu informações à autoridade coatora.
O Relator, deferindo a limina r, pediu informações à autoridade coatora.
Deferida a liminar, o advogado executou-a de imediato.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 16

IV – A UTILIZAÇÃO ESTILÍSTICA DOS PROCESSOS


SINTÁTICOS

1. O processo coordenativo
Pelo que se viu do exposto e exemplificado anteriormente (v.
ANEXO II, A, 1/3, a), a coordenação assindética e a sindética aditiva
(simples) são mais apropriadas para as exposições descritivas e narrativas,
próprias dos relatórios (parte inicial das peças jurídicas: v. VII.1) – sem
intransigências nem muito menos exclusividade desses processos. Por isso,
as demais orações coordenadas, máxime quando correlatas, p. ex., podem
ser utilizadas nos relatórios quando se deseja apenas realçar desde logo
certos tópicos, objeto de futuros argumentos na discussão (segunda parte da
peça jurídica): porquanto, embora detenham afinidades com as orações
subordinadas adverbiais correspondentes, não dispõem da mesma
intensidade incisiva destas últimas (v. ANEXO II, A, 3, a/e) – as quais, se
forem utilizadas também, convém o sejam com parcimônia e moderação;
ex.:
Consoante se depreende dos dados-xerox de sua Carteira de Trabalho e demais
provas, o reclamante foi admitido a serviço da reclamada em 01/12/92 no cargo
de frentista: nessas funções permaneceu até 30/06/97, trabalhando de segunda-
feira a sábado, das 14 h às 22 h; ora, tal sobrejornada implicava não somente
48 horas semanais sem intervalo, como também o eram sem remuneração.

2. O processo subordinativo
Por sua vez (conforme se pode verificar das explicações e exemplos
constantes do ANEXO II, B, 1/2, a/e e 3, a), nada a opor que também nos
relatórios se utilizem orações subordinadas substantivas e adjetivas
restritivas, ante a ausência de ênfase desses tipos frasais. As demais
orações subordinadas (as adjetivas explicativas e as adverbiais) são mais
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 17

apropriadas para a argumentação, que é a feição típica das dissertações


(núcleo central e a parte mais importante da peça jurídica: v. VII.2) e das
conclusões (decisão ou opinião final do texto: v. VII.3) embora nestas
últimas se deva fazê-lo de modo mais ameno, como mero arremate da parte
anterior, qual o seu consectário lógico. Pois, contrariamente às anteriores, é
grande o vigor natural destas últimas orações, máxime se corroboradas pela
correlação (v. ANEXO II, B, 3, b/4, a/i); ex.:
O reclama nte foi promovido a falso “gerente”, pois assim a reclamada pretendia
justificar a sobrejornada de 66 horas semanais que lhe seriam impostas, duas
das quais seriam ficticiamente de intervalo: também não usufruía de período
qualquer para descansar, igualmente não sendo remunerado.
Concessa venia, a decisão supra merece reforma, tendo em vista que essa
Excelsa Corte tem como proceder ao cotejo entre os fundamentos da decisão
(que resultou no pagamento dos 7/30 avos de 16,19% no meses de junho e julho)
e o RE (ilustrado com a alegação de ofensa ao princípio constitucional do
direito adquirido – CF, art. 5º, XXXVI) – consoante se passa a demonstrar.
Diante do prequestionamento do tema constitucional suscitado no recurso
extraordinário, relativamente ao art. 5º, XXXVI da CF, demonstrada que se
acha a contrariedade frontal e direta ao referido dispositivo constitucional, a
União requer e espera reconsidere V. Exª a r. decisão ora agravada; caso
contrário, porém, digne-se de levar o feito ao julgamento da Eg. Turma, da qual
se aguarda o provimento do presente agravo, passando a conhecer do apelo
extremo, com vista a seu necessário julgamento.

3. A oração principal
A oração principal é aquela onde se concentra a idéia mais
importante do período ou mesmo do parágrafo - segundo o ponto de vista
do autor -, embora possa não sê-lo sintaticamente: pois essa idéia
transborda, em geral, para as orações substantivas e adjetivas,
complementares que são estas da oração principal, como meras funções
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 18

sintáticas suas (isto é: de sujeito, predicativo, complementos verbais ou


nominais e adjuntos adnominais).
Por isso, a oração principal é sobremodo importante para a fase
discursiva da peça jurídica: porquanto, por meio dela (v. VII, 2.1/2.2):
a) É proposta a tese inicial - como pretexto para, em seu redor,
construir-se o arcabouço da exposição que se vai seguir; ex.:
O tema todo centra-se na impugnação ao protesto das cambiais, cujas liminares
em ação cautelar foram revogadas, porquanto não se deu o cumprimento
satisfatório ou tempestivo das cauções determinadas.
b) É privilegiado diversamente este ou aquele conceito – pela
mera colocação das palavras-chave correspondentes no início da oração;
ex.:
Recurso ordinário contra o V. Acórdão da Eg. 8ª CTCiSP que, por votação
unânime, julgou prejudicado o mandado de segurança impetrado contra ato do MM.
Juiz de Direito da 2ª Vara Cível de Pinheiros/SP.
O V. Acórdão da Eg. 8ª CTCiSP julgou prejudicado o MS contra ato do MM.
Juiz..., ensejando o presente recurso ordinário.
Foi impetrado mandado de segurança contra ato do MM. Juiz..., ratificado pelo
V. acórdão..., objeto do presente recurso ordinário.
Contra ato do MM. Juiz..., foi impetrado mandado de segurança, que veio a ser
prejudicado pelo V. Acórdão..., objeto do presente recurso ordinário.

4. Outras estruturas frasais


As mesmas idéias, veiculadas pelos processos acima, podem
traduzir-se também por expressões adjetivas e adverbiais, equivalendo
normalmente às específicas orações subordinadas; ex.:
O criminoso, jovem ainda [= que era jovem ainda], ...
O julgamento, prolongado por muitas horas [= que se prolongara por muitas
horas], ...
Segundo a opinião dos juristas [= Segundo opinam os juristas], ...
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 19

A defesa ponderou que o furto proviera da fome do acusado [= porque o acusado


tivera fome].
Com sua vinda [= Quando chegou], o juiz iniciou de pronto a audiência.
Sem esforço [= Sem que se esforce], a contestação será mal vazada.
O advogado só tinha olhos para a defesa dos pobres [= para defender os pobres].
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 20

V – O PARÁGRAFO

1. Parágrafo
É o conjunto de um ou mais períodos, constituindo um todo orgânico
e coerente, onde se conjugam as idéias secundárias a uma idéia central;
prescinde, por isso, de alínea após cada período, exceto se este iniciar um
subtítulo (expresso ou implícito).
No texto abaixo, p. ex., poder-se-iam escrever os períodos uns após
outros, seguidamente, pois seus conteúdos mutuamente se completam e
concatenam. Não obstante, as idéias predominantes em cada um deles
poderiam ou ser encimadas por um título ou subtítulo, a fim de clarificá-las
expressamente; ou poderiam prescindir desses títulos (por serem facilmente
subentendidos seus respectivos assuntos), mantendo-se as alíneas,
entretanto, apenas por motivo de pausa visual e clareza gráfica expositiva;
ex.:
I – RELATÓRIO
1. O agravo de instrumento
Agravo de instrumento, tempestivo, interposto em razão do r. despacho
denegatório de seguimento a REsp, este vazado contra o V. Acórdão da Eg. 2ª
CCTJPR, na parte referente à prefacial de nulidade da sentença por falta de
fundamentação.
2. A motivação do r. interlocutório
Para tanto, o r. despacho baseou-se em que não teria ocorrido negativa de
vigência aos aludidos dispositivos legais e em que não seria o caso de
“improcedência do dissídio jurisprudencial”, fazendo remissão ao art. 255 do
RISTJ.

2. Defeitos na redação do parágrafo

2.1 Abuso de coordenação – ocorre quando o parágrafo é constituído de


frases curtas demais, como:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 21

a) As fragmentadas (que enfraquecem o pensamento, mediante mera


justaposição frasal ou ligação por conjunções coordenativas simples,
aditivas geralmente); ex.:
MM. Juiz: O autor celebrou um contrato de locação com o réu, a
instâncias dele. Este assegurou muitas vezes o cumprimento exato das
mensalidades: foram só promessas; era tudo para enganar. Mas agora se
esgotou a paciência do autor. O réu foi procurado várias vezes em casa.
Nunca estava. Vigarice pura. Esforços inúteis. Ao autor só restou apelar
ao Judiciário, para a decretação do despejo.
b) As intercaladas (que atrapalham o pensamento, interrompendo a
cada passo o contexto, onde se inserem por meio de vírgulas, travessões ou
parênteses); ex.:
O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de
medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc e com efeito
vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer decisão
sobre pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública.
Pela regulamentação em vigor, o Banco assegura aos funcionários que se
aposentam – ainda que com menos de 30 anos de serviço efetivo – uma
mensalidade que, somada ao benefício concedido pela respectiva
instituição de previdência (Caixa de Previdência dos Funcionários do
Banco do Brasil ou I.A.P.B.), perfaça o montante de seus proventos
(vencimentos, qüinqüênios, comissão e gratificações), além de estender
aos inativos - como se em exercício estivessem – os periódicos
reajustamentos salariais de que se beneficia o pessoal em atividade.

2.2 Abuso de subordinação – ocorre quando as frases são longas demais,


como:
a) As quilométricas (que, pelo cansaço, desviam a atenção do leitor
para longe das idéias-chave); ex.:
Para efeitos de limite de remuneração, que é a de membro do Supremo
Tribunal Federal, no Poder Judiciário (art. 37, item XI, da Constituição),
essas vantagens individuais não deveriam se destacar, porque, repita-se, a
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 22

ressalva foi admitida apenas como exclusão à isonomia, e não ao teto de


remuneração, cuja sede normativa era o item XI do art. 37, que não
aludia a qualquer exceção, até porque, no Poder Judiciário, nenhum
magistrado ou servidor exerce função mais relevante que a de Ministro
do Supremo Tribunal Federal, como nenhum servidor, no Poder
Legislativo, é mais proeminente que o parlamentar, e, no Poder
Executivo, que o Ministro de Estado, para ter direito a remuneração
superior à desses agentes políticos.
b) As caóticas (que tornam o pensamento confuso); ex.:
E mesmo que se considere que o protesto cambiário fora ineficaz porque
coincidente em data (21/09/91) com a liminar concedida no “writ”, nada
obstava que a dita liminar viesse a ser revogada (CPC, art. 807), e
efetivamente o foi pelo V. Acórdão de fls. 191/192, com base nas
informações da Autoridade dita coatora, na consumação dos protestos
cambiais e no silêncio da impetrante sobre seu interesse no
prosseguimento do mandamus – ratificando, aliás, o r. despacho de fls.
166, “que julgou prejudicada a impetração”, cujo agravo regimental
finalmente veio a ser improvido.

2.3 Assimetria frasal – ocorre quando se misturam construções sintáticas


(o que demonstra uma mente desatenta à estrutura lógica das orações, que
deve ser mantida ao longo de todo o período).
Desta maneira:
a) Numa seqüência enumerativa – se iniciada por um substantivo, os
demais itens devem começar também por substantivos; ex.:
Daí, a propositura:
a) de uma ação cautelar, a fim de sustar o protesto dos títulos;
b) de uma ação ordinária, a fim de obrigar os alienantes ao cumprimento
de suas obrigações;
c) dos embargos à execução, a fim de frustrar a liminar que na ação
cautelar havia sido deferida.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 23

b) Numa seqüência subordinativa – deve-se manter o tipo de orações


subordinadas (desenvolvidas ou reduzidas) da primeira oração; no exemplo
acima, em vez de se usarem as orações subordinadas desenvolvidas finais,
poder-se-ia substituí-las pelas equivalentes finais reduzidas de gerúndio, ou
mesmo, por orações adjetivas explicativas (de conotação final), desde que
mantidas essas construções:
a) ..., visando sustar.../que objetivasse sustar;
b) ..., visando obrigar.../que objetivasse obrigar;
c) ..., frustrar.../que objetivasse frustrar.
c) Numa seqüência coordenativa (de termos ou de orações
coordenadas) – deve-se manter idêntica coordenação, não misturando:
c.1) idéias heterogêneas; ex.:
Na viagem ao Exterior, o Presidente do Tribunal esteve em
Lisboa, Madri, Roma, no Vaticano, na célebre Capela Sistina e com o
Papa.
Corrija-se:
Na viagem ao Exterior, o Presidente do Tribunal esteve em
Lisboa, Madri, Roma e no Vaticano: aí visitou a célebre Capela Sistina e
obteve audiência com o Papa;
c.2) correlações mal estruturadas:
Nem este setor apresentou projeto, como criticou o dos outros.
Corrija-se:
Este Setor não só não apresentou projeto, como ainda criticou o
dos outros;
c.3) construções díspares:
Ao discursar, o advogado mostrou eloqüência, ter elegância de
estilo e que adotava ainda prudência em suas palavras.
Corrija-se:
Ao discursar, o advogado mostrou eloqüência, elegância de estilo
e prudência em suas palavras.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 24

Outro exemplo:
No agravo regimental sustentou: a) fica suspensa a eficácia das medidas
provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b) não se
admite pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória; c) seria
adequado o pedido de antecipação da tutela; d) não preenchimento dos
requisitos do art. 273 do CPC.
Comentário: Observe-se que nas alíneas a, b e c foram usadas duas formas
passivas analíticas mediante os verbos auxiliares ficar e ser, e uma terceira,
pronominal; que na alínea c foi usado o futuro do pretérito (em vez do
imperfeito do indicativo, que seria o exigido em face da correlação dos
tempos); e que a alínea d iniciou por um substantivo (quando toda a
estrutura anterior principiava por uma forma verbal).
Corrija-se, então:
No agravo regimental sustentou: a) ficava suspensa a eficácia das
medidas provisórias, prevalecendo o impedimento de ações cautelares; b)
não era admissível pedido de cautelar nos próprios autos da rescisória;
mas c) era adequado o pedido de antecipação da tutela; d) não haviam
sido preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 25

VI – O PLANEJAMENTO

1. A redação
Uma boa redação depende essencialmente de dois fatores: da cultura
geral de quem escreve e de seu conhecimento específico sobre a matéria a
ser desenvolvida. E tal implica uma preparação remota e uma preparação
próxima.

1.1 A preparação remota


A preparação remota é pura decorrência do acervo cultural de cada
um, que não advém de graça, sendo fruto da leitura, seja de que natureza
for – técnica, informativa ou literária –, cujas idéias, imagens e emoções
transmitidas permanecem armazenados na mente até serem afloradas e
espontaneamente aproveitadas no momento oportuno, para enriquecerem o
tema que interessa. É por essa preparação remota que se identifica o
verdadeiro “escritor”, distinguindo-o do medíocre e sem qualificações
estilísticas. Quem não se acha alimentado por ampla sede de leitura, jamais
conseguirá expressar-se com a desenvoltura exigida pela arte de escrever.

1.2 A preparação próxima


Esta, por sua vez, emerge após um mergulho profundo no conteúdo
do que se pretende desenvolver. É preciso, por isso, proceder à descoberta
desse conteúdo. Pois, se a pessoa ignora o assunto sobre o qual se vai
manifestar, irá fazê-lo no vazio, mediante palavreado inútil ou dissonante
do tema apropriado. Por sua vez, quanto maior o domínio de alguém sobre
o tema, em toda sua amplitude, maior fluidez obterá na manifestação das
idéias latentes. Para tanto, mister se faz perpassar por duas etapas prévias:
1ª) O inventário das idéias – tanto nas situações normais, quando se
deseja penetrar o tema sob todos os seus aspectos, quanto (e sobretudo) em
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 26

situações de emergência, quando ocorre um “branco” na mente, como por


ocasião de provas e concursos ou de prazos judiciais na iminência de
vencer – o que não raro ocorre com os advogados militantes -, nada melhor
do que o recurso aos chamados “tropos” (< gr. Trópos = volta, giro),
mediante questionamentos fundamentais, quais sejam: o que, quem, por
quê, para quê, quando, onde e como? Pois a idéia-mestra se desenvolve a
partir da visão geral sobre o tema, o que facilmente se obtém por meio das
respostas a essas perguntas, as quais conduzem tanto às pessoas
participantes ou que serão atingidas, quanto às circunstâncias mais
significativas, agravantes ou atenuantes dos eventos. Sirva de exemplo, o
affaire conhecido como “apagão”:
a) O tema (o quê?) = um programa emergencial de redução do
consumo de energia elétrica.
b) As pessoas (quem?) = o Governo Federal e a população (urbana e
rural) do país inteiro, a indústria e o comércio.
c) A causa (por quê?) = o agravamento da situação hídrica (em
março/abril de 2001).
d) A finalidade (para quê?) = a redução do consumo de energia
elétrica visando a evitar o colapso total do sistema.
e) O tempo (quando?) = uma determinada temporada, até a situação
hídrica se normalizar.
f) O lugar (onde?) = o país inteiro (excluídas certas regiões, apenas,
não atingidas pela estiagem).
g) O modo (como?) = as metas obrigatórias de consumo, específicas
para a população urbana e a rural, o comércio e a indústria, sob pena de
sobretarifas e a suspensão da oferta de energia pelas concessionárias.
2ª) O estudo aprofundado da matéria = as condições para se obter
um conhecimento específico do assunto (uma vez conseguida sua visão
geral), o que não pode dispensar a exegese dos textos legais, a leitura da
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 27

doutrina e a pesquisa da jurisprudência, do que a Internet oferece ótimos


recursos, habilitando a uma redação bem estruturada e convincente.

2. Fases do processo de escrever


O processo de escrever – sob pena de prováveis graves defeitos – não
pode prescindir de três momentos: o rascunho, a correção e a redação final.

2.1 O rascunho
Após a madura reflexão de seus estudos, surge para o escritor um
momento em que se sentirá impelido a iniciar a redação. A propósito, duas
advertências:
1ª) Trata-se de um processo do subconsciente – o qual tem de ser
aproveitado, porque pode não retornar, desperdiçando-se a inspiração.
2ª) Deve-se escrever de um jato - sem permitir interrupções seja por
que motivo for, quer para verificar o conteúdo da exposição ou de sua
lógica, quer para refletir sobre as imperfeições de estilo ou de linguagem.

2.2 A correção
Esta deve processar-se, se possível, após um razoável lapso de tempo
(entremeando-o com outros afazeres), a fim de “esfriar” a cabeça, no
intuito de se obter uma visão bem objetiva do problema. É o momento
propício, então, para se efetuar:
1º) A colocação das idéias rascunhadas em seqüência lógica –
pondo-as em ordem, deslocando-as de posição, se preciso.
Observe a desconexão do texto abaixo (em tom azul):
O recorrido protocolizou petição, sustentando a ocorrência de fato
superveniente com a edição da Medida Provisória nº 2.151/01, porquanto
seu art. 7º previa estarem asseguradas as promoções aos anistiados
políticos.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 28

Todavia, quanto à promoção pelo critério de merecimento, cumpre


ressaltar que sua ocorrência exige o preenchimento de determinados
requisitos, que não podem ser aferidos no tocante ao militar inativo,
como bem salientou em seu voto o em. Ministro X, no julgamento do RE
nº 141.290/DF.
A promoção por merecimento configura mera expectativa de direito,
pois está sujeita a fato ou condição falível, havendo possibilidade de não
se incorporar ao patrimônio do militar: neste sentido, RMS nº 21.108-
3/DF e RE nº 141.290-9/DF, inter plures.
O recorrido aduz que o art. 6º do Estatuto dos Militares prevê sejam as
promoções efetuadas pelos critérios de antiguidade, merecimento ou
escolha, ou ainda, por bravura e post mortem e que o art. 7º da MP nº
2.151 garante o direito às promoções aos anistiados políticos.
Contudo, a Medida Provisória suso mencionada não retira os requisitos
para a promoção dos anistiados e aqueles não estão demonstrados no
presente caso.
Os critérios para a promoção por merecimento é que são subjetivos e
competitivos, tais como a avaliação de merecimento e aproveitamento de
cursos que o militar concluiu.
Comentário: Após o 1º período (“O recorrido protocolizou petição... aos anistiados
políticos”), introdutório do tema a ser debatido, o requerente devia iniciar sua
argumentação pelo antepenúltimo e penúltimo períodos (“O recorrido aduz...
anistiados políticos./ Contudo, a Medida Provisória... presente caso”) – pois encerram
eles as espécies todas de promoção, as quais a Medida Provisória em princípio não
excluíra. A partir daí, é que devia retornar ao 2º e 3º períodos (“Todavia, quanto à
promoção pelo critério de merecimento... RE nº 141.290/DF.”/”A promoção por
merecimento... inter plures”), que versam especificamente sobre o tipo de promoção
pleiteada, para afinal concluir com o último período (“Os critérios... militar concluiu”),
explicitando a impossibilidade da pretendida promoção para o caso específico.
Corrija-se , então (com o deslocamento correto dos períodos em tom verde, embora
mantendo o mal emprego das partículas de transição):
O recorrido protocolizou petição, sustentando a ocorrência de fato
superveniente com a edição da Medida Provisória nº 2.151/01, porquanto
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 29

seu art. 7º previa estarem asseguradas as promoções aos anistiados


políticos.
O recorrido aduz que o art. 6º do Estatuto dos Militares prevê sejam as
promoções efetuadas pelos critérios de antiguidade, merecimento ou
escolha, ou ainda, por bravura e post mortem e que o art. 7º da MP nº
2.151 garante o direito às promoções aos anistiados políticos.
Contudo, a Medida Provisória suso mencionada não retira os requisitos
para a promoção dos anistiados e aqueles não estão demonstrados no
presente caso.
Todavia, quanto à promoção pelo critério de merecimento, cumpre
ressaltar que sua ocorrência exige o preenchimento de determinados
requisitos, que não podem ser aferidos no tocante ao militar inativo,
como bem salientou em seu voto o em. Ministro X, no julgamento do RE
nº 141.290/DF.
A promoção por merecimento configura mera expectativa de direito,
pois está sujeita a fato ou condição falível, havendo possibilidade de não
se incorporar ao patrimônio do militar: neste sentido, RMS nº 21.108-
3/DF e RE nº 141.290-9/DF, inter plures.
Os critérios para a promoção por merecimento é que são subjetivos e
competitivos, tais como a avaliação de merecimento e aproveitamento de
cursos que o militar concluiu.
2º) A complementação das lacunas – relativamente aos fatos mais
importantes e às argumentações de maior peso.
Na peça acima, cabia ao recorrido ter exemplificado os cursos
ensejadores da pleiteada promoção por merecimento, mas aos quais o
recorrente não se submetera na atividade (fatos relevantes); faltou ainda
transcrever as ementas e/ou os excertos mais expressivos dos julgados
trazidos à colação (argumentos de autoridade, porém valiosos pelo seu
conteúdo).
3º) O corte do que for irrelevante ou deslocado – quer relativamente
a argumentações secundárias, quer a pormenores sem maior significação,
quer ao palavriado inútil (assinalados em tom azul nos textos abaixo).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 30

No mesmo exemplo acima, após “A promoção por merecimento


configura mera expectativa de direito, pois está sujeita a fato ou condição
falível”, o acréscimo “havendo possibilidade de não se incorporar ao
patrimônio do militar” constitui uma redundância absolutamente
desnecessária, seja para fins de conferir contundência ao argumento
desenvolvido, seja para conferir mera ênfase ao texto.
O palavriado inútil é muito comum no exórdio das peças em juízo
(ou administrativas), e. g.:
A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, neste ato representada por
seu Advogado-Geral (Lei Complementar nº 73, de 10/02/93, art. 4º,
inciso III c/c o Decreto de 25/01/00 de sua nomeação), que esta
subscreve, nos autos do Recurso Extraordinário acima referido, com
trânsito por essa Eg. Corte Suprema e respectiva secretaria, tendo como
recorrido Fulano de Tal, em atenção ao r. despacho de fls. ..., vem com
sumo acatamento e mui respeitosamente, expor para afinal requerer o que
segue.
Igualmente encontram-se prévias argumentações na peça inaugural,
de todo deslocadas da etapa apropriada – que é a da dissertação; p. ex.:
A UNIÃO, não se conformando, d. v., com a r. sentença de fls. .../..., que
laborou em grave erro, ao julgar e condenar o apelante nas penas do “art.
12 da Lei nº 8.429/92 e art. 37, § 4º da CF” por suposto ato de
improbidade, condenando-o a ressarcir lesão inexistente e a pagar
absurda multa, além de decretar a suspensão de seus direitos políticos por
oito anos, ato esse que se reveste de extrema gravidade e só pode ser
decretado sempre em caráter de absoluta excepcionalidade, o que não
ocorreu no caso presente, posto que o condenado, no uso de seu poder
discricionário, mediante ato revestido de interesse público, como
Ministro..., apenas utilizou-se de aeronave da FAB, para empreender
viagem a cidades diversas, a pedido do interesse público que sua pasta
exige (“assuntos estratégicos”), assim como lhe é deferido por ato
normativo confeccionado pelo Poder Público, motivo do presente, vem
perante V. Exª interpor RECURSO DE APELAÇÃO para o Eg. Tribunal
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 31

Regional Federal da 1ª Região, na conformidade das razões que passa a


expor.
4º) A verificação das qualidades de estilo – clareza, concisão,
propriedade, lógica, ênfase e harmonia (v. VIII.1/VIII.7).
5º) A correção gramatical – dos erros ortográficos, morfológicos e
sintáticos (v. IX).

2.3 A redação final


É o estágio último, em que se passa a limpo a fase anterior, dando os
definitivos retoques, até a pessoa sentir-se satisfeita com sua pequena
“obra-prima”: é o momento, então, em que se deve atentar para a
contundência dos princípios da lógica, para a beleza estilística e para a mais
absoluta correção gramatical (léxica ou sintática). Alerte-se que esta será a
forma definitiva do texto que se vai apresentar à apreciação de um
desconhecido interlocutor (cuja intransigência ou complacência se ignora)
– perante o qual o redator ou se fará respeitar de imediato ou perderá seu
crédito de uma vez por todas.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 32

VII – AS PARTES CONSTITUTIVAS DA REDAÇÃO

1. O intróito da redação jurídica

Precede o corpo de uma peça jurídica a INTRODUÇÃO, onde se


deve: 1º) indicar o juiz ou tribunal ao qual a peça é dirigida; 2º) identificar
as partes pelo nome, estado civil, profissão, domicílio e/ou residência
(dispensável, se já constar de petição anterior – como nos recursos); e 3º)
esclarecer qual a natureza da ação ou do recurso que se está propondo
(CPC, arts. 282, I/II e 496, I/VIII); ex.:

EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ..... VARA FEDERAL


DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FULANA DE TAL, brasileira, casada, C. Id. nº ....., CPF .....,


funcionária pública federal, residente e domiciliada na Av. ....., n° ....., ap. .....,
N/C, por seu Advogado, com escritório na Rua Y, nº ....., sala ....., onde
receberá intimações (CPC, art. 39, I), vem propor, nos termos dos arts. 282 e
273, I c/c art. 461 do CPC, a presente AÇÃO ORDINÁRIA, com PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, contra a UNIÃO, pelos motivos de fato e
razões de direito que passa a expor.

2. As partes constitutivas da redação jurídica

No corpo da peça jurídica deve-se cumprir as demais exigências dos


incisos III/VII do citado art. 282 do CPC. Como parâmetro, podem ser
adotadas as normas para as sentenças e acórdãos (CPC, art. 458, I/III c/c
art. 165), cabíveis também para peças administrativas (v. I, 4). Esse corpo é
constituído de três partes seguidas, cada qual com fim específico e processo
sintático preferencial: 1º) o relatório (os fatos); 2º) a discussão (o direito);
e 3º) a conclusão (o julgamento/opinião final). (Sobre o uso dos tempos,
modos e aspectos verbais, v. ANEXO III.)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 33

VII.1 - O RELATÓRIO

1. A natureza do relatório
O relatório consiste numa exposição objetiva e imparcial dos fatos,
considerados em seu sentido amplo: pois neles se açambarcam as
preliminares, nomeadamente os pressupostos processuais e as condições da
ação: às vezes, cabe a formulação da preliminar por expressa imposição
legal, como no caso das ações diretas de constitucionalidade (Lei nº
9.868/99, arts. 2°, I/IX e 14, III); às vezes convém fazê-lo, por se haver
suscitado dúvida ou levantado discussão quanto a determinadas condições
ou pressupostos. É a ocasião de se empregarem preferentemente orações
coordenadas assindéticas e sindéticas aditivas simples e/ou orações
subordinadas substantivas ou adjetivas restritivas (v. IV, 1 e 2, in initio).
Isto porque nessas peças inaugurais, deve-se tomar uma atitude isenta, e
não de antecipada condenação ou de apoio à tese que se pretende
desenvolver na 2ª parte (a discussão) - o que vai impressionar bem a quem
for julgar ou opinar a respeito, pois a estes cabe inferir qual o direito
oriundo dos fatos expostos, segundo o adágio: jura novit curia (= o
julgador [é quem] conhece o direito). Como os fatos que se vão narrar ou
descrever já ocorreram, o uso apropriado é o dos tempos do perfeito ou o
presente histórico, adotando-se procedimentos variados, conforme o estágio
em que se encontrar a ação.

2. Os procedimentos na petição inicial ou na contestação


Após as preliminares (se for o caso), segue-se a mera descrição ou
narração dos fatos e sua seqüência (do início para o fim ou do fim para o
começo – conforme o objetivo visado pelo redator), contendo os motivos
da insatisfação do autor da ação, ou vice-versa, da insatisfação do réu ante
as pretensões do autor; ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 34

I – RELATÓRIO
A) A LEGITIMAÇÃO ATIVA
É inequívoco, nos termos do art. 103, § 4º da Constituição Federal e do
art. 13, I da Lei nº 9.868, de 10/11/99, que o Presidente da República possui legitimação
ativa para propor a presente ação declaratória de constitucionalidade dos arts. 14/18 da
Medida Provisória nº 2.152-2/2001. É inequívoco, ainda, que a mesma Autoridade é o
juiz da urgência e da relevância da matéria, objeto das Medidas Provisórias, no exercício
da competência privativa conferida pela mesma Constituição (art. 62 c/c art. 84, XXVI).

B) A RELEVÂNCIA DA CONTROVÉRSIA JUDICIAL


Por sua vez, consoante o disposto no art. 14, III da aludida Lei nº 9.868/99, tal
ação declaratória deve demonstrar a existência de controvérsia judicial relevante sobre
o objeto da ação. Ora, os inquinados dispositivos da Medida Provisória dizem respeito à
legitimidade da cobrança de tarifa especial em determinadas hipóteses e à possibilidade
de suspensão temporária do fornecimento de energia elétrica, a fim de evitar o colapso
total do sistema, na presente situação de escassez pluviométrica. Até o momento, vale
esclarecer, já foram propostas 126 ações em juízo, nas quais 28 liminares foram
concedidas e 9 denegadas – o que implica flagrante incerteza quanto às normas que
devam ser observadas.

3. Os procedimentos nos recursos


Antes da fase de discussão, é fundamental: para o recorrente, que
reproduza a síntese da decisão judicial (sentença, acórdão) dada à lide; e
para o recorrido (em suas contra-razões), a síntese da argumentação do
recorrente e/ou a síntese da decisão judicial recorrida. Pois é a fase anterior
à manifestação do Ministério Público, que oficiará, opinando sobre quem
tem ou não razão, ou em até que ponto; ex.:

I – RELATÓRIO
A) O CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO
A Lei nº 9.494, de 10/09/97, determina em seu art. 1º que “Aplica-se à tutela
antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código de Processo Civil o disposto nos arts.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 35

5º e seu parágrafo e 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1º e seu


parágrafo quarto da Lei nº 5.021, de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº
8.437, de 30 de junho de 1992”. Ora, a constitucionalidade do art. 1º da referida Lei nº
9.494/97 restou reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, ao conceder o provimento
cautelar requerido na ADC nº 4-DF – decisão colhida por expressiva maioria, assim
sumulada na Ata de Julgamento do Plenário:
“O Tribunal, por votação majoritária, deferiu, em parte, o pedido de
medida cautelar, para suspender, com eficácia ex nunc e com efeito
vinculante, até final julgamento da ação, a prolação de qualquer decisão sobre
pedido de tutela antecipada, contra a Fazenda Pública, que tenha como
pressuposto a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei
nº 9.494, de 10/9/97, sustando, ainda, com a mesma eficácia, os efeitos
futuros dessas decisões antecipatórias de tutela já proferidas contra a Fazenda
Pública, vencidos, em parte, o Ministro Néri da Silveira, que deferia a medida
cautelar em menor rextensão, e, integralmente, os Ministros Ilmar Galvão e
Marco Aurélio, que a indeferiam.”

B) OS FATOS
As requerentes ajuizaram ação ordinária, com pedido de antecipação dos efeitos
da tutela, solicitando fosse a UNIÃO condenada a retificar seu enquadramento na classe
B, padrão 17 da carreira de Técnico Judiciário, retroativamente à data de sua nomeação,
pagando-se- lhe desde logo as diferenças de vencimentos havidos até o presente. Em 1º
grau de jurisdição, foi indeferida a pretensão de tutela antecipada, mas o em. Relator do
Eg. TRT da Região X acolheu as razões do agravo de instrumento, ao qual conferiu
efeito ativo, nos seguintes termos:
“Ante o exposto, suspendo a eficácia da decisão agravada, com base no
art. 558, caput, do CPC, e, atribuindo efeito ativo ao agravo, determino a
inclusão, em folha de pagamento, da diferença de remuneração das agravantes,
entre o padrão 17 da classe B de Técnico Judiciário e o padrão 11 da classe A
da mesma carreira (Lei nº 9.421/96), a título de complementação de
vencimentos, até que venha a ser julgado o mérito da causa.”
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 36

VII.2 - A DISCUSSÃO

1. A natureza da discussão
É a parte mais importante da peça jurídica, consistindo na dissertação
sobre o(s) problema(s) apresentado(s), mediante orações subordinadas
adjetivas explicativas e adverbiais, de preferência (v. IV, 2),
compreendendo a fixação do tema e seu desenvolvimento.

2. A fixação do tema
Este deve ser estabelecido desde logo (preferentemente), definindo o
assunto sobre o qual se vai debater, em termos amplos e genéricos, obtido
pela indução dos fatos e/ou pela dedução dos argumentos oferecidos pelas
partes. Esse tema deve sintetizar-se em um ou dois períodos, apenas,
constando de mera declaração, definição (legal ou doutrinária) da matéria
ou divisão didática desta, ou ainda, da reunião de mais de uma dessas
feições; ex.:
Reza o art. 1.101 do CC que “A coisa recebida em virtude de contrato
comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a
tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.
Trata-se da aquisição das quotas sociais de uma empresa, mediante preço
certo, parte à vista, parte à prestação, representadas por notas
promissórias vinculadas ao contrato (doc. I), cujo pagamento podia ser
suspenso em seu vencimento, caso não cumpridas (dentro do termo
prefixado) duplas obrigações: a) as derivadas da lei - a saber: a
comprovação da regularidade fiscal e comercial da empresa; e b) as
decorrentes do ajuste - a saber: a dispensa e respectiva indenização dos
empregados.

3. O desenvolvimento do tema
É a explanação do tema (idéia-núcleo + circunstâncias envolventes) -
o que pode perfazer-se dos mais variados modos:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 37

a) Definindo com precisão o sentido e os termos da proposição (se


preciso) - a fim de não franquear ataques infundados posteriores; ex.:
Não cumpridas ditas obrigações em seu termo, foram notificados os
alienantes de que a documentação apresentada continha nada menos que
25 (vinte e cinco) itens de irregularidades, dentre as quais avultava um
passivo fiscal (jamais saneado!) por volta de 60 (sessenta milhões) – o
que representava 75% (setenta e cinco por cento) do valor da transação, a
recair cumulativamente contra os adquirentes -, além das não
indenizações trabalhistas, expressamente reconhecidas na perícia.
b) Encarando os argumentos da parte – quer prevendo-os
antecipadamente, quer contradizendo-os posteriormente: enfrentam-se os
mais fortes de início, preferentemente, e mostram-se (sem amesquinhar
com ironias) os mais fracos, logo em seguida; demonstra-se o mau
emprego dos fatos e/ou as errôneas conclusões deles tiradas; argúi-se ainda
a eventual deturpação ou má intelecção dos textos citados (legais,
doutrinários ou jurisprudenciais); ex.:
Daí, a conclusão do V. Acórdão:
“...não podia o autor demandar sem outorga uxória, como
decorrente do art. 10, caput, do Código de Processo Civil. A relação
processual apresentou-se, assim, falha de um de seus pressupostos, o que
arreda o julgamento pelo mérito. Insuprível, outrossim, a falta. Sujeita a
rescisória a prazo de decadência, somente sua distribuição devidamente
aparelhada e em termos antes de vencido o mesmo, irá evitar sua
ocorrência. Se a inicial vem incompleta, como sucedeu in casu, não cabe
ao Tribunal fazê- lo. No concernente ao dissídio jurisprudencial, não
restou este configurado, por tratarem os acórdãos de hipóteses distintas
do que aqui se cuidou, acrescido do fato de não terem os recorrentes feito
o devido confronto analítico, em desatenção ao parágrafo único do art.
255 do RI do STJ.”
c) Oferecendo argumentação jurídica consistente (legislação,
doutrina e/ou jurisprudência) - passo a passo, pertinente a cada item
relacionado com a proposição principal; ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 38

Ocorreu deste modo, sem dúvida, negativa de vigência aos arts. 458, I/III
e 459 do CPC. Isso porque os Egs. Colegiados locais não determinaram
ao MM. Juiz a quo proferisse nova sentença (onde não ocorresse nem a
omisssão quanto ao segundo pedido, nem a restrição injustificada quanto
ao âmbito do primeiro): elidiram, assim, o segundo grau de jurisdição,
abonando flagrantes erros procedimentais da r. sentença, cuja nulidade
“sanaram” a pretexto de decisão de mérito proferida em feito conexo,
como se tal tivesse o condão de sanar aqueles.
Ora (como rezam os VV. Julgados transcritos nos REsps), nula é a
sentença carente de qualquer de seus “requisitos essenciais” (CPC, art.
458, I/III), quer por omissão total ou parcial do relatório (RP 4/406, em.
190; RJ 246/394; RT 567/94; RJTJMS 12/101); quer por carência de
fundamentação, que é de ordem pública e constitucional (RT 551/169,
587/155; RE 74.143-SP, DJU 10/11/72, pág. 7732); quer por não decidir
todas as questões submetidas (RT 506/143; JTA 37/292, 92/427; RJTJSP
31/89; RJTJMG 18/115; RJTJMS 12/113).
Bem a propósito, este Col. Superior Tribunal de Justiça, por sua Eg. 4ª
Turma, vem de decidir (REsps nºs 6.277/6.278-MG, Rel. o em. Min.
Athos Carneiro, jj. 20/08/91, DJU 16/10/91)):
“Ação cautelar de sustação do protesto de cártula vinculada ao
contrato. O mérito da demanda cautelar não é o mérito da demanda
principal, e assim a importância desta não implica necessariamente que
se proclame a improcedência da ação acessória. Nesta, prevalece a
prudente discricionariedade do juiz, no prevenir protestos desnecessários
ou vexatórios.”
Ocorreu ainda a negativa de vigência ao art. 798 do CPC: isto porque é
exatamente nesse dispositivo que encontra pleno apoio a sustação do
protesto cambiário.
É que tal protesto constitui, comercialmente, “meio vexatório que causa
inegáveis prejuízos no crédito do devedor”; e dessa maneira, “sua
iminência não deixa de constituir fundado receio de dano grave e de
difícil reparação. Se o ameaçado de protestos tem ação contra o portador
do título para invalidá-lo, é claro que pode pretender evitar o perigo do
dano representado pelo protesto” (HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 39

Processo Cautelar, 8ª ed., LEUD, SP, 1986, pág. 105).

Em suma: tinham e continuam tendo os recorrentes o direito de


suspender e manter suspenso o pagamento das prestações, seja por
previsão contratual (cláusula 2ª, alíneas F/G), seja ex vi do art. 1.092 do
CC, verbis:
“Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de
cumprida sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”
d) Cuidando da correta interpretação da lei – cuja exegese nada
mais é que a investigação da essência da vontade legislativa (ou seja: o
sentido finalístico da lei = mens/ratio legis), tanto a coetânea ao tempo de
sua promulgação quanto a do momento atual, fruto da evolução das
atividades humanas, impossível que é ao legislador prever todas as
hipóteses, presentes e futuras. Não se pode circunscrever, destarte, a uma
única técnica de indagação do verdadeiro sentido de um texto legal, mas
conjugá-las todas, quais sejam:
d.1) a interpretação literal (ou gramatical) – que se prende à
etimologia e/ou à semântica do vocábulo, à sua univocidade ou
ambigüidade (na acepção corrente ou técnica) e às suas funções sintáticas
no período;
d.2) a interpretação lógica (ou racional) – que procura a comparação
com outros dispositivos, não os isolando em compartimentos estanques;
d.3) a interpretação sistemática – que investiga a subordinação da
norma ao conjunto maior dos princípios norteadores do sistema, obtendo o
entendimento daquela em função destes, pois a lei se integra num sistema
legislativo;
d.4) a interpretação histórica – que leva em consideração as
injunções políticas, sociais e econômicas que induziram à criação da lei,
bem como os trabalhos preparatórios (como as exposições de motivo que
acompanham os projetos de lei, os estudos das Comissões e as discussões
em Plenário), que antecederam à sua votação, sanção e promulgação.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 40

e) Cuidando da correta aplicação da lei – considerando sua eficácia


no tempo e no espaço, além de sua aplicação analógica, extensiva ou
restritiva:
e.1) a eficácia no tempo – que torna a lei obrigatória a partir de sua
promulgação e publicação, se outra data não estiver prevista no próprio
texto ou na LICC (art. 1º); que mantém essa obrigatoriedade enquanto outra
lei não a modificar ou revogar, não se restaurando (salvo disposição em
contrário) por ter a lei revogadora perdido a vigência (LICC, art. 2º e § 3º),
ou enquanto sua inconstitucionalidade não for argüida (CF, art. 102, I, a);
que faz voltar a lei para o futuro, sendo vedada sua retroatividade (salvo
para as leis interpretativas e as mais favoráveis – que são casos de pseudo-
retroatividade), como norma não só dirigida ao juiz como ao próprio
legislador (LICC, art. 6º, §§ 1º/3º) e de assento inclusive constitucional
(CF, art. 5º, XXXVI), tradicionalmente mantido no direito brasileiro;
e.2) a eficácia no espaço – que torna a lei obrigatória, em princípio,
como a expressão de sua soberania, às pessoas que morem ou estejam nos
limites geográficos do país; que o direito brasileiro adota o princípio da
territoriedade moderada, aplicando a norma do Estado respectivo às
embaixadas e consulados, aos navios e às aeronaves, à qualificação dos
bens e à regência de suas relações (LICC, art. 8º, caput e § 1º e art. 9º) e
ainda à prova dos fatos (id., art. 13); que nosso direito adota também o
princípio da extraterritorialidade, aceitando as convenções e tratados
internacionais (direito internacional privado e público);
e.3) a aplicação analógica da lei – que aplica a lei a um caso não
previsto, em razão da igualdade de motivos (exceto no direito penal, fiscal
ou excepcional, dado o caráter restritivo destes), como se acha expresso, p.
ex., nos seguintes axiomas:

1º) a pari (= por igual [razão]) – ex.:


Cabe aplicar à curatela as regras da tutela (CC, art. 453);
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 41

2º) a majori ad minus (= do mais para o menos) – ex.:


Se ao mandatário forem conferidos os poderes especiais do § 1º do art.
1.295 do CC, é que lhe estão sendo implicitamente outorgados os poderes
gerais de administração de que fala o caput do mesmo artigo;
3º) a minori ad majus (= do menos para o mais) – ex.:
Se o interditado resta proibido de reger sua pessoa e administrar seus
bens (CPC, art. 1.180), igualmente o estará para dispor destes, bem como
para exercer os direitos políticos de eleger e ser eleito;

4º) a fortiori (= com maior [razão]) – ex.:


Se ao Banco Central é vedado conceder empréstimos ao Tesouro
Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição
financeira (CF, art. 164, § 1º), muito menos o poderá a pessoas físicas;

5º) a contrario sensu (= no sentido contrário) – ex.:


A enumeração taxativa dos direitos reais, previstos expressamente no CC
(art. 674, I/IX) e na legislação extravagante, exclui qualquer outra
hipótese, por se tratar de numerus clausus (= número fechado) ;

6º) ad hominem (= contra a [própria] pessoa [argumentante]) – ex.:


Se a sobretarifa no “apagão” for acoimada de confisco por se tratar de
tributo exorbitante (CF, art. 150, IV), alegando-se ser este último
caracterizado pela compulsoriedade, provando-se que a tarifa de energia
elétrica constitui mero preço público, cuja compulsoriedade provém de
uma contraprestação de natureza contratual (e não de uma imposição
legal, como o tributo), lança-se o argumento da parte contra ele próprio ;

7º) tollitur quaestio (= destrói-se/esvanece a questão) – ex.:


Quando o réu confessa o crime, sem coação alguma e sem contrariar o
complexo probatório (CPP, arts. 197/200), não há mais o que discutir;

e.4) a aplicação extensiva ou restritiva da lei - que alarga ou reduz o


raio de aplicação da lei, segundo os seguintes axiomas:
1º) lex dixit plus/magis quam voluit (= a lei disse mais do que
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 42

quis/queria [dizer]) – ex.:


A chamada Lei do Concubinato (Lei nº 9.278, de 10/05/96, que veio
regulamentar o § 3º do art. 226 da CF) não estabelece período mínimo
para configurar a estabilidade da união entre o homem e a mulher,
visando a caracterizar tal união como entidade familiar; também não
exige a convivência sob o mesmo teto – o que ensejaria tornar legítima a
conjugação do concubinato com a vida matrimonial, a qualquer tempo: e
assim, singularmente, por omissão, a lei disse muito mais do que
pretendia dizer, exigindo contínua construção jurisprudencial a respeito,
caso a caso;

2º) lex dixit minus quam voluit (= a lei disse menos do que
pretendeu/pretendia [dizer]) – ex.:
O art. 714 do CPC somente se refere à adjudicação de imóvel pelo
credor, finda a praça sem lançamento – o que a jurisprudência prevalente
tem estendido aos bens móveis.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 43

VII.3 - A CONCLUSÃO

1. A natureza da conclusão
É o fecho do texto – quando então se empregam orações
subordinadas adverbiais (v. IV, 2), de preferência, e o verbo no tema do
presente. Reitera-se, então, o teor do tema (com predominância de orações
coordenadas) e sintetizam-se os argumentos desenvolvidos na discussão
(com predominância de orações subordinadas adverbiais), mas sem a
contundência desta última.

2. A reiteração do teor do tema


Essa reiteração faz-se necessária, embora o tema já tenha sido
expresso inicialmente, no começo da discussão (v. VII.2, 2). Com maior
razão, se não o houver sido, faz-se mais que necessário fixá-lo, ora como
um processo lógico, derivado da fundamentação, onde se encontra diluído.
A finalidade é clara: pretendem as partes determinados pedidos, o
Ministério Público deve opinar sobre eles e o Julgador deve decidir a
respeito. É de toda conveniência, portanto, que a argumentação seja
reiterada, a fim de ficar bem evidenciado, num momento-chave, o que se
pretende ou obstaculiza, para a devida apreciação de quem vai manifestar-
se com autoridade a respeito.

3. A técnica da reiteração do tema


Posta inicialmente a fórmula genérica do tema inicial (ou
formulando-a na ocasião, como início do fecho), necessário se faz
recapitular os pontos capitais da argumentação expendida na discussão,
proporcionalmente ao tamanho desta, numa síntese do que então se
desenvolveu, a fim de as partes justificarem os pedidos que irão fazer ao
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 44

final (como os requerimentos de liminares e de procedência ou


improcedência, total ou parcial, daqueles); a fim, igualmente, de o Parquet
ou o Julgador poderem corretamente opinar ou decidir sobre tais pedidos.
Por isso, tal recapitulação se torna de todo em todo necessária, quando a
discussão da matéria tiver sido longa: pois, abarrotados de processos, nem
sempre o MP ou o Juiz – que têm de se pronunciar conclusivamente –
conseguiram ler com vagar a argumentação toda expendida do contexto,
limitando-se a atentar quase exclusivamente para os títulos e subtítulos (se
é que os houve); e assim, à última hora, pelo menos, se lhes oportuniza
situarem-se bem a cavaleiro relativamente à matéria. É na conclusão,
portanto, que se decide a sorte ou o desfecho da ação:
a) O autor, o contestante e o recorrente ou o recorrido – que vêm
afinal pleitear o acolhimento às suas pretensões.
b) O Ministério Público ou o Julgador – que finalmente vão opinar
ou decidir pela procedência total ou parcial das pretensões ou pela sua
improcedência, ou mesmo, pelo seu não conhecimento, sequer.

Sirva de exemplo o texto abaixo, que poderia constituir-se a


CONCLUSÃO, como síntese de um longo parecer jurídico, onde se tivesse
discutido a respeito dos seguintes capítulos: I – Agravo de instrumento
contra despacho de inadmissibilidade do recurso especial, interposto contra
aquela parte de acórdão que se referia à prefacial de nulidade da
sentença, por falta de fundamentação. II – Fundamento do interlocutório
por negativa de vigência aos dispositivos legais aludidos, bem como por
“improcedência do dissídio jurisprudencial”. III – Pedido alternativo da
agravada, requerendo ou a restituição das mercadorias, em razão de sua
entrega dentro dos quinze dias anteriores ao pedido da concordata
preventiva, ou o seu equivalente em dinheiro. IV – Sentença concessiva
desse último ressarcimento. V – Apelação, sustentando a nulidade da
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 45

sentença, pela violação do art. 458, inciso II c/c art. 131 do CPC (por
ausência de fundamentação e motivos do próprio convencimento), afora o
descabimento de correção monetária em concordata preventiva. VI –
Rejeição da nulidade pelo órgão colegiado. VII – Parecer ministerial
opinando pela nulidade da sentença, com ampla dissertação sobre a
ausência de fundamentação da sentença, onde o juiz não dirimiu as razões
de cada um dos litigantes, nem indicou os motivos de seu próprio
convencimento, quando a motivação é preceito de ordem pública, de
assento inclusive constitucional (CF, arts. 5º, XXXV e 93, IX). VIII –
Dissídio jurisprudencial que se considera demonstrado, desnecessitando de
cotejo específico de circunstâncias idênticas, por se tratar de tese jurídica (a
ausência de motivação). IX – Opinião pelo imediato julgamento do recurso
especial, ante a presença no instrumento de todos os elementos necessários
para tanto (Lei nº 8.038, de 28/05/90, art. 28, § 3º).

CONCLUSÃO

EGRÉGIA CORTE:

1. Como visto, o punctum dolens da questão se bifurca em dois


pontos essenciais: 1º) se o agravo de instrumento é de ser conhecido e
provido, ou não, pela ausência de fundamentação da r. sentença a quo,
nulificando-a; e 2º) idem quanto ao seguimento do recurso especial, ante
a exigência de confronto jurisprudencial específico para se configurar o
dissídio.

2. Examinando pormenorizadamente esses capítulos, verificou-se a


infringência aos arts. 458, II c/c art. 131, 2ª parte do CPC, visto como a
MM. Juiz fez mera referência “ao que consta dos autos”, sem contrapor,
resumidamente sequer, as razões de cada uma das partes – embora a
fundamentação seja requisito essencial da sentença (CPC, arts. cits.),
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 46

além de haver-se tornado de ordem constitucional (CF, arts. 5º, XXXV e


93, IX), sob copioso apoio da doutrina e da jurisprudência. Pois é pela
motivação que o juiz arma o raciocínio que o leva à solução das questões
controvertidas, pondo a Justiça a coberto do arbítrio, da parcialidade e da
displicência na prestação jurisdicional (AC nº 56.819/RN, v. u., TFR, 3ª
T. – DJU 30/04/81; AC nº 80.948/SP, v. u., TFR, 5ª T. – DJU 19/05/83;
ASum nº 164.530, v. u., 2ª TACvSP, 1ª Câm., JTACSP – RT 90/319; AC
nº 184.003.408/84, v. u., TARS, 3ª CC- JTARS 51/271). Daí a nulidade
de uma sentença omissa, pois “é na motivação que se pode averiguar se e
em que medida o Juiz levou em conta ou negligenciou o material
oferecido pelos litigantes” (BARBOSA MOREIRA, “A Motivação das
Decisões Judiciais como Garantia Inerente ao Estado de Direito”, in
‘Temas de Direito Processual’, 2ª série, SP, Saraiva, 1980, p. 88, nº 6);
pois também “o preceito da motivação... é que põe a administração da
Justiça a coberto da suspeita dos dois piores vícios que possam manchá-
la: o arbítrio e a parcialidade” (LOPES DA COSTA, “Direito Processual
Civil Brasileiro”, Rio, José Konfino, 1946, vol. III, pág. 22, n° 20). E,
como necessária conseqüência, assim decidiu a Eg. 5ª CC/TJSP, na AC
235.388/74, v. u. – RTJSP 31/89, alertando para o duplo grau de
jurisdição: “Questão suscitada e não apreciada em 1ª Instância –
Princípio do duplo grau de jurisdição que não permite sanar a omissão
em 2ª Instância – Anulação da sentença, para que outra seja proferida e
com apreciação de todos os pedidos.”

3. Deduziu-se, ainda, que a matéria, tratando, como se trata, de uma


tese jurídica, desnecessita confrontem-se circunstâncias idênticas ao caso
em apreço: porquanto, mesmo que o acórdão trazido à colação não verse
sobre a específica restituição de mercadorias, entregues dentro do prazo
legal, em se tratando de concordata preventiva, o que em última e
verdadeira análise se acha em jogo é que um decisum desmotivado é o
quantum satis para nulificá-lo. E assim, exsurge o dissídio quanto a esse
ponto fulcral – devendo acolher-se como escorreita a exegese do art. 255
do RISTJ, em seu verdadeiro sentido e colimado alcance, face a face aos
julgados oferecidos à apreciação da Col. Corte.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 47

4. Por último, como o instrumento contém todos os elementos


necessários ao julgamento do recurso especial, permite-se este órgão
ministerial sugerir seja aquele de imediato incluído em pauta, segundo
faculta o § 3º do art. 28 da Lei nº 8.038, de 28/05/90 – opinando desde
logo pelo conhecimento e provimento tanto do agravo quanto do recurso,
cassando-se o V. acórdão e determinando seja outra sentença proferida
nos moldes preconizados pelo inciso II do art. 458 do CPC.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 48

ANEXO III

Os fatos sobre os quais se comenta nas peças jurídicas ocorreram


naturalmente no passado, sendo normalmente categóricos (a não ser quando se
propõem hipóteses, levantadas, porém, para fins de concluir pela certeza de uma
delas). Daí que, em princípio, as orações devam ser lavradas nos tempos do pretérito
e no modo indicativo. Entretanto, em português, autores clássicos ou de nomeada têm
entremeado tempos e modos uns pelos outros; têm -se utilizado inclusive de locuções
verbais, visando a conferir matizes ou ênfases que os tempos e modos correntes não
conseguem exprimir: são os chamados aspectos verbais.

A) OS TEMPOS VERBAIS

1. Os tempos verbais
Diz-se tempo a propriedade mediante a qual uma forma verbal designa a
ocasião em que ocorreu o evento, relativamente ao momento em que se fala – como
atual (= presente), anterior (= pretérito) ou posterior (= futuro).

2. O presente
Indica que a ação se passa durante o momento em que se fala (fato permanente
ou habitual); ex.:
Defendo o meu cliente como posso.
Esperamos que tudo aconteça como antes, mantida a r. sentença.

a) O presente histórico - é empregado nas narrativas e descrições (tornando-as


mais vivas, como se estivessem acontecendo agora), embora o fato seja totalmente
passado: substitui assim o pretérito perfeito; ex.:
Acontece, MM. Juiz, que o réu não paga há meses o aluguel devido.

b) O presente futuro – é utilizado para caracterizar uma certeza, em lugar do


futuro; ex.:
Se desde o início o advogado não conseguir convencer o juiz com a seriedade de seus
argumentos, está perdido.

3. O pretérito
Indica que a ação é anterior ao momento em que se fala, expressando-se por
três tempos diferentes: o imperfeito, o perfeito e o mais-que-perfeito.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 49

3.1 O pretérito imperfeito


Denota uma ação passada que dura ou se repete no presente (por uma série
de atos): mas não determina o momento em que se iniciou ou vai acabar a ação; ex.:
Todos esperavam uma sentença mais humana.
A ação tinha como base a MP nº 2.151, de 31/05/01, cujo art. 7º previa estarem
asseguradas as promoções aos anistiados presentes.

3.2 O pretérito perfeito


Refere-se a uma ação já ocorrida num momento preciso (expresso ou não),
nisto distinguindo-se do imperfeito.
a) O perfeito simples – indica uma ação já de todo conclusa; ex.:
O réu praticou [em data de 21/02/99] o homicídio, premeditadamente, da maneira como
se passa a descrever.

b) O perfeito composto – indica uma ação que, embora passada, se prolonga


até o momento presente, como um hábito; ex.:
Desde o início o réu tem insistido em sua inocência.

OBS.: Compare a diferença de sentido no tempo, quando se emprega o imperfeito ou


o perfeito, pelos exemplos abaixo:
Quando a vítima aparecia na casa do réu, este abraçava-o [= sempre que aparecia era
abraçado].
Quando a vítima apareceu na casa do réu, este abraçou-o [= no momento em que
apareceu foi abraçado].

3.3 O pretérito mais-que-perfeito


Refere-se a uma ação duplamente passada, isto é: a um ato praticado
anteriormente a outro já ocorrido (o tempo simples e o composto podendo ser
utilizados indiferentemente, pois têm o mesmo valor expressivo); ex.:
A ação direta de constitucionalidade se justifica ante as controvérsias que resultaram de
inúmeros pleitos judiciais, cujas liminares ou decisões de mérito ora tinham sido
acolhidos, ora não.

OBS.: É clássico e elegante a utilização do pretérito mais-que-perfeito do indicativo


substituindo o futuro do pretérito ou o imperfeito do subjuntivo (emprego atualmente
pouco usado); ex.:
O prolixo advogado mais falara [= falaria], se mais tempo tivera [= tivesse].

4. O futuro
Expressa fatos ainda não ocorridos, mas que poderão sê-lo:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 50

a) O futuro do presente - indica que tais fatos inexistentes poderão ou deverão


realizar-se posteriormente ao momento presente em que se fala; ex.:
Condenado à reclusão, o réu jurou que se vingará.

b) O futuro do pretérito - indica que os ditos fatos inexistentes poderão realizar-


se posteriormente ao momento de que se fala; ex.:
Condenado, o réu jurou que se vingaria.

c) O futuro imperativo - equivale a uma ordem, sendo muito comum nas leis e
nos contratos; ex.:
Os recursos necessários à execução do projeto decorrerão do excesso de arrecadação
no Ministério X, no percentual de Y.
Caberá ao gerente representar a empresa judicial e extrajudicialmente.

d) O futuro de incerteza - exprime dúvida sobre fatos atuais (usando-se o futuro


do presente) ou sobre fatos do passado (usando-se o futuro do pretérito); ex.:
O réu, encarcerado naquela prisão, a estas horas já estará morto.
Seriam altas horas da noite quando ocorreu a batida policial.

B) OS MODOS VERBAIS

1. Os modos verbais
O modo é aquela forma verbal que revela nossa intenção de exprimir que um
ato se apresenta como certo (= indicativo), como duvidoso (= subjuntivo) ou como
ordem nossa (= imperativo).

2. O indicativo
É de uso tanto nas orações principais ou independentes de natureza
meramente expositiva ou interrogativa, quanto nas subordinadas onde não haja dúvida
relativamente à ocorrência ou não de um determinado fato; ex.:
Sabe-se que os criminosos dificilmente confessam seus crimes.
Quem penetrará na mente de uma pessoa corrompida?
São os advogados que defendem os direitos de todos.

3. O subjuntivo
É de uso nas orações:
a) Principais ou independentes optativas, imperativas negativas e nas
dubitativas; ex.:
Queira Deus que V. Exª venha a compreender a gravidade da situação!
Não emprestem dinheiro a espertalhões, pois eles criarão aborrecimentos em juízo.
Talvez se arrependam os criminosos, quando olharem para suas vítimas.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 51

b) Coordenadas alternativas correlatas; ex.:


Quer chova, quer faça sol, o advogado tem de comparecer à audiência.

c) Subordinadas substantivas dubitativas; ex.:


É de se esperar que a União ganhe a ção.

d) Subordinadas adjetivas que indigitem fim ou possibilidade; ex.:


É de se conseguir um juiz que seja mais compreensivo.
Tal zelo somente se obterá de um causídico que ame sua profissão.

e) Subordinadas adverbiais causais, concessivas, condicionais, consecutivas,


finais e temporais (de sentido hipotético); ex.:
O criminoso esfaqueou a vítima, não porque tivesse sido ofendido, mas por maldade.
Embora a vítima perdoe o réu, a Justiça o castigará.
Se quiseres/Caso queiras perdoar o réu, faz bem comunicar-lhe tua decisão.
Não sejas tão orgulhoso, a ponto de não enxergares as qualidades de teu ex adverso.
Convém sejas prudente com este juiz, para que não venhas a decepcionar-te.
Cabe toda cautela, enquanto não tivermos vencido a causa.

4. O imperativo
Seu uso implica uma ordem ou um pedido.
a) O imperativo categórico – é o que expressa uma determinação, sem
escusas (o que é pouco usado nas relações sociais hodiernas):
a.1) nas orações afirmativas - usa-se a 2ª pessoa do imperativo presente; ou a
3ª pessoa do subjuntivo presente; ou o futuro do presente (v. A, 4, c, acima); ou ainda,
o infinitivo presente: ex.:
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuai a sala de audiência!”
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuem a sala de audiências!”
O juiz ordenou aos policiais: “Evacuar a sala de audiências!”;

a.2) nas orações negativas – usa-se o subjuntivo, necessariamente, na 2ª ou 3ª


pessoas; ex.:
Não vos aproximeis dos criminosos!
Não se aproximem dos criminosos!

C) OS ASPECTOS VERBAIS

1. Os aspectos verbais
Os tempos verbais não conseguem expressar todos os matizes dos momentos
em que se desenrola a ação, embora alguns deles (como os presentes histórico e
futuro, o pretérito imperfeito e o perfeito composto) indiquem simultaneamente o
aspecto durativo da ação. Por isso, o infinitivo e o gerúndio do verbo principal
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 52

combinam-se com verbos auxiliares extraordinários, formando locuções verbais,


objetivando conferir os variados sentidos que se pretende emprestar à oração.

2. Os variados matizes das locuções verbais perifrásticas


Dentre esses matizes, cabe explicitar:
a) O início, a iminência, o desenvolvimento, a repetição e o término da ação –
expressos pelos verbos auxiliares acurativos; ex.:
A juíza começara a instruir/pusera-se a instruir/estava instruindo/costumava
instruir/acabara de instruir a audiência, quando...

b) A obrigação, possibilidade, desejo, tentativa, obtenção, aparência, intenção


e o resultado da ação – mediante os chamados verbos auxiliares modais; ex.:
O advogado devia apelar/podia apelar/tentava apelar/conseguiu apelar/parecia estar
apelando/estava a ponto de apelar/chegou a apelar...
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 53

VIII.1 – QUALIDADES DO ESTILO: A CLAREZA

1. A clareza
A clareza define-se como a comunicação translúcida do pensamento
– sendo, por isso, a qualidade essencial e o próprio objetivo de qualquer
redação, para ela devendo convergir todas as demais qualidades estilísticas.
Inútil pretender expressar-se com lucidez, entretanto, se o escritor
não dominar completamente o assunto e se não souber formalizá-lo
externamente de modo didático para o leitor e agradavelmente à sua visão.

1.1 A clareza interna


É a que provém do conhecimento da matéria em sua natureza íntima
e em suas circunstâncias (o tema central e seus ângulos): somente assim o
pensamento se torna límpido para o redator, ensejando uma transmissão
perfeita. De grande valia, senão indispensável para tanto, a utilização dos
tropos (v. VI, 1.2); a correta interpretação e aplicação da lei (v. VII.2, 3,
d/e); a pesquisa doutrinária e jurisprudencial (v. VII.2, 3, c); é cabível,
inclusive, colocar-se o redator em pseudo posição antagônica contra si
mesmo, como se fosse o seu próprio ex adverso, a fim de prevenir-se das
futuras contra-razões deste (v. VII.2, 3, b).

1.2 A clareza externa


É a capacidade de transmitir esse conhecimento interno do tema para
o leitor, não se contentando enquanto não o obtiver até à evidência. Torna-
se preciso, então, superar as ambigüidades propiciadas pela própria língua,
quer devido ao emprego denotativo ou conotativo do vocábulo no contexto
ou ao significado plúrimo do mesmo vocábulo (v. VIII.3, 2/3); quer à
própria construção morfossintática, inclusive em virtude da má colocação
dos vocábulos na frase ou de uma pontuação imperfeita. Explicitando:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 54

a) Denotação x conotação
a.1) denotação – é o sentido que o dicionário atribui ao vocábulo,
como usualmente é entendido; ex.: pedra = “matéria mineral dura e sólida,
da natureza das rochas” (Dicionário Aurélio, s. v.): este é o emprego mais
apropriado para uma peça jurídica, objetiva por natureza;
a.2) conotação – é o sentido figurado que o vocábulo evoca, graças
ao processo de associação de idéias (metáforas, comparações, analogias,
semelhanças etc.) que o contexto sugere ou traz à mente; ex.: O homicida
revelou um coração de pedra. Errado? Não: mas seria mais apropriado
descrevê-lo: É um criminoso insensível, por isso de caráter perigoso.
b) Polissemia – nem sempre o vocábulo tem significado unívoco;
ex.: defesa (s. f.) = refutação/contestação: Foi brilhante a defesa do
advogado; defesa (adj. f.) = proibida: ...forma... não defesa em lei”(CC, art.
82). (Os exemplos acima mostram a linguagem técnica exigida pelo
Direito).
c) As dubiedades derivadas de construções morfológicas ou
sintáticas – sendo as mais comuns:
c.1) a do sujeito da oração, se passível de interpretação como o
objeto direto desta ou vice-versa – sobretudo quando ambos são do mesmo
número e/ou do mesmo gênero; ex.: Destruíram os argumentos do réu as
razões do autor. Corrija-se, então, antecedendo ou pospondo o verdadeiro
sujeito ao predicado, assim: ou Os argumentos do réu destruíram as razões
do autor; ou As razões do autor destruíram os argumentos do réu;
c.2) a da contaminação sintática pedir para – equivalendo a “pedir
[licença] a alguém para...”; ex.: O advogado pediu ao juiz para concluir
logo a instrução da audiência. Corrija-se, explicitando: ou O advogado
pediu que o juiz concluísse logo a instrução da audiência; ou O advogado
pediu [licença] ao juiz para [ele próprio] concluir logo a instrução da
audiência;
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 55

c.3) a das orações subordinadas reduzidas, adverbiais (sobretudo) –


as quais, não raro ensejam dúvida: 1) quanto ao entendimento que se
pretendia conferir-lhes; ex.: Deferida a liminar, a medida foi
imediatamente efetivada. Pergunta-se: o sentido desejado para o particípio
era de tempo ou de causa? Outro ex.: Desmoralizou-o o MP com desmenti-
lo publicamente. Pergunta-se: o sentido do infinitivo era de tempo, causa
ou modo? Outro ex., ainda: O Presidente da Corte tomou conhecimento do
protesto dos títulos, determinando ao impetrante se manifestasse a
respeito. Pergunta-se: o sentido do gerúndio era de tempo, causa ou
meio?; 2) quanto ao verdadeiro sujeito da oração; ex.:
Terminando/terminada/ao terminar a audiência, o juiz concluiu a
instrução do processo. Pergunta-se: o sujeito das formas nominais verbais
é a audiência ou o juiz? Corrija-se, explicitando, mediante orações
adverbiais desenvolvidas: Quando a audiência terminou, o juiz concluiu a
instrução do processo; ou: Quando o juiz terminou a audiência, concluiu a
instrução do processo;
c.4) a do possessivo seu (e variantes) - que podem referir-se a
qualquer termo da oração, como a coisa possuída (e não ao possuidor, qual
em outras línguas); ex.: O estilo desses advogados revela a sua falta de
objetividade. Pergunta-se: a falta de objetividade é do estilo ou dos
advogados? Corrija-se, então: ou Estes advogados revelam sua falta de
objetividade pelo próprio estilo; ou então: A falta de objetividade do estilo
revela estes advogados;
c.5) a da partícula se – que pode exercer as funções ora de pronome
reflexivo, ora de forma da voz passiva, ora de símbolo de indeterminação
do sujeito; ex.: Faltam muitos presos fugitivos que se perderam na mata.
Pergunta-se: os presos fugitivos foram os perdidos na mata ou porque se
perderam na mata? Outro ex.: Admiram-se as pessoas cultas. Pergunta-se:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 56

as pessoas cultas estão-se admirando (de alguma coisa) ou são as


admiradas por nós?;
c.6) a do pronome relativo que (invariável em gênero e número) - o
qual pode referir-se a qualquer antecedente, masculino ou feminino,
singular ou plural; ex.: Eis o esquema do órgão ministerial que temos de
tomar como exemplo. Pergunta-se: o esquema é que tem de ser tomado
como exemplo ou o órgão ministerial? Corrija-se, então: ou O órgão
ministerial é de ser tomado como exemplo pelo esquema que oferece; ou O
esquema deste órgão ministerial é de ser tomado como exemplo;
c.7) a da preposição de - que pode preceder adjuntos (nominais ou
adverbiais) e complementos (nominais ou verbais); ex.: Recebo de tuas
mãos este documento. Pergunta-se: por tuas mãos ou advindas de tuas
mãos? Outro ex.: Arquitetaram-se argumentações contra as ciladas
contrárias dos adversários. Pergunta-se: arquitetaram-se argumentações
contra as ciladas dos adversários ou contrárias às ciladas dos
adversários?
d) Pontuando corretamente - sobretudo não separando por vírgula (a
não ser por ênfase):
d.1) o sujeito - de seu predicado verbal ou nominal (predicativo); ex.:
A impetrante, já desanimada pediu assim mesmo a liminar em ação
cautelar. Compare, porém: A impetrante, desanimada muito embora,
pediu assim mesmo a liminar. Outro ex.: O réu, foi acintoso perante o juiz.
Compare, porém: Acintoso, o réu apresentou-se perante o juiz. Nas
primeiras formulações, os adjetivos desanimada e acintoso, como
predicativos dos sujeitos impetrante e réu, deles não podiam separar-se por
vírgula, salvo por ênfase, como o foram nas segundas formulações
alternativas;
d.2) os objetos direto e indireto de seus predicados verbais - ex.:
Parabenizamos, o advogado vencedor de uma causa tão difícil. Compare,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 57

porém: Parabenizamos o advogado, vencedor de uma causa tão difícil.


Outro ex.: O cliente precisa de um advogado, bem aguerrido. Compare,
porém: De um advogado, bem aguerrido, é de que o cliente precisa;
d.3) o verbo - de seu objeto direto ou indireto (oracional ou não); ex :
Os réus queriam, que o advogado impetrasse, o habeas corpus, de que
necessitavam. Explicando: o verbo pedir teve, como complemento direto,
a oração subordinada substantiva que o advogado impetrasse; e o verbo
impetrar, o objeto direto o habeas corpus; por último, o verbo necessitar
teve, como complemento indireto, de que [= do qual, habeas corpus]; ora,
esses complementos verbais todos não podiam separar-se dos respectivos
verbos regentes; logo, as vírgulas são todas irregulares;
d.4) o substantivo, adjetivo ou advérbio - de seus respectivos
complementos nominais ou adjuntos adnominais e adverbiais; ex.: Até os
mais brutos criminosos sentem saudades, de suas mães. Ora, de suas mães
é o complemento nominal do substantivo saudade (do qual não é lícito
separar). Outro ex.: Os réus, Exª, estão ansiosos, pela compreensão, desse
MM. Juízo. Ora: pela compreensão é complemento nominal do adjetivo
ansiosos, dele não podendo separar-se por vírgula; e desse MM. Juízo é
adjunto adnominal do substantivo compreensão. Outro ex., ainda: Os
conselheiros votaram contrariamente, aos interesses da Corporação. Ora,
aos interesses é adjunto adverbial de oposição do advérbio contrariamente.

2. A clareza gráfica
Esse tipo de clareza deflui da boa distribuição do texto, objetivando
uma leitura mais fácil e mais atraente, a fim de ensejar o repouso
propiciado pelas pausas visuais, suavizando o cansaço decorrente de uma
leitura de natureza técnica. Não poucos fatores são prejudiciais a essa
agradável distribuição, entre os quais se destacam (por isso devendo quanto
possível ser evitados):
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 58

a) Os capítulos sem divisões e subdivisões (títulos e subtítulos) – ex.:


O caso em apreço versa sobre a incorporação do percentual de 11,98% na
remuneração dos autores, servidores vinculados ao Poder Judiciário.
Ao apreciar o presente agravo de instrumento, V. Exª negou seguimento
ao recurso, assentando que:
“Trata-se de (........................................................................).”
Data venia, a decisão agravada merece ser reconsiderada, uma vez que,
ao contrário do assentado por V. Exª, a matéria tem índole constitucional.

b) Os parágrafos densos (excesso de conceitos simultâneos) ou


longos (excesso de orações subordinadas, sobretudo adverbiais, de modo
geral) – podendo servir de exemplo os períodos quilométricos ou caóticos
(v. V, 2.2, a/b).
c) O abuso de tipos gráficos (negritos, itálicos, versaletes, caixas-
altas etc.) – pois o exagero de realce, trazido por esses recursos, sobretudo
se cumulados uns com os outros, inutiliza o colimado realce, deixando o
leitor atônito ante o que deve ser mais relevado ou não; ex.:
I - OS FATOS
A) PRELIMINARMENTE

1. FULANA DE TAL e OUTRA formularam ação ordinária, visando


obter a antecipação dos efeitos da tutela, solicitando que a UNIÃO fosse
condenada “a retificar o enquadramento inicial das Requerentes da Classe ‘A’,
Padrão ‘11’, para a Classe ‘B’, Padrão ‘17’ da Carreira de Técnico Judiciário,
em virtude de direito adquirido decorrente de sua habilitação em Concurso
Público (Edital n° 01/94).

d) O excesso de notas no próprio contexto (bibliografia, referências


exemplificativas ou corretivas) - sobretudo se forem alongadas, de que são
exemplos as orações fragmentadas e intercaladas, mesmo nos períodos em
que predominam orações coordenadas (v. V, 2.1, a/b).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 59

VIII.2 – QUALIDADES DO ESTILO: A CONCISÃO

1. A concisão
É o corte da redundância prolixa, mediante a exposição objetiva do
pensamento, sem divagações ou repetições inexpressivas.

2. Caracterização
A falta de concisão resulta geralmente da reduzida capacidade de
síntese de quem escreve, revelando sua limitada capacidade de análise:
pois, quem consegue descer à profundidade dos conceitos consegue
também externá-los em sua essência, facilmente identificando o que é
desnecessário à compreensão da mensagem ou o que é ineficaz à produção
da ênfase que o texto porventura esteja requerendo. É que a finalidade de
convencer – objetivada numa peça jurídica - não se obtém nem procurando
impressionar o leitor com um grande número de páginas consecutivas,
repletas de argumentos idênticos de conteúdo ou simplesmente análogos;
nem com largas transcrições doutrinárias e jurisprudenciais repetitivas (que
uma mera remissão substituiria, no máximo transformando-as em anexos
do texto, se necessário); nem com o exagero de adjetivos qualificadores ou
de circunstâncias adverbiais inexpressivas; nem com a exibição de
sinônimos ou de pleonasmos sem vigor. Antes. Com a utilização de
qualquer desses procedimentos, o emissor da mensagem passa a correr o
risco de o receptor não ler desta senão o começo e o fim ou os meros títulos
e subtítulos da peça: isto porque terá um leitor cansado, em decorrência da
tensão e esforço mentais que lhe estão sobrecarregando, seja para a
depuração do que seria importante, mesmo, seja para a localização do que
seria o verdadeiro núcleo significativo da mensagem. Como esta deve
consistir na exposição objetiva dos diversos tópicos, de preferência
separadamente, um a um, em gradativa apresentação, de grande valia será,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 60

ao contrário, o recurso preferencial às frases curtas, cujas pausas


propiciarão uma agradável leitura e sua intelecção imediata.
Atenção, porém. Desses comentários não se pode deduzir que toda
peça longa é prolixa e vice-versa, sendo a prolixidade determinada pela
inutilidade de excertos do texto. Vale dizer: há muita peça longa, porque
assim o exigiu a gravidade da matéria (fruto às vezes da gravidade das
circunstâncias que obrigaram à sua produção), e muita peça curta, cujo
conteúdo simplório se procura simular com ouropéis aparentemente
enganadores.
A autêntica ausência de concisão é encontradiça em inúmeras
situações, sobretudo nos seguintes casos (vazados em carmim), onde
ocorrem:
a) Pormenores supérfluos - por serem plenamente dispensáveis; ex.:
A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, com sede em Brasília,
Distrito Federal, por seu Advogado-Geral (cf. cópia anexa de sua
nomeação e art. 4º, inciso III da Lei Complementar nº 73/93), que esta
subscreve, vem propor perante esse Colendo Tribunal a presente
RECLAMAÇÃO em face do Exmo. Sr. Relator do Agravo de
Instrumento nº ..., pelos motivos que passa a expor.
b) A insistência em idéias já expressas, implícita ou claramente -
neste último caso, falsos pleonasmos despidos de ênfase; ex.:
Ora, não há como levar em conta a extensão do dano, posto que, no caso
vertente, este foi verdadeiramente zero, ou seja, nulo, isto é, não ocorreu
nenhum dano ao erário pelo ato atacado pela presente ação. Da mesma
forma, o apelante, como Ministro-Chefe de..., não se beneficiou de
nenhuma forma do ato, ou seja, não obteve nenhum proveito patrimonial,
ao realizar as viagens... Assim, numa interpretação lógica do dispositivo
legal (Lei nº 8.429/92, art. 12) que norteia a aplicação das penas pela
prática de ato de improbidade, não se pode aplicar nenhuma penalidade
ao agente, uma vez que não houve nenhum dano causado ao erário e o
agente não obteve nenhum proveito patrimonial de seu ato, que, diga-se
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 61

de passagem, jamais pode ser caracterizado como ato de improbidade,


pela total insignificância do mesmo.
c) Excesso de adjetivos ou advérbios (ou suas locuções, mesmo
oracionais) – mediante os quais se pretende apenas enfeitar ou enxundiar o
texto, disfarçando a pobreza de idéias; ex.:
O que ocorre no presente caso, com a aplicação do art. 11 da Lei nº
8.429/92, que trata do ato de improbidade que atenta contra os princípios
da administração, em que o d. Magistrado, de forma subjetiva, achou
melhor enquadrar o ato do Sr. Ministro X, impugnado pela ação
proposta, aplicando penas altamente desproporcionais, para coibir
simples e insignificante ato discricionário do Sr. Ministro, conforme
demonstrado. Por outro lado, ao aplicar as terríveis e draconianas penas
ao Sr. Ministro, o d. Juiz monocrático não atentou para o disposto no
parágrafo único do art. 12 da citada lei.
d) Acúmulo de sinônimos – injustificáveis, quando os anteriores já
tiverem sido a expressão do que se tem em mente definir; ex.:
A alta e majestosa atitude de S.Exª, MM. Juiz, manifestada em atos
sobranceiros que indigitavam sua dignidade ofendida, sequer foi
compreendida e entendida pelos seus torpes e mesquinhos acusadores,
que nunca, jamais demonstraram, em tempo algum, haver alcançado a
grandeza excelsa do perdão.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 62

VIII.3 – QUALIDADES DO ESTILO: A PROPRIEDADE

1. A propriedade
É a utilização precisa dos vocábulos mais condizentes com a idéia
que se deseja expressar.
No afã de conseguir a melhor das escolhas, deve-se atentar para
aquela palavra que, no caso concreto, transmita o significado exato que a
circunstância está exigindo.
Exemplificando: a idéia geral de morrer, é expressa diferentemente
por falecer (= notícia um tanto cerimoniosa); expirar (= linguagem
literária); perecer (= morte violenta); passar desta para a melhor
(= sentido religioso); dormir/sonhar eternamente (= imagem poética);
vestir o pijama de madeira (= gíria popular) etc.

OBS.: O linguajar jurídico, pela sua sobriedade:


1) Não se compadece com imagens poéticas, piegas ou religiosas,
nem muito menos vulgares ou extravagantes, ou ainda, com aquelas mais
apropriadas à desenvoltura jornalística; ex.:
O que vai mal no MP é o comportamento da “turma dos holofotes”...
De acordo com o princípio da proporcionalidade, a aplicação de qualquer das
penas previstas no art. 12, I/III da Lei nº 8.429/92, seria o mesmo que matar uma
formiga utilizando-se para tal mister de uma bomba atômica.
2) Deve evitar, quanto possível, a utilização de vocabulário pouco
conhecido mesmo entre pessoas cultas ou do ramo do Direito, quando
existem outros vocábulos que dizem a mesma coisa, a fim de fugir à pecha
de esnobismo; ex.:
Teria sido preciso que o recorrente tivesse colmatado (= preenchido as lacunas)
sua peça defeituosa , antes de apresentá- la ao tribunal.
As provas não se compuseram imbricadamente (= sobrepostas umas às outras).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 63

2. Palavra x idéia
É de se ressaltar que o significado exato da palavra somente pode ser
aquilatado no próprio contexto onde se acha situada, em razão da variedade
de sentidos que a palavra pode assumir em conseqüência de seu uso em
caráter denotativo ou conotativo – conceitos que se passam a definir e
exemplificar mais especificamente (v. VIII.1, 1.2, a):
a) Denotação – é o sentido usual (objetivo), como o vocábulo é
entendido comumente pelos usuários da língua; ex.:
O ladrão roubou todos os anéis de ouro (= metal precioso)que estavam
no cofre.
Porque o advogado perdera a chave (= peça que movimenta a lingüeta da
fechadura) do escritório, chegou atrasado à audiência.
O rapaz foi preso simplesmente porque era negro (= de cor preta).
b) Conotação – é o sentido figurado (subjetivo), que o autor quer
emprestar ao vocábulo (por meio das várias figuras estilísticas: metáforas,
comparações, símbolos etc.), quando então se desencadeiam sentimentos
variados (como os de apreço ou desprezo) ou associações de idéias de toda
espécie (como as de solenidade ou vulgaridade). Compare o sentido dos
vocábulos (em itálico) dos exemplos acima com o sentido que os mesmos
vocábulos passaram a adquirir nos exemplos abaixo:
O ladrão não ocultava o ouro (= opulê ncia) de seu luxo.
O advogado, por mais que estudasse a matéria, não conseguia encontrar a
chave (= o que decifra) do problema.
Foi uma injustiça aquela sentença negra (= tenebrosa).

3. Os entraves à propriedade vocabular


O emprego incorreto do vocábulo pode ser devido a vários fatores,
dentre os quais cumpre ressaltar:
a) A polissemia – é a multiplicidade dos sentidos denotativos que o
mesmo vocábulo pode ter (v. VIII.1, 1.2, b); ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 64

O advogado assinou a peça com a pena (= caneta) de seu pai.


O réu recebeu uma pena (= castigo) incomum na condenação.
Não valeu a pena (= proveito) o esforço do advogado na defesa do réu.
b) A homonímia – é a semelhança na pronúncia dos vocábulos, seja
do ponto de vista fonético (homofonia), seja do ponto de vista gráfico
(paronímia), mas sem identidade de sentido; ex.:
b.1) homofonia – ocorre quando a pronúncia é a mesma, mas com
pequena divergência na grafia; ex.:
O Magistrado de primeiro grau ascendeu (= subiu/foi promovido) ao
Tribunal de Justiça.
Não é lícito acender (= pôr fogo em) o cachimbo na sala de audiências.
Os argumentos do RESp eram um concerto (= harmonia) maravilhoso de
exposição.
Não há como conseguir o conserto (= correção) de um RESp tão
descabido.
Trata-se do instituto da cessão (= ato de ceder/transferir) de crédito.
O Tribunal suspendeu a sessão (= tempo de reunião do colegiado) por
meia hora, a fim de deliberar sobre os pontos de divergência
O funcionário deve ser citado na seção (= setor) do órgão público onde se
acha lotado.
O réu é acusado de grave s tachas (= máculas) em seu caráter.
“As taxas (= tipo de imposto) não poderão ter base de cálculo própria de
impostos” (CF, art. 145, § 2º);
b.2) paronímia – quando as palavras são parecidas, apenas, tanto na
escrita quanto na pronúncia; ex.:
O local do crime tinha o comprimento (= medida) de três metros
quadrados.
Receba V. Exª meus sinceros cumprimentos (= saudação) pela merecida
investidura no elevado cargo para o qual foi nomeado.
V. Exª já deferiu (= acolheu/concedeu) o pedido a fls., não sendo preciso
novo pedido a respeito.
V. Exª diferiu (= prorrogou) o prazo por mais três dias apenas.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 65

O juiz era reconhecido como um eminente (= ilustre) jurista.


A audiência estava iminente (= a ponto de ocorrer).
Não pode uma lei ordinária descriminar (= tirar do rol dos crimes) a usura,
constitucionalmente assim definida (CF, art. 192, § 3º).
Torna-se preciso discriminar (= diferenciar) as várias hipóteses presentes.
A quem erra se inflige (= comina/impõe) o merecido castigo.
Quem infringe (= viola/desrespeita) a lei é passível de suas sanções.
Na própria lei acha-se prescrito (= determinado) como proceder em tais casos.
O terrorista foi proscrito (= desterrado) de sua pátria.
As partes ratificaram (= confirmaram) seu anterior desejo de separar-se.
Os depoentes retificaram (= corrigiram) o teor de suas anteriores declarações.
Tratava-se de uma vultosa (= enorme) soma roubada.
Sua face vultuosa (= congestionada) denunciava, por si só, a gravidade dos atos
que praticara.
c) A sinonímia – é a existência de sentido bem aproximado ou
análogo ao de outro vocábulo (porque não há sinônimos perfeitos),
cumprindo a quem escreve selecioná-los ou dispô-los em gradação; ex.:
A vítima era uma moça linda, bela, charmosa, atraente, fascinante e por
isso atraiu a cobiça sexual do acusado.
Ainda hoje se discute qual a diferença entre moral e ética.
Autor e réu se encontram em plena oposição e antítese em suas posições.
d) A terminologia técnica – é a linguagem específica que o Direito
adota, como qualquer ciência o faz (cujo sentido diverge do linguajar
comum), inclusive com variantes de significação e uso próprio em seus
vários ramos; ex.:
Ao réu cumpre apresentar sua própria defesa (= contestação/refutação).
“A validade do ato jurídico requer... forma prescrita (= determinada) e não
defesa (= proibida) em lei” (CC, art. 82).
A ação acha-se prescrita (= desprotegida do direito de vir a juízo).
O juiz pronunciou (= reconheceu provada a existência do crime de) o réu.
O Juiz do Trabalho pronunciou (= anunciou oralmente) a sentença em
audiência.
O juiz exarou (= lavrou por escrito) sua sentença com firmeza.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 66

VIII.4 – QUALIDADES DO ESTILO: A LÓGICA

1. A lógica
É a exposição das idéias, de tal forma conexas, que os vocábulos as
expressem coesas dentro do período e estes se interliguem coerentemente
em parágrafos, formando uma unidade de sentido.

2. As fases do pensamento coerente


Três são as fases pelas quais se estabelece a coerência do
pensamento consigo mesmo: primeiramente, apreende-se uma idéia; em
segundo lugar, afirma-se ou nega-se uma relação entre duas ou mais idéias,
formando um julgamento ou juízo; e por último, perfaz-se o raciocínio, ou
seja, relacionam-se esses juízos, a fim de culminarem necessariamente
numa conclusão.
Ora, todas essas fases se processam ampliadas no ato de redigir.
Somente que uma peça jurídica, por sua natureza, tem uma
peculiaridade: ser a própria arte do diálogo – de um duplo diálogo, aliás:
em primeiro lugar, de um diálogo consigo mesmo, pois é diante de si que
se acha proposta a questão, cuja solução se impõe, obrigando a pensar por
si e para si mesmo, mesmo quando é preciso investigar elementos para a
própria convicção, onde quer que se encontrem; somente depois de
solucionada a situação problemática, é que o redator se encontrará à altura
de convencer seu receptor à distância, quando e onde a mensagem, caso
seja bem elaborada, se transformará num autêntico campo de discussão
entre ambos, como se estivessem presentes, face a face. Inútil, porém, se a
peça não tiver sido forjada com lógica, isto é, num travamento tão coeso
das idéias (nomeadamente na argumentação) e tão coerente entre seus
períodos e parágrafos, que a tornem idealmente irrespondível.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 67

3. Os métodos científicos do pensamento lógico


É lição dos grandes Mestres da Filosofia, Aristóteles e Tomás de
Aquino, que só dispomos de dois métodos para exercitar o nosso raciocínio
corretamente, e portanto, para o encadeamento lógico de nossas idéias: a
indução e a dedução, mediante as quais se obtêm as respectivas inferências.

3.1 A utilização do método indutivo


A indução ocorre quando se parte da experiência particular para a
regra geral, vale dizer, quando o alicerce se encontra nos fatos, tantas vezes
repetidos identicamente, que legitimam deles se tire a conclusão de que
uma norma geral deve reger os eventos. Sirva de exemplo corriqueiro: o
fato de que todo objeto material lançado para o espaço fatalmente vem a
cair, foi o suficiente para a ciência da Física extrair a lei gravidade.
Por isso é que, na peça jurídica, os fatos bastam ser expostos
objetivamente no relatório (v. VII.1), pois deles exsurgem naturalmente
as conclusões que a lei, devidamente interpretada pelo juiz, o obrigará a
aplicá-la inexoravelmente, segundo já previsto na sabedoria simples do
adágio jurídico: Da mihi factum, dabo tibi jus (= Dá-me os fatos, [que]
eu te darei o direito).

3.2 A utilização do método dedutivo


A dedução, por sua vez, ocorre quando se parte da generalização
para os casos específicos, vale explicar, quando se faz a aplicação de uma
norma de caráter geral para um fato concreto. Ora, a lei, por definição, é de
natureza abstrata e por isso genérica, porque elaborada exatamente para
incidir sobre tudo quanto ocorrer sob o seu âmbito, elucidada que será por
um Poder cuja incumbência é precisamente interpretá-la e aplicá-la. Daí
que tudo quanto for relatado inicialmente ao juiz terá de ser objeto da
discussão (v. VII.2) e síntese na conclusão (v. VII.3) da peça jurídica.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 68

a) O embasamento do método dedutivo – este se apóia nos princípios


da Lógica Formal, cuja corporificação reside no silogismo correto:
a.1) silogismo – é o argumento que resulta da comparação entre duas
premissas (a primeira de âmbito maior que a segunda), delas resultando
uma conclusão lógica pela identificação de um atributo comum a ambas;
ex. (o silogismo a seguir, como os do item a.2, abaixo, têm sua formulação
simplificada para melhor intelecção desses novos conceitos):
A lei deve ser obedecida por todos os cidadãos (premissa maior).
Ora, o Presidente da República é um cidadão (premissa menor).
Logo, a lei deve ser obedecida pelo Presidente da República (conclusão);
a.2) regras fundamentais do silogismo correto:
1ª) a conclusão não pode ter amplidão maior que as premissas; ex.:
A lei deve ser benéfica para o povo todo [em princípio, sim].
Ora, a lei dos bancos só é benéfica para estes [duvidoso].
Logo, a lei dos bancos não é lei [benéfica para o povo todo, sim];
2ª) de duas premissas negativas ou particulares nada se pode
concluir; ex.:
A greve dos funcionários não foi ainda legalmente regulamentada.
Ora, os funcionários não podem viver com os atuais salários.
Logo, ... [o quê?]; ou:
Quem residir no Brasil deve obedecer à nossa legislação.
Ora, os argentinos têm uma legislação própria.
Logo, ... [o quê?];
a.3) modalidades de silogismo correto:
1ª) silogismo categórico – é aquele em que a premissa maior afirma
ou nega pura e simplesmente, como nos exemplos acima;
2ª) silogismo hipotético – é aquele em que a premissa maior tem
caráter condicional, alternativo ou conjuntivo; ex.:
Se meu filho se formar em Direito, dar- lhe-ei um carro novo.
Ora, meu filho se bacharelou em Direito.
Logo, terá direito a que eu lhe dê um carro novo.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 69

Podendo o fato ser executado por terceiro, o credor [Pedro] será livre de
mandá-lo executar à custa do devedor (havendo recusa ou mora deste)
ou pedir indenização por perdas e danos.
Ora, o engenheiro [Paulo] se recusou a construir a casa conforme o
ajustado.
Logo, Pedro pode mandar construí- la à custa de Paulo.
Não pode o devedor de uma obrigação alternativa obrigar o credor a
receber parte em uma prestação, parte em outra.
Ora, o devedor obrigara-se a dar um apartamento de três quartos na asa
sul de Brasília ou seu valor, estimado em R$ 350.000,00.
Logo, não era lícito ao devedor pretender dar um apartamento de dois
quartos e uma indenização de R$ 80.000,00;
3ª) silogismo dilema – é aquele em que, seja qual for a alternativa, a
conclusão será sempre a mesma; ex.:
Ou o sentinela estava prestando guarda ou não estava.
Ora, se estava, cumpria- lhe impedir a entrada de estranhos no quartel; e
se não estava, não cumpria com o seu dever.
Logo, não pode pretender a declaração de injustiça de sua prisão;
4ª) silogismo epiquirema – é aquele em que as premissas são
acompanhadas de provas ou explicações (modo normal em que se redige
uma peça jurídica, podendo as conjunções ora e logo ser substituídas pelas
diversas partículas de conexão (v. 4.2, b.1/b.2, abaixo); ex.:
A irresignação do recorrente merece acolhida, já que a autoridade
judiciária não tem responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais
praticados: é que, embora seja considerada um agente público – que são
todas as pessoas físicas que exercem alguma função estatal , em caráter
definitivo ou transitório -, os magistrados se enquadram na espécie
agente político.
Ora, estes são investidos para o exercício de atribuições constitucionais,
sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas
funções, com prerrogativas próprias e legislação específica, requisitos,
aliás, indispensáveis ao exercício de suas atribuições.
Logo, tais agentes não agem em nome próprio, mas em nome do Estado,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 70

exercendo função eminentemente pública, de modo que não há como lhes


atribuir responsabilidade direta por eventuais danos causados a terceiros
no desempenho de suas funções. Com efeito, o magistrado, ao outorgar a
prestação jurisdicional, atuou em nome do Estado-Juiz, exercendo a
atribuição que lhe fora imposta constitucionalmente.
b) Contrafações do silogismo correto – não raro se tem
desmoralizado a feição silogística de nosso raciocínio, de propósito ou por
equívoco, mediante os assim chamados sofismas:
b.1) sofisma – é o raciocínio errôneo, mas com aparência de
verdadeiro, decorrendo de dois motivos: ou se raciocina mal partindo de
dados corretos, ou se raciocina bem partindo de dados falsos;
b.2 modalidades de sofisma:
1ª) o acidental pelo essencial e vice-versa – ocorre quando se toma o
atributo acidental pelo essencial e inversamente; ex.:
As tarifas especiais de energia elétrica constituem tributo em virtude de
sua compulsoriedade.
Ora, tal carga excessiva do tributo constitui confisco.
Logo, não podem ser impostas por vedação constitucional.
A essência do tributo está na contribuição pecuniária dos cidadãos, para a
manutenção dos serviços públicos, cuja compulsoriedade é de imposição
legal.
Ora, a essência das tarifas de energia elétrica é sua natureza contratual
administrativa, por ser a contraprestação de um preço público.
Logo, as tarifas especiais não constituem tributo, não podendo por isso
ser qualificadas de confisco;
2ª) a falsa analogia – ocorre quando se fazem deduções apoiadas
apenas nas semelhanças; ex.:
A expressão “ouça-se a outra parte” usa-se em contraposição a “não
sendo ouvida a outra parte”.
Ora, diz-se corretamente em latim: “Audiatur altera pars” para a
primeira expressão.
Logo deve-se dizer também: “Inaudita altera pars” para a segunda ;
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 71

3ª) a falsa causa – ocorre quando se toma uma mera circunstância


(como são, nomeadamente, o motivo ou o meio) pela causa verdadeira do
efeito; ex.:
A ciência tem demonstrado que o pensamento reside no cérebro.
Ora, Pedro sofreu uma grave lesão no cérebro.
Logo, ele não poderá mais pensar porque o cérebro é a causa do
pensamento;
4ª) a ignorância da questão (= ignoratio elenchi) - ocorre quando o
verdadeiro ponto do assunto é desviado ou quando se pretende provar mais
do que é devido; ora, qui nimis probat nihil probat (= quem prova demais
nada prova); ex.:
As obras públicas devem ser bem feitas e o mais baratas possível.
Ora, na licitação poderia sair vencedora uma firma pouco idônea,
podendo as obras ficar mais caras pela demora decorrente da licitação.
Logo, foram legítimas as obras concedidas sem licitação à firma X;
5ª) a petição de princípio (= petitio principii) - ocorre quando se dá
por suposto o que se deveria demonstrar, substituindo as provas por meros
circunlóquios pessoais sobre o assunto; ex.:
O Ministro Y apenas se utilizou de aeronaves da FAB, para empreender
viagem a cidades diversas.
Ora, se o fez foi a pedido do interesse público que sua Pasta exige.
Logo, tal deve ter-lhe sido deferido por ato normativo devidamente
baixado pelo Poder Público.

4. Como transformar o pensamento lógico em um texto lógico


Uma vez pensada corretamente a situação-problema e encontrada
mentalmente sua solução, tem lugar uma segunda etapa: como expressar
apropriadamente as idéias afloridas na mente dentro das orações; como
entrosar estas dentro dos períodos; e como conectá-los com os parágrafos –
de modo que resulte uma exposição una, pela propriedade dos conceitos e
pela lógica do encadeamento.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 72

4.1 A oração terminologicamente apropriada


As idéias concebidas devem ser vertidas pelos vocábulos precisos,
com a advertência de que as idéias importantes e fundamentais não venham
a ser deslustradas pelas acidentais e secundárias. Quer dizer, exige-se:
a) A absoluta propriedade vocabular – em razão da qual, visto não
existirem sinônimos perfeitos, é fundamental que num texto técnico se
encontre a equação entre as idéias e as respectivas palavras com que se
deseja representá-las, após uma laboriosa seleção. Mister, por isso, uma
obediência estrita às normas que regem a propriedade dos termos, não sem
uma cautelosa atenção aos entraves que a obstaculizam, não raro
propiciados pela própria língua (v. VIII.3).
Para a expressão dessa ou daquela idéia contribuem as diversas
categorias gramaticais, não sendo necessário arrolar uma série de
substantivos, adjetivos, verbos e advérbios, p. ex., que traduzam causa ou
efeito, concordância ou oposição, naturalidade ou ênfase, afirmação ou
negação, explicação ou retificação, continuidade ou conclusão etc., etc. -
pois tal escolha se faz de modo espontâneo, induzida pela inspiração do
momento e consentânea com o sentido do texto, oração por oração. Para
expressar a idéia de causa, p. ex., afloram naturalmente (ou através de
pesquisa nos dicionários) os substantivos causa, motivo, razão...; os verbos
causar, acarretar, provocar...; os adjetivos originado, permitido, gerado...;
os advérbios (ou suas locuções e orações) inesperadamente,
inopinadamente, correlatamente..., do modo esperado/imprevisto, como
era de esperar etc., numa multiplicidade impossível de prever-se; ex. (para
a idéia de causa):
Falta à ação o pressuposto de regular constituição e desenvolvimento
válido do processo.
Não podia o autor demandar sem outorga uxória, em decorrência do
art.10, caput, do CPC.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 73

Sujeita a rescisória à decadência, somente sua distribuição antes de


vencido o prazo poderia ensejar seu acatamento
b) O repúdio às digressões e pormenores inúteis – porquanto as
idéias devem ser expressas uma a uma, enfeixadas nas orações. Entretanto,
em qualquer oração deve existir uma idéia de conteúdo predominante para
o contexto, de cuja atenção tudo o que dissociar será contraproducente:
pois tal servirá apenas para embaralhar o leitor com o que é desnecessário
(já que não vem enfatizar a idéia central), por culpa exatamente de quem
não deveria propiciar essa confusão e que está demonstrando não saber
distinguir entre o essencial e as ninharias. Observe-se o exemplo abaixo
(onde não se consegue divisar, pelo menos à primeira vista, como deveria
sê-lo, o que aparenta ser a idéia-mestra [assinalada em verde], em meio a
tantas colaterais [em carmim] que não lhe conferem qualquer realce):
Isto posto, pela natureza da presente ação, denota-se que a mesma tem
natureza eminentemente sancionadora, que prescinde de regras claras no
delineamento de condutas passíveis de serem enquadradas em suas
penas, ainda mais no caso em tela, quando existe, dentro do
ordenamento vigente, regras autorizadoras do ora intitulado como
passível de “ato de improbidade administrativa”.

4.2 O encadeamento entre as orações, os períodos e os parágrafos


Não ocorrerá lógica na construção sintática das frases, se não se
perfizer a junção dos elementos do discurso, tanto dentro das próprias
orações, quanto fora delas: do contrário, resultará um texto solto, senão
desconchavado, em que as diversas unidades dão a aparência de
compartimentos estanques, em vez do que deveria ser – um texto onde
período após período, parágrafo após parágrafo devem mostrar-se de tal
forma integrados uns aos outros, que você se sinta impelido a ler o
subseqüente após haver lido o anterior.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 74

a) A coesão dentro da estrutura oracional – obtém-se por intermédio


de:
a.1) preposições (ou suas locuções) – cujo papel é acrescentar a um
nome ou pronome as mais diversas noções, como as de companhia,
instrumento, lugar, meio, posse, tempo etc., subordinando aqueles a outro
termo da mesma oração; ex.:
Também o juiz precisa de apoio para ser estimulado em suas funções.
O REsp foi interposto com fundamento no art. 105, III, a e c da CF, em
contraposição ao V. Acórdão a fls.;
a.2) conjunções aditivas (E e NEM) – quando servem para juntar
(meramente que seja) palavras do mesmo valor ou função sintática; ex.:
Ao Relator e a seus pares do Colegiado cabia decidir a apelação.
Nem o Relator nem seus pares podiam julgar o feito apressadamente.
b) A conexão fora da estrutura oracional – isto é, entre os períodos e
os parágrafos, é obtida por intermédio de:
b.1) conjunções coordenativas e subordinativas, pronomes relativos e
interrogativos indiretos – que dão origem às orações coordenadas e
subordinadas, com suas respectivas conseqüências estilísticas (v. ANEXO
II); ex.:
Ora, se o art. 85 do CC disciplina o caminho a ser seguido pelo juiz para
chegar à interpretação do negócio jurídico, é curial que a não
observância dessa via implica violação do dispositivo.
Sequer foi indigitado pelo agravante que cláusulas foram essas que
teriam sofrido mera interpretação gramatical ou cujos termos teriam sido
materialmente defeituosos; ou ainda, que cláusulas teriam sido
interpretadas isoladamente do contexto ou abstraindo das circunstâncias
factuais que antecederam a avença;
b.2) partículas de transição ou de referência (em geral advérbios e
suas locuções, as palavras denotativas, os pronomes relativos e
demonstrativos) – que servem para revelar que as mais variadas áreas
semânticas, como certeza, conclusão, continuação, dúvida, ênfase,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 75

exclusão, explicação, inclusão, propósito, proximidade, ressalva, resumo,


retificação..., se encontram entrosadas, se não semântica, pelo menos
psicologicamente (v. ANEXO IV); ex.:
A propósito de tal decisão, preciso é o comentário de C. A. S., no sentido
de que a decisão do STF constituiu indicação de severas restrições para o
legislador ordinário.
É que, de acordo com a nova sistemática introduzida, se negada a liminar
em ação coletiva movida contra o Poder Público, cabe agravo de
instrumento.
Infelizmente, Excelência, os fatos não tiveram a seqüência que era de se
esperar.

4.3 A lógica na narração e na descrição dos fatos


a) O gênero narrativo – é a feição típica do relatório, quando os
fatos são meramente expostos em sua objetividade (v. VII.1), e seqüência
cronológica, não cabendo a mistura novelesca dos eventos:
a.1) a exposição progressiva – isto é, quando os fatos são expostos na
ordem sucessiva em que foram ocorrendo normalmente: pois, em princípio,
de sua inversão poderia surgir o tumulto, prejudicial para o receptor da
mensagem; ex.:
Um retrospecto, a fim de se posicionar corretamente o problema. Propôs
a ora recorrente ação ordinária de indenização pelas perdas e danos a
que a recorrida que lhe teria dado causa, em virtude de ter anteriormente,
de modo abusivo, por meio de ação de busca e apreensão, retomado 46
máquinas industriais, as quais teve de devolver em cumprimento do V.
Aresto do Excelso Pretório, decidido que fora por este que somente as
instituições financeiras e os consórcios autorizados de automóveis é que
podiam utilizar-se do instituto da alienação fiduciária em garantia. A
recorrida contestou, alegando inexistir qualquer abuso ou ilegalidade no
seu procedimento, nas instâncias locais; e ofereceu, ainda, reconvenção,
pretendendo receber crédito seu, representado por prestações de valores
diversos que a reconvinda deixara de pagar, conforme confissão de
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 76

dívida. A sentença de 1º grau julgou improcedente o pedido e procedente


a reconvenção – decisões mantidas pelo V. Acórdão do qual ora se
recorre;
a.2) a exposição regressiva – isto é, quando a ordem dos fatos é
invertida, o que se justifica quando aquela só o é aparentemente; isto
porque às vezes o narrador, como opção sua, tem o último fato ocorrido
como o motivo e/ou o ponto de partida para sua manifestação no processo,
procedendo-se à exposição, por isso, de trás para diante; ex.:
Trata-se de recurso especial, com base no art. 103, III, a da CF, contra os
VV. Acórdãos de fls. (que julgou a apelação) e de fls. (que rejeitou os
respectivos embargos declaratórios). É que o recorrente foi objeto de
queixa-crime por difamação e injúria, que o MM. Juiz rejeitou por falta
de justa causa para a ação penal. Daí, o termo de apelação de fls., com as
razões de fls. A Eg. 1ª Câm. TACrRJ, porém, em v. u., rejeitou “a
preliminar ofertada pela Procuradoria de Justiça, provendo, por outro
lado, o apelo para receber a queixa-crime nos termos em que foi
proposta”. Daí, o presente recurso, como exposto inicialmente.
b) O gênero descritivo – é a exposição dos fatos, das pessoas e/ou
das coisas de modo pictórico, como se fosse um quadro ou uma fotografia:
por isso, é a feição preferente do direito penal, constituindo uma arte mais
difícil que a mera narração, porque deve traduzir imagens e os sentimentos
que delas decorrem; ex.:
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE
Às 03 h do dia 12/08/01, neste DF e na sede desta 2ª DP, onde se achava
presente o Sr. Delegado Fulano de Tal, comigo Inspetor de Polícia,
abaixo assinado, compareceu, na qualidade de condutor, Beltrano
(qualificar), que, tendo prestado o compromisso legal, assim respondeu
às inquirições da autoridade policial: que estava trabalhando na festa
MICARECANDANGA, nas proximidades da Torre de TV, quando viu o
autuado correndo em direção à vítima, que estava de costas, caminhando
juntamente com seu irmão X., ora 2ª testemunha, quando, subitamente, o
autuado subtraiu-lhe a mortalha e saiu em desabalada carreira; que o
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 77

condutor, que estava com mais quatro policiais, de imediato abordou o


ora autuado e ordenou que o mesmo parasse; que, após revista pessoal,
o condutor deu voz de prisão ao autuado e convidou a vítima e a segunda
testemunha para que comparecessem a esta Delegacia para os
procedimentos de praxe.

4.4 A lógica na argumentação


Se a finalidade precípua da peça jurídica é convencer, toda ela deve
confluir para a ordem dos argumentos na discussão (v. VII.2) e na sua
conclusão (v. VII.3) - mediante a utilização dos métodos indutivo e
dedutivo (v. 3.1/3.2, acima).
a) O processo indutivo – ex.:
O aspecto singular do Programa Emergencial de Redução do Consumo
de Energia Elétrica para os consumidores não-residenciais se
fundamenta na circunstância de que o consumo superior às respectivas
meta, caso não compensado com saldos acumulados em relação às
mesmas metas, será adquirido ao preço do Mercado Atacadista de
Energia Elétrica (MAE). Neste, o preço da energia é o que efetivamente
reflete e incorpora o custo do déficit do produto. Ora, este custo da
escassez constitui valor em muito superior à tarifa de 200% aplicada a
tão-somente 4% dos consumidores residenciais, pois os preços no MAE
alcançam valores de 300% a 1.000% superiores aos praticados nos
contratos de fornecimento a consumidores residenciais. Se, ao contrário
da preservação do consumo residencial, levado a efeito pelo Programa,
houvesse opção pela alocação puramente econômica ou via mercado da
energia elétrica, somente se manteria o fornecimento desta àqueles
setores que dispusessem de maior disponibilidade financeira para
adquiri-la. Assim, no que toca ao consumo elevado de consumidores
residenciais, pratica-se ainda – e como é devido – preços administrados e
subsidiados, absolutamente inferiores aos reais preços de mercado de
energia elétrica e que se afigurariam ainda mais elevados no atual
momento de escassez, decorrente de uma crítica situação hídrica. Tal
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 78

situação, ao se considerarem os distintos critérios que devem presidir o


fornecimento de energia elétrica para fins residenciais e econômicos,
realiza, em ótimo grau, o princípio constitucional da isonomia – como se
verá a seguir.
b) O processo dedutivo – ex.:
Alega-se que a fixação de tarifas especiais possuiria natureza tributária,
exigindo a edição de lei complementar para a sua disciplina, impondo a
observância do princípio da anterioridade e demandando o respeito à
proibição do confisco. Tais impugnações partem do pressuposto de que a
tarifa cobrada pelo fornecimento de energia elétrica possui natureza
tributária – o que, uma vez desfeito, comprometeria a consistência de
todas essas impugnações. Ora, o Código Tributário Nacional, em seu art.
3º, define tributo como “toda prestação pecuniária compulsória, em
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de
ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade plenamente
vinculada”. Quanto a esse caráter compulsório do tributo, face a face
com o das prestações contratuais, distingue-o muito bem o tributarista
HUGO DE BRITO MACHADO (Curso de Direito Tributário,
Malheiros, 14ª ed., SP, 1998, pág. 43):
“A prestação tributária é obrigatória. Nenhum tributo é
pago voluntariamente, mas em face de determinação legal, de
imposição do Estado. Não são tributos as prestações de caráter
contratual, pois a compulsoriedade constitui sua característica
marcante. É da essência do tributo. É certo que as prestações
contratuais também são obrigatórias, mas a obrigatoriedade,
neste caso, nasce diretamente do contrato, e só indiretamente
deriva da lei. Na prestação tributária a obrigatoriedade nasce
diretamente da lei, sem que se interponha qualquer ato de vontade
daquele que assume a obrigação.”
Dito isso, a interpretação da tarifa especial incorre em um erro
fundamental, uma vez que não constitui tributo, mas sim, espécie de
preço público denominada tarifa – pois o serviço encontra-se concedido
a terceiros. Cuida-se tão-somente – tal como a tarifa ordinária – de
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 79

contraprestação destinada a remunerar as pessoas jurídicas


(concessionárias ou permissionárias) que exploram os serviços de energia
elétrica. Não se destina, ademais, aos cofres públicos, característica
elementar das imposições de caráter tributário.
Expressiva, a manifestação do il. Ministro MOREIRA ALVES (em seu
voto vencedor) no RE nº 117.315-RS (RTJ 132/888):
“E essa tarifa é o preço público que corresponde à
contraprestação remuneratória por parte do usuário da prestação,
pela concessionária, desse serviço público facultativo, o que
implica dizer que é da essência dessa tarifa – como preço público
que é – ter como destinatrário o prestador do serviço que, com
ela, não só tem a justa remuneração de seu capital, mas também
dispõe de recursos para o melhoramento e a expansão de seus
serviços, bem como tem assegurado o equilíbrio econômico e
financeiro do contrato.
Se é da essência da tarifa – como preço público que é – ter como
destinatário o prestador do serviço, que dela se torna proprietário
para os fins aos quais ela visa por força do texto
constitucionalanteriormente referido e então vigente, quer isto
dizer que a sobretarifa, para ser um adicional da tarifa (e,
portanto, também preço público), há de ter o mesmo destinatário
– o prestador do serviço -, ainda que tenha por fim reforçar
apenas uma das parcelas (como é o caso da relativa ao
melhoramento e à expansão do serviço) que se levam em conta na
fixação de seu valor.”
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 80

ANEXO IV

PARTÍCULAS DE TRANSIÇÃO E DE REFERÊNCIA

1. Causa/efeito: daí, como/em/por conseqüência, por conseguinte, como resultado, por isso,
por causa de/disso, em virtude de/do que, assim, de fato, com efeito, porque, porquanto, pois,
visto que/como, em face disso/do que, iniludivelmente, como era de (s) esperar, como
2. Certeza: de/por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida
(alguma), inegavelmente, com (toda) certeza, certamente, não há que/como negar
3. Comparação: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo/maneira,
semelhantemente, similarmente, analogamente, por analogia, identicamente, mutatis mutandis,
de acordo com, de conformidade com, segundo, consoante, conforme, sob esse ponto de vista,
tão/tanto ... quanto/como, mais/menos (do) que, do mesmo modo que, semelhantemente
4. Conseqüência: por conseguinte, conseqüentemente, portanto, logo, então, em virtude
disso/do que, como resultado, em vista disso, em conclusão, por isso, devido ao que/a isso
5. Continuação: demais, ademais, além disso, ainda (mais/por cima), por outro lado,
paralelamente, também, outrossim, e, nem, não só/somente ... mas/como também
6. Contraste: ao/pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, porém, todavia,
contudo, não obstante (isso), por outro lado/ponto de vista, de outra parte, diversamente
7. Dúvida: talvez, quiçá, provavelmente, possivelmente, quem sabe?, é
provável/certo/verossímil, se é que, dir-se-ia, há quem diga/afirme, inacreditável, porventura
8. Esclarecimento: por exemplo (p. ex.), a saber, verbi gratia, verbis, litteris, id est, sic, por
estas/outras palavras, literalmente, ou por outra, mutatis mutandis, de lege lata/ferenda
9. Finalidade: a fim/com o fim de, com o propósito de, propositadamente, de propósito,
intencionalmente, a fim de que, para que, com o propósito/objetivo de, decididamente
10. Lugar: perto de, próximo a/de, junto a/de, dentro, fora, mais adiante, além, aquém, aí, ali,
acolá, neste/nesse/naquele (lugar/local/momento/situação), face a face (com), em frente (de)
11. Referência: este, esse, aquele, e isto/o que, por último/penúltimo/antepenúltimo, anterior,
posterior, conforme/segundo/consoante dito antes/depois (no item ... supra, infra)
12. Relevância: antes de mais nada, primeiramente, em primeiro (segundo...) lugar, mormente,
sobretudo, sobremodo, precipuamente, principalmente, primordialmente
13. Síntese: em suma/síntese/resumo, resumindo, em conclusão, enfim, afinal (de contas)
14. Surpresa: inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente,
surpreendentemente, de improviso
15. Tempo: então, enfim, logo, a seguir, imediatamente, após, pouco antes/depois,
anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, enfim, por fim, finalmente, agora,
atualmente, hoje, nesta data, neste momento, freqüentemente, constantemente,
eventualmente, às/por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo,
nesse meio tempo, no tempo em que, na ocasião em que, nesse ínterim, simultaneamente,
enquanto isso, quando, enquanto, antes que, depois que, assim que, logo que
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 81

VIII.5 – QUALIDADES DO ESTILO: A ÊNFASE

1. Como obter ênfase num período ou nas orações


A ênfase pode resultar de múltiplos processos, mas sobretudo da
inversão, da repetição e pleonasmos, das várias modalidades de
comparação e contraste, da gradação e da correlação, enfim.

2. A inversão
A inversão tanto pode ocorrer dentro do período, como dentro das
orações que o constituem.
a) A inversão das orações dentro do período – a qual ocorre ou
quando a oração principal é deslocada para o final do período ou nele é
intercalada, ou ainda, quando é interrompida por meio de locuções
adverbiais ou de orações subordinadas: pois tal implica, por sua vez, o
deslocamento destas ou daquelas de sua própria posição, a qual seria (como
regra geral) no final do período, caso fosse este construído na ordem direta
(a saber: oração principal + orações subordinadas substantivas + as
adjetivas + as adverbiais); ex.:
As cauções, entrementes, não havendo sido consideradas suficientes, o
MM. Juiz determinou [que] fossem substituídas por dinheiro corrente.
Deferida a medida liminar, com as informações do juízo impetrado o
ilustre Presidente da Corte tomou conhecimento de que os protestos dos
títulos já haviam sido tirados.
b) A inversão dos termos dentro da oração – a qual ocorre quando
subverte sua ordem direta (que seria: sujeito [+ adjuntos adnominais] →
predicado [+ complementos verbais] → complementos nominais e adjuntos
adverbiais); em vez dessa seqüência rígida, adquirirá realce o termo cuja
posição normal se inverter, desde que no lugar apropriado, conforme
sugestões que abaixo se propõem:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 82

b.1) no início do período - os verbos de ação ou o autor desta; ex.:


Estudou muito o vestibulando a fim de obter aprovação na UNB.
O assessor esforçou-se por compreender aquele assunto tão complexo;
b.2) no fim do período - o que for mais relevante em relação a uma
pessoa ou a um fato, tornando-se mais expressivos ainda se o período
concluir com palavra(s) final/ais tônica(s); ex.:
A denúncia estava toda dirigida a mostrar a maldade do réu.
Sem piedade, a vítima foi esfaqueada sete vezes;
b.3) antecipadamente - os predicativos (do sujeito e dos objetos
direto ou indireto) a seus verbos; ex.:
Extenuado, o Promotor veio a desmaiar no Júri.
A sentença condenou, atônito, um criminoso primário.
O pai do réu precisava, como sua, da absolvição do filho;
b.4) antecipadamente ou posteriormente - os adjetivos aos termos
(substantivos, pronomes) aos quais estão conferindo algum atributo (do que
resulta, às vezes, a modificação do próprio sentido daqueles); ex.:
O réu era um homem pobre.
O réu era um pobre homem.
Qualquer pessoa poderia ter praticado o atentado.
O atentado não poderia ter sido praticado por uma pessoa qualquer;
b.5) antecipadamente ou intercaladamente - os adjuntos adverbiais;
ex.:
De caso pensado, praticou a infração de trânsito.
O criminoso saiu, inesperadamente, correndo da audiência.
OBS.: A inversão enfática deve ceder à clareza ou à lógica, estas não
podendo ser prejudicadas por aquela.

3. O uso premeditado de repetições e pleonasmos


O excesso de palavras para traduzir determinada idéia só não será
vicioso se intencionalmente se objetivar um realce todo especial, afinal o
conseguindo, mediante os seguintes recursos:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 83

a) Repetições – são a reiteração dos mesmos termos; ex.:


A motivação é preceito de ordem pública: é pela motivação que o juiz
arma o raciocínio que o leva à solução das questões controvertidas; é
pela motivação que se dá a boa administração da Justiça, possibilitando
às partes fundamentarem, por sua vez, as razões do recurso; é pela
motivação séria que a Justiça se põe a coberto do arbítrio, da parcialidade
e da displicência na prestação jurisdicional.
b) Pleonasmos – são as repetições da mesma idéia mediante termos
vicários ou de sentido equivalente; ex.:
Magistrados irresponsáveis já não os existem mais, graças a Deus!
São brilhantes advogados, estes que hoje defendem os réus.
O que aqui foi testemunhado, Excelência, o foi por testemunhas visuais,
ou seja, foram fatos presenciados pelos próprios olhos das testemunhas,
e não, por terem elas ouvido falar de terceiros.

4. Comparações e contrastes
São processos mais apropriados para o discurso oral, máxime na área
do crime, quando o aspecto conotativo dos vocábulos e seu sentido
figurado adquirem grande força de convencimento, fazendo aflorar a
imaginação e a emoção (v. VIII.1, 1.2, a.2). Devem, por isso, ser usados
com parcimônia no discurso escrito.
a) Comparação – é a figura pela qual dois termos unem os seus
atributos por intermédio de uma partícula (como, tal, qual, tal e qual...);
ex.:
O criminoso partiu para sua vítima como um touro enraivecido.
b) Metáfora - é a figura pela qual se identificam dois seres distintos
por uma qualificação característica que se considera comum a ambos; ex.:
O criminoso não passava de um touro selvagem arremetendo contra sua
indefesa vítima.
A pobre moça, vinda do sertão, era de uma inocência angelical.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 84

OBS.: Devem-se evitar os clichês, por serem metáforas tão usadas que já
perderam qualquer interesse estilístico, e portanto, também sua força
expressiva; ex.:
Trata-se, Excelência, de um autêntico pródigo, que gasta rios de
dinheiro, como se não tivessem nenhum valor.
Vê-se destarte, Meritíssimo, que o réu é um homem de coração duro,
empedernido, incapaz de ter piedade de suas vítimas.
c) Contrastes – são as antíteses e oposições pelas quais se fazem
enfrentar as idéias entre si:
c.1) a antítese – a qual se define como uma idéia que é
expressamente contraditada pela outra com a qual se confronta, atingindo
às vezes o paradoxal; ex.:
Magistrado aposentado, acusado por sua esposa como autor de agressões
físicas contra ela, ponderou gozar de foro privilegiado, devendo por isso
o inquérito ser remetido ao Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
Mas o 1º Vice-Presidente da Corte entendeu que, por se tratar de juiz
aposentado, não mais gozava ele de foro privilegiado. O cerne da
questão reside, assim, em se decidir se o foro privilegiado de um juiz
persiste, não obstante já aposentado. Reza a Súmula 451 do STF que “A
competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime
cometido após a cessação definitiva do exercício funcional”. Contra-
argumenta a impetração, no entanto, que “A prerrogativa foi instituída
em razão do cargo e não do exercício da função. O cargo do magistrado
é vitalício, projetando-se pela aposentadoria afora”. Há um equívoco
nesses conceitos. É que, se há funções sem cargo (como as de certos
“agentes públicos” – chefes do Executivo e Parlamentares, p. ex.), não há
cargo sem função. Pois “Os cargos são apenas os lugares criados no
órgão para serem providos por agentes que exercerão suas funções na
forma legal. (...) As funções são os encargos atribuídos aos órgãos,
cargos e agentes” (Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo
Brasileiro, 14ª ed., RT, SP, 1989, pág. 66).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 85

Esperava-se uma sentença lógica: veio uma decisão atabalhoada;


aguardava-se uma sentença culta: chegou uma decisão superficial, que
não rechaçou a sólida argumentação apresentada; estava-se na
expectativa de pelo menos uma sentença justa: estarreceu-se com uma
decisão claramente tendenciosa, acobertando um compadrio
maldisfarçado;
c.2) a oposição – a qual se identifica pelas facetas várias que assume,
sintetizadas nas idéias mestras da adversidade ou da concessão. Traduzem-
nas expressamente as orações coordenadas adversativas e subordinadas
concessivas; e, implicitamente, as orações coordenadas assindéticas ou
sindéticas aditivas, assim como as orações adverbiais condicionais,
consecutivas, proporcionais e temporais, ou ainda, suas locuções
equivalentes (v. ANEXO II, A, 2 e 3, a/b e B, 4, c, d, f, h e i); ex.:
O advogado argumentou sério, mas não conseguiu convencer o juiz.
O advogado, embora tivesse argumentado sério, não convenceu o juiz.
O advogado argumentou sério, inutilmente: não convenceu o juiz.
O advogado argumentou sério e não conseguiu convencer o juiz.
O advogado, embora argumentando sério, não convenceu o juiz.
O advogado, apesar de ter argumentado sério, não convenceu o juiz.
O advogado, apesar de sua argumentação séria, não convenceu o juiz.
O advogado, por mais sério que tivesse argumentado, não conseguiu
convencer o juiz.
A argumentação, se apresentada séria, normalmente convence o juiz.
A argumentação, quando apresentada séria, normalmente consegue
convencer o juiz.

5. A gradação crescente ou decrescente das idéias


Essa gradação deve obedecer à relevância maior ou menor que as
idéias representam para o contexto, na concepção do autor; ex.:
Nula era a sentença, porquanto a fundamentação é um dos “requisitos
essenciais da sentença” (CPC, art. 458, II), não se descartando o juízo de
justificá-la, indicando “os motivos que lhe formaram o convencimento”
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 86

(CPC, art. 131, 2ª parte), ora havendo-se tornado, inclusive, de assento


constitucional (CF, art. 93, IX), pois o direito à ação é garantia
fundamental dos direitos individuais e coletivos (CF, art. 5º, XXXV).
A vítima foi barbaramente morta, após haver sido estuprada, maltratada
fisicamente e moralmente humilhada com adjetivos de baixo calão.
O Senado presencia estes fatos; o cônsul os vê: este [Catilina], porém,
vive. Vive? Muito mais que isso! Vem [pessoalmente] ao Senado; faz-se
participante de [nossas] públicas deliberações; anota e designa, com seus
próprios olhos, para a morte, a cada um de nós. (Cícero, 1ª Catilinária, I,
2 – apud CICÉRON, Les Catilinaires, Libr. Hachette, Paris, p. 4).

6. A correlação (prótase + apódose)


A correlação se dá quando a construção da oração é de tal forma, que
sua primeira parte cria a expectativa de uma segunda como a conclusão ou
conseqüência daquela. E tal ocorre tanto em algumas das orações
coordenadas - como nas aditivas, alternativas e conclusivas -, quanto nas
subordinadas - sobretudo nas comparativas, concessivas, condicionais,
consecutivas e proporcionais (v. ANEXO II, A, 3, a, c e d; B, 4, b, c, d, f e
h); ex.:
O réu, não somente não tinha razão, como também demonstrava um mau caráter.
Quer chova quer faça sol, o advogado tem de comparecer à audiência.
O magistrado na ativa goza de foro privilegiado: por isso, as peças
incriminatórias contra ele devem ser endereçadas ao Tribunal de Justiça do
Estado a que pertencer.
O ministro era uma pessoa tão modesta que ninguém imaginava os doutorados
que havia concluído nas melhores universidades estrangeiras.
Por menos dotes que tivesse, exibia-se como se fosse um grande sábio.
Caso tivesse apresentado seus títulos a tempo, de certo teria sido promovido a
titular da cadeira de Direito Civil que lecionava.
De tal forma se dedicou na defesa do preso político, que granjeou os parabéns
até de seus mais ferrenhos adversários.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 87

VIII.6 – QUALIDADES DO ESTILO: A HARMONIA

1. A harmonia
É a disposição ordenada e proporcional das partes da oração, de
molde a resultar um fluxo sonoro e agradável do texto.
O resultado dessa harmonia é a beleza do estilo, aquela faculdade
que provoca em quem escreve e em quem lê um sentimento especial, que
se pode denominar “emoção estética”. Pois, como definia Aristóteles: “O
belo [consiste] na grandeza [= no todo] [constituído] sobre a ordem” (= Tò
kalón ‘en meghéthei kaì táksei).

2. As palavras e o acento de intensidade


Em português, assim como em francês e nas línguas derivadas do
latim de um modo geral, bem como no alemão e no inglês, predomina o
acento de intensidade, em que os vocábulos se classificam em tônicos e
átonos. Para nós, tônicos, além de bom número de monossílabos, são os
vocábulos oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos, que se identificam pela
pronúncia mais intensa de uma determinada sílaba (a última, a penúltima
ou a antepenúltima), sendo que, em alguns vocábulos polissílabos
(derivados ou compostos) incide também uma sílaba subtônica (ex.:
circunvagar, boiada; passatempo, greco-latino). Já os átonos (a maioria dos
monossílabos e uns poucos dissílabos), como não têm autonomia fonética,
precisam apoiar-se procliticamente sobre a palavra tônica que se lhes segue
(ex.: os artigos o, a, um, uma; as preposições a, de, em, com, por, sem, sob,
para...; as conjunções como, e, ou, mas, que, se...), ou encliticamente
recostar-se sobre a palavra tônica que os antecede (ex.: os pronomes
oblíquos átonos o, a [lo, la, no, na], me, te, se, lhe, nos, vos): proclíticos ou
enclíticos integram-se, desta forma, aos ditos vocábulos tônicos; ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 88

O aluno perdeu qualquer controle de si.


(= O-aluno perdeu qualquer controle de-si).
Perguntaram- lhe por que nos olhava assim .
(= Perguntáram-lhe porquenos-olhava assim).

3. Os grupos fônicos
Ora, normalmente não se usam as palavras isoladas, pois seu destino
é encadearem-se sintaticamente em orações e períodos (v. II), dentro dos
quais espontaneamente formam grupos fônicos, como autênticas unidades
suas, em conseqüência da presença predominante das palavras tônicas, às
quais se agregam os vocábulos átonos, de pronúncia quase imperceptível.
À semelhança do que ocorre nas estrofes e nos versos das poesias clássicas
(mas sem a rigidez destas), esses grupos fônicos são regidos pelas
respectivas pausas rítmicas, que se impõem também na prosa, formando
fluxos de cadência sonora (de duração e extensão mais ou menos
proporcionais): são essas pausas, por um lado uma exigência da
respiração, fisiológica (na elocução oral) e psicológica (na escrita); e por
outro lado, uma exigência da mente, que precisa dar uma parada entre um
grupo fônico e outro, passo a passo ensejando ao emitente estruturar cada
novo pensamento e ao receptor a compreensão das mensagens enviadas
consecutivamente. Advirta-se, porém: nem sempre a pausa lógica, expressa
pelo sentido e pela pontuação, nomeadamente a vírgula, coincide com a
pausa comentada, de natureza fonética. No exemplo abaixo, a barra simples
indica a primeira e a dupla a segunda:
Da maior relevância, / ainda, / a natureza das normas legais / e
regulamentares, // invocadas pelo recorrente. // É que são elas /
claramente / administrativas, // endereçadas / sobretudo / às respectivas
conseqüências disciplinares. // O simples fato / da depredação de um
sinal de trânsito // não tem o condão de transmudar, / automaticamente, //
a natureza secundária de uma via. // Conseqüências de caráter cível /
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 89

podem advir, // nomeadamente/ a eventual responsabilidade do Estado //


pela não reparação imediata da sinalização. // Mas essas /são órbitas
independentes / da instância penal, // cujos crimes culposos foram /
inequivocamente / cometidos pelo recorrente, // em face de sua
imprudente atuação / no volante. // Valoração / por valoração, // mais
apropriada, / sem dúvida, // a dada pelo ilustre Colegiado, // com base, /
igualmente, // nas normas do Código Civil / e do Código Penal.//

3.1 Os grupos fônicos e a construção frasal


Quem escreve percebe de imediato que os períodos longos ou
caóticos, repletos de subordinação, não são desejáveis, quer por exigirem
uma elocução rápida dificultando a articulação correta das palavras, quer
por exigirem uma atenção incomum para seu leitor fictício (v. V, 2.2, a/b).
Percebe, de igual modo, que períodos curtos demais, fragmentados ou com
excesso de intercalações, com predominância da coordenação, provoca, ao
contrário, uma elocução por demais lenta, causando por um lado a
decomposição dos grupos fonéticos e, por outro lado, um tédio cansativo
no seu leitor imaginário (v. V, 2.1, a/b).
A culta Vernaculista DAD SQUARISI oferece uma receita prática
para se avaliar o índice de dificuldade ou de legibilidade de um texto
(Correio Braziliense, 09/06/02, Caderno “Coisas da Vida”, pág. 02):
“1. Conte as palavras do parágrafo.
2. Conte as frases (cada frase termina por ponto).
3. Divida o número de palavras pelo número de frases. Assim, você
terá a média da palavra/frase do texto.
4. Some a média da palavra/frase do texto com o número de
polissílabos.
5. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na
frase da língua portuguesa).
6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 90

Eis os possíveis resultados:


1 a 7: história em quadrinhos.
8 a 10: excepcional.
11 a 15: ótimo.
16 a 19: pequena dificuldade.
20 a 30: muito difícil.
31 a 40: linguagem técnica.
Acima de 41: nebulosidade.”

4. A pontuação em face das pausas fonéticas da melodia frasal


Quem escreve submete-se, também, a um processo psicológico
natural de um diálogo consigo mesmo e com um fictício leitor, sentindo
então a necessidade de um descanso em determinados momentos, nos quais
simultaneamente ocorre uma variegada modulação da voz (daí serem
chamadas pausas rítmicas).
Primordial papel exerce na agradável legibilidade de um texto, o uso
correto da pontuação, por meio de cujos sinais se imprime a
preponderância de uma certa pausa, acompanhada da respectiva elevação
melódica da voz, presa em geral a uma determinada emoção.
Observem-se as características gerais, decorrentes do emprego desse
ou daquele sinal de pontuação:
a) O ponto final/parágrafo – impõe(m) a maior de todas as pausas,
em voz descendente, para indicar que a idéia do período se consumou ou
que o pensamento dos vários períodos se extravasou por completo; ex.:
Se tais certidões não podem considerar-se “documento novo”,
constituem inequivocamente prova de inadimplemento, que também
ao juiz se ocultou e que este, inexperiente, por certo, deixou de
averiguar. Vê-se, em conclusão, que todo o processo originário,
explícita ou implicitamente, não passou de um seriado de atitudes
dolosas de um litigante de má fé, que se aproveitava da simplicidade
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 91

de um aldeão, numa frontal vulneração ao princípio geral do Direito,


que adverte não ser lícito lesar a ninguém.
b) A vírgula – deixa a voz em suspenso, elevando-a, para indicar,
contrariamente ao ponto final, que o sentido da frase ainda não se
completou: é, por isso, de primacial importância:
b.1) ao conferir ênfase média à idéia intercalada por vírgula e aos
termos elípticos que substitui; ex.:
Os circunstantes, atônitos diante daquele espetáculo horripilante, fugiu
em desabalada carreira.
Se o pagamento for a vista, haverá 30% de desconto; se [for] a prazo,
[haverá o desconto de] 20%;
b.2) ao separar dentro da oração (os termos da mesma função sintática
(apostos, vocativos, datas, lugares e partículas de transição ou denotativas,
de um modo geral); ex.:
E a família... tem por elementos orgânicos a honra, a disciplina, a
fidelidade, a benquerença, o sacrifício. (Rui Barbosa)
Isto foi asseverado pelo Dr. Fulano, Procurador Chefe da Região
Sudoeste.
Em face do que, Excelência, vem o autor requerer a esse MM. Juízo o
que passa a expor.
O fato ocorreu aqui em Brasília, aos 13 de maio de 2002, na sala 1.003
do Ed. das Princesas.
Antes de mais nada, deseja-se esclarecer a essa Colenda Corte que o
recorrente desistiu do REsp.
Tudo, ou melhor, quase tudo vem ocorrendo de modo insólito nessa
Vara;
b.3) ao separar entre si as orações coordenadas ou as subordinadas
adjetivas explicativas e as adverbiais; ex.:
Veja-se a modéstia do réu: reconhece sua culpa, envergonha-se dela.
O autor pretendeu provar o que afirmara, mas não o conseguiu.
A defesa, que fora tão brilhante, não recebeu o acatamento merecido.
Ainda que o quisesse, não conseguiria provar o alegado.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 92

A falta de consentimento do cônjuge deve ser suprida judicialmente,


observando-se o procedimento previsto nos arts. 1.103 e ss. do CPC.
c) O ponto-e-vírgula – indica uma frágil inflexão suspensiva,
semelhante à da vírgula mas inferior à do ponto final, unindo pensamentos
inconclusos dentro do período; ex.:
As certidões de fls. mostram que havia hipotecas antes da avença; e
outras constituídas após; e que se configurava a inadimplência do réu.
d) Os dois pontos - interrompem a frase para, numa pausa
semelhante à da vírgula, fazerem uma explicação ou uma enumeração; ex.:
“A morte não extingue : transforma; não aniquila: renova; não divorcia :
aproxima.” (Rui Barbosa)
e) Os parênteses – conferem uma pausa mínima, com uma débil
inflexão de voz descendente, denotando uma total ausência de ênfase,
porque têm uma finalidade secundária na oração: a de intercalar uma
indicação acessória; ex.:
Recursos especiais (fls. 392 e ss.; e 428 e ss.), interpostos com
fundamento na Constituição Federal/88 (art. 105, III, a e c), contra o V.
Acórdão proferido pelo Eg. Tribunal do Estado (2º GrCCTJSP).
f) O travessão – produz a pausa e ênfase máximas a determinado
excerto da oração, sendo pronunciado retto tono mas com vigor,
distinguindo-se o travessão duplo (no meio da frase) e o travessão simples
(antes do texto final); ex.:
A família do falecido vem dizer que ele sempre foi um militar às direitas
– e o demonstrou mais tarde ultimando tragicamente a vida em defesa da
pátria - , vindo por isso pleitear todas as promoções regulamentares a que
fizera jus em vida e que não recebera.
Isto, Excelência, era o que se queria dizer no arrazoado anterior – não se
devendo dar outra interpretação ao teor da peça.
g) A interrogação – faz elevar a voz, traduzindo as mais diversas
emoções, mas sobretudo a dúvida ou a inconformidade sobre determinada
situação (de cuja pergunta normalmente não se espera resposta); ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 93

Quem é esse réu tão perverso? Que sanção se lhe pode aplicar, ante as
monstruosidades de seu procedimento? Como é possível suportar sua
presença no meio da coletividade? E por que temos que tolerá- la?
h) A exclamação – implica também as mais variadas emoções
(embora sobreleve a admiração), e por isso, obedece às mais diversas
inflexões da voz, às vezes seguindo o ponto de interrogação e/ou
antecedendo às reticências; ex.:
Bem que se podia esperar do criminoso uma manifestação de pesar,
senão de arrependimento, pelo crime hediondo cometido contra uma
criança indefesa!...
Quem esperaria tal pecado por parte de um religioso, que tinha a missão
de induzir os fiéis à religiosidade?!
i) As reticências – interrompem a frase, sugerindo que o pensamento
não foi de todo expresso, deixando em suspenso a melodia frasal; ex.:
Aliás, a levar às últimas conseqüências a tese do V. Acórdão, os autores
da rescisória teriam de ter sido considerados carecedores da ação – e não
ser esta considerada improcedente, como o foi...
Para convencer o MM. Juízo, apresentaram-se provas testemunhais que
viram de perto o evento, juntaram-se documentos comprobatórios,
aduziram-se eminentes Civilistas, juntou-se a jurisprudência dos mais
Colendos tribunais... Não obstante, Sua Excelência...

5. Os vícios contra a harmonia da frase


Quem está escrevendo, sente igualmente natural repulsa ao encontro
desagradável dos vocábulos então utilizados – caracterizando os vícios
contra a harmonia da frase. Na construção desta ressaltam os vícios
decorrentes da mera contigüidade dos vocábulos e os resultantes dos finais
dos grupos fônicos – o que pode ser evitado mediante vários recursos,
como: a mera utilização de sinônimos; o simples deslocamento de uma ou
mais palavras empregadas; ou ainda, a alteração da construção sintática da
frase por uma outra equivalente.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 94

Dentre esses vícios destacam-se:


a) A cacofonia – a qual ocorre quando, da junção dos vocábulos,
resulta um som desagradável ou ridículo; ex.:
Por cada ato praticado contra a lei, impõe-se a respectiva sanção.
Corrija-se:
Por qualquer ato praticado contra a lei, ...
Cada ato praticado contra lei impõe a respectiva sanção.
b) A aliteração – a qual consiste na seqüência desagradável de
fonemas consonantais entre os vocábulos (o que ocorre geralmente com os
sons j, k, r e s); ex.:
Os jurados já jantaram antes de voltar ao Júri.
Neste caso ocorreu o que cada um pensou que podia fazer.
Ratificou o rábula suas rápidas razões.
Sem sermos sábios, somos seus admiradores.
Corrija-se:
Os jurados voltaram ao Tribunal após o jantar.
Ocorreu então que pensamento cada um podia fazer.
Confirmou o rábula suas breves razões.
Admiramos quem é sábio, embora não o sejamos.
c) O eco – o qual consiste na coincidência de rima na terminação dos
grupos fônicos mais próximos; ex.:
REsp em face de acórdão que extinguiu ação rescisória, // por falta da
chamada outorga uxória.
Corrija-se:
REsp em face de acórdão proferido em ação rescisória, // porque a
outorga uxória não fora prestada.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 95

IX- A CORREÇÃO

1. A correção
É a obediência às regras da gramática normativa, segundo os padrões
cultos.
Trata-se de uma submissão a um ideal estético, extraído da
linguagem das classes mais instruídas da sociedade, nomeadamente dos
grandes escritores, cujo modo de escrever dentro de determinadas normas,
observadas regularmente, foram convertidas pelos gramáticos em regras do
bem falar. E essas normas (que tendem para a rigidez) é que diferenciam a
maior ou menor liberdade que existe na expressão oral, mesmo das classes
cultas: com esta última não se compadece a linguagem escrita, máxime
quando se trata de um texto técnico, que se utiliza de nomenclatura própria
– como é um texto jurídico (v. I, 1/3).
Funestas são as conseqüências por se desobedecer a essas normas na
redação jurídica. É que, depois do penoso trabalho de planejar o todo (v.
VI, 1/2) e distribuí-lo em suas diversas partes (v. VII.1/VII.3); depois de
burilá-lo com clareza de expressão, concisão de linguagem, propriedade
dos termos, com lógica, ênfase e harmonia (v. VIII.1/VIII.6) – todo esse
esforço hercúleo resultará inútil, fazendo-o ruir, eis que seu autor perderá a
credibilidade pessoal e com ela a de seus argumentos, pelo deboche
carreado por um texto vernaculamente mal-amanhado.

2. Os vícios de linguagem
Como as palavras podem ser consideradas em si ou em seu
relacionamento sintático, apontam os gramáticos os erros cometidos contra
a linguagem escorreita, agrupando-os em vícios contra a palavra e contra a
sintaxe: são os chamados barbarismos e solecismos.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 96

2.1 Barbarismos
Consistem nos erros que incidem sobre uma palavra, viciada quer em
sua pronúncia (erros contra a Fonética), quer em sua forma (erros contra a
Morfologia), quer em sua significação (erros quanto ao sentido).
a) Os erros contra a pronúncia – são os cometidos contra a ortoépia
(ou ortoepia) ou contra a prosódia, não raro atraindo conseqüências sobre a
ortografia, nesta incluindo-se a acentuação gráfica:
a.1) os erros contra a ortoépia - isto é, contra a boa pronúncia da
palavra; ex.:
extinguir e não extingüir; fluido e não fluído; advogado e não adevogado;
óbolo e não óbulo; mendigo e não mendingo;
a.2) os erros contra a prosódia - isto é, contra a correta acentuação
tônica da palavra; ex.:
recém e não récem; avaro e não ávaro; aerólito e não aerolito;
ínterim e não interim; Madagáscar e não Madagascar.
b) Os erros contra a forma – são os cometidos (mais comumente)
contra as flexões do vocábulo ou contra seu gênero; ex.:
cidadãos e não cidadões; ricaço e não ricasso;
intervindo e não intervido; fizestes e não fizésteis;
se eu vir e não se eu ver; águo e não aguo; mobílio e não mobilio;
o grama (medida de peso) e não a grama (erva); o clã e não a clã;
o sanduíche e não a sanduíche; o telefonema e não a telefonema;
a dinamite e não o dinamite; a cal e não o cal.
c) Os erros contra a significação – são os cometidos contra o
verdadeiro sentido dos vocábulos, em geral por serem parônimos; ex.:
desapercebido (= desprovido) por despercebido (= desatento);
retificar (= corrigir) por ratificar (= confirmar);
espiar (= olhar) por expiar (= sofrer);
coser (= costurar) por cozer (= cozinhar);
fluir (= correr) por fruir (= desfrutar);
eminente (= insigne) por iminente (= prestes a acontecer).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 97

2.2 Solecismos
São os erros contra a sintaxe de concordância (nominal ou verbal),
de regência (nominal ou verbal) ou de colocação pronominal.
a) A sintaxe de concordância correta (regras gerais):
a.1) na concordância nominal – isto é, quanto à concordância do
adjetivo ou do pronome (antepostos ou pospostos) com vários substantivos
(de gênero e/ou número diferentes); ex.:
Calada a natureza, a terra e os homens. (Herculano)
Rótulo e notas traçadas pela mão erudita. (Eça)
Jó perdeu os filhos e filhas mortos e sepultados de um só golpe no
mesmo dia. (Vieira)
Salas e coração habita-os a saudade. (Alberto de Oliveira);
a.2) na concordância verbal – isto é, quanto à concordância do verbo
com a pessoa e o número do sujeito composto (anteposto ou posposto); ex.:
Eu, tu e José das Dornas devíamo-nos retirar. (Júlio Diniz)
Até hoje reinam a solidão e o deserto onde havia já a sociabilidade
humana. (Rui)
OBS.: Caso típico de concordância verbal é a do infinitivo pessoal
flexionado (v. ANEXO V), como um dos nossos idiomatismos lingüísticos.
b) A sintaxe de regência correta – se perfaz por meio das
preposições, cuja identificação suscita freqüentes dúvidas, as quais
somente os dicionários (sobretudo os especializados) são capazes de
elucidar:
b.1) na regência nominal – é a pedida por um substantivo, um
adjetivo ou um advérbio, resultando o conjunto no complemento nominal
(e, lato sensu, nos adjuntos adnominal e adverbial); ex.:
De Portugal passou ao Brasil a devoção à Virgem. (C. Laet)
O amor de Cristo para com S. João não se prova... (Vieira)
Os pretos sofriam como predestinados à dor. (M. Lobato)
Alfredo Gassiot segurou-se muito e convulsivamente amparado no
pescoço do amigo. (Camilo);
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 98

b.2) na regência verbal – é a pedida por um verbo, relativamente a


seus complementos (o objeto direto ou o indireto), obedecendo às seguintes
normas fundamentais:
b.2.1) o sujeito não se deixa reger por preposição – ex.:
É hora de a onça beber água. (Ditado)
Este livro é para eu ler. [Compare: Este livro é para mim.];
b.2.2) o objeto direto não se une ao verbo por meio de preposição (a
não ser excepcionalmente) e, sendo pronome pessoal, assume as formas
oblíquas átonas (me, te, se, nos e vos); ex.:
Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. (M. Assis)
Virgília cingiu-me com seus magníficos braços, murmurando: Amo-te, é
a vontade do céu. (M. Assis)
Deixai-o ir, ao velho fidalgo! (Rebêlo da Silva);
b.2.3) o objeto indireto une-se ao verbo por meio de preposição e,
em se tratando de pronome pessoal, pelos pronomes oblíquos átonos (me,
te, se e lhe) e tônicos (mim, ti, si, ele, nós e vós – os três últimos não sendo
considerados, então, pronomes pessoais retos); ex.:
Pareceu ao pobre lenhador sentir, naquele vento, o som de um choro...
(Eça)
Lúcio não atinava com essa mudança instantânea. (José Américo)
Aqui tem já Vossa Excelência três pessoas que lhe querem muito.
(Camilo)
Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros. (M. Assis)
A mim o que me deu foi pena. (Ribeiro Couto)
Lá vão os frades celebrar um auto! Não serei eu que assista a ele.
(Herculano)
A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós. (M.
Assis)
Para lhe obedecer já se apercebe. (Camões)
OBS.: Caso típico de regência (nominal ou verbal) é o da crase (v.
ANEXO VI).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 99

c) A sintaxe de colocação correta - obedece (mais comumente) aos


seguintes parâmetros:
c.1) pospõe-se o sujeito – nas orações reduzidas de particípio,
gerúndio, infinitivo; nas passivas pronominais; nas intercaladas,
interrogativas, exclamativas e optativas; ex.:
...acabado o almoço, a cólera estourou. (M. Assis)
Não aparecendo ninguém, teve idéia de bater. (M. Assis)
Não pé de espantar lerem os católicos pelos livros dos gentios. (Vieira)
Correram-se as cortinas da tribuna real. (R. Silva)
Cala-te, ímpio! – gritou Frei João irado. (R. Silva)
Por que não nasci eu um simples vaga- lume? (M. Assis)
Ai! ao relento, ai! ao relento, sonham cavadores! (G. Junqueiro)
Possas tu, descendente maldito..., seres presa de vis aimorés! (G. Dias);
c.2) antepõe-se o verbo – quando o sujeito é indeterminado pelo
pronome; e nas orações em que o verbo indica existência, tempo, distância,
peso, medida ou número; ex.:
Foi em março, ao findar das chuvas... (O. Bilac)
Aqui faz verões terríveis. (Camilo)
É mofina a condição dos povos em que faltam lavradores e sobejam
legisladores. (Marquês de Maricá);
c.3) antepõem-se, pospõem-se ou intercalam-se os pronomes
oblíquos átonos – dependendo da presença das palavras tônicas atrativas
que os apóiam ou sobre as quais eles se recostam (v. VIII.6, 2/3); ex.:
Os meus olhos rompiam a escuridão do horizonte, como se a luz do Sol
os iluminasse. (Herculano)
Deixai isso e dizei-me por que razão... (F. M. Melo)
E vir-me-ei assentar à sombra de uma azinheira. (B. Ribeiro)
OBS.: O sinclitismo pronominal (colocação dos pronomes oblíquos em
próclise, ênclise ou mesóclise), por sua complexidade, merece estudo à
parte (v. ANEXO VII).
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 100

ANEXO V

INFINITIVO FLEXIONADO E NÃO -FLEXIONADO

A) INFINITIVO NÃO -FLEXIONADO

1. Casos de infinitivo não-flexionado

1.1 Quando equivale a um substantivo (usado como mera forma nominal); ex.:
"Viver é lutar". (G. Dias).
"Era solene e tremendo o espetáculo que apresentava a gruta naquele alçar repentino
de tantos homens." (Herculano)
“Reformar e não inovar é o voto do legislador prudente.” (Marquês de Maricá)

1.2 Quando equivale ao imperativo; ex.:


"Cessar o fogo, paulistas!" (Júlio Ribeiro)
"Companheiros, despedir esta noite da montanha e das tristezas e aparelhar para
amanhã nos seguirdes." (Castilho)

1.3 Quando é complemento nominal (com sentido passivo) de um adjetivo precedido


da preposição DE; ex.:
"As cadeiras, antigas, pesadas e maciças, eram difíceis de menear." (Rui)
"Versos! são bons de ler, mais nada; eu penso assim." (M. Assis)

1.4 Quando, precedido de preposição (a, para, de, sem etc.) pertencendo a uma
locução verbal ou não, indica modo (equivalendo a um gerúndio), fim e outras
circunstâncias; ex.:
"Mandou Cristo à cidade os apóstolos... para trazer de comer." (Vieira)
"Se não és para dar-lhe honroso estado,
É ele para dar-te um reino rico." (Camões)
"... tinham nascido e morrido sem estiolar.” (Júlio Ribeiro).
"Todos no mesmo navio, todos na mesma tempestade, todos no mesmo perigo, e uns
a cantar, outros a zombar, outros a orar e chorar?" (Vieira)

1.5 Nas locuções verbais, isto é, quando, sem sujeito próprio, constitui-se o
infinitivo em verbo principal de um todo único, juntamente com um verbo auxiliar; ex.:
A) Modal – indicando:

a) capacidade: saber, poder ...


MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 101

b) necessidade: dever (de), ter de/que ...


c) vontade: desejar, querer, haver de ...
d) intenção: buscar, ousar, pensar, pretender, procurar, tentar ...
e) obtenção: conseguir, lograr ...
f) aparência: parecer ... (v. C, 5, abaixo); ex.:
"Fez-se no circo uns silêncios gélidos, tremendos e tão profundos, que poderia
ouvir-se até as pulsações do coração do marquês." (Rebêlo da Silva)
"Depois mostraram-lhe, um a um, os instrumentos das execuções e
explicaram-lhe por miúdo como haviam de morrer seu marido, seus filhos e o
marido de sua filha." (Camilo)
"Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação." (Rui)
"Pois, se ousais levar a cabo vosso desenho, eu ordeno que o façais."
(Herculano)
B) Acurativo – indicando:
a) início da ação: começar a, deitar a, entrar a, passar a, pegar a, pôr-se a,
principiar a ...
b) duração, repetição, hábito, continuação, progressão da ação: andar a,
costumar, estar a, gostar de, tornar a, viver a, voltar a...
c) término da ação: acabar de cessar de deixar de parar de ...
d) futuro próximo da ação: ir, vir; ex.:
"E o seu gesto era tão desgracioso, coitadinho, que todos, à exceção de Santa,
puseram-se a rir." (Álvares de Azevedo)
"Em Alcoentre os ginetes e corredores do exército real vieram escaramuçar
com os do infante..." (Herculano)
"Reduzido o Duque de Coimbra à condição de um simples particular,
começaram os seus inimigos a fazer-lhe todo o gênero de insultos..."
(Herculano)

B) INFINITIVO FLEXIONADO

1. Nas "locuções verbais"


Mesmo integrando locução verbal, pode o infinitivo ser flexionado - por motivo de
clareza, nos seguintes casos:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 102

a) Quando o infinitivo estiver longe do verbo auxiliar; ex.:


"Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis aimorés!" (G. Dias)
"As aves aquáticas redemoinhavam nos ares ou posavam sobre as águas e
pareciam, nos seus vôos incertos, ora vagarosos, ora rápidos, folgarem com
os primeiros dias da estação dos amores." (Herculano)
b) Quando o verbo auxiliar, expresso antes do primeiro infinitivo, se omite
diante dos demais (que então se flexionam); ex.:
"Mas a selva já começa a rarear, e os ginetes a resfolegarem com mais
violência." (Herculano)

2. Fora de "locução verbal"

2.1 Obrigatoriamente - quando o infinitivo tiver sujeito próprio expresso (substantivo


ou pronome [não-oblíquo]); ex.:
"Vivi o melhor que pude, sem me faltarem amigos." (M. Assis)
"Tu, Hermengarda, recordares-te?" (Herculano)
"Cerrai a porta, que há aí alguns vizinhos de andares altos, que já murmuram sermos
nós ruins gastadores de tempo." (Castilho)

2.2 Preferivelmente - por motivo de clareza (para evidenciar o sujeito) ou de realce


(para ressaltar o sujeito):
a) Quando o infinitivo tem sujeito próprio, mas não-expresso; ex.:
"... haviam de subtrair o monumento, sem o enfraquecerem." (Castilho)
Perdoe-te o céu o haveres-me obrigado a sacrificar aos pés desse orgulho o
sentimento de amor." (Herculano)
"... devem buscar-se, unir-se, completar-se, até irem, depois
d a m o r t e , f o r m a r uma só existência." (Herculano)

b) Quando o infinitivo está anteposto à oração principal; ex.:


"Virtude, sem trabalhares e padeceres, não verás tu jamais." (Bernardes)
"Duas, receosas de serem apanhadas pelo inimigo,
f u g i r a m n a s s u a s carretas." (Camilo)

c) Quando o infinitivo, posposto à oração principal, acha-se longe do verbo


desta; ex.:
"Foram dois amigos à casa de outro, a fim de passarem as horas da sesta."
(Bernardes)
"Entraste pela política, antes de a teres estudado." (Rui Barbosa)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 103

C) CASOS ESPECIAIS

1. Uso preferencial de infinitivo não-flexionado


Usa-se de preferência o infinitivo não-flexionado, quando seu sujeito (quer seja
um substantivo, quer um pronome reto ou oblíquo) é simultaneamente complemento
de um verbo:

a) Causativo - deixar, mandar, fazer...; ex.:


"O vento tépido, úmido e violento, fazia ramalhar as árvores do jardim."
(Herculano)
"Deixa-os morder uns aos outros, que é sinal de Deus se amercear de nós."
(Herculano)
"Ela nos recebeu com muita alegria e mandou-nos assentar em umas esteiras."
(Fernão Mendes Pinto)

OBS.: Mas há exemplos em contrário:


"...e deixou fugirem-lhe duas lágrimas pelas faces." (Herculano)
"...a tribulação sofrida com paciência nos faz termos a Deus por defensor e sermos
livres, soltos e desatados do amor e impedimento do mundo." (Heitor Pinto)

b) Sensitivo: ver, ouvir, sentir, olhar...; ex.:


"... o terror fazia-lhes crer que já sentiam ranger e estalar as vigas dos simples
..." (Herculano)
"Viu-os partir um herege." (Fr. Luís de Souza)
"Olhou para o céu, viu estrelas..., escutou, ouviu ramalhar as árvores."
(Herculano)

OBS.: Mas há exemplos em contrário:


"O pobre diabo sentiu enterrarem-se-lhe no corpo os milhões de agulhas."
(M. Assis)
"Eu vi as ondas engolirem-no." (Aníbal Machado)
"Porque eu quisera fundar assim uma escola, onde te sentasses, para ensinar
aos nossos compatriotas o exercício viril do Direito, ouvi ressoarem-me no
encalço os cantos heróicos do civismo." (Rui)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 104

2. Usos específicos dos infinitivos PARECER e VER-SE


Com os verbos PARECER e VER-SE (passiva pronominal), dá-se uma dupla
construção:

2.1 Usados impessoalmente - flexiona-se o infinitivo que os segue; ex.:


“Olhos desvairados, parecia buscarem o vulto lúgubre e tétrico da força." (Rebêlo da
Silva)
"A Virgem Maria nos acuda, que os senhores cavaleiros parece recuarem já."
(Herculano)
"Via-se as ervas crescerem nos pátios e eirados." (Rebêlo da Silva)

2.2 Usados pessoalmente - não se flexiona o infinitivo que os segue; ex.:


"Os tempos mais sombrios das facções romanas pareciam renascer." (Latino Coelho)
"Estátuas que parecem orar." (Herculano)
"...vêem-se já reluzir algumas estrelas." (Herculano)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 105

ANEXO VI

A CRASE E O "A" ACENTUADO

A) A CRASE PROPRIAMENTE DITA

1. O conceito de crase
a) No conceito geral - crase é a contração de duas vogais idênticas contíguas;
ex.:
vee (= venhen) > vêm; tee (= tenhen) > têm

b) No conceito gramatical - crase é a contração da preposição a com o artigo


definido feminino a(s); ou com os pronomes demonstrativos a(s) [= aquela/s];
aquele(s), aquela(s), aquilo, aqueloutro(s) e aqueloutra(s).
OBS.: A crase gramatical (a + a) é simbolizada graficamente pelo acento grave (`).

2. Casos de crase obrigatória

2.1 Condições para que ocorra crase - mister se faz que:


a) A palavra regente (verbo, substantivo, adjetivo, advérbio, locução
prepositiva) - exija a preposição a; e
b) A palavra regida - seja ou 1) um substantivo feminino (expresso ou elíptico)
que não rejeite o artigo definido feminino a antes de si; ou 2) um dos pronomes
demonstrativos: a(s), aquele(s), aquela(s), aquilo, aqueloutro(s), aqueloutra(s); ex.:
"... tomava o pulso à doente e pedia-lhe que mostrasse a língua." (M.Assis)
"Sujeitou a rima do primeiro verso à do segundo." (Herculano)
Dirigi-me àquelas pessoas, isto é, àqueles funcionários todos que estiveram
presentes.
Referiam-se àquilo que haviam combinado horas antes e àqueloutro contrato
de ontem.

2.2 Regras práticas - deve-se crasear o a na frase, quando:


a) Substituindo-se a palavra feminina por outra, masculina - o a se transforma
em ao; ex. (cotejando-se):
Fui à igreja/ao mercado.
És semelhante às moscas/aos gatos.
OBS.: Coteje-se (onde ocorre tão-somente a preposição a):
Julgas-te igual a Nossa Senhora/a Nosso Senhor?
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 106

b) Substituindo-se a preposição a por outra - surge o artigo feminino a: 1) quer


em combinação (na, da, pela, através da etc.), quer não (sob a, sobre a, para a, ante a
etc.); ex.:
Dirigiram-se à Itália/Vieram da Itália.
OBS.: Coteje-se (onde há só preposição):
Fez uma viagem a Copacabana/Deram um vôo sobre Copacabana.

3. Casos de crase facultativa:

3.1 Antes de pronomes-adjetivos possessivos (femininos); ex.:


“Trazendo à nossa cena as sublimes poesias líricas." (Herculano)
"Leve estes enfeites a minha neta." (Camilo)
OBS.: Modernamente, predomina a crase em tal caso.

3.2 Antes de nomes próprios de pessoa (femininos); ex.:


"... pedir à Fidélia que nos dê um pedaço de Wagner." (M. Assis)
"Estácio esperava uma ocasião de pedir a Eugênia a autorização que desejava."
(M. Assis)

4. Casos particulares

4.1 Antes da palavra CASA


a) Significando "residência" (própria ou alheia):
a.1) não há crase - se não houver qualquer adjunto adnominal determinando a
palavra CASA; ex.:
"Chegara a casa." (M. Assis)
"Voltando despeitada a casa, contou a albergueira o sucedido." (Camilo);
a.2) a crase é facultativa - se a palavra CASA tem adjunto adnominal
indicando seu dono ou morador, quer mediante locução de posse (preposição +
substantivo), quer mediante pronome possessivo; ex.:
"... levaram-me à casa de Capitu." (M. Assis)
"Aquelas duas senhoras... iam... a casa de D. Maria José." (Camilo)
"... permita-me que não a vá buscar à sua casa." (M. Assis)
"Amanhã, à hora da tarde que lhe convier, queira enviarmos a minha casa."
(Camilo);
a.3) a crase é obrigatória: se a palavra CASA for meramente determinada por
um adjunto adnominal (que não indique o dono ou morador); ex.:
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 107

"José Dias recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do
pobre." (M. Assis)
b) Significando prédio, casa comercial, instituição - a crase é obrigatória; ex.:
"Tenciono ir à casa nº 24 da Rua da Alfândega que está para alugar." (Mário
Barreto)
Dirigiram-se então à casa "O Rei dos Barateiros".
Enviou à casa (= convento) dos frades uma grande esmola.

4.2 Antes da palavra DISTÂNCIA


a) Quando especificada - com crase; ex.:
Divisamo-lo à distância de quinhentos metros.
Tudo era confuso a nossos olhos, àquela distância.
b) Quando indeterminada - sem crase; ex.:
Seguimos o carro a distância.
"Só o João conservava-se a respeitável distância da água." (C. Neto)

4.3 Antes da palavra HORA - usa-se a crase (mesmo precedida do numeral UMA);
ex.:
"Sucedia, muito amiúde, encetar eu a minha banca de estudo à uma ou às duas horas
da antemanhã." (Rui)

4.4 Antes da palavra TERRA


a) Significando terra firme ou terra natal - com crase; ex.:
Estava a ilha à terra tão chegada,
Que um estreito pequeno a dividia." (Camões)
b) Em contraposição a bordo (em linguagem náutica) - sem crase; ex.:
"Ele vendo que já lhe não convinha
Tornar a terra ..." ( Camões)

4.5 Antes de nomes próprios (femininos) de LUGAR (continentes, países,


províncias, estados, ilhas, cidades, bairros etc.); ex.:
a) Sem adjunto adnominal que os determine:
a.1) se o nome de lugar admite o artigo - usa-se a crase (na linguagem
moderna); ex.:
Ir à Europa, à Bélgica, à Espanha, à Bahia, à Andaluzia, à Irlanda, à Guarda, à
Itália, à Tijuca...
OBS.: Os clássicos empregavam ou omitiam o artigo antes dos nomes dos
continentes e de alguns países (como Assíria, Espanha, Escócia, Grécia, Holanda,
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 108

Inglaterra ...); a omissão dava-se sobretudo quando esses nomes de lugar vinham
preposicionados: daí, o ser lícito crasear ou não, diante de tais nomes;
a.2) se o nome de lugar rejeita o artigo - não se craseia; ex.:
Viagem a Paris, a Minas Gerais, a Copacabana.
b) Com adjunto adnominal que os determine - usa-se a crase, mesmo com
aqueles nomes de lugar que, sozinhos, rejeitam o artigo; ex.:
Chegamos à Roma dos primeiros cristãos.
Dirigi-me à alegre Campinas.

4.6 Depois de ATÉ - emprega-se a crase ou não, conforme se utilize (ou se julgue
utilizada pelo autor):
a) A preposição essencial ATÉ - sem crase; ex.:
"Foi, penetrou no paraíso, rastejou até a árvore do bem e do mal, enroscou-se
e esperou." (M. Assis)
b) A locução prepositiva ATÉ A - com crase; ex.:
"Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até às lágrimas, e disse com mui
entranhado afeto." (Camilo)
OBS.: Comparem-se esses exemplos quando se usa ATÉ e ATÉ A antes de palavra
masculina:
"Maria Regina acompanhou a avó ATÉ o quarto." (M. Assis)
"A Virgem das virgens serve no templo de Jerusalém desde os três anos até
aos quatorze anos de sua idade." (Castilho)

B) O PROBLEMA DO À (ACENTUADO)

As locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas - constituídas de palavras


femininas - ora aparecem "craseadas", ora não.

1. As locuções no plural - se a locução estiver toda no plural (artigo e substantivo),


trata-se de crase propriamente dita: pois, do contrário, ter-se-ia apenas a preposição a
antes do substantivo no plural (quer masculino, quer feminino); compare-se: às
escondidas, às pressas, às claras, a pauladas, a tiros; ex.:
"Camilo ensinou-lhes as damas e o xadrez e folgavam às noites." (M. Assis)

2. As locuções no singular - se a locução estiver no singular, divergem os


gramáticos (apoiados nos bons autores):
a) Uns defendem o à acentuado - quer por uniformidade, quer "por motivos de
clareza, quer para atender às tendências históricas do Idioma, independentemente da
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 109

existência de crase" (Rocha Lima), como: "apanhar à mão, cortar à espada, enxotar à
pedrada, fazer a barba à navalha, fechar à chave, ir à esquerda, à força de, à imitação
de, à maneira de, à medida que, à míngua de, à noite, à pressa, à proporção que, à
semelhança de, à toa, à ventura, à vista, à vista de..."; ex.:
"... não quero falar dos olhos molhados à entrada e à saída."(M. Assis)
“Trajava à moderna." (M Assis)
"Não a matei por não ter à mão ferro, nem corda, pistola, nem punhal.”
(M. Assis)
"Inácio chegou ao extremo de confiança de rir um dia à mesa..." (M. Assis.)

b) Outros defendem que nem todas as locuções devem ser acentuadas


(nomeadamente as que indicam modo, meio ou instrumento) - por não haver, em
geral, crase propriamente dita. Como justificativa, argumentam: como se diz: “comprar
a prazo”, logo deve-se dizer: “comprar a vista”; ou ainda: escrever a lápis; logo:
escrever a tinta etc. Entretanto, confessam esses gramáticos que "reina certa
indecisão entre os nossos melhores escritores, sendo preferível, em tais casos, evitar-
se o emprego do acento, quando o contexto não oferecer ambigüidade" (Artur de
Almeida Tôrres); ex.:
"Descobertos os matadores, condenaram-no à morte." (Herculano)
"A ciência condenou-a a morte breve." (Camilo)
"Condenado à morte. " (Rui)
"Como? mataste-a a faca?" (J. Ribeiro)
"Matou-o à faca." (Coelho Neto)
"Esquiva -se a morrer à fome." (Herculano)
OBS.: Compare-se, então, com o uso de locuções semelhantes, constituídas, contudo,
de palavras masculinas; ex.:
"... um armário de ferro, fechado a sete chaves." (M. Assis)
"... só se quer de coração aquilo que se paga a dinheiro." (M. Assis)

C) A PROIBIÇÃO DE CRASEAR

1. Não há crase

1.1 Antes de substantivo masculino; ex.:


Vende-se a prazo.
Obedeço somente a preceito correto.
OBS.: Emprega-se crase antes de palavra masculina, quando se acham elípticas as
expressões à moda de, à maneira de ou equivalente; ex.:
"Algum trovador renascença de colete à Joinville." (Garrett)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 110

1.2 Antes de palavra ou expressão (feminina) empregada indeterminadamente;


ex.:

Tudo ali sabia (= tinha o sabor de) a gordura.


"A casa, ainda em desordem, tresandava a terebentina." (Coelho Neto)
OBS.: Caso típico de indeterminação se verifica quando o vocábulo, estando no
plural, é precedido apenas de a (não "as"); ex.:
Fazes jus a férias?
"Veja isto a páginas 488, coluna 1ª." (Camilo)

1.3 Antes do artigo indefinido (uma[s]); ex.:


Chegamos, assim, a uma conclusão inesperada.
Retornamos a umas casas velhas que tínhamos visto.

1.4 Antes dos pronomes:


a) Demonstrativos - ESTA(s), ESSA(s), ISTO, ISSO; ex.:
Não o apresentarei jamais a essas senhoras.
"Reunia a isso um grande medo ao pai." (M. Assis)

b) Indefinidos - ALGUMA(s), CADA, CADA UMA, CADA QUAL, CERTA(s),


NADA, NENHUMA(s), QUALQUER/QUAISQUER, QUANTA(s), TAMANHA(s),
TANTA(s), TODA(s), UMA(s), (= certa/s, qualquer/quaisquer); ex.:
Aspiro a uma (= certa) coisa difícil de obter.
Visava a tamanha ambição, que se opunha a todas as pessoas que o
cercavam.
Deu a cada uma das alunas o merecido elogio.

c) Interrogativos - QUÊ?, QUAL/QUAIS?, QUANTA(s)?; ex.:


A que espécie de coisa te reportas?
Não sei a qual das meninas ele quer bem.
Afinal, a quantas coisas me obrigas?

d) Relativos - CUJA(s), QUE (não precedido do pronome demonstrativo A/AS),


QUEM; ex.:
Compareceu constrangido ao baile, a cuja festa fora convidado.
A pessoa a quem estimas não o sabe.
Não pôde fazer a prova a que se candidatara.
OBS.: Compare com os seguintes exemplos:
Das questões, refiro-me às (= a aquelas) que julgo irrespondíveis.
"Havia ali várias pessoas, mas à que (= aquela a que) devíamos ser
apresentados ainda não tinha chegado.” (João Luiz Ney)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 111

e) Pessoais - retos, oblíquos ou de tratamento (como V. Sª, S. Exª, Você etc.);


ex.:
Mulher orgulhosa, conferiu-se a si própria todos os caprichos.
Narrei o que sucedera a elas todas reunidas.
Reiteramos a V. Sª os protestos de nossa distinta consideração.
"Direi sinceramente a V. Exª que..." (Camilo)
OBS.: Exceção aos pronomes de tratamento fazem SENHORA(s), SENHORINHA(s),
SENHORITA(s); ex.:
"Queira falar à senhora Dona Maria Elisa." (Camilo)

1.5 Nas locuções constituídas de termos repetidos (como face a face, cara a cara,
gota a gota, uma a uma); ex.:.
"Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras." (M. Assis)
Deparei-me com o estelionatário cara a cara.

1.6 Antes de verbo - no infinitivo, nomeadamente; ex.:


"Ando a ver se ponho os vadios para a rua.” (M. Assis)
A tratarmos assim os pobres, melhor abandoná-los de vez.
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 112

ANEXO VII

SINCLITISMO PRONOMINAL

A) O PROBLEMA DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS


ÁTONOS E DO PRONOME DEMONSTRATIVO O (= ISTO)

1. Sinclitismo pronominal
Diz-se sinclitismo pronominal o conjunto de normas que regem a colocação
dos pronomes oblíquos átonos na oração. Trata-se de uma questão de fonética
sintática, pois “a pronúncia brasileira diversifica da lusitana” (Said Ali, Gramática
Secundária da Língua Portuguesa). Isto porque tais pronomes em Portugal são
pronunciados atonamente, enquanto que no Brasil são praticamente semitônicos. A
Gramática clássica, entretanto, conserva com certa rigidez alguns princípios
fundamentais, que abaixo serão expostos.
Segundo esses critérios – ditos cultos -, os aludidos pronomes devem observar
determinada colocação antes do verbo (próclise), depois do verbo (ênclise) ou no
meio de uma forma verbal (mesóclise).

B) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NAS FORMAS VERBAIS DO


MODO FINITO

1. A próclise – é obrigatória:

1.1 Nas orações negativas, interrogativas e exclamativas (precedidas das


respectivas partículas); ex.:
“Não me ocorre outro meio.” (Vieira)
“Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra ele.” (Rebêlo da Silva)
“Que lhe faremos?” (Garrett)
“Essa música onde se canta?” (F. Manuel de Melo)
“Quem Vos amara com todas as forças da alma!” (Bernardes)
“Quão enganada me trouxe!” (Bernardim Ribeiro)

1.2 Nas orações subordinadas desenvolvidas (integrantes, adjetivas e adverbiais);


ex.:
“O coronel Ferreira avisava-o de que se acautelasse.” (Camilo)
“Nunca nos esquecemos de nós, ainda quando parecemos que mais nos ocupamos
dos outros.” (Marquês de Maricá)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 113

“... disposição em tudo quanto se vê e se sente.” (Garrett)


“Não reproduzo suas palavras da maneira como as enunciou.” (M. Lobato)
“Não me desfazia deste objeto, nem que ele me oferecesse a própria Inglaterra com
todas as suas colônias.” (Coelho Neto)
“... caso se malograsse a tentativa entabulada.” (Rui)
OBS.: Com a conjunção integrante QUE ocorrem muitos exemplos de ênclise, mesmo
entre os clássicos; ex.:
“O certo é que em Lisboa ouvem-se os repiques.” (Vieira)
“Olhe que ele soube-me muito bem dizer.” (Júlio Diniz)

1.3 Após os advérbios de tempo, lugar, modo, dúvida e intensidade; ex.:


“Ainda nos resta por declarar a última cláusula...” (Vieira)
“Já me custava estar ali.” (M. Assis)
“Iremos para onde nos for mais cômodo.” (M. Assis)
“... tornam a assentá-lo donde o levantaram.” (Bernardes)
“Assim se deve crer e assim o (= isto) torno a afirmar.” (Vieira)
“Bem me parece.” (Francisco Manuel de Melo)
“Talvez os modestos me arguam...” (M. Assis)
“Talvez me desvaneça o amor do vinho...” (José de Alencar)
“Quem mais entendimento tem, mais se assombra.” (Bernardes)
“Muito se tem disputado...” (Castilho)

1.4 Após pronomes indefinidos de sentido quantitativo ou indeterminado; ex.:


“Dize, e todos te obedecerão.” (José de Alencar)
“Tamanho reclamo me impõe o dever extremo...” (Rui)
“... sendo as minhas mãos os fechos do livro, alguém as descruzava...” (M. Assis)
“Qualquer destes fins lhe vicia a obediência.” (Bernardes)

2. A ênclise – é obrigatória:

2.1 Quando o período inicia por um verbo; ex.:


“Salvou-o o Senado, segurando-lhe a pessoa...” (Rebêlo da Silva)
“Murmuram-me mais as folhas verdes que as dos periódicos.” (Castilho)

2.2 Nas orações imperativas afirmativas; ex.:


“Deixai isto e dizei-me por que razão...” (Manuel de Melo)
“Romano, escuta-me!” (Olavo Bilac)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 114

3. A Mesóclise – somente nos futuros do presente ou do pretérito:

3.1 Quando iniciam o período – obrigatoriamente; ex.:


“Ver-se-ão ermas e solitárias...” (Vieira)
“Restar-lhe-ia ao menos o consolo do desabafo.” (V. Coroacy)

3.2 Quando colocados no meio do período:


a) Se não precedidos de palavra proclisante - é lícita tanto a mesóclise quanto
a próclise; ex.:
“Se essa abóbada desabar, sepultar-me-á em suas ruínas.” (Herculano)
“A dignidade real sem ela ter-se-ia mal.” (Sá de Miranda)
“Os homens nos parecerão sempre injustos, enquanto o forem as pretensões
do nosso amor próprio.” (Marquês de Maricá)

b) Se precedidos de palavra proclisante - a próclise é obrigatória; ex.:


“Mas agora o fareis, agora o veremos.” (F. Manuel de Melo)
“Só cretinos lhe não preferiria a monarquia livre.” (Rui)

C) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONAS NAS FORMAS NOMINAIS

1. De infinitivo – usa-se a ênclise , como regra geral.

1.1 Não precedido de preposição nem de palavra proclisante – a ênclise é


obrigatória; ex.:
“Do que resultou declararem-no por Leitor de Artes.” (Fr. Luiz de Sousa)
“... chamá-lo à janela e vará-lo à traição com uma bala – era o traçado.” (Camilo)

1.2 Precedido de preposição (exceto A) ou de palavra proclisante:


a) Com o infinitivo flexionado – a próclise é obrigatória; ex.:
“... a hora propícia de dois corações se aproximarem.” (Camilo)
“Mas que mal fizemos, para nos fazerem esse desacato?” (Garrett)
“... em que todos andam, por se verem ser do mesmo metal.”
(F. Manuel de Melo)
“Vivi o melhor que pude sem me faltarem amigos.” (M. Assis)
“Persegui-o, até o encontrardes.” (Herculano)
“...longe de me protegerem, asselvajaram, frenesiaram contra mim a
maledicência.” (Rui)
“Então sentirás não te despedires de mim.” (Bernardes)
“Não há de que nos escandalizarmos.” (Rui);
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 115

b) Com o infinitivo flexionado (precedido da preposição a) e o não flexionado


(precedido de qualquer preposição ou de palavra proclisante) – é lícita tanto a próclise
quanto a ênclise; ex.:
“Parecia mais movimento de poder celestial que amor da terra o que os obriga
a o reconhecerem por santo e digno de tal veneração.” (Fr. Luiz de Sousa)
“Alumiemos-lhes o espírito que será ensinarmos-lhes a amarem-se e a
benfazerem-se.” (Castilho)
“Tinham-se animado a se estabelecer.” (José de Alencar)
“Corríamos a abraçar-nos com ela.” (Herculano)
“Tendes razão de me odiar mortalmente.” (Herculano)
”Preciso... de esmagar-te, para ao menos ter uma hora de paz...” (Herculano)
“Estão ociosos por lhe tardar a promoção.” (Vieira)
“Forcejava por obter-lhe a benevolência.” (M. Assis)
“... viver já sem te ver...” (Castilho)
“Respondi-lhe sem fitá-lo.” (Camilo)
“Porém, depois de se haver posto...” (Bernardes)
“Depois de apoderar-se do tímido soberano...” (Latino Coelho)
“Aqui tens... onde te acolher.” (Bernardes)
”Não vê-lo é dano meu, blasfemá-lo é injúria sua.” (Vieira)

2. De gerúndio

2.1 Não precedido da preposição EM nem de palavra proclisante - é obrigatória a


ênclise; ex.:
“... e devorava o touro com a vista chamejante, provocando-o para o combate.” (Rebêlo
da Silva)

2.2 Precedido da preposição EM – é obrigatória a próclise; ex.:


“Em se gastando em benefício do povo tudo o que do povo se tira...” (Vieira)

2.3 Precedido de palavra proclisante - é lícita tanto a próclise quanto a ênclise; ex.:
“Vendo-vos olhos sobejam;
Não vos vendo, olhos não são.” (Camões)
“Nem abrindo-se as ondas encolhidas
Soltas em branca escuma nos penedos.” (Rodrigues Lobo)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 116

3. De particípio

3.1 Fora de locução verbal – não é permitida nem a próclise nem a ênclise, devendo-
se substituir o pronome átono pelo tônico correspondente (precedido de preposição);
ex.:
“As andorinhas, desde esse dia, voaram despercebidas para mim.” (Camilo)
“Viu-se adorado nas imagens suas; viu-se imitado, refletido nelas.” (Garrett)
“Obra incomparável no seu gênero, desconhecida, creio eu, entre nós.” (Rui)

3.2 Dentro de locução verbal:


a) É obrigatória a próclise relativamente ao verbo auxiliar – precedida a locução
de preposição ou de palavra proclisante; ex.:
“Não lhe estava agora preso por nenhum outro vínculo.” (M. Assis)
“...sobre cuja humilhante crueldade se tinha querido baixar o véu da vergonha.”
(Rui)
“Antes que a Igreja e sobretudo os jesuítas se tivessem interposto...” (Eduardo
Prado)

b) É lícita a próclise, a ênclise ou a mesóclise relativamente ao verbo auxiliar –


não precedida a locução de preposição ou de palavra proclisante; ex.:
“Os lábios não podiam levantar de cima do coração o resto daquela frase
monstruosa: ela lho havia esmagado.” (Herculano)
“Pouco a pouco tinha-se inclinado.” (M. Assis)
“Ter-se-ão dado algumas circunstâncias especiais.” (Evanildo Bechara)

D) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NAS LOCUÇÕES VERBAIS

1. O pronome oblíquo não pode ficar “solto” entre dois verbos


Quando o pronome átono se encontra diante de uma locução (verbo auxiliar e
forma nominal), deve-se obedecer às regras anteriores sobre a próclise, a ênclise ou a
mesóclise; ex.:
“Também tu me queres deixar?” (Garrett)
“... não se exercendo a caridade, pode-se ganhar a vida...” (M. Assis)
“... devia ele, se não fora cego, ter-nos mão.” (Castilho)
“Deixar-me-ei estar aqui.” (B. Ribeiro)
“... beijos se vão dando.” (Camões)
“... eu ia-me esquecendo... talvez me esquecesse...” (Garrett)
“Não é isso: é que vos tenho lido nos olhos...” (Garrett)
“Pouco a pouco tinha-se inclinado.” (M. Assis)
“ Não me tendo escutado em 1893...” (Rui)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 117

SUMÁRIO

I - A REDAÇÃO JURÍDICA 2

1. A linguagem oral e escrita 2


2. O linguajar jurídico 2
3. A finalidade da linguagem jurídica 3
4. Os meios necessários ao convencimento 3
5. O âmbito da obra 4

II - FRASE x ORAÇÃO 5

1. A frase 5
2. Frase nominal 5
3. Frase oracional 6

ANEXO I 7

A) PREDICADO x PREDICATIVO 7

B) ORAÇÕES SEM SUJEITO 8

III - O PERÍODO 9

1. Período 9
2. Período simples 9
3. Período composto 9

ANEXO II 10

A) PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO 10

1. A coordenação 10
2. A coordenação assindética 10
3. A coordenação sindética 10

B) PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO 12

1. A subordinação 12
2. Orações subordinadas substantivas 12
3. Orações subordinadas adjetivas 13
4. Orações subordinadas adverbiais 14

IV - A UTILIZAÇÃO ESTILÍSTICA DOS PROCESSOS SINTÁTICOS 16

1. O processo coordenativo 16
2. O processo subordinativo 16
3. Oração principal 17
4. Outras estruturas frasais 18
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 118

V - O PARÁGRAFO 20

1. Parágrafo 20
2. Defeitos na redação do parágrafo 20
2.1. Abuso de coordenação 20
2.2. Abuso de subordinação 21
2.3. Assimetria frasal 22

VI - O PLANEJAMENTO 25

1. A redação 25
1.1. A preparação remota 25
1.2. A preparação próxima 25
2. Fases do processo de escrever 27
2.1. O rascunho 27
2.2. A correção 27
2.3. A redação final 31

VII - AS PARTES CONSTITUTIVAS DA REDAÇÃO 32

1. O intróito da redação jurídica 32


2. As partes constitutivas da redação jurídica 32

VII.1 O RELATÓRIO 33

1. A natureza do relatório 33
2. Os procedimentos na petição inicial ou na contestação 33
3. Os procedimentos nos recursos 34

VII.2 A DISCUSSÃO 36

1. A natureza da discussão 36
2. A fixação do tema 36
3. O desenvolvimento do tema 36

VII.3 A CONCLUSÃO 43

1. A natureza da conclusão 43
2. A reiteração do teor do tema 43
3. A técnica da reiteração do tema 43

ANEXO III 48

A) OS TEMPOS VERBAIS 48

1. Os tempos verbais 48
2. O presente 48
3. O pretérito 48
3.1. O pretérito imperfeito 49
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 119

3.2. O pretérito perfeito 49


3.3. O pretérito mais-que-perfeito 49
4. O futuro 49

B) OS MODOS VERBAIS 50

1. Os modos verbais 50
2. O indicativo 50
3. O subjuntivo 50
4. O imperativo 51

C) OS ASPECTOS VERBAIS 51

1. Os aspectos verbais 51
2. Os variados matizes das locuções verbais perifrásticas 52

VIII.1 - QUALIDADES DO ESTILO: A CLAREZA 53

1. A clareza 53
1.1. A clareza interna 53
1.2. A clareza externa 53
2. A clareza gráfica 57

VIII.2 - QUALIDADES DO ESTILO: A CONCISÃO 59

1. A concisão 59
2. Caracterização 59

VIII.3 - QUALIDADES DO ESTILO: A PROPRIEDADE 62

1. A propriedade 62
2. Palavra x idéia 63
3. Os entraves à propriedade vocabular 63

VIII.4 - QUALIDADES DO ES TILO: A LÓGICA 66

1. A lógica 66
2. As fases do pensamento coerente 66
3. Os métodos científicos do pensamento lógico 67
3.1. A utilização do método indutivo 67
3.2. A utilização do método dedutivo 67
4. Como transformar o pensamento lógico em um texto lógico 71
4.1. A oração terminologicamente apropriada 72
4.2. O encadeamento entre as orações, os períodos e os parágrafos 73
4.3. A lógica na narração e na descrição dos fatos 75
4.4. A lógica na argumentação 77

ANEXO IV 80

PARTÍCULAS DE TRANSIÇÃO E DE REFERÊNCIA 80


MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 120

VIII.5 - QUALIDADES DO ESTILO: A ÊNFASE 81

1. Como obter ênfase num período ou nas orações 81


2. A inversão 81
3. O uso premeditado de repetições e pleonasmos 82
4. Comparações e contrastes 83
5. A gradação crescente ou decrescente das idéias 85
6. A correlação 86

VIII.6 - QUALIDADES DO ESTILO: A HARMONIA 87

1. A harmonia 87
2. As palavras e o acento de intensidade 87
3. Os grupos fônicos 88
3.1. Os grupos fônicos e a construção frasal 89
4. A pontuação em face das pausas fonéticas da melodia frasal 90
5. Os vícios contra a harmonia da frase 93

IX - A CORREÇÃO 95

1. A correção 95
2. Os vícios de linguagem 95
2.1. Barbarismos 96
2.2. Solecismos 97

ANEXO V 100

INFINITIVO FLEXIONADO E NÃO FLEXIONADO 100

A) INFINITIVO NÃO FLEXIONADO 100

1. Casos de infinitivo não flexionado 100


1.1. Quando equivale a um substantivo 100
1.2. Quando equivale ao imperativo 100
1.3. Quando é complemento nominal 100
1.4. Quando, precedido de preposição, indica modo 100
1.5. Nas locuções verbais, sem sujeito próprio 100

B) INFINITIVO FLEXIONADO 101

1. Nas “locuções verbais” 101


2. Fora de “locução verbal” 102
2.1. Obrigatoriamente 102
2.2. Preferivelmente 102

C) CASOS ESPECIAIS 103

1. Uso preferencial do infinitivo não flexionado 103


2. Usos específicos dos infinitivos PARECER e VER-SE 104
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 121

2.1. Usados impessoalmente 104


2.2. Usados pessoalmente 104

ANEXO VI 105

A CRASE E O “A” ACENTUADO 105

A) A CRASE PROPRIAMENTE DITA 105

1. O conceito de crase 105


2. Casos de crase obrigatória 105
2.1. Condições para que ocorra crase 105
2.2. Regras práticas 105

3. Casos de crase facultativa 106


3.1. Antes de pronomes-adjetivos possessivos (femininos) 106
3.2. Antes de nomes próprios de pessoa (femininos) 106

4. Casos particulares 106


4.1. Antes da palavra CASA 106
4.2. Antes da palavra DISTÂNCIA 107
4.3. Antes da palavra HORA 107
4.4. Antes da palavra TERRA 107
4.5. Antes de nomes próprios (femininos) de LUGAR 107
4.6. Depois de ATÉ 108

B) O PROBLEMA DO À (ACENTUADO) 108

1. As locuções no plural 108


2. As locuções no singular 108

C) A PROIBIÇÃO DE CRASEAR 109

1. Não há crase 109


1.1. Antes de substantivo masculino 109
1.2. Antes de palavra ou expressão (feminina) empregada 110
indeterminadamente
1.3. Antes do artigo indefinido 110
1.4. Antes dos pronomes 110
1.5. Nas locuções constituídas de termos repetidos 111
1.6. Antes de verbo 111

ANEXO VII 112

SINCLITISMO PRONOMINAL 112

A) O PROBLEMA DA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES PESSOAIS 112


OBLÍQUOS ÁTONOS E DO PRONOME DEMONSTRATIVO O
(= ISTO)
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 122

1. Sinclitismo pronominal 112

B) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NAS FORMAS 112


VERBAIS DO MODO FINITO

1. A próclise 112
1.1. Nas orações negativas, interrogativas e exclamativas 112
1.2. Nas orações subordinadas desenvolvidas 112
1.3. Após os advérbios de tempo, lugar, modo, dúvida e intensidade 113
1.4. Após pronomes indefinidos de sentido quantitativo ou indeterminado 113
2. A ênclise 113
2.1. Quando o período inicia por um verbo 113
2.2. Nas orações imperativas afirmativas 113
3. A mesóclise 114
3.1. Quando os futuros iniciam o período 114
3.2. Quando os futuros são colocados no meio do período 114

C) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NAS FORMAS 114


NOMINAIS

1. De infinitivo 114
1.1. Não precedido de preposição nem de palavra proclisante 114
1.2. Precedido de preposição (exceto A) ou de palavra proclisante 114
2. De gerúndio 115
2.1. Não precedido da preposição EM nem de palavra proclisante 115
2.2. Precedido da preposição EM 115
2.3. Precedido de palavra proclisante 115
3. De particípio 116
3.1. Fora de locução verbal 116
3.2. Dentro de locução verbal 116

D) A COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS NAS LOCUÇÕES 116


VERBAIS

1. O pronome oblíquo não pode ficar “solto” entre dois verbos 116
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 123

BIBLIOGRAFIA

AGUIAR, Martinz de – Notas e Estudos de Português, 1ª ed., Fortaleza, 1942

ALI, M. Said

- Dificuldades da Língua Portuguêsa, 5a ed., Rio, 1957

- Gramática Histórica da Língua Portuguêsa, 3ª ed., SP, 1964 (1963)

- Gramática Secundária da Língua Portuguêsa, 7ª ed., SP, 1963

- Meios de Expressão e Alterações Semânticas, Rio, 1930

ARISTÓTELES – Arte Retórica e Arte Poética (trad. Antônio P. Carvalho), Rio, 1966

BAILLY, A . – Dictionnaire Grec Français, 28e ed., Paris, 1966

BARRETO, Mário

- Factos da Língua Portuguêsa, Rio, 1954

- Através do Dicionário e da Gramática, 3ª ed., Rio, 1954

- Últimos Estudos, Rio, 1944

- De Gramática e de Linguagem, 2a ed., Rio, 1955

BARROS, Albertina Fortuna – A Lógica da Língua, Rio

BECHARA, Evanildo

- Lições de Português pela Análise Sintática, 3a ed., Rio, 1964

- Moderna Gramática Portuguêsa, 8ª ed., SP, 1963

BERGO, Vittorio – Erros e Dúvidas de Linguagem, 5ª ed., Juiz de Fora, 1959

BITTAR, Eduardo C. B. – Linguagem Jurídica, SP, 2001

BRUGGER, Walter – Dicionário de Filosofia (trad. Antônio P. Carvalho), SP, 1962

BUENO, Francisco da Silveira

- Estudos de Filologia Portuguêsa, 4ª ed., SP, 1963

- Grande Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguêsa (8 vols.), SP, 1963– 967

CÂMARA JR., J. Mattoso

- Princípios de Lingüística Geral, Rio, 1959

- Dicionário de Fatos Gramaticais, Rio, 1956

- Contribuição para a Estilística Portuguêsa, 2ª ed., Rio, 1953

- Para o Estudo da Fonêmica Portuguêsa, Rio, 1953

- Manual de Expressão Oral e Escrita, Rio, 1961


MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 124

CEGALLA, Domingos Paschoal – Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 32ª ed., SP, 1989

CHAVES DE MELO, Gladstone – Iniciação à Filologia Portuguêsa, 2a ed., Rio, 1957

COUTINHO, Ismael de Lima – Pontos de Gramática Histórica, 5ª ed., Rio, 1962

CUNHA, Antônio Geraldo da – Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio,

1982

CUNHA, Celso Ferreira da – Gramática da Língua Portuguesa, Rio, 1972

DAMIÃO, Regina Toledo/ HENRIQUES, Antonio – Curso de Português Jurídico, 8ª ed., SP, 2000

EPIFÂNIO DA SILVA DIAS, Augusto – Syntaxe Histórica Portuguêsa, 4a ed. Lisboa, 1959

FERNANDES, Francisco

- Dicionário Brasileiro Contemporâneo, 2ª ed., Porto Alegre, 1960

- Dicionário de Verbos e Regimes, 4ª ed., Porto Alegre, 1969

FERNANDES, Francisco/LUFT, Celso Pedro – Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua

Portuguesa, 3ª ed., Porto Alegre, 1980

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª ed., Rio, 1994

FOLHA DE SÃO PAULO – Manual de Redação, SP, 2001

GAFFIOT, Félix – Dictionnaire Illustré Latin Français, Paris, 1966

GALVÃO, Ramiz – Vocabulário Etymologico, Orthográfico e Prosódico das Palavras Portuguezas

Derivadas da Língua Grega, Rio, 1909

GARCIA, Othon M. – Comunicação em Prosa Moderna, 5ª ed., Rio, 1977

HOUAISS, Antônio – Dicionário da Língua Portuguesa, 1ª ed., Rio, 2001

JOLIVET, Régis – Curso Filosofia (trad. Eduardo P. Mendonça), 10ª ed., Rio, 1970

JUCÁ (filho), Cândido

- O Fator Psicológico na Evolução Sintática, 2a ed., Rio, 1953

- Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguêsa, 3ª ed. Rio, 1968

KRAUSE, Gustavo/Outros – Laboratório de Redação, Rio, 1978

KURY, Adriano da Gama – Pequena Gramática, 6a ed., Rio

LALANDE, André – Vocabulaire de la Philosophie, 6e ed. , Paris, 1951

LAPA, M. Rodrigues – Estilística da Língua Portuguêsa, 2a ed., Lisboa

LIMA, Alceu de Amoroso – Estética Literária, Rio, 1945

LIMA, Carlos Henrique da Rocha – Gramática Normativa da Língua Portuguêsa, 13a ed., Rio, 1968
MANUAL DE REDAÇÃO JURÍDICA DA AGU 125

MACHADO, José Pedro – Dicionário Etimológico da Língua Portuguêsa (3 vols.), 2ª ed., Lisboa, 1967

MACHADO FILHO, Aires da Matta – A Correção na Frase, Rio

MAXIMILIANO, Carlos – Hermenêutica e Aplicação do Direito, 14ª ed., Rio, 1994

MOISÉS, Massaud – Guia Prático de Redação, SP

MORA, José Ferrater – Diccionario de Filosofía, 3ª ed., Buenos Aires, 1951

MOURA NEVES, Maria Helena de – Gramática de Usos do Português, SP, 2000

NASCENTES, Antenor

- Dificuldades de Análise Sintática, Rio, 1959

- O Problema da Regência, 2ª ed., Rio, 1960

NEY, João Luiz, “Crase e Emprego da Preposição A”, Rio, s/d

NUNES, José Joaquim – Compêndio de Gramática Histórica Portuguêsa, 6ª ed., Lisboa, 1960

OITICICA, José

- Manual de Análise, 6ª ed., Rio, 1942

- Teoria da Correlação, Rio, 1952

PEIXOTO, Almir Câmara de Matos – O Elemento Primeiro em Lingüística, Rio

PEREIRA, Eduardo Carlos – Gramática Expositiva (curso superior), 81ª ed., SP, 1951

PROENÇA, M. Cavalcanti – Ritmo e Poesia, Rio

RIBEIRO, João – Gramática Portuguêsa , 20ª ed., Rio, 1920

SARAIVA, F. R. dos Santos – Novissimo Diccionario Latino-Portuguez, 7ª ed., Rio, 1910

SARAIVA, Vicente de Paulo – Expressões Latinas Jurídicas e Forenses, SP, 1999

SAUSSURE, Ferdinand de – Curso de Lingüística Geral (trad. José Paulo P. I. Blikstein), SP, 1969

SCHAFF, Adam – Introdução à Semântica (trad. Célia Neves), Rio, 1968

SEQUEIRA, F. M. Bueno de – A Ação da Analogia no Português, Rio, 1954

SILVEIRA, Souza da – Lições de Português, 6ª ed., Coimbra-Rio, 1960

TORRES, Artur de Almeida

- Regência Verbal, 5ª ed., Rio/SP, 1955

- Moderna Gramática Expositiva, 8ª ed., Rio, 1959

TORRINHA, Francisco – Dicionário Português-Latino, Porto, 1939

VASCONCELOS, Leite de – Lições de Filologia Portuguêsa, 2ª ed., Lisboa, 1926

Você também pode gostar