Você está na página 1de 162

PREPARATÓRIO

Português
Matemática
História
Geografia
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PROVA OBJETIVA

Conteúdo Sistemático
Exercícios
Babarito

PM-ES
COMBATENTE 2022
Soldado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo
PREPARATÓRIO
LÍNGUA PORTUGUESA
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PROVA OBJETIVA

Conteúdo Sistemático
Exercícios
Babarito

PM-ES
COMBATENTE 2022
Soldado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-


COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
GÊNEROS VARIADOS. RECONHECIMENTO DE TIPOS E com a não-verbal.
GÊNEROS TEXTUAIS. DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE
COESÃO TEXTUAL

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. este processo é intertextualidade.
Percebeu a diferença?
Interpretação de Texto
Tipos de Linguagem Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
facilite a interpretação de textos. bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela de um texto.
pode ser escrita ou oral. A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, - Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. gráficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po-
lêmicos;
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa-
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.

1
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

– Separe fatos de opiniões. CACHORROS


O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
tável). espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
– Retorne ao texto sempre que necessário. seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
enunciados das questões. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
– Reescreva o conteúdo lido. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
picos ou esquemas. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
outro e a parceria deu certo.
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a com- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
preensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de As informações que se relacionam com o tema chamamos de
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias capaz de identificar o tema do texto!
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
prova. -secundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can- IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum TEXTOS VARIADOS
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo Exemplo:
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

2
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em


quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes. ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! NERO EM QUE SE INSCREVE
Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
Ironia de situação de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da principal. Compreender relações semânticas é uma competência
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
morte. fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

Ironia dramática (ou satírica) Busca de sentidos


A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten- apreensão do conteúdo exposto.
ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé- citadas ou apresentando novos conceitos.
dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con- Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
da narrativa. espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao Importância da interpretação
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Humor específicos, aprimora a escrita.
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
rer algo fora do esperado numa situação. pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
acessadas como forma de gerar o riso. são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-

3
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, berdade para quem recebe a informação.
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Fato
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Diferença entre compreensão e interpretação
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do Interpretação
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
leitor tira conclusões subjetivas do texto. sas, previmos suas consequências.
Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
Gêneros Discursivos tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou ças sejam detectáveis.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No Exemplos de interpretação:
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
dárias. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente do que com a filha.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Opinião
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
encaminham-se diretamente para um desfecho. juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
que fazemos do fato.
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferenciado Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a história
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
principal, mas também tem várias histórias secundárias. O tempo na
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
novela é baseada no calendário. O tempo e local são definidos pelas
histórias dos personagens. A história (enredo) tem um ritmo mais ace-
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
lerado do que a do romance por ter um texto mais curto.
anteriores:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não do que com a filha. Ela foi egoísta.
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
como horas ou mesmo minutos. Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lingua- cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
gem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, a vida positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
dos homens através de figuras que possibilitam a criação de imagens. mos expressando nosso julgamento.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto analisamos um texto dissertativo.
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
vencer o leitor a concordar com ele. Exemplo:
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um com o sofrimento da filha.
entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
de destaque sobre algum assunto de interesse. Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. e o do leitor.

4
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Parágrafo Língua escrita e língua falada


O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
sem coerência. a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta- gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores. Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es- o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
mais direto. novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
NÍVEIS DE LINGUAGEM de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
Definição de linguagem “mina”, “tipo assim”.
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, Linguagem vulgar
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal). comida”.
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Linguagem regional
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
e caem em desuso. vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

5
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo


Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.
Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo
Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi Características principais:
Porque penico não tinha ali • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Mas era feita com muito esmero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
Na rua dos bobos, número zero gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
(Vinícius de Moraes) de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
gestão/solução).
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
comportamentos, nas leis jurídicas.
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de-
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios.
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Exemplo:
Exemplo: A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se administração política (tese), porque a força governamental certa-
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
perior para formação de oficiais. dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar

6
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Carta de opinião
cobrança efetiva (conclusão). Resenha
Artigo
Tipo textual narrativo Ensaio
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Monografia, dissertação de mes-
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- trado e tese de doutorado
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Narrativo Romance
Novela
Características principais: Crônica
• O tempo verbal predominante é o passado. Contos de Fada
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Fábula
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história – Lendas
onisciente).
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
prosa, não em verso. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
nitos e mudam de acordo com a demanda social.
Exemplo:
INTERTEXTUALIDADE
Solidão
A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
reais/4835684 textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
GÊNEROS TEXTUAIS dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes provérbios, charges, dentre outros.
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro- Tipos de Intertextualidade
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- (parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís-
textuais que neles predominam. ticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais a mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a
utilização de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego
Descritivo Diário (paraphrasis), significa a “repetição de uma sentença”.
Relatos (viagens, históricos, etc.) • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Biografia e autobiografia ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Notícia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Currículo mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Lista de compras e “graphé” (escrita).
Cardápio • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Anúncios de classificados textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Injuntivo Receita culinária entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Bula de remédio
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Manual de instruções
“citação” (citare) significa convocar.
Regulamento
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em
Textos prescritivos
outros textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado
Expositivo Seminários por dois termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Palestras • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Conferências o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Entrevistas
Trabalhos acadêmicos ARGUMENTAÇÃO
Enciclopédia O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Verbetes de dicionários ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,

7
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- ARGUMENTAÇÃO
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu- ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer propõe.
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo
enunciador está propondo. tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. vista defendidos.
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
mento de premissas e conclusões. que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
A é igual a B. sos de linguagem.
A é igual a C. Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
Então: C é igual a A. voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, escolher entre duas ou mais coisas”.
que C é igual a A. Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
Outro exemplo: vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
Todo ruminante é um mamífero. Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
A vaca é um ruminante. coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
Logo, a vaca é um mamífero. cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
também será verdadeira. domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada enunciador está propondo.
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-

8
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- cimento. Nunca o inverso.
mento de premissas e conclusões. Alex José Periscinoto.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a B.
A é igual a C. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
Então: C é igual a B. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
que C é igual a A. acreditar que é verdade.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero. Argumento de Quantidade
A vaca é um ruminante. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Logo, a vaca é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
também será verdadeira. largo uso do argumento de quantidade.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se Argumento do Consenso
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati- desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as
vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que
que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao
outro fundado há dois ou três anos.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
carentes de qualquer base científica.
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
der bem como eles funcionam.
Argumento de Existência
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- do que dois voando”.
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori- afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
zado numa dada cultura. vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
Tipos de Argumento vios, etc., ganhava credibilidade.
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- Argumento quase lógico
mento. Exemplo: É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
Argumento de Autoridade chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
dadeira. Exemplo: aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se

9
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
indevidas. atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Argumento do Atributo que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais outros à sua dependência política e econômica”.
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
que é mais grosseiro, etc. ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, o assunto, etc).
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade. festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
dizer dá confiabilidade ao que se diz. dades não se prometem, manifestam-se na ação.
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-
por bem determinar o internamento do governador pelo período
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al- de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi- convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
tal por três dias. comportamento.
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
texto tem sempre uma orientação argumentativa. tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante mica e até o choro.
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
outras, etc. Veja: ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
vam abraços afetuosos.” bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
injustiça, corrupção). aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por ver as seguintes habilidades:
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
o argumento. mente contrária;

10
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o cobre (particular)


argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- O ferro, o bronze, o cobre são metais
ria contra a argumentação proposta; Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
ta. Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos Exemplos de sofismas:
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Dedução
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Todo professor tem um diploma (geral, universal)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Fulano tem um diploma (particular)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
da verdade:
- evidência; Indução
- divisão ou análise; O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
- ordem ou dedução; cular)
- enumeração. Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o – conclusão falsa)
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes-
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor.
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun-
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su-
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea-
caracteriza a universalidade. dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.

11
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num conjunto. é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, que é a definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
decomposição. A análise, no entanto, exige uma decomposição orga- lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
nizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As operações metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
que se realizam na análise e na síntese podem ser assim relacionadas: tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. - o termo a ser definido;
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. - o gênero ou espécie;
- a diferença específica.
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco- ma espécie. Exemplo:
lha dos elementos que farão parte do texto.
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno. Elemento especiediferença
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- a ser definidoespecífica
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. ou instalação”;
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
sabiá, torradeira. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);

Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de dida;d
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é diferenças).
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
(Garcia, 1973, p. 302304.) consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- vra e seus significados.
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
de vista sobre ele. mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- mentação coerente e adequada.
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,

12
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a mortal, aspira à imortalidade);
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos dos e axiomas);
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- parece absurdo).
cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. cretos, estatísticos ou documentais.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
virtude de, em vista de, por motivo de. evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- gumentação:
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, dadeira;
assim, desse ponto de vista. Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração dade da afirmação;
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- ridade que contrariam a afirmação apresentada;
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con-
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- é que gera o controle demográfico”.
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
que, melhor que, pior que. desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade elaboração de um Plano de Redação.
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- tecnológica
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- ta, justificar, criando um argumento básico;
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
caráter confirmatório que comprobatório. que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- (rever tipos de argumentação);
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
caso, incluem-se dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse-
quência);

13
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
argumento básico; outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- zá-lo ou ao compará-lo com outros.
mento básico; Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
menos a seguinte: formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
Introdução nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- função social da ciência e da tecnologia; alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
- definições de ciência e tecnologia;
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. Tipos de Intertextualidade
A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
Desenvolvimento plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
vimento tecnológico; Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as dade.
condições de vida no mundo atual; Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
desenvolvidos; mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
sado; apontar semelhanças e diferenças; é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
outras palavras o que já foi dito.
banos;
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
mais a sociedade. de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
Conclusão para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse- de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-
quências maléficas; so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
apresentados. programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-
mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
ção: é um dos possíveis. demagogia praticada pela classe dominante.
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con-
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re-
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé”
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio
é inserida. Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, cultura é o melhor conforto para a velhice”.
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro-
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex-
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação
textos caracterizada por um citar o outro. sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o
termo “citação” (citare) significa convocar.
A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros
utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos Pastiche é uma recorrência a um gênero.
pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
mencionar um provérbio conhecido. a recriação de um texto.

14
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- Coerência


mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
produtor e ao receptor de textos. Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am- mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, outra”).
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
daquela citação ou alusão em questão. estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou elementos formativos de um texto.
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte, A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida. aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
elementos textuais.
A intertextualidade explícita: A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
– é facilmente identificada pelos leitores; de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
– estabelece uma relação direta com o texto fonte; sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
– apresenta elementos que identificam o texto fonte; tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
– não exige que haja dedução por parte do leitor; imediato a coerência de um discurso.
– apenas apela à compreensão do conteúdos.
A coerência:
A intertextualidade implícita: - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
– não é facilmente identificada pelos leitores; - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte; tual;
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte; - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par- o aspecto global do texto;
te dos leitores; - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
– exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
a compreensão do conteúdo. Coesão
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
PONTO DE VISTA numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com- tem-se a coesão lexical.
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con- gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- nentes do texto.
servador e o narrador-personagem. Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
Primeira pessoa néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden- A coesão:
do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
só descobrimos ao decorrer da história. componentes do texto;
Segunda pessoa - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
quase como outro personagem que participa da história. entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida-
Terceira pessoa de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser- tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela
primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al- é inserida.
guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi- Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
leitura não fique confuso. textos caracterizada por um citar o outro.

15
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros
texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di- Pastiche é uma recorrência a um gênero.
ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode a recriação de um texto.
mencionar um provérbio conhecido.
Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci-
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou- mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao
tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to- produtor e ao receptor de textos.
má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi- A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-
zá-lo ou ao compará-lo com outros. plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de- além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres- daquela citação ou alusão em questão.
samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con- Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi- A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido. ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.

Tipos de Intertextualidade A intertextualidade explícita:


A intertextualidade acontece quando há uma referência explícita – é facilmente identificada pelos leitores;
ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade. – não exige que haja dedução por parte do leitor;
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – apenas apela à compreensão do conteúdos.
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as A intertextualidade implícita:
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. – não é facilmente identificada pelos leitores;
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto – não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea- – exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par-
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
te dos leitores;
outras palavras o que já foi dito.
– exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
a compreensão do conteúdo.
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL: EMPREGO DAS
de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces- LETRAS
so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os ORTOGRAFIA OFICIAL
programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente- • Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
troduzidas as letras k, w e y.
e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
demagogia praticada pela classe dominante.
PQRSTUVWXYZ
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con-
gui, que, qui.
siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re-
lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra-
fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé” Regras de acentuação
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
cultura é o melhor conforto para a velhice”. sílaba)

A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro- Como era Como fica
dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex-
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro alcatéia alcateia
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação apóia apoia
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o
apóio apoio
termo “citação” (citare) significa convocar.

16
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
rar, cooperação, cooptar, coocupante.
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. mirante.
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
Como era Como fica a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
pontapé, paraquedas, paraquedista.
baiúca baiuca • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
bocaiúva bocaiuva usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante.
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
e ôo(s).
EMPREGO DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA
Como era Como fica
abençôo abençoo Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
crêem creem indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um:
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto.
Atenção: Já cursei a Faculdade de História.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. fechado.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). caso afundo mais à frente).
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as Sou leal à mulher da minha vida.
palavras forma/fôrma.
As palavras podem ser:
Uso de hífen – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
Regra básica: -já, ra-paz, u-ru-bu...)
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho- – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
mem. sa-bo-ne-te, ré-gua...)
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Outros casos (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, • São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
semicírculo. íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
mo, antissocial, ultrassom. R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
das. • São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
2. Prefixo terminado em consoante: dói, coronéis...)
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub- • São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
-bibliotecário. (aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
persônico. Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei-
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. nar e fixar as regras.

Observações:
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.

17
LÍNGUA POR TUGUESA

EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, SUBS- NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
TITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES E OUTROS QUE NÃO ESTÃO AQUI!
ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL
Flexão dos Substantivos
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
Prezado candidato(a), o tema supracitado já foi abordado em
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
tópicos anteriores uniformes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
EMPREGO/CORRELAÇÃO DE TEMPOS E MODOS VER- presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
BAIS – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
CLASSES DE PALAVRAS epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
Substantivo veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- macho/palmeira fêmea.
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
Classificação dos substantivos c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
o/a estudante, o/a colega.
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
sua estrutura. macaco/João/sabão – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
são formados por mais de um porta-voz/
radical em sua estrutura. pé-de-moleque • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
diminutivo.
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/ – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
são os que dão origem a mundo/ – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
outras palavras, ou seja, ela é população – Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
a primeira. /formiga – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
são formados por outros populacional/formigueiro Adjetivo
radicais da língua. É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo:
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão com-
designa determinado ser /Brasil posta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo:
espécie. São sempre iniciados Liberdade golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vesper-
por letra maiúscula. tino).

SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ Flexão do Adjetivos


referem-se qualquer ser de cachorro/prima • Gênero:
uma mesma espécie. – Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente no: homem feliz, mulher feliz.
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
própria. Esses seres podem /lobisomem para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.
reais ou imaginários.
• Número:
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/ – Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
nomeiam ações, estados, bondade/ número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
qualidades e sentimentos que confiança/ res, japonês/ japoneses.
não tem existência própria, ou lembrança/ – Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
seja, só existem em função de amor/ branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.
um ser. alegria
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/ • Grau:
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/ – Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vito-
de seres da mesma espécie, buquê (de flores) rioso (do) que o seu.
mesmo quando empregado – Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vito-
no singular e constituem um rioso (do) que o seu.
substantivo comum. – Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso
quanto o seu.

18
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

19
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser va-
riáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

20
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
• Voz verbal Conjunção
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma
com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva. oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que li-
quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo gam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é
sujeito. Veja: determinante e o outro é determinado).
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas • Conjunções Coordenativas
recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz
passiva analítica é formada por: Tipos Conjunções Coordenativas
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros)
+ verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
por/pelo/de + agente da passiva. contudo, entretanto, mas, não obstante, no en-
A casa foi aspirada pelos rapazes Adversativas
tanto, porém, todavia...

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva prono- já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…,
Alternativas
minal (devido ao uso do pronome se) é formada por: quer…
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plu- assim, então, logo, pois (depois do verbo), por
ral) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente. Conclusivas
conseguinte, por isso, portanto...
Aluga-se apartamento.
pois (antes do verbo), porquanto, porque,
Explicativas
que...
Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro ad-
• Conjunções Subordinativas
vérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circuns-
tância. As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, ama- Tipos Conjunções Subordinativas
nhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
brevemente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-
-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez Embora, conquanto, ainda que, mes-
Concessivas
em quando, em nenhum momento, etc. mo que, posto que, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, Se, caso, quando, conquanto que,
perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em Condicionais
salvo se, sem que, etc.
cima, à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapi- Conforme, como (no sentido de con-
Conformativas
damente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às forme), segundo, consoante, etc.
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc. Para que, a fim de que, porque (no
Finais
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, sentido de que), que, etc.
efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
À medida que, ao passo que, à
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo al- Proporcionais
proporção que, etc.
gum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, as- Quando, antes que, depois que, até
Temporais
saz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, que, logo que, etc.
de todo, etc. Que, do que (usado depois de mais,
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, Comparativas
menos, maior, menor, melhor, etc.
por- ventura, etc.
Que (precedido de tão, tal, tanto), de
Consecutivas
Preposição modo que, De maneira que, etc.
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo com- Integrantes Que, se.
plete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:
Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções,
apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações
das pessoas.

• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas


é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a
função de cada classe de palavras, não terá dificuldades para enten-
der o estudo da Sintaxe.

21
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO: RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E EN-


TRE TERMOS DA ORAÇÃO; RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

22
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas


Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.
Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do jantar.
Exercem a função de sujeito
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a refeição
Exercem a função de predicativo no lugar.
Orações Subordinadas Substantivas
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se aborrecesse
Exercem a função de aposto com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de quinta,
Explicam um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

23
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais tarde.
Assumem a função de advérbio de
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de tempo suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organi-
zar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns sinais
gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ...
]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão duplo
[ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de
oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

Ponto de interrogação ( ? )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogativa ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?

Ponto de exclamação ( ! )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa.
Ex: Que bela festa!

Reticências ( ... )
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com breve
espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Ex: Essa festa... não sei não, viu.

24
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
Dois-pontos ( : ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. re por alguns motivos:
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. verbo e o adjunto.

Ponto e vírgula ( ; ) Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem


Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, é necessária:
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Ontem, Maria foi à padaria.
ração (frequente em leis), etc. Maria, ontem, foi à padaria.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- À padaria, Maria foi ontem.
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
Travessão ( — ) sário:
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- ção.
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- serem observadas na redação oficial.
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de • Separa aposto.
um diálogo, com ou sem aspas. Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. • Separa vocativo.
Brasileiros, é chegada a hora de votar.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] • Separa termos repetidos.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico Aquele aluno era esforçado, esforçado.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
efeito, digo.
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
rem uma nova inserção.
ou seja, de fácil compreensão.
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
vernador) • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
tos).
Aspas ( “ ” ) O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para • Separa orações coordenadas assindéticas.
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. ideias na cabeça...
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Isola o nome do lugar nas datas.
Vírgula Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
vírgula: conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- mações comprovam, etc.
mos” o momento certo de fazer uso dela. Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em nizar o problema.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal, A vírgula realmente tem uma quantidade maior de regras, mas
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?! nada impossível de saber, não é?!?! Bom, já vimos muita coisa até
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- aqui e não vamos parar agora.
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.

Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). Concordância Nominal
Maria foi à padaria ontem. Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos
Sujeito Verbo Objeto Adjunto concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.

25
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto- – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
sa. Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
Casos Especiais de Concordância Nominal Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
alerta. Mas... há crase, sim!
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma- -me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
ção de palavras compostas:
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. – Expressões fixas
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de crase:
acordo com o substantivo a que se referem: à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von-
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
quando pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são didas, à medida que, à proporção que.
invariáveis quan-do advérbios: • NUNCA devemos usar crase:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou – Antes de substantivos masculinos:
meia dúzia de ovos. Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
pé.
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. – Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
plural) usado em sentido generalizador:
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
substantivo estiver determinado por artigo: Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho-
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. mem.

Concordância Verbal – Antes de artigo indefinido “uma”


O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Iremos a uma reunião muito importante no domingo.
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
mes. – Antes de pronomes
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa.
Concordância ideológica ou silepse
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no A quem vocês se reportaram no Plenário?
contexto. Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Blumenau estava repleta de turistas. – Antes de verbos no infinitivo
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
texto.
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
sos. COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto. A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po- frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
líticos. me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
demonstrativo. as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
dique a eufonia da frase.
• Devemos usar crase:
– Antes palavras femininas: Próclise
Iremos à festa amanhã Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema. Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.

26
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa- Exemplos:
cientemente. Hei de dizer-lhe a verdade.
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Tenho de dizer-lhe a verdade.
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui. Observação
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada. Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa? Devo-lhe dizer tudo.
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante- Estava-lhe dizendo tudo.
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Havia-lhe dito tudo.
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
jam reduzidas: Percebia que o observavam. REESCRITURA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO:
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando, SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS DE TEX-
tudo dá. TO; RETEXTUALIZAÇÃO DE DIFERENTES GÊNEROS E
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in- NÍVEIS DE FORMALIDADE
tentos são para nos prejudicarem.
A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
Ênclise cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
indicativo: Trago-te flores. A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
posição em: Saí, deixando-a aflita. Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um proces-
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
Apressei-me a convidá-los. possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
Mesóclise volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
futuro do pretérito que iniciam a oração. a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
Dir-lhe-ei toda a verdade. do processo de escrever do aluno.
Far-me-ias um favor?
Operações linguísticas de reescrita:
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
Eu lhe direi toda a verdade.
trução do texto escrito.
Tu me farias um favor?
- Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
várias frases.
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
Exemplos: do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
Devo-lhe dizer a verdade. mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
Devo dizer-lhe a verdade. - Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes ma, ou sobre conjuntos generalizados.
do auxiliar ou depois do principal. - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
Exemplos: dificar sua ordem no processo de encadeamento.
Não lhe devo dizer a verdade.
Não devo dizer-lhe a verdade. Graus de Formalismo
São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
o pronome átono ficará depois do auxiliar. quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases
curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado
auxiliar. entre membros de uma mesma família ou entre amigos).
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois malismo existente na situação de comunicação; com o modo de
do infinitivo. expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a

27
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe- EXERCÍCIOS
cífico de algum campo científico, por exemplo).
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é
Expressões que demandam atenção a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se se fundamenta em intertextualidade é:
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, (A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
aceito há muito tempo.”
– acendido, aceso (formas similares) – idem (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
– à custa de – e não às custas de mete onde não é chamada.”
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente
forme mesmo!”
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
– a meu ver – e não ao meu ver tudo bem.”
– a ponto de – e não ao ponto de (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal
– em termos de – modismo; evitar 2. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna-
– enquanto que – o que é redundância tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a (A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
– implicar em – a regência é direta (sem em) (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
– ir de encontro a – chocar-se com (C) “sérios”, “potência”, “após”.
– ir ao encontro de – concordar com (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se- (E) “solidária”, “área”, “após”.
parado; quando não se pode, junto
– todo mundo – todos 3. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA-
– todo o mundo – o mundo inteiro TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex-
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse
for substantivo objetivo é a seguinte:
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo (A) pôr.
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando) (B) ilhéu.
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte (C) sábio.
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- (D) também.
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). (E) lâmpada.

Expressões não recomendadas 4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série


– a partir de (a não ser com valor temporal). em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
-vermelho.
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se- fra-assinado.
gundo... (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
– devido a. trarregra.
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
-mencionado.
– dito.
Opção: citado, mencionado. 5. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003)
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em-
– enquanto. pregadas e grafadas.
Opção: ao passo que. (A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po-
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). qualquer excesso e violência.
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. (B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
– no sentido de, com vistas a. mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista. suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
– pois (no início da oração). isso, num modo de intervenção específico.
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
– principalmente. em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular ta que ambos possam suscitar.
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
corpo dos supliciados.

28
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um 10. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) –
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- 2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua mesmo processo de formação é:
organização em delinqüência. (A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso;
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer;
6. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR – (C) deslealdade, colunista, incrível;
2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: (D) anoitecer, festeiro, infeliz;
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade (E) reeducação, dignidade, enriquecer.
extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- 11. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
mentos pessoais por meio de sua música. 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
composições do músico na cultura ocidental. utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor palavra primitiva foi formada respectivamente é:
termina em uma cena de reconciliação entre os personagens. (A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
(E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se tica (en + trist + ecer);
deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração. (B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer);
7. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode ser (C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma pa- tética (en + trist + ecer);
drão na seguinte sentença: (D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. xal (des + entristecer);
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. (E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe. ca (des + entristecer).
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. 12. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra
8. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM formada por derivação:
DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de (A) parassintética;
pontuação em: (B) prefixal;
(A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi- (C) sufixal;
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião. (D) imprópria;
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra- (E) regressiva.
teiramente pela porta?
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se 13. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
(D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
(A) pronome;
to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
(B) adjetivo;
irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
(C) advérbio;
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
(D) substantivo;
penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia. (E) preposição.
14. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
9. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira- morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
mente correta a pontuação do seguinte período: (A) Pronome demonstrativo.
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis (B) Pronome relativo.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque- (C) Pronome possessivo.
nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente (D) Pronome pessoal.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (E) Pronome indefinido.
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas 15. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
importância, ditam o rumo de toda a história. lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis nhados classificam-se, respectivamente, em
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente, (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
importância, ditam o rumo de toda a história. 16. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor-
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque- reta.
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.

29
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que 21. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
35% deles fosse despejado em aterros. 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor-
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta oração.
de lixo. (A) Oração coordenada assindética aditiva.
(B) Oração coordenada sindética aditiva.
17. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) (C) Oração coordenada sindética adversativa.
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações (D) Oração coordenada sindética explicativa.
de concordância no texto abaixo. (E) Oração coordenada sindética alternativa.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- 22. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as orações.
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- sativa.
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência tiva.
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. tiva.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
plural em “deflacionados”. bial consecutiva.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
em “Elevaram-se”. 23. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana-
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as lise sintaticamente a oração em destaque:
regras de concordância com “economia”. “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de sados” (Machado de Assis).
singular em “fez aumentar”. (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância (B) oração subordinada adverbial causal.
com “relevantes”. (C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
(D) oração coordenada sindética conclusiva.
18. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL (E) oração coordenada sindética explicativa.
– 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase. 24. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos. NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta. um processo de observação cristalina para assumir um discurso de
(C) Pretendo viajar a Paraíba. políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase
(D) Ele gosta de bife à cavalo. nada retratam as necessidades de populações distintas.”.
A oração grifada no trecho acima classifica-se como:
19. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração (A) subordinada substantiva predicativa;
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata- (B) subordinada adjetiva restritiva;
que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se (C) subordinada substantiva subjetiva;
a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas (D) subordinada substantiva objetiva direta;
locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser (E) subordinada adjetiva explicativa.
marcada com o acento, EXCETO em:
(A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema. 25. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são
eleitorado pelo resultado final. classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como:
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema. “Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia,
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú- mas nunca à custa de nossos filhos...”
vel. (A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin-
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis- dética adversativa;
tema. (B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex-
plicativa;
20. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração e (C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver-
período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um (a): bial concessiva;
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças (D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada
americanas, entre na fila.” sindética adversativa;
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e (E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con-
subordinadas. cessiva.
(B) Período, composto por três orações.
(C) Oração, pois possui sentido completo.
(D) Período, pois é composto por frases e orações.

30
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
26. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe- II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um blemas no uso de conjunções e preposições.
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
história.”, a oração sublinhada é classificada como: de palavras e da ordem sintática.
(A) coordenada assindética; IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
(B) subordinada substantiva completiva nominal; temática e bom uso dos recursos coesivos.
(C) subordinada substantiva objetiva indireta;
(D) subordinada substantiva apositiva. Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta.
Leia o texto abaixo para responder a questão. (B) Somente a II é incorreta.
A lama que ainda suja o Brasil (C) Somente a III é correta.
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) (D) Somente a IV é correta.

A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um Leia o texto abaixo para responder as questões.
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de UM APÓLOGO
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio Machado de Assis.
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam- Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de — Deixe-me, senhora.
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, der na cabeça.
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
se tornou uma bomba relógio na região.” Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
outros.
do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
— Mas você é orgulhosa.
barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
— Decerto que sou.
insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
— Mas por quê?
gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
ama, quem é que os cose, senão eu?
senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori- que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz daço ao outro, dou feição aos babados…
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- mando…
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL — Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
27. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
fato. trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
gênero textual editorial. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
que se trata de uma reportagem. costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
se trata de um editorial. orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
Analise as assertivas e responda: isto uma cor poética. E dizia a agulha:
(A) Somente a I é correta. — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
(B) Somente a II é incorreta. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
(C) Somente a III é correta que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(D) A III e IV são corretas. e acima…
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
28. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
ainda suja o Brasil”: o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
no desenvolvimento do assunto. tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-

31
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a 30. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (A) dimensão e pejoratividade;
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, (B) afetividade e intensidade;
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, (C) afetividade e dimensão;
perguntou-lhe: (D) intensidade e dimensão;
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da (E) pejoratividade e afetividade.
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para 31. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
Vamos, diga lá. tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, Agulha não tem cabeça.” (L.06)
fico. (C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a (D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
muita linha ordinária! nária!” (L.43)
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
29. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
(L.25)
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique 32. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente
elementos dos textos:
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre-
sente no texto:
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
cada sujeito possui atribuições próprias.
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do
sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.

33. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda-


(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en- des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos........ se ocupa a
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02) nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. acima, na ordem dada, as expressões:
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06) (A) a que – de que;
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, (B) de que – com que;
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço (C) a cujas – de cujos;
e mando...” (L.14-15) (D) à que – em que;
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (E) em que – aos quais.
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando 34. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008)
abaixo e acima.” (L.25-26) Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela (A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe-
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a
Onde me espetam, fico.” (L.40-41) maior taxa registrada na última década.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).

32
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento A língua tem por objetivo a comunicação. Alguns elementos
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em são necessários para a comunicação: a) emissor, b) receptor, c) con-
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am- teúdo, d) código, e) meio de circulação, f) situação comunicativa.
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de Com relação à redação oficial, o emissor é o Serviço Público (Minis-
novas fontes de petróleo. tério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção). O assunto
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, é sempre referente às atribuições do órgão que comunica. O desti-
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí- natário ou receptor dessa comunicação ou é o público, o conjunto
da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos outros
menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina. Poderes da União.
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, ( ) Certo
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro ( ) Errado
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do 40. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )
que o do Brasil. Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. Con-
forme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em
35. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS – 2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras gra-
2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, fadas conforme o Acordo.
o seguinte par de palavras: I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca-
(A) estrondo – ruído; pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
(B) pescador – trabalhador; II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di-
(C) pista – aeroporto; retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente.
(D) piloto – comissário; III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
(E) aeronave – jatinho. tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação,
36. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma -Geral.
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque -ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
tem como antônimo: -Executiva, tenente-coronel.
(A) fortuna;
(B) opulência; Assinale a alternativa CORRETA:
(C) riqueza; (A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
(D) escassez; (B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(E) abundância. (C) As afirmações II, III e IV estão corretas.
(D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
37. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA – (E) As afirmações III, IV e V estão corretas.
2019)
Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto 41. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti- Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
nado ao presidente do Congresso Nacional é Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
(A) Senhor Presidente. mentem esses usos.
(B) Excelentíssimo Senhor Presidente. Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
(C) Presidente. 1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
(D) Excelentíssimo Presidente. Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
(E) Excelentíssimo Senhor. 2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
38. (CÂMARA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - AUXILIAR 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona-
ADMINISTRATIVO - INSTITUTO AOCP - 2019 ) mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
Referente à aplicação de elementos de gramática à redação ofi- de desferir os golpes.
cial, os sinais de pontuação estão ligados à estrutura sintática e têm
várias finalidades. Assinale a alternativa que apresenta a pontuação INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
que pode ser utilizada em lugar da vírgula para dar ênfase ao que da vírgula em cada frase.
se quer dizer. ( ) Para destacar deslocamento de termos.
(A) Dois-pontos. ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
(B) Ponto-e-vírgula. ( ) Para indicar um aposto.
(C) Ponto-de-interrogação.
(D) Ponto-de-exclamação. A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
(A) 1 – 2 – 3.
39. (UNIR - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - ANÁLISES CLÍNICAS- (B) 2 – 1 – 3.
AOCP – 2018) (C) 3 – 1 – 2.
Pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder (D) 3 – 2 – 1.
Público redige atos normativos e comunicações. Em relação à reda-
ção de documentos oficiais, julgue, como VERDADEIRO ou FALSO,
os itens a seguir.

33
LÍNGUA PORTUGUESA - Evoluir

GABARITO ANOTAÇÕES

1 E
2 A
3 A
4 D
5 B
6 C
7 B
8 E
9 A
10 A
11 A
12 D
13 A
14 E
_____________________________________________________
15 B
16 E _____________________________________________________
17 A
18 A
19 D
20 B
21 C
22 C
23 E
24 A
25 D
26 B
27 C
28 D
29 E
30 D
31 D
32 D
33 A
34 D
35 E
36 D
37 B
38 B
39 A
40 E
41 C

34
PREPARATÓRIO
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PROVA OBJETIVA

Conteúdo Sistemático
Exercícios
Babarito

PM-ES
COMBATENTE 2022
Soldado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo
MATEMÁTICA
MATEMÁTICA
- Evoluir
1. Teoria de conjuntos: conjuntos numéricos, números naturais, inteiros, racionais e reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Relações, Equações de 1º e 2º graus, sistemas. Inequações do 1º e do 2º grau. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
3. Funções do 1º grau e do 2º grau e sua representação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Regra de Três Simples e Composta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6. Juros simples e composto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
7. Análise Combinatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
8. Geometria espacial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
9. Geometria de sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20
MATEMÁTICA - Evoluir

TEORIA DE CONJUNTOS: CONJUNTOS NUMÉRICOS,


NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS, RACIONAIS E REAIS
Subconjuntos do conjunto :
1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero
Números Naturais
Os números naturais são o modelo matemático necessário {...-2, -1, 1, 2, ...}
para efetuar uma contagem.
Começando por zero e acrescentando sempre uma unidade, 2) Conjuntos dos números inteiros não negativos
obtemos o conjunto infinito dos números naturais
{0, 1, 2, ...}

3) Conjunto dos números inteiros não positivos


- Todo número natural dado tem um sucessor {...-3, -2, -1}
a) O sucessor de 0 é 1.
b) O sucessor de 1000 é 1001. Números Racionais
c) O sucessor de 19 é 20. Chama-se de número racional a todo número que pode ser ex-
presso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0
Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero. São exemplos de números racionais:
-12/51
{1,2,3,4,5,6... . } -3
-(-3)
-2,333...
- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um anteces-
sor (número que vem antes do número dado). As dízimas periódicas podem ser representadas por fração,
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente de zero.portanto são consideradas números racionais.
a) O antecessor do número m é m-1. Como representar esses números?
b) O antecessor de 2 é 1.
c) O antecessor de 56 é 55. Representação Decimal das Frações
d) O antecessor de 10 é 9. Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais
Expressões Numéricas 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número de-
Nas expressões numéricas aparecem adições, subtrações, mul- cimal terá um número finito de algarismos após a vírgula.
tiplicações e divisões. Todas as operações podem acontecer em
uma única expressão. Para resolver as expressões numéricas - utili
zamos alguns procedimentos:

Se em uma expressão numérica aparecer as quatro operações,


devemos resolver a multiplicação ou a divisão primeiramente, na
ordem em que elas aparecerem e somente depois a adição e a sub-
tração, também na ordem em que aparecerem e os parênteses são
resolvidos primeiro.

Exemplo 1 2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas- lem
10 + 12 – 6 + 7 brando que a dízima deve ser periódica para ser número racional
22 – 6 + 7
16 + 7
OBS: período da dízima são os números que se repetem, se
23
não repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que
trataremos mais a frente.
Exemplo 2
40 – 9 x 4 + 23
40 – 36 + 23
4 + 23
27

Exemplo 3
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

Números Inteiros Representação Fracionária dos Números Decimais


Podemos dizer que este conjunto é composto pelos números 1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o
naturais, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero. denominador seguido de zeros.
Este conjunto pode ser representado por: O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa,
um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.

1
MATEMÁTICA - Evoluir
– O produto de dois números irracionais, pode ser um número
racional.

Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número na -


tural, se não inteira, é irracional.

Números Reais

2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como


podemos transformar em fração?

Exemplo 1
Transforme a dízima 0, 333... .em fração
Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada
de x, ou seja
X=0,333...

Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por


10.
10x=3,333... Fonte: www.estudokids.com.br

E então subtraímos: Representação na reta


10x-x=3,333...-0,333...
9x=3
X=3/9
X=1/3

Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212... Intervalos limitados
Façamos x = 1,1212... Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a
100x = 112,1212... . e menores do que b ou iguais a b.

Subtraindo:
100x-x=112,1212...-1,1212...
99x=111
X=111/99 Intervalo:[a,b]
Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b}
Números Irracionais
Identificação de números irracionais Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que
– Todas as dízimas periódicas são números racionais. b.
– Todos os números inteiros são racionais.
– Todas as frações ordinárias são números racionais.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais.
– A soma de um número racional com um número irracional é Intervalo:]a,b[
sempre um número irracional. Conjunto:{xϵR|a<x<b}
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou
racional. iguais a A e menores do que B.
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma ,
com a e b inteiros e b≠0.

Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

– O quociente de dois números irracionais, pode ser um núme- Intervalo:{a,b[


ro racional. Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}

Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional.

2
MATEMÁTICA - Evoluir
Intervalo fechado à direita números reais maiores que a e 3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em
menores ou iguais a b. um número positivo.

Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b} 4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta
em um número negativo.
Intervalos Ilimitados
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais me-
nores ou iguais a b.

5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal


para positivo e inverter o número que está na base.
Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x ϵ R|x≤b}

Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais me-


nores que b.

6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
expoente, o resultado será igual a zero.
Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x ϵ R|x<b}

Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores


ou iguais a A.
Propriedades
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
base, repete-se a base e soma os expoentes.

Intervalo:[a,+ ∞[ Exemplos:
Conjunto:{x ϵ R|x≥a} 24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27
Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores
que a.

2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base.


Intervalo:]a,+ ∞[ Conserva-se a base e subtraem os expoentes.
Conjunto:{x ϵ R|x>a}
Exemplos:
Potenciação 96 : 92 = 96-2 = 94
Multiplicação de fatores iguais

2³=2.2.2=8
Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.
3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se
os expoentes.

Exemplos:
(52)3 = 52.3 = 56
2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.

3
MATEMÁTICA - Evoluir
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um Raiz quadrada de frações ordinárias
expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente.
(4.3)²=4².3² 1 1
2 2 2 22 2
5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos Observe: = = 1
=
elevar separados. 3 3 2
3
3
a na
De modo geral, se a ∈R+, b ∈R , n ∈N , então:
* *
+
= n
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado
Radiciação é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
Radiciação é a operação inversa a potenciação radicando.

Raiz quadrada números decimais

Técnica de Cálculo Operações


A determinação da raiz quadrada de um número torna-se mais
fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números primos.
Veja:

64 2
32 2 Operações
16 2
8 2 Multiplicação
4 2
2 2 Exemplo
1

64=2.2.2.2.2.2=26
Divisão
Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
e multiplica.

Exemplo

Observe:
Adição e subtração
1 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 .5 = 3 . 5
2 2
Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.
De modo geral, se
8 2 20 2
a ∈R+ , b ∈R +, n ∈N , * 4 2 10 2
2 2 5 5
Então: 1 1

n
a.b = n a.n b

O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é Caso tenha:


igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi-
cando. Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.

4
MATEMÁTICA - Evoluir
Racionalização de Denominadores Exemplo
Normalmente não se apresentam números irracionais com (PREF. DE NITERÓI/RJ – Fiscal de Posturas – FGV/2015) A idade
radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das idades de
radicais do denominador chama-se racionalização do denominador. seus dois filhos, Paulo e Pierre. Pierre é três anos mais velho do que
1º Caso: Denominador composto por uma só parcela Paulo. Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade
que Pedro tem hoje.
A soma das idades que Pedro, Paulo e Pierre têm hoje é:
(A) 72;
(B) 69;
(C) 66;
(D) 63;
(E) 60.

2º Caso: Denominador composto por duas parcelas. Resolução


A ideia de resolver as equações é literalmente colocar na lin-
guagem matemática o que está no texto.
“Pierre é três anos mais velho do que Paulo”
Pi=Pa+3

Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de “Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade
quadrados no denominador: que Pedro tem hoje.”

A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das


RELAÇÕES, EQUAÇÕES DE 1º E 2º GRAUS, SISTEMAS. idades de seus dois filhos,
INEQUAÇÕES DO 1º E DO 2º GRAU Pe=2(Pi+Pa)
Pe=2Pi+2Pa

Equação 1º grau Lembrando que:


Equação é toda sentença matemática aberta representada por Pi=Pa+3
uma igualdade, em que exista uma ou mais letras que representam
números desconhecidos. Substituindo em Pe
Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação redutível Pe=2(Pa+3)+2Pa
à forma ax+b=0, em que a e b são números reais, chamados - coefi Pe=2Pa+6+2Pa
cientes, com a≠0. Pe=4Pa+6
Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numérico de x
que, substituindo no 1º membro da equação, torna-se igual ao 2º
membro. Pa+3+10=2Pa+3
Pa=10
Nada mais é que pensarmos em uma balança. Pi=Pa+3
Pi=10+3=13
Pe=40+6=46
Soma das idades: 10+13+46=69
Resposta: B.

Equação 2º grau
A equação do segundo grau é representada pela fórmula geral:
ax2+bx+c=0

A balança deixa os dois lados iguais para equilibrar, a equação Onde a, b e c são números reais, a≠0.
também.
No exemplo temos: Discussão das Raízes
3x+300
Outro lado: x+1000+500
E o equilíbrio?
3x+300=x+1500

Quando passamos de um lado para o outro invertemos o sinal


3x-x=1500-300
2x=1200 Se for negativo, não há solução no conjunto dos números
X=600 reais.

5
MATEMÁTICA - Evoluir
Composição de uma equação do 2ºgrau, conhecidas as raízes
Se for positivo, a equação tem duas soluções:
Podemos escrever a equação da seguinte maneira:
x²-Sx+P=0

Exemplo
Dada as raízes -2 e 7. Componha a equação do 2º grau.
Exemplo
Solução
S=x1+x2=-2+7=5
P=x1.x2=-2.7=-14
Então a equação é: x²-5x-14=0

Exemplo
(IMA – Analista Administrativo Jr – SHDIAS/2015) A soma das
idades de Ana e Júlia é igual a 44 anos, e, quando somamos os qua-
, portanto não há solução real.
drados dessas idades, obtemos 1000. A mais velha das duas tem:
(A) 24 anos
(B) 26 anos
(C) 31 anos
(D) 33 anos

Resolução
A+J=44
A²+J²=1000
A=44-J
(44-J)²+J²=1000
1936-88J+J²+J²=1000
2J²-88J+936=0

Dividindo por2:
J²-44J+468=0
∆=(-44)²-4.1.468
∆=1936-1872=64

Se ∆ < 0não há solução, pois não existe raiz quadrada real de


um número negativo.

Se ∆ = 0, há duas soluções iguais:

Substituindo em A
Se ∆ > 0, há soluções reais diferentes:
A=44-26=18
Ou A=44-18=26
Resposta: B.

Inequação
Relações entre Coeficientes e Raízes
Uma inequação é uma sentença matemática expressa por uma
Dada as duas raízes:
ou mais incógnitas, que ao contrário da equação que utiliza um sinal
de igualdade, apresenta sinais de desigualdade. Veja os sinais de
desigualdade:
>: maior
<: menor
≥: maior ou igual
Soma das Raízes
≤: menor ou igual

O princípio resolutivo de uma inequação é o mesmo da -equa


ção, onde temos que organizar os termos semelhantes em cada
membro, realizando as operações indicadas. No caso das inequa-
Produto das Raízes
ções, ao realizarmos uma multiplicação de seus elementos por
–1com o intuito de deixar a parte da incógnita positiva, invertemos
o sinal representativo da desigualdade.

6
MATEMÁTICA - Evoluir
Exemplo 1 Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º grau:
4x + 12 > 2x – 2
4x – 2x > – 2 – 12
2x > – 14
x > –14/2
x>–7
Vamos achar a solução de cada inequação.
Inequação - Produto 4x + 4 ≤ 0
Quando se trata de inequações - produto, teremos uma desi- 4x ≤ - 4
gualdade que envolve o produto de duas ou mais funções. Portanto, x≤-4:4
surge a necessidade de realizar o estudo da desigualdade em cada x≤-1
função e obter a resposta final realizando a intersecção do conjunto
resposta das funções.

Exemplo S1 = {x ϵ R | x ≤ - 1}
a)(-x+2)(2x-3)<0
Fazendo o cálculo da segunda inequação temos:
x+1≤0
x≤-1

A “bolinha” é fechada, pois o sinal da inequação é igual.

S2 = { x ϵ R | x ≤ - 1}

Calculando agora o CONJUNTO SOLUÇÃO da inequação


Temos:
Inequação -Quociente S = S1 ∩ S2
Na inequação- quociente, tem-se uma desigualdade de funções
fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual uma está dividindo
a outra. Diante disso, deveremos nos atentar ao domínio da função
que se encontra no denominador, pois não existe divisão por zero.
Com isso, a função que estiver no denominador da inequação- deve
rá ser diferente de zero.
O método de resolução se assemelha muito à resolução de
uma inequação - produto, de modo que devemos analisar o sinal
das funções e realizar a intersecção do sinal dessas funções.
Portanto:
Exemplo
S = { x ϵ R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]
Resolva a inequação a seguir:
Inequação 2º grau
Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que pode ser
escrita numa das seguintes formas:
x-2≠0
x≠2 ax²+bx+c>0
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c≤0
ax²+bx+c≠0

Exemplo
Vamos resolver a inequação3x² + 10x + 7 < 0.

Resolvendo Inequações
Resolver uma inequação significa determinar os valores reais
de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de x que
Sistema de Inequação do 1º Grau tornem a expressão 3x² + 10x +7negativa.
Um sistema de inequação do 1º grau é formado por duas ou
mais inequações, cada uma delas tem apenas uma variável sendo
que essa deve ser a mesma em todas as outras inequações envol-
vidas.

7
MATEMÁTICA - Evoluir
Método da adição
Esse método consiste em adicionar as duas equações de tal
forma que a soma de uma das incógnitas seja zero. Para que isso
aconteça será preciso que multipliquemos algumas vezes as duas
equações ou apenas uma equação por números inteiros para que a
soma de uma das incógnitas seja zero.

Dado o sistema

Para adicionarmos as duas equações e a soma de uma das in-


cógnitas de zero, teremos que multiplicar a primeira equação por
– 3.

Teremos:

S = {x ϵ R / –7/3 < x < –1}

SISTEMA DE EQUAÇÕES

Sistema do 1º grau
Um sistema de equação de 1º grau com duas incógnitas é for- Adicionando as duas equações:
mado por: duas equações de 1º grau com duas incógnitas diferen-
tes em cada equação. Veja um exemplo:

Para descobrirmos o valor de x basta escolher uma das duas


• Resolução de sistemas equações e substituir o valor de y encontrado:
Existem dois métodos de resolução dos sistemas. Vejamos: x + y = 20 → x + 12 = 20 → x = 20 – 12 → x = 8
Portanto, a solução desse sistema é: S = (8, 12).
• Método da substituição
Consiste em escolher uma das duas equações, isolar uma das Exemplos:
incógnitas e substituir na outra equação, veja como: (SABESP – APRENDIZ – FCC) Em uma gincana entre as três equi-
pes de uma escola (amarela, vermelha e branca), foram arrecada-
dos 1 040 quilogramas de alimentos. A equipe amarela arrecadou
Dado o sistema , enumeramos as equações. 50 quilogramas a mais que a equipe vermelha e esta arrecadou 30
quilogramas a menos que a equipe branca. A quantidade de alimen -
tos arrecadada pela equipe vencedora foi, em quilogramas, igual a
(A) 310
(B) 320
(C) 330
Escolhemos a equação 1 (pelo valor da incógnita de x ser 1) e (D) 350
isolamos x. Teremos: x = 20 – y e substituímos na equação 2. (E) 370
3 (20 – y) + 4y = 72, com isso teremos apenas 1 incógnita. Re-
solvendo: Resolução:
60 – 3y + 4y = 72 → -3y + 4y = 72 -60 → y = 12 Amarela: x
Para descobrir o valor de x basta substituir 12 na equação x = Vermelha: y
20 – y. Logo: Branca: z
x = 20 – y → x = 20 – 12 →x = 8 x = y + 50
Portanto, a solução do sistema é S = (8, 12) y = z - 30
z = y + 30

8
MATEMÁTICA - Evoluir
Substituindo a II e a III equação na I: Resolução:
Sendo Miguel M e Lucas L:
M.L = 500 (I)
M = L + 5 (II)
substituindo II em I, temos:
(L + 5).L = 500
Substituindo na equação II L2 + 5L – 500 = 0, a = 1, b = 5 e c = - 500
x = 320 + 50 = 370 ∆ = b² - 4.a.c
z=320+30=350 ∆ = 5² - 4.1.(-500)
A equipe que mais arrecadou foi a amarela com 370kg ∆ = 25 + 2000
Resposta: E ∆ = 2025
x = (-b ± √∆)/2a
(SABESP – ANALISTA DE GESTÃO I -CONTABILIDADE – FCC) Em x’ = (-5 + 45) / 2.1 → x’ = 40/2 → x’ = 20
um campeonato de futebol, as equipes recebem, em cada jogo, três x’’ = (-5 - 45) / 2.1 → x’’ = -50/2 → x’’ = -25 (não serve)
pontos por vitória, um ponto em caso de empate e nenhum ponto
se forem derrotadas. Após disputar 30 partidas, uma das equipes Então L = 20
desse campeonato havia perdido apenas dois jogos e acumulado 58 M.20 = 500
pontos. O número de vitórias que essa equipe conquistou, nessas m = 500 : 20 = 25
30 partidas, é igual a M + L = 25 + 20 = 45
(A) 12 Resposta: E
(B) 14
(C) 16 (TJ- FAURGS) Se a soma de dois números é igual a 10 e o seu
(D) 13 produto é igual a 20, a soma de seus quadrados é igual a:
(E) 15 (A) 30
(B) 40
Resolução: (C) 50
Vitórias: x (D) 60
Empate: y (E) 80
Derrotas: 2
Pelo método da adição temos: Resolução:

Eu quero saber a soma de seus quadrados x2 + y2


Vamos elevar o x + y ao quadrado:
(x + y)2 = (10)2
x2 + 2xy + y2 = 100 , como x . y=20 substituímos o valor :
x2 + 2.20 + y2 = 100
x2 + 40 + y2 = 100
Resposta: E x2 + y2 = 100 – 40
x2 + y2 = 60
Sistema do 2º grau Resposta: D
Utilizamos o mesmo princípio da resolução dos sistemas de
1º grau, por adição, substituições, etc. A diferença é que teremos
como solução um sistema de pares ordenados. FUNÇÕES DO 1º GRAU E DO 2º GRAU E SUA REPRE -
SENTAÇÃO GRÁFICA
Sequência prática
– Estabelecer o sistema de equações que traduzam o problema
para a linguagem matemática; Diagrama de Flechas
– Resolver o sistema de equações;
-
– Interpretar as raízes encontradas, verificando se são compatí
veis com os dados do problema.

Exemplos:
(CPTM - MÉDICO DO TRABALHO – MAKIYAMA) Sabe-se que o
produto da idade de Miguel pela idade de Lucas é 500. Miguel é
5 anos mais velho que Lucas. Qual a soma das idades de Miguel e
Lucas?
(A) 40.
(B) 55.
(C) 65.
(D) 50.
(E) 45.

9
MATEMÁTICA - Evoluir
Gráfico Cartesiano No nosso exemplo, o domínio é D = {1, 4, 7}, o contradomínio é
= {1, 4, 6, 7, 8, 9, 12} e o conjunto imagem é Im = {6, 9, 12}

Classificação das funções


Injetora: Quando para ela elementos distintos do domínio
apresentam imagens também distintas no contradomínio.

Sobrejetora: Quando todos os elementos do contradomínio fo-


rem imagens de pelo menos um elemento do domínio.
Muitas vezes nos deparamos com situações que envolvem uma
relação entre grandezas. Assim, o valor a ser pago na conta de luz
depende do consumo medido no período; o tempo de uma viagem
de automóvel depende da velocidade no trajeto.
Como, em geral, trabalhamos com funções numéricas, o domí-
nio e a imagem são conjuntos numéricos, e podemos definir com
mais rigor o que é uma função matemática utilizando a linguagem
da teoria dos conjuntos.

Definição: Sejam A e B dois conjuntos não vazios e f uma - rela


ção de A em B. Bijetora: Quando apresentar as características de função- inje
Essa relação f é uma função de A em B quando a cada elemen- tora e ao mesmo tempo, de sobrejetora, ou seja, elementos dis-
to x do conjunto A está associado um e apenas um elemento y do tintos têm sempre imagens distintas e todos os elementos do- con
conjunto B. tradomínio são imagens de pelo menos um elemento do domínio.

Notação: f: A→B (lê-se função f de A em B)

Domínio, contradomínio, imagem


O domínio é constituído por todos os valores que podem ser
atribuídos à variável independente. Já a imagem da função é forma-
da por todos os valores correspondentes da variável dependente.

O conjunto A é denominado domínio da função, indicada por D.


O domínio serve para definir em que conjunto estamos trabalhan -
do, isto é, os valores possíveis para a variável x. Função 1º grau
O conjunto B é denominado contradomínio, CD. A função do 1° grau relacionará os valores numéricos obtidos
Cada elemento x do domínio tem um correspondente y no con- de expressões algébricas do tipo (ax + b), constituindo, assim,- a fun
tradomínio. A esse valor de y damos o nome de imagem de x pela ção f(x) = ax + b.
função f. O conjunto de todos os valores de y que são imagens de
valores de x forma o conjunto imagem da função, que indicaremos Estudo dos Sinais
por Im. Definimos função como relação entre duas grandezas -repre
Exemplo sentadas por x e y. No caso de uma função do 1º grau, sua lei de
Com os conjuntos A={1, 4, 7} e B={1, 4, 6, 7, 8, 9, 12} criamos formação possui a seguinte característica: y = ax + b ou f(x) = ax +
a função f: A→B . definida porf(x) = x + 5 que também pode ser b, onde os coeficientes a e b pertencem aos reais e diferem de zero.
representada por y = x + 5 . A representação, utilizando conjuntos,Esse modelo de função possui como representação gráfica a figura
desta função, é: de uma reta, portanto, as relações entre os valores do domínio e da
imagem crescem ou decrescem de acordo com o valor do coeficien -
te a. Se o coeficiente possui sinal positivo, a função é crescente, e
caso ele tenha sinal negativo, a função é decrescente.

Função Crescente: a > 0


De uma maneira bem simples, podemos olhar no gráfico que os
valores de y vão crescendo.

10
MATEMÁTICA - Evoluir
3(3-b)+b=5
9-3b+b=5
-2b=-4
b=2

Portanto,
a=3-b
a=3-2=1
Assim, f(x)=x+2

Função Quadrática ou Função do 2º grau


Em geral, uma função quadrática ou polinomial do segundo
Função Decrescente: a < 0 grau tem a seguinte forma:
Nesse caso, os valores de y, caem. f(x)=ax²+bx+c, onde a≠0
f(x)=a(x-x 1)(x-x 2)

É essencial que apareça ax² para ser uma função quadrática e


deve ser o maior termo.

Concavidade
A concavidade da parábola é para cima se a>0 e para baixo se
a<0

Raiz da função
Calcular o valor da raiz da função é determinar o valor em que a
reta cruza o eixo x, para isso consideremos o valor de y igual a zero,
pois no momento em que a reta intersecta o eixo x, y = 0. Observe a
representação gráfica a seguir: Discriminante(∆)
∆ = b²-4ac
∆>0

A parábola y=ax²+bx+c intercepta o eixo x em dois pontos dis-


tintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2 são raízes da equação ax²+bx+c=0

∆=0

Quando ∆=0 , a parábola y=ax²+bx+c é tangente ao eixo x, no


ponto

Podemos estabelecer uma formação geral para o cálculo da raiz


de uma função do 1º grau, basta criar uma generalização com base
na própria lei de formação da função, considerando y = 0 e isolando
o valor de x (raiz da função). Repare que, quando tivermos o discriminante ∆ = 0, as duas
X=-b/a raízes da equação ax²+bx+c=0 são iguais
Dependendo do caso, teremos que fazer um sistema com duas ∆<0
equações para acharmos o valor de a e b.
A função não tem raízes reais
Exemplo:
Dado que f(x)=ax+b e f(1)=3 e f(3)=5, ache a função.

F(1)=1a+b
3=a+b
F(3)=3a+b
5=3a+b

Isolando a em I
a=3-b
Substituindo em II

11
MATEMÁTICA - Evoluir
Raízes Equação Exponencial
É toda equação cuja incógnita se apresenta no expoente de
uma ou mais potências de bases positivas e diferentes de 1.

Exemplo
Resolva a equação no universo dos números reais.

Solução

Vértices e Estudo do Sinal


Quando a > 0, a parábola tem concavidade voltada para cima e
um ponto de mínimo V; quando a < 0, a parábola tem concavidade
voltada para baixo e um ponto de máximo V.

Em qualquer caso, as coordenadas de V são .

Veja os gráficos:

Função exponencial
A expressão matemática que define a função exponencial é
uma potência. Nesta potência, a base é um número real positivo e
diferente de 1 e o expoente é uma variável.

Função crescente
Se a > 1 temos uma função exponencial crescente, qualquer
que seja o valor real de x.
No gráfico da função ao lado podemos observar que à medida
que x aumenta, também aumenta f(x) ou y. Graficamente vemos
que a curva da função é crescente.

Função decrescente
Se 0 < a < 1 temos uma função exponencial decrescente em
todo o domínio da função.
Neste outro gráfico podemos observar que à medida que- x au
menta, y diminui. Graficamente observamos que a curva da função
é decrescente.

12
MATEMÁTICA - Evoluir
Exemplo

A Constante de Euler
É definida por :
e = exp(1) Consequências da Definição

O número e é um número irracional e positivo e em função da


definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1

Este número é denotado por e em homenagem ao matemático


suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primeiros a estudar as
propriedades desse número.

O valor deste número expresso com 10 dígitos decimais, é:


e = 2,7182818284

Se x é um número real, a função exponencial exp(.) pode ser


escrita como a potência de base e com expoente x, isto é:
ex = exp(x)
Propriedades
Propriedades dos expoentes
Se a, x e y são dois números reais quaisquer e k é um número
racional, então:
- ax ay= ax + y
- ax / ay= ax - y
- (ax) y= ax.y
- (a b)x = ax bx
- (a / b)x = ax / bx
- a-x = 1 / ax

Logaritmo
Considerando-se dois números N e a reais e positivos, com a
≠1, existe um número c tal que:

A esse expoente c damos o nome de logaritmo de N na base a Mudança de Base

Ainda com base na definição podemos estabelecer condições


de existência: Exemplo
Dados log 2=0,3010 e log 3=0,4771, calcule:
a) log 6
b) log1,5
c) log 16

Solução
a) Log 6=log 2⋅3=log2+log3=0,3010+0,4771=0,7781

13
MATEMÁTICA - Evoluir
Obs.: como as setas estão invertidas temos que inverter -os nú
meros mantendo a primeira coluna e invertendo a segunda coluna
ou seja o que está em cima vai para baixo e o que está em baixo na
segunda coluna vai para cima

VELOCIDADE Tempo
Função Logarítmica
400 ↓ ----- 3↓
Uma função dada por , em que a constante 480 ↓ ----- X↓
a é positiva e diferente de 1, denomina-se função logarítmica.
480x=1200
X=25

Regra de três composta


Regra de três composta é utilizada em problemas com mais de
duas grandezas, direta ou inversamente proporcionais.

Exemplos:
1) Em 8 horas, 20 caminhões descarregam 160m³ de areia. Em
5 horas, quantos caminhões serão necessários para descarregar
125m³?

Solução: montando a tabela, colocando em cada coluna as


grandezas de mesma espécie e, em cada linha, as grandezas de es-
pécies diferentes que se correspondem:
HORAS CAMINHÕES VOLUME
8↑ ----- 20 ↓ ----- 160 ↑
5↑ ----- X↓ ----- 125 ↑
REGRA DE TRÊS SIMPLES E COMPOSTA
A seguir, devemos comparar cada grandeza com aquela onde
está o x.
Regra de três simples
- pro Observe que:
Regra de três simples é um processo prático para resolver
blemas que envolvam quatro valores dos quais conhecemos três Aumentando o número de horas de trabalho, podemos dimi-
deles. Devemos, portanto, determinar um valor a partir dos três nuir
já o número de caminhões. Portanto a relação é inversamente
conhecidos. proporcional (seta para cima na 1ª coluna).
Aumentando o volume de areia, devemos aumentar o número
Passos utilizados numa regra de três simples: de caminhões. Portanto a relação é diretamente proporcional (seta
1º) Construir uma tabela, agrupando as grandezas da mesma para baixo na 3ª coluna). Devemos igualar a razão que contém o
espécie em colunas e mantendo na mesma linha as grandezas de termo x com o produto das outras razões de acordo com o sentido
espécies diferentes em correspondência. das setas.
-
2º) Identificar se as grandezas são diretamente ou inversamen Montando a proporção e resolvendo a equação temos:
te proporcionais.
3º) Montar a proporção e resolver a equação.
Um trem, deslocando-se a uma velocidade média de 400Km/h, HORAS CAMINHÕES VOLUME
faz um determinado percurso em 3 horas. Em quanto tempo faria 8↑ ----- 20 ↓ ----- 160 ↓
esse mesmo percurso, se a velocidade utilizada fosse de 480km/h? 5↑ ----- X↓ ----- 125 ↓
Solução: montando a tabela: Obs.: Assim devemos inverter a primeira coluna ficando:
1) Velocidade (Km/h) Tempo (h)
HORAS CAMINHÕES VOLUME
400 ----- 3 8 ----- 20 ----- 160
480 ----- X 5 ----- X ----- 125

2) Identificação do tipo de relação:

VELOCIDADE Tempo
400 ↓ ----- 3↑ Logo, serão necessários 25 caminhões
480 ↓ ----- X↑

14
MATEMÁTICA - Evoluir
Exemplo
PORCENTAGEM (DPE/RR – Analista de Sistemas – FCC/2015) Em sala de aula
com 25 alunos e 20 alunas, 60% desse total está com gripe. Se x%
Porcentagem é uma fração cujo denominador é 100, seu sím- das meninas dessa sala estão com gripe, o menor valor possível
bolo é (%). Sua utilização está tão disseminada que a encontramos para x é igual a
nos meios de comunicação, nas estatísticas, em máquinas -de cal (A) 8.
cular, etc. (B) 15.
(C) 10.
Os acréscimos e os descontos é importante saber porque ajuda (D) 6.
muito na resolução do exercício. (E) 12.

Acréscimo Resolução
Se, por exemplo, há um acréscimo de 10% a um determina- 45------100%
do valor, podemos calcular o novo valor apenas multiplicando esse X-------60%
valor por 1,10, que é o fator de multiplicação. Se o acréscimo for X=27
de 20%, multiplicamos por 1,20, e assim por diante. Veja a tabela
abaixo: O menor número de meninas possíveis para ter gripe é se to-
dos os meninos estiverem gripados, assim apenas 2 meninas estão.

ACRÉSCIMO OU LUCRO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO


10% 1,10
Resposta: C.
15% 1,15
20% 1,20
JUROS SIMPLES E COMPOSTO
47% 1,47
67% 1,67
Matemática Financeira
Exemplo:Aumentando 10% no valor de R$10,00 temos: A Matemática Financeira possui diversas aplicações no atual
10 x 1,10 = R$ 11,00 sistema econômico. Algumas situações estão presentes no cotidia -
no das pessoas, como financiamentos de casa e carros, realizações
Desconto de empréstimos, compras a crediário ou com cartão de crédito,
No caso de haver um decréscimo, o fator de multiplicação será:
aplicações financeiras, investimentos em bolsas de valores, entre
Fator de Multiplicação =1 - taxa de desconto (na forma decimal)
outras situações. Todas as movimentações financeiras são baseadas
Veja a tabela abaixo: -
na estipulação prévia de taxas de juros. Ao realizarmos um emprés
timo a forma de pagamento é feita através de prestações mensais
DESCONTO FATOR DE MULTIPLICAÇÃO acrescidas de juros, isto é, o valor de quitação do empréstimo é
superior ao valor inicial do empréstimo. A essa diferença damos o
10% 0,90 nome de juros.
25% 0,75
Capital
34% 0,66 O Capital é o valor aplicado através de alguma operação- finan
60% 0,40 ceira. Também conhecido como: Principal, Valor Atual, Valor Pre-
sente ou Valor Aplicado. Em inglês usa-se Present Value (indicado
90% 0,10
pela tecla PV nas calculadoras financeiras).
Exemplo:Descontando 10% no valor de R$10,00 temos: Taxa de juros e Tempo
10 X 0,90 = R$ 9,00 A taxa de juros indica qual remuneração será paga ao dinheiro
emprestado, para um determinado período. Ela vem normalmente
Chamamos de lucro em uma transação comercial de compra e expressa da forma percentual, em seguida da especificação do - perí
venda a diferença entre o preço de venda e o preço de custo. odo de tempo a que se refere:
Lucro=preço de venda -preço de custo 8 % a.a. - (a.a. significa ao ano).
10 % a.t. - (a.t. significa ao trimestre).
Podemos expressar o lucro na forma de porcentagem de duas
formas: Outra forma de apresentação da taxa de juros é a unitária, que
é igual a taxa percentual dividida por 100, sem o símbolo %:
0,15 a.m. - (a.m. significa ao mês).
0,10 a.q. - (a.q. significa ao quadrimestre)

Montante
Também conhecido como valor acumulado é a soma do Capi-
tal Inicial com o juro produzido em determinado tempo.
Essa fórmula também será amplamente utilizada para resolver
questões.

15
MATEMÁTICA - Evoluir
M=C+J Quando usamos juros simples e juros compostos?
M = montante A maioria das operações envolvendo dinheiro utilizajuros-com
C = capital inicial postos. Estão incluídas: compras a médio e longo prazo, compras
J = juros com cartão de crédito, empréstimos bancários, as aplicações- finan
M=C+C.i.n ceiras usuais como Caderneta de Poupança e aplicações em fundos
M=C(1+i.n) de renda fixa, etc. Raramente encontramos uso para o regime de
juros simples: é o caso das operações de curtíssimo prazo, e -do pro
Juros Simples cesso de desconto simples de duplicatas.
Chama-se juros simples a compensação em dinheiro pelo em-
préstimo de um capital financeiro, a uma taxa combinada, por um O cálculo do montante é dado por:
prazo determinado, produzida exclusivamente pelo capital inicial.
Em Juros Simples a remuneração pelo capital inicial aplicado M = C (1 + i)t
é diretamente proporcional ao seu valor e ao tempo de aplicação.
A expressão matemática utilizada para o cálculo das situações Exemplo
envolvendo juros simples é a seguinte: Calcule o juro composto que será obtido na aplicação de
J = C i n, onde: R$25000,00 a 25% ao ano, durante 72 meses
J = juros C = 25000
C = capital inicial i = 25%aa = 0,25
i = taxa de juros i = 72 meses = 6 anos
n = tempo de aplicação (mês, bimestre, trimestre, semestre, M = C (1 + i)t
ano...) M = 25000 (1 + 0,25)6
M = 25000 (1,25)6
Observação importante: a taxa de juros e o tempo de aplica- M = 95367,50
ção devem ser referentes a um mesmo período. Ou seja, os dois
devem estar em meses, bimestres, trimestres, semestres, anos... O M=C+J
que não pode ocorrer é um estar em meses e outro em anos, ou J = 95367,50 - 25000 = 70367,50
qualquer outra combinação de períodos.
Dica: Essa fórmula J = C i n, lembra as letras das palavras “JU-
ROS SIMPLES” e facilita a sua memorização. ANÁLISE COMBINATÓRIA
Outro ponto importante é saber que essa fórmula pode ser tra-
balhada de várias maneiras para se obter cada um de seus valores,
ou seja, se você souber três valores, poderá conseguir o quarto, ou Análise Combinatória
seja, como exemplo se você souber o Juros (J), o Capital Inicial (C) A Análise Combinatória é a área da Matemática que trata dos
e a Taxa (i), poderá obter o Tempo de aplicação (n). E isso vale para problemas de contagem.
qualquer combinação.
Princípio Fundamental da Contagem
Exemplo Estabelece o número de maneiras distintas de ocorrência de
Maria quer comprar uma bolsa que custa R$ 85,00 à vista. um evento composto de duas ou mais etapas.
Como não tinha essa quantia no momento e não queria perder a Se uma decisão E1 pode ser tomada de n1 modos e, a decisão E2
oportunidade, aceitou a oferta da loja de pagar duas prestações de pode ser tomada de n2 modos, então o número de maneiras de se
R$ 45,00, uma no ato da compra e outra um mês depois. A taxa de tomarem as decisões E1 e E2 é n1.n2.
juros mensal que a loja estava cobrando nessa operação era de:
(A) 5,0% Exemplo
(B) 5,9%
(C) 7,5%
(D) 10,0%
(E) 12,5%
Resposta Letra “e”.

O juros incidiu somente sobre a segunda parcela, pois a pri-


meira foi à vista. Sendo assim, o valor devido seria R$40 (85-45) e a
parcela a ser paga de R$45.
Aplicando a fórmula M = C + J:
45 = 40 + J O número de maneiras diferentes de se vestir é:2(calças).
J=5 3(blusas)=6 maneiras
Aplicando a outra fórmula J = C i n:
5 = 40 X i X 1 Fatorial
i = 0,125 = 12,5% É comum nos problemas de contagem, calcularmos o produto
-
de uma multiplicação cujos fatores são números naturais consecu
Juros Compostos tivos. Para facilitar adotamos o fatorial.
o juro de cada intervalo de tempo é calculado a partir do saldo n! = n(n - 1)(n - 2)... 3 . 2 . 1, (n ϵ N)
no início de correspondente intervalo. Ou seja: o juro de cada in-
tervalo de tempo é incorporado ao capital inicial e passa a render
juros também.

16
MATEMÁTICA - Evoluir
Arranjo Simples Temos 3P, 2A, 2L e 3 E
Denomina-se arranjo simples dos n elementos de E, p a p, toda
sequência de p elementos distintos de E.

Exemplo
Usando somente algarismos 5, 6 e 7. Quantos números de 2 Combinação Simples
algarismos distintos podemos formar? Dado o conjunto {a1, a2, ..., an} com n objetos distintos, pode
-
mos formar subconjuntos com p elementos. Cada subconjunto com
i elementos é chamado combinação simples.

Exemplo
Calcule o número de comissões compostas de 3 alunos que po-
demos formar a partir de um grupo de 5 alunos.

Solução

Observe que os números obtidos diferem entre si: Números Binomiais


Pela ordem dos elementos: 56 e 65 O número de combinações de n elementos, tomados p a p,
Pelos elementos componentes: 56 e 67 também é representado pelo número binomial .
Cada número assim obtido é denominado arranjo simples dos
3 elementos tomados 2 a 2.

Indica-se A3,2

Binomiais Complementares
Dois binomiais de mesmo numerador em que a soma dos de-
nominadores é igual ao numerador são iguais:

Permutação Simples
Chama-se permutação simples dos n elementos, qualquer
agrupamento(sequência) de n elementos distintos de E.
O número de permutações simples de n elementos é indicado
por Pn. Relação de Stifel
Pn = n!

Exemplo
Quantos anagramas tem a palavra CHUVEIRO?
Solução
A palavra tem 8 letras, portanto: Triângulo de Pascal
P8 = 8! = 8 . 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 40320

Permutação com elementos repetidos


De modo geral, o número de permutações de n objetos, dos
quais n1 são iguais a A, n2 são iguais a B, n3 são iguais a C etc.

Exemplo
Quantos anagramas tem a palavra PARALELEPÍPEDO?

Solução
Se todos as letras fossem distintas, teríamos 14! Permutações.
Como temos uma letra repetida, esse número será menor.

17
MATEMÁTICA - Evoluir

LINHA 0 1
LINHA 1 1 1
LINHA 2 1 2 1
LINHA 3 1 3 3 1
LINHA 4 1 4 6 4 1
LINHA 5 1 5 10 10 5 1
LINHA 6 1 6 15 20 15 6 1

Binômio de Newton Área


Denomina-se binômio de Newton todo binômio da forma (a + Área da base: Sb=πr²
b)n, com n ϵ N. Vamos desenvolver alguns binômios:
0
n = 0 → (a + b)=1
1
n = 1 → (a + b)= 1a + 1b
2
n = 2 → (a + b)= 1a2 + 2ab +1b2
3
n = 3 → (a + b)= 1a3 + 3a2b +3ab2 + b3

Observe que os coeficientes dos termos formam o triângulo de Volume


Pascal.

Cones
Na figura, temos um plano α, um círculo contido em α, um- pon
to V que não pertence ao plano.
-
A figura geométrica formada pela reunião de todos os segmen
tos de reta que tem uma extremidade no ponto V e a outra num
GEOMETRIA ESPACIAL ponto do círculo denomina-se cone circular.

Cilindros
Considere dois planos, α e β, paralelos, um círculo de centro O
contido num deles, e uma reta s concorrente com os dois.
Chamamos cilindro o sólido determinado pela reunião de to-
dos os segmentos paralelos a s, com extremidades no círculo e no
outro plano.

Classificação
-Reto: eixo VO perpendicular à base;
Pode ser obtido pela rotação de um triângulo retângulo em - tor
no de um de seus catetos. Por isso o cone reto é também chamado
de cone de revolução.
Quando a geratriz de um cone reto é 2R, esse cone é denomi-
nado cone equilátero.

Classificação
Reto: Um cilindro se diz reto ou de revolução quando as geratri-
zes são perpendiculares às bases.
Quando a altura é igual a 2R(raio da base) o cilindro é equilá-
tero.
Oblíquo: faces laterais oblíquas ao plano da base.
g2 = h2 + r2

18
MATEMÁTICA - Evoluir
-Oblíquo: eixo não é perpendicular Chamamos prisma o sólido determinado pela reunião de todos
os segmentos paralelos a r, com extremidades no polígono R e no
plano β.

Área

Assim, um prisma é um poliedro com duas faces congruentes e


paralelas cujas outras faces são paralelogramos obtidos ligando-se
Volume os vértices correspondentes das duas faces paralelas.

Classificação
Reto: Quando as arestas laterais são perpendiculares às bases
Oblíquo: quando as faces laterais são oblíquas à base.
Pirâmides
As pirâmides são também classificadas quanto ao número de PRISMA RETO PRISMA OBLÍQUO
lados da base.

Área e Volume
Área lateral: Sl = n. área de um triângulo Classificação pelo polígono da base

Onde n = quantidade de lados TRIANGULAR QUADRANGULAR

Stotal = Sb + Sl

Prismas
Considere dois planos α e β paralelos, um polígono R contido
em α e uma reta r concorrente aos dois.

E assim por diante...

Paralelepípedos
Os prismas cujas bases são paralelogramos denominam-se pa-
ralelepípedos.

19
MATEMÁTICA - Evoluir

PARALELEPÍPEDO RETO PARALELEPÍPEDO OBLÍQUO Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do que 90º.

-
Cubo é todo paralelepípedo retângulo com seis faces quadra
das.
Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que 90º.

Ângulo Raso:
Prisma Regular
- É o ângulo cuja medida é 180º;
Se o prisma for reto e as bases forem polígonos regulares, o
- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.
prisma é dito regular.
As faces laterais são retângulos congruentes e as bases são- con
gruentes (triângulo equilátero, hexágono regular,...)

Área
Área cubo: St = 6a2

Área paralelepípedo: St = 2(ab + ac + bc)


Ângulo Reto:
- É o ângulo cuja medida é 90º;
A área de um prisma: St = 2Sb + St
- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.
Onde: St = área total
Sb = área da base
Sl = área lateral, soma-se todas as áreas das faces laterais.

Volume
Paralelepípedo: V = a . b . c
Cubo: V = a³

Demais: V = Sb . h
Triângulo

GEOMETRIA DE SÓLIDOS Elementos

Mediana
Ângulos
Mediana de um triângulo é umsegmento de reta que liga um
Denominamos ângulo a região do plano limitada por duas - se
vértice ao ponto médio do lado oposto.
mirretas de mesma origem. As semirretas recebem o nome de la-
Na figura, é uma mediana do ABC.
dos do ângulo e a origem delas, de vértice do ângulo.
Um triângulo tem três medianas.

20
MATEMÁTICA - Evoluir
A bissetriz de um ângulo interno de um triângulo intercepta o
lado oposto

Bissetriz interna de um triângulo é osegmento da bissetriz de


um ângulo do triângulo que liga um vértice a um ponto do lado
oposto.
Na figura, é uma bissetriz interna do .
Um triângulo tem três bissetrizes internas.
Classificação

Quanto aos lados


Triângulo escaleno: três lados desiguais.

Altura de um triângulo é osegmento que liga um vértice a um


ponto da reta suporte do lado oposto e é perpendicular a esse lado. Triângulo isósceles: Pelo menos dois lados iguais.

Na figura, é uma altura do .

Um triângulo tem três alturas.

Triângulo equilátero: três lados iguais.

Mediatriz de um segmento de reta é a reta perpendicular a


esse segmento pelo seu ponto médio.

Na figura, a retam é a mediatriz de .

Quanto aos ângulos


Triângulo acutângulo: tem os três ângulos agudos

Mediatriz de um triângulo é uma reta do plano do triângulo


que é mediatriz de um dos lados desse triângulo.
Na figura, a retam é a mediatriz do lado do .
Um triângulo tem três mediatrizes.

Triângulo retângulo: tem um ângulo reto

21
MATEMÁTICA - Evoluir
Áreas

1- Trapézio: , onde B é a medida da base maior, b é a


medida da base menor e h é medida da altura.

2 - Paralelogramo: A = b.h, onde b é a medida da base e h é a


medida da altura.

3 - Retângulo: A = b.h
Triângulo obtusângulo: tem um ângulo obtuso
4 - Losango: , onde D é a medida da diagonal maior e d
é a medida da diagonal menor.

5 - Quadrado: A = l2, onde l é a medida do lado.

Polígono
Chama-se polígono a união de segmentos que são chamados
lados do polígono, enquanto os pontos são chamados vértices do
polígono.

Desigualdade entre Lados e ângulos dos triângulos


Num triângulo o comprimento de qualquer lado é menor que
a soma dos outros dois. Em qualquer triângulo, ao maior ângulo
opõe-se o maior lado, e vice-versa.

QUADRILÁTEROS
Quadrilátero é todo polígono com as seguintes propriedades:
- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos i
=S360º
- A soma dos ângulos externos e
=S360º Diagonal de um polígono é um segmento cujas extremidades
são vértices não-consecutivos desse polígono.
Trapézio: É todo quadrilátero tem dois paralelos.

- é paralelo a
- Losango: 4 lados congruentes
- Retângulo: 4 ângulos retos (90 graus)
- Quadrado: 4 lados congruentes e 4 ângulos retos.
Número de Diagonais

Observações:
- No retângulo e no quadrado as diagonais são congruentes
(iguais)
- No losango e no quadrado as diagonais são perpendiculares
entre si (formam ângulo de 90°) e são bissetrizes dos ângulos - inter
nos (dividem os ângulos ao meio).

22
MATEMÁTICA - Evoluir
Ângulos Internos Semelhança de Triângulos
- con Dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os seus
A soma das medidas dos ângulos internos de um polígono - ân
vexo de n lados é (n-2).180 gulos internos tiverem, respectivamente, as mesmas medidas, e os
- es
Unindo um dos vértices aos outros n-3, convenientemente lados correspondentes forem proporcionais.
colhidos, obteremos n-2 triângulos. A soma das medidas dos- ângu
los internos do polígono é igual à soma das medidas dos ângulos Casos de Semelhança
internos dos n-2 triângulos. 1º Caso: AA(ângulo - ângulo)
Se dois triângulos têm dois ângulos congruentes de vértices
correspondentes, então esses triângulos são congruentes.

Ângulos Externos

2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
-
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes proporcio
- es
nais e os ângulos compreendidos entre eles congruentes, então
ses dois triângulos são semelhantes.

A soma dos ângulos externos=360°


Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, então a
razão de dois segmentos quaisquer de uma transversal é igual à ra-
zão dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que são - váli
das as seguintes proporções:

3º Caso: LLL (lado - lado - lado)


-
Se dois triângulos têm os três lado correspondentes proporcio
nais, então esses dois triângulos são semelhantes.

Exemplo

Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo


Considerando o triângulo retângulo ABC.

23
MATEMÁTICA - Evoluir
Como

-
Todo triângulo que tem um ângulo reto é denominado trian
gulo retângulo.
O triângulo ABC é retângulo em A e seus elementos são:

Temos:

a: hipotenusa
b e c: catetos
h: altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipotenusa

Relações Métricas no Triângulo Retângulo


Chamamos relações métricas as relações existentes entre os
diversos segmentos desse triângulo. Assim:

1. O quadrado de um cateto é igual ao produto da hipotenusa


pela projeção desse cateto sobre a hipotenusa.

Fórmulas Trigonométricas
2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipotenusa pela
Relação Fundamental altura relativa à hipotenusa.
Existe uma outra importante relação entre seno e cosseno de
um ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC.

3. O quadrado da altura é igual ao produto das projeções dos


catetos sobre a hipotenusa.

4. O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos


catetos (Teorema de Pitágoras).

Posições Relativas de Duas Retas


Duas retas no espaço podem pertencer a um mesmo plano.
Neste triângulo, temos que: c²=a²+b² Nesse caso são chamadas retas coplanares . Podem também não
Dividindo os membros por c² estar no mesmo plano. Nesse caso, são denominadas retas rever-
sas.

Retas Coplanares
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum

24
MATEMÁTICA - Evoluir

ANOTAÇÕES

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
-Duas retas concorrentes podem ser:
1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto. ______________________________________________________
2. Oblíquas: r e s não são perpendiculares.
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
b) Paralelas: r e s não têm ponto comum ou r e s são coinci- ______________________________________________________
dentes.
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

25
MATEMÁTICA - Evoluir

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

_____________________________________________________ _____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

26
PREPARATÓRIO
História
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PROVA OBJETIVA

Conteúdo Sistemático
Exercícios
Babarito

PM-ES
COMBATENTE 2022
Soldado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo
HISTÓRIA
Evo
1. A sociedade colonial: economia, cultura, trabalho escravo, os bandeirantes e os jesuítas ............................................................... 01
2. Independência e o nascimento do estado brasileiro .......................................................................................................................... 06
3. A organização do estado monárquico. A vida intelectual, política e artística do século xix ............................................................... 08
4. Organização política e econômica do estado republicano ................................................................................................................. 17
5. A primeira guerra mundial e seus efeitos no brasil ............................................................................................................................ 23
6. A revolução de 1930. O período vargas .............................................................................................................................................. 26
7. A segunda guerra mundial e seus efeitos no bra................................................................................................................................ 28
8. Os governos democráticos, os governos militares e a nova república ............................................................................................... 31
9. Cultura do brasil republicano: arte e literatura .................................................................................................................................. 40
10. História do estado do espirito santo: colonização, povoamento, sociedade e indústrias .................................................................. 42
HISTÓRIA
donatários ficavam incumbidos de representar o rei no que se
A SOCIEDADE COLONIAL: ECONOMIA, CULTURA, TRA- referia à defesa militar do território, ao governo dos colonos, à
BALHO ESCRAVO, OS BANDEIRANTES E OS JESUÍTAS aplicação da justiça e à arrecadação dos impostos, recebendo,
em contrapartida, privilégios particulares.
BRASIL COLÔNIA Os direitos e deveres dos donatários eram fixados na carta
de doação, complementada pelos forais. Em recompensa por ar-
Brasil: Primeiros Tempos car com os custos da colonização, os donatários recebiam vasta
Entre 1500 e 1530, além de enviarem algumas expedições extensão de terras para sua própria exploração, incluindo o di-
de reconhecimento do litoral (guarda-costas), os portugueses reito de transmitir os benefícios e o cargo a seus herdeiros.
estabeleceram algumas feitorias no litoral do Brasil, onde ad- Além disso, eram autorizados a receber parte dos impostos
quiram pau-brasil dos indígenas em troca de mercadorias como devidos ao rei, em especial 10% de todas as rendas arrecadadas
espelhos, facas, tesouras e agulhas1. na capitania e 5% dos lucros derivados da exploração do pau-
Tratava-se, portanto, de uma troca muito simples: o escam- -brasil.
bo, isto é, troca direta de mercadorias, envolvendo portugueses Outra atribuição dos capitães era a distribuição de terras
e indígenas. Os indígenas davam muito valor às mercadorias ofe- aos colonos que as pudessem cultivar, o que se fez por meio da
recidas pelos portugueses, a exemplo de tesouras ou facas, que concessão de sesmarias, cujos beneficiários ficavam obrigados
eram rapidamente aproveitadas em seus trabalhos. a cultivar a terra em certo período ou a arrendá-la. No caso das
Mas, em termos de valor de mercado, o escambo era mais terras concedidas permanecerem incultas, a lei estabelecia que
vantajoso para os portugueses, pois ofereciam mercadorias ba- estas deveriam ser confiscadas e retornar ao domínio da Coroa.
ratas, enquanto o pau-brasil alcançava excelente preço na Euro- Mas não foi raro, no Brasil, burlar-se essa exigência da lei, de
pa. Além disso, os indígenas faziam todo o trabalho de abater as modo que muitos colonos se assenhoravam de vastas terras,
árvores, arrumar os troncos e carregá-los até as feitorias. Não mas só exploravam parte delas.O regime de capitanias hereditá-
por acaso, os portugueses incluíam machados de ferro entre as rias inaugurou no Brasil um sistema de tremenda confusão entre
ofertas, pois facilitavam imensamente a derrubada das árvores. os interesses públicos e particulares, o que, aliás, era típico da
A exploração do pau-brasil, madeira valiosa para o fabrico monarquia portuguesa e de muitas outras desse período.
de tintura vermelha para tecidos, foi reservada corno monopólio D. João III estabeleceu o sistema de capitanias hereditárias
exclusivo do rei, sendo, portanto, um produto sob regime de es- com o objetivo específico de povoar e colonizar o Brasil. Com
tanco. Mas o rei arrendava esse privilégio a particulares, como o exceção de São Vicente e Pernambuco, as demais capitanias não
comerciante Fernando de Noronha, primeiro contratante desse prosperaram. Em 1548, o rei decidiu criar o Governo-geral, na
negócio, em 1501. Bahia, com vistas a centralizar a administração colonial.

Capitanias Hereditárias e o Governo Geral Governo Geral


No início do século XVI, cerca de 65% da renda do Estado Foi por meio das sesmarias que se iniciou a economia açuca-
português provinha do comércio ultramarino. O monarca portu- reira no Brasil, difundindo-se as lavouras de cana-de-açúcar e os
guês transformou-se em um autêntico empresário, agraciando engenhos. Embora tenha começado em São Vicente, ela logo se
nobres e mercadores com a concessão de monopólios de rotas desenvolveu em Pernambuco, capitania mais próspera no século
comerciais e de terras na Ásia, na África e na América. XVI.
Apesar da rentabilidade do pau-brasil, nas primeiras déca- As demais fracassaram ou mal foram povoadas. Várias de-
das do século XVI a importância do litoral brasileiro para Portu- las não resistiram ao cerco indígena, como a do Espírito Santo.
gal era sobretudo estratégica. A frota da Índia, que concentrava Na Bahia, o donatário Francisco Pereira Coutinho foi devorado
os negócios portugueses, contava com escalas no Brasil para pelos tupinambás. Em Porto Seguro, o capitão Pero do Campo
reparos de navios de reabastecimento de alimentos e água. A Tourinho acabou se indispondo com os colonos e enviado preso
presença crescente de navegadores franceses no litoral, também a Lisboa.
interessados no pau-brasil, foi vista pela Coroa portuguesa como A Coroa portuguesa percebeu as deficiências desse siste-
uma ameaça. ma ainda no século XVI e reincorporou diversas capitanias ao
Na prática, disputavam o território com os portugueses, patrimônio real, como capitanias da Coroa. Constatou também
ignorando o Tratado de Tordesilhas (1494), pois julgavam um que muitos donatários não tinham recursos nem interesse para
abuso esse acordo, fosse ele reconhecido ou não pelo papa. Tor- desbravar o território, atrair colonos e vencer a resistência indí-
nou-se célebre a frase do rei francês Francisco I, dizendo desco- gena. Assim, a partir da segunda metade do século XVI, a Coroa
nhecer o “testamento de Adão” que dividia o mundo entre os preferiu criar capitanias reais, como a do Rio de Janeiro. Algumas
dois reinos ibéricos. delas foram mantidas como particulares e hereditárias, como a
de Pernambuco.
Capitanias Hereditárias Porém, a maior inovação foi a criação do Governo-geral, em
Para preservar a segurança da rota oriental, os portugueses 1548, com o objetivo de centralizar o governo da colônia, coor-
organizaram a colonização do Brasil. A solução adorada por D. denando o esforço de defesa, fosse contra os indígenas rebeldes,
João III, em 1532, foi o sistema de capitanias hereditárias, que fosse contra os navegadores e piratas estrangeiros, sobretudo
já havia sido utilizado na colonização do arquipélago da Madeira. franceses, que acossavam vários pontos do litoral. A capitania
O litoral foi dividido em capitanias, concedidas, em geral, a escolhida para sediar o governo foi a Bahia, transformada em
cavaleiros da pequena nobreza que se destacaram na expansão capitania real.
para a África e para a Índia. Em suas respectivas capitanias, os Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil, chegou à
1 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. Bahia em 1549 e montou o aparelho de governo com funcioná-
Saraiva. rios previstos no Regimento do Governo-geral: o capitão-mor,

1
HISTÓRIA
encarregado da defesa militar, o ouvidor-mor, encarregado da Atlântico Sul. Em 1560, as tropas de Mem de Sá tomaram o Forte
justiça; o provedor-mor, encarregado das finanças; e o alcaide- Coligny, mas a resistência francesa foi intensa, apoiada pela coa-
-mor, incumbido da administração de Salvador, capital do então lizão indígena chamada Confederação dos Tamoios.
chamado Estado do Brasil. As guerras pelo território prosseguiram até que Estácio de
No mesmo ano, chegaram os primeiros jesuítas, iniciando-se Sá, sobrinho do governador, passou a comandar a guerra de con-
o processo de evangelização dos indígenas, sendo criado, ainda, quista contra a aliança franco-tamoia. Aliou-se aos temiminós,
o primeiro bispado da colônia, na Bahia, com a nomeação do liderados por Arariboia, inimigos mortais dos tamoios. A guerra
bispo D. Pero Fernandes Sardinha. luso-francesa na Guanabara foi também uma guerra entre temi-
A implantação do Governo-geral, a criação do bispado baia- minós e tamoios, razão pela qual cada grupo escolheu alianças
no e a chegada dos missionários jesuítas foram, assim, proces- com os oponentes europeus.
sos articulados e simultâneos. Por outro lado, a Bahia passou Em 12 de março de 1565, em meio a constantes combates,
a ser importante foco de povoamento, tornando-se, ao lado de foi fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu
Pernambuco, uma das principais áreas açucareiras da América governo foi confiado a Estácio de Sá, morto por uma flecha en-
portuguesa. venenada em 20 de janeiro de 1567, mesmo ano em que os por-
tugueses expulsaram os franceses do Rio de Janeiro. Os tamoios,
Disputas Coloniais por sua vez, foram massacrados pelos temiminós, cujo chefe,
Nos primeiros trinta anos do século XVI, os grupos indíge- Arariboia, foi presenteado com terras e títulos por seus serviços
nas do litoral não sofreram grande impacto com a presença dos ao rei de Portugal.
europeus no litoral, limitados a buscar o pau-brasil. E certo que
franceses e portugueses introduziram elementos até então es- França Equinocial
tranhos à cultura dos tupis, como machados e facas, entre ou- Derrotados na Guanabara, os franceses tentaram ocupar
tros. Mas isso não alterou substancialmente as identidades cul- outra parte do Brasil, no início do século XVII. Desta vez o alvo
turais nativas. foi a capitania do Maranhão. Confiou-se a tarefa a Daniel de Ia
A partir dos anos 1530, franceses e portugueses passaram a
Touche, senhor de La Ravardiére, que foi acompanhado de dois
disputar o território e tudo mudou. A implantação do Governo-
frades capuchinhos que se tornaram famosos: Claude d’Abbe-
-geral português na Bahia, em 1549, não inibiu tais iniciativas.
ville e Yves d’Evreux, autores de crónicas importantes sobre o
Mas foi na segunda metade do século XVI que ocorreu a mais
Maranhão.
importante iniciativa de ocupação francesa, do que resultou a
Em 1612, os franceses fundaram a França Equinocial e nela
fundação da França Antártica, na baía da Guanabara.
construíram o Forte de São Luís. Mas também ali houve disputas
França Antártica internas e falta de recursos para manter a conquista. Os portu-
Por volta de I1550, o cavaleiro francês Nicolau Durand de gueses tiraram proveito dessa situação, liderados por Jerônimo
Villegagnon concebeu o plano de estabelecer uma colônia fran- de Albuquerque. À frente de milhares de soldados, incluindo in-
cesa na baía da Guanabara, com o objetivo de criar ali um refú- dígenas, ele moveu campanha contra os franceses em 1613 e
gio para os huguenotes (como eram chamados os protestantes), finalmente os derrotou em 1615, tomando o Forte de São Luís.
além de dar uma base estável para o comércio de pau-brasil. O
lugar ainda não tinha sido povoado pelos portugueses. Os Jesuítas
Vlllegagnon recebeu o apoio do huguenote Gaspard de Co- A catequese dos indígenas foi um dos objetivos da coloniza-
ligny, almirante que gozava de forte prestígio na corte francesa. ção portuguesa, embora menos importante do que os interes-
A ideia de conquistar um pedaço do Brasil animou também o car- ses comerciais. No entanto, a crescente resistência indígena ao
deal de Lorena, um dos maiores defensores da Contrarreforma avanço dos portugueses e a aliança que muitos grupos estabe-
na França e conselheiro do rei Henrique II. leceram com os franceses fizeram a Coroa perceber que, sem a
O projeto de colonização francesa nasceu, portanto, marca- “pacificação” dos nativos, o projeto colonizador estaria amea-
do por sérias contradições de uma França dilacerada por con- çado.
flitos políticos e religiosos. Uns desejavam associar a futura co- Assim, em 1549, desembarcaram os primeiros jesuítas, li-
lônia ao calvinismo, enquanto outros eram católicos convictos. derados por Manoel da Nóbrega, incumbidos de transformar
Henrique II, da França, apoiou a iniciativa e financiou duas naus os “gentios” em cristãos. A Companhia de Jesus era a ordem
armadas com recursos para o estabelecimento dos colonos. Vil- religiosa com maior vocação para essa tarefa, pois seu grande
legagnon aportou na Guanabara em novembro de ISSS e fundou objetivo era expandir o catolicismo nas mais remotas partes do
o Forte Coligny para repelir qualquer retaliação portuguesa. O mundo. Desde o início, os jesuítas perceberam que a tarefa seria
fator para o êxito inicial foi o apoio recebido dos tamoios, so- dificílima, pois os padres tinham de lidar com povos desconheci-
bretudo porque os franceses não escravizavam os indígenas nem dos e culturas diversas.
lhes tomavam as terras. A solução foi adaptar o catolicismo às tradições nativas, co-
meçando pelo aprendizado das línguas, procedimento que os
Conflitos Internos jesuítas também utilizaram na China, na Índia e no Japão. Com
A colônia francesa era carente de recursos e logo se viu ator- esse aprendizado, os padres chegaram a elaborar uma gramática
mentada pelos conflitos religiosos herdados da metrópole. Os que preparava os missionários para a tarefa de evangelização.
colonos chegavam a se matar por discussões sobre o valor dos José de Anchieta compôs, por volta de 1555, uma gramática da
sacramentos e do culto aos santos, gerando revoltas e punições língua tupi, que era a língua mais falada pelos indígenas do lito-
exemplares. ral. Por essa razão, o tupi acabou designado como “língua geral “.
Do lado português, Mem de Sá, terceiro governador-geral
desde 1557, foi incumbido de expulsar os franceses da baía da
Guanabara, região considerada estratégica para o controle do

2
HISTÓRIA
As Missões bem a língua nativa, chamada de “língua geral” , conheciam os
Havia a necessidade de definir onde e como realizar a cate- segredos das matas, sabiam como enfrentar os animais ferozes
quese. De início, os padres iam às aldeias, onde se expunham a e, por isso, eram contratados para “caçar indígenas”.
enormes perigos. Nessa tentativa, alguns até morreram devora- Muitas vezes negociavam com os chefes das aldeias a tro-
dos pelos indígenas. ca de prisioneiros por armas, cavalos e pólvora. Outras vezes
Em Outros casos, eles tinham de enfrentar os pajés, aos capturavam escravos nas aldeias ou nos próprios aldeamentos
quais chamavam feiticeiros, guardiões das crenças nativas. Para dirigidos pelos missionários. Esses mamelucos integravam as
contornar tais dificuldades, os jesuítas elaboraram um “plano de expedições chamadas de bandeiras. Alguns historiadores dife-
aldeamento”, em 1558, cujo primeiro passo era trazer os nativos renciam as bandeiras, expedições de iniciativas particulares, das
de suas malocas para os aldeamentos da Companhia de Jesus entradas, patrocinadas pela Coroa ou pelos governadores.
dirigidos pelos padres. Os jesuítas entendiam que, para os indí- Entretanto, os dois tipos de expedição se confundiam, seja
genas deixarem de ser gentios e se transformarem em cristãos, nos objetivos, seja na composição de seus membros, embora o
era preciso deslocá-los no espaço: levá-los da aldeia tradicional termo entrada fosse mais utilizado nos casos de repressão de
para o aldeamento colonial. rebeliões e de exploração territorial. Desde o século XVI, o obje-
Foi esse o procedimento que deu maiores resultados. Esta tivo principal das entradas e bandeiras era procurar riquezas no
foi urna alteração radical no método da catequese, com grande interior, chamado na época de sertões, e escravizar indígenas.
impacto na cultura indígena. Os aldeamentos foram concebidos Os participantes dessas expedições eram, em geral, chamados
pelos jesuítas para substituir as aldeias tradicionais. Os padres de bandeirantes. Ao longo do século XVII, as expedições bandei-
realizaram o grande esforço de traduzir a doutrina cristã para a rantes alargaram os domínios portugueses na América, que ultra-
cultura indígena, estabelecendo correspondências entre o cato- passaram a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.
licismo e as tradições nativas. No final do século XVII, os bandeirantes acabaram encontrando o
Foi assim, por exemplo, que o deus cristão passou a ser cha- tão cobiçado ouro na região depois conhecida como Minas Gerais.
mado de Tupã (trovão, divinizado pelos indígenas). A doutrina-
União Ibérica e Brasil Holandês
ção colheu melhores resultados com as crianças, já que ainda
Em 1578, o jovem rei português D. Sebastião partiu à frente
não conheciam bem as tradições tupis. A encenação de peças
de numeroso exército para enfrentar o xarife do Marrocos na fa-
teatrais para a exaltação da religião cristã - os autos jesuíticos -
mosa Batalha de Alcácer-Quibir. Perdeu a batalha e a vida. Como
foi importante instrumento pedagógico. Os autos mobilizavam
era solteiro e não tinha filhos, a Coroa passou para seu tio-avô, o
as crianças como atores ou membros do coro.
cardeal D. Henrique, que morreu dois anos depois.
Mas os indígenas resistiram muito à mudança de hábitos. Os
Felipe II, rei da Espanha, cuja mãe era tia-avó de D. Sebas-
colonos, por sua vez, queriam-nos como escravos para trabalhar
tião, reivindicou a Coroa e mandou invadir Portugal, sendo acla-
nas lavouras. Os jesuítas lutaram, desde cedo, contra a escravi-
mado rei com o título de Felipe I. Portugal foi unido à Espanha
zação dos indígenas pelos colonos portugueses, alegando que o sob o governo da dinastia dos Habsburgos, iniciando-se a União
fundamental era doutriná-los, e assim conseguiram do rei várias Ibérica, que duraria 60 anos (1580-1640).
leis proibindo o cativeiro indígena. Durante esse período de dominação filipina, ocorreram mo-
dificações importantes na colônia. Em 1609, foi criado o Tribunal
Sociedade Colonial X Jesuítas da Relação da Bahia, o primeiro tribunal de justiça no Brasil. No
No século XVI, os jesuítas perderam a luta contra os inte- mesmo ano, uma lei reafirmou a proibição do cativeiro indíge-
resses escravistas. No século XVII, porém, organizaram melhor na. Em 1621, houve a divisão do território em dois Estados: o
as missões, sobretudo no Maranhão e no Pará, e afastaram os Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, este último mais tarde
aldeamentos dos núcleos coloniais para dificultar a ação dos chamado de Estado do Grão-Pará e Maranhão, subordinado di-
apresadores. retamente a Lisboa.
Defenderam com mais vigor a “liberdade dos indígenas”, no Outra inovação foram as visitações da Inquisição, realizadas
que se destacou António Vieira, principal jesuíta português atu- para averiguar a fé dos colonos, sobretudo a dos cristãos-no-
ante no Brasil e autor de inúmeros sermões contra a cobiça dos vos, descendentes de judeus e suspeitos de conservar as antigas
senhores coloniais. Embora condenassem a escravização indíge- crenças em segredo.
na, os jesuítas sempre defenderam a escravidão africana, desde Nesse período, da União Ibérica, as fronteiras estabelecidas
que os senhores tratassem os negros com brandura e cuidassem pelo Tratado de Tordesilhas foram atenuadas, uma vez que Por-
de prover sua Instrução no cristianismo. tugal passou a pertencer à Espanha. Por meio dos avanços dos
Assim os jesuítas conseguiram conciliar os objetivos missio- bandeirantes, os limites do Brasil se expandiram para oeste, nor-
nários com os interesses mercantis da colonização. Expandiram te e sul. Mas com essa união Portugal acabou herdando vários
seus aldeamentos por todo o Brasil, desde o sul até a região inimigos dos espanhóis, dentre eles os holandeses. E não tardou
amazônica. Na segunda metade do século XVIII, a Companhia de muito para que a atenção deles se voltasse para as prósperas
Jesus era uma das mais poderosas e ricas instituições da América capitanias açucareiras do Brasil.
portuguesa.
Um Governo Holandês
A Ação dos Bandeirantes A investida dos holandeses contra o Brasil era previsível.
Na América portuguesa, desde o século XVI os colonos fo- Amsterdã tinha se tornado o centro comercial e financeiro da
ram os maiores adversários dos jesuítas. Preferiam, sempre que Europa e se preparava para atingir o Atlântico e o Indico. An-
possível, obter escravos indígenas, mais baratos do que os afri- tes da União Ibérica, os portugueses haviam se associado aos
canos. No entanto, eram os chamados mamelucos, geralmente holandeses no comércio do açúcar. O Brasil produzia o açúcar,
filhos de portugueses com índias, os oponentes mais diretos dos Portugal o comprava em regime de monopólio, vendendo-o à
nativos. Os mamelucos eram homens que dominavam muito Holanda, que o revendia na Europa.

3
HISTÓRIA
A Espanha, inimiga da Holanda, jamais permitiria a continui- Os judeus portugueses foram muito importantes para a do-
dade desse negócio. Em 1602, os holandeses fundaram a Com- minação holandesa no nordeste açucareiro, sobretudo na dis-
panhia das Índias Orientais, que conquistaria diversos territó- tribuição de mercadorias importadas e de escravos. Também se
rios hispano-portugueses no oceano Índico. Em 1621, fundaram destacaram como corretores, intermediando negócios em troca
a Companhia das Índias Ocidentais para atuar no Atlântico, cuja de um percentual sobre o valor das transações. O fato de os ju-
missão principal era conquistar o Brasil. Em 1624, os holandeses deus do Recife falarem português e holandês foi decisivo para
atacaram a Bahia, sede do governo do Brasil. Conquistaram Sal- que alcançassem esse importante papel na economia regional.
vador, mas não conseguiram derrotar a resistência baiana, sendo
expulsos da cidade no ano seguinte. Restauração Pernambucana
Em 1630, foi a vez de Pernambuco, a capitania mais rica na Em 1640, durante a ocupação de Pernambuco pelos holan-
produção de açúcar. Os holandeses conquistaram Olinda e Recife deses, Portugal conseguiu se livrar do domínio espanhol com a
sem dificuldade, obrigando o governador a retirar sua milícia. ascensão ao trono de D. João IV, da dinastia de Bragança. O rei
Tomaram Itamaracá, em 1632, o Rio Grande do Norte, em 1633, tentou negociar com os holandeses a devolução dos territórios
e a Paraíba, no final de 1634. Mais tarde, eles ainda tomariam conquistados no tempo em que Portugal estava submetido aos
o Ceará e parte do Maranhão, estabelecendo o controle sobre espanhóis, mas os holandeses não cederam.
a maior parte do litoral nordestino. Na medida em que avan- Em 1644, após Nassau voltar à Holanda, os colonos do Brasil
çavam, muitos luso-brasileiros desertavam ou passavam para o resolveram enfrentar os holandeses. Motivo: os preços do açú-
lado holandês. car vinham declinando desde 1643, e os senhores de engenho e
O mais célebre deles foi Domingos Fernandes Calabar, que os lavradores de cana estavam cada vez mais endividados com
atuou como guia dos holandeses, em 1632, pois conhecia bem a Companhia das Índias Ocidentais. Em 13 de junho de 1645,
os caminhos de Pernambuco. Caiu prisioneiro dos portugueses, iniciou-se a chamada Insurreição Pernambucana.
em 1635, e foi condenado à morte - estrangulado e depois es- João Fernandes Vieira era o líder dos rebeldes e um dos
quartejado, como exemplo de traidor. Muitos outros, porém, fi- maiores devedores dos holandeses. André Vidal de Negreiros
zeram o mesmo e saíram ilesos. era o segundo no comando dos rebeldes. Os indígenas potigua-
As primeiras ações da Holanda foram violentas, incluindo res, liderados por Felipe Camarão, e a milícia de negros forros,
saque de igrejas e destruição das imagens de santos. Afinal, os liderada por Henrique Dias, uniram esforços contra os holande-
holandeses eram calvinistas e repudiavam o catolicismo. ses. Essa aliança produziu o mito de que a guerra contra o inva-
Em 1635, com a conquista consolidada, os holandeses per- sor holandês “uniu as três raças formadoras da nação brasileira”,
ceberam que, sem o apoio da população local, a dominação seria
sobretudo entre os historiadores do século XIX.
inviável. Assim, a primeira medida foi a de estabelecer a tolerân-
No entanto, houve indígenas lutando nos dois lados. Entre os
cia religiosa, admitindo-se os cultos católicos e a permanência
potiguares, por exemplo, Pedro Poti - primo de Filipe Carnarão -
dos padres, com a exceção dos jesuítas, que foram expulsos.
lutou do lado holandês. Entre os africanos, nunca houve tantas
A segunda medida foi oferecer empréstimos aos senhores
fugas em Pernambuco corno nesse período, o que encorpou a po-
locais ou leiloar os engenhos cujos donos tinham fugido. Em
pulação dos quilombos de Palmares. Nessa ocasião, partindo do
1637, com a chegada do conde João Maurício de Nassau, no-
Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá reconquistou Angola, em
meado pela Companhia das Índias Ocidentais, inaugurou-se uma
1648, rompendo o controle holandês sobre o tráfico africano. A
nova fase na história da dominação holandesa. Ele chegou ao Re-
economia pernambucana sob domínio da Holanda viu-se em cres-
cife e determinou a realização de inúmeras obras, como a cons-
cente dificuldade para obter escravos.
trução da Cidade Maurícia, na outra banda do rio Capibaribe,
onde foi erguido um palácio e criado um jardim botânico. Em 1649, os rebeldes pernambucanos alcançaram vitória de-
Patrocinou a vinda de artistas holandeses, que retrataram a cisiva na segunda Batalha dos Guararapes. Em 1654, tornaram
paisagem e a vida colonial como nunca até então se havia feito o Recife e expulsaram de vez os holandeses do Brasil. Em 1661,
no Brasil. Mas o governo de Nassau não deixou de ampliar as Portugal e Países Baixos assinaram um tratado de paz, em Haia,
conquistas territoriais da Companhia das Índias. Logo em 1637 pelo qual os portugueses se comprometeram a pagar uma pesada
ordenou a captura da feitoria africana de São Jorge da Mina, no indenização aos holandeses em dinheiro, açúcar, tabaco e sal.
golfo de Benin, e anexou o Sergipe.
Em 1638, lançou-se à conquista da Bahia, que resistiu no- A Guerra de Palmares
vamente com bravura e não caiu. Em 1641, tomou o Maranhão Durante o domínio holandês em Pernambuco, começaram a
e, no mesmo ano, invadiu a cidade de Luanda, em Angola. Os se formar os quilombos de Palmares, núcleo da maior revolta de
holandeses passaram, então, a controlar o tráfico atlântico de escravos da história do Brasil. Palavra de origem banto - tronco
escravos. linguístico do idioma falado em Angola - kilombo significa acam-
pamento ou fortaleza.
Tolerância Religiosa Foi o termo que os portugueses utilizaram para designar as
Foi no chamado período nassoviano que os judeus portu- comunidades de africanos fugidos da escravidão. O incremento
gueses residentes em Amsterdã (ali estabelecidos para escapar do tráfico africano para a região, a partir da conquista holandesa
às perseguições da Inquisição) foram autorizados a imigrar para de Angola, em 1641, foi o principal fator para o aumento das
Pernambuco. Um grupo estimado em, no mínimo, 1500 judeus fugas e o crescimento quilombos. Localizado na serra da Barri-
fixou-se em Pernambuco e na Paraíba entre 1637 e 1644. ga, no estado de Alagoas (na época pertencia a Pernambuco),
Fundaram uma sinagoga no Recife a primeira Sinagoga das Palmares cresceu muito na segunda metade do século XVII. Esti-
Américas - e fizeram campanha junto aos cristãos-novos da Co- ma-se que chegou a possuir dez fortes ou mocambos, com cerca
lônia para que abandonassem o catolicismo, regressando à re- de 20 mil quilombolas. Eles viviam da caça, coleta e agricultura
ligião de seus antepassados. Muitos atenderam a esse apelo; de milho e feijão, realizada em roçados familiares utilizando um
outros preferiram permanecer cristãos. sistema de trabalho cooperativo.

4
HISTÓRIA
Os excedentes agrícolas eram vendidos nas vilas próximas. Em 1707, estourou a chamada Guerra dos Emboabas, que
Frequentemente atacavam os engenhos e roubavam escravos, durou até 1709, com a derrota dos paulistas. Para melhorar a
em especial mulheres. Por vezes, assaltavam aldeias indígenas arrecadação dos impostos e submeter a população, em 1709 foi
em busca de mulheres e alimentos. Alguns historiadores viram criada a capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada da
em Palmares um autêntico Estado africano recriado no Brasil capitania do Rio de Janeiro. Surgiram vilas e outros núcleos urba-
para combater a sociedade escravista dominante. Mas há exage- nos para receber a burocracia administrativa e o aparelho fiscal.
ro nessa ideia, embora seja inegável a organização política dos Apesar de vencidos e, num primeiro momento, expulsos das
quilombos, inspirada no modelo das fortalezas africanas. Exata- áreas de conflito (vales do rio das Velhas e do rio das Mortes), o
mente por serem naturais de sociedades africanas em que a es- fato era que somente os paulistas tinham experiência em encon-
cravidão era generalizada, os principais dirigentes do quilombo trar jazidas de ouro.
possuíam escravos, reeditando a escravidão praticada na África. Foram formalmente perdoados pelo governador da nova ca-
Os líderes de Palmares lutavam pela própria liberdade, mas pitania, o Conde de Assumar, em 1717. Os dirigentes metropo-
não pelo fim da escravidão. De todo modo, o crescimento de litanos não só reconheciam sua competência nas explorações,
Palmares levou as autoridades coloniais a multiplicar expedições mas também avaliavam que somente com eles não era possível
repressivas. Todas fracassaram, repelidas por Ganga Zumba, organizar estabelecimentos fortes e duradouros. Logo que se es-
grande chefe dos quilombolas. Em 1678, o governador de Per- gotava uma mina, saíam em busca de novos veios. Assim, os pau-
nambuco propôs um acordo ao chefe dos palmarinos. Em troca listas foram obrigados a compartilhar a exploração do ouro com
da paz, Ganga Zumba obteve a alforria para os negros de Pal- os emboabas. Mas mantiveram suas andanças exploratórias,
mares, a concessão de terras em Cucaú (norte de Alagoas) e a descobrindo campos auríferos ainda em Goiás e Mato Grosso.
garantia de prosseguirem o comércio com os vizinhos.
Comprometeu-se, porém, a devolver todos os escravos que Exploração das minas
dali em diante fugissem para o quilombo. O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a
O acordo dividiu os quilombolas, e Ganga Zumba foi assas- região aurífera. Criou em 1702 a Intendência das Minas, órgão
sinado pelo grupo que rejeitou os termos desse acordo, descon- que tinha entre suas funções zelar pela cobrança do quinto real,
fiando das intenções do governo colonial. Prosseguiu, assim, a reprimir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais -
denominados datas.
guerra dos palmarinos, agora liderada por Zumbi. A resistência
Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobri-
quilombola foi grande, mas acabou sucumbindo em 1695, derro-
dor deveria comunicar o fato às autoridades. Em tese, todas as
tada pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho. Em 20
jazidas eram propriedade do rei, que poderia conceder a parti-
de novembro de 1695, Zumbi foi degolado e sua cabeça, enviada
culares o direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as
como troféu para Recife - o maior triunfo da sociedade escravista
datas, sorteando-as aos solicitantes. O descobridor escolheria as
no Brasil colonial.
duas datas que mais lhe interessassem, livrando-se do sorteio.
O Guarda-Mor da In- tendência escolhia, em nome da Fazenda
Economia Mineradora
Real, a data do rei, que era leiloada e arrematada por particula-
O fim da União Ibérica em 1640 e a consequente ascensão
res, os contratadores, em troca de um pagamento.
ao poder da dinastia de Bragança criaram mais problemas do Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada
que soluções para Portugal. Além de enfrentar uma longa guer- escravo representava, em medidas da época, o equivalente a 5,5
ra contra a Espanha, que se prolongou, com enorme custo, até metros de terreno, e um proprietário poderia ter no máximo 66
1668, os portugueses foram obrigados a pagar indenizações à metros em quadra, denominada data inteira. Para explorar as
Holanda depois da vitória na Insurreição Pernambucana, em jazidas das datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração
1654, sob o risco de suas colônias e navios serem atacados pela em grande escala com aparelhamento para a lavagem do ouro.
poderosa marinha flamenga. O ouro encontrado fora das datas, em locais franqueados a
A situação se agravou na segunda metade do século XVII. todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam
Apesar da recuperação das capitanias açucareiras do Brasil, os somente alguns instrumentos de fabricação simples, como a ba-
portugueses tiveram de conviver com a concorrência do açúcar teia e o cotumbê, trabalhando por conta própria.
produzido nas Antilhas inglesas, francesas e holandesas. Os mer- Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às
cadores holandeses, por exemplo, eram os maiores distribuido- Intendências. Elas deviam recolher, fundir e retirar o quinto da
res do açúcar na Europa e, obviamente, priorizaram a merca- Coroa, transformando-o em barra, única forma autorizada para
doria de suas ilhas caribenhas depois de expulsos do Brasil. Na a circulação do metal fora da capitania.
década de 1690, um fato espetacular mudou totalmente esse Desde o início, a mineração exigiu maior centralização admi-
quadro de penúria: a descoberta de uma quantidade até então nistrativa, o que diferenciava as Minas de outras regiões expor-
nunca vista de ouro de aluvião no interior do Brasil, numa região tadoras da Colônia. As Intendências, por exemplo, eram subordi-
que passou a ser conhecida como Minas Gerais. nadas diretamente à metrópole, e não às autoridades coloniais.
Uma onda impressionante de aventureiros do Brasil e de A descoberta de diamantes, em 1729, no que então passou a
Portugal se dirigiu para o lugar em busca do metal precioso que, chamar-se Distrito Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco,
de tão abundante, parecia inesgotável. Os bandeirantes paulis- provocou medida ainda mais drástica: o ir e vir de pessoas ficou
tas estavam acostumados, desde o século XVI, a armar expedi- condicionado à autorização do intendente.
ções ao interior do território para escravizar indígenas, e foram Na época da descoberta do ouro, havia dois caminhos que le-
eles os responsáveis pela descoberta do ouro. Os paulistas so- vavam às Gerais: um que partia de São Paulo (que ficou conhecido
licitaram o monopólio das explorações, não sendo atendidos. como Caminho Velho das Gerais) e outro do porto de Parati; eles
Não puderam controlar a entrada dos emboabas (estrangeiros), se encontravam na serra da Mantiqueira. Para ir do Rio de Janeiro
como eram denominados pelos paulistas os portugueses vindos às Minas, o viajante tinha de ir de barco até Parati e, de lá, após
do reino e os que chegavam de outras capitanias. atravessar a serra do Mar, encontrar o caminho de São Paulo.

5
HISTÓRIA
Era um caminho muito acidentado e, para percorrê-lo, de- Sede do Governo Português
morava cerca de dois meses, viajando-se, como era o costume, Agora que boa parte da elite lusa encontrava-se em terras
até o meio-dia. Foi determinada a construção de uma nova via, brasileiras, o desenvolvimento da colônia não poderia continu-
ligando diretamente a cidade do Rio de Janeiro às Minas de ar cerceado. Como afirma a historiadora Maria Odila Silva Dias,
Ouro, conhecida como Caminho Novo das Gerais. Em todos os pela primeira vez iria se configurar “nos trópicos portugueses
caminhos foram estabelecidos registros, que funcionavam como preocupações de uma colônia de povoamento e não apenas de
postos de fiscalização e de cobrança de taxas sobre os produtos exploração ou de feitoria comercial”. Assim, seis dias depois de
vendidos na região. Era tarefa dos agentes conferir se o ouro desembarcar em Salvador, o príncipe regente dom João decre-
que era transportado para o Rio de Janeiro havia sido tributa- tou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, ou seja,
do. Também os registros foram objetos de contratos entre a Real às nações com as quais Portugal mantinha relações diplomáticas
Fazenda e particulares (contratadores), que poderiam, por um amigáveis.
certo tempo, explorar a arrecadação.
O ouro do Brasil permitiu à Coroa portuguesa considerável O Governo de D. João no Brasil
aumento de suas rendas. Sua exploração possibilitou ainda uma Dom João — cuja gestão é conhecida como governo joanino
maior ocupação do interior do Brasil, empurrando cada vez mais - adotou medidas que afetaram diretamente a vida econômica,
os limites da linha de Tordesilhas para o oeste. Incentivou, tam- política, administrativa e cultural do Brasil. No plano administra-
bém, o surgimento de atividades econômicas complementares tivo, dom João procurou reproduzir na colônia a estrutura buro-
à mineração, como a criação de mulas no Rio Grande do Sul, os crática do reino. Foram criados órgãos públicos, como o Conse-
únicos animais capazes de transportar mercadorias nos íngre- lho de Estado e o Erário Régio (que depois se tornou Ministério
mes caminhos das Minas. da Fazenda), que garantiam o funcionamento burocrático do Es-
O declínio da mineração foi tão rápido quanto o aumento tado e proporcionavam emprego para muitos portugueses.
de sua produção. Em 1780, a renda obtida com a mineração era Ainda em 1808, foram criados o Banco do Brasil, o Real Hos-
menos da metade do que em seu apogeu, trinta anos antes. Esse pital Militar e o Jardim Botânico. Dom João autorizou também
declínio se deve, basicamente, ao fato de a maior parte do ouro o funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Com
das Minas ser de aluvião, facilmente encontrado e extraído e os livros da Biblioteca Real trazidos de Lisboa foi organizada a
rapidamente esgotado. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Para interligar a capital com as demais regiões da colônia e
povoar o interior, o governo doou sesmarias e autorizou o Ban-
A INDEPENDÊNCIA E O NASCIMENTO DO ESTADO co do Brasil a oferecer créditos aos colonos para que pudessem
BRASILEIRO plantar e criar gado. Essa política de povoamento estimulou a
imigração. Em 1815, um grupo de 45 colonos oriundo de Macau
PERÍODO JOANINO E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL e Cantão, na China, estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro.
Em 1818, cerca de dois mil suíços fundaram Nova Friburgo,
A Chegada da Família Real ao Brasil na província do Rio de Janeiro (as capitanias passaram a se cha-
mar províncias a partir de 1815). Na política externa, o governo
Em 1806, Portugal foi afetado pelo Bloqueio Continental da joanino adotou uma linha de ação franca- mente expansionis-
França contra a Inglaterra, que ocorreu graças à impossibilidade ta, ocupando a Guiana Francesa, em 1809, e anexando a Banda
das tropas de Napoleão de anexar a Inglaterra por meios mi- Oriental (atual Uruguai), em 1816. Em 1818, dois anos após a
litares. Caso não aderisse ao Bloqueio, as tropas de Napoleão morte da rainha dona Maria, o príncipe regente foi coroado rei
invadiriam o território português. Entretanto, Portugal decidiu com o título de dom João Vl.
não seguir esse caminho porque tinha fortes ligações comerciais
com a Inglaterra2. A Promoção à Reino Unido
Em novembro de 1807, dom João, príncipe regente de Portu- Para gerar recursos para a administração, o governo joanino
gal desde 1799 - a rainha dona Maria, sua mãe, sofria de distúr- teve de aumentar a carga tributária. O dinheiro dos impostos
bios mentais -, diante da ameaça de invasão, decidiu transferir a foi utilizado para cobrir os gastos da Corte, custear as obras de
família real e a Corte lusa para a colônia na América, deixando os urbanização do Rio de Janeiro e financiar intervenções militares.
súditos expostos ao ataque francês. Essa situação, somada à carestia e ao aumento dos preços, gerou
Os ingleses garantiram a proteção da mudança da monar- enorme insatisfação da população, que começou a questionar
quia para o Brasil. Nobres da Corte e familiares do príncipe re- os privilégios concedidos aos portugueses, detentores dos prin-
colheram às pressas tudo o que podiam carregar - joias, obras cipais cargos burocráticos e dos mais altos postos da Academia
de arte, milhares de livros, móveis, roupas, baixelas de prata, Real Militar.
animais domésticos, alimentos, etc. - e zarparam em 29 de no- Começaram a ocorrer agitações de rua que culminavam em
vembro rumo ao Rio de Janeiro. ações violentas da polícia principalmente (mas não exclusiva-
Além da família real e dos nobres, viajaram altos funcioná- mente) no Rio de Janeiro. A situação em Portugal também era
rios, magistrados, sacerdotes, militares de alta patente, etc. Es- de descontentamento popular. Com a queda de Napoleão em
tima-se que nos 36 navios viajaram entre 4,5 mil e 15 mil pesso- 1815, os portugueses passaram a exigir o retorno imediato de
as. Parte da esquadra, incluindo o navio ocupado por dom João, dom João a Portugal. Ele, entretanto, assinou um decreto crian-
atracou em Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, seguindo se- do o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, o
manas depois para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o Brasil deixava de ser colônia e ganhava o mesmo status político
restante da frota, e lá chegando em 8 de março de 1808. de Portugal.
2 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo,
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

6
HISTÓRIA
E o Reino passava a ter dois centros políticos: Lisboa, em A Independência do Brasil
Portugal, e Rio de Janeiro, no Brasil, onde dom João exercia o Enquanto a determinação das Cortes de Lisboa não chegava,
governo. Para muitos historiadores, a elevação do Brasil a Reino dom Pedro era apoiado, no Brasil, por pessoas da elite político-e-
Unido foi o marco inicial do processo de emancipação política e conômica, com experiência administrativa, como José Bonifácio
administrativa do Brasil. de Andrada e Silva (1763-1838). Na opinião de José Bonifácio e
de outros políticos do período, o Brasil deveria manter-se uni-
Revolução Pernambucana do a Portugal, mas com um governo próprio e autônomo. Havia
Na província de Pernambuco, no início de 1817, o debate de também quem defendesse o rompimento completo com Portu-
ideias emancipacionistas e republicanas deu origem a um mo- gal.
vimento conspiratório, que ficou conhecido como Insurreição Ambas as correntes, contudo, concordavam que dom Pedro
Pernambucana ou Revolução de 1817. deveria resistir às pressões das Cortes de Lisboa e recursar-se a
voltar a Portugal. No final de 1821, José Bonifácio organizou um
Inspirados na Revolução Francesa, os líderes redigiram o abaixo-assinado subscrito por oito mil assinaturas, que foi entre-
esboço de uma Constituição que garantia a igualdade de direi- gue a Dom Pedro, no qual era pedido que o príncipe permane-
tos entre os indivíduos, a liberdade de imprensa e a tolerância cesse no Brasil. Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe anunciou sua
religiosa. No entanto, o movimento enfraqueceu-se com as di- decisão de ficar no Brasil. O episódio, conhecido como Dia do
vergências entre os proprietários de escravos e os rebeldes abo- Fico, foi o primeiro de uma série de atos que levariam à ruptura
licionistas. Em maio, tropas enviadas da Bahia e do Rio de Janei- definitiva entre Brasil e Portugal.
ro cercaram o Recife. Alguns líderes foram executados e muitos Em maio de 1822, o príncipe regente determinou que to-
outros, encarcera- dos em Salvador. dos os decretos vindos das Cortes de Lisboa deveriam passar por
sua aprovação. Em junho, dom Pedro aprovou a convocação de
Revolução do Porto uma Assembleia Constituinte no Brasil. No começo de setem-
Por volta de 1818, alguns monarquistas liberais da cidade bro, despachos vindos de Lisboa desautorizavam a convocação
do Porto defendiam a ideia de que o monarca deveria governar da Assembleia Constituinte e ordenavam o imediato retorno de
obedecendo a uma Constituição. Em agosto de 1820 uma guarni- dom Pedro a Portugal. José Bonifácio enviou os despachos ao
ção do Exército do Porto se rebelou e deu início a uma revolução príncipe, que se encontrava em São Paulo, aconselhando-o a
liberal e anti-absolutista conhecida como Revolução do Porto. romper com Portugal, pois já não considerava mais possível uma
Rapidamente, o movimento se espalhou pelas demais cidades conciliação.
portuguesas. No dia 7 de setembro, o mensageiro alcançou dom Pedro
Em Lisboa, uma junta provisória assumiu o poder e convo- nas proximidades do riacho do Ipiranga. Ao receber os decretos,
cou as Cortes, que não se reuniam desde 1689, para elaborar o príncipe proclamou a independência do Brasil, declarando a
uma Constituição. A junta exigia também o retorno da família ruptura dos laços com Portugal. No dia 12 de outubro, já de volta
real e da Corte a Portugal e a restauração do monopólio comer- ao Rio de Janeiro, foi aclamado com grande pompa imperador
cial com o Brasil. constitucional com o título de dom Pedro I.

A volta da família real a Portugal Guerras de Independência


Nesse período irromperam no Pará, na Bahia e em Pernam- Proclamada a independência, teve início a luta por sua con-
buco várias revoltas apoiando o movimento constitucional de solidação, que envolveria conflitos e derramamento de sangue
Portugal. Em fevereiro de 1821, o rei dom João VI concordou em em diversas regiões do novo país.
jurar fidelidade à Constituição que estava ainda para ser elabo- Em fevereiro de 1822, ainda antes da declaração de indepen-
rada e em convocar eleições para a escolha dos deputados que dência, houve na Bahia um longo conflito armado entre as forças
iriam representar o Brasil nas Cortes de Lisboa. brasileiras que lutavam pela independência e queriam manter
Temendo perder o trono, dom João VI anunciou também seu um brasileiro no cargo de governador - no lugar de um general
retorno a Portugal. No dia 26 de abril, a família real e mais qua- português. A guerra entre as duas facções se prolongaria até 2
tro mil pessoas (nobres e funcionários) zarparam rumo a Portu- de julho de 1823, com destaque para a figura de Maria Quitéria
gal. Em seu lugar, o rei deixou o filho, dom Pedro, que assumiu o de Jesus Medeiros, que se alistou ao lado das tropas brasileiras.
poder no Brasil como príncipe regente. No Maranhão, no Ceará, no Pará, na Província Cisplatina e
no Piauí houve revoltas de portugueses, que viviam nessas re-
As Cortes de Lisboa giões, contra a independência. Para derrotar os revoltosos, dom
Após o embarque de dom João VI, foram realizadas eleições Pedro recrutou mercenários estrangeiros. A vitória das tropas
para a escolha dos 71 representantes do Brasil nas Cortes de Lis- brasileiras nessas regiões, além da obtida na Bahia, impediu a
boa. Embora a maior parte dos eleitos fosse a favor da indepen- fragmentação do Brasil em diversas províncias autônomas e ga-
dência do Brasil, apenas 56 viajaram para Lisboa, onde come- rantiu a unidade territorial da jovem nação.
çaram a chegar em agosto de 1821, oito meses depois do início
dos trabalhos.
Eles enfrentaram uma forte oposição dos parlamentares lu-
sos, que já tinham adotado diversas medidas desfavoráveis ao
Brasil com a intenção de reduzir o Brasil à sua antiga condição de
colônia. Para os parlamentares lusos, Brasil e Portugal deveriam
se submeter a uma mesma autoridade: as Cortes de Lisboa. Ao
final de 1821, as Cortes ordenaram que Dom Pedro, príncipe re-
gente do Brasil, retornasse a Portugal.

7
HISTÓRIA
México
A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO MONÁRQUICO. A VIDA No México, a Igreja reunia grande poder - concentrava me-
INTELECTUAL, POLÍTICA E ARTÍSTICA DO SÉCULO XIX tade dos padres de toda a América espanhola. Com o Exército
e os grandes proprietários rurais, o clero integrava o grupo con-
AMÉRICA INDEPENDENTE servador, defendendo como forma de governo uma monarquia
forte e coesa, capaz de manter o controle da população, ainda
Herança Colonial influenciada pelas ideias de Hidalgo e Morelos. Em oposição aos
Os movimentos de independência na América espanhola conservadores, os liberais, em cuia base social se destacavam os
resultaram na fragmentação dos antigos vice-reinados e na for- comerciantes e grupos ligados à mineração -, defendiam um Es-
mação de diversas repúblicas. As tentativas de união das antigas tado republicano, federativo e laico (sem interferência da Igreja).
colônias, ainda que parciais, a exemplo do panamericanismo Após a independência, organizou-se um Congresso Cons-
idealizado por Simón Bolívar, fracassaram. A tarefa com que de- tituinte, que estabeleceu um governo monárquico. O general
paravam as elites dirigentes das jovens repúblicas não era fácil3. criollo Agustín de Iturbide foi escolhido imperador pelo Con-
Era preciso honrar o ideário liberal que motivara as revolu- gresso em 1822, mas seu governo durou somente dez meses,
ções e remover muitas das heranças coloniais. Mas essas elites tendo sido deposto pela sublevação de António Lopez de Santa
se apoiavam em várias das antigas estruturas, como o regime Anna.
latifundiário e o trabalho compulsório imposto a índios e mes- Proclamada a República, elaborou-se uma Constituição
tiços. Dos movimentos de independência surgiram elites muito inspirada no federalismo estadunidense, adotada em 1824. Os
diferentes entre si. Em certos casos, predominavam grupos con- conservadores se mantiveram no poder até 1854, período do-
servadores, que pretendiam manter os antigos privilégios; em minado pelo general Antonio López de Santa Anna, que se dizia
outros, políticos de orientação liberal, que propunham reformas conservador ou liberal, conforme as circunstâncias. Nesses trin-
profundas. As desavenças entre esses grupos, não raro, levaram ta anos, a fragilidade política mexicana era evidente, perceptí-
a guerras civis, principalmente durante a primeira metade do vel inclusive na guerra contra os Estados Unidos (1846-1848),
século XIX. O historiador argentino Tulio Halperin Donghi ca- na qual o México acabou perdendo boa parte de seu território,
racterizou as primeiras décadas pós-independência na América como o Texas e a Califórnia.
espanhola como um período de longa espera. Era um tempo de Em 1854, os liberais assumiram o governo, acabando com
construção dos Estados Nacionais, processo conturbado em to- mais de 30 anos de domínio conservador. Eles fizeram algumas
dos os países recém-criados. mudanças na estrutura do país: aboliram os direitos de os eclesi-
ásticos e os militares cobrarem pelo uso da terra; por sua vez, as
Decisão sobre Mudanças terras comuns dos aldeamentos indígenas foram abolidas.
No final da década de 1820, em todos os países independen- Essa mudança, porém, não resultou em nenhuma melhoria
tes na América espanhola, prevaleciam dois grandes projetos: o para os trabalhadores indígenas e mestiços. Os liberais preten-
dos conservadores e o dos liberais. Entre eles existia um objetivo diam transformar as terras coletivas indígenas em pequenas pro-
em comum: manter as hierarquias sociais, o que significava con- priedades individuais - um projeto de reforma agrária. O perío-
servar o poder político da elite criolla sobre os camponeses e os do de predomínio liberal é chamado de Reforma.
trabalhadores indígenas, mestiços e negros. Uma nova Constituição foi aprovada em 1857 (durou até
O projeto dos conservadores se baseava na defesa da Igreja 1917). Entre os principais líderes da reforma estava Benito Ju-
e na força do Exército - mantendo as isenções fiscais desfrutadas arez, mestiço de origem indígena que, na infância, trabalhou
pelos eclesiásticos -, além da obrigatoriedade do ensino religio- como peão de fazenda e pastor de ovelhas. Estudou no seminá-
so como meio fundamental de formar cidadãos. Os conserva- rio de Santa Cruz e, mais tarde, formou-se em Direito. Exerceu
dores acreditavam que uma Igreja enfraquecida traria o caos e várias vezes a presidência, entre 1858 e 1872. Os historiadores
a anarquia às sociedades que então se organizavam, sobretudo consideram o caso mexicano como um exemplo típico de reforma
porque as camadas mais humildes da sociedade, compostas em liberal na América Latina durante o século XIX.
sua maioria de indígenas e mestiços, tinham se mobilizado nas
lutas de independência. Guerra Civil Mexicana
Os conservadores do México, por exemplo, costumavam A oposição dos conservadores às reformas liberais levou o
chamar as classes populares de “classes perigosas”. Já os libe- país a uma guerra civil. Em 1859, os bens da Igreja foram nacio-
rais, sob a influência do Iluminismo e dos ideais da Revolução nalizados, e as ordens religiosas, extintas. A reação conservadora
Francesa, tinham por objetivo a laicização do Estado - separar chegou a restabelecer a monarquia, em 1864, com o apoio de Na-
o Estado da Igreja - e a defesa do ensino laico. Eles defendiam poleão III, da França. O trono foi assumido pelo arquiduque austrí-
ainda um regime republicano federalista, descentralizado, em- aco Maximiliano de Habsburgo, primo do imperador francês.
bora nem todos os liberais fossem contrários a uma monarquia
constitucional. Longe de atenuar a crise, um imperador estrangeiro acirrou
Em dois países, México e Colômbia, o embate entre con- as disputas. A corrente liberal, contando com o apoio popular,
servadores e liberais teve na Igreja o pomo da discórdia. Mas derrotou os conservadores; Maximiliano I foi fuzilado em 1867,
os resultados da disputa foram muito diferentes. No México, a por ordem de Benito Juarez, então na presidência da República.
Igreja perdeu; na Colômbia, venceu. Consolidava-se um Estado republicano e federativo, com a Igre-
ja perdendo seu poder. Os Estados Unidos não puderam evitar
a interferência europeia - com base na doutrina Monroe -, por
estarem envolvidos na sua própria guerra civil.
3 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo.
Saraiva.

8
HISTÓRIA
Uma Reforma Agrária contra os Camponeses Extinguiram o dízimo eclesiástico e expulsaram os jesuítas,
A reforma agrária liberal, que buscava criar um sistema de que haviam retornado ao país em 1844. Em 1853, o ensino re-
pequenas unidades produtoras, foi um fracasso. Camponeses e ligioso deixou de ser obrigatório e foi suprimido o regime do
indígenas não conseguiram comprar as terras, que, assim, foram padroado (no qual cabia ao governo indicar os arcebispos e os
parar nas mãos dos grandes proprietários. Com isso, muitos tive- bispos), separando a Igreja do Estado, e instituído o casamento
ram de vender sua força de trabalho para os grandes latifundiá- civil, bem como a legalidade do divórcio. Como no México, na-
rios (hacendados), formando uma espécie de proletariado rural. cionalizaram os bens da Igreja.
A situação do Estado também era difícil, com a aquisição Em 1854, ocorreu uma tentativa de golpe militar, estimu-
de empréstimos no exterior, principalmente junto aos Estados lada por grupos contrários às reformas. Na década de 1870, o
Unidos. Nessa conjuntura, crescia a insatisfação popular, com governo liberal perdeu força. Despontavam os grupos ligados ao
levantes camponeses, sublevações urbanas e o crescimento do café, que elegeram como presidente Rafael Núñez, ex-liberal que
número de desocupados. Esse clima conturbado marcou os 50 pretendia “regenerar” a Colômbia.
anos que se seguiram à independência do México. Em seu terceiro mandato, a Constituição conservadora de
1886 foi jurada, restituindo à Igreja católica suas propriedades e
Colômbia: Uma República Conservadora a direção da educação. Até os dias de hoje, a influência da Igreja
A Gran Colombia tornou-se independente em 1819, sob a católica é fortíssima na Colômbia.
liderança de Simón Bolívar. Tinha, então, um território seme-
lhante ao antigo vice-reinado de Nova Granada. Bolívar queria Argentina e o Caudilhismo
fazer do país o berço de um Estado unificado na América do Sul O antigo Vice-reinado do rio da Prata era composto de regi-
de língua espanhola. ões que hoje englobam Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. A
Mas seu sonho pan-americanista não saiu do papel: Gran independência formal ocorreu em 1816. Mas durante toda a pri-
Colombia se fragmentou e Equador e Venezuela acabaram por meira metade do século XIX travaram-se intensas lutas internas,
formar repúblicas independentes. Apesar desse cenário, a Co- comandadas pelos chamados caudilhos.
lômbia não passou por experiências ditatoriais ao longo do sécu- No caso da Argentina, o processo de constituição de um Es-
lo XIX. Mas a instabilidade política esteve presente, por meio de tado Nacional foi lento. Depois da independência, existiam no
rebeliões locais, guerras civis e dois conflitos contra o Equador país três grandes áreas, com interesses diferentes, entre as quais
por problemas de fronteira. ocorreram intensos conflitos. A primeira era a província de Bue-
Parte dos problemas estava relacionada à manutenção da nos Aires, pecuarista, vinculada à cidade de mesmo nome, capi-
escravidão de origem africana e à tributação indígena. As terras tal federal e principal porto exportador de toda a região.
comunais indígenas, denominadas resguardos, foram extintas. A segunda se compunha de províncias do interior, também
Havia terras livres para o assentamento da população rural, o pecuaristas, como Santa Fé, Entre-Rios e Corrientes, situadas às
que trazia dificuldade para os grandes proprietários em con- margens do rio Paraná, cujos governantes pretendiam preservar
seguir mão de obra. Para garantir o trabalho nas fazendas, os o caminho fluvial para chegar ao estuário do Prata. Por último,
proprietários endividavam os camponeses, mediante o adianta- a área dedicada à produção de alimentos: Córdoba, La Rioja e
mento de salários em forma de gêneros vendidos no armazém Tucumán, no interior do país.
da fazenda.
Mantinham os trabalhadores em dívida permanente, impe- Unitarismo ou Federalismo?
didos de deixar as terras. Muito usado nas haciendas coloniais, No plano político, o grande conflito ocorreu entre Buenos
esse método era conhecido como peonaje. Aires e diversas províncias do interior. Os comerciantes ligados
ao comércio externo de Buenos Aires, apostando num governo
Avanços Liberais, Reação Conservadora centralizado, desejavam estender seu domínio sobre as demais
A partir da década de 1840, as divergências políticas resul- províncias.
taram na criação dos partidos Liberal e Conservador. O Partido Defendiam, ainda, o livre-comércio e a aproximação com a
Liberal era formado por grupos urbanos ligados ao comércio e Grã-Bretanha. Desse grupo surgiu o Partido Unitário. Fazendei-
à produção artesanal. Propunha a abolição da escravidão, a li- ros e pecuaristas (estancieiros) do interior se recusavam a seguir
berdade de imprensa, o fim dos privilégios da Igreja católica, a essas ideias. A maior parte dos caudilhos das províncias do inte-
diminuição do poder Executivo e a abolição dos monopólios. rior não apoiava o unitarismo: defendiam um regime federativo,
Compunham o Partido Conservador os altos burocratas, os capaz de assegurar sua autonomia política.
grandes proprietários rurais escravistas e os membros do Exérci- A defesa de um regime federativo, em oposição aos comer-
to e da Igreja católica. A principal questão entre os dois partidos ciantes de Buenos Aires, deu origem ao Partido Federal. As riva-
dizia respeito à Igreja. lidades duraram décadas. Entre 1830 e 1852, não existia de fato
Os liberais pretendiam retirar da instituição o monopólio do um governo nacional. De um lado, estava a Confederação Ar-
ensino e abolir os dízimos eclesiásticos, além de tornar proprie- gentina, com ampla autonomia provincial. De outro, o governo
dade do Estado as terras da Igreja. Os proprietários rurais e as de Buenos Aires, cuia única função centralizadora dizia respeito
classes populares, extremamente católicos, opunham-se a essas às relações internacionais, atribuída ao governador da província
propostas. Até meados do século XIX, nenhum dos grupos exer- portenha.
cia de fato a hegemonia política. Em 1849, com a eleição de José
Hilário Lopez, os liberais alcançaram o poder (mantido até 1885). Protagonismo de Buenos Aires
Diversificaram a economia e as exportações, incentivando a ex- Nesse período, destacou-se o caudilho Juan Manuel de Ro-
pansão econômica. Aboliram a escravidão em 1851, libertando sas, grande estancieiro na região do Pampa, militar e governador
cerca de 26 mil escravos. Suprimiram os entraves ao comércio do da província de Buenos Aires. No seu longo governo, que se es-
tabaco e os impostos de importação. tendeu de 1829 até 1852 (com breve interrupção entre 1832 e

9
HISTÓRIA
1835), defendeu o federalismo e, ao mesmo tempo, reforçou o Em setembro de 1823, o deputado Antônio Carlos de Andra-
poder da cidade de Buenos Aires, preparando-a para exercer a da e Silva, irmão de José Bonifácio, apresentou um projeto de
hegemonia política sobre todo o país. Constituição elaborado por uma comissão de constituintes. Dois
Estabeleceu diversos acordos com as províncias, sobretudo artigos do projeto eram conflitantes com as intenções de dom
Corrientes e Entre-Rios. Combateu os índios do Pampa, ao sul, Pedro I: um deles proibia que o imperador fosse governante de
numa autêntica campanha de extermínio, tarefa depois concluí- outro reino (dom Pedro era herdeiro do trono português); outro
da pelo general Roca, em 1879. Rosas pretendia fazer da Argen- artigo impedia o imperador de dissolver o Parlamento.
tina a principal potência na região platina. Contrariou, assim, os
interesses brasileiros, discretamente apoiados pela Inglaterra. A Constituição de 1824
Auxiliou os rio-grandenses nos anos finais da Farroupilha Rejeitado pelo imperador, o projeto teve vida curta. Em no-
(1835-1845), chegando a oferecer recursos financeiros. No Uru- vembro de 1823, dom Pedro decidiu dissolver a Assembleia e
guai, apoiou os políticos contrários ao Brasil. Finalmente, decla- criou um Conselho de Estado que elaborou outra Constituição.
rou guerra ao Brasil, em 1851. Derrotado em Monte Caseros, Em 25 de março de 1824 o imperador outorgou aquela que seria
em 1852, fugiu para a Inglaterra, onde obteve asilo político. Em a primeira Carta Magna brasileira.
1853, uma nova Constituição adotou o modelo federativo de go- A Constituição outorgada apresentava algumas poucas di-
verno. Mas o governo de Buenos Aires rejeitou a Carta e afastou- ferenças significativas em comparação com a elaborada pelo
-se da Confederação Argentina. deputado Antônio Carlos, principalmente em relação à divisão
Embora os portenhos tenham sido derrotados militarmente dos poderes. Além do Legislativo, do Executivo e do Judiciário,
em 1859, Buenos Aires se manteve administrativamente inde- a Carta de 1824 criava um quarto Poder: o Moderador, a ser
pendente. A Argentina somente foi unificada em 1862. Até então exercido pelo imperador.
prevaleceram os políticos com tendência a defender o federalis- Com o Moderador, dom Pedro podia dissolver a Câmara dos
mo, mas que, na verdade, desejavam mesmo ver ampliado o seu Deputados quando quisesse e convocar novas eleições; nomear
poder pessoal e militar. senadores; aprovar ou vetar as decisões da Câmara e do Senado,
A confusão entre o interesse público e os interesses particu- etc. Além disso, cabia ao imperador nomear e destituir os presi-
lares era total, em prejuízo das instituições e da construção de dentes de província, interferindo nos assuntos regionais.
um Estado Nacional com base em uma Constituição.
A Confederação do Equador
PRIMEIRO REINADO Insatisfeitos com a dissolução da Constituinte e com o auto-
ritarismo do imperador, revoltosos de Recife se armaram nova-
No dia 12 de outubro de 1822, dom Pedro - que naquela data mente e, no dia 2 de julho de 1824, deram início a uma rebelião
completava 24 anos - foi proclamado imperador constitucional que logo se alastrou para as províncias da Paraíba, do Rio Grande
e defensor perpétuo do Brasil. Dom Pedro I herdou um governo do Norte, do Ceará e do Piauí.
sem recursos e extremamente endividado. Faltava dinheiro para Na capital revolucionária, os rebeldes proclamaram a Confe-
atender às principais necessidades da população, principalmen- deração do Equador, uma República Federativa semelhante a es-
te no que dizia respeito à saúde e à educação. Segundo algumas tadunidense. A insurreição contou com a participação tanto de
estimativas, aproximadamente cinco milhões de pessoas viviam proprietários de terras quanto de grupos das camadas populares
no Brasil. urbanas e foi marcada por um forte sentimento antilusitano.
Desse total, 1,5 milhão de pessoas eram escravizadas. Mais Em novembro de 1824, a resistência pernambucana foi su-
de 90% da população habitava a zona rural, onde os grandes focada. O frade carmelita Joaquim do Amor Divino (1779-1825),
proprietários de terra exerciam “governos” informais. A morta- mais conhecido como frei Caneca - que havia lançado o jornal de
lidade infantil era muito alta. Da mesma maneira, o índice de oposição ao governo Typhis Pernambucano em 1823 - foi acusa-
analfabetismo girava em torno de 85%. A cultura erudita, por do de ser o líder da rebelião e fuzilado no Recife, em janeiro de
sua vez, concentrava-se nas grandes cidades, onde também cir- 1825. Outros com acusações semelhantes também foram exe-
culavam jornais e revistas, a maioria de vida curta e periodicida- cutados.
de incerta.
D. Pedro I Abdica
A Constituinte As críticas ao imperador e ao governo não cessaram. Em di-
Antes da independência, em junho de 1822, dom Pedro versas partes do Brasil motins contra os altos preços dos gêneros
tinha aprovado a convocação de uma Assembleia Constituinte de primeira necessidade se tornaram comuns. A guerra entre o
destinada a elaborar a primeira Carta Magna do Brasil. A escolha Brasil e a Argentina pelo domínio da Província Cisplatina, inicia-
dos constituintes foi feita por meio de eleições após o Sete de da em 1825, também fortaleceu um movimento pró-emancipa-
Setembro, nas quais votaram os proprietários do sexo masculino ção da região Sul.
e maiores de 25 anos. Mulheres, homens sem terras e escravos O conflito só terminou em 1828, quando os governos dos
não podiam votar. dois países concordaram com a independência da Província Cis-
Na sessão inaugural da Assembleia, em maio de 1823, dom platina (antiga Banda Oriental, atual Uruguai). Para os brasilei-
Pedro I jurou defender a nova Constituição desde que ela me- ros, o ânus da guerra foi extremamente elevado - aumento da
recesse sua imperial aceitação. Com essa ressalva, o imperador inflação, que já estava alta, e falência do Banco do Brasil. Essas
deixava claro que a palavra final a respeito das decisões apro- consequências aumentaram ainda mais o descontentamento po-
vadas lhe pertencia, e não aos constituintes. Ou seja, era ele o pular com o governo de dom Pedro I.
detentor da soberania, não o povo representado na Assembleia. A impopularidade do imperador piorou quando ele se en-
volveu na crise de sucessão da Coroa portuguesa, iniciada com a
morte de dom João VI, em 1826. Dom Pedro se tornou o herdei-

10
HISTÓRIA
ro legítimo do trono de Portugal. Dom Pedro renunciou à Coroa - a aprovação do novo Código de Processo Criminal em 1832
portuguesa em favor de sua filha, a princesa Maria da Glória, de que atribuía mais poderes aos juízes de paz, agora com o pa-
apenas 7 anos. pel de polícia e de juiz local (podiam prender, julgar, convocar a
Dom Miguel, irmão de dom Pedro, governaria Portugal Guarda Nacional, etc.);
como príncipe regente até que a princesa chegasse à maiorida- - a extinção do Conselho de Estado e a criação das Assem-
de, quando se casaria com a sobrinha. Em 1828, entretanto, dom bleias Legislativas provinciais, que podiam elaborar as leis de in-
Miguel se autoproclamou rei absoluto de Portugal. teresse local e nomear funcionários públicos. A autonomia das
Preocupado em intervir nos acontecimentos de Portugal, Assembleias continuava limitada, pois suas decisões podiam ser
dom Pedro perdeu cada vez mais apoio na política interna do vetadas pelos presidentes das províncias que, por sua vez, eram
Brasil. Teve início uma guerra civil contra seus aliados. Acusado nomeados pelo imperador.
de autoritário no Brasil, dom Pedro era considerado liberal pelos
portugueses. Em 1830, o imperador foi considerado o respon- Vale lembrar que tanto os juízes de paz quanto os membros
sável pelo assassinato do jornalista liberal Líbero Badaró, opo- das Assembleias Provinciais eram eleitos pela população, ou
sicionista. seja, por indivíduos livres do sexo masculino que possuíam bens.
Em março de 1831, depois de uma viagem a Minas Gerais, os Assim, as pessoas escolhidas para os cargos representavam os
residentes portugueses do Rio de Janeiro acenderam fogueiras interesses da elite e dos grandes proprietários de terras e de
nas ruas para homenagear dom Pedro, mas os brasileiros apaga- escravos.
ram-nas, gritando vivas à Constituição. Um dos passos mais importantes para a descentralização do
Na noite seguinte, 13 de março, brasileiros e portugueses poder foi o Ato Adicional de 1834, criado pela Assembleia Geral.
entraram em choque nas ruas do Rio de Janeiro. O episódio, co- Trata-se de uma reforma na Constituição pela qual foi extinto o
nhecido como Noite das Garrafadas, marcou o início de uma sé- Conselho de Estado - cujos membros haviam sido nomeados por
rie de conflitos entre oposicionistas e partidários do imperador. dom Pedro I - e criadas as Assembleias Legislativas provinciais ,
No dia 6 de abril, dom Pedro destituiu seu ministério com- que passaram a ter poder para elaborar leis e nomear funcioná-
posto apenas de brasileiros e o substituiu por outro, formado rios públicos, conquistando assim maior autonomia em relação
por defensores do absolutismo. Em resposta, a população do Rio ao poder central. Esse ato adicional criou também a Regência
de Janeiro, com tropas do Exército, concentrou-se no Campo de Una, que substituiria a Regência Trina Permanente, determinan-
Santana e exigiu a volta do ministério deposto. Enfraquecido e do a eleição do regente por meio do voto popular para um man-
sem apoio militar, o imperador abdicou do trono em favor do dato de quatro anos.
filho, o príncipe Pedro de Alcântara, de apenas 5 anos.
Era o dia 7 de abril de 1831. Uma semana de pois, o ex- A Regência Una
-imperador partiu rumo a Portugal. Deixava no Brasil dom Pedro Realizadas em abril de 1835, as eleições para Regente conta-
de Alcântara, sob a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva. ram com uma pequena participação de cerca de 6 mil eleitores,
No Brasil, tal como previa a Constituição, ainda em abril de 1831 pouco mais de 0,1% da população, estimada em 5 milhões de
formou -se uma Regência Trina Provisória para governar o país. pessoas naquela época.
Pela primeira vez, a elite nacional assumia plenamente o controle O eleito foi o ex-ministro da Justiça, Padre Diogo Antônio
da nação. Por esse motivo, muitos historiadores entendem que o Feijó. Feijó assumiu a Regência Una em outubro de 1835, em
processo de independência do Brasil só se encerrou em 1831, com meio a uma crise de grandes proporções, com rebeliões em vá-
a abdicação de dom Pedro. rias províncias.
A Cabanagem (1835-1840) no Pará e a Guerra dos Farrapos
Período Regencial (1835-1845) no Rio Grande do Sul foram duas delas. Em 1837,
Estava previsto na Constituição de 1824 que, em caso de mor- sem apoio dos parlamentares, Feijó renunciou à Regência e foi
te ou abdicação do imperador, e seu herdeiro não pudesse assu- substituído pelo Ministro do Interior, Pedro de Araújo Lima, refe-
mir o trono devido à menoridade, o Governo seria entregue a uma rendado como Regente na eleição do ano seguinte.
junta de três regentes indicados pela Assembleia Geral (formada Durante a regência de Araújo Lima, diversas medidas foram
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado), até que o jovem prín- adotadas para devolver ao governo central o controle de todo
cipe se tornasse maior de idade, ao completar 18 anos. o aparelho administrativo e judiciário. Uma dessas medidas foi
a Lei de Interpretação do Ato Adicional, de 1840, que restringiu
A Regência Trina os poderes das Assembleias Provinciais. A ela se seguiram o res-
Assim, logo após a abdicação de dom Pedro I, em 7 de abril tabelecimento do Conselho de Estado e a reforma do Código do
de 1831, formou-se uma Regência Trina Provisória que gover- Processo Criminal, que limitou a autoridade dos juízes de paz e
nou até 17 de junho de 1831. Nessa data, a Assembleia Geral fortaleceu a dos juízes municipais, subordinados ao poder Judici-
elegeu a Regência Trina Permanente, encarregada de governar o ário central. Tais medidas - assim como o período em que foram
Brasil até a maioridade do príncipe. tomadas - ficaram conhecidas como Regresso.
A Regência Trina preocupou-se em manter a paz interna. Fo-
ram proibidos os ajuntamentos noturnos em locais públicos e A Maioridade de D. Pedro II
suspensas algumas garantias constitucionais. As guardas muni- No início de 1840, além das rebeliões que continuavam
cipais foram extintas e criou-se a Guarda Nacional, organização ocorrendo em várias províncias na capital do país, os embates
paramilitar constituída por milícias civis, encarregada de defen- entre regressistas e progressistas se intensificavam. Os progres-
der a Constituição e garantir a ordem interna. sistas - que passaram a ser chamados de Partido Liberal - come-
A criação da Guarda Nacional foi um dos primeiros atos que çaram a exigir a antecipação da maioridade do Príncipe Pedro de
indicavam uma tendência à descentralização do poder. Outros Alcântara que, de acordo com a Constituição, só poderia assumir
eventos ajudaram a consolidar esse processo, por exemplo: o trono em 1844.

11
HISTÓRIA
Segundo os liberais, essa seria a única forma de fazer o país Os revoltosos mataram Lobo de Souza e seu comandante de
voltar à normalidade e garantir a unidade do império. Os regres- armas e libertaram os presos políticos. Como grande parte des-
sistas - reunidos agora no Partido Conservador - opunham-se à sas pessoas era pobre e morava em cabanas, o movimento ficou
medida, pois temiam ser afastados do poder com a antecipação conhecido como Cabanagem e seus integrantes como cabanos
da maioridade. Para eles, a solução para a crise estava na maior (não confundir com os cabanos de Pernambuco e Alagoas).
concentração de poderes nas mãos do governo regencial. Depois Em maio de 1836, o regente Diogo Feijó enviou a Belém uma
de muitos debates, no dia 23 de julho de 1840, a Câmara e o esquadra com o objetivo de retomar o poder local e reintegrar o
Senado aprovaram o projeto liberal, concedendo a maioridade Pará ao Império. Os revoltosos retiraram-se da capital, mas con-
a dom Pedro de Alcântara, então com 14 anos de idade, e decla- tinuaram controlando boa parte do interior por quase três anos.
rando-o imperador do Brasil, com o título de dom Pedro II. Somente em meados de 1840 foram dominados e a província
O episódio ficaria conhecido como Golpe da Maioridade. No foi reintegrada ao Império. Cerca de 30 mil pessoas morreram
dia seguinte, o soberano organizou seu ministério, composto de durante o conflito.
representantes do Partido Liberal. Era o início de um reinado que Para o historiador Caio Prado Júnior, a Cabanagem foi uma
iria se estender pelos 49 anos seguintes. das revoltas mais importantes de nossa história, pois foi a pri-
meira em que a população pobre conseguiu, de fato, ocupar o
Revoltas do Período Regencial poder em uma província.

Guerra dos Cabanos Revolta dos Malês


Entre 1832 e 1835, ocorreu a Cabanada ou Guerra dos Ca- No começo do século XIX, negros e pardos livres e escravos
banos, guerra rural que ganhou esse nome porque a maioria de representavam 72% (segundo cálculos do historiador João José
seus participantes vivia em habitações rústicas (não confundir Reis) da população de Salvador, capital da Bahia, que tinha apro-
com a Cabanagem), em uma região entre o sul de Pernambuco e ximadamente 65 500 habitantes.
o norte de Alagoas. Vítimas constantes do preconceito racial e da opressão so-
Participaram do levante indígenas aldeados, brancos e mes- cial, eles se tornaram a parte mais frágil da sociedade. Em 1835,
tiços que residiam nas periferias dos engenhos, negros forros e muitos deles se rebelaram em Salvador. Foi a Revolta dos Malês,
cativos fugidos, chamados de papa-méis, que residiam em qui- cujo objetivo declarado era destruir a dominação branca na re-
lombos. Alguns proprietários rurais também integraram o movi- gião e construir uma Bahia só de africanos.
mento. Os cabanos lutavam pelo direito de permanecer em suas Fizeram parte do movimento principalmente os malês, nome
terras; pregavam a alforria dos escravizados e o retorno de dom dado aos escravos seguidores do islamismo. Eles pertenciam a
Pedro I ao Brasil. diferentes etnias - como a dos haussás, jejês e nagôs - e muitos
O governo regencial enviou tropas para combater os revol- eram alfabetizados. Também participaram do movi mento nagôs
tosos na região. Nos combates, os rebeldes conseguiram diver- seguidores do candomblé.
sas vitórias, utilizando táticas de guerrilha: faziam ataques sur- A revolta começou no dia 24 de janeiro, quando cerca de 600
presa a fazendas e engenhos e se refugiavam rapidamente no negros (segundo a historiadora Magali Gouveia Engel), armados
interior das matas, que conheciam muito bem, onde os soldados principalmente de espadas, ocuparam de surpresa o centro de
governistas não conseguiam encontrá-los. Salvador. Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados
Aos poucos, o movimento perdeu força, principalmente pelas forças policiais, que dispunham de armas de fogo.
após a morte de dom Pedro I, em 1834. Seus integrantes sofre- Centenas de participantes da revolta morreram ou ficaram
ram com epidemias e escassez de alimentos. No início de 1835, feridos. Após a rebelião, desencadeou-se violenta repressão
a maior parte dos cabanos havia morrido nos confrontos ou contra os africanos e afro-brasileiros. Muitos foram condenados
encontrava-se presa. O principal líder dos rebeldes cabanos, o ex- ao açoite, à prisão ou à deportação. Três escravos e um liberto
soldado Vicente de Paula, e um grupo de ex-escravos conti- foram condenados à morte e fuzilados.
nuaram a luta.
Refugiaram-se nas matas do Jacuípe e por quinze anos per- Guerra dos Farrapos
maneceram atacando engenhos e libertando escravos no interior Nas primeiras décadas do século XIX, estancieiros e char-
de Pernambuco e Alagoas. Em 1850, o líder foi preso em uma queadores contestavam os altos impostos aplicados sobre o
emboscada e enviado para o presídio de Fernando de Noronha. gado, a terra, o sal e principalmente o charque. Na política, sen-
tiam-se desprestigiados pelo governo regencial, pois, apesar de
Cabanagem serem frequentemente convocados a lutar contra os castelhanos
A província do Grão-Pará viveu, na primeira metade do sé- na defesa das fronteiras ao sul do Brasil, não recebiam postos de
culo XIX, grandes conturbações internas. Em 1822, houve um comando durante as batalhas.
levante contra a Independência que foi apaziguado apenas em Em 1834, o presidente da província nomeado pelo governo
1823. Nos anos seguintes, ocorreram disputas constantes pelo da Regência, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, criou impostos
poder envolvendo as elites regionais contra o governo imperial. - inclusive sobre as propriedades rurais - e começou a organizar
Em 1833, a Regência nomeou Bernardo Lobo de Souza para uma força militar para fazer frente às milícias dos chefes locais.
o cargo, mas ele teve que enfrentar um clima hostil. Em novem- Em 19 de setembro de 1835, o estancieiro Bento Gonçal-
bro de 1834, ele mandou prender diversos opositores e um de- ves, comandante da Guarda Nacional gaúcha e ligado aos libe-
les, o pequeno proprietário rural Manuel Vinagre, foi assassina- rais (chamados farroupilhas), invadiu Porto Alegre, expulsou o
do pelas tropas governamentais. A província, já instável, entrou presidente da província e deu posse ao vice-presidente, o liberal
em convulsão. Em janeiro de 1835, o irmão de Manuel, Francisco Marciano Pereira Ribeiro.
Pedro Vinagre, liderou um grupo de sertanejos, negros e indí-
genas armados, em uma invasão a Belém, capital do Grão-Pará.

12
HISTÓRIA
Iniciava-se, assim, a mais longa revolta do período regen- Recôncavo Baiano e de soldados vindos de Pernambuco, Sergipe
cial, a Guerra dos Farrapos. Em setembro de 1836, os revoltosos e Rio de Janeiro, as tropas governistas cercaram Salvador por
proclamaram a República Rio-Grandense. Dois meses depois, os terra e por mar e derrotaram os revoltosos em março de 1838.
farrapos ratificaram sua independência do restante do Brasil e Cerca de 2 mil pessoas morreram nos confrontos, a maioria
escolheram Bento Gonçalves para presidente da República re- negros e pobres. Quase 3 mil foram presas e outras 1500 depor-
cém-criada. tadas para o Sul e alistadas no Exército para enfrentar os farra-
Em seguida, comandados por Davi Canabarro e pelo italiano pos. Os 780 rebeldes considerados mais perigosos foram tranca-
Giuseppe Garibaldi, os farrapos conseguiram conquistar Laguna, fiados no porão de um navio-prisão.
em Santa Catarina, em julho de 1839. Ali, proclamaram a Repú- Dezoito deles, entre os quais Francisco Sabino, foram con-
blica Catarinense. No entanto, em novembro, tropas imperiais denados à morte. Com a maioridade de dom Pedro, em 1840, to-
expulsaram os revolucionários da região e teve início o declínio dos os rebeldes foram anistiados. Mesmo perdoado, porém, Sa-
da República Rio-Grandense. bino foi enviado para Goiás para permanecer longe de Salvador.
Em novembro de 1842, dom Pedro II nomeou o marechal
Luís Alves de Lima e Silva para a presidência da província e para Balaiada
o comando das tropas imperiais no Rio Grande do Sul. Em 1838, Vicente Camargo, do Partido Conservador, era
Lima e Silva, que ficaria conhecido como Duque de Caxias, presidente da província do Maranhão. Em junho daquele ano,
tinha por missão debelar a Revolução Farroupilha. Em 1845, ele Camargo distribuiu nas comarcas do Maranhão os cargos de pre-
conseguiu chegar a um acordo com os rebeldes e pôr fim ao con- feito e comissário de polícia apenas aos seus correligionários,
flito. que passaram a perseguir os políticos do Partido Liberal (chama
Interessado em atrair o apoio das elites gaúchas para o go- dos de bem-te-vis) e a exercer maior controle sobre a população
verno imperial, Caxias satisfez boa parte de suas reivindicações. pobre e livre.
Assim, o charque estrangeiro foi tributado em 25%, os estanciei- Um dos meios usados para esse controle se dava com o re-
ros envolvidos na revolta foram anistiados e os oficiais republi- crutamento compulsório, como o que ocorreu em 1838 para o
canos reincorporados ao Exército imperial. Exército, de alguns vaqueiros que trabalhavam para Raimundo
Também foi aprovada a alforria dos escravizados que parti- Gomes, um fazendeiro simpático à causa liberal, que, apoiado
ciparam da revolta, os prisioneiros de guerra foram soltos e os por alguns companheiros, invadiu a cadeia e libertou os vaquei-
rebeldes que se encontravam refugiados fora da província pude- ros recrutados à força e mantidos na prisão.
ram voltar ao Rio Grande do Sul. Além disso, os rio-grandenses Em janeiro de 1839, Raimundo Gomes conseguiu o apoio de
conquistaram o direito de indicar o presidente da província. O Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, pequeno agricultor e fabri-
escolhido foi o próprio Caxias. cante de cestos, cujo apelido de Balaio daria nome à revolta que
abalaria o Maranhão nos anos seguintes: a Balaiada. Raimundo
Sabinada Gomes, Manuel Ferreira e seus seguidores começaram a percor-
A população de Salvador ainda não havia esquecido a Re- rer o interior do Maranhão, protestando não apenas contra o
volta dos Malês quando, no primeiro semestre de 1837, novas recrutamento compulsório, mas também contra a discriminação
agitações envolveram a cidade. O médico e jornalista Francisco e a desigualdade social reinantes na província.
Sabino criticava em seu jornal, Novo Diário da Bahia, o uso dos Os liberais apoiaram os rebeldes, fornecendo-lhes armas e
impostos para sustentar a Corte, condenava a tirania das autori- munições. Em 1839, eles dominaram Caxias, a segunda maior
dades e o domínio da sociedade por uma pequena elite. cidade maranhense, e prosseguiram invadindo fazendas e li-
Essa lista de insatisfações era reforçada pelos militares que bertando a população escravizada. Em 1840, sob a liderança do
reclamavam da recém-criada Guarda Nacional - com funções cativo Cosme Bento das Chagas, o Preto Cosme, mais de 3 mil
que deveriam ser do Exército - e protestavam contra a redução escravizados também se rebelaram.
do efetivo militar, responsável pelo aumento do desemprego na No início de 1840, Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque
categoria. de Caxias, foi nomeado para a presidência da província e comba-
teu os revoltosos duramente: reconquistou a cidade de Caxias,
Com o governo regressista de Pedro de Araújo Lima, que obteve a rendição de Raimundo Gomes logo depois de Balaio
assumiu a regência em setembro de 1837, temia-se que a auto- ter sido morto em um dos confrontos e perseguiu os escravos
nomia das províncias fosse ainda mais reduzida. Em Salvador, o liderados por Preto Cosme.
descontentamento contra o novo regente aumentou quando ele Os combates se estenderam até 1842, quando o líder dos
convocou tropas baianas para lutar ao lado do governo, contra escravizados foi capturado e enforcado. Saldo da revolta: cerca
os farrapos, no Rio Grande do Sul. de 6 mil mortos, entre cativos e sertanejos pobres.
No dia 7 de novembro de 1837, tropas do Forte de São Pedro
se sublevaram. Os rebeldes constituíram um governo autônomo, O Segundo Reinado
proclamaram a independência da Bahia, declararam nulas as O período compreendido entre 1840 e 1889, no qual o Brasil
ordens vindas do Rio de Janeiro e convocaram uma Assembleia esteve sob o comando - altamente centralizado - do imperador
Constituinte. Os revoltosos também decretaram o fim da Guarda dom Pedro II, é chamado de Segundo Reinado. Para manter a
Nacional, elevaram os soldos dos militares e criaram batalhões centralização, dom Pedro II utilizou as prerrogativas asseguradas
de soldados para garantir a defesa do governo recém-instalado. ao Poder Moderador - órgão que se sobrepunha ao Executivo,
Para conquistar o apoio da elite baiana, os líderes do movi- ao Legislativo e ao Judiciário - sistematicamente.
mento pregavam a manutenção da ordem, a preservação da pro- Assim, nomeou e demitiu ministros, dissolveu a Câmara dos
priedade privada e a permanência da escravidão. Mas essas ga- Deputados repetidas vezes, convocou eleições, escolheu sena-
rantias não foram suficientes e, sem recursos, o movimento não dores, suspendeu magistrados, etc. Interessado em consolidar
sobreviveu por muito tempo. Com o auxílio de fazendeiros do a ordem interna e manter a unidade territorial, durante seu go-

13
HISTÓRIA
verno, dom Pedro II construiu um sólido aparato administrativo, Muitas mulheres também participaram da guerra indireta-
jurídico e burocrático e debelou as revoltas provinciais, como a mente na retaguarda, com o fabrico de munição, na venda de
Guerra dos Farrapos (1835-1845) e a Balaiada (1838-1842), que artigos de primeira necessidade, no preparo de alimentos e no
ameaçavam a integridade territorial brasileira. socorro aos feridos ou diretamente, quando elas pegavam em
Ao longo dos 49 anos de seu governo, o imperador conse- armas e partiam para as frentes de batalha.
guiu conciliar as forças, oferecendo apoio intermitente ao Parti-
do Liberal e ao Partido Conservador. Embora as diferenças entre Saldo do Conflito
os dois partidos fossem pequenas ambos representavam setores A guerra se alastrou rapidamente. Em um primeiro momen-
diferentes dos grandes comerciantes e dos grandes proprietários to, os paraguaios tiveram vitórias significativas. Aos poucos, po-
de terra, sempre que um gabinete liberal dava lugar a um con- rém, as tropas aliadas se organizaram e passaram à ofensiva. Os
servador, e vice-versa, toda a estrutura administrativa do Impé- combates corpo a corpo foram sangrentos, marcados por atroci-
rio era substituída. dades de ambos os lados.
Fazendo largo uso do clientelismo, os novos integrantes do A guerra só terminou em 1870, com a morte de Solano Ló-
poder substituíam os presidentes de província, prefeitos, dele- pez. O Paraguai saiu arrasado do confronto. A população mascu-
gados, coletores de impostos e demais funcionários públicos. lina adulta foi dizimada, a economia foi destruída e o país perdeu
Nas relações internacionais, dom Pedro II procurou apresentar 40% do território para seus adversários. No que se refere ao Bra-
a imagem do Brasil como um país jovem, moderno e com gran- sil, o conflito fortaleceu o Exército e o sentimento de identidade
de potencial de desenvolvimento. Para reforçar essa ideia, ele nacional.
financiava o estudo de artistas no exterior e estimulava a vinda Entretanto, 30 mil combatentes, de 139 mil enviados à fren-
de missões científicas estrangeiras ao Brasil. te de batalha, morreram. Para compensar as perdas financeiras,
o governo brasileiro contraiu empréstimos no exterior, aumen-
A Guerra do Paraguai tando a dívida externa. O fim dos combates também contribuiu
para pôr em xeque o governo de dom Pedro II: as críticas à escra-
As origens da Guerra do Paraguai estão ligadas à consolida- vidão se intensificaram e a ideia de substituir a monarquia pela
ção dos Estados nacionais na região do Prata e à preocupação do república começou a ganhar força.
Império em evitar a formação de uma grande nação platina que
ocupasse o território do antigo Vice-Reino do Prata. Mudança do Eixo Econômico
Em agosto de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai - Planta nativa da Etiópia, na África, o café chegou à Europa
independente desde 1828 - e derrubaram o presidente uruguaio no século XVII e, de lá, à América. Em 1727, as primeiras semen-
Atanásio Aguirre, do Partido Blanco, acusado de ter posto em tes e mudas de café foram trazidas da Guiana Francesa e planta-
prática medidas antibrasileiras. Seu opositor, Venâncio Flores, das em Belém, no atual estado do Pará.
do Partido Colorado, tornou-se presidente. Por volta de 1760, já havia cafeeiros (para consumo) na ci-
Interpretando a invasão do Uruguai como uma ameaça aos dade do Rio de Janeiro. Posteriormente, a planta foi levada ao
interesses de seu país, em novembro de 1864. o presidente do litoral fluminense e, depois, para o vale do rio Paraíba do Sul.
Paraguai, Solano López, aliado de Aguirre, apreendeu um navio Ali, o café passou a ser plantado como produto agrícola, para
mercante brasileiro no rio Paraná e, em dezembro, ordenou a consumo e comércio, e se espalhou rapidamente, chegando a
invasão da província do Mato Grosso. cidades como Resende e Vassouras, no Rio de Janeiro; Areias ,
Em seguida, declarou guerra à Argentina, já que o governo Guaratinguetá e Taubaté, em São Paulo. Mudas e sementes de
do país não permitiria que o Exército paraguaio cruzasse o ter- café também foram levadas para o Espírito Santo e para o sul de
ritório argentino em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai. Minas Gerais.
Em maio de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai (já presidido por Nesse processo de expansão, muitos quilômetros da mata
Flores) firmaram o Tratado da Tríplice Aliança, um acordo políti- Atlântica foram derrubados para que fazendas de café pudessem
co, econômico e militar contra o Paraguai. se estabelecer e os indígenas que ali viviam foram dizimados ou
expulsos. Os pequenos posseiros que se encontravam na região
Os Voluntários da Pátria com suas lavouras de subsistência tiveram um destino similar.
O governo brasileiro não possuía contingente para uma Dessa maneira, no início do Segundo Reinado, o café já era o
guerra desse porte e por isso, em janeiro de 1865, assinou um principal artigo de exportação brasileiro e o Brasil era o maior
decreto criando o corpo de Voluntários da Pátria. Neste pode- exportador mundial do produto.
riam alistar-se espontaneamente homens entre 18 e 50 anos. No sudeste, as principais cidades cafeicultoras enriquece-
Para aumentar ainda mais o número de combatentes, o governo ram. Assim como nos engenhos do nordeste, a riqueza extraída
oferecia em troca do alistamento uma quantia em dinheiro e um dos cafezais era produzida, primordialmente, pela mão de obra
pedaço de terra aos homens livres, assim como a alforria aos escravizada. Os cativos eram responsáveis por todo o trabalho
escravizados. no campo: preparavam o terreno, plantavam e colhiam. Na épo-
Assim, o corpo de voluntários reuniu indivíduos livres das ca da colheita, cabia a eles entregar ao administrador da fazenda
camadas médias e pobres. Os membros da elite não se interes- uma quantidade específica de grãos.
savam pelo voluntariado e, quando convocados, preferiam pagar No começo, os escravizados também tinham por obrigação
para que pessoas livres fossem no lugar deles ou enviavam es- conduzir carros de bois com sacas de café até os portos do Rio de
cravizados para substituí-los. O governo pagava uma indenização Janeiro e de Santos, no litoral do estado de São Paulo, de onde a
aos senhores de escravos que enviavam seus cativos à batalha, produção era embarcada para o exterior. A partir de 1850, com a
prática que ficou conhecida como “compra de substituídos”. construção das primeiras ferrovias, esse transporte passou a ser
feito de trem, o que estimulou a construção de muitas ferrovias.

14
HISTÓRIA
Mas as ferrovias não impactaram apenas o transporte do Lei Eusébio de Queirós
café. Elas integraram também o comércio do Triângulo Minei- Em 1850, a pressão internacional, somada ao medo de no-
ro ao mercado paulista, transformaram a paisagem natural dos vas rebeliões de escravos e ao clamor dos que se opunham à
locais em que foram implantadas e colocaram a população em escravidão, levou à aprovação da Lei Eusébio de Queirós.
contato com as inovações técnicas do capitalismo. As cidades Ela proibia definitivamente o tráfico de africanos para o Bra-
onde foram construídas se transformaram, e novos municípios sil. Importantes fazendeiros que tentaram desrespeitar a nova
surgiram em função delas. Com o enriquecimento, muitos fa- lei foram presos e capitães de navios negreiros que continuaram
zendeiros do Vale do Paraíba foram agraciados com títulos de a traficar es cravos sofreram duras penas.
nobreza pelo imperador, originando se daí a expressão barões
do café para designá-los. A imigração europeia e a Lei de Terras
De modo geral, apesar do título, não faziam parte da corte Antes de 1850, alguns fazendeiros do Oeste paulista já ten-
imperial. Embora a presença masculina no gerenciamento das tavam substituir a mão de obra escravizada pela de imigrantes
fazendas fosse predominante, algumas mulheres também co- europeus. Em 1847, cerca de mil colonos de origem germânica e
mandavam as fazendas de café. Esse foi o caso de Maria Joa- suíça foram trazidos e empregados, em regime de parceria, em
quina Sampaio de Almeida (1803-1882), que, após a morte do uma fazenda no interior de São Paulo.
marido, passou a dirigir a fazenda Boa Vista, em Bananal, res- No entanto, o regime de parceria não funcionou, pois era
ponsável por uma das maiores produções individuais de café no pouco vantajoso para os imigrantes, que arcavam com muitas
período: 700 mil. despesas, as quais reduziam muito seus lucros. Temendo que os
imigrantes abandonassem o trabalho nas fazendas e ocupassem
Oeste Paulista as terras devolutas, o governo e a Assembleia Geral instituíram a
Os fazendeiros do Vale do Paraíba empregavam técnicas Lei de Terras, que restringia o acesso da população à terra.
agrícolas rudimentares, como a queimada para limpar o terreno. A legislação em vigor até então permitia a qualquer pessoa
Além disso, não utilizavam arados nem adubos. Por causa dessas se instalar em uma área de terras devolutas e posteriormente
práticas, o solo da região empobreceu e, por volta de 1870, a requerer um título de propriedade sobre ela. Com a Lei de Ter-
produção declinou. ras, aprovada em 1850, quem quisesse se tornar proprietário
Cafeicultores faliram, fazendas foram abandonadas e as ci- deveria comprar o lote do governo. Para dificultar o acesso, a
dades que viviam do café ficaram à míngua. Em busca de novas lei fixou dimensões mínimas para os lotes a serem comprados
terras, os fazendeiros expandiram as plantações de café em di- e proibiu a compra a prazo. Impediu-se assim o surgimento de
reção ao Oeste paulista na segunda metade do século XIX. Eles uma camada de pequenos proprietários rurais e o desenvolvi-
expulsaram o povo Kaingang da região, derrubaram matas e ocu- mento de uma agricultura familiar economicamente expressiva
param as terras férteis das atuais cidades de Campinas, Jundiaí e no Brasil.
São Carlos. Em seguida avançaram para Ribeirão Preto, Bauru e, A lei beneficiou a população mais rica e com mais recursos,
mais tarde, para o norte do Paraná e outras regiões, onde o solo que comprava grandes lotes diretamente do governo, e possibi-
de terra vermelha, mais conheci da como terra roxa, era ideal litou que os grandes proprietários rurais concentrassem ainda
para o cultivo da planta. mais porções de terras em suas mãos.
Nesses lugares, surgiu um novo tipo de cafeicultor que, em-
bora utilizasse mão de obra escrava, passou também a empregar A Caminho da Abolição
o trabalho assalariado de trabalhadores livres de origem euro- Quando a Lei Eusébio de Queirós foi aprovada em 1850, a
peia. produção cafeicultora do Sudeste estava no auge e a necessi-
Retirantes cearenses que fugiram da seca no final da década dade de mão de obra era crescente. Impedidos de recorrer ao
de 1870 e se deslocaram para o sudeste também foram empre- tráfico negreiro, os cafeicultores passaram a comprar es cravos
gados nos cafezais. Com os lucros das exportações de café, os dos fazendeiros do Nordeste que, naquele momento, atravessa-
cafeicultores aprimoraram as técnicas agrícolas a fim de multi- vam um período de dificuldades por causa da forte concorrência
plicar os rendimentos. Alguns começaram a diversificar seus in- externa à produção nordestina de açúcar e algodão.
vestimentos, aplicando parte do capital em atividades industriais Em 1865, a notícia de que os Estados Unidos haviam abolido
e comerciais. Em 1872, ano em que foi realizado o primeiro cen- a escravidão reacendeu os debates abolicionistas no Brasil. Ao
so no Brasil, 80% da população em atividade no país se dedicava mesmo tempo, aumentou o número de escravizados que reivin-
ao setor agrícola, 13% ao de serviços e apenas 7% à indústria. dicavam junto à Justiça o direito de não separar-se de suas famí-
lias e de juntar dinheiro para comprar a liberdade. Não raro, eles
Fim do Tráfico Negreiro venciam esses processos.
No começo do século XIX, o Brasil e várias colônias e na- Com o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, a Campanha
ções sofriam forte pressão do governo inglês para acabar com Abolicionista começou a se difundir pelo país e conquistou
o tráfico negreiro e com a escravização dos povos africanos. Por adeptos no Exército - os negros e miscigenados representavam a
isso, a Inglaterra só reconheceu a legitimidade da independência maior parte dos soldados brasileiros no conflito. O convívio en-
brasileira em 1825, depois que dom Pedro I se comprometeu a tre negros e brancos durante a guerra contribuiu para diminuir o
acabar com o tráfico. preconceito e muitos militares ou ex-combatentes mudaram de
As pressões inglesas aumentaram e, em 1831, o governo re- opinião a respeito da escravidão.
gencial decretou o fim do tráfico negreiro. Mas a lei não alcan-
çou seu objetivo imediato e africanos escravizados continuaram Lei do Ventre Livre
sendo contrabandeados para o Brasil, apesar de o tráfico ter so- Pressionado, o governo procurou conciliar os interesses con-
frido uma queda acentuada. flitantes e extinguir a escravidão sem prejudicar os negócios dos
fazendeiros. Para tanto, propôs um plano de abolição gradual,

15
HISTÓRIA
garantindo indenizações aos donos de escravizados. No dia 28 Em São Paulo, em 1886, o abolicionista Antônio Bento criou
de setembro de 1871, a Assembleia Geral aprovou a Lei do Ven- um grupo conhecido como Caifazes, que organizava deserções
tre Livre. Ela estabelecia que os filhos de escravizados nascidos em massa de escravos. A partir de então, as fugas se tornaram
a partir daquela data seriam considerados livres, mas deveriam cada vez mais frequentes. Em 1887, o Exército anunciou sua re-
permanecer sob os cuidados de seus senhores até completarem cusa em continuar capturando escravos fugitivos.
oito anos de idade. No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel - filha de dom
A partir de então, o proprietário tinha duas opções: entregar Pedro II que estava à frente do governo, substituindo o impera-
a criança ao governo, que lhe pagaria uma indenização, ou man- dor, que viajara ao exterior - assinou a Lei Áurea, libertando os
tê-la sob o regime de trabalho compulsório em sua propriedade, 723 mil escravos que ainda restavam no país. Esse número repre-
como forma de compensação pela alforria, até ela completar 21 sentava 5% da população afrodescendente que vivia no Brasil.
anos. A lei também garantia ao escravizado o direito de formar Os afro-brasileiros tiveram seus direitos formalmente re-
um pecúlio com o qual pudesse comprar sua alforria. conhecidos. A emancipação, contudo, não foi acompanhada de
Esse recurso seria bastante utilizado pelos cativos. Embora medidas de reparação ou de integração dos libertos na socie-
oferecesse garantias de compensação aos senhores de escravos, dade, como propunham muitos abolicionistas. Entre essas pro-
a lei foi vista como um sinal de que a escravidão estava próxi- postas estavam a distribuição de terras aos libertos e a criação
ma do fim. Para os fazendeiros do Oeste paulista, isso significava de mecanismos para que os ex-escravos e seus filhos tivessem
que seria necessário promover a imigração europeia em grande acesso à educação. Na verdade, os ex-escravos não receberam
escala. A escolha pela mão de obra europeia foi estimulada por nenhum tipo de amparo e se tornaram vítimas de um novo tipo
teorias raciais vigentes na época. Racistas, essas teorias (gene- de desigualdade social e étnica cujos reflexos ainda podem ser
ricamente conhecidas como darwinismo social) defendiam que sentidos na sociedade brasileira.
negros e mestiços, assim como indígenas e asiáticos seriam infe-
riores aos europeus. O Brasil no Final do Século XIX
Os negros, que durante quase quatro séculos construíram A partir da segunda metade do século XIX, o Brasil passou
praticamente tudo que o existia no Brasil, eram agora taxados por transformações socioeconômicas que mudaram o perfil da
de preguiçosos, incapazes e incultos. Para políticos e fazendeiros sociedade. O trabalho escravo, por exemplo, começou a ser
racistas, os negros deveriam ser substituídos por brancos “mais substituído pelo trabalho livre e assalariado. A indústria tomou
capacitados”. Para eles, o sucesso da modernização do país só impulso a partir de 1880 e aumentou a contratação de mão de
seria possível por meio da mão de obra europeia. obra assalariada: em 1881, havia cerca de três mil trabalhadores
Aproveitando-se da situação de crise de alguns países da Eu-
industriais; em 1890 já eram 54 mil, principalmente imigrantes.
ropa, iniciou-se amplo processo de incentivo à emigração para
As cidades cresceram e aumentou o número de pessoas
o Brasil.
das camadas médias urbanas - profissionais liberais, pequenos
A Campanha Abolicionista e médios comerciantes, funcionários públicos, etc. A vida cul-
A partir de 1880, a mobilização pelo fim da escravidão no tural se intensificou. Formou-se uma opinião pública capaz de
Brasil envolvia homens e mulheres de setores sociais variados, se mobilizar contra a escravidão e contra o caráter opressivo da
nos principais centros urbanos. A Campanha Abolicionista, como monarquia. Nesse mesmo momento, o Brasil atravessava uma
foi chamada, teve como polos de aglutinação associações eman- grave crise econômica.
cipacionistas e órgãos da imprensa. A guerra contra o Paraguai (1864-1870) consumira as divisas
Personalidades como Joaquim Nabuco (1849-1910), André do país, e a população sofria com o aumento do custo de vida.
Rebouças (1838-1898) e Antônio Bento (1843-1898) escreviam Os fazendeiros do Centro-Sul mostravam-se insatisfeitos com a
nos jornais abolicionistas. O caricaturista Ângelo Agostini (1843- composição política do império, que não refletia o poder eco-
1910) desmoralizava os defensores da escravidão com seus de- nômico e social das regiões: o Nordeste tinha um número maior
senhos, e José do Patrocínio (1854-1905) costumava terminar de representantes no Senado e no ministério do que o Sudeste.
seus editoriais com a frase: “A escravidão é um roubo e todo dono Os cafeicultores, sobretudo os do Vale do Paraíba, também
de escravo, um ladrão.”. estavam in satisfeitos com a extinção do trabalho escravo. Em-
No Pará, Manoel Moraes Bittencourt fundou em 1882 o Club bora isso tivesse ocorrido por meio da criação de sucessivas leis
Abolicionista Patroni, que, junto a outras organizações - que foram - como a do Ventre Livre (1871) e a dos Sexagenários (1885) -, a
aparecendo em praticamente todas as províncias brasileiras -, re- insatisfação se transformou em revolta em 1888, com a assina-
colhia recursos para a compra de alforrias. Em 1883, essas asso- tura da Lei Áurea.
ciações se unificaram e formaram a Confederação Abolicionista. Os militares também davam sinais de descontentamento.
No Recife, integrantes da sociedade secreta Clube do Cupim, Os soldos estavam baixos e as promoções dos oficiais ocorriam
liderada por José Mariano, retiravam es- cravos do cativeiro e mais por apadrinhamento do que por mérito. Como não podiam
os enviavam de barcaças ao Ceará, onde a escravidão foi extinta manifestar livremente suas opiniões políticas, entre 1883 e 1887
em 1884. A essa altura, a Campanha Abolicionista se configurava os militares demonstraram sua insatisfação por meio de atos de
como um movimento irreprimível e de grande apelo popular. insubordinação e desobediência que, em seu conjunto, ficaram
conhecidos como a Questão Militar.
O Fim da Escravidão As relações entre a Igreja e o Estado se desgastaram com a
Em 1884, as províncias do Ceará e do Amazonas aboliram a chamada Questão Religiosa, em 1871, quando bispos de Olinda
escravidão em seus territórios. No ano seguinte, a Assembleia e de Belém fecharam algumas irmandades religiosas ligadas à
Geral aprovou a Lei Saraiva-Cotegipe, também conhecida como maçonaria. Dom Pedro II ordenou que essas irmandades fossem
Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 reabertas.
anos. A alforria para esse grupo, entretanto, só ocorria depois de
três anos de trabalho a título de indenização.

16
HISTÓRIA
Os bispos se recusaram a obedecer, foram presos e conde-
nados a trabalhos forçados. Mesmo sendo anistiados pelo impe- A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO
rador em 1875, essa situação desgastou a relação entre parte do REPUBLICANO
clero e o Estado. Esse evento é apontado como um dos fatores
que levaram ao desgaste e à queda da monarquia no Brasil. REPÚBLICA VELHA

A Campanha pela República Consolidação da República


Em 1870, políticos liberais radicais, cafeicultores e represen- Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonse-
tantes das camadas médias do Rio de Janeiro e de São Paulo ca proclamou a República. Apesar das divergências que existiam
criaram o Clube Republicano, cujo porta-voz era o jornal carioca sobre o tipo de república a ser construída no país, as elites que
A República. dominavam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Gran-
Nos dois anos seguintes, novos clubes e jornais republica- de do Sul defendiam o federalismo, em oposição à centralização
nos surgiram pelo país. Mas a Campanha Republicana ganhou imperial4.
mais força a partir de 1873, quando grupos políticos ligados aos Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no li-
cafeicultores paulistas fundaram, em São Paulo, o Partido Repu- beralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estaduni-
blicano. dense como referência, em relação à autonomia dos estados e
às liberdades individuais.
Moderados, radicais e positivistas No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de polí-
Unidos contra a monarquia, os republicanos divergiam ticos liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com
quanto aos métodos propostos. base nos ideais positivistas, a instauração de uma ditadura re-
Os moderados, vinculados aos grandes proprietários rurais, publicana que, ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso.
eram contrários ao fim da escravidão. Os radicais, ou revolucio- Já no Rio de Janeiro, a capital da República, existia um grupo
nários, eram membros das camadas médias urbanas e apoiavam de republicanos radicais, chamados de jacobinos. Eram civis e
uma revolução com grande participação popular, como a que militares, alguns deles positivistas, que defendiam de maneira
ocorrera na França em 1789. A facção formada pelos militares exaltada o regime republicano e opunham-se de ma-neira con-
adeptos do positivismo apoiava-se na confiança na ciência e na tundente à volta da monarquia.
razão. Na política, o positivismo defendia a instauração de uma
Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno
ditadura republicana.
do antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republi-
canos. E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto al-
O Fim do Império
guns oficiais seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam
No decorrer de 1889, Quintino Bocaiuva, chefe nacional do
a de Floriano Peixoto. Mas havia também os positivistas, que ti-
movimento republicano, procurou se aproximar dos militares em
nham Benjamin Constant como líder, e alguns monarquistas, so-
busca de apoio na luta contra a monarquia. No dia 11 de no-
bretudo na Marinha, que tinham fortes ligações com o Império.
vembro, um grupo conseguiu convencer o marechal Deodoro da
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o
Fonseca a apoiar a causa republicana.
Ao mesmo tempo, os militares republicanos do Rio de Janei- Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Consti-
ro estabeleceram contatos com líderes civis de São Paulo, que tuinte para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto
apoiaram a ideia de um golpe para proclamar a República. Mar- de leis que o regeriam.
cado para o dia 20 de novembro, ele foi antecipado porque, no Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primei-
dia 14, um major espalhou o boato de que o governo decretara a ra Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados
prisão de Deodoro da Fonseca e de Benjamin Constant. Unidos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Uni-
Na manhã do dia 15, o próprio marechal Deodoro seguiu à dos, ela era liberal e federativa, concedendo aos estados prer-
frente de um batalhão em direção ao prédio do Ministério da rogativas de constituir forças militares e estabelecer impostos.
Guerra, onde os ministros encontravam-se reunidos. Sem en- Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime
frentar nenhuma resistência, Deodoro depôs o gabinete e voltou político, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e
para casa. Os republicanos ficaram sem saber se o marechal ha- Judiciário, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os de-
via derrubado a monarquia ou apenas o ministério. putados constituintes também elegeram o marechal Deodoro da
Para dirimir qualquer dúvida, o jornalista José do Patrocínio Fonseca para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a
e outras lideranças dirigiram-se à Câmara dos Vereadores do Rio vice-presidência da República. Mas o novo regime republicano
de Janeiro e anunciaram o fim da monarquia no Brasil. enfrentaria crises muito sérias até se consolidar definitivamente.
Ao ser informado dos acontecimentos, em seu palácio de
Petrópolis, dom Pedro II ainda tentou organizar um novo minis- República de Espadas
tério, mas acabou desistindo. Na madrugada de 17 de novem- Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então mi-
bro de 1889, embarcou com a família para Portugal. Dois anos nistro da Fazenda, a República começou com grande euforia.
mais tarde, morreu em Paris, vítima de pneumonia aguda, aos Com o objetivo de estimular o crescimento econômico e a indus-
66 anos. trialização do país, o governo autorizou que os bancos concedes-
A Proclamação da República foi um movimento do qual a sem crédito a qualquer cidadão que desejasse abrir uma empre-
população praticamente não participou. Nele estiveram envol- sa. E, para cobrir esses empréstimos, permitiu a impressão de
vidos alguns militares, intelectuais e políticos. Um dos líderes uma imensa quantidade de papel-moeda.
republicanos, Aristides Lobo, chegou a afirmar que o povo assis-
tiu a tudo bestializado, achando que a movimentação das tropas
conduzidas por Deodoro da Fonseca na manhã do dia 15 de no- 4 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo.
vembro fosse simplesmente uma parada militar. Saraiva.

17
HISTÓRIA
Como a moeda brasileira tinha como referência a libra ingle- Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas
sa, as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) uniram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma san-
provocaram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos em- grenta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Fede-
préstimos concedidos foram usados para abrir empresas que ralista (1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do
existiam apenas no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram Rio Grande do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do
negociadas na Bolsa de Valores. Como resultado, muitos inves- Paraná, e só terminaram em junho de 1895 com a vitória dos re-
tidores perderam seu dinheiro e a inflação aumentou, atingindo publicanos sobre os federalistas. A Revolução Federalista causou
toda a sociedade brasileira. Essa medida, que visava estimular a muito sofrimento ao sul do país. Somente no Rio Grande do Sul,
economia, mas resultou em desvalorização da moeda e especu- que contava com cerca de 900 mil habitantes, morreram de 10 a
lação financeira, recebeu o nome de Encilhamento. 12 mil pessoas, muitas delas degoladas.
Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o Passados cinco anos da proclamação da República, chegava
presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políti- ao fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de
cos liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, 1894, o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Pruden-
em novembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fe- te de Morais, conferindo novos ares à República. Pela primeira
chamento do Congresso Nacional e decretou estado de sítio no vez, um civil ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicul-
país. Os oficiais que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não tores, assumia o poder. Com a eleição de Prudente de Morais,
apoiaram o golpe de Estado; assim como a Marinha, que consi- encerrava-se o período conhecido como República da Espada.
derou autoritária a atitude do presidente, e diversas lideranças
civis. Sem apoio político, o presidente renunciou no dia 23. Modelo Político
Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a pre- A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para to-
sidência da República. dos os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também de-
A posse do novo presidente foi muito questionada. De acor- terminou que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os pra-
do com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente ças de pré, os religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos,
houvesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. todos os cidadãos brasileiros eram eleitores e elegíveis.
Caso contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante
Floriano estava decidido a permanecer no poder, com o apoio da Constituição imperial, a primeira Constituição da República
dos florianistas, que alegavam que o dispositivo constitucional também excluía a maioria da população brasileira do direito de
só valeria para o próximo mandato presidencial. votar. O voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça
Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por Eleitoral, na prática as eleições eram caracterizadas pela fraude.
meio de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano A organização da eleição dos municípios, bem como a redação
ignorou o protesto e mandou prender os generais. Receosas com da ata da seção eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos lo-
a instabilidade da República, as elites políticas de São Paulo, re- cais, os chamados coronéis.
presentadas pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas -
novo presidente. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte daí o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as
do PRP era fundamental. escolhas dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era
Ele também contou com o apoio de importantes setores do comum, por exemplo, que nas atas das seções eleitorais constas-
Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha sem votos de eleitores já mortos para o candidato dos coronéis.
de Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de-
de setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchi-
de Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e das. Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo
Niterói e dispararam tiros contra as duas cidades - era o início geral, os eleitores votavam no candidato do coronel por vários
da Revolta da Armada. Em março do ano seguinte a situação motivos: obediência, lealdade ou gratidão, ou em busca de al-
tornou-se insustentável nos navios - não havia munição, alimen- gum favor, como dinheiro, serviços médicos e até mesmo prote-
tos, água nem o apoio da população. Parte dos revoltosos pediu ção. Afinal, sem a garantia dos direitos civis e políticos, grande
asilo político a Portugal, a outra foi para o Rio Grande do Sul par- parte da população rural - vale lembrar que a imensa maioria
ticipar de um conflito que eclodira um ano antes: a Revolução dos brasileiros então vivia no campo - buscava a proteção de
Federalista. um coronel e acabava se inserindo em uma rede de favores e
proteção pessoal.
Revolução Federalista
A instalação da República alterou a política do Rio Grande O Poder dos Coronéis
do Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcan- Também conhecida como coronelismo, a chamada “Repúbli-
çara o poder. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio ca dos coronéis” era um sistema político que resultou da Consti-
de Castilhos, a agremiação de orientação positivista tornou-se tuição de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os
dominante no estado em que passou a governar de maneira au- presidentes de estado (hoje denominados governadores) eram
toritária. nomeados pelo poder central, com a República eles passaram
a ser eleitos pelos coronéis. Nos municípios, eram os coronéis
A principal força de oposição ao Partido Republicano era o que, por meio da violência e da fraude eleitoral, controlavam os
Partido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que votos que elegiam o presidente de estado, e também os deputa-
defendia o parlamentarismo e a predominância da União Fede- dos estaduais e federais, os senadores e até mesmo o presidente
rativa sobre o poder estadual - enquanto os republicanos prega- da República.
vam o sistema presidencialista e a autonomia dos estados.

18
HISTÓRIA
Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferro-
nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar ver- vias, estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio
bas para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede e de exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de
de alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, navegação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivan-
parlamentares e o próprio presidente da República estavam ata- do a sua industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de te-
dos por fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou cidos, chapéus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos
na presidência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do etc. Tratava-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo
que veio a ser chamado de política dos governadores Ou dos não duráveis, que não exigia grande tecnologia ou altos inves-
esta- dos. timentos de capital, mas que empregava grande quantidade de
Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes mão de obra.
nos estados, que em troca sustentavam politicamente o presiden- A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ain-
te da República no Congresso Nacional, controlando a eleição de da, o aumento das importações e a expansão das cidades, com a
senadores e deputados federais - e evitando, dessa forma, que instalação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema
os candidatos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso de transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo
acontecesse, a Comissão de Verificação de Poderes da Câmara maior circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu
Federal, responsável por aprovar e confirmar a vitória dos candi- foi a de São Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chega-
datos eleitos, impugnava a posse, sob a alegação de fraude. da de milhares de imigrantes.
Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram
importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Crise do Café
Primeiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo elei- Na década de 1920, o café, que era então responsável por
toral, permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, mais da metade das exportações brasileiras, sustentava a econo-
porque, mesmo com o controle do voto, havia alguma mobili- mia do país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se
zação do eleitorado - com o qual as elites, mesmo dispondo de dominante na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos en-
grande poder político, precisavam manter alguma interlocução. tre 1894 e 1930, seis eram filiados ao Partido Republicano Pau-
lista.
Política do Café com Leite A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando
A política dos governadores inaugurada por Campos Salles graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse perí-
fundamentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os odo atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os
poderes das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo fazendeiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma
e Minas Gerais. Como o número de representantes por estado no produção maior do que a capacidade de consumo, os preços in-
Congresso era proporcional à sua população, São Paulo e Minas ternacionais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas.
Gerais, que eram os estados mais populosos e ricos - da fede- A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as-
ração, elegiam as maiores bancadas na Câmara dos Deputados. sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar
Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram esta- com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na
duais e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, presidência em 1898, fez um acordo com os credores interna-
Partido Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Granden- cionais conhecido como funding loan. Pelo acordo, que trans-
se etc. Expressão simbólica da aliança entre o Partido Republica- formou todas as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor
no Paulista e o Partido Republicano Mineiro foi a chamada polí- era a casa bancária britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu
tica do café com leite, que funcionava no momento da escolha como empréstimo 10 milhões de libras esterlinas. Além de ofe-
do sucessor presidencial. recer as rendas da alfândega do Rio de Janeiro como garantia,
As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum o governo se comprometeu a realizar uma política econômica
para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao minei- deflacionária, retirando papel-moeda do mercado, o que gerou
ro. A cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e recessão, falências e desemprego e não resolveu os problemas
São Paulo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e da superprodução de café e da queda dos preços no mercado
interesses divergentes. Por serem fortes em termos políticos e internacional.
econômicos, formaram-se duas oligarquias dominantes no país: Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligar-
a de São Paulo e a de Minas Gerais. Embora em posição inferior quias cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio
à aliança entre paulistas e mineiros, destacavam-se também a do de Janeiro reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elabora-
Rio Grande do Sul, a da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro. ram, em 1906, um plano para a defesa do produto, que, a princí-
Houve eleições em que os vitoriosos não estavam compro- pio, não contou com o apoio do governo federal.
metidos com a política do café com leite, caso de Hermes da Pelo Convênio de Taubaté - como ficou conhecido esse en-
Fonseca em 1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante contro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela
é considerar que as oligarquias dos estados que se encontravam qual os governos dos estados conveniados recorreriam a em-
fora da política do café com leite passaram a questionar o siste- préstimos externos para comprar e estocar o excedente da pro-
ma político na década de 1920. dução de café, até que seu preço se estabilizasse no mercado
internacional, de modo a garantir o lucro dos cafeicultores. Para
Aspectos Econômicos o pagamento dos juros da dívida, seria cobrado um imposto so-
Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de bre as exportações de café.
exportação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo
lavouras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização
1870, a cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamis- do café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial
mo atraiu investidores estrangeiros, sobretudo britânicos. os paulistas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão,

19
HISTÓRIA
charque, cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regio- Movimentos e Revoltas
nais, grande parte dos custos dessa política acabou recaindo so-
bre a sociedade brasileira, que teve de arcar com os prejuízos. Revolta da Vacina
Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as
Economia da Borracha doenças epidêmicas da capital da República. Com base nas então
No começo da República, outro importante produto de ex- recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade
portação era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge de mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico
entre 1890 e 1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o sanitarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava deci-
processo de vulcanização da borracha, por meio do qual ela se dido a erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos,
tornava endurecida, porém flexível, perfeita para ser usada em a varíola, com a vacinação, e a peste bubônica, com a caça aos
instrumentos cirúrgicos e de laboratório. O sucesso do produ- ratos, cujas pulgas transmitiam a doença.
to aconteceu mesmo ao ser empregado na fabricação de pneus Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de
tanto de bicicletas como de automóveis. Em 1852, o Brasil ex- lei ao Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação
portava 1 600 toneladas de borracha (2,3% das exportações na- contra a varíola. Havia grande insatisfação popular contra as re-
cionais). Em 1900, já ultrapassava os 24 milhões de toneladas, o formas urbanas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatorieda-
que equivalia a quase 30% das exportações. de de introduzir líquidos desconhecidos no corpo, imposta de
Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalha- maneira autoritária pelo governo e sem esclarecimentos à po-
vam nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com pulação, que à época desconhecia os benefícios da vacinação,
que as cidades de Belém e Manaus passassem por grandes trans- gerou forte resistência.
formações: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação Havia também razões morais contra a vacinação obrigató-
pública, bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição ria. À época, os homens não admitiam que, em sua ausência,
de água). A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de suas residências fossem invadidas por estranhos que tocassem
origem asiática no mercado internacional provocou um drástico no corpo de suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a
declínio na produção amazônica. Extraída em colônias inglesas e maioria das mulheres partilhava desses mesmos valores, quando
holandesas, a borracha asiática tinha maior produtividade, me- a lei da vacinação obrigatória foi publicada nos jornais, estourou
lhor qualidade e menor preço. uma revolta no Rio de Janeiro.
Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas
Disputas por Território
logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior rea-
Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas
ção, entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre
de disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos.
O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados os dias 10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por
de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos. manifestantes populares: as estreitas ruas do centro foram blo-
A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA queadas por barricadas e os policiais, atacados com pedradas.
em 1895, confirmando a posse brasileira. A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver
Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda-
fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in- do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa,
ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900, e, quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de
impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o es- 6 mil pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos
tado do Amapá. para que os governantes reconhecessem que nada conseguiam
No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Bre- com Imposições e práticas autoritárias sobre a população. Nos
tanha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou anos 1960, com campanhas de esclarecimento, a vacinação em
Inglesa) e o norte do então estado do Amazonas - que hoje cor- massa tornou-se comum no país. Em 1971, ocorreu o último
responde ao estado de Roraima. caso de varíola no Brasil.
O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbi-
tro internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Revolta da Chibata
Desse modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob pés-
Pirara, e a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por simas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação,
meio de alguns de seus afluentes. trabalhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos
Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da físicos aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da
região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolí- chibata, eram ainda mais graves.
via e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado
sofriam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega con-
látex, gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os bra- denado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido,
sileiros chegaram a declarar a independência política do Acre. eles tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns ofi-
Em 1903, a diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o ciais e apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro.
Tratado de Petrópolis, que incorporava o Acre ao território bra- Os marujos do encouraçado São Paulo e de outras seis embarca-
sileiro em troca de indenizações à Bolívia e ao Peru. ções, também ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à re-
Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Pa- volta. Os revoltosos exigiam melhores condições de trabalho e o
ranhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações fim dos castigos corporais.O Congresso negociou com os revolto-
internacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve sos e, somente após sua rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o
à frente das negociações que envolviam disputas territoriais do ambiente na Armada continuou tenso. Em 4 de dezembro, dian-
país como fez do Ministério das Relações Exteriores uma institui- te de novas punições, outra revolta eclodiu na ilha das Cobras.
ção profissionalizada e aproximou o Brasil dos EUA. Os oficiais reagiram de maneira dura e bombardearam a ilha.

20
HISTÓRIA
Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que parti- garam saqueando a cidade. Em resposta, o governador baiano
ciparam da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelida- enviou duas expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas
do de “almirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vá- pelos conselheiristas.
rios dias, muitos deles morreram. Os demais foram detidos em Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam
porões de navios e mandados para a Amazônia - ou executados parte de um amplo movimento que visava restaurar a monar-
durante a viagem. quia no país chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do
Rio de Janeiro e de São Paulo, sobretudo, insistia na existência
Revolta em Juazeiro do Norte de um complô monarquista. Na capital da República, estudan-
Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do es- tes, militares, escritores, jornalistas, entre outros grupos sociais,
tado do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero responsabilizavam o presidente Prudente de Morais por não re-
Romão Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após primir Canudos.
receber a hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição,
teria se transformado em sangue - espalhou-se, aumentando o chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os
prestígio do padre, que passou a ser idolatrado na região. Além federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército
das funções de padre, ele desempenhava as de juiz e conselhei- brasileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas,
ro, ensinava práticas de higiene, acolhia doentes e criminosos que mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e
arrependidos. Canudos passou a ser visto como uma real ameaça à República.
Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja Formou-se, assim, uma quarta expedição, que contava com 10
chegou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração mil homens. Em outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua
estimulasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de população, massacrada - mesmo aqueles que se renderam foram
fato, aconteceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir degolados.
em confissão. Dois anos depois, a Congregação para a Doutri-
na da Fé decretou a falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, Guerra do Contestado
provocando a reação da população. Movimentos de solidarieda- Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa-
de se formaram e irmandades se mobilizaram a favor do padre receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que ti-
Cícero. Imensas romarias passaram a se dirigir à cidade. Beatas nha sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos
diziam ter visões que anunciavam a proximidade do fim do mun- antes. Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado
do e o retorno de Cristo. Surgia um movimento que desafiava as que beato no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a
autoridades eclesiásticas da região. instauração da República e acreditava que somente a lei da mo-
Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero narquia era verdadeira. Apresentando-se como um continuador
foi eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal de suas ideias, José Maria organizou uma comunidade formada
articulador de um pacto entre os coronéis da região do vale do por milhares de homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximi-
Cariri. Padre Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, dades do município catarinense de Curitibanos. Armados e sob a
para provar que o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido. liderança de José Maria, eles criticavam a República.
Apenas em 2016, a Igreja Católica se reconciliou com o padre, Muitos homens e mulheres que participavam desse movi-
suspendendo todas as punições que havia lhe imposto. mento conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma
área disputada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina,
Guerra de Canudos eram pequenos proprietários expulsos de suas terras devido à
Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nor- construção de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que liga-
destinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido ria os estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa
como Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pertencia a um dos homens mais ricos do mundo, o estaduni-
pessoas. Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Ca- dense Percival Farquhar.
nudos, um lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens Como parte do pagamento à empresa construtora, o gover-
do rio Vaza-Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comuni- no estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha,
dade cresceu rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração prejudicando os camponeses que ali viviam. A situação era agra-
dos latifundiários da região ou abandonavam suas terras de ori- vada pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em
gem devido à seca, foram para Canudos. 1912, deslocaram-se para Palmas, no Paraná.
Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva-
mas haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria,
arraial recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um
maioria, mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaru-
morar e terra para plantar. çu. A liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de
Canudos tinha uma rígida organização social. No comando chefes, que difundiu a crença de que José Maria regressaria à
estava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor frente de um exército encantado para vencer as forças do mal e
ou pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as implantar o paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército
chefias dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa e das polícias estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o
etc. O arraial contava com uma guarda especial formada pelos movimento, matando milhares de rebeldes.
jagunços, chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católi-
ca. Havia também comerciantes.
Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comercian-
tes de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conse-
lheiro para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vin-

21
HISTÓRIA
O Modernismo A Coluna Prestes
No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís
cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuá- Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de San-
rio, na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras to Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz
manifestações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o pa- do Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram
drão francês como modelo. a Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao inte-
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso come- rior do país, para mobilizar a população contra o governo e as
çou a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político oligarquias.
dos países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Amé- Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Per-
ricas, a dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos seguido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes,
anos 1920, em diversas cidades do Brasil, principalmente em São impôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o der-
Paulo e no Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifes- rotaram. Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem
tos publicados por artistas e intelectuais que, preocupados com perspectivas, em 1927 os soldados da coluna entraram no terri-
a modernização do país, discutiam o que era ser brasileiro. Re- tório boliviano, onde conseguiram asilo político. Por sua luta e
cusavam-se a copiar padrões europeus e propunham uma nova capacidade de comando, Luís Carlos Prestes passou a ser consi-
maneira de pensar e definir o Brasil, valorizando a memória na- derado um herói e conhecido como “Cavaleiro da Esperança “.
cional e a pesquisa das raízes culturais dos brasileiros.
Era o movimento modernista, que se manifestou com gran- A Revolução de 1930
de impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de No início da década de 1920, o sistema político da Primei-
1922, o Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte ra República começava a apresentar sinais de esgotamento. A
Moderna. Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais realização da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido
exibiram suas obras: houve música, poesia, pintura, escultura, Comunista do Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram
palestras e debates. indícios desse esgotamento. A própria sucessão presidencial,
Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Caval- também no ano de 1922, foi marcada por uma forte disputa en-
canti - responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e tre os grupos políticos estaduais.
Lasar Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Go- Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o minei-
eldi (gravura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e ro Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janei-
Tinta e Pirralho, leu textos e poemas. ro, do Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por
Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam-
lançar Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido
bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o
como Reação Republicana, não propunha romper com o siste-
público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de
ma oligárquico, mas abrir espaço para os grupos dominantes de
congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou.
outros estados, desafiando o domínio de paulistas e mineiros.
Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência re-
No entanto, os resultados das eleições eram previsíveis e Arthur
jeitava os instrumentos musicais das culturas africanas e indíge-
Bernardes saiu vitorioso.
nas. Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas
Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota
culturas também eram formadoras da cultura nacional.
e apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenen-
O Tenentismo tista no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur
Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - Bernardes governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento
como tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em operário e atuou de maneira bastante impopular nas cidades.
um movimento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam Em 1926, dissidentes do PRP fundaram o Partido Democrático
o liberalismo e defendiam um Estado forte e centralizado, ex- (PD), em São Paulo. O novo partido defendia a adoção do voto
pressando um nacionalismo não muito bem definido. Exigiam a secreto e obrigatório, a criação da Justiça Eleitoral e a indepen-
moralização da política e das eleições e defendiam a adoção do dência dos três pode
voto secreto. Muitos se mostravam ressentidos com os políticos, O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspen-
pelo papel secundário do Exército na política nacional. A primeira deu o estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical.
revolta tenentista ocorreu no Rio de Janeiro, em 1922. Após os re- No entanto, não concedeu a anistia política aos tenentes, como
belados tomarem o Forte de Copacabana, canhões foram dispara- exigiam as oposições. Em 1929, começaram as articulações para
dos contra alvos considerados estratégicos. O objetivo era impedir a nova sucessão presidencial. O presidente Washington Luís, do
posse do presidente eleito Arthur Bernardes e, no limite, derrubar Partido Republicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presi-
o governo. dente do estado de São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as
O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da oligarquias mineiras se aliaram aos gaúchos e aos paraibanos,
Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram lançando o nome do gaúcho Getúlio Vargas para a presidência e
da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar- do paraibano João Pessoa para a vice-presidência.
charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final, O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura
sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes. de Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja
A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte. plataforma política defendia o voto secreto, a criação de uma
Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em Justiça Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para
São Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. os militares revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de
O objetivo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada leis trabalhistas.
do presidente Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes ven-
bombardear a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram mar- ceu, mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota,
char para Foz do Iguaçu. alegando fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o

22
HISTÓRIA
apoio dos tenentes na luta contra o governo. No exilio argenti- Tensões pré-Guerra
no, Luís Carlos Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a Naquele cenário tenso, em que as rivalidades entre os paí-
participar das conversações. ses se agravavam, destaca-se a que havia entre França e Alema-
A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa, em julho de nha. Na Guerra Franco-Prussiana, travada entre 1870 e 1871, os
1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava razões políticas franceses perderam para os alemães as regiões da Alsácia-Lore-
locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal transformaram o na, ricas em carvão. O episódio feriu gravemente o orgulho dos
episódio em questão nacional e deflagraram uma revolução. franceses, que julgavam ser uma questão de honra a recupera-
Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio ção desses territórios.
Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Dian- Com a ascensão da Alemanha à categoria de grande potên-
te da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército cia capitalista, as tensões aumentaram ainda mais no continen-
e da Marinha depuseram o presidente Washington Luís e forma- te, acentuando o desequilíbrio econômico e social. Para prote-
ram uma Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio ger seu comércio exterior, a Alemanha investiu em uma marinha
de Janeiro, entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento mercante e de guerra, reforçando a concorrência com os produ-
político-militar conhecido como Revolução de 1930 saía vitorio- tos ingleses. A tensão entre a Alemanha, de um lado, e a França
so. Era o início da Era Vargas. e a Grã-Bretanha, de outro, aumentou quando os alemães es-
tabeleceram uma aliança diplomática e militar com o Império
Austro-Húngaro. Mas esses não eram os únicos focos de atrito
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E SEUS no continente.
EFEITOS NO BRASIL O Império Austro-Húngaro era um mosaico de nacionali-
dades - havia tchecos, eslovacos, bósnios, sérvios, croatas, ro-
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL menos - que lutavam por autonomia. Os sérvios, por exemplo,
identificavam-se com os interesses nacionais e culturais dos rus-
Contexto sos, alimentando diferenças e antagonismos com os austríacos.
A Rússia e o Império Turco-Otomano mantinham ressentimentos
Como explicar a Grande Guerra? O que fez os países euro- recíprocos.
peus deflagrarem um conflito que os levaria à ruína? Urna expli- A exemplo dos impérios Russo e Austro-Húngaro, o Turco-
cação bastante conhecida reitera o caráter imperialista da guer- -Otomano também abrigava povos de várias línguas e religiões.
ra, ressaltando as disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha pela Todo esse clima de competição e rivalidade entre os países foi
redistribuição das colônias africanas e asiáticas - e do mercado intensificado com a expansão das ideologias nacionalistas. As ri-
mundial também5. validades políticas e o crescimento dos nacionalismos na Europa
No entanto, para compreendê-la, é necessário considerar tiveram peso decisivo na eclosão da Grande Guerra.
outros aspectos. Por exemplo, o fato de a guerra haver se con-
centrado em território europeu e as batalhas em regiões colo- Fim do Equilíbrio Europeu
niais terem ocorrido como consequência do que acontecia na A partir de 1880, diversos grupos organizados - em sintonia
Europa. Também é preciso ponderar que, às vésperas da Grande com a burguesia e os proprietários rurais - passaram a defender
Guerra, os conflitos decorrentes das disputas coloniais não se ideias fortemente nacionalistas. Recorrendo a discursos ufanis-
apresentavam como insolúveis ou inegociáveis. Além disso, é tas e emocionais, essas organizações acreditavam que podiam
fundamental analisar a conjuntura política dos países europeus mobilizar a população, reforçando o patriotismo, inclusive, entre
naquela época. povos que não contavam com um Estado constituído, como era
Desde fins do século XIX, urna série de rivalidades políticas o caso dos sérvios.
era alimentada pelo clima de exacerbação nacionalista e pelo As ideologias nacionalistas exaltavam as qualidades do Es-
avanço do militarismo no continente, sobretudo na Grã-Breta- tado-nação e a ideia de superioridade em relação aos demais
nha, na Alemanha, na França e na Rússia. A Inglaterra foi o pri- povos. Britânicos e franceses, por exemplo, acreditavam em
meiro país a se industrializar, dispondo de vasto mercado con- uma suposta capacidade civilizadora do mundo. Os alemães, por
sumidor. Além de fornecer produtos industrializados para Suas sua vez, sonhavam com uma “Grande Alemanha”, apoiada no
colônias, delas recebia boa parte das matérias-primas de que pangermanismo ideologia que defendia a anexação dos povos
necessitava. No início do século XX, porém, os ingleses passaram germânicos espalhados pela Europa Central, como holandeses,
a sofrer a competição de outros países que também se indus- dinamarqueses (de língua alemã), austríacos, entre outros.
trializavam, corno era o caso da Alemanha, cuias indústrias eram Os russos apostavam na unificação dos povos eslavos dis-
fortes concorrentes para as inglesas. persos pela Europa Oriental e pelos territórios do Império Aus-
A Alemanha investiu pesadamente na industrialização, in- tro-Húngaro - sérvios, eslovacos, poloneses, tchecos etc. Era o
centivando a formação de grandes empresas, mediante a asso- pan-eslavismo russo. Mas havia também o pan-eslavismo sér-
ciação entre indústrias e bancos, e desenvolveu um sistema edu- vio, cuja missão era agrupar os eslavos do sul da Europa: eslova-
cacional técnico bastante eficiente. Na França, embora houvesse cos, croatas, búlgaros etc.
muitas indústrias, predominava uma economia agrária - no to- Apesar dessas rivalidades, a paz foi garantida no continente
cante à industrialização, os franceses estavam atrás de ingleses e europeu nas últimas décadas do século XIX, em grande parte,
alemães. A Rússia, predominantemente agrária, era a economia pelo sistema diplomático criado pelo chanceler alemão Otto von
mais frágil entre os gigantes europeus. Além disso, a maioria das Bismarck, cujo objetivo era estabelecer uma ordem internacio-
principais indústrias em seu território era controlada por inves- nal favorável ao Império Alemão. Para tanto, ele procurou evitar
tidores estrangeiros. confrontos com a Grã-Bretanha, de modo a manter a neutralida-
5 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. de britânica na porção continental da Europa.
Saraiva.

23
HISTÓRIA
Com a França as dificuldades eram maiores devido ao res- à Rússia no dia 1 de agosto e, dois dias depois, à França, colocan-
sentimento dos franceses após a derrota na Guerra Franco-Prus- do em ação o ambicioso Plano Schlieffen: derrotar rapidamente
siana. O sistema de Bismarck, como ficou conhecido o modo a França antes que a Rússia pudesse mobilizar suas tropas.
como o chanceler alemão conduziu a política externa do Império Desse modo, evitariam lutar em duas frentes de batalha.
Alemão, ficou ainda mais claro quando, em 1879, um pacto com Para alcançar o território francês, invadiram a Bélgica - país que
o Império Austro-Húngaro contra quaisquer agressões vindas do havia se declarado neutro no conflito. Alegando a quebra da neu-
leste ou do oeste foi firmado. Com a adesão da Itália em 1882, tralidade belga, os britânicos declararam guerra contra a Alema-
formou-se a chamada Tríplice Aliança. Na Conferência de Ber- nha, honrando a Tríplice Entente. A Itália, até então integrante
lim, encerrada em 1885, Bismarck também renunciou a maiores da Tríplice Aliança, mudou de lado, seduzida pelas promessas da
ambições coloniais, para não provocar britânicos e franceses. Grã-Bretanha de concessões territoriais da Alemanha na África.
O sistema do chanceler, contudo, entrou em colapso após O conflito generalizou-se quando o Império Turco-Otomano
sua renúncia, em 1890. Negando a política de Bismarck, o impe- declarou guerra aos seus antigos inimigos russos e aliou-se aos
rador Guilherme II lançou a Alemanha em uma política de expan- germânicos. Cada país beligerante contou com o apoio, por vezes
são territorial (Weltpolitik). entusiasmado, de suas sociedades. O nacionalismo exacerbado e
Em 1894, a França firmou com a Rússia uma entente, isto é, a crença de que o conflito era inevitável e seria curto mobiliza-
um acordo que foi confirmado dois anos depois. Ao superar as ram amplos setores sociais de cada um dos países beligerantes.
rivalidades na corrida colonial, a França também se aproximou
da Grã-Bretanha. Esse entendimento deu origem em 1904 à Trí- Guerra de Trincheiras
plice Entente - que incluía a Rússia. Foi nessa tensa conjuntura As potências que compunham a Tríplice Aliança tiveram de
política que marcou o final do século XIX na Europa que se origi- combater em duas frentes: na ocidental, depois que os alemães
nou a Grande Guerra. declararam guerra à França, e na oriental, de modo a impedir o
A disputa pela hegemonia política, agravada pelas ideologias avanço dos russos. Na frente ocidental a guerra de trincheiras
nacionalistas e pelo militarismo, havia se tornado central para as se impôs como realidade - e como um dos maiores horrores do
potências europeias, divididas em dois blocos rivais, a Tríplice conflito. Trincheiras foram cavadas ao longo de centenas de qui-
Aliança e a Tríplice Entente. Qualquer guerra que viesse a eclodir lômetros, cortando o território europeu de norte a sul e impe-
no continente envolveria um amplo conjunto de nações. dindo os exércitos alemães e franceses de avançar.
No final do ano de 1914, os envolvidos no conflito percebe-
Paz Armada ram que ele não seria rápido nem curto.
Antes da eclosão da Grande Guerra, ainda na primeira dé- O uso de novas armas também contribuiu para fazer da
cada do século XX, houve um grande investimento nas Forças Grande Guerra um verdadeiro cenário de horrores. Pela primeira
Armadas das principais potências europeias. Alemanha, Grã-Bre- vez, utilizava-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventa-
tanha, França, Rússia estimularam o alistamento de milhões de ram o tanque de guerra. Já os alemães usaram lança-chamas e
homens, com base nos ideais de nacionalismo e patriotismo, e armas químicas, como o gás mostarda, que provo- cavam graves
queimaduras. Mas o grande trunfo alemão foi o submarino.
encomendaram às suas indústrias armas, munições, navios de
Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transporta-
guerra, uniformes etc.
vam alimentos, eles conseguiram causar grande dano à popula-
Como os países ainda não estavam em guerra, tratava-se de
ção civil. Com seus submarinos, a Alemanha também conseguiu
uma paz armada. Apesar dos lucros que tal investimento gerou
afundar quase um terço da frota britânica, em represália ao blo-
para a indústria bélica, é um engano supor que a Grande Guer-
queio naval decretado pelas potências da Tríplice Aliança.
ra ocorreu principalmente devido aos interesses desse setor. Às
vésperas do confronto, cerca de 19 milhões de soldados estavam Os Rumos da Guerra
prontos para as batalhas. Quando a guerra, de fato, começou, os A despeito do uso do avião e do submarino, o conflito foi
próprios governantes ficaram surpresos com o entusiasmo que travado, sobretudo, em terra. Na frente ocidental, a segunda
tomou conta das populações. grande ofensiva alemã ocorreu em 1916. Embora dispusessem
de ampla superioridade militar, os alemães esbarraram na tenaz
Grande Guerra Mundial (1914-1918) resistência francesa.
O pretexto para a deflagração da guerra foi o assassinato Já na frente oriental, as forças alemãs e austríacas consegui-
do príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Fer- ram barrar os russos. A vitória tendia para o lado alemão, mas
dinando, e de sua esposa, cometido por um nacionalista sérvio os acontecimentos começaram a mudar com a entrada dos Es-
do grupo Mão Negra, no dia 28 de junho de 1914, na cidade de tados Unidos no conflito, em abril de 1917, após três anos de
Sarajevo, capital da Bósnia-Herzegovina, à época província do neutralidade. Havia afinidade política e cultural entre os EUA e
império. a Grã-Bretanha, além de interesses econômicos em curso - os
Ao assumir o trono, Francisco Ferdinando pretendia trans- estadunidenses vendiam armas e alimentos aos britânicos e aos
formar o Império Austro-Húngaro, então uma monarquia dual franceses -, mas o governo só entrou na guerra quando a situa-
composta pela Áustria e pela Hungria, em uma monarquia trí- ção parecia desfavorável aos seus aliados.
plice, reconhecendo as populações eslavas que o compunham. A entrada dos Estados Unidos no conflito favoreceu a Trí-
Essa ideia, contudo, contrariava os interesses nacionalistas dos plice Aliança e fez com que a guerra, a partir daí, se tornasse
sérvios, que tinham a pretensão de agrupar os eslavos do sul da mundial. Meses depois, contudo, em outubro de 1917, ocorreu
Europa e formar uma “Grande Sérvia” independente. uma nova reviravolta, beneficiando a Alemanha: eclodia uma re-
Em decorrência do assassinato de Francisco Ferdinando, a volução na Rússia.
monarquia austro-húngara declarou guerra aos sérvios em 28 de Em dezembro, o novo governo, de orientação socialista, aca-
julho de 1914. Os russos logo se posicionaram em defesa dos tando a vontade da população, anunciou a retirada do país da
sérvios. Os alemães, solidários aos austríacos, declararam guerra guerra. O custo dessa decisão foi grande para a Rússia, que teve

24
HISTÓRIA
de ceder vários territórios para a Alemanha. Além disso, com Mas a Alemanha não foi a única a pagar a conta da guerra.
a saída dos russos do conflito, os alemães puderam concentrar A cláusula de culpa também atingia o Império Austro-Húngaro.
suas forças na frente ocidental. De seu desmembramento surgiram a Áustria, a Hungria, a Tche-
Em 1917, após três anos de lutas incessantes, as socieda- coslováquia e a lugoslávia. O Império Turco-Otomano também
des europeias envolvidas no conflito estavam cansadas, e os sol- desmoronou, dando origem ao Iraque, à Síria, ao Líbano, à Pa-
dados, exaustos. O bloqueio naval franco-britânico e a guerra lestina e à Transjordânia, nações sob controle da França e da Grã-
submarina alemã levaram a população europeia à fome. O custo Bretanha. O antigo império ficou reduzido à atual Turquia.
de vida disparou, os salários não aumentavam e as mercadorias Em abril de 1919, foi fundada a Sociedade ou Liga das Na-
sumiam das prateleiras. ções, com sede em Genebra, na Suíça, com o objetivo de ga-
Estimulado pelos protestos nas cidades, um amplo movi- rantir a paz e resolver os conflitos entre os países por meio de
mento pacifista surgiu exigindo o fim da guerra. A partir de ju- negociações e arbitramentos. Embora a iniciativa tenha partido
nho de 1918, a Tríplice Aliança acumulou sucessivas derrotas. do presidente estadunidense Woodrow Wilson, o Congresso dos
Enquanto alemães e austríacos conheciam a fome, britânicos e EUA não aprovou a entrada do país na organização, optando pelo
franceses recebiam ajuda material e militar dos Estados Unidos. isolamento internacional.
O Império Austro-Húngaro ruiu, resultando na instauração
de uma república. Na Alemanha, o imperador Guilherme II ab- Os números da Guerra
dicou e, diante da iminente derrota, o novo governo assinou o As consequências da Grande Guerra foram trágicas. Calcula-
armistício em 11 de novembro de 191 S. A Alemanha tornou-se -se que cerca de 10 milhões de pessoas, entre militares e civis,
uma república, conhecida como República de Weimar. morreram no conflito - desse total, aproximadamente, 1 milhão
de alemães e 1 milhão e 500 mil franceses, a maioria com menos
Consequências da Primeira Guerra Mundial de 25 anos de idade. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas,
No início de 1918, antes do término do conflito, o presidente com filhos para criar.
estadunidense Woodrow Wilson apresentou um plano para en- Os países europeus que se envolveram no conflito saíram
cerrar a guerra. Entre os chamados 14 pontos de Wilson estavam: economicamente arruinados, sobretudo a Alemanha. Até a Grã-
abolição da diplomacia secreta, tornando-a de conhecimento
-Bretanha, com todo seu extenso e rico império colonial, deixou
público; liberdade de navegação e fim das barreiras econômicas
de ser a grande potência do mundo. A partir de então, os países
entre as nações; limitação dos arsenais armamentistas; redefini-
da Europa conheceram o declínio econômico. Os EUA, que se in-
ção dos limites territoriais italianos; reformulação das práticas co-
dustrializavam a passos largos desde fins do século XIX, acelera-
lonialistas que considerasse os interesses dos povos colonizados;
ram sua ascensão econômica, com os lucros advindos da venda
independência da Bélgica e da Polônia; restauração da Sérvia, de
de mercadorias e do fornecimento de empréstimos para os paí-
Montenegro e da Romênia; devolução da Alsácia-Lorena à Fran-
ses envolvidos no conflito, principalmente os da Tríplice Entente.
ça; autonomia dos povos submetidos ao Império Turco-Otomano;
Com o fim da guerra, assistiu-se ao declínio dos ideais li-
ajuda à Rússia; e, por fim, criação da Liga das Nações.
berais em boa parte da Europa. Enquanto a democracia liberal
Apesar de estar apoiado na justiça entre os povos - sem ven-
sofria fortes críticas, as ideologias autoritárias de direita e de
cidos nem vencedores - e atender a diversos interesses, o plano
esquerda começavam a ganhar prestígio. Como resultado, as dé-
não interessou aos governos da França e da Grã-Bretanha. Aos
vitoriosos interessava condenar pesadamente a Alemanha e eles cadas seguintes seriam marcadas pelo confronto aberto entre
assim fizeram. partidos nacionalistas radicais e partidos comunistas vinculados
Em 19 de janeiro de 1919, diplomatas dos países vencedores à orientação soviética.
encontraram-se na Conferência de Paris, com o objetivo de che-
gar a um acordo que resultasse no desarmamento da Alemanha O Brasil na Grande Guerra
e na reparação das perdas materiais provocadas pela guerra. O Apesar de ter se mantido neutro no conflito. o Brasil tam-
resultado foi o Tratado de Versalhes, que entre os alemães ficou bém sentiu as consequências da Grande Guerra. As exportações
conhecido como Ditado de Versalhes, por ser impositivo e hu- de café, por exemplo. caíram sensivelmente e a arrecadação de
milhante. De acordo com esse tratado, fundamentado na cláusu- impostos também, já que o principal deles incidia sobre as ex-
la de culpa de guerra estabelecida pelos vitoriosos, a Alemanha portações. Por outro lado, a queda de importações provocada
deveria ceder à França a Alsácia-Lorena e as minas de carvão da pela guerra estimulou o desenvolvimento da indústria brasileira
bacia do Sarre. com tarifas protecionistas e subsídios.
Deveria ceder também parte de seu território para a Bélgica, Em fevereiro de 1917, os alemães passaram a atacar inclusi-
a Dinamarca, a Lituânia e a Polônia - que ganhou, assim, uma ve os navios de países neutros. Mesmo com o protesto do gover-
saída para o mar, o chamado corredor polonês, e recuperou sua no brasileiro, o cargueiro Paraná, carregado com 4,5 toneladas
independência. de café, foi torpedeado em abril daquele ano.
As colônias alemãs na África foram divididas entre a França Nesse contexto, o Brasil rompeu relações diplomáticas com
e a Grã-Bretanha. Além de perder dois quintos de suas minas de a Alemanha. Em maio, dois outros navios brasileiros foram ata-
carvão, dois terços das minas de ferro, um sexto das terras cul- cados. Como o governo manteve a postura de neutralidade, nas
tiváveis e um oitavo de todo seu gado bovino, a Alemanha teve ruas surgiram movimentos de protesto, exigindo uma reação do
todos os seus investimentos no exterior confiscados para pagar governo. Em resposta, o presidente Wenceslau Braz declarou
uma pesada indenização aos vencedores. guerra à Alemanha em outubro de 1917.
As imposições ainda incluíam a redução do Exército alemão
a 100 mil homens, no máximo, a proibição de produzir arma-
mentos (canhões, aviões militares e artilharia antiaérea) e a en-
trega de seus submarinos e navios (mercantes e de guerra) à Grã-
Bretanha, à França e à Bélgica.

25
HISTÓRIA
A Constituição de 1934
A REVOLUÇÃO DE 1930. O PERÍODO VARGAS Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de
exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um
A ERA VARGAS novo Código Eleitoral que trazia algumas novidades:
- criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais;
Governo Provisório - instituía o voto secreto, principalmente para minar a influ-
Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoia- ência dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3);
do pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, - reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor;
dissolveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas es- - garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação
taduais e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emer- dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militan-
gência. Com exceção do governador Olegário Maciel, de Minas tes a enfermeira Bertha Lutz (1894-1976).
Gerais, todos os demais (na época, chamados de presidentes de
estado) foram substituídos por interventores, pessoas da con- Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente
fiança do presidente, escolhidos por ele entre os egressos do com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou
movimento tenentista6. eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assem-
Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano bleia Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-
João Alberto Lins de Barros para interventor provocou descon- -se a médica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo
tentamento entre as elites, que passaram a exigir um interventor e primeira deputada do Brasil.
civil e paulista. Os desdobramentos do descontentamento da po- Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorpo-
pulação em relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução rou a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a ins-
Constitucionalista, em julho de 1932. tituição do salário mínimo (que seria criado somente em 1940)
Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenen- e criou o Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e
tismo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. soldados continuavam proibidos de votar.
Vários de seus representantes voltaram para os quartéis, outros Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio
se aliaram ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascis- Vargas para a Presidência da República, pondo fim ao governo
provisório. De acordo com a Constituição, o mandato presiden-
mo. Os que continuaram no governo permaneceram subordina-
cial se estenderia até 1938, quando um novo presidente escolhi-
dos ao presidente.
do por voto livre e direto assumiria o cargo.
Legislação Trabalhista
Governo Constitucional de Vargas
A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lem-
Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização
brado é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Mi-
política, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a
nistério do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de
Ação Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacio-
1930. As leis de proteção ao trabalhador regularam o trabalho nal Libertadora (ANL), de esquerda.
de mulheres e crianças, estabeleceram jornada máxima de oito A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população
horas diárias de trabalho, criaram o descanso semanal remune- geral estava desacreditada da democracia liberal - o que favo-
rado e garantiram o direito a férias (já concedido anteriormente, recia o surgimento de regimes totalitários em diversos países -,
em 1923, porém nunca colocado em prática) e à aposentadoria, surgiram no Brasil grupos que reivindicavam a implantação de
entre outras novidades. uma ditadura de direita, semelhante à de Mussolini na Itália.
Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi-
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta
1931 0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia de intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das
o controle do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os classes médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e
sindicatos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; Família”, o integralismo era um movimento de caráter naciona-
só podiam funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, lista, antiliberal, anticomunista e contrário ao capitalismo finan-
que, por sua vez, tinha poderes de intervenção tão importantes ceiro internacional.
nas atividades sindicais que podia até afastar diretores. Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco-
Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movi- nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralida-
mento sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada auto- de partidária e a democracia representativa. Nas eleições muni-
ritária, por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, cipais de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos
diversos setores sindicais passaram a acatá-la. municípios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre
A legislação trabalhista - apresentada à população como elas as de Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP).
uma “dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sin- A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935,
dicatos faziam parte de um tipo de política que seria caracteri- e tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos
zado como populista, anos mais tarde. Apresentado como autor Prestes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande
magnânimo das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai ascendência sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fi-
dos pobres”, uma espécie de protetor da classe trabalhadora, leiras grupos de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-
desconsiderando as conquistas como resultado das lutas dos tra- -integralistas, intelectuais independentes, estudantes e ex-te-
balhadores. nentistas descontentes com o autoritarismo do governo Vargas.
Seu programa político era nacionalista e anti-imperialista. Entre
suas principais bandeiras estavam a suspensão do pagamento
6 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Azevedo, da dívida externa, a nacionalização de empresas estrangeiras e
Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática. a reforma agrária.

26
HISTÓRIA
A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil O DIP elaborava também cine documentários, como o Ci-
e 100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Le- nejornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os ci-
vine. Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo nemas, antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares
presidente Vargas. enaltecendo a figura de Vargas e transmitindo noções de patrio-
A partir de então, seus militantes passaram a agir na clan- tismo e civismo.
destinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia
PC do B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, Especial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-
insurreições mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Ja- -tenentista Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões
neiro, com o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo arbitrárias e pela prática de tortura contra os presos.
no Brasil. Mal articulados, os levantes fracassaram e a Intentona
Comunista, como ficou conhecido o episódio, levou o presidente O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
a decretar estado de sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das
pessoas - entre as quais um senador e quatro deputados. tropas nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse
Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (poste- dos países do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de
riormente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mu- Getúlio Vargas manteve uma postura ambígua sobre a Segunda
lher, a judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi Guerra Mundial, pois mantinha relações econômicas com os Es-
deportada para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde tados Unidos.
morreu em um campo de concentração em 1942. Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo
estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que
Eleições Canceladas se manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da
Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, colaboração econômica e militar. O rompimento definitivo com
em 1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de o bloco nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes
Getúlio Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanên- brasileiros foram afundados por submarinos alemães.
cia no poder junto às Forças Arma das e aos governadores. No Em agosto daquele ano, após manifestações populares e
final de 1937, o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elabo- estudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado
rou um plano de uma conspiração comunista para a tomada do das democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em
poder e o entregou à cúpula das Forças Armadas. julho de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da
Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O docu- Força Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália.
mento era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Es-
tado. No dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou O Fim do Estado Novo
o fechamento do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas
Vargas declarou canceladas as eleições presidenciais e anunciou pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participa-
a instauração do Estado Novo, que ele definiu como “um regime ção do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um
forte, de paz, justiça e trabalho”. A seguir, foi outorgada uma lento processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo.
nova Constituição, que logo passaria a ser chamada de Polaca, Outras manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo
em alusão a suas semelhanças com a Constituição polonesa, de e pela volta da democracia.
inspiração fascista. As garantias individuais foram suspensas e Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de
o direito de reunião, abolido. A população ficou proibida de se políticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso
organizar, reivindicar seus direitos e de manifestar livremente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi
suas opiniões. Sem reação popular, começava uma nova fase do a vez dos participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Es-
governo getulista: a de uma ditadura declarada, centralizada em critores. Ainda em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa,
torno da figura de Getúlio Vargas. anistiou presos políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e con-
vocou eleições para uma Assembleia Constituinte.
O Estado Novo Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais
Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos a União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das
os partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralis- classes médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), com-
ta, que apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava posto de antigos coronéis e interventores nos estados e o Parti-
principalmente a ideia de reconstrução da nação - pautada na do Trabalhista Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais
ordem, na obediência à autoridade e na aceitação das desigual- ligados ao Ministério do Trabalho, além do Partido Comunista do
dades sociais - e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade Brasil (PC do B), que voltou a ser legalizado.
brasileira. Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns
sindicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do
Departamento de Imprensa e Propaganda presidente, passaram a defender a permanência de Getúlio Var-
Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propa- gas na Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida
ganda (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha em coro pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimen-
nazista. Os agentes do DIP controlavam os meios de comunica- to: queremismo. Para evitar a permanência de Vargas no poder,
ção por meio da censura a jornais, revistas, livros, rádio e ci- os generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua
nema. Eles também elaboravam a propaganda oficial do Estado renúncia.
Novo, produzindo peças publicitárias que mostravam o presi- Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Esta-
dente como uma figura paternal, bondosa, severa e exigente a do Novo chegava ao fim.
fim de agradar à opinião pública.

27
HISTÓRIA
No mesmo ano, reivindicou a posse dos Sudetos, na Tche-
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E SEUS coslováquia, alegando que havia maioria alemã na região e ame-
EFEITOS NO BRASIL açando invadir o lugar no caso de objeção das potências ociden-
tais. No Tratado de Munique, assinado em setembro de 1938,
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Hitler atingiu seu objetivo. Em março de 1939, tropas alemãs en-
traram em Praga e decretaram que a Boêmia e a Morávia fariam
Precedentes parte de um protetorado alemão. Um dos poucos políticos a
O regime nazista preparou a Alemanha para a guerra. As po- denunciar as intenções expansionistas da Alemanha foi Winston
sições de Hitler contra o Tratado de Versalhes (1919), o rearma- Churchill, membro do Partido Conservador britânico, declarada-
mento progressivo do Terceiro Reich e a instituição do serviço mente antissoviético, mas igualmente crítico do regime nazista.
militar obrigatório não deixavam dúvida quanto aos seus objeti- Os governos britânico e francês alertaram que, diante de
vos expansionistas. Um dos primeiros atos de Hitler foi a retirada qualquer novo avanço territorial, seria declarada guerra à Ale-
da Alemanha da Liga das Nações - organismo internacional fun- manha para resguardar a ordem internacional. Porém, a essa
dado ao final da Primeira Guerra Mundial para resolver litígios altura, Alemanha, Itália e Japão já tinham firmado o Eixo Roma-
entre os Estados7. -Berlim-Tóquio: uma aliança militar para atuar contra quaisquer
Os nazistas não cansavam de declarar seu direito ao espaço inimigos. Alemanha e Itália também reforçaram sua aliança por
vital, considerado necessário para a formação da “Grande Ale- meio do Pacto de Aço, assinado em maio de 1939.
manha” Em 1936, a Alemanha liderou o Pacto Anti-Komintern, A surpresa viria com o encontro entre o ministro de Relações
aliando-se ao Japão contra o expansionismo soviético. A Itália Exteriores da Alemanha, Joachim Von Ribbentrop, e o ministro
fascista aderiu no ano seguinte. Foi uma reação ao VII Congresso soviético, Viacheslav Molotov, em Moscou, em fins de agosto de
da Internacional Comunista, realizado em Moscou, um ano an- 1939. Nessa ocasião, os dois países firmaram o pacto germano-
tes, que recomendou aos partidos comunistas de todo o mundo -soviético de não agressão, que incluía uma cláusula secreta de
a formação de frentes populares com socialistas e democratas divisão da Polônia entre as duas potências - em caso de guerra -,
contra a ascensão dos regimes fascistas. além de prever o intercâmbio comercial. De fato, a URSS enviou
França e Grã-Bretanha viram no fortalecimento alemão uma regularmente petróleo e alimentos para a Alemanha até 1941.
forma de conter o comunismo no limite das fronteiras soviéticas. Por meio desse acordo, a Alemanha nazista conseguiu carta
Por esse motivo, calcularam que a guerra alemã em busca de seu branca dos soviéticos para invadir a Polônia. O regime soviético,
espaço vital se limitaria ao leste, talvez provocando a destruição por sua vez, obteve garantias mínimas de que não seria atacado,
da URSS, mas não chegaria aos países do Ocidente europeu e na expectativa de que o esforço bélico dos nazistas se lançasse
a seus impérios coloniais na Ásia e na África. Mas os planos de contra outros países, incluindo as democracias ocidentais. As po-
Hitler logo se mostraram bem mais ambiciosos. tências ocidentais ficaram perplexas diante da cartada de Hitler
e Stalin.
Guerra Civil Espanhola
O Nazismo ataca a Europa
As democracias ocidentais nada fizeram para auxiliar o go-
Em 3 de setembro de 1939, França e Grã-Bretanha declara-
verno republicano espanhol, atacado pelo levante militar co-
ram guerra à Alemanha, embora, concretamente, nada tenham
mandado pelo general Francisco Franco em 1936. Isso porque
feito. Apenas aumentaram os gastos militares e mobilizaram sol-
o governo atacado era uma frente popular, inspirada na Interna- dados em grande escala para fazer frente ao conflito. A partir de
cional Comunista. Assim, essas democracias assistiram impassí- março de 1940, passaram a apoiar a Finlândia contra a invasão
veis à Guerra Civil Espanhola, que resultou no esmagamento do soviética, em uma ação abortada por conta do acordo firmado
governo constitucional pelas tropas do general Franco. naquele mesmo mês entre soviéticos e finlandeses.
O objetivo do generalíssimo, como era chamado, era defen- A Grã-Bretanha ainda tentou ocupar a Noruega, sob a alega-
der os interesses das classes proprietárias e da Igreja Católica, ção de impedir o ataque alemão a esse país, com receio de que
ameaçados pelo movimento de esquerda que predominava no o Reich estabelecesse uma base de operações no mar do Norte.
governo republicano espanhol. As divergências entre as organi- Mas de nada adiantou, já que em abril a Alemanha ocupou a Di-
zações e as lideranças de esquerda facilitaram a vitória do fran- namarca e a Noruega, espalhando minas marítimas para sabotar
quismo. No final da guerra, Franco contou com o apoio direto de a Marinha britânica. O avanço alemão para o ocidente começava
Hitler e de Mussolini, com aviões da Luftwaffe (Força Aérea ale- pelas beiradas.
mã) bombardeando cidades leais aos republicanos espanhóis,
como Guernica - imortalizada em uma obra do pintor Pablo Pi- Invasão na França
casso. A expansão alemã provocou mudanças sensíveis nos gover-
nos das potências ocidentais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o
Guerra Política poder foi assumido por Winston Churchill, agora prestigiado pe-
As potências ocidentais europeias eram tolerantes quanto los alertas que vinha fazendo contra o perigo alemão. Em 10 de
as reivindicações territoriais do regime nazista. Assim, Hitler re- maio de 1940, o Exército alemão, com o apoio da Luftwaffe, deu
militarizou a Renânia, na fronteira com a França, em 1936, sem início a outra Blitzkrieg, agora contra a Holanda e a Bélgica.
nenhuma resistência, contrariando cláusulas do Tratado de Ver- A vitória alemã nos Países Baixos foi avassaladora. Nesse
salhes. Em 1938, anexou a Áustria, no episódio conhecido como momento, estava claro que os alemães atacariam a França pela
Anschluss, após sabotar o regime democrático austríaco, em fronteira belga, contornando a Linha Maginot, complexo defen-
decorrência do forte movimento nazista existente naquele país. sivo construído pelos franceses ao longo do Reno nos anos 1930.
Quando os alemães evitaram a Linha Maginot pelo extremo oes-
7 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São Paulo. te, a resistência britânico-francesa ficou dividida e o caminho
Saraiva. para Paris, aberto.

28
HISTÓRIA
Os britânicos abandonaram a França à própria sorte, pois Enquanto resistiam na Europa, os exércitos britânicos eram
Churchill temia perder homens e aviões em uma batalha conde- fustigados no norte da África pelos italianos, que pretendiam
nada. Ficou famosa a retirada de Dunquerque, na qual os britâ- marchar da Líbia até o Egito para conquistar o canal de Suez,
nicos resgataram mais de 150 mil soldados encurralados no nor- de onde partiriam para o Iraque com o objetivo de controlar as
deste da França, usando até barcos de pesca. Paris foi ocupada reservas petrolíferas da região.
pelos alemães em 14 de junho. No Egito, os britânicos impuseram a derrota ao exército de
O novo governo francês, comandado por Pétain, entregou Mussolini. A guerra no deserto estava só começando. Diante do
parte do território aos nazistas, permanecendo com dois terços novo fracasso militar italiano, Hitler organizou o Afrika Korps,
dele e com as colônias. Colaboracionista, o regime comandado empurrando os exércitos britânicos de volta à fronteira egípcia,
por Pétain, sediado em Vichy - e por isso conhecido como gover- em uma guerra que permaneceu em impasse até 1942.
no de Vichy -, não tardou a apoiar a Alemanha na guerra. Pétain
foi então celebrado como “salvador da pátria”, pois a maioria Ofensiva japonesa na Ásia
dos franceses não suportava mais os bombardeios e as fugas A partir da década de 1930, com o governo imperial sob o
desesperadas. Além disso, boa parte da sociedade francesa era controle dos militares, o Japão se lançou em uma ofensiva mili-
anticomunista e antissemita. tar sem precedentes. Industrializado e posto à margem da cor-
rida imperialista europeia, não se tratava mais de conquistar
Superioridade Nazista pontos estratégicos na Coreia ou na própria China; o objetivo
Ao conquistar a França, Hitler foi saudado como grande es- era dominar a Ásia.
trategista militar. O passo seguinte foi se concentrar na guerra Em 1937, o governo japonês lançou um ataque à China, que
contra a Grã-Bretanha e avançar em direção ao Mediterrâneo. começou na Manchúria e levou à conquista sucessiva de Pequim,
No início de 1941, conquistou a Iugoslávia, a Grécia e a ilha de Shangai e Nanquim. Ao conquistarem esta última, os japoneses
Creta, contando com o apoio da Itália, que só passou a atuar em massacraram a população, com fuzilamentos de prisioneiros, in-
favor dos alemães às vésperas da queda da França. Mas os exér- vasões de casas, infanticídios e estupros de mulheres. A vitória
citos de Mussolini, que já haviam demonstrado debilidade na japonesa foi favorecida pela divisão política da China, que passa-
Etiópia, sequer conseguiram vencer sozinhos a resistência grega, va por uma guerra civil desde o final dos anos 1920.
sendo socorridos pelas tropas nazistas. De um lado, o partido conservador Kuomintang, liderado
Não tardou para que outros países apoiassem a Alemanha, por Chiang Kai-Shek, chefe do governo chinês; de outro, os co-
como a Bulgária, a Romênia e a Hungria. Portugal e Espanha per- munistas, sob a liderança de Mao Tsé-Tung. Em setembro de
maneceram neutros, porém simpáticos à Alemanha. Em 1941, 1937, os dois líderes fizeram uma trégua em nome da defesa da
boa parte da Europa estava, direta ou indiretamente, controlada China e até 1945 lutaram juntos contra os japoneses. Em 1941, o
pelo Terceiro Reich. Apenas Suíça, Suécia e Turquia conseguiram Japão invadiu a Indochina.
Em represália, os EUA impuseram sanções econômicas aos
manter uma neutralidade mais consistente. Restava a URSS, no
japoneses, embargando a venda de petróleo e aço. Com fortes
leste.
interesses econômicos no Sudeste Asiático, os estadunidenses
não estavam dispostos a aceitar a concorrência japonesa.
Inglaterra Resiste
O governo japonês decidiu enfrentar os EUA e, sem nenhu-
Os nazistas pretendiam invadir a Grã-Bretanha pelo sul,
ma declaração de guerra, atacou a base militar de Pearl Harbor,
atravessando o canal da Mancha, em uma operação batizada de
no Havaí, em dezembro de 1941. Os caças japoneses afundaram
Leão-marinho. A ação dependia da Luftwaffe para neutralizar as
diversos navios de guerra e destroçaram os aviões que se encon-
defesas aéreas britânicas, e acabou sendo o maior conflito aéreo
travam no solo, causando milhares de mortes. O presidente dos
da guerra. A Luftwaffe dispunha de quase 3 mil aviões, entre EUA, Franklin Delano Roosevelt, declarou guerra ao Japão e, no
bombardeiros e caças. A força aérea britânica, Royal Air Force dia seguinte, à Alemanha e à Itália. Mas a declaração de guerra
(RAF), dispunha de menos aviões, embora a produção de caças estadunidense não deteve os japoneses.
tenha se multiplicado no país entre 1940 e 1941. No início do No primeiro semestre de 1942, conquistaram a Birmânia, a
ataque alemão, a Grã-Bretanha foi flagelada por bombardeios Malásia e várias ilhas do Pacífico. Nessa fase da guerra, britâni-
quase diários, cujos alvos deixaram de ser militares e passaram cos e estadunidenses foram derrotados em toda parte. O esforço
a se concentrar em Londres. Hitler calculava que, em poucas se- de guerra dos EUA foi fenomenal, com a produção de milhares
manas, os britânicos não teriam como deter a invasão alemã. de navios, aviões e tanques. O país mostrava-se disposto a reagir
Dessa vez, porém, ele estava enganado. no Pacífico e a enfrentar a Alemanha na Europa, mas o momento
A capacidade de resistência britânica foi extraordinária. No era de incerteza. A Alemanha mantinha intactas as suas conquis-
ar, os caças britânicos provocaram pesadas perdas à Luftwaffe. tas europeias, enquanto o Japão era o senhor do Pacífico.
No solo, houve enorme mobilização da população civil, insuflada A batalha naval de Midway, em junho de 1942, foi a primeira
pelos discursos diários de Churchill. Em 25 de agosto de 1940, grande vitória estadunidense contra os japoneses. Mas o fim da
aconteceu o que parecia impossível: em represália aos ataques guerra ainda estava longe.
alemães, os britânicos bombardearam Berlim. Com sucessivos
desgastes, em fevereiro de 1942, Hitler desistiu de ocupar Lon- Reação Soviética
dres. Apesar das dificuldades do combate com a Grã-Bretanha, na
A Grã-Bretanha resistiu praticamente sozinha, recebendo o frente ocidental Hitler pôs em marcha o plano de invadir a URSS
apoio dos EUA em armas, navios e alimentos, apesar da posição - a Operação Barbarossa. Pretendia apoderar-se dos imensos
do governo estadunidense de não intervenção no conflito euro- recursos naturais do país, incluindo as áreas petrolíferas, mas
peu. havia também o objetivo político-ideológico de destruir o regi-
me comunista soviético e a pretensão de ocupar o território, em
conformidade com a teoria nazista do espaço vital.

29
HISTÓRIA
Em 1941, os alemães invadiram a URSS, com 3,5 milhões de O Dia D
soldados. As instruções para a guerra incluíam a execução de A abertura da frente ocidental pelos Aliados foi adiada vá-
civis, a começar pelos comissários do partido comunista de cada rias vezes até 1944, apesar dos constantes protestos de Stalin.
área conquistada. As primeiras vitórias alemãs foram arrasado- Meticulosamente planejada, a Operacão Overlord, também co-
ras, mas a resistência soviética revelou-se tenaz. nhecida como invasão do Dia D, ocorreu em 6 de junho de 1944,
Embora tenham recuado e perdido milhões de soldados, quando mais de 300 mil homens desembarcaram na Normandia,
entre mortos e prisioneiros, os soviéticos conseguiram deter o norte da França, abrindo caminho para a derrota do Terceiro Rei-
avanço alemão. Leningrado não caiu, embora a população da ci- ch.
dade sitiada tenha sido arrasada pela fome e por doenças. Mos- Os alemães foram pegos de surpresa, pois esperavam o de-
cou também resistiu, graças ao esforço do Exército Vermelho. A sembarque em Calais. O avanço dos Aliados tornou-se avassa-
chegada do inverno russo deteve de vez o ímpeto alemão, como lador, com a retomada de Paris, em 25 de agosto de 1944, e da
ocorrera com o exército napoleônico, em 1812. Bélgica e da Holanda, nos meses seguintes. Hitler ainda tentou
uma última cartada, lançando uma contraofensiva surpresa nos
Stalingrado Países Baixos. A Batalha de Ardenas foi a última Blitzkrieg do
Os alemães abandonaram o plano de conquistar Moscou e Exército alemão, que, após algumas vitórias, se rendeu na Bélgi-
concentraram-se na conquista do Cáucaso, rico em petróleo, re- ca, em janeiro de 1945.
cursos minerais, industriais e agrícolas. Essa conquista lhes daria A Alemanha estava cercada, e o regime nazista se aproxima-
ainda o controle do rio Volga, o maior da Europa, e acesso ao va do fim.
mar Cáspio. Em agosto de 1942, a ofensiva chamada Operação
Azul estava às portas de Stalingrado, às margens do rio Volga. Operação Valquíria
Foi a batalha mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial, A iminente derrota da Alemanha acabou apressando os pla-
arrastando-se por meses, com avanços e recuos de ambos os la- nos de militares do Alto Comando para derrubar Hitler e fazer
dos. Em novembro de 1942, a contraofensiva do Exército Verme- um armistício com as potências ocidentais e livrar o país da in-
lho cercou os alemães e forçou a rendição de soldados famintos vasão soviética.
e flagelados pelo inverno soviético. Trata-se da famosa Operação Valquíria, que se tornou, in-
A vitória soviética em Stalingrado mudou o rumo da guerra, clusive, tema de filme. Os conspiradores usaram o nome da deu-
sinalizando a derrota alemã em todas as frentes de batalha. A sa germânica Valquíria (ou Walquíria) para codificar sua ação,
campanha na URSS absorvia enormes recursos da máquina de que incluía a tomada de prédios públicos e da rede de comuni-
guerra nazista. No norte da África, os alemães não tiveram como cações na capital alemã, após a confirmação da morte de Hitler.
resistir ao contra-ataque britânico. Em 1942, os britânicos ataca- Em 20 de julho de 1944. o coronel Claus von Stauffenberg
ram o que restava do exército alemão e de seu aliado italiano na escondeu uma bomba em uma pasta de trabalho, sob a mesa
segunda Batalha de El Alamein. de reunião do quartel-general de Hitler, mas poucos morreram
As forças do Eixo, enfim, capitularam. Churchill saudou a vi- com a explosão e o Führer sobreviveu quase sem um arranhão.
tória britânica com entusiasmo: “Este não é o fim, não é nem o Embora muito doente e deprimido, Hitler mandou executar os
começo do fim, mas é, talvez, o fim do começo”. conspiradores, provocando a morte de quase 5 mil pessoas.
O marechal Erwin Rommell. ex-comandante do Afrika Korps,
Invasão da Itália que havia participado da conspiração, recebeu a opção de suicí-
Com a retomada do norte da África, os Aliados, como ficou dio, por ser muito popular entre os alemães. Aceitou e foi enter-
conhecida a coligação de países que lutaram contra os regimes rado com honras militares.
nazista e fascista, não tardaram a invadir a Itália. Em 1943, após
inúmeros bombardeios, desembarcaram na Sicília e partiram Auschwitz e o Holocausto
para a península. Os constantes fracassos militares e a iminente Desde a ascensão do nazismo, em 1933, a situação dos ju-
invasão aliada abalaram o regime fascista. deus na Alemanha era desesperadora, e pioraria muito nas áreas
Muitos líderes desejavam o fim da guerra e tramaram uma ocupadas, em especial no Leste Europeu. À medida que a Alema-
conspiração, na qual até o genro de Mussolini se envolveu. O rei nha perdia a guerra, a situação tornava-se ainda mais trágica.
Vítor Emanuel III demitiu Mussolini do cargo de primeiro-minis- A matança de judeus começou na Polônia, em 1939, sendo
tro, mandando prendê-lo em um abrigo secreto em Abruzos, no sistemática na URSS, após a invasão de 1941. A decisão formal
centro do país. de exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Confe-
O governo foi passado ao general Pietro Badoglio, que li- rência de Wannsee, realizada em janeiro de 1942. Nela, foi esta-
derava o grupo favorável à paz e assinou um armistício com os belecida a Solução Final para o problema judaico: o genocídio.
Aliados. Os nazistas reagiram com fúria ao que consideraram ser Pouco a pouco, os guetos foram desativados e os judeus,
uma traição da Itália. enviados a campos de extermínio (como o de Auschwitz, na Po-
Nas frentes de batalha, os soldados italianos foram desar- lônia, o mais conhecido deles). Nos campos, eram selecionados
mados pelos nazistas e muitos foram fuzilados. A Alemanha logo os judeus que, após dias de viagem em vagões de trens de carga
ocupou o norte e o centro da Itália, tomou Roma e montou uma infectados, ainda tinham condições de trabalhar para a máquina
barreira defensiva nos Apeninos - cadeia montanhosa que vai do de guerra alemã, inclusive nas fábricas de munições. Os demais
norte ao sul da Itália pela costa leste. eram enviados às câmaras de gás, e seus corpos, incinerados em
Mussolini foi resgatado por uma tropa de paraquedistas ale- crematórios.
mães e recolocado no poder em Saló, cidade próxima a Milão. Na tentativa de iludir os condenados, os campos tinham um
Mas o regime fascista estava derrotado, o que fez do próprio letreiro grande no portão principal onde se lia: “O trabalho li-
Mussolini um fantoche de Hitler. berta” (Arbeit macht frei).

30
HISTÓRIA
Cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados nos cam- Depois da URSS, a China foi o país que mais perdeu militares na
pos alemães, fato que ficou conhecido como Holocausto (shoah, guerra contra o Japão: 2,5 milhões. EUA e Grã-Bretanha perde-
em hebraico). Eles não foram as únicas vítimas desse programa ram cerca de 300 mil militares cada.
de extermínio: cerca de 800 mil ciganos também morreram nos As potências Aliadas começaram a esboçar o destino do
campos de concentração, além de um número incerto de pri- mundo em 1943, quando a derrota do Eixo se tornou uma possi-
sioneiros de guerra soviéticos, presos políticos, homossexuais e bilidade concreta. Foi na Conferência de Teerã, realizada no Irã
testemunhas de Jeová. em 1943, onde se decidiu o desembarque aliado na Normandia
e a divisão da Alemanha derrotada em zonas das potências ven-
A Guerra chega ao Fim cedoras.
No começo de 1945, a guerra estava definida a favor dos Reconheceu-se também o direito soviético às repúblicas
Aliados. Hitler, doente e derrotado, recusava-se a abandonar bálticas da Estônia, Lituânia e Letônia, bem como ao leste da
Berlim, onde havia se refugiado no Bunker da chancelaria. A no- Polônia. Estabeleceu-se, ainda, a necessidade da criação de um
tícia da morte de Mussolini, capturado e fuzilado em 27 de abril organismo internacional de segurança coletiva mais eficiente
de 1945, sinalizava um desfecho trágico. que a Liga das Nações. Foi a origem da Organização das Nações
O ditador italiano e sua amante, Clareta Pettacci, tiveram Unidas - a ONU -, fundada em 24 de outubro de 1945, responsá-
seus corpos pendurados de cabeça para baixo na principal praça vel pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
de Milão, diante de uma multidão eufórica. Berlim era bombar- As conferências de Yalta, na Crimeia (URSS), e Potsdam, nas
deada diariamente pelos soviéticos. Diante do avanço dos tan- cercanias de Berlim, entre fevereiro e agosto de 1945, aprofun-
ques pela cidade, até crianças da Juventude Hitlerista tentavam, daram as decisões sobre o destino da Alemanha, em especial o
em vão, combater. seu desmembramento em zonas: uma sob o controle britânico,
Em 30 de abril de 1945, Hitler suicidou-se com sua amante, outra sob influência estadunidense, e uma terceira e uma quarta
Eva Braun, com quem se casara um dia antes. Os corpos do casal sob controle francês e soviético.
foram queimados nos jardins do Bunker, seguindo a última or- O mesmo foi decidido para Berlim, além de ser aprovada a
dem do Fuhrer. Em 7 de maio de 1945, o almirante Karl Dónitz, desmilitarização e a democratização da Alemanha.
sucessor nomeado por Hitler, assinou a rendição incondicional
da Alemanha.

Hiroshima e Nagasaki OS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS, OS GOVERNOS MILI-


No início de 1942, a ofensiva japonesa no Pacífico estava TARES E A NOVA REPÚBLICA
no auge, com a derrota dos EUA nas Filipinas. Mas, em junho
daquele mesmo ano, o rumo da guerra começou a virar, com REPÚBLICA POPULISTA
a vitória estadunidense na Batalha de Midway, que resultou na
destruição dos principais porta-aviões japoneses. A Experiência Democrática no Brasil
A ofensiva japonesa durou cerca de seis meses. Todo o resto Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em janeiro de
da guerra no Pacífico foi, na verdade, uma luta dos EUA para sub- 1946. O início de seu governo foi marcado pela posse da Assem-
jugar o Japão. Os Estados Unidos consolidaram sua vitória com a bleia Nacional Constituinte, encarrega da de elaborar uma nova
reconquista das Filipinas, em fevereiro de 1945, e o triunfo nas Constituição para o Brasil. Promulgada ainda em 1946, a Car-
batalhas de Iwo Jima e Okinawa, entre fevereiro e junho. Mas ta restabelecia a democracia, a organização do Estado em três
o Japão não se entregava, multiplicando os voos kamikaze. No poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos
início de agosto, o imperador Hirohito autorizou seu embaixador estados e municípios, colocando fim ao centralismo político que
a estabelecer acordos diplomáticos com Stalin. caracterizou a Era Vargas8.
A essa provocação os EUA responderam com o lançamento No entanto, a nova Constituição manteve a exclusão do di-
da bomba atômica Little Boy sobre a cidade japonesa de Hiroshi- reito de voto aos analfabetos (mais da metade da população),
ma, em 6 de agosto de 1945. Dois dias depois, a URSS invadiu a inúmeras restrições ao direito de greve e a não incorporação dos
Manchúria, dominada pelos japoneses. Em 9 de agosto, os EUA trabalhadores do campo à legislação trabalhista.
lançaram uma nova bomba atômica, a Fat Man, sobre Nagasaki. Na área econômica, Dutra deu uma orientação liberal ao seu
Em cada um desses ataques, estima-se que tenham morrido 80 governo, afastando-se da política nacionalista adotada por Ge-
mil pessoas instantaneamente, sem contar os efeitos que a ra- túlio Vargas. Com a abertura do mercado aos produtos importa-
diação causou nos sobreviventes. No dia 14 de agosto, o impera- dos, as reservas nacionais em moedas estrangeiras acumuladas
dor aceitou a rendição incondicional do Japão. durante a Segunda Guerra esgotaram-se.
Em 1948, foi anunciado o Plano Salte, abreviatura de Saúde,
Pós-Guerra Alimentação, Transporte e Energia, considerados setores priori-
A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito armado de tários. O plano só foi aprovado pelo Congresso em 1950, no final
todos os tempos, resultando em mais de 60 milhões de mortos, do governo Dutra, e abandonado pelo governo seguinte. Assim,
além de milhões de civis e militares mutilados. Entre as forças do foi implementado apenas em parte, como a pavimentação da
Eixo, estima-se cerca de 8 milhões de militares mortos (a maioria rodovia Rio-São Paulo (atual Via Dutra), a abertura da rodovia Rio-
alemães) e 4 milhões de civis. Bahia e o início das obras da Hidrelétrica do São Francisco.
Entre os Aliados, 17 milhões de militares e 35 milhões de Aderindo ao clima da Guerra Fria, o governo Dutra estreitou re-
civis, sobretudo no Leste Europeu. As maiores baixas dos Aliados lações com os Estados Unidos e, em 1947, rompeu relações di-
ocorreram entre os soviéticos, que suportaram a guerra na Euro- 8 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vi-
pa durante quatro anos seguidos. Estima-se que tenham morri- centino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo.
do, no mínimo, 20 milhões de soviéticos, entre militares e civis. Scipione.

31
HISTÓRIA
plomáticas com a União Soviética. Esse posicionamento acabou A campanha contou com os meios de comunicação, que ali-
provocando um recuo na frágil e recente democracia brasileira: mentavam e impulsionavam o aprofundamento da crise. Pres-
o governo decretou a ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro sionado, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. A notícia
(PCB), cassando o mandato de deputados, senadores e vereado- da morte e a divulgação de sua carta-testamento estimularam
res do partido que foram eleitos em 1945. manifestações populares por todo o país. Jornais de oposição
Além disso, o governo também ordenou a intervenção esta- foram invadidos e depredados, assim como os diretórios da UDN
tal em mais de 400 sindicatos. e a embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.
Com o suicídio de Getúlio, o vice-presidente Café Filho (1899-
O Retorno de Getúlio Vargas 1970) assumiu o poder. Inconformados com o resultado das
Getúlio Vargas foi vitorioso nas eleições para a sucessão de eleições, a UDN de Lacerda e setores militares tramavam um
Dutra em outubro de 1950. Ele candidatou-se pelo Partido Tra- golpe, com apoio discreto de Café Filho e outros ministros, mas
balhista Brasileiro (PT B), com o apoio do Partido Social Demo- esbarraram no legalista ministro da Guerra, o general Henrique
crático (PSD). Teixeira Lott (1894-1984).
Assim, o pai dos pobres, como ficou conhecido, reassumia A saída de Café Filho da presidência por problema de saúde
a Presidência do Brasil em janeiro de 1951, mas, desta vez, de- ocasionou a transferência do cargo ao presidente da Câmara dos
mocraticamente. Sua atuação política junto às camadas mais ca- Deputados, Carlos Luz (1894-1961), aliado da UDN. Este, mais
rentes do país, no estilo populista, foi decisiva para sua vitória. favorável aos golpistas, tentou se livrar do legalista Lott, que re-
Meses depois da eleição de Getúlio, a marchinha mais cantada agiu e o depôs.
no Carnaval de 1951 era Retrato do velho, de Haroldo Lobo e O cargo foi entregue então ao presidente do Senado, Nereu
Marino Pinto, gravada em outubro de 1950 por Francisco Alves, Ramos (1888-1958), que governou como presidente da Repúbli-
para comemorar o resultado das eleições. ca até a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956.
Com a volta de Getúlio Vargas, o governo passou a seguir a Nas eleições de outubro de 1955, Juscelino Kubitschek de
corrente nacionalista, com o Estado atuando de maneira inter- Oliveira (1902-1976), ex-governador de Minas Gerais, teve uma
vencionista e paternalista. vitória apertada, de 36%, contra 30% dos votos dados a Juarez
As importações foram restringidas e os investimentos es- Távora, candidato da UDN.
trangeiros foram limitados, dificultando as remessas de lucros JK, como era popularmente conhecido, foi o candidato da
de empresas transnacionais para seus países de origem. Para in- coligação PSD-PTB. Como na época os eleitores votavam separa-
centivar a indústria nacional, em 1952, foi criado o Banco Nacio- damente para presidente e para vice-presidente, João Goulart, o
nal de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e, no ano seguinte, Jango, ex-ministro do Trabalho de Vargas, venceu a eleição para
a Petrobras, empresa estatal com o monopólio da exploração e Vice-presidência, com mais votos (3 591.409) do que o próprio
refino do petróleo no Brasil. Foi proposta também a criação da JK (3 077.411).
Eletrobrás, uma empresa para controlar a geração e a distribui-
De Jk a João Goulart
ção de energia elétrica.
O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo desen-
Vargas nomeou João Goulart (1919-1976) para ministro do volvimentismo. Apoiando-se no Plano de Metas, divulgado sob
Trabalho, em 1953, para enfrentar as rei- vindicações e a onda o slogan “50 anos em 5”, Juscelino prometia desenvolver o país
de greves. Sob a orientação do presidente, o novo ministro pro- em tempo recorde. O programa priorizava investimentos em se-
pôs, em janeiro de 1954, dobrar o valor do salário mínimo, que tores de energia, indústria, educação, transporte e alimentos.
recuperou seu valor em relação à crescente inflação. Para alcançar as metas, o governo favoreceu a entrada de
Em fevereiro, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis emitiram capitais estrangeiros e a presença de empresas transnacionais
um manifesto - o Manifesto dos Coronéis - criticando o gover- no país. Esse modelo abandonava o nacionalismo do período
no, o aumento do salário mínimo e as desordens que corriam Vargas e aderia ao capitalismo internacional. Como resultado
pelo país. Entre eles estava o coronel Golbery do Couto e Silva e dessa política, fábricas de caminhões, tratores, automóveis, pro-
vários outros militares que, mais tarde, foram protagonistas da dutos farmacêuticos e cigarros foram instaladas no Brasil.
ditadura iniciada em 1964. Destacam-se também a construção das usinas hidrelétricas
Diante do manifesto, Getúlio demitiu o ministro da Guerra, de Furnas e Três Marias; e a pavimentação de milhares de qui-
o general Espírito Santo Cardoso, e acordou com Goulart a sua lômetros de estradas. Grandes mudanças ocorriam em diversos
demissão, acalmando os ânimos. Contudo, no feriado de 19 de setores. No dia a dia de muitas cidades e regiões.
maio de 1954, Vargas anunciou o aumento de 100% do salário Na música, foi a época em que surgiu a bossa Nova, um novo
mínimo, conquistando ainda mais apoio dos trabalhadores. estilo de tocar e cantar samba com influência do jazz, juntando-
A política populista de Vargas atraiu a oposição de liberais, -se aos tangos, boleros, valsas e sambas de então. No futebol,
como os membros da UDN (União Democrática Nacional, partido 1958 foi o ano da conquista do primeiro campeonato mundial.
político de orientação liberal), oficiais das Forças Armadas e em- Passaram a fazer parte dos hábitos dos brasileiros o consumo de
presários, especialmente os ligados aos interesses estrangeiros. produtos industriais, como eletrodomésticos (máquina de lavar
Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda (1914- roupas, rádio de pilha, etc.)
1977), um dos principais oponentes de Vargas, dono do jornal No entanto, esse desenvolvimentismo era basicamente
Tribuna da Imprensa, sofreu um atentado no qual morreu seu dirigido a partes do mundo urbano moderno. O enorme fosso
segurança, o major da Aeronáutica Rubens Vaz (1922-1954). O social, pleno de desigualdades e carências (saneamento básico,
episódio ficou conhecido como o atentado da rua Toneleros. escolas, saúde), e um mundo rural que ainda reunia a maioria da
As investigações apontaram a participação de Gregório For- população brasileira sem a proteção de uma legislação trabalhis-
tunato (1900-1962), chefe da guarda pessoal de Getúlio. Isso ta continuavam a existir.A maior obra do governo JK, entretanto,
acirrou os ânimos dos oposicionistas, desdobrando-se numa foi a construção de Brasília, a nova capital federal, planejada
grande campanha pela renúncia de Vargas. pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

32
HISTÓRIA
A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Localizada A posse de Jango ocorreu somente após debates e negocia-
no Planalto Central, estava bem distante das cidades do Rio de ções que levaram à alteração da Constituição. Com uma emen-
Janeiro e de São Paulo, os principais centros de pressão popular da, em 2 de setembro de 1961, foi implantado o parlamentaris-
da época. A abertura da economia brasileira ao capital estran- mo no país. Era o acordo para se evitar uma guerra civil: Jango
geiro e os vários empréstimos contraídos junto às instituições assumiria a presidência, mas o governo de fato ficaria a cargo do
estrangeiras deixaram o país numa séria crise financeira, com a primeiro-ministro, escolhido pelo Congresso Nacional. Definiu-
inflação chegando, em 1960, ao índice de 25% ao ano. -se também que, após algum tempo, o parlamentarismo deveria
Nas eleições de 1960, a coligação PSD-PTB indicou o mare- ser ratificado ou não por um plebiscito.
chal Henrique Teixeira Lott para concorrer à Presidência e João Em janeiro de 1963, o plebiscito sobre o parlamentarismo
Goulart à Vice-presidência. Na oposição, a UDN e outros parti- mobilizou o país. O sistema político estava em vigência há pouco
dos menores apoiaram a candidatura do ex-governador de São mais de um ano e era muito criticado e impopular. Com intensa
Paulo, Jânio Quadros (1917-1992). Seu candidato à Vice-presi- campanha pelo seu fim, os brasileiros decidiram pela restaura-
dência era Mílton Campos, ex-governador de Minas Gerais. Jânio ção do regime presidencialista. Enquanto o presidencialismo era
pregava uma limpeza na vida política nacional com o combate à restabelecido, a situação econômica do país deteriorava-se.
corrupção. Para simbolizar a ideia, usava uma vassoura na cam- A inflação, que em 1962 atingira 52%, chegou aos 80% em
panha eleitoral. Como votava-se separadamente para presidente 1963 e afetou gravemente o poder aquisitivo dos trabalhado-
e para vice-presidente, Jânio Quadros se tornou presidente com res. Para enfrentar a crise, o governo lançou o Plano Trienal, no
5,6 milhões de votos. João Goulart foi eleito vice-presidente com final de 1962. Seu objetivo era conter a inflação e promover o
4,5 milhões de votos. Era formada a dupla “Jan-Jan”. desenvolvimento do país. No entanto, os efeitos do plano foram
Jânio Quadros no Poder mínimos, principal- mente quanto ao custo de vida. As pressões
populares cresceram, levando Jango a defender amplas reformas
Como presidente, Jânio Quadros primou pela ambiguidade. nos setores agrário, administrativo, fiscal e bancário. Conhecidas
Na economia atuava deforma mais próxima aos conservadores como reformas de base, essas medidas foram vistas pelos seus
liberais: cortou gastos e congelou salários em meio à contínua opositores como uma ameaça à ordem liberal vigente.
elevação dos preços dos produtos. Por outro lado, sua política Três dessas medidas ajudam a entender os interesses que
externa aproximava-se da esquerda, ao reatar relações diplomá- estavam ameaçados. Contra a inflação, foi criada a Superinten-
ticas com países socialistas a fim de ampliar mercados. dência Nacional do Abastecimento (Sunab), ligada ao governo e
Um episódio reforçou essa política de independência em encarregada de controlar os preços dos produtos, interferindo,
relação ao bloco capitalista. Em 1961, o argentino Ernesto Che portanto, nos lucros dos produtores e comerciantes.
Guevara, então ministro da Economia em Cuba, foi condecorado Para oferecer melhores condições de vida a milhões de tra-
balhadores rurais e ampliar a oferta de alimentos, uma proposta
por Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.
de reforma agrária nos latifúndios improdutivos foi apresentada
Essa atitude provocou reações contrárias, inclusive do pró-
ao Congresso. Os latifundiários, porém, não concordavam com
prio partido do presidente. Em agosto de 1961, após sete meses
os mecanismos de cálculos para se chegar aos valores das inde-
de governo, Jânio surpreendeu a todos ao renunciar ao cargo,
nizações a serem pagas pelas terras, alegando grandes perdas
numa manobra política fracassada. A renúncia fazia parte de um
caso fossem efetivamente aplicados.
plano que contava com o temor de setores da sociedade diante
Outra questão polémica foi a restrição da remessa de lucros
da possibilidade de João Goulart assumir a Presidência para for-
das empresas estrangeiras para o exterior; a proposta teve opo-
talecer seu poder.
sição de grupos ligados ao capital internacional. Diante de tan-
O vice, que se encontrava na China Popular, em missão de tos embates, João Goulart aproximou-se de setores populares
governo, era considerado comprometido com as causas traba-
organizados por operários, camponeses, estudantes e militantes
lhistas - e até acusado de ser um comunista - por vários milita- de esquerda, como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT),
res e políticos. Ao que parece, a expectativa de Jânio era que a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de
a população se mobilizasse contra seu pedido de renúncia e o Estudantes Secundaristas (UBES), a Confederação dos Trabalha-
Congresso Nacional o rejeitasse, o que o levaria a exigir plenos dores Agrícolas (CONTAC) e as Ligas Camponesas.
poderes para continuar na Presidência. No lado oposto, contra Jango, os conservadores juntavam
A renúncia, porém, foi aceita imediatamente e nenhum gru- organizações sociais e políticas. Entre eles, destacava-se o Insti-
po movimentou-se para convencer Jânio Quadros a permanecer tuto de Pesquisas Econômicas e Sociais (PES), que reunia direto-
no poder. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Maz- res de empresas multinacionais, jornalistas, intelectuais, milita-
zilli (1910-1975), assumiu a Presidência da República até a posse res e a nata do empresariado nacional.
de Jango. Entre outros opositores a João Goulart estavam o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), a Confederação Nacional
A Crise Política no Governo Jango das Indústrias (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo
A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 am- (Fiesp). Num comício realizado em 13 de marco de 1964, no Rio
plificou as divergências entre as forças políticas. Alguns minis- de Janeiro, o presidente prometeu o aprofundamento das refor-
tros militares e políticos da UON, contrariando a Constituição, mas para diversas entidades de trabalhadores e estudantes.
tentaram impedir a posse de João Goulart. O novo presidente Em resposta, os conservadores organizaram uma grande
era visto como um herdeiro de Getúlio Vargas e acusado de sim- passeata em São Paulo, chamada Marcha da Família com Deus
patizante da esquerda. pela Liberdade. Os participantes da passeata declaravam estar
Em defesa de Jango, Leonel Brizola (1922-2004), então go- se posicionando contra o que era visto como ameaça da trans-
vernador do Rio Grande do Sul, lançou a Campanha da Legalida- formação do país numa república comunista, representada pelo
de, conquistando o apoio de boa parte da população brasileira. presidente, suas propostas e seu grupo de apoio. Setores da
Igreja e do empresariado participaram da manifestação.

33
HISTÓRIA
DITADURA MILITAR Decretou também o Al-3, que determinou a eleição indireta
dos governadores dos Estados, e o Al-4, que orientou a elabora-
O Governo Militar de 1964 ção da nova Constituição, outorgada em janeiro de 1967. A Carta
Desde o início de 1964, as propostas de reformas de base in- incorporava os atos institucionais e atribuía hegemonia política
tensificaram as manifestações de apoio e de repulsa ao governo ao Executivo. Em 1967, a Lei de Imprensa instaurou a censu-
de João Goulart. Disseminou-se o medo das reformas9. ra aos veículos de comunicação no país. Na área econômica, o
Em 31 de marco, o alto escalão de oficiais do Exército, com Brasil alinhou-se completamente com os Estados Unidos e criou
apoio de vários governadores, como Magalhães Pinto (1909- facilidades para a entrada do capital estrangeiro.
1996), de Minas Gerais, Carlos Lacerda (1914-1977), da Guana- Um exemplo desse alinhamento foi o envio de tropas brasi-
bara, e Adhemar de Barros (1901-1969), de São Paulo, rebelou- leiras à República Dominicana, juntando-se à intervenção militar
-se contra o governo de Jango. estadunidense.
O primeiro passo coube ao general Olímpio Morão Filho,
que mobilizou o exército de Belo Horizonte, o mesmo que, 27 Governo Costa e Silva
anos antes, ainda capitão e integralista, havia forjado o famoso Para a sucessão de Castelo Branco, o Alto Comando Militar
Plano Cohen. Segundo o pesquisador e historiador Carlos Fico, indicou o ministro da Guerra, marechal Artur da Costa e Silva
os revoltosos contavam com a Operação Brother Sam, que in- (1899-1969). Com a economia em crescimento e a manutenção
cluía a possível intervenção planejada pelo embaixador estadu- do congelamento dos salários dos trabalhadores, surgiram gre-
nidense Lincoln Gordon, associado às elites econômicas, políti- ves, como a de Contagem (MG) e a de Osasco (SP). Esta foi re-
cas e militares. primida brutalmente, com cerco policial, seguido da atuação dos
A operação contava com uma forca tarefa naval estaduniden- soldados com metralhadoras e blindados.
se (porta-aviões, porta-helicópteros, contratorpedeiros) que atua- Ainda no início de seu governo, os protestos de rua contra
ria nas costas brasileiras e incluía a entrega de armas, munições e o regime ditatorial se intensificaram. Políticos cassados pela di-
combustível (quatro navios-petroleiros). O plano entraria em ação tadura, estudantes e trabalhadores de diversas categorias alia-
em marco. ram-se. A Frente Ampla, por exemplo, nasceu de uma aliança
Entretanto, o golpe teve um desfecho rápido e sem lutas. Cul- entre Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que
minou com a deposição do presidente João Goulart, que deixou buscavam reunir a oposição contra a ditadura.
Brasília, dirigiu-se para o Rio Grande do Sul e em seguida para Costa e Silva decretou sua ilegalidade e proibiu suas ativi-
o Uruguai, onde pediu asilo. Já no dia 12 de abril, o embaixador dades. Em 1968, foram constantes as manifestações estudantis
Lincoln Gordon foi avisado de que não era mais necessário o apoio exigindo a redemocratização do Brasil. O governo respondia aos
logístico estadunidense. Era o fim de uma experiência republicana protestos com repressão policial. Em marco de 1968, o estudan-
reformista e o início da ditadura comandada pelos militares. te Edson Luís de Lima e Souto foi assassinado durante a invasão
Após a deposição do presidente João Goulart, uma junta mi- militar de um restaurante universitário. Cerca de 50 mil pessoas
litar, formada pelo general Artur da Costa e Silva (1899-1969), acompanharam o trajeto até o cemitério, transformando o en-
pelo brigadeiro Francisco Correia de Melo (1903-1971) e pelo al- terro em um ato político. Em outubro, foram presos centenas
mirante Augusto Rademaker (1905-1985) foi instalada no poder. de estudantes e as lideranças do movimento universitário que
A primeira medida tomada por essa junta foi a decretação do Ato participavam do XXX Congresso da UNE em Ibiúna, SP.
Institucional nº 1 (Al-1).O decreto garantia amplos poderes ao Nesse quadro, o regime acentuou o processo de fechamento
Executivo, como cassar mandatos, suspender direitos políticos, político com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Insti-
aposentar funcionários civis e militares e decretar estado de sí- tucional nº 5 (Al-5), pelo qual, entre outras medidas de exceção,
tio sem autorização do Congresso. Milhares de brasileiros foram o presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional.
atingidos pelos expurgos, civis e militares. Foi a mais implacável de todas as leis da ditadura: suspendeu a
Em seguida, o Alto Comando das Forças Armadas indicou concessão de habeas corpus e todas e quaisquer garantias cons-
para a Presidência o marechal Humberto de Alencar Castelo titucionais, dando ao presidente militar o controle absoluto so-
Branco (1897-1967). Com o golpe de 1964, teve início uma sé- bre o destino da nação.
rie de governos militares que permaneceu no poder até 1985. No mesmo dia, foi decretado o fechamento do Congresso
Nesse período, as liberdades democráticas foram anuladas e os por tempo indeterminado. Com a instauração do Al-5, houve o
poderes Legislativo e Judiciário foram submetidos. Também foi período de repressão mais intensa no país. Com os canais de-
uma época em que estados e municípios perderam sua autono- mocráticos fechados, uma parcela da oposição partiu para o en-
mia, passando a ser simples executores das decisões federais. frentamento armado, com assaltos a bancos, sequestros e aten-
tados. Nessas ações, exigia-se a libertação de presos políticos
Governo Castelo Branco e procurava-se arrecadar fundos para o movimento. O esforço
Castelo Branco autorizou inúmeras prisões, interveio em pouco adiantou. Alguns anos de- pois, os grupos de luta armada
sindicatos e organizações populares e cassou direitos políticos estavam derrotados, com muitos militantes mortos ou exilados.
de opositores. Também fechou o Congresso Nacional e criou o Quase todos os presos foram torturados.
Serviço Nacional de Informações (SNI). Decretou o Ato Insti- Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um
tucional nº 2 (Al-2), que estabeleceu eleições indiretas para a derrame e ficou impossibilitado de exercer suas funções. O vi- ce-
Presidência da República e extinguiu os partidos políticos exis- presidente, o civil Pedro Aleixo, foi proibido pelos ministros
tentes, que foram reunidos em duas novas legendas: a Arena militares de assumira Presidência, que foi ocupada por uma jun-
(Aliança Renovadora Nacional), aliada ao governo, e o MDB (Mo- ta militar. A junta permaneceu no poder até outubro do mesmo
vimento Democrático Brasileiro), supostamente de oposição. ano, quando eleições indiretas foram convocadas para escolher
9 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláudio Vi- o novo presidente. O nome do general Emílio Garrastazu Médici
centino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed. São Paulo. (1905-1985), apresentado pelos chefes militares, foi aprovado
Scipione. pelo Congresso, reaberto para essa finalidade.

34
HISTÓRIA
O Governo Médici res deu margem para o crescimento da oposição e para o início
Durante o governo Médici, houve um elevado crescimento de um processo de abertura política, lenta e gradual, que levaria
da economia, do denominado “milagre econômico”. Antônio à redemocratização do país.
Delfim Netto, então ministro da Fazenda, afirmava que era preci- Para iniciar a abertura política, o presidente precisou afastar
so “fazer crescer o bolo para depois dividi-lo”. Era a justificativa os militares que se opunham a isso, considerados de linha dura
para estabelecer políticas de favorecimento e concentração da e em posições de comando. A reação da sociedade às mortes por
renda. O desenvolvimento econômico e a propaganda governa- tortura do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do
mental reforçaram o apoio da classe média ao governo, setor operário Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, foi decisiva para
beneficiado pela política econômica. o processo de abertura política.
No entanto, foi também um período caracterizado pela re- Em 1978, uma grande greve de metalúrgicos, liderada pelo
pressão e pela tortura, com forte censura aos meios de comu- líder sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula, teve início na região do
nicação. A repressão era justificada peIo crescimento da luta ABC, em São Paulo. Entre as reivindicações estavam melhores
armada contra o regime. Entre as realizações do governo Médi- salários e a abertura política. Apesar da forte repressão, outras
ci, destacam-se a construção da rodovia Transamazônica, a con- categorias profissionais aderiram ao movimento, demonstrando
clusão de várias hidrelétricas e a criação da Telecomunicações o desgaste do poder autoritário do governo. Antes do término
Brasileiras (Telebrás) e do Instituto Nacional de Colonização e de seu mandato, Geisel revogou o Al-5 e determinou a extinção
Reforma Agrária (Incra). Em seu governo também foi aprovada da censura no Brasil.
uma emenda constitucional que ampliava os poderes do presi-
dente, cujo mandato se estendeu de quatro para cinco anos. Governo Figueiredo
Desde antes do completo endurecimento do regime, com O general João Batista Figueiredo (1918-1999) foi escolhido
o Al-5, opositores de esquerda se preparavam para enfrentar a para a sucessão de Geisel. A divida externa brasileira ultrapas-
ditadura com a guerrilha. Alguns focos guerrilheiros foram for- sava os 100 bilhões de dólares e a inflação era mais de 250% ao
mados: o do Araguaia, no Pará, que foi descoberto em 1972 e ano. Greves e agitações políticas apareciam por toda a parte e a
destruído pelo Exército em 1975; o da Serra do Caparaó, em imprensa trazia à tona sucessivos escândalos financeiros envol-
Minas Gerais, e o do Vale do Ribeira, em São Paulo, que foram vendo membros do governo. Dando sequência ao processo de
derrotados rapidamente. abertura política, o governo Figueiredo aprovou, em 1979, a Lei
Este último era chefiado pelo capitão Carlos Lamarca (1937- de Anistia.
1971), que conseguiu fugir da repressão militar e acabou morto A partir de então, muitos presos políticos foram libertados e
no sertão da Bahia. vários brasileiros exilados começaram a retornar ao país. Outra
Outra figura que se destacou nessa forma de atuação arma- medida de seu governo foi a reforma partidária, que extinguiu
da foi Carlos Marighella (1911-1969), líder da Aliança Liberta- a Arena e o MDB e autorizou a formação de novos partidos po-
dora Nacional (ALN). Ele agia na região das grandes capitais e foi líticos. A maioria dos integrantes da Arena passou a compor o
morto numa tocaia por policiais em São Paulo. Partido Democrático Social (PDS). O MDB deu lugar ao Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e diversas legen-
Governo Geisel das surgiram, como o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido
O presidente eleito indiretamente para substituir Médici foi Democrático Trabalhista (PDT) e o Par- tido Trabalhista Brasileiro
o general Ernesto Geisel (1907-1996). Em seu governo a econo- (PTB), entre outros.
mia nacional começou a mostrar sinais de dificuldades, associa- O fim do bipartidarismo representou a ampliação das liber-
das ao crescimento obtido à custa do capital estrangeiro. dades democráticas.
Entre essas dificuldades estava a desigualdade social com Foram ainda autorizadas eleições diretas para governado-
extrema concentração de renda e o aumento da dívida externa, res, as primeiras desde 1967. Nas eleições realizadas em 1982,
que obrigou o pagamento de juros altíssimos, inviabilizando o o PDS venceu em 12 estados, com um total de 18 milhões de
crescimento do pais. votos, e a oposição venceu em dez estados, com 25 milhões de
Assim, enquanto o país conquistava a décima posição na votos. O avanço da oposição também se confirmou no Legislati-
economia mundial, a qualidade de vida de boa parte da popula- vo: o governo deixou de ter a maioria na Câmara dos Deputados.
ção brasileira continuava em níveis baixíssimos. Parte desse qua- Entretanto, ainda estava previsto que, em 1985, fosse realizada
dro foi agravada pela crise internacional provocada pela alta dos eleição indireta para o cargo de presidente da República. Vários
preços do petróleo nos países produtores, ocorrida em 1972. setores sociais e militares ligados à ditadura reagiram ao proces-
Essa crise provocou sérios problemas no Brasil, que impor- so de abertura política.
tava, aproximadamente, 80% do petróleo que consumia. A situ- Essa reação foi expressa por meio da violência, com ataques
ação continuou se agravando em 1974, primeiro ano do governo a bancas de jornais que vendiam publicações de oposição e aten-
Geisel É importante destacar que 1974 foi, também, o ano em tados a entidades civis, entre elas a Ordem dos Advogados do
que o conservadorismo sofreu derrotas, como a renúncia do pre- Brasil (OAB). O mais sério desses atentados aconteceu em 30 de
sidente Nixon, nos EUA (provocada pelo caso Watergate), e a Re- abril de 1981, quando militares da linha dura visavam explodir
volução dos Cravos, em Portugal, que depôs a ditadura no país. bombas no Rio- centro, um espaço de convenções da capital ca-
Para contornar a situação econômica, o governo Geisel es- rioca, onde se realizava um grande festival de música em home-
timulou o desenvolvimento do Programa Nacional do Álcool (Pró- nagem ao dia do trabalhador. Uma das bombas explodiu no pátio
Alcool), cujo objetivo era promover ver a utilização de uma fonte da miniestação elétrica, sem interromper o evento.
de energia alternativa ao petróleo. A outra explodiu acidentalmente dentro de um carro, ma-
Foi também durante seu governo que teve início a constru- tando o sargento Guilherme Pereira do Rosário (1946-1981) e fe-
ção de duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu e rindo gravemente Wilson Dias Machado, um oficial do Exército.
Tucuruí. Os impasses criados pelo modelo econômico dos milita-

35
HISTÓRIA
O atentado do Riocentro marcou o fim dos embates dos 12,7% ao mês. Os trabalhadores eram os mais prejudicados, pois
militares da linha dura contra o processo de abertura em cur- o salário recebido perdia parte de seu poder aquisitivo já no dia
so. No final de 1983, os partidos de oposição começaram uma seguinte.
campanha pela eleição direta para presidente da República. O Para enfrentá-la, o governo recorreu a planos de estabiliza-
movimento, conhecido como Diretas Já, mobilizou o país em ção, chamados de choques econômicos. O primeiro foi o Plano
manifestações que chegaram a envolver centenas de milhares Cruzado. Adorado em 1986, ele “congelava” os preços de merca-
de pessoas. dorias, aluguéis, salários, tarifas públicas e passagens pelo prazo
O objetivo do movimento era pressionar o Congresso a apro- de um ano, além de substituir a moeda do país, que era então
var uma emenda constitucional que reinstituía as eleições dire- o cruzeiro, pelo cruzado. O efeito imediato foi o desejado: uma
tas para presidente. A emenda, porém, foi derrotada por apenas brusca queda da inflação. Com isso os índices de popularidade
22 votos, numa sessão em que vários parlamentares não com- de Sarney se elevaram.
pareceram. Aproveitando-se do enorme apoio social, o presidente che-
A escolha do novo presidente seria realizada, mais uma vez, gou a convocar os brasileiros pela televisão para ajudar na fisca-
indiretamente. Formou-se então uma aliança de políticos mode- lização do congelamento dos preços.
rados favoráveis à abertura. Dois civis concorreram à sucessão Em poucos meses, contudo, o Plano Cruzado começou a
presidencial: Tancredo Neves, da Aliança Democrática, que reu- desmoronar. Primeiro, houve o desabastecimento (ausência de
nia tanto opositores como colaboradores da ditadura, e Paulo oferta de mercadorias nas lojas), depois, o chamado ágio (a co-
Maluf, do PDS (antiga Arena). Tancredo Neves venceu, mas não brança de um preço maior do que o tabelado por mercadorias
tomou posse. vendidas clandestinamente). No segundo semestre de 1986, o
Às vésperas da cerimónia, o presidente eleito foi hospitaliza- plano chegou ao limite. Ainda assim, dada a proximidade das
do e faleceu em 21 de abril de 1985. A Presidência, então, foi as- eleições legislativas e estaduais, marcadas para novembro, Sar-
sumida por seu vice, José Sarney, um dos fiéis aliados do regime ney manteve o congelamento dos preços.
militar. O final do governo Figueiredo e a posse de José Sarney Apostando no sucesso do Plano Cruzado e apoiando Sarney,
marcaram o fim do regime militar. Iniciava-se uma nova fase na os brasileiros votaram em peso no PMDB, o partido do governo,
vida política brasileira, denominada Nova República. que elegeu a maioria dos governadores, deputados e senadores.
Passados apenas cinco dias das eleições, Sarney autorizou o re-
ajuste dos preços e dos impostos. Temendo novos congelamen-
A NOVA REPÚBLICA tos, os empresários aumentaram os preços das mercadorias.
Os combustíveis, por exemplo, chegaram a ficar 60% mais
Transição para a Democracia caros. Os índices de popularidade do presidente despencaram. A
O fim da ditadura militar veio acompanhado por um desejo inflação voltou, e os salários novamente perderam parte de seu
de mudança: os brasileiros desejavam a construção de um novo poder aquisitivo. Greves e manifestações de protesto ocorreram
país - sem autoritarismo, sem corrupção, sem inflação, sem con- em várias cidades. Em uma delas, na Companhia Siderúrgica Na-
centração de renda, sem arrocho salarial, sem Injustiças sociais. cional, o enfrentamento entre operários e soldados do Exército
Em um país ansioso por mudanças, José Sarney, o vice-presiden- resultou na morte de três grevistas. Em meio à crise econômica,
te eleito em 1985, assumiu a presidência, em decorrência da intensificavam-se os conflitos sociais.
morte de Tancredo Neves, com a tarefa de conduzir a transição No campo, os enfrentamentos entre proprietários rurais e
da ditadura para o regime democrático10. trabalhadores sem-terra aumentaram. Latifundiários se orga-
O Congresso Nacional revogou leis criadas durante o regi- nizaram na União Democrática Ruralista (UDR), enquanto tra-
me militar, acabou com a censura aos meios de comunicação e balhadores rurais formaram o Movimento dos Trabalhadores
restituiu aos cidadãos brasileiros o livre exercício de expressão e Rurais Sem Terra (MST). Atentados - a mando ou não de latifun-
pensamento. O movimento sindical também adquiriu liberdade diários - contra líderes camponeses, padres e sindicalistas torna-
de acuação, o que levou à criação de centrais sindicais. Foi ins- ram-se comuns.
tituída, ainda, a liberdade de organização partidária, incluindo No final da década de 1980, o problema da inflação tornou-
a legalização dos partidos comunistas. Em termos de transição -se crônico. Em maio de 1987, ela atingiu 23,2%; no final do ano,
democrática, o governo Sarney cumpria suas obrigações. alcançou o índice acumulado de 366%. No ano seguinte, a infla-
Na política externa, o Brasil reatou relações diplomáticas ção chegou ao nível estratosférico de 933%. O país vivia a hipe-
com Cuba e tomou a iniciativa de formar com a Argentina um rinflação. Os preços eram reajustados diariamente. De fevereiro
mercado comum latino-americano, que, com a adesão do Uru- de 1989 a fevereiro de 1990, a inflação atingiu 2751%. Sem ter
guai e do Paraguai, daria origem ao Mercado Comum do Sul como controlar a disparada dos preços, o governo Sarney se limi-
(Mercosul), em 1991. tou a cumprir a tarefa da transição democrática.

Economia da Nova República A Constituição de 1988


A Nova República se deparou com uma pesada herança do Apesar do descontrole da economia. a sociedade brasileira
regime militar: uma enorme dívida externa de cerca de 100 bi- continuava no caminho da democracia. Em 1988, o então depu-
lhões de dólares. Sem alternativas, em 1987, o governo decretou tado Ulysses Guimarães. do PMDB. presidiu a sessão em que o
moratória; ou seja, tomou a decisão unilateral de não pagar a Congresso Nacional promulgou a nova Constituição, que garan-
dívida. No ano seguinte, ela foi renegociada com o Fundo Mo- tia amplos direitos civis, políticos e sociais a todos os brasileiros.
netário Internacional (FMI). Outro grave problema era a infla- Com o fim da ditadura militar, cidadania havia se tornado uma
ção. Em março de 1985, quando Sarney tomou posse, ela era de palavra recorrente no vocabulário brasileiro.
10 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Paulo. Saraiva.

36
HISTÓRIA
Não por acaso, ao promulgar a nova Constituição, Ulysses A Democracia Resistiu
Guimarães a chamou de “Constituicão Cidadã”. De todas as Na América Latina, o Brasil não era o único país com dificul-
Constituições da história do país, ela é a mais avançada no to- dades de pagar sua dívida externa. Em decorrência dessa situa-
cante aos direitos de cidadania. No âmbito dos direitos políticos, ção, em fins de 1989, técnicos do Fundo Monetário Internacio-
ela garantiu eleições diretas em todos os níveis, estendendo o nal (FMI), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
direito ao voto a analfabetos e a maiores de 16 anos, e ampla e do Banco Mundial (Bird) reuniram-se em um seminário com
liberdade de organização partidária. economistas latino-americanos com o objetivo de reorganizar a
A nova Constituição também garantiu os direitos sociais economia desses países.
existentes até então e incluiu outros, como a licença-paternida- As medidas sugeridas ao final do encontro, que aconteceu
de. Na questão dos direitos civis, houve muitos avanços, como em Washington, foram: não interferência do Estado na econo-
o direito à liberdade de expressão, de reunião e de organização. mia; abertura dos mercados nacionais para importações e en-
A imprensa tornou-se livre de qualquer censura, e as liberdades trada de capital estrangeiro; privatização de empresas estatais;
individuais também foram garantidas no texto constitucional. equilíbrio do orçamento do Estado, com a diminuição de inves-
O racismo e a tortura tornaram-se crimes inafiançáveis. A timentos na área social, como saúde e educação; e combate à
Lei de Defesa do Consumidor, de 1990, transformou-se em im- inflação. Esse conjunto de diretrizes ficou conhecido como Con-
portante instrumento de defesa dos cidadãos. Outra importante senso de Washington.
inovação foi a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Fernando Collor assumiu a presidência em 15 de março de
facilitando o acesso da população à justiça, também foram am- 1990, mostrando-se de pleno acordo com o Consenso de Wa-
pliados os poderes de instituições, como a Defensoria Pública e shington e determinado a aplicar o conjunto de diretrizes. Já
o Ministério Público. no dia seguinte, anunciou um novo plano de estabilização eco-
nômica para o país, cuja inflação atingia então 80% ao mês. O
O Caçador de Marajás Plano Collor, ou Plano Brasil Novo, abrangia uma série de me-
Para a consolidação da transição democrática, restava ainda didas para controlar a inflação e reestruturar o Estado: reforma
a tão aguardada eleição presidencial: os brasileiros não elegiam administrativa com demissão de funcionários públicos; abertura
presidente da República pelo voto direto havia quase 30 anos. comercial ao exterior e ao capital estrangeiro; eliminação dos
As esquerdas apresentaram seus candidatos. O do Partido dos incentivos fiscais às indústrias; liberalização da taxa do dólar; e
Trabalhadores (PT), na época identificado com um projeto socia- um programa de privatização das empresas estatais.
lista, era Luiz Inácio Lula da Silva. O plano também recorria a métodos já conhecidos dos brasi-
O Partido Democrático Trabalhista (PDT) apresentou a can- leiros, como o congelamento de preços e salários e a adoção de
didatura de Leonel Brizola, herdeiro do projeto trabalhista ante- uma nova moeda. Saía o cruzado novo, voltava o cruzeiro. Havia
rior a 1964. Outros candidatos, mais ao centro, foram: Ulysses um item no plano, contudo, que ninguém esperava: o confisco
Guimarães, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro dos depósitos bancários em contas-correntes, aplicações finan-
(PMDB), e Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasi- ceiras e cadernetas de poupança por 18 meses.
O objetivo era estabilizar a economia por meio da retirada de
leira (PSDB).
dinheiro do mercado. A medida causou tremendo impacto. Sem
Partidos de direita e conservadores também concorreram
dinheiro no mercado, os preços desabaram. E a recessão foi qua-
nas eleições. Contudo, as pesquisas foram rapidamente lidera-
se imediata: falências, brusca queda no consumo e nas vendas,
das por um candidato quase desconhecido: Fernando Collor de
perda do poder aquisitivo dos salários, demissões, desemprego.
Mello, do inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN).
Apesar do elevado custo social e econômico que impôs ao
Collor havia feito carreira política no partido da ditadura e ga-
país, o plano não extinguiu a inflação. Ao contrário do que se
nhara visibilidade no governo de Alagoas, especialmente após
previa, a inflação retornou - e com ferocidade. O Plano Collor
o corte de altos salários na máquina administrativa do estado, o
foi um total fracasso. Um ano depois, o governo Collor estava
que o fez ficar conhecido como “caçador de marajás”.
mergulhado na crise. Ao fracasso do Plano Collor somavam-se
Collor recebeu o apoio de grupos econômicos poderosos e
denúncias de corrupção, abalando ainda mais o governo. O ex-
também da mídia quando subiu nas pesquisas e se mostrou ca- -tesoureiro da campanha presidencial de Collor, Paulo César Fa-
paz de derrotar Lula e Brizola nas eleições. Em suas campanhas, rias, mais conhecido como PC Farias, foi acusado de chefiar um
Lula defendia a anulação da dívida externa e a reforma agrária; esquema de corrupção.
Brizola, por sua vez, ressaltava a necessidade de preservar as PC Farias arrecadava dinheiro de empresas, facilitava contra-
empresas estatais e realizar amplos investimentos em educação; tos mediante elevadas comissões e, com elas, financiava as des-
já Collor pregava a modernização do país e a sua entrada no Pri- pesas pessoais do presidente. As denúncias eram muito graves.
meiro Mundo. Tanto que foi instituída no Congresso Nacional uma Comissão
Collor soube aproveitar o desejo de mudança que tomara Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as acusações. Nas
a sociedade brasileira logo após o fim da ditadura. Como resul- ruas setores organizados da sociedade exigiam o impeachment
tado, ele obteve 28,52% dos votos, contra 16,08% alcançados do presidente.
por Lula no primeiro turno das eleições - o que os levou para o Milhares de jovens estudantes com o rosto pintado de verde
segundo turno, como determinava a nova Constituição. e amarelo, que ficaram conhecidos como caras-pintadas, foram
Contando com o apoio de amplos setores da sociedade, so- para as ruas protestar. Além do impeachment do presidente, exi-
bretudo dos conservadores, Collor venceu as eleições com dos giam o fim da corrupção e a ética na política. Em 29 de setembro
votos. Lula, em torno do qual se uniram as esquerdas e as forças de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou o afastamento de
consideradas progressistas, recebeu 37,86% dos votos. Collor da presidência: foram 441 votos a favor e 38 contra. Três
meses depois, julgado pelo Senado, Collor teve seu mandato e
seus direitos políticos cassados por oito anos. Vaga, a presidên-
cia da República foi assumida pelo vice, Itamar Franco.

37
HISTÓRIA
O Plano Real A manutenção das taxas de juros altas e a sobrevalorização
Itamar Franco assumiu a presidência com amplo apoio polí- do real aumentaram ainda mais a dívida pública nesses quatro
tico no Congresso Nacional. Fernando Henrique Cardoso foi no- anos. Em 2001, o presidente, que gozava de boa popularidade,
meado ministro da Fazenda em março de 1993. Com um grupo teve sua imagem afetada pelo chamado “apagão”.
de economistas, ele começou a elaborar um plano para estabili- Uma seca inesperada esvaziou os reservatórios das hidrelé-
zar a economia do país. Seguindo as indicações do Consenso de tricas, resultando em falta de energia elétrica no país. Sem pla-
Washington, FHC e sua equipe concluíram que, para alcançar a nejamento e sem investimentos no setor, foi necessário impor
estabilidade da moeda, era preciso reformar o Estado, reduzir os racionamento de energia à população. Nos oito anos de governo
gastos do governo e privatizar as empresas estatais. FHC, medidas importantes foram tomadas, como o Código de
Em fevereiro do ano seguinte, o governo criou a Unidade Trânsito Brasileiro ( 1997), a venda de medicamentos genéricos
Real de Valor (URV), atrelando-a ao dólar. Se a arrecadação de ( 1999), a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), a quebra de pa-
impostos se mantivesse alta, os gastos na área social fossem re- tentes de remédios contra a Aids (2001), o Bolsa-escola (2001),
duzidos e as grandes reservas em dólar, preservadas, a URV se o Vale-Gás (2001), entre outras.
manteria estável. Em julho de 1994, o governo transformou a
URV em uma nova moeda, o real. Em apenas 15 dias, a inflação Mudança de Rumos
caiu drasticamente. Com o Plano Real, a sociedade brasileira conheceu a impor-
O real equiparou-se ao dólar, obtendo estabilidade. Era o tância da estabilidade da moeda. As políticas neoliberais adora-
fim da alta constante e acelerada dos preços, beneficiando os das por Fernando Henrique resultaram no controle da inflação,
assalariados. Com o sucesso do Plano Real, que conseguiu derru- mas também na alta do desemprego e na perda de diversos di-
bar a inflação, Fernando Henrique Cardoso foi lançado candidato reitos sociais. Ao final de seu segundo mandato havia um novo
à presidência pela coligação PSDB/PFL. Seu principal adversário desejo de mudança entre os brasileiros.
era Lula, novamente candidato pelo PT. Nas eleições presidenciais de 2002, Lula foi novamente
Exausta da inflação, a sociedade brasileira apoiou a estabi- candidato pelo PT. Em sua quarta disputa pela presidência, ele
deixava de lado o discurso socialista dos anos anteriores e apre-
lização monetária e o Plano Real, elegendo FHC já no primeiro
sentava um programa moderado, buscando o apoio das classes
turno com 54,27% dos votos.
médias e dos empresários. Contando com amplo apoio político,
Lula recebeu 46,4% dos votos no primeiro turno das eleições de
Governo FHC
2002, e 61,2% no segundo turno.
Fernando Henrique Cardoso foi eleito e assumiu a presidên-
O governo Lula optou por dar continuidade à política eco-
cia com o projeto de reduzir o tamanho do Estado e seu papel
nômica de FHC, mantendo a estabilidade da moeda por meio
na economia. Adorando políticas neoliberais, o presidente extin-
do equilíbrio fiscal e do controle dos gastos públicos. Como os
guiu o monopólio estatal da exploração e do refino do petróleo
números mostravam-se bastante favoráveis, a credibilidade do
pela Petrobras, eliminou as restrições à entrada de capital es-
país no mercado financeiro internacional cresceu. Apesar dessas
trangeiro no país e implementou reformas administrativas. Era o
semelhanças, ao retomar o nacional-desenvolvimentismo carac-
fim da Era Vargas, segundo o próprio FHC.
terístico da Era Vargas, o novo governo mostrou que tinha um
Além disso, o governo estabeleceu acordos com o FMI e deu projeto político diferente do de seu antecessor.
início a um programa de privatização das estatais. Foram leiloa- Nesse sentido, as privatizações foram suspensas e o papel
das empresas dos setores siderúrgico, elétrico, químico, petro- do Estado, reforçado. A pesquisa científica, por exemplo, rece-
químico e de fertilizantes. O mesmo ocorreu com portos, rodo- beu apoio e incentivos financeiros. Na política externa, o gover-
vias e ferrovias. Bancos estaduais e empresas como a Embraer e no Lula ampliou as relações comerciais e diplomáticas do Brasil
a Companhia Vale do Rio Doce também foram privatizados. com os países da União Europeia, da África, da Ásia e da América
Segundo dados do BNDES, entre 1991 e 2002, o governo fe- Latina. O reforço do Mercosul também foi uma iniciativa nesse
deral arrecadou cerca de 30 bilhões de dólares com todas essas sentido.
vendas - 22 bilhões de dólares somente com a do Sistema Tele- No plano social, o governo dedicou-se ao combate da po-
bras de Telecomunicações. Com o Plano Real, a inflação estava breza, retirando milhões de pessoas da miséria. Além da criação
sob controle. Mas havia um problema: manter o real equivalente do Programa Bolsa Família, em que há transferência direta de
ao dólar. renda às famílias em situação de pobreza, o governo diminuiu os
A alternativa foi aumentar as taxas de juros e atrair inves- impostos sobre produtos da cesta básica e materiais de constru-
timentos especulativos em dólares. Os juros altos, no entanto, ção e reajustou o salário mínimo acima dos índices de inflação,
resultaram em recessão econômica e desemprego. E os recursos beneficiando os trabalhadores e as camadas mais pobres da po-
arrecadados com a venda das empresas estatais acabaram sen- pulação.
do utilizados para pagar as altas taxas de juros. Foi também no
governo FHC que a emenda à Constituição que dispunha sobre a Crise e Reeleição
reeleição para cargos do Poder Executivo foi aprovada. Em 2005, no terceiro ano do mandato de Lula, vieram a
Isso permitiu que o presidente concorresse a um novo man- público denúncias de que o governo pagava regularmente a de-
dato nas eleições presidenciais de 1998. putados e senadores para que matérias de interesse do Execu-
Nas eleições de 1998, Lula foi novamente o maior adversário tivo fossem aprovadas pelo Congresso. O “mensalão”, como o
de Fernando Henrique. Mesmo com a aliança de duas lideranças esquema de arrecadação de dinheiro ficou conhecido, envolvia
de esquerda - o vice de Lula era Leonel Brizola -, FHC foi reeleito empresários, ministros de Estado e parlamentares. Em fins de
com 53% dos votos. Em seu segundo mandato, Fernando Henri- 2012, muitos foram condenados em julgamento pelo Supremo
que deu continuidade ao Plano Real, preservando a estabilidade Tribunal Federal. Mesmo com a queda dos índices de populari-
da economia. dade do governo durante a crise política, o presidente continuou
a contar com o apoio de amplos setores da população.

38
HISTÓRIA
Em 2006, Lula lançou-se à reeleição e foi eleito para um A popularidade do PT e do governo Dilma diminuiu e as
novo mandato, com a maioria dos votos dos trabalhadores, dos oposições aumentaram. Inicialmente, grupos radicais de direita
setores mais pobres da população e de parte significativa das pediam a volta da ditadura militar. Depois, passeatas tomaram
classes médias. Ao ser novamente empossado presidente, em as grandes cidades, criticando o governo e exigindo a saída de
2007, Lula também contava com uma ampla coalização de parti- Dilma da presidência da República. As investigações da Operação
dos políticos no Congresso Nacional. Lava Jato prejudicaram a imagem do PT e de Dilma. As denúncias
Apesar dos juros altos praticados pelo Banco Central e do de corrupção na Petrobras serviram de combustível para aumen-
controle das contas públicas pelo governo, necessários para tar ainda mais os protestos contra a presidente.
garantir a estabilidade econômica do país, os investimentos na No início de 2016, a sociedade brasileira se encontrava mui-
área de educação triplicaram. O governo também investiu em to dividida. No Congresso Nacional, a oposição entrou com pedi-
energia e transporte; apoiou as indústrias de exportação, obten- do de impeachment, cuja instauração foi aprovada pelo Senado
do saldos comerciais positivos; e incentivou a internacionaliza- no dia 12 de maio. Com a decisão, Dilma foi afastada da pre-
ção de muitas empresas. O bom desempenho da agricultura e o sidência para aguardar o julgamento final pelo Senado. O vice
aumento do preço de produtos primários no mercado interna- Michel Temer, do PMDB, assumiu como presidente em exercício.
cional beneficiaram o conjunto da economia. Muitos, porém, interpretaram o movimento oposicionista a
No plano social, o governo deu continuidade ao combate à Dilma como um golpe contra a democracia e também foram para
pobreza. Além disso, propiciou um aumento real do poder de as ruas protestar. O clima se radicalizou, inviabilizando o diálogo
compra dos trabalhadores, com a oferta de crédito à população e colocando em risco a capacidade da sociedade de resolver suas
e outras medidas. O resultado foi a criação de 15 milhões de no- diferenças por meio de acordos e negociações políticas.
vos empregos, a ascensão social de milhões de pessoas, o cres-
cimento acentuado da chamada classe C e o fortalecimento do Governo Temer
mercado interno brasileiro.
Foi devido ao fortalecimento de seu mercado interno que A crise no governo Dilma e o impeachment
o Brasil demonstrou capacidade de resistir à crise mundial que Devido à crise política e econômica que se instalou no país,
teve origem nos Estados Unidos em fins de 2007. Em meados de com a corrução generalizada denunciada pela “Operação Lava-
2009, o país voltou a crescer. Em 2010, o crescimento econômico -Jato”, em agosto de 2015, Temer comunicou o seu afastamento
foi de 7%. Ao deixar o governo, em 1º de janeiro de 2011, Lula da articulação política11.
contava com 87% de aprovação entre os brasileiros, segundo
No dia 2 de dezembro, o presidente da Câmara aceitou a
pesquisa de opinião encomendada pela Confederação Nacional
abertura do processo de impeachment da presidente Dilma.
dos Transportes (CNT).
Em março de 2016, o PMDB deixou a base do governo para
apoiar o processo de impeachment que tramitava na Câmara dos
Governo Dilma Rousseff
Para concorrer à presidência da República nas eleições de Deputados.
2010, o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou o nome de Dilma No dia 17 de abril de 2016, com 367 votos favoráveis e 137
Rousseff, então ministra da Casa Civil do governo Lula. A elei- contrários, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório do im-
ção foi decidida no segundo turno, com a vitória de Dilma com peachment e autorizou o Senado Federal a julgar a presidente
56,05% dos votos. por crime de responsabilidade.
Dilma, quando jovem, fora presa e torturada pela ditadura O Senado determinou, em sessão iniciada no dia 11 de maio
militar. Sua vitória representou um grande avanço para a demo- de 2016 e concluída na madrugada do dia 12 de maio, o afasta-
cracia brasileira. Pela primeira vez, uma mulher e ex-integrante mento de Dilma. Na sessão que durou 22 horas, o resultado foi
da luta armada contra a ditadura assumia o cargo de presidente de 55 votos a favor do afastamento e 22 contra.
da República. O governo Dilma deu continuidade às políticas so-
ciais e desenvolvimentistas do governo Lula, como o programa A tomada de posse
Minha Casa, Minha Vida, e promoveu outros, como o Programa No dia 12 de maio de 2016, Michel Temer assumiu interina-
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). mente a Presidência do Brasil, se tornando o 37º mandatário da
No final de 2011, os jornais noticiaram que o Brasil havia se República. Ainda sem receber a faixa presidencial, Temer aguar-
tornado a 6ª maior economia do mundo, ultrapassando a Grã- dou até que o Congresso realizasse o julgamento que afastaria
-Bretanha, então na 7ª posição. definitivamente a presidente.
No governo Dilma foi aprovado o Marco Civil da Internet No dia 31 de agosto de 2016, após a aprovação do impea-
(2014), foram leiloados campos de petróleo do pré-sal (2013) e chment da presidente Dilma, Michel Temer tomou posse como
foi instituída a Comissão Nacional da Verdade (2012). Sua popu- Presidente da República, se tornando o 14º a assumir o cargo
laridade manteve-se em alta, mas foi abalada pelos pro- testos sem ter sido eleito diretamente pelo povo.
que tomaram o país em junho de 2013. Ela sofreu críticas pelo Michel Temer foi Presidente do Brasil de 31 de agosto de
baixo cresci mento do Produto Interno Bruto do país, pela alta da 2016 a 31 de dezembro de 2018.
inflação e pelos gastos com a Copa do Mundo de Futebol reali-
zada no Brasil em 2014. Ao final de seu primeiro mandato, Dilma Governo Bolsonaro
Rousseff concorreu à reeleição. Com dos votos, sua vitória sobre Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o 38º presidente
o candidato do PSDB foi apertada no segundo turno. da República ao derrotar em segundo turno o petista Fernan-
Como no seu primeiro mandato, os gastos públicos aumen- do Haddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha
taram demasiadamente, e a ameaça da inflação voltou. O go- desde 200212.
verno, então, adorou política recessiva, cortando drasticamente 11 Dilva Frazão. E-Biografias. https://www.ebiografia.com/michel_te-
os gastos públicos, o que gerou recessão econômica e perda do mer/.
poder aquisitivo da população. 12 Guilherme Mazui. G1 Política. https://g1.globo.com/politica/elei-

39
HISTÓRIA
A vitória foi confirmada às 19h18, quando, com 94,44% das A literatura
seções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% Além disso, a literatura também é um tipo de manifestação
dos válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que artística e sua “matéria prima” são as palavras, que podem com-
naquele momento somava 44.193.523 (44,46%). Com 100% das por prosas ou versos literários. A linguagem, em geral, explora
seções apuradas, Bolsonaro recebeu 57.797.847 votos (55,13%) bastante o sentido conotativo e o uso das figuras de linguagem
e Haddad, 47.040.906 (44,87%). contribuem para a construção estética do texto. Os movimen-
No discurso da vitória, Bolsonaro afirmou que o novo go- tos literários, que estudaremos em breve, estão vinculados a um
verno será um “defensor da Constituição, da democracia e da contexto histórico e possuem características que representam os
liberdade”. anseios e costumes de um determinado tempo.
Aos 63 anos, capitão reformado do Exército, deputado fede-
ral desde 1991 e dono de uma extensa lista de declarações polê- Os textos literários têm maior expressividade, há uma sele-
micas, Jair Bolsonaro materializou em votos o apoio que cultivou ção vocabular que visa transmitir subjetividade, uma preocupa-
e ampliou a partir das redes sociais e em viagens pelo Brasil para ção com a função estética, a fim de provocar e desestabilizar o
obter o mandato de presidente de 2019 a 2022. leitor, as palavras possuem uma extensão de significados e faz-se
Na campanha, por meio das redes sociais e do aplicativo de preciso um olhar mais atento à leitura, que não prioriza a infor-
mensagens WhatsApp, apostou em um discurso conservador mação, mas sim, o caráter poético.
nos costumes, de aceno liberal na economia, de linha dura no
combate à corrupção e à violência urbana e opositor do PT e da Veja, abaixo, exemplos de textos literários:
esquerda.
Anúncios classificados

Vendedoras. Ótima aparência, excelente salário. Rua tal, no


A CULTURA DO BRASIL REPUBLICANO: tal. Recusada.
ARTE E LITERATURA Boutique cidade precisa moça boa aparência entre 25 e 30
anos. Marcar entrevista tel. no tal. Recusada.
A arte Moças bonitas e educadas para trabalhar como recepcionis-
A palavra arte é derivada do termo latino “ars”, que significa tas. Garantimos ganhos acima de um milhão. Procurar D. Fulana
arranjo ou habilidade. Neste sentido, podemos entender a noção das 12,00 às 20,00 horas, na rua tal, no tal. Recusada.
de arte como um meio de criação, produção de novas técnicas e Senhor solitário com pequeno defeito físico procura moça
perspectivas. Há diferentes visões artísticas, mas todas possuem de 30 anos para lhe fazer companhia. Não precisa ser bonita.
em comum a intenção de representar simbolicamente a realida- Endereço tal.
de, sendo assim, resultado de valores, experiências e culturas de Desta vez ela não disfarçou a corcunda nem pôs óculos escu-
um povo em um determinado momento ou contexto histórico. ros para esconder o estrabismo. Contratada.
(CUNHA, Helena Parente. Cem mentiras de verdade, 1985)

Morte do Leiteiro

Há pouco leite no país,


é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro


de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
Quadro “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
A arte pode ser composta pela linguagem não verbal (por e seus sapatos de borracha
meio de imagens, sons, gestos, etc.) ou, ainda, pela linguagem vão dizendo aos homens no sono
verbal, formada por palavras. Quando ocorre a fusão entre os que alguém acordou cedinho
dois tipos de linguagem, chamamos de linguagem mista ou hí- e veio do último subúrbio
brida. É importante dizer, ainda, que ainda que a arte faça re- trazer o leite mais frio
ferência a algum período histórico ou político, essa não possui e mais alvo da melhor vaca
compromisso de retratar fidedignamente a realidade e possui para todos criarem força
o intuito de instigar, despertar o incômodo, romper com os pa- na luta brava da cidade.
drões.
Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
coes/2018/noticia/2018/10/28/jair-bolsonaro-e-eleito-presidente-e-in- as coisas que lhe atribuo
terrompe-serie-de-vitorias-do-pt.ghtml. nem o moço leiteiro ignaro,

40
HISTÓRIA
morador na Rua Namur, mal redimidos da noite,
empregado no entreposto, duas cores se procuram,
com 21 anos de idade, suavemente se tocam,
sabe lá o que seja impulso amorosamente se enlaçam,
de humana compreensão. formando um terceiro tom
E já que tem pressa, o corpo a que chamamos aurora.
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria. Carlos Drummond de Andrade

E como a porta dos fundos Poema Brasileiro


também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite No Piauí de cada 100 crianças que nascem
disponível em nosso tempo, 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor, No Piauí
depositemos o litro… de cada 100 crianças que nascem
Sem fazer barulho, é claro, 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
que barulho nada resolve.
No Piauí
Meu leiteiro tão sutil de cada 100 crianças
de passo maneiro e leve, que nascem
antes desliza que marcha. 78 morrem
É certo que algum rumor antes
sempre se faz: passo errado, de completar
vaso de flor no caminho, 8 anos de idade
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento. Antes de completar 8 anos de idade
E há sempre um senhor que acorda, antes de completar 8 anos de idade
resmunga e torna a dormir. antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro), Ferreira Gullar, 1962.
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta Diferenças entre o texto literário e o não-literário
saltou para sua mão. Diferente do poema da autora Cecília Meireles, em que há
Ladrão? se pega com tiro. uma transmissão de sensibilidade nos versos, os textos não lite-
Os tiros na madrugada rários são aqueles que possuem o caráter informativo, que visam
liquidaram meu leiteiro. notificar, esclarecer e utilizam uma linguagem mais clara e obje-
Se era noivo, se era virgem, tiva. Jornais, artigos, propagandas publicitárias e receitas culiná-
se era alegre, se era bom, rias são ótimos exemplos de textos não literários, pois esses têm
não sei, o foco em comunicar, informar, instruir, etc.
é tarde para saber.
IDENTIDADE CULTURAL
Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua. A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos
Meu Deus, matei um inocente. círculos teóricos das Ciências Sociais em face de sua complexida-
Bala que mata gatuno de. Entre as possíveis formas de entendimento da ideia de iden-
também serve pra furtar tidade cultural, existem duas concepções distintas que devemos
a vida de nosso irmão. destacar dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas
Quem quiser que chame médico, concepções de identidade são brevemente explicadas por An-
polícia não bota a mão thony Giddens, sociólogo britânico, e nos ajudarão a entender
neste filho de meu pai. melhor esse conceito13.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,a manhã custa a chegar, Conceito de Cultura
mas o leiteiro Antes de falarmos sobre os diferentes conceitos de identida-
estatelado, ao relento, de cultural, devemos esclarecer primeiro a ideia geral de cultura
perdeu a pressa que tinha. e de identidade. A noção de cultura faz alusão às características
Da garrafa estilhaçada, socialmente herdadas e aprendidas que os indivíduos adquirem
no ladrilho já sereno a partir de seu convívio social. Entre essas características, estão
escorre uma coisa espessa a língua, a culinária, o jeito de se vestir, as crenças religiosas,
que é leite, sangue… não sei. normas e valores. Esses traços culturais possuem influência di-
Por entre objetos confusos, 13 Lucas Oliveira. Identidade Cultural. https://bit.ly/2VbAAmi.

41
HISTÓRIA
reta sobre a construção de nossas identidades, uma vez que elas
constituem grande parte do conjunto de atributos que formam o HISTÓRIA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO: COLONI-
contexto comum entre os indivíduos de uma mesma sociedade ZAÇÃO, POVOAMENTO, SOCIEDADE E INDÚSTRIAS
e são parte fundamental da comunicação e da cooperação entre
os sujeitos.
O Estado do Espírito Santo está localizado na região Sudeste
Conceito de Identidade do Brasil. A capital é Vitória e a sigla ES. Quem nasce no Espírito
O conceito de identidade refere-se a uma parte mais indi- Santo é chamado de capixaba.
vidual do sujeito social, mas que ainda assim é totalmente de- A população capixaba é de aproximadamente 3,5 milhões
pendente do âmbito comum e da convivência social. De forma de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com e Estatística). O Espírito Santo tem 78 municípios que comparti-
o conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si lham um território de 46.096.925 quilômetros quadrados.
mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo. As cidades mais importantes são: a capital Vitória, Vila Ve-
Esse entendimento é construído a partir de determinadas lha, Cariacica, Serra e Cachoeira do Itapemirim.
fontes de significado que são construídas socialmente, como
o gênero, nacionalidade ou classe social, e que passam a ser Economia
usadas pelos indivíduos como plataforma de construção de sua A economia do Espírito Santo é baseada, principalmente, na
identidade. agricultura e indústria. Parte significativa do rendimento tam-
Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções im- bém está na extração mineral das reservas de petróleo, de gás
portantes que devemos entender antes de prosseguirmos. A te- natural e de calcário.
oria sociológica distingue duas apreensões: a identidade social Os produtos de maior destaque são o café, arroz, milho, fei-
e a autoidentidade. jão, abacaxi, cacau, mandioca e mamão. Na criação de animais,
A identidade social refere-se às características atribuídas a destacam-se bois, suínos e aves.
um indivíduo pelos outros, o que serve como uma espécie de
categorização realizada pelos demais indivíduos para identificar Turismo
o que uma pessoa em particular é. Portanto, o título profissional A disponibilidade de riquezas naturais do Espírito Santo per-
de médico, por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui mite a ampla exploração do ecoturismo. Entre os principais pon-
uma série de qualidades predefinidas no contexto social que são tos turísticos estão as praias, picos, a gruta da Onça – na Mata
atribuídas aos indivíduos que exercem essa profissão. A partir Atlântica –, a Ilha do Frade e a Ilha do Boi. Todos localizados em
disso, o sujeito posiciona-se e é posicionado em seu âmbito so- Vitória, onde também está o Parque Moscoso.
cial em relação a outros indivíduos que partilham dos mesmos O estado também oferece piscinas naturais para tratamento
atributos. em águas termais e um vasto patrimônio cultural. São museus e
O conceito de autoidentidade (ou a identidade pessoal) re- construções do período colonial que resistem ao tempo. Entre os
fere-se à formulação de um sentido único que atribuímos a nós destaques está Guarapari, surgida a partir de uma missão funda-
mesmos e à nossa relação individual que desenvolvemos com o da pelo Padre Anchieta, em 1585.
restante do mundo. A escola teórica do “interacionismo simbóli-
co” é o principal ponto de apoio para essa ideia, já que parte da Cultura
noção de que é diante da interação entre o indivíduo e o mundo Aculturacapixabaéummistodeinfluênciaseuropeiase
exterior que surge a formação de um sentido de “si mesmo”. indígenas.Asprincipaisfestasremontamàtradiçãoalemãepor-
Esse diálogo entre mundo interior do indivíduo e mundo exterior tuguesa.
da sociedade molda a identidade do sujeito que se forma a partir Geografia do Espírito Santo
de suas escolhas no decorrer de sua vida. O Espírito Santo fica na região Sudeste do Brasil, fazendo
divisa com o estado da Bahia ao norte, Minas Gerais ao oeste,
Identidade Cultural Rio de Janeiro ao sul e ao leste pelo oceano é banhado Atlântico.
Por fim, podemos estabelecer, diante do que já foi esclare- Localiza-se a oeste do Meridiano de Greenwich e ao sul da Linha
cido, que o conceito de identidade cultural faz alusão à cons- do Equador, com fuso horário de menos três horas em relação
trução identitária de cada indivíduo em seu contexto cultural. à hora mundial GMT. Sua capital é Vitória. A área territorial do
Em outras palavras, a identidade cultural está relacionada com a estado é de 46 184,1 km², a população estimada em 2015 é de
forma como vemos o mundo exterior e como nos posicionamos 3.929.911 (Fonte: IBGE). Quem nasce no Espírito Santo é chama-
em relação a ele. do de capixaba ou espírito-santense.
Esse processo é contínuo e perpétuo, o que significa que a
identidade de um sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse Relevo
sentido, a identidade cultural preenche os espaços de mediação O relevo do estado é caracterizado por baixada litorânea
entre o mundo “interior” e o mundo “exterior”, entre o mundo (40% do território) e serras (interior). O relevo é formado por
pessoal e o mundo público. Nesse processo, ao mesmo tempo rochas cristalinas, sobretudo gnaisses e granitos. Ao longo da
que projetamos nossas particularidades sobre o mundo exterior costa Atlântica encontra-se uma faixa de planície e à medida que
(ações individuais de vontade ou desejo particular), também se penetra em direção ao interior, o planalto dá origem a uma
internalizamos o mundo exterior (normas, valores, língua...). É região serrana, com altitudes superiores a 2.000 metros.
nessa relação que construímos nossas identidades. O território capixaba é dividido entre o litoral, planalto e
a costa atlântica. Na região serrana está localizada a serra da
Chibata e o Pico da Bandeira, com 2.890 metros de altura. É o
terceiro maior pico do País.

42
HISTÓRIA
O rio mais importante é o Doce, cuja nascente está em Mi- História do Estado do Espírito Santo
nas Gerais e percorre 944 quilômetros ao longo do Espírito San- Só 30 anos após o descobrimento, Portugal começou a
to. Os demais rios que integram a bacia capixaba são o São Ma- se preocupar com a colonização do Brasil, pressionado pelos
teus, Itaúna, Itapemirim, Jucu, Itabapoana e Mucurí. ataque piratas que vinham em busca do pau-brasil. Em 1531,
De largura variável, a Baixada espírito-santense acompanha Martim Afonso de Sousa, comandando uma poderosa esquad-
toda a costa capixaba, da fronteira com a Bahia até o limite com ra, chegou a Pernambuco, com a missão de combater os piratas
o Rio de Janeiro. O litoral é rochoso ao sul, com falésias de areni- e estabelecer núcleos de povoamento. Não tendo recursos su-
to, e também na parte central, com grandes morros e afloramen- ficientes para bancar a colonização, o então rei de Portugal D.
tos graníticos a beira mar, além de ser recortado com enseadas João III aceitou a sugestão de dividir o Brasil em capitanias que
e baias. É arenoso ao norte, com praias longas de ar aberto e seriam distribuídas a quem tivesse interesse e condições para
cobertas por uma vegetação rasteira. Destaque para as dunas de colonizá-las.
Itaúnas, no extremo norte capixaba. Apresentaram-se os 12 primeiros voluntários, oriundos de
A 1.140 km da costa, no Oceano Atlântico, encontram-se a famílias de guerreiros, navegantes, gente da corte, dispostos à
Ilha da Trindade e as Ilhas de Martim Vaz, situadas a 30 quilômet- arrojada empreitada, entre eles Vasco Fernandes Coutinho, que
ros de Trindade. Ao todo, são 73 ilhas localizadas na costa do recebeu de presente a Capitania do Espírito Santo.
estado, sendo 50 localizadas na capital Vitória. Com a carta de doação, recebida em 1º de junho de 1534,
Outra unidade do relevo são os planaltos e serras, que ocu- Vasco Coutinho desembarcou na capitania no dia 23 de maio de
pam 60% do território do estado. O Espírito Santo é coroado por 1535, desembarcando na atual Prainha de Vila Velha, onde fun-
maciços montanhosos, e entre os quais se destacam os picos da dou o primeiro povoamento. Como era oitava de Pentecostes,
Serra do Caparaó, no sudoeste do estado, próximo à divisa com o donatário batizou a terra de Espírito Santo, em homenagem
Minas Gerais. Nela está o Pico da Bandeira (2.892m), o terceiro à terceira pessoa da Santíssima Trindade. Para colonizar a terra,
mais alto de todo o país, localizado no município capixaba de Vasco Coutinho distribuiu sesmarias entre os 60 colonizadores
Ibitirama. que com ele vieram.
Na cidade de Castelo está o Pico do Forno Grande, um im- Como vila velha não oferecia muita segurança contra os
ponente afloramento rochoso com 2.070m, ponto mais alto da ataques dos índios que habitavam a região, Vasco Coutinho
Serra do Castelo. Existem vários afloramentos menores, porém procurou em 1549 um lugar mais seguro e encontrou numa ilha
importantes como a Pedra Azul, com 1.822 m, que também é montanhosa onde fundou um novo núcleo com o nome de Vila
conhecida como a Pedra do Lagarto, devido a uma saliência em Nova do Espírito Santo, em oposição ao primeiro, que passou a
forma de um animal que parece subir pela sua encosta. Aos fun- ser chamado de Vila Velha. As lutas contra os índios continuaram
dos, na mesma formação rochosa de granito e gnaisse, avista-se até que no dia 8 de setembro de 1551, os portuguesas obtiveram
a Pedra das Flores, com 1909 metros de altura. uma grande vitória e, para marcar o fato, a localidade passou a
Ao noroeste as altitudes diminuem um pouco, porém apre- se chamar Vila da Vitória e a data como a de fundação da cidade.
sentam-se algumas elevações rochosas, os pontões capixabas,
entre as quais destacam-se as formações na cidade de Pancas. Administração de Vasco Coutinho
Vasco Coutinho era um militar e não administrador, mas
Clima deixou várias obras durante seus 25 anos de donatário. Além
O clima do Estado do Espírito Santo é tropical úmido, com das duas vilas (Vila Velha e Vitória), foram construídas as duas
temperaturas médias anuais entre 22ºC e 24ºC e volume de pre- primeiras igrejas, a do Rosário, em Vila Velha, fundada em 1551
cipitação superior a 1.400 mm por ano, especialmente concen- e ainda existente. A outra, anterior à do Rosário, chamava-se Ig-
trada no verão reja de São João, e também ficava em Vila Velha.
Foram também construídos os primeiros engenhos de açú-
Hidrografia car, principal produto da economia por três séculos, até 1850,
O Rio Doce é o mais importante do estado, com 853 km de quando foi substituído pelo café. Em 1551, foi fundado, pelo
extensão desde a nascente. Ele nasce no estado de Minas Ge- padre Afonso Brás, o Colégio e Igreja de São Tiago, que, após
rais e desemboca no oceano Atlântico, na cidade de Linhares. sucessivas reformas, transformou-se no atual Palácio Anchieta,
Também se destacam os rios São Mateus, no norte do estado, o sede do Governo do Estado.
Itaúnas, o Itapemirim, o Jucu, o Santa Maria da Vitória, que de- Com a chegada de missionários, foram fundadas as locali-
semboca na baía de Vitória e o Itabapoana, que separa o Espírito dades de Serra, Nova Almeida e Santa Cruz, em 1556. Dois anos
Santo do Rio de Janeiro. depois chegou frei Pedro Palácios, que foi o fundador do princi-
O município de Linhares possui 69 lagoas que formam o pal monumento religioso do Estado, o Convento da Penha, pa-
maior complexo lacustre da região Sudeste. A mais famosa delas droeira do Espírito Santo.
é a Juparanã, que possui 38 km de extensão é a maior do Brasil Vasco Coutinho, que deixou parentes e amigos em Portugal,
em volume de água doce e a segunda maior em extensão ge- venceu bens e contraiu dívidas para receber a Capitania do Es-
ográfica. pírito Santo, morreu em 1561, em Vila Velha, onde vivia, velho,
cansado e pobre, um ano depois de renunciar ao governo da
Vegetação capitania, Povoamento.
A vegetação do Espírito Santo é composta por floresta tropi- Depois de Vasco Fernandes Coutinho, o povoamento do Es-
cal e vegetação litorânea. pírito Santo foi sendo feito aos poucos e pelo litoral, durante
aproximadamente 300 anos, restringindo-se à região ao sul
do Rio Doce. Nesse período, o principal produto da economia
era a cana-de-açúcar. A ocupação do interior aconteceu do Sul
para o Norte, com mineiros e fluminenses que vinham atraídos

43
HISTÓRIA
pelo café, que começou a ser cultivado depois de 1840. No interior Elisário - Escravo que ficou famoso por chefiar a principal
norte, o povoamento começou por Colatina e daí para os outros revolta de escravos do Espírito Santo, a Insurreição de Queima-
municípios, com a construção da Ponte Florentino Avidos, em 1928. dos, em 1849. Preso, fugiu e se refugiou nas matas não se tendo
Em 1860, o então Imperador Dom Pedro II visitou o Espírito mais notícias dele.
Santo, acompanhado da esposa, Dona Teresa Cristina, perman- Caboclo Bernardo - Pescador que ajudou a salvar a tripulação
ecendo durante duas semanas, quando desenvolveu intenso do navio da Marinha de Guerra do Brasil, Imperial Marinheiro,
programa de Visitas, percorrendo estabelecimentos públicos, que naufragou perto da foz do Rio doce, na madrugada de 7 de
colégios, cadeias e deixando de seu próprio bolso uma con- setembro de 1887.
tribuição para a Santa Casa de Misericórdia. Augusto Ruschi - O maior naturalista do Brasil e maior es-
tudioso dos beija-flores do mundo. Fundou o famoso Museu de
República Biologia Mello Leitão, em Santa Teresa, a Terra dos colibris, onde
Com a proclamação da independência do Brasil, os dirigen- nasceu em 1915 e morreu em 1986. Pelos seus conhecimentos
tes passaram a se chamar presidentes da província, que eram científicos e pela luta pela preservação na natureza, em 1994, o
eleitos pelo Congresso. A partir da proclamação da República, a Congresso Nacional aprovou o decreto do presidente da Repúbli-
província passou a se chamar Estado, e o Afonso Cláudio de Frei- ca, tornando-o o Patrono da Ecologia do Brasil.
tas Rosa foi eleito pelo Congresso o primeiro governador.
Daí até o golpe de estado de Getúlio Vargas, em 1930, os Colonização
governadores eram eleitos pelo Congresso, seguindo-se um Vasco Coutinho desembarcou na capitania em dia 23 de
período de interventores, até a eleição de Carlos Monteiro Lin- maio de 1535, desembarcando na atual Prainha de Vila Velha,
denberg, por sufrágio popular. Com o golpe militar de 1964, onde fundou o primeiro povoamento. Como era oitava de Pente-
novamente os governadores eram eleitos pela Assembléia após costes, o donatário batizou a terra de Espírito Santo, em home-
indicação dos presidentes-generais - Cristiano Dias Lopes, Arthur nagem à terceira pessoa da Santíssima Trindade.
Carlos Gerhard Santos, Elcio Álvares e Eurico Rezende -, sendo Para colonizar a terra, Vasco Coutinho dividiu a capitania em
novamente eleitos de Gerson Camata até José Inácio Ferreira, sesmarias - terras abandonadas e que, a partir da inclusão deste
que toma posse em janeiro de 99. sistema, deveriam ser cultivadas, fomentando a agricultura e a
produtividade. Esses “lotes” foram distribuídos entre os 60 colo-
nizadores que vieram com ele. Como em Vila Velha não oferecia
Por que Capixaba?
muita segurança contra os ataques dos índios que habitavam a
Segundo os estudiosos da língua tupi, capixaba significa,
região, Vasco Coutinho procurou em 1549 um lugar mais seguro
roça, roçado, terra limpa para plantação. Os índios que aqui viv-
e encontrou numa ilha montanhosa onde fundou um novo nú-
iam chamavam de capixaba sua plantação de milho e mandioca.
cleo com o nome de Vila Nova do Espírito Santo, em oposição ao
Com isso, a população de Vitória passou a chamar de capixabas
primeiro, que passou a ser chamado de Vila Velha. As lutas con-
os índios que habitavam na região e depois o nome passou a
tra os índios continuaram até que no dia 8 de setembro de 1551,
denominar todos os moradores do Espírito Santo. os portugueses obtiveram uma grande vitória e, para marcar o
fato, a localidade passou a se chamar Vila da Vitória e a data
Personagens como a de fundação da cidade.
Todos os países, estados ou municípios têm pessoas que Em seus 25 anos como donatário, Vasco Coutinho realizou
passaram para a história pelos atos que praticaram. Também o obras importantes. Além da construção das duas vilas, também
Espírito Santo tem seus personagens que são lembrados até ag- ergueu as duas primeiras igrejas locais: Igreja do Rosário, fundada
ora. Entre eles podemos citar: em 1551 (ainda existente) e a Igreja de São João, ambas em Vila
Vasco Coutinho - O primeiro donatário e iniciador do povoa- Velha.
mento do território, ao fundar a cidade de Vila Velha, em 1535. Também foram construídos os primeiros engenhos de açúcar,
Frei Pedro Palácios - Irmão leigo franciscano, fundador do principal produto da economia por três séculos. Uma iguaria que
Convento da Penha, em Vila Velha. Nasceu na Espanha, na ci- reinou absoluta até 1850, quando foi substituída pelo café. Em
dade de Medina do Rio Seco e chegou ao Espírito Santo em 1551, o padre Afonso Brás fundou o Colégio e Igreja de São Tiago.
1558, morrendo em 1570. Foi esta construção que, após sucessivas reformas, transformou-
Araribóia - Cacique da tribo temiminó, que partiu de Vitória -se no atual Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado.
com 200, índios para ajudar a expulsar os franceses do Rio de Com a chegada de missionários, foram fundadas as locali-
Janeiro. dades de Serra, Nova Almeida e Santa Cruz, em 1556. Dois anos
Padre José de Anchieta - Missionário jesuíta, catequizador de mais tarde, a vinda de frei Pedro Palácios resultaria na fundação
índios, poetas e escritor de pesas teatrais que mais se destacou do principal monumento religioso do Estado: o Convento da Pe-
em sua época. Nasceu nas Ilhas Canárias e morreu na cidade nha. Uma homenagem a Nossa Senhora da Penha, padroeira do
de Anchieta no dia 9 de junho de 15976. Existe um processo de Espírito Santo.
canonização de Anchieta.
Maria Ortiz - Foi uma jovem capixaba que, aos 22 anos, aju- Presença Européia
dou a expulsar os holandeses que atacaram Vitória em 1625. Nos primórdios da colonização do Brasil, a cruz e a espada
Sua ajuda, jogando água fervendo sobre os invasores foi numa marcam a presença européia, símbolos da fé cristã e do poderio
escadaria no centro da cidade que em 1924 foi transformada em militar. No Espírito Santo, como em outras partes do Brasil que
Escadaria Maria Ortiz. foram colonizados no século XVI, foram freqüentes as lutas pela
Domingos José Martins - Personagem capixaba que se posse da terra com a Igreja Católica atuando no auxílio ao pre-
destacou pela participação como líder na Revolução Pernambu- domínio lusitano através da ação dos jesuítas e franciscanos res-
cana, em 1817, que já pretendia a independência do Brasil. Foi ponsáveis pela catequese dos índios e pela assistência religiosa
fuzilado em Salvador no dia 12 de junho de 1817. aos colonos e de seus familiares.

44
HISTÓRIA
O colonizador português, responsável pela disseminação do O Espírito Santo recebeu imigrantes de diversas partes da
idioma e da fé católica, queria a terra para explorar, plantar e Europa, principalmente da Alemanha e da Itália que, junto com
produzir, e, produziu também cultura deixada por tradição nas os portugueses, africanos e indígenas aqui residentes deram os
cantigas de roda, nas brincadeiras infantis, na vestimenta, na traços principais da cultura capixaba. Igrejas, casarios, calçamen-
culinária e, na arquitetura. O Convento de Nossa Senhora da Pe- tos guardam ainda marcas das influências destes povos. Os sítios
nha é o monumento mais popular do Estado do ES. Outros rema- históricos de Muqui, Santa Leopoldina, São Pedro do Itabapo-
nescentes da arquitetura colonial portuguesa, como as igrejas, ana, o casario do Sítio do Porto de São Mateus e as tradições
que pontificam o litoral capixaba, e as localizadas na capital, Vi- culturais de municípios como Santa Tereza, Domingos Martins e
tória, e, o casario proveniente deste período, enriquece a heran- Venda Nova do Imigrante entre outros compõem a riqueza cul-
ça cultural lusitana. Destacam-se a Igreja de Nossa Senhora do tural e econômica do Estado.
Rosário e o citado Convento de Nossa Senhora da Penha em Vila O Espírito Santo é o resultado de uma mistura, um encontro
Velha; a antiga Igreja de São Tiago, hoje Palácio Anchieta, sede de raças que faz a sua história rica de tradição e costumes. A
do Governo Estadual, a Capela de Santa Luzia, a Igreja de São herança européia está presente nas montanhas do interior do
Gonçalo e a de Nossa Senhora do Rosário e o Convento de São
ES nas danças italianas, pomeranas, alemãs, holandesas e polo-
Francisco e do Carmo na capital Vitória. No município de Viana
nesas que resistem e renovam-se. Elas foram incorporadas à cul-
há a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e a Igreja de Araçati-
tura popular capixaba e suas apresentações são demonstrações
ba, que foi sede de fazenda jesuítica que mantinha um engenho
de pura alegria. Na culinária, uma variedade de pratos. Dos ita-
com escravos, residência, senzalas e oficinas. Em Nova Almeida
lianos, temos o ministroni, anholini, tortei, sopa, pavese, risoto,
e Carapina distritos do município de Serra, ainda existem a Igreja
e Residência dos Reis Magos, sede de uma Redução Jesuítica e e a famosa polenta. Dos alemães, chucrutes, geléias, biscoitos
a Capela de São João Batista, antiga sede de uma fazenda de caseiros, café colonial e o brot (pão caseiro). Nos municípios de
jesuítas. Em Guarapariencontra-se a Igreja de Nossa Senhora Domingos Martins, Marechal Floriano, Pedra Azul e Santa Tere-
da Conceição e em Anchieta localiza-se a Igreja e Residência de sa municípios originários de colônias de imigrantes europeus,
Nossa Senhora da Assunção, que completa a herança colonial de acontecem anualmente festivais que chegam a receber 30 mil
tradição jesuítica no período colonial. pessoas, como a Festa da Polenta, em Venda Nova do Imigrante,
A arquitetura colonial secular e urbana, em Vitória está re- Festa do Vinho, em Santa Teresa, a do Morango, em Pedra Azul e
presentada pelos sobradinhos geminados da Rua José Marceli- a Sommerfest, em Domingos Martins.
no, localizados atrás da Catedral Metropolitana na parte alta da (Espírito Santo - um estado singular. Sandra Medeiros p.78)
cidade. No bairro de Jucutuquara, a arquitetura rural do século Santa Teresa e Domingos Martins serviu de berço para dois
XVIII encontra um exemplar no casarão onde funciona o Museu cientistas de renome nacional e internacional, ambos descen-
Solar Monjardin, antiga sede da Fazenda que pertenceu ao Barão dentes de imigrantes europeus: Augusto Ruschi e Roberto Kaut-
de Monjardim. A defesa da entrada da barra era feita por forta- sky. O primeiro, destacou-se no estudo dos colibris. Foi biólo-
lezas como a de São Francisco Xavier em Vila Velha e a Forte de go pesquisador dedicado a luta ecológica, até a sua morte. O
São João ainda existentes. segundo, também já falecido, além de cientista, era estudioso
Este legado cultural do período colonial é, sem dúvida, para das orquídeas e bromélias. Outras personalidades descendentes
as terras capixabas, o mais precioso patrimônio herdado do con- de europeus destacam-se pelo seu empreendorísmo e dinâmi-
tinente europeu. A partir de meados do século XIX quando o ES ca oferecida por sua ação na economia capixaba. Um deles é o
recebe grandes contingentes de imigrantes europeus este patri- ítalo-capixaba Camilo Cola, proprietário do Grupo Itapemirim lí-
mônio se enriquece ainda mais. Na Europa ocorreram revoltas der no setor rodoviário no país, e Helmut Meyerfreuld alemão
populares que visavam à unificação dos países que constituem ex-proprietário da Fábrica de Chocolates Garoto uma das três
hoje a Itália e a Alemanha. Estas guerras de unificação e o esta- maiores fabricantes de chocolates do Hemisfério Sul. Destaca-se
belecimento de um novo Estado geraram um grande empobre- também O Grupo COIMEX pertencente à Família Coser um dos
cimento, causando fome e falta de emprego à população pobre, maiores exportadores de café do Brasil junto ao Grupo Tristão
mais notadamente a camponesa. Os governos desses países im- também exportador de café.
punham “pesados tributos aos pequenos proprietários de terras,
que, vivendo numa economia de subsistência e artesanal, eram Arquitetura
incapazes de cumprir suas obrigações com o fisco”. Esta situa-
Os sítios históricos de Muqui, São Mateus, Santa Leopoldina
ção, somado ao desejo de se conseguir riqueza fácil e farta, fez
e São Pedro do Itabapoana também compõem a riqueza arqui-
ocorrer uma emigração em massa de suas populações a outros
tetônica do Estado, sendo alguns dos mais significativos do país.
países, onde até se ofereciam aos aventureiros lotes de terras
No Sul do Estado destaca-se o Sítio Histórico de São Pedro do
tornando-os pequenos proprietários rurais.
Itabapoana. A região foi colonizada por fazendeiros mineiros e
Imigrantes fluminenses, descendentes de portugueses. Seu casario datado
O Brasil, em particular, precisava de braços para movimentar do século XIX, as ruas estreitas, obedecendo à declividade do
suas riquezas, uma vez que seu sistema de produção escravista terreno com calçamento em pé - de - moleque e antigas fazendas
começava a definhar. A proibição do tráfego de escravos a partir centenárias se mantém preservadas. Em Muqui, município vizi-
de 1850, fez com que houvesse, na opinião dos proprietários de nho destaca-se o conjunto arquitetônico que concentra o maior
terras, uma escassez de mão-de-obra, o que poderia prejudicar acervo de construções ecléticas do Espírito Santo enriquecidas
a economia Nacional. por ornamentos, pinturas decorativas, materiais e técnicas cons-
A partir da chegada dos imigrantes, no século XIX, o Espírito trutivas do final do século XIX e início do século XX, adquirida por
Santo ganha nova configuração geográfica. As barreiras naturais uma classe social que se enriquecia e buscava o conforto e novi-
apresentadas, principalmente pela Mata Atlântica, serão rompi- dades vindas da Europa. Os hábitos de influência européia desta
das e o interior, sobretudo o norte do Estado, até então intoca- aristocracia deixaram uma herança que caracteriza o município
do, recebeu novos habitantes. de maneira muito especial: o rico patrimônio arquitetônico. Em

45
HISTÓRIA
São Mateus, no norte do Estado, o velho porto fluvial com seu (B) pelos interesses ingleses que dominavam o comércio en-
casario tipicamente colonial, constituiu também conjunto arqui- tre o Brasil e Portugal.
tetônico de grande valor histórico cujo apogeu sócio-econômico (C) pela política pombalina, que objetivava desenvolver o
deu-as no final do Império e começo da República. Foi durante beneficiamento do açúcar na própria colônia, com apoio dos
o século XIX com o aparecimento de grandes fazendeiros como ingleses.
barão de Timbuí e Aimorés, o Porto viveu sua fase áurea, com (D) pelos interesses comerciais dos franceses, que estavam
o surgimento de belos sobrados e casas comerciais - com suas presentes no Maranhão, em relação ao açúcar.
coberturas em telhas tipo canal e gradios de ferro importados (E) pela Guerra de Independência dos Países Baixos contra a
da Europa, impulsionadas pelo intenso movimento de barcos, Espanha, e seus conseqüentes reflexos na colônia portugue-
representavam o poderio econômico do Porto. sa, devido à União Ibérica.
Na região central do Estado localiza-se o Sítio Histórico de
Santa Leopoldina que possui 38 imóveis; a maioria localizados 3- Durante o século XVII, grupos puritanos ingleses perse-
na sede do município: são residências construídas pelos ricos guidos por suas ideias políticas (antiabsolutistas) e por suas
comerciantes da região, descendentes de imigrantes alemães, crenças religiosas (protestantes calvinistas) abandonaram a In-
austríacos, luxemburgueses, belgas e suíços datadas do final do glaterra, fixando-se na costa leste da América do Norte, onde
século XIX e início do século XX. No interior, o Sítio Histórico com- fundaram as primeiras colônias. A colonização inglesa nessa
pleta-se com a existência de sedes e armazéns de fazendas e de região foi facilitada:
uma igreja localizada no Distrito do Tirol. Algumas comunidades (A) pela propagação das ideias iluministas, que preconiza-
deste município possuem denominações que homenageiam paí- vam a proteção e o respeito aos direitos naturais dos gover-
ses e regiões da Europa como Suíça, Tirol, Holanda, e Luxembur- nados.
go. E outras guardam, como o município vizinho de Santa Maria (B) pelo desejo de liberdade dos puritanos em relação à
de Jetibá, e, o de Vila Pavão, o dialeto Pomerano dividindo com opressão metropolitana.
o português a comunicação entre as pessoas. A religião Luterana (C) pelo abandono dessa região por parte da Espanha, que
também é outra importante herança cultural. No município de então atuava no eixo México-Peru
Domingos Martins o templo luterano está localizado na principal (D) pela possibilidade de explorar grandes propriedades
praça da cidade. É o primeiro templo protestante construído agrárias com produção destinada ao mercado europeu.
no Brasil. Ainda há o tradicional casamento pomerano que tem (E) pelas consciências políticas dos colonos americanos, des-
noiva vestida de preto cuja cerimônia pode durar até três dias. de logo treinados nas lutas coloniais
Como bem já nos registraram os nossos mestres Luiz Guilher-
me Santos Neves, Léa Brígida de Alvarenga Rosa e Renato Pacheco 4- Leia o texto abaixo:
“graças aos colonos europeus e aos seus descendentes, numero- “Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm
sas povoações e cidades surgiram no interior do Espírito Santo. na conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e princi-
Muitas regiões, onde eles se localizam, acabaram se tornando mu- pais para extirpar da face da terra aquelas míseras nações. Uma
nicípios do nosso Estado. Além disso, os europeus, sobretudo os foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar
italianos que vieram em grande número, tiveram notável influên- todos aqueles que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar
cia com suas famílias numerosas na formação do povo capixaba”. em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos que su-
portam, como fazem todos os senhores naturais e os homens
valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver
EXERCÍCIOS senão mulheres e crianças: e depois oprimem-nos com a mais
horrível e áspera servidão a que jamais tenham submetido ho-
1- As tentativas francesas de estabelecimento definitivo mens ou animais.”
no Brasil ocorreram entre a segunda metade do século XVI e a LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. O paraíso destruído. Bre-
primeira metade do século XVII. As regiões que estiveram sob víssima relação da destruição das Índias [1552]. Porto Alegra:
ocupação francesa foram: L&PM, 2001.
(A) Rio de Janeiro (França Antártica) e Pernambuco (França O trecho do texto de Las Casas aponta o processo de dizima-
Equinocial); ção das populações indígenas americanas por parte dos espa-
(B) Pernambuco (França Antártica) e Santa Catarina (França nhóis. Além da guerra, os processos de trabalho e o controle dis-
Equinocial); ciplinar imposto resultaram na morte de milhões de habitantes
(C) Bahia (França Equinocial) e Rio de Janeiro (França An- nativos da América. Dentre os processos de trabalho impostos
tártica); aos indígenas e que resultaram em sua mortandade, destaca-se:
(D) Maranhão (França Equinocial) e Rio de Janeiro (França
Antártica); (A) a escravidão imposta a eles, semelhante a dos africanos
(E) Espírito Santo (França Equinocial) e Rio de Janeiro (Fran- levados à América para trabalhar na extração de metais.
ça Antártica). (B) a encomienda, um processo de trabalho compulsório im-
posto a toda uma tribo para executar serviços agrícolas e
2- As invasões holandesas no Brasil, no século XVII, esta- extrativistas.
vam relacionadas à necessidade de os Países Baixos manterem (C) o assalariamento, pago em valores muito baixos e geral-
e ampliarem sua hegemonia no comércio do açúcar na Europa, mente em espécie.
que havia sido interrompido (D) a parceria, onde os indígenas eram obrigados a trabalhar
(A) pela política de monopólio comercial da Coroa Portugue- na agricultura e nas minas, destinando dois terços da produ-
sa, reafirmada em represália à mobilização anticolonial dos ção aos espanhóis.
grandes proprietários de terra.

46
HISTÓRIA
05. (Acafe-2015) O início da Primeira Guerra (1914/1918) aquelas ligadas à obra conhecida como O Príncipe, de Maquia-
completou seu centenário em 2014. Conflito de grandes pro- vel. A alternativa que expressa possíveis justificativas do poder
porções, ela foi o resultado de disputas econômicas, imperialis- absoluto dos reis presentes em O Príncipe é:
tas e nacionalistas numa Europa industrializada. (A) No texto de O Príncipe, Maquiavel expõe a doutrina da
origem divina da autoridade do Rei, afirmando que o mo-
Sobre a Primeira Guerra e seu contexto, todas as alternati- narca tem o poder supremo sobre cidadãos e súditos, sem
vas estão corretas, exceto a: restrições determinadas pela lei
(A) A questão balcânica evidencia as disputas entre Alema- (B) Em O Príncipe, Maquiaveldemonstra que não há poder
nha e Hungria pelo controle do mar Adriático e coloca em público sem a vontade de Deus; todo governo, seja qual for
choque os movimentos nacionalistas: pan-eslavismo, lidera- sua origem, justo ou injusto, pacífico ou violento, é legítimo;
do pela Sérvia e o pan-germanismo, liderado pelos alemães. todo depositário da autoridade, é sagrado; revoltar-se con-
(B) Apesar de ter começado a guerra como aliada da Tríplice tra o governo, é sacrilégio.
Aliança, a Itália passou para o lado da Tríplice Entente por (C) Maquiavel afirma, em O Príncipe, que os homens viviam
ter recebido uma proposta de compensações territoriais. inicialmente em estado natural, obedecendo apenas a inte-
(C) A Rússia não permaneceu na guerra até o seu término. resses individuais, sendo vítimas de danos e invasões de uns
Por conta da Revolução socialista foi assinado um tratado contra os outros. Assim, mediante a adoção de um contrato
com os alemães e os russos se retiraram da guerra. social, abriram mão de todos os direitos em favor da autori-
(D) Quando a guerra iniciou, multidões saíram às ruas nos dade ilimitada de um soberano
países envolvidos para comemorar o conflito: a lealdade e o (D) Em O Príncipe, Maquiavel expressava seu desprezo pelo
patriotismo eram palavras de ordem. conceito medieval de uma lei moral limitando a autoridade
do governante e argumentava que a suprema obrigação do
06. (FGV-RJ 2015) Sobre a participação brasileira na Primei- governante é manter o poder e a segurança do país que go-
ra Guerra Mundial, é correto afirmar: verna, adotando todos os meios que o capacitem a realizar
(A) O governo brasileiro declarou guerra à Alemanha, em essa obrigação
1914, após o torpedeamento de um navio, carregado de (E) O Príncipe é a obra na qual Maquiavel expressa o dever
café, que acabara de deixar o porto de Santos. de todo soberano de combater o obscurantismo medieval
(B) O governo brasileiro manteve-se neutro ao longo de todo representado pela Igreja; o rei absoluto deve enfrentar, com
o conflito devido aos interesses do ministro das relações ex- mão de ferro, o poder temporal do clero católico, assumindo
o seu lugar no comando dos corpos e das almas dos homens
teriores Lauro Muller, de origem alemã.
.
(C) A partir de 1916, o Exército brasileiro participou de bata-
09. (IBMECSP 2009) A Companhia de Jesus foi criada na
lhas na Bélgica e no norte da França com milhares de solda-
Espanha em 1534 no contexto da Contrarreforma, tendo uma
dos desembarcados na região.
atuação importante no processo colonizador da América Portu-
(D) O Brasil enviou uma missão médica, um pequeno contin-
guesa. Sobre a atuação da Companhia de Jesus na colonização
gente de oficiais do Exército e uma esquadra naval, que se
do Brasil podemos afirmar que:
envolveu em alguns confrontos com submarinos alemães. (A) Os jesuítas foram responsáveis pela fundação das pri-
(E) Juntamente com a Argentina, o governo brasileiro orga- meiras cidades brasileiras como São Paulo, São Vicente e
nizou uma esquadra naval internacional incumbida de pa- Salvador. A catequização dos indígenas era feita em redu-
trulhar o Atlântico Sul contra as ofensivas alemãs. ções onde eles permaneciam em regime de escravidão.
(B) Os jesuítas se destacaram na ação educativa e catequi-
07. (FUVEST) “Esta guerra, de fato, é uma continuação da zadora dos grupos indígenas brasileiros. Vários missionários
anterior.” (Winston Churchill, em discurso feito no Parlamento jesuítas moravam nas aldeias procurando conhecer os hábi-
em 21 de agosto de 1941). A afirmativa acima confirma a con- tos, a cultura e respeitando a religiosidade indígena.
tinuidade latente de problemas não solucionados na Primeira (C) A educação foi um dos principais instrumentos de evan-
Guerra Mundial, que contribuíram para alimentar antagonis- gelização dos jesuítas, que fundaram colégios no Brasil e
mos e levaram à eclosão da Segunda Guerra Mundial. Entre organizaram aldeamentos conhecidos como Missões para
esses problemas, identificamos: catequizar os indígenas e convertê-los para o catolicismo.
(A) o crescente nacionalismo e o aumento da disputa por (D) Os jesuítas chegaram ao Brasil como o braço religioso da
mercados consumidores e por áreas de investimentos; coroa portuguesa. Tinham como missão catequizar os indí-
(B) o desenvolvimento do imperialismo chinês da Ásia, com genas e apoiar os bandeirantes na captura dos índios que
abertura para o Ocidente; passavam a morar nas vilas e missões.
(C) os antagonismos austro-ingleses em torno da questão da (E) A ação militar foi a forma pela qual os jesuítas partici-
Alsácia-Lorena; param da colonização portuguesa no Brasil. Apoiados pelo
(D) a oposição ideológica que fragilizou os vínculos entre os Marquês de Pombal estabeleceram Missões na região de
países, enfraquecendo todo tipo de nacionalismo; São Paulo e no sul do país para manter os índios reunidos.
(E) a divisão da Alemanha, que a levou a uma política agres-
siva de expansão marítima. 10. (UFMT- IF/MT) Durante o período imperial brasileiro, o
liberalismo foi uma das correntes políticas influentes na compo-
08. (CEPERJ/2013 - SEDUC-RJ) O Absolutismo tem origens sição do nascente Estado independente, tendo, em diferentes
remotas que remontam, pelo menos, à Idade Média. Mas, nos momentos, pautado seus rumos. Há que se observar, no entan-
séculos XVI e XVII, multiplicaram-se os principais autores de to, que, diferentemente do modelo europeu, o liberalismo en-
doutrinas justificando o poder absoluto dos monarcas. Entre contrado no Brasil tinha suas idiossincrasias. A partir do exposto,
as justificativas filosóficas do Absolutismo, podemos destacar marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

47
HISTÓRIA
( ) Os limites do liberalismo brasileiro estiveram marcados 13. (MPE/GO– MPE/GO) Acerca da história do Brasil, é in-
pela manutenção da escravidão e da estrutura arcaica de pro- correto afirmar:
dução. (A) Em 15 de novembro de 1889, ocorreu a Proclamação da
( ) Os adeptos do liberalismo pertenciam às classes médias República pelo Marechal Deodoro da Fonseca e teve início a
urbanas, agentes públicos e manumitidos ou libertos. República Velha, que só veio terminar em 1930 com a chega-
( ) O liberalismo brasileiro mostrou seus limites durante a da de Getúlio Vargas ao poder. A partir daí, têm destaque na
elaboração da Constituição de 1824. história brasileira a industrialização do país; sua participa-
( ) A aproximação de D. Pedro I com os portugueses no Brasil ção na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos;
ajudou a estruturar o pensamento liberal no primeiro reinado. e o Golpe Militar de 1964, quando o general Castelo Branco
assumiu a Presidência.
Assinale a sequência correta. (B) A ditadura militar, a pretexto de combater a subversão
(A) F, V, F, V e a corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu
(B) V, V, F, F e censurou os meios de comunicação, extinguiu os partidos
(C) V, F, V, F políticos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime mi-
(D) F, F, V, V litar, os deputados federais e senadores se reuniram no ano
de 1988 em Assembléia Nacional Constituinte e promulga-
11. (IFB/2017 – IFB) “A principal característica política da ram a nova Constituição, que amplia os direitos individuais.
independência brasileira foi a negociação entre a elite nacio- O país se redemocratiza, avança economicamente e cada vez
nal, a coroa portuguesa e a Inglaterra, tendo como figura me- mais se insere no cenário internacional.
diadora o príncipe D. Pedro” (C) O período que vai de 1930 a 1945, a partir da derrubada
(CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo do presidente Washington Luís em 1930, até a volta do país
caminho. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. à democracia em 1945, é chamado de Era Vargas, em razão
26). do forte controle na pessoa do caudilho Getúlio Domeles
Leia as afirmativas com relação ao processo de emancipa- Vargas, que assumiu o controle do país, no período. Neste
ção política do Brasil. período está compreendido o chamado Estado Novo (1937-
1945).
I) As tentativas das Cortes lusitanas em recolonizar o Brasil (D) Em 1967, o nome do país foi alterado para República Fe-
uniram os luso-americanos em torno da ideia de perpetuar os la- derativa do Brasil.
(E) Fernando Collor foi eleito em 1989, na primeira eleição
ços políticos que uniam, entre si, os lados europeu e americano
direta para Presidente da República desde 1964. Seu governo
do Império Português.
perdurou até 1992, quando foi afastado pelo Senado Federal
II) A escolha da monarquia em vez da república, como alter-
devido a processo de “impugnação” movido contra ele.
nativa política para o Brasil independente, derivou da convicção
da elite brasileira de que só um monarca poderia manter a or- 14. (MPE/GO– MPE/GO) A volta democrática de Getúlio
dem social e a união territorial. Vargas ao poder, após ser eleito no ano de 1950, ficou caracte-
III) Desde o retorno do Rei D. João VI para Portugal, em 1821, rizada pelo presidente:
a elite brasileira percebeu a necessidade de uma solução política (A) ter se aproximado dos antigos líderes militares do Estado
que implicasse a separação entre Brasil e Portugal. Novo e ter dado um golpe de Estado em 1952.
IV) O papel dos escravos e livres pobres foi decisivo para a (B) ter exercido um governo de tendência populista e ter se
transição do Brasil de colônia para emancipado politicamente. suicidado em 1954.
V) A independência do Brasil trouxe grandes limitações dos (C) ter exercido um governo de tendência autoritária, com o
direitos civis, uma vez que manteve a escravidão. apoio de Carlos Lacerda.
(D) ter exercido um governo de tendência populista que foi
Assinale a alternativa que apresenta somente as afirmativas a base para sua reeleição em 1955.
CORRETAS. (E) não ter levado o governo adiante por motivos de saúde,
(A) I, V sendo substituído por seu vice, Café Filho, em 1951.
(B) II, IV
(C) II, V 15. (NC-UFPR – UFPR) Sobre a redemocratização no Brasil
(D) I, IV pós - ditadura, assinale a alternativa correta.
(E) III, IV (A) Uma das ações que marcou o processo de redemocra-
tização foi a campanha pelas eleições diretas para a presi-
12. (CESPE - Instituto Rio Branco) Durante o Primeiro Rei- dência da República, que ficou conhecida como “Diretas já”.
nado consolidou-se a independência nacional, construiu-se o (B) O bipartidarismo foi uma das marcas do período pós-di-
arcabouço institucional do Império do Brasil e estabeleceram- tadura, motivo pelo qual a ARENA e o MDB foram os únicos
-se relações diplomáticas com diversos países. Acerca desse pe- partidos políticos autorizados a funcionar no período
ríodo da história do Brasil, julgue (C ou E) o item subsequente. (C) O presidente Tancredo Neves foi o primeiro presidente
Originalmente uma questão concernente apenas ao eixo das eleito pelo voto popular após a ditadura militar.
relações simétricas entre os Estados envolvidos, a Guerra da Cis- (D) Devido às graves denúncias que ocorreram, o presidente
platina encerrou-se com a interferência de uma potência exter- José Sarney foi afastado da presidência da República. Esse
na ao conflito. processo ficou conhecido como impeachment
( ) CERTO (E) Fernando Collor de Mello foi um dos presidentes eleitos
( ) ERRADO após a ditadura militar e ficou famoso pela criação do Pro-
grama Bolsa-Família.

48
HISTÓRIA
16. (Prefeitura de Betim/MG - Prefeitura de Betim/MG) É
alternativa verdadeira, correspondente às principais caracterís- GABARITO
ticas do Feudalismo.
(A) Economia e sociedade agrárias e cultura predominante-
mente laica. 1 D
(B) Trabalho assalariado, cultura teocêntrica e poder político
centralizado nas mãos do rei. 2 E
(C) As relações entre a nobreza feudal baseavam-se nos la- 3 A
ços de suserania e vassalagem: tornava-se suserano o nobre
4 B
que doava um feudo a outro; e vassalo, o nobre que recebia
o feudo. 5 A
(D) Trabalho regulado pelas obrigações servis e sociedade 6 D
com grande mobilidade.
7 A
17. (CESPE/ – DEPEN) Na década de 90 do século passa- 8 D
do, pela primeira vez em dois séculos, faltava inteiramente ao 9 C
mundo, qualquer sistema ou estrutura internacional. O único
10 C
Estado restante que teria sido reconhecido como grande potên-
cia, eram os Estados Unidos da América. O que isso significava 11 C
na prática era bastante obscuro. A Rússia fora reduzida ao ta- 12 CERTO
manho que tinha no século XII. A Grã-Bretanha e a França goza-
13 E
vam apenas de um status puramente regional. A Alemanha e o
Japão eram sem dúvida “grandes potências” econômicas, mas 14 B
nenhum dos dois sentira a necessidade de apoiar seus enormes 15 A
recursos econômicos com força militar.
16 C
Eric Hobsbawm. Era dos extremos. O breve século XX, 1914- 17 CERTO
1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 538 (com
adaptações).

A partir das ideias apresentadas no texto, julgue o próximo


item, referentes à política internacional no século XX e à ordem
mundial instaurada após o fim da Guerra Fria. ANOTAÇÕES
A despeito da derrocada da antiga União Soviética em 1991,
o contexto imediatamente posterior à Guerra Fria não foi marca-
do pelo estabelecimento de um sistema internacional organiza-
do para reduzir conflitos e garantir o equilíbrio entre os estados.
( ) CERTO
( ) ERRADO

49
HISTÓRIA

_____________________________________________________

_____________________________________________________

50
PREPARATÓRIO
Geografia
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PROVA OBJETIVA

Conteúdo Sistemático
Exercícios
Babarito

PM-ES
COMBATENTE 2022
Soldado da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo
GEOGRAFIA
1. A relação entre movimentos da terra e a organização do espaço geográfico. Continentes e oceanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. As paisagens mundiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. A dinâmica da litosfera. Relevo terrestre. Minerais e rochas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Solos: práticas de manejo e conservação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5. Regiões brasileiras, marcas do brasil em todos os cantos. A dinâmica relação entre os componentes das regiões. Critérios de delimita-
ção de regiões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Regiões do espírito santo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
7. Regiões mundiais: geopolíticas, econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
8. Biomas e domínios morfoclimáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
9. A dinâmica da atmosfera: elementos e fatores, classificação e tipos de clima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
10. Fenômenos da natureza: alterações antrópicas e implicações em sua dinâmica global-local e local-global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
11. Dinâmica da hidrosfera: água no planeta. Bacias hidrográficas, rios, lagos. Águas oceânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
GEOGRAFIA

A RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTOS DA TERRA E A OR-


GANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. CONTINENTES
E OCEANOS

Para estudarmos o planeta Terra, é necessário fazer refe-


rências à galáxia na qual estamos inseridos: a Via Láctea. Essa re-
ferência é necessária para entendermos a disposição dos plane-
tas, suas órbitas, semelhanças, diferenças e outros assuntos que
nos ajudam a entender o que acontece dentro e fora da Terra1.
Nosso planeta é um dos oito que estão no Sistema Solar
orbitando em torno de uma estrela central: o Sol. Essa órbita
permite o desenvolvimento da vida devido à temperatura que
chega até nós, o que chamamos de radiação solar.

Formação e Características do Planeta Terra


Estima-se que nosso planeta tenha sido formado há, mais
ou menos, 4,6 bilhões de anos. De lá pra cá, a Terra passou por
constantes mudanças, algumas nítidas, outras bem longas e que
os seres humanos não percebem. Tais mudanças podem ocorrer
de fatores internos, como a energia do núcleo, ou fatores exter- Com o desenvolvimento da tecnologia, a medição dos aba-
nos, como chuvas, processos erosivos, ação humana. los sísmicos tornou possível conhecer o interior do planeta. As
A formação do Sistema Solar foi resultado de um colapso ondas sísmicas provocadas por esses abalos atravessam grandes
entre grandes estrelas, o que gerou uma grande junção de ener- regiões, podendo ser rastreadas e fornecer informações valiosas
gia. Essa energia, posteriormente, formou os componentes do sobre a estrutura interna da Terra. Seu interior ainda possui a
sistema, como o Sol e demais planetas. camada magmática de bilhões de anos atrás. A cada 33 m de pro-
A Terra, há 4,6 bilhões de anos, era uma massa de matéria fundidade, estima-se que a temperatura suba 1 ºC.
magmática que, ao longo de milhões de anos, resfriou-se. Esse Na superfície terrestre, camada em que vivemos, podemos en-
resfriamento deu origem a uma camada rochosa, a camada litos- contrar diversos minerais utilizados no cotidiano. A crosta, como é
férica. Esse período é chamado de Era Pré-cambriana. conhecida a superfície, recobre todo o planeta, seja nos continen-
Ao longo desses bilhões de anos, várias mutações aconte- tes (crosta continental), seja nos oceanos (crosta oceânica).
ceram no planeta, muitas violentas, como os terremotos e ma- No fundo dos mares e oceanos existe o assoalho oceânico,
local em que compostos de silício e magnésio (sima) podem ser
remotos, também conhecidos por abalos sísmicos. Esses abalos
encontrados com frequência. Nos continentes, silício e alumínio
ocorrem de dentro para fora, nas camadas internas da Terra,
(sial) dão consistência a quase toda essa superfície.
alterando de forma significativa a superfície terrestre.
Outras mudanças menos violentas foram graduais, como a
Camadas Internas do Planeta Terra
formação da camada de gases que envolvem o planeta, a at- Por dentro, nosso planeta tem uma estrutura feita em ca-
mosfera. Essa camada protege-nos da forte radiação solar que madas, cada uma com várias características específicas. Pelos
atinge a Terra, permitindo que haja vida. No entanto, no início estudos realizados até hoje, podemos classificá-las, de forma
dos tempos, há bilhões de anos, a Terra era um lugar inabitável, geral, em três principais: crosta (oceânica e continental), manto
com erupções vulcânicas constantes, com altas temperaturas e (superior e inferior) e núcleo (interno e externo).
bastante perigoso. Podemos comparar essa estrutura com a de um abacate: a
Os movimentos do planeta, como a rotação (em torno de casca da fruta sendo a crosta, a poupa sendo o manto, e o caro-
si) e a translação (ao redor do Sol), possibilitaram uma forma ço sendo o núcleo.
esférica da Terra, que é achatada nos polos. Essa forma recebe o
nome de geoide. Seu interior é algo inóspito, e, até pouco tempo
atrás, desconhecido.

1 https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/planeta-terra.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/camadas-terra.htm

1
GEOGRAFIA
Crosta Movimentos Terrestres
A crosta, a casca externa do planeta, é a camada superficial, Na órbita da Terra, nosso planeta realiza dois movimentos
podendo ser chamada de litosfera. É nessa camada que esta- cruciais para o desenvolvimento da vida: a translação e a rota-
mos, que se localizam relevos, oceanos, mares, rios, biosfera e ção.
outros.
Para os seres humanos, é a camada em que há o desenvol- Rotação
vimento da vida. Para ter-se uma ideia, a espessura da crosta Rotação é o movimento realizado pelo planeta em torno do
pode variar de 5 km a 70 km. Mesmo com esse tamanho, ela é só seu próprio eixo, sendo uma volta em torno de si. Esse movi-
a “casca” do planeta, o que revela a imensidão dele. mento, realizado no sentido anti-horário, ou seja, de oeste para
A crosta oceânica, como o nome diz, é a parte que está abai- leste, tem como consequência direta a existência de dias e noi-
xo do mar, tendo de 5 km a 15 km de espessura. É menos espes- tes.
sa do que a crosta continental. Ela pode ter uma espessura de 30 Além disso, o Sol é visto primeiro na parte leste do mundo,
km a 70 km, sendo a parte do planeta que forma os continentes. por isso o Japão é conhecido como “a terra do Sol nascente”.
Esse movimento dura, em média, 23 h 56 min ou 24 h (o dia
Manto solar).
Já o manto está situado a uma profundidade que pode variar
de 70 km a 2900 km. Nessa grande área, está localizado o mag- Translação
ma, uma camada viscosa que envolve o núcleo e é responsável Translação é o movimento realizado em torno do Sol. Uma
pela movimentação das placas tectônicas, situadas na litosfera. translação completa significa um ano para a sociedade, pois esse
O manto superior está abaixo da litosfera, numa profundi- movimento tem a duração de 365 dias e 6 h.
dade de até, aproximadamente, 670 km. Nele encontramos a Devido a isso, a cada quatro anos, um dia é colocado a mais
astenosfera, uma área de característica viscosa que permite a no mês de fevereiro, surgindo o ano bissexto, com 366 dias.
movimentação da crosta ao longo de milhares de anos, modifi- Os dois movimentos são feitos simultaneamente, ao mesmo
cando o relevo terrestre. tempo. Por conta da força da gravidade e do imenso peso do
No manto inferior, localizado a uma profundidade de 670 planeta, eles não são percebidos.
km a 2900 km, encontramos a mesosfera, parte sólida dessa es- No entanto, os dias e as noites (rotação) e a existência das
trutura que chega próximo ao núcleo. Ele é sólido devido à pres- estações do ano (translação) mostram-nos quão viva é a Terra.
são exercida pelo peso da Terra.
Formação dos Continentes
Núcleo
O núcleo é a camada mais profunda do planeta, chegando a Teoria da Deriva dos Continentes
6700 km. O núcleo interno é sólido, com vários compostos mi-
nerais, entre eles níquel e ferro. Essa camada é responsável pelo
campo magnético que existe ao redor do planeta. Já o núcleo
externo é líquido, tendo uma espessura de, aproximadamente,
1600 km. A temperatura nessa região pode chegar a 6500 ºC.

Estrutura Externa do Planeta Terra


A superfície terrestre é a camada externa do planeta. Nela
há o encontro de três camadas: a hidrosfera (o conjunto de
águas), a biosfera (a vida, os biomas) e a litosfera (as rochas e
os minerais).
Além disso, há na superfície terrestre a atmosfera, o con-
junto de gases que permite a respiração e protege o planeta dos
raios solares, para que eles não cheguem com tanta intensida-
de. É basicamente formada por oxigênio, nitrogênio e água, mas
contém outros elementos químicos.
A hidrosfera é de onde o ser humano retira recursos para
sua sobrevivência, como água, alimento (peixes e crustáceos),
recursos minerais marinhos (petróleo), além de usar os oceanos,
mares e rios para o transporte de pessoas e/ou cargas.
A biosfera e a superfície terrestre são conceitos que se asse-
melham em alguns momentos, pois fazem referência à existên-
cia de vida na Terra. No entanto, a superfície terrestre abrange
mais elementos, como a hidrosfera. Na biosfera, nós temos os
elementos orgânicos e inorgânicos e os seres vivos, que auxiliam
na prosperidade da vida do planeta. http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisi-
Na litosfera, temos a formação de continentes e ilhas, as ca/evolucao-da-terra-e-fenomenos-geologicos.html
terras emersas. É uma das poucas áreas do mundo conhecidas
de forma direta pelo ser humano.

2
GEOGRAFIA
Apesar da atual divisão do mundo em continentes parecer Modelo Estático
uma situação estática, se nos basearmos em um referencial de Este modelo aborda o chamado Princípio Cosmológico, que
milhões de anos, tudo indica que não é bem assim2. diz que o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer obser-
Segundo a Teoria da Deriva dos Continentes, existe um vador. A única coisa que difere são suas características locais.
movimento, ainda que imperceptível dentro de nossa vivência Este modelo admite, também, que o Universo sempre teve a
de tempo, que faz com que os continentes se desloquem len- mesma conformação, sem nunca mudar ou evoluir. Logo, esse
tamente. modelo caiu em desuso por conta de pesquisas posteriores que
Essa teoria foi proposta em 1912 pelo alemão Alfred Wege- mostraram justamente o contrário.
ner, que observou o recorte da costa leste da América do Sul e o
comparou com a da costa oeste da África e notou algumas seme- Modelo Estacionário
lhanças, como se os dois lados tivessem um dia estado juntos. Após observações mostrarem que o Universo está em ex-
Em determinada época, há centenas de milhões de anos, pansão, o modelo estático acabou sendo totalmente descarta-
todos os continentes formavam um só bloco, a Pangeia. Ao lon- do. Assim, foi desenvolvido o Princípio Cosmológico Perfeito,
go de milhões de anos, com o movimento das placas tectônicas que diz que o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer ob-
a Pangeia dividiu-se inicialmente em duas partes: Gondwana e servador em qualquer instante do tempo. Ou seja, o Universo é
Laurásia. Daí para frente, as partes foram fragmentadas, até as- o que sempre foi e a matéria teria surgido de forma espontânea.
sumir a forma atual.
Modelo Expansivo
Teoria da Tectônica de Placas O modelo expansivo foi desenvolvido após a observação das
A tectônica de placas é uma teoria geológica sobre a estru- diferenças de cores de luzes que as galáxias emitem e que aca-
tura da litosfera. A teoria explica o deslocamento das placas tec- bam chegando até nós. Através dessa observação, constatou-se
tônicas que formam a superfície terrestre, assim como a forma- que as galáxias estão se afastando, consequência da expansão
ção de cadeias montanhosas, as atividades vulcânicas e sísmicas do Universo. A Lei de Hubble, formulada pelo astrônomo Edwin
e a localização das grandes fossas submarinas. Hubble, diz que quanto mais longe uma galáxia se encontra de
Dessa forma, a crosta está dividida em muitos fragmentos, nós, mais rapidamente ela se afasta de nós.
as placas tectônicas. As placas flutuam sobre o manto, mais pre-
Modelo Cíclico
cisamente sobre a astenosfera, uma camada plástica situada
O modelo cíclico fala sobre uma possível contração do Uni-
abaixo da crosta. Movimentam-se continuamente, alguns cen-
verso. Diz que, caso a massa do Universo seja maior do que um
tímetros por ano.
certo valor crítico, a gravidade será o suficientemente grande
Em algumas regiões do globo, duas placas se afastam uma
para frear, de forma gradativa, a sua expansão. Assim, entrará
de outra e em outros, elas se chocam. Acredita-se que o motor
em modo de contração.
da tectônica de placas seja a corrente de convecção – material
quente que sobe e material frio que desce produzida por essa
O que há mais no Universo
troca.
• Estrelas: esferas de gás, compostas principalmente de
Os continentes continuam se movendo até hoje. A teoria da
gás hidrogênio e hélio, se encontram a uma temperatura altís-
Tectônica de Placas, que aperfeiçoou a Teoria da Deriva Conti- sima;
nental, é, atualmente, a forma mais aceita de se explicar a for- • Aglomerados: sistemas com muitas estrelas que po-
mação dos continentes. dem ser abetos (ou galácticos) e os globulares;
• Nebulosas: regiões entre as estrelas e aglomerados for-
mada por gases e muito densas;
O cosmo é tudo o que existe, sempre existiu e sempre existi- • Galáxias: é o conjunto em que estamos. Galáxias são
rá, segundoCarl Sagan. De longe, essa é a melhor forma de dizer conjuntos de estrelas, planetas aglomerados, nebulosas, poeiras
o que é oUniverso. De uma forma mais crua, o Universo é tudo e gases confinados em um pedaço do espaço sideral.
o que influenciou o passado, o presente e influenciará o futuro
seja com matéria, planetas, estrelas, luas, gravidade, tudo. En- As galáxias
tretanto, essa lógica sugere que, caso exista outro Universo, ele Galáxia é um termo que se origina da palavragala, que signi-
não poderá ser encontrado pois o nosso não o influenciou. Caso fica “leite”, em grego. Inicialmente, era a denominação da nossa
exista ou não outro, o nosso já é bastante bonito e intrigante, galáxia, aVia Láctea, e, depois, se generalizou como denomina-
além de ser bastante complexo. ção de todas as demais.
De uma forma geral, o Universo é formado porgaláxias, es- As galáxias são compostas pornuvens de gáse poeira, um
trelas, nebulosas, planetas, satélites,cometas,asteroidese radia- grande número deestrelas,planetas,cometaseasteroidese diver-
ções – e outras coisas mais que ainda não descobrimos. Ama- sos corpos celestes unidos pela ação daforça gravitacional.
téria negra, por exemplo, é uma forma de matéria que não se Numa noite estrelada, podemos ver uma faixa esbranquiça-
comporta como a matéria comum, mas existe. Faz parte dele da que corta o céu. Essa “faixa” de astros é apenas uma parte
com toda a sua particularidade. da galáxia onde está localizado o planeta Terra. Os antigos a de-
nominaramVia Láctea, cujo significado em latim é “caminho de
Modelos de Universo leite”.
Vários cientistas, comoAlbert Einstein, dedicaram grande A Via Láctea pertence a um conjunto, ou seja, uma aglome-
parte de suas vidas para tentar decifrar o Universo. Desses estu- rado de diversas galáxias. OUniversocontém mais de200 bilhões
dos saíram quatro modelos: de galáxiasde tamanho e formas variadas. Há galáxias de forma
elíptica, outras são espirais e muitas são as galáxias irregulares,
2 http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/evolucao-da-
-terra-e-fenomenos-geologicos.html ou seja, que não tem forma específica.

3
GEOGRAFIA

Representação da galáxia de Andrômeda

Representação da Via Láctea vista de perfil (acima) e vista de cima (abaixo)

O Sistema Solar
O sistema solar é um conjunto deplanetas,asteroidesecometasque giram ao redor do sol. Cada um se mantém em sua respec-
tiva órbita em virtude da intensa força gravitacional exercida pelo astro, que possui massa muito maior que a de qualquer outro
planeta.
Os corpos mais importantes do sistema solar são osoito planetasque giram ao redor do sol, descrevendo órbitas elípticas, isto
é, órbitas semelhantes a circunferências ligeiramente excêntricas.

4
GEOGRAFIA

Os planetas que compõem o sistema solar


O sol não está exatamente no centro dessas órbitas, como pode-se ver na figura abaixo, razão pela qual os planetas podem
encontrar-se, às vezes, mais próximos ou mais distantes do astro.

Órbitas elípticas dos planetas do Sistema Solar

Origem do Sistema Solar


O sol e o Sistema Solar tiveram origem há4,5 bilhões de anosa partir de uma nuvem de gás e poeira que girava ao redor de si
mesma. Sob a ação de seu próprio peso, essa nuvem se achatou, transformando-se num disco, em cujo centro formou-se o sol. Den-
tro desse disco, iniciou-se um processo de aglomeração de materiais sólidos, que, ao sofrer colisões entre si, deram lugar a corpos
cada vez maiores, os outros planetas.
A composição de tais aglomerados relacionava-se com a distância que havia entre eles e o sol. Longe do astro, onde a tempera-
tura era muito baixa, os planetas possuem muito mais matéria gasosa do que sólida, é o caso de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Os planetas perto dele, ao contrário, o gelo evaporou, restando apenas rochas e metais, é o caso de Mercúrio, Vênus, Terra e Marte.

Os componentes do Sistema Solar

O sol
O Sol é afonte de energia que domina o sistema solar. Sua força gravitacional mantém os planetas em órbita e sua luz e calor
tornam possível a vida na Terra. A Terra dista, em média, aproximadamente 150 milhões de quilômetros do Sol, distância percorrida
pela luz em 8 minutos. Todas as demais estrelas estão localizadas em pontos muito mais distantes.
As observações científicas realizadas indicam que o Sol é uma estrela de luminosidade e tamanho médios, e que no céu existem
incontáveis estrelas maiores e mais brilhantes, mas para nossa sorte, a luminosidade, tamanho e distância foram exatos para que o
nosso planeta desenvolvesse formas de vida como a nossa.
O Sol possui 99,9% da matéria de todo o Sistema Solar. Isso significa que todos os demais astros do Sistema juntos somam
apenas 0,1%.

5
GEOGRAFIA
Composição do Sol A expressão paisagem natural, nesse contexto, insere-se
O Sol é uma enorme esfera de gás incandescente composta como uma tipificação criada em oposição à paisagem cultural
essencialmente de hidrogênio e hélio, com um diâmetro de 1,4 ou geográfica, que é aquela produzida ou transformada pelas
milhões de quilômetros. atividades antrópicas. Portanto, entende-se por paisagens natu-
rais aqueles espaços que ainda não foram humanizados ou que
pouco receberam a interferência das atividades baseadas no
emprego das técnicas, principais elementos produtores e trans-
formadores do espaço geográfico.
A compreensão dos elementos da natureza, bem como a sua
localização e distribuição espacial pelos diferentes lugares, é im-
portante no sentido de auxiliar no esclarecimento de seus efei-
tos sobre a sociedade e suas práticas. Nesse sentido, torna-se
importante avaliar não tão somente as paisagens e os lugares
em si, mas também as relações e as técnicas necessárias para a
sua utilização e preservação.

Vegetações Mundiais4

Tundra

O volume do Sol é tão grande que em seu interior caberiam


mais de 1 milhão de planetas do tamanho do nosso. Para igua-
lar seu diâmetro, seria necessário colocar 109 planetas como a
Terra um ao lado do outro. No centro da estrela encontra-se o
núcleo, cuja temperatura alcança os 15 milhões de graus cen-
tígrados e onde ocorre o processo de fusão nuclear por meio
do qual o hidrogênio se transforma em hélio. Já na superfície a
temperatura do Sol é de cerca de 6.000 graus Celsius.

Os planetas
Os planetas não produzem luz, apenas refletem a luz do Sol,
que é a estrela do Sistema Solar.
Teorias afirmam que os planetas também foram formados a Formada por musgos, líquens e umas poucas plantas rastei-
a partir de porções de massa muito quente e que todos estão de ras, essa formação vegetal é típica das regiões polares.
resfriando. Alguns, entre eles a Terra, já se resfriaram o suficien- A Tundra é um tipo de bioma localizado no Hemisfério Norte
te para apresentar a superfície sólida. do planeta, nas regiões próximas ao Ártico, mais precisamente
Um corpo celeste é considerado um planeta quando, além no norte da América, da Europa e em outras localidades, como
de não ter luz própria, gira ao redor de uma estrela. o Alasca e a Sibéria.
Os planetas têm forma aproximadamente esférica. Os seus O seu nome advém da palavra finlandesa “Tunturia”, que
movimentos principais são o derotaçãoe o detranslação. Cada significa “planície sem árvores”, o que já confere certa noção
planeta possui um eixo de rotação em relação a Sol, o mais incli- sobre como é esse tipo de vegetação e o seu ambiente.
nado deles é oplaneta-anãoPlutão, pois seu eixo de rotação em
relação ao Sol é de 120º, olhe a figura.

AS PAISAGENS MUNDIAIS

Paisagens Naturais
As paisagens naturais são aquelas que não foram modifica-
das pelo homem ou que pouco se alteraram em função das ati-
vidades antrópicas3.
O termo Paisagem é um conceito chave na ciência geográfi-
ca. Essa expressão, em resumo, faz referência a tudo aquilo que
o indivíduo abstrai do espaço a partir dos seus sentidos (visão,
audição, tato, olfato e paladar), o que torna esse termo uma
relação entre o ser humano e a sua formação de apropriação
material e intelectual sobre o meio.
4 https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/ctpmbar-
3 https://brasilescola.uol.com.br/geografia/paisagens-naturais.htm bacena/04102016072647251.pdf

6
GEOGRAFIA
Florestas Boreais Estepes

Vegetação herbácea presente em regiões semiáridas, cons-


tituída de gramíneas que se distribuem de forma irregular, em
forma de tufos e pequenos arbustos.
Também conhecidas como Taiga ou Matas de Coníferas, A estepe é considerada uma faixa de transição vegetativa
ocorrem no hemisfério norte do planeta, abrangendo a Ásia (Si- e climática, ocorrendo geralmente aos arredores de desertos.
béria, Japão), América do Norte (Alasca, Canadá, sul da Groen- O solo onde desenvolve esse tipo de cobertura vegetal apre-
lândia) e Europa (parte da Noruega, Suécia). senta uma grande fertilidade, possui uma cor escura (negra) e é
A Taiga transforma-se em Tundra à medida que se aproxima usado frequentemente para o cultivo agrícola.
do Polo Norte. Há entre esses biomas uma zona de transição
onde pouco a pouco o colorido das coníferas é substituído pelas Florestas Equatoriais Tropicais
gramíneas e arbustos baixos da Tundra.

Vegetação Mediterrânea

Típica de áreas quente e úmidas, essas florestas apresentam


grande biodiversidade e ocorrem em regiões da América Central
e América do Sul, na África e no Sudeste Asiático.
A composição vegetativa é de árvores altas com copas lar-
Característica de regiões com verões quentes e secos e in- gas que se confrontam e que quase não permitem a entrada da
vernos chuvosos. É formada predominantemente por vegetação luz do sol. É por isso que no interior da floresta é muito escuro.
arbórea e arbustiva distribuída de maneira dispersa.
A vegetação mediterrânea é possível de ser encontrada em
pontos isolados da Califórnia (Estados Unidos), Chile, África do
Sul e também da Austrália, no entanto, a maior concentração
está localizada no sul da Europa.

7
GEOGRAFIA
Florestas Temperadas Subtropicais O Cerrado brasileiro é considerado um tipo de savana, mas
muitas características o diferenciam das outras savanas.

Pradarias

Sua área original de ocorrência é em regiões de clima tem-


perado úmido. Formação vegetal diversificada com predomi-
nância de árvores.
Presença de quatro camadas de vegetação: árvores mais al- Formação vegetal muito aproveitada pela pecuária, é carac-
tas (de 10 a 25 metros); vegetação arbustiva (de 3 a 5 metros); terística de áreas com baixa pluviosidade e formada basicamen-
ervas (vegetação rasteira, próxima ao nível do solo) e musgos te por gramíneas e alguns arbustos.
(rasteira, no próprio solo, cobertas por folhas e galhos caídos). As pradarias são vegetações herbáceas fechadas presentes
Solo fértil com presença de grande quantidade de nutrientes em áreas de clima temperado e que recebem diferentes deno-
e material orgânico (resultado da decomposição dos vegetais). minações em diferentes partes do mundo.
Regiões onde há floresta temperada: Na Europa e na Ásia, recebem o nome de “estepe”. Na Amé-
- Costa oeste dos Estados Unidos e Canadá; rica do Norte, são chamadas de “pradarias”. Na África do Sul,
- Sul do Chile; recebem o nome de “veld”. E, na América do Sul, recebem o
- Norte da Espanha e Portugal; nome de “pampa”.
- Região oeste do Reino Unido;
- Turquia; Vegetação de Deserto
- Japão e leste e sul da China;
- Região sudeste da Austrália;
- Sudoeste da Argentina;
- Costa ocidental da Nova Zelândia;
- Oeste da Noruega.

Savanas

Ocorrem em regiões com pequenas quantidades de chuva e


são formadas por plantas adaptadas a esse ambiente, como os
cactos. A vegetação do deserto é composta por plantas cactá-
ceas e herbáceas, com pequenos arbustos e cactos (xerófitas) e
pratófitas (plantas com raízes longas).
As xerófitas são plantas como os cactos que, ao invés das fo-
Característico de regiões tropicais com uma estação seca lhas possuírem espinhos para preservar a água, elas armazenam
bem definida. Savana ou campo tropical é o nome empregado a em seus caules.
um tipo de formação vegetal que varia desde um campo herbá- É muito difícil enxergarmos a vegetação no deserto por ser
ceo até uma matriz campestre com árvores esparsas. escassa e muito distante uma das outras.
Esse bioma é típico de regiões de clima tropical, quente e
úmido. A maior área e mais conhecida de savana situa-se na Áfri-
ca, mas também existem savanas na América do sul e na Austrália.

8
GEOGRAFIA
Formação de Altitude

Formação vegetal característica de regiões montanhas, que apresenta variedade de porte em função do aumento da altitude.
É comum a ocorrência de gramíneas, musgos e liquens.
A vegetação de altitude ocorre na América do Sul e na Europa, ou seja, na Zona Temperada (sul e norte).
Na América do Sul, a vegetação de altitude aparece no Peru, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Já na Europa existe muito
pouco, apenas no centro-oeste, na Alemanha.

A DINÂMICA DA LITOSFERA. RELEVO TERRESTRE. MINERAIS E ROCHAS

Os agentes modeladores do relevo


A rocha (ou popularmente pedra) é um agregado natural composto de alguns minerais ou de um único mineral 5.
As rochas são classificadas conforme sua composição química, sua forma estrutural, ou sua textura, mas é mais comum classi-
ficá-las de acordo com os processos de sua formação.

http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/evolucao-da-terra-e-fenomenos-geologicos.html

Rochas Magmáticas ou Ígneas


As rochas magmáticas ou ígneas resultam da solidificação do magma e são, portanto, rochas primárias. Podem ser de dois tipos:
Magmáticas intrusivas - se a solidificação do magma acontecer no interior da terra (granito);
Magmáticas extrusivas - se a solidificação do magma acontecer na superfície terrestre (basalto, pedra-pomes).

Rochas Sedimentares
As rochas sedimentares ou secundárias originam-se dos sedimentos de outras rochas. O sedimento se forma pela ação do in-
temperismo (processos físico-químicos que desintegram as rochas).
5 http://www.marcospaiva.com.br/A%20forma%C3%A7%C3%A3o%20da%20Terra%20e%20sua%20estrutura.pdf

9
GEOGRAFIA
Os grãos fragmentados são transportados da área fonte e, finalmente, se acumulam em bacias sedimentares. São rochas sedi-
mentares a areia, o calcário e o arenito.
Rochas Metamórficas
São formadas quando, no interior da Terra, a temperatura e a pressão modificam rochas preexistentes (ígnea, sedimentar, ou
outra rocha metamórfica). Os gnaisses, a ardósia e mármores exemplos de rochas metamórficas.
São essas rochas que vão dar origem ao relevo que pode se dizer que é toda forma assumida pelo terreno (montanhas, serras,
depressões, etc.) que sofreu mudanças com os agentes internos e externos sobre a crosta terrestre.
Os agentes externos são chamados também de agentes erosivos (chuva, vento, rios, etc.) eles atuam sobre as formas definidas
pelos agentes internos. As forças tectônicas (movimentos orogenéticos, terremotos e vulcanismo) que se originam do movimento
das placas tectônicas são os agentes internos.

Agentes formadores e modeladores do relevo terrestre


As forças que criam e alteram as formas de relevo podem agir no interior da terra (agentes internos ou endógenos) ou na su-
perfície terrestre (agentes externos ou exógenos).
Os movimentos das placas tectônicas são responsáveis pelos agentes modificadores do relevo originados no interior da Terra. A
maior parte da atividade de deformação das rochas por forças internas ocorre nos limites das placas tectônicas, isto é, nos pontos
de contato entre as placas.

Agentes Endógenos (Internos)


São os seguintes agentes internos (endógenos) do relevo: o tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos.

Tectonismo
Tectonismo ou diastrofismo compreende todos os movimentos que deslocam e deformam as rochas que constituem a crosta
terrestre.
Manifesta-se por movimentos: Verticais ou epirogênicos; e Horizontais ou orogênicos.
Conhecidos como diastrofismos, resultam de pressões vindas do interior da Terra que agem na crosta. Se forem verticais, os
blocos sofrem levantamentos/rebaixamentos ou fraturas ou falhas quando atingem as rochas mais rígidas. Quando as pressões são
horizontais formam-se dobramentos ao atingir rochas de pequena resistência originando montanhas.

Vulcanismo
Diversas formas pelas quais o magma do interior da Terra chega até a superfície. Os materiais podem ser sólidos, líquidos ou
gasosos. Esses materiais acumulam-se em um depósito sob o vulcão até que a pressão gerada entre em erupção.
As lavas escorrem pelo edifício vulcânico, alterando e criando novas formas de paisagem. A manifestação típica do vulcanismo
é o cone vulcânico e o amontoado de pó, cinzas e lavas formados pelas erupções.
Quando o magma extravasa, passa a chamar-se lava. A maioria se concentra no Círculo de Fogo do Pacífico e o Círculo de Fogo
do Atlântico.

Abalos Sísmicos
Todos os movimentos naturais resultantes de movimentos subterrâneos de placas rochosas, de atividade vulcânica, ou por
deslocamentos de gases no interior da Terra, principalmente metano.
Causado por liberação rápida de grandes quantidades de energia sob a forma de ondas sísmicas que se propagam por meio de
vibrações, a maioria ocorre na fronteira de placas ou em falhas entre dois blocos rochosos.

Como consequência temos a vibração do solo, a abertura de falhas, deslizamentos de terra, tsunamis, mudança de rotação da
Terra, efeitos destrutivos sobre construções, perda de vida, ferimentos e prejuízos financeiros e sociais.

10
GEOGRAFIA
Um dos maiores já registrado foi no Chile em 1960 que atin- Erosão
giu 9.5 graus na escala Richter, bem como o da Indonésia que Erosão é o conjunto de processos que promovem a retirada
atingiu 9.3, em 2004. e transporte do material produzido pelo intemperismo, ocasio-
nando o desgaste do relevo. Seus principais agentes são a água,
o vento e o gelo.
A erosão pode ser de vários tipos, conforme o agente que
atua:
Erosão pluvial - é aquela provocada pela água da chuva;
Erosão marinha - A água do mar provoca erosão através da
ação das ondas, das correntes marítimas, das marés e das cor-
rentes de turbidez. Seu trabalho é reforçado pela presença de
areia e silte em suspensão;
Erosão glacial - é a erosão provocada pelas geleiras (tam-
bém chamadas de glaciares). Geleira de Briksda na Noruega.
Erosão eólica - É aquela decorrente da ação do vento. Ocor-
re em regiões áridas e secas, onde existe areia solta, capaz de
ser transportada pelo vento, que a joga contra as rochas, des-
gastando-as e dando origem, muitas vezes, a formas bizarras ou
AGENTES EXÓGENOS (EXTERNOS) as dunas;
O trabalho dos agentes internos do relevo é complementa- Deslizamentos - o desgaste provocado pelas águas da chuva
do ou modificado pela ação de agentes externos que desgastam, torna-se mais intenso com a inclinação do terreno e a falta de
destroem e constroem formas de relevo, modelando a superfí- vegetação.
cie da Terra. Os dois principais agentes externos são o intempe-
rismo e a erosão.
A radiação solar, juntamente com os fenômenos meteoro- SOLOS: PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO
lógicos, atua como um agente externo do relevo. O calor do sol
e as águas são os grandes modeladores das paisagens e fazem Solos
essa modelagem em toda a superfície criada por algum agente
interno. A radiação que vem do Sol faz com que haja o intempe- Formação dos solos
rismo físico das rochas, ou seja, elas se desagregam. Cada rocha e cada maciço rochoso se decompõem de uma
Já as águas, agem primeiramente com o intemperismo quí- forma própria. Porções mais fraturadas se decompõem mais in-
mico, que altera os minerais da rocha, transformando em mine- tensamente do que as partes maciças, e certos constituintes das
rais de solo, fazendo com que o relevo tome a forma que deve rochas são mais solúveis que outros6.
tomar, de acordo com à proporção que estes intemperismos As rochas que se dispõem em camadas, respondem ao in-
agem na Terra. temperismo de forma diferente para cada camada, resultando
Após o intemperismo agir, os processos erosivos começam numa alteração diferencial. O material decomposto pode ser
a acontecer, fazendo com que o relevo terrestre ganhe a sua transportado pela água, pelo vento, etc.
forma. Estes processos são fundamentais para deixar o relevo Os solos são misturas complexas de materiais inorgânicos e
mais aplainado, mais baixo, agindo concomitantemente com os resíduos orgânicos parcialmente decompostos. Para o homem
agentes endógenos. em geral, a formação do solo é um dos mais importantes produ-
Outra característica das forças externas é que elas podem tos do intemperismo.
agir por meio do Intemperismo e da Erosão. Os solos diferem grandemente de área para área, não só
Intemperismo em quantidade (espessura de camada), mais também qualitati-
O intemperismo é um conjunto de processos que causam a vamente.
decomposição ou a desintegração dos minerais que compõem Os agentes de intemperismo estão continuamente em ativi-
as rochas. É resultado da exposição contínua das rochas a agen- dade, alterando os solos e transformando as partículas em ou-
tes atmosféricos ou biológicos. Pode ser físico ou químico. tras cada vez menores. O solo propriamente dito é a parte supe-
rior do manto de intemperismo, assim, as partículas diminuem
Intemperismo físico de tamanho conforme se aproximam da superfície.
Consiste basicamente na desagregação da rocha, com se- Os fatores mais importantes na formação do solo são:
paração dos grãos minerais que a compõem e fragmentação da → ação de organismos vivos;
massa rochosa original. → rocha de origem;
Exemplos: Variações de temperatura – essas mudanças são → tempo (estágio de desintegração/decomposição);
particularmente acentuadas no ambiente desértico, que tem → clima adequado;
dias quentes e noites frias. → inclinação do terreno ou condições topográficas.
O congelamento da água - retida em uma fenda da rocha.
Classificação dos solos quanto à sua origem
Intemperismo químico Quanto à sua formação, podemos classificar os solos em
No intemperismo químico, as rochas se decompõem a partir três grupos principais: solos residuais, solos sedimentares e so-
de uma reação química ocorrida com o contato de elementos los orgânicos.
como o ar e a água. Os solos são resultado do intemperismo.
6 https://docente.ifrn.edu.br/johngurgel/disciplinas/2.2051.1v-mecanica-dos-
-solos-1/apostila%20de%20solos.pdf

11
GEOGRAFIA
Solos Residuais Região Nordeste
São os que permanecem no local da rocha de origem (rocha A Região Nordeste é a região com o maior número de esta-
mãe), observando-se uma gradual transição da superfície até a dos.
rocha.
Para que ocorram os solos residuais, é necessário que a ve-
locidade de decomposição de rocha seja maior que a velocidade
de remoção pelos agentes externos. Estando os solos residuais
apresentados em horizontes (camadas) com graus de intempe-
rismos decrescentes, podem-se identificar as seguintes cama-
das: solo residual maduro, saprolito e a rocha alterada.

Solos Sedimentares ou Transportados


São os que sofrem a ação de agentes transportadores, po-
dendo ser aluvionares (quando transportados pela água), eóli-
cos (vento), coluvionares (gravidade) e glaciares (geleiras).

Solos Orgânicos
São aqueles originados da decomposição e posterior apo-
drecimento de matérias orgânicas, sejam estas de natureza ve-
getal (plantas, raízes) ou animal. Os solos orgânicos são proble-
máticos para construção por serem muito compressíveis.
Em algumas formações de solos orgânicos ocorre uma im-
portante concentração de folhas e caules em processo de de-
composição, formando as turfas (matéria orgânica combustível) https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

Nove estados compõem a região Nordeste. Todos são ba-


REGIÕES BRASILEIRAS, MARCAS DO BRASIL EM TO- nhados pelo oceano Atlântico e também todas as capitais, com
DOS OS CANTOS. A DINÂMICA RELAÇÃO ENTRE OS exceção de Teresina, estão localizadas na área de costa.
COMPONENTES DAS REGIÕES. CRITÉRIOS DE DELIMI- Os estados apresentam inúmeros contrastes, que vão desde
TAÇÃO DE REGIÕES a diferença da área territorial até o número de habitantes de
cada unidade política.
Regiões Brasileiras7 Além disso, não esqueçamos que também fazem parte da
Regiões brasileiras correspondem às divisões do território região as ilhas oceânicas do distrito estadual de Fernando de
nacional com base em critérios, como aspectos naturais, sociais, Noronha e os penedos de São Pedro e São Paulo, ambos per-
culturais e econômicos. tencentes ao estado de Pernambuco, além da Reserva Biológica
O órgão responsável pela regionalização do Brasil é o Ins- Marinha do Atol das Rocas, como área do Rio Grande do Norte.
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide o Levando ainda em consideração a figura acima, que nos re-
país, atualmente, em cinco regiões: Nordeste, Norte, Centro- mete às unidades políticas da região Nordeste, acenamos para o
-Oeste, Sudeste e Sul. fato de praticamente todas as capitais nordestinas serem cida-
des litorâneas.
Isso acontece devido ao processo histórico de formação ter-
ritorial do nosso país, em que o modelo colonizador, baseado
em uma economia e em uma sociedade agrária exportadora,
com mão-de-obra escrava e voltada aos interesses da metrópo-
le e depois de centros econômicos e políticos mais influentes,
levou a uma dinâmica territorial que privilegiou as áreas lito-
râneas, propícias ao escoamento da produção e a uma maior
possibilidade de ligação com o exterior.
Apesar de tratar-se de uma região de enormes desafios,
destacam-se, em nível regional, as potencialidades naturais e
econômicas envolvendo atividades modernas, como o turismo,
o processo de industrialização, a fruticultura irrigada ou a extra-
ção de minérios como o petróleo e o gás natural.
São as novas bases técnicas, científicas, informacionais da
região, criando manchas de modernidade e ditando modernos
cenários de desenvolvimento. Resta saber se em consonância
com esse quadro haverá a diminuição das mazelas sociais e his-
tóricas da região.

7 http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fascicu-
los%20-%20Material/GEOGRAFIA%20REGIONAL%20DO%20BRASIL.pdf

12
GEOGRAFIA
Região Nordeste: grandes questões em debate

A desertificação
De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate
à Desertificação, o fenômeno da desertificação pode ser defini-
do como a “degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e
subúmidas secas, resultante de vários fatores, incluindo as va-
riações climáticas e as atividades humanas”.
Por “degradação da terra”, entende-se a degradação dos
solos, da fauna e flora e dos recursos hídricos, e como conse-
quência a redução da qualidade de vida da população humana
das áreas atingidas.
Estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente –
Ibama, a partir de imagens de satélite, permitiram identificar ini-
cialmente quatro núcleos de desertificação no Brasil com forte
comprometimento dos recursos naturais. São eles: Gilbués (PI),
Irauçuba (CE), Seridó (RN) e Cabrobó (PE), cuja área total é de
cerca de 15.000 km².
Região Nordeste e suas unidades políticas As principais causas da desertificação estão relacionadas ao
uso inapropriado dos recursos da terra, agravado pelas secas;
Contrastes de uma região: as sub-regiões nordestinas uso intensivo dos solos, tanto na agricultura moderna quanto na
O enorme desafio de analisar a região nordeste consiste, en- tradicional; pecuária extensiva; queimadas; desmatamento em
tre muitas razões, no fato de que tal região apresenta enormes áreas de preservação da vegetação nativa, margens de rios etc.
contrastes naturais e econômicos, o que levou à delimitação, e técnicas inapropriadas de irrigação e a mineração.
pelo IBGE, de quatro regiões geográficas, as chamadas sub-re- A ação combinada desses fatores naturais e antrópicos re-
giões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte. sultam em prejuízos de ordem:
No mapa a seguir, observe a espacialização dessas sub-re- → ambiental: erosão e salinização dos solos, perda de bio-
giões: diversidade, diminuição da disponibilidade e da qualidade dos
recursos hídricos;
→social: desestruturação familiar pela necessidade de emi-
grar para centros urbanos devido à perda da capacidade produ-
tiva da terra;
→econômica: queda na produtividade e produção agrícola,
redução da renda e do consumo da população, além da perda da
capacidade produtiva da sociedade, o que repercute diretamen-
te na arrecadação de impostos e na circulação de renda.

Sub-regiões Nordestinas

Em razão do clima, temos um Nordeste úmido – a Zona da


Mata, e um Nordeste semiárido – o Sertão. A passagem de uma
zona para outra forma duas zonas de transição: o Agreste, entre
a Zona da Mata e o sertão, e o Meio-Norte, entre o sertão e a
Amazônia.
As sub-regiões em estudo traduzem, assim, tanto as diver-
sificadas atividades econômicas responsáveis pelo processo de
ocupação histórica como também a dinâmica sociedade-natu-
reza, em que as características naturais se combinaram a esse
processo histórico, levando à apropriação e à transformação dos
recursos naturais regionais.
Assim, pelos contrastes que apresentam, podemos falar
nos ‘Nordestes’ da cana-de-açúcar, do cacau, da pecuária, do
babaçu, do algodão, do sal, e também do turismo, do petróleo,
da fruticultura irrigada, da soja, da indústria automobilística e
têxtil.

Região Nordeste: áreas de desertificação

13
GEOGRAFIA
A transposição do rio São Francisco O Projeto de Transposição do rio São Francisco objetiva desviar
O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, no município parte de suas águas por meio de dutos e canais para irrigar rios meno-
mineiro de São Roque de Minas, indo em direção à região Nor- res e açudes que secam durante a estiagem no semiárido nordestino.
deste. Após cruzar três estados dessa região, ele desemboca no A ideia original da transposição é do final do século XIX,
mar, na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas. idealizada pelo imperador D. Pedro II e estruturada na virada do
Em seu percurso, banha cinco estados: Minas Gerais, Bahia, século XX para o XXI. A transposição prevê dois eixos principais:
Pernambuco, Alagoas e Sergipe; no entanto, sua bacia hidro- o Eixo Norte captará água em Cabrobó (PE) para levá-la ao ser-
gráfica de 634 mil km² alcança também o estado de Goiás e o tão de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Distrito Federal. Por isso, o rio é chamado de Rio da Integração O Eixo Leste vai colher as águas em um ponto mais abaixo,
Nacional. em Petrolândia (PE), beneficiando o sertão e o agreste de Per-
Pela sua diversidade climática, extensão e características nambuco e da Paraíba. Mas, transpor as águas do Rio São Fran-
topográficas, a bacia é dividida em quatro regiões: Alto, Médio, cisco não é uma ação consensual.
Submédio e Baixo São Francisco. Nelas, podem ser caracteriza- Inicialmente, a favor da realização da obra estavam os esta-
das três zonas biogeográficas distintas: a mata, a caatinga e os dos do CE, PE, PB e RN, argumentando que o rio beneficiaria a
cerrados. população que vive na porção semiárida de tais estados. Contra
A exploração econômica da bacia hidrográfica do rio São a execução da obra, os estados de MG, SE, AL e BA, por temerem
Francisco começou no século XVI, com a plantação de cana-de- que a obra reduziria a água que irriga seus municípios, prejudi-
-açúcar no Baixo São Francisco, a pecuária no agreste e sertão e cando a geração de energia elétrica e afetando os produtores
a extração mineral no Alto São Francisco. agrícolas da região.
A revitalização do rio São Francisco, na perspectiva ambien-
tal, tem sido colocada como condição para qualquer ação refe-
rente às obras de engenharia de transposição.

Região Norte
A Região Norte é a maior região em extensão territorial.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

Localização da bacia do São Francisco Quando falamos em região Norte, certamente nos reporta-
mos ao rio Amazonas, à floresta Amazônica, às inúmeras nações
Ao longo de sua extensão, o São Francisco recebe a água de indígenas que ali ainda vivem, às casas de madeira suspensas,
168 rios afluentes, dos quais 90 são perenes e os 78 restantes chamadas palafitas, ou à infinidade de espécies animais e vege-
são intermitentes. Seu fluxo é interrompido por duas barragens tais presentes nos rios e matas da região.
para a geração de eletricidade: a de Sobradinho e a represa de Essa também é uma área de riquezas minerais, como o ferro e
Itaparica, ambas na divisa entre os estados da Bahia e de Per- o ouro; de produtos eletrônicos, como aqueles produzidos na Zona
nambuco. Franca de Manaus; e de preocupantes impasses e conflitos entre di-
Além de produzir energia, as águas do rio São Francisco são ferentes grupos, como índios e madeireiros, caboclos e fazendeiros.
utilizadas na agricultura irrigada no cultivo de frutas (uva, man- Em termos de unidades políticas, a região Nordeste possui
ga e outras) e de grãos como soja, milho e arroz. Portanto, um nove estados, em detrimento dos sete que formam a região Nor-
rio gerador de riquezas em alguns estados que são receptores te, mas comparando a área territorial das duas regiões, percebe-
de suas águas. mos que enquanto a primeira (Nordeste) abrange 1.554.257,00
km², a segunda (Norte) possui 3.853.328,229 km², numa de-
monstração da grandiosidade das terras nortistas.

14
GEOGRAFIA
No entanto, mesmo tendo uma área territorial significativa, No entanto, indo além do conceito de Amazônia enquanto
a região Norte apresenta uma reduzida população absoluta e região natural, precisamos de outras análises de entendimen-
relativa, com baixa densidade demográfica, fundamentando a to sobre a realidade contemporânea da área. Sabemos que, do
ideia de que a região possui verdadeiros vazios demográficos, ou ponto de vista do Estado contemporâneo, o exercício da sobera-
seja, áreas ainda pouco habitadas. nia exige a apropriação nacional do território.
Com relação aos aspectos qualitativos, chama a atenção o As áreas pouco povoadas e caracterizadas pelo predomí-
fato de que apesar de uma menor expressividade econômica, nio de paisagens naturais, especialmente quando adjacentes às
a região Norte apresenta melhores indicadores sociais no que fronteiras políticas, são consideradas espaços de soberania for-
tange à mortalidade infantil e à taxa de analfabetismo, o que mal, mas não efetiva.
repercute no seu IDH, melhor posicionado que a outra região em A consolidação do poder do Estado sobre tais espaços so-
estudo. Ainda assim, esses indicadores são preocupantes, num licita a sua “conquista”: povoamento, crescimento econômico,
alerta de que encaminhamentos são necessários para minimizar desenvolvimento de uma rede urbana, implantação de redes de
ou solucionar os problemas presentes nas duas regiões. transportes e comunicações. O empreendimento de “conquista”
envolve, portanto, um conjunto de políticas territoriais.
Pensemos agora a região Norte em termos espaciais. E para Dentre essas políticas, podemos destacar, no Brasil, a cria-
isso observe a figura a seguir, que apresenta as unidades políti- ção da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – Su-
cas que a compõem. dam. Tal órgão delimita, para fins de planejamento e políticas
públicas, a chamada Amazônia Legal.
Veja como isso ocorreu. O planejamento regional na Amazô-
nia foi deflagrado em 1953, com a criação da Superintendência
do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA).
Com a SPVEA, foi instituída a Amazônia Brasileira, que cor-
respondia à porção da Amazônia Internacional localizada em
território brasileiro. Não era, contudo, uma região natural, mas
uma região de planejamento, pois a sua delimitação decorria de
um ato de vontade política do Estado.
As regiões naturais são limitadas por fronteiras zonais, ou
seja, por faixas de transição entre ecossistemas contíguos. As
regiões de planejamento, ao contrário, são delimitadas por fron-
teiras lineares, que definem rigorosamente a área de exercício
das competências administrativas.
Em 1966, o SPVEA era extinto e, no seu lugar, criava-se a
Sudam. Essa superintendência, por meio de lei, redefiniu a Ama-
zônia Brasileira, que passava a se denominar Amazônia Legal.
A região de planejamento perfaz uma superfície de 5,2 mi-
Região Norte e suas unidades políticas lhões de quilômetros quadrados, ou cerca de 61% do território
nacional. E essa seria a sua área de atuação compreendida por
Temos a rica biodiversidade e abundante indústria extrativa todos os estados da região Norte, o oeste do Maranhão e a por-
mineral da área. Culminando então com os dilemas econômicos ção norte do estado de Mato Grosso.
e ecológicos presentes na região. A Amazônia é um dos últimos
grandes e ricos espaços pouco povoados do planeta e a grande
reserva territorial da sociedade brasileira, mas a biodiversidade
e o delicado equilíbrio ecológico regionais tornam o seu desen-
volvimento uma incógnita e um desafio às ciências mundial e
nacional.
A Amazônia é parte do Brasil, e seus problemas decorrem
das contradições intrínsecas ao modo de inserção do país no
sistema capitalista mundial e à acelerada reorganização da so-
ciedade brasileira, embora com feições particulares devido às
especificidades regionais.

Amazônia
Destacamos inicialmente que o ecossistema da floresta
equatorial – associado aos climas quentes e úmidos e assenta-
do, na sua maior parte, no interior da bacia fluvial amazônica –
permite delimitar uma região natural. Essa região é a Amazônia.
Uma área internacional, que abrange cerca de 6,5 milhões
de quilômetros quadrados em terras de nove países – Brasil, Bo-
lívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e
Guiana Francesa, ocupando uma área total de 6,5 milhões de
quilômetros quadrados, dos quais mais de 5 milhões no Brasil.

15
GEOGRAFIA
Região Centro-Oeste
A Região Centro-Oeste é a região que faz limitação com to-
das as outras regiões.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm
Região Centro-Oeste e suas unidades políticas
O Cerrado é um tipo de vegetação da região Centro-Oeste,
sendo a soja e o algodão na atualidade importantes produtos Outra peculiaridade desta região é que ela faz fronteira com
agrícolas. dois países sul-americanos, Bolívia e Paraguai. Como consequên-
Também se destaca a savana, visto que é o tipo de vegeta- cia, temos áreas de conflitos entre diferentes países, ocasionan-
ção que caracteriza o próprio Cerrado, denominado Savana Bra- do questões econômicas, geopolíticas e de segurança nacional,
sileira. Além disso, destaca-se o Pantanal como um ecossistema como o uso dos recursos naturais, a possibilidade de migrações
local e, delimitando-se com outros países latino-americanos. clandestinas, de escoamento e tráfico de drogas e mercadorias
Sendo uma região estratégica de fronteira do país na atua- roubadas entre os países, o que requer, por parte dos governos
lidade, a região Centro-Oeste é compreendida pelas seguintes locais, e não apenas do brasileiro, a vigilância e a segurança da
unidades políticas: três estados – Goiás, Mato Grosso e Mato área.
Grosso do Sul – e um Distrito Federal (Brasília). Temos, então, uma realidade complexa, pontuada por po-
Mesmo tendo uma área territorial significativa, a região tencialidades e desafios empreendidos por diferentes atores en-
Centro-Oeste apresenta uma população absoluta mais baixa que volvidos no processo de produção do espaço na referida região.
as duas primeiras.
Pensemos agora a região Centro-Oeste em termos espa- O Cerrado e o Pantanal
ciais. Para isso, observe a figura abaixo, que apresenta as unida- A maior parte do território do Centro-Oeste é ocupada pelo
des políticas que a compõem. cerrado – uma formação vegetal típica do clima tropical conti-
nental. São árvores de pequeno porte, de 2 a 3 metros de altura,
com troncos de casca grossa retorcidos, folhas duras e raízes
profundas, capazes de extrair a água do subsolo.
Entre essas árvores surge uma vegetação de gramíneas, que
é utilizada para pastagem. O aspecto do cerrado é semelhante
ao da savana da África.
A vegetação do Centro-Oeste começou a ser alterada prin-
cipalmente para dar lugar a projetos agropecuários. Na atuali-
dade, há reduzidos agrupamentos florestais e vegetação des-
caracterizada pela ação humana, sobretudo pelas sucessivas
queimadas.
Depois de ser praticamente dizimado por pragas em meados
da década de 90, a cultura do algodão voltou a ser um dos prin-
cipais itens na nossa pauta de exportação, seguindo a trilha da
soja e da cana-de-açúcar. De acordo com a Companhia Nacional
de Abastecimento, as lavouras da fibra já ocupam um milhão
de hectares e um terço terá como destino o mercado externo.
E estes importantes produtos agrícolas estão ocupando grande
parte da área de cerrado, levando a um processo de desmata-
mento e desequilíbrio ecológico na área.

16
GEOGRAFIA
Para frisarmos o problema, convém destacar que o estado Daí, termos que compreender a sua importância no proces-
do Mato Grosso é o maior produtor de algodão e soja do país e so de produção do espaço nacional, a partir do seu poder de
enfrenta, então, o desafio de manter a economia e, ao mesmo polarização e influência em todo o território do país, bem como
tempo, garantir a preservação de suas terras, que integram o suas relações com as demais Macrorregiões nacionais.
cerrado e também a Floresta Amazônica (metade do estado). Podemos notar que, em termos de divisão política, a região
Atualmente, a integração destas duas regiões é uma realida- Sudeste possui quatro unidades políticas, como a região Cen-
de, e se dá tanto econômica quanto ambientalmente, tanto em tro-Oeste, em detrimento do maior número de unidades das re-
ganhos quanto em perdas. Por isso, a realidade das duas regiões giões Norte e Nordeste.
e seus principais dilemas são hoje questões inseparáveis. A densidade demográfica da região Sudeste é extremamen-
te alta se comparada com as demais regiões do país.
Na área do Pantanal, encontra-se a vegetação do Pantanal
ou Complexo do Pantanal. De aspecto variado, em alguns luga-
res apresenta uma mata densa; em outros, sua aparência é de
campos limpos, com grande valor para a pecuária; em outros,
ainda lembra o cerrado.
Essa variedade está relacionada à maior ou menor umidade
resultante das inundações anuais de suas áreas.
Trata-se de uma imensa planície cercada de terras mais ele-
vadas, como as serras de Maracaju, da Bodoquema e da Amolar.
As águas dessas áreas mais elevadas são drenadas para esta pla-
nície pelo rio Paraguai e seus afluentes, os rios Cuiabá, Taquari
e Miranda.
Quase 100.000 km² do Pantanal ficam parcialmente inunda-
dos durante o período das chuvas. Nas áreas livres de inundação
são instaladas as sedes das fazendas de gado.
A exploração agrícola e pecuária também pode prejudicar
esse ecossistema. As queimadas para limpar a terra e plantar o
pasto para a criação de gado e o desmatamento nas cabeceiras
dos rios desregulam os regimes de cheias e secas, alterando o
ambiente. O Sudeste não faz fronteira com nenhum país latino-ameri-
cano, possui duas capitais litorâneas e duas interioranas, e ape-
Região Sudeste nas um de seus estados não tem saída para o mar.
A Região Sudeste é a região brasileira mais desenvolvida. Em termos de crescimento populacional, notamos que a re-
gião Sudeste apresenta um dos baixos índices, tendo um percen-
tual maior apenas que a região Nordeste. Tal fato pode ser ex-
plicado pela crescente e contemporânea dinâmica verificada nas
regiões Norte e Centro Oeste, áreas de expansão econômica.
Em relação aos demais dados, notamos que a região em
estudo apresenta melhores índices que as demais, o que em
termos de dados qualitativos exprime a possibilidade de a área
oferecer uma melhor qualidade de vida a sua população.
Como sabemos que tais indicadores se referem a médias
estatísticas, esses são dados que não conseguem revelar o dra-
ma social de parcelas da população da região e de suas grandes
cidades porque ocultam o intenso processo de concentração da
renda.
Mas, o que salta aos olhos, com certeza, é a participação da
região na constituição do PIB nacional, demonstrando o peso e
a dinâmica da sua economia, o que, consequentemente, explica
a capacidade de polarização dessa região em relação às demais
do país.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

O Sudeste é a Macrorregião mais populosa, povoada, ur-


banizada, industrializada, desenvolvida econômica e tecnologi-
camente, sediando empresas e instituições de pesquisa que a
ajudam a ser definida como centro econômico e tecnológico do
país.

17
GEOGRAFIA
Região Sul
A Região Sul é a que apresenta características mais diversas em relação às outras regiões brasileiras.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

Podemos notar que, em termos de divisão política, a região Sul possui apenas três estados, sendo a Macrorregião de menor
número de unidades políticas do país.
Comparando a área territorial das cinco regiões, percebemos que, dentre as cinco, o Sul ocupa a de menor extensão territorial.
Por outro lado, em termos de população absoluta, essa região ocupa o terceiro lugar frente às demais Macrorregiões. Tal fato
demonstra que mesmo não tendo uma área territorial significativa – é a menor Macrorregião do país – o Sul apresenta uma popu-
lação absoluta mais alta que duas regiões. Ou seja, a densidade demográfica da região Sul é elevada.
Pensemos, agora, a região Sul em termos espaciais. Para isso, observe a figura a seguir, que apresenta as unidades políticas que
a compõem.

Região Sul e suas unidades políticas

A Região Sul faz fronteira com três países latino-americanos: Paraguai, Argentina e Uruguai; possui duas capitais litorâneas,
Florianópolis e Porto Alegre, e uma interiorana, Curitiba, e todos os seus estados têm saída para o mar.

18
GEOGRAFIA
Tais fatos têm repercussão na constituição da realidade da região, visto que, por exemplo, a área de fronteira é uma impor-
tante área estratégica para o país, envolvendo o uso de recursos naturais por diferentes países.
Além disso, o fato de todos os estados serem litorâneos, em comunhão com o processo histórico de desenvolvimento da área,
torna a costa uma importante área de escoamento da produção econômica da região e do próprio país, com a construção de des-
tacados portos, como atesta a figura a seguir.

Principais portos da região Sul

A atividade portuária da região Sul é de grande importância para o país. A região é o canal, a porta de entrada de circulação e
de comércio do Brasil com os demais países do bloco econômico do MERCOSUL.
A região Sul certamente destaca-se dentre as demais, pois ela ocupa uma posição de ponta em todos os indicadores. Ora, a re-
gião Sul é a que apresenta o menor crescimento demográfico do país e também a menor taxa de mortalidade e de analfabetismo.
Se compararmos com a região Nordeste, a mortalidade infantil na região é o dobro da região Sul, e o analfabetismo na região
Nordeste é três vezes maior que na região Sul. Quanto ao índice de desenvolvimento humano, a região Sul apresenta o melhor
índice dentre as demais regiões; por último, em relação ao PIB, a região ocupa a segunda posição dentre cinco regiões.
Ou seja, analisando o conjunto, a região Sul realmente possui bons indicadores sociais e demográficos.

Recursos naturais e geração de energia elétrica


Na região Sul, o Brasil perde suas características de tropicalidade e apresenta uma paisagem diferenciada, como a Mata de
Araucárias e a Campanha Gaúcha.
Tais coberturas vegetais estão atreladas às características climáticas da região. Isso porque as condições naturais são mar-
cadas, dentre outros fatores, pelas médias latitudes da área, provocando a incidência do clima subtropical, com estações do ano
bem mais definidas que as demais regiões do país, verões quentes, invernos mais frios e chuvas constantes durante todo o ano.
Tal fator climático, a latitude, aliado às altas altitudes presentes na área, bem como à influência da massa polar atlântica
durante o inverno, provoca quedas acentuadas da temperatura em determinados municípios, com possibilidade de geada e neve,
como em São Joaquim, no estado de Santa Catarina, que fica a 1.360 m de altitude.
Somado a essas características do relevo, temos o elevado índice pluviométrico anual e densas bacias hidrográficas na região.
A bacia hidrográfica Platina é formada pela junção de três rios: o Paraná, o Paraguai e o Uruguai, que drenam terras do Brasil,
Paraguai, Argentina e Uruguai; quando os três rios se juntam, formam o rio da Prata, desaguando próximo a Buenos Aires, na Ar-
gentina. Desses, apenas o Paraguai não atravessa a região Sul, conforme nos mostra o mapa a seguir.

19
GEOGRAFIA

REGIÕES DO ESPÍRITO SANTO

Mapa do Espírito Santo

Divisão geográfica do Espírito Santo


Até o ano de 2017, o IBGE dividia o Espírito Santo em qua-
Bacias hidrográficas do Brasil, com destaque para a Bacia tro mesorregiões, as quais eram compostas por microrregiões
Platina formadas por um conjunto de municípios, conforme listamos
A hidrografia da região Sul caracteriza-se, dentre outros fa- abaixo.
tores, por possuir rios de planalto, com grandes desníveis e que-
das d’águas acentuadas em seu percurso. Tal fato possibilita a Noroeste Espírito-Santense
geração de energia hidrelétrica na região, principalmente no rio • Barra de São Francisco
Paraná e em seu afluente, o rio Iguaçu. • Nova Venécia
O rio Iguaçu é um importante afluente do rio Paraná, e o • Colatina
local onde eles se juntam ficou conhecido como Foz do Iguaçu,
sendo essa uma denominação também do município e do par- Litoral Norte Espírito-Santense
que ecológico local. • Montanha
Pois bem, essa área também ficou conhecida como Tríplice • São Mateus
Fronteira por delimitar terras do Brasil, Paraguai e Argentina. • Linhares
Destaca-se também a enorme represa da Usina Hidrelétrica de
Itaipu, no rio Paraná. Central Espírito-Santense
Os grandes desníveis dos rios dessa área são responsáveis • Afonso Cláudio
pelo espetáculo das quedas d’água conhecidas como Cataratas • Santa Teresa
do Iguaçu. Mas, antes da construção da usina de Itaipu, tam- • Vitória
bém outras quedas eram famosas na região: as Sete Quedas, • Guarapari
por exemplo, no rio Paraná, que foram cobertas pelas águas da
represa de Itaipu. Sul Espírito-Santense
• Alegre
• Cachoeiro do Itapemirim
• Itapemirim

Desde 2018, o IBGE adota a subdivisão por Regiões Geográ-


ficas Intermediárias e Imediatas.

O Espírito Santo se divide em quatro regiões intermediárias


e suas respectivas regiões imediatas:

Vitória (Vitória, Afonso Cláudio, Venda Nova do Imigrante e


Santa Maria de Jetibá);

• São Mateus (São Mateus e Linhares);


• Colatina (Colatina e Nova Venécia);
• Cachoeiro do Itapemirim (Cachoeiro do Itapemirim e Ale-
gre).

20
GEOGRAFIA
Grandes conjuntos de países
REGIÕES MUNDIAIS: GEOPOLÍTICAS, ECONÔMICAS Muitos países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra
Mundial, passaram a investir na indústria, ficando conhecidos
Globalização e Cultura Mundial como países em desenvolvimento. Como a Primeira Revolução
Globalização é um conjunto de transformações na ordem Industrial ocorreu no século XVIII e a Segunda Revolução Indus-
política e econômica mundial visíveis desde o final do século XX. trial no século XIX, esse processo é considerado industrialização
Trata-se de um fenômeno que criou pontos em comum na ver- tardia ou retardatária.
tente econômica, social, cultural e política, e que consequente- É o caso do Brasil, México, Argentina e Tigres Asiáticos (Co-
mente tornou o mundo interligado8. reia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, na China).
O processo de globalização é a forma como os mercados Os países ricos e pobres já receberam diversas denomina-
de diferentes países interagem e aproximam pessoas e merca- ções. Uma delas, a partir da década de 1980, refere-se à localiza-
dorias. A quebra de fronteiras gerou uma expansão capitalista ção geográfica. Os mais desenvolvidos passaram a ser chamados
onde foi possível realizar transações financeiras e expandir os de países do Norte, pois na sua maior parte encontram-se no
negócios, até então restritos ao mercado interno, para merca- hemisfério norte.
dos distantes e com as inovações nas áreas das telecomunicações Os subdesenvolvidos, localizados majoritariamente no he-
e da informática (especialmente com a Internet) as distâncias se misfério sul, ficaram conhecidos como países do Sul.
tornaram relativas e a construção de uma “aldeia global” foi se Mais recentemente, com a expansão e a internacionaliza-
tornando uma realidade. ção dos mercados, os países foram divididos em países centrais,
O surgimento dos blocos econômicos e o enfraquecimento do mercados emergentes (ou semiperiféricos) e países periféricos.
poder de alguns governos nacionais foi resultado desse processo Em parte dos países subdesenvolvidos (Brasil, México e Ar-
de integração que aumenta a competitividade e reduz a soberania gentina), o processo de industrialização apoiou-se no modelo de
dos Estados. O impacto exercido pela globalização no mercado de substituição de importações, que incluía a proteção do mercado
trabalho, no comércio internacional, na liberdade de movimenta- interno, a proibição da entrada de manufaturados estrangeiros
ção e na qualidade de vida da população varia a intensidade de e o fortalecimento de indústrias locais (nacionais e transnacio-
acordo com o nível de desenvolvimento das nações. nais).
Existem duas faces do processo de globalização: uma cultu- Outros países, como os Tigres Asiáticos, industrializaram- se
ral, que impõe um modo de vida baseado em hábitos e costumes a partir do modelo de plataformas de exportação, no qual em-
ocidentais, ou o chamado “american way of life” (modo de vida presas transnacionais se instalam no país e passam a exportar
norte-americano), o qual é a base da sociedade capitalista ou sua produção para outros países, onde o produto final é mon-
sociedade de consumo e tende a tornar o hábito de comprar tado.
em uma necessidade social, tornando mais fácil a massificação a
outra face do processo, a econômica. Geopolítica e a Velha Ordem Mundial. Geopolítica e a Nova
Ordem Mundial
Inserção desigual dos países na economia mundial
Avanço dos meios de comunicação (internet, imagens de
Os países não se inserem na economia mundial da mesma
satélite, televisivas, entre outros), aumento do fluxo de merca-
maneira. O atraso econômico de muitos países é resultado de
dorias, pessoas, culturas e informações entre os países do globo,
um processo histórico. O crescimento econômico das nações
conflitos étnico-raciais, terrorismo, acordos econômicos e crises
nos últimos séculos se confunde com a própria história do de-
financeiras são características típicas de nosso mundo atual, a
senvolvimento do capitalismo, que desde o século XVI estabele-
Globalização9.
ceu uma divisão internacional do trabalho.
Os países dominantes ficavam com a maior parte da riqueza
A Velha Ordem da Guerra Fria
produzida, enquanto as colônias tinham a função de contribuir
Entre os anos de 1945 e 1991 o mundo estava em dispu-
para a acumulação de capital nas metrópoles.
A economia capitalista se desenvolveu concentrando rique- ta, de forma geral, por duas concepções políticas e econômicas
za e poder nas mãos das elites, principalmente das potências distintas de organização da sociedade global: o Capitalismo e o
dominantes, criando em contrapartida regiões pouco desen- Socialismo.
volvidas economicamente e pouco industrializadas, chamadas Podemos dizer que nesse período o mundo era bipolar, e
a partir da segunda metade do século XX de subdesenvolvidas. dividido em três mundos: O Primeiro Mundo, os países capita-
Esse termo tem sido questionado, pois a maior parte dos listas ricos, o Segundo Mundo, os países socialistas e o Terceiro
países chamados de subdesenvolvidos esteve durante muito Mundo, os países pobres sendo disputados pelos dois primeiros
tempo na condição de colônia, e a exploração de seus recursos mundos.
naturais e humanos impediu o seu crescimento econômico e seu
desenvolvimento social. Ou seja, dentro de um mesmo proces-
so, o crescimento econômico de uns foi conseguido em detri-
mento de outros.
Podemos dizer que as desigualdades econômicas e sociais di-
videm o mundo em dois grandes grupos: o dos países ricos, mais
industrializados, desenvolvidos, com menores problemas sociais,
e o dos países pobres, menos industrializados, que contam com
inúmeros problemas sociais, incluindo enorme quantidade de
pessoas que vivem em precárias condições de vida. Esses grupos
não são homogêneos, apresentando grandes diferenças 9 http://proedu.rnp.br/bitstream/handle/123456789/472/2a_Disciplina_-_
8 https://www.mundoedu.com.br/uploads/pdf/53ec0ca1c85da.pdf Geografia_II.pdf?sequence=1&isAllowed=y

21
GEOGRAFIA
Vejamos o mapa a seguir: Mas, as duas concepções de mundo idealizadas pelos ca-
pitalistas e socialistas não projetavam na realidade as suas
promessas políticas e econômicas; em ambos os lados haviam
desigualdades sociais, ditaduras, conflitos de resistência aos
sistemas, ambientes carregados de perversidades. Em 1989 os
alemães do lado oriental resolveram derrubar o Muro de Berlim,
o que para muitos historiadores esse momento representava o
fim da Guerra Fria.
Em 1991, a Rússia se tornava independente, e o Socialismo
real foi deixando de existir enquanto regime político na Europa
Ocidental, mantendo-se até hoje em poucos países, como China
e Cuba.

A Nova Ordem Mundial – a Globalização


Projeção – Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos no período Com o fim do segundo mundo e a ascensão do capitalismo,
da Guerra Fria os países se dividiram em apenas duas realidades, a dos países
do Norte (Ricos) – também conhecidos como desenvolvidos, ou
No lado capitalista, a representação máxima eram os Esta- países de Centro - e dos Países do Sul (Pobres) – também conhe-
dos Unidos da América (EUA), que vendiam a imagem de um cidos como Subdesenvolvidos ou países Periféricos.
mundo permeado pela liberdade de consumo e expressão, da A nova ordem mundial, também conhecida como Globaliza-
possibilidade do comércio e do desenvolvimento econômico e ção ou Mundialização, passou a se caracterizar, sobretudo, pelo
tecnológico, tinham como uma área estratégica de influência, a poder econômico e tecnológico de alguns países sobre outros,
Europa Ocidental e a maior parte da América Latina. pelo avanço dos sistemas de informações e de comunicação,
Já do lado socialista, a representação máxima era a União pela ampliação do fluxo de mercadorias e pessoas, pelo abismo
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), constituída por um socioeconômico entre ricos e pobres, por uma maior atuação
conjunto de países da Europa Oriental, alguns da Ásia e Cuba, na de organismos internacionais ligados à Organização das Nações
América Latina. No socialismo real, se disseminavam as ideias de Unidas, entre outros.
um mundo sem desigualdades sociais, onde todos poderiam ter
as mesmas chances profissionais e as mesmas condições mate- Vejamos a projeção a seguir:
riais de sobrevivência.
O sistema capitalista já não era uma novidade para as socie-
dades no mundo, pois a lógica urbano-industrial e os ideais de
ampliação dos comércios já haviam se espalhado pelo mundo.
Já com relação ao socialismo (ou comunismo, como alguns
preferem chamar) tem sua teoria escrita no século XIX com os
pensadores Marx e Engels, porém, na prática, o regime de so-
cialismo real é instituído no sistema do Estado com a Revolução
Russa de 1917 e o nascimento do Partido Comunista (com sede
em Moscou), que passou a centralizar o poder político e econô-
mico de gestão do país se contrapondo aos efeitos negativos do
capitalismo da Rússia nesse período.
Na realidade vivida do mundo Bipolar, este passou a receber
influências culturais, políticas e econômicas dessas duas grandes
potências e seus ideais.
Acordos econômicos, políticos, conflitos na América Latina Divisão – Países do Norte (Ricos) e Países do Sul (Pobres)
(crise dos mísseis em Cuba, revolta popular na Nicarágua, Dita-
duras Militares, entre outros), na África (corrida pela indepen- Vivemos a Globalização por meio de inúmeras situações e
dência dos países africanos), na Ásia (Guerra do Vietnã, Conflitos fenômenos, quando nos conectamos à internet somos capazes
entre Irã, Iraque e Kuwait, Revolução Cultural na China, conflito de conversar com pessoas que estão do outro lado do mundo
Árabe-Israelense, entre outros), são importantes marcas desse em tempo real, podemos conhecer as diferentes realidades e
período. Militarmente, existiu uma corrida armamentista tão culturas do mundo.
grande que bombas nucleares foram se espalhando em diversas No noticiário, podemos visualizar fenômenos políticos e eco-
partes do mundo, chegando a provocar um “equilíbrio do ter- nômicos com muita precisão, no comércio, as múltiplas marcas
ror” – a explosão dessas bombas poderia acabar com o planeta. dos produtos nos chamam a atenção para serem consumidos,
entre outras situações. Porém, devemos considerar que nesse
A representação mais conhecida dessa época era o Muro de mundo de fábulas, apresentado por nós, há perversidades, tais
Berlim (1961), que dividiu a Alemanha em República Democrá- como a exploração da natureza e de mão de obra, realidades de
tica Alemã (RDA), o lado socialista e também conhecido como miséria, guerras e fome.
Alemanha Oriental; e a República Federal da Alemanha (RFA), o
lado capitalista, também conhecido como Alemanha Ocidental.
Cabe dizer que toda a Europa estava dividida em Ocidental (ca-
pitalista) e Oriental (socialista).

22
GEOGRAFIA
Globalização e Neoliberalismo. Integração Regional ou Formação de Blocos Econômicos

As Organizações Internacionais
Podemos dizer que uma organização internacional é como uma associação, geralmente formada por representantes políticos
de direito internacional, a exemplo dos Estados Nacionais10.
Essas organizações possuem objetivos. São compostas por um corpo de profissionais e uma legislação que a regulamenta. Elas
adquirem um poder de atuação e uma personalidade internacional, muitas vezes, independente das representações políticas que
a compõem.
Suas ações visam unicamente alcançar os objetivos traçados e outorgados por seus membros em um dado momento histórico.
São exemplos clássicos de organizações internacionais: a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Co-
mércio (OMC), a União Europeia (UE), o Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL), Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV),
a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), entre outros.

Os Blocos Econômicos
Com a ascensão do sistema capitalista na Globalização, os países, objetivando ampliar o fluxo de mercadorias, buscaram facili-
tar negociações e consolidar a sociedade do consumo, passaram a se organizar em Blocos Econômicos.
Podemos classificar os Blocos Econômicos de três formas: Zona de Livre Comércio, União Aduaneira e Mercado Comum.
Vejamos a tabela a seguir:

Entre os principais blocos estão: o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), a União Europeia (UE), o Mercado
Comum do Cone-Sul (MERCOSUL).
Existem blocos econômicos na África e na Ásia, como a Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento (SADC) e a
Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) ou a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC).
Vamos apreciar o mapa a seguir:

Mapa Mundo - localização dos principais Blocos Econômicos

A União Europeia
A União Europeia é composta, atualmente, por 27 países da Europa, mas vem sendo constituída desde 1957 quando era conhe-
cida como Comunidade Econômica Europeia. Entre os seus objetivos estão: o aumento do fluxo de mercadorias e serviços entre os
países-membros, a criação de uma política de segurança única, o estabelecimento de uma cidadania europeia e a existência de uma
moeda única, o Euro.
Os principais órgãos de decisão política e econômica deste Mercado Comum são: a Comissão Europeia, o Conselho da União, o
Parlamento Europeu e o Banco Central Europeu.

10 http://proedu.rnp.br/bitstream/handle/123456789/472/2a_Disciplina_-_Geografia_II.pdf?sequence=1&isAllowed=y

23
GEOGRAFIA
O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) derar os emergentes como uma subcategoria que faz parte do
O Nafta é nada mais, nada menos, que uma Área de Livre mundo subdesenvolvido, tendo em vista que esses países ainda
Comércio entre México, EUA e Canadá. Entrou em vigor em 1994 apresentam níveis sociais e de distribuição de renda limitados,
e não pretende aprofundar a sua integração, como fez a União com elevada pobreza e falta de recursos em muitas áreas da so-
Europeia. ciedade, como educação e saúde.
Pesquisadores e estudiosos da economia e das ciências so- Em 2001, o economista inglês Jim O’Neil criou o termo
ciais afirmam que a formação deste bloco foi boa apenas para os “BRIC” para referir-se aos quatro principais países emergentes
EUA, que transferiram grande parte de suas empresas às cidades que apresentavam elevadas potencialidades econômicas, com
do norte do México (as indústrias maquiladoras) para usufruir acentuados crescimentos vindouros e melhorias em seus índices
da flexibilização de leis (trabalhistas, ambientais, entre outros) e financeiros, previsões que se concretizaram pelo menos nos dez
da mão de obra barata, ampliando ainda mais as desigualdades anos seguintes.
sociais na região. No acordo inicial, a criação de empregos para Assim, esses países resolveram adotar o termo como uma
os mexicanos era uma meta a ser alcançada pelo bloco. forma de relação diplomática informal, alterando, inclusive, a
sigla para BRICS, com a inclusão da África do Sul, que também
O Bloco dos G-8 e dos G20 pode ser considerada uma economia emergente, porém de me-
O grupo denominado G-8 é composto pelos oito países mais nor porte em relação aos demais países desse acrônimo. Os BRI-
industrializados do mundo. Nasceu em 1975 quando era com- CS são, atualmente, importantes atores nos cenários econômi-
posto, apenas, por Alemanha, França, EUA, Japão e Inglaterra. cos e políticos mundiais.
Nos anos de 1980, agregaram ao grupo o Canadá e a Itália e, nos Os países do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
anos de 1990, a Rússia.
É importante saber que esses países se reúnem ao menos
três vezes ao ano e nessas reuniões elaboram e reelaboram es-
tratégias e diretrizes econômicas para o mundo. Atualmente,
eles também discutem questões referentes ao combate a dro-
gas, apoio à implementação de regimes políticos democráticos,
entre outros assuntos.
O bloco dos G-20 foi criado recentemente, em 1999, e in-
clui junto das decisões políticas e econômicas globais, os países
emergentes (como Brasil, México, Argentina, África do Sul, Ín-
dia, Arábia Saudita, entre outros), que recentemente passou a
ser G-22.
Mantém uma série de características do bloco dos G-8 e ain-
da realça políticas neoliberais como privatizações, condições de
mercado de trabalho flexíveis, entre outros. Alguns pesquisado-
res e analistas políticos consideram a criação do referido bloco,
embora contraditório, muito bom para os países em desenvolvi-
mento, uma vez que insere esses países no campo das decisões
internacionais.

Países Emergentes e Importância dos BRICS


Não há, no âmbito da economia mundial, uma definição to-
talmente aceita sobre o que seriam as economias emergentes. https://alunosonline.uol.com.br/geografia/bric.html
De modo geral, são considerados emergentes aqueles países
subdesenvolvidos que apresentam quadros de crescimento eco- Apesar das oscilações econômicas que esses países sofre-
nômico prósperos e características socioeconômicas que dife- ram, sobretudo durante a crise financeira internacional, pode-se
renciam esses países das demais economias periféricas. dizer que os BRICS lideram atualmente os países emergentes e,
O termo foi primeiramente utilizado pelo Banco Mundial na claro, as demais nações subdesenvolvidas.
década de 1980 e, desde então, passou a incorporar os jargões Isso ocorre porque, além da economia dinâmica, esses paí-
econômicos e os noticiários de todo o mundo11. ses possuem uma elevada força política, incluindo a presença de
Em geral, os países emergentes apresentam níveis media- dois deles no Conselho de Segurança da ONU (no caso, China e
nos de desenvolvimento, um relativamente dinâmico parque in- Rússia). Recentemente, o BRICS deliberou a criação de um banco
dustrial, uma boa capacidade de exportações e certo dinamismo financeiro voltado para a cooperação a fim de realizar benefícios
econômico. São, por isso, também chamados de países em de- e empréstimos a juros baixos para países periféricos, o que im-
senvolvimento, cujos exemplos englobam, entre outros, Brasil, põe uma inédita concorrência ao FMI e ao Banco Mundial.
China, México, Índia, Cingapura, Coreia do Sul, Argentina, Tur- Outra sigla que reúne países com bastante força entre os
quia, Indonésia e Taiwan. países emergentes é o MIST (México, Indonésia, Coreia do Sul
Contudo, em torno das análises e das más interpretações e Turquia). Em alguns casos, pensou-se que esses países subs-
sobre esse tema, ergueu-se o mito de que esses países seriam tituiriam os BRICS no âmbito da economia mundial, mas a crise
como que uma categoria à parte, não se caracterizando nem de 2008, que afetou, em grande medida, o México, além do me-
como países desenvolvidos nem como países subdesenvolvidos. nor poder político, colocou esse grupo em um segundo plano no
Porém, é um erro pensar isso, pois o mais correto seria consi- contexto internacional.
11 https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/paises-emergentes.htm

24
GEOGRAFIA
Em resumo, podemos considerar que os países emergen-
tes são grandes exportadores de matérias-primas, grandes re-
ceptores de empresas multinacionais (além de também serem
medianos fornecedores dessas mesmas empresas) e possuem
um amplo e crescente mercado consumidor e uma grande capa-
cidade de crescimento econômico e atuação centrada no setor
terciário.
Por esse motivo, atraem sempre com muita atenção os prin-
cipais centros de debate tanto do meio econômico quanto da
geopolítica e estratégia internacional.

BIOMAS E DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS

Principais biomas brasileiros


Os principais biomas brasileiros são: Amazônia, Cerrado, Arara-canindé, uma espécie muito comum na Amazônia Brasi-
Mata Atlântica, Pampas, Caatinga e Pantanal. leira

• Cerrado: O Cerrado, ou a Savana brasileira, estende-se


por grande parte da região Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste
do país. É um bioma característico do clima tropical continental,
que, em razão da ocorrência de duas estações bem definidas
– uma úmida (verão) e outra seca (inverno) –, possui uma vege-
tação com árvores e arbustos de pequeno porte, troncos retor-
cidos, casca grossa e, geralmente, caducifólia (as folhas caem
no outono). A fauna da região é bastante rica, constituída por
capivaras, lobos-guarás, tamanduás, antas, seriemas etc.

• Mata Atlântica: O exemplar de Floresta Tropical do


Brasil praticamente já desapareceu, pois, como estava localizada
na faixa litorânea do país, grande parte de sua vegetação origi-
nal foi devastada para ceder lugar à intensa ocupação do litoral.
Originalmente, a vegetação desse bioma encontrava-se localiza-
da em uma extensa área do litoral brasileiro, que se estendia do
Piauí ao Rio Grande do Sul, e era constituída por uma vegetação
Vegetação caducifólia da Caatinga, que perde as suas folhas no florestal densa, com praticamente as mesmas características da
período da seca Floresta Amazônica: com diversos tamanhos, latifoliada (folhas
largas e grandes) e perene (folhas que não caem). A fauna dessa
O território brasileiro, com cerca de 8,5 milhões de quilôme- região já foi praticamente extinta e era constituída por micos-
tros quadrados, possui uma grande variedade de características -leões, lontra, onça-pintada, tatu-canastra, arara-azul e outros.
naturais (solo, relevo, vegetação e fauna), que interagem entre
si formando uma composição natural única. Entre as principais • Caatinga: estende-se por todo o sertão brasileiro, ocu-
características naturais que mais apresentam variação, estão os pando cerca de 11% do território nacional. Trata-se da região
biomas, conjuntos de ecossistemas com características seme- mais seca do país, localizando-se na zona de clima tropical se-
lhantes dispostos em uma mesma região e que historicamente miárido. A vegetação dessa região é composta, principalmente,
foram influenciados pelos mesmos processos de formação. por plantas xerófilas (acostumadas com a aridez, como as cac-
De acordo com o IBGE, o país possui seis grandes biomas, táceas) e caducifólias (que perdem a folha durante o período
que, juntos, possuem uma das maiores biodiversidades do pla- mais seco), além de algumas árvores com raízes bem grandes
neta. São eles: que conseguem captar a água do lençol freático em grandes pro-
• Amazônia: A Floresta Equatorial brasileira ocupa cerca fundidades e que, por isso, não perdem as suas folhas, como o
da metade do território do Brasil e está concentrada nas regiões juazeiro. A fauna desse bioma é composta por uma grande va-
Norte e em parte da região Centro-Oeste. Esse bioma é muito riedade de répteis, sapo cururu, asa-branca, cutia, gambá, preá,
influenciado pelo clima equatorial, que se caracteriza pela baixa veado-catingueiro, tatupeba etc.
amplitude térmica e grande umidade, proveniente da evapo-
transpiração dos rios e das árvores. A sua flora é constituída por • Pampas: Localizado no extremo sul do Brasil, no Rio
uma vegetação florestal muito rica e densa e apresenta espécies Grande do Sul, esse bioma é bastante influenciado pelo cli-
de diferentes tamanhos – algumas podem alcançar até 50 me- ma subtropical e pela formação do relevo, que é constituído
tros de altura – com folhas largas e grandes, que não caem no principalmente por planícies. Em virtude do clima frio e seco,
outono. A fauna também é muito diversificada, composta por a vegetação não consegue desenvolver-se, sendo constituída
insetos, que estão presentes em todos os estratos da floresta, principalmente por gramíneas, como capim-barba-de-bode, ca-
uma infinidade de espécies de aves, macacos, jabutis, antas, pa- pim-gordura, capim-mimoso etc. São exemplos de animais que
cas, onças e outros. vivem nesse bioma o veado, garça, lontras, capivaras e outros.

25
GEOGRAFIA
• Pantanal: trata-se da maior planície inundável do país
e está localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso A DINÂMICA DA ATMOSFERA: ELEMENTOS
do sul. Esse bioma é muito influenciado pelos regimes dos rios E FATORES, CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE CLIMA
presentes nesses lugares, pois, durante o período chuvoso (ou-
tubro a abril), a água do pantanal alaga grande parte da planície As Esferas Terrestres12
da região. Quando o período chuvoso acaba, os rios diminuem
o seu volume d’água e retornam para os seus leitos. Por essa
razão, a vegetação e os animais precisam adequar-se a essa mo-
vimentação das águas. Todos esses fatores tornam a vegetação
do pantanal muito diversificada, havendo exemplares higrófilos
(adaptados à umidade), plantas típicas do Cerrado e da Amazô-
nia e, nas áreas mais secas, espécies xerófilas. A fauna é consti-
tuída por várias espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis etc.

Atmosfera: dinâmica climática e gases que formam a cama-


da de ar da Terra (N², O², CO², etc.);
Hidrosfera: camada de água presente na superfície da Ter-
ra, cerca de 70%. (mares, rios, gelo);
Litosfera: estrutura sólida da Terra (rochas, formas de rele-
vo, solo);
Área do bioma amazônico desmatada para servir de pastagem
para o gado Biosfera: inter-relação entre a atmosfera, hidrosfera e litos-
fera para condicionamento da existência da vida na Terra (seres
Atualmente, como resultado da expansão das atividades vivos).
agropecuárias e da urbanização no país, todo os biomas brasi-
leiros correm risco de extinção caso sejam mantidos os mesmos Tempo e Clima
padrões de exploração. Dois desses biomas, o Cerrado e a Mata O estudo do clima e do tempo ocupa uma posição central
Atlântica, já se encontram na lista mundial de Hotsposts, isto no campo da ciência ambiental, pois as características do clima
é, áreas com grande diversidade que se encontram ameaçadas e as condições do tempo são determinantes na distribuição das
de extinção. Além deles, estima-se que a Amazônia brasileira diferentes formas de vida.
desaparecerá em 40 anos caso sejam mantidos os índices de
desmatamento atuais. O Pantanal e os Pampas são ameaçados Tempo: estado médio da atmosfera num período de tempo
pelas atividades agropecuárias que comprometem o sistema de e lugar determinado.
cheias dos rios no Pantanal e contribuem para o processo de de- Clima: síntese do tempo de um lugar para um período apro-
sertificação do solo nos Pampas. Asim, o Brasil, embora possua ximado de 30 anos.
uma grande biodiversidade, corre o risco de perdê-la caso as leis
ambientais de proteção desses biomas não sejam colocadas em O tempo e o clima são considerados como uma consequên-
prática. cia e uma demonstração da ação de processos complexos na at-
mosfera, oceano e terra.
O estudo do clima e do tempo ocupa uma posição central
no campo da ciência ambiental, pois as características do clima
e as condições do tempo são determinantes na distribuição das
diferentes formas de vida.
Existe uma relação estreita entre meteorologia e climato-
logia:
Meteorologia: estuda o estado físico, dinâmico e químico
da atmosfera e suas interações com a superfície terrestre. (Es-
tuda o tempo);
Climatologia: é o estudo científico do clima. (Estuda o cli-
ma).

12 https://www.ufsm.br/laboratorios/labgeotec/wp-content/uploads/si-
tes/676/2019/08/tpico1.pdf

26
GEOGRAFIA
Climatologia
Pode-se dizer que a climatologia estuda os padrões de comportamento da atmosfera considerando um longo período de tempo.
É dividida em:
• Climatologia regional: estudo do clima em área selecionadas;
• Climatologia sinótica: estudo do clima de uma área em relação ao padrão de circulação atmosférica;
• Climatologia física: estudo dos elementos do tempo em termos de princípios físicos;
• Climatologia dinâmica: estuda os movimentos atmosféricos em diferentes escalas;
• Climatologia aplicada: aplicação dos conhecimentos climatólogos na solução de problemas que afetam os seres humanos;
• Climatologia histórica: estudo do clima através dos tempos.

Subdivisões da climatologia: diferentes escalas


São subdivisões da climatologia:
• Macroclimatologia: estudo do clima em amplas áreas da Terra;
• Mesoclimatologia: estudo do clima em áreas menores (10 a 100 Km de largura). Ex.: eventos extremos como tornados e
temporais;
• Microclimatologia: estudo do clima próximo a superfície terrestre e em áreas muito pequenas (menores que 100 m de ex-
tensão).

Elementos do clima
São grandezas atmosféricas que comunicam ao meio atmosférico suas propriedades e características particulares. São no tem-
po e no espaço sendo perceptíveis pelos sentidos humanos e medidos por instrumentos específicos:
Pressão atmosférica, temperatura, precipitação, insolação, radiação, vento, nebulosidade, evaporação, umidade e visibilidade.

Pressão atmosférica – peso que a atmosfera exerce por unidade de área. Sabendo que o ar é um fluido, a tendência é que
se movimente em direção às áreas de menor pressão. Assim, a movimentação da atmosfera está ligada à distribuição da pressão
atmosférica.

Temperatura - grau de calor que um corpo possui, sendo a condição que determina o fluxo de calor que passa de uma substan-
cia para outra. O calor desloca-se de superfícies com maiores temperaturas para as de menor temperatura.

Precipitação - deposição em forma líquida ou sólida derivada da atmosfera. Neste caso, as formas líquidas e congeladas da
água, como chuva, granizo, neve.
Insolação - quantidade de radiação solar direta que incide em determinada área numa posição horizontal e a um nível conhe-
cido.
Radiação - é a propagação de energia de um ponto a outro. Neste caso, o calor recebido pela a atmosfera e superfície terrestre
a partir do sol.
O sol é uma esfera gasosa com temperatura de 6.000 °C que emite a energia em ondas eletromagnéticas.
Vento - é o ar atmosférico em movimento a partir da diferença de pressão e temperatura.
Umidade - quantidade de água na forma gasosa presente na atmosfera.
Evaporação - processo pelo qual a umidade, líquida ou sólida, passa para a forma gasosa. Perda da água em superfícies aquá-
ticas ou solo.
Nebulosidade - cobertura do céu por nuvens e nevoeiro.
Visibilidade: (m) – visão do observador.

27
GEOGRAFIA
Fatores geográficos ou fatores do clima
São fatores geográficos que influenciam no comportamento dos elementos atmosféricos dando-lhes certas regularidades. Pos-
suem ação permanente em escala regional e local.
• Atmosfera;
• Latitude;
• Altitude;
• Correntes marinhas;
• Continentalidade e maritimidade;
• Vegetação;
• Relevo;
• Urbanização.

Tipos de Clima13
Clima é o termo utilizado para definir as condições atmosféricas que caracterizam uma região.
Existem dez tipos principais de clima em todo o mundo e são influenciados pela pressão atmosférica, correntes marítimas,
circulação de massas de ar, latitude, altitude, precipitação pluviométrica e inclinação solar – a quantidade de luz que incide sobre
a superfície terrestre.

Principais Tipos de Clima


A sobreposição de uma característica sobre as demais é que define o tipo de clima de uma determinada região.
Os dez principais tipos de clima são: equatorial, tropical, subtropical, desértico, temperado, mediterrâneo, semiárido, conti-
nental árido, frio da montanha e polar.

https://www.proenem.com.br/enem/geografia/clima-climas-no-mundo-e-do-brasil/

Clima Equatorial
É registrado nas zonas próximas ao Equador, como partes da África e do Brasil. É quente e úmido. Tem pouca variação térmica
durante o ano, em média de 25ºC. No clima Equatorial, há chuva abundante durante todo o ano.

Clima Tropical
Ocorre nas zonas próximas aos trópicos de Câncer e Capricórnio. A temperatura média anual é de 20ºC. A principal caracterís-
tica é a clara definição de duas estações no ano, que são o inverno – seco – e o verão – chuvoso.
Dependendo da região, pode variar em clima tropical seco ou clima tropical chuvoso. É dividido em clima tropical equatorial;
tropical de monções; tropical úmido ou de savana e clima tropical de altitude.
Este clima e suas variações, são encontrados no Brasil, Cingapura, regiões da Índia, Sri Lanka, Havaí, Honolulu, México e Aus-
trália.

13 https://www.todamateria.com.br/tipos-de-clima/

28
GEOGRAFIA
Clima Subtropical Frio de Montanha
O clima subtropical marca as regiões abaixo do trópico de Também chamado de Clima de Altitude, este tipo de clima
Capricórnio. É mercado pela diferenciação térmica durante o tem baixas temperaturas durante todo o ano. Em média, os ter-
ano porque tem quatro estações bem definidas. mômetros registram 0º durante o ano, mas inverno, é esperada
Os principais extremos de temperatura ocorrem no verão, queda de temperatura para índices negativos. As chuvas nas re-
com variação de 20ºC a 25º, e no inverno, quando os termôme- giões chegam a 1,5 mil milímetros anuais.
tros podem marcar entre 0ºC e 10ºC.
As chuvas nas regiões atingidas por este clima variam de 1 Clima Polar
mil a 1,5 mil milímetros anuais. São Paulo, o sul de Mato Grosso É o clima de temperaturas negativas mais extremas, com
do Sul, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul sofrem a termômetros sempre abaixo de 0ºC, com média de 30ºC negati-
influência do clima Subtropical. vos e que podem cair a 50ºC negativos no inverno.
Além da amplitude térmica, a umidade do ar é elevada,
Clima Temperado mesmo com baixa incidência de chuvas. Tem como caracterís-
As quatro estações bem definidas também são caracterís- tica também a presença de neve cobrindo o solo durante todo
ticas nas regiões de clima temperado. É registrado nas regiões o ano, com cerca de 100 milímetros registrados durante o ano.
localizadas no meio dos trópicos e dos círculos polares dos he- Ocorre em regiões como a costas eurasianas do Ártico, sen-
misférios sul e hemisfério norte. do o clima da Groenlândia, norte do Canadá, Alasca e na Antár-
É dividido em quatro tipos: temperado mediterrâneo, tem- tida.
perado continental e temperado oceânico. Este é o clima de re-
giões como a Europa, América do Norte e Ásia. Tipos de Clima e Vegetação
As peculiaridades do clima resultam em vegetações diferen-
Clima Mediterrâneo ciadas em cada região da Terra. No clima polar ocorre durante o
É caracterizado por invernos curtos e de temperaturas bai- verão a tundra, formada por musgos e liquens.
xas, variando entre 0ºC e 15ºC. Já o verão é longo, registrando Árvores e vegetações acostumadas com o rigor do inverno
temperaturas que oscilam entre 18ºC e 25º. estão nas regiões de clima temperado. É nesta área que per-
O período chuvoso é o de inverno e o seco ocorre no verão. manecem a floresta temperada, com árvores de grande porte e
Embora o inverno seja breve e o verão longo, as quatro estações decíduas, ou seja, perdem as folhas durante o inverno.
ano são bem definidas. É encontrado nas regiões localizadas jun- A chamada vegetação de altitude está presente caracteri-
to ao mar Mediterrâneo. zado como frio da montanha. São plantas como as pradarias,
encontradas na Argentina, e em regiões brasileiras como o rio
Clima Desértico Grande do Sul, na área conhecida como Pampa Gaúcho.
No clima desértico, o calor com médias de 30ºC de tempe- O clima subtropical é favorável para o desenvolvimento de
ratura como a principal característica. As chuvas são escassas, plantas como araucárias e pinheiros. Este tipo de vegetação é
quase insignificantes, podendo haver anos em que não chegam beneficiado pela distribuição regular de chuvas durante o ano.
a ocorrer. Já no clima tropical, a diversidade da vegetação é maior,
Em consequência, a umidade do ar é baixa, chegando a 15%. em consequência da oferta de luz e elevada umidade. Sob a in-
As altas temperaturas ocorrem durante o dia, mas podem ser fluência deste clima estão as florestas tropicais úmidas, muito
negativas durante o inverno. semelhantes às florestas equatoriais. A principal delas é a flo-
As estações do ano são diferenciadas pela variação de tem- resta Amazônica.
peratura. Este tipo de clima é encontrado no deserto do Saara,
na África; Oriente Médio; Oeste norte-americano, na região de Clima Influencia na Estrutura da Planta
Sonora, no norte Mexicano; no Atacama, que fica no litoral do As condições de oferta pluviométrica abundante, calor e luz
Chile e Peru; na Austrália e Índia. favorecem a diversidade da vegetação do clima equatorial, com
árvores longas e arbustos, dependendo da localização.
Clima Semiárido Ao contrário da elevada disponibilidade de água, o clima
Chuvas irregulares e escassas, altas temperaturas e baixa semiárido favorece o desenvolvimento de árvores de pequeno
umidade relativa do ar são as principais características do clima porte, em que os troncos são retorcidos e espinhosos, conheci-
semiárido. das como Caatinga.
A temperatura média anual chega a 27ºC e as chuvas variam Sob a influência deste clima também estão plantas como
em, no máximo, 750 milímetros ao ano. Além de escassas, as cactos. A estrutura das plantas é adequada à escassez hídrica.
chuvas são irregulares e mal distribuídas. É registrado na região A escassez de água também marca a vegetação no clima
Nordeste brasileira. desértico, onde são encontradas plantas espinhosas e de raízes
profundas.
Clima Continental Árido
Este tipo de clima é marcado pela baixa umidade relativa do
ar, em consequência da densidade pluviométrica média de 250
milímetros ao ano.
Além de seco, tem como característica a grande variação de
temperatura entre o verão (17º) e o inverno (20º negativos). É
observado em regiões como a Ásia Central, Montanhas Rocho-
sas norte-americanas e na Patagônia.

29
GEOGRAFIA
Os vulcões são estruturas geológicas através das quais subs-
FENÔMENOS DA NATUREZA: ALTERAÇÕES ANTRÓPI- tâncias do interior da terra são expelidas por meio de uma aber-
CAS E IMPLICAÇÕES EM SUA DINÂMICA GLOBAL-LO- tura. Com isso, as fendas são abertas pela atividade vulcânica no
CAL E LOCAL-GLOBAL interior da terra rompendo o bloqueio de rochas mais frágeis.
Assim, expele magma, cinzas e gazes no exterior. Aliás, um vul-
Por uma questão cultural, estamos acostumados a associar cão em erupção é um dos fenômenos naturais mais fascinantes
o termo “fenômeno” com acontecimentos grandiosos, com ex- e também assustador.
tremas consequências. Por exemplo, ciclones, terremotos, en-
tre outros. Embora estejamos acostumados, há uma diferença 2.Neve
entre fenômenos naturais e desastres naturais, e não podemos
confundir!

Acima de tudo, é importante entendermos que todo desas-


tre natural é um fenômeno natural. Pois, fenômenos naturais são
todos os episódios da natureza. Logo, a chuva, a metamorfose de
uma borboleta, o nascimento de um bebê, o crescimento de uma
planta, entre outros, são fenômenos da natureza. Assim como os
tornados, os deslizamentos, as avalanches, e assim por diante.

Fenômenos naturais x artificiais


A diferença entre fenômenos naturais e artificias são bem
simples e fáceis de entender. A princípio, é bom reforçar que
todo fenômeno é um evento que pode ser observado, descrito e
explicado. Em suma, um fenômeno artificial é todo aquele feito
por ação do homem. Para exemplificar, a luz elétrica, os carros,
prédios, entre outros. Entretanto, há casos que ambos os fenô-
menos se misturam. A neve é um fenômeno natural capaz de formar paisagens
Enquanto há estudiosos que dizem que o efeito estufa é ao mesmo tempo fascinantes e angustiantes. Basicamente,
100% natural, há outros que afirmam o contrário. Assim, dizem acontece quando a temperatura está mais de 20 graus abaixo de
que os gases causadores do aumento do efeito estufa são aque- zero. Assim, faz com que se formem cristais nas nuvens, que se
les emitidos pela atividade humana. juntam no percurso até o solo e voltam a ficar congelados.
Com isso, o nascimento de um novo ser é um fenômeno na-
tural, mas pode ser induzido artificialmente, por meio de proce- 3.Raios
dimentos cirúrgicos. Outro exemplo é o curso de um rio, que é
um fenômeno natural, contudo o homem pode construir barra-
gens ou mudar seu curso.
Podemos entender que, sendo o ser humano um fenômeno
natural, também sejam suas ações. Basicamente, é um mamífe-
ro que se reproduz como os demais. Entretanto, o homem é o
único ser na superfície terrestre com capacidade e consciência
permanente. Assim, o homem é o único animal capaz de mudar
a natureza. Por outro lado, também é a maior ameaça ao plane-
ta e à própria existência de sua espécie.

Exemplos de fenômenos da naturais:


Enquanto o homem persegue sua própria existência, a na-
tureza segue proporcionando fenômenos maravilhosos e espe- Os raios fazem parte do conjunto dos fenômenos naturais
táculos sinistros. sinistros. Essencialmente, é uma descarga de energia, que chega
a atingir 125 milhões de volts, lançada na terra. Logo, é capaz de
1.Vulcões gerar grandes estragos, como abrir valas no chão.

30
GEOGRAFIA
4. Terremotos A pororoca é o fenômeno natural causado pelo encontro do
Rio com o mar, cuja principal característica é o estrondo do cho-
que entre as duas massas de água e a formação de ondas.

Por mais que há milhares de exemplos de fenômenos natu-


rais, há alguns tipos de que muitas vezes, passam completamen-
te despercebidos aos nossos olhos. Às vezes, não temos nem
consciência de sua existência. Podemos citar a aurora boreal e
certos eclipses como exemplos de que por mais que não os ve-
mos, sabemos que existem. Com isso, alguns desconhecidos que
são raros, de beleza única e um tanto bizarros.

Lista de fenômenos bizarros:


1.Bioluminescência nos mares
Esses estão na faixa dos fenômenos naturais mais temidos
pelo homem, capazes de destruir cidades inteiras. Em suma, os
terremotos são gerados por uma falha geológica, decorrente
da movimentação das placas tectônicas e da deformação das
rochas. Além dos tremores, o terremoto pode abrir fendas na
terra.

5.Tsunami

Não, não é uma balada para peixes, tampouco cenas de um


filme de ficção científica. Sobretudo, esse é um dos fenômenos
naturais gerado pelas algas daquela região. Por mais que seja
um episódio raro, ele pode ser visto próximos as praias, mais
perto das embarcações, em alto mar. Por outro lado, quando o
número de plânctons é extremamente grande, as lindas luzes
azuis podem se manifestar perto da costa.

Por mais que seja bonito, esse evento não é saudável para
o mar. Basicamente, o aumento do número de algas não é bom
para os peixes, pois os níveis de oxigênio são diminuídos.

Em primeiro lugar, o tsunami trata-se de um fenômeno 2.Flores congeladas


natural, originado por erupção vulcânica, terremoto ou outro
evento natural, que provoca um movimento de água. Assim for-
ma uma onda que pode se movimentar por milhares de quilôme-
tros. Eventualmente, quando essa onda encontra com a costa,
ela se transforma de poucos metros para gigantes, que podem
superar os 30 metros.

6. Pororocas

Já passou por sua cabeça que possa existir uma floricultura


de gelo? Por mais que pareça coisa de filme, essa imagem não
são plantas, ou qualquer ser vivo, e sim gelo. Basicamente, é um
dos fenômenos naturais raros que só ocorre em temperatura
extremamente baixas. É quando, pequenas quantidades de gelo
que flutuam na agua na água congelam as gotas ao seu redor e
criam uma reação em cadeia.

31
GEOGRAFIA
Nesse fenômeno, o gelo cresce ao redor de pequenos blocos 5 .Cilindros de neve
em formatos imperfeitos, como se fossem espinhos congelados.
A parte sinistra disso tudo é que o grau de bactérias e pequenos
organismos que vivem dentro das flores congeladas é bastante
alto, até mesmo muito maior do que na água do oceano. Com
isso, alguns estudiosos acreditam que as flores congeladas abri-
gam seus próprios ecossistemas de modo temporário. Assim,
favorece vida e a sobrevivência desses pequenos organismos
durante as temperaturas extremas.

3.Chaminés de neve

Esses interessantes cilindros de neve são formados natu-


ralmente quando pequenos flocos são levados pelo vento. Em
suma, o material é colhido de modo irregular, dos mais variados
formatos e tamanhos. Entretanto sempre com um característico
furo no centro.

Esses cilindros dependem da velocidade do vento para sua


formação. Por outro lado, o tipo da neve também é importante,
já que algumas são mais frágeis e outras espessas. Para comple-
tar, o fenômeno natural é bastante raro, ocorrendo principal-
mente na América do Norte e na Europa.

Por incrível que pareça, no território permanentemente 6.Arco-íris de fogo


congelado da Antártida existem inúmeros vulcões que estão
ativos. Contudo, com o tempo extremamente gelado, somen-
te alguns deles entram em erupção. Assim, com o calor gerado
nas profundezas e no interior desses vulcões, os gases e o vapor
criados são expelidos constantemente.

Entretanto, quando os gases quentes encontram com o ar


super gelado da superfície, eles congelam e formam essas estra-
nhas construções chamadas de chaminés congeladas. Logo, elas
se acumulam com o passar dos anos e formam estruturas finas
e pontiagudas, que sempre estão expelindo o vapor produzido
na terra.

4.Arco-íris lunar
Por mais estranho que pareça, esse arco-íris não precisa de
chuva. Basicamente, ele se manifesta em nuvens que se encon-
tram em altitude bastante elevada. Porque, frequentemente
possuem pequenos cristais de gelo dentro de si.

Assim, quando eles são atingidos pelos raios solares, em ân-


gulos específicos, são capazes de originar o efeito da refração e
criar um arco-íris horizontal. O resultado é belíssimo e um tanto
bizarro, capaz de pintar cores nas nuvens nos mais irregulares
formatos.

Por mais que pareça bizarro, os arco-íris noturnos realmen-


te podem ocorrer. Embora, sejam bastante raros. Basicamente,
esse fenômeno natural ocorre quando partículas de água entram
em contato com o reflexo da luz solar projetado na superfície da
Lua. Logo, como não têm a mesma intensidade de um arco-íris
comum, eles são um pouco visíveis.

32
GEOGRAFIA
7.Dedo de gelo Bacias hidrográficas
Chamamos de bacia hidrográfica uma área onde acontece
a drenagem da água das chuvas para um determinado curso
de água que, normalmente, é um rio. O terreno em declive faz
com que as águas acabem desaguando em um determinado rio,
o que forma uma bacia hidrográfica. Segundo o IBGE, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, existem nove bacias, que
são a Bacia do Amazonas, que é a maior do mundo e encontra-
-se, mais de sua metade, no Brasil; Bacia do Nordeste; Bacia do
Tocantins-Araguaia (maior bacia hidrográfica totalmente situa-
da em território brasileiro); Bacia do Paraguai; Bacia do Paraná;
Bacia do São Francisco; Bacia do Sudeste-Sul; Bacia do Uruguai;
Esse raro fenômeno natural foi descoberto nos últimos e Bacia do Leste.
anos. O sinistro evento ocorre quando o gelo da superfície da
água é tão intenso que uma determinada quantidade começa a Usinas hidrelétricas do Brasil
descer ao chão. Assim, congela tudo o que encontra no caminho. As hidrelétricas no Brasil correspondem a 90% da energia
elétrica produzida no país.
Basicamente, ocorre quando o gelo recém-formado intensi- A instalação de barragens para a construção de usinas ini-
fica com a quantidade de sal encontrado na água. Logo, origina ciou-se no Brasil a partir do final do século XIX, mas foi após
um dedo de gelo e sal capaz de congelar a água ao redor dele e a Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945) que a adoção
crescer em direção ao chão de forma muito resistente. Quando de hidrelétricas passou a ser relevante na produção de energia
essa coluna de gelo atinge o fundo, tudo o que está em seu en- brasileira.
torno é congelado, criando uma espécie de rio de gelo. Apesar de o Brasil representar o terceiro maior potencial
hidráulico do mundo (atrás apenas de Rússia e China), o país
importa parte da energia hidrelétrica que consome. Isso ocorre
A DINÂMICA DA HIDROSFERA: ÁGUA NO PLANETA. BA- em razão de que a maior hidrelétrica das Américas e segunda
CIAS HIDROGRÁFICAS, RIOS, LAGOS. ÁGUAS OCEÂNICAS maior do mundo, a Usina de Itaipu, não é totalmente brasileira.
Por se localizar na divisa do Brasil com o Paraguai, 50% da
Recursos Hídricos produção da usina pertence ao país vizinho que, na incapacida-
No Brasil, a maior parte da energia elétrica que chega às de de consumir esse montante, vende o excedente para o Brasil.
casas e às indústrias, vem das hidrelétricas. O Brasil também consome energia produzida pelas hidrelétricas
argentinas de Garabi e Yaceritá.
A produção de energia elétrica no Brasil é realizada atra-
vés de dois grandes sistemas estruturais integrados: o sistema
Sul-Sudeste-Centro-Oeste e o sistema Norte-Nordeste, que cor-
respondem, respectivamente, por 70% e 25% da produção de
energia hidrelétrica no Brasil.

Principais usinas hidrelétricas do Brasil

Usina Hidrelétrica de Itaipu


Estado: Paraná | Rio: Paraná | Capacidade: 14.000 MW

Fotografia aérea de Itaipu - usina hidrelétrica binacional locali-


zada no Rio Paraná, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai

Os rios também são agentes erosivos do relevo, moldando-o


ao seu bel prazer. Essas correntes líquidas, que resultam da concen-
tração de água em vales, podem se originar de várias fontes: fontes
subterrâneas (que se formam com a água das chuvas), transborda-
mento de lagos ou mesmo da fusão de neves e geleiras.

Hidrografia brasileira
O Brasil é um dos países mais ricos do mundo no que se
refere aos complexos hidrográficos, contando com um dos mais
complexos do planeta. Aqui no país, encontramos rios de grande
extensão, largura e profundidade, que nascem, em sua maio-
ria, em regiões que são pouco elevadas, excluindo apenas o Rio
Amazonas e alguns afluentes que nascem na cordilheira dos An-
des. De toda a água doce que está na superfície do planeta, 8%
encontra-se no Brasil e, além disso, a maior bacia fluvial do mun-
do também encontra-se no Brasil, e é a Amazônica.

33
GEOGRAFIA
Usina Hidrelétrica de Belo Monte Usina Hidrelétrica de Santo Antônio
Estado: Pará | Rio: Xingú | Capacidade: 11.233 MW Estado: Rondônia | Rio: Madeira | Capacidade: 3.300 MW

Usina Hidrelétrica São Luíz do Tapajós


Estado: Pará | Rio: Tapajós | Capacidade: 8.381 MW

Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira


Estado: São Paulo | Rio: Paraná | Capacidade: 3.444 MW

Usina Hidrelétrica de Tucuruí


Estado: Pará | Rio: Tocantins | Capacidade: 8.370 MW

Usina Hidrelétrica de Jirau


Estado: Rondônia | Rio: Madeira | Capacidade: 3.300 MW

34
GEOGRAFIA
Usina Hidrelétrica de Xingó Nos últimos anos têm sido realizadas várias obras, com o in-
Estados: Alagoas e Sergipe | Rio: São Francisco | Capacidade: tuito de tornar os rios brasileiros navegáveis. Eclusas são construí-
3.162 MW das para superar as diferenças de nível das águas nas barragens
das usinas hidrelétricas. É o caso da eclusa de Barra Bonita no rio
Tietê e da eclusa de Jupiá no rio Paraná, já prontas.
Existe também um projeto de ligação da Bacia Amazônica à
Bacia do Paraná. É a hidrovia de Contorno, que permitirá a liga-
ção da região Norte do Brasil às regiões Centro-Oeste, Sudeste e
Sul, caso implantado. O seu significado econômico e social é de
grande importância, pois permitirá um transporte de baixo custo.
O Porto de Manaus, situado à margem esquerda do rio Ne-
gro, é o porto fluvial de maior movimento do Brasil e com me-
lhor infra-estrutura. Outro porto fluvial relevante é o de Corum-
bá, no rio Paraguai, por onde é escoado o minério de manganês
extraído de uma área próxima da cidade de Corumbá.

Transporte Hidroviário
O Brasil tem mais de 4 mil quilômetros de costa atlântica na-
vegável e milhares de quilômetros de rios. Apesar de boa parte
dos rios navegáveis estarem na Amazônia, o transporte nessa re-
Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso gião não tem grande importância econômica, por não haver nes-
Estado: Bahia | Rio: São Francisco | Capacidade: 2.462 MW sa parte do País mercados produtores e consumidores de peso.
Os trechos hidroviários mais importantes, do ponto de vista
econômico, encontram-se no Sudeste e no Sul do País. O ple-
no aproveitamento de outras vias navegáveis dependem da
construção de eclusas, pequenas obras de dragagem e, princi-
palmente, de portos que possibilitem a integração intermodal.
Entre as principais hidrovias brasileiras, destacam-se duas: Hi-
drovia Tietê-Paraná e a Hidrovia Taguari -Guaíba.

Principais hidrovias

Hidrovia Araguaia-Tocantins
A Bacia do Tocantins é a maior bacia localizada inteiramente
Usina Hidrelétrica Jatobá no Brasil. Durante as cheias, seu principal rio, o Tocantins, é na-
Estado: Pará | Rio: Tapajós | Capacidade: 2.338 MW vegável numa extensão de 1.900 km, entre as cidades de Belém,
no Pará, e Peixes, em Goiás, e seu potencial hidrelétrico é par-
cialmente aproveitado na Usina de Tucuruí, no Pará. O Araguaia
cruza o Estado de Tocantins de norte a sul e é navegável num
trecho de 1.100 km. A construção da Hidrovia Araguaia-Tocan-
tins visa criar um corredor de transporte intermodal na região
Norte.

Hidrovia São Francisco


Entre a Serra da Canastra, onde nasce, em Minas Gerais, e
sua foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, o “Velho Chico”, como
é conhecido o maior rio situado inteiramente em território bra-
sileiro, é o grande fornecedor de água da região semi-árida do
Hidrovias no Brasil Nordeste. Seu principal trecho navegável situa-se entre as ci-
Os últimos anos têm sido realizadas várias obras, com o in- dades de Pirapora, em Minas Gerais, e Juazeiro, na Bahia, num
tuito de tornar os rios brasileiros navegáveis. trecho de 1.300 quilômetros. Nele estão instaladas as usinas hi-
Eclusas são construídas para superar as diferenças de nível drelétricas de Paulo Afonso e Sobradinho, na Bahia; Moxotó, em
das águas nas barragens das usinas hidrelétricas. Alagoas; e Três Marias, em Minas Gerais. Os principais projetos
Hoje, a navegação fluvial no Brasil está numa posição infe- em execução ao longo do rio visam melhorar a navegabilidade e
rior em relação aos outros sistemas de transportes. É o sistema permitir a navegação noturna.
de menor participação no transporte de mercadoria no Brasil.
Isto ocorre devido a vários fatores. Muitos rios do Brasil são de Hidrovia da Madeira
planalto, por exemplo, apresentando-se encachoeirados, por- O rio Madeira é um dos principais afluentes da margem di-
tanto, dificultam a navegação. É o caso dos rios Tietê, Paraná, reita do Amazonas. A hidrovia, com as novas obras realizadas
Grande, São Francisco e outros. Outro motivo são os rios de pla- para permitir a navegação noturna, está em operação desde
nície facilmente navegáveis (Amazonas e Paraguai), os quais en- abril de 1997. As obras ainda em andamento visam baratear o
contram-se afastados dos grandes centros econômicos do Brasil. escoamento de grãos no Norte e no Centro-oeste.

35
GEOGRAFIA
Hidrovia Tietê-Paraná
Esta via possui enorme importância econômica por permitir o transporte de grãos e outras mercadorias de três estados: Mato
Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Ela possui 1.250 quilômetros navegáveis, sendo 450 no rio Tietê, em São Paulo, e 800 no rio Pa-
raná, na divisa de São Paulo com o Mato Grosso do Sul e na fronteira do Paraná com o Paraguai e a Argentina. Para operacionalizar
esses 1.250 quilômetros, há necessidade de conclusão de eclusa na represa de Jupiá para que os dois trechos se conectem.

Taguari-Guaíba
Com 686 quilômetros de extensão, no Rio Grande do Sul, esta é a principal hidrovia brasileira em termos de carga transportada.
É operada por uma frota de 72 embarcações, que podem movimentar um total de 130 mil toneladas. Os principais produtos trans-
portados na hidrovia são grãos e óleos. Uma de suas importantes características é ser bem servida de terminais intermodais, o que
facilita o transbordo das cargas. No que diz respeito ao tráfego, outras hidrovias possuem mais importância local, principalmente
no transporte de passageiros e no abastecimento de localidades ribeirinhas.

Aquíferos no Brasil
Aquífero é uma formação geológica subterrânea que funciona como reservatório de água. É formado por rochas porosas e per-
meáveis que retém a água da chuva, mas também permite sua movimentação. Quando a água passa pelos poros das rochas ocorre
um processo natural de filtragem tornando os aquíferos fontes importantíssimas de água doce potável que serve como proveitosa
fonte de abastecimento, fornecendo água para poços e nascentes em proporções suficientes.
Existem várias formas de classificar os aquíferos, as mais comuns são de acordo com o armazenamento da água e tipo de rocha
armazenadora.

Quanto ao armazenamento:
• Livres: possuem uma base impermeável e a superfície livre.

• Confinados: além da base impermeável, possui uma camada impermeável acima do aquífero.

De acordo com o tipo de rocha os aquíferos podem ser:


• Porosos: estão associados com rochas sedimentares e solos arenosos (Representam o grupo de aquíferos mais importan-
tes, devido ao grande volume de água que armazenam e também por serem encontrados em muitas áreas).
• Fraturados: rochas ígneas e metamórficas que possuem fraturas abertas que acumulam água.
• Cársticos: formados em rochas carbonáticas. Podem atingir grandes dimensões, formando rios subterrâneos.

No Brasil, estima-se que existam 27 aquíferos, com destaque para os dois maiores e mais importantes: o Guarani, situado no
Centro-sul e que se estende por outros países e o Alter do Chão, localizado na região Norte. Apesar da importância desses aquíferos,
eles estão sendo afetados pela poluição humana, principalmente pelas atividades industriais e agrícolas.

EXERCÍCIOS

1. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Leia o trecho a seguir.


“Esquematicamente, uma rede é um sistema integrado de fluxos. A rede é constituída por pontos de acesso, arcos de transmis-
são e nós ou polos de bifurcação. [...]
Numa rede, o valor dos lugares se define pelo grau de acesso que eles oferecem ao conjunto da rede.”
(TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, R. B. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Moderna,
2010. p. 18 (Adaptação)).

É incorreto afirmar que as redes vigentes no espaço mundial contemporâneo


(A) consolidam espaços do mandar, onde se adensam as novas tecnologias da informação, em detrimento de espaços do fazer,
que são áreas populosas pobres e de economia tradicional.
(B) constituem suporte para o tráfego de mercadorias e de bens concretos, como cargas e passageiros, bem como para a trans-
missão de dados e informações.

36
GEOGRAFIA
(C) distribuem-se em caráter homogêneo pela superfície do globo, haja vista a magnitude espacial hoje alcançada pelo meio
técnico-científico-informacional.
(D) superam limitações físicas ao conectar pessoas e transmitir informações, a exemplo da movimentação diária de bilhões de
dólares nas bolsas de valores em todo o mundo.

2. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a figura a seguir, que representa o movimento da Terra em volta do Sol

IBGE. Atlas Geográfico Escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 10. Disponível em: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/>. Acesso
em: 18 jul. 2018 (Adaptação).

A órbita terrestre é elíptica, o que aproxima a Terra do Sol em determinados momentos e a afasta em outros, variação esta
responsável pela ocorrência das estações do ano.
Considerando essas informações, o que se afirma nesse trecho está
(A) correto, uma vez que é inverno quando a Terra se distancia do Sol e, consequentemente, verão quando dele se aproxima.
(B) incorreto, uma vez que a volta completa da Terra em torno do Sol, por se fazer em seis meses, é distinta do tempo de su-
cessão das estações do ano.
(C) correto, uma vez que são quatro as posições da Terra ao se movimentar em volta do Sol, sendo cada posição correspondente
a uma das quatro estações do ano.
(D) incorreto, uma vez que as estações do ano decorrem, principalmente, da posição do eixo inclinado da Terra.

3. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Considere que foi solicitado ao Corpo de Bombeiros Militar a busca de um jovem
desaparecido após afogamento em um rio. Analise esta carta topográfica de trecho do rio onde ocorreu o referido afogamento.

O Corpo de Bombeiros Militar iniciou a busca pelo jovem desaparecido a partir do local do afogamento, estendendo-a à jusante,
em direção ao ponto
(A) X.
(B) Y.
(C) Z.
(D) W.

37
GEOGRAFIA
4. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a tabela e os gráficos a seguir

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 12.
Disponível em: <http://loja.ibge.gov.br/cartas-mapas-e-cartogramas/atlas/atlas-do-censo-demografico-2010.html>. Acesso em: 7
set. 2018 (Adaptação).

Considere: nos gráficos, as colunas apresentam, para cada grande região brasileira, o número de população na seguinte se-
quência temporal: 1991, 2000, 2010.
Com base nessas informações, é correto afirmar que, entre 1991 e 2010,
(A) concentrou-se o maior quantitativo de habitantes no campo na região brasileira cujo traço característico de sua economia
é o agronegócio, com destaque para a soja.
(B) houve transferência de população dos centros urbanos para o meio rural, fenômeno este denominado migração pendular
pelos demógrafos.
(C) registrou-se, seja no campo ou na cidade, a mesma taxa de evolução do contingente populacional nas cinco grandes regiões
brasileiras.
(D) verificou-se o crescimento populacional dos espaços urbanos em todas as regiões do país, mantendo-se o maior número de
população naquela de economia mais dinâmica.

38
GEOGRAFIA
5. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise o gráfico a seguir

IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 18. Disponível em: <http://loja.ibge.gov.
br/cartas-mapas-e-cartogramas/atlas/atlas-do-censodemografico-2010.html>. Acesso em: 13 out. 2018 (Adaptação).

A evolução da população representada pela curva V é aquela verificada no Continente


(A) Africano.
(B) Americano.
(C) Asiático.
(D) Europeu.

6. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Nas últimas
décadas, a histórica desigualdade socioespacial vigente no interior das cidades brasileiras adquiriu características mais acentuadas.
Essa desigualdade socioespacial não se explica
(A) pela disseminação de condomínios residenciais de luxo, enclaves no interior da malha urbana servidos de completa infraes-
trutura de equipamentos urbanos coletivos.
(B) pela segregação espacial imposta por planos diretores municipais que destinam espaços de topografia acidentada e de mais
elevada declividade às favelas e loteamentos clandestinos e irregulares.
(C) pelo isolamento de trechos do tecido urbano mediante instalação de muros altos, portões e guaritas de vigilância privada,
com acesso exclusivo aos moradores e funcionários.
(D) pelo recrudescimento da diferença entre os padrões de moradia e de infraestrutura de bairros habitados por grupos discre-
pantes quanto a suas características socioeconômicas, notadamente o poder aquisitivo.

39
GEOGRAFIA
7. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o
mapa a seguir

Disponível em: <https://www.thoughtco.com/seismic-hazard-maps-of-the-world-1441205>.


Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

No espaço sul americano retratado no mapa, a probabilidade de ocorrência de terremotos nos próximos 50 anos não
(A) atesta o papel fundamental exercido pelos limites de placas litosféricas, a exemplo daquele de colisão, na geração de ter-
remotos na América do Sul.
(B) confirma o notório caráter de estabilidade tectônica do território brasileiro, uma vez que continuarão ausentes no país as
movimentações da crosta.
(C) propõe que a geração e distribuição espacial dos terremotos será também explicada por dinâmica geológica vigente no
interior de uma placa tectônica.
(D) sugere que a sismicidade, no futuro próximo, estará condicionada à continuidade da subducção até então responsável pelo
soerguimento da cadeia andina.

8. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o


gráfico a seguir.

A distribuição atual da PEA no Brasil representada no gráfico está


(A) correta, uma vez que a elevada qualificação profissional exigida pelo Setor Terciário reduz sobremaneira o número de
trabalhadores que nele ingressa.
(B) incorreta, uma vez que a proporcionalidade hoje registrada para os setores econômicos em que se ocupa a PEA no país é
distinta daquela expressa no gráfico.
(C) correta, uma vez que a maioria da PEA brasileira se concentra no Setor Primário, condição fundamental para a manuten-
ção da pauta de exportação dos produtos agropecuários.
(D) incorreta, uma vez que o setor da economia que concentra a atividade industrial nacional é aquele que absorve o maior
contingente da PEA no país.

40
GEOGRAFIA
9. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Leia o
trecho a seguir.
“A regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo foi amplamente utilizada durante a
Guerra Fria, período em que prevaleceu a rivalidade entre duas superpotências. No começo da década de 1990, o termo Segundo
Mundo tornou-se obsoleto, pois deixou de ser representativo. Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações com o
objetivo de expressar com maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo.” (BOLIGIAN, Levon; ALVES, Andressa.
Geografia: espaço e vivência (Ensino Médio). São Paulo: Atual Editora, 2007 (volume único). p. 410 (Adaptação)).

A regionalização que não expressa com “maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo” é:
(A) Países capitalistas / países socialistas (regionalização fundamentada na realidade político econômica global).
(B) Países centrais / países periféricos (regionalização fundamentada no papel exercido no sistema capitalista).
(C) Países desenvolvidos / países subdesenvolvidos (regionalização fundamentada nas desigualdades socioeconômicas e nível
de vida da população).
(D) Países ricos / países pobres (regionalização fundamentada no desenvolvimento econômico e tecnológico).

10. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise
a figura a seguir.

Disponível em: <https://br.pinterest.com>. Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

O espaço urbano representado na figura indica que


(A) a avenida principal tem seu trajeto orientado segundo os paralelos do globo, de tal modo que ela recebe maior insolação
nas primeiras horas do dia.
(B) a circulação atmosférica local é influenciada pela distribuição espacial e pela altura das construções, capazes de criar corre-
dores de deslocamento mais intenso dos ventos.
(C) a considerável extensão das superfícies impermeabilizadas aumenta a taxa de infiltração da água precipitada sobre a cidade
e garante a recarga dos aquíferos subterrâneos.
(D) a marcante proximidade das edificações comprova se tratar de tecido urbano cuja evolução espaço-temporal se fez segundo
o processo de megalopolização.

11. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOMBEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “A teoria da tectônica de placas é
recente, mas sua formulação baseia‐se em mais de 100 anos de especulações, pesquisas geológicas e debates. Com a formulação da
teoria da tectônica de placas surge uma nova explicação para um dos mais antigos e controvertidos temas da geologia – o da deriva
continental. A ideia de que os continentes não foram fixos durante toda a história da Terra e, sim, de que sofreram movimentos relati-
vos sobre a sua superfície só agora se torna mais compreensível e aceita com a explicação do ponto de vista da tectônica de placas.” (
Popp, José Henrique. Geologia Geral. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010 p. 11.)

Sobre a teoria da tectônica de placas, analise.


I. Procura demonstrar que a superfície semirrígida da crosta sofre movimentos sobre uma porção inferior, quente e fluida,
denominada astenosfera.
II. A superfície semirrígida da crosta sofre movimentos; com isso, as rochas superficiais sofrem deformações, produzindo estru-
turas características, conhecidas como produtos do tectonismo.
III. O fenômeno da tectônica de placas processa‐se em escala global, mas se encontra evidenciado segundo direções preferen-
ciais ou regionais.

41
GEOGRAFIA
Estão corretas as alternativas I. A instabilidade interna é explicada pelas grandes diversi-
(A) I, II e III. dades etnoculturais.
(B) I e II, apenas. II. A radicalização religiosa, aliada à crescente influência de
(C) I e III, apenas. grupos extremistas, tem levado o país a uma espiral sem fim de
D) II e III, apenas. violências.
III. O extremismo religioso se alimenta das enormes desi-
12. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- gualdades sociais e da proliferação da miséria.
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Sabendo‐se que em Tóquio, IV. A renúncia do general Pervez Musharraf, que governava
cidade localizada a aproximadamente 140° Leste do meridiano o país desde 1999, e a instauração do governo civil, contribuíram
de referência, Greenwich, são 17 horas, horário oficial, e des- para uma estabilidade interna no país.
prezando quaisquer ajustes de fusos entre os países, bem como
outras adaptações, que horas (horário oficial) serão na cidade Estão corretas as afirmativas
de Porto Alegre, localizada a cerca de 51° a Oeste do meridiano (A) I, II, III e IV.
de Greenwich? (B) I, II e IV, apenas.
(A) 1 hora (hora legal). (C) I, II e III, apenas.
(B) 3 horas (hora legal). (D) I, III e IV, apenas
(C) 4 horas (hora legal).
(D) 5 horas (hora legal).
GABARITO
13. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) A importância de se estudar
a atmosfera é muito grande, pelos efeitos que ela causa em 1 C
nossas vidas, sejam efeitos naturais ou causados pela atividade
humana. Essas mudanças no clima do Planeta e os transtornos, 2 D
principalmente da temperatura, promovem transformações no 3 C
padrão do tempo. Com base na importância de estudar a atmos-
4 D
fera e as mudanças no clima, pode‐se afirmar que essas trans-
formações afetam: 5 C
I. O suprimento de alimentos. 6 B
II. O regime de precipitações.
III. O recebimento de radiação solar. 7 B
IV. O aumento dos recursos naturais vitais. 8 B
9 A
Estão corretas as alternativas
(A) I, II, III e IV. 10 B
(B) II e III, apenas. 11 A
(C) I, II e IV, apenas.
12 D
(D) I, II e III, apenas.
13 D
14. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- 14 A
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “Várias características do am-
biente em que se processa o intemperismo influem diretamente 15 C
nas reações de alteração, no que diz respeito à sua natureza,
velocidade e intensidade. São os chamados fatores de controle
do intemperismo, basicamente representados pelo material pa-
rental, clima, topografia, biosfera e tempo.” ANOTAÇÕES
(Teixeira, W & Toledo, M.C.M de & Fairchild, T. R e Taioli, F.
Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003 p. 150.)
______________________________________________________
Dos fatores mencionados anteriormente, assinale o que,
isoladamente, mais influencia no intemperismo.
______________________________________________________
(A) Clima.
(B) Tempo.
(C) Biosfera. ______________________________________________________
(D) Topografia.
______________________________________________________
15. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Desde sua independência, o ______________________________________________________
Paquistão convive em uma contínua instabilidade interna e in-
tensos quadros de violência, levando geopolíticos a considera- ______________________________________________________
rem a área como um barril de pólvora. Diante do exposto, ana-
lise. ______________________________________________________

42

Você também pode gostar